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1 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL 1 Sumário Investigação Crimina ...................................................................................... 3 Conceito e histórico da polícia ..................................................................... 4 Conceito de investigação criminal ............................................................... 6 Conceito de prova ........................................................................................ 7 Evolução histórica da prova criminal ............................................................ 8 A Investigação Criminal ............................................................................. 15 Processos da Investigação Criminal .......................................................... 18 Interrogatório .......................................................................................... 18 Infiltração policial .................................................................................... 25 Informante .............................................................................................. 26 Vigilância ................................................................................................ 27 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 32 2 NOSSA HISTÓRIA A história do Instituto NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a NOSSA HISTÓRIA, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A NOSSA HISTÓRIA tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Investigação Criminal A investigação policial tem como foco a obtenção de provas criminais que podem ser testemunhais e técnicas. Prova Criminal é aquela utilizada para demonstrar ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu e das circunstâncias que possam influir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas. As provas técnicas são as perícias, realizadas por peritos criminais, e são formadas pelas evidências materiais do crime. As prova testemunhais são constituídas pelos depoimentos das testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declarações das vítimas e o interrogatório dos suspeitos ou indiciados. A atividade de investigação criminal consiste na apuração dos crimes, que é feita através da busca de provas, periciais ou testemunhais. As provas periciais são técnicas, realizadas por peritos criminais e são formadas pelas evidências materiais do crime. As prova testemunhais são constituídas pelos depoimentos das testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declarações das vítimas e o interrogatório dos suspeitos ou indiciados. A pesquisa, coleta e produção das provas periciais compete à Criminalística. Via de regra, o trabalho pericial exige imediatidade. A título de exemplo, o exame residuográfico de verificação de pólvora exige a condução do suspeito imediatamente após a prática do delito. O exame de lesões corporais e de verificação de aborto exige lapso temporal curto entre o crime e o exame. Considerada a importância da prova pericial e científica é imprescindível o isolamento e a preservação do local do crime. Falhas no isolamento do local do crime podem impossibilitar a produção da prova pericial. Vestígios deixados no local do crime podem levar ao autor. Como exemplo, um simples estojo componente de munição ou projétil componente de 4 munição, encontrado em local de homicídio mediante disparo de arma de fogo, pode, através de perícia, ser prova crucial para demonstrar autoria. Conceito e histórico da polícia A palavra Polícia é vocábulo derivado do latim “politia”, que por sua vez, procede do grego “politeia”, que significa, segundo Thomé, (...)administração da cidade. Segundo o mesmo autor, Polícia pode ser definida como: (...) instrumento de utilidade e que passa a ser responsável pela investigação das infrações penais cometidas e pela política de disciplina e restrição empregada a serviço do povo. Marcineiro (2001), conceitua Polícia como sendo: (...) a organização administrativa que tem por atribuição impor limitações à liberdade (individual ou de grupo) na exata medida necessária à salvaguarda e manutenção da ordem pública (...). No entanto, a polícia mais visível a todos é a de segurança pública e por isso mesmo todos tendemos a confundi-la, enquanto parte, com o todo (...) a polícia se especializa e hoje, se apresenta com duas funções: a polícia preventiva (administrativa), de proteção individual e coletiva e a polícia judiciária, ou seja, atividade policial repressiva (judicial) ao crime e de auxílio à justiça penal (investigação científica dos crimes). (MARCINEIRO, 2001: 47,48). Segundo Tourinho Filho (2001), (...) a Polícia é o órgão incumbido de manter e preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio (TOURINHO FILHO, 2001:27). Você já teve a oportunidade de ler o que dispõe o artigo 144 da Constituição Federal de 1988 com relação à segurança pública. Diz o artigo: 5 Portanto, às Polícias Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e Militares cabe o policiamento ostensivo, atuando precipuamente na prevenção dos delitos. De outro lado, é interessante que você perceba que a atuação principal das Polícias Federal e Civis ocorre após a prática do crime, na repressão dos delitos. Apuram materialidade e autoria das infrações penais, por meio da função investigativa. À Polícia Federal cabe a apuração das infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei, além de prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, nos termos do artigo 144, § 1º, I e II da Constituição Federal de 1988. A Polícia Civil, também chamada de Polícia Judiciária, tem competência residual, tendo a função de apurar as infrações penais e respectivas autorias, ressalvadas as atribuições da Polícia Federal e as infrações da alçada militar, de acordo com o artigo 144, § 4º, da Carta Magna. Inicialmente, segundo Thomé (1997), a ação militar em defesa da posse, a função policial e a função de julgar não estavam separadas. A atividade investigativa ficava sob a responsabilidade dos magistrados, em especial dos Juízes de Paz. Com 6 o rápido crescimento das atividades econômicas e sociais, fez-se necessária a organização dos serviços policiais. Segundo Marcineiro e Pacheco, (2001), a origem da Polícia Judiciária, como organização, ocorreu em 1841, com a promulgação da Lei no. 261, de 03 de dezembro, que apresentava uma organizaçãopolicial incipiente, criando em cada província um Chefe de Polícia, com seus delegados e subdelegados escolhidos dentre os cidadãos. A partir da promulgação da república, em 1889, a Polícia passou a atuar de acordo com o modelo político vigente. Na democracia a Polícia tinha como foco a segurança pública dos cidadãos, e, nos períodos ditatoriais, a Polícia tinha como prioridade salvaguardar a segurança nacional estatal, o que fica evidenciado pelos dispositivos que versavam sobre segurança pública, inseridos nas Constituições Federais que se sucederam. A atual Constituição Federal de 1988 é fruto de uma redemocratização, iniciada em 1985, após vinte e um anos de regime de exceção. Promulgada em um Estado Democrático de Direito, a Carta Magna prima pela garantia dos direitos individuais. Nesse contexto, a Polícia passa a ter o dever de prestar serviços respeitando tais garantias e contribuindo para salvaguardá-las Conceito de investigação criminal Segundo Bueno (1977), investigar significa (...) indagar, pesquisar, fazer diligências para achar, (...), descobrir. (BUENO, 1977:685). É um ato instintivo do homem que o faz movido pelo princípio inteligente e pelo instinto de curiosidade. Você concorda? Muito bem, vamos adiante e contextualizando. 7 A investigação policial, ou investigação criminal, é atividade policial direcionada à apuração das infrações penais e de sua autoria. É o trabalho realizado por policiais, especialmente delegados e seus agentes, procurando esclarecer a autoria e materialidade de delitos, bem como as circunstâncias em que ocorreram. Estas circunstâncias são detalhes de fatos criminosos com a preocupação de melhor identificar as pessoas com eles relacionados e o próprio objeto do crime, visando reunir elementos probatórios para o indiciamento ou não e posterior encaminhamento à apreciação judicial. O objetivo da investigação criminal é amealhar provas criminais, para comprovar materialidade e autoria do delito. Conceito de prova Como dito, o objetivo da investigação criminal é a busca das provas criminais necessárias para a elucidação do crime. O vocábulo “prova” origina-se do latim probatio, que por sua vez emana do verbo probare, com o significado de demonstrar, reconhecer, formar juízo sobre um fato. De Plácido e Silva (1978), A prova consiste, pois, na demonstração da existência ou da veracidade daquilo que se alega como fundamento do direito que se defende ou que se contesta.(De PLACIDO e SILVA, 1978: 1253). Todas as afirmações de fato feitas pelo autor, bem como as afirmações feitas pelo réu, que normalmente se contrapõem àquelas, podem ou não corresponder à verdade. De acordo com Cintra, as dúvidas sobre a veracidade das afirmações de fato feitas pelo autor ou por ambas as partes no processo, a propósito de dada pretensão em juízo, constituem as questões de fato que devem ser resolvidas pelo juiz, à vista da prova dos fatos pretéritos relevante. 8 Especificamente com relação à prova criminal, pode-se afirmar que é aquela utilizada para demonstrar a ocorrência ou não de uma infração penal e as circunstâncias que possam influir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas. As provas criminais formam a convicção a respeito da autoria e materialidade da infração penal, das condições de antijuridicidade e culpabilidade, e de todos os demais elementos necessários para fundamentar uma decisão condenatória ou absolvitória. Em síntese, a prova criminal é aquela utilizada para demonstrar ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu e as circunstâncias que possam influir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas. Evolução histórica da prova criminal O sistema probatório, no Processo Penal Brasileiro, adotou o modelo europeucontinental, fazendo-se importante uma breve análise das origens deste modelo. Os meios de prova, concebidos como instrumentos de reconstituição de fatos pretéritos, sempre acompanharam a história da civilização, estando fortemente condicionados por circunstâncias históricas e culturais. Na Antiguidade, a religião era a força propulsora das organizações rudimentares e, posteriormente, das cidades, estando acima de tudo e de todos. Leis e religião se misturavam. Coulange (1996) menciona que o respeito dos antigos às leis advinha da crença de que estas eram ditadas pelos deuses, tinham origem sagrada. (COULANGE, 1996:152). Esta foi uma época em que os homens não conheceram a liberdade individual, pois não se tinha a mais leve ideias sobre a individualidade humana e sobre os Direitos a ela inerentes. Foi neste período em que se instituíram as ordálias ou juízos de Deus, e os juramentos. Aqueles se fundavam na crença de que Deus não deixaria de 9 sustentar o Direito do inocente, estes no pressuposto de que ninguém se atreveria a tomar Deus como testemunha de uma falsidade. Santos (1970), conceitua ordália como “sendo a submissão de alguém a uma prova, na esperança de que Deus não o deixaria sair com vida ou sem um sinal evidente, se não dissesse a verdade ou fosse culpado.” (SANTOS, 1970:25). Segundo Santos (1970), as ordálias constituíram a prova suprema usada pelos germanos primitivos e os povos antigos da Ásia, não tendo aplicação entre os romanos, que, segundo Sznick conheceram e fizeram uso da tortura contra seus escravos na Antiguidade. (SZNICK, 1978:24). Durante muitos séculos na Idade Média, com o domínio absoluto dos bárbaros na Europa, as ordálias também tiveram aplicação. Segundo Santos, (1970:26) na prova pelo fogo se fazia o acusado carregar uma barra de ferro em brasa por certa distância, ou caminhar, com os pés nus, sobre ferros candentes, e a prova pela água fervente consistia no acusado tirar um ou mais objetos do fundo de uma caldeira de água fervente, sendo o acusado absolvido se não restassem lesões e condenado no caso contrário. Montesquieu (1996), menciona que a prova pela água fervente podia ser substituída, a critério do acusador, por certa quantia e pelo juramento de algumas testemunhas que declarassem que o acusado não havia cometido o crime. (MONTESQUIEU, 1996: 553). Acerca dos juramentos, Santos (1970) analisa: Compreende-se facilmente a inclusão do juramento entre os velhos sistemas probatórios, que se reflete na influência exercida pelas religiões sobre os homens e as organizações sociais da Antiguidade e da Idade Média, bem como na circunstância de ser quase impossível, numa época em que a escrita não existia, colherem-se provas testemunhais, dada a pouca densidade da população e a própria natureza patriarcal dos agregados humanos. Assim, pode-se dizer que a prova pelo juramento decorria da própria necessidade (...). (SANTOS, 1970: 30-31). Com a desmoralização do juramento, instituiu-se como instituto probatório o duelo, também chamado combate judiciário. No final da época medieval e durante a 10 Idade Moderna surgiram, na Europa, os tribunais da inquisição, período em eram tidos como hereges os que contrariavam os dogmas oficiais da Igreja Católica. Discorrendo sobre este momento, Cotrin (1997) menciona que a tortura era utilizada oficialmente nos interrogatórios, na presença dos juízes, com a finalidade de obter a confissão. (COTRIN, 1997:157). Novinski (1982) nomina este método de “inquisitivo”, atuante nos séculos XVI, XVII e XVIII, e que atendia aos interesses de todas as facções do poder: coroa, nobreza e clero. (NOVINSKY, 1982:47). Considerando a dificuldade de se obter outros meios de prova, a confissão do acusado representava o objetivo primordial do procedimento inquisitório. Enfocando a tortura, Gomes Filho (1997), menciona: somente ela podia fornecer a certeza moral a respeito dos fatos investigados, e a pesquisa cedia vez à confirmação deuma verdade já estabelecida.(GOMES FILHO, 1997:22). A tortura clássica tornou-se mecanismo regulamentado e legalizado de Prova. Segundo Foucault, (2002) a tortura é um jogo judiciário estrito (...), o paciente é submetido a uma série de provas, de severidade graduada, e que ele ganha aguentando ou perde confessando. (FOUCAULT, 2002:36). Ortega (1998), discorrendo sobre o sistema jurídico-penal e processual penal, nos séculos XVI e XVII, na Europa, menciona que a tortura tratava-se de peça fundamental no processo, utilizada para obter a confissão do réu, e era diferenciada de acordo com a classe social a que pertencia o indivíduo, estando a nobreza sujeita à tortura apenas nos delitos considerados extremamente graves. Portanto, o princípio da igualdade era inexistente naquela época. (ORTEGA, 1998:463) Valiente (2002), sintetiza algumas das ideias defendidas por Beccaria, na obra citada: a mudança do processo inquisitivo para o acusatório, público, com meios de prova claros e racionais; a igualdade entre nobres, burgueses e plebeus; a proporcionalidade entre os delitos e as penas; a nítida separação entre a religião e o Estado e seus Poderes, desvinculando os conceitos de pecado e delito; a supressão total da tortura e da pena 11 de morte; e a preferência dos métodos preventivos aos repressivos; ideias estas que continuam a influenciar os sistemas penais e processuais penais atuais. (VALIENTE, 2002:161,162) Para Bentham, a tortura era empregada para suprir a deficiência dos meios probatórios da época: “A tortura, empregada para arrancar as confissões, objetiva suprir a deficiência das provas. Supondo que o delito não está provado, que faz o juiz? Ordena atormentar uma pessoa, na dúvida de ser inocente ou culpado”. (tradução da autora). Sabadell (2002), discorrendo sobre a tortura oficializada afirma: A tortura judicial está vinculada ao sistema de provas legais, desenvolvido a partir do século XIII pelos doutrinadores do Direito medieval europeu. Sua base é a classificação sistemática das provas romanas, segundo o método escolástico, em graus: provas plenas, semiplenas, indícios e presunções. Acima da prova plena está o notorium. Por meio deste instituto era concedida a dispensa de produção de provas em determinados casos. (SABADELL, 2002:275). Sabadell (2002), conceitua notorium como sendo a prova à qual se deve dar a máxima credibilidade, já que, diferentemente das demais provas, não se permite que se estabeleça nenhuma discussão ou questionamento. Na Idade Média e grande período da Idade Moderna, inexistia a concepção de direitos individuais, havendo sempre a prevalência do interesse público em detrimento do indivíduo, o que se coaduna com o sistema inquisitório. A confissão era a regina probatium* e o depoimento de uma só testemunha não possuía valor probatório (testis unus, testis nullus**). Em matéria de processo penal, o princípio da inocência do acusado era desconhecido, as provas não eram reunidas para apurar uma possível responsabilidade penal do réu, sendo que esta era constituída por cada um dos elementos que permitiam reconhecer um culpado. De acordo com Sabadell (2002), (...) a existência de uma meia prova implicava a consideração do réu como meio culpado. Um grau alcançado na demonstração da 12 culpa (prova semiplena), implicava, consequentemente, um determinado grau de punição, incluindo a autorização para o uso da tortura. Em outras palavras, não se torturava um inocente, e sim um meio culpado, para confirmar a suspeita legalmente criada de que ele era realmente culpado. (SABADELL, 2002:278). Foram citados alguns meios de prova utilizados no transcorrer da história. É importante, também, mencionar os sistemas de valoração de prova, além do já citado sistema das provas legais. Conforme Sabadell (2002), o sistema das provas legais passou por várias fases, sendo inicialmente rígido, mas ao longo dos séculos a doutrina o submeteu a modificações para facilitar a sua aplicação, até o surgimento posterior do sistema da livre apreciação de provas. Os ideais iluministas postulados pela Revolução Francesa romperam com o sistema inquisitivo, e, através da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, conferiram maior liberdade aos juízes na apreciação da prova e na indicação dos motivos da convicção. Tratava-se do sistema da íntima convicção. Tais ideais foram uma reação ao sistema inquisitório e à doutrina das provas legais. Vêm ao encontro de um sistema probatório que respeita o ser humano enquanto sujeito de direitos e garantias individuais, dentre elas, a proibição legal da tortura, a presunção de inocência do acusado e o direito ao contraditório. Segundo Grinover (1982), a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, advinda da Revolução Francesa, consagrou a escola do Direito Natural, “selando a concepção da existência de direitos subjetivos preexistentes ao Estado, não criados, mas reconhecidos por este”. Acerca desta Declaração, menciona Bobbio (1992), (...) o núcleo doutrinário da Declaração está contido nos três artigos iniciais: o primeiro refere-se à condição natural dos indivíduos que precede a formação da sociedade civil; o segundo, à finalidade da sociedade política, que vem depois (...) do estado de natureza; o terceiro, ao Princípio de legitimidade do poder que cabe à nação. (BOBBIO, 1992:93). 13 Gomes Filho (1997:55) entende que uma verdadeira Justiça penal pressupõe o reconhecimento, à defesa, do poder de produzir provas contrárias às da acusação, a fim de obter-se não uma verdade extorquida inquisitorialmente, mas uma verdade obtida através de meios probatórios produzidos pelas partes. Gomes Filho (1997:31) afirma que em 1808, o Code d’instruction criminelle francês instituiu a combinação entre os padrões inquisitório e acusatório, influenciando os demais ordenamentos continentais e representando, até os dias atuais, o modelo inspirador da maioria das legislações. A doutrina passou a postular limitações à íntima convicção do juiz, e, segundo esta nova concepção, o juiz só estaria autorizado a condenar se, além de convencido, estivesse amparado por um mínimo de elementos probatórios. Passou-se a postular pelo sistema da persuasão racional, também chamado por Capez de sistema da livre (e não íntima) convicção, da verdade real ou do livre convencimento. Conforme Colucci (1988): Num terceiro estágio, em respeito ao contraditório, fixou-se como pressuposto do direito de defesa o conhecimento pelas partes dos caminhos percorridos pelo juiz ao julgar (persuasão racional), cedendo-se ao julgador liberdade de valoração da prova, desde que acompanhada de demonstração lógica dos motivos da decisão. A motivação das sentenças e decisões de modo geral, tornou-se verdadeira garantia individual, evitando-se que a excessiva liberdade na avaliação das provas transformasse o processo penal em instrumento de opressão e terror, em vez de protetor das liberdades públicas. (COLUCCI, 1988:237-250). O sistema probatório de persuasão racional foi adotado pelo Código Processual Penal Brasileiro - Decreto-Lei n.3689, de 03.10.1941-, através do seu artigo 157. Não serão atendíveis as restrições à prova estabelecidas pela lei civil, salvo quanto ao estado das pessoas; nem é prefixada uma hierarquia de provas: na livre apreciação destas, o juiz formará, honesta e lealmente, a sua convicção. A própria confissão do acusado não constitui, fatalmente, prova plena de sua culpabilidade. Todas as provas são relativas; nenhuma delas terá, ex vi legis, valor 14 decisivo, ou necessariamente maior prestígio que outra. Se é certo que o juiz fica adstrito às provas constantes dos autos, não é menos certo que não fica adstrito a nenhum critério apriorístico no apurar, através delas, a verdadematerial. Nunca é demais, porém, advertir que livre convencimento não quer dizer puro capricho de opinião ou mero arbítrio da apreciação das Provas. O juiz está livre de preconceitos legais na aferição das Provas, mas não pode abstrair-se ou alhear-se ao seu conteúdo. Não estará ele dispensado de motivar sua sentença. E precisamente nisto reside a sufi ciente Garantia do Direito das partes e do interesse social. Através do sistema da persuasão racional, não há hierarquia entre as Provas e o juiz pode decidir de acordo com a sua consciência, desde que o faça motivadamente e, considerando-se a visão sistêmica, obedecendo à Constituição da República, o Código de Processo Penal e demais legislações vigentes. Tal motivação não se faz necessária apenas nas decisões do júri, considerando a soberania dos vereditos e o sigilo das votações, preceituados no artigo 5º, XXXVIII, da Carta Magna. De outro lado, os meios de prova mencionados no Código de Processo Penal são apenas exemplificativos, admitindo-se as provas inominadas. Acerca deste sistema, entende Capez (2002), que: (...) atende às exigências da busca da verdade real, rejeitando o formalismo exacerbado, e impede o absolutismo pleno do julgador, gerador do arbítrio, na medida em que exige motivação. Não basta ao magistrado embasar a sua decisão nos elementos probatórios carreados aos autos, devendo indicá-los especificamente. Não pode, igualmente, o magistrado buscar como fundamento elementos estranhos aos autos. (CAPEZ 2002:267). Tem-se, pois, um sistema processual penal que permite todos os meios de prova, limitados, entretanto, pelas normas constitucionais e infraconstitucionais. Neste sistema, concebe-se a prova no Processo Penal como verdadeiro direito garantido às Polícias, à acusação e à defesa, assegurado pela leitura coordenada da Constituição da República, e por textos legais internacionais. 15 A Investigação Criminal A investigação criminal, em regra, inicia-se com a notícia da ocorrência de um fato criminoso que chega até a polícia. A partir disso são destacados investigadores para trabalhar no caso. Estes irão levantar informações das mais diversas maneiras, entrevistando, acompanhando (seguindo um alvo) ou interrogando pessoas, procurando documentos, monitorando indivíduos, deslocamentos, conversas telefônicas, entre outras atividades. Caso seja um crime que exija uma perícia de local de crime, os peritos criminais se deslocam para o local e realizam os exames periciais, entretanto, em geral ocorre pouca ou nenhuma troca de informações entre a equipe de investigação e a perícia criminal na cena do crime. Quando se tratar de outro tipo de crime, que não envolva um exame de local, a investigação continua evoluindo sem a participação da perícia. Nesse processo é gerada uma grande quantidade de informações que, dependendo do tipo de delito, podem se constituir em um volume muito grande de dados. Em regra, até esse ponto, não houve nenhuma participação da perícia que, portanto, não conhece ainda nada do que está sendo investigado. Em determinado momento da investigação é solicitado o exame de corpo de delito, feita por meio de um distante (descontextualizado) memorando ao coordenador da área de perícia. É então designado um perito criminal para realizar o exame pericial. Normalmente, nesse momento já se tem uma enorme quantidade de informações acerca do fato investigado. Entretanto, em regra, nenhuma dessas informações chega até o perito. O mesmo recebe apenas o corpo de delito, e a 16 solicitação do exame, por exemplo, uma arma em que é solicitado o exame geral da mesma, bem como se os projéteis remetidos foram expelidos pelo cano da referida arma, que pode ter sido utilizada em um homicídio ou suicídio de uma criança. Uma vez que o perito não sabe desse detalhe, e não recebe essa informação, ele realiza o exame solicitado e encaminha o laudo. Entretanto, caso ele soubesse ou tivesse sido perguntado se seria possível a uma criança de “x” anos disparar a arma contra si mesma, ele poderia fornecer informações importantes e até definitivas acerca do ocorrido. Esse é um caso extremo. Entretanto, inúmeras outras situações ocorrem todos os dias nos institutos de criminalística do país. Portanto, ao requisitar a perícia, é importante que o solicitante, seja ele um delegado de polícia, promotor de justiça ou juiz, inclua no pedido o máximo de informações possível, visando subsidiar o perito na avaliação dos exames necessários e da melhor forma de fazê-los, de modo a atender aquilo que é solicitado, ou dando-lhe (ao perito) condições de também avaliar o que seria mais importante constar no laudo, naquelas circunstâncias. Tome-se o exemplo de um segundo caso: um cadáver que chega ao IML, tendo sido encaminhado para exame cadavérico, sendo questionado apenas os quesitos legais. No caso em análise, entretanto, suspeita-se de erro médico, mas essa informação não chega até o legista, que realiza os exames de rotina. Porém, a detecção de um possível erro médico, exigiria exames complementares, os quais não são realizados em todos os casos. Assim, é preciso que a perícia seja entendida como um processo relevante e paralelo à investigação criminal. É necessário ainda, que ambos os processos se desenvolvam de forma harmônica e integrada, é preciso, enfim, criar canais de comunicação para que a perícia e a investigação criminal atuem de forma a se complementarem mutuamente. Por exemplo, em casos de crimes financeiros, depois de toda a investigação desenvolvida, remete-se ao perito criminal contador ou economista, um expediente solicitando a perícia, em que muitas vezes o próprio solicitante não sabe exatamente o que perguntar, e junto à solicitação encaminha-se um caminhão de documentos. Como, em geral o perito não sabe do que se trata, ele precisará gastar um tempo enorme somente para entender a que se referem aqueles documentos e qual 17 a sua possível ligação com o(s) delitos(s) investigados (OLIVEIRA, 2005). Em resumo, a investigação criminal (ou policial) deve buscar essencialmente, levantar as provas relativas a um ato criminoso sob investigação. Ocorre que nessa busca pela realidade dos fatos em apuração, verifica-se uma dicotomia no processo investigatório e na produção das provas. Aquelas de ordem subjetiva ficam sob a responsabilidade dos investigadores de campo que entrevistam, interrogam, buscam testemunhas etc., enquanto as segundas ficam a cargo dos peritos criminais, que efetuam o levantamento dos vestígios materiais do crime, seja ele um levantamento de local, de ambiente virtual (Internet), de armas ou materiais diversos utilizados para perpetração do delito, levantamentos contábeis nos crimes de ordem financeira, e diversos outros. Nesse sentido VILLANOVA (1977, p. 122), afirma que: (...) a investigação criminal ou policial tem como objetivo fundamental, estabelecer as provas em relação ao delito em apuração, sejam elas de ordem material, objetiva; de ordem pessoal, informativa, ou apenas indiciárias, desde que possibilitem levar à certeza em relação aos fatos, ou seja à verdade....Na realidade a investigação tem que buscar elucidar os fatos investigando pessoas e coisas. Ocorre que só as primeiras cometem crimes, entretanto sempre se utilizando, alterando, eliminando ou de qualquer maneira interferindo e relacionandose com as segundas... . (...) cabe à criminalística a investigação das evidências materiais do crime e à investigação de campo, ou subjetiva, as evidências pessoais. Ambas buscam segundo suas técnicas e ferramentas próprias, partindo de elementos conhecidos para os desconhecidos restabelecer a verdade, recuando no tempo para verificar a existência do crime, estabelecer a sua dinâmica, modos e meios de execução e determinara sua autoria. No que tange à criminalística através dos vestígios objetivos do crime, enquanto a investigação empírica busca o mesmo fim, porém seguindo outros 18 caminhos. Portanto uma completa a outra e a otimização de resultados só será possível quando as duas interagirem de modo lógico e harmônico para que as provas subjetivas e objetivas se ajustem e se completem. Processos da Investigação Criminal Podemos dizer que a investigação necessita de técnicas que assegurem um trabalho lógico, sequencial, pautado pelas garantias individuais e coletivas do cidadão, na busca imparcial da verdade objetivando cumprir o dever do Estado, na preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Visa à investigação policial resposta para as perguntas: (hectâmetro). A investigação é direcionada de acordo com os diferentes tipos de delitos, guardando características próprias e peculiares em função dos mesmos. É um estudo profundo de um problema, com a finalidade de descobrir fatos novos. Tanto a investigação quanto a análise se baseiam no exame completo de um problema concreto. A investigação será realizada a fim de obter informação sobre um tema, nela se procura, sobretudo, recolher e organizar informações básicas. Interrogatório Interrogatório é o termo utilizado pelo Código de Processo Penal para conceituar a inquirição do acusado no processo penal. O procedimento do interrogatório encontra-se disposto nos artigos 185 a 196 do Código de Processo Penal, que foram todos alterados pela Lei n. 10792, de 1.12.2003. 19 No âmbito policial, denomina-se interrogatório o ato em que o suspeito ou indiciado pela prática da infração penal presta depoimento formalmente nos autos, perante a autoridade policial. Usualmente conceitua-se declaração como sendo a inquirição da vítima e depoimento a inquirição da testemunha. Evidentemente que as técnicas ora mencionadas também podem ser aplicadas durante a tomada de declarações da vítima ou a tomada de depoimento de testemunha. A preparação é importante porque é comum o autor da infração penal, embora confessando o delito, fazê-lo de forma a se beneficiar, diminuindo as consequências penais, alegando, por exemplo, uma legítima defesa putativa ou uma injusta provocação da vítima, etc. Dessa forma, é importante que o interrogador busque, de forma técnica, elucidar o crime, tentando sempre buscar a verdade dos fatos. Técnicas de abordagem dos fatos Os fatos acontecem dentro de uma estrutura de tempo, espaço, ação e resultado. Entretanto, quando alguém vai narrá-los, nem sempre o faz obedecendo a uma sequência real desses fatos dentro daquela estrutura. Pode acontecer que o interrogador, em favor da investigação, não tenha interesse de obter a narrativa de maneira ordenada. Assim, levando-se em conta a sequência como um interrogado pode narrar os fatos que estão sendo investigados, o interrogador pode se valer de cinco técnicas, a saber: da sequência memorial; da sequência dos fatos; da sequência embaralhada; da sequência protaitiva, e da sequência retroativa: A experiência tem demonstrado que a prática de um delito, via de regra, quebra a rotina de quem o pratica, tanto por força das atividades necessárias à perpetração 20 do delito, como em razão dos cuidados que se toma para ocultar os fatos. Isto não pode deixar de ser levado em conta por quem investiga. Por essa razão, é importante buscar apurar onde e com quem o suspeito ou indiciado esteve durante todo o dia do crime, manteve contatos ou encontros com pessoas estranhas, ausentou-se de casa ou do trabalho sob qualquer pretexto, se saiu mais cedo ou chegou mais tarde, etc. Dessa forma, a sequência como os fatos serão abordados deve obedecer a critérios técnicos que sejam de pleno conhecimento e domínio do interrogador. O emprego de técnicas no transcurso do interrogatório norteia o interrogador para que demonstre conhecimento e segurança acerca do delito que investiga, e obtenha objetivamente a informação desejada. Técnica da Sequência Memorial Esta técnica tem aplicação quando a pessoa que estiver sendo inquirida se prontifica a narrar os fatos espontaneamente. A sequência com que os fatos são narrados depende da lembrança que interrogando tenha das circunstâncias do fato. Muitas vezes o interrogando inicia a sua fala pelo ato executório e depois desordenadamente vai narrando as demais circunstâncias, por parte, na medida em que estas vão lhe surgindo na memória. Técnica da Sequência dos Fatos Esta técnica procura abordar o acontecido levando em conta a sequência em que os fatos se desenrolaram, percorrendo a narrativa do início ao fim do delito. Para aplicação desta técnica faz-se necessário que a pessoa que estiver sendo inquirida 21 demonstre a vontade de expor os fatos, devendo o interrogador conduzir a narrativa para que os fatos sejam relatados de forma clara e dentro da sequência dos próprios acontecimentos, quando, como e porque iniciou, como se desenvolveu e como e quando terminou. Técnica da Sequência Embaralhada Esta técnica aplica-se quando há indícios de que a pessoa que está sendo inquirida optou por mentir acerca dos fatos que se investiga. O interrogador deve, então, embaralhar ao máximo os pontos já abordados, induzindo o interrogando a erro, para que não consiga responder com encadeamento, lógica e coerência às perguntas feitas, fazendo-a constatar que a sua versão dos fatos não condiz com as demais provas materiais e testemunhais amealhadas. Somente uma narrativa real e verdadeira se sustentaria harmônica diante desta técnica. Técnica da Sequência Protaitiva É a técnica pela qual o interrogador parte de um determinado momento que pode ser de horas ou dias antes do crime e vai avançando no tempo, buscando esclarecer as atividades e convivências da pessoa que se interrogando, levando-se em conta o tempo decorrido, a partir do momento estabelecido pelo interrogador. A experiência tem demonstrado que para esconder atividades e encontros relacionados com a preparação e execução do crime, o suspeito ou indiciado acaba inventando situações que são facilmente desmentidas posteriormente. Técnica da Sequência Retroativa Esta técnica percorre o tempo de forma inversa aos acontecimentos. Parte de um determinado momento que pode ser da comunicação do delito ou de sua execução e vai retroagindo no tempo até um determinado horário, cujas evidências indiquem como sendo o tempo gasto para o suspeito ou indiciado cogitar, preparar e executar o delito. Técnicas de Comportamento São técnicas que tratam da postura, da forma como o interrogador deve se comportar frente ao interrogando. 22 Técnica da Espontaneidade É a técnica que deve ser utilizada para o início de um interrogatório. Consiste em permitir que o interrogando, espontaneamente, sem qualquer interferência do interrogador, narre livremente o fato criminoso. Por esta técnica, o interrogando faz uma narrativa dos fatos por ele praticados; da forma mais livre possível. Através desta técnica, o interrogador se comporta de forma amigável com o interrogando, dando a este um grau de liberdade maior nas suas colocações. Ainda que a narrativa não corresponda àquilo que já foi apurado nos autos, o interrogador não deverá interferir, tudo registrando fielmente, inclusive não deixar transparecer que não está acreditando na versão apresentada. Se a versão for mentirosa, certamente não resistirá ao crivo da investigação séria, profissional e criteriosa. A verdade virá naturalmente à tona. Todavia, é interessante que perceba que nem todo autor de crime confessa o fato espontaneamente e aí se faz necessário o emprego de outras técnicas para se chegar à verdade.Técnica da Indução Caracteriza-se pela formulação de perguntas ao interrogando que o induzam, pela própria maneira como são formuladas, a dar uma resposta certa e objetiva. A técnica da indução permite ao interrogador direcionar o diálogo. Através desta técnica o interrogador discute as circunstâncias do delito e elucida pontos relevantes mencionados durante a narrativa espontânea. O que caracteriza esta técnica é a formulação de perguntas bem elaboradas que induzam o interrogando a dar uma resposta certa, precisa, sobre este ou aquele momento do delito, sobre esta ou aquela circunstância não esclarecida. As perguntas devem ser claras, diretas e de preferência curtas, para que não paire dúvidas ao interrogando sobre a resposta que deverá dar. O interrogador jamais deve contar o fato que investiga ao interrogando, pois assim fazendo correrá o risco de prejudicar a busca da verdade. De um modo geral, ainda que o interrogando resolva narrar os fatos espontaneamente, dificilmente o fará 23 de forma completa, isso acontece tanto intencionalmente, como por qualquer outro motivo, como esquecimento e até mesmo por desconhecer este ou aquele detalhe. Assim, pela técnica da indução, formulando perguntas bem elaboradas, levase o interrogando a, se tiver mentido na narrativa espontânea, não conseguir sustentar a sua versão dos fatos. Técnica da Persuasão Esta técnica tem por objetivo persuadir, convencer o investigando a primar pela verdade dos fatos. Assim o policial deve argumentar com os benefícios da lei, mostrando ao interrogando que somente tem a ganhar se disser a verdade. Evidentemente, o interrogador jamais deve inventar benefícios legais inexistentes. As Leis Federais de números 8.072/1990 e 9.269/1996, preveem diminuição da pena de um a dois terços para o concorrente que confessa o delito, delatando os demais participantes. A Lei Federal n. 9.807/1999, em seu art. 13, dispõe que o juiz poderá conceder o perdão judicial, com a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação ou processo criminal. A Lei Federal n. 9034/95, que dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas, no seu artigo 6º, menciona a colaboração eficaz, ou delação premiada, que consiste em um instrumento que permite ao indiciado, em troca da diminuição de pena, fornecer informações que propiciem o desmantelamento de organização criminosa da qual faça parte, ou que tenha conhecimento das suas atividades. Entre as atenuantes do crime, há a confissão espontânea, prevista no art. 65, inciso III, letra “d” do Código Penal Brasileiro, constituindo um incentivo à confissão. Outros argumentos ainda podem ser utilizados pelo interrogador, tais como a possibilidade de responder o crime em liberdade, em face da primariedade, bons antecedentes, residência fixa, emprego e profissão certos, etc. 24 O primeiro argumento é de que, uma vez esclarecido o fato criminoso cessa a perseguição da polícia, que sempre causa transtornos à vida pessoal, social e profissional de alguém. Sabe-se que o silêncio do interrogado não pode ser interpretado em prejuízo a sua defesa, nos termos do artigo 5º, LXIII, da Constituição Federal de 1988. Não obstante, esta atitude motiva a intensificação das investigações. A cessação da pressão social e da imprensa também pode constituir um forte argumento para convencer uma pessoa a esclarecer o delito. Técnica do Desmentido Esta técnica consiste em relacionar e mostrar ao suspeito que está faltando com a verdade, mostrando a ele todas as controvérsias que seu interrogatório apresenta, oferecendo a ele, após, a oportunidade de dizer a verdade. Com paciência, o interrogador deve aguardar a reação do suspeito, agindo sempre com calma e segurança. Após a aplicação desta técnica, deve-se retornar à técnica da espontaneidade. Técnica do Questionamento Consiste em questionar o que foi dito pelo indiciado e que não estiver de acordo com o que se apurou. Deve-se indagar acerca do que foi alegado pelo indiciado que esteja mal esclarecido. Técnica da Alternância Consiste na aplicação das técnicas mencionadas acima, com o diferencial de que, a aplicação de cada técnica deve ser feita por policial diferente, alterando-se, portanto as técnicas e seus aplicadores. Cada policial deverá estar plenamente certo da técnica que irá aplicar, além de conhecer com a maior profundidade possível o fato delituoso que estiver sendo apurado. 25 Esta técnica tem proporcionado bons resultados práticos, pois é muito comum o investigando, no decorrer da aplicação das técnicas, escolher um dos policiais para revelar a verdade, por ter maior afinidade com ele do que com os demais. Técnica da Informação Cruzada Aplica-se esta técnica nos casos em que se investiga dois ou mais coautores ou partícipes do delito, e quando a versões dos fatos oferecidas por eles sejam controversas. Deve ser aplicada por um único policial, de maneira que se mantenha um perfeito domínio sobre os pontos abordados e que estes sejam explorados com todos os interrogandos. É importante inquirir os suspeitos separadamente impossibilitando que um deles tome conhecimento das declarações dos demais. Quando o interrogador verifica que existem divergências, questionar o interrogando cuja versão esteja em desacordo com o conjunto probatório podendo realizar acareação entre os suspeitos, a fim de elucidar os fatos. É interessante que você perceba que a acareação deve ser breve e se restringir apenas ao ponto em que houve controvérsia. Do Emprego do Detector de Mentiras Diferentemente de outros Países, o detector de mentiras não é utilizado no Brasil, sabendo-se que ele busca afetar psicologicamente o suspeito. Infiltração policial A infiltração policial trata-se de técnica operacional eficaz, que permite a obtenção de conhecimentos profundos da organização criminosa, obtidos pelo policial infiltrado. Apresenta elevado risco para o policial infiltrado, pelo que requer planejamento e preparação. Deve ser realizada por tempo determinado, mediante prévia autorização judicial e, preferencialmente, sob acompanhamento do Ministério Público. 26 No Brasil, em descompasso com a maioria dos países mais avançados no tocante à repressão ao crime, a infiltração até bem pouco tempo não era permitida. Foi inserida no sistema processual penal brasileiro pela Lei n. 10217/01, que alterou a redação do artigo 2º da Lei Federal n. 9034/95: Art. 2º. Em qualquer fase da persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de provas: V – infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante circunstanciada autorização judicial. Trata-se de uma técnica de investigação que objetiva obter informações, mediante o recrutamento e posterior inserção de pessoas, em determinado ambiente, sob a proteção de uma história-cobertura. A infiltração visa a atingir, entre outros, os seguintes objetivos: obter informações ou provas; constatar se um crime está sendo planejado ou realizado; determinar o momento oportuno para a realização de uma operação policial; identificar pessoas envolvidas em um crime. Informante A técnica do informante permite estabelecer procedimentos uniformes, a serem utilizados no manejo de fontes vivas (informantes), que se encontram inseridos na comunidade, e, portanto, possuem informação de grande valia. Existe a necessidade de sua regulamentação através de diretrizes gerais, a serem seguidaspelos órgãos policiais, que contemplem o acompanhamento e fiscalização pelas Corregedorias de Polícia. 27 Vigilância A vigilância é a observação encoberta, contínua ou periódica de pessoas, veículos, lugares e objetos com a finalidade de obter informações sobre as atividades e a identidade de pessoas. Muito frequentemente, a vigilância é a única técnica de investigação a que se pode recorrer para averiguar a identidade dos fornecedores, transportadores e compradores de drogas ilícitas. O planejamento de uma operação de vigilância, seja a pé ou por outros meios, deve levar em conta a possibilidade de uma contra vigilância, por parte do suspeito ou de seus cúmplices, por meios similares, incluídas as contramedidas eletrônicas. De modo geral, existem três tipos de vigilância: a) Vigilância móvel: em que o investigador segue um indivíduo a pé ou em um veículo. b) Vigilância fixa: que consiste em vigiar continuamente, a partir de um ponto fixo, um local, objeto ou pessoa. c) Vigilância eletrônica: na qual se utilizam aparatos eletrônicos, mecânicos ou de outra índole para interceptar o conteúdo de comunicações orais ou telefônicas. Os objetivos da vigilância são: Obter provas de um delito. Proteger agentes encobertos ou corroborar seu testemunho. Localizar pessoas observando seus conhecidos e os lugares que frequentam. Testar a confiabilidade de informantes. Localizar bens escondidos ou contrabando. Impedir que se cometa um ato criminoso ou prender uma pessoa no momento em que comete o delito. 28 Obter informações que possam ser utilizadas em interrogatórios. Obter pistas e informações graças aos contatos mantidos com outras fontes. Determinar onde se encontra uma pessoa a qualquer momento. Obter provas admissíveis nos tribunais. Uma das primeiras medidas que antecedem qualquer operação de vigilância é a designação do policial coordenador. Nas operações em que participam vários policiais, deve ser preparado um plano tático que preveja as eventualidades e especifique a função de cada um dos policiais, a duração da vigilância, as substituições. Além disso, deve-se estabelecer um sistema seguro de comunicação com os superiores e uma coordenação central. Também devem ser combinados sinais para a comunicação entre os policiais da vigilância. Na sequência, você tem a oportunidade de ver mais pormenorizadamente aspectos da vigilância eletrônica, considerando a sua ampla utilização e sua previsão legal. a) Vigilância eletrônica A vigilância eletrônica compreende muitas e diversas tecnologias, algumas das quais exigem um equipamento complexo e caro. Em muitos países, a vigilância eletrônica está estritamente limitada pelo temor de violar o direito à intimidade das pessoas. É extremamente importante que se levem em conta essas limitações potenciais à estratégia de investigação, e se atue de acordo ao planejar as operações de vigilância eletrônica. A vigilância eletrônica é um aparato investigativo que ocasiona excelentes resultados operacionais, destacadamente no combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas. Para utilizar eficazmente os diversos aparatos e técnicas requeridas por esse modo especializado de investigação, é necessário receber instrução e capacitação especializadas. b) Captação de conversações ambientais No que concerne à captação de conversações ambientais, a Lei Federal n. 10217/2001 instituiu no sistema jurídico brasileiro esta modalidade de vigilância eletrônica. 29 A Lei Federal n. 10217/2001 acrescentou o inciso IV, ao artigo 2º da Lei Federal n. 9034/1995, disciplinando expressamente acerca da captação e interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos, bem como o seu registro e análise. c) Interceptação de comunicações telefônicas Mendes, (1999), como a maioria dos doutrinadores, considera interceptação telefônica a captação, por terceiro, de conversa telefônica, sem ou com o conhecimento de um ou de ambos os interlocutores. Quando feita por um dos interlocutores, a captação é chamada gravação de conversa telefônica. A prova obtida mediante gravação de conversa telefônica será objeto de comentário posteriormente. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XII estabelece: (...) é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. Anteriormente à previsão constitucional o fundamento legal utilizado para a interceptação era o artigo 57, inciso II, alínea “e” da Lei n. 4117/62 (Código Brasileiro das Telecomunicações), que, excepcionando o princípio constitucional, admitia fossem violadas as comunicações, desde que judicialmente autorizadas e (...) para fins de investigação criminal ou prova em processo penal. Com o advento da Constituição Federal de 1988, a quebra do sigilo das comunicações passou a ter tratamento constitucional, porém, exigindo necessária regulamentação por lei ordinária, no entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência, inclusive do Supremo Tribunal Federal. 30 A Lei n. 9296/96 prevê diversas exigências para a concessão de interceptação telefônica, tais como: a interceptação deve ser utilizada como prova em investigação criminal e em instrução processual penal; infração penal apurada deve ser punida com pena de reclusão; requerimento deve ser feito pela autoridade policial, na investigação criminal, ou pelo representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual penal; necessidade de ordem judicial; prazo máximo de interceptação de quinze dias, prorrogável por igual período, comprovada necessidade; procedimento deve tramitar em segredo de justiça; exigência de realização de auto circunstanciado após o término da interceptação, constando o resumo das operações realizadas. A mencionada Lei, em seu artigo 10º, previu: Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. Penal – reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Com o advento da Constituição Federal de 1988, que inseriu diversos direitos e garantias individuais muitas vezes limitadoras da busca da prova criminal, e também 31 em razão dos crescentes índices da criminalidade, os agentes estatais que realizam investigação viram-se obrigados a se aperfeiçoar no exercício profissional e a se pautar em técnicas eficazes à atividade investigativa. Dessa forma, técnicas e procedimentos passaram a ser adotados. Nesse contexto, recursos como técnicas de interrogatório, infiltração, uso de informantes e vigilância são cada vez mais utilizados pelas Polícias investigativas na elucidação dos delitos. 32 REFERÊNCIAS BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. 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