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Literatura_Brasileira_I

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Governo Federal
Dilma Vana Rousseff
Presidente
 
Ministério da Educação
Aluísio Mercadante
Ministro
 
CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Presidente
 
Diretor de Educação a Distância
João Carlos Teatini de Souza Clímaco
 
 
Governo do Estado
Ricardo Vieira Coutinho
Governador
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
Marlene Alves Sousa Luna
Reitora
 
Aldo Bezerra Maciel
Vice-Reitor
 
Pró-Reitor de Ensino de Graduação 
Eli Brandão da Silva
 
Coordenação Institucional de Programas Especiais – CIPE
Secretaria de Educação a Distância – SEAD
Eliane de Moura Silva
 
Assessora de EAD
Coord. da Universidade Aberta do Brasil - UAB/UEPB
Cecília Queiroz
literatura brasileira I 01.02.2012.indd 1 11/04/2012 13:02:38
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB
EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
Rua Baraúnas, 351 - Bodocongó - Bairro Universitário - Campina Grande-PB - CEP 58429-500
Fone/Fax: (83) 3315-3381 - http://eduepb.uepb.edu.br - email: eduepb@uepb.edu.br
Editora da Universidade 
 Estadual da Paraíba
Diretor
Cidoval Morais de Sousa
Coordenação de Editoração
Arão de Azevedo Souza
Conselho Editorial
Célia Marques Teles - UFBA
Dilma Maria Brito Melo Trovão - UEPB
Djane de Fátima Oliveira - UEPB
Gesinaldo Ataíde Cândido - UFCG
Joviana Quintes Avanci - FIOCRUZ
Rosilda Alves Bezerra - UEPB
Waleska Silveira Lira - UEPB
Universidade Estadual da Paraíba
Marlene Alves Sousa Luna
Reitora
Aldo Bezerra Maciel
Vice-Reitor
Pró-Reitora de Ensino de Graduação 
Eli Brandão
Coordenação Institucional de Programas Especiais-CIPE 
Secretaria de Educação a Distância – SEAD
Eliane de Moura Silva
Assessora de EAD
Cecília Queiroz
Coordenador de Tecnologia
Ítalo Brito Vilarim
Projeto Gráico
Arão de Azevêdo Souza
Revisora de Linguagem em EAD
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Revisão Linguística
Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Diagramação 
Arão de Azevêdo Souza
Gabriel Granja
literatura brasileira I 01.02.2012.indd 2 11/04/2012 13:02:38
Literatura Brasileira I
Maria de Fátima Coutinho Sousa
Campina Grande-PB
2012
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literatura brasileira I 01.02.2012.indd 4 11/04/2012 13:02:38
Sumário
I Unidade
Viajando com os portugueses......................................................................7
II Unidade
Em terra firme..........................................................................................25
III Unidade
Em meio à instabilidade, vive-se o Barroco................................................49
VI Unidade
O locus amoenus, uma nova forma de viver...............................................71
V Unidade
Vivendo o ideário de Liberdade, Igualdade e Fraternidade..........................95
VI Unidade
Identidade nacional e Romantismo no Brasil.............................................117
VII Unidade
Viajantes sobre um mar de desenvolvimento, descrença e solidão.............145
VIII Unidade
Terceira geração romântica, última etapa dessa Viagem Literária...............175
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 7
I UNIDADE
Viajando com os portugueses
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 8 SEAD/UEPB I Literatura Brasileira I
Apresentação
Caro (a) aluno (a),
Estamos iniciando uma nova 
etapa do curso, um novo compo-
nente curricular. Para vivenciá-la, 
convido-o a acompanhar-me em 
uma viagem, uma viagem literária, 
cujo roteiro nos levará, através do 
túnel do tempo, de 1500 a 1881.
Difícil acreditar não? Garanto 
que será uma experiência surpre-
endente: misto de ficção e realida-
de.
Conversaremos sobre Literatura 
e História, fios de um tecido que se cruzam e se entrelaçam 
em uma urdidura para “contar”, em diferentes linguagens, a 
saga da humanidade. 
Para tanto, precisamos voltar à máquina do tempo, pre-
cisamente 1500, época em que Portugal vivia o seu apogeu 
como uma das grandes nações do mundo europeu, resulta-
do, sobretudo, das grandes navegações marítimas.
Necessário se faz situá-lo (a) em relação aos porquês e às 
causas dessa busca por “mares nunca dantes navegados”.
Antes de adentrarmos mar adentro, quero lembrá-lo de 
que caso surjam algumas dúvidas, procure seus colegas e 
consulte-os, eles podem ajudá-lo, bem como amigos que 
já estudaram esse assunto. Lembre-se de que seu tutor está 
sempre pronto a orientá-lo e que você pode, ainda, enviar 
uma mensagem no AVA. 
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 9
Causas das navegações 
Antes das longas viagens marítimas, iniciadas pelos por-
tugueses no século XV, os europeus comerciavam com o 
Oriente pelo Mediterrâneo. As mercadorias orientais mais 
procuradas eram as drogas e as especiarias da Índia (pi-
menta, cravo e canela), os tecidos da Pérsia e os objetos de 
porcelana fabricados na China.
Todos esses artigos eram levados até Constantinopla, 
onde aguardavam os navios dos genoveses e venezianos, 
que os transportavam para os vários países da Europa. Cons-
tantinopla, como podemos inferir, era o grande centro de 
distribuição das mercadorias orientais e o elo comercial entre 
Oriente e Ocidente, através do Mediterrâneo. Em 1453, os 
turcos, muçulmanos e inimigos dos cristãos, tomam Constan-
tinopla e proíbem o livre comércio com os europeus.
Como consequência, pode-se afirmar que a tomada de 
Constantinopla foi uma das causas das grandes navegações. 
Outro fator foi o desenvolvimento da arte da navegação, 
bem como o conhecimento, no mundo ocidental, da bússo-
la e do astrolábio objetos norteadores de extrema utilidade 
para navegadores. Datam dessa época o surgimento de um 
novo tipo de barco – as caravelas - e da vela triangular que 
muito contribuíram para o sucesso das viagens marítimas. 
Junto a tudo isso, é relevante informar a orientação religiosa 
dada pelos soberanos europeus para a conversão dos povos 
do oriente, justificando-se, assim, a presença de religiosos na 
tripulação dos navios.
As viagens portuguesas
Foi um príncipe, o Infante Dom 
Henrique, apelidado de o Navega-
dor, quem iniciou as grandes nave-
gações de Portugal. Depois de uma 
expedição ao norte da África, onde 
obteve importantes informações so-
bre a costa desse continente, o In-
fante Dom Henrique resolveu trans-
formar a sua residência em uma 
escola para marinheiros, a famosa 
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 10 SEAD/UEPB I Literatura Brasileira I
Escola de Sagres, onde os portugueses aprendiam a arte de 
navegar e de compreender os portulanos, cartas pelas quais 
se guiavam os pilotos daquele tempo.
Chegamos, enfim, a 1500, época em que os portugueses 
aqui chegaram, “ descobrindo o Brasil”.
Após esse preâmbulo, iniciaremos a nossa aula propria-
mente dita, acompanhando, por meio de registros, a presen-
ça e a influência de portugueses e de outros povos que aqui 
aportaram.
Objetivos
Nessa perspectiva, traçamos objetivos que esperamos que você 
atinja ao final deste encontro. Vejamos:
•	 Entender o entrelaçamento da História com a Literatura;
•	 Compreender a Literatura como reflexo do homem como ser 
social e histórico;
•	 Conhecer a Literatura de Informação;
•	 Compreender a Literatura Jesuítica;
•	 Analisar textos produzidos nos diferentes contextos da época: 
político, social e individual.
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 11
TEXTO 1 
Iniciando a viagem 
No princípio, a curiosidade, o desafio, a necessidade 
de expandir-se. 
Estávamos em meados de 1400 e início de 1500, 
período do crescimento mercantilista europeu, que aten-
dia aos interesses econômicos da precoce monarquia 
absolutista portuguesa, que buscava, urgentemente, re-
tomar a comercialização interrompida pelos turcos. Por-
tugalenvia Vasco da Gama às Índias, monopoliza o co-
mércio das especiarias e de outros produtos asiáticos. O 
temido Cabo das Tormentas, bastante temido pelos via-
jantes europeus, recebe, após as viagens vitoriosas dos 
portugueses, um novo nome: Cabo da Boa Esperança.
No início de nossa conversa, eu para vocês que 
literatura e história formam um tecido. Lembram? Os fios 
começam a se unir e a formar a urdidura da nossa histó-
ria literária. Atente para o texto a seguir:
Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
 (In Fernando Pessoa, Mensagem)
 Esse poema, escrito muitos tempo depois do início das grandes 
navegações, deixa, bem claro, o entrelaçamento entre literatura e 
história. Os fatos cantados e decantados da História de Portugal são 
ficcionados, transformando-se em poesia, em Literatura.
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 12 SEAD/UEPB I Literatura Brasileira I
Acredito que agora, você entendeu como essas duas áreas do co-
nhecimento se entrelaçam formando um tecido. Ficção e realidade se 
juntam, formando uma teia, tecido espesso e cheio de significados.
 
Atividade I
Para melhor ixar nossa conversa, pesquise e responda os questionamentos a 
seguir.
 
a) Quem foi Fernando Pessoa? Em que época viveu?
b) Você percebeu, de fato, alguma correspondência entre o tema de nossa aula 
e o poema? 
c) Nas aulas de História, você já havia ouvido falar sobre o Bojador? Que 
informações pode nos dar sobre esse acidente geográico?
d) Como você interpreta os dois primeiros versos do poema? Comente-os.
 
Descobrindo o Brasil
A frota de Pedro Álvares Cabral não se destinava à exploração de 
terras desconhecidas, mas sim concretizar o comércio estabelecido em 
Calicute. Para fugir das correntes marítimas, a frota afastou-se muito 
do continente africano. O desvio involuntário permitiu confirmar a exis-
tência de terras a oeste da rota de Vasco da Gama. Estava descoberto 
o Brasil, território que os índios denominavam de Pindorama (terra das 
palmeiras), e os portugueses, em um primeiro momento, de Ilha de 
Vera Cruz.
O descobrimento da nova terra não chegou a ter a mesma importân-
cia que o comércio com as índias. A terra prometia pouco, pois aparen-
temente era pobre de especiarias e metais preciosos, apenas o pau-brasil 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 13
mereceu algum entusiasmo. Nos primeiros anos, coube a Fernando de 
Noronha explorar o comércio de pau-brasil com mão de obra indígena 
e defender a terra contra a cobiça e a pirataria de outros povos. 
TEXTO 2
A Literatura de Informação
Com a descoberta do Brasil, em 1500, era preciso informar o rei 
de Portugal sobre a nova terra. Para que isso ocorresse, junto às expe-
dições vinham cronistas, a quem cabia tal tarefa.
Escrito sempre do ponto de vista do conquistador português, os 
textos informativos relatavam o encantamento e as intenções dos con-
quistadores diante da nova terra.
O primeiro registro informativo a respeito do Brasil foi a Carta de 
Pero Vaz de Caminha ao rei Dom Manuel. Iniciava, assim, a Literatura 
de Informação.
Leia dois pequenos fragmentos da carta de Caminha
“ Senhor, posto que o capitão-mor dessa vossa frota e assim os 
outros capitães escrevam a vossa alteza a nova do achamento des-
sa vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei 
também de dar disso a minha com conta a vossa alteza assim como eu 
melhor poder ajudar que para o bem contar e falar o saiba pior que 
todos fazer. Mas tome vossa alteza minha ignorância por boa vontade 
a qual bem certo creia que por embelezar nem enfeiar haja aqui pôr 
mais do que vi e me pareceu. Da marinhagem e da navegação do ca-
minho não darei aqui conta a vossa alteza porque não saberei fazer e 
os pilotos devem ter se cuidado e portanto, Senhor, do que hei de falar 
começo e digo.
......................................................................................................
A feição deles é serem pardos, maneira d’ avermelhados , de bons 
rostos e bons narizes bem-feitos. Andam nus sem nenhuma cobertura, 
nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas e 
estão acerca disso com tanta inocência como têm de mostrar o rosto.”
A seguir, leia o fragmento de autoria de Pero de Magalhães Gân-
davo:
“ Não se pode numerar nem compreender a multidão de barbaro 
gentio que semeou a natureza por toda essa terra do Brasil; porque nin-
guém pode pelo sertão dentro caminhar seguro, nem passar por terra 
onde não acha povoações de índios armados contra todas as nações 
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 14 SEAD/UEPB I Literatura Brasileira I
humanas, e assi como são muitos permitiu Deos que fossem contrarios 
huns dos outros, e que houvesse entrelles grandes odios e discórdias, 
porque se assi não fosse os portuguezes não poderião viver na terra 
nem seria possível conquistar tamanho poder de gente.
......................................................................................................
 
A língua deste gentio toda pela Costa he huma: carece de três letras 
– scilicit (latim, a saber), não se acha nela F, nem L, nem R, cousa digna 
de espanto, porque assi não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira 
vivem sem Justiça e desordenadamente.
Estes índios andão nus sem cobertura alguma, assi machos como 
femeas ; não cobrem parte nenhuma de seu corpo, e trazem descober-
to quanto a natureza lhes deu. [...]
Atividade II
A título de ixação
Os dois autores registram, de forma distinta, as impressões causadas pelos 
nativos e por seus costumes. Transcreva o trecho em que Caminha exprime sua 
visão.
Transcreva o trecho em que Caminha informa que irá escrever de forma 
imparcial.
Em relação ao texto de Gândavo, que contrassenso existe no primeiro parágrafo?
Ainda em relação ao trecho de autoria de Gândavo, como você interpreta 
o posicionamento dele ao citar a ausência do F, do R e do L na língua dos 
indígenas?
Os dois autores apresentam concordância em um determinado aspecto sobre 
os nativos. Cite esse aspecto.
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 15
Para finalizar, podemos resumir a Literatura de Informação em dois 
grupos:
a) Documentos, cartas e relatórios de navegantes, de administra-
dores, de missionários e de autoridades eclesiásticas. Os mais impor-
tantes: 
•	 a carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Cabral, 
relatando o descobrimento da nova terra (1500);
•	 o Diário de navegação de Pero Lopes de Sousa, escrivão da 
frota de Martim Afonso de Sousa (1530);
•	 as cartas e os relatórios dos missionários jesuítas.
b) Obras que se ocupam da descrição da nova terra e de seus ha-
bitantes, traduzindo o impacto causado pela exuberância da natureza 
tropical e os estranhos costumes dos índios. As mais importantes:
•	 Diálogo sobre a conversão do gentio, de Pe. Manuel da Nó-
brega;
•	 Tratado da terra do Brasil e História da Província de Santa Cruz 
a que vulgarmente chamamos Brasil, ambas do humanista por-
tuguês Pero de Magalhães Gândavo (1576);
•	 Tratados da terra e gente do Brasil, de Pe. Fernão Cardim;
•	 Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa ( 1587);
•	 Diálogos das grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes 
Brandão (1618);
•	 História do Brasil, de Frei Vicente de Salvador (1627).
Essas obras, representativas desse período, são importantes fontes docu-
mentais para o estudo doprimeiro século da colonização. Não são consi-
derados textos literários, entretanto serviram, ao longo de nossa história, de 
inspiração a poetas e prosadores das mais diferentes tendências de época.
TEXTO 3
Literatura Jesuítica 
ou de Catequese
A Literatura Jesuítica ou Catequética, como o próprio nome sugere, 
tem como representantes os padres da Companhia de Jesus que vie-
ram ao Brasil com a missão de catequizar índios para aceitação da fé 
católica, em nome da Coroa portuguesa. Coube também aos jesuítas 
o papel de educadores, sendo responsáveis pela implantação dos pri-
meiros colégios aqui na província. 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
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 16 SEAD/UEPB I Literatura Brasileira I
A atividade cultural dos jesuítas norteava-se em duas direções bem 
definidas: a catequese do indígena, como já dito, a fim de torná-lo so-
cialmente útil e convertê-lo ao Cristianismo; e a educação dos colonos, 
fascinados pela liberdade paradisíaca que desfrutavam na terra ainda 
inexplorada. Cartas, relatórios, informações da terra, gramática, poesia 
e obras para teatro, tinham como finalidade notificar os superiores dos 
negócios missionários em solo brasileiro. Já os últimos, destinavam-se 
ao trabalho pedagógico. De todas somente a poesia e o teatro conti-
nham caráter literário. 
Os autos, peças teatrais inspiradas em passagens bíblicas, eram 
encenados para os índios, para os colonos, marujos e comerciantes, 
com o objetivo de incutir-lhes a moral e os dogmas católicos. Quando 
direcionados especificamente aos indígenas, os autos eram encenados 
em tupi. 
Embora a preocupação maior fosse com a catequese, a produção 
literária dos jesuítas, do ponto de vista estético, foi a melhor do Qui-
nhentismo ( período relativo a 1500) brasileiro. 
Wilson Martins, citado por José de Nicola ( 1998), assim se refere 
aos padres da Companhia de Jesus:
“ Quaisquer que sejam os méritos especificamente pedagógicos do 
ensino jesuítico, não há como negar que era mentalmente conservador, 
reacionário com relação às orientações reformistas da época e anti-
científico; estruturalmente, estava condenado por antecipação antes a 
imobilizar do que a promover o desenvolvimento intelectual do Brasil 
(simples prolongamento do que então ocorria em Portugal).
......................................................................................................
Além disso, é preciso notar que o latim era, no caso, não um ins-
trumento de cultura intelectual, mas um instrumento indireto de cate-
quese, destinando-se, como se destinava, à formação de missionários. 
É preciso aceitar a ideia de que a catequese, e não a instrução, era o 
único propósito dos jesuítas e a própria razão de suas atividades. Não 
vai nessa observação censura alguma, mas apenas o desejo de ver 
claro num processo que os historiadores têm geralmente desfigurado 
através de interpretações superficiais. A conquista espiritual do Brasil 
pelos jesuítas foi, no século XVI, 
um prolongamento da ideologia 
medieval; ninguém poderia sim-
bolizá-la melhor, nas perspectivas 
da história intelectual, do que José 
de Anchieta.”
Para os estudiosos da Literatu-
ra Jesuítica, merecem destaque: 
Padre José de Anchieta, Padre Ma-
nuel da Nóbrega. 
Padre José de Anchieta é autor 
da primeira gramática em tupi-
literatura brasileira I 01.02.2012.indd 16 11/04/2012 13:02:39
Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 17
-guarani – Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil, 
escreveu grande número de poesias e autos. “Apesar de não haver 
nascido no Brasil, Anchieta foi poeta brasileiro e nacional – escreveu 
no Brasil, em função dos problemas brasileiros, codificou a língua de 
nosso selvagem, poetou nessa língua; escreveu para ensinar o traba-
lho, a ordem, a fidelidade ao colonizador, a colaboração, o repúdio ao 
vício que corroi o progresso.” Cumpriu, com denodo, a sua missão de 
levantar as primeiras fortalezas de fé e consciência nacional. Seus au-
tos seguiam o modelo introduzido por Gil Vicente, poeta e dramaturgo 
português, misturando a moral religiosa aos costumes dos indígenas, 
com a preocupação de ressaltar os dois extremos, o Bem e o Mal, o 
Anjo e o Diabo.
Vejamos dois exemplos de sua produção poética:
Amor de Deus (poesia devocional)
Ama a Deus, que te criou
homem, de Deus muito amado!
Ama com todo cuidado
a quem primeiro te amou.
Seu próprio Filho entregou
à morte, por te salvar.
Que mais te podia dar,
se tudo o que tem te doou?
Por mandado do Senhor,
te disse o que tens ouvido.
Abre todo teu sentido,
porque eu, que sou seu Amor,
seja em ti bem imprimido. 
Auto de São Lourenço ( texto de caráter didático)
Este auto foi representado no terreiro da capela de São Lourenço, 
sobre o Morro de São Lourenço, em Niteroi, presume-se que em 10 de 
agosto de 1583. A peça é composta de 1493 versos. Tem como per-
sonagens: Guaixará – rei dos diabos, Aimbirê e Saravaia – criados de 
Guaixará, Tataurana, Urubu e Jaguaruçu –companheiros dos diabos, 
Valeriano e Décio – Imperadores romanos.
São Sebastião – padroeiro do Rio de Janeiro, São Lourenço – pa-
droeiro da aldeia do mesmo nome, Velha, Anjo, Temor de Deus, Amor 
de Deus, Cativos e Acompanhantes.
Após uma leitura acurada do auto, pressente-se que o indígena, até 
a chegada dos portugueses, vivia pacificamente com o diabo. O Mal é 
representado pelos demônios e assessores, todos nomeados em tupi. Já os 
personagens do Bem apresentam nomes representativos dos portugueses.
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 18 SEAD/UEPB I Literatura Brasileira I
Situando o leitor (a)
O texto é dividido em cinco atos. O primeiro apresenta o martírio 
de São Lourenço, daí decorrem os demais. Após o martírio, Guaixará 
chama Aimbirê e Saravaia para ajudarem a perverter a aldeia. São 
Lourenço a defende, São Sebastião prende os demônios. Um Anjo 
manda-os sufocarem Décio e Valeriano. Quatro companheiros acor-
rem para auxiliar os demônios. Os imperadores recordam façanhas, 
quando Aimbirê se aproxima. O calor que se desprende dele abrasa 
os imperadores, que suplicam a morte. O Anjo, o Temor de Deus e o 
Amor de Deus aconselham a caridade, contrição e confiança em São 
Lourenço. Faz-se o enterro do santo. Meninos índios dançam.
Vejamos um pequeno diálogo entre São Lourenço, Quaixará, rei 
dos diabos e um de seus criados.
São Lourenço
Quem és tu?
Guaixará
Sou Guaixará embriagado,
sou boicininga, jaguar,
antropófago, agressor,
andirá-guaçu alado,
sou demônio matador.
São Lourenço
E este aqui?
Aimbirê
Sou jiboia, sou socó,
o grande Aimbirê tamoio.
Sucuri, gavião malhado,
sou tamanduá desgrenhado,
sou luminoso demônio.
E nessa peleja, como é de se esperar, visto que a texto tem função 
doutrinária e didática, a peça é encerrada com a vitória do Bem sobre 
o Mal, bem ao estilo medievalista português.
Se Anchieta foi o grande poeta e dramaturgo dentre os jesuítas, 
Padre Manuel da Nóbrega foi o grande prosador da Companhia de 
Jesus, em sua época, aqui no Brasil. Deixou uma série de cartas, as 
Cartas do Brasil e um Diálogo da Conversão do Gentio, apresentado 
por dois personagens: Gonçalo Álvares e Mateus Nogueira, que ver-
sam sobre a inconvertibilidade do índio à fé católica.
Certa feita, Darcy Ribeiro ao ser entrevistado na antiga e extinta 
Rede Manchete, citou o “Diálogo da Conversão do Gentio” como o 
texto mais importante da Literatura Brasileira.
Eis, a título de ilustração, um trecho do Diálogo:
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 19
Gonçalo Álvares
Por demais é trabalhar com estes! São tão bestiais, que não lhes 
entra no coração coisa de Deus! Estão tão encarniçados em matar e 
comer, que nenhuma outra bem-aventurança sabem desejar! Pregar a 
estes é pregar em deserto a pedras.
Mateus Nogueira
Se tiveram rei, puderam-se converterou se adoraram alguma coisa. 
Mas como não sabem que coisa é crer nem adorar, não podem enten-
der a pregação do Evangelho, pois ela se funda em fazer crer e adorar 
a um só Deus e a esse só servir, e como este gentio não adora nada, 
nem crê em nada, tudo o que lhes dizeis se fica nada.
Atividade III
Interpretando os textos
Compare os textos de Anchieta e Nóbrega referentes ao Auto e aos fragmentos 
do Diálogo. Comente-os
Releia os dois textos de Anchieta, analise a temática abordada e expresse sua 
opinião.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
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Leituras e filmes 
recomendados
Chegamos, enfim, ao término dessa nossa aula – viagem. Apor-
tados que estamos em terra firme, sugiro que você assista aos filmes: 
• Como era gostoso meu francês (1971). Direção de Nelson Pereira 
dos Santos. 
• Anchieta, o apóstolo do Brasil ( 1963) Documentário dirigido por 
Sanin Cherques. 
Para leitura, lembramos:
•	 Os livros de História do Brasil, especificamente o capítulo dedi-
cado às Grandes Navegações. 
•	 A internet. Sabendo usá-la, você só tem a ganhar. O importan-
te mesmo é a busca do conhecimento.
•	 A(s) biblioteca(s) de sua cidade. Procure ler sobre os cronistas e 
viajantes, bem como sobre Pe. Anchieta e Pe. Manuel da Nóbrega. 
Agora, é hora de rever os objetivos propostos para essa aula. Acre-
dito que as informações dadas lhe permitiram entender o entrelaça-
mento da História com a Literatura. Acertei?
Sei que você também aprendeu que como a literatura reflete o ho-
mem como ser social e histórico, entendeu o comportamento, os medos, 
ideias e posicionamentos dos autores apresentados. 
Tenho certeza de que você entendeu o que é Literatura de Informação 
e o que a distingue da Literatura Jesuítica.
Por fim, sei que você é capaz de analisar textos produzidos nos dife-
rentes contextos estudados: político, social e individual, ao responder às 
atividades propostas.
Nossa aula pretendeu ser apenas um farol a despertá-lo (a) para um 
aprofundamento maior sobre o tema. O caminho foi apontado. Cabe a 
você explorá-lo. Sucesso. Aguardo você na próxima aula. Até lá.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
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Resumo
A nossa aula- viagem teve início antes do século XV, época em que 
os europeus viajam para o oriente com a finalidade de comercializar 
especiarias e drogas da Índia, tecidos da Pérsia, e objetos de porcelana 
da China. A tomada de Constantinopla pelos turcos, a consequente 
proibição do comércio com os europeus, bem como o desenvolvimen-
to da arte de navegação, o conhecimento da bússola e do astrolábio, 
o surgimento das caravelas e da vela triangular contribuíram como 
elementos impulsionadores das grandes viagens marítimas. Tudo isso, 
associado à curiosidade, ao desafio e à necessidade de expandir-se, 
levou os portugueses à Índia e, posteriormente, embora não fosse essa 
a rota estabelecida, ao Brasil. Aqui chegando, encantados com as 
belezas da natureza, o exotismo dos nativos e outras riquezas encon-
tradas, o comandante dos navios encarregou o escrivão da frota de 
informar o rei de Portugal sobre as terras descobertas. Portugal envia, 
então, novos navegadores à nova terra com a finalidade de explorá-
-la, dominar os nativos e comunicar ao reino tudo que aqui ocorresse. 
Denomina-se, então, esse período de registro e documentos referentes 
à nova terra, de Literatura de Informação. Paralelamente às atividades 
dos viajantes, aportam, nas terra de além mar ( assim denominavam 
as terras conquistadas), os padres da Companhia de Jesus com a fina-
lidade de catequizar o povo nativo à fé cristã, bem como educar os co-
lonos portugueses que aqui chegados, deslumbravam-se com a visão 
paradisíaca – a natureza exuberante e a nudez indígena.
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Autoavaliação
 
Já em terra irme, aproveite o tempo para autoavaliar-se. Para tanto, escreva 
pequenos comentários sobre o que você entendeu do assunto exposto. Esse 
exercício ajuda a desenvolver ideias e expressá-las por escrito.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 23
Referências
ABDALA Jr, Benjamin, CAMPEDELLI, Samiran Youssef. Tempos da 
Literatura Brasileira. São Paulo. Ática, 1986.
ANCHIETA, Pe. José de. O Auto de São Lourenço. Rio de Janeiro.
Tecnoprint, s.d.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo, 
Cultriz,1992.
 
_____, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo. Cia das Letras, 
1996.
MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira. Vol.1. São Paulo. 
Cultrix, 1991.
Nóbrega, Pe. Manuel da. Diálogo da conversão do gentio. Rio de Janeiro. 
Tecnoprint, s.d.
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II UNIDADE
Em terra firme
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 26 SEAD/UEPB I Literatura Brasileira I
Apresentação
Caro (a) aluno (a),
Estamos iniciando a nossa segunda unidade. Assim como 
no primeiro encontro, continuamos viajantes do túnel do 
tempo. Estamos em pleno século XVII, 1600 e ... 
Difícil acreditar que viajamos tanto tempo, não? Precisa-
mente um século!
Lembra do primeiro encontro? Nele conversamos sobre o 
comércio entre oriente e ocidente; sobre a queda de Cons-
tantinopla; sobre os portugueses e as grandes navegações; 
sobre a descoberta da nova terra – Brasil, paraíso para via-
jantes, Jardim do Éden para jesuítas, sobre cartas, documen-
tos e poemas.
Como vemos, a Literatura e a História se cruzam e se 
entrelaçam para “contar”, em diferentes linguagens, a his-
tória de portugueses e brasileiros, de gentios e de nativos, de 
religião e de costumes, de amor e de ódio... 
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 27
Objetivos
Dando continuidade ao nosso encontro, esperamos que no final 
dessa aula/viagem, você:
•	 Perceba que a História e a Literatura se entrelaçam;
•	 Compreenda a Literatura como reflexo do homem como ser 
social e histórico;
•	 Relembre a Reforma Protestante e a Contra-Reforma;
•	 Entenda a Barroco como resultante desses dois movimentos his-
tóricos;
•	 Conheça os principais representantes do barroco brasileiro;
•	 Analise textos literários produzidos nesse contexto: político, so-
cial e individual.
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TEXTO 1
 
Para entender o Barroco
Enquanto o Brasil dava seus primeiros passos como colônia de Por-
tugal, o ocidente estava em plena ebulição. A sociedade começa a se 
libertar do poder da Igreja. O homem afasta-se da visão teocêntrica 
(Deus como centro do universo e a medida de todas as coisas) e enxerga-
-se como centro do universo, visão antropocêntrica. Esse antropocentris-
mo, oposto ao teocentrismo medieval, caracteriza o Renascimento, iden-
tificado pela valorização da razão, pelo culto aos valores da Antiguidade 
Clássica e pelo Humanismo. Segundo Cademartori (1990, p.18):
À nova concepção de homem que surge então dá-
-se o nome de humanismo, entendendo-se por isso o 
interesse pelo ser humano e a primazia a ele conferida. 
O homem passa a ser valorizado pela sua capacidade 
de conhecimento, pela sua possibilidade de voltar-se 
às coisas do mundo e dominá-las pelo saber. O Renas-
cimento protestacontra o asceticismo medieval – ou 
seja, o desprezo do corpo e dos interesses não-espi-
rituais do homem -, valorizando a autodeterminação 
da personalidade e exaltando a natureza humana. Isso 
não significa, porém, que o Renascimento tenha sido 
incrédulo; foi, sim, anticlerical e antiascético. Ideias tão 
importantes ao medieval, como salvação, redenção, 
pecado original, não desaparecem, mas passam a ser 
secundárias. O sentimento religioso não desaparece, 
apenas deixa de ser primordial.
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 29
Resultante desse processo, o homem já não se considera imagem 
de Deus, mas a ele ligado em “natureza material, física e terrena”. Per-
cebe-se, assim, a extrema ruptura com o pensamento medieval e o im-
pacto que essa nova concepção provocaria tanto na Igreja, detentora 
do poder Divino e representante Deste na terra, bem como no próprio 
homem, dividido entre uma crença até então tida como verdadeira e a 
nova concepção de enxergar-se como detentor de seu próprio destino.
Nessa perspectiva, “o mundo deixa de ser um lugar de pecado, 
passando a espaço de realização plena do homem humano, a quem 
foi devolvido o corpo...”
As expressões artísticas como escultura, pintura, arquitetura e litera-
tura passam a refletir esses dois mundos: o divino e o terreno. 
Outro ponto importante para a compreensão do Barroco, é enten-
der o que foi a Reforma Protestante ou Reforma Religiosa, proposta por 
Martim Lutero, no século XVI, movimento desencadeado na Alemanha 
e que se estendeu por quase toda a Europa – Suécia, França, Ingla-
terra, Suíça e Escócia Esse movimento religioso, político e econômico 
teve, basicamente, como causas: interesses pelos bens da Igreja, abu-
sos cometidos pelo Clero, conflitos entre Papas e imperadores, Venda 
de indulgências.
Para combater as ideias reformistas, a Igreja Católica institui a Con-
tra - Reforma, movimento deflagrado em Espanha e Portugal, que teve 
como objetivo maior restaurar a religiosidade “perdida” e regatar seus 
antigos seguidores.
Para melhor fixar esse conteúdo, você deve ler, seja em livros de his-
tória ou de literatura, sobre Humanismo, Renascimento, Reforma e 
Contra-Reforma, visto que apenas informamos, de maneira sucinta, da-
dos sobre assuntos que são essenciais para um maior aprofundamento 
dos conhecimentos necessários a um futuro profissional das Letras. 
TEXTO 2
Afinal, o Barroco
Conversamos tanto e ainda não falamos sobre o Barroco. Sei que 
você deve estar curioso para relembrar esse movimento que já foi es-
tudado no ensino médio. Como futuro profissional de Letras e prová-
vel professor de Literatura, é necessário retomar assuntos estudados e 
aprofundar esses conhecimentos, visto que na sua vida de docente, eles 
serão ferramenta da prática docente.
Antes de mais nada, é preciso entender o significado do termo Bar-
roco. Para tanto, vejamos o ponto de vista de três estudiosos da litera-
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tura, dentre outros. Cademartori, em Períodos Literários, p.26, assim se 
posiciona: 
A etimologia da palavra barroco é controvertida. 
Todas as hipóteses sobre qual seria sua origem, 
porém apresentam a conotação de algo pejorativo 
e irregular, sendo o Barroco visto como uma dege-
nerescência da arte renascentista, o que se expres-
saria na ausência de clareza e elegância de linhas, 
assim como o uso exagerado de ornamentos. 
A reformulação desse conceito e a consequente va-
loração da arte barroca foram feitas por Heinrich 
Wölfflin , que desenvolveu um sistema, apoiado em 
cinco pares de conceitos, no qual estabelece uma 
contraposição entre traços renascentistas e barro-
cos. A partir da teoria wolffliniana, o Barroco passa 
a ser visto como um desenvolvimento, e não como 
uma degenerescência, do Classicismo. Estabeleci-
das as categorias próprias do estilo, sua avaliação 
a partir dos preceitos renascentistas perde a razão 
de ser.
As categorias são as seguintes:
Renascimento Barroco
1. linear pictórico
2. superficial profundo
3. forma fechada forma aberta
4. claridade absoluta claridade relativa 
5. variedade unidade
A arte renascentista é marcada pela linearidade, 
pela presença de linhas incisivas e contornos cla-
ros que, contrastando com a interpenetração de 
contornos da arte barroca realça o jogo do claro 
escuro e configura-se como uma arte pictórica. Os 
quadros renascentistas apresentam planos claros, 
horizontais, definidos na superfície; a composição 
barroca é dotada de profundidade e sugere ilusões 
de distância. 
A terceira oposição enfatiza a diferença entre um 
equilíbrio composto de elementos horizontais e ver-
ticais que delimitam o espaço e mantêm o olho 
dentro de uma área limitada, e a presença de linhas 
diagonais que sugerem espaços além da pintura. 
A contraposição de claridade absoluta e claridade 
relativa baseia-se em que, no Renascimento, todos 
os elementos do quadro são usados para descrever 
a estrutura do sólido em formas ultradimensionais, 
enquanto no Barroco a claridade relativiza-se, 
cada elemento sendo valorizado por sua maior ou 
menor contribuição ao tema dramático.
A distinção entre o que seja a variedade de um esti-
lo e a unidade de outro pode ser percebida em um 
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pintor renascentista, cujas obras são estruturadas 
de modo a permitir que as figuras permaneçam 
entidades independentes, apesar do agrupamento 
harmonioso e do arranjo equilibrado dos elemen-
tos. Na pintura barroca observa-se o contrário, to-
das as partes são subordinadas a um ritmo que 
une o todo, e qualquer separação significa uma 
mutilação.
Você entendeu o texto? Achou complicado? Na primeira leitura, 
realmente, parece um pouco complicado. Releia o texto. Vou me apro-
priar de algumas sugestões da autora e recomendar que você observe 
um quadro de Dürer, renascentista e um de Rembrand, barroco, para 
entender o primeiro ponto. Para o segundo, terceiro e quarto pontos 
veja uma tela de Leonardo da Vinci e uma de Tintoretto. Por fim, su-
gere a obra “Quatro Estações” de Botticelli em que uma das figuras – A 
Primavera, é a mais conhecida das integrantes do quadro (isso justifica 
a ideia de independência explicada anteriormente, lembra?). Em opo-
sição, no “Jardim do Amor” de Rubens, pintor barroco, todas as partes 
estão interligadas, nada podendo ser separado.
Você pode está pensando: onde vou encontrar essas telas, para 
comprovar as informações recebidas? Vá a uma biblioteca e pesquise 
em livros de Artes, Coleções sobre grandes mestres da pintura, enciclo-
pédias, livros de História e de Literatura. E se você mora em uma gran-
de cidade, ou tem possibilidade de visitar um grande centro, procure 
um Museu de Artes e lá com certeza encontrará uma tela de alguns 
dos pintores indicados. A internet também é uma fonte de pesquisa. 
Entre no Google e escreva o nome dos pintores, ou escreva o nome do 
quadro mais o nome do respectivo autor. Consulte os diversos sites que 
surgirem, mas não esqueça da finalidade da sua pesquisa – observar 
a oposição/características entre autores/telas barrocas e renascentistas.
Afrânio Coutinho, em sua obra Introdução à Literatura Brasileira, p. 
89 e 93, referindo - se ao vocábulo barroco, assim se coloca:
A etimologia de “barroco” tem suscitado muita 
controvérsia. Acreditam uns na origem ibérica, es-
panhola – “barrueco”, ou portuguesa - “barroco”, 
designando uma pérola de superfície irregular. ( 
... ) Nos séculos XVI e XVII, o epíteto significava 
um modo de raciocínio que confundia o falso e o 
verdadeiro, uma argumentação estranha e viciosa, 
evasiva e fugidia, que subvertia as regras do pensa-
mento. Originalmente, portanto, é negativo, pejo-
rativo, sinônimo de bizarro,extravagante, artificial, 
ampuloso, monstruoso, visando a designar, me-
noscabando, a arte seiscentista, interpretada dessa 
maneira, como forma de decadência da arte renas-
centista ou clássica. ( ... ) Assim, o conceito, com 
seu sentido pejorativo, teve curso especialmente no 
terreno das artes plásticas e visuais , designando 
a arte e a estética do período subsequente ao Re-
nascimento, interpretada como forma degenerada 
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 32 SEAD/UEPB I Literatura Brasileira I
dessa arte, expressa na perda da clareza, pureza, 
elegância de linhas, e no uso de toda a sorte de 
ornatos e distorções, que resultaram num estilo im-
puro, alambicado e obscuro (...).
O Renascimento caracterizou-se pelo domínio da 
linha reta e pura, pela clareza e nitidez de con-
tornos. O Barroco tenta a conciliação, a incorpo-
ração, a fusão ( o fusionismo é a sua tendência 
dominante) do ideal medieval, espiritual, supra-ter-
reno, com os novos valores que o Renascimento 
pôs em voga: o humanismo, o gosto das coisas 
terrenas, as satisfações mundanas e carnais. A es-
tratégia pertenceu à Contra-Reforma, no intuito, 
consciente ou inconsciente, de combater o mo-
derno espírito absorvendo-o no que tivesse de mais 
aceitável. Daí nasceu o Barroco, novo estilo de 
vida, que traduz em suas contradições e distorções 
o caráter dilemático da época, na arte, filosofia, 
religião, literatura.
 
Perceba que o texto que acabamos de citar contém as mesmas 
ideias de Cademartori, entretanto apresenta alguns termos que talvez 
sejam desconhecidos para você. Aproveite e enriqueça seu vocabulá-
rio. Vá ao dicionário e pesquise. Lembre de que um futuro professor 
precisa ter uma linguagem rica, um bom conhecimento da língua pa-
drão, não para demonstrar que é erudito, mas como estímulo, exemplo 
a ser seguido por seus alunos.
O outro autor que ficamos de lhe apresentar, Massaud Moisés, as-
sim se posiciona em relação ao Barroco, em sua obra: História da 
Literatura Brasileira. Dele extraímos um olhar diferenciado. Não nos 
deteremos na explicação do termo em si, pois há uma coincidência de 
concepção conceitual entre os autores já citados e Massaud, mas no 
comentário que faz sobre o assunto:
A complexidade avulta à medida que vamos de-
tendo os olhos noutros aspectos da questão. Per-
gunta-se: quais as fontes de que promanaria o 
Barroco? Os especialistas no assunto divergem, 
ora optando por uma, ora por outra das matrizes 
plausíveis. Como sempre ocorre no trânsito entre 
estéticas literárias contíguas, a arte barroca nasce-
ria do movimento cultural imediatamente anterior, 
a Renascença. E se caracteriza, pelo menos no país 
em que primeiro surgiu (Espanha), por nítida bipo-
laridade, é fácil compreender o quanto lhe deve a 
nova corrente literária: o bifrontismo renascentista, 
- configurado pela coexistência de valores medie-
vo-cristãos e novidades pagãs e terrenas trazidas 
pela ressurgência do espírito greco-latino, por 
desenvolvimento interno e progressiva conscien-
cialização, - gera a estética barroca. Tipicamente 
seiscentista e meridional, orienta-se pelo empenho, 
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frustre, de neutralizar e unificar a dualidade renas-
centista. Aliança identificadora entre o teocentris-
mo medieval e o antropocentrismo quinhentista, 
eis a geratriz fundamental do ideário barroco. (...). 
Nessa perspectiva, o Barroco estaria intimamente 
relacionado com o movimento da Contra-Reforma. 
Esta, em verdade, não originou o Barroco, mas tê-
-lo-ia encampado, dando-lhe rumos precisos e 
matizes não-estéticos. A campanha anti-reformista 
encontrou na arte barroca um instrumental riquís-
simo, que se amoldava perfeitamente à estratégia 
praticada pelo Vaticano contra a dissidência lute-
rana. A feição mística e pragmática assumida pelo 
movimento barroco decorre desse ajuste entre a 
forma barroca e a matéria da Contra-Reforma, re-
sultando, daí, a fisionomia dilemática e o mútuo 
intercâmbio, em que o espírito tende a ser consi-
derado matéria, e a carne a transcendentalizar-se: 
corpo e alma coligados inseparavelmente. Como 
se iniciou nas artes plásticas, ou nelas vicejou pri-
meiro, o Barroco identifica-se pelo jogo do claro-
-escuro, da luz e da sombra, pela assimetria, pelo 
contraste, pela abundância de pormenores formais 
(o torcicolamento escultural e arquitetônico, o re-
buscamento das metáforas, etc.), de conteúdo, 
pela obscuridade, pelo sensualismo, pela tensão 
entre razão e fé, entre misticismo e erotismo, entre 
o gozo dionisíaco de viver e a morte com seus mis-
térios, entre a ordem e a aventura, entre a sensa-
ção de miséria da carne e de bem-aventurança do 
espírito, entre a racionalidade e a irracionalidade, 
etc.
 
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Atividade I
Após ler e interpretar o que informamos e comentamos até aqui, observe, 
atentamente, as imagens e o fragmento a seguir e confronte-os com os textos 
estudados.
 
1 2
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4
“ Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo, não são aqueles 
miseráveis, a quem a pobreza e vileza da sua fortuna condenou a 
este gênero de vida, , porque a mesma sua miséria ou escusa alivia 
o seu pecado, como diz Salomão ... O ladrão que furta para comer, 
não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que 
eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera, os 
quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue 
bem S. Basílio Magno... Não são só ladrões, diz o Santo, os que 
cortam bolsas, ou espreitam os que vão se banhar, para lhes colher 
a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este 
título, são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legi-
ões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, 
os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. 
Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e rei-
nos: os outros furtam debaixo do seu próprio risco, estes sem temor, 
nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e 
enforcam.”
 
Pe. Antônio Vieira. Sermão do Bom Ladrão ou da Audácia
Para responder em seu bloco de anotações
I. Para completar seu aprendizado, registre, em seu bloco de anotações, suas 
impressões, características apontadas pelos autores e identiicadas por 
você, nos textos 1, 2 e 3.
II. Agora, leia, atentamente, o fragmento do sermão de Pe. Vieira e repita o 
exercício anterior. Percebeu como o texto tem ideias opostas? Anote-as, 
formando duas colunas. Ideias semelhantes em uma coluna, na outra 
coluna, as que se contrapõem às primeiras. 
Não esqueça, se encontrou palavras desconhecidas, recorra ao dicionário. 
III. Por im, elabore um parágrafo ou dois comparando os textos 1, 2 e 3 com 
o texto 4.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
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 36 SEAD/UEPB I Literatura Brasileira I
Rememorando
Estou sempre falando que o homem é um ser social e histórico. 
Lembro esse fato para que você entenda que assim como a sociedade 
evolui, também, o homem vai evoluindo. Ambos de forma gradativa. 
Ninguém adormeceu no Renascimento e acordou no Barroco. Nada 
surge do acaso. Os fatos vão acontecendo, a situação política e social 
de um país ou mesmo do mundo ( no nosso caso, o mundo ocidental) 
vai mudando, os costumes vão recebendo influências dessas transfor-
mações sociais e, paulatinamente, comportamentos, atos e atitudes 
vão sendo modificados, dando início ao que na literatura, chamamos 
de estilos de época e/ou tendênciasliterárias. Para alguns estudiosos, 
esses movimentos podem ser representados por uma linha sinuosa – 
quando uma tendência está no topo, outra está em declínio.
Nessa perspectiva, podemos inferir que o Barroco recebeu influên-
cias ideológicas da Contra-Reforma e do Concílio de Trento, em opo-
sição a Reforma proposta por Lutero, lembra? Como resultado desse 
conflito, a produção barroca – seja de poetas, pintores, escultores e 
escritores - apresenta as seguintes características:
•	 dualidade ideológica (cristianismo medieval x racionalismo re-
nascentista;
•	 exuberância verbal ( abuso das figuras de estilo: metáfora, in-
versão, antítese, paradoxo; gradação, hipérbole, prosopopéia, 
de frases interrogativas, e do uso de símbolos...);
•	 ambiguidade; conflito; materialismo; espiritualidade; efemeri-
dade; insegurança; pessimismo;
•	 cultismo ( jogo de palavras, uso excessivo de metáforas e de 
hipérboles, correspondendo ao exagero de detalhes das artes 
plásticas, valorização da forma – especialmente na poesia)
•	 conceptismo ( explora a ideia, o conceito, mais do que a pala-
vra ou a imagem; desenvolve o prazer da intelectualidade, a 
valorização do raciocínio - ocorre mais na prosa.
Como reflexo desse mundo duplo (razão e fé), os escritores da 
época “passam” as inquietações, os medos, angústias e anseios do 
homem comum, incluindo-se entre eles, por meio de temáticas como:
•	 Transitoriedade da vida e dos bens materiais. Dividido entre 
reconhecer-se como centro do mundo e preso ainda aos ensi-
namentos da Idade Média, o homem barroco só tem uma cer-
teza: de que a vida terrena é finita e transitória e de que nada 
sabe sobre o além morte. Essa constatação se transforma em 
angústia profunda;
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 37
•	 Preocupação com a morte. Vivendo a angústia da incerteza, 
pressionado pela religiosidade imposta pela Contra-Reforma, o 
poeta (homem barroco) debate-se entre a culpa de ser pecador 
e a esperança da salvação;
•	 Duelo entre a castidade e o desejo. Dividido entre céu e terra, 
o homem biológico luta contra os desejos da carne e a morali-
dade religiosa (jesuítica);
•	 Carpe diem. Aproveitar o dia, viver o momento presente, má-
xima, princípio horaciano ( de Horácio poeta da Antiguidade) 
adotado pelo homem barroco, que insatisfeito com o raciona-
lismo renascentista que não respondendo a questionamentos 
sobre a existência humana, sobre a fugacidade da vida levou o 
homem a viver o instante, o momento presente, já que tudo é 
transitório, passageiro. 
•	 Locus horrendus. O mundo passa a ser um local de sofrimento, 
desilusão e dor; um lugar horrível.
TEXTO 3
O Barroco no Brasil
“ A literatura no Brasil colonial é literatura barroca 
e não clássica, como até bem pouco era regra 
denominá-la. A literatura nasceu no Brasil sob o 
signo do Barroco, pela mão barroca dos jesuítas.”
Afrânio Coutinho 
Como você já sabe, o Barroco data do século XII. No Brasil esse 
movimento artístico – literário tem início em 1601, com o poema épico 
Prosopopeia, de Bento Teixeira, português aqui radicado. Encerra-se em 
1768, com a publicação do livro de Cláudio Manuel da Costa – Obras. 
Apesar da condição de colônia portuguesa, o Brasil vivenciou um 
movimento diferenciado de Portugal, visto que à influência europeia 
agregaram-se as culturas negra e nativa.
Do ponto de vista econômico, a Colônia vivia uma exploração 
violenta de suas riquezas naturais, principalmente do ouro, que daqui 
eram levadas para enriquecimento dos cofres portugueses e nada era 
feito pelo desenvolvimento da nova terra. Para agravar a situação, a 
corrupção era uma febre entre políticos e administradores que procu-
ravam enriquecer de forma ilícita, traindo a própria Coroa portuguesa.
É nesse contexto que se destacam Bento Teixeira, Gregório de Ma-
tos e Padre Antônio Vieira.
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Para que você tenha uma ideia clara da situação, leia, a seguir, os 
versos de Gregório de Matos
Eu sou aquele, que passados anos
cantei na minha lira maldizente
torpezas do Brasil, vícios, e enganos.
Em outro poema ( sobre a cidade da Bahia) tem-se:
Que falta nesta cidade? ................................................. Verdade
Que mais por sua desonra? ............................................ Honra
Falta mais que se lhe ponha? ..........................................Vergonha.
 
Conhecendo um 
pouco esses poetas
Bento Teixeira 
Nasceu no Porto, Portugal, acredita-se que em 1561. Com seis 
anos de idade vem com a família para o Brasil, perseguidos pela Inqui-
sição por práticas judaizantes. Aqui chegando, instalam-se no Espírito 
Santo e posteriormente na Bahia. Após casar-se passa a residir em Re-
cife e pouco depois em Olinda, cidades em que exercerá a função de 
professor e, paralelamente, atua na advocacia. Massaud Moisés divi-
de o Barroco brasileiro em três momentos. O primeiro, corresponden-
do aos 50 primeiros anos do movimento, sob inspiração camoniana, 
tem como representante isolado, em Pernambuco, Bento Teixeira, autor 
da “Prosopopeia, poemeto épico que em 1601 introduz o Barroco no 
Brasil.
O texto é composto de 94 estâncias, em oitava–rima, e decassílabos 
heroicos, à semelhança d’Os Lusíadas e é dedicado a Jorge Albuquerque 
Coelho, Capitão e Governador de Pernambuco. Por seu caráter economi-
ástico e laudatório, bem como pela pobreza do motivo histórico escolhido 
– figura quase desconhecida, recebe dos críticos a classificação de poe-
meto épico. Perpetua–se, assim, ao longo da historiografia literária apenas 
pelo fato de ser o texto que marca o início do Barroco no Brasil. 
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Nos livros de Literatura Brasileira pouco ou quase nada existe de 
registro sobre a vida e obra de Bento Teixeira. Tudo que se encontra 
é sempre com conotação pejorativa como poeta menor e bajulador. 
Entretanto, nos anos 90 do século passado, o escritor paraibano, Gil-
berto Vilar, publica a obra “O primeiro brasileiro: Onde se conta a 
história de Bento Teixeira”, texto romanceado, mas que tem como base 
documentos históricos, guardados no Arquivo Nacional, do processo 
inquisitorial de Bento Teixeira, pesquisados pelo autor. Esse livro vem 
preencher um silêncio de séculos. Nele, o leitor vai entrar na história da 
capitania de Pernambuco e, especificamente, no cotidiano de Recife, 
cultura usos e costumes da época, os caminhos percorridos por Bento, 
pelos cristãos novos e, a partir da leitura, formar novo conceito ou 
confirmar o já dito sobre o poeta. Tomará conhecimento também dos 
rituais judaicos que apesar da pressão do Tribunal da Santa Inquisição, 
aconteciam periodicamente em Recife, na antiga Rua dos Judeus, de-
pois nomeada Rua do Bom Jesus. Quem visita o Recife antigo, encon-
tra, ainda hoje, a antiga placa, conforme a imagem a seguir.
 
Gregório de Matos Guerra
Nasceu na Bahia, em 1636, filho de Gregório de Mattos e de Ma-
ria da Guerra. Teve dois irmãos, Pedro e Eusébio. Nada se sabe do 
primeiro, do segundo sabe-se que professou na Companhia de Jesus e 
na Ordem do Carmo, foi músico, pintor, matemático, orador e poeta.
Considerado o primeiro poeta brasileiro e o maior representante da 
poesia barroca nacional, Gregório de Matos Guerra é comparado, por 
sua genialidade artística, a Aleijadinho, na escultura.
Filho de pais abastados, Gregório estudou com os jesuítas de Sal-
vador e em 1650, com 14 anos, embarcou para Portugal, onde foi 
estudar leis. Dois anos depois matriculou-se na Universidade de Coim-
bra, formando-se em 1661.
É sempre bom lembrar que a Bahia era, à época de Gregório, o 
coração do Brasil. Lá estava concentrado o poder da coroa portuguesa 
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aqui na colônia. Era a terra barroca por excelência, pela arte desenvol-
vida, pelo sincretismo religioso, pelos costumes e pela índole do povo. 
Nesse clima, entre corrompidos e corruptores, boêmios e religiosos, 
santos e pecadores, Gregório, poeta e representante do povo, recebeu 
a alcunha de “ Boca de Inferno”, por satirizar, de forma irreverente, a 
vida social, política e religiosa da época. Assim se apresenta o poeta: 
 
“ ... cronista sou
dessa grã festividade
tenho de falar verdade
e dizer o que passou.”
Sua obra abrange, na poesia lírica, as vertentes lírico - filosófica, 
lírico - amorosa e lírico - religiosa ou sacra. 
Na poesia satírica destaca-se pelo humor malicioso e sutil, pelo 
uso de obscenidades e palavrões. Episódios do cotidiano popular e da 
vida política são temas explorados, bem como figuras do povo, políti-
cos, religiosos, comerciantes etc. Ninguém escapa da língua ferina do 
poeta. Por meio desses textos, é possível uma leitura de usos costumes 
da colônia. 
Embora seja mais conhecido por sua verve satírica, é na lírica que 
Gregório se apresenta barroco por excelência. 
A poesia sacra é caracterizada pela fuga da realidade, pela busca 
da salvação e, ao mesmo tempo, a atração pelos valores materiais e 
carnais. Apresenta-se como réu confesso, mas arrependido suplica o 
perdão divino, sem colocar-se em uma postura submissa. Compreende 
que o pecado faz parte do humano, todavia, esse mesmo pecado é 
causa do divino manifestar-se como tal: compreensivo e misericordioso.
Na poesia amorosa, o poeta vive a oposição entre a sedução místi-
ca e sedução carnal. O amor é visto como fonte de prazer e felicidade, 
bem como fonte de dor e sofrimento. 
 Na vertente lírico-filosófica, o poeta afasta-se das situações mais 
imediatas e busca respostas para questionamentos como efemeridade 
da vida e o sentido para a existência, se tudo é tão fugaz, passageiro.
 Como se vê, ninguém melhor que Gregório de Matos conseguiu 
traduzir o homem barroco, o sentimento e a condição barroca. Por 
tudo isso, é considerado o maior representante da poesia barroca no 
Brasil.
Poesia sacra
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Nesse campo, sua poesia apresenta um homem pecador que se 
penitencia através de uma lógica argumentativa. Vejamos:
Buscando a Cristo
A vós correndo vou, braços sagrados, 
Nessa cruz sacrossanta descobertos, 
Que, para receber-me, estais abertos,
E por não castigar-me, estais cravados.
 
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas cobertos 
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p’ra chamar-me.
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
Comentando o poema
Como aluno e profissional de literatura, a poesia é parte de suas 
ferramentas de trabalho. É necessário entendê-la, analisá-la, contextu-
alizando-a à época em que foi produzida.
Nessa perspectiva, coloquemo-nos no cotidiano da cidade de Sal-
vador – Bahia e entendamos, com “olhos barrocos,” a mensagem do 
poeta.
Primeiramente, observe a imagem do Cristo Crucificado que an-
tecede a transcrição do poema. Você pode utilizar outra imagem do 
crucificado, se assim considerar mais esclarecedora. Compare o texto 
visual com o texto escrito. Notou a semelhança? 
Veja que o poeta descreve, poeticamente, verso após verso, a ima-
gem sagrada. A partir do título, ele, eu-lírico, já informa seu objetivo: 
buscar o Cristo e, implicitamente, todas as promessas de perdão, de 
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-
XW6nk_57dK8/TKsOMkt7lfI/AAAAAAAAASs/
x1GNQ11pLBk/s1600/BlochCarl-
ChristConsolator.jpg
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misericórdia, de salvação. Por tudo isso, afirma, categoricamente: “A 
vós correndo vou”, braços sagrados/ Nessa cruz sacrossanta descober-
tos.” Observem a argumentação do poeta, nos dois últimos versos da 
estrofe. Os braços estão abertos para receber o pecador arrependido, 
todavia estão presos para não castigá-lo. 
Passemos à segundo estrofe. Mais uma vez, o eu-lírico usa da des-
crição e da persuasão, mostrando ao próprio Cristo a sua condição de 
crucificado e o motivo do sacrifício. Os olhos estão eclipsados, entrea-
bertos. Nessa condição, vê pela metade, mas o suficiente para perdoar 
aquele que prostrado, se arrepende. Ao mesmo tempo, nesse enxergar 
confuso, não vê o suficiente para condenar o pecador. 
No primeiro terceto, repete o mesmo processo argumentativo. Aqui 
o poeta se detém nos pés de Cristo. Para não abandonar o pecador, 
seus pés estão cravados. Para perdoá-lo, unge-o com seu sangue. De 
cabeça baixa chama aquele que o procura.
Para finalizar, afirma querer juntar-se a Cristo, quer atar-se ao seu 
salvador pelos pregos preciosos que não o soltarão e, por fim, a entre-
ga definitiva: ficar unido, atado e firme. No verso final, o uso da grada-
ção enfatiza e fecha, com “chave de ouro,” os sentimentos do homem 
barroco. Em sua exaltação medievalista, afirmar que quer unir-se ao di-
vino é muito pouco. É necessário dizer mais, e acrescenta atado e firme.
 
Atividade II
Leia, atentamente, os textos a seguir. 
Soneto (1)
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha, 
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um frequentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
Para levar à Praça, e ao Terreiro.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
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Muitos Mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres, 
Postas nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.
Soneto (2)
Não vi em minha vida a formosura
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, é me movia
A querer ver tão bela arquitetura.
Ontem a vi por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma Mulher, que em Anjo se metia,
De um Sol, que se trajava em criatura.
Me matem ( disse então vendo abrasar-me)
Se esta a cousa não é, que encarecer-me
Sabia o mundo e tanto exagerar-me.
 
Olhos meus ( disse então por defender-me)
Se a beleza hei de ver para matar-me,
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
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Exercitando a compreensão
1) Releia os sonetos 1 e 2 e identiique o tema de cada texto.
2) Liste as ideias opostas que encontrar em cada poema. 
3) Identiique a tendência utilizada pelo autor, se cultista ou conceptista, 
comente-a, exempliicando.
4) Transcreva as iguras de linguagem encontradas.
5) Há nos textos preocupação com o carpe diem? Justiique sua resposta.
6) Interprete os textos, separadamente, a exemplo do que foi feito em relação 
ao soneto “Buscando a Cristo”.
7) Algumas composições em verso têm um padrão ixo de estrutura. O soneto 
é uma delas. Reveja suas aulas de Teoria Literária, nelas você estudou 
o soneto. Escreva as informações que encontrar sobre este tipo de 
composição.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
Chegamos, enfim, ao término dessa nossa aula. 
Para compreender melhor o período estudado, sugerimos que você 
sozinho(a) ou juntamente com algunsamigos e colegas assistam o fil-
me: 
O JUDEU (1995). Este filme retrata a vida do dramaturgo brasileiro 
Antonio José da Silva, nascido no Rio de Janeiro, em 1704. Vivendo 
em pleno domínio da Inquisição, foi usado como bode expiatório num 
complicado jogo político. Além de sofrer torturas inimagináveis, o 
artista acaba condenado à morte na fogueira, em 1739.
EM NOME DA ROSA (1986). O filme trata da história ocorrida em 
1327, em um mosteiro beneditino italiano que continha, na época, o 
maior acervo cristão do mundo. É interessante assisti-lo para entender 
melhor a questão religiosa na Idade Média, bem como compreender a 
proposta renascentista.
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 45
Leituras Recomendadas
•	 Os livros de História do Brasil, especificamente os capítulos 
sobre a Reforma e a Contra –Reforma, bem como artigos na 
internet.
•	 Artigos na internet que abordem o Barroco, e seus representantes.
•	 Livros de Literatura Portuguesa e Brasileira.
•	 O livro de Gilberto Vilar, “ O primeiro brasileiro: Onde se conta 
a história de Bento Teixeira.”
•	 Visitas a(s) biblioteca(s) de sua cidade. Nesse(s) espaços, você 
encontrará material necessário para complementar seus conhe-
cimentos.
Agora, é hora de rever os objetivos propostos para essa aula. Acre-
dito que as informações dadas lhe permitiram entender o entrelaça-
mento da História com a Literatura. 
Sei que você também aprendeu que como a literatura reflete o ho-
mem como ser social e histórico, entendeu o comportamento, os me-
dos, ideias e posicionamentos dos autores aqui apresentados. 
Tenho certeza de que você entendeu a importância da Reforma e 
da Contra-Reforma para o surgimento da tendência barroca, tanto na 
Europa como no Brasil; a origem do movimento aqui na Colônia, bem 
como a influência de Bento Teixeira e de Gregório de Matos para a 
estética barroca.
Por fim, sei que você é capaz de analisar textos produzidos nos di-
ferentes contextos estudados: político, social e individual, ao responder 
às atividades propostas.
Nossa aula pretendeu apenas seduzi-lo (a), despertá-lo (a) para 
riqueza da nossa cultura e incentivá-lo (a) para um aprofundamento 
maior sobre o tema. O caminho foi apontado. Cabe a você explorá-lo. 
Sucesso. Aguardo você na próxima aula. Até lá.
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Resumo
O período que acabamos de estudar teve início em 1601 e término 
em 1768, quando uma nova tendência surge. Como vimos, há uma 
delimitação no tempo. Nesse período, toda a produção artística em 
verso e prosa retrata as questões políticas, sociais e religiosas da épo-
ca. Preso à religiosidade medieval, o homem barroco vive a inseguran-
ça, o terror e toda a violência imposta por aqueles que professavam a 
fé católica. O mundo ocidental vive a liberdade do novo, a busca inces-
sante do conhecimento, a soberania do raciocínio. É a fase do antro-
pocentrismo, o homem como centro do universo, lembra que falamos 
sobre isso? Antropocentrismo em oposição à cultura do Teocentrismo, 
Deus como centro do universo . Como já foi dito, essa nova visão de 
mundo representa uma revolução no comportamento e na vida do ho-
mem europeu. Entretanto, mostramos que o Brasil, como colônia por-
tuguesa, recebia a influência de Portugal e por ele era vigiado. Tudo 
isso produziu nos habitantes brasileiros uma vivência extemporânea da 
Idade Média, fato que se reflete na produção artístico-cultural da co-
lônia ( artes plásticas e literatura), exemplificado nos textos e telas aqui 
apresentados e estudados.
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Autoavaliação
 
“ Quando me busco, registro. Quando registro, me busco.”
 
 Tomando como base a epígrafe acima, faça um exercício de autoavaliação. 
Para tanto, escreva pequenos comentários sobre o que você entendeu do as-
sunto exposto. Essa atividade ajuda a desenvolver ideias e expressá-las por 
escrito.
Releia as informações dadas sobre Bento Teixeira e compare-as com outras 
opiniões que você encontrar em outros livros, não indicados na bibliograia. 
Encontrou discordâncias? Lembre-se que o autor em estudo foi uma igura 
polêmica. Registre seu comentário e comente-o com seus colegas.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
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 48 SEAD/UEPB I Literatura Brasileira I
Referências
ABDALA Jr, Benjamin, CAMPEDELLI, Samira Youssef. Tempos da 
Literatura Brasileira. São Paulo. Ática, 1986.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo, 
Cultriz, 1992.
 
_____, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo. Cia das Letras, 
1996.
CADEMARTORI, Lígia. Períodos literários. São Paulo. Ática, 1990.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil. Rio de Janeiro, 
Bertrand Brasil S.A. 1988.
MATOS, Gregório de. 1636-1696. Gregório de Matos/ seleção de textos, 
notas, estudos biográicos, histórico e crítico por Antonio Dimas. São Paulo. 
Nova Cultural, 1988.
MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira. Vol. 1. São Paulo. 
Cultrix, 1991.
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Literatura Brasileira I I SEAD/UEPB 49
III UNIDADE
Em meio à instabilidade, 
vive-se o Barroco
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Apresentação
Caro (a) aluno (a),
Nesta terceira unidade, continuaremos viajantes do túnel 
do tempo, pois ainda estamos vivendo as últimas décadas 
do século VXII e adentrando no século VXIII, lembra? Es-
tamos em pleno período Barroco, época, como já vimos, 
de medo, de insegurança e de temor extremo em relação 
às questões religiosas, fruto do movimento da Contra-Re-
forma. Entretanto, é necessário lembrar que o Brasil era 
uma colônia portuguesa de além mar. Esse fato possibilita-
va, àqueles que aqui representavam a Coroa Portuguesa, o 
distanciamento necessário para o encobrimento de falcatru-
as, de benesses indevidas, de corrupção de todos os tipos.
Pela produção poética de Gregório de Matos, aborda-
mos esse espírito barroco e as consequências por ele dei-
xadas. Conhecemos um pouco a Bahia, a situação da Co-
lônia e o comportamento de seus habitantes: portugueses, 
brasileiros e africanos, esses últimos vivendo em extrema 
escravidão, afora os índios que, embora donos da terra e 
primeiros habitantes, não faziam, em hipótese alguma, parte 
da sociedade. Fato semelhante não acontecia em relação 
aos mulatos, filhos de portugueses com negras escravizadas, 
considerados à época como seres inferiores, mas já aceitos 
nas camadas mais altas da sociedade, chocando os mais 
preconceituosos. Vejamos os versos a seguir, do nosso poeta 
barroco maior, Gregório de Matos
“ Não sei, para que é nascer
neste Brasil empestado
um homem branco, e honrado
sem outra raça.
Terra tão grosseira, e crassa,
que a ninguém se tem respeito,
salvo quem mostra algum jeito
de ser Mulato.”
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Nesse contexto, daremos continuidade ao nosso encon-
tro, ainda trazendo como tema o Barroco, mais especifica-
mente a figura de Padre Antonio Vieira, representante maior 
da prosa desse período. Sei que ficará fascinado (a) por essa 
figura ímpar.
Objetivos 
No final dessa aula, esperamos que você:
•	 Perceba os fios que entrelaçam História e Literatura;
•	 Compreenda a Literatura como reflexo do homem como ser 
social e histórico;
•	 Relembre a Reforma Protestante e a Contra-Reforma;
•	 Entenda a Barroco como resultante desses dois movimentos his-
tóricos;
•	 Conheça, entre os principais representantes do barroco brasilei-
ro, o Pe. Antônio Vieira, sua prosa epistolar,religiosa e política;
•	 Identifique duas, dentre as características do Barroco- o cultis-
mo e o conceptismo- importantes para entender o estilo de Pe. 
Antônio Vieira;
•	 Entenda o surgimento das academias literárias como prenúncio 
de mudanças;
•	 Analise textos literários produzidos nesse contexto: político, so-
cial, individual e religioso.
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Cultismo e Conceptismo
Na unidade 2, apontamos, dentre outras, duas características do-
Barroco: cultismo, culteranismo ou gongorismo e conceptismo, sem 
explicarmos mais detalhadamente o que cada uma significa. Entretan-
to, necessário se faz retomá-las para que você compreenda melhor 
os artifícios de linguagem utilizados, como já vimos, pelos escritores 
barrocos, mas, especificamente, por Pe. Antõnio Vieira. Para tanto uti-
lizaremos os conceitos dos estudiosos da Literatura Brasileira, Proença 
Filho, bem como Medina, Castro e Teixeira.
Proença Filho em sua obra Estilos de Época na Literatura, p. 141, 
comenta:
Cultismo, na dupla interpretação que se pode atri-
buir à palavra cultura, de que este termo se origi-
na: de um lado, trabalho, esforço; de outro, me-
mória do passado intelectual. Um fato poético se 
“culteraniza” através do neologismo, da metáfora, 
do hipérbato. Há uma preocupação com tornar a 
linguagem culta. O artista utiliza o latim para criar 
novas palavras, que acabarão por incorporar-se 
deliberadamente ao idioma, há uma tentativa de 
aristocratizar a expressão literária. O uso do hipér-
bato, isto é da inversão da frase, é uma imitação da 
sintaxe latina, e obedece à mesma preocupação. 
Claro está que neologismo, hipérbato, metáfora e 
mitologia já existiam na literatura antes do barroco. 
O que se observa nesse momento é uma intensifi-
cação destas atitudes que passam a ser a tônica do 
estilo. Na metáfora o autor encontra uma forma 
de poetizar os objetos vulgares através de objetos 
poéticos, dentro da intenção geral de aristocrizar a 
linguagem. Acrescente-se ainda a exibição de um 
amplo conhecimento da mitologia.
 
Para Medina, Castro e Teixeira, em Antologia da Literatura brasilei-
ra: textos comentados, p.24,
o cultismo explora bastante as imagens visuais, es-
pecialmente as eróticas ou as coloridas (cro-
matismo barroco); o virtuosismo de sugerir sem 
concluir ( suspensão do argumento até chegada 
ao verso final); a saturação descritiva. Trabalhan-
do com analogia e comparações, o cultismo dá 
origem a todo um metaforismo que mescla os atri-
butos da natureza ou da mitodologia com os predi-
cados humanos. Por exemplo, o cabelo da amada 
é de ouro; seus dentes são pérolas e seus lábios 
desafiam a cor do rubi; sua aparência ofusca o 
próprio sol (=Apolo), que se encanta com ela; o 
espelho que lhe é infiel; os olhos são mais puros 
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que os mais límpidos regatos (...) Contrariamente, 
o espírito da amada por vezes desmente o que o 
corpo afirma: seu coração é duro como as 
rochas, sua tirania é maior que a de Cupido (...) 
Dentro da linha de certo mecenatismo (=aju-
da ou incentivo aos artistas, dado por nobres e gra-
duados), o cultismo também praticou as homena-
gens ódicas, a poesia elogiosa, também chamada 
enconomiástica. O cultismo é esteticista, aprecia 
prioritariamente o belo. Entende-se, portanto, seu 
horror ao feio sob a forma do impactoinfalível do 
tempo. O galanteio, por exemplo. é normalmente 
veiculados sob o argumento de que o tempo des-
troi a beleza feminina; então, é imperioso curti-la a 
tempo (tema horaciano carpe diem: “ aproveita o 
dia que passa).
Em relação ao Conceptismo temos, segundo Proença Filho, lingua-
gem de conceitos, “ato do entendimento que expressa a correspondên-
cia que há entre objetos” e neste sentido ainda é a metáfora o instru-
mento característico, a metáfora no seu aspecto intelectual”.
Para Medina, Castro e Teixeira, o conceptismo, explora a ideia, o 
conceito, mais do que a palavra ou a imagem ( em espanhol, conceito 
se diz concepto; daí, conceptismo): desenvolve o prazer intelectualista 
de sempre encontrar novas sutilidades do pensar, sempre em busca do 
inventivo, da agudeza pela agudeza.
De posse desse novo conhecimento, passemos a estudar a produ-
ção literária desse jesuíta polêmico, seguidor confesso da fé católica, 
prosador, orador, humanista, diplomata, estadista, missionário, filóso-
fo, defensor da coroa portuguesa, dos escravos e dos índios. Apesar de 
Padre da Companhia de Jesus, deveria como tal seguir as orientações 
da Ordem, Vieira preferia a liberdade de pensar por conta própria. Ti-
nha horror às verdades impostas, ao racismo e aos preconceitos sociais 
que impregnavam a Europa e a América. Esse posicionamento fez de 
Vieira o mais corajoso advogado dos judeus e o mais abnegado defen-
sor dos índios escravizados.
Para entender Vieira
 
Para compreender o papel desempenhado por Padre Antônio Vieira 
e entender o quão contraditória foi a sua passagem pelo Brasil; o pa-
pel por ele desempenhado como representante da fé católica, já disse 
era um jesuíta, bem como da coroa portuguesa, é necessário que você 
conheça uma parcela da biografia desse homem religioso, político e 
polêmico, meio português, meio brasileiro. Para tanto, apresentamos, 
a seguir, fragmentos de um texto extraído do livro Tempos da Literatura 
Brasileira, p. 31.
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 54 SEAD/UEPB I Literatura Brasileira I
“O mais famoso orador sacro do Brasil - Colônia 
foi o Padre Antônio Vieira,que desempenhou mis-
sões jesuíticas no Maranhão e no Grão-Pará, atuou 
como professor de retórica no Colégio de Pernam-
buco e participou ativamente da política do rei D. 
João VI, em Portugal e no Brasil. Seus sermões, pu-
blicados entre 1679 e 1748, atingem 16 volumes e 
o púlpito foi o grande veículo propagador de suas 
ideias e das causas que defendeu. A esse res-
peito, assim comenta Antônio Dimas num estudo 
comparativo entre a atuação social de Gregório de 
Matos e a do religioso: ‘ Em Vieira, a escolha do 
púlpito talvez não seja meramente acidental. De lá 
de cima, o jesuíta combativo examinava, 
analisava e condenava. Era mais abrangente e 
moralizava com o gosto de quem se sente atraí-
do pelo Poder, num relacionamento agônico. Em 
posição estratégica brincava ele com a Palavra ou 
com Deus, submetendo tudo a uma incrível capa-
cidade de pôr-dispor-indispor-compor-repor, cujo 
fim último era sempre a supremacia da Inteligência 
na condução do Estado. Vieira contemplava por 
cima. Gregório contemplava por baixo.’ (Vieira: a 
poderosa persuasão pelo terror. In Gregório de 
Matos).” (Antônio Dimas, apud ABDALA JR., Benja-
min e CAMPADELLI, Samira Youssef).
 
O convencimento 
pela palavra
E já que ‘contemplava por cima’, o pregador procurava sempre 
convencer o público através de um discurso veemente, onde não fal-
tava o largo uso de figuras de linguagem como comparações, antíte-
ses, metáforas, hipérboles etc., no sentido de eletrizar o ouvinte, para 
despertar-lhe a consciência.
A repetição, com finalidade enfática, bem como o processo de per-
guntas– respostas é outra fórmula vieiriana de eficácia indiscutível.
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Para que você apreenda bem as informações dadas, os autores do 
livro, do qual estamos transcrevendo alguns fragmentos, apresentam 
pequeno trecho do Sermão de Santo Antônio, com os devidos comen-
tários.
Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal 
da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra, 
o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a 
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