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DIALOGOS_2012

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Dia-Logos 
___________________________________________________ 
REVISTA DOS ALUNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA 
Nº 6 | OUTUBRO DE 2012 
 
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA 
 
Reitor 
Ricardo Vieiralves de Castro 
 
Vice-Reitora 
Maria Christina Paixão Maioli 
 
Sub-Reitoria de Graduação 
Lená Medeiros de Menezes 
 
Sub-Reitoria de Graduação e Pesquisa 
Monica da Costa Pereira Lavalle Heilbron 
 
Sub-Reitoria de Extensão e Cultura 
Regina Lúcia Monteiro Henriques 
 
Diretor do Centro de Ciências Sociais 
Domênico Mandarino 
 
Diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas 
Dirce Eleonora Solis 
 
Coordenadora Geral do Programa de Pós-Graduação em História 
Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira 
 
CATALOGAÇÃO NA FONTE 
UERJ/ REDE SIRIUS/ CCS/ A 
____________________________________________________ 
D536 Dia-Logos - RJ. - vol.1 nº1 (2004) - .- Rio de Janeiro: 
 UERJ, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2004 – 
 
 v. 
 Anual 
 Dia-Logos - Revista dos alunos de Pós-Graduação em História da UERJ, 
nº6, 2012. 
 ISSN 1414-9109 
1. História - Periódicos. I. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. 
 
 CDU: 981 (05) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dia-Logos 
___________________________________________________ 
REVISTA DOS ALUNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA 
Nº 6 | OUTUBRO DE 2012 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA 
 
 
Conselho Consultivo (UERJ) 
Carlos Alvarez Maia; Edgar Leite Ferreira Neto; Edna Maria dos Santos; Eliane 
Garcindo de Sá; Lená Medeiros de Menezes; Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves; 
Lúcia Maria Paschoal Guimarães; Márcia de Almeida Gonçalves; Maria do Carmo 
Parente; Maria Emília da Costa Prado; Maria Regina Cândido; Maria Teresa Toríbio 
Brittes Lemos; Marilene Rosa Nogueira da Silva; Ricardo Antônio Souza Mendes; 
Tânia Maria T. Bessone da Cruz Ferreira. 
 
 
Conselho Consultivo (professores convidados) 
Álvaro de Oliveira Senra (CEFET/RJ); Beatriz Vieira (UERJ); Laura Nery (UERJ); Lúcia 
Grinberg (UNIRIO); Márcia Regina Romeiro Chuva (UNIRIO); Maria Letícia Corrêa 
(UERJ/FFP); Maria Regina Celestino de Almeida (UFF); Patrícia Wolley Cardoso Lins 
Alves (FIS/UVA); Paulo Henrique da Silva Pacheco (UERJ); Pedro Spinola Pereira 
Caldas (UNIRIO); Rafael Ale Rocha (UFF); Rebeca Gontijo Teixeira (UFRRJ); Sheila de 
Castro Farias (UFF); Silvia Carla Pereira Brito Fonseca (UFRRJ); Surama Conde Sá 
Pinto (UFRRJ); Vágner Camilo Alves (ICFH-UFF). 
 
Conselho Editorial 
Beatriz Piva Momesso, Carlos Eduardo da Costa Campos, Manuela Brêtas Medina, 
Sheila Conceição Silva Lima. 
 
Projeto gráfico editorial 
Tricia Magalhães Carnevale 
 
Desenho de capa 
Gabriel Costa Labanca 
 
Revisão 
Sheila Conceição Silva Lima 
 
Correspondência 
Rua São Francisco Xavier, 524 - Bloco F - 9º andar - sala 9037 
Maracanã - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20550-013 
Tel./Fax.: 21 2334-0678 - e-mail: rev.dialogos@gmail.com 
 
 
Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem 
necessariamente a posição da editoria ou da instituição responsável por esta 
publicação. 
 
 
 A professora Doutora Marilene Rosa Nogueira da Silva participou como parecerista da 5ª 
edição da Revista Discente Dia-Logos, publicada em Outubro de 2011. 
 
 ÍNDICE 
 
7 Apresentação 
 
9 Editorial 
 
11 Em torno da lei de 1773: petições de pardos e crioulos ao 
Conselho Ultramarino (Minas Gerais, 1750-1808) 
 Daniel Precioso 
 Universidade Federal Fluminense 
 
23 Disputas políticas pelo controle da distribuição da imprensa no 
Rio de Janeiro 
 Gabriel Costa Labanca 
 Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
 
35 A Aurora Fluminense e o combate ao despotismo (1827-1831) 
 Janaína de Carvalho Silva 
 Universidade Federal de São João del-Rei 
 
47 O “herói Marc Bloch”: breves reflexões acerca de uma memória 
construída 
 Jougi Guimarães Yamashita 
 Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
 
59 A luta dos sovietes e o vislumbrar da anarquia: a repercussão da 
Revolução Russa na imprensa operária anarquista brasileira 
(1917-1922) 
 Leandro Ribeiro Gomes 
 Universidade Estadual Paulista 
 
71 Fazenda das Limeiras: um estudo de caso para as tramas e 
tensões familiares vivenciadas no cativeiro. Distrito de Pouso 
Alegre –MG, século XIX 
 Leonara Lacerda Delfino 
 Universidade Federal de Juiz de Fora 
 
79 Joaquim José Rodrigues Torres e a Escola Normal da província 
do Rio de Janeiro (1834-1836) 
 Lívia Beatriz da Conceição 
 Universidade Federal do Rio de Janeiro 
 
91 Ferro, fogo e ideais: a Liga Brasileira pelos Aliados e o debate 
sobre a Primeira Guerra Mundial na imprensa fluminense 
 Lívia Claro Pires 
 Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
 
101 Uma análise dos Parâmetros Curriculares de História para o 
Ensino Fundamental: propostas e possibilidades 
 Luciana Velloso 
 Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
 
113 A atuação de João Batista da Costa na aplicação do Diretório no 
Rio de Janeiro: interações entre a política indígena e a indigenista 
( 1767-79) 
 Luís Rafael Araújo Corrêa 
 Universidade Federal Fluminense 
 
125 Banda de Música e participação política na Primeira República 
(Mariana, 1901-1930) 
 Manuela Areias Costa 
 Universidade Federal Fluminense 
 
137 As apoteoses de Napoleão III: um estudo sobre imagem e poder 
 Paulo Debom 
 Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
 
149 “Fordismo acadêmico”: características e tendências produtivas 
na área de História (1985-2009) 
 Renata Regina Gouvêa Barbatho 
 Universidade Federal do Rio de Janeiro 
 
159 Notas sobre o aristotelismo alemão de J. G. Droysen 
 Renata Sammer 
 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro 
 
169 Musseques Luandenses: o estar vulnerável 
 Rogério da Silva Guimarães 
 Universidade Federal do Rio de Janeiro 
 
181 Resumos | Abstract 
 
197 Normas Editoriais 
 
 
 
Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 7 
APRESENTAÇÃO 
 
Produzir uma revista acadêmica pode parecer uma tarefa fácil 
ao se considerar o número de textos que são produzidos por diversos 
cursos de Pós-graduação no Brasil, com crescente número de alunos 
nos programas de Mestrado e Doutorado, apenas para fazer um 
recorte. No caso da revista Dia-logos esta tarefa de selecionar textos, 
obter pareceres e sistematizar mais um número, representa muito 
mais. 
O destaque que quero dar se prende ao fato de que ela é toda 
planejada por alunos do curso de Pós-Graduação em História do 
IFCH/UERJ. Certamente há a facilidade de captação de textos, uma 
vez que o periódico é sempre organizado a partir de trabalhos mais 
relevantes anualmente apresentados na Semana de História Política, 
também promovida pelos discentes e que tem tido um relevante êxito, 
a se considerar a presença de pesquisadores de vários estados 
brasileiros, e o número ascendente de inscrições de propostas. 
O cuidado com os textos e a atenção com o leitor 
transparecem, destacando-se neste número trabalhos sobre 
impressos, imprensa, o mundo dos livros e suas representações, o 
registro escrito e suas diversas funções, além de abordagens de 
questões teóricas e metodológicas de valor para os estudos 
historiográficos. Quer sob a forma de análise de periódicos, sua 
distribuição ou na apresentação de estudos com viés temáticos mais 
específicos, a seleção de 15 textos deste número, representa 
abordagens propostas por diversos estudiosos de temas inseridos 
nas vertentesmais contemporâneas de história política. 
Textos muito bem elaborados, sumário bem organizado, tanto 
na escolha dos artigos, quanto na sua articulação dão um estofo 
considerável à publicação. Ao trazer à luz temas diversos, mas 
entrecruzados, Dia-logos incorpora conceitos e permite a discussão 
entre autores e leitores, contrapondo novos temas, novas 
abordagens, como também o uso de fontes de maneira a apresentar 
a riqueza que os estudos históricos têm produzido no Brasil ao formar 
estes novos historiadores. 
Outro aspecto a destacar fundamenta-se na originalidade dos 
temas que pela sua diversidade permitem novas possibilidades de 
estudos, a divulgação de ideias exploradas de forma pertinente, e a 
apresentação de bibliografia rica e diversificada. Artigos que retomam 
Apresentação 
8 ISSN 1414-9109 
alguns clássicos da historiografia ou realizados a partir de 
concepções mais recentes entre historiadores, contribuem para 
demonstrar o mosaico de temas em estudo nos últimos anos. 
Reflexões sobre a produção científica na área de história na 
contemporaneidade, o ensino e seus desdobramentos em diversos 
períodos da História do Brasil, a luta pela saída do cativeiro a partir 
de iniciativas do uso do judiciário pela população escrava, a presença 
da imprensa como fonte privilegiada para compreensão do poder e 
das representações, todas estas vertentes temáticas encontram-se 
entre os artigos englobados pela comissão científica para este 
número da revista. A história política dialoga aqui com as novas 
tendências da história cultural de maneira bastante sólida e 
inovadora. 
Portanto, coube à Coordenação do PPGH esta singela 
apresentação do potencial historiográfico encontrado nas páginas da 
revista Dia-logos do qual este número é mais uma demonstração a 
ser apreciada. Parabéns aos autores, aos organizadores, e boa 
leitura a todos. 
 
Tania Bessone, pela 
Coordenação do PPGH/UERJ 
 
 
 
 
 
 
Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 9 
EDITORIAL 
 
É hora de mais uma edição da Revista Dia-Logos. A cada ano 
reafirmamos nosso compromisso de divulgarmos as produções inéditas dos 
pesquisadores de todo o país. Dessa forma, consolidamos nossa posição e 
estilo junto aos grandes periódicos acadêmicos do Brasil! Dessa forma, nos 
alegramos por poder divulgar a excelência de nosso Programa de Pós-
Graduação em História Política da UERJ. Esse esforço se deve ao trabalho 
voluntário e árduo de alunos, professores e servidores do supracitado 
programa, como a colaboração de docentes de outras instituições que nos 
privilegiam com sua presença e participação. 
Essa trajetória de sucesso tem início na Semana de História Política/ 
Seminário Nacional de História dos alunos do PPGH/UERJ, que, a cada ano, 
abrange um número expressivo de participantes de todos os Estados do 
Brasil. Esse processo tem beneficiado professores e jovens pesquisadores, 
que tem a oportunidade de dialogar com seus pares e o público em geral, 
acerca de suas pesquisas e sobre a produção histórica. O resultado desse 
debate se expressa nessa sexta edição de nosso periódico. Desde a última 
edição, a revista conta com mais cinco artigos, proporcionando a publicação 
de um número maior de trabalhos de excelência. 
Estamos primando pela qualidade e respeito aos artigos dos 
proponentes que, a cada ano, vem depositando sua confiança em nosso 
trabalho. Artigos de excelência envolvendo um profundo diálogo com a 
História Política, o que muito nos tem feito avançar enquanto Programa e 
espaço de difusão, discussão e consolidação de novos pesquisadores. É 
importante ressaltar, que essas variedades de proposições contribuem 
diretamente para o aprimoramento das trocas intelectuais, feitas no 
Seminário, o que influencia diretamente na qualidade da Revista Dia-Logos. 
Como revista discente, a Dia-Logos cumpre o papel de difundir alguns 
dos melhores trabalhos historiográficos, sendo assim, não se delimita 
temáticas para esse periódico. A nós cabe o papel de promover o 
conhecimento dos novos trabalhos que se desenvolvem na academia, as 
mais interessantes pesquisas desenvolvidas por jovens talentos, da mais 
variada gama de assuntos, de acordo com os pareceres de especialistas nos 
mesmos temas. Sendo assim, a Dia-Logos comporta artigos que tratam da 
abordagem da História Política, como dos demais domínios da História. E 
nessa edição é importante destacar que, entre as temáticas tradicionais da 
História Política, esse lançamento nos brinda com discussões acerca da 
sociedade musical enquanto espaço de manifestação cultural e política, a 
importante discussão acerca do ensino de história na Educação Básica, num 
diálogo entre a academia e a sociedade. As propostas de trabalho com a 
imagem e o poder, os movimentos sociais e suas interfaces com a política, 
assim como nos oferece a discussão das questões indígenas no Brasil. 
Editorial 
10 ISSN 1414-9109 
Imprimir uma revista acadêmica no mundo virtual de hoje pode 
parecer ultrapassado. Contudo, sem nostalgias e retrocessos, queremos 
resguardar a história como há milênios os papiros do Egito e do mar Morto se 
conservam. Apesar da importância do aparato tecnológico, o livro ainda 
guarda todo o seu encanto e permanece como o maior suporte de memórias. 
No entanto, também não queremos nos afastar do processo da internet, pelo 
contrário. Nossa revista já se encontra indexada no Qualis/CAPES, contando 
com a avaliação B5. Iniciamos o processo de indexação da revista ao portal 
da UERJ, promovendo a revista à categoria de periódico eletrônico, uma das 
exigências para maior pontuação junto a CAPES. 
Com todo esse movimento ainda nos é muito importante imprimir, 
anualmente esse periódico, difusor de novas pesquisas e pesquisadores, e 
distribuí-lo entre os principais programas de pós-graduação em História do 
país e quiçá do exterior. 
Esperamos que apreciem a revista e mais uma vez agradecemos a 
todos que participaram desse imenso e árduo trabalho, mas de grande 
importância para a divulgação da pesquisa científica no Brasil. 
 
 
Boa Leitura! 
Conselho Editorial 
 
11 
Em torno da lei 1773 - Petições de pardos e crioulos ao Conselho 
Ultramarino (Minas Gerais, 1750-1808) 
 
Daniel Precioso 
 
A partir do período pombalino, a política discriminativa adotada 
pela Coroa portuguesa em seus domínios territoriais foi parcialmente 
revogada. Diversas leis foram promulgadas no sentido de incorporar 
categorias de pessoas não brancas de diversas partes do império à 
condição de vassalos da monarquia portuguesa. Assim, uma série de 
decretos reais foi aprovada por Pombal entre 1775 e 1777, regulando 
a secularização das aldeias indígenas e a entrega destas aos seus 
habitantes,1 a concessão de direitos de nobreza a comerciantes2 e a 
abolição da antiga distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos.3 
Neste sentido, “[...] as diferenças de raça e de etnia não seriam 
barreiras para se manter um cargo ou uma promoção, e a 
participação no governo local era encorajada”.4 
Em relação ao princípio de liberdade adotado no reformismo 
ilustrado de Pombal, e à progressiva abolição, na letra da lei, dos 
critérios de “pureza de sangue”, “[...] verificamos sua aplicação a 
propósito de duas situações distintas: os índios no Brasil e os negros 
em Portugal”.5 No segundo caso, a lei de 1773 libertou filhos e netos 
de escravos em Portugal.6 Porém, em relação à América portuguesa, 
“[...] essa incorporação não incluiu, certamente, os negros e os 
mulatos”,7 provavelmente porque, aqui, a escravidão presidia a ordem 
social e era maciçamente africana. 
É preciso ressaltar que a sociedade brasileira, entre o século 
XVI e o XIX, estava assentada na escravidão. Como observou Rafael 
de Bivar Marquese, a longevidade do sistema escravistabrasileiro 
residiu na articulação de dois fatores fundamentais: a importação 
massiva de africanos e a incorporação paulatina de seus 
descendentes à sociedade colonial.8 Sob essa óptica, a alforria 
desempenhava um papel central, pois tornava a escravidão legítima 
perante os próprios escravos, já que lhes abria um horizonte de 
expectativa de liberdade. Na visão de Marquese, o “enigma” da não 
ocorrência de outros Palmares na história do Brasil é explicado 
justamente pelo funcionamento do mecanismo da alforria. A 
manumissão de descendentes de cativos funcionaria, então, como 
uma forma de amortecer as tensões advindas de uma sociedade que 
fincou as suas bases na escravidão. Em perspectiva análoga, Sheila 
Faria assinalou que o ataque ao tráfico atlântico de africanos, 
ocorrido em 1831 e, sobretudo, em 1850, fez ruir um sistema de 
sucesso, qual seja, o da articulação entre a importação de africanos e 
Daniel Precioso 
12 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
a incorporação progressiva de seus descendentes através da 
alforria.9 
Diante disso, é possível atribuir a não extensão ao Brasil das 
leis pombalinas que aboliram paulatinamente a escravidão em 
Portugal, precisamente, ao caráter estrutural que essa instituição 
desempenhava entre nós e ao sucesso de um mecanismo costumeiro 
e secular que garantia a continuidade da exploração da mão-de-obra 
africana: a alforria. Essa lógica, certamente, servia às elites 
econômicas e governativas do império colonial português, mas não 
aos escravos e aos seus descendentes. Assim, a promulgação de leis 
que libertavam filhos de escravos e que garantiram à Irmandade do 
Rosário de Lisboa o direito de alforriar seus irmãos mediante 
pagamento, sensibilizou as populações “de cor” na outra margem do 
Atlântico. Escravos e libertos passaram a questionar por que essas 
medidas não foram dilatadas em contexto ultramarino, já que as 
causas que estiveram na base de suas promulgações para o Reino 
também estavam presentes nas conquistas. Embora o mecanismo da 
alforria permanecesse em pleno funcionamento durante a segunda 
metade do Dezoito, garantindo, assim, a continuidade do sistema de 
exploração da mão-de-obra escrava africana, crioulos e pardos, 
sobretudo, aliados a advogados influenciados pelas teses do Direito 
Natural, passaram a questionar a escravidão e a exercer pressão 
política para que a alforria pudesse ser adquirida mediante 
pagamento, independentemente da vontade senhorial.10 
Doravante, passaremos a analisar o teor de cartas 
endereçadas por crioulos e pardos, escravos, forros e livres, ao 
Conselho Ultramarino, questionando a escravidão e peticionando o 
direito de suas irmandades alforriarem seus confrades escravos. 
 
Escravidão e alforria em debate: cartas de pardos e crioulos ao 
Conselho Ultramarino 
 
O preconceito de “qualidade” que recaía sobre os negros e os 
mulatos permaneceu ativo nas décadas finais do Setecentos.11 
Porém, os crioulos e os pardos, cientes de sua expressividade 
numérica e do poder de barganha de que gozavam para pressionar 
as autoridades, passaram a encaminhar temas como os da abolição 
das restrições – não apenas de “sangue” (mouro, judeu e africano), 
mas também de “qualidade” (negros, mulatos e carijós) –12 para a 
ocupação de assentos em Conselhos Municipais e Ordens Terceiras. 
Os missivistas pardos e crioulos arrogavam a si o título de “bons e 
leais vassalos” em virtude dos “reais serviços” que prestavam à 
Coroa, peticionando a extensão das medidas relativas à liberdade de 
cativos no Reino para a conquista.13 Justificavam seus privilégios 
Em torno da Lei 1773 
ISSN 1414-9109 13 
frente aos “pretos”14 por serem “legítimos vassalos” e “nacionais do 
domínio”, isto é, nascidos no Brasil. Em sua defesa, os segmentos 
sociais aludidos usavam as tópicas da utilidade de seu trabalho à 
Coroa e ao bem comum, assinalando que combatiam os quilombos e 
os índios hostis e realizavam achados de metais preciosos. 
A partir da década de 1760, sobretudo, crioulos e pardos, de 
condição legal escrava, forra e livre, identificando-se individualmente 
ou coletivamente, passaram a vociferar suas aspirações aos 
conselheiros reais. Justamente no período em que a sociedade 
mineira parecia estar se consolidando e se tornando um pouco mais 
estável, constituiu-se uma ampla camada de crioulos e de pardos15 
comprometidos com a construção de sua identidade e mais 
conscientes das formas de angariar forças na luta cotidiana que 
empreendiam em torno da estratificação social. 
Na década de 1790, os homens crioulos e pardos passaram a 
defender o fim de formas arraigadas de segregação mais 
deliberadamente e com melhor fundamentação, inclusive com 
atenção às contradições existentes em leis sobre as “gentes de cor”. 
Teriam eles contado com a ajuda de bacharéis, pois o uso de teses 
jurídicas nas petições sugere a sua participação. Crioulos e pardos 
corporificados em tropas e irmandades puderam, assim, disponibilizar 
parcela de seus parcos recursos financeiros para o pagamento de 
advogados e para a tramitação de suas missivas. Sem dúvida, a 
“mudança do tom” do discurso oficial relativo aos africanos e aos 
seus descendentes, em fins do século XVIII, resultou do “acúmulo de 
forças no debate político das décadas anteriores”.16 
As cartas que a população “de cor” da América portuguesa 
enviou ao Conselho Ultramarino, que compõem nossa amostragem, 
podem ser divididas em, pelo menos, dois tipos: as petições e os 
requerimentos. As primeiras eram geralmente apelos extrajudiciais de 
escravos em torno da causa da liberdade; e os últimos consistiram 
em pedidos individuais de confirmação de privilégios obtidos na 
América ou em solicitações coletivas de direitos em benefício de 
associados em irmandades leigas. 
Em relação ao primeiro tipo de missiva, deparamo-nos com 
uma modalidade particular de tentativa de aquisição da alforria, 
praticamente desconhecida até pouco tempo atrás: os apelos 
extrajudiciais. No rol de apelos judiciais conduzidos pelos escravos 
para atingir o forro partido e garantir certos direitos adquiridos pelos 
costumes,17 a liberdade adquirida pelos apelos extrajudiciais foi 
individualizada e parcamente difundida. Como demonstrou Russell-
Wood, poucas eram as chances dos escravos obterem sentença 
favorável na justiça local, o que impelia alguns deles a suplicar a 
liberdade diretamente ao soberano.18 Não obstante os alertas dos 
Daniel Precioso 
14 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
administradores do Brasil acerca dos perigos de abrir precedentes, “a 
Coroa mostrou ser extraordinariamente sensível aos apelos pessoais 
à graça régia”.19 Mas, se a concessão desses apelos poderia minar a 
autoridade dos membros da magistratura e das autoridades, e 
mesmo a própria letra da lei, a “compaixão” do rei em relação aos 
apelos extrajudiciais jamais extrapolava o âmbito individual, isto é, 
não abarcava apelos de caráter coletivo ou corporativo. Aliás, mesmo 
nos apelos individuais, a “benevolência” régia nem sempre ocorria, ou 
era obstruída por pareceres desfavoráveis emitidos de antemão pelos 
conselheiros reais. Nesses casos, podemos supor que os apelos nem 
mesmo chegavam ao conhecimento do soberano. 
No governo de Bernardo José Maria Lorena e Silveira (1797-
1804), por exemplo, Francisco Cipriano, homem pardo, escravo de 
António Caetano de Almeida Vilas Boas, vigário colado da Igreja de 
Nossa Senhora do Pilar da Vila de São João del Rey, enviou um 
pedido ao Conselho Ultramarino para que desse a conta ao ouvidor 
daquela Comarca das sevícias praticadas pelo seu senhor, e 
interpusesse a sua informação a fim de recorrer na causa da 
liberdade. No requerimento, Francisco contestou a legitimidade do 
seu cativeiro, argumentando que 
 
[...]apesar de ter servido com obediência e fidelidade a mais de 20 
anos ao dito seu senhor, este antepondo à satisfação do seu gênio 
cruel e violento [...] trata ao suplicante e aos mais escravos com 
estranha tirania, praticando severos e desumanos castigos, de sorte 
que repetidas e seqüentes vezes tem conservado ao suplicante pelo 
longo tempo de seis meses em cárceres, carregado de ferro, 
procedendo e acumulando altas crueldades, sanguinários assaltos e 
outros tormentos, umas vezes executados por si e outras por pessoas 
da sua amizade e confidência.20 
 
Vale notar que Francisco embasou sua fala em leis. Segundo o 
pardo cativo, o procedimento de seu senhor não ofendia apenas “as 
saudáveis máximas do cristianismo e deveres de brandura e 
caridade”, mas também “as sábias e providentes leis desta 
Monarquia, as quais tolerando cativeiro nos domínios ultramarinos, 
quartão (sic) os efeitos do poder dominical, proibindo aos senhores 
com severas penas o uso de cárcere privado”. Francisco delatava 
que, sob o pretexto de instruírem seus escravos nos preceitos da 
Igreja, religiosos cometiam “delitos graves”, cuja “punição dos quais 
deve ser regulada pela utilidade publica, a fim de se evitar a injustiça 
e abusos de Direito,” concluindo que, nos termos das referidas leis, “o 
fato de sevícias induz necessariamente a perda do domínio da parte 
dos senhores, e constitui um dos legítimos modos por que os 
escravos adquirem a sua liberdade”. Quer em razão da sua pobreza, 
Em torno da Lei 1773 
ISSN 1414-9109 15 
“tão inerente à sua infeliz condição de cativo” e que o impossibilitava 
de “lutar com tanta desproporção de forças com o dito vigário”, quer 
pela falta de um bom protetor, seu requerimento foi negado em 
primeira instância e, possivelmente pela falta de recursos financeiros 
para dar continuidade ao trâmite jurídico, ficou inconcluso. Assim, 
embora tenha apelado diretamente ao Rei, Francisco não obteve a 
mercê suplicada, talvez por negligência dos conselheiros, que 
provavelmente sentenciaram o seu pedido sem a consulta do 
soberano. 
Os requerimentos enviados ao Conselho Ultramarino, 
assinados por corporações ou por indivíduos que intercederam em 
causas coletivas, apresentam informações mais relevantes para a 
reflexão que propomos nesse estudo, pois apresentam referências às 
“leis abolicionistas” que o ministério pombalino aprovou para o Reino. 
Em 22 de agosto de 1786, a Irmandade de São Gonçalo Garcia de 
São João del Rey enviou um requerimento ao Conselho Ultramarino, 
solicitando o direito de libertar seus irmãos escravos, que constituíam 
uma “grande parte” das “mulheres, e homens pardos” que a 
corporação integrava. Os peticionários colocaram na “real presença” 
que “querendo dar muitos escravos o seu valor, caiam sem redenção 
em duro cativeiro, ao mesmo tempo que grande parte destes deviam 
ser compreendidos na lei de 16 de Janeiro de 1773, por serem 
escravos já desde o terceiro, quarto e quinto avó, não lhe saindo o 
indulto da mesma lei por ser nestas infelicíssimas capitanias 
interpretada por homens cheios de ambição, ricos, poderosos, que 
ocupam os cargos públicos e da Justiça, os quais querem e decidem 
que só para os Algarves se publicou a referida lei, como se a razão 
dela não fosse idêntica nas Províncias de Portugal e nas Capitanias 
da América”. A resolução dos conselheiros reais foi desfavorável, pois 
concluíram que a concessão da “faculdade” de libertar confrades 
cativos à irmandades poderia incorrer em “inquietações e prejuízos”.21 
Assim, embora as demandas dos cativos tivessem maiores chances 
de serem acolhidas pela Justiça régia caso fossem enviadas 
coletivamente e por membros de uma irmandade, como sugeriram 
Marcos Magalhães de Aguiar e Larissa Moreira Viana,22 essa 
premissa não valia para toda e qualquer causa pleiteada. Em se 
tratando da alforria, a hipótese de Russell-Wood parece ser mais 
plausível, já que os apelos extrajudiciais em torno da liberdade eram 
atendidos apenas quando pleiteados individualmente, e não 
coletivamente. A concessão de um direito dessa natureza aos irmãos 
de S. Gonçalo Garcia poderia abrir precedentes para que outras 
corporações religiosas requeressem a mesma mercê, o que colocaria 
em xeque o direito costumeiro da “dádiva” da alforria, prerrogativa 
Daniel Precioso 
16 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
senhorial, não obstante o escravo pudesse obtê-la através de ações 
de liberdades e apelos extrajudiciais. 
Em alguns casos, demandas de escravos e libertos foram 
suplicadas em uma só carta. Como já observamos, na década final 
do século XVIII, pardos e crioulos passaram a combater mais 
acirradamente os impedimentos de qualidade para a ocupação dos 
principais cargos da República e para o ingresso em Misericórdias e 
Ordens Terceiras. Nesse contexto, a escravidão não ficou incólume. 
Em 1796, o capitão Miguel Ferreira de Souza enviou uma carta à D. 
Maria I em nome dos “homens pardos e pretos libertos” da Capitania 
de Minas.23 Afirmava ele o “zelo” e a “prontidão” dos “pardos e pretos 
livres” integrados em terços e tropas auxiliares de pedestres no 
combate a quilombolas e índios hostis, no policiamento dos 
caminhos, no ataque ao contrabando, nos achados de metais e 
pedras preciosas, o que realizavam com “menos custo” que os 
brancos de tropas de cavalaria. O capitão aludia ainda à “obediência” 
e ao “respeito” que os “homens pardos e pretos” despendiam ao 
soberano e a todos os seus “superiores”, queixando-se de que se 
armavam às “suas custas” e os “prêmios” que recebiam era o 
“desprezo”, não os admitindo “em ocupação alguma honrosa da 
República, nem concedem no Tribunal da Junta da Real Fazenda, 
nem encargos ou outro qualquer ofício público do Serviço de Vossa 
Majestade.”24 O peticionário reclamava, também, “que nem se pagam 
salários pelos seus trabalhos” e que, apesar de cumprirem “as ordens 
de Vossa Majestade”, não eram reconhecidos, “vindo a maior parte 
deles pobres e miseráveis”, sendo preteridos pelos “homens brancos” 
nas “concessões de terras de plantas e minerais para cultivarem e 
trabalharem”. 
O debate em torno das leis publicadas durante a segunda 
metade do século XVIII também se fez presente no requerimento. 
Manuel Ferreira de Souza juntou à sua carta o “alvará com força de 
lei” promulgado por D. José que previa admitir os pardos e pretos 
libertos do Reino “como vassalos leais de Vossa Majestade em todos 
os empregos”, a qual não era cumprida nas Minas em virtude deles 
“não serem admitidos nos empregos na forma da lei, chegando a tal 
miséria a sua desgraça [que] nem sequer os admitem nas Ordens 
Terceiras e Irmandades, de saírem a outros por modo de desprezo e 
mal permitem a que os ditos tenham alguma Irmandade separado”, 
pois muitos homens brancos, com o pretexto de as regerem e 
administrarem, guardavam o dinheiro delas com ingerência das 
contas, ficando “as Irmandades perdendo”.25 Para sanar o problema 
da ignorância e inobservância da lei pedia a sua publicação “para que 
chegue a notícia de todos” e de “que todos os tribunais respectivos, 
certifiquem a Vossa Majestade que se deu cumprimento a tudo”. 
Em torno da Lei 1773 
ISSN 1414-9109 17 
O Conselho Ultramarino não apresentou, contudo, uma 
resolução sobre o pedido do capitão do Regimento dos Pardos. 
Descontente com o ocorrido, Manuel Ferreira passou a disseminar 
discórdias em Mariana divulgando, em 1798, a falsa notícia de que o 
governador da capitania havia recebido uma ordem régia “para que 
os pardos cativos [fossem] forros e igualmente tudo o mais, até os 
próprios negros depois de haverem servido dez anos”. Proclamou, 
ainda, que “brevemente os pardos haviam de servir nas Câmaras e 
nas Irmandades do Sacramentoe Ordens Terceiras”.26 As 
autoridades locais, temerosas com as perturbações que tais calúnias 
poderiam gerar entre os homens de cor, abriram uma devassa para 
averiguar o ocorrido e garantir o “sossego dos vassalos”. O processo 
sugere que Manuel, “homem pacífico, mas falador”, não tendo o seu 
requerimento atendido, falseou uma resolução favorável para as suas 
súplicas, prometendo tratar da liberdade de negros e mulatos em 
troca de ouro, algodão ou “até mesmo galinhas”. As pregações de 
Manuel, aclamado “redentor” dos mulatos e negros, caíram nas 
graças dos escravos, que se dirigiram à Mariana a fim de assistir a 
um ato público que outorgasse seus anseios de “liberdade”. 
Observa-se, portanto, que Manuel, vendo esgotados os 
caminhos legítimos de negociação com a Coroa – já que o seu apelo 
extrajudicial foi ignorado –, passou a incitar uma comoção entre os 
vassalos. Assim, a estratégia do capitão para pressionar as 
autoridades locais passou da negociação ao conflito, pois dando 
vazão ao desejo de liberdade alimentado pelos cativos da região, 
terminou por lançá-los contra as autoridades e elites governativas. 
 
* * * 
 
Entre as cartas examinadas, todas foram reprovadas. No 
entanto, os pedidos de pardos libertos arregimentados em tropas – 
examinados em outro estudo –,27 demonstram que ser provido com 
patente militar, pertencer a irmandades leigas, ter bons protetores e, 
sobretudo, ser de condição forra ou livre perfazia as melhores 
características para se obter mais estima perante os conselheiros e, 
conseqüentemente, obter a mercê suplicada. Tendo em vista o teor 
das cartas analisadas, que questionavam diretamente alguns 
privilégios das elites e a própria escravidão, não surpreende a recusa 
de seus pedidos e requerimentos. 
Por fim, apesar de pretos, crioulos e pardos, escravos, forros e 
livres, nutrirem tensões e antagonismos entre eles, não raro, 
assinavam conjuntamente missivas endereçadas às autoridades 
governativas. Essa constatação nos leva a repensar a questão da 
formação de identidades para além dos filtros de “raça”, “qualidade” e 
Daniel Precioso 
18 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
condição legal, que se combinadas para a designação de um mesmo 
indivíduo, sobrepunha estratificações baseadas em critérios 
díspares.28 
 
Considerações finais 
 
Procurou-se examinar os argumentos de pardos e crioulos 
relativos à política régia atinente à escravidão e à alforria. Para tanto, 
operacionalizou-se uma análise que relacionou leis e dinâmica social. 
Constatou-se que, embora as leis “abolicionistas” promulgadas em 
Portugal não tenham sido extensivas à América portuguesa, os 
habitantes “de cor” do ultramar passaram a questionar a não 
aplicabilidade delas nos domínios ultramarinos. Essa pressão se deu 
através de petições assinadas por irmandades e por líderes de 
milícias e apelos extrajudiciais encaminhados ao Conselho 
Ultramarino. Buscou-se salientar, ainda, o fato de que a legitimidade 
da escravidão já vinha sendo colocada em questão em fins do século 
XVIII, e que os próprios pardos e crioulos – categorias sociais mais 
beneficiadas, entre os indivíduos com ascendência africana –, com a 
ajuda de bacharéis e doutores em Direito que advogavam em torno 
do “direito natural da liberdade”, foram agentes ativos dessa pressão 
política. 
 
Notas de Referência 
 
 Doutorando do Programa de Pós-Graduação de História Social da 
Universidade Federal Fluminense (UFF), orientada pelo Professor Doutor 
Ronald Raminelli. Contato: daniel.precioso@gmail.com Bolsista CNPQ. 
1 BOXER, Charles R. Relações Raciais no Império Colonial Português, 
1415-1825 (trad.). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 133. 
2 Citado por AZEVEDO, Lúcio de. O marquês de Pombal e a sua época, 2.ª 
ed. Rio de Janeiro: Annuario do Brasil; Lisboa: Seara Nova, 1922, p. 125-
6. 
3 BOXER, op. cit., p. 107. 
4 MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal: paradoxo do Iluminismo 
(trad.). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, p. 139. 
5 FALCON, Francisco José Calasans. A época pombalina: política 
econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1982, p. 398. Essa 
proposição é, em parte, relativizada por Larissa Viana, para quem a 
legislação aprovada no período pombalino “[...] serve ao propósito de 
evidenciar a mudança na forma como o mulato se faz presente no 
pensamento legal da Coroa entre o final do século XVII e meados do 
XVIII.” VIANA, Larissa Moreira. O Idioma da Mestiçagem: as irmandades 
 
Em torno da Lei 1773 
ISSN 1414-9109 19 
 
de pardos na América portuguesa. Campinas (SP): Ed. UNICAMP, 2007, 
p. 80. 
6 LARA, Silvia Hunold. Fragmentos Setecentistas: escravidão, cultura e 
poder na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, 
p. 268. 
7 Ibid., p. 268-9; BOXER, 1967, p. 134. 
8 MARQUESE, Rafael de Bivar. “A dinâmica da escravidão no Brasil: 
resistência escrava, tráfico negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX”. Novos 
Estudos. CEBRAP. São Paulo, v. 4, 2006, p. 118. 
9 FARIA, Sheila de Castro. “A riqueza dos libertos: os alforriados no Brasil 
escravista”. In: CHAVES, Cláudia Maria das Graças, SILVEIRA, Marco 
Antonio (orgs.). Território, Conflito e Identidade. Belo Horizonte: 
Argvmentvum, 2007, p. 22. 
10 A prerrogativa de alforriar sempre partia do senhor, que detinha o domínio 
sobre o escravo, sua propriedade. Como observou Manuela Carneiro da 
Cunha, não havia leis que obrigassem os senhores a alforriar seus 
escravos, sendo a concessão da liberdade a um cativo de alçada 
particular. Cf. CUNHA, Manuela Carneiro da. “Sobre os silêncios da lei: lei 
costumeira e positiva nas alforrias de escravos no Brasil do século XIX”. 
In: Antropologia do Brasil: mito, história, etnicidade. São Paulo: 
Brasiliense/EDUSP, 1987, p. 123-44. No entanto, em alguns casos, que 
não preponderaram numericamente, a alforria poderia ser atingida à 
revelia da vontade senhorial, mediante ações de liberdades perpetradas 
por escravos em diferentes instâncias de justiça. Cf. GRINBERG, Keila. 
Liberata: a lei da ambigüidade. As ações de Liberdade da Corte de 
Apelação do Rio de Janeiro no século XIX. Rio de Janeiro: Relume-
Dumará, 1994. Os estudos de Maria Beatriz Nizza da Silva e de John 
Russell-Wood demonstraram que governadores e ouvidores poderiam 
concorrer, pressionando os senhores, para a liberdade de escravos, bem 
como que o forro partido poderia ser atingido por meio de pedidos 
extrajudiciais que os escravos enviavam diretamente ao monarca. Cf., 
respectivamente, SILVA, Maria Beatriz Nizza da. “A Luta pela Alforria”. In: 
Brasil. Colonização e Escravidão. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 
2000, p. 298-307 e RUSSELL-WOOD, A. J. R. “Vassalo e Soberano: 
apelos extrajudiciais de africanos e de indivíduos de origem africana na 
América portuguesa”. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da (coord.). Cultura 
Portuguesa na Terra de Santa Cruz. Lisboa: Editorial Estampa, 1995, p. 
215-33. 
11 No entanto, a turbulência política ocorrida nas Américas – com a rebelião 
dos escravos nas Antilhas e com a conspiração baiana (1798) –, aliou-se 
a aspectos exógenos, como as idéias ilustradas, o antiescravismo e a 
independência da América inglesa, sem falar nas mudanças ocorridas na 
legislação portuguesa a partir do ministério pombalino, fatores que 
adicionaram novos ingredientes para o debate da velha questão de como 
acomodar negros e mulatos forros. 
 
Daniel Precioso 
20 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
 
12 Sobre a diferença entre impedimento de “sangue” e de “qualidade”, Cf. 
DUTRA, Francis. “Ser mulato nos primórdios da modernidade 
portuguesa”. Tempo, 30: 101-114, 2011. 
13 SILVEIRA, op.cit., p. 137. 
14 No período colonial, “preto” era sinônimo de escravo africano. Já o 
vocábulo “negro” aludiaà condição de cativo e não à “cor”: “negros da 
terra”, por exemplo, era uma expressão usada para caracterizar indígenas 
escravizados. 
15 A despeito do discurso desabonador dos mistos de branco e preto, 
bastante ativo ainda na segunda metade do século XVIII, a “freqüência 
com que o termo pardo começou a despontar nas fontes oficiais sugere 
que a conotação pejorativa sintetizada na palavra mulato vinha sendo 
posta à prova”. SILVEIRA, op.cit., p. 136; PRECIOSO, Daniel. Legítimos 
Vassalos: pardos livres e forros na Vila Rica colonial (1750-1803). Franca, 
SP: Dissertação (Mestrado em História) - FHDSS/UNESP, 2010. 
16 Ibid., p. 149. 
17 Cf. LARA, Sílvia Hunold. Campos de violência; escravos e senhores na 
Capitania do Rio de Janeiro (1750-1808). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1988; CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas 
décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 
1990; GRINBERG, 1994; DAMÁSIO, Adauto. Alforrias e ações de 
liberdade em Campinas na primeira metade do século XIX. Campinas, 
SP: Dissertação (Mestrado em História) - IFCH/UNICAMP, 1995; 
RUSSELL-WOOD, 1995; SILVA, 2000; PAIVA, Eduardo França. 
Revandications de droits coutumiers et actions en justice des esclaves 
dans les Minas Gerais du XVIIIe siècle. Cahiers du Brésil Contemporain. 
Paris, 2004. 
18 Segundo Russell-Wood, africanos e indivíduos de origem africana 
acreditavam na existência de um “contrato social” entre o soberano e os 
vassalos, ou seja, percebiam o monarca como um “árbitro imparcial na 
justiça”. Neste sentido, alguns indivíduos pertencentes a esses 
segmentos sociais teriam recorrido diretamente ao monarca diante da 
dificuldade de serem ouvidos na periferia do império. Cf. RUSSELL-
WOOD, op.cit., p. 216. 
19 Idem, p. 218. 
20 Requerimento de Francisco Cipriano, homem pardo, escravo do 
reverendo António Caetano de Almeida Vilas Boas, vigário colado da 
Igreja de Nossa Senhora do Pilar da Vila de São João Del Rei, pedindo 
para que o ouvidor daquela Comarca conheça com imparcialidade as 
sevícias praticadas com ele e interponha a sua informação, a fim de 
recorrer na causa da liberdade (09.04.1802). AHU/MG, Cx. 162, Doc. 37. 
21 Representação da corporação da Irmandade de São Gonçalo Garcia, 
ereta pelos pardos da Vila de São João Del Rei, solicitando a D. Maria I a 
mercê de conceder a referida Irmandade o poder de libertar os seus 
irmãos e irmãs que fossem escravos, pagando uma indenização a seus 
donos (22.08.1786). AHU/MG, Cx. 125, Doc. 20. Em 1761, o crioulo 
 
Em torno da Lei 1773 
ISSN 1414-9109 21 
 
alfabetizado José Inácio Marçal Coutinho enviou um requerimento ao 
Conselho Ultramarino no qual peticionou, em nome das Irmandades de 
Nossa Senhora das Mercês da Redenção dos Cativos sediadas em Vila 
Rica, Sabará, São José e São João del Rey, que a elas fosse concedidos 
os mesmos privilégios gozados pelos pretos de Nossa Senhora do 
Rosário em Lisboa, que podiam libertar seus irmãos escravos sem 
prejuízos de terceiros. Cf. Requerimento dos crioulos pretos e mestiços 
forros, moradores em Minas, pedindo a D. José I a concessão de 
privilégios vários, dentre eles o de poderem ser arregimentados e 
gozarem do tratamento e honra de que gozam os homens pretos de 
Pernambuco, Bahia e São Tomé. AHU, Cx. 69, Doc. 5 (01.07.1756). 
22 AGUIAR, Marcos Magalhães de. Negras Minas Gerais: uma história da 
diáspora africana no Brasil colonial. São Paulo: Tese (Doutorado em 
História) - FFLCH/USP, 1999; VIANA, op.cit., p. 158. 
23 Esse requerimento sintetiza os principais tópicos das petições e dos 
requerimentos enviados pelos crioulos e pardos durante a segunda 
metade do século XVIII. Cf. PRECIOSO, op.cit., p. 82-94. 
24 Carta de Miguel Ferreira de Sousa, morador na cidade de Mariana, 
expondo a D. Maria I a situação dos homens pardos e pretos libertos 
(19.06.1796). AHU/MG, Cx. 142, Doc. 23. 
25 Idem. Já em 1755, os “homens crioulos, pretos e mestiços” moradores em 
Sabará, Vila Rica, São José del Rey, São João del Rey e na Comarca do 
Serro Frio requereram – contra o “dolo e a calúnia” cometidos pelos 
brancos em negociações os envolvendo – que “naquelas vilas e 
continentes onde há justiças se dê aos suplicantes um homem ágil, 
pratico e judicial, de que ha muitos crioulos e pardos que vivem em muitos 
auditórios e com boa notícia de muitos daqueles termos, que lhes sirva de 
seu agente e procurador dos forros, para na pessoa do tal, serem citados 
e requeridos civilmente e assistir-lhes a seus assinados termos judiciais e 
extrajudiciais, ao qual se dê o juramento para bem servir a dita ocupação, 
requerendo pelos suplicantes toda a sua justiça com o advogado que o 
dito aprovar, pois deferindo-lhes Vossa Majestade a esta súplica faz 
serviço a Deus, aos suplicantes honra e esmola, por ser certo e infalível os 
muitos maus e ambiciosos desacertos que cometem naquele Império 
contra os pobres suplicantes. [...] Esperam da benigna piedade de Vossa 
Majestade, lhes defira com a justiça que costuma a seus pobres pretos, 
crioulos e mestiços de um e outro sexo por mercê do seu Real Decreto ou 
Alvará, no qual confiados, esperam. Requerimento dos crioulos pretos 
das minas de Vila Real do Sabará, Vila Rica, Serro do Frio, São José e 
São João do Rio das Mortes, pedindo que se lhes nomeie um procurador 
para os defender das violências de que são vítimas (14.10.1755). 
AHU/MG, Cx. 68, Doc. 66. 
26 APM, SG, Cx. 40, Doc. 52. Apud. SOUZA, Laura de Mello e. Coartação – 
Problemática e episódios referentes a Minas Gerais no século XVIII. In: 
SILVA, Maria Beatriz Nizza da (org.). Brasil. Colonização e escravidão. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000, p. 279. 
 
Daniel Precioso 
22 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
 
27 Cf. Carta de Bernardo José de Lorena sobre a apresentação do capitão 
Isidoro de Amorim Pereira, o “pardo” (15.07.1799). AHU/MG, Cx. 149, 
Doc. 5; Requerimento dos homens pardos da Confraria de São José de 
Vila Rica das Minas, solicitando o direito de usar espadim à cinta 
(06.03.1758). AHU, Cx. 73, Doc. 20. 
28 Apesar das cizânias existentes entre os vários grupos, nas petições 
enviadas ao Conselho Ultramarino, “de um lado, as identidades forra e 
escrava apareciam acima das diferenças de qualidade e, de outro, a 
identidade devocional era colocada acima das próprias diferenças de 
condição”. SILVEIRA, op.cit., p. 146. 
23 
Disputas políticas pelo controle da distribuição da imprensa no 
Rio de Janeiro 
 
Gabriel Costa Labanca 
 
A Societá 
 
Em outubro de 1906, no centro do Rio de Janeiro, 78 italianos 
distribuidores e vendedores de jornal e revista fundaram a Societá di 
Beneficenza e Mutuo Soccorso degli Ausiliari della Stampa1. 
Liderados por Gaetano Segreto, os imigrantes reunidos no Theatro 
Maison Moderne criaram mais que uma associação mutualista para 
oferecer pensões, indenizações, enterros, remédios e atendimento 
hospitalar aos seus membros.2 A Societá controlaria toda a 
distribuição e venda de periódicos na então capital do Brasil, além de 
outras localidades, pelo menos durante as primeiras três primeiras 
décadas do século XX. 
Gaetano Segreto, assim como seu irmão Paschoal, apesar de 
um início de vida tumultuado3, tinha conquistado grande prestígio e 
poder dentro da comunidade italiana fluminense desde a sua 
chegada ao país em 1883. Embora sempre juntos na maioria dos 
negócios, Paschoale tornou-se um dos maiores empresários do ramo 
entretenimento, enquanto Gaetano voltou-se para a distribuição e 
publicação de periódicos, como Il Diritto e Il Bersagliere4, jornais da 
comunidade italiana do Rio de Janeiro. Dentre os periódicos que 
distribuía, Gaetano era responsável pela circulação de A Notícia que, 
comparado aos vespertinos da cidade na virada para o século XX, 
era “o mais simpático, o mais lido e o de maiortiragem”.5 
Desde finais do século XIX, imigrantes italianos estavam 
envolvidos com a venda de periódicos no Rio de Janeiro. Não se 
tratava de uma característica cultural dos italianos, mas de uma das 
estratégias de sobrevivência das parcelas urbanas dos imigrantes no 
novo país. Sem capital ou capacitação, os italianos tiveram que se 
voltar para a demanda de pequenos e desvalorizados serviços 
urbanos na cidade carioca: “Eram os mascates, artesãos e pequenos 
comerciantes; motorneiros de bonde e motoristas de táxi; vendedores 
de frutas e verduras, tanto como ambulantes, como em mercados; 
garçons em restaurantes, bares e cafés; engraxates, vendedores de 
bilhetes de loteria e jornaleiros.”6 Não por acaso, em romances mais 
realistas de finais do século XIX, como O Cortiço, de Aluísio de 
Azevedo7, os italianos são normalmente caracterizados como 
mascates, função de pouco ou nenhum prestígio na sociedade. 
É nesse contexto que é criada a Stampa para “organizar a 
classe”8 de jornaleiros e distribuidores. Segundo um Memorandum 
Gabriel Costa Labanca 
24 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
em italiano produzido pela própria Sociedade na década de 1940, no 
começo de suas atividades houve grande disputa entre dissidentes, 
empresas jornalísticas e a Societá. Mas devido às ações enérgicas 
empreendidas pelos sócios beneméritos9, aos poucos a associação 
se afirmou, disciplinando a classe e harmonizando as divergências 
com a imprensa.10 Em 1927, o distribuidor Annibale Nicodemo 
prestará um relato semelhante ao revelar que o intuito da criação da 
sociedade era unir, confraternizar e disciplinar os elementos que 
trabalhavam nesse ramo de comércio.11 Nesse sentido, a criação da 
Stampa veio suprir uma necessidade de organização e manutenção 
da dominação dos italianos sobre a circulação da imprensa periódica 
no Rio de Janeiro. Já que a disputa pela ocupação dos pontos de 
venda de jornal na cidade causava até mesmo disputas violentas, 
seja entre os italianos e brasileiros, ou mesmo entre os próprios 
imigrantes.12 
A virada para o século XX marca o início da estruturação de 
maiores e estáveis empresas jornalísticas no Brasil, em sua maioria 
localizadas na capital, bem diferentes do tipo de imprensa feita no 
século anterior. Das disputas políticas pelo fim da monarquia e 
debates sobre temas polêmicos, como a abolição da escravidão e a 
instauração da república, emergiram diversas folhas de vida efêmera 
e pasquins incendiários que marcaram todo o período do Império 
brasileiro, principalmente as últimas décadas do segundo reinado.13 
Cientes do perigo da circulação de ideias através dos periódicos, 
elemento de peso na derrubada da monarquia brasileira, os 
republicanos, quase que imediatamente após a tomada do poder em 
1889, decretaram a censura à imprensa.14 Era uma situação 
paradoxalmente contrastante com a do período imperial, tempos em 
que a imprensa gozou de ampla liberdade. Se “os netos do imperador 
publicavam um jornal abolicionista dentro do palácio de São 
Cristóvão. Seria inimaginável pensar num jornal anarquista saindo de 
dentro do Palácio do Catete”.15 Talvez por isso, os poucos jornais 
sobreviventes, temerosos com a coerção empreendida pelo novo 
regime, tenham procurado o caminho da profissionalização, 
modernizando seus quadros de acordo com o ritmo dos novos 
tempos. Era o começo do que Sodré chamou, com certo exagero, de 
“grande imprensa”.16 
 
A força dos Distribuidores 
 
No caso da Ausiliari della Stampa, entretanto, havia a princípio 
uma certa peculiaridade em sua organização que não nos permite 
enquadra-la num tipo ideal de mutual. Em primeiro lugar, existia clara 
distinção hierárquica entre distribuidores e jornaleiros. Apesar de 
Disputas políticas pelo controle da distribuição da imprensa 
ISSN 1414-9109 25 
ambos serem reconhecidamente “auxiliares da imprensa”, os 
distribuidores tinham um grau de influência muito superior aos 
jornaleiros, atuando muitas vezes como patrões desses.17 O 
distribuidor era, geralmente, um antigo jornaleiro que obteve junto a 
certo jornal o privilégio de estruturar toda a sua circulação. Em suma, 
através de uma loja própria próxima ou no mesmo local de impressão 
do periódico que representava, o distribuidor era o responsável por 
intermediar a entrega das folhas aos revendedores, determinando 
inclusive a quantidade recebida por cada sociedade de jornaleiros. 
Para realizar essa mediação, os distribuidores recebiam, em média, 
de 30% a 40% do preço do jornal, dos quais repassavam 25% a 30% 
para os jornaleiros. Os jornaleiros, por sua vez, estavam organizados 
num tipo específico de sociedade conhecidas como “capatazias”. 
Nome tomado emprestado do capataz, sócio eleito pelos outros 
membros da sociedade para assumir o papel de liderança, 
negociando diretamente com os ditribuidores e repartindo os lucros 
obtidos entre os outros jornaleiros da sociedade. Espalhadas por toda 
a cidade do Rio de Janeiro, essas sociedades ocupavam zonas 
demarcadas, limitando o campo de atuação dos jornaleiros para que 
um não invadisse a “freguesia” do outro. As bancas, como as 
conhecemos hoje, ainda estavam longe de aparecer. Os jornaleiros 
vendiam seus produtos no chão ou trabalhavam como “pregões”: 
transitavam nas ruas com uma volumosa resma de jornais às costas, 
ou sob o braço, apregoando as notícias do dia aos berros. Além 
desses, também era comum ver garotos, geralmente chamados de 
“gazeteiros”, que pulavam bondes e enfrentavam outros riscos para 
chegar onde outros jornaleiros não conseguiam.18 
Portanto, é clara a posição de destaque e liderança dos 
distribuidores na associação. De fato, foram os distribuidores, a 
começar pela figura central de Gaetano Segreto, que se mobilizaram 
para impedir que a circulação de jornais e revistas saísse do controle 
dos italianos com a modernização das empresas jornalísticas. Para 
que essa situação não se transformasse, era não só imprescindível 
que a classe estivesse unida como pacificada e organizada para 
atender à crescente demanda de leitores e editores do então Distrito 
Federal. Daí as sucessivas acusações de monopólio feitas, durante 
toda a primeira metade do século XX, por alguns meios de 
comunicação, por jornaleiros brasileiros que se sentiam prejudicados 
com a dominação dos italianos ou pelos próprios jornaleiros italianos 
contra o poderio dos distribuidores.19 
Dentre os membros de maior destaque do quadro de 
fundadores da Societá, citaremos o nome de Vicenzo Perrotta 
(aportuguesado para José Vicente Perrota) como exemplo do 
prestígio e influência dos distribuidores sobre a sua associação de 
Gabriel Costa Labanca 
26 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
classe, empresas jornalísticas e a própria sociedade brasileira. Tendo 
sido distribuidor dos jornais A Manhã, A Esquerda, A Noite, O Globo, 
dentre outros, assim como as revistas publicadas pelas mesmas 
empresas, Perrotta tinha grande reputação no meio jornalístico. 
“Homem polido e de boas maneiras num setor onde predominavam a 
grosseria e a falta de educação, fora batizado de Conde por Mário 
Rodrigues, nos tempos da Crítica. O apelido pegou, acompanhando-o 
pelo resto da vida”.20 Outro testemunho lisonjeiro sobre o distribuidor 
pode ser encontrado no livro de memórias do célebre jornalista 
Edmar Morel, para quem Perrotta era um “gentleman”. Segundo 
Morel, “na época, todos os distribuidores de jornais eram italianos 
que, na hora do aperto, emprestavam dinheiro à gerência de alguns 
jornais, pagando os vales dados aos redatores. Figura singular era a 
do distribuidor italiano Vicente Perrota, que acabou Conde Papal”.21 
Como se vê, a importância do distribuidor era de tamanha 
grandiosidade que por vezes poderia financiar a produção de um 
jornal.Em outros casos, o distribuidor poderia ser peça fundamental 
no lançamento de um novo periódico, como foi Perrotta para a 
fundação de Mundo Esportivo. Jornal inovador, para uma época na 
qual os esportes não tinham caráter de massa no Brasil, foi formado 
inicialmente por Mario Filho e seus irmãos, Pandiá Pires, Cristóvão de 
Alencar Duque, Mário Martins e o próprio Perrotta. O distribuidor 
havia sido convencido por Martins a investir na aventura. “Ele 
adiantou algum numerário e, em troca, ficou com a exclusividade da 
distribuição do Mundo Esportivo”.22 Enquanto alguns prestavam 
homenagens aos distribuidores, outros tinham verdadeira ojeriza pela 
função que exerciam no mundo da imprensa. Num artigo de 1939, ao 
invés de Conde, Perrotta será transformado “numa espécie de Duce 
da distribuição, marcando, pelo seu cronômetro, a hora dos relógios 
dos colegas, e dizem que fazendo a ‘eminence grise’ no 3º andar do 
edifício do Jornal do Commercio, onde funciona o Sindicato dos 
Distribuidores”.23 
Era, portanto, no seio da Societá através do intermédio de um 
Conselho Administrativo formado sempre por distribuidores e 
jornaleiros de maior prestígio, que as divergências da classe tinham 
de ser resolvidas. Da mesma maneira, ali dentro se discutiam as 
falhas reclamadas pela imprensa na circulação de suas folhas, assim 
como eram negociados pontos de vendas, bancas, comissões e 
outras questões trabalhistas. Tudo sem documentação escrita, 
apenas a palavra como garantia. Exemplo desse procedimento pode 
ser verificado no Largo da Carioca, local dos mais concorridos no 
centro do Rio de Janeiro: 
 
Disputas políticas pelo controle da distribuição da imprensa 
ISSN 1414-9109 27 
Está aquele largo dividido por algumas faixas brancas, que figuraram 
com grande sucesso na encenação da Semana do Transito. Mas há 
outras divisões, mais profundas, e por isso mesmo, talvez, menos 
percebidas, traçadas pelo pessoal da Aussiliari della Stampa. O Largo 
da Carioca, do ponto de vista da distribuição e venda de jornais e 
revistas, esta dividido em 13 partes, avaliadas de 30 contos cada uma. 
A Aussiliari della Stampa avaliou em 390 contos o conjunto. As 13 
partes são arrendáveis, vendáveis, retalháveis, disponíveis, desde que 
a operação tenha o beneplácito da Aussiliari, isto é, do Sindicato. 
Faltando este, tudo falta.24 
 
Tudo isso nos coloca diante da hipótese de que a associação 
funcionava em moldes semelhantes aos de uma organização 
mafiosa, já que nesse tipo de estrutura que atua paralela à legislação 
estatal, “a única obrigação que ele [o mafioso] reconhece é a do 
código de honra”.25 Dentre os mais de 500 sócios que a Societá 
possuía em 1927, apenas 140, segundo o estatuto de 1945, 
possuíam o título de fundadores ou beneméritos, embora grande 
parte já tivesse falecido logo nas primeiras décadas do novo século. 
A grande maioria dos sócios se enquadrava na categoria 
Contribuinte, ou seja, aqueles que simplesmente pagavam a 
mensalidade e possivelmente não tinham qualquer poder de decisão 
dentro da associação, apenas os benefícios previdenciários comuns 
às mutuais. 
 
Disputas políticas no seio da Societá 
 
Contudo, apesar do aparente estado de tranqüilidade reinante 
na Ausiliari della Stampa, também existiam divergências dentro do 
órgão. Uma delas ocorreu no início de 1928, em função do pleito para 
a escolha da nova diretoria da associação. Na ocasião, Vicenzo 
Perrotta lançou uma chapa dos “independentes”, feito aparentemente 
incomum, para concorrer contra o candidato à presidência Enrico 
Tocci, distribuidor dos jornais A Noite e Correio do Povo. Nesse 
contexto, um clima de intenso debate foi promovido pelos candidatos, 
no qual cada um se utilizava dos periódicos que distribuía para fazer 
acusações contra o adversário. Fato que pode demonstrar tanto a 
influência dos distribuidores sobre a imprensa, quanto o interesse dos 
jornais em ter seu distribuidor no comando da Stampa. 
Mário Rodrigues, por exemplo, célebre editor de jornais como A 
Manhã e Crítica, cuja distribuição era feita por Perrotta, chegou a 
publicar um editorial extenso pedindo votos para o Conde: 
 
Se elegerdes, porém, vosso presidente o nosso Perrotta, encontrareis 
patrocínio desvellado no homem limpo, no estheta que sae incolume 
Gabriel Costa Labanca 
28 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
do contacto da tinta das rotativas, do “gentleman” que soffre com o 
vosso soffrimento […] Elegei-o vosso presidente, companheiros. Elle é 
o mais digno para a dignidade de vosso “leader”. Elle vos honrará. Elle 
vos exalçará. Elle vos servirá, pelo brio da consciencia humana que a 
causa delle representa, sobrelevando-se a mesquinhas e insultuosas 
conspirações politicas aleatorias, estranhas ao vosso estatuto.26 
 
Simpatizante comunista, Perrotta denunciava a intervenção de 
forças políticas italianas, através de seu embaixador Bernardo 
Attolico, no processo eleitoral da sociedade. A mando do Primeiro 
Ministro italiano, o “Duce” Benito Mussolini, apoiou a chapa de Enrico 
Tocci, que também editava um jornal fascista no Rio de Janeiro. 
Através de uma estratégia de intimidação dos jornaleiros, pela 
negação de passaporte, perda de cidadania e confisco de bens, a 
representação diplomática da Itália conseguiu angariar uma 
quantidade de 118 votos para Tocci contra os 83 de Perrotta. O 
resultado final das eleições foi assim noticiado pelo jornal A 
Esquerda: 
 
Nas eleições de hontem para a directoria da ‘Societá Auxiliare della 
Stampa’, o fascismo interviu desmascaradamente. Constituiu uma 
chapa e essa chapa acaba de ser imposta. A surpresa foi tão 
ostensiva à intervenção do fascio, que o embaixador Attolico enviou à 
‘Stampa’ um esquadrão fascista commandado pelo sr. Pacilei, 
funccionario da embaixada!27 
 
No entanto, enquanto jornais como A Esquerda, O Globo e A 
Manhã, davam o devido suporte à chapa dos “Independentes”, A 
Noite, Vanguarda e A Notícia, distribuídos por membros da chapa 
vitoriosa, anunciavam que a eleição havia ocorrido “animada e em 
ordem”28 e que não era verídico o que “se divulgou sobre a 
intervenção ou coacção das autoridades diplomáticas italianas a favor 
da vitória da chapa da maioria”.29 De fato havia qualquer conflito 
ideológico digno de investigação nessa disputa e episódios como 
esse pleito certamente também expõe a luta pela dominação do 
campo da opinião pública através da Stampa. As relações dos 
imigrantes italianos e seus descendentes com seu país de origem 
parece sofrer um brusco abalo com a ascensão de Getúlio Vargas à 
presidência da República em 1930. Com as políticas nacionalistas e 
centralizadoras empreendidas pelo novo governo, ganham força as 
vozes contrárias ao suposto monopólio dos italianos na distribuição e 
venda de periódicos. Preocupados com as crescentes reações 
contrárias aos negócios de seus sócios, os diretores da Stampa 
decidem se adequar aos novos tempos e nacionalizam a 
organização. Em 15 de novembro de 1931, com apenas um voto 
Disputas políticas pelo controle da distribuição da imprensa 
ISSN 1414-9109 29 
contrário, a Societá transformou-se em Sociedade de Beneficencia e 
Socorros Mutuos dos Auxiliares da Imprensa. A mudança de nome, 
entretanto, não impediu que fosse aprovada uma proposta do 
secretário Ottaviano Provenzano, para que a sociedade, em respeito 
às tradições de sua origem, mantivesse sempre uma ótima relação de 
amizade e respeito com a autoridade oficial da Itália. 
 
A Societá contra a sociedade 
 
A nova denominação também não impediu que a Sociedade 
sofresse dura investida contra a dominação que exercia sobre a 
circulação dos jornais e revistas no Rio de Janeiro. Embora, num 
discurso feito na comemoração do 30ºaniversário da associação, o 
presidente Luigi Falbo tenha destacado que a entidade “não nasceu 
com caráter de resistência, não trazia, propriamente, um programa de 
reivindicações”30, essa imagem não condiz com sua trajetória. Em 
pesquisa ainda superficial, verificam-se regulares queixas da 
Sociedade, tanto em relação ao valor das comissões cedidas pelas 
empresas jornalísticas quanto por decisões governamentais que 
pudessem prejudicar o negócio dos jornaleiros, como a concessão de 
instalação de novos kiosques na cidade. A entidade, portanto, tinha 
como função primordial a defesa dos interesses dos auxiliares da 
imprensa. Mais do que simples assistencialismo, seus membros 
ganhavam proteção contra eventuais ameaças ao seu meio de 
subsistência. 
No início dos anos 1930, a firma João Copello & Cia. recebeu 
parecer favorável de alguns políticos sobre um pedido de licença para 
a exploração de pontos de venda de revistas e jornais na capital 
carioca por mais de 20 anos, o que causou grande comoção entre os 
membros da Sociedade. O decreto municipal 4.826, de 12 de outubro 
de 1942, segundo o qual o jornaleiro italiano só poderia permanecer 
em seu negócio desde que transferisse sua licença ou contratos a 
brasileiros natos também foi motivo de protestos por parte da 
associação. Tratava-se de tentativas explícitas de derrubar o rentável 
monopólio dos distribuidores italianos sobre a venda de periódicos 
que, por vezes, chegava às vias da violência.31 “De fato, a tônica das 
reportagens publicadas na época é a denúncia de que os italianos 
impediam trabalhadores nacionais de ingressarem no comércio de 
jornais e revistas, além de serem exploradores do trabalho de 
menores brasileiros”.32 Tanto que bandeirinhas do Brasil passaram a 
ser expostas nas bancas da Cia. Brasileira de Jornais no intuito de 
estimular certo boicote e constrangimento aos italianos. Atitude 
reprovada por certos jornais da época, que a consideravam como 
“nacionalismo mercantil”, ou seja, empresas que se utilizam do 
Gabriel Costa Labanca 
30 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
simbolismo nacional para auferir lucros imediatos, levando vantagens 
sobre seus concorrentes.33 Nessa época, contudo, os distribuidores já 
haviam criado seu sindicato, que pouco se diferenciava da Sociedade 
de Beneficencia e Socorros Mutuos dos Auxiliares da Imprensa. A 
fundação da nova entidade de classe, em 1932, foi precedida por um 
dos momentos de maior instabilidade da Societá. 
 
A crise aconteceu em 1932, quando um grupo de jornaleiros, alias 
bastante numeroso, filiou-se à antiga União dos Trabalhadores 
Graphicos. Era uma reação dos jornaleiros, digamos nacionalista, 
contra o lucro absorvente dos distribuidores, digamos italianos. […] 
Por sua vez, os jornaleiros se incorporam, com a fusão havida nos 
meios graphicos e de jornalistas, à União dos Trabalhadores do Livro 
e do Jornal. Mas já então a Aussiliari della Stampa, traduzida, fazia-se 
reconhecer pelo Ministério do Trabalho com o nome de Sindicato dos 
Distribuidores e Vendedores de Jornais e Revistas.34 
 
Para conseguir tamanha façanha em tão pouco tempo, não foi 
apenas necessário que os distribuidores tivessem realizada uma 
campanha bem sucedida de filiação junto aos jornaleiros, mas que 
também gozassem de regalias junto ao governo. E com boas 
relações no Ministério do Trabalho, provavelmente através do 
advogado da sociedade Evaristo de Moraes, que agora compunha a 
equipe ministerial formuladora da lei de sindicalização, o sindicato foi 
rapidamente reconhecido. Naquele contexto, isso significava a 
oficialização do Sindicato dos Distribuidores e Vendedores de Jornais 
e Revistas, sob o comando dos tradicionais distribuidores, em 
detrimento das outras associações que almejavam representar a 
classe. A lei de sindicalização de Vargas determinava a existência de 
apenas uma associação para cada profissão e, como somente os 
trabalhadores afiliados ao sindicato oficial poderiam gozar dos 
benefícios da legislação social35, não havia escapatória para os 
jornaleiros a não ser se submeterem aos distribuidores. A partir desse 
período, parece ocorrer aos poucos um certo esvaziamento das 
atividades da Sociedade, tornando-se o Sindicato o lugar privilegiado 
das decisões da classe distribuidora e jornaleira. Ao mesmo tempo, o 
poder dos distribuidores tradicionais parece diminuir à medida que 
outros agentes interessados em disputar aquele nicho comercial 
tentam se impor no mercado de distribuição a partir de meados dos 
Novecentos. 
 
 
Disputas políticas pelo controle da distribuição da imprensa 
ISSN 1414-9109 31 
Notas de Referência 
 
 Doutorando do Programa de Pós-Graduação de História Social da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), orientado pelo Professor 
Doutor Marcos Bretas. Contato: gabriellabanca@yahoo.com.br. 
1 A quantidade de sócios fundadores aqui exposta foi retirada de um relato 
do distribuidor Annibal Nicodemo (Correio da Manhã. O inestimável 
concurso que a Societá Ausiliari della Stampa presta à imprensa e ao 
público. 23 fev. 1927). No entanto, esse número varia de um estatuto para 
outro da associação. No estatuto de 1908 constam 104 fundadores, no de 
1910 são 94, no de 1917, 1920 e 1945 são 140. 
2 VISCARDI, Cláudia M. R; JESUS, Ronaldo Pereira de. A Experiência 
Mutualista e a Formação da Classe Trabalhadora no Brasil. In: Jorge 
Ferreira e Daniel Aarão Reis. (Org.). A História das Esquerdas no Brasil. 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 26. 
3 “Paschoal foi preso treze vezes enquanto Gaetano, nove” (MARTINS, W. 
S. N. Paschoal Segreto, “Ministro das diversões do Rio de Janeiro” (1883 
- 1920). Revista Cidade Nova, v. 1, p. 83-96, 2007. p. 84). 
4 “Este jornal gozou de grande prestígio no Rio de Janeiro, em Minas 
Gerais e no exterior”. Dirigido em sua primeira fase por Giuseppe Magrini 
e depois por Antonio Grandis, a partir de 1894, era um diário de “linha 
política e pugnava pelos interesses dos trabalhadores”. Em 1899, voltou a 
circular sob o comando de Gaetano Segreto e de Mario Gambarone 
depois (VANNI, Júlio Cezar. Italianos no Rio de Janeiro - A história do 
desenvolvimento do Brasil partindo da Influencia dos italianos na capital 
do Império. Rio de Janeiro: Comunità, 2000. p. 68). 
5 EDMUNDO, Luís. O Rio de Janeiro do meu tempo. Brasília: Senado 
Federal, 2003. p. 595. 
6 GOMES, Angela de Castro. Imigrantes italianos: entre a italianità e a 
brasilidade. In: Ronaldo Vainfas. (Org.). 500 anos de povoamento. Rio de 
Janeiro: IBGE, 2000. p. 150-178. 
7 AZEVEDO, O Cortiço. Rio de Janeiro: 2000. 
8 MEMORANDUM. Societá di Beneficenza e Mutuo Soccorso degli Ausiliari 
della Stampa 21/10/1906 – 15/11/1931. Sociedade de Beneficência e 
Socorros Mutuos dos Auxiliares da Imprensa 15/11/1931 – 31/05/1940. 
9 Sócios Beneméritos, segundo o estatuto da Societá, são aqueles tenham 
feito valiosos donativos ou prestado relevantes serviços à associação. 
10 “In principio si ebbe una lotta tremenda tra dissidenti, diverse imprese 
giornalistiche e la Società, ma dovuto all’azione feconda, energica svolta 
da diversi soci benemeriti, l’associazione a poco a poco si affermò, 
disciplinando la classe ed armonizzando tutte le diverse divergenze con le 
imprese giornalistiche”. 
11 Contudo, “nos primeiros tempos foi preciso lutar com a indiferença da 
maioria da classe e até com a má vontade ou prevenção de algumas 
empresas jornalísticas, que atribuíram fins diversos aos intuitos da 
associação. Com o passar dos anos a sociedade, sempre bem dirigida e 
administrada, conseguindo organizar e estabelecer as normas de um 
 
Gabriel Costa Labanca 
32 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
 
serviço de distribuição e venda de jornais e revistasbrasileiras, veio se 
fortalecendo cada vez mais, podendo vangloriar-se do que tem 
conseguido, tanto em prol da sua classe como dos sócios e até mesmo 
das diversas empresas jornalísticas” (CORREIO DA MANHÃ. O 
inestimável concurso que a Societá Ausiliari della Stampa presta à 
imprensa e ao público. 23 fev. 1927). 
12 “A luta pelo setor de cada grupo é algo feroz e surdo, em que nem 
sempre faltaram tiros, e onde constantemente surgem incidentes, 
discussões e rosários de apostrophes a todas as Madonas peninsulares” 
(O OBSERVADOR ECONÔMICO E FINANCEIRO. A distribuição de 
jornaes. jun. 1939. p. 95-111). 
13 Sobre a emergência de novas ideias políticas e a multiplicação desses 
impressos ainda em 1821, ver: NEVES, Lúcia M. Bastos P. Os panfletos 
políticos e o esboço de uma esfera pública de poder no Brasil. In: Abreu, 
Marcia; Schapochnik, Nelson. (Org.). Cultura Letrada no Brasil. Objetos e 
práticas. São Paulo/Campinas: Fapesp/Mercado de Letras/ABL, 2005. p. 
399-412. 
14 “Em 23 de dezembro de 1889 o Governo Provisório baixava decreto de 
censura à imprensa, espalhando medo. Conhecido como Decreto Rolha, 
previa penas militares de sedição para os que conspirassem contra o 
governo ‘por palavras, escritos ou atos’” (MARTINS, Ana Luiza; DE LUCA, 
Tânia Regina. Imprensa e cidade. São Paulo: Unesp, 2006. p. 35). 
15 CARVALHO, José Murilo. A Construção da Ordem. Teatro das Sombras. 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 235. 
16 SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa da Brasil. Rio de Janeiro: 
Mauad, 1999. 
17 “O distribuidor recebe os jornais, mas não com ordenado ou comissões de 
venda própria de empregado. Cobra percentagem como um contratante 
de serviços e, por via do controle financeiro que exerce sobre os jornais, 
especialmente os mais pobres, geralmente se converte em interessado na 
administração do jornal. Contratante ou participante do jornal, ele age em 
relação ao vendedor como patrão. Para a distribuição dos matutinos, ele 
admite empregados: os vendedores. Para a dos vespertinos, ele admite 
vendedores a comissão, que, por isso mesmo, são subordinados seus. 
Qualquer que seja o ponto de vista por que se encare a questão, ela não 
muda de figura: o distribuidor é empregador e o vendedor, empregado” (O 
OBSERVADOR ECONÔMICO E FINANCEIRO. A distribuição de jornaes. 
jun. 1939. p. 95-111). 
18 REBELLO, Gilson. O Rio de banca em banca. Rio de Janeiro: O Dia, 
1991. 
19 Uma reportagem-denúncia publicada n’O Observador Econômico e 
Financeiro nos dá o tom dessa insatisfação: “Dar cinco a dez por cento de 
venda de um jornal a um distribuidor cuja ‘função’ consiste em entregar 
aos seus prepostos – lucrando por aí ainda mais – a mercadoria que sai 
da oficina, significa uma extorsão que fere profundamente a imprensa, 
quer os jornais a confessem, quer prefiram encobri-la, para não incorrer 
 
Disputas políticas pelo controle da distribuição da imprensa 
ISSN 1414-9109 33 
 
nas iras dos grupos que controlam a distribuição. Sim, porque ainda há o 
controle da distribuição pelos grupos, reunidos todos em associação para 
distribuir entre si os mercados. Jornais e revistas são a sua presa. […] O 
enredo – pois esta é uma historia de film em série – da distribuição de 
jornais e revistas no Brasil é mais do que simples página vergonhosa para 
uma imprensa que infelizmente ainda não soube, senão com raras 
exceções libertar-se da ‘maffia’ da distribuição. [...] O vendedor se instala, 
paga licença, monta a banca. E depois? Onde estão os jornais e revistas? 
– pergunta o jornaleiro. O distribuidor passa de longe, faz-lhe caretas, e 
uma que outra vez, organiza-se uma bela surra – aliás, dia a dia mais 
rara, à medida que certos vendedores de iniciativa ousam afrontar a 
cólera dos deuses da distribuição, montando banca própria e arrostando o 
‘boycott’”. 
20 MARTINS, Mario. Valeu a Pena: memórias de um jornalista e político de 
oposição que nunca foi do contra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. 
p. 43. 
21 MOREL, Edmar. Histórias de um repórter. Rio de Janeiro: Record, 1999. 
p. 47. 
22 MARTINS, Mario. Valeu a Pena: memórias de um jornalista e político de 
oposição que nunca foi do contra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. 
p. 43. 
23 O OBSERVADOR ECONÔMICO E FINANCEIRO. A distribuição de 
jornaes. jun. 1939. p. 95-111. 
24 O OBSERVADOR ECONÔMICO E FINANCEIRO. A distribuição de 
jornaes. jun. 1939. p. 95-111. 
25 HOBSBAWM, Eric. Rebeldes primitivos. Estudo sobre formas arcaicas de 
movimentoss ociais nos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1970. p. 
49 
26 RODRIGUES, Mario. À “Societá de Beneficenza Ausiliari della Stampa”. A 
Manhã. Rio de Janeiro. 29 jan. 1928. 
27 A ESQUERDA. Como o sr. Attolico interpreta, no Rio de Janeiro, a politica 
de Mussolini. Rio de Janeiro. 30 jan. 1928. 
28 A NOITE. S. A. Della Stampa. 30 jan. 1928. 
29 VANGUARDA. Está eleita a nova directoria da “Societá Ausiliari Della 
Stampa”. 30 jan. 1928. 
30 DIÁRIO DE NOTÍCIAS. 27 out. 1936. 
31 Em fevereiro de 1933, por exemplo, bancas de italianos da Galeria 
Cruzeiro e do Largo da Carioca foram depredadas por gazeteiros 
brasileiros devido a um cartaz no qual constava que apenas estrangeiros 
tinham o direito de vender jornais. O apelo ao patriotismo, de carona na 
valorização do trabalhador nacional empreendida pelo governo Vargas, 
era a estratégia mais utilizada nesse conflito. 
32 CHINELLI, Filipina. Folha no chão – Etnografia de uma sociedade de 
jornaleiros. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: Museu 
Nacional/UFRJ, 1977. p. 48. 
33 O GLOBO. 22 jun. 1936. 
 
Gabriel Costa Labanca 
34 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.6, Outubro de 2012 
 
34 O OBSERVADOR ECONÔMICO E FINANCEIRO. A distribuição de 
jornaes. jun. 1939. p. 95-111. 
35 GOMES, Angela de Castro. Cidadania e direitos do trabalho. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 23-27. 
 
 
 
 
35 
A Aurora Fluminense e o combate ao despotismo (1827-1831) 
 
Janaína de Carvalho Silva 
 
O presente trabalho teve como objetivo analisar o pensamento 
e atuação política de Evaristo Ferreira da Veiga, no contexto do 
Primeiro Reinado, quando todo o edifício legal e político do império 
foram montados, as instituições se reergueram sob novos prismas e 
inventados outros marcos temporais1. A análise será feita por meio do 
periódico, Aurora Fluminense, no interregno de 1827 a 1831. A 
pretensão é dimensionar o papel do publicista na luta pela afirmação 
do liberalismo no Brasil, defendendo reformas capazes de fazer minar 
os resquícios de ordem política, cultural e social do Antigo Regime 
absolutista, tratados aqui como “despotismos diversos”. 
Evaristo nasceu em 1799 e era filho do português Francisco 
Luiz Saturnino Veiga e da brasileira Francisca Xavier de Barros. 
Tinha como irmãos, João Pedro da Veiga, Bernardo Jacinto da Veiga 
e Lourenço Xavier da Veiga. O pai exercera carreira no magistério 
durante dezesseis anos e Evaristo o tivera como único professor até 
a idade de doze anos, quando ingressou no Seminário São José. 
Contudo não conseguira concretizar seu projeto de estudar em 
Coimbra e compensara a falta de um curso universitário explorando 
as obras da livraria que seu pai montara após abandonar a função de 
mestre-escola2. Ou seja, tivera uma formação em grande parte 
autodidata. 
A partir de 1818 a família Veiga se separou. Bernardo fixara-se 
em Campanha da Princesa, no sul de Minas Gerais, sendo 
acompanhado em 1822 por Lourenço. Os dois irmãos buscavam o 
tratamento de males estomacais e do fígado, através do consumo 
das águas minerais de Águas Virtuosas da Campanha, atual cidade 
de Lambari e na época parte do termo de Campanha. Logo 
adquiriram uma destacada importância na política local e provincial e 
representaram tanto um capital político para a construção da 
hegemonia liberal moderada na

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