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Teoria MacroeconômicaTeoria Macroeconômica AUTORIA Luiz Henrique Paloschi Tomé George Lucas Máximo Ferreira Bem vindo(a)! Olá, caro(a) aluno(a), seja muito bem-vindo(a) ao material pedagógico de Teoria Macroeconômica. Somos os professores Luiz Henrique Paloschi Tomé e George Lucas Máximo Ferreira, e é com grande satisfação que lhe apresentamos este conteúdo de nossa autoria, cuja �nalidade consiste em introduzir os conceitos, de�nições e análises da teoria macroeconômica que possibilitem a compreensão dos agregados econômicos, dos efeitos das políticas econômicas nos curto e longo prazos e dos determinantes do crescimento econômico e do nível de renda dos países. Sendo assim, na Unidade I iniciamos com os princípios fundamentais de macroeconomia, explicando as contribuições dos teóricos clássicos, neoclássicos e modernos. Além disso, apresentamos de forma breve alguns modelos e abordagens que contribuíram para a construção do pensamento econômico moderno. Por sua vez, estudamos sobre as variações do produto e emprego por meio da visão clássica, abordando o conceito de função de produção, bem como os fatores de produção: capital e trabalho. Ademais, abordamos o trade off entre horas de trabalho e lazer, as contribuições de Keynes e o seu Princípio de Demanda Efetiva (PDA), alguns fatos sobre a macroeconomia brasileira, taxa de câmbio, moeda, dé�cits orçamentários público e in�ação e a introdução à Teoria do Crescimento Econômico. Na Unidade II estudaremos o equilíbrio externo, introduzindo a curva BP, que demonstra os pontos de equilíbrio do Balanço de Pagamentos, e o Modelo IS-LM- BP, que inclui o setor externo ao Modelo IS-LM. Dessa forma, analisaremos a determinação do nível de renda para uma economia aberta e os efeitos das políticas econômicas ou de alterações em variáveis exógenas sobre o equilíbrio de curto prazo. Discutiremos esses efeitos nos regimes cambiais �xo e �utuante, considerando uma economia sem mobilidade de capitais, com perfeita mobilidade de capitais e com mobilidade imperfeita de capitais. Na Unidade III apresentamos o conceito de Curva de Oferta Agregada com Base em Preços Passados. Posto isso, introduzimos as expectativas racionais e adaptativas cuja aplicação nos levou a Curva de Oferta de Lucas e a Curva de Oferta de Phillips. Nesta última fomos apresentados ao trade off que acontece entre os níveis de desemprego e as taxas de in�ação. Por conseguinte, discorremos sobre a Curva de Phillips Aceleracionista, como resultado da inclusão das expectativas adaptativas que levam os agentes a considerar as previsões futuras com base em experiências do passado. Além disso, discutimos acerca dos Choques de Oferta com o exemplo clássico da elevação abrupta dos preços do petróleo de�agrado pela OPEP, na década de 1970. Por �m, na Unidade IV, veremos o consumo e a escolha intertemporal, considerando que as famílias decidem quanto consumir e poupar no presente, levando em conta o futuro; discutiremos a importância do investimento tanto como componente da demanda agregada, como no aumento da capacidade produtiva da economia no longo prazo; analisaremos a atuação do governo e as consequências da existência de dé�cits públicos; e discutiremos o crescimento econômico com o Modelo Harrod-Domar, o Modelo de Solow e o Modelo de Solow com capital humano. Muito obrigado e bom estudo! Unidade 1 Conceitos Gerais AUTORIA Luiz Henrique Paloschi Tomé George Lucas Máximo Ferreira Introdução Caro(a) aluno(a) da disciplina de Teoria Macroeconômica, vamos iniciar a nossa jornada pelo aprendizado abordando as principais características, conceitos e de�nições que abrangem a Macroeconomia. Sendo assim, começamos com os princípios fundamentais de macroeconomia, explicando o seu alvorecer, bem como o desenvolvimento e a necessidade que a evidenciou. Apresentaremos os principais economistas clássicos e neoclássicos cujas contribuições são o fundamento dos modelos e abordagens tais como conhecemos hoje quais são alvos de críticas, mas também da construção do pensamento econômico moderno. Discorreremos sobre a Teoria Keynesiana, contribuições e modelos que a sucederam como forma de representar as identidades macroeconômicas. Além disso, abordaremos, por meio da visão classicista, os conceitos e comportamentos do produto e emprego utilizando uma função de produção e assumindo alguns pressupostos, que veremos na sequência, serem refutados por Keynes. Por sua vez, introduzimos alguns modelos keynesiano e a ênfase no Princípio da Demanda Efetiva, �nalizando com a apresentação do multiplicador de gastos. Conquanto, apresentamos brevemente os aspectos da macroeconomia brasileira por meio do seu desenvolvimento, endividamento, processo hiperin�acionário e as insatisfatórias tentativas de estabilização da economia que culminou no Plano Real. Ademais, apresentamos e explicamos o Balanço de Pagamentos Brasileiro por meio de dados reais da economia, bem como, discorremos sobre a taxa de câmbio como principal mecanismo e meio de troca internacional. Por sua vez, �nalizamos com os aspectos elementares acerca da Teoria do Crescimento Econômico cujo objetivo consiste em introduzir o(a) caro(a) estudante no contexto de variáveis e modelos de crescimento econômico, e, sobretudo explicar suas funcionalidades e aplicações. Bons estudos! Princípios Fundamentais AUTORIA Luiz Henrique Paloschi Tomé George Lucas Máximo Ferreira Olá, caro(a) aluno(a). Vamos abordar brevemente os princípios fundamentais sobre a Macroeconomia. Posto isso, o termo Macroeconomia surgiu na década de 1930, num contexto de progresso nos estudos das questões econômicas agregadas. No período antecedente, as questões microeconômicas dominavam os meios acadêmicos, sendo que os fatores que determinam a renda, como o emprego e os preços, passaram a receber atenção a posteriori. Além disso, os estudos macroeconômicos foram intensi�cados devido à “Grande Depressão” de 1929, resultando em pesquisas sobre “ciclos de negócios”, bem como em alternativas cujo teor consistia na estabilização da economia. Dessa interação, surgiu a obra intitulada A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de John Maynard Keynes no período conhecido como “Revolução Keynesiana”. Por sua vez, Keynes atacava a “Economia Clássica”, bem como, os monetaristas, novo-clássicos e teóricos dos ciclos reais de negócios atacavam a teoria keynesiana partindo de pressupostos clássicos (FROYEN, 1999; JONES, 1979). Diante do exposto, o objetivo da Teoria Econômica é analisar como são formados os preços e as quantidades dos bens e serviços, bem como dos fatores de produção presentes na economia. Além disso, Lopes e Vasconcellos (2008) sublinham que os economistas da escola neoclássica elaboraram um método cujo princípio consistia na hipótese de racionalidade dos agentes econômicos, isto é, diante de um conjunto de variáveis, os indivíduos escolheriam a opção que apresentasse a maior vantagem. Assim sendo, a abordagem foi estruturada em duas entidades: o consumidor e a �rma. Por sua vez, o consumidor objetiva a maximização de alguma função, que seja de satisfação ou utilidade, e as �rmas são baseadas na premissa básica de maximização dos lucros. Ademais, a macroeconomia pode ser examinada por meio de vários modelos macroeconômicos, os quais são representações econômicas simpli�cadas que objetivam detectar, segundo Froyen (1999), fatores importantes na determinação de vários agregados, como: produto, emprego e nível de preços. Além disso, para entender as relações teóricas hipotéticas entre essas variáveis econômicas agregadas e variáveis de política macroeconômica, vamos de�nir e conceituar as respectivas contrapartidas das variáveis dos nossos modelos no mundo real. Conquanto, vamos considerar algumas relações contábeis existentes entre essas variáveis, como as medidas nas Contas Nacionais e Balanço de Pagamentos. Por conseguinte, discorreremos sobre os Clássicos da Macroeconomia no próximo tópico. Clássicos da macroeconomia Os economistas clássicos a rigor sãoos que precederam os neoclássicos, a saber: Adam Smith, David Ricardo, Stuart Mill, Thomas R. Malthus e Jean-Baptiste Say. Entretanto, segundo Lopes e Vasconcellos (2008), o termo “clássico”, empregado na Teoria Macroeconômica, usualmente destaca os economistas neoclássicos, os quais baseavam suas interpretações no racionalismo econômico, representados por Alfred Marshall, Léon Walras, Arthur Cecil Pigou e Francis Y. Edgeworth. Por conseguinte, essa vertente de pensadores econômicos acreditava na capacidade da economia de mercado, expurgando a intervenção do governo, de empregar de maneira e�ciente todos os recursos à disposição, de modo a atingir o nível de pleno emprego, isto é, no contexto em que não existem indivíduos desempregados voluntariamente. Posto isso, os economistas neoclássicos se baseavam na suposição de plena �exibilização de preços e salários, por sua vez, preços e salários tenderiam ao ajuste no mercado de trabalho, garantindo assim, o equilíbrio no mercado de trabalho a pleno emprego. Além disso, acreditava-se no poder autorregulador do mercado, ou seja, na crença no liberalismo na qual a oferta criaria a sua própria demanda, conhecida como a Lei de Say (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Ademais, após a “Grande Depressão” de 1929 surgiu uma grande insatisfação com os resultados que as teorias econômicas conjecturavam, isto é, a convergência automática ao pleno emprego e, portanto, a não existência de desemprego e capacidade ociosa, o que se revelou uma falácia devido a procura por empregos sem êxito. Assim sendo, Lopes e Vasconcellos (2008) a�rmam que somente com a “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, de John Maynard Keynes, postulada em 1936, que são intensi�cadas as críticas aos modelos anteriores e disposta a oportunidade da intervenção governamental por meio de instrumentos de política monetária e/ou �scal, cujo objetivo consiste em conduzir a economia à plena utilização dos recursos. Keynes, por sua vez, postulou que, contrariamente à teoria clássica, não existe �exibilidade perfeita entre preços e salários e, portanto, não garante o pleno emprego dos recursos. Diante do contexto, o autor evidenciou a participação dos sindicatos na preci�cação dos salários cujo efeito resultava em rigidez e que, por sua vez, conduzia ao chamado desemprego involuntário, isto é, o cenário em que os indivíduos procuram emprego, mas não obtém oportunidades com a economia posicionada abaixo do pleno emprego. CONCEITUANDO Segundo Brue (2006), o termo neo signi�ca “novo”, portanto, neoclássico implica uma nova forma de classicismo. Produto e emprego A produção e o emprego são os fatores que determinam, no modelo clássico, as posições nas curvas de oferta e demanda por trabalho, bem como da função de produção agregada. Dito isso, a função de produção se desloca, pressupondo uma mudança tecnológica que altera a quantidade de produtos a ser obtido, dada uma quantidade �xa de insumos. Além disso, à medida que o estoque de capital se altera no �uxo temporal, a função de produção também é deslocada. Diante do exposto, Froyen (1999) sublinha que a curva de demanda por trabalho se iguala à curva do produto marginal do trabalho, in�uenciando a inclinação da função de produção. Assim sendo, a relação central do modelo clássico é dada por meio da função produção agregada, que se baseia na tecnologia das �rmas individuais e que relaciona os níveis de produção e os níveis de insumos. Posto isso, Froyen (1999) destaca que, para cada nível de utilização dos insumos, a função de produção expressa o valor respectivo de produção, conforme equação (1). Na qual, y representa a produção real, K é o estoque de capital (fábrica e equipamentos) e N signi�ca a quantidade de mão-de-obra, por suposição homogênea. Como observado, supõe-se que o estoque de capital seja �xo e a tecnologia e a população, constantes no intervalo considerado. Assim, a produção varia no curto prazo devido a alterações na quantidade de mão de obra derivada da população considerada inalterada (FROYEN, 1999). REFLITA “É um erro capital teorizar antes de se ter as informações. As pessoas começam a torcer os fatos para que se encaixem nas teorias, em vez de formular teorias que encaixem os fatos”. Sherlock Holmes (Um Escândalo na Boêmia) y = F(K − ,N) (1) (K − ) Diante do contexto, podemos extrair algumas pressuposições (Figura 1), a saber: (i) sob a hipótese de baixos níveis de emprego , é suposto que a função seja uma linha reta, o que signi�ca que acréscimos de trabalhadores em determinada fábrica e na utilização de equipamentos não gera alterações na produtividade do último trabalhador contratado. Entretanto, (ii) situações entre demonstram que acréscimos de mão-de-obra provocam aumentos na quantidade produzida, ademais, conforme são adicionados novos trabalhadores, esses acréscimos são reduzidos até não produzir nenhum incremento no produto. ATENÇÃO A barra superior, segundo Mankiw (2015), signi�ca que a variável é �xa em determinado nível, bem como os fatores de produção são preestabelecidos. Dito isso, no modelo apresentado é suposto haver uma quantidade �xa de capital e mão-de-obra. (< N ′) N ′eN ′′ Figura 1 - Função de Produção e Produto Marginal do Trabalho Fonte: adaptado de Froyen (1999). Uma inspeção visual na Figura 1 permite veri�car que, conforme a mão-de-obra sobe, a produção aumenta, entretanto a uma taxa marginal decrescente. Segundo Froyen (1999), a inclinação da razão é positiva, porém apresenta (N) (y) (Δy/ΔN) reduções conforme se avança na curva. Além disso, o Produto Marginal do Trabalho ( ) é um acréscimo proporcionado pela adição de uma unidade de mão-de- obra, representado por uma curva negativa, dado que o aumento de uma unidade de trabalho produz incrementos cada vez menores na produção. Por sua vez, a função de Produção mede o nível de produção por meio da relação tecnológica dada uma determinada quantidade de mão-de-obra (trabalho). Ademais, para os economistas clássicos, o nível de emprego utilizado era determinado pelas forças de oferta e demanda do mercado de trabalho. Sendo assim, segundo os clássicos, o pressuposto é de que o mercado de trabalho funciona de forma apropriada, com as �rmas e trabalhadores agindo de maneira ótima. Além disso, não havendo assimetria de informações sobre os preços, ou seja, todos são informados sobre os preços relevantes, o mercado converge para o equilíbrio devido à ausência de entraves ao ajustamento dos salários nominais (FROYEN, 1999). Por sua vez, pela ótica da demanda, os serviços de mão-de-obra são absorvidos pelas �rmas que produzem os bens e serviços. Dessa forma, para estimar a demanda por trabalho, vamos supor uma �rma qualquer designada como i-ésima �rma. Além disso, vamos introduzir o conceito observado no modelo clássico, em que as �rmas são perfeitamente competitivas, isto é, segundo Lopes e Vasconcellos (2008), as empresas não decidem sobre os preços (P) que vendem as mercadorias, por hipótese é dado e não determina o quanto de salário será pago à mão-de-obra. Posto isso, a decisão da �rma é restrita à escolha da quantidade de trabalho a ser contratada e estimar o quanto produzir de modo que maximize o lucro por meio da expressão: e Na qual, : Salário Nominal por unidade laboral; : Custo por unidade de capital; : Representa o preço do produto (Y). Reescrevendo a equação (3) em função da utilização do trabalho, obtemos: De acordo com a premissa da �rma de maximização do lucro, derivamos a equação (4) com relação à força de trabalho , portanto a condição de primeira ordem (CPO) é: PMgNi y = F (K, ––– N) Lucro = Receita Total − Custo Total (2) Lucro (π) = P ∗ Y − (WN + RK) (3) W R P π = PF (N) − WN − RK (4) (N) e Assim sendo, é a derivada primeira da função do trabalho e signi�ca, que para a �rma maximizar o lucro, ela precisa contratar trabalhadores até o ponto que a ou seja igual ao salário real (W/P). Posto isso, representa a própria demanda de mão-de-obra pela �rma (LOPES; VASCONCELLOS,2008). Diante do contexto, Froyen (1999) destaca que a produção no curto prazo é alterada caso haja variações na quantidade de trabalho utilizada, de modo que o nível de produção e trabalho resulta numa decisão única. Além disso, a �rma perfeitamente competitiva buscará aumentar a sua produção até que o custo marginal de produção se iguale à receita marginal advinda das vendas, por sua vez, a receita marginal é igual ao preço do produto. Sabemos, por de�nição, que a mão-de-obra (trabalho) é o único fator variável da produção, assim sendo, o custo marginal de cada unidade adicionada de produção é igual ao custo marginal do trabalho. Além disso, o custo marginal do trabalho se iguala à razão entre o salário em unidades monetárias e a quantidade de unidades fabricadas com relação ao acréscimo de unidades de mão-de-obra na produção, conforme a expressão a seguir: Na qual, , representa o Custo Marginal da i-ésima �rma, que, por sua vez, é igual a razão entre o salário nominal ou monetário , e que signi�ca o Produto Marginal da mão-de-obra para a i-ésima �rma. Dessa forma, Froyen (1999) supõe que seja remunerado o trabalho com 15,00 u.m (unidades monetárias) por hora e que cada unidade adicional de mão-de-obra produza cinco unidades de produção, assim o , isto é, o salário real, será de 3,00 u.m. Reescrevendo a equação (8) sob a premissa inicial das �rmas de maximização dos lucros no curto prazo, obtemos: ou = PFN − W = 0 (5) ∂π ∂N PFN = W (6) FN = (7) W P FN PMgNi FN PMgNi CMgi = (8) W PMgNi CMgi W PMgNi (W/P) P = CMgi = (9) W PMgNi = PMgNi (10) W P Assim sendo, sob a premissa de maximização do lucro a condição é que o salário real – remuneração da mão-de-obra, representada por unidades de produção e não em unidades monetárias, e, por sua vez, a �rma, para maximizar, o lucro contrata até o ponto no qual o produto marginal do trabalho se iguale ao salário real (MANKIW, 2015, p.110) – representado por a ser pago pela �rma se iguale ao Produto Marginal do Trabalho, o qual é medido em unidades de produção. Posto isso, Mankiw (2015), destaca que o é dependente da quantidade de mão-de-obra, assim a curva de produto marginal apresenta uma inclinação descendente devido à redução que acontece com os acréscimos de unidades de trabalho (Figura 2). Figura 2 - Curva de Demanda por trabalho da empresa Fonte: adaptado de Froyen (1999). Uma inspeção visual na Figura 2 permite veri�car que, sob o salário real de 3,0, uma quantidade de trabalho contratada pela empresa será de 400 unidades, o que representa o ponto de equilíbrio. Por sua vez, com a quantidade sendo inferior a 400 unidades, ou seja, 350 unidades, o salário real será de 4,0 u.m, o que excede o salário real de 3,0 u.m, signi�cando que, em termos reais, o pagamento ao trabalhador é inferior ao produto real produzido por ele. Dessa forma, para aumentar os lucros, seria necessário o acréscimo de unidades de trabalho. Ademais, se a quantidade for superior a 400 unidades o salário real de equilíbrio (3,0 u.m) excederia o . (W/P) PMgNi PMgNi Além disso, os pagamentos da mão-de-obra superariam o produto marginal dos trabalhadores e os custos marginais excederiam o preço do produto, condicionando a maximização dos lucros a uma redução das unidades de trabalho. Por conseguinte, vamos relacionar o último aspecto necessário para determinar o emprego e, na sequência, o nível de produção na abordagem clássica, por meio da Curva de Oferta de Trabalho. Os economistas clássicos adotavam a premissa da maximização da utilidade ou satisfação do indivíduo cujo nível dependia da renda e lazer, resultando no tradeoff entre esses dois objetivos devido à condição imposta de que a renda aumenta com o trabalho, no entanto reduz as horas disponíveis de lazer. Por sua vez, o trabalho não gera prazer apenas à renda necessária que permite consumir e obter satisfação por meio do consumo de produtos. Além disso, o lazer produz satisfação por meio da maximização da utilidade do indivíduo. Ademais, cada hora destinada ao trabalho é uma hora reduzida de lazer (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). A Figura 3 ilustra essa dinâmica. Figura 3 - TradeOff entre Horas trabalhadas e disponíveis para Lazer Fonte: adaptado de Froyen (1999), Mankiw (2015). A Figura 3 demonstra o custo de oportunidade que o indivíduo deve fazer entre horas de trabalho e lazer. O indivíduo detém a força de trabalho ( ), ou seja, 24 horas à disposição e oferta até o ponto em que o trabalho seja trocado por renda, representado pelo salário real (W/P). Sendo assim, salários maiores tendem a provocar aumentos na oferta de mão-de-obra, conforme plotado na Figura 3 (b). N sj Além disso, a inclinação das curvas de indiferença ( ilustra as preferências do indivíduo, ou seja, representa o quanto está propenso a realizar a troca entre horas trabalhadas e lazer (FROYEN, 1999). Ademais, para obter a renda de 48 u.m ( , o indivíduo precisa escolher trabalhar por 8 horas sendo remunerado em 6,0 u.m/hora, entretanto, ele consegue optar por aumentar as suas horas de lazer e escolher trabalhar 6 horas, e sua renda será reduzida a 30 u.m, devido ao salário real de 5,0 u.m/hora. Finalmente, determinadas a oferta e a demanda de mão-de-obra, cabe analisar o funcionamento do mercado de trabalho, para estimar o nível de emprego e salário real. Relembrando que no modelo clássico é suposta a concorrência perfeita, ou seja, com grande número de ofertantes (não considerando a in�uência de forças sindicais por meio de tabelamento de preços) e por meio de um grande número de demandantes (devido à ausência de poder por parte das �rmas em �xar salários excluindo a existências de monopolistas e/ou oligopolistas). Assim sendo, havendo excesso de oferta de mão-de-obra, o salário real reduz e na medida em que houver excedente de demanda, o salário real aumenta (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Posto isso, o mercado tende a alcançar um nível de salário real em que a oferta de trabalho se iguale a demanda, assim nesse contexto, todos que desejarem trabalhar encontrará emprego e as �rmas obterão oferta su�ciente de mão-de-obra para atender suas demandas (Figura 4). U1,U2,U3) W/P ∗ N s j ) CONCEITUANDO Segundo Sandroni (1999), Trade-off é a expressão que de�ne situação de escolha con�itante, ou seja, uma ação econômica cujo objetivo é a resolução de determinado problema, mas que, de forma inevitável, provoca outros problemas. Figura 4 - Equilíbrio no mercado de trabalho segundo a Teoria Clássica Fonte: adaptado de Lopes e Vasconcellos (2008). Uma inspeção visual na Figura 4 permite veri�car que quando o salário for superior ao nível de equilíbrio, haverá excesso de oferta de mão-de-obra, fazendo com que o número de horas de trabalho oferecidas pelos trabalhadores exceda o demandado pela �rma, gerando uma condição de desemprego . Diante do contexto, a concorrência devido ao excesso de oferta de trabalho converge para uma redução salarial, diminuindo a oferta e aumentando a demanda até que as duas quantidades tendem ao equilíbrio novamente, a um nível inferior do salário real (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Por sua vez, se o salário real se situar abaixo do equilíbrio, provocará um excesso de demanda por trabalho, gerando a condição de super emprego . Dessa forma, a concorrência entre as �rmas para obter trabalhadores tende a elevar os salários reais por meio da ampliação da oferta de trabalho, reduzindo a demanda até que as quantidades retornem ao ponto de equilíbrio. Teoria macroeconômica moderna Como observamos, na abordagem clássica e sob a hipótese de que o mercado funciona livremente e na ausência de imperfeições, a economia tenderia a buscar o ponto de equilíbrio no mercado de trabalho, isto é, o pleno emprego. Posto isso, não haveria desemprego involuntário, o que signi�ca que os indivíduos buscam trabalho (W/P)A (W/P)E (W/P)B ao nível do salário de mercado e, no entanto, não obtêm emprego. Assim sendo, o desemprego só aconteceria na situação em que os trabalhadores desejassem remuneração superiorao salário de mercado, conhecido por desemprego voluntário. Entretanto, Lopes e Vasconcellos (2008) ressaltam que a Teoria Clássica não obteve êxito em explicar por que, no contexto econômico da “Grande Depressão” da década de 1930, o desemprego aumentava mesmo com os salários nominais em derrocada e, sobretudo, na situação em que os indivíduos aceitavam salários cada vez menores e não encontravam oportunidades de emprego. Diante do contexto, surge a necessidade de alterar a abordagem que se deslocou da Oferta Agregada, condições tecnológicas, fatores de produção e nível do produto para a análise da Demanda Agregada. Por conseguinte, a obra de John Maynard Keynes, The general theory of employment, interestand Money (1936) (A teoria geral do emprego, do juro e da moeda), na qual o autor introduziu o conceito conhecido por Princípio da Demanda Efetiva (doravante PDE), tinha como objetivo a determinação do produto e da renda, dessa forma acontecia a ruptura com as ideias clássicas da passividade da demanda e a adequação à oferta, conforme formulado pela Lei de Say (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Diante do contexto, é importante destacar que muitas das ideias apresentadas por Keynes foram pensadas por economistas dos Estados Unidos, cujas teorias compreendiam programas trabalhistas públicos, orçamentos do governo federal e facilitação de acesso ao crédito por meio do Sistema Federal de Crédito.Além disso, muitos teóricos tinham conhecimento acerca do efeito multiplicador que o aumento nos gastos do governo poderia provocar sobre os gastos e a renda total. Por sua vez, algumas teorias previam que, à medida em que a renda nacional aumentava, os gastos com consumo cresciam à taxa inferior à renda total e, por conseguinte, as poupanças aumentavam de modo acelerado. Ademais, os salários eram considerados custos de produção e fonte de demanda por bens e serviços, além do que as reduções nos salários não apresentavam solução na diminuição do desemprego. Entretanto, foi Keynes que operacionalizou a estrutura analítica e pavimentou a “revolução keynesiana” (BRUE, 2006). Assim sendo, tendo por base o PDE proposto por Keynes, as principais variáveis da demanda são o consumo (C) e o investimento (I), no qual o autor considera o consumo agregado uma função da renda e, por conseguinte, o crescimento do consumo está condicionado ao aumento da renda, entretanto, não na mesma proporção como demonstrado pela variável de propensão marginal a consumir(doravante PMC ou “c”) (Tabela 1a). Além disso, a PMC é afetada por vários fatores, como distribuição de renda, preferências individuais e/ou abstratas, como aversão ao risco, avareza entre outros e, por sua vez, essa variável deve ser positiva . Por conseguinte, as ideias de Keynes podem ser expressas por meio dos modelos macroeconômicos apresentados na Tabela 1. Sendo assim, o modelo simples é de que o produto (Y) é determinado pela demanda agregada (DA) considerando que não há restrições da oferta agregada (OA) para o crescimento do produto, o que, por sua vez, implica que as �rmas são livres para ofertar qualquer quantidade de 0 < c < 1 produtos a um nível de preços estabelecidos, ou seja, a OA no limite tendendo ao in�nito é elástica com relação aos preços, de tal modo que é por meio da DA que o nível de produto é determinado, mantendo a premissa do PDE (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Ademais, como estímulo da produção ao movimento dos estoques, a economia converge ao equilíbrio com o nível de produção se igualando à demanda agregada planejada, representada por e, por sua vez, igual ao consumo, além de que, o investimento involuntário é zero, conforme apresentado na Tabela 1a por meio da equação , que pode ser expressada supondo uma função linear do consumo , em que representa o consumo autônomo,que independe do nível de renda, isto é, mesmo que a renda seja zero exista, essa variável e c são o PMC. Posto isso, por de�nição, a poupança é o complemento da função consumo com relação à renda não consumida. Por conseguinte, Lopes e Vasconcellos (2008) sublinham que a poupança é considerada o resíduo da renda não consumida, representada pela equação , que possui sinal negativo devido à situação em que, na ausência de produção, acontece a poupança negativa. Além do que, signi�ca a propensão marginal a poupar (doravante PMP) que representa à proporção que a poupança cresce em consonância com os aumentos em unidades de renda. O segundo modelo macroeconômico keynesiano apresentado, segundo Lopes e Vasconcellos (2008), considera o investimento sendo �xo, ou seja, com características autônomas em relação à renda, representado por . Dessa forma, o investimento não depende do nível da renda assumindo um valor constante. Além disso, são mantidas as condições de equilíbrio na qual o produto é igual à demanda acrescida do termo de investimento, conforme descrito na Tabela 1b por meio da identidade macroeconômica . OA = DA Y = C C = C0 + cY C0 > 0 S = −C0 + (1 − c)Y (1 − c) I = I0 Y = C + I Tabela 1 - Modelos Macroeconômicos Keynesiano Veri�cando os sistemas de equações (a) e (b) desenvolvidos até agora, percebemos que o nível da renda de equilíbrio varia de acordo com a PMC (c) e do nível de gastos autônomos, representados por e . Posto isso, a renda de equilíbrio é sensível a aumentos e/ou reduções nessas variáveis, o que provoca o deslocamento da função de demanda agregada. Ademais, a dinâmica de variações que acontece entre gastos autônomos e as variações sob a renda é devido ao multiplicador de gastos, que, segundo Lopes e Vasconcellos (2008), é representado pela equação: Na qual, representa a variação da renda nacional; é a Variação autônoma na DA. Dessa forma, uma variação inicial nas despesas in�uencia diretamente a renda em consonância com aqueles favorecidos pelos gastos. Além disso, os indivíduos que recebem essa renda ampliarão o consumo de acordo com a PMC devido ao acréscimo obtido da renda e geram, por conseguinte, um novo aumento na renda, representado pelo termo , em que c é a PMC. Na sequência, temos o modelo keynesiano incluindo os gastos públicos (Governo) os quais são somados ao consumo privado e aos investimentos supondo uma economia fechada, isto é, não há trocas de bens e serviços com outros países. Por sua vez, ao incluir o governo no modelo se deve considerar a receita pública que acontece por meio de arrecadação de impostos representado pelo termo (Tabela 1c), cuja aplicação subtrai parte da renda dos indivíduos que poderia ser destinado ao consumo ou poupança, portanto, é representado pela equação de renda disponível como, (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Ademais, o último elemento a ser introduzido na análise dos modelos macroeconômicos keynesiano é o comércio exterior (resto do mundo), representado por meio do termo , isto é, se trata de uma economia aberta com trocas comerciais com outros países (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015). Assim, signi�ca exportações, ou seja, a demanda do resto do mundo aos produtos brasileiros e as importações ou um elemento de vazamento de renda, o que, por sua vez, pode ser substituído pela propensão marginal a importar ( de acordo com a Tabela 1d. Determinação e as �utuações do nível global De acordo com Dornbusch, Fischer e Startz (2013), a determinação e as �utuações do nível global de atividade econômica, isto é, do produto no curto prazo, podem ser explicadas por meio da demanda agregada. Sendo assim, temos que no curto prazo a curva de oferta agregada é horizontal – Lopes e Vasconcellos (2008) de�nem como Fonte: adaptado de Lopes e Vasconcellos (2008). C0 I0 Multiplicador de Gastos = (11) ΔY ΔDA ΔY ΔDA 1/ (1 − c) T = tY (Yd) Yd = Y − T (X − M) X M M = mY ) a oferta agregada keynesiana –, ou seja, o nível de preços é �xo no ponto em que a curva de oferta alcança o eixo vertical. Entretanto, o produto em oposição ao comportamento apresentado consegue assumir qualquer valor, devido ao pressuposto de que a quantidade do produto não in�uencia os preços no curto prazo. Doravante,podemos pensar em uma situação em que nem a oferta agregada seja �xa em um determinado nível de preços e tampouco seja imóvel no pleno emprego, cuja curva é positiva inclinada e representa o trade off entre crescimento e in�ação. A economia brasileira passou por sucessivas transformações desde o processo de desvinculação da capital colonizadora, Lisboa. Intrinsecamente, o país enfrentou problemas de endividamento desde o início de sua independência com a coroa portuguesa. Posto isso e transpostos os primeiros desa�os, surgiram outros ao longo do curso da história, os quais foram sendo superados. Por sua vez, na história moderna do Brasil, o povo lutou por Brasil e a Macroeconomia AUTORIA Luiz Henrique Paloschi Tomé George Lucas Máximo Ferreira liberdades, direitos e deveres por meio de constituições, revoltas, revoluções e a um elevado custo o país venceu a ditadura militar de 1964, redemocratizando o Estado, e por meio das “Diretas Já” de 1990 elege o primeiro presidente da democracia moderna brasileira, Fernando Collor de Mello. No contexto macroeconômico, os desajustes frequentes eram: desequilíbrio das contas externas, endividamento excessivo do governo, hiperin�ação, escassez de mercadorias devido às barreiras de importação, indústria nacional não competitiva, elevada concentração de renda, entre outras variáveis. Sendo assim, nas décadas de 1980-90 foram implementadas uma sucessão de medidas econômicas, cujo objetivo consistia em equilibrar e estabilizar a economia brasileira, começando por planos econômicos mal sucedidos, como: Plano Cruzado (1986), Plano Bresser (1987), Plano Verão (1989) e Plano Collor (I e II), os quais possibilitaram uma curva de aprendizado acerca do que não fazer no processo de estabilização, como congelar preços e salários, ou atacar o estoque de moeda, não considerando o �uxo monetário ou as expectativas dos agentes econômicos os quais antecipam os acontecimentos e sabotam a mudança. Posto isso, em 1993-94, por meio do Plano Real, elaborado pela equipe econômica do Presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), surge a Unidade Real de Valor (URV) ou “URVerização” qual viria a substituir o Cruzado e, paralelamente, instaurar a nova moeda, o Real. Além disso, para sustentar a estabilização da economia, foi adotada uma série de medidas e a principal foi a implementação do Tripé Macroeconômico por meio de câmbio �utuante, regime de metas de in�ação e superávit primário (Quadro 1). Quadro 1 - Breve resumo dos eventos econômicos brasileiros Evento Aspectos Macroeconômicos Período Fonte “Diretrizes Gerais do Plano Nacional de Desenvolvimento”; Plano de Metas ou “50 anos em 5”de JK . Crescimento do Produto Interno Bruto (PIB); Aceleração da in�ação, aumento do dé�cit público e; Desgaste da situação externa . 1955- 1963 Villela (2011) Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg) Reformas estruturais nos setores: Financeiro Tributário Mercado de trabalho 1964- 1967; Hermann (2011) “Milagre econômico” Taxas de crescimento superiores a 10% a.a. Redução moderada da in�ação qual espreitou valores próximo a 15% a.a. Indicadores do Balanço de Pagamentos (BP) promissores. 1968- 1973 Schmidt e Giambiagi (2015) Choque dos preços do Petróleo entre 1973-1979 II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) Com a implementação do II PND no governo Geisel foram concluídos o processo de Industrialização por Substituição de Importações (ISI); Forte Crescimento econômico; Transformações na infraestrutura produtiva do país; Aceleração in�acionária; Deterioração das contas públicas. Desequilíbrio no Balanço de Pagamentos 1974- 1984 Hermann (2011) Hiperin�ação brasileira entre 1985-1993 Experiências malsucedidas de Plano Cruzado Governo Sarney 1985- 1989 Castro (2011) ⊥ † a estabilização da in�ação (1986) Plano Bresser (1987) Plano Verão (1989) Deterioração das contas �scais e externas Plano Real Plano Collor I e II Medidas Fiscais Aumento da carga tributária (IPI, IOF etc.). PICE PND Fernando Collor de Mello (impeachment) 1990- 1998 Pavimentação do programa de estabilização Itamar Franco “Proposta Larida” Fase I: Ajuste Fiscal Fase II: Desindexação Fase III: Âncora Nominal Fernando Henrique Cardoso (FHC) Governo “Lula” Carta ao Povo Brasileiro Nota sobre o Acordo com o FMI 2003- 2010 Giambiagi (2011) Fonte: adaptado de Giambiagi (2011). 1 2 3 ⸸ Uma inspeção visual no Quadro 1 permite veri�car, de modo breve, alguns acontecimentos importantes na economia brasileira. Não obstante, não há pretensão de esgotar a literatura ou os fatos econômicos que contribuíram para a transformação do status quo do país. Dito isso, observamos períodos como do “Milagre econômico”, qual apresentou taxas de crescimento superiores a 10% (a.a.) acompanhado de reduções nas taxas in�acionárias e com relativa melhora nos indicadores do Balanço de Pagamentos. Além disso, Hermann (2011) reitera que essas relações macroeconômicas são controversas devido à di�culdade de equilíbrio existente entre crescimento econômico e in�ação ou desemprego e in�ação, comumente conhecida como a curva de Phillips. Ademais, Giambiagi (2011), sublinha a manutenção do establishment pelo presidente recém eleito, Luiz Inácio “Lula” da Silva e a sua equipe econômica, que seguiram com as políticas implementadas no governo FHC por meio da “Carta ao Povo Brasileiro”, em que se comprometia em preservar o Tripé Macroeconômico, posição esta reforçada com a “Nota sobre o Acordo com o FMI”, rea�rmando os acordos de pagamento da dívida externa brasileira. Nota: ⊥ JK: Juscelino Kubitschek de Oliveira ocupou a presidência da república entre 1956-1961. † Situação agravada pelas Instruções 70 substituída pela 113 da Sumoc. ª se trata de evento exógeno, mas que exerceu in�uência sobre a economia brasileira. ⸸ Homenagem aos economistas Pérsio Arida e André Lara Resende formuladores do plano. ¹ Amplamente conhecido pelo desastre econômico provocado devido ao congelamento da poupança dos brasileiros como uma medida desesperada de controle in�acionário. ² PICE: Política Industrial e de Comércio Exterior cujo objetivo consistia no incentivo para as empresas brasileiras aumentarem a competitividade ³ Plano Nacional de Desestatização, marcou o início do processo de privatizações qual contribuiu para o sucesso da estabilização posterior da economia. SAIBA MAIS Diante do contexto hiperin�acionário da década de 1990, foram adotadas medidas para combater e estabilizar a economia brasileira. Posto isso, para “ancorar” as mudanças estruturais realizadas, foi necessário implementar o chamado Tripé Macroeconômico, qual defendia a utilização de taxas de câmbio �utuante com a livre mobilidade de capitais cujo objetivo consistia em auxiliar no ajuste das contas externas, na sequência foram adotadas metas de superávit primário para reduzir o endividamento do setor público e pôr �m a adoção do regime de metas de in�ação e por conseguinte a utilização da política monetária. Fonte: Côrte e Souza (2020). ACESSAR Instrumentos de Análise AUTORIA Luiz Henrique Paloschi Tomé George Lucas Máximo Ferreira Modelos de balanço de pagamentos e taxa de câmbio O Balanço de Pagamentos (doravante BP) é organizado para manter o controle das entradas e saídas de um país, assim toda transação que resulte em recebimento do exterior entra no BP como crédito e quando se tratar de pagamento ao exterior é registrado como débito. O Banco Central do Brasil (Bacen), a partir de abril/2015, passou a divulgar os resultados do setor externo da economia brasileira de acordo com a 6ª edição do Manual de Balanço de Pagamentos e Posição Internacional de Investimento (BPM6), proposto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) (MILTONS, 2016). Para Dornbusch, Fischer e Startz (2013), o BP é subdividido em duas contas, a saber: conta corrente e conta de capital. Assim sendo, é na conta corrente que são registrados o comércio de bens e serviços, além dos pagamentos de transferências e, por sua vez, na conta capital sãoregistradas as compras e vendas de ativos (ações, títulos, entre outros). Além disso, de acordo com Krugman, Obstfeld e Melitz(2015), as transações internacionais são divididas em: (i) transações cuja origem são as exportações e importações de mercadorias ou serviços provisionadas diretamente na conta corrente; (ii) transações cuja origem são a compra e venda de ativos �nanceiros, como: ações, metais preciosos, obras de arte etc., o registro é realizado na conta �nanceira; e (iii) outras atividades que destinam transferência de riquezas entre países são registradas na conta capital. Posto isso, o princípio do BP segue o Método das Partidas Dobradas ou Método Veneziano, isto é, toda transação internacional é lançada duas vezes, uma como crédito e uma como débito. Por sua vez, Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) sublinham que muitas circunstâncias podem in�uenciar a forma como uma transação é provisionada no BP. Assim, qualquer transação comercial internacional gera, automaticamente, entradas de crédito e débito compensatórios no BP e, portanto, a soma do saldo da conta corrente e do saldo da conta capital se igualam ao saldo da conta �nanceira mais erros e omissões (Tabela 1), cujo objetivo é o fechamento das contas do BP que torna nula a soma de créditos e débitos do BP, impedindo que discrepâncias in�uenciem nos resultados (MILTONS, 2016). Tabela 1 - Balanço de Pagamentos do Brasil US$milhões Discriminação 2019 2020* Jun. Jan-jun. Ano Jun. Jan-jun. I. Transações correntes - 2 659 - 20 998 - 49 452 2 235 - 9 734 Balança comercial (bens) 4 714 22 412 40 782 6 898 19 327 Exportações 18429 109 590 225 821 17 997 102 184 Importações 13715 87 177 185 039 11 099 82 858 Serviços - 3550 - 17 653 - 35 139 - 1 371 - 11 187 Renda primária - 3876 - 26 420 - 56 059 - 3 452 - 18 608 Renda secundária 52 662 964 160 734 II. Conta capital 3 147 369 18 190 III. Conta �nanceira - 2 605 - 22 646 - 51 511 2 420 - 8 643 Erros e omissões 51 - 1 795 - 2428 167 902 Fonte: adaptado de BACEN (2020). 1/ 2/ 3/ Os resultados apresentados na Tabela 2 indicam um saldo de conta corrente no período referente a 2019 de: . Esse resultado indica que os pagamentos para o exterior são inferiores às receitas atuais. Por sua vez, signi�ca que os residentes brasileiros produziram mais do que consumiram. Além disso, essas transações correntes já foram pagas por algum meio e sabemos que essa entrada de débito líquido, de US$ 41.746 bilhões de dólares, deve ser compensada por um crédito líquido de mesmo valor em outro lugar no BP. Sendo assim, cada país possui sua própria moeda na qual são efetuadas transações comerciais entre países distintos por meio de operações de exportação e importação, criando a necessidade de um sistema cambial. Além disso, Assaf Neto (2018) destaca que a taxa de câmbio é o preço entre duas moedas estrangeiras, isto é, pressupondo que a troca cambial seja realizada entre a moeda dólar norte- americano e o real brasileiro, a taxa é de�nida pela quantidade de reais necessários para adquirir uma unidade de dólar ou vice versa. A valorização cambial da moeda nacional (Real) acontece quando há um aumento do seu poder aquisitivo, isto é, quando é necessária uma quantidade menor de moeda nacional para obter uma unidade de moeda estrangeira (e.g., Dólar EUA), entretanto, o caso inverso se veri�ca com o aumento da necessidade de moeda nacional para efetuar essa troca e o cenário predominante será desvalorização cambial. Moeda, dé�cits e in�ação Nota: ¹ Exclui mercadorias, deixando o território nacional sem mudança de proprietário. Inclui mercadorias entregues no território nacional, encomendas postais, e outros ajustes. ² Exclui mercadorias ingressando no território nacional sem mudança de proprietário. Inclui mercadorias entregues fora do território nacional (importação �cta), importação de energia elétrica sem cobertura cambial, encomendas postais e outros ajustes. ³ Para contas de ativo e de passivo, + = aumento de estoque e - = redução de estoque. Conta �nanceira = �uxos de investimentos ativos - �uxos de investimentos passivos. *Dados preliminares BPSaldo = 225.821 − 185.039 + 964 = 41.746 Para entender o conceito de moeda precisamos pensar num sistema baseado em trocas com inexistência de moeda. Posto isso, quando povos nômades desejavam obter outras mercadorias precisaram recorrer ao escambo, entretanto, houve o esgotamento desse modelo devido à implementação de técnicas agrícolas e o estabelecimento dos grupos de indivíduos na terra aprofundando os relacionamentos econômicos. Além disso, a atividade econômica tornou-se mais complexa por meio do aumento de produtos e serviços comercializados, como as ferramentas de cultivo fabricadas pelos ferreiros e os calçados, pelos artesões (LOPES; ROSSETI, 1998). Assim, surgiu a necessidade do desenvolvimento do sistema de trocas, que cedeu lugar gradativamente a formas de pagamentos que inicialmente se tratava de produtos de ampla aceitação, cujas características precederam a moeda. Por conseguinte, o conceito de moeda, segundo Mankiw (2015), é interpretado por um estoque de ativos, os quais estão à disposição para realizar transações, portanto, os reais nas mãos dos brasileiros constituem o estoque de moeda do Brasil. Além disso, a moeda possui três �nalidades, a saber: (i) Reserva de valor, (ii) Meio de troca; e (iii) unidade de conta. Assim sendo, a reserva de valor representa o poder de compra de moeda, ou seja, o quanto uma unidade monetária é capaz de adquirir. Por sua vez, a moeda é uma reserva de valor imperfeita, devido às variações nos preços, o que pode levar à deterioração do poder aquisitivo (in�ação) ou a valorização (de�ação). É um meio de troca porque empregamos a moeda para adquirir bens e serviços, cuja aceitação consiste na recíproca con�ança entre os agentes econômicos. Finalmente, temos a moeda como unidade de conta, a qual de�ne os termos pelos quais os preços são determinados e as dívidas são �rmadas. Posto isso, Mankiw (2015) enfatiza que a moeda constitui o padrão por meio do qual contabilizamos as transações econômicas. CONCEITUANDO Escambo é a troca de bens e serviços sem o uso de moeda. Trata-se do estágio mais rudimentar das relações de trocas e caracteriza a sociedade de economia natural. Ademais, na sociedade moderna a prática pode ressurgir sob a incerteza do valor da moeda, isto é, em períodos com elevadas taxas in�acionárias em que os consumidores perdem a con�ança na moeda (e.g., Alemanha pós Segunda Guerra Mundial, quando o Marco alemão foi substituído pelo café e cigarro) (SANDRONI, 1999). Dé�cits orçamentários e dívida pública A dívida pública basicamente pode ser contraída por meio de emissão de títulos do Tesouro Nacional (LFT, LTN, NTN-B, NTN-C, entre outros) cujo objetivo consiste em �nanciar dé�cits orçamentários públicos. Além disso, o governo pode por meio da senhoriagem (seigniorage) imprimir moeda como alternativa de �nanciamento, entretanto, o resultado em adotar tal medida em excesso é a hiperin�ação. Posto isso, surge a seguinte questão: por que o Estado precisa �nanciar dé�cits públicos? Uma das respostas está associada ao fato de o governo não ser gerador de renda, portanto, precisam arrecadar impostos cujo objetivo é entre outras obrigações pagar os funcionários de repartições públicas, juros da dívida pública, bem como, os investimentos em infraestrutura (e.g., estradas, saneamento básico), saúde (hospitais, unidades de atendimento básico), educação (escolas, creches). Conquanto, com frequência as despesas superam as receitas e o governo precisa recorrer ao endividamento por meio de oferta de títulos públicos junto dos investidores para cumprir com seus compromissos. CONCEITUANDO A de�nição de in�ação, segundo Mankiw (2015), é de um aumento generalizado nos preços. Para Sandroni (1999), a de�ação consiste na queda persistente do nível geraldos preços. Senhoriagem consiste na receita obtida por meio da emissão de moeda, cuja etimologia da palavra seigneur é francesa e remete à “senhor feudal”. Assim sendo, na idade média o senhor feudal detinha o poder de cunhar a própria moeda em seus domínios (MANKIW, 2015). Para Mankiw (2015), a hiperin�ação pode ser de�nida como a taxa de in�ação que excede, com frequência, 50% ao mês. Por sua vez, ao se consolidar nesses níveis por muitos meses os preços perdem as referências e a economia passa a ser subjugada por um espiral in�acionária em que sucessivos reajustes salariais associados ao descontrole �scal retroalimentam o aumento dos preços. Fundamentos da Teoria do Crescimento Econômico AUTORIA Luiz Henrique Paloschi Tomé George Lucas Máximo Ferreira Um dos principais objetivos da Teoria do Crescimento Econômico (doravante TCE) é explicar o constante aumento nos padrões de vida que veri�camos em muitos países. Por conseguinte, um dos modelos usualmente utilizados é o Modelo de Crescimento de Solow – Autor contribui amplamente para a Teoria Neoclássica do Crescimento cuja base é a ênfase da acumulação do capital com as decisões de poupança, que, por sua vez, supunha a inexistência de progresso tecnológico (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013) –, que demonstra que a percepção dessa elevação provém necessariamente do progresso tecnológico. Posto isso, para compreender com profundidade o processo de crescimento econômico, precisamos transcender ao modelo de Solow e desenvolver modelos cuja capacidade seja a explicação do progresso tecnológico. Ademais, é possível alcançar esse objetivo por meio da Teoria do Crescimento Endógeno, cujo pressuposto rejeita a mudança tecnológica exógena do modelo de Solow, isto é, a presunção da variável tecnológica. Diante desse contexto, para explicar a ideia inerente ao crescimento econômico, iniciaremos com uma função de produção simpli�cadora, que, de acordo com Barro e Sala-i-Martin (2004), é representada por meio da função de produção do modelo AK notada como um caso especial da função Cobb-Douglas. Na qual, : Representa a produção total da economia; Representa a Produtividade Total dos Fatores (nível tecnológico), É o capital; Força de trabalho; Elasticidade da saída do capital, sendo que Reescrevendo a equação (12), segundo Dornbusch, Fischer e Startz (2013), em função da força de trabalho (L) obtemos: Como, ; , o resultado é a função de produção Cobb-Douglas em termos per capita: Y = AKαL1−α (12) Y A : ∀ A > 0. K : L : α : 0 < α < 1. = = = A( ) α (13) Y L AKαL1−α L AKL−αL L K L K/L ≡ k L/L ≡ 1 y = f (k) = Akα (14) Por sua vez, conforme o capital per capita cresce, o produto acompanha tal crescimento. Ademais, derivando a equação (14) com relação à força per capita do trabalho, obtemos as seguintes condições de primeira e segunda ordem: Uma inspeção visual nas equações (15) e (16) revelam a propriedade de rendimentos marginais decrescentes dos fatores de produção, isto é, na medida em que são acrescentadas novas unidades do fator de produção trabalho (L) os ganhos obtidos na produção são cada vez menores, assim, no limite obtemos, , por sua vez, quando as unidades de trabalho são reduzidas, têm-se, Ademais, Mankiw (2015) reitera a importância dos modelos de crescimento de Solow e endógeno para demonstrar como a poupança, o crescimento da população e o progresso tecnológico se relacionam para determinar o nível e o bem estar econômico dos cidadãos de um país. Por conseguinte, vamos voltar à abordagem desse tema na Unidade IV. = Aαkα−1 > 0 ; (15) ∂y ∂k = −Aα (α − 1) kα−2 < 0 (16) ∂2y ∂2k limk→∞∂y/∂k = 0 limk→0∂y/∂k = ∞. CONCEITUANDO A função Cobb-Douglas é amplamente utilizada na economia para representar a relação entre dois fatores de produção, expressos, segundo Sandroni (1999), como L e K, trabalho e capital respectivamente. Assim, se o somatório dos expoentes resultar em um, é dito que a função é linear homogênea, ou seja, o retorno será constante com relação à escala de produção. Posto isso, se capital e trabalho forem acrescidos de uma unidade, a produção também será. Caro(a) estudante, nesta unidade aprendemos sobre as principais características, conceitos e de�nições que abrangem a Macroeconomia. Iniciamos com os princípios fundamentais de macroeconomia, explicando o seu alvorecer, bem como a determinação e consolidação por meio das contribuições de teóricos clássicos, neoclássicos e modernos. Apresentamos, de forma breve, modelos e abordagens que contribuíram para a construção do pensamento econômico moderno. Estudamos sobre as variações do produto e emprego por meio da visão clássica, introduzindo o conceito de função de produção e os fatores, capital e trabalho. Além disso, apresentamos o objetivo de maximização do lucro da �rma por meio da função de lucro. Ademais, abordamos o tradeoff entre horas de trabalho e lazer, e, sobretudo, discorremos sobre a Teoria Moderna Macroeconômica por meio das contribuições de Keynes e o seu Princípio de Demanda Efetiva. Por conseguinte, explicamos o conceito da Teoria CER, cujo objetivo consiste em determinar as causas das �utuações do nível global por meio de ciclos econômicos. Analisamos de forma breve, sem pretensão de esgotar os fatos sobre a macroeconomia brasileira, os problemas intrínsecos à economia do país, como o endividamento sumário, bem como os crônicos desequilíbrios no Balanço de Pagamentos, perpassando pelos períodos desenvolvimentistas e hiperin�acionário, cujo desdobramento foi a estabilização monetária por meio do Plano Real (1994). Por sua vez, abordamos o modelo de Balanço de Pagamentos Brasileiro, explicando o conceito, construção e �nalidade, utilizando dados reais da economia brasileira. Ademais, adentramos sob os aspectos da taxa de câmbio, moeda, dé�cits, orçamentos públicos e in�ação. Finalizamos com uma breve introdução acerca da Teoria do Crescimento Econômico, cujo objetivo é estudar como os fatores de produção são combinados à variável tecnológica para gerar o produto. Na próxima unidade vamos dar continuidade, abordando a Curva BP e equilíbrio externo, o Modelo IS-LM-BP com câmbio �xo: políticas monetária, �scal e cambial em uma economia sem mobilidade de capitais, o Modelo IS-LM-BP com câmbio �exível: Conclusão - Unidade 1 políticas monetária e �scal em uma economia sem mobilidade de capitais, Modelo IS-LM-BP com câmbio �xo: políticas monetária, �scal e cambial em uma economia com mobilidade perfeita de capitais; Modelos IS-LM-BP com câmbio �exível: políticas monetária e �scal em uma economia com mobilidade perfeita de capitais; Modelos IS-LM-BP com câmbio �xo: políticas monetária e �scal em uma economia com mobilidade imperfeita de capitais; e Modelos IS-LM-BP com câmbio �exível: políticas monetária e �scal em uma economia com mobilidade imperfeita de capitais. Leitura Complementar AGUILAR FILHO, H. A.; SAVIANI FILHO, H. A Evolução da Macroeconomia Moderna entre Perspectivas: em busca de uma sistematização. Revista de Economia Contemporânea [online], v.21, n.2, p.1-27, 2017. BARBOSA FILHO, N. O desa�o macroeconômico de 2015-2018. Revista de Economia Política, São Paulo, v.35, n.3, p.403-425, set.2015. Livro Filme Web ACESSAR https://go.eadstock.com.br/mI https://go.eadstock.com.br/mI Unidade 2 Modelos AUTORIA Luiz Henrique Paloschi Tomé George Lucas Máximo Ferreira Caro(a) aluno(a), bem vindo(a) a segunda unidade da apostila, na qual abordaremos o modelo de determinação da renda de curto prazo IS-LM-BP. Inicialmente faremos uma breve revisão do Modelo IS-LM, um modelo originário do trabalho de Hichs (1937), denominada “Mr. Keynes and the classics: a suggested interpretation”, no qual o autor tenta sintetizar as contribuições de Keynes (1996 [1936]) em sua Teoria Geral. Os pressupostos básicos são mantidos os mesmos do modelo keynesiano simples, em que a demanda determina o produto, Princípio da Demanda Efetiva, e o nível de preços é considerado constante. No IS-LM, é acrescentado o mercado monetárioe, consequentemente, a determinação da taxa de juros de equilíbrio, que passa a ser variável importante e in�uente sobre o nível de renda da economia. Além disso, será apresentada uma terceira curva, que representa os pontos de equilíbrio do Balanço de Pagamentos (transações correntes e movimentos de capitais), denominada Curva BP. A partir da dedução dessa curva e a inserção da mesma ao Modelo IS-LM, chegaremos ao Modelo IS-LM-BP. Com base nesse último modelo, discutiremos como se dá a determinação do nível de renda em uma economia aberta e de que forma as políticas econômicas ou modi�cações em outras variáveis exógenas podem afetar o equilíbrio sob diferentes regimes cambiais e mobilidade de capitais. Para tanto, desenvolveremos a análise para duas situações cambiais, �xo e �utuante, e três condições de mobilidade de capitais: i) sem mobilidade de capitais (em que o país não possui acesso ao mercado internacional de capitais); ii) com perfeita mobilidade de capitais (considerando uma economia pequena com acesso ao mercado internacional de capitais); e, iii) com mobilidade imperfeita de capitais (para uma economia grande com acesso ao mercado internacional de capitais). Bons estudos! Revisão do Modelo IS-LM AUTORIA Luiz Henrique Paloschi Tomé George Lucas Máximo Ferreira O modelo IS-LM é um modelo de equações simultâneas. Nele, temos a determinação simultânea da taxa de juros e da renda que equilibram o mercado de bens e o mercado monetário na economia. Parte-se do mercado monetário, em que a interação entre oferta e demanda de moeda determina a taxa de juros de equilíbrio. Nesse modelo, o investimento agregado (I), componente da Demanda Agregada (DA) da economia, é impactado negativamente pela taxa de juros, pois quanto maior a taxa de juros, menor o investimento. Dessa forma, a taxa de juros, estabelecida no mercado monetário, impacta a Demanda Agregada por meio dos investimentos. Logo, partindo-se do Princípio da Demanda Efetiva, haverá alteração no produto (Y), que é igual a renda (Y). A seu turno, a renda impacta o mercado monetário, pois in�uencia a demanda por moeda (quanto maior a renda, maior a demanda por moeda), afetando a taxa de juros. Desse modo, temos a interação do lado real (produto e renda) com o lado monetário da economia. Vale ressaltar que a política �scal (tributos e gastos do governo), a política monetária (oferta de moeda) e o nível de preços (constante) são considerados exógenos (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Iniciaremos nossa discussão pelo equilíbrio no mercado de bens e serviços, introduzindo no modelo keynesiano para uma economia aberta, visto na unidade anterior, a taxa de juros na determinação do investimento, para que possamos deduzir a relação IS (Investment = Saving ou Investimento = Poupança) e sua respectiva curva. Para isso, vamos utilizar a mesma estrutura do modelo keynesiano para uma economia aberta, inserindo a taxa de juros como variável explicativa do investimento. Como destacado anteriormente, o investimento varia inversamente à taxa de juros. Isso é devido à E�ciência Marginal do Capital, que é a taxa de desconto que iguala o �uxo de receitas esperado ao custo do investimento, análoga a Taxa Interna de Retorno da Matemática Financeira. Nesse sentido, a taxa de juros é interpretada como o custo de se obter empréstimos para realizar o investimento ou o custo de oportunidade do capital, e quanto maior ela for, menor será o investimento, ou, de outra forma, quanto menor for a taxa de juros, maior será o investimento. Assim, o modelo é expresso da seguinte forma: Em que, é a renda/produto; é o consumo, que depende da renda disponível ; é o investimento, que depende da taxa de juros ; é o gasto do governo; são as exportações líquidas (exportações menos importações). Y = C (Yd) + I (i) + G + (X − M) (1) Y C (Yd) Yd I (i) i G X − M No modelo keynesiano da unidade I, observamos que elevações no investimento elevam a renda. Contudo, naquele modelo o investimento era considerado autônomo, ou seja, exógeno. Nessa nova formulação, ao introduzirmos a taxa de juros, passamos a de�nir endogenamente o investimento de acordo com as variações na taxa de juros. Dessa forma, reduções na taxa de juros levam a elevações no investimento e, consequentemente, na renda. Isso pode ser visto na Figura 1. Figura 1 - Investimento em função da taxa de juros Fonte: autor (2020). A partir da inserção da taxa de juros como determinante do investimento, podemos estabelecer a relação IS. Na Figura 2 são apresentados dois grá�cos para que possamos desenvolver esse raciocínio. No primeiro grá�co temos o equilíbrio no mercado de bens, no qual a demanda agregada é uma função crescente do produto (relação representada pelas curvas DA) e a reta de 45° demonstra os possíveis pontos de equilíbrio entre demanda agregada e produto (a reta de 45° representa os pontos em que DA = Y). Ainda no primeiro grá�co, observamos o efeito de uma redução na taxa de juros sobre a demanda agregada e o produto. Em um primeiro momento temos a demanda e o equilíbrio no ponto , resultando no produto de equilíbrio . Supondo uma redução na taxa de juros de para , de modo que , teremos inicialmente uma elevação no investimento, como visto na Figura 1, e um consequente aumento na demanda agregada, que é representado pelo deslocamento da curva de demanda agregada para cima, passando de para . Diante disso, teremos um novo ponto de equilíbrio em , com um nível de produto de equilíbrio maior, . Dessa forma, observamos que uma redução na taxa de juros leva a um aumento no produto, ou que uma elevação na taxa de juros leva a uma redução no produto. Essa relação de equilíbrio no mercado de bens e serviços é representada pela curva IS negativamente inclinada, como se pode observar no segundo grá�co da Figura 2. À taxa de juros , o produto de equilíbrio é , e quando elevamos a taxa de juros até o patamar , temos uma redução no produto para . A curva IS nos dá o nível de produto de equilíbrio como função da taxa de juros, qualquer ponto sobre a curva IS representa o equilíbrio no mercado de bens e serviços: oferta agregada igual à demanda agregada. Destaca-se que IS é representada tomando como dados os valores de tributos (T) e de gastos do governo (G), de modo que mudanças em T e/ou G deslocarão a curva IS. Reduções em T e/ou elevações em G provocarão deslocamento para a direita de IS (política �scal expansionista), enquanto que elevações em T e/ou reduções em G deslocarão IS para a esquerda (política �scal contracionista). DA1 A1 Y1 i1 i2 i2 < i1 DA1 DA2 A2 Y2 i2 Y2 i1 Y1 Figura 2 - Derivação da relação IS Fonte: autor (2020). Seguindo, deduziremos agora a curva LM (do inglês Liquidity Money), que representa o equilíbrio no mercado de monetário, para a qual utilizaremos a discussão sobre demanda de moeda. O equilíbrio no mercado monetário ocorre quando a demanda de moeda ( ) (lado direito da equação 2) iguala a oferta de moeda ( ) (lado esquerdo da equação 2): Em que, é a oferta real de moeda (quantidade de moeda nominal dividida pelo nível geral de preços ); é a renda real; é uma função da taxa de juros. A oferta de moeda é controlada pelo Banco Central, por meio de instrumentos especí�cos, de modo que, consideraremos a oferta da moeda como uma variável determinada de maneira exógena, por decisão da autoridade monetária. Já a demanda de moeda tem dois motivos: para transações e para investimento. No primeiro motivo, a demanda de moeda é diretamente atrelada ao nível de renda da economia. Quanto maior for o nível de renda/produto, maior será o volume de transações e, dessa forma, maior será a quantidade de moeda demandada. Com relação ao motivo investimento, os indivíduos, ao decidirem como alocar sua riqueza, vão comparar o diferencial de rentabilidade entre os diferentes ativos da economia. Desconsiderando a in�ação, sabe-se que manter moeda em espécie resulta em retorno real nulo, ao passo que alocar a riqueza em títulos rende a taxa de juros vigente.Por isso, a taxa de juros representa o custo de oportunidade de reter moeda, e a demanda de moeda diminui conforme aumenta a taxa de juros (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). No grá�co à esquerda do Figura 3 podemos ver a interação das curvas de oferta de moeda ( ) e demanda de moeda ( ). Neste grá�co, observamos a curva de oferta de moeda �xa, vertical, e a curva de demanda de moeda negativamente inclinada, demonstrando a relação inversa entre demanda de moeda e taxa de juros. O ponto em que as duas curvas se cruzam representa o ponto de equilíbrio no mercado monetário, no qual a oferta de moeda é igual a demanda de moeda, de�nindo assim a taxa de juros de equilíbrio da economia. A partir desse grá�co podemos veri�car o efeito de um aumento na renda sobre a taxa de juros. Partimos do equilíbrio inicial, em , com a oferta de moeda igual a demanda de moeda M d M s = YL (i) (2) M P M P P Y L (i) M s M d A1 M s , resultando na taxa de juros . Agora, suponhamos um aumento na renda da economia de para , de forma que . Esse aumento na renda elevará o volume de transações na economia e, consequentemente, a demanda de moeda, deslocando a curva de demanda de moeda para a direita e para cima, passando de para . Dada a oferta de moeda constante, a elevação da demanda de moeda provoca um aumento na taxa de juros de equilíbrio, evidenciado no novo ponto de equilíbrio em , com uma taxa de juros maior, . Assim, observamos que uma elevação na renda leva a um aumento na taxa de juros da economia. Figura 3 - Derivação da relação LM Fonte: autor (2020). Essa relação de equilíbrio no mercado monetário é representada pela curva LM positivamente inclinada, como se pode observar no grá�co à direita da Figura 3. Ao nível de renda , a taxa de juros de equilíbrio é , e quando há elevação no nível de renda até o patamar , temos uma elevação na taxa de juros para . Além disso, temos que a posição da curva LM é determinada pela oferta real de moeda. Como pressupomos o nível de preços constante, a LM é modi�cada basicamente pela política monetária, de modo que expansões na oferta de moeda deslocam a LM para a direita e para cima, e contrações na oferta monetária a deslocam para a esquerda e para baixo. Explicados os dois mercados e seus respectivos equilíbrios, analisaremos o equilíbrio simultâneo em ambos. A relação IS demonstra o equilíbrio no mercado de bens e serviços e mostra como a taxa de juros afeta o produto/renda. A relação LM demonstra o equilíbrio no mercado monetário e mostra como o produto/renda afeta a taxa de juros. Ao combinarmos essas duas curvas determinaremos simultaneamente o produto e a taxa de juros de equilíbrio na economia (BLANCHARD, 2007). M d 1 i1 Y1 Y2 Y2 > Y1 M d 1 M d 2 A2 i2 Y1 i1 Y2 i2 Figura 4 - Modelo IS-LM Fonte: autor (2020). No ponto E a economia está em equilíbrio, pois ambos os mercados estarão em equilíbrio, aos níveis de taxa de juros e renda . Nesse modelo, a curva IS é delineada para uma dada política �scal (nível de gastos do governo e impostos) e a curva LM para uma determinada oferta de moeda. Desse modo, modi�cações no ponto de equilíbrio da economia advém de deslocamentos nas curvas IS e LM que, por sua vez, são oriundos da condução das políticas econômicas pelo governo e pelas autoridades monetárias. i e Y e Curva BP e Equilíbrio Externo AUTORIA Luiz Henrique Paloschi Tomé George Lucas Máximo Ferreira Dando prosseguimento a nossa análise, precisamos deduzir a curva BP, que demonstra os pontos de equilíbrio do Balanço de Pagamentos. As transações entre os residentes de um país e o resto do mundo são registradas no Balanço de Pagamentos e são divididas em dois grupos principais de contas: i) as Transações Correntes (TC), que referem-se aos �uxos de bens e serviços (importações e exportações); e, ii) o Movimento de Capitais (MK), relacionado a direitos e obrigações (investimentos, empréstimos, �nanciamentos etc.) (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Desse modo, temos que: O saldo em transações correntes depende da taxa de câmbio e dos níveis de renda interno (doméstica) e externo (do resto do mundo). A taxa de câmbio in�uencia tanto exportações quanto importações. Mantidas �xas as rendas interna e externa, elevações na taxa de câmbio aumentarão as exportações e diminuirão as importações, melhorando o saldo em transações correntes (condição de Marshall- Lerner). Por sua vez, se mantivermos taxa de câmbio e renda externa constantes, as exportações serão dadas e elevações na renda doméstica provocarão expansões na importação (maior renda eleva a demanda por bens e serviços internos e externos), acarretando piora no saldo em transações correntes. De outra forma, mantendo taxa de câmbio e renda interna constantes, as importações serão dadas e ampliações na renda do resto do mundo elevarão as exportações (maior renda do resto do mundo eleva sua demanda por nossos produtos), melhorando o saldo em transações correntes. O movimento de capitais depende das decisões de investimento dos agentes econômicos em busca de maximizar o retorno sobre o capital. Dessa forma, o movimento de capitais está relacionado positivamente ao diferencial entre as taxas de juros interna e externa. Logo, admitindo uma taxa de juros internacional constante, a entrada de capitais tende a se ampliar quanto maior for a taxa de juros doméstica. A partir disso, podemos reescrever a equação 3 da seguinte forma: Em que TC é uma função decrescente da renda interna e MK é uma função crescente da taxa de juros interna. No equilíbrio do Balanço de Pagamentos (saldo igual a zero) temos: A curva BP representa as combinações de renda, , e taxa de juros, , que satisfazem a condição de equilíbrio no Balanço de Pagamentos. A inclinação da curva BP depende basicamente do grau de mobilidade de capitais, ou seja, da forma como o �uxo de capitais responde a variações na taxa de juros doméstica. Resumidamente, existem três condições de mobilidade de capitais: (a) sem mobilidade de capitais (em que o país não possui acesso ao mercado internacional de capitais); (b) com BP = TC + MK (3) BP = TC (Y ) + MK (i) (4) TC (Y ) = −MK (i) (5) Y i perfeita mobilidade de capitais (considerando uma economia pequena com acesso ao mercado internacional de capitais); e, (c) com mobilidade imperfeita de capitais (para uma economia grande com acesso ao mercado internacional de capitais). As possíveis inclinações da BP podem ser vistas na Figura 1. Figura 1 - Inclinações da curva BP Fonte: autor (2020). Para o caso em que não há movimento de capitais, Figura 5a, a condição de equilíbrio do Balanço de Pagamentos requer apenas que o saldo em transações correntes seja zero, ou seja, quando as exportações são exatamente iguais às importações. Ao supormos a taxa de câmbio e o nível de renda externa constantes, temos que o volume de exportações passa a ser uma variável exógena, enquanto que as importações são função crescente da renda interna. Nesse cenário há um único nível de renda que equilibra as transações correntes e, portanto, o Balanço de Pagamentos não depende da taxa de juros interna e a curva BP é vertical. Elevações na renda provocarão expansões nas importações e, consequentemente, dé�cits em TC e em BP, ao passo que reduções na renda diminuirão as importações, acarretando superávits (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Em oposição ao caso que acabamos de ver, temos o caso de uma economia de pequeno porte que possui livre acesso ao mercado internacional de capitais (Figura 5b), dada a taxa de juros internacional. Agora, temos uma perfeita mobilidade de capitais, indicando que qualquer dé�cit em transações correntes pode ser �nanciado à taxa de juros internacional, e qualquer superávit pode ser aplicado no exterior à essa mesma taxa de juros. Dessa forma, o saldo em transações correntes é irrelevante na determinação do equilíbrio do Balanço de Pagamentos, pois sempre haverá um movimento de capitais compensatórios a uma dada taxa de juros internacional. Nesse caso, a variável determinante do equilíbriodo BP passa a ser a taxa de juros e não mais o nível de renda (BP é horizontal). Há, nessa situação, um único nível de taxa de juros interna que equilibra BP: quando a taxa de juros interna ( ) é igual à taxa de juros externa ( ). Se a taxa de juros interna for maior que a externa, haverá entrada de capitais na economia e superávit no BP, enquanto que se a taxa de juros interna for menor que a externa, haverá saída de capitais da economia e dé�cit no BP (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). i i∗ Por �m, temos a situação intermediária, para uma economia de grande porte, em que a mobilidade de capitais é imperfeita, demonstrada na Figura 5c. Nesse caso, a renda e a taxa de juros se tornam importantes na determinação do equilíbrio do Balanço de Pagamentos. Aumentos na renda provocarão elevações na importação e deterioração no saldo em transações correntes (dé�cit), levando a uma maior necessidade de capitais externos para �nanciá-la. Como essa economia é de grandes proporções, a demanda maior por capitais pressionará o mercado internacional, elevando a taxa de juros internacional. Vê-se, portanto, que expansões na renda serão seguidas de elevações na taxa de juros externa, evidenciando uma curva BP positivamente inclinada (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). A partir da consideração da curva BP, nas próximas seções analisaremos o modelo IS-LM-BP a �m de discutir como se dá a determinação do nível de renda em uma economia aberta. Nesse sentido, veremos os efeitos das políticas econômicas sobre o equilíbrio econômico de curto prazo em diferentes regimes cambiais. REFLITA “Em economia, as verdades são incertas. Os acadêmicos devem ser humildes quanto à precisão de suas teorias. Mas nossa humildade resulta do conhecimento, e não da ignorância. Não desejamos aplausos de leigos. Trabalhamos pela única recompensa que vale a pena: nossos próprios aplausos.” Paul Samuelson Modelo IS-LM-BP para uma Economia sem Mobilidade de Capitais AUTORIA Luiz Henrique Paloschi Tomé George Lucas Máximo Ferreira Iniciaremos veri�cando os efeitos das políticas econômicas em uma economia sem mobilidade de capitais, em que a curva BP é vertical, pressupondo que há um único nível de renda que equilibra BP. Inicialmente veremos o modelo com câmbio �xo e depois com câmbio �utuante. Câmbio �xo Vejamos inicialmente uma política monetária expansionista para uma economia sem mobilidade de capitais e regime de câmbio �xo. O aumento da oferta de moeda levará em primeiro lugar a um deslocamento da curva LM para a direita, de para . Esse movimento deslocará o equilíbrio interno do ponto A para o ponto B, onde a curva intercepta a curva IS. No ponto B, teremos uma taxa de juros menor que a taxa de juros inicial , que elevará o nível de investimentos e, consequentemente, da demanda agregada e da renda de equilíbrio da economia. Por sua vez, o aumento da renda irá expandir as importações, acarretando dé�cits no Balanço de Pagamentos. Como nossa economia hipotética adota o regime de câmbio �xo, o Banco Central (BC) precisa, necessariamente, atender a maior demanda por moeda estrangeira provocada pelo aumento das importações, caso contrário a taxa de câmbio será elevada. Dessa forma, o BC vende moeda estrangeira aos agentes, recebendo moeda doméstica em troca, o que provocará uma queda no nível de reservas internacionais e uma redução na oferta de moeda, fazendo com que LM se desloque para a esquerda. Essa contração monetária se manterá enquanto houver dé�cit no BP, ou seja, até que o nível de renda volte ao patamar inicial. O mecanismo que leva a isso é a elevação na taxa de juros provocada pela contração na oferta de moeda, fazendo com que o investimento retorne ao nível inicial. Portanto, o equilíbrio �nal será exatamente o mesmo que o inicial, pois LM volta à posição original no ponto A. Percebemos, assim, que a política monetária expansionista em uma economia sem mobilidade de capitais e câmbio �xo não é e�ciente para expandir a renda, provocando apenas a redução nas reservas internacionais. O grá�co da Figura 1 mostra esse processo. LM1 LM2 LM1 i2 i1 Figura 1 - Política monetária expansionista no Modelo IS-LM-BP sem mobilidade de capitais e câmbio �xo Fonte: autor (2020). Considerando o mesmo cenário, vejamos agora o efeito de uma política �scal expansionista conduzida pelo aumento nos gastos do governo e/ou redução nos tributos. Em primeiro lugar há um deslocamento da curva IS para a direita, de para , modi�cando o equilíbrio do ponto A para o ponto B, com uma taxa de juros maior que a taxa de juros inicial , (que reduz o investimento, mas não no mesmo patamar da elevação dos gastos do governo) e um nível de renda maior. O nível de renda maior provoca dé�cits no Balanço de Pagamentos, fazendo com que o Banco Central disponibiliza suas reservas internacionais, contraindo a oferta de moeda, deslocando a curva LM para a esquerda, de para , elevando ainda mais a taxa de juros e reduzindo o investimento. Esse processo será mantido até que o nível de renda volte ao nível inicial, eliminando o dé�cit no BP, mas agora a taxa de juros será maior, ao nível , com o equilíbrio situando-se no ponto C. Ao �nal desses movimentos, haverá queda nas reservas internacionais para cobrir os dé�cits temporários no BP, e uma substituição do investimento privado por gastos públicos, ou seja, uma alteração na composição da demanda agregada (denominado efeito crowding-out). Esse processo pode ser visto no grá�co da Figura 2. IS1 IS2 i2 i1 LM1 LM2 i3 Figura 2 - Política �scal expansionista no Modelo IS-LM-BP sem mobilidade de capitais e regime de câmbio �xo Fonte: autor (2020). Finalmente, veremos o efeito da política cambial. Considere a situação de desvalorização cambial (desvalorização da moeda doméstica em relação à estrangeira; elevação da taxa de câmbio). Dessa forma, os produtos nacionais serão relativamente mais baratos que os produtos estrangeiros, o que estimula as exportações e reduz as importações, e leva a uma melhora no saldo em transações correntes. Assim, o país poderá expandir o produto/renda, uma vez que haverá melhora no saldo em transações correntes para cada nível de renda. Nesse sentido, o nível de renda compatível com o equilíbrio no BP será maior, deslocando a curva BP para a direita, de para .BP1 BP2 O melhor desempenho do setor externo representa um aumento da demanda agregada, o que fará com que IS se desloque para a direita, de para , aumentando a renda e as taxas de juros, com a nova posição de equilíbrio interno no ponto B. Supondo que o deslocamento da IS seja inferior ao da BP, haverá superávit no balanço de pagamentos. No câmbio �xo, o Banco Central comprará a oferta excedente de moeda estrangeira, expandindo a oferta de moeda, que desloca a LM para a direita, de para . Esse deslocamento de LM permanece até que o superávit no BP seja eliminado, atingindo um novo equilíbrio no ponto C, com um nível de renda maior e compatível com o equilíbrio externo. O grá�co da Figura 3 demonstra esses efeitos. Figura 3 - Política cambial (desvalorização cambial) no Modelo IS-LM-BP sem mobilidade de capitais e regime de câmbio �xo Fonte: autor (2020). IS1 IS2 LM1 LM2 Com base nas análises, observamos que em um cenário sem mobilidade de capitais e câmbio �xo, a única política econômica capaz de afetar o nível de renda da economia de maneira permanente é a cambial, por meio de alterações na taxa de câmbio, que eleva o nível de exportações e também o nível de produto/renda compatível com o equilíbrio externo. Câmbio �utuante Agora, veremos os efeitos das políticas monetária e �scal no regime de câmbio �utuante, mantendo um cenário sem mobilidade de capitais. Nesse cenário, a taxa de câmbio é de�nida pelo mercado e, por isso, não veremos política cambial. Uma política monetária expansionista para essa economia desloca a curva LM para a direita, de para , movendo o equilíbrio interno do ponto A para o ponto B, onde a curva intercepta a curva . No ponto B, teremos uma taxa de juros menor que a
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