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114 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Unidade II 5 TRABALHO DA ESCRITA O curso de Letras não tem, entre seus objetivos, formar escritores, por exemplo, literários. Na verdade, não existe um curso superior voltado para tal objetivo. Contudo, como o objeto de nosso curso é a língua – matéria-prima de qualquer escritor – e a literatura, cujo produto é do escritor, o nosso curso pode colaborar com o aluno que escreve, tendo ou não publicação, e que pretende tornar-se profissional na área. A colaboração consiste na maior consciência sobre a língua, uma vez que a ciência da nossa área é a Linguística, que perpassa por diversos paradigmas teóricos sobre a língua, além dos estudos voltados à crítica literária. O curso colabora, também, ao criar eventos culturais incentivadores da produção literária, como os saraus, em cursos presenciais, e os concursos, em cursos a distância. No primeiro semestre do ano de 2012, foi lançado o concurso de haicai com a temática O centro urbano e as estações do ano. Muitos alunos do curso de Letras do EAD enviaram seus textos e três textos venceram o concurso. É um prazer poder dizer que os alunos (quem sabe você está entre eles) gostam e sabem produzir textos literários criativos. Os vencedores do concurso de haicai de 2012 foram: 1º Lugar De uma árida fenda que rasga o concreto amargo, germina uma flor (Leandro Leite Leocadio) 2º Lugar O sol brilha ardente. Sorvetes bem coloridos, Vão de lá prá cá. (Eunice Dias Nardin) 115 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 3º Lugar Águas, mês de março névoa seca a inalar cinzento outono. (Silvia Helena da Silva Rosa) Aos alunos-escritores vencedores, os parabéns! Você, leitor deste livro-texto, está entre um dos dois grupos: no grupo de pessoas que gostam de escrever textos literários ou que já escrevem profissionalmente e leu os haicais vencedores e os congratula, ou no grupo de pessoas que, apesar de ficar feliz pelos colegas, considera a escrita literária tarefa muito difícil. Para o segundo grupo, propomos uma atividade de descontração, criatividade e coragem, encontrada na obra consultada por Lajolo (2005, p. 15): Escritor a jato A mulher ordenhava a vaca balançando o berço com o pé. O elefante arrancava a árvore empurrando as raízes com as presas. A panela fervia as batatas levantando a tampa aos borbotões. O pé pisava as pedras esmagando os caracóis brutalmente O anel furava a orelha apertando a carne como uma pinça. Você pode fazer um exercício de “escrita” que consiste simplesmente em escolher uma palavra de cada frase, na ordem que você quiser, de modo a formar outra frase, de acordo com o exemplo. Aceita o desafio? Quem sabe ficará animado e participará de outros concursos, lançados pela nossa instituição de ensino ou em outras situações. Entre os alunos, existem aqueles que ingressam no curso de Letras por serem apaixonados por literatura e quererem aventurar-se no mundo da escrita literária; outros que já escrevem, mas ainda 116 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 não lançaram oficialmente seus textos por meio de editoras ou sites; e há aqueles outros que já estão nesse universo literário, produzem bastante, lançam em sites e/ou editoras e sem esse universo não vivem mais. Destaco um aluno do curso de Letras de nossa instituição: Robson di Brito. Ele é o escritor para quem a escrita é vital. Autor de vários textos literários, ele criou seu próprio blog, O paulistano, em que publica, além de ensaios e outros gêneros não literários, contos e poemas. Figura 12 – Robson di Brito, escritor e aluno do curso de Letras da UNIP Em depoimento encontrado na página principal do seu blog, di Brito declara: Com o blog apresento contos e poemas inspirados em personagens ou imagens tiradas da cidade de São Paulo. Além, relato programas culturais da cidade, buscando sempre o olhar do que de melhor e mais humano ela tem a oferecer. Escritor com formação em Jornalismo e estudante do curso de Letras, coautor de antologias poéticas e autor de dois romances, ainda sem editora; busco aprimorar meu trabalho literário com o Blog. Muito mais do que um exercício, faço uso da cidade como a fonte de inspiração para o meu trabalho. Como busca de algo verdadeiro e de verossimilhança aproximo-me dos grandes escritores da terra “tupiniquim” que se apoiaram em seu tempo para revelar o cotidiano de sua cidade. (BRITO, R. di. O paulistano. Blog: http://robsondibrito. blogspot.com.br/) Ele é um exemplo de aluno que leva a sério a escrita literária e se considera escritor. O curso de Letras, em seu caso, amplia os conhecimentos dele sobre a língua, por meio da Linguística, Semântica 117 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL e de outras áreas teóricas, e sobre literatura, uma vez que o curso abrange disciplinas como Teoria Literária, literaturas brasileira e portuguesa, inglesa e/ou espanhola. Este capítulo do livro-texto serve, então, para mostrar que o curso de Letras possibilita ao aluno, com incentivo adequado, vontade própria e, quem sabe, a ocasião, inserir-se profissionalmente no mundo dos escritores literários e não literários. 5.1 O ato de escrever Um escritor já nasce feito? Escrever, então, é um dom? Perdura até hoje a ideia de que escrever um texto, principalmente literário, não requer habilidade nem treinamento, mas, sim, inatismo. É preciso romper com essa ideia de dom, pois cria barreiras para o aluno diante da escrita e, o processo da escrita, na verdade, exige muito esforço. Temos o desabafo de José Roberto Torero sobre “dom” ou “inspiração”: Começo este texto com uma confissão: “não estou inspirado para fazer este texto”. Contudo, para que o leitor não pense que vai ler um texto pior que o de costume, faço uma segunda confidência: “não acredito nesse negócio de inspiração”. Na verdade, tenho até uma certa ojeriza pela ideia da inspiração, aquele arrebatamento que vem não se sabe de onde, possui o autor e retorna para as brumas do além. Sempre que vejo um poeta, um artista plástico ou um videoartista dizer que só trabalha quando possuído por esse espírito, meu estômago embrulha e tenho que tomar um sal de frutas. Mais do que na inspiração, acredito na transpiração; mais do que em Palas Atena, no suor. Um texto não é agradável porque seu autor recebeu um sopro divino, mas sim porque ele domina pequenas leis e técnicas que o fazem mais ou menos suportável. Excesso de orações subordinadas, rimas internas, repetição de palavras, exagero no tom, abuso de conjunções, poluição adverbial, citações pernósticas, estrangeirismos gratuitos, pobreza de vocabulário e delírios sintáticos poderiam compor uma espécie de dez mandamentos às avessas, vícios que se deve evitar para não corromper a forma de um texto razoável. (http://www.microeducacao.com.br/Artigos/JoseRobertoToreroArquivo.htm) Vários escritores literários fazem depoimentos sobre o ato de escrever e o enfrentamento da página em branco. Em todos os depoimentos, não há quem diga que a escrita é fácil e é um dom. Vejamos alguns deles, retirados do material de Passarelli e Cintra (2002, pp. 6-7): 118 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra cio Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Com muito trabalho – e transpiração. Patrícia Melo (Folha de S. Paulo, pp. 5-2, 8 out. 1995) Muita gente pensa que é fácil. É um engano. Escrever é muito difícil. É a coisa mais difícil do mundo. Tem hora, por exemplo, que você empaca numa frase, ou numa simples palavra, e não há santo que ajude. No entanto, o pior é quando você quer escrever e não sai nada. Aí é desesperador. Quando isso ocorre, a vontade que eu tenho é a de meter a cabeça na parede. (VILELA, L. Para gostar de ler, v. 8. São Paulo: Ática, 1995, p. 9) Foi um processo demorado, que amadureceu devagar. Quando resolvi experimentar escrever, não consegui da primeira vez. Escrevi uma história, não gostei, e desanimei. Eu estava descobrindo que ler é muito mais fácil do que escrever. Entretanto, quando a gente joga a toalha, entrega os pontos num assunto que sente que é capaz de fazer, fica infeliz, e acaba voltando à luta. Voltei a tentar, apanhei, caí, levantei – até que um dia escrevi uma história que, quando li de cabeça fria, achei que não estava ruim; com uns consertos aqui e ali, ela ficaria apresentável. Consertei, e gostei do resultado. Animado, escrevi outras e outras histórias, nessa batalha permanente. Todavia, é uma batalha curiosa: as derrotas que a gente sofre nela não são derrotas, são lições para o futuro. (VEIGA, J. J..Para gostar de ler, v. 8. São Paulo: Ática, 1995, p. 7) Na produção textual, temos em mente que o ato da escrita só é possível em decorrência de um trabalho extenso e árduo, que exige muito empenho e dedicação. Exemplo de aplicação E para você, o que é escrever? Faça um depoimento sucinto e pessoal sobre o ato de escrever. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Assim, como o ato de escrever envolve trabalho (muito trabalho), neste tópico do livro-texto, apresentaremos as etapas do processo da escrita. Não nos ocuparemos especificamente do modo de escrever literário, mas apresentaremos considerações mais gerais, que servirão para que o aluno conheça 119 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL mais sobre produção escrita, e servirão ao futuro professor, que assumirá um papel de incentivador e organizador da produção escrita de seus alunos. Há um consenso por parte dos teóricos sobre o ensino da escrita quanto à possibilidade de ensinar/ aprender a desenvolver um texto com base na distinção das várias fases progressivas que implicam a realização do texto escrito. A estudiosa Passareli (2004) esquematiza a produção do texto escrito: Planejamento memória repositório de conhecimentos elementos motivadores ideias/fatos reais/fictícios criação de uma realidade contexto da tarefa tópico receptor seleção do que for relevante futuros leitores organização mapas anotações Tradução de ideias em palavras texto provisório ideias no papel esboço, rascunho ------------------------------------------------------------------------------------------ Revisão leitor de si mesmo ------------------------------------------------------------------------------------------ Editoração caráter público leitores Figura 13 120 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Guardião do texto Elemento de vigilância Bom senso Intuição Sentimentos Realidade concreta Mundo das possibilidades Valores pessoais Figura 14 O planejamento é uma etapa que os alunos conhecem pouco, tampouco a utilizam. Em geral, ou iniciam a redação (escolar) logo que recebem o tema a ser desenvolvido, ou aguardam por uma inspiração. Sabemos que a leitura pode ser um contributo para instaurar ideia para tema. No caso, um texto como a crônica de Ivan Ângelo pode suscitar ideias tanto para produção, por exemplo, dissertativa, quanto criativa (conto, poema etc.). Ai, que dó! A expressão é comum. O fraseado brasileiro reserva-a para comentarmos a miúda tristeza que captamos à nossa volta e que muitos nem percebem. A carência alheia, uma cena de frustração, um esforço mal recompensado provocam em nós essa reação. Depois passa, esquecemos. Contudo, o sentimento fica guardado em nosso banco de dados, e se alguém clicar ele reaparece na telinha da memória. Foi o que aconteceu naquela reunião. Alguma fútil disse “Tenho dó de homens de pasta”, e outra pessoa estranhou, e a moça tentou justificar dizendo que eles suam, têm uma cara desconsolada, parecem cansados, carregam aquela pasta como se fossem problemas. Os da sala não gostaram do esnobismo dela. Para contornar o mal-estar uma falou do que tinha dó e logo outros a seguiram. – Pois eu tenho dó é dos atores em um teatro vazio. Gente, a cara deles por trás do personagem, a obrigação de levar aquilo até o fim, para quatro pessoas! A sensação de fracasso, de prejuízo, de rejeição! A opção é ir lá na boca do palco e falar para o público: olha, não vai dar. Ai, que dó! – Uma coisa que me deu pena – disse outro – é parecida com essa. Um escritor que lançou um livro e só foi a mulher dele e eu. Bem que eu não queria ir. Se eu não tivesse ido, 121 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL ele podia mentir para mim no dia seguinte que tinha sido legal e pronto. No entanto, eu estava lá e a cara dele era de perplexidade. Um dó! – Coisa que me dá dó é bicho – disse uma louraça estilo Vera Fischer. – Cachorro faminto, pombo de asa quebrada, burro magro puxando carroça. Uma vez vi na praia um peixe mordido pela metade por outro peixe, ele ainda arfava. Que dó daquele bicho! Me lembrou uma galinha que quiseram matar lá em casa, com o pescoço cortado correndo pela casa e espirrando sangue. Desde isso aí não como carne nenhuma - concluiu veemente (enquanto as pessoas se perguntavam onde é que ela ia buscar aquela saúde toda). – Sabe o que eu acho? – disse o rapaz que estava ao lado da loura. – Triste é torcedor derrotado, com camisa e bandeira do time, sentado na guia, de madrugada, esperando condução. Meu, não tem nada que dê mais dó. Ele tá com fome, gastou o dinheiro dele no ingresso, só tem a merreca da condução, leva vaia de quem passa. Dá pena, meu. – Mesma coisa é folião no Carnaval – disse outro. – Só que não tem a derrota, o bode da derrota – devolveu o rapaz. – Isso é. Mas eu tenho dó não é de folião, não, é de goleiro. Sabe aquela, do jogo decisivo, últimos minutos, campeonato na mão e, de repente, a bola vem, pá!, Escapa, entra, culpa dele – conhece? Sabe aquela frase: “Infeliz é o goleiro. No lugar onde ele pisa não nasce nem grama” – sabe? Não nasce por causa do sal das lágrimas dele. – Para mim, o que dá dó é carinha de criança de rua na madrugada. De menina dói até mais. O destino dela tá desenhado – disse a moça de tatuagem no ombro. E a amiga, ao lado: – Meu, e fim de namoro? É um dó! Amiga encanada querendo morrer, rompendo a madrugada no telefone, sem espaço para nada dentro dela que não o carinha que sumiu, e ela se acha um lixo, porque se não serve para ele é um lixo. – O que me dá pena é homemque precisa de pegar prostituta de noite na rua – disse com amargura a mulher de cabelo à Chanel, olhando o homem grisalho à sua frente. – Eu queria voltar à categoria dos rejeitados – disse o grisalho. – Aquela ali falou dos atores sem plateia e ele, do escritor sem amigos no lançamento do livro. Eu tive muita pena de um homem sozinho num velório. Só ele e o defunto, ninguém mais, nenhuma coroa, nenhuma pessoa para conversar. A noite inteira. Ele, o defunto e os bancos inúteis. Eu vi, e compreendi as razões dos solitários. A roda se desfez. A mulher de cabelo Chanel tinha lágrimas nos olhos. (Veja SP, 1º mai. 2002 apud PASSARELI e CINTRA, 2002, p. 22). 122 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 O trabalho de produção textual, durante a fase de planejamento, nos primeiros momentos, dá-se no nível de plano mental. Cada escritor possui uma maneira peculiar para anotar suas ideias. Pode elaborar um mapa de ideias, fazer anotações, entre outras formas, mas sempre com algum tipo de organização. O mapa, por exemplo, é mais ordenado, uma vez que as ideias são colocadas nele com uma organização relacional, podendo-se visualizar as informações centrais e secundárias. Para determinados escritores, o planejamento envolve praticamente todo o processo da produção. Ou seja, o escritor faz todo o texto mentalmente e somente com o texto pronto na cabeça passa para o papel. Vejamos o caso do escritor Paulo Coelho: Você segue uma disciplina de trabalho? Primeiro, não acredito em processos demorados. Escrever é o ato final do processo criativo. É só colocar no papel. Na verdade você desenhou o livro na sua imaginação, naquilo que os alquimistas chamavam de alma do mundo. Então eu sigo uma disciplina: uma vez que começo, termino. Acabo trabalhando oito, nove horas por dia. Acredito que, quanto mais espontânea a coisa, sai melhor. Livros que eu demoro mais de dois meses para escrever, simplesmente destruo. Só uso computador e não tomo notas. O que é importante fica. (O GLOBO, 11 out. 1997 apud PASSARELI e CINTRA, 2002, p. 34). Na segunda etapa – tradução de ideias em palavras – ocorre efetivamente a produção de ideias. O escritor põe suas ideias no papel, configurando a primeira versão de seu texto provisório. Trata-se do esboço do texto. Já encontrado o tema – delimitado na etapa anterior –, o escritor começa a pôr no papel suas ideias. É preciso ter critério ao fazer escolhas linguísticas, não perdendo de vista o nível do interlocutor. Ao escritor, cabem dois tipos de competência: • competência linguística, a qual se refere aos saberes que o usuário da língua possui sobre a língua e os utiliza para construção de seus textos; • competência estilística, que é a capacidade de o sujeito escolher, entre os recursos expressivos da língua, os mais convenientes às condições de produção, finalidade, gênero e suporte. Temos o exemplo de um texto que circula pela Internet (PASSARELI e CINTRA, 2002, p. 36): Rui Barbosa, ao chegar em sua casa, ouviu um barulho esquisito vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Ele se aproximou vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro, disse-lhe: - Ô Bucéfalo, não é pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes e sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação. Se fazes isso por necessidade, 123 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica, bem no alto de tua sinagoga que reduzir-te-á à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada. E o ladrão, confuso, pergunta: - Ô moço, eu levo ou deixo os patos? Em relação à adequação das competências, a dificuldade do personagem Rui Barbosa está na tradução de ideias em palavras, que deveriam expressar adequadamente o contexto. O produtor da advertência elabora a sua produção textual por meio de escolhas lexicais provenientes de seu conhecimento de mundo. O nome Rui Barbosa foi utilizado como sinônimo de pessoa muito culta e despreocupada com a recepção de suas mensagens. No caso do receptor da advertência, o larápio não entende seu interlocutor por não partilhar do mesmo universo de experiência de mundo. Um dos fatores de coerência textual – o da focalização – tem a ver com a concentração dos usuários (produtor e receptor) em apenas uma parte do seu conhecimento e com a perspectiva da qual são vistos os componentes do mundo textual. Exemplo de aplicação I. Se essa situação (furto) acontecesse em outros universos, que enunciados provavelmente seriam produzidos por diferentes personagens (vítima e ladrão)? 1. Vítima: dona de casa de meia idade; ladrão: rapaz de 17 anos, baixo nível de escolaridade. ______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 2. Vítima: advogado recém-formado; ladrão: senhor de idade. ______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 3. Vítima: senhora moradora no bairro do Bixiga, em São Paulo; ladrão: adolescente praticante de surf. ______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 124 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 II. Temos um exemplo de focalização de como a linguagem é adaptada a cada situação: Minhas férias Certamente o leitor já reparou que as ruas estão um pouco menos congestionadas e as pessoas com um tanto mais de humor. Alguns atribuem este ânimo ao excesso de raios ultravioleta, muito comum no verão; outros à conjunção astral pela qual passa o país, com Júpiter no meio do céu. Eu, por mim, prefiro não culpar as circunstâncias astronômicas ou astrológicas pelo estado das coisas. Nem mesmo o Fernando Henrique. Creio firmemente que o motivo para o bom humor nas ruas é algo bem mais prosaico e terrestre: as crianças estão de férias. Até mesmo o Rei, do alto de seu posto e magnitude, percebeu que o povo é tocado por singulares sentimentos nas férias, e não foi à toa que escreveu: “Quando as crianças saírem de férias, talvez então a gente possa amar um pouco mais.” Com os pequenos fora da escola, o cotidiano do paulistano classe média muda totalmente. Em geral, as mães vão com seus filhos para a praia, o que diminui o tráfego (pois elas não estão fazendo filas duplas para esperar seus filhotes). Já que estamos em época de férias, achei por bem escrever alguma coisa sobre o assunto. Porém, como o espírito desta época é justamente não fazer nada de útil, decidi passar esta tarefa a uma família amiga minha, formada por Sílvio, o pai trabalhador; Roseli, a zelosa mãe; e Lucas, o pequeno monstro. A mãe e o filho foram para Caraguatatuba, o pai, por obrigação (ou esperteza) ficou no escritório. Abaixo, as três cartas que recebi de meus amigos: A vida vale a pena As férias são para mim um mar de tranquilidade. Demoro muito menos tempo para chegar ao trabalho e depois do serviço saio com os amigos para um chopinho. No apartamento está tudo muito calmo. Roselideixou-me o congelador entupido com uma deliciosa comida congelada. Tenho até pena de dar os restos para o cachorro. Nos fins de semana vejo toda a programação esportiva. Voltei até a fazer esporte. Joguei peteca com o Ariosto no Ibirapuera. Tive uma distensão, mas já estou bem. Meu único problema tem sido com roupa suja. O cesto já está quase cheio, mas ainda tenho camisas para duas semanas. Nestas horas tenho saudade de Roseli e penso nas qualidades do casamento. Às vezes, quando a programação da TV está fraca, tenho saudade do Lucas. Penso em como seria divertido estar com ele na praia, sentado numa boa cadeira, com as ondas molhando meus pés, tomando uma caipirinha gelada e vendo ao longe um joguinho de futebol. Uma verdadeira relação pai e filho. Talvez eu desça para praia neste fim de semana. 125 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Aproveito e levo umas camisas para a Roseli lavar. Enfim, meu querido, devo dizer que as férias recompõem o espírito e recuperam o corpo, e só lamento que sejam tão poucas. Sílvio Rodrigues Batista. Paraíso -São Paulo A praia é legal Tio, aqui na praia é tudo o maior legal. Dá até prá fazer castelo na areia, mas eu não consigo fazer eles muito grandes porque quando eles tão quase do tamanho que eu queria vem uma onda e derruba tudo e aí eu choro muito. Se o papai vier vai ser superlegal, porque aí eu vou fazer o castelo em cima da barriga dele e a água não vai chegar. O apartamento que a gente tá não é muito grande, mas dá para jogar bola na sala quando a mamãe vai fazer compras. Tinha um treco bem legal de vidro no meio da sala, mas acho que ele não era muito forte não. Arranjei uns amigos muito legais, o Hélcio, que é muito bom em fazer fogueirinha, e o Cláudio Oito, que se chama Oito porque um dia quebrou oito copos da mãe dele de uma vez só. Eles são muito legais. A mamãe chama eles de Esquadrão Perigo. A mamãe é engraçada. Lucas. Debaixo da cama da mamãe - Caraguatatuba Trabalho e suor Sabe os doze trabalhos de Hércules? Fichinha. Queria ver ele aqui com o Lucas. A tia Esther foi um anjo emprestando a kitchenette, mas ela podia ter avisado que a lotação máxima era uma pessoa. De preferência, anã. Minha rotina balneária é a seguinte: cozinhar, limpar e cuidar do Lucas. Sinto-me em casa. A diferença é que aqui há mais areia e não tem aspirador de pó. Para piorar, o Lucas arranjou dois amiguinhos que são um terror. Até fogueira na lixeira do banheiro eles já fizeram. Não sei como vou contar para a tia Esther que o vaso de cristal, que ela tinha desde 1919, quebrou. Acho que foi o vento, porque o Lucas jura que não foi ele e ele não é de mentir. Esta noite sonhei com o Sílvio. Deve estar morrendo de saudade da gente. Tomara que ele ache a comida do cachorro que eu deixei no congelador. Roseli. Sétimo círculo do Inferno – Caraguatatuba (TORERO, J. R.. Minhas férias. In: PASSARELLI; CUNHA, 2002, pp. 41-42). 126 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 1. Podemos transformar as cartas da família em outros gêneros, tais como panfleto publicitário, panfleto político e panfleto religioso. Qual carta se encaixaria melhor em cada um desses panfletos? Elabore alguns exemplos de panfletos. 2. Recrie as três cartas, transformando-as assim: • o pai manda um e-mail para a mãe; • a mãe manda para a sogra; • o filho manda um para o pai. Os exercícios de transformação de texto ajudam a mostrar que a tradução de ideias em palavras depende do contexto da produção e do planejamento, que, por sua vez, estão ligados ao veículo pelo qual esse texto será divulgado, ao leitor, sempre em função da intencionalidade do escritor. Todos esses fatores demonstram que a escrita não decorre de uma inspiração transcendental, de um misterioso talento, nem é fruto da improvisação. O ato da escrita é, na verdade, um processo de descoberta e vagar. Depois dessas etapas, vem a etapa de revisão, em que o escritor passa a ser leitor de si mesmo, voltando a ser escritor novamente: altera as partes de seu texto, inclui sentença(s), descarta um parágrafo e transforma uma narrativa em ensaio. A função da revisão é a de examinar detalhadamente o material produzido: • convenções da língua escrita; • compatibilização entre termos, significados e intenções do autor; • acessibilidade e aceitabilidade por parte do leitor. A revisão é pouco trabalhada na escola e contra a qual os alunos mais se rebelam. Passarelli e Cintra (2002) dão sugestão de estratégia que pode minimizar a resistência dos alunos frente ao trabalho de revisão. 1ª sugestão: Passar para os alunos sinais para serem utilizados na revisão de textos, como motivação para o trabalho. 127 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Quadro 26 [ Abrir parágrafo me Colocar a parte enquadrada no ponto indicado pela seta Transpor letras ou palavras Suprimir grupo de letras, palavra ou palavras / Barra de atenção: colocar à margem, ao lado da emenda a ser feita x Suprimir # Abrir espaço unir Os sinais do quadro foram retirados de tabela utilizada para revisão e marcação de originais em editoras. As autoras aconselham a invenção de sinais novos criados pelos alunos. 2ª sugestão: Combinar com os alunos sinais para frases ou trechos do texto: • frase incompreensível: desenhar carinha chorando → • trecho muito bom: desenhar carinha sorridente → • trecho mais ou menos: desenhar carinha meio sem graça → A editoração, a etapa final, consiste na preparação final do texto, incluindo diagramação, o visual do texto. O que significa editorar na escola? Geralmente, no dia a dia escolar, o professor é o único leitor, mas é bom que, ao menos, os alunos da classe venham a ler os textos. 5.2 Oficina: escrita criativa Não existe um curso superior, em cujo diploma consta “Bacharelado em Escritor Literário e Não Literário”. Em alguns cursos, como em Letras, existem disciplinas que trabalham o processo da escrita, podendo a disciplina ser dividida em módulos para atender à produção de dissertações e outros textos técnicos e científicos e à produção criativa, voltada a textos literários. No caso de produção criativa, existem oficinas, encontros, palestras, que podem dar oportunidade à pessoa de ser escritor ou aperfeiçoar seus talentos. Como disse José Saramago, “todos nós somos escritores, a diferença é que alguns escrevem e outros não” (PERFETTI e SCORTECCI, 2010, p. 205). 128 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Pensando no aluno (que pode ser você) que escreve e quer se aperfeiçoar ou que quer ser escritor, indico algumas dicas para a produção de texto literário, com base nos cursos de Escrita Criativa oferecidos por Sena-Lino (2009), que transformou suas oficinas em livro. Saiba mais As oficinas de Sena-Lino (2009) são constituídas de exemplos, textos resultantes de participantes das oficinas e exercícios. Entre os temas trabalhados estão: ponto de vista, sensorialização, metaforização, intertexto, inversão, intenção, ritmo, adverbialização e imagens de memória. Trata-se de uma obra extremamente prática, voltada para produção de texto criativo: SENA-LINO, P. Curso de escrita criativa I. Criative-se: usar em caso de escrita. 2. ed. Porto: Porto, 2009. Antes de iniciar as dicas, temos um momento de crítica de Daniel Piza: Vejo livros e artigos sobre o que é escrever bem. Nada contra; mas no máximo o que se passa são dicas, observações técnicas. Mais útil é mostrar o que é escrever mal. Pego o novo livro de Rubem Fonseca, Mandrake – a Bíblia e a Bengala (Companhia das Letras), e nas primeiras 20 páginas já me sinto dentro de um filme policial de terceira classe, ou de um seriado de TV,com o mesmo destrato à língua: “Para um advogado às vezes é melhor o cliente começar pelo fim, eu disse, e ela lançou- me um olhar arguto, como se procurasse algum significado oculto por trás das minhas palavras.” Primeiro: o adequado seria “ela me lançou”, porque o pronome pessoal atrai a preposição, além de ser a forma coloquial no Brasil. Segundo: se ela procurava significado por trás das palavras, era certamente porque estava oculto. Terceiro, mas importante: um olhar em busca de um significado não é arguto, mas inquiridor, curioso ou, melhor ainda, investigativo. Como dizia Monteiro Lobato, o adjetivo certo para um substantivo é como a porca no parafuso. (http://www.curso-objetivo.br/.../12_1309_SimENEM_LING_COD_PORT.pdf) Piza não teve dúvida ao apontar falha em uma das obras literárias do famoso e respeitado escritor brasileiro Rubem Fonseca. Piza extraiu um fragmento da obra e indicou o que poderia ser melhorado para sair do clichê (o trecho parece, para Piza, filme policial de 3ª categoria) e causar impacto pela ideia e pela construção. 129 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Observação Daniel Piza é um ótimo exemplo da versatilidade profissional. Com vínculo empregatício no jornal O Estado de S.Paulo, ele escrevia crônicas e resenhas. Paralelamente, lançou livros ficcionais, inclusive para o público juvenil. Essa crítica de Piza reforça o alerta de Sena-Lino (2009) sobre o fato de que ninguém escreve numa ilha; há necessidade da vivência e ajuda dos colegas como passo mais urgente para progredir na escrita. Por isso, se o aluno escreve ou pretende escrever, compartilhe seu texto com colegas e pessoas de sua confiança; não deixe seu texto “engavetado”, guardado. Com seus pares, você poderá trocar opiniões, aprimorar seu texto e tomar coragem para divulgá-lo. Entre as dicas de Sena-Lino (2009) para escrever criativamente, está o ponto de vista. Ponto de vista: um dos problemas na produção textual refere-se ao foco, pois o escritor tende a escrever sob seu ponto de vista, ou seja, escrever segundo sua vida, experiência, vivências e sentimentos. A solução é abandonar a si próprio e adotar outro modo de ver; ver uma sala não apenas por um ângulo x ou z, mas incorporar a forma de ver daquilo que o escritor adotar. Observe (realmente leia) a pintura de Velázquez. Quantos pontos de vista ou olhares você pode indicar na pintura? Figura 15 – As meninas ou A família de Filipe IV, Diego Velázquez, 1656-1657 Ao observar a pintura, vemos a figura de um pintor – considerado o próprio Velázquez – durante uma pausa para observar o modelo diante de si. Ele segura um pincel e a paleta e, se desse um passo à frente para retomar a pintura, desapareceria de vista. 130 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Temos, nessa perspectiva, um ponto de vista: a do pintor dentro da obra. Se o pintor está na obra, temos outro ponto de vista: a do pintor ao fazer seu autorretrato. Pela posição do pintor, ele observa seu modelo; este se situa exatamente no lugar ocupado por nós espectadores. Assim, temos o olhar concomitante do modelo e do leitor sobre a cena vista na pintura. Esse olhar é um terceiro olhar (ponto de vista). O leitor vê o quadro e é visto pelo quadro. Em cena do fundo, temos à esquerda um quadro ou espelho com duas figuras e, à direita, uma porta, por onde uma figura masculina indica movimento de saída ou de entrada. As figuras à esquerda causam ambiguidade, pois não sabemos se são retratos ou se são reflexo; se forem reflexo, estão na posição do modelo, ou seja, as figuras podem ser o próprio modelo e presenciam a cena a sua frente; cena essa a que nós – leitores – temos acesso. Seria outro ponto de vista. Ao seguir a história da pintura, feita no século XVII, sabe-se que o pintor retrata a família real. No nível social, temos mais de um ponto de vista, pois temos a figura do pintor, que presta um serviço aos reis (as duas figuras no fundo à esquerda); a dos reis, autoridade e patronos da arte; a da princesa, que ocupa lugar central e em primeiro plano; e das amas e pajens à volta da princesa, em posição de serviço. Temos, então, mais de um ponto de vista, mais de um olhar, e para isso o artista desprendeu-se e assumiu outras posições. Na produção literária, o ponto de vista incorpora as circunstâncias de quem narra. Para essa incorporação, o texto precisa manter coerência interna em relação ao mundo próprio e à forma de ver o que conta. Veja um exemplo de texto literário em que sobressai o ponto de vista: Discurso de Copus McGlass antes da batalha de Calgon Wash Highlanders do tabuleiro superior! Nós, os filhos de McGlass, conjuntamente com os McCup, temos de resistir ao invasor! A massa nobre de areia, cálcio, sódio ou potássio, que nos corre nas veias cristalinas, soprada nos tórridos fornos de Vulcano, trabalhada e arrefecida pelos artífices humanos, reclama a nossa coragem! Clama pela nossa valentia! Vamos ser bombardeados com jatos de água, detergente e abrilhantador... Vamos ser revistados por dentro e por fora... Vamos ser torturados, escaldados e arrefecidos... É preciso resistir! Agarrem-se ao nosso tabuleiro e não se deixem soltar! Não se deixem ir!... 131 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Lá em baixo, os lowlanders McFork, McSpoon, McKnife e McDish estão conosco! Contudo, se se soltarem e partirem em mil pedaços, fiquem certos de que a vossa morte e o vosso sacrifício não será em vão! Os restos do vosso delicado corpo serão levados pelas Valquírias do vidrão e reconduzidos aos fornos do Vallhada das vidreiras, onde a vossa poderosa alma materializar-se-á, de novo, em copos, para orgulho de todos os McGlass. Para que os lábios possam continuar a acariciar-nos e a sorver, por nós, os néctares do mundo inteiro: nós somos o orgulho da cristalaria! Podem expulsar-nos do tabuleiro, sujar-nos, deixar-nos cair ou atirar-nos ao chão, partir-nos em mil estilhaços; mas não podem tirar-nos a dignidade e a liberdade de tornarmos a nascer! Angus, reúne os McGlass e forma-os em linha! Viva os McGlass! (SENA-LINO, 2009, pp. 18-19). A história foi desenvolvida sob o ponto de vista de um copo. O autor, um dos participantes da oficina Escrita Criativa, faz uma brincadeira com os nomes dos personagens e sua origem. Exemplo de aplicação 1. Imagine um copo: pode ser um copo que você use frequentemente. Conte a história de vida desse copo: onde nasceu, como chegou aqui, a sua vida e experiência. Contudo, antes de contar, na primeira pessoa, pense na forma de ser e viver de um copo: • o que um copo conhece dos seres humanos? Mãos e lábios e deve distingui-los por isso; • tem medo de várias coisas de que os humanos também têm: diferenças brutais de temperatura, cair no chão e partir-se, rachar-se. Também há que ter em conta que gosta ou odeia a máquina de lavar louça; • tem diferenças de forma e feitio, origem e meio, como os seres humanos: há os copos de cristal, os coloridos, os de marca etc. Desenvolva a história de vida de um copo, tendo em vista que contará e verá o mundo como se fosse um.. 2. Infância, livro de Memórias de Graciliano Ramos, é uma narrativa em que se alternam a voz do protagonista-criança e a do narrador adulto, além da voz das personagens que constituem a obra. O 132 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 fragmento seguinte de Infância restitui um diálogo, segundo Cunha (apud BUNZEN e MENDONÇA, 2006, p. 137). Analise as vozes presentes no texto – voz do narrador; voz da criança-protagonista; voz de outra personagem; voz da opinião pública, de instituições: escola, igreja etc. Em casa mostrei o achado a Emília,descrevi o menino, a mata e o cachorro. Nenhum sinal de aprovação. Emília arregalou os olhos, atentou horrorizada no folheto, pegou-o com as pontas dos dedos, soltou-o, como se ele estivesse sujo, aconselhou-me a não ler. Aquilo era pecado. Aventurei-me a discutir. Minha prima se enganava: no conto havia um menino e um cachorro excelentes. Recuou, muito pálida, receosa de se contaminar, e virou o rosto. Pecado. - Pecado por quê, Emília? Porque o livro era excomungado, escrito por um sujeito ruim, para enganar os tolos. Objetei que o menino e o cachorro procediam como cristãos. Respondeu que o perigo estava aí: quando o diabo queria tentar as pessoas, simulava boa aparência, escondia os pés de pato e dava conselhos razoáveis. Depois mostrava as unhas e o rabo, cheirava a enxofre, levava a gente para o inferno. Ignorante e novo, eu não sabia o que era certo ou errado, mas se o livro tinha procedência má, boa coisa não podia ser. Afirmei que ele não tinha má procedência; Emília espiou de longe as letras da capa, discordou, afastou-se cheia de repugnância. (...) Havia os protestantes, havia o diabo – e estes entes remotos e confusos encheram- me de pavor (...) Ai de mim, ai das crianças abandonadas na escuridão. Chorei muito. E não me atrevi a ler O menino da mata e seu cão Piloto. (RAMOS, 1995, p. 200-203). Podemos usar a dica “Ponto de vista” quando sentimos que a nossa forma de contar está fechada no que conhecemos (experiências, hábitos...). Essa estratégia permite contar outra experiência, singularidades e mundividência. Outra dica de Sena-Lino (2009) para escrever criativamente é o “listar”. Listar: temos a seguir uma lista de cinco palavras referentes a “uma parede branca” e entre as palavras não pode haver as palavras “parede” e “branca”. Uma das palavras da lista substitui, por relação de antonímia, outra original. 1. possibilidade 2. arritmia 3. preto 133 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 4. fuga 5. luz Essas palavras foram utilizadas no texto a seguir de Sena-Lino (2009, p. 56): Chuva J. concentrou-se na luz de final de tarde que pousava nas árvores e nos animais. Via ali a possibilidade de tudo. Via ali também a fuga ao resto. J. tentou aproximar-se com os olhos dessa luz minúscula que intersectava as folhas e trespassava os organismos. Sentiu a arritmia das coisas paradas e desejou que o preto das sombras ficasse para trás. Bem para trás. Lá perto do horizonte. A lista serve tem serventia antes, durante e depois do texto escrito: • antes de iniciar o texto: para programar o que você quer dizer. • durante a produção textual: se não conseguir desenvolver o texto, a lista serve de resumo e programação para o que dizer a seguir. • depois do texto escrito: serve como diretriz para revisão e reescrita. Intenção: o que o escritor quer dizer, num texto literário, como resultado, argumento, intenção, não pode ser excessivamente expresso porque o texto literário é um jogo livre de interpretação, que permite vários sentidos. Quando consideramos uma obra de arte, não temos uma palavra final sobre o seu sentido e linha mestra e central de leitura. Ler, por exemplo, o conto O enfermeiro, de Machado de Assis, ou os contos de Um bom homem é difícil de encontrar, de Flannery O’Connor, e discuti-los sob a égide da intenção, fará com que em menos de dez minutos de discussão mudemos de opinião quanto ao tema dos textos, porque o tema não se encontra explícito. Como queremos que a intenção fique apenas subentendida no texto que escrevemos, há a proposta de exercício dada por Sena-Lino (2009). Exemplo de aplicação A proposta é a produção de um pequeno conto. 1. Descreva, num texto escrito em sete minutos, a vida comunitária (política, cultural, organizacional, histórica) das formigas do Monte Branco. Note que o Monte Branco não tem forçosamente de ser na Europa, e muito menos que se trate do seu açucareiro lá de casa. Este será o tema 1. 2. Depois de escrever, vamos procurar o tema 2. Escolha um tema de que não goste (mas que não odeie), sobre o qual sinta não ter muito o que falar. Tome nota de suas ideias e faça três frases, uma com cada ideia. Comece ou acabe cada frase com a indicação do tema. 134 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 3. Depois disso, semeie as suas três frases, com o tema 2, pelo texto da cultura das formigas do Monte Branco. Como exemplo de resultado do exercício anterior, vamos imaginar os seguintes passos: • tema 1: o autor escreveu sobre a cultura da formiga em sete minutos; • tema 2: por não gostar do esporte rugby, escolheu-o como tema e sobre ele anotou ideias: — brutal — de regras e objetivos incompreensíveis — são como carros em acidentes permanentes • transformou as duas ideias em frases e comparação (ou metáfora), começando ou terminando cada frase com o tema escolhido: — É brutal como o rugby. — Tem regras e objetivos incompreensíveis, como o rugby. — São como carros em acidentes permanentes, como o rugby. • depois, semeou as frases no tema das formigas. O resultado fica qualquer coisa como: “As formigas do Monte Branco são uma espécie em extinção. Talvez por terem uma democracia complicada, que implica devorar os políticos corruptos. É brutal como o rugby. As formigas dedicam-se...” Assim, o seu texto poderá demonstrar como resultado final: — é um texto cujo assunto é, para o leitor, sobre as formigas do Monte Branco, apoiando a sua crítica ou ironia com um outro tema; — é um texto sobre o tema 2 (rugby ou beterrabas...) que se serve das formigas do Monte Branco para dizer realmente o que pensa sobre o tema 2; — é um texto sobre uma terceira coisa, não expressa, que nem é sobre as formigas nem sobre o tema 2, mas sobre outra coisa qualquer que fica sugerida. Em qualquer um desses casos, a intenção é o que ficou levemente expresso. O poema Em Creta, com o Minotauro, de Jorge de Sena, utiliza dois temas (o do Minotauro e o do declínio da civilização ocidental, tendo como cenário a Grécia), usando o tema do Minotauro, grosso modo, como nós utilizamos o tema 2. 135 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Em Creta, com o Minotauro I Nascido em Portugal, de pais portugueses, e pai de brasileiros no Brasil, serei talvez norte-americano quando lá estiver. Colecionarei nacionalidades como camisas se despem, se usam e se deitam fora, com todo o respeito necessário à roupa que se veste e que prestou serviço. Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações nasci. E a do que faço e de que vivo é esta raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo quando não acredito em outro, e só outro quereria que este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquecer de tudo, espero envelhecer tomando café em Creta com o Minotauro, sob o olhar de deuses sem vergonha. II O Minotauro compreender-me-á. Tem cornos, como os sábios e os inimigos da vida. É metade boi e metade homem, como todos os homens. Violava e devorava virgens, como todas as bestas. Filho de Pasifaë, foi irmão de um verso de Racine, que Valéry, o cretino, achava um dos mais belos da “langue”. Irmão também de Ariadne, embrulharam-no num novelo de que se lixou. Teseu, o herói, e, como todos os gregos heroicos, um filho da puta, riu-lhe no focinho respeitável. O Minotauro compreender-me-á, tomará café comigo, enquanto o sol serenamente desce sobre o mar, e as sombras, cheias de ninfas e de efebos desempregados, se cerrarão dulcíssimas nas chávenas, como o açúcar que mexeremos com o dedo sujo de investigar as origens da vida. (SENA, 1978, p. 101). 136 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Exemplo de aplicação Vamos fazer ocontrário. Pense em uma situação comum: um jantar, um velório, uma reunião de trabalho. Todos estão presentes com um motivo: comemorar, homenagear, discutir, chegar a objetivos convergentes. Entretanto, uma pessoa está lá com um motivo diferente. O contrário. Por exemplo, alguém vai matar o aniversariante, dizer que o chefe rouba a empresa, que é filho (a) do fidelíssimo marido morto. Já pensou no que vai fazer? Conte tudo pensando no motivo de todos os presentes. E, mais ou menos no meio do texto, faça aparecer a outra intenção... E revele no final! Do exercício anterior, Sena-Lino (2009, pp. 62-63) nos dá um exemplo de resultado: Olhou o bolo de aniversário carregado de velas, tantas quantos os anos que lhe passaram pelo corpo. Parecia que toda a superfície do bolo estava em chamas, aquela luz cortante a ferir-lhe os olhos, os gritos cantados a cortarem-lhe os ouvidos. Agora pede um desejo, avô, gritavam os miúdos, todos os anos, após a estridente e descontrolada cantoria que durava tempo de mais, tal como ele. E todos os anos ele olhava aquele aglomerado de chamas pequeninas apertando-se uma contra as outras. Parecia que aquele bolo não acabava mais, ano após ano mais uma se lhes juntava e o bolo esticava, esticava. Até um dia, pensava, que rebente de vez. O desejo, avô, insistiam. O desejo era sempre o mesmo, desde os tempos em que naquele bolo apenas eram espetadas, à pressa, meia dúzia de velas tristes, já usadas de outros anos, até se dissolverem na cobertura rala de chocolate. Desde então o desejo era sempre o mesmo, apesar de saber que nunca se iria realizar. No entanto, desejava-o sempre, a mesma intensidade, a mesma força, ano após ano, vela após vela, até que o bolo se apague de vez. Como fazer o tempo voltar atrás, interrogava-se. Era só isso que desejava, fazer o tempo voltar atrás para aquele dia em que tudo mudara. Como voltar atrás e ficar em vez de o deixar sozinho, tão pequenino que era? Apagou as velas com o esforço da lembrança do irmão mais novo, ainda bebê, sozinho no chão, junto ao berço, corpinho sem vida, enquanto ele, alegre e esquecido, trepava alto a figueira do quintal até onde os seus sonhos iam, sem responsabilidades ou obrigações. Apagou as velas como sempre, desde então, com as lágrimas do arrependimento. 137 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 5.3 Informações sobre publicação e divulgação Seu livro está pronto? Você tem na gaveta páginas e páginas impressas, organizadas, com sumário e título, seja de contos, poemas, crônicas ou um romance? Está na hora de encaminhar os seus originais para avaliação e publicação. Antes, porém, há a necessidade de garantir a autoria. Este tópico do livro-texto serve, então, para orientar no cumprimento de dispositivos legais que validam a publicação. Com base nos esclarecimentos de Perfetti e Scortecci (2010), apresento algumas diretrizes para o aluno que quiser escrever e publicar um livro. Neste capítulo tratamos da escrita literária, mas as informações de publicação servem para qualquer tipo de livro. Primeiramente, qualquer escritor ou que pretende sê-lo precisa saber que existe a Lei do Direito Autoral nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, da qual destacamos alguns artigos e parágrafos de maior interesse, recomendando a leitura na íntegra. A Lei do Direito Autoral estabelece, no Artigo 3º, o significado dos direitos autorais: “Os direitos autorais reputam-se, para os efeitos legais, bens móveis”. A obra que você produz é um bem móvel e o Artigo 7º, juntamente com seus incisos, explicita o que é obra: Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas; II- as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; III - as obras dramáticas e dramático-musicais; IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer forma; V - as composições musicais, tenham ou não letra; VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas; VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia; VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cinética; 138 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza; X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência; XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, apresentadas como criação intelectual nova; XII - os programas de computador; XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação intelectual. A lei continua, especificando que não são considerados objeto de direitos autorais, por exemplo, ideia, métodos, formulários, leis e decretos. A explicitação sobre autoria em si é encontrada no Artigo 5º, em especial no Inciso VIII – obra: a) em coautoria – quando é criada em comum, por dois ou mais autores; b) anônima – quando não se indica o nome do autor, por sua vontade ou por ser desconhecido; c) pseudônima - quando o autor se oculta sob nome suposto; d) inédita - a que não haja sido objeto de publicação; e) póstuma - a que se publique após a morte do autor; f) originária - a criação primígena; g) derivada - a que, constituindo criação intelectual nova, resulta da transformação de obra originária; h) coletiva - a criada por iniciativa, organização e responsabilidade de uma pessoa física ou jurídica, que a publica sob seu nome ou marca e que é constituída pela participação de diferentes autores, cujas contribuições se fundem numa criação autônoma. Do artigo 11º ao artigo 17º, a Lei do Direito Autoral trata “Da Autoria das Obras Intelectuais”, especificando sobre o que é o autor, coautor e a identificação como tais: Da Autoria das Obras Intelectuais Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica. 139 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Parágrafo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às pessoas jurídicas nos casos previstos nesta Lei. Art. 12. Para se identificar como autor, poderá o criador da obra literária, artística ou científica usar de seu nome civil, completo ou abreviado até por suas iniciais, de pseudônimo ou qualquer outro sinal convencional. Art. 13. Considera-se autor da obra intelectual, não havendo prova em contrário, aquele que, por uma das modalidades de identificação referidas no artigo anterior, tiver, em conformidade com o uso, indicada ou anunciada essa qualidade na sua utilização. Art. 14. É titular de direitos de autor quem adapta, traduz, arranja ou orquestra obra caída no domínio público, não podendo opor-se a outra adaptação, arranjo, orquestração ou tradução, salvo se for cópia da sua. Art. 15. A coautoria da obra é atribuída àqueles em cujo nome, pseudônimo ou sinal convencional for utilizada. § 1º Não se considera coautor quem simplesmente auxiliou o autor na produção da obra literária, artística ou científica, revendo-a, atualizando-a, bem como fiscalizando ou dirigindo sua edição ou apresentação por qualquer meio. § 2º Ao coautor, cuja contribuição possa ser utilizada separadamente, são asseguradas todas as faculdades inerentes à sua criação como obra individual, vedada, porém, a utilização que possa acarretar prejuízo à exploração da obra comum.Art. 16. São coautores da obra audiovisual o autor do assunto ou argumento literário, musical ou lítero-musical e o diretor. Parágrafo único. Consideram-se coautores de desenhos animados os que criam os desenhos utilizados na obra audiovisual. Art. 17. É assegurada a proteção às participações individuais em obras coletivas. § 1º Qualquer dos participantes, no exercício de seus direitos morais, poderá proibir que se indique ou anuncie seu nome na obra coletiva, sem prejuízo do direito de haver a remuneração contratada. § 2º Cabe ao organizador a titularidade dos direitos patrimoniais sobre o conjunto da obra coletiva. 140 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 § 3º O contrato com o organizador especificará a contribuição do participante, o prazo para entrega ou realização, a remuneração e demais condições para sua execução. Do título anterior, convém destacar o Artigo 17 § 2º, que se volta à autoria de obra coletiva, ou seja, a obra tem um organizador. Nos últimos anos, vemos muitas publicações, em especial científicas, em que constam muitos autores e um organizador. A título de exemplo, enumeramos apenas algumas obras: • Trilhas da escrita: autoria, leitura e ensino, da editora Cortez. Eduardo Calil é o organizador; • Leitura e escrita na formação de professores, da editora UFJF. Maria Teresa A. Freitas e Sérgio Roberto Costa são os organizadores; • Leitura: práticas, impressos, letramentos, da editora Autêntica. Ana Maria de Oliveira Galvão e Antônio Augusto Gomes Batista são os organizadores; • A formação do professor, da editora Mercado de Letras. Angela B. Kleiman é a organizadora. São muitas obras publicadas, atualmente, em parceria, e um (ou mais autores) torna-se o organizador. Temos, também, obras literárias, cujo organizador reúne textos curtos, no caso, contos, crônicas e poemas, de diversos autores. O organizador tem assegurado seus direitos autorais, os quais passam aos seus descendentes. No capítulo III, da mesma lei, encontramos diretrizes sobre o registro das obras intelectuais. Muitos alunos na graduação nos questionam sobre os passos para registrar os direitos autorais. A Lei nº 5.988, de 14 de dezembro de 1973 – Art. 17º esclarece sobre onde fazer o registro da obra: Para segurança de seus direitos, o autor da obra intelectual poderá registrá-la, conforme sua natureza, na Biblioteca Nacional 7, na Escola de Música, na Escola de Belas Artes da Universidade do Rio de Janeiro, no Instituto Nacional de Cinema 8, ou no Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. O escritor Robson di Brito registrou seu romance A garota das maçãs. O cadastro foi realizado na Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Escritório de Direitos Autorais sob o N° de registro: 490.233, Livro: 926, Folha: 269. A seguir, um fragmento da obra A garota das maçãs: Capítulo: Execução da Função Eu adoro maçã, adoro mesmo, de corpo e alma, amo de paixão, e eu não podia comer durante a minha função. Não porque eu não queria comer maçãs e, mesmo se eu não estivesse com fome e aparecesse uma maçã em minha frente, eu iria devorá-la por pura gulodice. Enquanto menina do fim, eu não sentia fome, e tudo o que eu tocava apodrecia, 141 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL estragava, envelhecia e deixava de ter vida. Não faz ideia de como eu sofri, na primeira vez, que peguei uma maçã e ela “mofou” na minha mão. Foi a pior coisa que poderia ter acontecido, fiquei muito triste, ao mesmo tempo, muito irritada. Acredito que era primavera, porque havia várias flores e muitas frutas onde eu estava. Fui ao encontro de uma menina para dar o fim a sua vida, e esta, estava em um pomar. Foi lá que vi uma árvore negra, atrás dela, dava para enxergar o céu branco e nuvens num tom de cinza bem claro. Penduradas, em seus galhos, grandes maçãs, vermelhas como o batom da minha tia “Ana Babaloo”, o nome da minha tia não é esse, esse é o apelido dela, o nome dela é Ana Maria, mas ela gosta que a chamem de “Babaloo”, e ela usa um batom vermelho bem forte, cor de sangue. As maçãs eram as mais lindas que eu já tinha visto em toda a minha existência. Eram tenras, suculentas, brilhantes, e eu sorri por poder enxergar suas cores. Se eu pudesse chorar, eu teria-me desfeito em lágrimas naquela hora. Acredito que meus olhos brilharam como dois diamantes, diante da visão mais bela de todo universo – o vermelho da fruta mais saborosa que a terra pode nos dar. Senti também, como se estivesse diante da árvore do fruto proibido. Uma atmosfera de mistério estava ao meu redor, se eu pudesse, com certeza teria-me arrepiado. Uma das maçãs caiu do alto da árvore negra, deslizou pelo grosso tronco e rolou pelo gramado até bater na ponta do meu pé. Peguei delicadamente, como se estivesse pegando a maior preciosidade do universo. Faltou mão para envolvê-la, e enquanto eu a trazia para cima, para diante dos meus olhos, ela mofava. Surgiu uma camada grossa de veludo mofo por cima do vermelho paixão. Fiquei tão furiosa com aquilo, senti como se fosse uma falta de respeito pelos meus sentimentos, joguei na garotinha que tinha de dar cabo de sua vida. Sim, foi uma vingança, devo confessar. Se alguém pudesse me ver naquela hora, poderia jurar ter visto o capeta em forma de menina, de tão furiosa que fiquei. Foi então, que escolhi esta forma de dizer: “Chegou a sua hora!” Sei que foi crueldade o que eu fiz com a menina, mas eu estava fora de mim, e ela tinha de deixar de existir mesmo! Se você, caro aluno, tem uma obra pronta, faça como o aluno Robson di Brito e registre sua obra em um dos Serviços de Direitos Autorais (EDA): • Fundação Biblioteca Nacional Escritório de Direitos Autorais Rua da Imprensa, 16 - 12º andar - Rio de Janeiro - RJ - 20030-120 Tel: (21) 2220.0039 Rua General Júlio Marcondes Salgado, 234 – Campos Elíseos – São Paulo – SP – 01201.020 Tel: (11) 38255249 142 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 • Representação do EDA ; Brasília/DF Biblioteca Demonstrativa de Brasília – BDB Av. W3-Sul – EQ. 506/507. Asa Sul. 70350-580 – Brasília/DF Telefone: (61) 443-5669 – 443-0852 – 443-5682 • Representação do EDA ; Salvador/BA Biblioteca Pública do Estado da Bahia Rua General Labatut, 27 – 3º Andar. - Barris. 40070-100 – Salvador/BA Tel: (71) 3317-6064 • Representação do EDA ; Recife/PE Biblioteca Pública Estadual Presidente Castelo Branco Rua João Lira, s/n. - Santo Amaro. 50050-550 – Recife/PE Telefone: (81) 3423 8446 • Representação do EDA ; Natal/RN Biblioteca Pública Câmara Cascudo Rua Pontengi, 535 - Petrópolis. 59020-030 – Natal/RN Telefax: (84) 3232-9746 • Representação do EDA ; Aracaju/SE Universidade Federal de Sergipe – UFS – Biblioteca Central Cidade Universitária Prof. José Aluísio de Campos. São Cristóvão 49100-000 – São Cristóvão/SE Telefone: (79) 212-6521 / 212-6528 • Representação do EDA ; Vitória/ES Universidade Federal do Espírito Santo Endereço: Av. Fernando Ferrari, 514- Goiabeiras – Campus Universitário. 143 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 29060-900 – Vitória/ES Telefone: (27) 3335-2370 / 3335-237 • Representação do EDA ; São Luís/ Ma MAP Praça do Pateon S/N – Centro 65020-048 – São Luís/ MA Telefone: (98) 3218-9961 • Representação do EDA ; Cuiabá/MT Universidade de Cuiabá Av. Beira Rio, 3.100- Bloco F. Jardim Europa. 78015-480 – Cuibá/MT Telefone: (65) 3615-1261 – 615-1177 • Representação do EDA ; Florianópolis/SC Universidade do Estado de Santa Catarina – Reitoria Av. Madre Benventura, 2007. Itacorubi. 88035-001 – Florianópolis/SC Telefone: (48) 3321-8020 / 3231-1590 • Representação do EDA ; Macapá/AP BibliotecaEstadual Elcy Lacerda Rua São José, 1800 – Bairro Central 68900-110 – Macapá/AP Telefone: (96) 3212-5119 / 3212-5239 • Representação do EDA ; Curitiba/PR Biblioteca Pública do Paraná Rua Cândido Lopes 133. Centro. 80020-901-Curitiba-PR Telefone (41) 322-9800 – 224 0575 – Ramais: 4865/4866 144 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 • Representação do EDA ; Belém/PA Universidade Federal do Pará Campos Universitário do Guamá – Prédio da Reitoria Av. Augusto Corrêa nº 01 – 2º andar 66075-900 – Belém – Pará Telefone: (91) 211-1436 • Representação do EAD – Belo Horizonte/MG Biblioteca Pública do Estado de Minas Gerais Praça da Liberdade, 21 – Sala 303 – Funcionários 30140-010 – Belo Horizonte/MG Tel: (31) 3269.1166 ramal 11 Depois de registrado devida e legalmente sua obra em um dos EAD e quiser publicar por meio de uma editora, Perfetti e Scortecci (2010) fazem recomendações e aconselham alguns cuidados na hora de assinar um contrato. Entre os cuidados, estão: • procurar saber mais sobre a editora: — consultar sites. — consultar entidades e associações de classe: CBL, SNEL, UBE etc. — pesquisar junto à FBN do registro do ISBN. — pesquisar junto à FBN sobre o cumprimento da Lei do Depósito Legal. — consultar sites de feiras e bienais do livro. — conversar com autores que já publicaram livros com tal editora. — solicitar catálogos de publicações. — consultar o Serviço de Proteção de Crédito e ou PROCON. • observar no contrato as diferenças entre: edição, reedição, nova edição, impressão e reimpressão; • evitar contratos longos com tempo superior a três anos; • incluir, sempre que possível no contrato, as cláusulas: — “Esgotada uma edição, e o editor com direito a outra não a publicar, poderá o autor notificá-lo a que o faça no prazo de três meses, sob pena de perder aquele direito.” — “A obra não poderá ser utilizada para eventos culturais sem prévia e expressa autorização do autor.” 145 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL • não autorizar a editora a dispor de número superior a 5% (cinco por cento) de cada edição para divulgação ou publicidade da obra; • atenção com armadilhas ou textos de duplo sentido, como: — “A primeira edição será de até dois mil exemplares.” — “O presente contrato engloba os direitos da versão da obra para outros idiomas, para sua comercialização em outros países, hipótese em que outorga à editora o poder de entabular negociações necessárias para esse fim.” — “A editora poderá, a seu critério, disponibilizar a obra na Internet (e-book) ou em qualquer meio eletrônico.” • antes de assinar, havendo dúvidas, solicite uma cópia e procure orientação com o seu advogado. A seguir um exemplo de contrato dado por Perfetti e Scortecci (2010, pp. 50-56): Contrato de Edição de Livro Pelo presente Instrumento Particular de Contrato e na melhor forma de direito, as partes, de um lado PADRÃO EDITORA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, regularmente constituída, com sede nesta Capital, na Rua Maria da Silva Nunes, nº 100 -, CEP: 00000-000, São Paulo – SP, inscrita no CNPJ sob nº 00.000.000/ 0001-00, IE nº 000.000.000.000, telefone (11) 3032-0000, e-mail: editorapadrao@padrao.com. br, doravante designado EDITORA, e de outro lado, José Versino Prosa, RG nº 00.000.000 – SSP, CPF 000.000.000-00, residente na Av. Comendador Américo, 11, São Paulo – SP, CEP: 00000-00, telefone (11) 3031-0000, e-mail: joseversinoprosa@bol.com. br, doravante designado AUTOR, resolvem celebrar CONTRATO DE EDIÇÃO DE LIVRO, mediante as cláusulas e termos seguintes: Cláusula 1ª – DO OBJETO: O AUTOR é o legítimo titular dos direitos autorais sobre a obra intitulada DO OUTRO LADO DA LUA, doravante de OBRA e, portanto em condições dela dispor, a qualquer título, conforme lhe é facultado pela Lei 9.610/98. § Único: O AUTOR declara que sobre a OBRA não recaem ônus de qualquer espécie, e bem assim como que não existem contratos editoriais vigentes que impeçam o pacto da presente EDIÇÃO. O AUTOR dá autorização à EDITORA para editar e publicar a OBRA, nas condições estabelecidas nas cláusulas deste contrato. Cláusula 2ª – DO PREÇO: 146 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Por este contrato de EDIÇÃO e PUBLICAÇÃO o AUTOR receberá da EDITORA, a título de direito autoral, o valor correspondente a 10% (dez por cento) na primeira edição e 10% (dez por cento) nas demais impressões (reimpressões ou nova edição), valor esse calculado sobre o preço de capa de cada exemplar efetivamente vendido. § Primeiro: A primeira remuneração devida será declarada e paga pela EDITORA, mediante recibo, ao AUTOR ou seu representante, até o dia 20 (vinte) do mês subsequente ao fechamento do trimestre a partir do levantamento das vendas realizadas e efetivamente liquidadas. § Segundo: Será de responsabilidade exclusiva do AUTOR o pagamento de todo e qualquer encargo fiscal ou previdenciário incidente sobre a remuneração que lhe for paga a título de direitos de autor. § Terceiro: No caso de vendas a entidades do governo, religiosas, industriais ou comerciais, em que o preço ajustado for especial, caberá ao AUTOR receber percentual de 5% (cinco por cento) sobre o preço da capa. § Quarto: A EDITORA disporá de 5% (cinco por cento) dos exemplares de cada edição (impressão ou reedição) da OBRA, para divulgação, sobre os quais o AUTOR concorda em não receber nenhuma percentagem, em vista do caráter publicitário dessa distribuição. § Quinto: Caso a EDITORA, por força das circunstâncias do mercado, seja obrigada a remarcar o preço da OBRA, objeto do presente CONTRATO, majorando-o ou diminuindo-o, os direitos autorais devidos ao AUTOR serão calculados sobre a nova base quanto aos exemplares vendidos pelo novo preço. O AUTOR será comunicado por escrito desta decisão. Cláusula 3ª – DA EDIÇÃO: A primeira edição será de 3000 (três mil) exemplares, para comercialização em território Nacional ou em países cujo idioma oficial seja o Português. § Primeiro: O presente contrato não engloba os direitos da versão da OBRA para outros idiomas e sua comercialização em outros países. § Segundo: A EDITORA, no caso de reimpressão ou reedição, informará ao AUTOR por escrito o número de exemplares da tiragem de cada nova impressão. Cláusula 4ª – DAS OBRIGAÇÕES DO AUTOR: O AUTOR obriga-se a entregar os originais da OBRA, com a forma literária definitiva, para efeito da edição e publicação. 147 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL § Primeiro: O AUTOR compromete-se a fazer a revisão de provas e as emendas que se tornarem necessárias, dentro dos prazos estipulados pela EDITORA, e aprovar a versão final do miolo da OBRA. § Segundo: As alterações que por ventura sejam feitas no texto original ou na prova da OBRA revisada pelo AUTOR não poderão ultrapassar 5% (cinco por cento) do total da OBRA, sob pena de ser levado à conta do AUTOR o que exceder essa porcentagem. § Terceiro: A EDITORA poderá se opor às alterações que lhe prejudiquem os interesses, ofendam a reputação ou aumentem responsabilidades. § Quarto: O AUTOR se compromete igualmente a fazer na OBRA, para futuras impressões, se as houver e desde que se torne necessário, ou seja, pedido pela EDITORA, a devida revisão, acréscimos, ou emendas, sem que por semelhantes tarefas faça jus a bonificação ou paga extraordinária. O AUTOR obriga-se a responder pela originalidade do trabalho contratado, inclusive por citações, transcrições, ilustrações, fotografias, imagens de pessoas, uso de nomes e lugares, referências históricas e tudo o mais que tiver sido incorporado ao texto e que faça parte integrante da OBRA, exonerando, desde logo, a EDITORAde toda e qualquer responsabilidade e obrigando-se a indenizar a EDITORA por perdas e danos que vier a sofrer em caso de contestação e/ou reivindicações futuras.Ao AUTOR compete a responsabilidade de registrar a obra e sua autoria junto ao Escritório de Direito Autoral da Fundação Biblioteca Nacional, com cópia autenticada do documento anexado a esse contrato. Cláusula 5ª – DAS OBRIGAÇÕES DA EDITORA: Obriga-se a EDITORA a promover, no prazo máximo de até 3 (três) meses, a contar da data de assinatura deste contrato, a impressão da OBRA. Obriga-se a EDITORA a promover a distribuição, venda e publicidade da OBRA publicada, decidir sobre a execução e fixar o seu preço de capa para sua comercialização. Obriga-se a EDITORA a prestar, trimestralmente, contas ao AUTOR. Obriga-se a EDITORA a efetuar o pagamento dos direitos do AUTOR, nos termos do presente contrato, a partir da primeira prestação de contas. Obriga-se a EDITORA a franquear o acesso do AUTOR aos depósitos, registros fiscais e contábeis da EDITORA que possam interessar diretamente ao controle da comercialização da OBRA, desde que o AUTOR faça esse pedido por escrito, com pelo menos 30 dias de antecedência. 148 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Obriga-se a EDITORA a entregar ao AUTOR, gratuitamente, 20 (vinte) exemplares da primeira edição e 10 (dez) exemplares de cada uma das demais impressões e/ou edições. Obriga-se a EDITORA a incluir na ficha técnica da obra a Ficha Catalográfica – o ISBN – Código de Barras (contracapa) e providenciar, após publicação, o envio de 1 (um) exemplar para cumprimento da Lei de Depósito Legal, junto à FBN. Cláusula 6ª – DO FORMATO DA EDIÇÃO: Fica estabelecido que as ilustrações, desenhos, fotografias, diagramação, ou quaisquer outros materiais ou criações gráfico-visuais que vierem a fazer parte integrante da OBRA contratada, bem como tudo o que disser respeito ao know how fornecido pela EDITORA, assim como os fotolitos, a composição gráfica e montagem original são de propriedade da EDITORA, não podendo o AUTOR ou terceiros reproduzir, usar ou dispor dos materiais sem o expresso consentimento da EDITORA. Cláusula 7ª – DO PRAZO: O prazo do presente contrato é de 3 (três) anos, contados da data de sua assinatura, podendo ser prorrogado, por períodos iguais ou não, a combinar entre as partes. Caso uma das partes não queira promover sua renovação deverá comunicar sua decisão, por escrito, no prazo de 30 dias. Se nenhuma das partes o fizer, o contrato estará automaticamente cancelado no final do período de sua vigência cabendo à EDITORA a obrigação de prestar contas ao AUTOR no prazo máximo de 90 (noventa) dias. Havendo saldo e livros em estoque a EDITORA poderá oferecer ao AUTOR com desconto de 90% (noventa por cento). Não havendo interesse a EDITORA poderá doá-los para bibliotecas públicas ou carentes ou optar em incinerá-los. Cláusula 8ª – DA SUCESSÃO: As partes contratantes obrigam-se, por si, seus herdeiros e/ou sucessores ao fiel cumprimento deste contrato. Cláusula 9ª – DO FORO: As partes elegem o foro da Comarca de São Paulo – Estado de São Paulo para dirimir eventuais omissões ou desavenças oriundas do presente pacto, renunciando a qualquer outro por mais privilegiado que seja. 149 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL E, por estarem justos e contratados, as partes firmam o presente instrumento particular, em 2 (duas) vias de igual forma e conteúdo, na presença de 2 (duas) testemunhas que a tudo assistiram e dão fé. São Paulo, 10 de março de 2008. Assinaturas (Editora, Autor(es) e Testemunha). Esse é um modelo de contrato e você pode examiná-lo com cuidado, verificando os pontos fortes do texto, e procurar as possíveis variantes. Por exemplo, se, depois da conclusão do curso de Letras, você decidir publicar uma série de livro didático, seu contrato com a editora terá alguns diferenciais. Durante a produção do livro didático, o autor poderá ter revisão constante; o revisor ou revisores trabalham na editora e tal trabalho constará no contrato. Outro aspecto é a inserção de figuras e textos; a editora, sempre que possível, paga pelos direitos autorais dessas figuras e textos. Assim, haverá no contrato uma cláusula ou parágrafos mais detalhados sobre revisão e pagamento pela editora de direitos autorais de textos alheios a serem inseridos no livro didático. Observação As informações sobre publicação podem ser aplicadas a outros tipos de produção, além da literária. As leis, exemplo de contrato e outras informações não servem apenas para publicação de textos literários. Servem para qualquer tipo de publicação. Além de contrato com editoras, seguindo o modelo anterior, existe outra forma de publicar uma obra por meio da editora: o autor pagar pela impressão dos livros. Muitos autores, principalmente desconhecidos do grande público, fazem contrato com determinadas editoras (a editora Annablume é uma delas), estabelecem o número de exemplares e pagam para a editora pelo trabalho de diagramação etc. Ou esses autores procuram uma gráfica, que tenha condição de fazer diagramação, capa etc. em produção digital ou offset, estabelecem o número de exemplares e pagam pela impressão. No primeiro caso, a editora ajuda a divulgar a obra; no segundo caso, fica a cargo do autor ser divulgador, vendedor, negociante de sua obra. No Brasil, temos editoras que publicam livros de diversas naturezas – literários, científicos, autoajuda, manuais, entre outros – e muitas delas são notórias: Contexto, Abril, Companhia das Letras, Moderna, Mercado de Letras e muitas outras. Temos, também, as editoras universitárias, que publicam, principalmente, textos científicos, ensaios e outros, voltados ao mundo intelectual e, de forma geral, produzidos por autores ligados à universidade, como professores e alunos de pós-graduação. Muitas dissertações de Mestrado e teses são transformadas em livros e publicadas por essas editoras da própria universidade. 150 Unidade II Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Existem outras formas de divulgação de seus textos. Entre elas, temos os sites, blogs, etc. O autor pode criar seu blog, como fez Robson di Brito, e publicar seus textos, ou publicar em sites como Recanto das Letras, dividindo com outros autores esse espaço virtual. Outra forma é participar de feiras, bienais, festas literárias e salões do livro no Brasil, eventos em que o autor pode divulgar seus textos e se tiver exemplares impressos (mesmo que seja com seus próprios recursos) poderá vender sua obra. Entre esses eventos, encontram-se: Bienais: • Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro; • Bienal Internacional do Livro de São Paulo; • Bienal do Livro da Bahia; • Bienal do Livro do Guarujá; • Bienal Capixaba do Livro; • Bienal do Livro de Santa Catarina; • Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes; • Bienal Internacional do Livro do Ceará; • Bienal do Livro de São José do Rio Preto – SP; • Bienal Nacional do Livro de Alagoas; • Bienal Nacional do Livro de Natal; • Bienal Nacional do Livro da Paraíba; • Bienal Internacional do Livro de Pernambuco; • Bienal do Livro de Goiás. Festas literárias: • FLIP – Festa Literária Internacional de Parati; • Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas – PE; • Primavera dos Livros; • Corredor Literário na Paulista. Feiras: • Feira Pan-Amazônica do Livro; • Feira do Livro de São Luís; 151 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL • Feira de Porto Alegre; • Feira do Livro de Ribeirão Preto – SP; • Feira do Livro de Poços de Caldas – MG; • Feira do Livro de São João da Boa Vista; • Feira do Livro de Caxias do Sul –
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