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Anemias 1. Conceitos Básicos 1.1 Processo de Formação 1.1.1 Hematopoiese medular Ocorre nos ossos da pelve, crânio, esterno, costela, ossos longos e etc 1.1.2 Eritropoiese Elementos para fabricação de hemácias (Combustíveis) Eritropoietina (hormônio renal que estimula) Ferro (hemoglobina) Ácido Fólico/Vit. B12 (Síntese de DNA) A medula produz RETICULÓCITOS, que só viram hemácia 1-2 dias após caída na corrente sanguínea As hemácias são renovadas a cada 120 dias no baço (hemocaterese – NÃO É HEMÓLISE) Hemoglobina = grupo HEME (ferro + protoporfirina) + GLOBINA (2 cadeias α e 2 cadeias β) Heme = Ferro (Ferro: Ferropriva; Dça Crônica) + Protoporfirina (Protoporfirina: Sideroblástica) Globina = 2 cadeias α + 2 cadeias β (Quantidade de cadeias: Talassemia) OBS: Anemia Microcítica (↓VCM) e hipocrômica (↓HCM) = Ferropriva, doença crônica, sideroblástica, talassemia 1.2 Hemograma Série Vermelha Hemácias 4-6 mi/mm3 Anemia (↓) Policitemia (↑) Hemoglobina (Hb) 12-17 g/dL Hematócrito (HT) 36-50% Reticulócitos 0,2-2% Hipoprolifetativa (↓) Hiperproliferativa (↑) VCM 80-100 Microcítica (↓) Macrocítica (↑) HCM 28-32 Hipocrômica (↓) Hipercrômica (↑) CHCM 32-35 Hipocrômica (↓) Hipercrômica (↑) RDW 10-14% Índice de Anisocitose Série Branca Leucócitos 5.000-11.000/mm3 Plaquetas Plaquetas 150.000-400.000/mm3 2. Como Investigar uma Anemia inicialmente? 1. Reticulócitos Medula consegue responder: Hiperproliferativa (Reticulose > 2%) Causas Anemia Hemolítica Sangramento Agudo Medula não consegue responder: Hipoproliferativa (SEM reticulose < 2%) Causas Anemias Carenciais (Fe, folato e B12) Anemia da Doença Crônica Anemia Sideroblástica 2. Morfologia das hemácias VCM: Tamanho HCM: Cor 3. Anemias Carenciais 3.1 Anemias Hipoprolifetativas 3.1.1 Ferropriva Ciclo do Ferro O ferro é absorvido no Intestino Delgado PROXIMAL (duodeno e jejuno) Quem transporta o Ferro é a TRANSFERRINA para a medula óssea O ferro que “sobra” é estocado na forra de FERRITINA (mas a maior parte do ferro fica nas hemácias) Após a destruição das hemácias, o ferro novamente será transportado para a medula pela transferrina A Anemia Ferropriva (forma mais comum) é pelo SANGRAMENTO CRÔNICO Laboratório Ferro cinética ↓FERRITINA<30 (NR: 30-100ng/mL) ↑Transferrina e ↑TIBIC (capacidade total de ligação ao ferro) > 360 (NR: 250-360mng/dL) OBS: o TIBIC é uma forma alternativa de ler a transferrina, eles são diretamente proporcionais. Cada transferrina se liga a 2 ferros, ou seja, quanto mais transferrina, maior a capacidade total de ligar ao ferro ↓Ferro sérico <30 (NR: 60-150mcg/dL) e ↓Sat. De Transferrina < 10% (NR: 20-40% Hemograma Anemia PRIMEIRO é normocrômica e normocítica e DEPOIS vira hipocrômica e microcítica (clássico) ↑ RDW – anisocitose ↑ Plaquetas (trombocitose) Quadro clínico Síndrome Anêmica Palidez, astenia, cefaleia, angina... Carência nutricional Glossite (Língua despapilada e vermelha) Quelite angular Perversão do apetite Coiloníquia (unha em colher) Disfagia (Plummer-Vinson: Anemia + Membrana Esofágica + Disfagia) Tratamento Investigar a causa e trata-la Criança: Prematuridade, desmame, ancilostomíase... Adultos: Gravidez, hipermenorreia, má-absorção (doença celíaca), perda crônica de sangue pelo TGI Repor Ferro (Sulfato ferroso: 20% é Fe elementar) Dose: 120-200mg/dia de Fe elementar (60mg, 3-4x/dia) → Tomar de estômago vazio com suco cítrico (ou Vit. C) Criança: 3-5 mg/Kg/dia de Fe elementar Resposta: RETICULÓCITOS (pico: 7-10 dias) Normaliza em +/- 2 meses Duração de +6meses/ferritina>15-50ng/dL 3.1.2 Anemia da Doença Crônica Doença Crônica: Infecção, inflamação, neoplasia A doença libera citocinas e quando chegam no fígado ele libera HEPCIDINA. Esta, deixa que o Fe fique “preso” no estoque e reduz a concentração de transferrina Laboratório Cinética do ferro Fe sérico ↓ Sat. Transferrina ↓ ou normal TIBIC ↓ Ferritina ↑ Hemograma VCM e HCM: Normo/normo e DEPOIS micro/hipo Tratamento Trata a doença de base 3.1.3 Anemia Megaloblástica O megaloblasto é um precursor da hemácia que sofreu algum distúrbio na sua divisão nuclear Geralmente o VCM está acima de 110 Deficiência de Vit. B12 ou Ácido fólico: ↓ Síntese de DNA Anemia (possível pancitopenia): MACROCÍTICA Reticulócitos NORMAIS! Neutrófilos hipersegmentados Eritropoiese ineficaz Destrói precursor (lembra hemólise: ↑LDH, bilirrubina indireta) Quando há ingestão de ácido fólico ele vem inativado (fonte: FOLHAS). Ele precisa ser ativado pela Vit. B12 Metabolismo do Ácido Fólico (AF) Absorvido no delgado PROXIMAL A Vit. B12 transforma o ácido fólico inativo em ativo Esse processo do metabolismo de AF depende de B12 e consome homocisteína Causas de deficiência Má nutrição: Alcoolismo ↑ necessidade: Gestante, hemólise crônica ↓ absorção: Doença celíaca, fenitoína ↓ regeneração: Metotrexate Metabolismo da Vit. B12 (Cobalamina) Estômago (célula parietal) Acidez: Libera B12, que se liga ao LIGANTE R (saliva) Produz fator intrínseco (FI) Duodeno (enzimas-pâncreas) Separa B12 do Ligante R Liga B12 ao FI Íleo Distal: Absorve B12 com FI Causas de deficiência Vegetariano estrito Anemia perniciosa (anti-cél. Parietal e FI) Gastrectomia Pancreatite crônica Doença ileal (Crohn) Metformina Quadro clínico Síndrome Anêmica Carência Nutricional: Glossite + Queilite + Diarreia Se ↓Vit. B12 → Sd. Neurológica A Vit. B12 converte o Ácido Metilmalônico em Succnil-Coa, o acúmulo de Ácido Metilmalônico causa Toxicidade neuronal: Degeneração combinada da medula (cordão posterior + feixe piramidal lateral) Laboratório Anemia Macrocítica (VCM>100-110)/Neutrófilos ↑segmentados ↓Plaquetas e leucócitos (pancitopenia leve) ↑LDH e BB indireta (lembra hemólise) Carência de B12 ↑Ácido Metilmalônico ↑Homocisteína Carência de Folato ↑Homocisteína Tratamento Deficiência de B12: De preferência, PARENTAL (IM) Deficiência de Ácido Fólico: 5mg/dia VO Cuidados Hipocalemia Reposição de ácido fólico pode mascarar deficiência de B12 (melhora anemia, mas não o quadro neurológico) 3.1.4 Anemia Sideroblástica Causa: Deficiência de protoporfirina Hereditária Adquirida (álcool, ↓B6, chumbo) Laboratório Anemia Microcítica/hipocrômica (hereditária) ↑Fe sérico ↑Ferritina ↑Sat. de Transferrina – RISCO DE HEMOCROMATOSE Acúmulo de ferro na linhagem eritrocitária Aspirado de MO (mielograma): Sideroblastos em anel Sangue periférico (hematoscopia): Corpúsculos de Pappernheimer Tratamento Off Label: Administrar Vit. B6 4. Anemias Hemolíticas 4.1 Conceitos Básicos Definições Hemocaterese Processo fisiológico Hemácia morre com mais de 120 dias de vida Hemólise Processo patológico Hemácia morre com <120 dias Ocorre: ↑BBI e ↓HAPTOGLOBINA Hemólise compensada Mecanismos Hiperplasia da medula Estoques adequados de Fe, B12 e Folato Hemácia morre com >120 dias Fisiopatologia ↓ Hemácias por hemólise → HIPÓXIA RENAL → ↑ EPO → Hiperplasia de Medula Óssea → ↑ liberação de Reticulócitos → Reticulose (a máquina vê uma hemácia grande = AUMENTA VCM) Causas de Reticulose Anemias hemolíticas Sangramento agudo MELHORA da ferropriva Generalidades Clínica Síndrome Anêmica Esplenomegalia Icterícia leve Hemoglobinúria Cálculo biliar de bilirrubinato de Ca Laboratório Anemia NORMO, AUMENTO de VCM Reticulocitose/Policromatofilia AUMENTO LDH AUMENTO BBI DIMINUIÇÃO DE HAPTOGLOBINA Complicações Crises anêmicas agudas: “De repente... ANEMIA + (...)” Anemia + Reticulocitopenia CRISE APLÁSTICA Causa: Infecção pelo PARVOVÍRUS B19 – infecta o ERITOBLASTO Tratamento: Suporte +/- Transfusão CRISE MEGALOBLÁSTICA Causa: Paciente com hemólise crônico não recebeu ácido fólico Tratamento: Ácido Fólico diariamente DDX: Neutrófilos HIPERSEGMENTADOS Anemia + Injúria Renal Aguda HEMÓLISE AGUDA GRAVE Causa: BAIXO G6PD, Loxocelles “Hemoglobinúria maciça com lesão renal” → NTA com IRA OLIGÚRICA Anemia + Esplenomegalia Sequestro Esplênico Causa mais comum: Anemia falciforme 4.2 Anemia Hemolítica Autoimune Combs DIRETO, Microesferócitos + = AUTOIMUNE! ANTICORPOS QUENTES (IgG) +/- 75% dos casos ANTICORPOS FRIOS (IgM) Idiopática: MAIORIA Secundária:Viral, LES, LLC Drogas: Penicilina, Metildopa Micoplasma Mononucleose Macroglobulinemia Tratar causa Corticoide/Rituximabe Esplenectomia (extremo) Tratar causa Rituximabe Plasmaférese → Geralmente a hemácia morre no FÍGADO, por isso não adianta fazer esplenectomia 4.3 Anemia Hemolítica Hereditária 4.3.1 Esferocitose Hereditária Clínica Problema na espectrina e anquirina Criança + Esplenomegalia Anemia Hemolítica HIPERCRÔMICA (↑CHCM) + Esferocitose Diagnóstico Teste de fragilidade osmótica Tratamento Acompanhamento +/- Ácido Fólico +/- EPO +/- Transfusão OU Esplenectomia (anemia GRAVE, refratária e/ou repercussões clínicas; parcial para <6a ou total para >6a) 4.3.2 Deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase Clínica Mais comum em homens “Crise anêmica” por hemólise APÓS SUPEROXIDAÇÃO Causa INFECÇÃO (mais comum) Drogas (sulfas, primaquina, dapsona, naftalina, nitrofurantoína, rasburicase) Diagnóstico Corpúsculos de HEINZ Hemácias mordidas (“bite cells”) Medida da atividade da G6PD Tratamento Prevenção Orientação 4.4 Anemia Hemolítica Adquirida 4.4.1 Hemoglobinúria Paroxística Noturna Desordem genética adquirida extraútero Fisiopatologia Mutação deixa a hemácia mais fácil de ser lisada por complemento Clínica Homem 30-40 anos Tríade: Hemólise, Pancitopenia e Tromboses abdominais Diagnóstico Citometria de fluxo: BAIXO CD55/CD59 Tratamento Eculizimabe e Pegcetacoplan 4.5 Hemoglobinopatias 4.5.1 Anemia Falciforme Tipos de hemoglobina HbA (α2β2) = 97% HbA2 (α2β2) = 2% HbF (α2γ2) = 1% (Predomina principalmente até os 30 dias de vida Formas Informação beta MUTANTE (beta s) dos DOIS pais = Homozigoto Traço Falcêmico (Heterozigoto AS) Quando a hemácia libera oxigênio ou desidrata, ela fica afoiçada (drepanócito) → Após 15 dias, o afoiçamento fica IRREVERSÍVEL Fenômenos vaso-oclusivos da AF: Lesão endotelial com Hipercoagulabilidade, moléculas de adesão Clínica Crianças A PARTIR de 6 MESES Crises vaso-oclusivas agudas DESENCADEANTES: Infecção, cirurgias, desidratação, frio, menstruação, gestação, álcool Síndrome Mão-Pé (primeira manifestação da falciforme) 2-3 anos Ocorre em extremidades Dor COM dactilite (edema nas extremidades) RX NORMAL Crise Óssea (Crise álgica/osteoarticular mais comum) >3 anos Ocorre em ossos longos Dor SEM dactilite RX NORMAL Sequestro Esplênico Criança com ESPLENOMEGALIA (até 5 anos) + ANEMIA A esplenomegalia ocorre por congestão esplênica A anemia ocorre por “sequestro” e hemólise esplênica Ocorre até os 5 anos devido a “autoesplenectomia” → Fibrose progressiva do baço Depois do primeiro sequestro → Fazer esplenectomia Síndrome Torácica Aguda Principal causa de óbito em países DESENVOLVIDOS Infiltrado pulmonar novo + Febre, tosse, dor torácica, expectoração purulenta dispneia e/ou hipoxemia. Evolui para SDRA em 36-48h AVE Isquêmico: Crianças Hemorrágico: Adultos OBS: A. Falciforme > 5 anos com espleno megalia, em 5% dos casos, a criança MANTÉM PRODUÇÃO de HbF Disfunções Crônicas Lesão óssea Osteonecrose: Vértebra em boca de peixe Osteomielite por Salmonella/S. aureus Artrite Séptica por pneumococo Lesão renal Necrose de Papila GEFS CA medular renal Tratamento Agudo Crise vaso-oclusivas Hidratação: NÃO PODE FAZER HIPER HIDRATAÇÃO O2: Só se SatO2 < 92% Analgesia INCLUINDO opioide ATB: betalactâmico (Febre>38,5°C, BAIXA PA, Hb<5, leuco > 30.000) Tratamento crônico Prevenção Ácido Fólico Vacinação Penicilina VO até 5 anos Atenção à FEBRE → INTERNAR Hidroxiureia Estimular a produção de HbF Crises Álgicas (>2-3x/ano) Prevenção secundária AVE/STA Anemia grave sintomática Transplante de Medula Óssea Antes dos 16 anos Terapia Transfusional Transfusão simples Anemia sintomática/grave: Hb<5,5 (crianças), Hb<6 (adultos) Exsanguíneo-transfusão Aguda: Quadros graves (AVE, STA) Crônicas (Regulares): ALVO HB 9-10 E HbS<30% Quando não respondeu à hidroxiureia Prevenção secundária de AVE e STA 4.6 Talassemias OBS: Países banhados pelo mediterrâneo tem maior predominância de talassemias 4.6.1 Beta Talassemia OBS: Beta 0 - Não fabrica cadeia beta; Beta + - Fabrica pouca cadeia beta Talassemia Major (B0/B0) Não produz HbA, então o que predomina é HbF (Dacriócitos) Clínica Anemia grave, alterações ósseas (fácies em esquilo, hair on ends, placa óssea se descolando), baixa estatura, hepatoesplenomegalia, hemocromatose, baixa sobrevida Tratamento Transfusão Crônica Quelante do Fe Esplenectomia Transplante de medula Talassemia Intermedia Clínica Quadro semelhante ao major, porém menos graves Tratamento: depende Talassemia Menor Clínica: Assintomático Laboratório Anemia leve HIPO/MICRO (VCM baixo<75) DDX: RDW AUMENTADO na ferropriva e na menor é NORMAL. Cinética do Fe NORMAL na menor Tratamento Aconselhamento GENÉTICO 4.6.2 Alfa Talassemia Traço A – Talassêmico Assintomático ou anemia leve Deleção de 1-2 genes alfa Hb 11-13; VCM 75-80; anisopoiquilocitose Doença da Hb H (A0 e A+) Grave Deleção de 3 genes alfa Hb 8-11; VCM 55-65; Icterícia; Esplenomegalia Síndrome da Hidropsia Fetal da Hb Barts (A0 A0) MUITO GRAVE Deleção de todos os 4 genes alfa Morte do feto ainda durante a gravidez Cél. Tronco Linhagem Linfoide Linfócito T Linfócito B Linhagem Mieloide Granulócitos (Neutro/Baso/Eosino) Plaquetas Hemácias Monócito/Macrófago Gabriel Galeazzi 1
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