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TRABALHO CLÁSSICOSS

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INTRODUÇÃO
A educação proporciona diversas transformações na sociedade, buscando atender as necessidades de cada época da história. Estudar e compreender essas transformações ao longo do tempo nos incita fazer e refazer leituras de grandes pensadores que contribuíram para essas mudanças. Dessa forma, torna-se imprescindível resgatar a história da educação, visto que o estudo dos clássicos é indispensável ao conhecimento da educação contemporânea, uma vez que a educação atual é reflexo do passado e preparação para o futuro. 
A temática deste trabalho justifica-se por contemplar questões debatidas por meio da disciplina “Conhecimento, modernidade e educação: Leitura dos clássicos” e também pela leitura e releitura de clássicos, citados no presente estudo, mais precisamente Karl Heinrich Marx, Friedrich Engels e David Émile Durkheim. Este trabalho tem como objetivo compreender qual a importância da leitura dos clássicos para a formação docente, uma vez que, tal ato transmuta-se em um instrumento para entender a complexidade e um meio de se pensar e refletir sobre a educação.
Para isso, este trabalho será organizado em três momentos: no primeiro momento, abordará a importância da leitura dos clássicos. No segundo momento, fará uma breve apresentação da história da educação e no terceiro momento focando os clássicos como um instrumento de evidente aporte para a formação docente. Pretende-se, com este trabalho elucidar o grande valor dos clássicos da educação para uma formação mais completa e reflexiva, apresentando um panorama que auxilie a compreender as transformações da educação ao longo do tempo e seu reflexo na contemporaneidade. 
1- OS CLÁSSICOS DA EDUCAÇÃO: UM INSTRUMENTO DE GRANDE VALIA PARA A FORMAÇÃO DOCENTE
Os clássicos podem ser vistos como obras que se tornaram um referencial de grande valia e importância para a literatura. 	Assim como diz Ítalo Calvino (1993, p. 09-11), “um clássico é sempre uma obra em que nunca ninguém está lendo, e sim relendo.” “O clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer” e “é aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível”. 
Dessa forma, a leitura dos clássicos nos leva a reflexão e nos dão embasamento teórico profundo para refletir criticamente sobre as transformações do mundo e conduzir o leitor a um saber reflexivo. Mais especificamente na área da educação, a leitura dos clássicos é um instrumento de suma relevância para se pensar a educação na sua complexidade. Por meio dessas leituras e discussão dessas obras obtêm-se maior condição de olhar a educação e compreender a sua relação com a sociedade como um todo, percebendo as influências e mudanças que acontecem ao longo do tempo. A leitura dos clássicos é fundamental para se alicerçar uma análise dos fenômenos contemporâneos.
Conforme o observado, as teorias, e as práticas, vivenciadas pela educação ao longo do tempo, são criadas e desenvolvidas de acordo com as mudanças sociopolíticas de cada época. Apesar de muitas delas ainda serem utilizadas e seguidas nos dias atuais, vão se adequando conforme as necessidades e peculiaridades de cada contexto em que o aluno está inserido. 
Sendo assim, a formação de docentes, no nosso país, deve se adequar ao contexto do aluno, uma vez que ele apresenta um multiculturalismo que cria inúmeras realidades. No entanto, as bases que fundamentam essa formação devem se orientar por pensadores e estudiosos das organizações sociais e políticas, ao longo do tempo, responsáveis pelas transformações ocorridas no mundo. Dessas formações advêm as mudanças na educação. Surge então a necessidade da leitura dos clássicos no sentido de ler e compreender o mundo e suas idiossincrasias para uma boa formação dos docentes, no sentido de que somente “entendendo a realidade, o professor será capaz de enxergar o aluno como um sujeito e fazê-lo se entender como tal. Somente se percebendo como um sujeito, e dono da própria história, o aluno irá aprender (PARO, 2010, p. 772)”.
Vítor Paro (ibid, ibid) afirma, ainda , que a escola é vista como mera repassadora de conhecimentos e informações. Entretanto, muito mais que isso, educar envolve uma relação política entre sujeitos empenhados na construção de personalidades e que essa relação, mais que política, é democrática, pois resulta na afirmação de ambos como sujeitos.
Para entender a relevância da educação e as complexas relações humanas, aspectos importantes na formação docente, e que, inclusive, contribuem para a própria evolução humana, é fundamental a leitura dos clássicos. Entretanto, torna-se imprescindível que o docente, em formação, esteja comprometido com o papel político de seu trabalho e assim, buscar, pela leitura o entendimento e como contribuir, com sua prática educativa, no processo de desenvolvimento do educando, no qual forma sua personalidade pela apropriação da cultura. Com a leitura dos teóricos já citados, o docente acrescentará fundamentos que irão solidificar as bases de sua formação, adquirindo conhecimentos que o levará a entender e criar uma visão de mundo, concatenada com a realidade de seus alunos e com o aspecto social da educação. A interpretação das ideias desses autores mostra a relação de uma educação imaginada em todas as suas dimensões, considerando que as relações sociais contêm um caráter educacional já que contribuem para a formação do ser humano.
2- CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO.
Torna-se necessário adentrar na História da Educação no Brasil para um maior entendimento do assunto. Em cada tempo/espaço histórico, a educação atendeu a determinados objetivos, que correspondiam a visões do homem e de mundo. Para compreender a história da educação, é essencial situá-la na história geral. Neste estudo, porém, interessa apenas compreender o que se entende por educação e como ela evoluiu, no nosso país, exigindo mudanças na formação docente.
Em seus estudos sobre conceito de educação VIANNA (2006, p. 130,131) esclarece que o processo educacional, com toda a sua abrangência, é fundamental para o desenvolvimento do ser humano, consequentemente para a humanidade, em todos os tempos. A educação proporciona a evolução do homem, no sentido de que possibilita melhores condições de vida para todos, ou seja, educar vai muito além do processo de ensino e aprendizagem, compreendendo, também, o desenvolvimento de competências e habilidades. 
O autor ainda nos enfatiza que os grandes filósofos gregos viam a educação como uma maneira de conhecer a si mesmo, e assim apropriar-se de uma verdade autônoma, tornando-se um indivíduo livre, capaz de uma realização plena. Desde aquela época acredita-se que a educação faz parte do direito de todos, uma vez que somente por meio “dela são formados seres conscientes, livres e protagonistas da própria história” (LOCKE apud VIANNA, 2006, p. 131). 
No Brasil, a história da educação teve inicio com os jesuítas que ensinavam alguns conhecimentos aos índios e negros. Em 1564, seguindo uma determinação da Coroa Portuguesa, tem início à educação aos órfãos portugueses e filhos da elite colonial. Em 1760, com a expulsão dos jesuítas, a educação brasileira é organizada pelo Estado. Estudavam os filhos de pessoas ilustres e representativas. Em 1827, as meninas adquirem o direito de frequentarem a escola. Surge o ensino mútuo no qual os professores orientam os melhores alunos, que por sua vez, repassavam o que aprenderam. Porém, vale ressaltar, que o método da repetição e memorização utilizado pelos jesuítas, predominava.
Segundo FERRARI (2008), na década de 20, a crescente industrialização no mundo, levou um grupo de intelectuais brasileiros a se interessarem pela educação no sentido de preparar o país para o desenvolvimento. Eles acreditavam que um sistema estatal de ensino livre e aberto seria um meio efetivo de combater as desigualdades sociais. Esse movimento ganhou força após a divulgação, em 1932, do Manifesto da Escola Nova que pregava a universalização da escola pública, laica e gratuita.  (As ideias da Escola Nova foram introduzidas,no Brasil, em 1882 por Rui Barbosa). 
 Entre os nomes de vanguarda que o assinaram estava o educador Anísio Teixeira que idealizou a escola pública no Brasil ao propor e executar medidas que democratizaram o ensino brasileiro. Com este projeto ele defendia a experiência do aluno como base do aprendizado. Aluno de John Dewey, que considerava a educação uma constante reconstrução da experiência, Teixeira utilizou a filosofia do mestre como inspiração para suas ideias, acreditava em "uma educação em mudança permanente, em permanente reconstrução", e preconizava que “Numa escola democrática, mestres e alunos devem trabalhar em liberdade, desenvolvendo a confiança mútua, e o professor deve incentivar o aluno a pensar e julgar por si mesmo.” (TEIXEIRA, 2000 apud FERRARI, 2008, p. 1,4).
Segundo Célia Maria Ferreira Cordeiro em um artigo publicado em Estudos Avançados:
A história de Anísio Teixeira, e todo o seu movimento para a concretização das suas ideias, constitui um verdadeiro exemplo para a humanidade e para os educadores. Praticava a reflexão pela ação, construindo, na prática, toda uma filosofia que deixou profundas marcas e grandes contribuições para a civilização, em todos os postos ocupados na área de educação (CORDEIRO, 2001, p.1)
Em 1963/1964, já na época da Ditadura, outro grande educador brasileiro, se destaca pelas suas ideias revolucionárias, Paulo Freire. Esse educador é considerado um dos mais notáveis na história da Pedagogia. Autor de diversos livros, traduzido em muitos idiomas, é reconhecido em vários países e o estudo de suas propostas está no currículo de grandes Universidades. Para Freire educar é construir, libertar o homem do determinismo, passando a reconhecer o papel da História e a questão da identidade cultural, tanto em sua dimensão individual, como na prática pedagógica proposta. 
Paulo Freire foi perseguido pela ditadura militar e preso. Após algum tempo, foi exilado no Chile, onde escreveu o livro Pedagogia do Oprimido no qual expõe de maneira sistemática a essência de seu pensamento pedagógico.  Ele afirmava que “O homem deve ser o sujeito da sua própria educação. Não pode ser objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém (2008, p. 14)”.
De acordo com MIRANDA e BARROSO (2004, p.1) o pensamento de Freire ainda é contemporâneo e inspira a teoria e a prática da educação. O tema central do livro propõe a humanização das relações e a libertação dos homens. “Em suas obras questiona uma educação multicultural, ética e transformadora.” Portanto, libertadora. Ele fala aos educadores da necessidade de se rebelarem, pela educação, contra a nossa realidade, em um mundo cada vez mais desigual, mais opressor. 
Na atualidade, o artigo 205 da Constituição Federal (BRASIL, 2010) dispõe que: 
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 2010, p.1)
Portanto fazer uma breve contextualização histórica da educação de nosso país é de suma importância, ao passo em que se faz necessário para que sejamos críticos em vista ao sistema educacional, pois é por meio da investigação do processo educacional em suas múltiplas facetas ao decorrer da história, que a práxis educacional pode ser mais coerente. Nesse sentido, o estudo dos clássicos se confirma como imprescindível para entendimento das grandes transformações na sociedade, e na evolução humana, de acordo com o contexto histórico, social, político e econômico.
4 - A ANÁLISE
Fazer qualquer explanação sobre as teorias de Karl Marx e Friederich Engels requer uma pequena introdução para que haja um entendimento e que se estabeleça um fio condutor. 
Embora suas ideias sejam observadas pelos profissionais da educação, Karl Marx e Engels nunca escreveram um texto, especificamente, sobre esse assunto. Veja-se o que se afirma na “Introdução” de Textos Sobre Educação e Ensino de Karl Marx e Friedrich Engels:
Marx e Engels nunca escreveram um texto - folheto, livro ou artigo - dedicado expressamente ao tema do ensino e educação. Suas referências sobre estas questões aparecem separadas ao longo de sua obra, tanto nos escritos de sua juventude como nos de sua maturidade, tanto nos Manuscritos como em O Capital. A partir de sua produção não é possível "levantar" um sistema pedagógico ou educativo completo e elaborado (SILVA, SIMÕES, MALUF, 2011, p. 06).
	Ainda assim, suas teorias norteiam os educadores, uma vez que esses são mediadores do conhecimento que propiciam ações capazes de promover a transformação social. Além disso, é função da escola e de todos que nela atuam possibilitar, ao aluno, a formação de uma consciência crítica do seu papel na sociedade, atitude preconizada pelos autores.
Na obra Sociologia e Educação, MARX, citado por SILVA, SIMÕES E MALUF, afirma ser perceptível que as mudanças e os conflitos sociais, ao longo do tempo, são os responsáveis pela desestruturação da sociedade. Isso porque, ao se deixar influenciar por ideias e forças externas, o homem torna-se capaz de mudar qualquer cenário.
Dessa forma, o pensamento do autor esclarece que mudanças positivas de ideias e comportamentos são instrumentos que podem levar o homem a transformar o meio em que vive. O papel do docente, nesse caso, é desenvolver no aluno, com sua prática educativa, o pensamento que irá impulsioná-lo a buscar condições melhores de vida, por meio da educação sistematizada.
Segundo Marx, ainda de acordo com os autores citados acima, em sua teoria da alienação, o trabalho, fundamental para o ser humano em diversos aspectos, na sociedade capitalista, apenas supre as necessidades biológicas. Não é proposta deste trabalho discutir esse tema. O que se pode argumentar dentro das contribuições de Karl Marx para uma boa formação docente, diante desta afirmação, é que se torna fundamental que o próprio professor acredite na contribuição da educação para sair desse distanciamento da realidade. Com uma capacitação que forneça subsídios suficientes para promover situações que levem o aluno a cristalizar essa possibilidade. O aluno irá perceber que somente por meio da educação e das possibilidades que ela propicia, ele terá acesso a um mundo cultural que lhe é negado pela sociedade capitalista, e que, no entanto, ele tem direito, sendo ele próprio parte dela.
Em sua obra, Karl Marx argumenta que o individuo humaniza-se pelo trabalho, por ser uma atividade fundamental. Dessa forma, o autor propõe a recuperação do sentido do trabalho para que ele não seja instrumento de alienação do homem. Para que isso ocorra, Marx sugere que o ensino seja a viabilização para a transformação social por meio do conhecimento mediado, no sentido de que, é importante aprender competências fundamentais do mundo físico e social. Para ele, e essa verdade perdura até os dias atuais, combater a alienação e a desumanização é função social da educação. O autor, ainda, valorizava a gratuidade da educação e entendia que a educação deveria ser ao mesmo tempo intelectual, física e técnica. (ibid). 
Outro grande teórico, ENGELS, em seu texto, apresenta a escola ideal:
A escola primária obrigatória oferecerá tudo o que em si mesmo e por princípio seja suscetível de ter algum atrativo para o Homem, sobretudo os fundamentos e os resultados principais de todas as ciências que digam respeito às concepções do Mundo e da vida. Ensinará, portanto, e acima de tudo, as matemáticas, de tal modo que se percorra completamente o ciclo de todas as noções de princípio e de todos os meios desde a simples numeração e adição até ao cálculo integral. (ENGELS, Anti-Dühring, III, cap. V, "Estado, família, educação", apud SILVA, SIMÕES, MALUF, 2011, p. 123).
Conforme o citado, e contemplando a boa formação docente, consolida-se que os estudos do novo professor devem observar todas as disciplinas, mesmo aquelas que não lhe são interessantes, para que no processo de aprendizagem , ele tenha condições de contribuir para umaformação integral do aluno e além disso, participar e cooperar com a comunidade escolar nos trabalhos do cotidiano.
Engels (ibid) afirmava que seria “necessário modificar as condições sociais para criar um novo sistema de ensino; por outro lado, falta um sistema de ensino novo para poder modificar as condições sociais.” 
 De acordo com o pensamento de Marx e Engels e citado por SANTOS, (2005, p. 1) “a educação na sociedade capitalista é um elemento de manutenção da hierarquia social, perdurando até os dias atuais.” Eles acreditavam que “uma das possibilidades de viabilizar a superação das dicotomias existentes e da emancipação do ser humano reside na integração entre ensino e trabalho”, desde que ele adquira um novo sentido, perdendo seu caráter alienante. Assim, o ensino aparece como instrumento para o conhecimento e também para a transformação da sociedade e do mundo.
Nesse sentido, confirma-se a necessidade de que o docente em formação, como um dos sujeitos na mediação dos conhecimentos necessários para que se cumpra a função educativa, e que se estabeleça as condições favoráveis à transformação da sociedade e do mundo, conscientize-se da importância do seu papel, por ser político e aja como tal.
Outro autor que traz grande contribuição para esse debate é Durkheim, que em sua obra Educação e Sociologia, (2011) postula que a educação como instituição social, é a base fundamental para manter a cultura de uma sociedade, transmitindo seus valores sociais. 	Segundo ele todo desvio da estrutura social é causado pelo mau funcionamento da escola enquanto instituição. 
Segundo o autor (ibid p. 46-48), “a educação variou muito de acordo com os tempos e os países” e que “em qualquer época, existe um tipo regulador de educação”. Ele ensina que ao estudar historicamente como se formaram e desenvolveram os sistemas de educação percebe-se a sua dependência das causas históricas e que separado delas se tornam incompreensíveis. Segundo ele, para entender a função educativa, deve-se fixar fins certos à tarefa de educar, observando o preparo em que consiste e a que necessidade tenha atendido no passado. 
Com esse argumento, o autor ensina que o docente deve conhecer os fatos históricos que levaram a instituição escolar a optar por uma determinada grade curricular que contemplaria os ensejos da sociedade, na época. Nesse sentido, a “observação histórica parece ser indispensável”(ibid, p. 49). 
Durkheim acreditava ainda que, para haver educação é necessária uma geração de indivíduos jovens e de adultos sendo que esses exerceriam uma influência sobre aqueles. Veja-se o que ele afirma:
A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança se destine ( DURKHEIM, 2011, p. 53,54).
O que se pode deduzir desse pensamento do teórico é que além de observar os fatos históricos, o docente em formação deve atentar para que a sua prática educativa tenha subsídios suficientes para incutir na criança princípios exigidos para se viver em sociedade, de acordo com o meio a qual ela vai se relacionar. É importante, nesse processo que o professor valorize toda a bagagem cultural do aluno. Com essa ação, o professor terá oportunidade de aprender enquanto ensina. 
Nesse aspecto, atenta-se para o que argumenta SAVIANI em seus estudos, citado por TEIXEIRA:
De acordo com Saviani (1996), ela se destinaria ao desenvolvimento do saber crítico-contextual, trata-se do saber relativo á compreensão das condições sócio-históricas que determinam a tarefa educativa. Entende-se que os educandos devam ser preparados para integrar a vida da sociedade em que estão inseridos de modo a desempenhar nela determinados papéis de forma ativa, e, quando possível inovadora. Espera-se, assim, que o educador saiba compreender o movimento da sociedade identificando suas necessidades básicas e as tendências de suas transformações, de modo a detectar as necessidades presentes e futuras a serem atendidas pelo processo educativo sob sua responsabilidade. A formação do educador envolverá, pois, a exigência de compreensão do contexto com base no qual e para o qual se desenvolve o trabalho educativo (SAVIANI, 1996 p.148-9 apud TEIXEIRA [201?]).
Torna-se imperioso, neste momento chamar a atenção para o fato de que, Durkehim ensinava sobre esse saber denominado por SAVIANI (ibid) como “saber crítico contextual”, no século passado. Até os dias de hoje, os estudiosos alertam sobre a necessidade de o docente observar esse aspecto, a compreensão das relações sociais na sua prática pedagógica. Constata-se, a sua importância. 
Em suas teorias, Durkheim (2011, p. 54,55) preconiza que existem dois seres em cada um de nós, sendo um individual (que se relaciona consigo mesmo), e outro que se estabelece nas ideias, sentimentos e hábitos que exprimem as opiniões coletiva dos grupos dos quais fazemos parte – o ser social. “Constituir esse ser em cada um de nós, é o fim da educação”.
Para o formando, essa teoria diz respeito ao controle que cada um de nós deve ter nas ações sociais. Embora o ser social seja o mais utilizado em nossas ações, é o ser associal que nos revela diante de nós mesmos, com todas as nossas particularidades. Na sua função de ensinar, o professor deve propiciar no aluno condições de se perceber como sujeito e parte de um grupo cultural que lhe representa. É fundamental que o professor desenvolva no aluno, e nele próprio, o respeito e tolerância, aos inúmeros grupos e manifestações culturais. 
Por isso, no exercer da docência o professor deve se pautar pela ética e pelo decoro ao tratar o aluno, tendo em mente, que o outro é um sujeito em formação, sob a sua responsabilidade.
Em seus estudos Durkheim (ibid, 116-118) observa que se “os fins da educação são sociais, os meios pelos quais estes fins podem ser alcançados devem, necessariamente, ter o mesmo caráter.” Quaisquer sejam fins que a educação busca ou meios que emprega são as necessidades sociais que ela expressa e sentimentos coletivos que expressa. Isso porque o que “temos de melhor é de origem social.” É perceptível nesse argumento do autor, as orientações que ele fornece ao docente, que deve privilegiar o estudo da formação da sociedade através da leitura dos clássicos, no sentido de se capacitar de forma a exercer com qualidade o seu papel de mediador de conhecimentos, imbuído da importância conferida ao caráter de sua função.
Analisando a obra, percebe-se que o autor acreditava que a ação educativa deve ser um trabalho de autoridade no qual o professor demonstraria o sentimento da própria autoridade, acreditando nas qualidades superiores de sua inteligência. Essa autoridade é feita de respeito pela função de mestre e que passaria, por via da linguagem, de “sua consciência para a consciência da criança.” Sobre autoridade, Durkheim esclarece:
A liberdade é filha da autoridade bem aplicada, pois ser livre não significa fazer o que bem entender, mas sim ter autocontrole e saber agir guiado pela razão e cumprir o seu dever. Ora, a autoridade do professor, que é apenas um aspecto da autoridade do dever e da razão, deve ser empregada justamente para dotar a criança deste autocontrole (DURKHEIM, 2011, p.73).
	Diante da realidade atual, e que é de domínio público, sobre a questão da indisciplina na sala de aula, é importante analisar esse ponto do autor. O docente em formação tem que estar consciente que ele vai enfrentar esse problema, no exercício de sua profissão. Para isso, é fundamental que ele tenha autoridade diante de seus alunos, senão fica realmente, impraticável, qualquer tentativa de aprendizagem. Ressalta-se que autoridade não é autoritarismo e que por isso, o professor deve saber a medida e manter o diálogo, pautado no respeito e na compreensão.
 	Nesse sentido, o que se conclui, é que o docente em formação deve internalizara primícias de que é responsável pela formação de um novo sujeito, e consequentemente pelas transformações sociais advindas por tal ato. Consciente da importância do seu papel diante da sociedade, o docente deve agir em sua prática educativa, e na convivência com o aluno, sempre, de forma a que ele se perceba como um sujeito, dono da sua história. Destarte, ele deve se capacitar, continuamente, para se orientar no sentido de propiciar ao aluno as condições favoráveis para o seu desenvolvimento integral, e de uma consciência crítica, capaz de praticar o livre arbítrio, com discernimento, diante das referências oferecidas pela sociedade, transformando-se num cidadão e num homem de fato. 
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em seus estudos Durkheim afirma que a educação é o meio pelo qual a sociedade prepara, no intimo das crianças as condições essenciais da própria existência. Essa afirmação mostra que para ele a escola tinha uma importância fundamental no sentido de incutir nas crianças normas e padrões de conduta necessários para a vida em sociedade.
Durkheim acreditava que as anomalias sociais perturbam a ordem provocando desequilíbrio na estrutura social e que por isso é necessário repensar a educação por meio da sociologia, para determinar novas diretrizes.
Por sua vez, embora o tema não tenha ocupado um lugar central em sua obra, é simples compreender que para Marx a escola e a educação fazem parte da estrutura que condiciona os indivíduos à classe dominante. Para ele, a educação na sociedade capitalista é um elemento de manutenção da hierarquia social. Ele afirmava que para que a educação se efetivasse e cumprisse sua função de transformar a sociedade, ela deveria ser percebida agregada aos acontecimentos históricos, sociais e culturais.
Engels idealizava uma escola no futuro capaz de promover um reforma social. Assim como Marx acreditava em um trabalho produtivo aliado ao ensino. Isso porque o trabalho produtivo gera cultura que gera uma educação capaz de transformar realidades. 
Estabelecendo uma relação entre as teorias dos três autores, pode-se afirmar que eles viam a educação como um fator social e que somente por meio dela ocorrem mudanças significativas na sociedade. Isso porque a educação é responsável pela transformação e evolução do homem. 
Os papéis sociais do educador são definidos levando-se em consideração as instituições onde se desenvolve as práticas dos sujeitos. Para exercer bem sua função o educador tem que realizar suas obrigações de uma maneira específica usando de competência, saber fazer bem, tanto técnica quanto politicamente, questionando criticamente a própria ação educativa que deve ser articulada com a realidade.
O papel da escola como instituição formal é de promover oportunidades para que a realidade de seus educandos, e consequentemente de sociedade, no geral, seja transformada proporcionando uma melhor qualidade de vida a todos
Dessa maneira, o estudo dos clássicos é importante para uma boa formação docente, uma vez que esclarece e ensina sobre os diversos aspectos de formação de grupos sociais e suas consequências na sociedade em geral. É um exercício para a compreensão dos aspectos humanos que levam a determinadas formações desses grupos, capazes de transformar a realidade de muitos.
Segundo Ítalo Calvino (1993) os clássicos possuem uma enorme bagagem e carregam consigo a historicidade, bem como os costumes e moral da época em que foi escrito:
Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessam (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes) (CALVINO, 1993, p.11)
Os motivos citados já seriam suficientes para justificar sua leitura, estudo e apreciação. Primordialmente, para uma boa formação docente argumenta-se, no sentido de que os teóricos analisados, embora de uma época tão distante, demonstraram em seus estudos uma atenção especial pela educação, acreditando na sua importância para a evolução do homem. Estudaram e teorizaram sobre temas polêmicos e tentaram mudanças em prol da humanidade. Suas ideias, não se pode afirmar que sejam as mais certas ou mais adequadas, contudo, são observadas e estudadas até hoje.
Portanto, todos deveriam ler e estudar os clássicos. Tanto não seja para uma boa formação docente, seja para uma visão esclarecedora do mundo e suas múltiplas realidades, essencial para a formação do homem e para viver em sociedade.
6- REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
BRASIL, Constituição Federal. Emenda Constitucional nº 66 de 13 de julho de 2010. Título VIII.    Da Ordem Social. Capítulo III. Da Educação, da Cultura e do Desporto. Seção I Da Educação. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_13.07.2010/art_205_.shtm>
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. 2. ed. São Paulo : Companhia das Letras, 1993.
CARVALHO, Frank Viana. História da Educação do Brasil. Disponível em:
<http://frankvcarvalho.blogspot.com.br/2011/10/paulo-freire-um-gigante-na-historia-da.html>
Acesso em 22 jul. 2015.
CORDEIRO, Célia Maria Ferreira. Estud. av. vol.15 no.42 São Paulo May/Aug. 2001. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-40142001000200012&script=sci_arttext>
Acesso em 22 jul. 2015.
CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira Corrêa. Saberes Escolares na Formação de professores e Cultura Escolar. PUC/PR. [201?] Disponível em:
< http://www.cre.se.df.gov.br/ascom/documentos/hortasubeb/saberes_escolares.pdf>
DURKHEIM, Emile. Educação e sociologia. 7. ed. Petrópolis : Vozes. 2011.
FERRARI, Márcio. Pensadores da Educação. Revista Nova Escola ed. Abril. Out. 2008
Disponível em:
<http://revistaescola.abril.com.br/formacao/anisio-teixeira-428158.shtml?page=1>
MIRANDA, Karla Corrêa Lima, BARROSO, Maria Grasiela Teixeira. Rev. Latino-Am. Enfermagem vol.12 no.4 Ribeirão Preto July/Aug. 2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010411692004000400008&script=sci_arttext>
PARO, Vítor Henrique. A educação, a política e a administração: reflexões sobre a prática do diretor de escola. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 36, n.3, p. 763-778, set./dez. 2010.
SANTOS, Robison dos. Considerações sobre a educação na perspectiva marxiana. Revista espaço Acadêmico – Nº 44 – Janeiro de 2005 – Mensal – ISSN 1519.6186
Disponível em:
<http://www.espacoacademico.com.br/044/44pc_santos.htm>
VIANNA, Carlos Eduardo Souza. Evolução histórica do conceito de educação e os objetivos constitucionais da educação brasileira. janus, lorena, ano 3, nº 4, 2º semestre de 2006. Disponível em:
<http://publicacoes.fatea.br/index.php/janus/article/viewFile/41/44>

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