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TRANSTORNOS APRENDIZAGEM DIFICULDADES DEE Priscila Chupil Transtornos e Dificuldades de Aprendizagem Priscila Chupil ISBN 978-65-5821-111-2 9 786558 211112 Código Logístico I000485 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Priscila Chupil IESDE BRASIL 2022 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2022 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Rawpixel/Envato Elements/ VALUA STUDIO/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C487t Chupil, Priscila Transtornos e dificuldades de aprendizagem / Priscila Chupil. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2022. 94 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-111-2 1. Crianças - Desenvolvimento. 2. Crianças com distúrbios da aprendi- zagem. 3. Distúrbios da aprendizagem - Diagnóstico. 4. Resposta à interven- ção (Crianças com distúrbios da aprendizagem). I. Título. 22-75595 CDD: 618.9285889 CDU: 616.89-053.2 Priscila Chupil Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER). Especialista em Análise do Comportamento Aplicada ao TEA (CENSUPEG). Professora no ensino superior, atua também como psicopedagoga clínica e institucional. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Processos de aprendizagem 9 1.1 Definição de aprendizagem 10 1.2 O cérebro e a aprendizagem 13 1.3 Estímulos para a aprendizagem 17 1.4 Afetividade e aprendizagem 20 1.5 Estilos de aprendizagem 22 2 Dificuldades de aprendizagem 26 2.1 Dificuldades de aprendizagem: causas e tipos 26 2.2 Dislexia 30 2.3 Disgrafia 33 2.4 Disortografia 36 2.5 Discalculia 38 3 Transtornos de aprendizagem 43 3.1 Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) 43 3.2 Transtorno do espectro autista (TEA) 48 3.3 Síndrome de Asperger 51 3.4 Transtorno obsessivo compulsivo (TOC) 54 3.5 Transtorno desafiador opositor (TOD) 56 4 Fatores que interferem na aprendizagem 62 4.1 Fatores externos e internos que interferem na aprendizagem 62 4.2 Fatores afetivos 64 4.3 Fatores sociais 68 4.4 Fatores biológicos 71 5 Prevenção, diagnóstico e intervenção 75 5.1 Desenvolvimento das funções executivas 75 5.2 Prevenção às dificuldades de aprendizagem 79 5.3 Diagnóstico das dificuldades de aprendizagem 81 5.4 Intervenção aos problemas de aprendizagem 84 Resolução das atividades 90 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Nesta obra buscamos discutir como ocorre e quais são as principais dificuldades de aprendizagem, a origem e as possíveis intervenções para cada uma. Conhecer as causas dos insucessos no processo de aprendizagem propicia a reflexão sobre as práticas realizadas nas escolas e possibilita rever e superar as práticas que não contribuem para o sucesso dos alunos, pois cada um aprende de uma maneira e em tempos diferentes. Nesse viés, no primeiro capítulo, trataremos sobre os processos de aprendizagem, ou seja, refletiremos sobre o ato de aprender de maneira geral, compreendendo inicialmente a definição de aprendizagem. É essencial, nesse momento, também saber a relação entre o cérebro e a aprendizagem e, com isso, reconhecer os estímulos necessários para que esta ocorra. Ainda no primeiro capítulo, refletiremos sobre a importância da afetividade e os diferentes estilos para que o ato de aprender aconteça. No segundo capítulo, trataremos das principais dificuldades de aprendizagem, isto é, daquelas mais frequentes em sala de aula e que se tornam um desafio para o professor, como a dislexia, a disgrafia, a disortografia e a discalculia. O terceiro capítulo propõe reflexões mais amplas, pois devemos ter o entendimento de que alguns transtornos e distúrbios também geram dificuldades de aprendizagem. Por isso, são relacionadas as causas e características do transtorno do deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), do transtorno do espectro autista (TEA), da síndrome de Asperger, do transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e do transtorno desafiador opositor (TOD). Diante da amplitude de obstáculos frente à aprendizagem, e das características específicas de cada uma, é necessário, no quarto capítulo, analisar quais fatores contribuem para as dificuldades de aprendizagem e, dessa forma, refletir sobre fatores externos e internos que interferem na aprendizagem, bem como sobre os fatores afetivos, sociais e biológicos que estão relacionados a esse processo. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Transtornos e dificuldades de aprendizagem No quinto e último capítulo, analisaremos como prevenir, diagnosticar e intervir nos casos de transtornos e dificuldades de aprendizagem por meio do entendimento sobre a importância do desenvolvimento das funções executivas como base para todo o aprender. Consequentemente, a partir desse entendimento, veremos como agir de maneira preventiva com relação às dificuldades. Visto que essas questões precisam ser vistas e analisadas de modo responsável e por profissionais específicos, compreenderemos também como são feitos o diagnóstico e a intervenção adequados a cada um dos transtornos e dificuldades de aprendizagem. Com base nessas análises, o entendimento sobre como o ser humano aprende, a forma única de cada um ser e existir e os obstáculos que podem acontecer nesse caminho certamente será um grande diferencial para a atuação de todos aqueles que trabalham com a educação. Bons estudos! Processos de aprendizagem 9 1 Processos de aprendizagem Você já parou para pensar como acontece a aprendizagem? Quais são os processos que a envolve? O que faz o ser humano realmente aprender e praticar seu conhecimento? Parece algo automático, mas não é. Aprender é um processo comple- xo que envolve diferentes fatores, e eles podem contribuir ou não para que a aprendizagem aconteça. Todos os fatores ligados à aprendizagem estão relacionados inicial- mente ao desenvolvimento do cérebro. É esse órgão que rege todas nossas funções e comanda nossa forma de pensar e agir. Conhecer seu funcionamento e compreender a importância da memória nos traz um grande diferencial diante do trabalho e da interação para favorecer a aprendizagem. No processo de aprender, tanto os estímulos do ambiente quanto o vínculo afetivo são fundamentais para proporcionar ao cérebro diferentes vivências. São esses fatores que possibilitam torná-lo ainda mais capaz de assimilar conhecimento e de vivenciá-lo em forma de ações no dia a dia. Durante o processo de assimilação do conhecimento, devemos ainda ter a certeza de que ele não ocorre da mesma maneira para todas as pes- soas. Cada ser humano, a partir de seu desenvolvimento, seus estímulos e suas experiências vividas, possui seu próprio estilo de aprendizagem. Por isso, neste primeiro capítulo vamos compreender a aprendiza-gem e como ela acontece, relacionando-a com o desenvolvimento ce- rebral e os diferentes estímulos necessários para a progressão do ato de aprender. Em seguida, vamos refletir sobre como a afetividade faz parte do processo de aprendizagem e influencia sua forma de acon- tecer. Por fim, vamos conhecer os diferentes estilos de aprendizagem que fazem com que nos tornemos tão únicos e especiais, cada um a seu modo, na forma de ser, agir, pensar e aprender. 1.1 Definição de aprendizagem Vídeo A aprendizagem é um processo muito especial. Ela pode ser vista e analisada por diferentes perspectivas, além de ser influenciada por diferentes situações e ambientes vivenciados durante o processo de desenvolvimento. O ato de aprender estabelece uma relação do ser humano com o mundo, a fim de compreendê-lo e transformá-lo ao longo de sua vida. Dessa forma, a cada nova aprendizagem o ser humano se modifica e é capaz de modificar também seu meio. Mas como podemos definir a aprendizagem? Para compreendermos e analisarmos a aprendizagem, podemos interpretá-la por meio de dois conceitos principais, de diferentes teóri- cos, que a estudam com com base em linhas distintas de pensamentos. O primeiro conceito é o da visão comportamental, ou behaviorista. Essa abordagem considera a função de modelar e controlar as ações das pessoas como uma função dos estímulos do meio ambiente. De acordo com Portilho (2011), para os pesquisadores dessa corrente, o mais importante é o estudo daquilo que se pode constatar empirica- mente, isto é, a consistência da pesquisa está na conduta observável e em suas consequências. Nessa corrente, podemos ter como referência Ivan Pavlov (1849-1936) e Burrhus F. Skinner (1904-1990). Na perspectiva comportamental, devemos considerar que todos os fatores ambientais, como a interação social e as experiências práticas, podem constituir e modificar o comportamento huma- no. São esses os elementos responsáveis pelas experiências das transformações de nosso modo de ser e agir. A outra concepção é a cognitivista, para a qual é atribuída a conduta dos seres humanos, não mais os aspectos ambien- tais externos, mas sim certas estruturas Compreender a definição de aprendizagem humana. Objetivo de aprendizagem 1010 Transtornos e dificuldades de aprendizagemTranstornos e dificuldades de aprendizagem Liderina/Shutterstock Processos de aprendizagem 11 mentais complexas e determinados mecanismos de caráter interno (PORTILHO, 2011). Para os teóricos dessa corrente, o ser humano se desenvolve “de dentro para fora”; é seu desenvolvimento neurológico e biológico que possibilita as interações e a aprendizagem. Nessa concepção, podemos considerar autores como Lev Vygotsky (1896-1934), Jean Piaget (1896- 1980), entre outros. Nos caminhos percorridos para o processo de aprender, muitas são as influências que o compõem, sendo elas internas ou externas. Nesse percurso, um fator importante é a contribuição da psicologia para a pedagogia. Ao pensarmos na aprendizagem escolar, essa contri- buição veio para que houvesse uma modificação no ensino tradicional, uma vez que trouxe a ideia do aluno como agente de sua aprendiza- gem, deixando, assim, de ser considerado como um ser passivo ao en- sino do professor, modificando a fórmula: aluno aprende, professor ensina; com base na qual a educação se desenvolveu por muito tempo. Seja em uma concepção comportamentalista, cognitivista ou, então, voltada para a contribuição da psicologia, podemos entender a apren- dizagem como um processo complexo e repleto de possibilidades. E quando a aprendizagem começa a acontecer? Desde o desenvolvimento intrauterino, bilhões de células chamadas neurônios se desenvolvem e formam o sistema nervoso, o que torna possível todo o restante do desenvolvimento humano. Após o nasci- mento, a criança começa a descobrir o mundo e, partindo disso, sur- gem as primeiras representações de aprendizagem. Das contribuições e dos autores citados, aquilo que mais nos dire- ciona para a compreensão desse processo evolutivo são as fases do desenvolvimento apresentadas por Piaget (1999). Porém, devemos compreender que Piaget tratou de maneira distinta a aprendizagem e o desenvolvimento, pois são conceitos diferentes. O desenvolvimento é algo mais complexo, não se trata somente de desenvolvimento físico, mas também do amadurecimento do sis- 12 Transtornos e dificuldades de aprendizagem tema nervoso e das funções mentais. Ao contrário da aprendizagem, que acontece por meio de uma mediação, o professor exerce a fun- ção do mediador, o que amplia as possibilidades de aprendizagem desse ser humano. Dessa forma, compreender as fases do desenvolvimento apre- sentadas por Piaget nos leva a pensar sobre quais são as influências positivas que podem ser disponibilizadas em cada fase para que a aprendizagem ocorra. Cada uma delas representa um avanço, fazen- do com que a criança desenvolva novas habilidades e possibilitando que ela evolua e aprenda mais. Vamos conhecer, então, cada uma dessas fases? Estas são chama- das também de estágio do desenvolvimento, segundo Piaget (1999), e possuem uma idade aproximada para que o desenvolvimento ocor- ra. Temos, portanto, os seguintes estágios: • Sensório-motor: do nascimento aos 18 meses de idade. • Pré-operatório: dos 18 meses aos 6 anos de idade. • Das operações concretas: dos 6 aos 12 anos de idade. • Das operações formais: a partir dos 12 anos de idade. O estágio sensório-motor refere-se ao momento que a criança mais necessita de contatos sensoriais que a apresentem ao mundo e proporcionem seu desenvolvimento motor. Nessa fase, inicia-se a capacidade de imitação, tão importante para os processos de apren- der, uma vez que gera novos conhecimentos ao apresentar formas diferentes de agir e interagir. No estágio pré-operatório a criança, agora em fase de educa- ção infantil, tem a capacidade de reconhecer símbolos (base inicial para o processo de alfabetização) e interagir com eles. A representa- ção da realidade e a aprendizagem são externalizadas por meio das brincadeiras de faz de conta e jogos realísticos. Começa nessa fase, também, a regulação das emoções. O estágio das operações concretas é um marco nas questões da ampliação no processo de compreensão de regras e estratégias, que, em forma de brincadeiras, contribuem para sua estrutura de pensamento, que agora está cada vez menos egocêntrica e mais vol- Processos de aprendizagem 13 tada para as interações sociais. A criança tem uma lógica indutiva que consegue relacionar sua experiência com outros fatores apren- didos, por isso, nesse estágio, ocorre um grande amadurecimento no que se refere às estratégias para desenvolver a memória. Com o desenvolvimento desse estágio, a criança já possui base e condições para compreender e interagir com situações-problema e trabalhar com lógica. A maturidade do pensamento abre diversas possibilida- des para a aprendizagem e para ingressar em um mundo adolescen- te, com novos desafios. Já o estágio das operações formais, corresponde ao momento em que todas essas fases já foram superadas e o sujeito possui condições de aprender e interagir com essa aprendizagem de diferentes formas na sua vida prática Cada um desses estágios representa um marco no desenvolvi- mento humano em ampliação de capacidades motoras, cognitivas e afetivas. Por isso, requer atenção especial nos momentos de estímu- los a serem trabalhados, para levar a criança à evolução das fases. Mas e quando esse desenvolvimento não ocorre dentro do espe- rado? E quando aparecem lacunas ou dificuldades? Essas são ques- tões que abordamos na sequência, buscando compreender esses obstáculos e saber como agir diante deles. Para complementar as ideias apresentadas nesta seção, recomendamos a leitura do livro Como se aprende? Estratégias, estilos e metacognição, de Evelise Portilho. O livro tem como foco diferentes noções do entendimento do conceito de aprendizagem e suasdiferentes possibilidades. PORTILHO, E. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. Livro 1.2 O cérebro e a aprendizagem Vídeo Já sabemos que ao pensarmos em aprendizagem podemos imagi- nar todos os fatores que estão envolvidos nesse processo. Esses fato- res podem ser sociais, escolares, emocionais e de estímulos do meio. No entanto, para compreender como a aprendizagem ocorre, é neces- sário discutirmos sobre o cérebro e o sistema nervoso central (SNC). Podemos, inicialmente, relacionar a aprendizagem à memória, que é uma das principais habilidades proporcionadas pelo SNC. A partir do momento que o que foi vivenciado se torna parte da nossa memória, é possível considerarmos que ocorreu a aprendizagem. O aprender se torna significativo no momento em que se modificam os mecanismos do sistema nervoso central. Relacionar a aprendiza- gem com o desenvolvi- mento cerebral. Objetivo de aprendizagem 14 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Im ag eF low /S hu tte rs to ck Porém, a aprendizagem é determinada também pelo número de neurônios disponíveis. Todos somos capazes de aprender, e, no caso dos seres humanos, esse número é suficiente para permitir a formação de novas conexões que possibilitam a aprendizagem. A essas novas conexões damos o nome de sinapses. Desde o nasci- mento e durante o processo de desenvolvimento humano muitas sinapses acontecem a favor da aprendizagem, principalmente nos primeiros anos de vida, quando a produção de neurônios é rápida e crescente. Do nascimento aos 2 anos de idade é o momento em que mais ocorre a produção de neurônios. Em outros termos, esse é o momento de maior facilidade para assimilação de novas experiências. Esse desenvolvimento transcorre gradativamen- te, e por volta dos 6 anos de idade o cérebro atinge seu tamanho final. A partir daí seu de- senvolvimento vai ocorrendo de maneira mais lenta. É por essa razão que é importante estimular a criança até essa faixa etária, por ser mais fácil de o cérebro se mo- dificar. Sendo o SNC responsável pelo funcionamento cognitivo, os estímulos serão reflexos do desenvolvimento para a vida toda. M at tL ph ot og ra ph y/ Sh ut te rs to ck Processos de aprendizagem 15 Por isso, é importante sabermos também que o funcionamento cognitivo se desenvolve no córtex, o qual possui zonas específicas, denominadas lobos, em cada um dos dois hemisférios cerebrais (Fi- gura 1). Figura 1 Desenvolvimento dos neurônios do nascimento até os 2 anos Lobo frontal Lobo parietal Lobo occipital Bi gM ou se /S hu tte st oc k Lobo temporal Al ex S wi m /S hu tte rs to k Frontal: responsável pelo pensamento, planejamento, decisão, juízo, criatividade, resolução de problemas, comportamento, valores, hábitos. Parietal: responsável pela informação sensorial (tato, dor, gustação, pressão, temperatura). Temporal: responsável pela audição, linguagem, memória e emoção. Occipital: responsável pela informação visual. Fonte: Elaborada pela autora. O desenvolvimento dessas habilidades será por meio das experiên- cias vividas e dos estímulos proporcionados para a criança ao longo de seu crescimento. 16 Transtornos e dificuldades de aprendizagem A modificação na função cerebral depende das experiências vividas e dos estímulos investidos na primeira infância. A atenção ao desenvolvi- mento nesse momento é essencial para o amadurecimento do cérebro. Se o cérebro determina a maneira e a qualidade da capacidade de aprendizagem de uma criança, ter o conhecimento de como essa apren- dizagem pode ser otimizada, por meio de estratégias neuroeducativas, é uma ideia desejável (MAIA, 2011). Essa ideia justifica a aproximação da neurociência com a educação, a qual pode ser considerada algo re- cente e que vem trazendo ótimas experiências para aqueles que traba- lham com a aprendizagem. De que se tratam essas estratégias neuroeducativas? Inicialmente, trata-se de conhecermos as áreas de nosso cérebro responsáveis pela aprendizagem. Algumas delas são citadas por Levine (2003): • Controle da atenção: capacitar para a concentração de recursos mentais. • Controle da recepção: capacitar para retardar a recompensa e se tornar processador ativo da informação. • Controle da expressão: capacitar para pensar sobre alternativas. • Ordenação sequencial: capacitar para agir passo a passo. • Orientação espacial: capacitar para se engajar no pensamento não verbal produtivo. • Memória: capacitar para usar seus arquivos 1 de modo consciente. • Linguagem: capacitar para se tornar comunicador verbal eficiente. • Motricidade: capacitar para um nível satisfatório de eficiência motora. • Pensamento social: capacitar para compreender as habilidades interpessoais. • Pensamento superior: capacitar para se tornar analista concei- tual, criativo, sistêmico e crítico. Para ampliar e sistema- tizar os conhecimentos desta seção, recomenda- mos o vídeo Neurociência na aprendizagem escolar, do canal Gabriel Sathler, com a fala da Professora Marta Relvas. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=M5F2S5D5CDE. Acesso em: 21 set. 2021. Vídeo A palavra arquivos nesse contexto, se refere a todas as informações que o indivíduo vivenciou e guarda em sua memória. Um arquivo de suas recor- dações e aprendizagens. 1 Para ampliar e sistematizar os conhecimentos dessa sessão, recomendamos o vídeo Neurociência na aprendizagem escolar, do canal Gabriel Sathler, com a fala da Professora Marta Relvas, intitulado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=M5F2S5D5CDE. Acesso em: 10 set. de 2021. Para ampliar e sistematizar os conhecimentos dessa sessão, recomendamos o vídeo Neurociência na aprendizagem escolar, do canal Gabriel Sathler, com a fala da Professora Marta Relvas, intitulado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=M5F2S5D5CDE. Acesso em: 10 set. de 2021. Para ampliar e sistematizar os conhecimentos dessa sessão, recomendamos o vídeo Neurociência na aprendizagem escolar, do canal Gabriel Sathler, com a fala da Professora Marta Relvas, intitulado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=M5F2S5D5CDE. Acesso em: 10 set. de 2021. Processos de aprendizagem 17 Jacob Lund/Shutterstock Conhecer essas competências cognitivas e saber estimulá-las fará toda a diferença para a aprendi- zagem; essa, vale ressaltar, é uma preocupação daqueles que tra- balham com a aprendizagem. As competências cognitivas podem ser desenvolvidas por meio de estímu- los que constituem o desenvolvi- mento humano, conforme veremos no tópico a seguir. 1.3 Estímulos para a aprendizagem Vídeo Já sabemos da importância e da necessidade de desenvolver atenção, recepção, expressão, ordenação espacial e sequencial, memória, linguagem, motricidade e pensamento social e superior para que a aprendizagem aconteça. Para isso, podemos entender os estímulos como um fator que impulsiona e incentiva o ser humano a aprender. Esses estímulos estão presentes no meio em que vivemos e podem ser experien- ciados por meio de brincadeiras, jogos, trocas de afeto, conversas e outras situações que motivem a criança em todas as fases do de- senvolvimento. Esses estímulos precisam estar presentes em todos os ambientes de convívio da criança, ou seja, tanto em casa, com a família, quanto na escola. Situações educativas por meio desses momentos vão fazendo parte de um ambiente motivador e estimulante, que leve a criança a aprender de maneira tranquila, espontânea e contínua, e tam- bém a armazenar e transformar o que vivenciou em seus momen- tos de aprendizagem. Por meio dos estímulos, desde o primeiro ano de vida, a criança passa a se identificar como ser ativo no ambiente e a identificar o outro. “É por meio dos primeiros cuidados que a criança per- cebe seu próprio corpo como separado do outro, organiza suas emoções e amplia seus conhecimentos sobre o mundo” (BRASIL, 1998, p. 15). Reconhecer os diferentes estímulos de base para a aprendizagem. Objetivo de aprendizagem18 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Zalena Photo/Shutterstock Sabemos que esses primeiros cuidados podem ser trata- dos como estímulos e que eles afetam diretamente a formação da personalidade da criança, bem como abre portas para sua predisposição ao aprender. Nossas funções cerebrais estão abertas a esses estímulos, prin- cipalmente na infância, fase em que os neurônios estão aguar- dando por novas experiências e novos estímulos que os façam aprender e se desenvolver. Porém, devemos ter ciência de que a quantidade de estímulos é adequada e dosada conforme o crescimento e o desenvolvimento da criança. O indicador da faixa etária traz diferentes possibilidades de trabalho; um exemplo é a fase até os 6 meses de idade, em que o toque é de grande importância. Uma possibilidade é trabalhar com brincadeiras que envolvam o corpo, como massagens suaves nos braços e pernas, e trabalhar estímulos auditivos por meio de chocalhos e outros brinquedos que proporcionem diferentes sons. Aproximadamente a partir dos 6 meses a 1 ano de idade, a crian- ça já pode ser estimulada a segurar objetos e sentir diferen- tes texturas, sentar, engatinhar, andar com apoio, montar e desmontar cubos. Do primeiro até aproximadamente o segundo ano de idade, a criança já começa a correr, subir e descer escadas, empilhar blocos, montar e desmontar. Per- cebe-se até aqui que a aquisição de habilidades por meio dos estímulos é gradativa e depende da finalização da fase anterior para que a próxima venha a acontecer. O desenvolvimento motor se torna cada vez mais visível. Dos 2 aos 3 anos de idade a criança já pedala, dança, rabisca linhas horizontais e tem capacidade de participar da organização de brinque- dos. Esses estímulos são essenciais para a elaboração prévia de uma organização mental, que mais tarde refletirá em seus costumes na or- ganização dos estudos e do planejamento de seu dia a dia. Já dos 3 aos 4 anos de idade, a criança deve ser estimulada a pu- lar com desenvoltura, desenhar pessoas (ainda incompletas) e come- çar a copiar e se interessar por letras. O faz de conta de escrever traz a primeira expectativa em transformar suas mensagens em escrita. Nessa faixa etária, a criança também monta e desmonta pequenos quebra-cabeças. Processos de aprendizagem 19 Do quarto ao sexto ano de idade, a criança tem a habilidade e pode ser estimulada a permanecer em um pé só, além de já desenhar pessoas completas, escrever letras e reconhecer diferentes pesos e tamanhos. Essas simples habilidades, ao serem estimuladas na fase certa, trazem um grande diferencial para a concretização das bases para a aprendi- zagem. No entanto, devemos ter a ciência de que esses estímulos são apenas alguns exemplos do que cada criança é capaz de desenvolver em cada fase, se estimulada. O ser humano é formado por elementos mais complexos, que necessitam de estímulos diferenciados para se desenvolver. Nessa perspectiva podemos considerar os seguintes estímulos: Pu ck un g/ Sh utt erstock São aqueles relacionados ao desenvolvimento emocional da criança, a maneira como se sente e lida com as emoções durante sua interação, seus sentimentos, seus desejos e suas ansieda- des. Os estímulos afetivos são importantes e necessários, uma vez que a criança precisa aprender a lidar com cada um deles. Estímulos afetivos Cu be 29 /S hu tter stock Coordenação motora, lateralidade e o psicomotor, estão voltados aos movimentos. Além de aprimorar o conhecimento do próprio corpo e o ritmo dele, auxilia na socialização e são pré-requisitos importantes para o desenvolvimento da escrita. Estímulos físicos Al in aP ol in a/ Sh utt erstock Compreendem a base para a aprendizagem: a atenção, a memó- ria, a criatividade, a curiosidade, a linguagem, os pensamentos, a observação, a leitura e o raciocínio. O desenvolvimento desses fatores dá suporte para as ações de pensar, refletir, desenvolvi- mento do senso crítico e enriquecimento de ideias. Estímulos cognitivos Su do wo od o/ Sh utt erstock Trata-se do desenvolvimento dos sentidos auditivo, visual, olfati- vo, tátil e gustativo. Esses estímulos aprimoram a leitura de mun- do da criança, são base para a aprendizagem por contribuirem para a construção do conhecimento e da personalidade. Estímulos sensoriais Percebemos, assim, o quanto os estímulos são necessários e es- senciais para desenvolver diferentes habilidades na criança, e que esse trabalho em cada fase cria uma base que sustentará toda a aprendizagem humana. Com o filme Ao mestre, com carinho, você conhe- cerá a história de Mark Thackeray, um engenheiro desempregado que resol- ve dar aulas em Londres, para alunos brancos, em uma escola no bairro operário de East End. Os alunos são indisciplina- dos, desordeiros e estão determinados a destruir suas aulas. Porém, Thackeray enfrenta o desafio e, ao receber um convite para voltar a atuar como engenheiro, precisa decidir se pretende seguir como mestre ou voltar ao antigo cargo. Podemos relacioná-lo com a habi- lidade do professor de focar o estilo de cada um aprender a se desenvol- ver e mudar suas formas de pensar e agir. Direção: James Clavell. Inglaterra: Columbia British Productions, 1967. Filme 20 Transtornos e dificuldades de aprendizagem E quando os estímulos são empregados de maneira inadequada? Ou, então, esses estímulos não ocorrem? A falta de estímulo, seja por qualquer motivo, pode causar pre- juízos para o desenvolvimento infantil, pois leva à perda de expe- riências necessárias para cada idade. Por exemplo, a criança que em casa brinca pouco terá mais dificuldade para interagir com diferen- tes objetos, socializar e até mesmo explorar diferentes formas de brincar na escola. É por essa razão que ações voltadas aos estímulos afetivos, cogni- tivos, físicos e sensoriais devem ser trabalhadas de modo integrado e contínuo ao longo do desenvolvimento da criança. Isso deve con- tribuir para a formação de sua personalidade, para a construção do conhecimento e para torná-la mais ativa, motivada a realizar tarefas com autonomia e confiança em si. O desenvolvimento de apenas um estímulo e a defasagem de outros não garante a aprendizagem e o desenvolvimento de maneira efetiva. 1.4 Afetividade e aprendizagem Vídeo Os bons relacionamentos, a troca de ideias positivas, sentir-se aco- lhido e parte de um meio social são sentimentos que fazem bem ao ser humano. Todas essas ações envolvem e podem ser representadas por uma palavra: afeto. Você já parou para pensar qual o verdadeiro sentido da palavra afeto? E por que a afetividade está relacionada à aprendizagem? Para Antunes (2008), o ser humano nasce extremamente imaturo o que afeta suas chances de sobrevivência, dessa forma, necessita da presença do outro, e essa necessidade chamamos de amor. O instinto de sobrevivência e a percepção da necessidade de proteção despertam esse sentimento na mãe e no pai, gerando a reciprocidade desse amor, e isso denominamos de afetividade. Esse sentimento implica viver em grupo, expandindo a afetividade de um para o outro. Compreender a importân- cia da afetividade para a aprendizagem. Objetivo de aprendizagem Processos de aprendizagem 21 Nesse sentido, podemos relacionar a palavra afeto ao ato de cuidar, afetar a ponto de interferir em seu processo de aprender e interagir. Es- ses momentos, em que o ato de afetar se apresenta ao indivíduo, podem causar também sensações, as quais será necessário afetar a fim de ensi- nar a lidar, por exemplo, ao se frustrar, contrariar para, então, consequen- temente aprender a lidar com sentimentos negativos também. Dessa forma, a afetividade pode ser considerada uma dinâmica relacional, que proporciona crescimento e aprendizagem de diferentes situações. A afetividade é algo extremamente relevante na vida das pessoas desde o nascimento, e deve ser considerada como fator importante na construção da autoestima, pois é por meio dela que adquirimos con-fiança no modo de pensar e agir, na forma como resolvemos e enfren- tamos problemas. A autoimagem bem construída leva à confiança de se relacionar e de aprender. Assim, a escola constitui-se como um importante ambiente de tro- cas e construção de afetividade. Sabemos que o professor, desde mui- to cedo, representa uma referência para a criança e que uma relação positiva entre eles traz ao aluno a sensação de maior valor, confiança e aprovação para o que executa. Além disso, proporciona liberdade de interação, alegria e entusiasmo para buscar conhecimento. Esse é o verdadeiro sentido do ato de afetar. A afetividade está relacionada à preocupação com o próximo, com sua aprendizagem e bem-estar, além de tornar próximo e acessível esse momento de desenvolvimento. De acordo com Antunes (2008), o professor muitas vezes é quem melhor pode ajudar o aluno a desenvolver e descobrir suas qualidades e seus talentos, surpreender-se com a responsabilidade, a disciplina e a felicidade. O papel da escola é fundamental no desenvolvimento so- cioafetivo da criança, ela auxilia no estabelecimento da relação com o outro para o desenvolvimento da aprendizagem. Nossa vida afetiva, desenvolvida em diferentes ambientes inclusive no escolar, faz-nos também assimilar valores ao longo da vida. Para Wallon (1978) – um dos principais estudiosos sobre a afetividade –, é partindo de suas próprias experiências que a criança se torna capaz de distinguir e reconhecer aquilo que está ou não de acordo com suas ex- pectativas e necessidades, levando, consequentemente, ao aprendizado. Wallon (1978) ressalta a importância das experiências para a apren- dizagem. Lidar com elas é uma construção que envolve afetividade, pois esta impulsiona a ação e leva à concepção da inteligência, além de O livro Afetividade e aprendizagem: contri- buições de Henri Wallon discute a afetividade no cotidiano escolar, apresentando pesquisas que se apoiaram na teoria de desenvolvimento de Henri Wallon. Segundo os estudos destacados, em todos os níveis de ensino – do fundamental ao superior –, alunos e professores se expressam por inteiro com cognições, sentimentos e movimen- tos. Assim, o processo de ensino-aprendizagem se enriquece à medida que considera a integração cognitiva-afetiva-motora. ALMEIDA, L. R. A.; MAHONEY, A. A. São Paulo: Loyola, 2007. Filme 22 Transtornos e dificuldades de aprendizagem possibilitar ao ser humano como identificar os desejos e sentimentos que o levarão ao sucesso diante de suas ações e decisões. O sentimento de insucesso e reprovação de suas capacidades com- promete o desempenho ao aprender, impossibilitando a espontanei- dade e a forma de se desenvolver. Valorizar o desempenho da criança torna-se, assim, o papel principal do professor e de outros profissionais que a acompanham e da família, lembrando que cada um aprende e se desenvolve à sua maneira. 1.5 Estilos de aprendizagem Vídeo Cada ser humano é único em sua forma de ser, pensar, agir e aprender. Você já parou para pensar qual é seu estilo de aprender? Como e por qual cami- nho assimila melhor os conhecimentos? Essas individualidades são percebidas desde a infância e se des- tacam ainda mais à medida que o ser humano vai se desenvolvendo e passando por diferentes experiências que o aproximam das for- mas que para ele são as mais fáceis de aprender, pois as diferenças pessoais se acentuam com o passar do tempo, sendo mais evidentes na vida adulta. Essas diferenças são caracterizadas devido aos estímulos e ao desen- volvimento pelo qual essa pessoa passou. Entendemos o termo estilos de aprendizagem – que ainda se apresenta como algo amplo – como um objeto de pesquisas e novas possibilidades a cada investigação. De acordo com algumas teorias, existem pessoas que respondem melhor a alguns estímulos, ou seja, a maneira como elas compreen- dem algo quando é ensinado se difere uma da outra. Ao longo da vida, as pessoas estão em constante processo de aprendizagem. Para alguns, esse processo é mais fácil de ser assimi- lado, para outros, nem tanto, ou pelo menos não encontraram sua forma específica de aprender. Identificar os diferentes estilos de aprendizagem. Objetivo de aprendizagem Processos de aprendizagem 23 Considerando que a aprendizagem é um processo individual (cada ser humano aprende à sua maneira), por mais que ocorra com influên- cia da coletividade, estabelece, com ela, conexões de maneira única e de acordo com seu próprio desenvolvimento. Para compreendermos melhor esses estilos de aprendizagem, par- tiremos dos conceitos originais dos estudos de Neil Fleming e Charles Bonwell (apud PORTILHO, 2011). Os estilos são divididos em quatro gru- pos: visual, auditivo, leitura e escrita e cinestésico, descritos a seguir. 1. Visual: maior facilidade para aprender com estímulos visuais, por meio de gráficos, tabelas, mapas mentais, listas, que possibilitem a visualização e a assimilação da informação. Geralmente também expressam melhor o que sabem por meio de resoluções visuais. 2. Auditivo: ouvir vai de encontro a esse perfil. Como a leitura nem sempre pode ser suficiente, realizá-la em voz alta para estimular a sensibilidade auditiva para conseguir memorizar, contar sobre o que aprendeu e discutir sobre esses temas também são boas estratégias de aprendizagem. 3. Leitura e escrita: a escrita aparece como um fator em destaque. Esse estilo consegue representar com facilidade suas ideias na forma escrita, com textos e redações, por exemplo. Também conseguem assimilar com mais facilidade por meio de anotações escritas no momento de aprender. 4. Cinestésico: esse perfil precisa aprender na prática, com estímulos externos para compreender novas aprendizagens. As experiências concretas estão relacionadas a simulações, demonstrações e dinâmicas. É importante ressaltarmos que essa teoria também considera que existem pessoas multimodais, ou seja, pessoas que, no momento da aprendizagem, se adaptam a qualquer um dos estilos que a elas pos- sam ser oferecidos. Outra teoria, também dividida em quatro grupos, é a de David Kolb (1984). Para o autor, esses estilos se dividem em adaptadores ou aco- modadores, assimiladores, divergentes e convergentes; que podem ser representados por meio da Figura 3. 24 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Experiência concreta Conceitualização abstrata Conhecimento divergente Conhecimento assimilador Observação reflexiva Experimentação ativa Conhecimento adaptativo Conhecimento convergente ApreensãoApreensão CompreensãoCompreensão Ex te ns ão Ex te ns ão Intenção Intenção Figura 2 Formas de conheci- mento dos estilos de aprendizagem Fonte: Adaptada de Kolb, 1984. Vamos compreendê-los de modo mais detalhado: • Adaptadores ou acomodadores: são pessoas que aprendem por meio de experiências de tentativa e erro. Utilizam mais a in- tuição do que a lógica. • Assimiladores: preferem trabalhar com as teorias e não tanto com a prática. Possuem habilidades com ideias abstratas e núme- ros. São menos sociáveis e preferem analisar e refletir sozinhos. • Divergentes: têm criatividade e imaginação, elaboram diferentes teorias com base em uma mesma situação. Trabalham bem em grupo e gostam de diferentes sensações e observações. • Convergentes: maior facilidade para praticar suas ideias, tomar decisões e resolver problemas. Dentro desses diferentes estilos, tratados em diferentes teorias, cabe ressaltarmos que o trabalho com eles é sempre uma tarefa desa- fiadora, uma vez que adaptações precisam ser realizadas para alcançar cada forma diferente de aprender. CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos neste capítulo o quanto o processo de aprender é complexo e, ao mesmo tempo, tão especial. Ao envolvermos diferentes possi- bilidades de aprendizagem, podemos relacioná-la com o desenvolvi- Como momento de aprofundamento desta seção, convidamos você a analisar as características de sua forma de aprender assistindo ao vídeoTipos de aprendizagem: que tipo de aluno você é?, do canal Professor Ricardo Alencar Matemática. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=pIyMc2yz1CM. Acesso em: 21 set. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=pIyMc2yz1CM https://www.youtube.com/watch?v=pIyMc2yz1CM https://www.youtube.com/watch?v=pIyMc2yz1CM Processos de aprendizagem 25 mento do sistema nervoso central e a importância dos estímulos que tornam esse processo mais ativo, além da afetividade, a qual torna o indivíduo mais confiante e disposto a aprender. Devemos considerar o fato de lidar com os obstáculos que possam surgir e, com isso, tam- bém conhecemos os estilos de aprendizagem, o quais nos tornam tão únicos e especiais ao seu modo de desenvolver a aprendizagem. Compreender todos esses caminhos que levam à aprendizagem nos traz uma base para seguirmos em busca da compreensão dos fatores que apresentam as dificuldades e os obstáculos durante esse processo. ATIVIDADES Atividade 1 Discutimos, no início do capítulo, que existem duas concepções de aprendizagem: a comportamentalista e a cognitivista, que nos levaram a refletir sobre como acontece a aprendizagem. Vimos, ainda, que a psicologia trouxe grande contribuição para a aprendizagem escolar. Relate qual foi essa contribuição e exponha sua opinião sobre essa modificação. Atividade 2 Conhecemos e analisamos as diferentes formas de estímulos necessárias para que o desenvolvimento humano e a aprendiza- gem aconteçam. Escreva quais são essas formas de estímulos. Destaque e comente aquela que, pessoalmente, torna-se a mais relevante para o desenvolvimento da criança. Atividade 3 Conceitue o que é a afetividade para Wallon e relate uma expe- riência afetiva que marcou seu processo de aprendizagem ao longo de seu desenvolvimento. REFERÊNCIAS ANTUNES, C. Como ensinar com afetividade. São Paulo: Ática, 2008. BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: formação pessoal e social. Brasília, DF: MEC; SEF, 1998. v. 2. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/ pdf/volume2.pdf. Acesso em: 15 set. 2021. KOLB, D. Experiential learning. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1984. LEVINE, M. Educação Individualizada. Rio de Janeiro: Campus, 2003. MAIA, H. Funções cognitivas e aprendizagem escolar. In: MAIA, H. (org). Neurociência e desenvolvimento cognitivo. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011 PORTILHO, E. Como se aprende? Estratégias, Estilos e Metacognição. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. WALLON, H. Do ato ao pensamento. Lisboa: Moraes, 1978. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf 26 Transtornos e dificuldades de aprendizagem 2 Dificuldades de aprendizagem O processo de aprendizado leva tempo para ocorrer, mas e quando ele não acontece como esperado? Neste capítulo refletiremos sobre esses momentos de desenvolvimento. Cada ser humano é único em sua forma de ser, agir, pensar e aprender. Essas diferenças são produtivas para a ampliação de conhecimento e socia- lização. No entanto, algumas vezes, surgem no processo de aprendizagem em forma de obstáculos que precisam ser diagnosticados, vistos e orien- tados de modo correto e significativo para a criança, fazendo com que ela aprenda e desenvolva-se normalmente. As dificuldades ou os transtornos de aprendizagem, como dislexia, discalculia, entre outros, surgem por fatores pedagógicos, sociais e cul- turais. Ainda podem ser genéticos e neurológicos, ou seja, acompanham a pessoa desde o nascimento. É preciso que, independentemente de sua ordem, esses fatores sejam compreendidos por todos os envolvi- dos com o trabalho na escola e fora dela. Em todas as situações que envolvam dificuldades é crucial contar com profissionais de apoio que auxiliem no convívio social, em adequações no ambiente e, em alguns casos, no mercado de trabalho. Conheceremos a definição e os principais elementos que caracterizam a dislexia, a disortografia, a disgrafia e a discalculia e, dessa forma, busca- remos, durante o estudo, fazer conexões com fatos ocorridos em sala de aula, de modo a auxiliar o trabalho do professor. Analisaremos as principais dificuldades de aprendizagem, a fim de que você consiga ampliar o seu olhar para as pessoas que apresentam essas dificuldades. 2.1 Dificuldades de aprendizagem: causas e tipos Vídeo É de extrema importância que compreendamos a nomenclatura do que estamos estudando ao nos referirmos a dificuldades, transtornos ou distúrbios de aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem, tema deste capítulo, são aquelas que apresentam barreiras e defasagens para o desenvolvi- Bi lli on P ho to s/ Sh ut te rs to ck Ka m el ia Il ie va /S hu tte rs to ck mento da aprendizagem. Surgem no percurso, devido ao fato de que algo ficou para trás na automatização e aquisição da aprendizagem. Porém, segundo Fonseca (1995), a criança com dificuldade de aprendizagem não deve ser vista como deficiente, mas sim como uma criança como qualquer outra, que apresenta um ritmo diferente, uma defasagem ou algo diferenciado na forma de aprender. Questões sociais, culturais, afetivas, de vínculo escolar e de adaptação a metodologias podem ter influência nas dificuldades e nos problemas ao aprender a ler, escre- ver, calcular, falar, se organizar e até mesmo socializar. Já os transtornos de aprendizagem ou distúr- bios de aprendizagem têm origem genética ou neurológica, acompanhando o indivíduo por toda a vida. Ao longo do desenvolvimento, característi- cas consideradas diferentes, ou seja, que nem sempre estão de acordo com a faixa etária da criança, vão sendo percebidas, e a falta de manejo 1 desses distúrbios gera dificuldades de aprendizagem. Vamos usar como exemplo uma criança disléxica. Na escola ela é obrigada a escrever muitas vezes as mesmas informações para superar seus erros. Ocorre que se a escola não possui o diagnósti- co e não traça formas de trabalho adequadas, a criança irá escrever incessantemente, sem ter de fato alguma mudança em sua apren- dizagem. Essa atitude, na verdade, causa cansaço e frustração, e a criança continuará cometendo erros, pois precisa de outro tipo de abordagem. Isso acaba gerando um constrangimento que, aliado aos demais sentimentos, não agrega à aprendizagem. É necessário co- nhecer as características do sujeito disléxico e desenvolver práticas que realmente o auxiliem em sua caminhada escolar. Reconhecer as causas e os tipos de dificuldades de aprendizagem. Objetivo de aprendizagem A falta de manejo refere-se às diferentes estratégias que podem ser utilizadas na escola, as quais buscam uma solu- ção equivocada para pro- blemas de aprendizagem. 1 Dificuldades de aprendizagemDificuldades de aprendizagem 2727 28 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Por isso, o diagnóstico e a intervenção precoces são o melhor ca- minho para proporcionar um bom desenvolvimento a essas crianças. Para o diagnóstico, é necessária a avaliação psicopedagógica, que será o ponto de partida para a compreensão das características cogniti- vas da criança. Assim que ocorre o diagnóstico, professores e famílias podem ser orientados para trabalhar adequadamente e proporcio- nar, com base nas dificuldades desses alunos, o desenvolvimento e a aprendizagem. Uma criança com problemas atencionais, por exemplo, tem dificuldade em manter o foco por muito tempo em uma mesma tarefa, desse modo, a estratégia deve proporcionar atividades de curta duração para aproveitar melhor seu tempo de concentração. De acordo com Morais (2006, p. 23), “deve ficar claro que a aprendi- zagem da leitura e escrita é um processo complexo, que envolve vários sistemas e habilidades (linguísticas, perceptuais, motoras, cognitivas), e não se pode esperar, portanto, que um determinado fator seja o único responsável pela dificuldade de aprender”. Nesse sentido, a criança com dislexia não deve ser vista apenas como aquela que possui umfator de desordem no seu desenvolvimen- to, e sim como alguém que tem uma série de habilidades que apenas estão desalinhadas e devem ser acompanhadas e estimuladas para o processo de aprendizagem. Por isso, após diagnosticados e identificados quais fatores sus- tentam o desenvolvimento e quais estão impedindo a aprendizagem (motor, linguístico, afetivo, cognitivo ou perceptual), todo o trabalho di- recionado a essa criança passa por uma reestruturação. Esse processo se dá na adequação escolar do currículo e de metodologias que otimi- zem o desenvolvimento da aprendizagem e socialização. Existem muitas dificuldades e transtornos que podem nascer com a criança ou surgir ao longo do seu desenvolvimento, como a dislexia, a discalculia, a disgrafia e a disortografia. Além disso, a ausência de estímulos de habilidades básicas an- tes do período de alfabetização pode ocasionar dificuldades para aprender, pois deixa de trazer bases importantes para que esse aprendizado aconteça. No quadro a seguir podemos verificar essas habilidades básicas. Dificuldades de aprendizagem 29 Quadro 1 Habilidades básicas Habilidade Definição Exemplo Imagem corporal Consciência do próprio corpo e sua interação com o mundo Relacionada à sua identificação do espaço (consigo pular? É alto para mim?). Orientação espacial Distinção de sua posição no espaço e relações espaciais que ocupa A organização dos próprios materiais e do local que ocupa tem relação com essa habilidade. Orientação temporal Duração e sucessão Reflete na organização com relação ao tempo (se consegue fazer as coisas no prazo de uma aula, por exemplo). Ritmo Duração sonora O ritmo de sons trabalhado desde os primeiros anos escolares auxilia mais tarde no ritmo de leitu- ra e no reconhecimento dos sons das letras. Memória visual Reter com exatidão a curto ou longo prazo o que foi visualizado Olhar e reter a informação auxilia no reconheci- mento da escrita das palavras (se é com s ou z, por exemplo). Coordenação visomotora Visão e movimentos do corpo integrados A criança movimenta a cabeça para olhar para o quadro e copiar uma informação ao mesmo tem- po sem perder a informação que leu. Memória cinestésica Movimentos motores necessários para a escrita Auxilia o engajamento da criança no manuseio de objetos menores, como o lápis na escrita. Habilidades auditivas Condução das informações gráficas até o cérebro Essa habilidade reflete a compreensão sonora das letras e auxilia na boa escrita ortográfica. Linguagem oral Etapa anterior à linguagem escrita; desenvolvimento da fala Falar com clareza e corretamente para conse- quentemente escrever bem. Fonte: Elaborado pela autora. Um exemplo da utilização prática dessas habilidades é o que a criança precisa adquirir antes de aprender a ler e escrever. A falta de um desses elementos pode gerar problemas de aprendizagem. Para ler e escrever, a criança precisa: Aprender a falar Ol lyy /Sh utter stock Desenvolver a noção espacial para o registro Studio Rom antic/Shutterstock Diferenciar tamanhos An dr ey _P op ov/ Shut terstock Criar interesse pelo mundo letrado Sharom ka/Shutterstock O livro Dificuldades de aprendizagem de A a Z: um guia completo para pais e educadores, de Corinne Smith e Lisa Strick, é uma ótima opção para ampliar seus conhecimentos sobre as dificuldades de aprendizagem. As autoras apresentam de maneira didática cada dificuldade, sua origem e possibilidades de adequação de trabalho para cada uma delas. Porto Alegre: Artmed, 2012. Livro 30 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Esses prerrequisitos são temas abordados na Educação Infantil e estendem-se por boa parte do Ensino Fundamental, por serem parte de um processo de desenvolvimento. São extremamente necessários para que outras aprendizagens ocorram e funcionam como base de sustentação para o ato de aprender. Portanto, conhecer as diferentes dificuldades de aprendizagem e saber como lidar com cada uma delas é um desafio constante para o profissional que trabalha com a educação. 2.2 Dislexia Vídeo A dislexia é uma das dificuldades mais conhecidas, e somente no sé- culo XX passou a ser vista com a abrangência que possui. Vinda do grego dislexia – dis (dificuldade) e lexia (linguagem) – significa falta de habilidade na linguagem, que se reflete na leitura e na escrita. Desse modo, a dislexia não é considerada uma doença, e sim uma for- ma diferente de o cérebro funcionar e compreender a linguagem. Trata-se de uma questão neurológica, visto que atualmente exames de diagnóstico de imagem do cérebro mostram o processamento de informação dos dis- léxicos de uma maneira distinta, tornando possível sua forma de aprender diferente por meio de suas próprias habilidades. Por isso, a dislexia é classificada como um distúrbio neurológico que não prejudica o potencial cognitivo da criança, apenas torna diferen- te seu caminho de aprender a ler, escrever e decodificar a leitura e a escrita. Por ser neurológica, a dislexia demonstra alguns sintomas (Fi- gura 1) mesmo antes da fase de alfabetização, os quais devem ser observados pela família e escola. Se uma dificuldade está direta- mente ligada à leitura, à escrita e VL AD GR IN /S hu tte rs to ck Dificuldades de alfabetização Problemas de orientação espacial Dificuldade na coordenação motora fina Lentidão acima do normal durante o processo de alfabetização Problemas para ler e escrever Figura 1 Sintomas da dislexia infantil Conhecer as característi- cas da dislexia. Objetivo de aprendizagem wa ve br ea km ed ia /S hu tte rs to ck à sua compreensão e se ela se manifesta em outras áreas da aprendi- zagem essenciais para o desenvolvimento da criança, a dislexia passa a ser alvo de interesse de professores e todos os profissionais que traba- lham e intervêm nessa área. De acordo com Morais (2006, p. 41), “a dislexia é um termo que se refere às crianças que apresentam sérias dificuldades de leitura e, con- sequentemente, de escrita, apesar do seu nível de inteligência ser nor- mal, ou estar acima da média”. Assim, em sala de aula ou em outros momentos de realização de leitura e escrita, o interesse dos profissionais justifica-se. Ao surgirem obstáculos, as atividades de leitura e escrita não devem ser entendi- das como algo que o aluno não quer fazer, ou não se esforça, ou qual- quer outro estereótipo que não contribui para o seu desenvolvimento. Por outro lado, nem todas as dificuldades de leitura, escrita e interpretação devem ser entendidas como dislexia. A busca de um diagnóstico seguro, por meio de uma avaliação psicopedagógica, faz com que seja detectada a real origem dessa dificuldade e, conse- quentemente, leva à maneira correta de intervir e orientar em sala de aula, realizando as adaptações necessárias, sejam curriculares, sejam metodológicas. Diagnosticada por meio de uma avaliação psicopedagógica, a criança deve passar por um apoio externo ao ambiente escolar, com psicopedagogos, fonoaudiólogos e psicólogos, à medida que forem re- comendados no seu diagnóstico. No ambiente escolar esses profissionais, em trabalho conjunto com os professores, deverão traçar as melhores formas de avaliar a criança e intervir em sua aprendizagem. Com o diagnóstico feito (e as devidas adaptações realizadas), inicia-se o processo de com- preensão e aprendizagem da leitura e escrita e adaptações dos alu- nos com dislexia. Compreender o mundo das letras, o som de cada uma delas e suas variações, bem como a consciência fonológica 2 , a jun- ção de sílabas, frases e textos e, assim, sua interpretação, é um caminho a ser trilhado e orientado a cada passo. Entendemos por consciência fonológica a capacidade de refletir sobre a estrutura de pala- vras, sílabas e seus sons, conhecidos como fonemas, e compreendê-la. 2 Dificuldades de aprendizagemDificuldades de aprendizagem 3131 32 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Esse caminho de compreensão seinicia na fase da alfabetização, e existe a necessidade de que o trabalho com a consciência fonológica seja intenso, pois a falta de seu reconhecimento é um dos principais fatores presentes na pessoa com dislexia. Segundo Seabra e Capovilla (2004), a consciência fonológica envol- ve a capacidade de identificar, isolar, manipular, combinar e segmen- tar mentalmente e de modo deliberado os segmentos fonológicos da língua. Essa manipulação das palavras faz parte da alfabetização, que nem sempre é tão óbvia. Para as crianças que conseguem compreen- der bem esse processo, geralmente ocorre um bom desenvolvimento da alfabetização no contato com a leitura, escrita e interpretação. Figura 2 Reconhecimento dos sons das letras Ca rla F ra nc es ca C as ta gn o/ Sh ut te rs to ck No entanto, quando ocorre o contrário, desde o início esse cami- nho é difícil demais para a criança. É o momento de observar seu de- sempenho e buscar recursos que possam a auxiliar ou a diagnosticar caso seja disléxica. Dentro dos inúmeros fatores que contribuem, ou não, para o de- senvolvimento da leitura e escrita, segundo Torres e Fernández (2002), podemos destacar alguns tipos de dislexia: • Dislexia visual: dificuldade na percepção visual e coordenação visomotora, não conseguindo visualizar o fonema com clareza. • Dislexia auditiva: dificuldade na percepção e memória auditiva, não conseguindo ouvir com clareza o fonema. • Dislexia disfonética: troca de sons diferentes, alterações na or- dem das letras e sílabas, omissões e acréscimos e maior dificul- dade na escrita do que na leitura. Dificuldades de aprendizagem 33 • Dislexia diseidética: dificuldade na leitura silábica, não conse- guindo realizar a síntese das palavras, e maior dificuldade para a leitura do que para a escrita. • Dislexia mista: combinação de mais de um tipo de dislexia. • Dislexia fonológica: forma leve de dislexia, confusão na realiza- ção da leitura, que apresenta pacientes que podem ler palavras muito bem mesmo sendo disléxicos. Com base no diagnóstico, uma boa estratégia é buscar o que de melhor o disléxico apresenta para que, com base em suas habilidades, outras sejam aperfeiçoadas, levando, então, ao seu desenvolvimento. De acordo com Gonçalves (2005 apud OLIVEIRA, 2011): grande parte da intervenção psicopedagógica estará em buscar talentos do disléxico, afinal os fracassos, sem dúvida, ele já os co- nhece bem. Outra tarefa da clínica psicopedagógica é ajudar essa pessoa a descobrir modos compensatórios de aprender. Jogos, leituras compartilhadas, atividades específicas para desenvolver a escrita e habilidades de memória e atenção fazem parte do processo de intervenção. À medida que o disléxico se percebe capaz de produzir poderá avançar no seu processo de aprendi- zagem e iniciar o resgate de sua autoestima. Sabendo que para o disléxico a recuperação da autoestima é um fa- tor importante, em sala de aula, o professor deve buscar compreendê-lo, ouvi-lo e dar o suporte necessário para seu desenvolvimento. Como complemento de nossas ideias, assista ao vídeo Mentes em pauta – dislexia, do canal Ana Beatriz Barbosa, sobre as características da dislexia. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=qvuSXtQtqv4. Acesso em: 1 dez. 2021. Vídeo 2.3 Disgrafia Vídeo Já sabemos que a dislexia traz dificuldades específicas para a leitu- ra, escrita e sua decodificação, além dos percalços causados por ela. Veremos agora outra dificuldade, a disgrafia, que é importante para a compreensão das dificuldades de aprendizagem. A disgrafia abrange questões que também estão ligadas à escri- ta, porém agora relacionadas ao traçado e à legibilidade. A criança que apresenta disgrafia produz uma escrita quase que ilegível, tanto para ela própria quanto para quem lê. No texto com disgrafia perce- bemos que o traçado das letras possui irregularidades na sua forma e organização do espaço. Identificar o que é disgrafia. Objetivo de aprendizagem https://www.youtube.com/watch?v=qvuSXtQtqv4 https://www.youtube.com/watch?v=qvuSXtQtqv4 https://www.youtube.com/watch?v=qvuSXtQtqv4 34 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Morais (2006) defende que a disgrafia é uma deficiência na qualidade do traçado gráfico, entretanto, não deve causar um déficit intelectual e/ou neurológico. Sabendo que não se trata disso, ao analisarmos suas causas, podemos pensar em algumas especificidades voltadas aos pri- meiros anos de vida, por exemplo, o desenvolvimento da motricidade. Partindo da ideia de que o desenvolvimento motor é necessário para que a criança desenvolva sua coordenação motora fina, é possível relacionar a disgrafia a problemas perceptivo-motores. Para Pereira (2009), a disgrafia envolve: 11 22 33 44 55 66 77 88 99 M ay oC re at ive /S hu tte rs to ck Coordenação geral: capacidade motora de usar o corpo de maneira eficiente. Coordenação motora: capacidade de dominar o corpo e o espaço e controlar seus movimentos. Motricidade ampla: compreende andar, saltar e mexer-se em diferentes direções. Motricidade fina: maneira que usamos os braços, as mãos e os dedos, manipulando objetos de modo preciso. Integração visomotora: coordenação entre a coordenação motora e a percepção visual. Planejamento motor: capacidade de organizar, planejar e executar ações, como desenhar e pedalar. Percepção visual: capacidade do cérebro de compreender, organizar e interpretar estímulos visuais. Atenção sustentada: capacidade de concentrar-se em uma tarefa por determinado tempo sem se distrair. Consciência sensorial dos dedos: habilidade consciente de uso e manuseio das mãos. A coordenação motora fina dá-se por meio de músculos pequenos, como os das mãos e dos pés. Ela é utilizada para desenhar, pintar ou ma- nusear pequenos objetos, realizando movimentos mais precisos e delicados. Lembrete Dificuldades de aprendizagem 35 Sabendo que essas bases são fundamentais para o bom traçado e desenvolvimento da escrita, é fundamental que o professor compreen- da que a letra “feia” pode não estar relacionada ao desinteresse, mas sim à dificuldade ou inabilidade em algumas dessas áreas. Dessa forma, na fase da alfabetização, quando é perceptível a difi- culdade da criança em escrever, o professor precisa estar atento para realizar um trabalho direcionado, buscando melhorar essa questão. É importante lembrar que o desenvolvimento da escrita não se trata de um processo linear. Pelo contrário, na maioria das escolas, a criança inicia o processo de alfabetização com a letra caixa-alta, também conhe- cida como letra de forma, e faz a transição no ano seguinte para a letra cursiva. Essa mudança, após o amadurecimento dos primeiros contatos com as letras, deve ser gradativa e repleta de estímulos que direcionem a criança para o escrever correto e legí- vel. Nesse momento, as dificuldades ou facilidades tornam-se muito pessoais entre os sujeitos, que devem ser orientados e auxiliados de acordo com a demanda que cada um apresenta. Alguns fatores ainda podem contribuir forte- mente para que a disgrafia ocorra ou se agrave, como: • Falta de organização da página: ligada à orientação espacial, apresenta margens malfeitas ou inexistentes e espaços inade- quados entre as palavras. • Letras mal organizadas: a criança não consegue se adaptar a nenhum sistema caligráfico (pode ser no formato de letra de im- prensa ou letra cursiva) e o traçado apresenta-se fora do padrão. • Erro de formas e proporções: quando a letra tem um formato grande ou pequeno demais. Assim como as demais dificuldades e transtornos de aprendizagem, os fatores afetivo e emocional devem ser considerados. Essas crianças já sentem o peso de fazerem diferente dos demais e, muitas vezes, não alcançam o êxito, por isso, apoiar, acolher e orientar são necessidades constantes. Ser diferente em sala de aula é algo difícil para a criança, pois ela passa por comparações, sentindo-se atrasada em relação aos demais, eos fatores emocionais podem interromper a aprendizagem e a evolução desse indivíduo. O livro Dificuldades específi- cas de aprendizagem: ideias práticas para trabalhar com: dislexia, discalculia, disgrafia, dispraxia, TDAH, TEA, Síndrome de Asperger e TOC, de Diana Hudson, trata de todas as dificul- dades e, em especial, traz um capítulo com um ótimo embasamento comple- mentar sobre a disgrafia. Petrópolis: Vozes, 2019. Livro Af ric a St ud io /S hu tte rs to ck 36 Transtornos e dificuldades de aprendizagem 2.4 Disortografia Vídeo Além da dislexia e da disgrafia, outra dificuldade que pode surgir durante o desenvolvimento da leitura e escrita é a disortografia. Caracterizada como uma dificuldade que afeta o domínio da escrita em questões tanto ortográficas quanto textuais, a disor- tografia apresenta uma escrita que foge às regras ortográficas (PEREIRA, 2009). De acordo com Pereira (2009, p. 9), a disortografia está relacio- nada a uma “perturbação que afeta as aptidões da escrita e que se traduz por dificuldades persistentes e recorrentes na capacidade da criança produzir textos”. Já para Barbeiro (2007, p. 118), “a disorto- grafia é a dificuldade de escrita que compromete a aprendizagem e a automatização dos processos responsáveis pela representação ortográfica apropriada”. No início do processo de alfabetização, as trocas ortográficas es- tão presentes pelo fato de a criança estar passando pelo reconheci- mento do traçado e da sonoridade das letras e palavras, mas devem ser superadas com a prática e a apropriação do sistema ortográfico. Essas trocas vão se amenizando à medida que a prática da escrita acontece. Quando elas persistem por muito tempo e mostram ca- racterísticas específicas, podem revelar um quadro de disortografia. Alguns exemplos de trocas são: • f/v: faca/vaca; • ch/j: chato/jato; • t/d: conte/conde; • p/b: pompa/pomba. Podem ocorrer ainda na disortografia omissões de letras, inver- sões e confusões entre sílabas. Torres e Fernández (2002) destacam sete tipos de disortografia: Reconhecer as caracterís- ticas da disortografia. Objetivo de aprendizagem Dificuldades de aprendizagem 37 11 22 33 44 55 66 77 M ay oC re at ive /S hu tte rs to ck Temporal: incapacidade de ter uma visão clara dos aspectos fonéticos da fala. Perceptivo-cinestésica: incapacidade para repetir os sons, verificando as substituições no modo de articular os fonemas. Cinética: deficiência de ordenação e sequenciação dos elementos gráficos, gerando erros de união e separação. Visuoespacial: alteração perceptiva da imagem dos grafemas. Dinâmica: alteração na expressão escrita das ideias e na estrutura sintática das proposições. Semântica: a análise é indispensável para o estabelecimento dos limites das palavras. Cultural: dificuldade na aprendizagem da ortografia convencional. Já caracterizados esses diferentes tipos de disortografia, pode- mos ainda a dividir em três grupos: das trocas auditivas, das trocas visuais e das trocas mistas. Quanto às trocas auditivas, caracterizam-se pela troca dos sons próximos, como f/v, t/d e c/g. Ao ouvir as palavras com essas le- tras, são facilmente confundidas, como vaca e faca. Esse grupo caracteriza-se também pela dificuldade de guardar palavras ditadas ou elaboradas mentalmente, logo, ao escrever, surgem também as inversões. 38 Transtornos e dificuldades de aprendizagem As trocas visuais são aquelas que têm relação com a orientação espacial, como p, b, d, q, ou semelhança de detalhes, como t, f. Nas trocas visuais ocorrem também erros relacionados à sequência vi- sual, como trem/temr ou moeda/muda. Aqui se justifica que, como prerrequisito à aprendizagem, a criança desenvolva a noção espacial e de lateralidade. Esses elementos, trabalhados ainda na Educação Infantil, fazem toda a diferença para a visualização e o posicionamen- to correto das letras quando se inicia o processo de alfabetização. Já as trocas mistas englobam as características do tipo visual e auditivo. Mesmo sendo mais raras, são casos considerados de longo prazo para que ocorra a reeducação. Assim, a disortografia pode prejudicar o processo de escrita e compreensão da criança, por isso deve ser vista por meio de um trabalho atento do professor. Ao surgirem indícios dessa dificul- dade, é necessário realizar o encaminhamento para um profissio- nal responsável, o psicopedagogo, para que realize uma avaliação psicopedagógica. 2.5 Discalculia Vídeo Conhecemos até aqui as principais dificuldades de aprendiza- gem presentes no desenvolvimento da leitura e escrita e de sua decodificação. No entanto, o raciocínio lógico-matemático também pode apre- sentar obstáculos significativos durante a aprendizagem. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtor- nos Mentais – DSM 1 -5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud PIMENTEL; LARA, 2017, p. 5), a discalculia “envolve o senso nu- mérico, memorização de fatos aritméticos, precisão ou fluência de cálculo e precisão no raciocínio matemático”. Além disso, esse é “um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades caracterizado por problemas no processamento de informações nu- méricas, aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluente”. Ainda, de acordo com Morais (2006), a discalculia pode ser classi- ficada em seis tipos: Como complemento, assista ao vídeo Disortografia, do canal Nadia Bossa, que aborda as características da disortografia. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=pS5l1C2li3k. Acesso em: 17 dez. 2021. Vídeo Compreender as caracte- rísticas da discalculia. Objetivo de aprendizagem Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição, ou DSM-5, é um manual diagnóstico elaborado pela Associação Ameri- cana de Psiquiatria para definir como é feito o diagnóstico de transtor- nos mentais. 1 https://www.youtube.com/watch?v=pS5l1C2li3k https://www.youtube.com/watch?v=pS5l1C2li3k https://www.youtube.com/watch?v=pS5l1C2li3k Dificuldades de aprendizagem 39 11 22 33 44 55 66 M ay oC re at ive /S hu tte rs to ck Practognóstica: dificuldades para enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens. Ideognóstica: dificuldades em fazer operações mentais e compreender conceitos matemáticos. Verbal: dificuldades em nomear quantidades matemáticas, números, termos e símbolos. Léxica: dificuldades na leitura de símbolos matemáticos. Operacional: dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos. Gráfica: dificuldades na escrita de símbolos matemáticos. Muitas vezes, a discalculia vem de bases não estimuladas e não de- senvolvidas, como as habilidades linguísticas, perceptivas, de atenção e matemáticas, as funções executivas prejudicadas e a baixa capacidade de atenção. Esses fatores resultam em déficits no senso numérico. Conhecida como a dislexia dos números, o termo discalculia vem do grego dis, que significa dificuldade, e do latim calculia, que significa con- tar, por isso a dificuldade para contar. Figura 3 Forma do pensa- mento matemático do discalcúlico A organização espacial interfere no sucesso da aprendizagem matemática. Ca rla F ra nc es ca C as ta gn o/ Sh ut te rs to ck 40 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Com relação à compreensão dos números, a criança discalcúlica pode apresentar: • Falta de compreensão intuitiva dos números, como não saber qual é o maior ou menor. • Dificuldade de arredondar números. • Dificuldade de fazer estimativa. • Uso dos dedos constantemente para contar. • Confusão com números parecidos e inversões, por exemplo, 240 por 204. • Extrema dificuldade de aprender tabuada. • Incapacidade de realizar cálculos mentais. • Dificuldade de lembrar de informações numéricas. • Incapacidade de realizar a reversibilidade, por exemplo, 2 + 3 é também 3 + 2. • Dificuldade em assimilar porcentagem, fração e casas decimais. Alémdessas questões, a criança apresenta com frequência dificul- dades na memória a curto prazo, ou seja, lembrar de números durante os cálculos, de sequência numérica, de números de telefone ou de da- dos bancários e pontuações de competições esportivas. Isso também é refletido na representação gráfica ou na compreensão e interpretação de gráficos e escalas em papel (a leitura é imprecisa). Ainda questões de ordem pessoal costumam aparecer, como a di- ficuldade com a pontualidade, uma vez que não saber ler as horas em um relógio se torna um problema. Esses episódios trazem constran- gimento para a criança que ainda não assimilou essa aprendizagem. Consequentemente, sua organização diária pode sofrer prejuízos. Sabendo dessas questões e que toda dificuldade para aprender remete a prejuízo na autoconfiança e autoestima, vale lembrar de algumas atitudes essenciais e necessárias para atender aos alunos com discalculia: • Tornar o ambiente seguro, no sentido de que o aluno pode pedir ajuda e obter suporte diante de suas dificuldades. • Manter esses alunos sentados próximos aos demais, para evitar constrangimento se não quiserem se expor diante de dúvidas. Dificuldades de aprendizagem 41 • Trabalhar com exemplos concretos, escritos, de modo que a criança possa visualizar o que está sendo falado. • Verificar se o aluno compreende o que é para ser feito e o ritmo em que ele está realizando determinada tarefa. • Disponibilizar tempo suficiente para que as atividades sejam concluídas. Outro aspecto de cuidado é o da linguagem matemática. É necessá- rio verificar se todos os termos necessariamente usados nas explica- ções são de fácil acesso ao entendimento do aluno, pois o que muitas vezes é óbvio para quem fala não é para quem ouve. Partindo do princípio de que o óbvio também precisa ser dito, as orientações adequadas ao discalcúlico são sempre necessárias. Como complemen- to, assista ao vídeo Discalculia, do canal Nadia Bossa, que demonstra na prática as dificuldades da criança discalcúlica. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=mfHXkM1ctD0. Acesso em: 17 dez. 2021. Vídeo CONSIDERAÇÕES FINAIS Conhecer as dificuldades e os transtornos de aprendizagem nos tor- na profissionais diferenciados diante da individualidade do ser humano. O universo do aprender já é amplo, e quando esse caminho apresenta obstáculos, torna-se ainda maior, passando a ser um desafio constante. Atualmente, e felizmente, é possível o diagnóstico precoce, o que faci- lita e direciona o trabalho em sala de aula. A vantagem de conhecermos e identificarmos como trabalhar a dislexia (dificuldade ao ler, escrever e interpretar), a disortografia (dificuldades ortográficas), a disgrafia (di- ficuldade no traçado das letras) e a discalculia (dificuldade no raciocí- nio lógico-matemático), nos torna pessoas capazes de compreender e adaptar novas formas de aprendizagem. ATIVIDADES Atividade 1 Sobre as dificuldades de aprendizagem estudadas, escolha qua- tro delas e descreva suas principais características. Em seguida, responda: como você avalia seu processo de aprendizagem com relação à leitura, à escrita, à interpretação, ao traçado, à ortogra- fia e à matemática? https://www.youtube.com/watch?v=mfHXkM1ctD0 https://www.youtube.com/watch?v=mfHXkM1ctD0 https://www.youtube.com/watch?v=mfHXkM1ctD0 42 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Atividade 2 Conhecer as características da dislexia e encaminhar a criança para uma avaliação psicopedagógica, bem como saber intervir nesses casos, é de extrema importância para o profissional da educação. Com base nessa premissa, cite as principais característi- cas da criança disléxica. Atividade 3 Dos tipos de discalculia estudados, escolha o que para você parece ser o mais comum e justifique sua resposta. REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. BARBEIRO, L. Aprendizagem da ortografia. Porto: Edições Asa, 2007. FONSECA, V. da. Dificuldades de aprendizagem. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. GONÇALVES, A. M. S. A criança disléxica e a clínica psicopedagógica. Disponível em: http:// www.profala.com/artdislexia1.htm. Acesso em: 17 dez. 2021. MORAIS. A. M. P. Distúrbios da aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica. São Paulo: Edicon, 2006. PEREIRA, R. S. Dislexia e disortografia: programa de intervenção e reeducação. Montijo: Humanity’s Friends Books, 2009. SEABRA, A. G.; CAPOVILLA, F. C. Alfabetização: método fônico. 3. ed. São Paulo: Memnon, 2004. TORRES, R. M. R.; FERNÁNDEZ, P. F. Dislexia, disortografia y disgrafia. Lisboa: McGraw Hill de Portugal, 2002. Transtornos de aprendizagem 43 3 Transtornos de aprendizagem 3.1 Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) Vídeo Para compreendermos o TDAH devemos conhecer isoladamente os conceitos de atenção e hiperatividade. A atenção é uma função essencial para a vida humana, uma vez que muitas de nossas ações dependem dela, por exemplo, atravessar a rua, cozinhar, compreender uma aula e aprender algo novo. Podemos entender a atenção também como um processo do desenvolvimento cognitivo em que, por meio de um estímulo externo, conseguimos dar uma resposta a ele. A atenção se desenvolve por meio de vivências co- tidianas, como as brincadeiras na infância, as interações sociais e as atividades escolares rotineiras. Nessas vivências a atenção pode ser aprimorada ou desenvolvida por meio de intervenções cognitivas, sendo assim, deve ser estimulada. Inicialmente, deve ocorrer mediante atividades direcionadas, que são aquelas proporcionadas pela escola, iniciando na Educação Infantil e se estendendo por todos os anos escolares. Reconhecer o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e suas características. Objetivo de aprendizagem Conhecer as dificuldades que acometem a aprendizagem é algo bastante profundo, pois nos leva a conhecer também transtornos do desenvolvimento que interferem tanto na aprendizagem quanto em questões interpessoais. Estudaremos neste capítulo sobre o transtorno do espectro autista (TEA), o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), a síndro- me de Asperger, o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e o transtorno opositor desafiador (TOD). Esses transtornos se manifestam na infância e acompanham as fases do desenvolvimento humano. Compreender as características de cada um e intervir de maneira correta e no tempo certo faz parte do trabalho de todos aqueles envolvidos com a educação. Neste capítulo vamos co- nhecer, analisar e refletir sobre cada um desses transtornos. 44 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Assim, como em todo o processo de desenvolvimento humano, a atenção é algo que difere em cada pessoa, seja no tempo, na forma de agir, de pensar e nas experiências já adquiridas, por isso podemos considerar alguns tipos de atenção a ser desenvolvida pelo ser huma- no. Esses tipos de atenção (Quadro 1), quando trabalhados simultanea- mente, facilitam o desenvolvimento e a aprendizagem. Quadro 1 Tipos de atenção Atenção seletiva Habilidade para se centrar em um estímulo ou atividade na presença de outros estímulos que desviam a aten- ção, por exemplo, fazer uma tarefa em sala de aula com pessoas conversando ao redor. Atenção alternada Habilidade para alterar a atenção focada entre dois estí- mulos, em que se está atento, mas, por algum motivo rea- liza outra atividade e depois volta ao foco em que estava. Atenção dividida Habilidade em centrar ou prestar atenção a diferentes estímulos ao mesmo tempo. Atenção focada Habilidade para focar a atenção em um estímulo, sem dispersar com estímulos externos. Atenção constante Habilidade para se centrar em um estímulo ou atividade durante um longo período. Fonte: Elaborado pela autora com base em Atenção, 2021. Dessa maneira, podemos depreender a complexidade da atenção, e os modos como ela se estrutura e faz a diferença
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