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História do Jornalismo: Evolução e Análise Crítica

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Prévia do material em texto

Universidade Paulista (Unip) 
Instituto de Ciências Sociais e Comunicação 
Curso de Comunicação, hab. em Jornalismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apostila 
História do Jornalismo 
 
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo, 2o semestre de 2013. 
 
Apostila de História do Jornalismo 
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques 
2º semestre de 2013 
2
Apresentação 
 
 O material que se segue é, na realidade, um ensaio que busca apresentar ao 
aluno da disciplina Ética e Legislação em Jornalismo do curso de Comunicação Social, 
habilitação em Jornalismo, da Universidade Paulista (Unip), os principais temas e/ou 
tópicos relacionados a essa área. Toda a argumentação apresentada na discussão de 
cada tema está referendada pelo estudo e reflexão de algumas das mais importantes 
e atuais obras no que diz respeito à História do Jornalismo. 
 Os pequenos textos que se seguem não querem ser “a última palavra” 
(portanto, não desejam ser doutrinários) nem tão pouco abordam os temas de maneira 
exaustiva. A pretensão deste material é servir de subsídio a uma reflexão consistente 
do aluno acerca das questões atualmente mais pertinentes no que se refere à prática 
ética do jornalismo e à legislação aplicada ao exercício profissional da comunicação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O autor 
Luís Henrique Marques é jornalista com bacharelado e mestrado pela Universidade 
Estadual Paulista (Unesp), campus de Bauru, e historiador, com licenciatura em 
História pelo Centro Universitário Claretiano (CEUCLAR) e doutorado em História pela 
mesma universidade, campus de Assis. Possui mais de 20 anos de jornalismo e 20 
anos de atuação no magistério superior. Atualmente, é docente do curso de 
Jornalismo da Universidade Paulista (Unip) e tutor presencial e a distância do curso de 
História EaD do CEUCLAR. Acumula também experiência em assessoria de 
imprensa, jornalismo comunitário, produção de programas jornalísticos e culturais em 
rádio, reportagem e redação em revista e é autor da obra Teoria e pratica da redação 
para jornalismo impresso (Edusc, 2003), além de diferentes artigos científicos sobre 
temas a respeito de história da comunicação religiosa, sua área de pesquisa 
acadêmico-científica. 
Apostila de História do Jornalismo 
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques 
2º semestre de 2013 
3
PLANO DE ENSINO 
 
CURSO: Comunicação Social - Jornalismo 
SÉRIE: 2º/1º semestres 
TURNO: Diurno e Noturno 
DISCIPLINA: História do Jornalismo 
CARGA HORÁRIA SEMANAL: 2h/aula 
 
I – EMENTA 
 
A comunicação social e as origens do jornalismo. Os jornalistas e as grandes 
transformações sociais. A evolução do jornalismo no mundo, da Revolução Francesa ao 
caso Watergate. No Brasil, a imprensa na época colonial. O processo de independência e o 
período do Império. Os jornalistas da República Velha e os interesses das elites e dos 
trabalhadores. Os jornalistas e o Estado Novo: a presença da censura. Anos 50 aos 60: a 
constituição de um mercado de trabalho. O movimento de 64: as opções ideológicas da 
categoria. Os jornalistas de 68 aos anos 80: as censuras e as resistências ao arbítrio. O fim 
da ditadura e o jornalismo. O jornalismo e o impeachment de Collor. O jornalismo na era da 
globalização. 
 
II – OBJETIVOS GERAIS 
 
O aluno deve perceber a importância da comunicação e particularmente do jornalismo na 
história. Observar a influência da imprensa no desenrolar dos acontecimentos e como o 
jornalismo é uma prática social impregnada de historicidade. Proporcionar ao aluno o 
conhecimento de um quadro geral para iniciar a avaliação crítica da imprensa brasileira em 
seus diversos aspectos, bem como a compreensão de processos históricos. 
 
III – OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
Ao término do curso, o aluno deverá: 
• Conhecer a evolução da comunicação e compreender o sistema de comunicação no 
Brasil e no mundo. 
• Compreender a comunicação e o jornalismo com um fato dominador da sociedade. 
• Analisar de forma crítica as coberturas jornalísticas de grandes acontecimentos. 
• Entender o jornalismo como uma prática social que constrói história. 
• Conhecer as etapas de desenvolvimento da imprensa brasileira desde o período 
colonial até os dias atuais. 
• Analisar diferentes coberturas jornalísticas de fatos históricos do Brasil. 
• Comparar o discurso jornalístico da "grande imprensa" com o dos veículos alternativos. 
 
IV – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
 
1. A comunicação social e as origens do jornalismo. 
2. A evolução da imprensa no mundo. Do jornalismo revolucionário na França ao New 
Journalism. Os quatro jornalismos (1789-1830; 1830-1900; 1900-1960; 1960-século XXI) O 
Caso Watergate e o jornalismo hoje. 
3. O Jornalismo e a História: semelhanças e diferenças no ato de narrar. 
3.1. Fato histórico e fato jornalístico 
3.2. Jornalismo como fonte histórica 
4. O papel dos jornalistas nas grandes transformações sociais e conflitos mundiais 
5. A imprensa colonial no Brasil 
6. A imprensa na Independência: as condições políticas e a perseguição à imprensa. 
7. Relações entre imprensa e literatura. 
8. A imprensa brasileira na República Velha. 
9. O Estado Novo e a censura à imprensa. 
10. A formação das grandes cadeias jornalísticas. 
Apostila de História do Jornalismo 
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques 
2º semestre de 2013 
4
11. O golpe de 64 e a imprensa. 
12. A imprensa e a redemocratização. 
13. O jornalismo no impeachment de Collor. 
14. O jornalismo e a globalização. 
15. As grandes questões atuais e o jornalismo (meio ambiente, terrorismo, cidadania, etc). 
 
V – ESTRATÉGIAS DE TRABALHO 
 
• Aulas expositivas. 
• Exercícios em classe, realizados individualmente e em grupo: discussão e debates; 
elaboração de hipóteses; reunião de dados por meio de leituras, observação, seleção de 
ilustrações e exemplos; avaliação crítica dos dados; formulação de conclusões. 
• Análise e produção de textos. 
 
VI – AVALIAÇÃO 
 
O aluno será avaliado por meio da aplicação dos seguintes instrumentos: 
 
• Exercícios individuais e/ou em grupo 
• Freqüência e participação em sala de aula 
• Provas 
• Redações 
• Trabalhos 
 
 
VII – BIBLIOGRAFIA 
 
Bibliografia Básica 
 
MATOS, Carolina. Jornalismo e Política Democrática no Brasil . São Paulo: Ed. 
Publifolha, 2008. 
MARTINS, Ana Luiza Souza, LUCA, Tânia Regina de. História da Imprensa no Brasil . 
São Paulo: Contexto, 2008. 
SODRÉ, Nelson Werneck. A História da imprensa no Brasil . 4ª edição. Rio de Janeiro: 
Civilização, 2007. 
 
Bibliografia Complementar 
 
ABRAMO, Cláudio. A regra do jogo: o Jornalismo e a ética do marcenei ro . São Paulo: 
Companhia das Letras, 1999. 
DIMENSTEIN, Gilberto. As armadilhas do poder: bastidores da imprensa . São Paulo: 
Summus Editorial, 1990. 
EMERY, Edwin. História da imprensa nos Estados Unidos . Rio de Janeiro: Lidador, 
1965. 
KUCINSKI, Bernardo. A síndrome da antena parabólica . São Paulo: Fundação Perseu 
Abramo, 1998. 
KUNCZIK, Michael. Conceitos de jornalismo: norte e sul . São Paulo: EdUSP, 2002. 
LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia . Florianópolis: Ed. UFSC, 2001. 
MORAES, Fernando. Chatô: o rei do Brasil . São Paulo: Companhia das Letras. 
MOTA, Carlos Guilherme e CAPELATO, Maria Helena. História da Folha de S. Paulo 
(1921-1981). São Paulo: Impres, 1980. 
ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo . São Paulo: Brasiliense, 2000. 
SILVA, Juremir Machado. A miséria do jornalismo brasileiro : as (in)certezas da mídia . 
Petrópolis: Vozes, 2001. 
 
 
Apostila de História do Jornalismo 
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques 
2º semestre de 2013 
5
Universidade Paulista (Unip) 
História do Jornalismo 
Curso: Comunicação Social, hab. em Jornalismo 
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques 
2º semestre de 2013 
 
Cronograma 
 
Semana/ 
Data 
Conteúdo 
1ª – 9/8 Apresentação geral da disciplina; A evolução da imprensa: do 
jornalismo revolucionário na França ao New Journalism2ª – 16/8 Continuação do tema anterior 
3ª – 23/8 Continuação do tema anterior: o caso Watergate e o jornalismo hoje 
4ª – 30/8 Continuação do tema anterior 
5ª – 6/9 O Jornalismo e a História: semelhanças e diferenças no ato de narrar 
Fato histórico e fato jornalístico; Jornalismo como fonte histórica 
6ª – 13/9 O papel dos jornalistas nas grandes transformações sociais e conflitos 
mundiais 
7ª – 20/9 A imprensa colonial no Brasil 
8ª – 27/9 A imprensa na Independência: as condições políticas e a perseguição 
à imprensa ou Prova 1 
9ª – 4/10 Prova 1 ou A imprensa na Independência: as condições políticas e a 
perseguição à imprensa 
10ª – 11/10 Relações entre imprensa e literatura 
11ª – 18/10 A imprensa brasileira na República Velha 
12ª – 25/10 O Estado Novo e a censura à imprensa; A formação das grandes 
cadeias jornalísticas 
13ª – 1º/11 O golpe de 1964 e a imprensa; A imprensa e a redemocratização 
14ª – 8/11 As grandes questões atuais e o jornalismo (meio ambiente, terrorismo, 
cidadania etc) 
15ª – 15/11 Feriado nacional (Dia da Proclamação da República) 
16ª – 22/11 Prova 2 
17ª – 29/11 Prova Substitutiva 
18ª – 6/12 Exame 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apostila de História do Jornalismo 
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques 
2º semestre de 2013 
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A comunicação social e as origens do jornalismo 
 
A tipografia e o surgimento da imprensa 
Do século 15 ao 17 
 
No século 15 da Era Cristã, uma invenção não só revoluciona a circulação de 
notícias, mas toda a realidade social, econômica, política e cultural da Europa: o 
alemão Johan Gutenberg (um humilde ourives de Mainz) cria a imprensa de tipos 
móveis (um século antes, chineses e coreanos já tinham feito experiências com tipos 
móveis, porém sem a prensa). Nasce a tipografia. 
Vale considerar: o contexto é de expansão das fronteiras geográficas, 
filosóficas e econômicas na Europa. Em função disso, as notícias – agora publicadas e 
reproduzidas em uma escala maior - passam a atingir um maior público, de forma mais 
rápida e confiável. Muda também a forma de construção do pensamento. 
Livretos e panfletos são criados, primeiramente, para serem lidos em voz alta. 
Há também uma grande difusão de panfletos. Como não poderia deixar de ser, os 
governantes são os primeiros a explorar as vantagens da imprensa. Estes controlam 
todo o sistema de produção gráfica, mas são obrigados, volta e meia, a apelar às 
massas através dessas publicações (garantia da legitimidade). 
No século 16, em função da Reforma Protestante, a divulgação de conteúdos 
religiosos conflitantes levou tipógrafos católicos e protestantes a várias formas de 
condenação (inclusive, a morte). 
Nesse mesmo período, as baladas (notícias cantadas) ainda permanecem em 
grande circulação. Estas, agora, são impressas e, de tendência chauvinista (de 
“nacionalismo exagerado”), têm como objetivo divertir o público. Também com a 
difusão da imprensa, a ciência progride, substituindo a visão mística do poder dos 
monarcas e da Igreja. 
 
Transformações no conteúdo e formato das notícias 
 
A crescente difusão de notícias gera a concorrência e se dá acerca dos mais 
variados temas. E, assim, aos poucos e sempre mais, exige-se audácia das notícias 
impressas (sensacionalismo). Isto é, as pessoas têm curiosidade sobre vida de 
personagens importantes da sociedade (tragédia, aventura, talento, beleza, violência, 
sexo). 
Nesse período, fofoca e notícia se confundem, gerando desde aquele período – 
e ainda antes do jornalismo tal como conhecemos, o conflito entre público e privado. 
Contraditoriamente, convenções sociais exigem dos relatos conclusões e 
ensinamentos moralistas (necessidade psicológica) 
O inesperado também é exigido nessas notícias, bem como o sobrenatural 
reflexo da mentalidade de uma época). O que, nesse período, poderia ser considerado 
uma espécie de jornalismo popular (ou ainda uma literatura popular) passa a ser 
identificado, pela elite, com as notícias sensacionalistas. As classes abastadas se 
preocupam em saber sobre arte, política e economia. 
Observa-se que as notícias impressas revelam uma concentração no 
extraordinário, o que reflete o pensamento predominante, mas não o cotidiano de uma 
sociedade e determina a clara diferença entre interesse humano e realidade humana. 
Cresce o uso de estereótipos e clichês. O mundo passa a ser visto por muitos 
através de fórmulas (é um “mundo velado”); o extraordinário é transformado em 
ordinário (falta reflexão sobre causas e consequências, e existe uma descontinuidade 
no lugar de conexões). 
Todas essas alterações na maneira de divulgar notícias, ao mesmo tempo, 
refletem e confirmam a conveniência dos divulgadores de notícias já daquele período 
– que passam a ser identificados como jornalistas: o prazo de entrega do material para 
Apostila de História do Jornalismo 
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques 
2º semestre de 2013 
7
publicação passa a ser determinado. Com efeito, nessa época, a periodicidade dos 
livretos começa a se firmar e a inovação dos livretos semanais passa a exigir uma 
inovação jornalística, marcada por as alterações no conteúdo e formato de divulgação 
das notícias, conforme dito anteriormente. É o início, o embrião, da própria indústria 
jornalística. 
 
O jornal 
 
O jornal como hoje conhecemos e do qual se originaram os diários e 
semanários, surgiu, na Europa, nos primeiros anos do século 17 “sem fazer barulho”. 
De fato, não há data precisa para o aparecimento do 1º jornal impresso. Segundo 
Lage1, “os exemplares mais antigos de jornais que se conhecem foram publicados na 
Alemanha em 1609 e, embora não contenham indicações sobre a cidade ou 
impressor, provavelmente saíram de uma oficina de Bremen”. 
Muitas dessas primeiras publicações desapareceram com o tempo e de outras 
não é possível identificar a autoria. A propósito, o anonimato dos criadores dos 
primeiros jornais, no início do século 17, revela que a publicação desses periódicos 
era uma prática arriscada diante do poder público da maioria dos países europeus 
que, convenientemente e desde logo (conforme dissemos anteriormente), rogou para 
si o direito de censura e autorização da publicação de materiais impressos. 
Com efeito, Lage2 afirma: 
 
A burguesia ascendente utilizou seu novo produto para a difusão dos 
ideais de livre comércio e de livre produção que lhe convinham. Logo 
também viriam as respostas do poder político autocrático a essa 
pregação subversiva, sob a forma de regulamentos de censura ou da 
edição de jornais oficiais e oficiosos, vinculados aos interesses da 
aristocracia. A liberdade de expressão do pensamento somou-se, na 
luta contra a censura, às outras liberdades pretendidas no ideário 
burguês, e o jornal tornou-se instrumento de luta ideológica, como 
jamais deixaria de ser. 
 
Para definir quais publicações são, de fato, jornais, entre tantos materiais 
impressos que a humanidade já produziu – desde o surgimento da imprensa de 
Gutenberg -, os historiadores têm levando em conta algumas características básicas 
para a classificação de um material impresso como jornal, a saber: 
a) é publicado regularmente e com freqüência; 
b) inclui variedade de assuntos abordados; 
c) apresenta título consistente e reconhecível, além do formato próprio. 
 
A Gazzetta veneziana 
 
Desde o início do Renascimento, a cidade de Veneza (Itália), por ser centro de 
poder e comércio, se firma como centro difusor de notícias (é provável que a “agência 
de notícias” do alemão Fugger tenha se instalado ali). Em função desse contexto, 
venezianos criam uma forma de publicação periódica de notícias (décadas anteriores 
ao jornal impresso), apelidada de gazzetta (a palavra tem origem em antiga moeda 
local). 
Estima-se que esses boletins manuscritos tenham surgido depois de 1550. As 
gazzete3 também ficaram conhecidas como avisi ou avvisi. Traziam, sobretudo, 
notícias políticas e militares. Não se sabe, ao certo, quem produzia as gazzete (alguns1 LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia . Florianópolis: Insular/Editora da UFSC, 3. ed. 
2001, p. 25. 
2 Idem, p. 25. 
3 Gazzette, em italiano, é o plural de gazzetta. 
Apostila de História do Jornalismo 
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques 
2º semestre de 2013 
8
historiadores acreditam tratar-se do governo; outros, de escritores profissionais de 
notícia, os avvisatori). 
Em Strasburgo, na Alemanha, no ano de 1609, Johann Carolus passou a 
imprimir um semanário, acredita-se, produzido a partir de um material manuscrito. Os 
primeiros jornais europeus impressos reuniam notícias curtas e de locais diversos, 
assim como eram organizadas as gazzette. 
 
O Coranto holandês 
 
Amsterdã (Holanda) se transformou, nesse mesmo período, uma cidade 
cosmopolita e, por isso mesmo, mais tolerante em relação às questões religiosas. Ali, 
a exemplo do que acontecia em outras regiões da Europa, o comércio necessitava da 
circulação de notícias. Os moradores da cidade passaram, então, a organizar os 
Corantos, boletins informativos periódicos “bruscos e impessoais”, considerados entre 
os principais precursores do jornal tal como o conhecemos hoje4. 
Os editores do coranto holandês (largamente difundido em outros países, como 
na Inglaterra) tiveram que lidar com a novidade que era a expectativa dos leitores por 
uma nova edição, bem como com o fato de que a edição anterior era considerada 
obsoleta (firma-se o padrão de periodicidade). Também a avaliação das notícias 
(quanto à sua importância) foi alterada. Outra prática foi a “antecipação dos 
acontecimentos”, o que veio a aguçar ainda mais o apetite do leitor por novas notícias. 
Emerge, também nos outros países onde o jornal impresso ganhava espaço, a 
figura do editor, de quem era exigido a capacidade de transformar a miscelânea de 
matérias em uma publicação atraente e razoavelmente coerente. 
 
Superando limitações 
 
Os primeiros jornais possuíam graves limitações: 
a) restringiam-se quase que exclusivamente a notícias estrangeiras; 
b) frequentemente, eram irresponsáveis (as informações, a exemplo do que já 
acontecia com a comunicação, não eram checadas e sua origem, muitas vezes, era 
fruto de boatos, distorções ou mesmo fofocas). 
A partir do século 18, o jornal cresce, por conta de uma maior autonomia e 
liberdade (em relação aos governantes) e em função da publicação de um leque maior 
de notícias e do aumento da freqüência na distribuição. A cobertura de importantes 
catástrofes, matérias de interesse humano e notícias de âmbito nacional, contribuíram 
particularmente para o desenvolvimento do jornalismo nesse período. A publicação 
dessas notícias periodicamente e o seu acesso mais facilitado à população em geral, 
exigiu, por sua vez, maior responsabilidade pública do jornalista sobre o que ele 
passou a fazer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 DeFLUER, Melvin & BALL-ROKEACH, Sandra. Teorias da comunicação de massa. 
Tradução: Octavio Alves Velho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993. 
Apostila de História do Jornalismo 
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques 
2º semestre de 2013 
9
A evolução da imprensa no mundo 
 
Notícias e Revolução 
 
Segundo Stephens (1993), os jornais tendem a ser veículos moderados, 
quando não conservadores. Desde o seu surgimento até entrarem no período de 
industrialização, os jornais e jornalistas foram marcados pelo publicismo (confira 
quadro esquemático abaixo). Isso, contudo, não é o que se observa em períodos 
revolucionários, como é o caso dos períodos imediatamente anteriores e durante as 
Revoluções Americana e Francesa. 
Nos Estados Unidos do século 18 (então colônia britânica), os jornais 
demonstraram exercer significativa influência política, mais sobre o público do que 
contra os dominadores e sua política colonialista. Os jornais coloniais americanos, ao 
difundir opiniões revolucionárias, alimentaram na população um sentimento 
nacionalista (união e emancipação), pois, de fato, a troca de informações solidifica 
uma identidade comum. Detalhe: com o passar do tempo, a restrição prévia do 
governo às publicações deixou de existir, embora os editores estivessem sujeitos às 
penalidades pós-publicação. 
 Na França do mesmo período, os jornais tiveram um papel político ambíguo. A 
ausência de uma imprensa agressiva e a própria falta de notícias – uma vez que o 
governo imperial francês tinha completo controle sobre a circulação das mesmas – 
contribuiu significativamente para a derrubada da monarquia naquele país. Por outro 
lado, isso favoreceu certa difusão de notícias (sobretudo faladas) que, por se tratarem, 
na realidade, mais de rumores, alimentaram o descontentamento das massas em 
relação ao império e à burguesia, motivando-as à revolta. 
Após as revoluções na França e nos EUA, observa-se, nestes dois países, uma 
postura política diferenciada dos jornais. No caso da França, com a ascensão de 
Napoleão ao poder, este retoma o controle sobre a imprensa. Já, nos EUA, a imprensa 
– há tempos acostumada a assumir uma postura de contestação política –, apesar de 
algumas tentativas de controle pelo governo norte-americano, passa a servir os 
diferentes partidos que, agora, lutam pela hegemonia política na nação recém-
formada. O partidarismo dos jornais norte-americanos levou os jornalistas até mesmo 
a se atacarem mutuamente. Esse quadro é compreensível, face ao fato de que o 
governo republicano – de princípios democratas – possibilita a expressão de muitas 
“vozes”. Os jornais, ao menos de certa forma, passam a ser, diante do governo, 
representantes das muitas vozes da população. 
 
 
Publicismo 
 
• Primeiros jornais (a partir de 1609) circularam em centros de comércio = idéias 
burguesas. 
• Em seguida, a aristocracia também passou a publicar seus jornais. 
• Jornalista se tornou um publicista: informações tinham caráter secundário 
enquanto os artigos de fundo (editorial) eram os mais esperados e apreciados 
pelos leitores (interpretação/orientação política). 
• No início (século 17): paradigma do texto jornalístico era o discurso retórico 
(exaltação do Estado ou da fé). 
• A fala parlamentar, análise erudita e sermão religioso determinavam linguagem 
dominante. 
 
 
 
Apostila de História do Jornalismo 
Docente responsável: Prof. Dr. Luís Henrique Marques 
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10
Desenvolvimento dos jornais e circulação de massa 
 
A história identifica que a economia do jornalismo faz ora a opção dos jornais 
por atingir leitores mais abastados (porque atraem mais anunciantes), ora por atingir 
leitores mais pobres (porque isso aumenta a circulação). Nos EUA, amenizadas as 
disputas partidárias no período pós-revolução, os jornais voltam-se aos negócios e, 
em função disso, aos leitores. 
Benjamin Day funda, em 1833, o jornal Sun cujo lema se tornou “brilha para 
todos”. De caráter bastante popular (seja pelo preço seja pelo conteúdo), em pouco 
tempo, atinge um amplo público. Jornais como este formaram o que ficou conhecido 
como “imprensa pobre”. Sobre esse tipo de imprensa, De Fleur (1993) afirma: “um dos 
mais importantes aspectos do jornal de tostão de (Benjamin) Day, e dos que se 
seguiram, foi a redefinição de ‘notícia’ para se adaptar aos gostos, interesses e 
capacidades de leitura do nível menos instruído da sociedade”. 
O surgimento da imprensa a vapor no lugar do velho modelo inventado por 
Gutenberg acelera e amplia a produção de jornais – inclusive diários – em milhares de 
exemplares. Isso contribui para que os editores, aos poucos e sempre mais, se 
desvinculem da interferência financeira dos políticos. Ao mesmo tempo, esses jornais 
contribuem para que as camadas mais pobres da população participem mais do 
processo político do país. 
Na Inglaterra, contudo, o processo é bem diferente. O governo mantém o 
controle sobre a imprensa, inclusive com a manutenção do antigo imposto sobre as 
publicações (o imposto do Selo). Muitos jornais existem clandestinamentepara não 
pagar o imposto. Essa imprensa marginal estimula a população a participar dos 
assuntos do governo, até que esse imposto é abolido em 1855. 
Nos EUA, a imprensa passa a ter uma circulação massiva, sendo o lucro obtido 
dos anúncios e não mais da circulação. Nesse período, destaque para a ação de 
Joseph Pulitzer cujo primeiro jornal – o New York World – passa de 20 mil exemplares 
em 1883 para uma tiragem de 190 mil durante a semana e 250 mil aos domingos, em 
1887. Ele mistura sensacionalismo, política progressiva e campanhas para chamar a 
atenção sobre si, constituindo o que ficou conhecido como “novo jornalismo”. A disputa 
de Pulitzer com seu ex-empregado William Randolph Hearst deu origem ao que ficou 
conhecido como “jornalismo amarelo”, quando as tiragens dos seus jornais 
ultrapassaram a marca de um milhão de exemplares5. 
Em Londres, na Inglaterra, por iniciativa do próprio Pulitzer em parceria com 
Alfred Harmsworth, é fundado o Daily Mirror cujo formato – tablóide – ganha força a 
uma nova onda de jornalismo popular. Nos EUA, surge então o Daily News. (O termo 
tablóide surgiu inspirada num produto farmacêutico da década de 1880 sob 
forma de comprimido e de fácil digestão). 
Do incentivo à revolução no século 18 com seu discurso progressista contra os 
monopólios imperialistas, os jornais passaram eles mesmos a constituírem um novo 
monopólio, o “do saber”, uma vez que este passou a estar sob o controle do capital 
(confira quadro a seguir sobre “Sensacionalismo e educação”) 
 
 
 
5 A concorrência entre os diários do chamado “jornalismo amarelo” norte-americano assumiu 
proporções alarmantes. Tudo se justificava para vencer a concorrência. Tantos foram os 
excessos, que a sociedade daquele país, representada por grupos e instituições organizadas 
(igrejas, partidos políticos, empresários etc) e pelas próprias organizações de editores e 
publicadores, reagiu agressivamente a essa prática jornalística e conseguiu fazer com que os 
jornais passassem a observar normas que melhor regulassem o trabalho da imprensa. A 
expressão “jornalismo amarelo” tem origem num primitivo personagem – o “Garoto Amarelo” – 
que foi um dos recursos (no caso, o uso de desenhos coloridos) que os jornais desse período 
utilizaram como artifício para vencer a concorrência, chamando a atenção do público. 
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11
Sensacionalismo e educação 
 
• Europa, século 19: condições sócio-econômicas mudam radicalmente o 
jornalismo (Revolução Industrial amplia o público consideravelmente e cresce 
urbanização e nível de escolarização) 
• Produção dos jornais é ampliada com a mecanização para atender maior 
número de leitores. 
• Público com novo perfil (cultura popular, mais objetiva, pragmática) pede novo 
jornalismo. 
• Custos da produção do jornal aumentam = investimento em publicidade. Jornal 
consolida-se como empresa autônoma. 
• Jornais buscam a atender os vários gêneros (interesses) do público: textos 
literários, charges, quadrinhos, novidades etc. Texto informativo ganha mais 
espaço. 
• Tendo em vista atender esse público, jornalismo desse período fica entre 
sensacionalista (apelo) e educador. 
 
A Reportagem e o método jornalístico 
 
Os primeiros jornalistas norte-americanos (do início do século 19) eram, ao 
mesmo tempo, editores, publicadores e impressores. Presos às oficinas tipográficas, 
estes esperavam das agências de correios as notícias que iriam preencher as páginas 
de seus jornais. 
Essas notícias podiam ser provenientes de outros jornais (sobretudo, 
europeus), inclusive. Na falta dessas notícias, inseriam ensaios (artigos) escritos às 
pressas. Um facilitador da coleta de informações é o telégrafo, que permitiu a 
divulgação de notícias diárias. 
A prática da reportagem começa a surgir, aos poucos, com a ação dos 
jornalistas que passam a colher algumas notícias locais. Nos EUA, eles começam a 
ser identificados, mais ou menos, a partir de 1870. Seu método de coleta de 
informações parece se inspirar no próprio método científico em crescimento naquele 
período. Também a Guerra Civil naquele país faz gerar um amadurecimento na função 
do jornal que passa a ocupar-se mais em colher, editar e relatar as notícias 
(superando e muito a antiga concepção de jornal segundo a qual este deve ser um 
órgão de opinião partidária). 
A coleta de notícias se intensifica a partir do momento em que os editores 
mandam seus “repórteres” até os paquetes, ferrovias, portos e navios em busca de 
informações mais atualizadas. Essa busca pelas notícias gera a competição entre os 
editores que pretendem ser “mais oportunos” que seus concorrentes. 
Com o crescimento das cidades norte-americanas e européias, começa a se 
evidenciar a atuação dos repórteres locais, cujo trabalho de observação se torna útil 
aos jornais e sobretudo aos leitores que não têm mais tanto acesso a notícias da sua 
própria cidade. No início, contudo, esses “repórteres” não eram profissionais e tinham 
essa atividade como um “bico”. 
Em seguida, surgem os “repórteres parlamentares” (na Inglaterra) que cobriam 
as sessões do Parlamento, registrando os debates ali realizados. Inicialmente, foram 
proibidos de tomarem nota (o que acabava gerando muitas distorções) e depois lhes 
foi permitido anotarem (passaram a usar a estenografia e a taquigrafia). Experiência 
semelhante passou a ser feita junto aos tribunais de justiça e “de polícia”. Mas foram 
as coberturas de assassinatos e guerras que mais contribuíram para o aprimoramento 
do método jornalístico. 
 
 
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Investigação 
 
As notas dos primeiros repórteres, em geral, não incluíam citações ou 
declarações (exceto se de pronunciamentos públicos), porque raramente as pessoas 
eram entrevistadas. Ao mesmo tempo, mantinham o velho problema do partidarismo, o 
que favoreceu, inclusive, alterações no comportamento das fontes mais visadas pelos 
jornalistas (autoridades civis, policiais, religiosas, empresários e outros) que passaram 
a se organizar na forma de atender a imprensa, cuidando especialmente de sua 
“aparência”. 
Algumas dessas fontes passaram a adotar mediadores na sua relação com 
imprensa, os relações públicas. Por outro lado, a agressividade de alguns jornalistas, 
contribuiu para inibições e desconfianças por parte das fontes. 
 
A veneração do fato 
 
Na segunda metade do século 19, a exatidão torna-se palavra de ordem para o 
jornalismo norte-americano. Os editores passaram a preocupar-se em separar a 
informação do fato do ponto de vista sobre o fato. Os fatos passam a valer por si 
mesmos. Surge, então, a regra da “pirâmide invertida” (organiza a matéria em função 
dos fatos e não das ideias ou cronologias; os fatos mais importantes merecem 
destaque). Essa regra, contudo, só foi adotada após algumas décadas desde seu 
surgimento. 
Os acontecimentos passam a ser vistos a partir de “instantes discerníveis e 
dramáticos, desempenhados por personagens coerentes e reconhecíveis” – o que tem 
grande aceitação pelos leitores. Esse posicionamento modifica os padrões éticos do 
jornalismo que passam a proclamar a importância da imparcialidade. 
Nesse período, surgem as grandes agências de notícias (especialistas em 
divulgação dos fatos em detrimento da opinião). O primeiro “esboço” de agência de 
notícias existiu durante o século 19, função desempenhada, de certo modo, pela 
agência britânica dos correios (que recebia uma taxa em troca do fornecimento de 
sumários em inglês de artigos publicados em jornais estrangeiros). A primeira agência 
privada de notícias surgiu na França em 1832, estabelecida por Charles Havas. Este, 
inicialmente, usou de pombos-correio e do telégrafo para divulgar suas notícias. Com 
isso, se consolida o conceito de notícia como “mercadoria” (reveja textode Mattelart a 
partir da página 20). 
Aliada a imparcialidade, a objetividade passa a ser outra bandeira levantada 
pelos jornalistas norte-americanos (os europeus só irão adotar esta postura bem mais 
tarde). Para tanto, passaram a seguir as seguintes regras: 
a) verificar que suas preferências pessoais não transpareçam abertamente em suas 
notícias (apesar disso não ser possível inteiramente e existir o conflito com a chefia e 
classe patronal); 
b) evitar a utilização de terminologias evidentemente carregadas de valores; 
c) usar do equilíbrio na apresentação das versões. 
 
“Primeiros gêneros da cultura de massa 6 
 
Bem cedo, as grandes agências de imprensa tornaram-se, com efeito, utilizadoras 
assíduas das redes de comunicação à distância, demasiado satisfeitas por á não 
dependerem dos pombos correios para o transporte de seus telegramas. 
A agência francesa Havas é fundada em 1835; a alemã Wolff, em 1849, e a 
britânica Reuter, em 1851. A agência americana, Associated Press (AP), inicia sua história 
em 1848. No entanto, somente as três européias começam sua atividade como agências 
 
6 Trecho extraído da obra “Comunicação Mundo: história das idéias e das estratégias”, de 
Armand Mattelart, Editora Vozes, 1994, página 27. 
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internacionais. Apenas na virada do século é que a americana vai empreender essa via. 
Por um acordo explícito assinado em 1870, o cartel Havas, Reuter e Wolff partilha entre si 
o mercado mundial. O território da agência parisiense é mais especialmente a Europa 
Meridional; o da Wolff, a Europa Central e Setentrional. Quanto à britânica, vai se modelar 
segundo as linhas de força do império. Desde o início, um de seus alvo privilegiados será 
a informação comercial e financeira. A originalidade de Havas é o fato de combinar 
informação com publicidade. Por essa acumulação, será a precursora dos grupos 
multimídia do século XX. Outra originalidade é a história complexa de suas imbricações 
com o Estado. Na seqüência da Primeira Guerra Mundial, Wolff deixa de ser uma agência 
mundial. E, por isso mesmo, as agências Havas e Reuter acabam sendo reforçadas até os 
anos 30, época em que as agências americanas AP e United Press (UP) hão de começar 
a caçar notícias no mesmo terreno. 
A rápida progressão das redes das grandes agências é paralela ao advento de 
uma imprensa liberada dos constrangimentos a censura. De 1853 a 1861, a Grã-Bretanha 
suprime os ‘impostos sobre o saber’ que entravavam o desenvolvimento de uma imprensa 
de massa. Os Estados Unidos já se encontravam na dianteira pois, bem antes de 1850, 
tinha surgido uma imprensa cotidiana, a preços módicos, lida pelo povo. 
Na França, em 1881, a legislação marca uma etapa. A imprensa e a atividade 
editorial são livres. O depósito prévio é suprimido, assim como a caução e a taxa. Os 
únicos delitos da imprensa são a provocação ao crime, a incitação de militares à 
desobediência, os ultrajes ao presidente da República, os gritos sediciosos, os ultrajes aos 
bons costumes, as difamações e injúrias pessoais, a ofensa contra chefes de Estado e 
agentes diplomáticos estrangeiros. Divulgação, venda e afixação são autorizadas. O 
diretor é responsável pela publicação; seu nome deve figurar no jornal. Tal era, em 
substância, o conteúdo da lei francesa de 29 de julho de 1881, saudada como a grande lei 
sobre a liberdade de imprensa e considerada como a vitória da burguesia republicana. 
Em 1890, ‘Le Petit Parisien’ gaba-se por ser o primeiro cotidiano popular europeu a 
ultrapassar a tiragem de um milhão de exemplares. O ‘New York Journal’ do americano 
William Randolph Hearst, emblema da imprensa sensacionalista, não chega a atingir essa 
cifra, a despeito de seus suplementos dominicais e seus ‘comics’. De um e outro lado do 
Atlântico, a concorrência estimula a procura dos primeiros gêneros da cultura de massa. 
Na França, onde ‘Le Petit Journal’ e ‘Le Petit Parisien’ travam uma guerra encarniçada 
entre si, o folhetim se converte em um dos trunfos do jornalismo popular. Introduzido a 
partir de 1836, esse gênero atingirá seu apogeu no meio da década de 1880, quando esse 
jornais vão publicar dois ou três folhetins ao mesmo tempo com a ajuda importante de 
campanhas promocionais. 
Nos Estados Unidos, a luta entre os suplementos dominicais do jornal de Hearst e 
do ‘New York World’ de Joseph Pulitzer vê surgir, em 1894, os primeiros ‘comics’. Em 
menos de quinze anos, a primeira estratégia de penetração do mercado internacional terá 
atingido o ponto de bala a partir desse tipo de produto editorial. Em 1909, Hearst cria o 
primeiro ‘syndicate’, International News Service: a função dessa agência é vender aos 
jornais material literário, artigos de divulgação científica, palavras cruzadas e histórias em 
quadrinhos. Vai suceder-lhe, em 1915, O King Feature Syndicate: entre seus produtos de 
base estão os ‘comics’. Conseqüência da reestruturação desse gênero em torno do 
‘syndicate’: o fim do estágio artesanal em benefício da divisão do trabalho e da produção 
(a agência arroga-se o direito de ‘autor’; pode retocar, suprimir e modificar, encontrar um 
sucessor por ocasião do desaparecimento do desenhador; tem, portanto, uma política 
editorial); uma ‘padronização do material que proporciona uma certa homogeneidade me 
face do mercado internacional e elimina os aspectos críticos ou agressivos que poderiam 
afastar os clientes de países com costumes, religião ou princípios políticos diferentes’. 
No entanto, é no domínio da indústria cinematográfica que se prepara o primeiro processo 
importante de internacionalização da cultura de massa nascente. As primeiras projeções 
cinematográficas realizaram-se em Paris e Berlim, em 1895; no ano seguinte, em Londres, 
Bruxelas e Nova Iorque. Os irmãos Lumiére disputam com Edison a primazia da invenção 
dessa técnica.(...)” 
 
 
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O caso do Watergate 7 
 
O caso Watergate é o mais conhecido escândalo político da história americana, 
e "Garganta Profunda" é a fonte anônima mais famosa do jornalismo. O que começou 
com o que parecia ser um mero roubo em junho de 1972 levou à queda do presidente 
Richard Nixon e também revelou uma trama política de espionagem, sabotagem e 
suborno. 
Algumas pessoas dizem que o caso mudou a cultura política americana para 
sempre, derrubando o presidente de seu pedestal e tornando a imprensa mais 
corajosa. Os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal americano 
Washington Post, desempenharam um papel-chave na revelação do escândalo, 
auxiliados por informações cruciais de seu misterioso informante. 
 
Pesadelo político 
 
Watergate é um termo geral usado para designar uma rede complexa de 
escândalos políticos entre 1972 e 1974. Mas também se refere especificamente ao 
edifício Watergate, em Washington DC, que abriga um hotel e vários escritórios. Foi 
nesse prédio que cinco homens foram presos no dia 17 de junho de 1972 ao tentar 
colocar escutas nos escritórios do Comitê Nacional Democrata. O arrombamento, 
durante uma campanha eleitoral, foi investigado e levou aos membros de um grupo de 
apoio a Nixon - o Comitê para Reeleger o Presidente. 
Os invasores e dois cúmplices foram condenados em janeiro de 1973, e 
muitos, inclusive o juiz que os julgou, John Sirica, suspeitaram que havia uma 
conspiração que alcançava os altos escalões do poder. O caso acabou se 
transformando em um escândalo político amplo quando um dos arrombadores 
condenados escreveu para Sirica alegando ter havido uma grande operação de 
acobertamento do caso. 
 
Gravações secretas 
 
O Senado americano lançou investigações que engoliram grandes 
personalidades políticas, inclusive o ex-procurador-geral John Mitchell e os assessores 
da Casa Branca John Ehrlichman e HR Haldeman.Em abril de 1974, Nixon cedeu à 
pressão da opinião pública e liberou transcrições editadas de gravações de conversas 
que teve sobre Watergate. Mas o presidente não conseguiu conter a contínua perda 
de apoio à sua administração, ou uma percepção pública de que ele estava implicado 
na conspiração. Em julho daquele ano, a Suprema Corte ordenou que Nixon 
entregasse as gravações relacionadas ao escândalo. 
Enquanto isso, o Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes completou 
sua investigação e aprovou dispositivos para o impeachment de Nixon. No dia 5 de 
agosto, Nixon entregou as transcrições das gravações de três conversas. Ele admitiu 
que tomou conhecimento do acobertamento pouco depois do arrombamento no 
complexo de Watergate e que tinha tentado por fim à investigação do FBI (a polícia 
federal dos Estados Unidos). Quatro dias depois, ele se tornou o primeiro presidente 
dos Estados Unidos a renunciar ao cargo e foi substituído pelo vice-presidente, Gerald 
Ford. O presidente Ford deu o perdão oficial a Nixon para evitar um julgamento. Já os 
seus principais assessores, Haldeman, Ehrlichman e Mitchell, estavam entre os 
condenados em 1975 por seu papel no escândalo. 
 
 
 
 
7 Fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/12/19/entenda-escandalo-de-watergate-
587370049.asp 
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'Siga o rastro do dinheiro' 
 
Woodward e Bernstein conseguiram vários furos de reportagem com a 
ampliação do escândalo. Seu livro sobre o tema, Todos os Homens do Presidente, foi 
transformado em um filme, estrelado por Dustin Hoffman e Robert Redford. Entre as 
cenas memoráveis está o primeiro encontro de Garganta Profunda, que ascende um 
cigarro na escuridão de uma garagem, com o jornalista Woodward. A recomendação 
do informante é "siga o rastro do dinheiro". Com o desenrolar de Watergate, Garganta 
Profunda ficou temeroso de que seu papel na investigação do Washington Post fosse 
descoberto, disse Woodward. 
Acredita-se que o informante tenha exigido não conversar mais por telefone, 
temendo que o aparelho estivesse grampeado, e ambos começaram a se encontrar 
tarde da noite em uma garagem em Washington. Se Woodward quisesse encontrar 
Garganta Profunda, o repórter teria que alterar o arranjo de um vaso de plantas na 
janela de seu apartamento. Se Garganta Profunda quisesse ver Woodward, teria que 
garantir, de alguma forma, que a página 20 da cópia do jornal New York Times que 
Woodward recebia tivesse uma marca. 
Durante décadas especulou-se quem seria Garganta Profunda. A especulação 
acabou em 2005, com um artigo na revista Vanity Fair em que a identidade do 
informante foi revelada. Tratava-se do segundo em comando do FBI, Mark Felt. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O Jornalismo e a História: semelhanças e diferenças no ato de 
narrar/ Fato histórico e fato jornalístico: Jornali smo como fonte 
histórica 
 
Textos de referência: 
ESPERANÇA, Clarice Gontarski. Testemunhas ou fontes: relações e 
desencontros entre jornalistas e historiadores. Em Questão, Porto Alegre, v. 12, 
n. 2, p. 235-251, jun./dez.2006. 
MOURA, Samira da Silva. Jornalismo e História: caminhos que se cruzam. 
 
Sobre as relações entre Jornalismo e História 
 
Jornalismo História 
No início: foco no registro do instante, do 
novo, do imediato. 
No início: foco na recuperação e 
reinterpretação do passado. 
Hoje: freqüente referência a fatos 
passados. Divulgação dos fatos exige 
contextualização histórica. 
Hoje: mídia é tida como fonte de 
pesquisa por ser documento capaz de 
recuperar, ao menos em parte, o 
cotidiano. 
Uso da entrevista. Uso da entrevista (História Oral). 
Emprego de sua visão de mundo quando 
realiza seu relato. 
Emprego de sua visão de mundo quando 
realiza seu relato. 
Poder de transmissão de informação. Poder de transmissão de informação e 
produção do conhecimento. 
Ao basear-se em relato de fontes 
(testemunhas), visa reconstruir o real. 
Ao basear-se em relato de fontes 
(testemunhas), visa reconstruir o real. 
Testemunha (fonte) produz afirmação de 
algo que, de fato, existiu, aconteceu. 
Mediante entrevista, ela é vista como 
acesso à informação por excelência. Em 
razão da autoridade moral de quem 
testemunha, o fato passado é 
considerado verdade objetiva. 
Testemunha (fonte) produz afirmação de 
algo que, de fato, existiu, aconteceu. 
Busca-se analisar o significado dos 
testemunhos para além do aparente, mas 
que identifiquem permanências, 
contingências (incertezas) e 
subjetividade. 
Relato jornalístico é feito mediante o uso 
da investigação apressada e linguagem 
fluente e atrativa. 
Relato historiográfico é feito mediante o 
uso da investigação cautelosa, teórica e 
metodologicamente embasada. Uso da 
linguagem erudita e complexa. 
O jornalista torna-se “fiador” do relato da 
testemunha a quem atribui a “verdade 
dos fatos”. 
Verdade não é apontada, mas sim as 
verdades possíveis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A imprensa colonial no Brasil e A imprensa na Independência: 
as condições políticas e a perseguição à imprensa 
 
“Primeiras batalhas 8 
 
A imprensa surge tardiamente no Brasil. Há razões internas e externas a 
explicar a sua ausência na Colônia. A Coroa Portuguesa sempre criou obstáculos ao 
seu desenvolvimento para impedir que as críticas à dominação metropolitana se 
propagassem através das folhas impressas. Além disso, os núcleos urbanos eram 
pouco significativos na sociedade colonial havendo predominância de uma população 
do campo, analfabeta, constituída na sua maioria por escravos, dispersa em áreas 
distantes. Estes fatores representaram empecilhos para a consolidação da imprensa. 
Apesar das dificuldades, diários e panfletos circularam nos pequenos e 
grandes centros urbanos. A barreira do analfabetismo era contornada pela 
comunicação oral: a leitura da voz alta, nas esquinas, nas farmácias ou nos serões 
familiares possibilitava a divulgação das mensagens, muitas vezes de conteúdo 
público – antilusitano e anticolonialista. Esses pequenos jornais tinham duração 
efêmera. 
A vinda da Família Real para o Brasil, em 1808, agitou a sociedade e dentre as 
várias modificações ocorridas nessa época, apontamos a criação da Imprensa Régia, 
fato que favoreceu o surgimento de inúmeros jornais na Capital do Reino e também 
nas províncias: Bahia, Pernambuco, Maranhão, São Paulo. 
A imprensa de oposição política ganhou destaque nas lutas pela 
independência. As críticas à Coroa desencadeavam a censura e esta chegava a 
impedir a circulação de jornais. O Correio Braziliense tornou-se famoso não só pelas 
críticas ao governo mas principalmente porque foi publicado em Londres devido ao 
seu impedimento no Brasil. Alguns autores exaltam a combatividade de José Hypolito 
da Costa, o proprietário. Outros reduzem a importância desse periódico, 
argumentando que esteve ligado aos interesses ingleses e só atuou na Europa sem 
repercussão no Brasil. Apesar disso causou preocupações à Coroa que fez circular, 
também em Londres, O Investigador Português para fazer frente ao órgão opositor. 
A luta pela independência colocou em campos opostos a imprensa oficial ou 
oficiosa e a de oposição. Esta última caracterizou-se pela linguagem enérgica e 
violenta. 
Em 1821 surgiu o Revérbero Constitucional Fluminense, escrito por ‘dois 
brasileiros amigos da nação e da Pátria’ – Joaquim Gonçalves Ledo e Januário da 
Cunha Barbosa. Esse órgão doutrinário batalhou pela independência, opôs-se à volta 
de D. Pedro a Portugal e aos projetos de recolonização da Metrópole. Os proprietários 
deixaram de publicar o jornal em 1822 por considerarem seus objetivosatingidos. Isso 
não os livrou das perseguições que resultaram em deportação e exílio. 
O Malagueta, também surgiu em 1821, atingindo grande popularidade até 
1822. O proprietário Luis Augusto May, defensor das causas brasileiras, foi vítima de 
perseguições e espancamentos. 
O português João Soares Lisboa destacou-se como defensor da liberdade de 
imprensa no Brasil, através de seu órgão – O Correio do Rio de Janeiro – lutou pela 
independência e propôs a convocação da Constituinte com eleições diretas. 
A Constituinte foi convocada e depois dissolvida. Seguiu-se, então, um período 
de ausência de liberdade para a imprensa. João Soares Lisboa foi preso, condenado e 
anistiado sob a condição de deixar o país. Desobedeceu às ordens do exílio; ficou 
para participar da Confederação do Equador e foi morto durante combate. 
 
8 Texto extraído do livro “Imprensa e História do Brasil”, de Maria Helena R. Capelatto, 
Contexto/EDUSP, 2a ed., 1994, página 38. 
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A atuação da imprensa nesse movimento teve muita importância. O Typhis 
Pernambuco, fundado e dirigido por frei Caneca, instigou a população contra o 
governo que, entre outras arbitrariedades, dissolvera a Constituinte. O periódico O 
Desengano dos Brasileiros também teve papel significativo na Confederação. 
Nessa época, tornou-se famoso Cipriano Barata. Através de suas Sentinelas 
da Liberdade, escritas muitas vezes no cárcere, travou polêmica acirrada com o 
político conservador Visconde de Cairu (José da Silva Lisboa). Cipriano afirmou: 
 
 ‘Toda e qualquer sociedade onde houver imprensa livre está em 
liberdade; esse povo vive feliz e deve ter alegria, segurança, fartura. Se 
pelo contrário, aquela sociedade ou povo, tiver imprensa cortada pela 
censura prévia presa e sem liberdade, seja debaixo de que pretexto for, é 
povo escravo, que pouco a pouco há de ser desgraçado até se reduzir ao 
mais brutal cativeiro’. 
 
Essa afirmativa data de 1823, ano em que teve início um período de intensa 
repressão política. Jornalistas foram perseguidos, espancados, processados e 
deportados. 
Na fase de Abdicação, Regência e Maioridade alguns jornais se destacaram. 
Dentre ele a Aurora Fluminense de Evaristo da Veiga, que fez campanha pela 
abdicação de D. Pedro I. 
Durante a Regência proliferaram os pasquins, jornais de formato reduzido e 
poucas páginas, de linguagem violenta e função agitadora. Tinham curta duração e 
entraram em declínio após a Maioridade. Outros jornais dessa mesma época 
sobreviveram por mais tempo. 
Em 1827 surgiu o famoso Jornal do Commercio do Rio de Janeiro; em 1829 o 
Observador Constitucional (São Paulo) de Líbero Badaró que promoveu intensa luta 
pela liberdade de imprensa. Badaró acabou sendo assassinado. 
Na segunda metade do século XIX começaram a aparecer os jornais 
republicanos. O primeiro foi o O Apóstolo (1849) de Minas Gerais. O Jornal do 
Commercio, O Correio Paulistano, Diário de Pernambuco e muitos outros 
transformaram-se em arautos de uma nova era”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Relações entre imprensa e literatura 
 
Textos de referência: 
MARTINS, Ana Luiza; DE LUCA, Tânia Regina (organizadoras). História da imprensa 
no Brasil . São Paulo: Contexto, 2008, p. 107-111. 
PENA, Felipe. Jornalismo literário . São Paulo: Contexto, 2006, p. 11-36. 
 
• Jornalismo literário : 
� potencializa os recursos do jornalismo; 
� ultrapassa os limites dos acontecimentos cotidianos; 
� proporciona visões amplas da realidade; 
� exerce plenamente a cidadania (contribui para a formação do cidadão e da 
solidariedade); 
� rompe as correntes burocráticas do lead; 
� evita os definidores primários (“as fontes de sempre”, as “oficiais”; na verdade, 
vai além desse tipo de fonte, indo ao encontro do cidadão comum, anônimo); 
� garante perenidade e profundidade aos relatos. 
 
• Classificação do Jornalismo Literário (no Brasil): 
� Período inicial: escritores assumiram as funções de editores, articulistas, 
cronistas e autores de folhetins (espécies de novelas, publicadas em 
capítulos). É o período do jornalismo publicista (politicamente engajado) e da 
popularização da literatura. Destaques no Brasil: Manuel Antônio de Almeida 
(Memórias de um sargento de milícias, 1º folhetim, publicado pelo Correio 
Mercantil); Joaquim Manoel de Macedo; Raul Pompéia; Aloísio de Azevedo; 
Euclides da Cunha, entre outros. 
 
� Revistas literárias: tiveram relativa difusão no início do século 20 e abordavam 
não só literatura, mas outros temas afins como poesia, artes, teatro, e eram 
especial espaço para a chamada “crônica cotidiana” (artigos sobre temas 
relacionados aos costumes brasileiros da época cuja sociedade começava a se 
urbanizar, a se industrializar e tinham as grandes cidades européias – 
sobretudo, Paris – como modelo de modernização). Essas revistas eram 
produzidas por “homens de letras”, boa parte dos quais bacharéis de Direito, 
que combinavam a atividade literária com emprego em jornais e revistas. 
Exemplos de jornalistas-escritores de S. Paulo da época: Monteiro Lobato, 
Amadeu Amaral e Minotti del Picchia. 
Após a Primeira Guerra Mundial, as revistas literárias começaram a abordar 
temas mais ligados a questões econômicas e sociais e, em especial, à 
construção de uma identidade nacional. Nesse momento, essas revistas tinham 
como características fundamentais: artigos de natureza variada dentro das 
temáticas artes e ciências (sociais, sobretudo); espaço aberto à exposição de 
idéias e debate político; reuniam grupos diversos de intelectuais e padeciam de 
uma sólida estrutura comercial (por isso, costumam ter duração efêmera). 
Exemplo de revista de destaque do gênero nesse período: Revista do Brasil, de 
S. Paulo, cujo diretor era Júlio de Mesquita (editor do jornal O Estado de S. 
Paulo). Em 1918, passou para a propriedade de Monteiro Lobato que inovou 
nos métodos de venda, ampliando a rede de representantes da revista no País. 
Outro exemplo importante: Almanaque Brasileiro Garnier, do Rio de Janeiro. 
Dirigido para um público amplo, era uma publicação preocupada com a difusão 
de padrões culturais, valores e códigos sociais. Era também um instrumento de 
consulta com informações práticas. 
Na década de 1920, tiveram destaque as revistas modernistas, inspirados no 
Movimento Modernista e que contaram com a participação de destacados 
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intelectuais e escritores da época: Mário de Andrade, Menotti del Pecchia, 
Oswald de Andrade, Sérgio Buarque de Hollanda, entre outros. Foram 
exemplos de revistas modernistas: Klaxon, Estética, A Revista, Verde, Revista 
de Antropofagia. 
 
� Crítica de obras literárias, veiculada em jornais. Papel do crítico literário: 
determinar o que será classificado como cânone, ou seja, uma obra que 
permanecerá na história cultural. Práticas atuais da crítica literária: produção 
acadêmica (mestrado e doutorado em Letras) e artigos em jornais, revistas e 
outras publicações, assinados por jornalistas ou especialistas (acadêmicos, 
artistas, entre outros). Há ainda os suplementos ou cadernos literários (Mais!, 
da Folha de S. Paulo e Prosa e Verso, de O Globo). São componentes da 
crítica: análise, interpretação e julgamento. 
 
� Movimento conhecido como New Journalism (iniciado nas redações dos EUA 
na década de 1960): para alguns historiadores, seu iniciador foi o jornalista 
Daniel Defoe (Diário do ano da peste, 1665; Robinson Crusoé, 1719; Moll 
Flanders, 1722). Outros nomes: John Hersey (Hiroshima, 1946) e Truman 
Capote (A sangue frio, 1965). Motivação do movimento: insatisfação de 
jornalistas com as regras de objetividade do texto jornalístico (lead, porexemplo) e opção pelo valor estético do texto (uso de técnicas literárias). 
Recursos básicos: reconstruir a história cena a cena; registrar diálogos 
completos; apresentar as cenas pelos pontos de vista de diferentes 
personagens; registrar hábitos, roupas, gestos e outras características 
simbólicas do personagem. Suas novas vertentes: 
- Jornalismo Gonzo: versão mais radical do New Journalism. Criador: Hunter S. 
Thompson (repórter da Rolling Stone). Fundamentos: entrevistado deve ser 
provocado para que a reportagem renda; é preciso viver as reportagens para 
poder relatá-las. Características: não se preocupa com personagem da história; 
o autor é o próprio personagem; tudo que for narrado é a partir da visão do 
jornalista que o faz com irreverência, sarcasmo, exageros e opinião. No Brasil, 
conferir: www.jornalistademerda.org. 
- Novo Jornalismo Novo: é uma atualização – embora, não organizada – do 
“velho” Novo Jornalismo. Principais características: explorar situações do 
cotidiano, do mundo ordinário, das subculturas, sem usar da abordagem do 
exotismo ou do extraordinário; envolvimento com matéria e entrevistados; tom 
informal (sem preocupações estilísticas). Objetivos: assumir perfil ativista, 
questionar valores, propor soluções. 
 
� Biografias: o relato biográfico, na maioria das vezes, tenta ordenar os 
acontecimentos de uma vida de forma cronológica, na ilusão de que eles 
formem uma narrativa autônoma e estável, ou seja, uma história com começo, 
meio e fim, formando um conjunto coerente. Na mídia, a memória de um 
personagem, é espetacularizada, em função de ser carregada de imagens pré-
concebidas, facilitando ainda mais a sedução. As celebridades biografadas 
catalisam a atenção e preenchem o imaginário coletivo. Porém, diferentemente 
do que acontece com os heróis (no sentido ocidental do termo), o público vê a 
si mesmo nessas celebridades instantâneas. 
 
� Romances-reportagens: nesse tipo de narrativa, o autor não inventa nada. Ele 
se concentra nos fatos e na maneira literária de apresentá-los ao leitor. Trata-
se do cruzamento da narrativa romanesca com a narrativa jornalística. Os fatos 
não se baseiam na veracidade, mas sim na verossimilhança, ou seja, na 
mimetização da realidade. O autor busca a representação direta do real por 
meio da contextualização e interpretação de determinados acontecimentos; 
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nesse caso, não há preocupação apenas em informar, mas também em 
explicar, orientar e opinar, sempre com base na realidade. A esse conceito está 
relacionado o de livro-reportagem: este engloba o real factual, seja na 
veracidade ou na verossimilhança, já que seus procedimentos operacionais 
são jornalísticos. 
 
� Ficção-jornalística: nessa narrativa, o autor inventa deliberadamente, embora 
utilize instrumentos do jornalismo (levantamento e apresentação concisa e 
objetiva de fatos). Em outras palavras: a realidade é reconstruída a partir do 
jornalista, mas ele não se prende aos limites do compromisso com a verdade. 
A essa linha está relacionado o movimento literário latino-americano chamado 
Realismo Fantástico cujo maior representante é o jornalista e escritor 
colombiano Gabriel García Marquez, Prêmio Nobel de Literatura (seus livros 
são mágicos, deixam clara a opção pelo ficcional, mas estão construídos sobre 
a realidade política do continente). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A imprensa brasileira na República Velha 
 
Textos de referência: 
MARQUES, Luís Henrique. História da comunicação . Bauru: Universidade do 
Sagrado Coração, 2008, p. 23-26 (apostila). 
MARTINS, Ana Luiza; DE LUCA, Tânia Regina (organizadoras). História da imprensa 
no Brasil . São Paulo: Contexto, 2008, p. 83-102. 
 
O jornalismo da Primeira República 
 
Com o advento e o transcorrer da chamada Primeira República ou República 
Velha (1889-1930), o Brasil vive sua Belle Époque, cujo modelo de civilização 
moderna é inspirado na Europa. Paris, nesse sentido, é o modelo por excelência de 
desenvolvimento urbano. 
O crescimento da imprensa brasileira, na realidade, é apontado a partir de 
meados da década de 1870, quando a circulação de periódicos tem um significativo 
incremento. Esse desenvolvimento, no entanto, se dá mediante limites típicos da 
sociedade brasileira do período: com o desenvolvimento ainda bastante tímido dos 
transportes, a distribuição de jornais estava limitada ao eixo Rio-São Paulo. No que diz 
respeito aos leitores, vale lembrar que, em 1890, estimava-se em apenas 15% o 
montante da população brasileira alfabetizada. 
Nesse período de transformações, a imprensa conheceu múltiplos processos 
de inovação tecnológica que permitiram o uso da ilustração diversificada – charge, 
caricatura, fotografia -, assim como aumento das tiragens, melhor qualidade de 
impressão, menor custo do impresso, propiciando o ensaio da comunicação de massa. 
Em contraposição à liberdade de expressão que distinguiu boa parte do Império, a 
República, desde o seu início, foi marcada pela censura e repressão. Mas a imprensa 
foi também muito cortejada pelo governo que, afinado com seus interesses de classe – 
isto é, aqueles da elite agrária de São Paulo e Minas Gerais – aliciou-a e mobilizou-a 
para sua propaganda e serviço. 
Nesse período, outro destaque é a cobertura feita na Campanha contra 
Canudos (1893-1897) cuja principal atuação foi de Euclides da Cunha que, com suas 
reportagens, deu origem à publicação do clássico Os Sertões. 
 
A Revolução de 1930 e a modernização do jornalismo 
 
“A revolução (de 1930) não assegura, desde logo, como era do seu objetivo, a 
democracia formal de inspiração liberal, basicamente porque não se liberta totalmente 
dos grupos oligárquicos e das contradições ideológicas, mas muda o país e moderna 
as instituições”. A afirmação é do jornalista e escritor Juarez Bahia (1990). Para ele, 
essa modernização chega também aos jornais e, em seguida, ao rádio, revistas, livros 
e propaganda – que vão constituir o aparato a nascente indústria cultural brasileira – 
os quais são atingidos por significativas transformações. 
Essa modernização começa pelo posicionamento de parte da imprensa em 
relação aos fatos que abalam as antigas estruturas do País nos anos 30 (como é o 
caso da Revolução Constitucionalista de 32): esta se alinha com as reivindicações que 
pedem a modernização do Estado brasileiro, tais como o voto livre, secreto e 
universal, o acesso de todas as camadas sociais aos benefícios do desenvolvimento, 
o fim do colonialismo etc. Cada vez mais independente do poder político, a imprensa 
brasileira se coloca na condição de “voz do povo” e pressiona o governo a mudanças, 
como foi a promulgação da Constituição de 1934 por Getúlio Vargas. 
A modernização da imprensa brasileira é verificável também na inovação dos 
conteúdos e aprimoramento dos seus recursos técnicos (exemplo: a introdução do 
sistema ofsete); pela utilização de uma ortografia simplificada; pelo uso do material 
enviado por agências (Associated Press e Reuters) na cobertura internacional. Esse 
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desenvolvimento da imprensa – e especificamente dos jornais – contribui para o 
desenvolvimento dos outros veículos de comunicação que, por sua vez, pressionam 
os jornais a constantes inovações. 
O exemplo do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro: o que havia de mais 
moderno chegava à sua redação com a novidade das máquinas de escrever para 
cada um dos jornalistas; foi um dos primeiros a estampar tiras de histórias em 
quadrinhos e dedicar uma página para esportes. Além disso, a partir de 1924, 
introduziu uma seção sobre rádio e, a partir de 1929, outra sobre cinema. Ainda a 
partir de1922, passou a publicar seções de informações recebidas da agência 
internacional de notícias United Press, além das já publicadas notícias das agências 
Havas e Reuters. Além disso, detinha o monopólio de classificados. 
 
Textos complementares 
Reportagem gráfica (caricatura, charges etc) 
 
“A Campainha e o Cujo” foi a primeira caricatura publicada no Brasil. Esse material – 
uma crítica a um anúncio do jornal Correio Oficial para a contratação de um redator 
por três contos e 600 réis – foi publicado no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, 
no dia 14 de dezembro de 1837, de autoria de Manuel de Araújo Porto Alegre. 
Historiadores registram, entretanto, experiências anteriores, ainda que 
incipientes. Porém, segundo Bahia (ibid), Rafael Bordalo Pinheiro, natural de Portugal, 
é considerado o primeiro caricaturista do Brasil, com trabalhos regulares nos jornais do 
Rio de Janeiro. 
Ainda no período imperial, vários artistas passam a ilustrar os jornais da época 
e se destacam ao promover um significativo desenvolvimento nesse tipo de arte 
gráfica. É o caso de Ângelo Agostini que, de 1876 a 1898, edita sua Revista Ilustrada. 
Nesse período, “na ausência da fotografia”, escreve Juarez Bahia (1990), “a ilustração 
registra o mais fielmente possível as mudanças que ocorrem na sociedade imperial e 
republicana”. E completa: “Mas também acrescenta a essa visão a sátira, a ironia, a 
informalidade e o deboche”, que mais tarde, irá definir o papel da caricatura, da charge 
e de outros recursos gráficos utilizados, no jornalismo, por ilustradores. 
A partir do início do século 20, a caricatura passa a se consolidar, uma vez que 
a ilustração populariza a informação e recebe o nome de reportagem gráfica. Essa 
mudança tem relação com os avanços da impressão. “Em 1985, o clichê” – escreve 
Bahia (ibid), “que resulta do processo de zincografia, permite a reprodução de 
desenhos documentais, como se fora fotografia”. 
Com o surgimento dos primeiros fotógrafos profissionais e sua contratação em 
jornais cariocas e paulistas, entre 1898 e 1900, tem início o desenvolvimento da 
reportagem fotográfica, o que obriga a informação gráfica à especialização na charge, 
cartum, história em quadrinhos e caricatura. A expansão da reportagem gráfica ganha 
força nesse período, também em função da ampla ilustração de novos produtos 
editoriais que acompanham o jornal (sobretudo aos domingos), entre os quais estão os 
suplementos. 
O avanço dos meios eletrônicos impõe ao jornalismo impresso alternativas 
limitadas. Nesse contexto, a ilustração se consolida, de uma vez, como parte da 
opinião, de evidente posicionamento político e ideológico. Nesse sentido, entre as 
revistas brasileiras que se especializaram na ilustração humorística e de crítica, vale 
destacar O Malho, Fon-Fon, A Manha e O Tico-Tico. Essas revistas não assumem, 
contudo, o sucesso nas proporções das similares norte-americana, inglesa e francesa. 
 
 
 
 
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Paulo Barreto: retratos da transição social 9 
 
A cadeira número 26 da Academia Brasileira de Letras foi ocupada, durante 
quase doze anos, por João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (1881-
1921). Jornalista, cronista, contista e teatrólogo ficou conhecido, no Rio de Janeiro, 
pela versão simplificada de seu extenso nome, Paulo Barreto. Eleito em 7 de maio de 
1910, na sucessão de Guimarães Passos, realmente tomou posse do assento em 12 
de agosto desse ano. Filho de educador, fez os estudos elementares e de 
humanidades com o pai. Aos 16 anos, ingressou na imprensa. Em 1918, estava no 
jornal Cidade do Rio, ao lado de José do Patrocínio e o seu grupo de colaboradores. 
Surgiu, então, o pseudônimo de João do Rio, com o qual se consagraria 
literariamente. O muito moreno e beiçudo, Paulo Barreto alcançou a fama e encontrou 
o esquecimento em um curto período de tempo, menos de vinte anos de atividade, 
aproximadamente. Talvez, a própria força das mudanças, incentivadas por ele, tenha 
lhe soterrado e legado ao esquecimento. Paulo Barreto, segundo Cremilda Medina 
(1998), reflete as indefinições históricas que envolvem a sociedade e, 
consequentemente, o jornalismo da época. 
A capital do país, Rio de Janeiro, estava em processo de transformação. O 
impacto da Primeira Guerra Mundial, as inovações tecnológicas, a chegada do 
automóvel ao Brasil, o cinema e a decadência da boemia literária (MEDINA, 1998, p. 
56) são alguns dos fatores que desencadeiam alterações na sociedade, as quais se 
refletem nos meios de imprensa. As mudanças nos hábitos do público carioca que 
passa a apreciar a sétima arte, por exemplo, criam a necessidade de se alterar o 
modo de apresentação e a pauta dos jornais. As opiniões, em que estava baseado o 
jornalismo, vão cedendo espaço à informação. Nessa onda de mudanças, os jornais 
acentuam a consagração do modelo empresa, “relegando ao esquecimento a fase 
artesanal: um periódico, daí por diante, empresa nitidamente estruturada em moldes 
capitalistas” (SODRÉ, 1983, p. 355). 
Paulo Barreto “está diretamente vinculado ao contexto em que vive” (MEDINA, 
1988, p. 57). Segundo Medina, João do Rio levanta uma questão, até hoje motivo de 
discordâncias: a identificação do limite entre o jornalismo e a literatura, no sentido de 
determinar onde terminaria um e começaria a outra. Em resposta aos autores que 
criticam o trabalho de João do Rio, considerado a obra como literatura apressada, 
Medina ressalta que as observações, quanto à análise literária, devem ser deixadas de 
lado, para valorização das produções jornalísticas. “Para valorizar estes ângulos da 
produção de João do Rio, é preciso abandonar os instrumentos críticos da análise 
literária, e descobrir a contribuição jornalística” (MEDINA, 1988, p. 54). 
As contribuições, provenientes do trabalho de Paulo Barreto, quanto à inovação 
metodológica, são conflitantes entre os autores da história da reportagem impressa, 
mas apresentam um relevante ponto em comum, a contribuição do repórter 
concentrasse nas técnicas de captação das informações, e não no que se refere à 
linguagem ou qualidades estilísticas. Para Werneck Sodré (1983, p. 352), “portanto, a 
contribuição não foi o terreno da linguagem, mas no uso de métodos que, não sendo 
novos, foram apurados por ele, aproveitados, praticados com inteligência: a entrevista, 
o inquérito e a reportagem, em particular. O título de inovador, que alguns lhe 
atribuem, parece imerecido, e o é, quanto à reportagem.” Já Cremilda Medina aponta 
o nível de conteúdo informativo e os métodos de captação de dados, como 
características inovadoras nas reportagens de Paulo Barreto. 
Como inovador, ou profissional que aprofundou as técnicas, tanto faz. Interessa 
é a contribuição efetiva, trazida para o jornalismo. Paulo Barreto merece destaque, por 
 
9 Texto extraído da obra Reportagem, imprensa, estilo e manuais de redação : a construção 
da autoria nos textos do jornalismo diário, de Jacira Werle Rodrigues (FACOS/UFSM, Santa 
Maria-RS), 2003, p. 22-24.. 
 
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ter sido o repórter que documentou as modificações, na sociedade de sua época, pois, 
independente do pioneirismo, soube usar a metodologia. A observação da realidade, 
vinculada à busca por informações na rua, e a utilização de fontes e entrevistas, 
aliadas à tentativa de aprofundar, contextualizar, reconstruir os fatos e humanizar os 
relatos, são os pontos-chave levantados por Medina (1988), na carreira de Paulo 
Barreto, quanto ao universo das informações jornalísticas. 
Quanto ao estilo de texto, a própria Medina afirma que João do Rio não é um 
estilista modelo. Ele lembra, também, que as críticas são fruto dos crivos das análises 
feitas por conhecedores de trabalhos de reportagem amadurecida. O posicionamento 
do narradosé um deles. Na realidade, a postura é de autor, e não de um intermediário 
impessoal, entre fato e leitor. Essa situação mostra-se clara, expõe Medina, no 
momento em que a transcrição dos diálogos, apesar de trazer dinâmica à narrativa, 
possui tom centrado, excessivamente, no interlocutor. Apesar disso, alternativas para 
as narrações surgem nos textos. “O ritmo de cenas, situações descritas, é dinâmico, 
fixa o leitor na ação – as frases entram no ritmo, se precipitam; conforme o tema 
palpitante, as falas dão cor local à informação. Os deslizes retóricos ficam em segundo 
plano” (MEDINA, 1988, p. 63). 
Assim como o sumiço de João do Rio, mesmo tendo uma obra que levanta 
contradições nas análises dos pesquisadores, a reportagem parece desaparecer da 
imprensa por um período, além de serem escassos os estudos sobre o seu 
desenvolvimento. “Depois de João do Rio, parece existir um hiato na evolução da 
reportagem brasileira, que só vai ser retomada significativamente após a Segunda 
Guerra, chegando ao ápice da renovação no período 1966-1968”. (PEREIRA LIMA, 
1995, p. 166) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O Estado Novo e a censura. A formação das grandes c adeias 
jornalísticas. O golpe de 1964 e a imprensa. 
 
Textos de referência: 
MARQUES, Luís Henrique. História da comunicação . Bauru: Universidade do 
Sagrado Coração, 2008, p. 26-31 e p. 59-61 (apostila). 
MARTINS, Ana Luiza; DE LUCA, Tania Regina (organizadoras). História da imprensa 
no Brasil . São Paulo: Contexto, 2008, p. 167-174. 
 
O Estado Novo e a censura 10 
 
 (...) A chegada de Getúlio Vargas ao poder implicou deslocamentos 
importantes no cenário da grande imprensa: alguns órgãos perderam parte de seu 
antigo brilho, caso do Correio Paulistano; outros não resistiram aos novos ventos e 
acabaram desaparecendo, como O País, enquanto houve aqueles que, a exemplo do 
Jornal do Brasil mudaram de proprietários e/ou alteraram sua linha editorial. 
Entretanto, o relacionamento amistoso entre a grande imprensa e governo 
provisório não durou muito. A instabilidade dos momentos iniciais foi um dos 
argumentos mobilizados para justificar o cerceamento da liberdade de expressão tanto 
nos jornais e revistas, que se constituíam nos veículos privilegiados para formação de 
opinião, quanto em outros meios de difusão da informação disponíveis da época – 
cinema e especialmente o rádio, que se expandiu exatamente nas décadas de 1930 e 
1940 e cuja importância num país de dimensões continentais e com altas taxas de 
analfabetismo não passou despercebida ao regime. 
 (...) Já o movimento de julho de 1932 em São Paulo originou fissuras muito 
mais profundas e foi apoiado não apenas pelos diários paulistas como também por 
vários jornais do Rio de Janeiro, inclusive os Diários Associados, o que levou 
Chateaubriand e seu irmão Oswaldo à prisão e quase resultou na falência do grupo, 
que enfrentou forte cerco do governo11. 
 A tensão que marcou os anos iniciais do governo provisório tendeu a diminuir 
com a convocação e instalação da assembléia constituinte, que abriu um período de 
relativa estabilidade e liberdade expressão. (...) 
 
Imprensa no Estado Novo 
 
 (...) O famoso artigo 122 da Constituição de 1937, que tratava dos direitos e 
garantias individuais, considerava a imprensa um serviço de utilidade pública, o que 
alterava a natureza de sua relação com o Estado e impunha aos periódicos a 
obrigação de inserir comunicados do governo. (...) 
 O direito individual de livre manifestação, por sua vez, subordinava-se a 
condições e limites prescritos em lei. Em nome de garantir a paz, a ordem e a 
segurança pública, justificava-se a censura prévia à imprensa, teatro, cinema e 
radiodifusão, além de se facultar às autoridades competência para proibir a circulação, 
a difusão ou a representação do quer que fosse considerado impróprio. 
 
10 Trechos extraídos da obra História da imprensa no Brasil , de Ana Luiza Martins e Tania 
Regina de Luca (orgs.), Editora Contexto, 2008, p. 167-174. 
11 A chamada Revolução de 1930, protagonizada por Vargas, “não se limitou a repisar práticas 
conhecidas, como o suborno ou a violência, antes inovou ao criar órgãos específicos 
destinados à propaganda e ao controle da informação, caso do sempre citado Departamento 
de Imprensa e Propaganda (DIP), genericamente referido como responsável pela censura na 
Era Vargas”. (MARTINS; DE LUCA, 2008, p. 170). 
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(...) a Agência Nacional, que coordenava as atividades relativas à imprensa, 
“atuava como um jornal, durante os três expedientes, dispondo de equipes completas 
de redatores, repórteres, tradutores, taquígrafos etc, inclusive editores em áreas 
específicas e editor-chefe. Porcentagem muito significativa do que se publicava nos 
matutinos, semanários e mensários provinha desse braço do DIP. 
A isenção de taxas alfandegárias na importação do papel utilizado pela 
imprensa constituiu-se noutro poderoso instrumento de coerção. 
(...) O quadro alterou-se significativamente a partir de 1942, quando a batalha 
no interior do círculo governista foi ganha pelos defensores dos Aliados [da Segunda 
Guerra Mundial], o que implicou mudanças significativas, como exemplifica a saída de 
Lourival Fontes do DIP. A contradição entre a luta a favor da democracia nos campos 
de batalha e as restrições à liberdade no âmbito interno não poderia persistir 
indefinidamente. E a imprensa tomou parte ativa no desgaste que acabou levando à 
deposição de Getúlio Vargas em 1945. 
 
A formação das grandes cadeias jornalísticas (e a 
internacionalização da mídia brasileira) 
 
 “Segundo a professora Anamaria Fadul (1998), mudanças na economia e na 
política brasileira, que possibilitou sua abertura ao mercado mundial, viabilizaram a 
internacionalização dos grupos de mídia brasileiros. Isso teve início com a 
modernização da imprensa no Brasil a partir da década de 1930. Até aquele momento, 
esses grupos estavam concentrados no eixo Rio-São Paulo e suas atividades estavam 
concentradas apenas na área do jornalismo impresso. 
Ana Maria Fadul destaca a existência de quatro grupos naquele momento: o 
Grupo Diários Associados, as Organizações Roberto Marinho, o Grupo Abril e a Rede 
Brasil Sul (RBS). Os três primeiros pertenciam ao eixo Rio-São Paulo e o último 
estava localizado em Porto Alegre (RS), embora todos tivessem expressão nacional. 
 As atividades desses grupos, inicialmente, eram empreendimentos locais e/ou 
regionais. Em geral, eram grupos familiares e, segundo a tradição brasileira, a maioria 
desses grupos surgiu da mídia impressa e se desenvolveu para o rádio e a televisão. 
Exceção ao caso da RBS, que partiu do rádio para os jornais e TV. 
Diários e Emissoras Associadas 
 Surgido em 1924 e fundado por Assis Chateabriand, os Diários Associados foi 
o primeiro grupo brasileiro a optar pela concentração de jornais na década de 1920 e 
na diversificação de mídia na década de 1930. Tendo exercido grande influência 
política, conheceu seu apogeu nas décadas de 1950 e 1960. Apesar da perda de 
prestígio e poder desde a morte de Chateabriand e de não ser mais um grande grupo, 
ainda mantém expressão nacional. 
Organizações Roberto Marinho 
 Nasceu em 1923 com a fundação do jornal O Globo por Irineu Marinho. 
Roberto Marinho assumiu a direção da empresa com a morte do pai. A partir daí, o 
grupo obteve concessões de rádio até assumir uma emissora de televisão VHF em 
1965. A relação de proximidade com o governo militar viabilizou a aliança com o grupo 
norte-americano Times-Life. Nas décadas de 1980 e 1990, o processo de 
concentração e diversificação de veículos aumenta. 
Grupo Abril 
 Esse grupo foi criado em 1950 pelo ítalo-americano Victor Civita. Iniciou

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