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58 Unidade II Unidade II 5 O ICMS (IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS) 5.1 Operação própria - ICMS OP O ICMS é o imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicações. É um imposto não cumulativo de competência estadual e funciona no sistema de débito e crédito. Assim, quando um contribuinte adquire bens ou serviços tributados pelo ICMS, adquire direito de compensar o imposto pago na aquisição em operações futuras. Ao realizar uma operação de saída sujeita à incidência do ICMS, passa a ter a obrigação do pagamento desse tributo. O ICMS é um imposto calculado “por dentro”. Isso significa que a alíquota incide sobre o valor do bem ou serviço, integrando o próprio valor. Explicando melhor: se um bem for adquirido por R$ 100,00 e é tributado a 17% (apesar de haver diversas alíquotas, em nossos cálculos, vamos adotar a alíquota de 17%), o comprador pagará R$ 100,00 pela aquisição do bem e destacará na nota fiscal o valor de R$ 17,00 referente ao ICMS. Porém, o total da aquisição continua sendo R$ 100,00. Ao analisar minuciosamente o cálculo, descobrimos que a alíquota real é bem maior que os 17%, ou seja, na realidade, os R$ 17,00 de ICMS cobrados na operação correspondem a 20,48%. Se partirmos do princípio de que o valor total do bem é R$ 100,00 e o ICMS é R$ 17,00, o valor líquido é de R$ 83,00. 5.1.1 Disposições legais A Constituição Federal de 1988 atribuiu aos Estados e ao Distrito Federal a competência para regulamentar o ICMS, pelas normas gerais pela Lei Complementar n. 87 (Lei Kandir) e pelos convênios firmados entre os Estados (BRASIL, 1996c). Essa lei e posteriores atualizações dispõem sobre o imposto dos Estados e do Distrito Federal sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação. O fato de o ICMS ser um tributo de competência estadual implica que cada Estado tenha a sua própria legislação relativa ao tributo. O problema é que as mercadorias circulam não só dentro dos limites do próprio Estado, mas também dentro do território nacional, entre diversos Estados. Assim, podem ocorrer situações em que o Estado de origem tenha legislação ou tratamento diferente dos do Estado de destino. Esse é um dos principais motivos do alto grau de complexidade na operação desse tributo. Além disso, há a chamada “guerra fiscal” entre os Estados, que consiste na prática de alíquotas diferenciadas ou benefícios fiscais concedidos por alguns Estados visando atrair empresas para seu território com o objetivo de aumentar a arrecadação e estimular o emprego naquela região. 59 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Alguns Estados, buscando um melhor controle da arrecadação dos impostos, criaram a substituição tributária, na qual se atribui a um determinado elo da cadeia a responsabilidade de antecipar os recolhimentos que ocorreriam nas operações subsequentes. 5.1.2 Incidência Em seu art. 2º, a Lei Kandir dispõe que o imposto incide sobre: I – operações relativas à circulação de mercadorias, inclusive o fornecimento de alimentação e bebidas em bares, restaurantes e estabelecimentos similares; II – prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, por qualquer via, de pessoas, bens, mercadorias ou valores; III – prestações onerosas de serviços de comunicação, por qualquer meio, inclusive a geração, a emissão, a recepção, a transmissão, a retransmissão, a repetição e a ampliação de comunicação de qualquer natureza; IV – fornecimento de mercadorias com prestação de serviços não compreendidos na competência tributária dos Municípios; V – fornecimento de mercadorias com prestação de serviços sujeitos ao imposto sobre serviços, de competência dos Municípios, quando a lei complementar aplicável expressamente o sujeitar à incidência do imposto estadual (BRASIL, 1996c). De acordo com redação dada ao inciso I, § 1º do art. 2º pela Lei Complementar n. 114, com efeitos a partir de 17 de dezembro de 2002, o imposto incide também: I – sobre a entrada de mercadoria ou bem importados do exterior, por pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a sua finalidade; II – sobre o serviço prestado no exterior ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior; III – sobre a entrada, no território do Estado destinatário, de petróleo, inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e de energia elétrica, quando não destinados à comercialização ou à industrialização, decorrentes de operações interestaduais, cabendo o imposto ao Estado onde estiver localizado o adquirente. § 2º A caracterização do fato gerador independe da natureza jurídica da operação que o constitua (BRASIL, 2002e). 60 Unidade II 5.1.3 Não incidência Conforme o art. 3º da Lei Complementar n. 87, o imposto não incide sobre: I – operações com livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão; II – operações e prestações que destinem ao exterior mercadorias, inclusive produtos primários e produtos industrializados semielaborados, ou serviços; III – operações interestaduais relativas à energia elétrica e petróleo, inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, quando destinados à industrialização ou à comercialização; IV – operações com ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial; V – operações relativas a mercadorias que tenham sido ou que se destinem a ser utilizadas na prestação, pelo próprio autor da saída, de serviço de qualquer natureza definido em lei complementar como sujeito ao imposto sobre serviços, de competência dos Municípios, ressalvadas as hipóteses previstas na mesma lei complementar; VI – operações de qualquer natureza de que decorra a transferência de propriedade de estabelecimento industrial, comercial ou de outra espécie; VII – operações decorrentes de alienação fiduciária em garantia, inclusive a operação efetuada pelo credor em decorrência do inadimplemento do devedor; VIII – operações de arrendamento mercantil, não compreendida a venda do bem arrendado ao arrendatário; IX – operações de qualquer natureza de que decorra a transferência de bens móveis salvados de sinistro para companhias seguradoras. Parágrafo único. Equipara-se às operações de que trata o inciso II a saída de mercadoria realizada com o fim específico de exportação para o exterior, destinada a: I – empresa comercial exportadora, inclusive tradings ou outro estabelecimento da mesma empresa; II – armazém alfandegado ou entreposto aduaneiro (BRASIL, 1996c). 61 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Podemos observar nitidamente o princípio da seletividade sendo aplicado na não incidência do ICMS sobre livros, revistas e materiais didáticos, bem como dos papéis destinados à impressão. ICMS Figura 12 – O ICMS não incide sobre os livros 5.1.4 Fato gerador O fato gerador do ICMS está contido na Lei Complementar n. 87, art. 12, o que compreende a circulação de mercadorias ou a prestação de determinados serviços. A legislação dispõe que: Art. 12. Considera-se ocorrido o fato gerador do imposto no momento: I – da saída de mercadoria de estabelecimento de contribuinte, ainda que para outro estabelecimento do mesmo titular; II – do fornecimento de alimentação, bebidas e outras mercadorias por qualquer estabelecimento; III – da transmissão a terceiro de mercadoria depositada em armazém geral ou em depósito fechado, no Estado do transmitente; IV – da transmissão de propriedade de mercadoria, ou de título que a represente, quando a mercadoria não tiver transitado pelo estabelecimento transmitente; V – do início da prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, de qualquer natureza; 62 Unidade II VI – do ato final do transporte iniciado no exterior; VII – das prestações onerosas de serviços de comunicação,feita por qualquer meio, inclusive a geração, a emissão, a recepção, a transmissão, a retransmissão, a repetição e a ampliação de comunicação de qualquer natureza; VIII – do fornecimento de mercadoria com prestação de serviços: a) não compreendidos na competência tributária dos Municípios; b) compreendidos na competência tributária dos Municípios e com indicação expressa de incidência do imposto de competência estadual, como definido na lei complementar aplicável; IX – do desembaraço aduaneiro de mercadorias ou bens importados do exterior; X – do recebimento, pelo destinatário, de serviço prestado no exterior; XI – da aquisição em licitação pública de mercadorias ou bens importados do exterior apreendidas ou abandonadas; XII – da entrada no território do Estado de lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos derivados de petróleo oriundos de outro Estado, quando não destinados à comercialização; XIII – da utilização, por contribuinte, de serviço cuja prestação se tenha iniciado em outro Estado e não esteja vinculada à operação ou prestação subsequente. § 1º Na hipótese do inciso VII, quando o serviço for prestado mediante pagamento em ficha, cartão ou assemelhados, considera-se ocorrido o fato gerador do imposto quando do fornecimento desses instrumentos ao usuário. § 2º Na hipótese do inciso IX, após o desembaraço aduaneiro, a entrega, pelo depositário, de mercadoria ou bem importado do exterior deverá ser autorizada pelo órgão responsável pelo seu desembaraço, que somente se fará mediante a exibição do comprovante de pagamento do imposto incidente no ato do despacho aduaneiro, salvo disposição em contrário (BRASIL, 1996c). O fundamento legal baseia-se em: art. 155, § 2º, da Constituição Federal de 1988, Emenda Constitucional n. 3/93 e art. 12º da Lei Complementar n. 87/96. 63 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 5.1.5 Contribuinte Caracterizam-se como contribuinte todas as pessoas físicas ou jurídicas que, de modo habitual ou volume que caracteriza intuito comercial, pratiquem operações relativas à circulação de mercadorias, ou que prestem serviços de transporte interestadual ou intermunicipal e de comunicações ou telecomunicações, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior. Luís Martins de Oliveira et al. (2006) definem o contribuinte ou responsável como parte da obrigação tributária, assim como de qualquer outra obrigação; de um lado, há o sujeito ativo, de outro lado, o sujeito passivo. O sujeito ativo da obrigação tributária é o ente público (União, Estado ou Município) criador do tributo. O CTN prevê duas espécies de sujeito passivo: o contribuinte, que é quem tem a relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; e o responsável, que é quem, sem revestir a condição de contribuinte (isto é, não pratica ato que enseja a ocorrência do fato gerador), vê a obrigação de pagar o tributo por força do dispositivo legal. Diz também que o sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária (BRASIL, 1966b). O art. 121 do CTN define que o sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa que está obrigada ao pagamento do tributo ou penalidade pecuniária. Diz ainda: Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação diz-se: I – contribuinte quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II – Responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra da disposição expressa de lei (BRASIL, 1966b). Segundo a legislação, é também contribuinte a pessoa física ou jurídica que, mesmo sem habitualidade: I – importe mercadorias do exterior, ainda que as destine a consumo ou ao ativo não circulante do estabelecimento; II – seja destinatária de serviço prestado no exterior ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior; III – adquira em licitação de mercadorias apreendidas ou abandonadas; IV – adquira lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos derivados de petróleo e energia elétrica oriundos de outro Estado, quando não destinados à comercialização ou à industrialização (BRASIL, 1996b). A legislação instituiu a figura do substituto tributário, que é aquele obrigado a calcular, cobrar e recolher o imposto que será devido nas operações seguintes. 64 Unidade II 5.1.6 Competência Segundo o art. 1º da Lei Kandir, compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir o imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior (BRASIL, 1996b). Portanto, o ICMS é de competência dos Estados e do Distrito Federal, mesmo que as operações tenham se iniciado no exterior, como importações. 5.1.7 Princípios constitucionais O ICMS tem como principais características o princípio da não cumulatividade e da seletividade. Esses princípios foram instituídos pela Constituição Federal (BRASIL, 1988a): • não cumulatividade, conforme o art. 155, § 2º, I, ou seja, do imposto devido em cada operação será abatido o valor pago na operação anterior; • seletividade, conforme art. 155, § 2º, III, ou seja, quanto mais supérfluo for o produto, maior será a incidência do imposto. O ICMS está regido pela não cumulatividade (BRASIL, 1988a, art. 155, § 2º, I,), compensando-se o que for devido em cada operação à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com montantes cobrados nas operações anteriores por ele, por outro Estado ou pelo Distrito Federal. Consta na Lei Complementar n. 87, em seu art. 19: O imposto é não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou por outro Estado (BRASIL, 1996c). Dessa forma, o contribuinte que adquirir insumos (matéria-prima, material indireto, material de embalagens etc.) e mercadoria para revender terá incluído em seu valor total o ICMS pago ao fornecedor. Por ocasião da venda dessa mercadoria, tal contribuinte deverá cobrar de seu cliente o ICMS com base no valor de venda, incluindo-se no valor total. No final do período, o imposto a ser recolhido deverá ser calculado pela diferença entre o valor incidente no momento da venda e aquele pago ao fornecedor na aquisição para determinar o saldo a pagar (saldo devedor), ou saldo a ser estornado nos próximos períodos (saldo credor). O controle dos saldos devedores e credores é realizado por meio de livros fiscais (livro de registro de entradas, livro registro de saídas, livro de apuração do ICMS). Nesses livros, são registrados todos os documentos hábeis – ou, simplesmente, notas fiscais – emitidos pelos contribuintes em situação 65 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA regular perante o fisco e que comprovem a entrada e a saída dos produtos ou mercadorias de seu estabelecimento, como o imposto devido destacado no corpo da nota fiscal. Para a compensação a que se refere o primeiro item – não cumulatividade – é assegurado o crédito do imposto anteriormente cobrado em operações que tenham resultado em entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ao recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação. Como já acentuado anteriormente, por ser o ICMS de competência dos Estados e do Distrito Federal, cada um tem seu próprio regulamento. Contudo, há de se considerar que, de uma forma geral, dão direito ao crédito do imposto anteriormente cobrado relativo à mercadoria que deu entrada ou à prestação de serviço recebida, acompanhada do documento fiscal hábil, emitido por contribuinte em situação regular perante o fisco. Para que o contribuinte possa se aproveitar de fato do crédito fiscal do ICMS, deve saber que há algumas hipótesesem que o crédito não poderá ser tomado: • no caso de o documento fiscal constar como destinatário ou tomador do serviço estabelecimento diverso daquele que o registrar; • o documento fiscal não for a 1ª. via ou o Danfe (Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica), que é uma representação simplificada da NF-e; • o imposto destacado é maior do que o devido no documento fiscal. 5.1.7.1 Dão direito ao crédito Os insumos Segundo o dicionário, insumos significa a “combinação dos fatores de produção (matérias-primas), horas trabalhadas, energia consumida, taxa de amortização etc. que entram na produção de determinada quantidade de bens ou serviço” (FERREIRA, 1986, p. 1093). Por sua vez, Natanael Martins, advogado e ex-membro do 1º Conselho de Contribuintes, tem o seguinte entendimento: A legislação do IPI conceitua “insumos” como sendo sinônimo de matéria-prima, produto intermediário e material de embalagem, adquiridos para emprego na industrialização de produtos, incluindo-se, entre as matérias-primas e produtos intermediários, aqueles que, embora não se integrando ao novo produto, forem consumidos no processo de industrialização. Já as legislações estaduais do ICMS, na esteira da Lei Complementar que as rege, restringem tal conceito apenas a matérias-primas, produtos intermediários e de embalagem que se integrem ao produto (MARTINS, 2005, p. 201). 66 Unidade II Com todas as definições e explicações feitas por diversos juristas, é estabelecido que, para ICMS e IPI, o insumo está ligado intimamente com a materialidade desses tributos, ligados diretamente aos materiais utilizados na atividade industrial, como matéria-prima, material intermediário, embalagens, combustíveis e energia elétrica consumidos no processo industrial ou usados para integrar o produto, objeto da atividade da industrialização, própria ou de terceiros. Entretanto, para sanar qualquer dúvida decorrente da aplicabilidade dos conceitos, o legislador desses tributos e o Poder Judiciário delimitaram o conceito de insumos que possam ensejar o crédito. E, com maior facilidade de apresentação do estudo, vamos nos basear nas definições do Decreto n. 45.490 (SÃO PAULO, 2000), que aprova o Regulamento do ICMS no Estado de São Paulo – RICMS-SP: • Mercadoria: aquela resultante do processo de industrialização, bem como a revendida no Estado em que foi adquirida. • Insumos: toda mercadoria empregada para integração de produto novo ou para consumo no respectivo processo dessa industrialização, empregada na produção rural e na prestação de serviço sujeito ao ICMS. • Matéria-prima: não temos dificuldades nenhuma em identificar, uma vez que é a base no processo industrial (exemplos: madeira na indústria de móveis, algodão na fábrica de tecidos, a borracha na fábrica de pneus). • Material intermediário ou secundário: esse tipo de material costuma gerar muitas dúvidas, pois há definições como sendo o material que se consome em contato direto com o produto que está sendo fabricado, sendo nele incorporado. Por exemplo: na fábrica de móveis, pregos, parafusos, cera para impermeabilizar o móvel etc. A Decisão Normativa CAT n. 1 (SÃO PAULO, 2001) relacionou vários outros exemplos de produtos intermediários, como: discos de corte, discos de lixa, óleos de corte, estopa, oxigênio, acetileno. • Embalagens: todo material empregado no acondicionamento do produto acabado e que não retornará à empresa. A embalagem acompanha o produto final. Há também produtos que acompanham a embalagem e, por essa razão, dão crédito do ICMS, como etiquetas, papel de embrulho, cordas para amarrar, fitilhos, lacres, tinta para identificar a embalagem etc. • Tratamento de água efluente e afluente: a Decisão Normativa CAT n. 1 (SÃO PAULO, 2001) admitiu o crédito dos impostos relativo aos produtos químicos usados nos tratamentos. • Combustíveis: utilizados pela indústria no processo industrial para gerar calor ou força. Exemplo: os derivados de petróleo, gás natural, lenha, carvão, os quais são usados para acionamento de máquinas e equipamentos aplicados na produção. • Máquinas, aparelhos e equipamentos: usados para industrialização dos produtos objetos da atividade econômica da empresa. • Veículos: utilizados pelos setores de compras e vendas do estabelecimento. 67 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA • Veículos próprios: usados para transportar insumos e fazer entregas dos produtos acabados, bem como empilhadeiras para movimentação dos insumos e produtos. • Energia elétrica: o crédito do ICMS de energia elétrica é restrito, porém, nos Estados nos quais a legislação permite, o crédito deverá ser tomado quando a energia for consumida no processo industrial, saída do produto passível de tributação ou, nos casos de exportação, quando a manutenção do crédito é permitida. No caso de uma empresa que realiza operações mistas, deverá ratear a energia elétrica consumida em cada atividade, a fim de atender o que preceitua a legislação. Uma forma de se obter esse rateio é a elaboração, por meio de empresas de engenharia autorizadas, de laudo técnico de energia elétrica, no qual será fixado de forma acertada o percentual utilizado na industrialização que dará direito ao crédito do imposto. De forma geral, as legislações estaduais não tratam da obrigatoriedade do contribuinte se municiar de laudo técnico, pois não mencionam a forma adequada de se fazer esse rateio. Todavia, é justamente por essa falta de legislação que o contribuinte se vê em situação complicada perante o questionamento da fiscalização. Assim, uma boa forma para evitar questionamento e glosa dos créditos é o rateio baseado em laudo técnico emitido por profissional capacitado e que tenha competência para tal. Observação A título de curiosidade: Minas Gerais e Santa Catarina, em seus regulamentos do ICMS, citam o laudo técnico textualmente, embora deixem uma brecha para emiti-lo internamente. O RICMS de Santa Catarina, inclusive no art. 82, § único, cita para creditar 80% sem a necessidade de comprovação da destinação. Porém, sempre é mais prudente se municiar de documentos que tenham reconhecimento legal, nesse caso, “laudos técnicos emitidos por peritos”. Observe mais definições do Decreto n. 45.490 (SÃO PAULO, 2000): • Serviços de comunicação: quando o serviço resultar em operação de saída de produtos. • Ativo permanente: conforme assunto tratado a seguir. • Frete: relativo ao serviço de transporte intermunicipal ou interestadual tomado que esteja relacionado com a atividade industrial ou comercial da empresa. Para os créditos nas empresas de comércio e serviços, o conceito segue na mesma linha, entretanto, como alertado anteriormente, o assunto é complexo e não temos a pretensão de esgotá-los neste livro-texto, e sim explicar, de forma abrangente, para que as decisões tomadas sejam amparadas pela legislação. 68 Unidade II Mercadorias adquiridas de empresas tributadas pelo Simples Nacional O Simples Nacional é o regime simplificado de recolhimento de tributos, por meio do qual as microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) optantes recolhem seus tributos de forma unificada e por meio de uma única alíquota. Originalmente, quando da aquisição de mercadorias de empresas optantes pelo Simples Nacional, o crédito não era possível em virtude da vedação às ME e EPP de transferência e apropriação de crédito de tributos que eram abrangidos pelo Simples Nacional. No entanto, a Lei Complementar n. 128 (BRASIL, 2008) alterou as regras e, a partir de 2009, ficou determinado que as pessoas jurídicas – além daquelas a elas equiparadas pela legislação tributária que não sejam optantes pelo Simples Nacional – tenham direito ao crédito correspondente ao ICMS na aquisição de mercadorias de ME e EPP. Todavia, deve-se respeitar o destino da mercadoria, que deverá ser para comercialização ou industrialização, da parcela efetiva devida pelas empresas optantes pelo Simples. Como o percentual de recolhimento é variável, o fornecedor, emitentedo documento fiscal, deverá informar a respectiva alíquota para que a empresa compradora possa se creditar. 5.1.7.2 Não dão direito ao crédito Nem sempre as aquisições de mercadorias utilizadas em uma empresa dão direito a crédito do imposto. A seguir, descrevemos o § 1º do art. 20 da Lei Complementar n. 87: § 1º Não dão direito a crédito as entradas de mercadorias ou utilização de serviços resultantes de operações ou prestações isentas ou não tributadas, ou que se refiram a mercadorias ou serviços alheios à atividade do estabelecimento. § 2º Salvo prova em contrário, presumem-se alheios à atividade do estabelecimento os veículos de transporte pessoal. § 3º É vedado o crédito relativo à mercadoria entrada no estabelecimento ou a prestação de serviços a ele feita: I – para integração ou consumo em processo de industrialização ou produção rural, quando a saída do produto resultante não for tributada ou estiver isenta do imposto, exceto se tratar-se de saída para o exterior; II – para comercialização ou prestação de serviço, quando a saída ou a prestação subsequente não forem tributadas ou estiverem isentas do imposto, exceto as destinadas ao exterior. § 4º Deliberação dos Estados, na forma do art. 28, poderá dispor que não se aplique, no todo ou em parte, a vedação prevista no parágrafo anterior (BRASIL, 1996c). 69 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Conforme redação dada ao caput do § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, os efeitos se iniciaram a partir de 12 de julho de 2000: “§ 5º Para efeito do disposto no caput deste artigo, relativamente aos créditos decorrentes de entrada de mercadorias no estabelecimento destinadas ao ativo permanente, deverá ser observado” (BRASIL, 2000b). Observe a redação original, com efeitos até 11 de julho de 2000: § 5º Além do lançamento em conjunto com os demais créditos, para efeito da compensação prevista neste artigo e no anterior, os créditos resultantes de operações de que decorra entrada de mercadorias destinadas ao ativo não circulante serão objeto de outro lançamento, em livro próprio ou de outra forma que a legislação determinar, para aplicação do disposto no art. 21, §§ 5º, 6º e 7º (BRASIL, 1996c). Acrescido o inciso I ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de julho de 2000: “I – a apropriação será feita à razão de um quarenta e oito avos por mês, devendo a primeira fração ser apropriada no mês em que ocorrer a entrada no estabelecimento” (BRASIL, 2000b). Acrescido o inciso II ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de julho de 2000: II – em cada período de apuração do imposto, não será admitido o creditamento de que trata o inciso I, em relação à proporção das operações de saídas ou prestações isentas ou não tributadas sobre o total das operações de saídas ou prestações efetuadas no mesmo período (BRASIL, 2000b). Redação dada ao inciso III do § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 120, com efeitos a partir de 30 de dezembro de 2005. III – para aplicação do disposto nos incisos I e II deste parágrafo, o montante do crédito a ser apropriado será obtido multiplicando-se o valor total do respectivo crédito pelo fator igual a 1/48 (um quarenta e oito avos) da relação entre o valor das operações de saídas e prestações tributadas e o total das operações de saídas e prestações do período, equiparando-se às tributadas, para fins deste inciso, as saídas e prestações com destino ao exterior ou as saídas de papel destinado à impressão de livros, jornais e periódicos (BRASIL, 2005c). Acrescido o inciso III ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos de 12 de julho de 2000 a 29 de dezembro de 2005. III – para aplicação do disposto nos incisos I e II, o montante do crédito a ser apropriado será o obtido multiplicando-se o valor total do respectivo crédito pelo fator igual a um quarenta e oito avos da relação entre o valor 70 Unidade II das operações de saídas e prestações tributadas e o total das operações de saídas e prestações do período, equiparando-se às tributadas, para fins deste inciso, as saídas e prestações com destino ao exterior (BRASIL, 2000b). Acrescido o inciso IV ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de julho de 2000: “IV – o quociente de um quarenta e oito avos será proporcionalmente aumentado ou diminuído, pro rata die, caso o período de apuração seja superior ou inferior a um mês” (BRASIL, 2000b). Acrescido o inciso V ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de julho de 2000. V – na hipótese de alienação dos bens do ativo permanente, antes de decorrido o prazo de quatro anos contado da data de sua aquisição, não será admitido, a partir da data da alienação, o creditamento de que trata este parágrafo em relação à fração que corresponderia ao restante do quadriênio (BRASIL, 2000b). Acrescido o inciso VI ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de julho de 2000. VI – serão objeto de outro lançamento, além do lançamento em conjunto com os demais créditos, para efeito da compensação prevista neste artigo e no art. 19, em livro próprio ou de outra forma que a legislação determinar, para aplicação do disposto nos incisos I a V deste parágrafo (BRASIL, 2000b). Acrescido o inciso VII ao § 5º do art. 20 pela Lei Complementar n. 102, com efeitos a partir de 12 de julho de 2000. VII – ao final do quadragésimo oitavo mês contado da data da entrada do bem no estabelecimento, o saldo remanescente do crédito será cancelado. § 6º Operações tributadas, posteriores a saídas de que trata o § 3º, dão ao estabelecimento que as praticar direito a creditar-se do imposto cobrado nas operações anteriores às isentas ou não tributadas sempre que a saída isenta ou não tributada seja relativa a: I – produtos agropecuários; II – quando autorizado em lei estadual, outras mercadorias (BRASIL, 2000b). 71 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA ICMS Figura 13 – Produtos da cesta básica têm alíquotas mais baixas ICMS Figura 14 – Produtos supérfluos têm alíquotas mais altas 5.1.8 Base de cálculo e alíquotas 5.1.8.1 Base de cálculo Conforme o art. 13 da Lei Complementar n. 87, a base de cálculo do imposto é: I – na saída de mercadoria prevista nos incisos I, III e IV do art. 12, o valor da operação; II – na hipótese do inciso II do art. 12, o valor da operação, compreendendo mercadoria e serviço; 72 Unidade II III – na prestação de serviço de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, o preço do serviço; IV – no fornecimento de que trata o inciso VIII do art. 12; a) o valor da operação, na hipótese da alínea “a”; b) o preço corrente da mercadoria fornecida ou empregada, na hipótese da alínea “b”; V – na hipótese do inciso IX do art. 12, a soma das seguintes parcelas: a) o valor da mercadoria ou bem constante dos documentos de importação, observado o disposto no art. 14; b) imposto de importação; c) imposto sobre produtos industrializados; d) imposto sobre operações de câmbio (BRASIL, 1996c). Redação dada à alínea “e”, V, do art. 13 pela Lei Complementar n. 114, com efeitos a partir de 17 de dezembro de 2002: “e) quaisquer outros impostos, taxas, contribuições e despesas aduaneiras” (BRASIL, 2002e). Redação original, com efeitos até 16 de dezembro de 2002. e) quaisquer despesas aduaneiras; VI – na hipótese do inciso X do art. 12, o valor da prestação do serviço, acrescido, se for o caso, de todos os encargos relacionados com a sua utilização; VII – no caso do inciso XI do art. 12, o valor da operação acrescido do valor dos impostos de importação e sobre produtos industrializados e de todas as despesas cobradas ou debitadas ao adquirente; VIII – na hipótese do inciso XII do art. 12, o valor da operação de que decorrer a entrada; IX – na hipótese do inciso XIII do art. 12, o valor da prestação no Estado de origem (BRASIL, 1996c). Redação dadaao caput do § 1º do art. 13 pela Lei Complementar n. 114, com efeitos a partir de 17 de dezembro de 2002: “§ 1º Integra a base de cálculo do imposto, inclusive na hipótese do inciso V do caput deste artigo” (BRASIL, 2002e). 73 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Redação original, com efeitos até 16 de dezembro de 2002. § 1º Integra a base de cálculo do imposto: I – o montante do próprio imposto, constituindo o respectivo destaque mera indicação para fins de controle; II – o valor correspondente a: a) seguros, juros e demais importâncias pagas, recebidas ou debitadas, bem como descontos concedidos sob condição; b) frete, caso o transporte seja efetuado pelo próprio remetente ou por sua conta e ordem e seja cobrado em separado. § 2º Não integra a base de cálculo do imposto o montante do Imposto sobre Produtos Industrializados, quando a operação, realizada entre contribuintes e relativa a produto destinado à industrialização ou à comercialização, configurar fato gerador de ambos os impostos. § 3º No caso do inciso IX, o imposto a pagar será o valor resultante da aplicação do percentual equivalente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual, sobre o valor ali previsto. § 4º Na saída de mercadoria para estabelecimento localizado em outro Estado, pertencente ao mesmo titular, a base de cálculo do imposto é: I – o valor correspondente à entrada mais recente da mercadoria; II – o custo da mercadoria produzida, assim entendida a soma do custo da matéria-prima, material secundário, mão de obra e acondicionamento; III – tratando-se de mercadorias não industrializadas, o seu preço corrente no mercado atacadista do estabelecimento remetente. § 5º Nas operações e prestações interestaduais entre estabelecimentos de contribuintes diferentes, caso haja reajuste do valor depois da remessa ou da prestação, a diferença fica sujeita ao imposto no estabelecimento do remetente ou do prestador (BRASIL, 1996c). Observação Quando a venda for feita a não contribuintes ou a mercadoria vendida for utilizada para consumo final, o IPI comporá a base de cálculo do ICMS. 74 Unidade II Quadro 3 – Relação simplificada de alguns fatos geradores e base de cálculo Fato gerador Base de cálculo Saída de mercadoria de estabelecimento de contribuinte, ainda que para outro estabelecimento do mesmo titular O valor da operação Na importação de mercadorias ou bens A soma das seguintes parcelas: - valor da mercadoria ou bem constante dos documentos de importação; - Imposto de Importação (II); - Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); - Imposto sobre Operações de Câmbio (IOF); - quaisquer despesas aduaneiras efetivamente pagas à repartição alfandegária até o momento do desembaraço da mercadoria ou bem. Na prestação de serviço de transporte interestadual e intermunicipal Na prestação onerosa de serviço de comunicação O preço do serviço compreende, também, os valores cobrados a título de acesso, adesão, ativação, habilitação, disponibilidade, assinatura e utilização dos serviços, bem como aqueles relativos a serviços suplementares e facilidades adicionais que otimizem ou agilizem o processo de comunicação, independentemente da denominação que lhes seja dada No fornecimento de mercadoria com prestação de serviços não tributados pelo ISS O valor da operação Na aquisição em licitação pública de bens ou mercadorias importados do exterior apreendidos ou abandonados O valor da operação acrescido do valor dos Impostos de Importação e sobre Produtos Industrializados e de todas as despesas cobradas ou debitadas ao adquirente Na entrada no território do Estado de petróleo, inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e de energia elétrica, oriundos de outra unidade federada, quando não destinados à industrialização ou comercialização O valor da operação de que decorrer a entrada Integram a base de cálculo do ICMS os descontos concedidos sob qualquer condição, assim entendidos os que estiverem subordinados a eventos futuros e incertos. Também integram a base de cálculo do ICMS os valores correspondentes a seguros, juros e demais importâncias pagas, recebidas ou debitadas ao destinatário, bem como o frete, caso o transporte seja efetuado pelo próprio remetente ou por sua conta e ordem e seja cobrado em separado. A seguir, será estudado o tratamento do IPI na base de cálculo do ICMS. Nas operações de saídas de mercadorias efetuadas por contribuintes do IPI, o valor desse imposto não integrará a base de cálculo do ICMS quando a operação – realizada entre contribuintes e relativa a 75 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA produto destinado à industrialização ou à comercialização posterior – configurar fato gerador de ambos os impostos (IPI e ICMS). Ou seja, para que o IPI não faça parte da base de cálculo do ICMS, deve-se observar, simultaneamente, as seguintes situações: • a operação deve ser realizada entre contribuintes do ICMS; • o destinatário do produto não pode utilizá-lo para seu uso/consumo ou integrá-lo em seu ativo permanente; • a operação deve configurar fato gerador do IPI e do ICMS. Exemplificando: vamos criar duas situações para o caso de uma empresa que é contribuinte e cuja atividade é comercialização de móveis e objetos de arte, tendo adquirido mercadorias de uma indústria contribuinte do ICMS e do IPI de cadeiras. Tomemos a aquisição de dez cadeiras ao preço unitário de R$ 900,00, sendo que sobre a venda incide IPI de 10% e ICMS de 17%. Vamos descobrir qual o valor do ICMS para cada situação. Situação 1 Aquisição das dez cadeiras para comercialização cuja mercadoria irá ser contabilizada no ativo como estoque de mercadorias para revenda. Nessa situação, teremos os seguintes cálculos: Valor da mercadoria R$ 9.000,00 Valor do IPI R$ 900,00 Valor total da nota fiscal R$ 9.900,00 Base de cálculo do ICMS R$ 9.000,00 Valor do ICMS R$ 1.530,00 Situação 2 Aquisição de dez cadeiras para uso na sala de reunião da diretoria, material este que vai compor seu imobilizado. Nessa situação, teremos o seguinte cálculo: Valor da mercadoria R$ 9.000,00 Valor do IPI R$ 900,00 Valor total da nota fiscal R$ 9.900,00 Base de cálculo do ICMS R$ 9.900,00 Valor do ICMS R$ 1.683,00 Analisando ambos os casos, podemos observar que o destino que será dado à mercadoria pelo comprador é que vai determinar a forma do cálculo do ICMS, se na base de cálculo entrará o valor correspondente ao IPI ou não. 76 Unidade II Quando a mercadoria é adquirida com a finalidade de comercialização, conforme caso apresentado na situação 1, a base de cálculo do ICMS será somente o valor da mercadoria, sem considerar a parcela do IPI. Contudo, quando a mercadoria for adquirida para consumo próprio e fizer parte do ativo imobilizado do adquirente, o cálculo do ICMS é feito utilizando como base de cálculo o valor total da nota fiscal, valor da mercadoria + IPI. Esse procedimento não é porque o Estado é generoso, ele faz parte da Constituição Federal, em seu art. 155, § 2º, XI: não compreenderá, em sua base de cálculo, o montante do imposto sobre produtos industrializados, quando a operação, realizada entre contribuintes e relativa a produto destinado à industrialização ou à comercialização, configure fato gerador dos dois impostos (BRASIL, 1988a). Esse procedimento ocorre com qualquer produto que tenha incidência dos impostos. O que vai diferenciar a formação da base de cálculo é a destinação que será dada à mercadoria pelo contribuinte adquirente. Para os casos nos quais a aquisição é feita por pessoas físicas, ou não contribuintes, o ICMS sempre incidirá sobre o valor total da nota fiscal, ou seja, valor da mercadoria + ICMS. 5.1.8.2 Alíquotas Alíquota é o percentual definido em lei que, aplicada sobre a base de cálculo, determina o valor total do imposto a ser pago. A alíquota interna do ICMS é estabelecida em cada Estado pela legislação estadual, ficando sob a responsabilidade do SenadoFederal a fixação das alíquotas interestaduais e de exportação do ICMS. Essas alíquotas são diferenciadas entre os Estados: • 7% em operações ou prestações interestaduais com estados da região Norte, Nordeste, Centro-Oeste e o Estado do Espírito Santo; • 12% para as regiões Sul e Sudeste; • 18% nas operações internas e importações em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e 17% nos demais estados; • 7% nas operações com produtos da cesta básica; • 25% em operações internas, interestaduais e importações de perfumes, cosméticos, cigarros, armas e munições, bebidas alcoólicas etc. 77 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Em relação às operações e prestações que destinem bens e serviços ao consumidor final localizado em outro Estado, será adotada: • a alíquota interestadual quando o destinatário for contribuinte do imposto; • a alíquota interna quando o destinatário não for contribuinte dele. Para fins de ICMS, as regiões são compostas pelas seguintes Unidades da Federação (UF): • região Norte: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins; • região Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe; • região Centro-Oeste: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal; • região Sudeste: Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo; • região Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. AM RR AP RO MT TO MS PR SP RJ MG BA GO DF ES SC RS AC MA PI CE RN PB PE AL SE PA Região Norte Região Centro-oeste Região Sudeste Região Sul Região Nordeste Figura 15 – Regiões do Brasil 78 Unidade II A variedade de alíquotas existente é explicada pelo caráter seletivo do ICMS, valendo-se que quanto menos essencial for o produto em circulação, maior será a carga tributária em virtude de uma alíquota maior. Voltamos a frisar que os produtos considerados essenciais – como cesta básica de alimentos, veículos essenciais e até mesmo produtos do setor de informática – têm alíquotas reduzidas pela essencialidade do produto ou por meio da implantação de políticas estaduais com o intuito de atrair empresas para o desenvolvimento da região. Observação Nesse instante, vem à tona a seguinte questão: se bens de primeira necessidade têm alíquotas mais baixas, como ficariam as alíquotas de fornecimento de energia elétrica, comunicação e combustíveis? Esses bens não poderiam ser considerados como produtos ou bens supérfluos. No entanto, estão taxados com alíquota de 25% em quase todos os Estados. Em todos os nossos exemplos, resolveu-se adotar, tanto para compra como para venda, a alíquota de 17%. O cálculo do imposto é o “cálculo por dentro”. Estabelece o art. 6º, § 1º do RICMS (SÃO PAULO, 2000), que o montante do ICMS integra a sua própria base de cálculo, inclusive na importação de mercadorias, bens e serviços do exterior, constituindo o respectivo destaque no documento fiscal mera indicação para fins de controle. Partindo-se do valor da mercadoria + margem de lucro, para saber o valor da operação com o ICMS, o cálculo será: Para alíquota do ICMS = 17% = 100% (valor do produto) – 17% (alíquota) = 83 / 100 = 0,83 Base de cálculo = R$ 80,00 / 0,83 = R$ 96,38 x 17% = 16,38 ICMS devido = R$ 16,38 Total da nota = R$ 96,38 – R$ 16,38 de ICMS = valor líquido = R$ 80,00. A divisão por 0,83 aplica-se nos casos em que estejamos calculando o ICMS “por dentro”, considerando a alíquota de 17%, ou seja, é a divisão por 0,83 (1,00 – 0,17). Caso a alíquota fosse 12%, a divisão seria por 0,88 (1,0 – 0,12) e assim sucessivamente. 79 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 5.1.9 Exemplo de contabilização de ICMS recuperável Para as empresas contribuintes do ICMS, o custo dos bens adquiridos deverá ser contabilizado excluído do valor do ICMS destacado em nota fiscal de compras. Dessa forma, o bem estará registrado em conta do ativo pelo valor de compra líquida de ICMS. Na venda desses bens, o ICMS destacado na nota fiscal de saída deverá ser contabilizado como ajuste da receita bruta de vendas diminuído das vendas canceladas, dos descontos e abatimentos concedidos incondicionalmente e dos impostos incidentes sobre as vendas, sendo ICMS um desses impostos a ser diminuído. Vamos utilizar um exemplo de aquisição de mercadorias no valor de R$ 900,00 para pagamento em 28 DDL (dias da data líquida), a serem comercializadas posteriormente com um acréscimo de 50% com recebimento programado para 30/60 DDL. A alíquota de ICMS adotada foi de 17%. Tabela 17 – Pela compra de mercadoria para revenda Débito Estoque de mercadorias (Ativo) R$ 747,00 ICMS a recuperar (Ativo) R$ 153,00 Crédito Fornecedores (Passivo) R$ 900,00 Tabela 18 – Pela venda das mercadorias a prazo Débito Clientes (Ativo) R$ 1.350,00 Crédito Receitas de mercadorias vendidas (Resultados) R$ 1.350,00 Tabela 19 – Pela incidência do ICMS sobre a venda Débito ICMS sobre vendas (Resultados) R$ 229,50 Crédito ICMS a pagar (Passivo) R$ 229,50 80 Unidade II Tabela 20 – Pelo registro do custo das mercadorias vendidas Débito Custos de mercadorias vendidas (Resultados) R$ 747,00 Crédito Estoque de mercadorias (Ativo) R$ 747,00 Tabela 21 – Pela apuração do imposto ao final do período Débito ICMS a pagar (Passivo) R$ 153,00 Crédito ICMS a recuperar (Ativo) R$ 153,00 O ICMS devido sobre a venda (registrado no passivo circulante) e o ICMS a recuperar (em conta do ativo circulante) devem proceder aos lançamentos de absorção dos saldos em uma conta contra a outra ao término do período de apuração. Se o valor a recolher for maior que o valor a recuperar, deverá prevalecer um saldo a recolher contabilizado no passivo circulante (ICMS a recolher); caso contrário, prevalecerá um saldo a recuperar no ativo circulante (ICMS a recuperar). Com esse lançamento, o saldo devedor do imposto no livro de apuração será de R$ 76,50. Ao apurar o resultado do período, transferindo as contas de receitas e custos ao resultado do período, a DRE apresentaria o seguinte lucro bruto para a operação: Tabela 22 – DRE Vendas de mercadorias R$ 1.350,00 (-) ICMS s/vendas (R$ 229,50) Receita líquida de venda R$ 1.120,50 (-) Custo das mercadorias vendidas (R$ 747,00) Lucro Bruto R$ 373,50 5.1.10 Exemplo de contabilização de ICMS não recuperável Para as empresas não contribuintes do ICMS, como a maioria das prestadoras de serviços, e para as indústrias que adquirem insumos ou matérias-primas que serão empregadas exclusivamente em produtos cuja saída não será tributada – seja por isenção ou por não incidência – o crédito referente ao imposto deverá ser anulado, contabilizando-se o valor do ICMS pago na compra como parte integrante do bem adquirido. 81 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Exemplo: empresa prestadora de serviços que adquire materiais de escritório pelo valor de R$ 2.500,00 com pagamento à vista. Valor total da nota fiscal R$ 2.500,00 ICMS (17%) R$ 425,00 Contabilização pelo valor total da nota fiscal Tabela 23 – Pela compra da mercadoria Débito Estoque e material de escrtitório (Ativo) R$ 2.500,00 Crédito Caixa (Ativo) R$ 2.500,00 Por ser uma empresa exclusivamente prestadora de serviços, ela não é contribuinte do ICMS. Dessa forma, todo e qualquer bem adquirido por ela, caso esteja destacado o ICMS na nota fiscal de compras, não poderá ter seu crédito aproveitado, portanto, a empresa deverá considerar esse imposto no custo do produto adquirido. 5.1.11 Crédito sobre aquisição de bens do ativo imobilizado A Lei Complementar n. 102/2000, em seu art. 20, § 5º, estabelece que: Para efeito do disposto no caput deste artigo, relativamente aos créditos decorrentes de entrada de mercadorias no estabelecimento destinadas ao ativo permanente, deverá ser observado: I – a apropriação será feita à razão de um quarenta e oito avos por mês, devendo a primeira fração ser apropriada no mês em que ocorrer a entrada no estabelecimento; II – em cada período de apuração do imposto, não será admitido o creditamento de quetrata o inciso I, em relação à proporção das operações de saídas ou prestações isentas ou não tributadas sobre o total das operações de saídas ou prestações efetuadas no mesmo período; III – para aplicação do disposto nos incisos I e II, o montante do crédito a ser apropriado será o obtido multiplicando-se o valor total do respectivo crédito pelo fator igual a um quarenta e oito avos da relação entre o valor das operações de saídas e prestações tributadas e o total das operações de saídas e prestações do período, equiparando-se às tributadas, para fins deste inciso, as saídas e prestações com destino ao exterior; 82 Unidade II IV – o quociente de um quarenta e oito avos será proporcionalmente aumentado ou diminuído, pro rata die, caso o período de apuração seja superior ou inferior a um mês; V – na hipótese de alienação dos bens do ativo permanente, antes de decorrido o prazo de quatro anos contado da data de sua aquisição, não será admitido, a partir da data da alienação, o creditamento de que trata este parágrafo em relação à fração que corresponderia ao restante do quadriênio; VI – serão objeto de outro lançamento, além do lançamento em conjunto com os demais créditos, para efeito da compensação prevista neste artigo e no art. 19, em livro próprio ou de outra forma que a legislação determinar, para aplicação do disposto nos incisos I a V deste parágrafo; e VII – ao final do quadragésimo oitavo mês contado da data da entrada do bem no estabelecimento, o saldo remanescente do crédito será cancelado (BRASIL, 2000b). O que Isso quer dizer? Sempre que forem adquiridos bens para o ativo permanente, o ICMS poderá ser creditado pelo contribuinte, mas somente 1/48 avos do crédito poderá ser utilizado mensalmente. Adicionalmente, conforme dispõe o item II do art. 20, § 5º da Lei Complementar n. 102 (BRASIL, 2000b), o aproveitamento de 1/48 avos mensais só poderá ser feito na proporção das operações de saída ou prestação de serviços tributados em ICMS. Veja um exemplo de contabilização de uma aquisição de uma central telefônica para atendimento ao cliente pelo valor de R$ 30.000,00, com ICMS de 17%. Tabela 24 – Pela compra do bem para imobilização Débito Equipamentos (Imobilizado) R$ 24.900,00 ICMS s/imobilizado a recuperar (Ativo) R$ 5.100,00 Crédito Forncedores (Passivo) R$ 30.000,00 Se esse equipamento for utilizado no processo de industrialização ou de comercialização de produtos da empresa que forem tributados, o crédito do ICMS poderá ser utilizado em 48 parcelas de R$ 106,25. A empresa fará o aproveitamento dos créditos gerados no Ciap proporcionalmente às operações de saída ou prestação de serviço tributada, ou seja, o aproveitamento de 1/48 deverá obedecer à proporcionalidade de todas as saídas ou prestação de serviço tributada. Considerando que em determinado período todas as operações de saída ou prestação de serviços foram tributadas em ICMS, então, ao final desse período, teríamos a seguinte contabilização: 83 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Tabela 25 – Pela apuração do imposto ao final do período Débito ICMS a pagar (Passivo) R$ 106,25 Crédito ICMS s/imobilizado a recuperar (Ativo) R$ 106,25 Por outro lado, se em determinado período a empresa contribuinte apresentasse o cenário a seguir quanto às suas operações de saída, o aproveitamento do crédito de ICMS proveniente da compra de ativo imobilizado não seria de $ 106,25 no mês, e sim 80% desse valor. Operações tributadas em ICMS = $ 200.000 (80% de vendas tributadas) Operações não tributadas em ICMS = $ 50.000 (20% de vendas não tributadas) Total das operações = $ 250.000 (100% total das vendas) Esse controle deve ser feito por meio do controle de crédito de ICMS do ativo não circulante (Ciap), que desde 2010 passou a ser escriturado digitalmente. O Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), em sua 138ª reunião ordinária, realizada em Porto Velho, RO, no dia 9 de julho de 2010, tendo em vista o disposto no art. 199 do Código Tributário Nacional (Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966), resolve celebrar o seguinte Ajuste Cláusula primeira. Fica acrescentado o inciso III à cláusula primeira do Ajuste Sinief 08/97, de 12 de dezembro de 1997: “III – modelo previsto pela Escrituração Fiscal Digital (EFD), instituído por meio do Ajuste Sinief 02/09, de 3 de abril de 2009, destinado à apuração do valor do crédito a ser mensalmente apropriado, nos termos do art. 20, § 5º, da Lei Complementar n. 87, de 13 de setembro de 1996, na redação dada pela Lei Complementar n. 102, de 11 de julho de 2000”. Cláusula segunda. Este ajuste entra em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial da União, produzindo efeitos a partir do primeiro dia do segundo mês subsequente ao da publicação (BRASIL, 2010a). 84 Unidade II Saiba mais Uma boa forma de complementar o conteúdo deste livro-texto é consultar os sites das Secretarias da Fazenda dos Estados e da Receita Federal. www.fazenda.sp.gov.br www.receita.fazenda.gov.br 5.2 Substituição tributária - ICMS ST A substituição tributária foi criada e implementada pelas UFs bem antes da atual Constituição Federal por meio de convênios e protocolos celebrados entre as fazendas estaduais. Houve bastante discussão sobre a sua inconstitucionalidade, alegando-se que não havia previsão constitucional para tal forma de cobrança do imposto. Por conta disso, a atual Constituição Federal incorporou-a, em seu art. 150, § 7º, legitimando-a pela Lei Complementar n. 87 (BRASIL, 1996c). A implementação da substituição tributária do ICMS ocorreu porque foi constatado que poucos fabricantes vendiam seus produtos a uma infinidade de distribuidores e revendedores, e estes, por sua vez, sonegavam o ICMS. Dessa forma, os fabricantes passaram a ser tributados, pois é mais fácil fiscalizar grandes empresas do que pessoas físicas. 5.2.1 Conceito Como conceito, podemos definir que a substituição tributária como um mecanismo de arrecadação de tributos utilizado pelo fisco atribuindo ao contribuinte a responsabilidade pelo pagamento do imposto devido pelo seu cliente. 5.2.2 Tipos de substituição tributária no ICMS A substituição tributária pode ocorrer sobre mercadorias e serviços de transportes. Sobre mercadorias, a substituição tributária é feita conforme exposto a seguir: • Operações anteriores: atribui-se a determinado contribuinte a responsabilidade pelo pagamento do imposto referente às operações anteriores. Nesse caso, encontramos o diferimento de imposto. • Operações subsequentes: a substituição é caracterizada pela atribuição a um determinado contribuinte, em geral ao primeiro da cadeia de comercialização (fabricante ou importador) pelo pagamento do valor do imposto incidente nas operações subsequentes até que a mercadoria chegue ao consumidor final (BRASIL, 1996c, art. 6º, § 1º). 85 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Art. 6º. Lei estadual poderá atribuir a contribuinte do imposto ou a depositário a qualquer título a responsabilidade pelo seu pagamento, hipótese em que assumirá a condição de substituto tributário. § 1º A responsabilidade poderá ser atribuída em relação ao imposto incidente sobre uma ou mais operações ou prestações, sejam antecedentes, concomitantes ou subsequentes, inclusive ao valor decorrente da diferença entre alíquotas interna e interestadual nas operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado, que seja contribuinte do imposto (BRASIL, 2002e). • Operações concomitantes: a substituição tributária é caracterizada pela atribuição da responsabilidade pelo pagamento do imposto para outro contribuinte, e não ao que esteja realizando a operação ou prestação de serviços, concomitantemente à ocorrência do fato gerador. A substituição tributária dos serviços de transportes está nessa modalidade. Por sua vez, o ICMS sobre os serviços de transportes é devido no local no qual se inicia a prestação dos serviços. Por essa razão, as UFs, por meio do Convênio ICMS25 (BRASIL, 1990), estabeleceram que, na ocasião da prestação de serviço de transporte de carga por transportador autônomo ou por empresa transportadora de outro Estado não inscrita no cadastro de contribuintes do Estado no qual se deu o início da prestação de serviços de transporte, a responsabilidade pelo pagamento do imposto devido, o ICMS, poderá ser atribuída: • ao alienante ou remetente da mercadoria, exceto se produtor rural ou microempresa, quando contribuinte do ICMS; • ao destinatário da mercadoria, exceto se produtor rural ou microempresa, quando contribuinte do ICMS, na prestação interna; • ao depositário da mercadoria a qualquer título, na saída da mercadoria ou bem depositado por pessoa física ou jurídica. 5.2.3 Contribuintes 5.2.3.1 Contribuinte substituto É o responsável por reter e recolher o imposto incidente em operações ou prestações antecedentes, concomitantes ou subsequentes, inclusive do valor referente à diferença entre a alíquota interna do Estado e a alíquota interestadual nas operações e prestações de serviços que se destinem ao consumidor final. Em geral, é o fabricante ou o importador. 5.2.3.2 Contribuinte substituído É aquele que tem o imposto devido relativo às operações e prestações de serviços pagos pelo contribuinte substituto. 86 Unidade II 5.2.4 Responsável O contribuinte que receber mercadoria sujeita à substituição tributária, de dentro ou de fora do Estado, sem que tenha sido feita a retenção total na operação anterior, fica solidariamente responsável pelo recolhimento do imposto não retido. No caso de substituição tributária relativa às operações ou prestações antecedentes, o imposto devido será pago pelo responsável quando: • da entrada ou recebimento da mercadoria ou serviço; • da saída subsequente por ele promovida, ainda que isenta ou não tributada; • ocorrer qualquer saída ou evento que impossibilite a ocorrência do fato determinante do pagamento do imposto. A sujeição passiva por substituição tributária aplica-se nas operações internas e interestaduais em relação às operações subsequentes a serem realizadas pelos contribuintes substituídos, ressaltando-se que, nas operações interestaduais em relação a algumas mercadorias, a sujeição ocorre também na entrada de mercadorias para uso e consumo ou ativo imobilizado, quando o destinatário for contribuinte do ICMS. Nesse caso, não incidirá a margem presumida, predefinida pelo governo. 5.2.5 Casos nos quais não há a aplicação da substituição tributária São eles: • Operações que destinem mercadorias a sujeito passivo por substituição da mesma mercadoria. Por exemplo, a saída de uma fábrica de material elétrico para outra fábrica de material elétrico. • Transferências para outro estabelecimento, desde que não seja varejista, do sujeito passivo por substituição, hipótese em que a responsabilidade pela retenção e recolhimento do imposto recairá sobre o estabelecimento que promover a saída da mercadoria com destino à empresa diversa. • Nas saídas para consumidor final, salvo se a operação for interestadual e o destinatário contribuinte do ICMS, tendo em vista que alguns protocolos/convênios dispõem sobre o regime da substituição tributária, atribuindo a responsabilidade ao remetente em relação à entrada para uso e consumo ou ativo imobilizado, ou seja, em relação ao diferencial de alíquotas. No caso de lâmpadas, os estados da Bahia e do Paraná não exigem a substituição tributária, mesmo se o destinatário for contribuinte do ICMS. • Operação em que a mercadoria for utilizada no processo de industrialização. 87 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 5.2.6 Mercadorias sujeitas à substituição tributária Entre uma infinidade de materiais cuja sujeição nas operações está determinada nos convênios/protocolos assinados pelos Estados ou por uma maioria, destacam-se cimento, veículos novos, lâmpadas elétricas, lâminas de barbear, tintas e vernizes, pneumáticos, combustíveis, produtos alimentícios, bebidas quentes, materiais de construção, ferramentas, bicicletas, cosméticos, produtos de higiene e limpeza, brinquedos, materiais elétricos e produtos eletrônicos. Figura 16 – Bicicleta é um dos produtos sujeitos à substituição tributária Figura 17 – Automóveis estão sujeitos à substituição tributária 5.2.7 Base de cálculo da substituição tributária Conforme fixado no art. 8º da Lei Complementar n. 87 (BRASIL, 1996c), tratando-se do regime de sujeição passiva por substituição, institui-se que a base de cálculo será o valor correspondente ao preço de venda ao consumidor acrescido do valor do frete, IPI e demais despesas debitadas ao estabelecimento destinatário, bem como a parcela resultante da aplicação (sobre esse total) do percentual de valor agregado (margem de lucro). Esse percentual é definido em cada caso, respeitando-se as peculiaridades de cada mercadoria. BC = (valor mercadoria + frete + IPI + outras despesas x margem de lucro) 88 Unidade II 5.2.8 Margem de valor agregado (MVA) É determinada considerando os preços usualmente praticados no mercado, por meio de levantamentos por amostragem ou por informações cedidas pelas entidades representativas dos setores. Para tal, adota-se a margem ponderada dos preços coletados. Os produtos submetidos à substituição tributária em operações interestaduais terão a MVA fixada por meio de convênio ou protocolo. Quando um contribuinte de um Estado vende o produto para um contribuinte de outro Estado, fica com a responsabilidade de recolher antecipadamente ao Estado destinatário o ICMS devido pelas operações subsequentes com o produto até o consumidor final. Assim, a MVA nada mais é do que a presunção do valor comercial praticado pelos varejistas. Com essas novas modalidades de cálculos, tornou-se bastante complexo para o contribuinte o cenário de recolhimento de impostos. Este, antes de realizar uma operação comercial, deve analisar se existem acordos firmados para o uso da substituição tributária entre o Estado no qual se localizam o vendedor e o Estado no qual está estabelecido o comprador. Para se ter uma ideia da complexidade, hoje, existem em média mais de duzentos protocolos e convênios, e esse número deve aumentar, porque para os Estados a substituição tributária é a garantia de recebimento dos impostos. 5.2.9 Exemplo prático de cálculo operações subsequentes Para se iniciar o cálculo, são necessários alguns dados. A empresa Mafera Industrial Ltda., fabricante de pneus localizada no estado de São Paulo, vendeu um lote de pneus para carros de passageiros para a empresa denominada CTOP Ltda., de Pernambuco. Figura 18 – Pneus estão sujeitos à substituição tributária Observação Os dados aqui apresentados são meramente exemplos de cálculos; alíquotas, MVA, convênios e demais dados são hipotéticos. 89 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Valor da venda R$ 20.000,00 Valor do IPI: 40% R$ 8.000,00 Despesas de seguro R$ 400,00 Fretes R$ 1.200,00 ICMS da operação Interestadual: 7% ICMS interno da UF do destinatário: 17% Margem de valor agregado do produto: 38% O ICMS será calculado com base nos seguintes dados: Tabela 26 – Base de cálculo Valor da mercadoria 20.000,00 IPI 8.000,00 Seguro 400,00 Frete 1.200,00 Total 29.600,00 Lembrando que é fabricante ou importador quem está vendendo a mercadoria. • Cálculo do ICMS da operação própria: — Base de cálculo (20.000 + 400,00 + 1.200,0) = R$ 21.600,00 — ICMS (alíquota interestadual) = 7% — ICMS = R$ 21.600,00 x 7% = R$ 1.512,00 • Cálculo do ICMS da substituição tributária: — Base de cálculo (substituição tributária) = (R$ 20.000,00 + R$ 8.000,00 + 400,00 + 1.200,00) = 29.600,00 + MVA (38 ) = R$ 29.600,00 + R$ 11.248,00 = R$ 40.848,00 A fórmula do cálculo da substituição tributária do ICMS é: Base de cálculo (ST) x ICMS (alíquota interna) – ICMS interestadual = (R$ 40.848,00 x 17 ) – 1.512,00 = 6.944,16 – 1.512,00 = 5.432,16 90 Unidade II Tabela 27 – Valor total da nota fiscal Valor da Mercadoria 20.000,00 IPI 8.000,00 Seguro400,00 Frete 1.200,00 ICMS substituição tributária 5.432,16 Valor total da nota fiscal 35.032.16 5.2.10 Tratamento do ICMS em operações de venda para empresas da ZFM e ALC A ZFM compreende Manaus, Rio Preto da Eva e Presidente Figueiredo. Por sua vez, as ALC envolvem Macapá e Santana, no Amapá, Bonfim e Boa Vista, em Roraima, Tabatinga, no Amazonas, Guajará-Mirim, em Rondônia, e Brasileia, com extensão ao município de Epitaciolândia, e Cruzeiro do Sul, no Acre. A venda de mercadorias para empresas localizadas nessas regiões possui alguns benefícios: tributos como ICMS, IPI, PIS e Cofins terão tratamento especial. Podemos considerar que, para efeitos fiscais, as mercadorias comercializadas para essas áreas correspondem a uma exportação de produtos brasileiros para um país estrangeiro, sempre que a mercadoria for para industrialização ou comercialização, exceto produtos supérfluos. A ZFM foi instituída em 1967 com o intuito de implantar um polo de desenvolvimento industrial, comercial e agropecuário, a fim de diminuir as desvantagens decorrentes da distância da região amazônica. O Decreto-lei n. 288 (BRASIL, 1967) regulamenta a ZFM, que definia tal área como de livre comércio de importação e exportação, além de fixar incentivos fiscais especiais. O governo federal prorrogou alguns incentivos e criou outros, e o modelo de desenvolvimento da região é baseado em incentivos fiscais e extrafiscais que criam condições de alavancar o processo de crescimento dessa área. Estudaremos esses incentivos a seguir. 5.2.10.1 ICMS O benefício fiscal de isenção do ICMS para a ZFM foi instituído pelo Convênio 65/88, com alterações posteriores, inclusive o Convênio ICMS 52 (BRASIL, 1992), que estende às ALC dos estados do Amapá, Roraima e Rondônia os benefícios do Convênio ICM 65 (BRASIL, 1988b), de 6 de dezembro de 1988. Toda a mercadoria de origem nacional, com destino à ZFM, cuja aplicação for para o processo produtivo (industrialização) ou comercialização (revenda), exceto produtos supérfluos, goza de isenção do ICMS. Contudo, para que esse benefício seja concedido, é mister que o adquirente esteja registrado na Suframa (Superintendência da ZFM), e o número de inscrição deverá constar no documento fiscal de saída da mercadoria. 91 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Conforme orientação no site da própria Suframa, as notas fiscais devem conter o número de inscrição na Suframa, a indicação do valor abatido do preço da mercadoria equivalente ao imposto (ICMS) que seria devido se não houvesse a isenção indicada na nota fiscal. É preciso informar o Convênio ICM 65 (BRASIL, 1988b), que isenta as remessas de produtos industrializados de origem nacional a serem comercializadas ou industrializadas na área incentivada. O código do posto fiscal no qual está subordinado o estabelecimento remetente e o valor referente ao desconto do ICMS deverão constar no mesmo documento fiscal. A Suframa tomou algumas ações quanto ao internamento das mercadorias na ZFM. A partir de 2006, normatizou esse sistema com a transmissão de dados fiscais por meio do Sistema de Controle de Mercadoria Nacional – Sinal da Suframa, que é um sistema pelo qual o remetente gera um protocolo de ingresso da mercadoria, o PIN; depois, esse controle passa a ser conduzido pela transportadora e pelo destinatário. Em relação à complexidade intrínseca na área tributária, evidencia-se o quanto os tributos (direta ou indiretamente) influenciam nas mais diversas decisões empresariais. Portanto, o conhecimento tributário para um profissional de contabilidade torna-se uma obrigação, e não uma escolha. Partindo-se dessa premissa, temos o ICMS, que, por se tratar de um tributo estadual, logo atenderá às especificidades de cada Estado; o mesmo ocorrerá com os tributos federais estudados, IPI, PIS e Cofins, cuja responsabilidade é da União. Para tornar-se um profissional de contabilidade habilitado, ou seja, com registro no Conselho Regional de Contabilidade, é necessária a aprovação por meio do exame de suficiência. Saiba mais O exame em questão foi instituído pela Lei n. 12.249, de 11 de junho de 2010. Há duas edições anuais (primeiro e segundo semestre), e basta ser aprovado em apenas uma delas para tornar-se um profissional de contabilidade habilitado a fim de exercer funções como contador, auditor, perito contábil etc. Consulte a legislação: BRASIL. Lei n. 12.249, de 11 de junho de 2010. Institui o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de Infraestrutura da Indústria Petrolífera nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (Repenec)... Brasília, 2010d. Disponível em: https://bit.ly/38UqDAS. Acesso em: 5 fev. 2021. 5.3 Diferencial de alíquota - ICMS Difal Além de operação própria e substituição tributária, o ICMS pode ser apurado e recolhido como diferencial de alíquota. 92 Unidade II 5.3.1 Conceito Publicada em 16 de abril de 2015, a Emenda Constitucional n. 87 (BRASIL, 2015b) altera o § 2º do art. 155 da Constituição Federal e inclui o art. 99 no “Ato das Disposições Constitucionais Transitórias”, para tratar da sistemática de cobrança do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação destinadas a consumidor final contribuinte ou não do imposto e localizado em outro Estado. Observe a seguir suas principais características: • Altera a sistemática de recolhimento do ICMS nas operações e prestações interestaduais que destinem bens e serviços a consumidor final não contribuinte do imposto. • O ICMS correspondente à diferença entre a alíquota interestadual e a alíquota interna do estado de destino (Difal) será partilhado. • As alíquotas do ICMS a serem utilizadas na operação interestadual, destinadas a consumidor final, contribuinte ou não, estabelecidas pelo Senado Federal são 4%, 7% ou 12%. • Não abrange apenas o comércio eletrônico (e-commerce), mas todas as operações interestaduais destinadas a consumidor final não contribuinte. A figura a seguir demonstra o cenário que identifica a situação de incidência da substituição tributária do ICMS. Alíquota interestadual (-) Alíquota interna do destino = Diferencial de alíquotas Operação interestadual Destinatário contribuinte ou não do ICMS Consumidor final Figura 19 93 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 5.3.2 Partilha do ICMS Quando a EC n. 87 (BRASIL, 2015b) foi publicada, o ICMS Difal tinha seu valor partilhado entre os estados de origem e destino, porém a partir de 2019 o valor do ICMS Difal apurado passou a ser reservado a 100% da UF de destino. Observe a seguir a definição de contribuinte e não contribuinte: • o contribuinte é considerado a pessoa jurídica com inscrição estadual ativa e que realiza operações com mercadoria (indústria ou comércio); • o não contribuinte é considerado a pessoa jurídica sem inscrição estadual, ou seja, que não realiza operações com mercadoria ou a pessoa física. 5.3.3 Tipo de recolhimento 5.3.3.1 Recolhimento por operação (por documento) O recolhimento do ICMS Difal deve ser efetuado por meio da Guia de Recolhimento de Tributos Estaduais (GRNE) ou outro documento de arrecadação, de acordo com a legislação da UF de destino por ocasião da saída do bem ou do início da prestação de serviço em relação a cada operação ou prestação (BRASIL, 2015b, cláusula quarta). 5.3.3.2 Recolhimento por apuração (mensal) Para efetuar a apuração e o recolhimento mensal, o contribuinte (remetente) deve se inscrever no cadastro do Estado da UF de destino das mercadorias. Dessa forma, o recolhimento do imposto pode ser efetuado até o mês seguinte em uma única GNRE ou por outros documentos de arrecadação. O contribuinte inscrito no Estado de destino deve enviar mensalmente documento declaratório de apuração, denominado GIA-ST Nacional (Guia Nacional de Informação e Apuração), até o mês subsequente ao da apuração do imposto, ainda que não tenha ocorrido nenhuma operação e prestação de serviço comnão contribuintes. 5.3.4 Fundo de Combate à Pobreza (FCP) Segundo o § 4º do Convênio 93 (BRASIL, 2015a), o adicional de até 2% na alíquota do ICMS nas operações de circulação de mercadoria e serviço serão destinados ao financiamento dos fundos estaduais e distrital de combate à pobreza. No cálculo do imposto devido à UF de destino, o remetente deve calcular, separadamente, o imposto correspondente ao diferencial de alíquota por meio da aplicação sobre a respectiva base de cálculo de percentual correspondente à alíquota interna da UF de destino sem considerar o adicional de até 2% e adicionar até 2% no recolhimento para a UF de destino. 94 Unidade II Exemplo de aplicação Exemplo 1 – mercadoria nacional Foi realizada uma venda do estado de São Paulo para o estado do Rio Grande do Sul de mercadoria nacional no valor de R$ 10.000,00. Alíquota interna no Estado de destino (RS): 18% Alíquota interestadual de SP para RS: 12% Diferencial de alíquota: 18% – 12% = 6% Base de cálculo do ICMS Difal: 10.000,00 x 6% Valor do ICMS Difal a recolher: R$ 600,00 O valor de R$ 600,00 será recolhido pelo remetente situado em São Paulo, através da GNRE com destino ao estado do Rio Grande do Sul. Observação O FCP só terá incidência se no Estado de destino a mercadoria que estiver circulando for enquadrada entre as que devem ter o recolhimento do adicional de até 2%. Exemplo 2 – mercadoria importada Foi realizada uma venda do estado de São Paulo para o estado de Minas Gerais de mercadoria importada no valor de R$ 10.000,00. Alíquota interna no Estado de destino (MG): 18% Alíquota interestadual de SP para MG: 4% Diferencial de alíquota: 18% – 4% = 14% Base de cálculo do ICMS Difal: 10.000,00 x 14% Valor do ICMS Difal a recolher: R$ 1.400,00 O valor de R$ 1.400,00 será recolhido pelo remetente situado em São Paulo, através da GNRE com destino ao estado de Minas Gerais. O FCP só terá incidência nas mesmas condições do exemplo anterior. Exemplo 3 – mercadoria nacional com FCP Foi realizada uma venda do estado de São Paulo para o estado do Rio de Janeiro de mercadoria nacional no valor de R$ 10.000,00. 95 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Alíquota interna no Estado de destino (RJ): 18% Alíquota interestadual de SP para RJ: 12% Diferencial de alíquota: 18% – 12% = 6% No estado do RJ, todas as mercadorias que circularem terão um adicional de 2% destinado ao FCP. Base de cálculo do ICMS Difal: 10.000,00 x 6% Base de cálculo do FCP: 10.000,00 x 2% Valor do ICMS Difal a recolher: R$ 800,00 O valor de R$ 800,00 será recolhido pelo remetente, situado em São Paulo, através da GNRE com destino ao estado do Rio de Janeiro, especificando o valor destinado ao diferencial de alíquota e ao valor do FCP. 6 EXERCÍCIOS PRÁTICOS Questão 1 (CFC, 2016a) Uma sociedade empresária possui um único estabelecimento comercial. Em 31 de janeiro de 2016, apresentou os seguintes saldos em seu balancete mensal referentes a registros de ICMS incidentes sobre compras e sobre vendas: Tabela 28 Conta Saldo Natureza do saldo ICMS a recuperar R$ 15.000,00 Devedor ICMS a recolher R$ 10.000,00 Credor De acordo com as informações apresentadas, é correto afirmar que o registro contábil a ser efetuado para apuração do ICMS é: a) Débito: ICMS a recolher R$ 15.000,00 Crédito: ICMS a recuperar R$ 15.000,00 b) Débito: ICMS a recolher R$ 10.000,00 Crédito: caixa R$ 10.000,00 c) Débito: ICMS a recolher R$ 5.000,00 Crédito: caixa R$ 5.000,00 d) Débito: ICMS a recolher R$ 10.000,00 Crédito: ICMS a recuperar R$ 10.000,00 96 Unidade II Estratégias para responder à questão Primeiro, é preciso identificar a atividade empresarial para poder classificá-la em comercial, industrial e/ou prestação de serviços, e, assim, verificar quais os tributos poderão ser recuperados quando se tratar de aquisições de itens por uma empresa, uma vez que nem todo item adquirido, mesmo com imposto mencionado na nota fiscal, é passível de recuperação. Conforme estudamos, isso depende da utilização desse mesmo material na empresa, se haverá continuidade dele (revenda e/ou utilização na produção) ou seu consumo. Em caso de continuidade, poderá haver a recuperação; porém, em caso de consumo, não é permitida legalmente sua recuperação. Deve-se verificar quais tributos estão envolvidos na operação: ICMS, IPI, PIS, Cofins e ISS e, em seguida, saber quais serão recuperáveis. Então, é preciso observar o tipo de regime de incidência para o PIS e Cofins, ou seja, cumulativo e não cumulativo, porque haverá diferença no valor da alíquota e também no valor a ser recuperado (ou não) dos respectivos tributos, ou seja: • cumulativo: em empresas tributadas pelo lucro presumido, não haverá recuperação de PIS e Confis (alíquotas 0,65% e 3%, respectivamente); • não cumulativo: em empresas tributadas pelo lucro real, haverá recuperação de PIS e Confis (alíquotas 1,65% e 7,6%, respectivamente). Lembrete A tributação das empresas vinculadas ao lucro presumido ou lucro real está relacionada com o pagamento do IRPJ e da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). Em seguida, deve-se verificar se a operação foi à vista ou prazo, isto é, se haverá saída de recursos financeiros de imediato ou se a empresa adquirirá uma dívida. A preocupação aqui está no registro contábil a ser efetuado, e é vital observar se isso é solicitado em uma questão de concurso. A questão apresentada destaca uma empresa comercial e menciona apenas o ICMS como imposto. A empresa possui um saldo de ICMS a recuperar, ou seja, incidente sobre compras, e um saldo de ICMS a recolher, que, por sua vez, refere-se às vendas de mercadorias. Esse é o cerne da questão, uma vez que está sendo solicitada a apuração do ICMS. 97 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Lembrete Impostos a recuperar envolvem um direito, logo, haverá saldo devedor e respectivo registro no grupo do ativo do balanço patrimonial. Impostos a recolher indicam uma obrigação, logo, haverá saldo credor e respectivo registro no grupo do passivo do balanço patrimonial. Impostos a pagar têm o mesmo significado contábil, ou seja, uma dívida. É vital observar com muita atenção o enunciado e o que está sendo solicitado, ou seja: apresenta-se o saldo de ICMS a recuperar no valor de R$ 15.000,00 e o saldo do ICMS a recolher no valor de R$ 10.000,00. Em seguida pede-se a apuração do ICMS, o que significa dizer que deverá prevalecer somente uma situação: ICMS a recuperar ou o ICMS a recolher. ICMS a Recuperar ICMS a Recolher 15.000,00 10.000,00 A melhor estratégia é abrir os razonetes com os saldos apresentados e zerar o menor entre eles. Para apurar o ICMS, deve-se debitar o ICMS a recolher pelo valor de R$ 10.000,00 e creditar ICMS a recuperar pelo valor de R$ 10.000,00: Débito: ICMS a recolher R$ 10.000,00 Crédito: ICMS a recuperar R$ 10.000,00 ICMS a Recuperar ICMS a Recolher 15.000,00 10.000,00 10.000,00 10.000,00 5.000,00 Embora somente tenha sido solicitada a apuração do ICMS, pode-se afirmar que, após a apuração, a empresa terá em seu balanço patrimonial do mês de janeiro de 2016 um valor de ICMS a recuperar de R$ 5.000,00, que será incluído na apuração do ICMS do mês subsequente, ou seja, de fevereiro de 2016. Análise do lançamento contábil para alternativa a) Débito: ICMS a recolher R$ 15.000,00 Crédito: ICMS a recuperar R$ 15.000,00 98 Unidade II Como esse lançamento contábil menciona que é preciso debitar a conta de ICMS a recolher no valor de R$ 15.000,00 e um crédito em ICMS a recuperar pelo mesmo valor, basta destacar novamente os saldos em razonetes para identificar que essa alternativa está incorreta: ICMS a Recuperar ICMS a Recolher 15.000,00 10.000,00 Vamos registrar em razonetes as contas de acordo com a alternativa a) e você verá que não fará sentido: ICMS a Recuperar ICMS a Recolher 15.000,00 15.000,00 a) a) 15.000,00 10.000,00 5.000,00 De fato, o lançamento contábil da alternativa
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