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O ENSINO DE CIÊNCIAS PARA DEFICIENTES VISUAIS: MODELO DIDÁTICO TÁTIL SOBRE AS FASES DA DIVISÃO CELULAR 1 Izabela da Silva Xavier; 2 Márcio Pedro Carrijo; 3 Samara Araújo de Oliveira; 4 Simone Aparecida Rezende; 5 Maria Angélica Cezário 1234 Acadêmicos do curso de Licenciatura em Ciência Biológicas, Instituto Federal Goiano – Campus Ceres; 5 Professora e orientadora, Instituto Federal Goiano – Campus Ceres. RESUMO: A educação deve ter como objetivo proporcionar ao indivíduo o desenvolvimento de capacidades cognitivas, favorecendo o progresso social a fim de melhorar a sua qualidade de vida. Com a Declaração de Salamanca em 1994, ficou destacado que a educação é para todos e isto inclui as diferentes especificidades pedagógicas. O Ensino de Ciências e Biologia são importantes na vida dos alunos, mas ao se pensar no Ensino de Ciências de forma inclusiva, esse processo exige certa complexidade. O processo de aprendizagem quando caminha junto a recursos visuais se torna mais eficaz, visto que para atender os alunos que não possuem visão é necessária a busca de modelos adaptados para o estímulo do conhecimento. No caso da divisão celular, as aulas expositivas e excessivamente teóricas podem comprometer o entendimento dessas estruturas, dificultando assim o aprendizado dos alunos que apresentam deficiência visual, sendo necessário adotar medidas pedagógicas que estabeleçam a inclusão destes alunos. Este trabalho teve como objetivo desenvolver um material didático adaptado para o ensino da divisão celular: mitose e meiose. O trabalho consiste na produção de um material didático especializado, representando as diferentes fases da divisão celular que foram confeccionadas utilizando Polietileno expandido e Etil Venil Acetato. Ao manipular o material didático em alto relevo o deficiente visual poderá identificar de forma mais clara os conceitos, pois os modelos contribuem significativamente para um melhor processo de ensino- aprendizagem. PALAVRAS-CHAVE: Modelos didáticos, Divisão Celular, Deficiência Visual, Inclusão. INTRODUÇÃO A educação deve ter como objetivo proporcionar ao indivíduo o desenvolvimento de capacidades cognitivas, favorecendo o progresso social a fim de melhorar a sua qualidade de vida. Diante disto, o Brasil e várias nações, através da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien (1990), assumiu o compromisso de promover educação para todos e de qualidade, conferindo assim à educação inclusiva um valor inestimável e tornado-a um dos principais parâmetros para a educação no século XXI (UNESCO, 1990). É notório que a inclusão de pessoas com deficiência é um direito indiscutível, sabe-se, também, da dificuldade e do despreparo de muitos professores e gestores sobre esse assunto. Com a Declaração de Salamanca em 1994, ficou destacado que a educação é para todos e isto inclui diferentes especificidades pedagógicas até as deficiências graves. No Brasil, é garantida por emenda constitucional a participação efetiva, indiscriminada e com igualdade de oportunidades e desenvolvimento pleno do educando (BRASIL, 2015). A educação inclusiva necessita da participação de todos os envolvidos no processo de ensino–aprendizagem, principalmente assegurar o comparecimento do educando na escola. Com sua presença as oportunidades de conhecer as suas limitações e seu desenvolvimento serão observadas e assim garantir a inclusão permanente. A educação do aluno com deficiência deverá ter início na Educação Infantil e com o acompanhamento durante toda a sua vida escolar, juntamente com os materiais de apoio pedagógico adaptados, com a utilização de recursos físicos táteis. A deficiência visual nas escolas ainda é alvo de várias discussões, sendo uma delas a defesa da ideia que deficientes visuais precisam de escolas especializadas, pois alegam que as escolas e seus educadores não possuem preparo adequado para atender este público. É necessário afirmar que os profissionais da educação precisam se aprimorar e especializar na educação para deficientes visuais, além de buscar junto aos órgãos especializados ajuda para adquirir ferramentas de adequação à educação para deficientes visuais (ANDRADE et al, 2017). O Ensino de Ciências e Biologia são importantes na vida dos alunos, pois através dele que se adquire o conhecimento sobre a importância ambiental e preservação, compreensão das diferentes formas de vida, estrutura e organização do corpo humano. Mas ao se pensar no Ensino de Ciências de forma inclusiva, esse processo tende a adquirir certa complexidade, onde os alunos deficientes visuais enfrentam problemas em assimilação dos conteúdos trabalhados em sala de aula (CAMARGO, 2012). O processo de aprendizagem quando caminha junto com recursos visuais se torna mais eficaz, pois o aluno compreende melhor explorando sua memória visual, sendo um meio mais fácil de compreensão. Para os alunos que não possuem visão é necessário modelos adaptados com texturas diferentes para o estímulo do conhecimento (GREGÓRIO et al, 2016). Segundo Camargo et al (2008), o uso de materiais táteis tem grande importância na compreensão das aulas, pois ao serem tocados em suas estruturas, os alunos conseguem assimilar os conteúdos explicitados. Para favorecer a aprendizagem dos alunos é comum nas escolas ao se ensinar as fases da divisão celular utilizar-se de ilustrações/esquemas com indicações de cada uma das fases que as compõem, representados em quadro em sala de aula, assim como exibição de animações e vídeos com o intuito de favorecer o entendimento dos alunos. Dessa forma, aulas expositivas e excessivamente teóricas podem comprometer o entendimento dessas detalhadas estruturas, dificultando assim o aprendizado dos alunos que não podem enxergar (LOPES et al, 2012). Embora existam modelos representando as fases da divisão celular, nem todas as escolas os possuem. Com isso, deve-se criar mais modelos didáticos adaptados a fim de aumentar o estímulo e o interesse do aluno, ajudando a construir novas descobertas fazendo que o professor promova a estimulo da aprendizagem no aluno (LIAÑO et al, 2016). Diante disto, é necessária a adoção de medidas pedagógicas que estabeleça a inclusão destes alunos, de forma que eles também possam adquirir conhecimentos, que são essenciais para o pleno exercício da cidadania (PCNEM, 2000). Portanto, o presente trabalho objetivou desenvolver um material didático para o Ensino de Ciências voltado para deficientes visuais e adaptado para o ensino da divisão celular: mitose e meiose, visando atender aos alunos cegos, através da utilização de recursos táteis somados à aula expositiva e orientação do professor. O material foi desenvolvido na Disciplina de Oficina Prático Pedagógica III do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal Goiano – Campus Ceres, que tem como missão criar estratégias pedagógicas que visem o desenvolvimento das funções psicológicas superiores através de materiais didáticos. METODOLOGIA O trabalho consistiu na produção de um material didático especializado, representando as diferentes fases da divisão celular que foram confeccionadas utilizando placas de Polietileno expandido e Etil Vinil Acetato (E.V.A.). Para a produção desse tipo de material, primeiramente, foi elaborado esquemas de cada fase, com as fases da divisão celular a serem representadas e os possíveis materiais utilizados, sendo que as estruturas da mesma composição deveriam sem montadas com materiais da mesma textura. O material utilizado na montagem dos cromossomos, fibras do fuso, núcleo e telômeros em determinadas fase, não poderia ser alterado nas fases seguintes para facilitar a identificação. Para a confecção do material foram utilizadas folhas de EVA, um material facilmente encontrado em papelarias e que pode ser vistoem diferentes texturas, visto que a escolha do material pensado fosse de fácil manuseio e que permitiu a criação de moldes para que professores possam reproduzir os modelos sem dificuldades. A escolha do material como placa de polietileno expandido e E.V.A. deram-se devido sua durabilidade e facilidade de manuseio, principalmente por permitir diferentes texturas, o que era o necessário para a eficácia do material didático. Para a escrita em Braille foi utilizado papel A4, a escrita foi feita manuseando a reglete com punção e auxílio do alfabeto Braille disponibilizados pela professora orientadora da disciplina. A ideia principal era a construção de um modelo com base de polietileno expandido, pois este é facilmente encontrado em papelarias. Outros materiais como canudos, miçangas, barbantes foram propostos para estruturas como cromossomos, fibras do fuso, núcleo e telômeros. No entanto, alguns eram difíceis de manusear, logo optou por substituir estes materiais por E.V.A. com texturas diferentes, que também podem ser encontrados em papelarias. Dessa forma, foram confeccionados 22 modelos de representação, sendo eles cada uma das fases da mitose e da meiose. OBJETIVO PEDAGÓGICO Tornar o esquema da divisão celular, apresentado em livros didáticos de Ciências, acessível para alunos cegos, permitindo, dessa forma, o acesso à informação e à aquisição do conhecimento relacionado ao processo de divisão celular. PROCEDIMENTOS A atividade realizada será feita em sala de aula onde se encontra aluno (s) com deficiência visual. A princípio os alunos devem possuir conhecimentos prévios sobre célula e seus componentes celulares. O professor irá dividir a turma em dois grupos e será entregue os modelos didáticos um para cada grupo, onde um ficará com a mitose e outro com a meiose. À medida que o professor for explicando o conteúdo os alunos irão identificando nos modelos didáticos cada estrutura citada pelo professor. Com os modelos didáticos, os alunos poderão compreender melhor o assunto abordado, podendo identificar o que acontece na célula durante as fases da divisão celular. Os dois grupos irão trocar os modelos didáticos para que todos possam identificar as estruturas das fases da divisão, tanto meiose quanto mitose. Ao final da aula o professor aplicará uma atividade oral de revisão com o objetivo de analisar o conhecimento adquirido através do material didático. O professor fará perguntas e os alunos identificarão as respostas nos modelos didáticos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os materiais didáticos colaboram significativamente para o processo de aprendizagem. Ao se produzir um material didático adaptado para alunos com deficiência visual, deve–se levar em consideração a aprendizagem e o desenvolvimento de cada um. Ao manipular o material didático em alto relevo o deficiente visual poderá identificar de forma mais clara os conceitos, pois os modelos contribuem significativamente para um melhor processo de ensino- aprendizagem. Foi de fundamental importância que os atuais alunos graduandos em Licenciatura em Ciências Biológicas recebessem uma formação adequada para que futuramente estejam qualificados para assumir uma sala de aula e trabalhar com alunos com deficiência visual ou qualquer outro tipo de deficiência. É necessário incentivar e questionar sobre a importância da utilização de novas alternativas de ensino que possibilitem atender as necessidades dos alunos e abandonar o comodismo proporcionando igualdade na aprendizagem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, T. E. G.; OLIVEIRA, T. C. S.; PEREIRA, C. S.; SOUSA, G. M.; SILVA, B. M. P.; NASCIMENTO, M. S. Conhecer para preservar: o uso de modelos táteis no ensino de biologia pra deficientes visuais na Associação de Cegos do Piauí. Revista Educação Ambiental em Ação, nº 60, ano XVI. Disponível em: <http://www.revistaea.org/pf.php?idartigo=2729>, acesso em: 26/11/2017. BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Ministério da Educação e Cultura, Brasília, 2000. BRASIL. Lei 13.146, 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília – DF, 2015. http://www.revistaea.org/pf.php?idartigo=2729 CAMARGO, E. P. Saberes docentes para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de física. Editora: UNESP. São Paulo, 2012. CAMARGO, E. P.; NARDI, R.; VERASZTO, E. V. A comunicação como barreira à inclusão de alunos com deficiência visual em aulas de óptica [Versão eletrônica]. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 30, n. 3, 2008. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais. Salamanca - Espanha, 1994. GREGÓRIO, E. A.; OLIVEIRA, L. G.; MATOS, S. A. Uso de simuladores como ferramenta no ensino de conceitos abstratos de Biologia: Uma proposição investigativa para o ensino de síntese proteica. Experiências em Ensino de Ciências. Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016. LIAÑO, G. A.; SANTOS, L. D.; VARANDA, L. L. A genética ao alcance das mãos: confecção e utilização de modelos táteis para a inclusão de alunos com deficiência visual no ensino regular. VI Enebio e VIII EreBio Regional 3. Revista da SBEnBio, n. 9. Rio de Janeiro, 2016. LOPES, N. R.; ALMEIDA, L. A.; AMADO, M. V. Produção e análise de recursos didáticos para ensinar alunos com deficiência visual o conteúdo de mitose: uma prática pedagógica no Ensino de Ciências Biológicas. Revista Eletrônica: Debates em Educação Científica e Tecnológica, v. 2, nº 02. Espírito Santo, 2012. UNESCO - ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA. Declaração Mundial sobre Educação Para Todos (Conferência de Jomtien). Jomtien - Tailândia, 1990.
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