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Indaial – 2020 Introdução às CIênCIas FarmaCêutICas Profª. Simona Renz Baldin 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Profª. Simona Renz Baldin Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: B177i Baldin, Simona Renz Introdução às ciências farmacêuticas. / Simona Renz Baldin. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 190 p.; il. ISBN 978-65-5663-263-6 ISBN Digital 978-65-5663-258-2 1. Farmácia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 615.4 apresentação Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Introdução às Ciências Farmacêuticas, no qual você encontrará muito conhecimento sobre a área das Ciências Farmacêuticas com os objetivos de contribuir para os seus estudos e aprofundar os conhecimentos sobre a história da farmácia, as definições importantes na área farmacêutica e todos os aspectos importantes relacionados aos medicamentos. Por isso, este caderno de estudos está dividido em três unidades. Na Unidade 1, será apresentada toda a história da farmácia e do boticário até o farmacêutico, a fim de entendermos a evolução e compreendermos o cenário atual da nossa profissão. Também veremos como foram criados os Conselhos de Farmácia, as legislações específicas, as fiscalizações sanitárias e as fontes de informação em farmácia, pois, como profissionais da área de saúde, somos responsáveis por disseminar informações seguras. Por fim, vamos conferir a linha do tempo da profissão farmacêutica com os principais acontecimentos. Na Unidade 2, serão abordadas definições importantes na farmácia, demonstrando como ocorre o processo de desenvolvimento, pesquisa e produção dos medicamentos. Em seguida, veremos a classificação dos medicamentos existentes atualmente no Brasil e os tipos de receitas para dispensação de medicamentos controlados. Na Unidade 3, os principais temas discutidos serão a educação e a atuação do farmacêutico. A educação farmacêutica é de suma importância para todos os profissionais de saúde, por isso veremos o processo de educação em saúde e medicamentos. Também serão apresentadas todas as áreas em que o farmacêutico pode atuar e o código de ética que rege a profissão, assim como o perfil do profissional. Ao final deste livro, esperamos que o aluno tenha uma noção importante sobre todos os conceitos apresentados a respeito da profissão. Então, acadêmico, aproveite ao máximo todo o conteúdo e conhecimento adquirido! Bons estudos! Profª. Simona Renz Baldin Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumárIo UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA ................................................................................... 1 TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO ............................ 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 A HISTÓRIA DA FARMÁCIA .......................................................................................................... 4 3 A FARMÁCIA PRÉ-HISTÓRICA ..................................................................................................... 6 4 MESOPOTÂMIA ................................................................................................................................. 7 5 ANTIGO EGITO .................................................................................................................................. 8 6 CONTINENTE AMERICANO .......................................................................................................... 9 7 GRÉCIA ............................................................................................................................................... 10 8 A IDADE MÉDIA .............................................................................................................................. 13 9 O RENASCIMENTO E O INÍCIO DA EUROPA MODERNA ................................................. 14 10 ILUMINISMO .................................................................................................................................. 16 11 ROMANTISMO ............................................................................................................................... 17 12 POSITIVISMO ................................................................................................................................. 19 13 A FARMÁCIA CONTEMPORÂNEA ........................................................................................... 20 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 22 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 23 TÓPICO 2 — DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO ............................................................... 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 25 2 AS BOTICAS ...................................................................................................................................... 25 3 OS ESTUDOS DE FARMÁCIA ....................................................................................................... 28 4 FARMACÊUTICOS E FARMÁCIAS .............................................................................................. 31 5 O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA SOCIEDADE ATUAL .................................................... 32 5.1 PROBLEMAS QUE DEMONSTRAM A IMPORTÂNCIA DO FARMACÊUTICO ............. 32 6 O LUGAR DO FARMACÊUTICO É NA FARMÁCIA?.............................................................. 33 RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................35 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 36 TÓPICO 3 — CRIAÇÃO DE CONSELHOS, LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS E FISCALIZAÇÕES SANITÁRIAS ............................................................................. 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39 2 CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA ...................................................................................... 39 3 CONSELHOS REGIONAIS DE FARMÁCIA .............................................................................. 40 4 DECRETOS QUE REGULAMENTAM O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO FARMACÊUTICA .............................................................................................................................. 41 4.1 DECRETO Nº 20.377 .................................................................................................................... 41 4.2 DECRETO Nº 85.878 .................................................................................................................... 41 5 A VIGILÂNCIA SANITÁRIA ......................................................................................................... 42 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 44 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 45 TÓPICO 4 — LINHA DO TEMPO .................................................................................................... 47 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47 2 LINHA DO TEMPO – HISTÓRIA DA FARMÁCIA .................................................................. 47 2.1 SÉCULO XVI A.C. ......................................................................................................................... 47 2.2 SÉCULO IV A.C. ........................................................................................................................... 48 2.3 SÉCULO I ....................................................................................................................................... 49 2.4 SÉCULOS XII A XIII ..................................................................................................................... 50 2.5 SÉCULO XVI ................................................................................................................................. 50 2.6 SÉCULO XIX .................................................................................................................................. 51 2.7 SÉCULO XX ................................................................................................................................... 51 2.7.1 Década de 1930 ..................................................................................................................... 51 2.7.2 Década de 1950 ..................................................................................................................... 52 2.7.3 Década de 1960 ..................................................................................................................... 52 2.7.4 Década de 1970 ..................................................................................................................... 52 2.7.5 Década de 1980 ..................................................................................................................... 52 2.7.6 Década de 1990 ..................................................................................................................... 53 2.7.7 SÉCULO XXI ........................................................................................................................ 53 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 55 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 56 TÓPICO 5 — FONTES DE INFORMAÇÃO EM FARMÁCIA .................................................... 57 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 57 2 LITERATURA PRIMÁRIA ............................................................................................................... 57 3 LITERATURA SECUNDÁRIA ........................................................................................................ 58 4 LITERATURA TERCIÁRIA ............................................................................................................. 58 5 A RESPONSABILIDADE DE FONTES SEGURAS DE INFORMAÇÕES NA ÁREA DA FARMÁCIA ............................................................................................................................................ 59 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 60 RESUMO DO TÓPICO 5..................................................................................................................... 65 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 66 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 67 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA ............................................. 71 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES .............................................................................. 73 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 73 2 PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA ................................................................................. 75 2.1 DIFERENÇA ENTRE FITOTERÁPICO E PLANTAS MEDICINAIS .................................... 77 3 MEDICAMENTOS ............................................................................................................................ 78 3.1 FINALIDADE DOS MEDICAMENTOS .................................................................................... 78 4 DIFERENÇA ENTRE MEDICAMENTO E REMÉDIO .............................................................. 79 5 DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS NOS DIAS ATUAIS ................................... 79 5.1 FASES DE ESTUDO PARA NOVOS MEDICAMENTOS ....................................................... 80 5.2 ESTUDO PRÉ-CLÍNICO .............................................................................................................. 81 5.3 ESTUDO CLÍNICO ....................................................................................................................... 81 5.3.1 Requisitos para que um medicamento possa ser usado ................................................ 83 5.4 QUALIDADE DOS MEDICAMENTOS .................................................................................... 84 5.5 FORMAS FARMACÊUTICAS..................................................................................................... 85 5.6 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO ..................................................................................................... 87 5.6.1 Via oral .................................................................................................................................. 88 5.6.2 Via retal .................................................................................................................................90 5.6.3 Via parenteral ....................................................................................................................... 91 5.6.4 Via tópica/transdérmica ...................................................................................................... 92 5.6.5 Via respiratória ..................................................................................................................... 93 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 94 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 95 TÓPICO 2 — TIPOS DE MEDICAMENTOS .................................................................................. 97 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 97 2 ALOPATIA .......................................................................................................................................... 97 3 HOMEOPATIA ................................................................................................................................... 97 3.1 MEDICAMENTO HOMEOPÁTICO X MEDICAMENTO ALOPÁTICO ............................ 99 4 ORIGEM DO PRINCÍPIO ATIVO ................................................................................................. 99 4.1 MEDICAMENTOS DE REFERÊNCIA E/OU INOVADORES ................................................ 99 4.1.1 Medicamentos genéricos .................................................................................................. 100 4.1.2 Vantagens dos medicamentos genéricos ........................................................................ 102 4.1.3 Medicamentos similares ................................................................................................... 102 4.1.4 Medicamentos manipulados ............................................................................................ 103 4.1.5 Intercambialidade de medicamentos .............................................................................. 103 5 ELEMENTOS DO MEDICAMENTO .......................................................................................... 107 5.1 EMBALAGEM ............................................................................................................................. 107 5.2 TARJA ........................................................................................................................................... 109 5.3 RÓTULO ...................................................................................................................................... 110 5.4 BULA ............................................................................................................................................ 111 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 112 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 113 TÓPICO 3 — MEDICAMENTOS COM EXIGÊNCIA E ISENTOS DE PRESCRIÇÃO .......... 115 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 115 2 MEDICAMENTOS ISENTOS DE PRESCRIÇÃO .................................................................... 116 3 MEDICAMENTOS COM PRESCRIÇÃO ................................................................................... 117 3.1 TIPOS DE PRESCRIÇÃO ........................................................................................................... 117 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 122 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 124 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 125 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 126 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO ....................................... 131 TÓPICO 1 — EDUCAÇÃO FARMACÊUTICA ............................................................................ 133 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 133 2 EDUCAÇÃO EM SAÚDE............................................................................................................... 133 3 EDUCAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS – PRÁTICAS EDUCATIVAS EM SAÚDE ...... 134 3.1 ESPAÇOS DE ENCONTROS ..................................................................................................... 137 3.2 RECIPROCIDADE DIALÓGICA ............................................................................................. 138 3.3 EDUCADOR EM SAÚDE COMO MEDIADOR CULTURAL ............................................. 138 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 140 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 141 TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA ............................................................ 143 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 143 2 ÁREAS DA FARMÁCIA................................................................................................................. 143 3 MANIPULAÇÃO ............................................................................................................................. 147 3.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ............................................................................................ 148 4 HOMEOPATIA ................................................................................................................................. 148 5 HOSPITAL ........................................................................................................................................ 149 6 INDÚSTRIA FARMACÊUTICA ................................................................................................... 150 6.1 ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES DO FARMACÊUTICO NA INDÚSTRIA ........ 150 7 PLANTAS E FITOTERAPIA .......................................................................................................... 151 8 TOXICOLOGIA ............................................................................................................................... 152 9 LABORATÓRIO E ANÁLISES CLÍNICAS ................................................................................ 153 10 ANÁLISES QUÍMICAS ................................................................................................................ 154 11 COSMÉTICOS E DERMOCOSMÉTICOS ............................................................................... 156 12 SAÚDE ESTÉTICA ........................................................................................................................ 156 13 ALIMENTOS .................................................................................................................................. 157 14 GENÉTICA ...................................................................................................................................... 159 15 BIOTECNOLOGIA ........................................................................................................................ 160 16 SAÚDE PÚBLICA ..........................................................................................................................161 17 SAÚDE AMBIENTAL ................................................................................................................... 162 18 FORÇAS ARMADAS .................................................................................................................... 163 19 POLÍCIA CIENTÍFICA ................................................................................................................. 164 20 PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES ......................................................... 166 21 PESQUISAS .................................................................................................................................... 167 22 DISPENSAÇÃO ............................................................................................................................. 168 23 FARMÁCIA CLÍNICA E CUIDADO FARMACÊUTICO ...................................................... 169 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 172 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 173 TÓPICO 3 — ÉTICA FARMACÊUTICA ........................................................................................ 175 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 175 2 NOÇÃO BÁSICA SOBRE ÉTICA ................................................................................................ 175 3 CÓDIGO DE ÉTICA FARMACÊUTICO .................................................................................... 176 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 181 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 186 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 187 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 188 1 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar os fatos históricos que marcaram a evolução da profissão farmacêutica; • compreender a trajetória do profissional farmacêutico; • entender as funções dos conselhos de farmácia; • investigar as fontes confiáveis de informações; • traçar o perfil do profissional e do paciente. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO TÓPICO 2 – DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO TÓPICO 3 – CRIAÇÃO DE CONSELHOS, LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS E FISCALIZAÇÕES SANITÁRIAS TÓPICO 4 – LINHA DO TEMPO TÓPICO 5 – FONTES DE INFORMAÇÃO EM FARMÁCIA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 1 INTRODUÇÃO Você já imaginou como foi o início da profissão farmacêutica? Como as doenças eram curadas nos séculos passados? Vamos conhecer essa história para entender o momento atual e o futuro da nossa profissão. Você verá que alguns ensinamentos do passado são usados até os dias de hoje. Entre as várias características peculiares ao ser humano, está a sua propensão em tratar doenças físicas ou mentais com medicamentos. Evidências arqueológicas indicam que essa necessidade da humanidade em aliviar o peso causado pelas doenças é tão antiga quanto a procura por novas ferramentas. A farmácia é a arte (posteriormente a ciência) de criar uma das mais importantes ferramentas – o medicamento (ALLEN JR., 2016). Para o farmacêutico dos dias de hoje, é importante entender o papel dos medicamentos enraizado na história da humanidade. Como outras ferramentas, os medicamentos têm sido usados para obter o controle de nossas vidas, tornando- as melhores e mais longas. O entendimento de como os medicamentos agem tem evoluído grandemente, afetando, em parte, a forma como eles são usados (ou abusados). Como é comum em outras áreas, o conhecimento popular sobre o uso de remédios e medicamentos é uma mistura de mito e ciências, folclore e demonstração de fatos. Velhas ideias se fundem com novos conceitos, produzindo uma concepção errônea que pode colocar os pacientes em risco (ALLEN JR., 2016). Uma introdução geral sobre o desenvolvimento dos conceitos referentes aos medicamentos, bem como sobre a evolução da profissão aumenta a habilidade dos farmacêuticos em se adequar aos desafios impostos, à medida que o papel desse profissional se expande. Os farmacêuticos têm muito a ganhar com o entendimento do complexo papel que os remédios tiveram no passado, assim como da farmácia (ALLEN JR., 2016). Ao longo da história, os medicamentos têm gerado uma especial fascinação. Além das histórias sensacionais de como têm desempenhado um importante papel em exploração, comércio, política, descoberta científica e artes, eles afetam diretamente a vida de milhões de pessoas. Medicamentos como a insulina têm mantido milhões de pessoas vivas, assim como antibióticos e quimioterápicos ajudam outras milhões. O fato de terem se tornados úteis, por meio da farmácia, merece ser repetido, e a eficácia e a segurança de seu uso têm UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 4 se tornado a principal preocupação dessa profissão relativamente jovem. Embora a farmácia, como uma habilidade, seja tão antiga quanto as ferramentas de pedra, a prática por um especialista reconhecido ocorre há aproximadamente mil anos. Para o surgimento da especialidade, foi preciso que houvesse uma necessidade de uso de medicamentos, embora a profissão esteja tomando a frente da história (ALLEN JR., 2016). 2 A HISTÓRIA DA FARMÁCIA No Brasil, a história da farmácia encontra-se pouco desenvolvida, já que, em outros países, o estudo e o aprofundamento da farmácia é comum e muito valorizado (PITA, 2000). Assim, a história da farmácia se confunde com a da própria humanidade, já que a busca por remédios para combater as doenças é constante. Na antiguidade, não havia distinção entre médicos e farmacêuticos, cabendo a um mesmo profissional diagnosticar doenças e preparar os medicamentos necessários (CRF-SP, 2019). A história da farmácia e medicina por muito tempo caminharam juntas, sendo conhecidas como as ciências da saúde. Então, qual é o objetivo do estudo da história da farmácia? Segundo o historiador J. L. Valverde (1976, apud PITA, 2000), em um artigo intitulado La historia de la farmacia que se ha escrito, abordou insistentemente esse problema e indicou que a história da farmácia deve debruçar- se sobre: • a arte farmacêutica compreendendo, fundamentalmente, o estudo das formas farmacêuticas e dos medicamentos; • a história das ciências farmacêuticas; • a história das farmácias e dos farmacêuticos; • as relações entre a medicina e a farmácia; • a terapêutica medicamentosa e a articulação entre farmácia e as realidades sociais e culturais. Segundo Laín Entralgo (1978, apud PITA, 2000), as razões para se estudar a história é integrar o saber, a dignidade moral, a liberdade intelectual e a originalidade do pensar, salientando que existem pontos que podem consolidar a consciência da profissão farmacêutica como: • abertura de caminho até a integridade do saber; • sua história confere dignidade moral ao farmacêutico, pois legitima a ciência e a profissão através da história, sendo dotada de um passado rico e do qual o profissional pode se orgulhar e se servir para fundamentardeterminadas apostas no futuro; • contribui para um despertar intelectual com a resolução de determinados problemas científicos e profissionais, sendo que determinados saberes do passado, às vezes ditos como ultrapassados, podem ser abordados novamente em função da evolução de novas vertentes de pesquisas. TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 5 As práticas farmacêuticas existem na história desde 2500 a.C. a partir de produtos naturais (minerais, vegetais e animais), tendo sido iniciadas na China. Os gregos e os egípcios foram os primeiros a desenvolver métodos para a cura de doenças utilizando a botânica associada a elementos místicos e religiosos (PITA, 2000). A origem da profissão remonta à Grécia antiga e seus deuses: o símbolo da farmácia ilustra o poder (cobra) da cura (taça) e era utilizado pela deusa Hígia, responsável pela saúde (PITA, 2000). FIGURA 1 – SÍMBOLO DA FARMÁCIA FONTE: <https://symbolismofthings.com/significado-simbolo-farmacia-simbolismo/>. Acesso em: 28 maio 2020. Curiosidade do símbolo: sua origem remonta à antiguidade, sendo parte das histórias da mitologia grega. Tudo começou com um centauro, Chiron, que se dedicou ao conhecimento da cura e teve como um dos discípulos o deus Asclépio (também denomi- nado Esculápio), ao qual ensinou os segredos das ervas medicinais. Asclépio tornou-se o deus da saúde e tinha como símbolo um cetro com duas serpentes enroladas. Contudo, ele não utilizava seu conhecimento somente para salvar vidas, mas também para ressus- citar pessoas. Descontente com a quebra do ciclo natural da vida, Zeus interveio e matou Asclépio com um raio. Com sua morte, a saúde passou a ser responsabilidade de Hígia, filha de Asclépio, que se tornou a deusa da saúde. Hígia tinha como símbolo uma taça e a cobra como uma representação do legado do seu pai. Assim, o símbolo de Hígia passou a ser da farmácia (SILVA, 2003). NOTA https://symbolismofthings.com/significado-simbolo-farmacia-simbolismo/ UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 6 O site, a seguir, é um museu virtual da história da farmácia. Vale a pena aces- sar: https://museudouniversodafarmacia.com.br/. DICAS 3 A FARMÁCIA PRÉ-HISTÓRICA Um traço fundamental, nessa época, diz respeito à origem das doenças, que podiam ser naturais ou sobrenaturais. Nesse tempo, não existia diferença entre doença orgânica, funcional ou psicossomática, pois o conceito de doença era sobrenatural, mágico e misterioso, e o tratamento dessas doenças não tinha apenas como terapêutica exclusiva os rituais mágico-religiosos, mas também o uso de produtos de origem vegetal, mineral e animal (PITA, 2000). O uso de plantas revelou, mais tarde, grande valor terapêutico e, ainda hoje, é reconhecido como um elemento em tratamento de doenças (PITA, 2000). Desde o início da humanidade, a farmácia tem feito parte da vida diária. Escavações de alguns dos mais antigos assentamentos humanos suportam o argumento de que indivíduos pré-históricos coletavam plantas para fins medicinais. Por tentativa e erro, o conhecimento popular das propriedades curativas de certas substâncias naturais acabou crescendo. Embora curandeiros tribais ou xamãs guardassem o conhecimento para si, o uso de plantas medicinais, que algumas vezes era empregado como alimento, condimento ou amuleto, foi tão disseminado que impediu a necessidade de existir uma classe especial de pessoas que fossem responsáveis pela sua coleta e utilização (ALLEN JR., 2016). Quando curandeiros de Shanidar ou de outros assentamentos pré- históricos abordavam a doença, eles a colocavam dentro de um contexto que envolvia o reconhecimento do mundo ao redor deles, o qual era habitado por bons e maus espíritos. Os antigos explicavam a doença em termos sobrenaturais, como faziam para explicar outras mudanças ou desastres que ocorriam ao seu redor. Essa lógica também envolvia os tratamentos (ALLEN JR., 2016). As poções mágicas usadas na cura de doenças eram de responsabilidade dos xamãs. Geralmente, encarregados de todas ou da maioria das questões sobrenaturais na tribo, os xamãs diagnosticavam e tratavam a maioria das doenças crônicas ou severas, manipulando os remédios necessários para influenciar os espíritos maus. Assim, um duplo legado foi deixado: drogas como simples ferramentas e substâncias como poderes quase que sobrenaturais (ALLEN JR., 2016). https://museudouniversodafarmacia.com.br/ TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 7 A descoberta de certas substâncias naturais, como ópio ou mirra, permitiu aliviar o sofrimento humano; entretanto, isso não deveria ser banalizado. Mesmo que os antigos tenham descoberto somente um pequeno número de substâncias ativas, o conceito de efeito sobre as funções biológicas deve ser considerado um dos maiores avanços da humanidade. O desenvolvimento desse conceito ocorreu com o avanço da civilização. Para prosperar, a terapia médica racional precisou das ferramentas fornecidas pelas culturas antigas – a escrita, o sistema de permuta e o sistema de pesos e medidas (ALLEN JR., 2016). 4 MESOPOTÂMIA Na Mesopotâmia, acreditava-se que o comportamento dos deuses era fundamental para o bem-estar dos homens. Eles poderiam originar o bem e o mal, consequentemente, a saúde e a doença. As doenças eram interpretadas como um castigo divino. Tornava-se necessário saber que tipo de pecado o doente havia cometido, para saber o prognóstico da doença, tendo como base os rituais mágicos para realizar o tratamento. Para as doenças de causas terrenas bem visíveis, havia o recurso do uso de medicamentos e da cirurgia. No entanto, a utilização de medicamentos, por si só, não causaria qualquer efeito se não houvesse o acompanhamento mágico-religioso (PITA, 2000). Hoje, a tábua de Nippur é tida como o mais antigo texto da medicina. Nela, havia receitas médicas do terceiro milênio a.C., relatando drogas de origem vegetal, mineral e animal e relatos de formas farmacêuticas de uso oral e uso tópico, como unguentos. Como veículo das preparações, usavam-se vinho, cerveja e óleos. Outras tábuas que contribuíram para a história da farmácia foram descobertas na Filadélfia e na Constantinopla (PITA, 2000). Na Mesopotâmia já era conhecida uma significativa variedade de drogas de origem vegetal, mineral e animal. Além disso, os habitantes daquela região recorriam ao banho, ao calor e às massagens como práticas terapêuticas e realizavam de intervenções cirúrgicas a abcessos, cataratas, extração de dentes, entre outros. Contudo, a terapêutica mais valorizada era a mágico-religiosa, sendo a terapêutica medicamentosa e o recurso à cirurgia, em alguns casos, usados como complementos (PITA, 2000). Ao que se sabe, os povos da Mesopotâmia deram especial atenção aos vegetais com propriedades medicamentosas e cultivo para uso em preparações de medicamentos de drogas vegetais. Entre esses vegetais, temos: cebolas, alhos, açafrão, chicória, cera, mel, uvas, figos, cevada, trigo, milho, vinho, cerveja, água, ópio, entre outros. Em relação a drogas de origem animal, eram usados vísceras e gorduras de animais. Já as de origem mineral eram arsênio, enxofre, cobre, sais de ferro, entre outros (PITA, 2000). Nessa época, algumas operações farmacêuticas descritas são a secagem, a pulverização, a extração de sucos, a filtração, a decantação, a maceração, a digestão, UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 8 a ebulição, entre outras. Essas operações eram realizadas para a obtenção de formas farmacêuticas, para preparar soluções, fumigações, pomadas, unguentos, emplastros e pílulas. Também já havia técnicas próprias para a introdução de medicamentos pelas vias retais e vaginais (PITA, 2000). O cultivo de plantas medicinais e o desenvolvimento de prática cosméticas foram atividades significativas nos povos da Mesopotâmia, que se dedicaram ao comércio de plantas medicinais e desenvolveram apuradas técnicas químicas para produção de corantes, sabão, pinturas e cosméticos (PITA, 2000). 5 ANTIGOEGITO O Egito persistia na crença da origem divina das doenças, realizando, com frequência, sacrifícios, preces e rituais mágicos para restabelecer a saúde do doente (PITA, 2000). As receitas sugeridas geralmente iniciavam com uma prece ou encantamento (ALLEN JR., 2016). Algumas definições, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa; BRASIL, 2018), sobre métodos de extração em drogas vegetais: • Secagem: é o processo que consiste em reduzir o conteúdo de umidade das partes das plantas, inicialmente entre 60 e 80%, até atingir valores entre 8 e 12%, evitando assim a fermentação ou degradação dos princípios ativos. A secagem deve ser realizada corretamente para preservar as características de cor, aroma e sabor do material colhido. O tempo de secagem depende do fluxo de ar, da temperatura e da umidade relativa do ar, sendo estes os principais parâmetros a serem controlados. • Pulverização: reduz a pó pequena quantidade de material, realizado normalmente por trituração. • Extração: é a retirada, de forma seletiva ou mais completa possível, das substâncias ou da fração ativa contida na droga vegetal, utilizando, para isso, um solvente apropriado e sem efeitos tóxicos. • Filtração: separação de partículas sólidas suspensa em líquido por efeito de pressão sobre superfície porosa (filtro). • Decantação: deixar uma mistura (sólido-líquido ou líquido-líquido) em repouso e o componente mais denso, sob ação da força de gravidade, formará a fase inferior e o menos denso ocupará a fase superior. • Maceração: é o processo que consiste em manter a planta fresca ou a droga vegetal, convenientemente rasurada, triturada ou pulverizada, nas proporções indicadas na fórmula em contato com o líquido extrator apropriado, por tempo determinado para cada vegetal. Deverá ser utilizado recipiente âmbar ou qualquer outro que elimina contato de luz. • Digestão: ferver a droga vegetal em um líquido extrator na temperatura de 40 a 50 °C. • Ebulição (decocção): é a preparação que consiste na ebulição da droga vegetal em água potável por tempo determinado. Método indicado para drogas vegetais com consistência rígida, como cascas, raízes e sementes. NOTA TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 9 De todos os papiros que contam a história, o de Ebers e o de Edwin Smith são tradicionalmente considerados os de maior interesse para o estudo da história da farmácia e da medicina, pois demonstram a relação entre a patologia e a terapêutica, relatando avanços consideráveis na farmacoterapia e 700 nomes de drogas de origem vegetal, mineral e animal (PITA, 2000). Os registros sobre as práticas médicas egípcias demonstram um alto nível de sofisticação farmacêutica, com preparações manipuladas a partir de receitas detalhadas (ALLEN JR., 2016). Os egípcios trabalharam com um rol de matérias- primas de origem vegetal (drogas frescas e secas), como anis, sene, tamarindos, pepino, melão, artemísia, açafrão, cebola, alho, trigo, lírio, dormideira, cólquico, mandrágora, figos, cevada, entre outros; de origem animal, como gorduras diversas, leite, fígado de boi, carnes variadas, bile, sangue, cérebro e urina de animais; e de origem mineral, como amoníaco, enxofre, ouro, prata, chumbo, ferro, cobre e mercúrio, dos quais era possível obter diversos sais, como sulfuretos de chumbo, carbonato e acetato de cálcio, nitratos de sódio e de potássio (PITA, 2000). As formas farmacêuticas usadas pelos egípcios eram pastilhas, pílulas, supositórios, clisteres, inalações, pomadas, unguentos e colírios (PITA, 2000). Destaca-se, nessa época, a atenção aos cosméticos, com o desenvolvimento de técnicas para a fabricação de esmaltes e a obtenção de pigmentos destinados a colorações, bem como a atenção à prática de higiene pessoal, como a lavagem das mãos, as depilações, tanto no homem como na mulher, a utilização de perucas e perfumes, tanto corporais como de ambiente, e o banho. Assim, os primeiros testemunhos encontrados sobre a produção e a utilização de cosméticos ocorreram no Egito (PITA, 2000). 6 CONTINENTE AMERICANO Quando os europeus chegaram à América, encontraram povos em diferentes estados de evolução cultural; enquanto a civilização maia, asteca e inca conseguiu alcançar um expressivo grau de desenvolvimento, outras civilizações encontravam-se em uma condição oposta, conforme relatado por Francisco Guerra (1988, apud PITA, 2000). A cultura inca acreditava que a doença era o resultado de um pecado cometido pelo doente e uma forma de castigo dos deuses, tendo como tratamento a reconstituição da falta cometida de acordo com um ritual religioso adequado. Esse tratamento era associado a uma terapêutica farmacológica, uma vez que os incas conheciam um número expressivo de drogas com ações terapêuticas (PITA, 2000). As drogas mais utilizadas eram de origem vegetal, sendo a folha de coca muito utilizada contra a fadiga, a fome e a sede. Os maias também acreditavam UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 10 que a doença era o resultado de um pecado ou uma falta cometida e, para restabelecer a saúde, era fundamental o arrependimento do ato cometido, com adequados rituais mágico-religiosos (PITA, 2000). Em relação à terapêutica medicamentosa, os maias usavam mistura e extração como técnicas para o preparo, resultando em unguentos e unções. Eles também deram atenção aos cuidados de embelezamento do corpo (PITA, 2000). Na cultura asteca, a doença também era o resultado de uma falta cometida ou de um pecado. Para o médico asteca era fundamental o conhecimento dos astros pois mostrava-se da maior importância a influência deles sobre o corpo humano, e a interpretação dos sonhos (PITA, 2000). No que diz respeito às técnicas terapêuticas, os astecas utilizavam da cirurgia e da terapêutica com drogas vegetais, animais e minerais, sempre em associação com rituais mágico-religiosos considerados fundamentais nas doenças mais graves (PITA, 2000). 7 GRÉCIA As raízes da profissão médica moderna surgiram com o florescimento da civilização grega, na bacia do mar Egeu. Nos registros da Grécia antiga, é encontrado um conceito de fármaco – ou pharmakon, uma palavra que significa ao mesmo tempo feitiço, remédio ou veneno (ALLEN JR., 2016). A deusa da magia chamada Hecate, também conhecida como Pharmakis, era detentora do saber terapêutico das plantas medicinais e, nos templos que lhe estavam consagrados, as sacerdotisas eram apelidadas de pharmakides (PITA, 2000). Houve uma divisão rudimentar de trabalho entre os que lidavam com medicamentos, com várias denominações utilizadas para esses profissionais, para além dos médicos (iatroi), sendo os mais comuns os pharmakopoloi (singular pharmakopolos), ou vendedores de medicamentos, que teriam igualmente outras funções no campo sanitário e cujo estatuto social e cultural não seriam elevados (DIAS, 2005). Os gregos utilizavam preparação de medicamentos proveniente dos três reinos da natureza, sendo as formas farmacêuticas produzidas: pílulas, bolos, electuários, pastilhas, unguentos, pomadas, ceratos, pomadas oftálmicas, colírios, supositórios e clisteres. Também existia uma forma farmacêutica denominada rypos, composta por uma mistura de azeite com suor dos praticantes de ginástica dos ginásios gregos. Os gregos dedicaram atenção especial aos ginásios, à perfumaria e à cosmética (PITA, 2000). Em Roma, à semelhança do que havia acontecido na Grécia, não existia separação entre a atividade médica e a arte farmacêutica. Os médicos romanos prestavam cuidados médicos à população e faziam a preparação dos medicamentos ao público. Essas fórmulas eram exclusivas e mantidas em segredo (PITA, 2000). TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 11 Onde eram realizadas as técnicas, encontravam-se diversos utensílios utilizados na transformação das matérias-primas em medicamentos, assim como recipientes destinados a sua conservação e armazenamento. Entre os diversos utensílios, encontramos alfomarizes,piluladores, tamises, cápsulas, bancas de mármore para a preparação de pomadas, copos, vasilhas, balanças de braços iguais, balanças romanas. O sistema de pesos romano foi utilizado na farmácia até o século XIX, justamente quando foi implantado o sistema métrico decimal (PITA, 2000). FIGURA 2 – BALANÇA ANTIGA FONTE: <https://shutr.bz/3mI6geN>. Acesso em: 29 jun. 2020. FIGURA 3 – FAMACÊUTICA PREPARANDO UM MEDICAMENTO FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Farmac%C3%AAutico>. Acesso em: 29 jun. 2020. Para a conservação e o armazenamento dos medicamentos, os romanos utilizaram materiais diversos e formas variadas. Eram vulgares as caixas de madeira e de metal para o acondicionamento de matérias-primas vegetais. Para os medicamentos líquidos, pastosos e perfumes, eram utilizados recipientes de vidro, de barro cozido, de osso, de prata, de bronze e de estanho (PITA, 2000). https://pt.wikipedia.org/wiki/Farmac%C3%AAutico UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 12 À semelhança do que acontecia na Grécia, Roma também mostra a diversidade de profissionais que trabalhavam com o vasto campo da comercialização das drogas e dos perfumes: • os farmacopolas eram comerciantes de drogas e venenos; • os cellulari vendiam as drogas nas suas próprias tendas; • os seplasiari eram profissionais que vendiam drogas nos seus estabelecimentos (seplasias); • os herbari dedicavam-se à colheita e à conservação das drogas; • os unghentarii eram especializados na obtenção de perfumes; • os circunforaneos eram vendedores de substâncias medicinais que promoviam os seus produtos de cidade em cidade (PITA, 2000). Os romanos, assim como os gregos, também davam especial atenção à perfumaria e à cosmética, utilizando várias matérias-primas provenientes dos três reinos da natureza com diversas aplicações, sendo que muitas formulações apresentavam finalidade cosmética e terapêutica (PITA, 2000). A maioria dos medicamentos gregos era preparada a partir de plantas, e o primeiro grande estudo das plantas no Ocidente foi realizado por Teofrasto (370-285 a.C.), um estudante de Aristóteles. Seu feito de combinar informações de acadêmicos, parteiras, coletores de raízes e médicos itinerantes foi copiado 300 anos mais tarde por Dioscórides (65 d.C.). A última compilação de um médico grego sobre uso de plantas do seu tempo, a Materia medica, tornou-se, nas suas várias formas, a obra de referência sobre plantas medicinais centenas de anos depois (ALLEN JR., 2016). Por meio dos ensinamentos e das escrituras de Galeno, um médico grego que atuava em Roma no século II d.C., o sistema humoral da medicina ganhou ascendência para os próximos 1.500 anos, criando um sistema elaborado que tentava equilibrar os humores de um indivíduo doente pelo emprego de drogas de uma natureza supostamente contrária (ALLEN JR., 2016). Galeno (200-131 a.C.), o pai da farmácia, combatia as doenças por meio de substâncias ou compostos que se opunham diretamente aos sinais e sintomas das enfermidades, tendo sido o precursor da alopatia (CRF-SP, 2019). Ele descreveu farmácia e medicamentos, e, em suas obras, havia centenas de referências a fármacos, além de ter elaborado uma lista de remédios vegetais, conhecidos como “galênicos”, a maioria dos quais era composta por vinho. Estudioso, observador e metódico, Galeno classificou e usou magistralmente as ervas, fazendo preparações denominadas “teriagas” com vinho e ervas. Ele foi a figura mais marcante na história da medicina romana e da farmácia. No campo da farmacoterapia, definiu o alimento como o que atua originando um incremento do corpo e o medicamento como aquele que produz no organismo uma alteração que, em casos extremos, pode se transformar em veneno (PITA, 2000). TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 13 Desse modo, Galeno é considerado o pai da farmácia, pois conseguiu instituir uma construção de medicamento, até então, nunca vista e organizou uma terapêutica medicamentosa nunca antes obtida. Ele preconizou uma farmacologia própria, à luz da qual pretendia explicar a ação dos medicamentos, organizou e classificou racionalmente os fármacos (PITA, 2000). O conceito de medicamento de Galeno é o que temos até hoje. No medicamento, coexistem três constituintes fundamentais: as substâncias, que conferem as propriedades terapêuticas ao medicamento; os produtos, que exercem uma ação corretiva de determinada característica organoléptica; e os excipientes, que são incorporados para facilitar a administração das substâncias ativas (PITA, 2000). A medicina da antiguidade alcançou o seu auge com Galeno, cuja influ- ência foi tão persuasiva entre os práticos que exerciam a medicina que a base de sua abordagem de cura – o equilíbrio dos quatro humores do corpo com o uso de drogas – se misturava com folclore e sua superstição para guiar pessoas comuns no tratamento de suas doenças. Na metade ocidental do Império Romano, tal conhecimento tornou-se especialmente valioso nos 400 anos seguintes, à medida que civilizações entravam em decadência (ALLEN JR., 2016). FIGURA 4 – CLAUDIO GALENO FONTE: <https://bit.ly/3lBZYMA>. Acesso em: 23 set. 2020. 8 A IDADE MÉDIA Tradicionalmente, a Idade Média é definida como o período que se ini- cia com a queda do Império Romano no Ocidente (400 d.C.) e vai até a queda de Constantinopla (1543), sendo considerada, por historiadores, a “Idade das Trevas”, embora tenha sido um período com acontecimentos relevantes, como o surgimento da civilização islâmica e uma nova e independente área – a farmácia (ALLEN JR., 2016). UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 14 O uso de drogas, para tratar doenças, sofreu mudanças devido ao fechamento de alguns templos pagãos. A terapia medicamentosa racional declinou no Ocidente, sendo substituída pelos ensinamentos da Igreja de que o pecado e a doença estavam intimamente relacionados (ALLEN JR., 2016). Os árabes aceitaram a notoriedade das escrituras médicas gregas, especialmente de Galeno e Dioscórides. Contudo, à medida que seu nível de sofisticação crescia, médicos islâmicos, como Rhazes (860-932) e Avicena (980- 1063), adicionavam informações aos escritos gregos. Os postos de comércio distantes das conquistas árabes também trouxeram novas drogas e condimentos aos centros de ensino. Além disso, os médicos árabes rejeitavam a ideia de que remédios com sabor desagradável funcionavam melhor; em vez disso, eles se dedicavam a tornar suas formas de dosagem elegantes e palatáveis, cobrindo pílulas com folhas de ouro ou prata e usando veículos adoçados (ALLEN JR., 2016). Os medicamentos novos e mais sofisticados exigiam técnicas de preparação elaboradas. Na cidade cosmopolita de Bagdá no século IX, essa atividade era realizada por especialistas, os antecessores dos farmacêuticos atuais. Em lugares como Espanha e sul da Itália, onde o mundo islâmico interagia com a Europa Ocidental, várias instituições e progressos da cultura árabe, como a separação da farmácia e da medicina, alcançavam o Ocidente (ALLEN JR., 2016). Na metade do século XIII, quando Frederico II, o governante do Reino das Duas Sicílias, sistematizou a prática da farmácia separada da medicina pela primeira vez na Europa, farmácias públicas tornaram-se relativamente comuns no sul da Europa. Profissionais da farmácia reuniam-se em associações, as quais, algumas vezes, incluíam comerciantes de especiarias e médicos. Esses pró- farmacêuticos geralmente se autodenominavam “apotecários” (ou boticários), um termo oriundo do termo grego latinizado apotheca, que significa depósito ou armazém. Semelhantemente aos padeiros (padarias) ou merceeiros (mercearias), os apotecários eram identificados pelo seu tipo de comércio (ALLEN JR., 2016). A cultura árabe trouxe, novamente, o conhecimento médico e científico clássico à Europa. No entanto, para que ocorressem mudanças significativas no uso de drogas, a abordagem escolástica deveria ser colocada de lado e uma metodologia observacional mais cética precisavaser adotada. Essa nova era experimental é conhecida como renascimento (ALLEN JR., 2016). 9 O RENASCIMENTO E O INÍCIO DA EUROPA MODERNA O renascimento, de modo simples, foi o início da Idade Moderna. Em 1453, Constantinopla (atual Istambul) caiu pela conquista dos turcos, e os indiví- duos remanescentes da comunidade acadêmica grega fugiram para o Ocidente, carregando seus livros e conhecimentos. Em meio século, Colombo descobriu o Novo Mundo e Vasco da Gama encontrou o caminho marítimo para a Índia, que TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 15 tinha sido antecipado por Colombo; o comércio, com base em moedas e transa- ções bancárias, foi estabelecido e a sífilis disseminou-se pela Europa. Foi a época da prática de novas ideias por meio da reinterpretação dos temas clássicos anti- gos, da exploração dos mares e da investigação em laboratório (ALLEN JR. 2016). Foi o momento ideal para se libertar dos velhos conceitos sobre doenças e drogas de Galeno. As novas drogas chegaram a terras distantes desconhecidas pelos anciões. Impressores, após terem cumprido a demanda de impressões de livros religiosos, voltaram-se a obras farmacêuticas e médicas, especialmente àquelas que poderiam ser beneficiadas com a impressão de ilustrações detalhadas. Essa tendência pode ser exemplificada com a obra-prima da anatomia de Andreas Vesalius (1514-1534), conforme mostra a Figura 5 (PITA, 2000). FIGURA 5 – OBRA-PRIMA DA ANATOMIA, DE ANDREAS VESALIUS Para a farmácia, a impressão teve um profundo efeito no estudo das plantas medicinais, visto que a ilustração de plantas podia ser facilmente reproduzida. Médicos botânicos, como Otto Brunfels (1500-1534), Leonhart Fuchs (1501-1566) e John Gerard (1545-1612), ilustravam suas obras com figuras de plantas, permitindo que os leitores fizessem um sério trabalho de campo ou encontrassem as drogas FONTE: <https://bit.ly/341iOXJ>. Acesso em: 25 jun. 2020. Andreas Vesalius publicou, em 1543, o maior livro médico, De humani cor- poris fabrica, mais conhecido como Fabrica, impressionando a comunidade por sua im- ponência e conteúdo. Foi perseguido pela inquisição e sua obra chegou a ser proibida na época. INTERESSA NTE UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 16 necessárias para seus pacientes. Entre os mais talentosos investigadores, estava Valerius Cordus (1515-1544), que escreveu uma obra de outro gênero popular – o livro de fórmulas (PITA, 2000). FIGURA 6 – OBRA HERBARIUM VIVAE EICONES, DE OTTO BRUNFELS FONTE: <https://bit.ly/3qvlshF>. Acesso em: 30 jun. 2020. 10 ILUMINISMO As alterações políticas, sociais e econômicas, verifi cadas no fi nal do século XVIII, incorporaram disciplinas médicas sociais, como a higiene. Com isso, surgiu a preocupação com as condições sanitárias da população e, sobretudo, as classes da população como crianças, idosos, operários, entre outros (PITA, 2000). Um dos aspectos clínicos mais evidentes e visíveis dessa dinâmica preventiva foi a vacinação contra a varíola; a vacinação, por si só, foi uma descoberta científi ca de grande impacto não só na comunidade científi ca, mas também na população em geral. Foi ainda na segunda metade do século XVIII que surgiu a homeopatia, um sistema terapêutico que ainda existe nos dias atuais, sendo o seu fundador Samuel Hahnemann (1755-1843; PITA, 2000). O avanço verifi cado na farmácia no fi nal do século XVIII seguiu uma linha orientadora já traçada no século precedente, podendo-se classifi cá-lo como gradual e lento. Foi um período em que coexistiram partidários do galenismo e das modernas correntes químico-farmacêuticas, além da própria literatura farmacêutica – a farmacopeia –, que agrega conhecimento antigo com novas orientações científi cas (PITA, 2000). TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 17 FIGURA 7 – FARMACOPEIA BRASILEIRA FONTE: <https://bit.ly/2JSlKyj>. Acesso em: 30 jun. 2020. 11 ROMANTISMO Os avanços da química, na primeira metade do século XIX, foram decisivos para as modificações na área da farmácia. O aparecimento de uma farmacologia científica, o surgimento de medicamentos novos e da terapêutica experimental, bem como a emergência de novas formas farmacêuticas foram alguns dos aspectos que influenciaram a revolução na farmácia e na farmacoterapia (PITA, 2000). Uma descoberta científica marcou definitivamente a história da farmácia: a síntese em laboratório da ureia, por Friedrich Wöhler, em 1828, que abriu as portas da síntese laboratorial de substâncias orgânicas (PITA, 2000). Farmacopeia Brasileira é o nome dado ao livro farmacêutico oficial do país, no qual se estabelece identificação e padrões de qualidade das substâncias empregadas em farmacologia, descrevendo os requisitos mínimos de qualidade de fármacos, insumos, drogas vegetais, produtos para saúde e medicamentos. A última edição da obra foi publicada em 2019. Acesse o link para esse material em: ht- tps://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/farmacopeia-brasileira/arquivos/ 7985json-file-1. NOTA https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/farmacopeia-brasileira/arquivos/7985json-file-1 https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/farmacopeia-brasileira/arquivos/7985json-file-1 https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/farmacopeia-brasileira/arquivos/7985json-file-1 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 18 FIGURA 8 – A SÍNTESE DA UREIA POR FRIEDRICH WÖHLE FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/quimica/sintese-ureia.htm>. Acesso em: 30 jun. 2020. O desenvolvimento químico e a inovação laboratorial proporcionaram o surgimento da autêntica revolução farmacológica nos princípios do século XIX. Até esse momento, a preparação dos medicamentos era feita com o uso de matéria-prima de origem animal, vegetal ou mineral e, a partir de então, começou a descoberta e a síntese de produtos semelhantes a alguns existentes na natureza, isolando-se suas substâncias ativas. O início do isolamento foi com alcaloides e o pontapé inicial foi dado pelo farmacêutico francês Derosne, em 1803, que isolou a nicotina (PITA, 2000). Depois foram isoladas: • a morfina, por Serturner, em 1805; • a cinchonina, por Bernardino António Gomes, em 1810; • a veratrina, por Meisner, em 1818; • a estricnina, por Pelletier e Caventou, em 1818; • a cafeína, por Runge, em 1820, • a quinina, por Pelletier e Caventou, em 1820; • a atropina, por Mein, em 1831; • a digitalina, por Quevenne e Homolle, em 1854; • a cocaína, por Niemann, em 1858, e Koller, em 1884; • a estrofantina, por Fraser, em 1870, Arnaud, em 1888, e Fränkel, em 1905; • o bicarbonato de sódio, por Rose; • a medicação iodada, por Coindet, Lugol e Lawrence; • o brometo de potássio e o brometo de sódio, por Thielmann, Lemier e Pagano; • os derivados de bismuto (antidiarreicos), por Monneret, em 1849. NOTA https://brasilescola.uol.com.br/quimica/sintese-ureia.htm TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 19 Em relação à técnica farmacêutica, a primeira metade do século XIX trouxe algumas inovações, com destaque para os primeiros sinais de industrialização dos medicamentos e, em decorrência, as especialidades farmacêuticas surgiram para participar desse processo (PITA, 2000). 12 POSITIVISMO Marcado pelo ano de 1848 (ano das explosões revolucionárias por toda a Europa) e o início da Primeira Grande Guerra Mundial, em 1914. Houve um acentuado crescimento da população por diminuição da taxa de mortalidade (PITA, 2000). No campo da biologia, também ocorreram avanços, com destaque a Charles Darwin (1809-1882), que publicou, em 1859, uma obra sobre a origem das espécies, levando a reflexões em torno da vida e do homem (PITA, 2000). Já na área da microbiologia, Louis Pasteur (1822-1895) e Robert Koch (1843-1910) desenvolveram metodologias laboratoriais fundamentais para o progresso da microbiologia, possibilitando a identificação de agentes causais de determinadas doenças contagiosas. A partir dessas descobertas e das infecções cirúrgicas,abriu-se um novo campo nas ciências da saúde. A antissepsia, pesquisada por Lister (1827-1912), investigou um modo de evitar as infecções decorrentes de procedimentos cirúrgicos, com a desinfecção das mãos (PITA, 2000). FIGURA 9 – LOUIS PASTEUR FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/louis-pasteur.htm>. Acesso em: 30 jun. 2020. https://brasilescola.uol.com.br/biologia/louis-pasteur.htm UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 20 Tão importante quanto a antissepsia foi a descoberta de anestésicos. O desenvolvimento da química proporcionou novos produtos, até então desconhecidos. Em 1842, Crawford Long (1815-1878) utilizou o éter; em 1844, foi empregado óxido nitroso como anestésico; em 1846, o éter sulfúrico; e, em 1847, o clorofórmio (PITA, 2000). A principal inovação, no que diz respeito à produção medicamentosa, foi o desenvolvimento da indústria farmacêutica, que retirou o lugar dos medicamentos manipulados. Surgiram, então, novas formas farmacêuticas, frutos do avanço tecnológico e científico, como os medicamentos injetáveis, devido às condições de assepsia para a fabricação (PITA, 2000). As patologias que caracterizavam, na sua globalidade, o século XIX são divididas em três grandes grupos: as doenças provenientes das novas situações históricas e sociais; as doenças tradicionais, já conhecidas dos clínicos; e as doenças epidêmicas. Em geral, essas doenças podem ser resumidas em tifo, difteria, pneumonia, malária, sífilis e diversas doenças circulatórias, digestivas e metabólicas, com ênfase à tuberculose, que atacava todas as classes econômicas na época (PITA, 2000). 13 A FARMÁCIA CONTEMPORÂNEA Após a Primeira Guerra Mundial, houve a continuação do processo de industrialização do medicamento. As farmácias produziam medicamentos magistrais, mas a indústria tinha intenção de abandoná-las. Do século XIX para o XX, a promoção de medicamentos se deu por publicidade, não só em revistas de especialidades, mas também em periódicos, usando meios de comunicação social para a difusão do produto (PITA, 2000). Os antibióticos deram o primeiro passo com a descoberta da penicilina, em 1928, pelo médico britânico Alexander Fleming (1881-1955). Essa descoberta deve ser considerada a mais importante da história da farmacologia e terapêutica. Fleming, ao observar a contaminação por um fungo de uma das suas culturas, verificou que o fungo havia destruído as culturas microbianas (PITA, 2000). O desenvolvimento da penicilina só ocorreu uma década mais tarde, quando o tratado de Guerra na Europa levou uma equipe britânica a se interessar pela produção da droga em grande escala (ALLEN JR., 2016). TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 21 FIGURA 10 – ALEXANDER FLEMING E A DESCOBERTA DA PENICILINA FONTE: <http://blogvermais2.blogspot.com/2014/02/a-descoberta-da-penicilina.html>. Acesso em: 30 jun. 2020. Outros antibióticos e várias classes novas de medicamentos apareceram rapidamente e a farmácia, que antes era um local para tratamento de distúrbios menores, passou a exercer um papel de prevenção e cura de doenças graves (ALLEN JR., 2016). Após a Segunda Guerra Mundial, as empresas começaram a aplicar alta tecnologia para a produção de medicamentos, o que rapidamente tornou a indústria farmacêutica em uma das mais avançadas do mundo. Em consequência, isso diminuiu a tendência de prescrições médicas individualizadas com medicamentos manipulados, passando para a prescrição dos medicamentos industrializados (ALLEN JR., 2016). Com todo esse movimento, os farmacêuticos não perderam o mercado de trabalho. O número de prescrições cresceu rapidamente com o lançamento de vários medicamentos novos e mais efetivos nos anos de 1950, 1960 e 1970 (ALLEN JR., 2016). Com o processo da industrialização, o farmacêutico não dominava mais o processo de produção dos medicamentos em sua totalidade e a farmácia passou a abrigar, além da prática da manipulação de produtos magistrais, a venda das especialidades farmacêuticas. Isso gerou um afastamento do farmacêutico de seu lugar original de trabalho (a farmácia), já que a indústria passou a ser a principal área de interesse, e seu afastamento criou espaço para que leigos e comerciantes, sem qualquer conhecimento técnico, assumissem o seu “lugar”. Por isso, a profissão farmacêutica luta na busca de que o reconhecimento do passado retorne, sendo necessário que os farmacêuticos atuem com a população de diversas maneiras, como orientar preventivamente o paciente e estabelecer vínculos de confiança, além de estar sempre atualizado técnica e cientificamente. http://blogvermais2.blogspot.com/2014/02/a-descoberta-da-penicilina.html 22 Neste tópico, você aprendeu que: • A farmácia e a medicina, por muito tempo, caminharam juntas, comparti- lhando os conhecimentos sobre doenças e medicamentos. • No início, a origem das doenças era tida como sobrenatural, com tratamentos incluindo rituais mágico-religiosos e drogas de origem animal, vegetal e mineral, sendo que tais crenças perduraram por longo tempo. • Com o passar dos anos, aumentou o arsenal de produtos conhecidos para as terapias, principalmente de plantas. • A criação e o desenvolvimento de métodos para a produção de medicamentos, com formas farmacêuticas, eram desenvolvidos para o período. • Com a descoberta de novas terras, esses conhecimentos foram incorporados às novas culturas, surgindo, então, a necessidade de um profissional para o medicamento. • Várias pessoas foram importantes para a história e que, ainda hoje, são referências em algumas descobertas da época. • Houve relatos documentados mostrando o conhecimento adquirido ao longo dos anos, e o desenvolvimento de materiais específicos e livros para o estudo da farmácia, como a Farmacopeia. • Os primeiros medicamentos descobertos e sintetizados foram feitos a partir de plantas, ocorrendo a produção em grande escala com a expansão da indústria farmacêutica. • A história e a evolução da farmácia e da profissão, como o desenvolvimento de métodos antigos para a produção de medicamentos, conhecimento das plantas e seus usos, geraram muitos dos conhecimentos que temos hoje. RESUMO DO TÓPICO 1 23 1 Leia a afirmação a seguir: “Conseguiu instituir a construção do medicamento e organizou uma terapêutica medicamentosa nunca antes obtida. Ele preconizou uma farmacologia própria e explicou a ação dos medicamentos, sendo considerado o ‘Pai da Farmácia’”. Quem foi esse personagem marcante na história da farmácia? a) b) c) d) ( ) Hipócrates. ( ) Galeno. ( ) Fleming. ( ) Otto Brunfles. 2 A descoberta científica que marcou definitivamente a história da farmácia foi o primeiro composto sintetizado artificialmente. Após a síntese desse composto, o desenvolvimento químico e a inovação laboratorial proporcionaram o surgimento da autêntica revolução farmacológica. Qual foi o primeiro composto sintetizado artificialmente? a) b) c) d) ( ) Mirra. ( ) Ópio. ( ) Ureia. ( ) Cevada. 3 A descoberta do primeiro antibiótico foi considerada a mais importante da história da farmacologia. O pesquisador, ao observar a contaminação por fungo de uma das suas culturas, verificou que esse fungo havia destruído as culturas microbianas. Qual foi o primeiro antibiótico descoberto e qual foi esse pesquisador? a) b) c) d) ( ) Penicilina, por Alexandre Fleming. ( ) Bicarbonato de sódio, por Louis Pasteur. ( ) Ureia, por Wöhler. ( ) Éter, por Crawford Long. AUTOATIVIDADE 24 25 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO 1 INTRODUÇÃO No início da sociedade, já existia a cultura da utilização de produtos da natureza para o próprio cuidado. Com o boticário, a pessoa que exercia domínio sobre o conhecimento da origem do produto e da extração de sua matéria-prima, do modo de preparo e de sua comercialização. A utilização da expressão “botica” para farmácia e “boticário” para farmacêutico vem desde o descobrimento do Brasil, perdurando até a terceiradécada do século XIX; nessa época, o profissional manipulava e produzia os medicamentos, de acordo com as prescrições médicas. Com a evolução e os cursos de Farmácia no país, a profissão de boticário foi extinguida e os farmacêuticos assumiram o seu papel. 2 AS BOTICAS Segundo Pourchet-Campos (1966 apud CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009), a palavra boticário foi reportada pela primeira vez pelo Papa Pelágio II, em referência a monges do século VI e, só por volta do século XIII, ela foi utilizada por leigos (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). Com o passar do tempo, os boticários tornaram-se artesãos do medica- mento, deixando de ser exclusivamente comerciantes de matérias-primas para se envolverem também com o preparo deles (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). A corporação de boticários era representada por indivíduos que comer- cializavam drogas, na maioria de origem vegetal. Muitos tinham pequenos jar- dins onde cultivavam as plantas medicinais, e as transformavam em pó, extra- tos e infusos, destinados à preparação, conforme as receitas médicas (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). Os boticários eram responsáveis pelas boticas. A palavra botica tem ori- gem do grego apotheke, cujo significado etimológico é depósito, armazém; as- sim, um estabelecimento fixo para a venda de medicamentos. Fontes históricas afirmam que os primeiros boticários portugueses surgiram no século XIII e um dado singular é a referência a uma mulher boticária, em 1326 (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). 26 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA FIGURA 11 – EXEMPLO DE UMA BOTICA FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Farmac%C3%AAutico>. Acesso em: 29 jun. 2020. O primeiro boticário, no Brasil, foi Diogo de Castro, trazido de Portugal por Thomé de Souza. Sua vinda se deu pela observação da coroa portuguesa de que as pessoas do país tinham acesso ao medicamento apenas quando expedições portuguesas, francesas ou espanholas apareciam, trazendo uma botica portátil cheia de drogas e medicamentos (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). FIGURA 12 – BOTICA PORTÁTIL FONTE: <https://bit.ly/2IbEpET>. Acesso em: 30 jun. 2020. Os portugueses encontraram, no Brasil, uma comunidade representada por pajés e curandeiros, que já usavam raízes, folhas e sementes para resolver os problemas de saúde (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). Os jesuítas criaram colégios e conventos para realizar missões com os índios e, com isso, aprenderam a manipular matérias-primas nativas para a https://pt.wikipedia.org/wiki/Farmac%C3%AAutico TÓPICO 2 — DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO 27 obtenção de remédios. Os medicamentos, inicialmente, vinham da metrópole, porém chegavam irregulares e, muitas vezes, estragados devido à demora, por isso os jesuítas aprenderam a transformar os medicamentos mesclando o conhecimento com os médicos europeus e o conhecimento indígena (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). No Brasil, as boticas só foram autorizadas como comércio em 1640 e, a partir desse ano, elas se multiplicaram de norte a sul. Consistiam em casas comerciais ou lojas, onde o público se abastecia de remédios. Eram dirigidas por boticários, que eram profissionais empíricos, e com a facilidade de aprovação, muitas vezes de nível intelectual baixo, tinham conhecimento de alguns medicamentos e uma carta de aprovação do físico-mor de Coimbra, ou seu delegado, na então capital Salvador. Também recebia o nome de botica os compartimentos existentes em hospitais, onde eram realizados o preparo e a administração de medicamentos em doentes internados (GOMES-JÚNIOR, 1988). FIGURA 13 – BOTICA REAL MILITAR EM 1808 FONTE: <https://bit.ly/37Avwxh>. Acesso em: 29 jun. 2020. Em 1744, o exercício da profissão passou a ser fiscalizado severamente, em função da reforma feita por Dom Manuel. Eram proibidas ilegalidades no comércio de drogas e medicamentos (PITA, 2000). A passagem de nome de comércio de botica para farmácia surgiu com o Decreto nº 2.055, de 1857, quando foram estabelecidas as condições para que os farmacêuticos e os não habilitados tivessem licença para continuarem a ter suas boticas no país (PITA, 2000). 28 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA Os farmacêuticos e os boticários tinham pouca diferença para a maioria da população e para os legisladores, e o farmacêutico só tomou seu espaço exclusivo na produção de medicamentos por volta de 1886 (PEREIRA; NASCIMENTO, 2011). 3 OS ESTUDOS DE FARMÁCIA A permissão para instalações de Escolas Superiores no país somente foi possível após a vinda da Família Real para o país, em 1806. A partir de então, houve inúmeras mudanças de caráter político, econômico, social, cultural e, consequentemente, educacional no Brasil colônia (CRF-SP, 2008-2009). No âmbito da saúde, Oliveira (1978) afirma que o estudo da farmácia científica, ainda que de maneira rudimentar, decorreu quando o Príncipe Regente Dom João XI determinou a criação da cadeira da matéria Médica e Farmacêutica no Hospital Militar (CRF-SP, 2008-2009). O ensino farmacêutico foi institucionalizado oficialmente no período do Império pela Lei de 3 de outubro de 1832, que reformulava os currículos, dando nova organização às academias médicas cirúrgicas do Rio de Janeiro e da Bahia (CRF-SP, 2008-2009). Somente em 1837, foram diplomados os seis primeiros farmacêuticos do país pelo curso de Farmácia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, sendo que dois deles, Manuel José Cabral e Calixto José Arieira, fundaram a Escola de Farmácia de Ouro Preto em 1839 (CRF-SP, 2008-2009). O vídeo, a seguir, conta a história da farmácia e o surgimento das boticas: https://www.youtube.com/watch?v=5dxsF0sRxqs. DICAS https://www.youtube.com/watch?v=5dxsF0sRxqs TÓPICO 2 — DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO 29 FIGURA 14 – ESCOLA DE FARMÁCIA DE OURO PRETO FONTE: <https://bit.ly/36FyEZy>. Acesso em: 30 jun. 2020. Após a Proclamação da República, em 1889, houve o início e o incentivo para a criação da indústria farmacêutica nacional e, em consequência, de novos cursos de farmácia no país, para atender ao novo mercado (CRF-SP, 2008-2009). Em 1901, com o Decreto nº 3.092, denominado Decreto Epitácio Pessoa, o currículo de Farmácia passou pela sua primeira reforma no século XX, reduzindo o currículo em duas séries e sendo realizado em dois anos. Esse currículo delimitou as atribuições e o âmbito do profissional, e direcionou o farmacêutico para a área de manipulação e produção de medicamentos (CRF-SP, 2008-2009). Devido à ampliação do campo profissional do farmacêutico, com a incorporação das análises clínicas, toxicológicas e bromatológicas em suas atribuições profissionais, em 5 de abril de 1911, foram introduzidos os ensinos de física, química, análises toxicológicas, química industrial, bromatologia e higiene no currículo de Farmácia, estendendo o curso para 3 anos (CRF-SP, 2008-2009). Outra mudança no currículo ocorreu em 1925, pela necessidade de o mercado oferecer especialização aos farmacêuticos que atuavam em laboratórios de produção de medicamentos e análises clínicas, pois era fato que, após a Primeira Guerra Mundial, havia ocorrido uma grande evolução tecnológica na produção de medicamentos (CRF-SP, 2008-2009). Desde a criação dos cursos de Farmácia no Brasil, a educação farmacêutica cuidou da formação sem qualquer adjetivo, habilitando o profissional da área para o exercício das Ciências Farmacêuticas em sua plenitude (CRF-SP, 2008- 2009). A partir da Reforma Universitária de 1968, que reformulou a estrutura do ensino universitário no país, foram fixados o eixo mínimo do conteúdo e a duração 30 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA dos cursos de Farmácia no Brasil, criando as modalidades de farmacêutico e farmacêutico bioquímico, obrigando a realização de estágios supervisionados (CRF-SP, 2008-2009). As Diretrizes Curriculares Nacionais definem princípios, fundamentos, condições e procedimentos para a formação de farmacêuticos. Essas diretrizes mostram como perfil do formando, egresso/profissional farmacêutico, uma formação generalista, humanista,crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual. O profissional da área deve ser capacitado para o exercício de atividades referentes aos fármacos e aos medicamentos, às análises clínicas e toxicológicas, e ao controle, à produção e às análises de alimentos, pautados em princípios éticos e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade (CRF-SP, 2008-2009). Segundo o Ministério da Educação, o perfil do farmacêutico será generalista, humanista, crítico e reflexivo, tendo como atribuições essenciais a prevenção, a promoção, a proteção e a recuperação da saúde humana, desenvolvendo atividades associadas ao fármaco e ao medicamento, às análises clínicas e toxicológicas e ao controle, à produção e à análise de alimentos. O farmacêutico deverá ser um profissional com conhecimentos científicos, capacitação técnica e habilidades para definição, promoção e aplicação de políticas de saúde, participação no avanço da ciência e tecnologia, e atuação em equipes multidisciplinares, em todos os níveis de atenção sanitária. A capacitação profissional deve estar alicerçada em: • desenvolvimento de competências para o exercício do pensamento crítico e juízo profissional; • gerenciamento, análises de dados, documentação, tomada de decisões e soluções de problemas; • comunicação oral e escrita; • construção do conhecimento e desenvolvimento profissional; • interação social; atuação ética e responsável, com compreensão da realidade social, cultural e econômica de seu meio. O profissional deverá compreender as diferentes concepções de saúde e enfermidade, os princípios psicossociais e éticos das relações e os fundamentos do método científico; distinguir âmbito e prática profissional, inserindo sua atuação e transformação de realidades em benefício da sociedade. A complexidade das áreas de atuação – medicamentos, análises clínicas e toxicológicas e alimentos – não permite o delineamento de um perfil único do profissional, mas de perfis que contemplem as respectivas modalidades. As atividades em cada uma dessas áreas exigem competências e habilidades específicas, requerendo formação técnico-científica diferenciada, com espaço próprio para serem adequadamente desenvolvidas. TÓPICO 2 — DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO 31 4 FARMACÊUTICOS E FARMÁCIAS A rapidez das transformações sociais, culturais, políticas e econômicas favoreceu a ocorrência da profunda mudança no exercício da profissão farmacêu- tica, que exige novos conhecimentos, comportamentos e atitudes para atender às preocupações, necessidades e expectativas da sociedade (CRF-PR, 2017). Durante muito tempo, o farmacêutico manipulava e produzia medica- mentos à vista do doente, de acordo com a farmacopeia e a prescrição dos pro- fissionais de saúde. Posteriormente, muitas dessas funções foram abarcadas pela indústria farmacêutica, sendo a manipulação uma atividade vinculada às neces- sidades especiais dos usuários (CRF-PR, 2017). A percepção desse feito deu impulso a reflexões sobre a necessidade de se delinear um novo modo de exercer a profissão de farmácia, o que conduziu o surgimento de publicações de um grupo de profissionais dos Estados Unidos que discutiam sobre fundamentos, propósitos, funções e atividades da farmácia, em virtude da condição inelutável do tempo e do progresso (CRF-PR, 2017). O desempenho das atividades farmacêuticas no Brasil, ao longo do tem- po, esteve limitado a atividades técnicas ligadas à elaboração (produção indus- trial e manipulação de fórmulas magistrais e oficinais), à distribuição e à dispensa de produtos farmacêuticos (alopáticos, homeopáticos e plantas medicinais). As demais funções são atividades em órgãos, laboratórios de análises clínicas ou de saúde pública, nos quais são realizados exames clínicos, citopatológicos, toxicoló- gicos, bromatológicos, hidrológicos, farmacêuticos, biológicos, bioquímicos, mi- crobiológicos, fitoquímicos, sanitários, entre outros (CRF-PR, 2017). No Brasil, a relação do farmacêutico com a farmácia de qualquer nature- za, muitas vezes, foi de cumprimento de uma exigência legal, como “responsável técnico”, sem, porém, haver necessidade de se estar presente nesses estabeleci- mentos e exercer os trabalhos de sua competência – por vezes, até mesmo com a conivência das autoridades sanitárias e farmacêuticas, a fim de atender aos inte- resses econômicos das empresas e dos empreendedores (CRF-PR, 2017). O medicamento é um bem social valioso e necessário para a manutenção, a proteção e a recuperação da saúde, mas que encontra utilização distorcida no país pelo esquema empresarial, que rege sua produção e seu consumo, e pelo poder político, por absoluto domínio do poder econômico, com desdobramento nas imperfeições da assistência farmacêutica no Sistema Único de Saúde (SUS; CRF-PR, 2017). O exercício profissional não se reduz apenas à presença física do farma- cêutico na farmácia, mas nos liga a alguns aspectos da prática que passam neces- sariamente pelo estudo das relações efetivas desse profissional com a sociedade, cuja resposta, no sentido histórico e social, é complexa (CRF-PR, 2017). 32 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 5 O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA SOCIEDADE ATUAL O farmacêutico, como profissional de saúde, é o mais indicado para resolver problemas relacionados com medicamentos, quer seja em seu uso, sendo adequado ou não, e no acompanhamento ao paciente. Algumas situações, que serão demonstradas a seguir, são comumente enfrentadas em nossas vidas profissionais (PITA, 2000). 5.1 PROBLEMAS QUE DEMONSTRAM A IMPORTÂNCIA DO FARMACÊUTICO A seguir, veremos alguns dos problemas mais comuns que ocorrem em relação ao medicamento e ao uso racional de medicamentos pelo paciente. O farmacêutico, como o profissional do medicamento, deve saber resolver essas questões (MOTA et al., 2008): • Problemas na aquisição do medicamento: trata-se de problemas econômicos, nos quais o profissional pode oferecer opções mais acessíveis para que o paciente consiga fazer o tratamento correto. • Problemas na forma de administração: o papel do farmacêutico é esclarecer ao paciente a maneira correta de administrar cada forma farmacêutica e a correta via de administração, contribuindo para o tratamento que o paciente conseguirá cumprir. • Problemas com medicamentos prescritos ou solicitados: quando o farmacêutico conhece os pacientes, ele pode detectar, no ato da dispensação, se o medicamento prescrito não é contraindicado para a sua patologia. Por exemplo: gravidez, lactação, problema renal, entre outros. • Problemas relacionados a reações adversas a medicamentos: o farmacêutico deve orientar sobre possíveis reações adversas. Caso haja reação, deve orientar para os cuidados necessários e também sobre como evitá-la, em alguns casos. • Problemas relacionados com interações: a utilização de muitos medicamentos prescritos por vários profissionais faz com que o farmacêutico deva prestar Com essa leitura, vale a pena se perguntar: • Para que os cursos de Farmácia existem? • Qual é a essência do trabalho do farmacêutico? • O que justifica a presença do farmacêutico? • Qual é o grau de profissionalismo até agora alcançado? • Que função o farmacêutico desempenha ou deve desempenhar na sociedade? Ao longo do curso de Farmácia, você deverá estar apto a responder a todas estas perguntas. IMPORTANT E TÓPICO 2 — DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO 33 especial atenção ao aparecimento de interações e à evolução de suas possíveis consequências. Isso pode ser grave em pacientes idosos, crianças e grávidas. É importante lembrar que as interações podem ocorrer entre medicamentos, mas também entre medicamentos e alimentos. • Problemas relacionados com a posologia: é fundamental observar a posologia da receita e orientar corretamente o paciente. • Problemas na aquisição de medicamentospor publicidade ou indicação de terceiros: o farmacêutico tem obrigação de informar e educar a população para que compre um medicamento necessário para seu estado de saúde, e não ocorra uso abusivo de medicamentos desnecessários, colocando em risco a saúde do paciente. • Problemas relacionados com a interpretação do receituário: é imprescindível que o farmacêutico reforce as indicações do médico, utilizando uma linguagem clara, a fim de evitar equívocos. FIGURA 15 – FARMACÊUTICA INSTRUINDO O PACIENTE FONTE: <http://blogibras.com.br/?p=1113>. Acesso em: 16 jul. 2020. 6 O LUGAR DO FARMACÊUTICO É NA FARMÁCIA? Embora isso possa parecer bastante óbvio, não é bem assim. Como já relatado anteriormente, a prática de assinar por um estabelecimento sem estar realmente presente era muito comum, devido à história e à falta de empoderamento do farmacêutico sobre o medicamento ser seu instrumento de trabalho, em todos os aspectos, além da falta de fiscalização sanitária e profissional (IVAMA, 1999). A legislação sanitária e profissional ainda vigente está focada na segurança e na qualidade dos medicamentos e demais produtos para a saúde. Quanto aos estabelecimentos farmacêuticos, predomina seu caráter comercial, sendo, na maioria das vezes, desprovidos de interesse sanitário (STORPIRTS et al., 2008). http://blogibras.com.br/?p=1113 34 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA A década de 1980 caracterizou-se pela saturação do setor das análises clíni- cas, aliado à crise de um modelo médico-hospitalocêntrico e à emergência de um novo modelo de atenção, reforçando a necessidade de ampliação do horizonte de atuação do farmacêutico. Com o processo de industrialização, o profissional, que havia se afastado da farmácia, procura retomar as atividades com sua presença físi- ca na farmácia, recuperando do seu papel social (STORPIRTS et al., 2008). Percebe-se que era necessário retomar não só suas responsabilidades e funções, mas sua relação com os demais profissionais de saúde e a própria sociedade. Essa (re)aproximação do farmacêutico foi marcada por sua atuação “no controle”, na logística e na disponibilização do medicamento (STORPIRTS et al., 2008). 35 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Os boticários eram considerados os artesãos dos medicamentos, cuidando tanto das matérias-primas como do seu preparo. • Os boticários eram os responsáveis pelas boticas. • No Brasil, o primeiro boticário foi Diogo de Castro, que veio de Portugal. • Com a criação da indústria farmacêutica no país, surgiram os cursos de Farmácia. • O currículo do curso de Farmácia passou por várias transformações, até chegar ao modelo atual. O currículo atual é amplo e abrange todas as áreas de atuações. • A rapidez das transformações sociais, políticas e econômicas refletiram na mudança da profissão farmacêutica, exigindo ainda mais conhecimento, comportamento e atitudes do profissional da área. • As atividades farmacêuticas no Brasil, ao longo do tempo, estiveram limitadas a atividades extremamente técnicas; depois, esse conceito foi mudado, sendo o farmacêutico considerado um profissional essencial da saúde. • O farmacêutico é o profissional do medicamento, atuando em sua produção, compra ou orientação de uso para a população e os profissionais de saúde. • O farmacêutico pode atuar em todas as áreas pertinentes a sua formação – anteriormente, voltada apenas para a farmácia comercial, mas que mudou muito nos dias de hoje. 36 1 Sua vinda se deu pela observação da coroa portuguesa, devido à necessidade de um responsável no Brasil para levar as drogas e os medicamentos para a comunidade. Quem foi o primeiro boticário no Brasil? a) b) c) d) ( ) Diogo de Castro. ( ) Thomé de Souza. ( ) Papa Pelágio II. ( ) Os pajés. 2 As boticas consistiam em casas comerciais ou lojas, onde o público se abastecia de remédios. Eram dirigidas por profissionais com conhecimentos empíricos e facilidade de aprovação, muitas vezes de nível intelectual baixo. Também recebiam o nome de botica os compartimentos existentes em hospitais, nos quais eram realizados o preparo e a administração de medicamentos. Em que ano as boticas foram autorizadas como comércio no Brasil? a) b) c) d) ( ) 1689. ( ) 1645. ( ) 1640. ( ) 1875. 3 Os portugueses encontraram, no Brasil, uma comunidade representada por nativos que já usavam raízes, folhas e sementes para resolver os problemas de saúde. Quais eram os representantes da comunidade responsáveis pelo preparo de remédios que os portugueses encontraram no Brasil? a) b) c) d) ( ) Boticários. ( ) Pajés e curandeiros. ( ) Xamãs. ( ) Padres. 4 Considere a afirmação a seguir: “O profissional que manipulava e produzia os medicamentos, de acordo com as prescrições médicas. Com a evolução e os cursos de Farmácia no país, a profissão foi extinguida e os farmacêuticos assumiram o seu papel”. Assinale quem eram os responsáveis pelas boticas: a) b) c) d) ( ) Boticários. ( ) Pajés e curandeiros. ( ) Xamãs. ( ) Padres. AUTOATIVIDADE 37 5 O ensino farmacêutico foi institucionalizado oficialmente no período do Império, quando foram diplomados os seis primeiros farmacêuticos do país pelo Curso de Farmácia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Em que ano foram diplomados os primeiros formados pelo curso de Farmácia? a) b) c) d) ( ) 1830. ( ) 1836. ( ) 1837. ( ) 1840. 38 39 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 CRIAÇÃO DE CONSELHOS, LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS E FISCALIZAÇÕES SANITÁRIAS 1 INTRODUÇÃO Você sabe o que é um conselho profissional? Além dos conselhos, existem legislações específicas que regulamentam o exercício da profissão e a fiscalização das atividades farmacêuticas. É importante conhecer todas as normas, para desenvolver um trabalho correto na profissão, sempre respaldado pelas leis. A criação do Conselho Federal de Farmácia (CFF) ocorreu após a 2ª Semana de Farmácia em São Paulo, em 1936. Em 1957 foi encaminhado um projeto ao governo e, com apoio de líderes do governo, por meio da Lei nº 3.820, de 11 de novembro de 1960 (BRASIL, 1960), foram criados o CFF e os Conselhos Regionais de Farmácia (CRF), os quais devem zelar pelos princípios da ética e da disciplina da classe que exerce qualquer atividade farmacêutica (CFF, c2008). O Conselho Federal e os Regionais têm como missão a valorização do profissional farmacêutico, visando à defesa da sociedade e como objetivo promover a assistência farmacêutica em benefício da sociedade e em consonância com os direitos do cidadão (CFF, c2008). 2 CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA Algumas das atribuições do CFF (Figura 16) são: • Expedir resoluções, definindo ou modificando atribuições e competências dos profissionais farmacêuticos. • Propor as modificações que forem necessárias à regulamentação do exercício profissional. • Ampliar o limite de competência do exercício profissional. • Colaborar com a disciplina das matérias de ciência e técnica farmacêutica ou outras matérias que, de qualquer forma, digam respeito à atividade profissional. • Organizar o Código de Ética Farmacêutica. • Deliberar sobre questões oriundas do exercício e das atividades afins às do farmacêutico. • Zelar pela saúde pública, promovendo a assistência farmacêutica (CFF, c2008). 40 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA FIGURA 16 – LOGOMARCA DO CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA FONTE: <https://www.cff.org.br/img/logo.png>. Acesso em: 17 jul. 2020. 3 CONSELHOS REGIONAIS DE FARMÁCIA Os CRF estão localizados em cada Estado e possuem sedes espalhadas em algumas cidades, tendo como função fiscalizar o exercício da profissão, registrar os farmacêuticos e habilitá-los ao exercício farmacêutico (CFF, c2008). Entre suas atribuições, estão: • Defender o âmbito profissional e esclarecer dúvidas relativas à competência do profissional farmacêutico. • Garantir, em suas respectivas áreas de jurisdição, que a atividade farmacêutica seja exercida por profissionais legalmente habilitados. •Habilitar o farmacêutico, por meio de inscrição, para o exercício legal da profissão. • Manter registro sobre o local de atuação do farmacêutico no mercado de trabalho (CFF, c2008). No site, a seguir, você encontra a história do CFF: http://www.cff.org. br/50anos/?pg=cronologia01. Leia, na íntegra, a Lei sobre a criação do CFF e os CRF, acessando o link: https://www. cff.org.br/userfiles/file/educacao_farmaceutica/Comissao_Ensino/Outras%20Legislacoes/ Lein3820_1960.pdf. DICAS https://www.cff.org.br/img/logo.png http://www.cff.org.br/50anos/?pg=cronologia01 http://www.cff.org.br/50anos/?pg=cronologia01 https://www.cff.org.br/userfiles/file/educacao_farmaceutica/Comissao_Ensino/Outras Legislacoes/Lein3820_1960.pdf https://www.cff.org.br/userfiles/file/educacao_farmaceutica/Comissao_Ensino/Outras Legislacoes/Lein3820_1960.pdf https://www.cff.org.br/userfiles/file/educacao_farmaceutica/Comissao_Ensino/Outras Legislacoes/Lein3820_1960.pdf TÓPICO 3 — CRIAÇÃO DE CONSELHOS, LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS E FISCALIZAÇÕES SANITÁRIAS 41 4 DECRETOS QUE REGULAMENTAM O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO FARMACÊUTICA Como em todas as profissões, leis e decretos devem regulamentar o exercício da profissão, a fim de habilitar o farmacêutico a atuar em diversas áreas do mercado de trabalho. 4.1 DECRETO Nº 20.377 O Decreto nº 20.377, de 8 de setembro de 1931, aprovou o regulamento do exercício profissional farmacêutico no Brasil. Com isso, surgiu o primeiro regulamento específico da profissão, listando todas as áreas em que o farmacêutico pode atuar, como: • Manipulação e comércio dos medicamentos ou remédios magistrais. • Comércio direto com o consumidor de todos os medicamentos oficiais, especialidades farmacêuticas, produtos químicos, galênicos, biológicos etc. e plantas de aplicações terapêuticas. • Fabricação dos produtos biológicos e químicos oficiais; análises para clínicas médicas; função de químico bromatologista, biologista e legista. 4.2 DECRETO Nº 85.878 O Decreto nº 85.878, de 7 de abril de 1981, estabeleceu normas sobre o exercício da profissão de farmacêutico, entre outras providências. A partir dele, aumentaram-se as atribuições privativas do farmacêutico, sendo algumas delas: • Desempenhar a função de dispensação ou manipulação de fórmulas magistrais e farmacopeicas, quando a serviço do público em geral ou mesmo de natureza privativa. • Assessoramento e responsabilidade técnica em estabelecimentos industriais farmacêuticos, estabelecimentos farmacêuticos de controle e/ou inspeção de qualidade de produtos diagnósticos para determinar dependência química e física. • Estabelecimentos farmacêuticos que pratiquem extração, purificação, controle de qualidade, inspeção de qualidade, análise prévia de insumos farmacêuticos de origem animal, vegetal e mineral, e depósitos de produtos farmacêuticos de qualquer natureza. • Fiscalização profissional sanitária de empresas, estabelecimentos e setores pertinentes. • Elaboração de laudos técnicos e perícias técnicas sobre atividades pertinentes às áreas farmacêuticas. 42 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA Para ler os decretos, na íntegra, e saber todas as atribuições do farmacêutico, acesse: https://www.cff.org.br/userfiles/file/C%c3%b3digo%20de%20Etica%2003fev2014.pdf. NOTA 5 A VIGILÂNCIA SANITÁRIA No Brasil, as atividades ligadas à Vigilância Sanitária foram estruturadas entre os séculos XVIII e XIX, para evitar a propagação de doenças. Por meio da polícia sanitária, respondia diretamente ao Estado e sua finalidade era observar o exercício de certas atividades profissionais, fiscalizar embarcações, cemitérios e áreas de comércio de alimento (STORPIRTS et al., 2008). No final do século XIX, houve uma reestruturação impulsionada pelas descobertas nos campos de bacteriologia e terapêutica nos períodos que incluem a Primeira e Segunda Grandes Guerras Mundiais. Após a Segunda Guerra, com o crescimento econômico, os movimentos de reorientação administrativa ampliaram as atribuições da vigilância sanitária, juntamente com o crescimento da base produtiva do Brasil e a participação intensa da administração pública (STORPIRTS et al., 2008). A partir da década de 1980, a crescente participação popular e de entidades representativas cobrou do Estado que a vigilância tivesse papel de guardiã dos direitos do consumidor e de provedora de condições de saúde para a população (STORPIRTS et al., 2008). No Decreto nº 79.056, de 30 de dezembro de 1976 (BRASIL, 1976), a Vigilância Sanitária era definida como um conjunto de medidas que visa a elaborar, controlar a aplicação e fiscalizar o cumprimento de normas e padrões de interesse sanitário relativo a portos, aeroportos e fronteiras, medicamentos, cosméticos, alimentos, saneantes e bens, respeitada a legislação pertinente, bem como o exercício profissional relacionado com a saúde (BRASIL, 1976). Entretanto, a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, chamada Lei Orgânica da Saúde, define a Vigilância Sanitária como “um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse em saúde” (BRASIL, 1990). A evolução de uma definição a outra ocorreu devido à Constituição Federal de 1988, que garante a saúde como um direito de todos e dever do Estado (BRASIL, 1988). https://www.cff.org.br/userfiles/file/C%c3%b3digo de Etica 03fev2014.pdf TÓPICO 3 — CRIAÇÃO DE CONSELHOS, LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS E FISCALIZAÇÕES SANITÁRIAS 43 Analisando o histórico dos medicamentos sob a visão da Vigilância Sanitária, observou-se que, desde a antiguidade, o homem busca preservar a saúde, sendo a utilização de medicamentos o meio mais conhecido para isso (STORPIRTS et al., 2008). Um dos casos mais conhecidos, que demonstra o papel fundamental do tra- balho da Vigilância Sanitária, foi o do anticoncepcional Microvlar®. Entre os anos de 1997 e 1998, ocorreram cerca de 200 notificações de fraude, por ter sido distribuído no mer- cado um lote teste (conhecido como efeito placebo), sendo relatados muitos casos de gravidez em mulheres que usaram o medicamento. Acesse o link da reportagem, a seguir, e reflita sobre o impacto e a responsabilidade de todos, como futuros farmacêuticos, em quais etapas fazemos parte e quais as nossas responsabilidades como profissionais de saúde: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/183656/000540033.pdf?se- quence=1&isAllowed=y. UNI 44 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A criação do Conselho Federal de Farmácia (CFF) ocorreu por meio da Lei nº 3.820/1960. • O CFF tem como função zelar pelos princípios éticos da classe. • O CFF e os Conselhos Regionais de Farmácia (CRF) têm como missão valorizar o profissional visando à defesa da sociedade. • Os CRF têm como função fiscalizar o exercício da profissão. • Existem decretos específicos para a regulamentação do exercício profissional farmacêutico, sendo de suma importância que o profissional saiba e siga seus direitos e deveres para com a população. • As atividades da Vigilância Sanitária são importantes para garantir a fiscalização desde a produção do medicamento até os estabelecimentos de saúde que estão diretamente ligados ao consumidor, garantindo a segurança de toda a população. 45 1 O Conselho Federal de Farmácia é uma entidade fiscalizadora do exercício profissional e da ética farmacêutica no país. Em que ano foi criado o Conselho Federal de Farmácia? a) b) c) d) ( ) 1963. ( ) 1966. ( ) 1960. ( ) 1961. 2 A vigilância sanitária é responsável pelo conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e da circulação de bens, e da prestação de serviços de interesse em saúde. Em que ano o Mistério da Saúde definiu a Vigilância Sanitária? a) b) c) d) ( ) 1949. ( ) 1988. ( ) 1978.( ) 1989. 3 Existem várias atribuições que competem ao Conselho Federal de Farmácia. Qual das opções, a seguir, NÃO é atribuição do Conselho Federal de Farmácia? a) ( ) b) ( ) c) ( ) d) ( ) Expedir resoluções, definindo ou modificando atribuições competências dos profissionais farmacêuticos. Propor as modificações que forem necessárias à regulamentação do exercício profissional. Ampliar o limite de competência do exercício profissional. Habilitar o farmacêutico, por meio de inscrição, para o exercício legal da profissão. 4 Existem várias atribuições que competem ao Conselho Regional de Farmácia. Qual das opções, a seguir, NÃO é atribuição dos Conselhos Regionais de Farmácia? a) ( ) Defender o âmbito profissional e esclarecer dúvidas relativas à com- petência do profissional farmacêutico. b) ( ) Garantir, em suas respectivas áreas de jurisdição, que a atividade farmacêutica seja exercida por profissionais legalmente habilitados. AUTOATIVIDADE 46 c) ( ) Deliberar sobre questões oriundas do exercício e de atividades afins às do farmacêutico. d) ( ) Manter registro sobre o local de atuação do farmacêutico no merca- do de trabalho. 47 TÓPICO 4 — UNIDADE 1 LINHA DO TEMPO 1 INTRODUÇÃO Após a leitura e a compreensão da história da farmácia e de todos os fatos que fizeram a transformação e a valorização da profissão, percebe-se que se trata de um dos mais antigos ofícios da humanidade, caracterizado pela sua condição de ser inovador, portanto, a luta do profissional farmacêutico é refazer sua identidade e ocupar as lacunas criadas ao longo de sua atribulada caminhada profissional, vivida até os dias de hoje (CRUZ; SILVA, 2011). Na década de 1960, com o início da prática da farmácia clínica, surgiu a conscientização sobre seu papel perante a saúde pública, no sentido da atenção voltada ao paciente e com a preocupação de minimizar os riscos relacionados ao medicamento. O medicamento passa a ser visto como instrumento para se atingir um resultado, seja ele paliativo, curativo ou preventivo (SULPINO, 2007). Assim, o farmacêutico, que a princípio se preocupava apenas com o medicamento, começa a cuidar também da população, e essa evolução é resumida na linha do tempo resumida a seguir (CRF-SP, 2019). 2 LINHA DO TEMPO – HISTÓRIA DA FARMÁCIA A seguir, vamos apresentar uma linha do tempo com os principais acontecimentos da história da Farmácia e da profissão farmacêutica. 2.1 SÉCULO XVI A.C. O papiro de Ebers (1550 a.C.) é um documento egípcio que fez referência a mais de 7 mil substâncias medicinais incluídas em mais de 800 fórmulas. 48 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA FIGURA 17 – PAPIRO DE EBERS FONTE: <https://www.pinterest.es/pin/312226186639848284/>. Acesso em: 2 jun. 2020. 2.2 SÉCULO IV A.C. Hipócrates (460-370 a.C.) foi o médico grego considerado o “Pai da Medicina”, tendo sido responsável por uma das primeiras explicações racionais para a relação entre saúde e doença (teoria dos quatro humores corpóreos que equilibravam a saúde). FIGURA 18 – HIPÓCRATES FONTE: <https://www.grupoescolar.com/a/b/40418.jpg>. Acesso em: 19 out. 2020. https://www.pinterest.es/pin/312226186639848284/ TÓPICO 4 — LINHA DO TEMPO 49 2.3 SÉCULO I • Dioscórides (50-70 d.C.): considerado o fundador da farmacognosia, catalogou 600 plantas, indicando como escolhê-las e armazená-las. Descreveu como aplicar o salgueiro-branco (uma das primeiras fontes de ácido acetilsalicílico) para a dor. FIGURA 19 – DIOSCÓRIDES FONTE: <https://bit.ly/36HF3DK>. Acesso em: 30 jun. 2020. • Galeno (129-200): viveu em Roma, é considerado o “Pai da Farmácia” e o precursor da alopatia. Desenvolveu uma mistura de ervas que combatia as doenças por meio de substâncias ou compostos que se opunham diretamente aos sinais e sintomas. Atualmente, o termo Farmácia Galênica é utilizado como sinônimo de manipulação farmacêutica. FIGURA 20 – GALENO – O PAI DA FARMÁCIA FONTE: <https://bit.ly/39I2fDC>. Acesso em: 30 jun. 2020. 50 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 2.4 SÉCULOS XII A XIII • Em 1162, ocorreu a separação entre a profissão farmacêutica e a médica. O primeiro caso teria ocorrido em Arles, na França, por meio de imposição legal. • Em 1240, foi assinado, por Frederico II da Sicília e Nápole, em Salerno, Itália, o tratado mais famoso (Édito de Melfi) que proíbe a associação entre as profissões médica e farmacêutica. 2.5 SÉCULO XVI • Paracelso (1493-1541): previu a descoberta de substâncias ativas nas plantas e considerou a doença como um acontecimento externo, e não como um desequilíbrio de humores. FIGURA 21 – PARACELSO FONTE: <https://www.monomaniacos.com.br/historia/vida-obra-paracelso/>. Acesso em: 30 jun. 2020. • No Brasil, em 1549, com o primeiro Governador Geral do Brasil, Tomé de Souza, veio o primeiro boticário do país, Diogo de Castro. https://www.monomaniacos.com.br/historia/vida-obra-paracelso/ TÓPICO 4 — LINHA DO TEMPO 51 FIGURA 22 – DIOGO DE CASTRO FONTE: <https://bit.ly/3qC60AL>. Acesso em: 30 jun. 2020. 2.6 SÉCULO XIX • Em 1832, Dom Pedro II institucionalizou o ensino farmacêutico, por meio de lei assinada em 3 de outubro de 1832. • Em 1839, foi fundada a Escola de Farmácia de Ouro Preto (MG), primeiro estabelecimento de ensino farmacêutico do Brasil e da América do Sul. 2.7 SÉCULO XX O século XX foi marcado por diversos eventos importantes para a área farmacêutica, os quais destacamos nas décadas a seguir. 2.7.1 Década de 1930 • Com o advento da indústria farmacêutica, ocorreu o paulatino desapareci- mento das farmácias de manipulação. • Devido à falta de redirecionamento das atividades nas farmácias, o farmacêutico migrou para outras áreas. • Em 1931, foi publicado o Decreto nº 19.606, de 19 de janeiro de 1931, que dispõe sobre a profissão farmacêutica e seu exercício no Brasil. 52 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 2.7.2 Década de 1950 • Descoberta de novos medicamentos que revolucionaram o tratamento de doenças graves/fatais: antibióticos, vacina oral contra a poliomielite, medicamentos para doenças cardíacas, antipsicóticos e medicamentos contra a tuberculose. • Desastre da talidomida: o aparecimento de milhares de casos de malformação congênita fez ampliar a atenção à segurança dos medicamentos, marcando o início da Farmacovigilância. 2.7.3 Década de 1960 • Marcada pelo desenvolvimento da primeira pílula anticoncepcional e pelo início do tratamento medicamentoso em hipertensão arterial. • Em 1960, foram criados o CFF e os CRF. • Em 1969, 98% dos medicamentos prescritos pela classe médica eram produzidos no país, basicamente por empresas multinacionais. 2.7.4 Década de 1970 Em 1970, houve a publicação do Anteprojeto de Lei nº 2.304, que previa que toda farmácia ou drogaria deveria funcionar sob a responsabilidade técnica de um farmacêutico inscrito no Conselho Regional do seu Estado, com jornada de trabalho não inferior a 4 horas por dia. 2.7.5 Década de 1980 • Foram anos marcados por um elevado índice de produção de medicamentos essenciais, não só pelos laboratórios governamentais, mas também pelas empresas privadas. • Em 1982, surgiu o conhecimento do vírus da imunodeficiência humana (HIV) por contato sexual, uso de drogas injetáveis ou exposição a sangue e derivados. Veja mais sobre a história da talidomida e a regulação dos medicamentos a partir dessa tragédia acessando o link: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-59702017000300603&lng=pt&tlng=pt. NOTA https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702017000300603&lng=pt&tlng=pt https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702017000300603&lng=pt&tlng=pt TÓPICO 4 — LINHA DO TEMPO 53 • Em 1988, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS), devido à promulgação da Constituição. O Estado tornou-se responsável por promover e garantir a saúde para todos, assegurando a universalidade, integridade e equidade no atendimento aos cidadãos. FIGURA 23 – VÍRUS DO HIVFONTE: <https://saude.abril.com.br/medicina/cientistas-descobrem-um-novo-subtipo-de-hiv/>. Acesso em: 30 jun. 2020. 2.7.6 Década de 1990 • Em 1990, teve início o Projeto Genoma Humano, com o objetivo de decodificar e identificar o material genético humano. • Em 1997, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou o documento O papel do farmacêutico no sistema de atenção à saúde, que reafirmou a missão do farmacêutico como agente de saúde, enquanto profissional capaz de oferecer produtos e serviços que contribuem para a melhora da saúde da sociedade. • Em 1998, foi publicada a Portaria nº 344, que aprovou o regulamento técnico das substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. 2.7.7 SÉCULO XXI • Em 2001, foi publicada a Política Nacional de Medicamentos. • Em 2013, foi publicada a Resolução nº 585 do CFF, que regulamentou as atribuições clínicas do farmacêutico, constituindo os direitos e a responsabilidade do profissional no que concerne a sua área de atuação. • Em 2013, foi publicada a Resolução nº 586 do CFF, que regulou a prescrição farmacêutica. • Em 2014, foi publicada a Lei nº 13.021 sobre o exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas. Ela também definiu a farmácia como uma unidade de prestação de serviços destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual ou coletiva. https://saude.abril.com.br/medicina/cientistas-descobrem-um-novo-subtipo-de-hiv/ 54 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA • Em 2015, foi publicada a Resolução nº 616 do CFF, que define os requisitos técnicos para o exercício do farmacêutico no âmbito da saúde estética. • Em 2018, foi publicada a Resolução nº 654 do CFF, que dispõe sobre os requisitos necessários à prestação de serviço de vacinação pelo farmacêutico. O autor Monteiro Lobato, que aderiu à campanha sanitarista do início do século XX, escreveu diversos artigos para o jornal “O Estado de São Paulo” sobre as dificuldades e precariedades da saúde pública à época. Como curiosidade, destacamos um trecho de seu poema denominado “O Papel do Farmacêutico”: O papel do Farmacêutico no mundo é tão nobre quão vital. O Farmacêutico representa o órgão de ligação entre a medicina e a humanidade sofredora. É o atento guardião do arsenal de armas com que o Médico dá combate às doenças. É quem atende às requisições a qualquer hora do dia ou da noite. O lema do Farmacêutico é o mesmo do soldado: servir. Um serve à pátria; outro à humanidade, sem nenhuma discriminação de cor ou raça (Monteiro Lobato). 55 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • Pessoas importantes influenciaram diretamente na história da farmácia, como Hipócrates, Dioscórides, Galeno e Paracelsus. • Em 1162, houve a separação da farmácia e da medicina. • Em 1839, foi fundada a Escola de Farmácia de Ouro Preto. • A descoberta de novos medicamentos ocorreu na década de 1950, assim como o desastre da Talidomida. • Na década de 1960, surgiram as pílulas anticoncepcionais. • A partir do século XXI, várias publicações foram realizadas para a regulamentação das atribuições do farmacêutico. 56 1 A fiscalização tem por objetivo garantir o direito do cidadão previsto em lei. Qual é a lei que dispõe sobre o exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas? a) b) c) d) ( ) Lei nº 13.021. ( ) Lei nº 344. ( ) Lei nº 585. ( ) Lei nº 616. 2 As atribuições clínicas do farmacêutico visam a proporcionar cuidado ao paciente, à família e à comunidade, de forma a proporcionar o uso racional de medicamentos e otimizar a farmacoterapia, com o propósito de alcançar resultados que melhorem a qualidade de vida do paciente. Qual é a resolução que regulamenta as atribuições clínicas do farmacêutico? a) b) c) d) ( ) Resolução nº 586. ( ) Resolução nº 585. ( ) Resolução nº 616. ( ) Resolução nº 654. 3 Prescrição farmacêutica é direito adquirido e responsabilidade do farmacêutico, estando diretamente envolvida com a prática de atenção farmacêutica, atividade executada em âmbito nacional, regional ou municipal por vários profissionais, quando aptos e capacitados. Qual é a resolução que regulamenta a prescrição farmacêutica? a) b) c) d) ( ) Resolução nº 654. ( ) Resolução nº 585. ( ) Resolução nº 586. ( ) Resolução nº 616. AUTOATIVIDADE 57 TÓPICO 5 — UNIDADE 1 FONTES DE INFORMAÇÃO EM FARMÁCIA 1 INTRODUÇÃO Existem três fontes de informações: a literatura científica original ou literatura primária, que compreende o maior volume da literatura; a literatura secundária, que dá acesso à literatura primária; e a literatura terciária, que resume as melhores práticas com base na literatura primária. Profissionais farmacêuticos e estudantes das ciências farmacêuticas usam a literatura para fornecer medicamentos com base em evidências ou para integrar as melhores evidências científicas aos seus resultados práticos ou estudos (ALLEN JR., 2016). Para fazer uma pesquisa mais simples, é necessária, primeiramente, a obten- ção de informações gerais de literatura terciária, como livros e enciclopédias, tanto on-line como impressos. Uma vez que já se está familiarizado com os termos espe- cíficos da área pesquisada, pode-se fazer uma pesquisa em bancos de dados como PubMed/Medline, para encontrar artigos de revisão relevantes (fontes secundárias) e trabalhos científicos originais (fontes primárias). Uma expressão de busca deve incluir sinônimos dos termos de pesquisa, incluindo profissionais ou científicos. Os termos devem ser combinados usando o operador lógico “ou”. A pesquisa pode ser aperfeiçoada adicionando-se um termo e usando o operador “e”. Por exemplo, se se estiver pesquisando por literatura primária sobre possíveis melhoras futuras nas vacinas para o papilomavírus humano (HPV), pode-se tentar procurar por: “(futu- ro ou avanço ou geração) e (vacinas HPV ou vacina papilomavírus)”, pois unir os termos paralelos usando parênteses resultará nos artigos mais relevantes. Colocar limite de datas e idioma pode facilitar a pesquisa (ALLEN JR., 2016). 2 LITERATURA PRIMÁRIA Os primeiros artigos formais sobre descobertas científicas ou clínicas são encontrados em revistas científicas, que podem ser diferenciadas de revistas co- Você sabe onde pesquisar uma informação? Você consegue identificar quando a informação é verdadeira? ATENCAO 58 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA merciais pela falta de anúncios publicitários, também podendo ser encontradas al- gumas literaturas primárias nessas revistas (ALLEN JR., 2016). As literaturas primárias podem ser acompanhadas em publicações relacio- nadas à área de interesse. Explorar os títulos de artigos científicos, revisar os resu- mos de artigos-chave e ler aqueles intimamente relacionados a uma área de pesqui- sa em particular correspondem à abordagem tradicional para se manter atualizado sobre as tendências gerais, assim como sobre o progresso de uma área específica (ALLEN JR., 2016). Na procura por fontes primárias, patentes e dissertações podem ser usadas. O objetivo de uma patente é proteger a propriedade intelectual, e não divulgar os resultados da investigação. As dissertações não passam por um rigoroso processo de revisão em uma revista, mas podem ser úteis para encontrar detalhes de estudos que são muito extensos para serem incluídos em um artigo científico (ALLEN JR., 2016). 3 LITERATURA SECUNDÁRIA A literatura secundária é criada por especialistas no assunto de interesse. Essas fontes são organizadas com o objetivo de descrever ou avaliar a literatura primária original e fornecer acesso útil a essa literatura. A literatura secundária consiste em artigos de revisão, incluindo revisão sistemática e meta-análise, além de bancos de dados como o PubMed (ALLEN JR., 2016). Você sabe o que é um banco de dados? Os bancos de dados bibliográficos fornecem acesso a artigos científicos originais, ou literatura primária, abrangendo uma ampla gama de especialidades, profundidade e abrangência da literatura.É importante o conhecimento de por onde começar a pesquisar – isso inclui fontes de informações com profissionais específicos da área ou uma pesquisa no Google Acadêmico. 4 LITERATURA TERCIÁRIA A literatura terciária fornece uma introdução à literatura científica em relação à prática farmacêutica e às ciências farmacêuticas. Geralmente escrita por especialistas ou pesquisadores dentro da área do tema, sempre apresentam um tema específico, sobre o qual os autores desenvolvem sua vida acadêmica e, em geral, viram especialistas, sendo referência na área (ALLEN JR., 2016). Essas fontes são particularmente úteis aos profissionais farmacêuticos e estudantes, e compreendem livros-textos, monografias, enciclopédias e outras referências (ALLEN JR., 2016). TÓPICO 5 — FONTES DE INFORMAÇÃO EM FARMÁCIA 59 As vantagens da literatura terciária incluem facilidade de acesso e padrão bem controlado de boas práticas (ALLEN JR., 2016). 5 A RESPONSABILIDADE DE FONTES SEGURAS DE INFORMAÇÕES NA ÁREA DA FARMÁCIA Acessar, revisar, analisar, avaliar e interpretar a literatura clínica sobre os medicamentos são importantes responsabilidades dos profissionais da área da saú- de. Por décadas, os farmacêuticos têm usado o fornecimento de informações sobre medicamentos, focando, inicialmente, na informação sobre a composição e a dis- pensação de produtos medicamentosos. Entretanto, a necessidade de obter infor- mação sobre medicamentos expandiu-se em conjunto com as responsabilidades do farmacêutico (ALLEN JR., 2016). Os tipos de informações necessários sobre os medicamentos para os far- macêuticos e outros profissionais de saúde são variados e não são limitadas ape- nas a efeitos adversos/colaterais, interações medicamentosas, utilização, teratoge- nicidade, estabilidade, compatibilidade, identificação, disponibilidade, dosagem, administração, toxicidade, farmacocinética, farmacodinâmica, farmacogenômica, qualidade de vida relacionada à saúde, farmacoeconomia, eficácia (incluindo efi- cácia comparando medicamentos da mesma classe farmacológica ou química, bem como medicamentos de diferentes classes). Profissionais da saúde devem estar bem informados sobre a variedade de fontes de informação disponíveis, mas também como, por que e quando usá-las, e, mais importante, deve ser capaz analisar, ava- liar, interpretar criticamente e aplicar a informação pertinente (ALLEN JR., 2016). Os farmacêuticos têm diversas responsabilidades que necessitam de uso da informação, incluindo respostas a uma variedade de questionamentos realizados por pacientes e profissionais da saúde sobre medicação, monitoramento de even- tos adversos ao medicamento (EAM), solução de problemas relacionados à terapia medicamentosa, tomada de decisões sobre o uso de medicamentos, promoção de atividades educacionais e engajamento na pesquisa clínica. Para acompanhar es- sas responsabilidades, os farmacêuticos devem ser capazes de localizar informação completa e atualizada para se basear na assistência ao paciente e em outras impor- tantes decisões (ALLEN JR., 2016). A seguir, descubra como as informações e as propagandas de medicamentos se propagavam antigamente. Selecione uma das propagandas e faça uma pesquisa sobre o medicamento e se ele ainda existe atualmente. Acesse o link: http://memoria.bn.br/ pdf/029548/per029548_1970_00457.pdf. INTERESSA NTE http://memoria.bn.br/pdf/029548/per029548_1970_00457.pdf http://memoria.bn.br/pdf/029548/per029548_1970_00457.pdf 60 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA LEITURA COMPLEMENTAR DAS BOTICAS AOS CUIDADOS FARMACÊUTICOS: PERSPECTIVA DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO Mariana Linhares Pereira Mariana Martins Gonzaga do Nascimento Introdução Os primórdios da profissão farmacêutica não são conhecidos. Pode-se ape- nas especular sobre os primeiros indivíduos interessados em produzir e dispensar medicamentos. Por outro lado, sabe-se que, desde o início da história do homem, as doenças já existiam e, com elas, surgiu a procura pela cura. Materiais e Métodos Trata-se de uma revisão histórica não sistemática da literatura sobre a pro- fissão farmacêutica realizada em bases de dados como livros, monografias, teses e documentos sobre o histórico da evolução da profissão. Palavras-chave de busca: “profissão farmacêutica”, “evolução da farmácia” e “cursos de farmácia no Brasil”. Resultados e Discussão Historiadores indicam que a medicina moderna se originou na Grécia, sen- do que o nome boticário, ou apotecário, deriva-se do grego apothéke, denomina- ção conferida a uma pequena caixa em que eram guardados os remédios que os médicos gregos antigos traziam sempre consigo quando visitavam seus doentes (GOMES-JÚNIOR, 1988). No entanto, já no Egito, a divindade Anepu, o boticário dos deuses, tinha muita importância, sendo o guardião da casa de medicamentos e do quarto de bálsamos, além de preparador das prescrições dos deuses. As pres- crições, na antiguidade, eram poucas e simples e eram os médicos que preparavam e dispensavam os seus próprios compostos, preparações cercadas de muito mis- tério e feitas de acordo com ritos supersticiosos (BURLAGE et al., 1944; RISING, 1959). Ainda na antiguidade, depois da divisão do império de Alexandre, o Gran- de, surgiu a chamada escola de Alexandria e, nessa cidade, formou-se um centro intelectual onde floresceu a escola dogmática e, sucessivamente, a escola empírica, no século III a.C. Essa última tinha, por fundamento, o estudo experimental dos medicamentos. Nessa época, surgiu, pela primeira vez, a divisão entre médicos, cirurgiões, raizeiros e farmacópolos, que eram aqueles que preparavam remédios compostos. A partir de então, as fórmulas mais complexas começaram a ser apreciadas, che- gando a conter 54 ingredientes. Elas serviram de ponto de partida para a polifarmá- cia (BURLAGE et al., 1944; RISING, 1959; GOMES-JÚNIOR, 1988). TÓPICO 5 — FONTES DE INFORMAÇÃO EM FARMÁCIA 61 Até o século XI, ensinava-se farmácia como parte do estudo da medicina. A primeira referência que se tem separando a farmácia da medicina data de 1240, quando foi escrita a magna carta da profissão farmacêutica, por Frederico II, impe- rador romano, criando a farmácia como uma profissão independente. O argumento era “o fato de a prática da farmácia requerer conhecimento, habilidades, iniciativas e responsabilidades especiais, com o objetivo de garantir um cuidado adequado às necessidades medicamentosas das pessoas”. Depois de Roma, essa regulamen- tação ocorreu em vários outros locais. Em virtude dessa separação, criaram-se três classes profissionais distintas: médicos, cirurgiões e boticários (BURLAGE et al., 1944; RISING, 1959; GOMES-JÚNIOR, 1988). Com a descoberta da América, a farmácia dos séculos XVI e XVII tomou grande impulso, e drogas novas, como a quina, a ipecacuanha, o café e o cacau, foram introduzidas na terapêutica. No Brasil, nos tempos coloniais, os boticários, que eram na verdade “curandeiros ambulantes”, percorriam as populações mon- tados em burros mascateando remédios e drogas para doenças humanas e animais (GOMES-JÚNIOR, 1988). Os jesuítas também instituíram enfermarias e boticas para prestar assistência em seus colégios, colocando um “irmão” para cuidar dos doentes e outro para preparar remédios. Em São Paulo, o irmão que preparava os remédios era José de Anchieta, por isso podemos considerá-lo o primeiro boticário de Piratininga (GOMES-JÚNIOR, 1988). No Brasil, as boticas só foram autorizadas como comércio em 1640 e, a partir disso, elas se multiplicaram de norte a sul, devido à facilidade de abertura, muitos o faziam, principalmente, pela expectativa de bons lucros com o negócio. Consistiam em casas comerciais ou lojas onde o público se abastecia de remédios. Eram dirigidas por boticários, que nada mais eram que profissionais empíricos, às vezes analfabetos, possuindo apenas conhecimento de medicamentos corriqueiros e possuindo uma carta de aprovação do físico mor de Coimbra. Botica também era a denominação do compartimentoexistente nos hospitais, civis e militares, desti- nado ao preparo e à administração de medicamentos aos doentes internados (GO- MES-JÚNIOR, 1988; FILHO; BATISTA, 2011). O ensino de farmácia brasileiro só se iniciou em 1824, como uma cadeira da escola de medicina. Depois, em 1839, em Minas Gerais, foram criadas duas escolas de farmácia, uma em Ouro Preto (então capital da província de Minas Gerais) e outra em São João del Rey (que havia sido elevada de vila para cidade no ano anterior). Entretanto, apesar das diversas instituições de ensino de farmácia distribuí- das pelo país, no século XIX, a passagem do comércio de botica para farmácia, com um farmacêutico formado em sua direção, não foi nada fácil. Os farmacêuticos e boticários tinham pouca diferença para a maioria da população e para os legisladores, e o farmacêutico só tomou seu espaço exclusivo na produção de medicamentos definitivamente depois de 1886, após diversas bata- lhas. Já no início do século XX, o farmacêutico tornou-se o profissional de referência para a sociedade nos aspectos do medicamento, dominando não só a prestação de um serviço que visava à “correta utilização do medicamento”, mas também à produção e à comercialização do arsenal terapêutico disponível na época (VALLA- 62 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA DÃO et al., 1986). A farmácia também passou a ser um centro de irradiação cultural de destacada importância, congregando não somente indivíduos que buscavam re- médios, mas também os demais que procuravam novidades e notícias do mundo, quando eram escassos os meios de comunicação dos acontecimentos político-so- ciais (GOMES-JÚNIOR, 1988). No entanto, a partir da segunda metade da década de 1930, com a expan- são da indústria farmacêutica, os preparados magistrais foram quase inteiramente substituídos pelas especialidades, ou seja, medicamentos preparados industrial- mente com antecedência e apresentados sob uma embalagem particular. Em con- sequência, o papel de “fazer” o medicamento, pelo qual o farmacêutico era tradi- cionalmente conhecido, desapareceu quase que por completo. O modelo de prática predominante na farmácia comunitária passou a ser de orientação e dispensação farmacêutica (DUPUY; KARSENTY, 1974; REIS, 2003; FILHO; BATISTA, 2011). Esse processo transformou as ações que aproximavam o farmacêutico do médico e de seus clientes em atos vazios de um sentido transcendente às relações comerciais. De farmacêutico a responsável técnico, de liberal a assalariado, eis a traje- tória do profissional no âmbito da farmácia propriamente dita, marcada por uma redução na dimensão técnica e social do seu trabalho e por uma ampliação da di- mensão burocrática e comercial. Essa burocratização da profissão é relatada por formandos entrevistados no estudo de Valladão (1981): “hoje em dia, eu só assino documentos”. Diante dessa situação, pode-se atestar: “a farmácia é uma combi- nação exclusiva de profissão e negócios” (DENO et al., 1959). O apelo comercial também é explícito nas publicações que circulavam no meio farmacêutico da época, como o Manual del farmacêutico (publicado em inglês e espanhol), que trazia vá- rios artigos sobre como estimular as vendas (FONTOURA, 1936). O meio acadêmico também refletia essa etapa de transição na profissão farmacêutica, que se diversificava em busca de outros mercados profissionais. Dessa forma, reestruturações curriculares não tinham foco em uma determinada temática integradora, mas, sim, na incorporação desconexa de uma grande diversidade de conteúdos e disciplinas (VALLADÃO, 1981). Nesse processo, o farmacêutico “adjetivou-se” e seu título passou a vir acompanhado de identificadores das atribuições conquistadas: farmacêutico-bioquímico, farmacêutico analista clínico, farmacêutico-industrial, farmacêutico de alimentos (PERINI, 1997). No Brasil, especificamente, o farmacêutico enveredou-se, sobretudo, pelos caminhos da bioquímica. Estudos realizados na década de 1970 mostravam que, em média, 70% dos profissionais atuavam nessa área, sendo que a maioria deles atuava simultaneamente em farmácias de dispensação, considerando essa uma atividade secundária (VALLADÃO, 1981; PERINI, 1997). Hoje, o farmacêutico se ressente da falta de preparo nas faculdades para o exercício na farmácia comunitária e seu afastamento dessa área de atividade, que lhe deveria ser exclusiva. Ele se envolve com questões administrativas e perde sua fixação no serviço comunitário, deixando de participar dos problemas sanitários e in (GOMES-JÚNIOR, 1988; PERINI, 1997). TÓPICO 5 — FONTES DE INFORMAÇÃO EM FARMÁCIA 63 A profissão de farmacêutico se aproximou de modo sensível [...] da profissão de comerciante. Instalemo-nos em uma grande farmácia da zona urbana e veremos [...] os clientes desfilarem quase sem interrupção. A maior parte apresentou uma receita para a pessoa de bata branca que está atrás do balcão, a qual se limita a ir buscar os produtos prescritos no armário, repete a posologia indicada pelo médico, embrulha as embalagens em um saco de papel e as faturas. Poucas palavras são trocadas. Às vezes, alguém [...] se apresenta sem receita. Mesmo nestes casos, a troca de palavras revela-se quase sempre sumária [...]. Na maior parte do tempo, o papel do farmacêutico é, pois, o de um simples distribuidor (DUPUY; KARSENTY, 1974). Diante disso, “[...] o farmacêutico é, em geral, uma pessoa que se aborrece na sua profissão. [...] o exercício cotidiano da profissão raramente lhe proporciona esse tipo de satisfação, e ele sente profundamente o fato de que os seus cinco anos de formação são muito mal rentabilizados” (DUPUY; KARSENTY, 1974). Paralelamente à falta de preparo dos profissionais para o exercício das ati- vidades na farmácia comunitária e seu distanciamento dos problemas sanitários e sociais, a partir da década de 1970 e 1980, com o crescente aumento da expectativa de vida ao nascer e o consequente envelhecimento da população, cresce também a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, as quais demandam uma uti- lização mais prolongada de um número maior de medicamentos para seu trata- mento. O consumo de medicamentos também é impulsionado pela persistência e recrudescimento de doenças infectoparasitárias já conhecidas e surgimento outras, o aumento do número de medicamentos disponíveis no mercado e propagandas, que representam um fator essencial ao uso irracional e desnecessário de medica- mentos, além de estímulo à automedicação (DUPUY; KARSENTY, 1974; BARROS, 1995; PERETTA; CICCIA, 2000; DÁDER, 2001; BRASIL, 2002; NASCIMENTO, 2003; PERINI, 2003). Os medicamentos constituem, hoje, a principal arma terapêutica usada, e o objetivo da sua utilização é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, curando, retardando o progresso ou tratando sintomas das doenças (DÁDER, 2001). No entanto, medicamentos também podem falhar, causando problemas de efetividade (não atingem objetivos terapêuticos) e/ou segurança (reações adversas a medicamentos ou toxicidade) (FUNCHAL-WITZEL et al., 2011). Assim, a utili- zação maciça, e, muitas vezes, inadequada desses medicamentos, faz com que o risco das ocorrências dos problemas farmacoterapêuticos (PFT) aumente. Estudos mostram que 50% dos pacientes que entram na farmácia comunitária, em qualquer lugar do mundo, possuem pelo menos um PFT que precisa ser identificado e resol- vido (SIMPSON, 1997; PERETTA; CICCIA, 2000). Entretanto, é importante salien- tar que os problemas não são inerentes aos medicamentos, mas à maneira como são prescritos, dispensados e usados pelos pacientes. Esse mau uso e suas consequ- ências sanitárias, sociais e econômicas representam hoje um problema sanitário de enorme magnitude (HEPLER; STRAND, 1990; BARROS, 1995; PERETTA; CICCIA, 2000; DÁDER, 2001; NASCIMENTO, 2003; PERINI, 2003). 64 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA Foi demostrado que menos de 60% dos pacientes que estavam recebendo tratamento medicamentoso não apresentavam PFT e que cerca de 28% das admis- sõeshospitalares são resultados de morbidade e mortalidade relacionadas ao uso de medicamentos (JOHNSON; BOOTMAN, 1995). No Brasil, não existem estudos sobre a morbimortalidade relacionada ao uso de medicamentos, apenas levanta- mentos sobre intoxicação medicamentosa, sendo que os medicamentos ocupam a primeira posição entre os três principais agentes causadores de intoxicações em seres humanos desde 1996 (BRASIL, 2009). Sabendo-se que a prevalência e os custos da morbidade e mortalidade re- lacionada a medicamentos são de grande relevância e que a redução desses índi- ces tem um impacto positivo na qualidade de vida do paciente, na segurança do sistema de saúde e na eficiência no uso dos recursos, pergunta-se, então: por que a sociedade dedica tantos esforços científicos e econômicos para pesquisar, desenvol- ver, fabricar, prescrever, indicar e dispensar medicamentos enquanto os serviços sanitários responsáveis por controlar, orientar e educar sobre sua utilização são ainda tão incipientes (DÁDER, 2001; REIS, 2003). Conclusão Partindo do panorama histórico e atual exposto, a Atenção Farmacêutica é necessária e dirigida a atender uma nova demanda social, sendo, portanto, um elemento essencial nos serviços de saúde. Pode acontecer em todos os cenários da prática profissional, integrando-se às outras partes do sistema de saúde e com os demais profissionais, e deve ser incentivada. Fica, então, para os farmacêuticos, o desafio de “fazer o ideal virar reali- dade” e deixar de ser “entregador” de medicamentos, passando a desempenhar o papel de “dispensador de atenção sanitária”. FONTE: Adaptado de PEREIRA, M. L.; NASCIMENTO, M. M. G. dos. Das boticas aos cuidados farmacêuticos: perspectiva do profissional farmacêutico. Rev. Bras. Farm., v. 92, n. 4, p. 245-252, 2011. Disponível em: http://www.rbfarma.org.br/files/rbf-2011-92-4-2-245-252.pdf. Acesso em: 13 out. 2020. 65 RESUMO DO TÓPICO 5 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem três fontes de informações, sendo elas primária, secundária e terciária. • Para pesquisar artigos específicos da área da farmácia, existem sites científicos confiáveis. • É essencial saber avaliar as fontes e ser um profissional responsável ao repassar informações confiáveis e atualizadas a todos os profissionais de saúde e pacientes. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 66 1 As pesquisas primárias são disseminadas exatamente na forma como são produzidas pelos seus autores. Assinale a opção que apresenta uma fonte de informação/pesquisa primária: a) b) c) d) ( ) Revista científica. ( ) Artigos de revisão. ( ) Monografia. ( ) Sites de propaganda. 2 As fontes secundárias são interpretações e avaliações das fontes primárias. Assinale a opção que apresenta uma fonte de informação/pesquisa secundária: a) b) c) d) ( ) Revista científica. ( ) Artigos de revisão. ( ) Monografia. ( ) Sites de propaganda. 3 As fontes terciárias são coleções de fontes primárias e secundárias. Assinale a opção que apresenta uma fonte de informação/pesquisa terciária: a) b) c) d) ( ) Revista científica. ( ) Artigos de revisão. ( ) Monografia. ( ) Sites de propaganda. AUTOATIVIDADE 67 REFERÊNCIAS ALLEN JR., L. V. Introdução à farmácia de Remington. Porto Alegre: Artmed, 2016. BRASIL. ANVISA. Formulário de fitoterápicos – Farmacopeia Brasilei- ra 2018. Brasília, 2018. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/docu- ments/33832/259456/Formulario_de_Fitoterapicos_da_Farmacopeia_Brasileira. pdf/c76283eb-29f6-4b15-8755-2073e5b4c5bf. Acesso em: 30 jun. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Proposta de diretrizes curriculares do curso de graduação em farmácia. [20--]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/ arquivos/pdf/farm.pdf. Acesso em: 30 jun. 2020. BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 19 out. 2020. BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1988. 200 p. BRASIL. Decreto nº 79.056, de 30 de dezembro de 1976. Dispõe sobre a organi- zação do Ministério da Saúde e dá outras providências. Disponível em: https:// www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-79056-30-dezembro- -1976-428077-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 19 out. 2020. BRASIL. Lei nº 3.820, de 11 de novembro de 1960. Cria o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Farmácia, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3820.htm. Acesso em: 19 out. 2020. CFF – CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. O Conselho Federal. Conse- lho Federal de Farmácia. c2008. Disponível em: https://www.cff.org.br/pagina. php?id=1&menu=1&titulo=O+Conselho+Federal. Acesso em: 1 jul. 2020. CORRAL, F. S. D. del; SOUZA, M. L. V. de; NEGRÃO, O. L. Do boticário ao farmacêutico: o ensino de farmácia na Bahia de 1815 a 1949. Salvador: EDUFBA, 2009. 188 p. CRF-SP – CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DE SÃO PAULO. A pro- fissão farmacêutica. 2. ed. 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A trajetória da prática farmacêutica. São Paulo: Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo, 2008-2009. Disponível em: http://portal.crfsp. org.br/images/NEP/materiais/A%20trajet%C3%B3ria%20da%20Pr%C3%A1ti- ca%20Farmac%C3%AAutica.pdf. Acesso em: 10 jul. 2020. CRF-PR – CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DO PARA- NÁ. O Farmacêutico em Revista. Revista do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Paraná. ed. 116, n. 1, 2017. Acesso em: https://www.crf-pr.org.br/ uploads/revista/27628/revista_edicao_116_web.pdf. Acesso em: 10 jul. 2020. CRUZ, P. C. da; SILVA, Y. F. de O. Ensino farmacêutico: trajetória, reflexões e perspectivas para a formação do farmacêutico. In: I SEMINÁRIO SOBRE DO- CÊNCIA UNIVERSITÁRIA. Anais [...] Universidade Estadual de Goiás, 2011. Disponível em: https://www.anais.ueg.br/index.php/isemdocuniv_inhumas/ article/view/47/35. Acesso em: 19 out. 2020. DIAS, J. P. S. 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F. Da pharmacia à farmácia – Universidade Federal do Pará – 100 anos de História. Belém: Editora Universitária UFPA, 2003. STORPIRTS, S. et al. Ciências farmacêuticas: farmácia clínica e atenção farma- cêutica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. SULPINO, V. F. Possibilidades de contribuição do farmacêutico para a promo- ção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 12, n. 1, p. 213-220, 2007. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/0966.pdf. Acesso em: 11 nov. 2020. 70 71 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • construir os conceitos necessários para a compreensão das áreas farmacêuticas; • diferenciar os tipos de medicamentos existentes; • assimilar o entendimento dos processos que acontecem com um medicamento da sua descoberta até o uso pelo paciente; • diferenciar os medicamentos tarjados e quais precisam de prescrição. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES TÓPICO 2 – TIPOS DE MEDICAMENTOS TÓPICO 3 – MEDICAMENTOS COM EXIGÊNCIA E ISENTOS DE PRESCRIÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 72 73 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A palavra farmacologia é derivada do grego pharmakon e possui vários significados, como substância de uso terapêutico, veneno, uso místico ou sobrenatural e remédios (objetivo na Antiguidade) – até mesmo, utilizando insetos, vermes e húmus. Provavelmente, as plantas tiveram importante influência na alimentação, tanto para alívio quanto para casos de envenenamento do homem primitivo. Algumas plantas e animais com características tóxicas eram utilizados para guerra, execuções de indivíduos e caça. Cerca de 4.000 anos a.C., os sumerianos já conheciam os efeitos psíquicos provocados pelo ópio, inclusive também para a melhora de diarreia (NOGUEIRA et al., 2001; SOARES, 2014). A farmacologia define a origem, a composição, a qualidade, a farmacocinética, os efeitos, o uso terapêutico e a toxicologia dessas substâncias químicas com atividade biológica (BARBERATO FILHO, 2006). Na sua maioria, os medicamentos são xenobióticos, isto é, são compostos que normalmente não existem no organismo humano. Para que esses “corpos estranhos” produzam o efeito desejado, isto é, para que induzam ou modifiquem uma resposta fisiológica, é preciso que eles sejam reconhecidos por proteínas receptoras na membrana celular ou intracelularmente (MASSUD FILHO, 2016). A palavra droga tem duas origens: uma do holandês antigo droog, que significa folha seca – uma vez que, antigamente, quase todos os medicamentos eram feitos de origem vegetal –, e outra do francês drogue, que significa erva (SOARES, 2014). Embora a farmacologia tenha sido reconhecida como ciência no final do século XIX, na Alemanha, as ervas já serviam para a manipulação de remédios há bastante tempo, e as drogas de origem vegetal predominaram no tratamento das doenças até a década de 1920, quando a indústria farmacêutica moderna iniciou o desenvolvimento de produtos químicos sintéticos (SOARES, 2014). A farmacologia envolve conhecimentos necessários para o profissional de saúde e consiste no estudo do mecanismo pelo qual os agentes químicos afetam as funções dos sistemas biológicos. Portanto, de forma ampla, envolve o estudo da interação dos compostos químicos (drogas) com os organismos vivos, atuando, em maioria, pela influência das moléculas das drogas em constituintes das células (SOARES, 2014). TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA 74 É importante ressaltar que, devido ao número crescente de novos fármacos e às ocorrências de desastres terapêuticos, tornam-se imprescindíveis o estudo e a atualização constantes dos profissionais de saúde que acompanham o uso de fármacos (SOARES, 2014). Atualmente, droga pode ser definida como uma substância química de estrutura conhecida que não é um nutriente ou um ingrediente essencial da dieta e que, quando administrada a um organismo vivo, produz um efeito biológico (RANG et al., 2012). Drogas podem ser substâncias químicas sintéticas e substâncias químicas obtidas a partir de plantas ou animais ou produtos de engenharia genética. Um medicamento é uma preparação química que, em geral – mas não necessaria- mente –, contém uma ou mais drogas, administrado com a intenção de produzir um efeito terapêutico. Os medicamentos geralmente contêm outras substâncias (excipientes, conservantes, solventes etc.) ao lado da droga ativa, para tornar seu uso mais conveniente (RANG et al., 2012). Assim, a droga consiste em qualquer substância química que possui a capacidade de produzir efeito farmacológico, ou seja, que provoque alterações funcionais ou somáticas. Se essas alterações forem benéficas, podem ser denominadas fármacos e, se forem maléficas, tóxicas (SOARES, 2014). O fármaco corresponde à substância de estrutura química bem definida, que age como princípio ativo do medicamento. O medicamento, portanto, consiste no produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado com finalidades que podem ser profiláticas, curativas ou paliativas (SOARES, 2014). Um exemplo de medicamento com o nome do seu princípio ativo é o paracetamol e sua estruturaquímica. FIGURA 1 – PARACETAMOL FONTE: <https://bit.ly/3qHsIap>. Acesso em: 28 jul. 2020. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES 75 2 PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA Desde os seus primórdios, o ser humano percebeu os efeitos curativos das plantas medicinais, notando que, dependendo da forma como o vegetal medicinal era administrado (pó, chá, banho e outros), era possível obter a recuperação da saúde do indivíduo (SOARES, 2014). A história da humanidade está diretamente ligada ao seu ambiente natural, especialmente às plantas utilizadas para alimentação, confecção de moradia e utensílios, vestuários e remédios. Desde os tempos mais remotos, os seres humanos utilizam plantas com propriedades medicinais como recurso terapêutico para a sobrevivência. Os registros de utilização de plantas como remédio datam da era paleolítica, pela identificação do pólen de plantas medicinais em sítios arqueológicos (SAAD et al., 2016). As plantas medicinais, utilizadas há milhares de anos, servem de base para estudos na produção de novos medicamentos (MACEDO; de CARVALHO; NOGUEIRA, 2002). Estima-se que 80% da população no terceiro mundo faz uso de fitoterápicos, sendo que 85% destes possuem extratos de plantas medicinais. A cultura brasileira sofreu sérias influências dessa mistura de etnias, tanto no aspecto espiritual como material, fundindo-se aos conhecimentos existentes no país (EMBRAPA, 1996). A partir das grandes navegações, o intercâmbio de espécies vegetais – que já existia entre Europa, Ásia e África – aumentou com a introdução de espécies vindas das Américas. São exemplos a equinácea (Echinacea purpúrea L.) e a cimicífuga (Cimicifuga racemosa Nutt.), da América do Norte, a andiroba (Carapa guianensis Aubl.), o guaraná (Paullinia cupana Kunth) e o maracujá (Passiflora sp), das Américas do Sul e Central (SAAD et al., 2016). O século XVIII marca o início do desenvolvimento da química medicinal e de alterações profundas na medicina. Na Inglaterra, o reverendo Edmund Stone anunciou a casca do salgueiro como um poderoso febrífugo – a partir dela, foi isolada a salicilina. Essa mesma substância, isolada também na espécie Spiraea ulmaria L., foi transformada em ácido salicílico e anunciada como potente analgésico. Entretanto, tinha graves efeitos colaterais e preservou a eficácia terapêutica, sendo denominada comercialmente como Aspirina®, muito utilizada até os dias de hoje. Nessa mesma época, vários isolamentos foram realizados a partir de fontes vegetais, como a morfina do ópio e a digoxina da Digitalis sp, determinando novas formas de lidar com as plantas (SAAD et al., 2016). Por outro lado, as plantas medicinais continuaram a desempenhar um importante papel na terapêutica, mantendo-se como um recurso fundamental para a população do mundo inteiro. Mesmo nos países de primeiro mundo, com mais recursos financeiros e acesso a medicamentos industrializados, como Estados Unidos e Alemanha, vemos um aumento significativo na opção por esse tipo de terapêutica nas últimas décadas (SAAD et al., 2016). UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA 76 Muitas plantas foram batizadas considerando seus usos medicinais ou propriedades empiricamente descobertas por populações nativas e muitas espécies foram descritas depois de já fazerem parte das farmacopeias oficiais (LORENZI, 2002). Até o século XX, o Brasil era um país essencialmente rural, com amplo uso da flora medicinal, tanto a nativa quanto a introduzida. Com o início da industrialização e subsequente urbanização do país, o conhecimento tradicional passou para segundo plano. O acesso a medicamentos sintéticos e o pouco cuidado com a comprovação das propriedades farmacológicas das plantas tornaram o conhecimento da flora medicinal sinônimo de atraso tecnológico. Essa tendência seguiu o que já acontecera em outros países em processo de urbanização (LORENZI, 2002). As novas tendências globais de uma preocupação com a biodiversidade e as ideias de desenvolvimento sustentável trouxeram novos ares ao estudo das plantas medicinais brasileiras, que acabaram despertando novamente um interesse geral na fitoterapia. Novas linhas de pesquisa foram estabelecidas em universidades do país, algumas buscando bases mais sólidas para a validação científica do uso de plantas medicinais (LORENZI, 2002). A busca por novos fitoterápicos também acabou retroalimentando a pesquisa botânica no Brasil, que vislumbrou na prospecção de potenciais produtos naturais de uso farmacológico uma ótima justificativa para intensificar seus trabalhos. Como já ocorrera nos primórdios das duas ciências, a fitoterapia e a botânica voltaram a ser vistas como aliadas e cooperaram para a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros (LORENZI, 2002). O emprego correto das plantas para fins terapêuticos pela população geral requer o uso de plantas medicinais selecionadas por sua eficácia e segurança terapêutica, com base na tradição popular ou cientificamente validada como medicinal. No caso de uso por programas de fitoterapia em saúde pública, é fundamental que as espécies usadas sejam cientificamente validadas (LORENZI, 2002). No Sistema Único de Saúde (SUS) temos implantado alguns medicamentos fitoterápicos. Para saber mais sobre o assunto e conhecer a Política e Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, acesse: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ politica_programa_nacional_plantas_medicinais_fitoterapicos.pdf. Veja também alguns dos fitoterápicos distribuídos pelo SUS no seguinte vídeo: https://www.youtube.com/wa- tch?v=SJNlqpBuytY. DICAS http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_programa_nacional_plantas_medicinais_fitoterapicos.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_programa_nacional_plantas_medicinais_fitoterapicos.pdf https://www.youtube.com/watch?v=SJNlqpBuytY https://www.youtube.com/watch?v=SJNlqpBuytY TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES 77 O consumo de fitoterápicos e de plantas medicinais tem sido estimulado com base no mito “se é natural, não faz mal”. Entretanto, ao contrário da crença popular, eles podem causar diversas reações adversas como intoxicações, enjoos, irritações, edemas (inchaços) e até morte, como qualquer outro medicamento (BRASIL, 2020). 2.1 DIFERENÇA ENTRE FITOTERÁPICO E PLANTAS MEDICINAIS Pode-se dizer que as plantas medicinais são capazes de aliviar ou curar doenças e têm tradição de uso como remédio em uma população ou comunidade. Para usá-las, é preciso conhecer a planta e saber onde colhê-la e como prepará-la. Normalmente são utilizadas na forma de chás ou infusão (BRASIL, 2020). Quando a planta medicinal é industrializada com o objetivo de criar um medicamento, tem-se como resultado um fitoterápico. O processo de industrialização evita contaminações por micro-organismos e substâncias estranhas, além de padronizar a quantidade e a forma certa de seu uso, permitindo maior segurança. Os fitoterápicos industrializados devem ser regularizados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de serem comercializados (BRASIL, 2020). Você conhece alguma planta medicinal? Já a usou para tratar alguma doença? A fitoterapia e o uso de plantas medicinais fazem parte da prática da medicina popular. No Brasil, é muito comum a prática do uso de chás devido à sabedoria antiga passada por gerações e ao nosso país ser tão rico em plantas. IMPORTANT E UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA 78 FIGURA 2 – EXEMPLOS DE PLANTAS DE USO POPULAR FONTE: <https://bit.ly/3m11ect>. Acesso em: 13 jul. 2020. 3 MEDICAMENTOS Os medicamentos são produtos especiais elaborados com a finalidade de diagnosticar, prevenir, curar ou aliviar os sintomas de doenças. São produzidos com rigoroso controle técnico para atender às especificações determinadas pela Anvisa (BRASIL, 2010). O efeito dos medicamentos é decorrente de uma ou mais substâncias ativas com propriedades terapêuticas reconhecidas cientificamente, que fazem parte da composiçãodo produto, denominado fármaco, droga ou princípio ativo (BRASIL, 2010). 3.1 FINALIDADE DOS MEDICAMENTOS Os medicamentos têm por finalidade (BRASIL, 2010): • Aliviar os sintomas: diminuem ou eliminam sintomas como dor, febre, inflamação, tosse, coriza, vômito, náusea, ansiedade e insônia, mas não atuam na causa do problema. • Curar doenças: eliminam a causa da doença, como infecções e infestações. Também podem corrigir alguma função corporal deficiente. • Prevenir doenças: auxiliam o organismo a se proteger de determinadas doenças, podendo ser citados como exemplos soro, vacinas, antissépticos, suplementos vitamínicos e minerais. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES 79 • Diagnosticar doenças: auxiliam na detecção de determinadas doenças, além de aliviar o funcionamento de órgãos. Por exemplo: contrastes radiológicos. 4 DIFERENÇA ENTRE MEDICAMENTO E REMÉDIO No dia a dia, é muito comum notar pessoas ou meios de comunicação utilizando a palavra remédio como sinônimo de medicamento. No entanto, essas palavras não têm o mesmo significado (BRASIL, 2010). Medicamentos são produtos feitos a partir de fármacos que têm como objetivo um efeito benéfico. São produzidos para fins comerciais com finalidade terapêutica. O termo remédio vem do latim Remedium, que significa “aquilo que cura”. Assim, tem como entendimento qualquer substância ou recurso utilizado pelo indivíduo para se sentir melhor, no sentido de busca da cura ou do alívio de doenças e sintomas. Isso abrange desde medicamento até qualquer ato que o faça se sentir melhor, como um banho, uma massagem, uma oração, uma compressa e qualquer meio que o faça acreditar em sua cura (GUIMARÃES; TAVEIRA, 2014). Portanto, todo medicamento é um remédio, mas nem todo remédio é um medicamento. 5 DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS NOS DIAS ATUAIS Todo medicamento a ser lançado no mercado passa por diversas etapas de pesquisa e testes até ser aprovado por órgão competente do país de origem do fabricante. No Brasil, como vimos anteriormente, esse órgão é a Anvisa. O processo de regulamentação de um medicamento é longo, rigoroso e custa muito caro para a indústria farmacêutica. Ele deve cumprir diversas etapas, desde aquelas que antecedem seu uso até as de acompanhamento após Para reforçar a discussão sobre a diferença entre remédio e medicamento, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=X5QpKMJ07qE. Após assistir ao vídeo sugerido, procure em sua casa medicamentos e remédios, para perceber como isso faz parte do dia a dia de todos. DICAS https://www.youtube.com/watch?v=X5QpKMJ07qE UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA 80 o seu lançamento e que comprovem que tal produto não incorrerá em reações prejudiciais à saúde da população (BRASIL, 2010). Esse processo é chamado de ensaio clínico. Os esforços de pesquisa e desenvolvimento, necessários para garantir a segurança e a eficácia de novos medicamentos, são complexos, demorados e financeiramente arriscados. Milhares de compostos passam por extensivos testes para cada composto químico novo que recebe aprovação para comercialização (CATO et al., 2002). Os custos de pesquisa e desenvolvimento para cada medicamento novo são estimados em aproximadamente 1 bilhão de dólares (ADAMS; BRANTNER, 2010). 5.1 FASES DE ESTUDO PARA NOVOS MEDICAMENTOS O planejamento racional para a descoberta e o desenvolvimento de novos medicamentos exige competência de diferentes áreas de conhecimento (PETSCHNIGG; SNIDER; STAGLJAR, 2011). A descoberta e a síntese de uma molécula com potencial ativo e a sua correlação com um alvo biológico apropriado constituem o início do processo. Por lei, a segurança e a eficácia dos fármacos devem ser definidas antes de sua comercialização. Em fase posterior, são realizados, além dos estudos in vitro, os estudos in vivo que caracterizarão os efeitos biológicos da molécula em animais (testes pré-clínicos) antes que possam ser iniciados os estudos clínicos em seres humanos (BERKOWITZ, 2006). Atualmente, a maioria dos fármacos em uso clínico é de origem natural ou desenvolvida por síntese química planejada em laboratório. As modificações moleculares também são comumente empregadas em estruturas de produtos naturais, visando a introduzir mudanças nas propriedades relacionadas com as fases farmacodinâmicas ou farmacocinéticas (WERMUTH, 2008). Todo o processo de pesquisa e desenvolvimento dura cerca de 12 anos, com probabilidade de sucesso muito pequena. Assim, de cada 30.000 moléculas sinteti- zadas, 20.000 entram na fase de estudos pré-clínicos, 200 entram na fase I dos estudos clínicos, 40 passam para a fase II, 12 entram na fase III e somente nove são aprovadas pelos órgãos regulatórios. No entanto, é importante mencionar ainda que apenas um medicamento aprovado é incluído nos protocolos terapêuticos (CALIXTO, SIQUEIRA JÚNIOR, 2008). INTERESSA NTE TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES 81 O planejamento racional dos fármacos surgiu a partir do modelo chave- fechadura, proposto por Emil Fischer, em 1885, que contribuiu para a concepção das teorias de receptores e, consequentemente, para o surgimento da química medicinal e dos estudos a respeito de pesquisa e desenvolvimento (BARREIRO, 2009). 5.2 ESTUDO PRÉ-CLÍNICO Os candidatos a fármacos que passam com sucesso pelos procedimentos iniciais de triagem e estabelecimento do perfil farmacológico devem ser cuidadosamente avaliados quanto aos riscos potenciais, antes e no decorrer dos testes clínicos. Esses riscos são monitorados por meio de testes pré-clínicos (BERKOWITZ, 2006). Os estudos pré-clínicos têm como objetivo principal a avaliação farmacológica em sistemas in vitro e em animais in vivo, para a obtenção do maior conhecimento possível acerca das propriedades e dos efeitos adversos do fármaco em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, a farmacocinética é testada em animais. O composto é submetido a testes de toxicidade a curto e longo prazos em animais, para que suas propriedades farmacológicas possam ser definidas dentro de uma relação dose-resposta (FERREIRA et al., 2009). Além dos estudos relacionados à toxicidade, é importante efetuar várias estimativas quantitativas, que incluem: • a dose “sem efeito” – a dose máxima em que não se observa um efeito tóxico específico; • a dose letal mínima – menor dose observada que mata qualquer animal; • a dose letal mediana – a dose que mata cerca de 50% dos animais. Essas doses são utilizadas para calcular a dose inicial a ser administrada experimentalmente em seres humanos, geralmente de um centésimo a um décimo da dose sem efeito em animais. Em geral, é necessário realizar estudos integrais em animais para estabelecer o efeito do fármaco sobre os sistemas de órgãos e modelos de doenças (BERKOWITZ, 2006). 5.3 ESTUDO CLÍNICO Os estudos clínicos correspondem à pesquisa conduzida em pacientes ou voluntários sadios, usualmente destinada a avaliar um novo tratamento (LIMA et al., 2003). O Conselho Nacional de Saúde (CNS) regulamenta, na Resolução CNS nº 01/1988, que a pesquisa de medicamentos em farmacologia clínica compreende UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA 82 a sequência de estudos realizados, desde a administração da substância pela primeira vez ao ser humano até a obtenção dos dados sobre sua eficácia e segurança terapêutica em grandes grupos de população. Os estudos clínicos são divididos em quatro fases distintas, segue abaixo um resumo de cada fase: • Fase I: na pesquisa clínica, avalia a tolerância do ser humano e determinar a posologia segura. A fase I inicia com a administração de uma pequena dose de um agente experimental administrado a poucos voluntários, para estabelecer parâmetros farmacocinéticos, avaliando também a segurança (LIMA et al., 2003). • Fase II: visa a estudar a eficácia terapêutica, intervalo de dose, cinética e metabolismo. As doses estabelecidas na fase I são utilizadas para orientar justificativas dos protocolos dos estudos de fase II, nos quaissão avaliadas a eficácia e a segurança do medicamento em ensaios piloto (FERREIRA et al., 2009). • Fase III: também denominado de estudos de eficácia comparativa, consistem no aumento da amostragem e diversificação da gama de pessoas nos testes. Nessa fase, são incluídos tratamentos mais prolongados com o composto, visando à flexibilidade da dosagem e à coleta de dados sobre segurança e eficácia (PIMENTEL et al., 2006). • Fase IV: assim como a fase III, destina-se a testar a eficácia e segurança por meio de um grande número de amostras. Depois de comercializado, o medicamento continua a ser estudado. Esses estudos também são chamados de farmacovigilância e têm por objetivo obter mais informações sobre os seus efeitos e suas interações medicamentosas, visando, sobretudo, a ampliar as avaliações de segurança realizadas por intermédio dos estudos farmacoepidemiológicos (LIMA et al., 2003). • Fase V: de responsabilidade do órgão regulamentador, é o estudo do uso do fármaco na prática. Essa vigilância após a comercialização, que ocorre após a aprovação da Anvisa, é necessária para fornecer feedback do uso em grande escala do fármaco. Nessa fase, podem ser descobertos novos efeitos terapêuticos ou tóxicos, incluindo efeitos a longo prazo ou raros, que não eram discerníveis em pequeno grupo de indivíduos (PIMENTEL et al., 2006). Segundo Ferreira et al. (2009), os estudos de farmacovigilância (vigilância pós- comercialização) são sinônimo do processo de detecção, acompanhamento e controle de problemas decorrentes do uso já autorizado de medicamentos. A importância da farmacovigilância pode ser exemplificada pelos inúmeros fármacos que foram introduzidos na terapêutica e, posteriormente, por razões de toxicidade, foram retirados. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES 83 5.3.1 Requisitos para que um medicamento possa ser usado Todo e qualquer medicamento, novo ou antigo, deve ser: • Seguro, isto é, ter níveis aceitáveis de toxicidade; ser incapaz de representar uma ameaça ao usuário, porque a possibilidade de causar efeitos tóxicos injustificados é pequena. • Eficaz, isto é, que atinge os efeitos propostos. • De qualidade, isto é, ter características que precisamos conhecer e entender melhor; essencial sempre saber a procedência da matéria-prima (RUIZ; OSORIO-DE-CASTRO, 2008). FIGURA 3 – DEMONSTRAÇÃO DAS ETAPAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM MEDICAMEN- TO E OS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NO PROCESSO FONTE: Massud Filho (2016, p. 56) No link, a seguir, há um exemplo da importância da fase IV dos estudos, em que a farmacovigilância é essencial para prevenir problemas sérios de saúde na população causada pelo uso dos medicamentos: https://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2008/10/451862- anvisa-proibe-venda-dos-antiinflamatorios-prexige-400-mg-e-arcoxia-120-mg.shtml. UNI https://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2008/10/451862-anvisa-proibe-venda-dos-antiinflamatorios-prexige-400-mg-e-arcoxia-120-mg.shtml https://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2008/10/451862-anvisa-proibe-venda-dos-antiinflamatorios-prexige-400-mg-e-arcoxia-120-mg.shtml UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA 84 No Brasil, o estabelecimento de diretrizes para pesquisas clínicas começou na década de 1980, com a aprovação das Normas para Pesquisas em Saúde, primeira resolução do CNS, em 1988. Em 1996, foram propostas as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, por meio da Resolução CNS nº 196/1996. A pesquisa com novos medicamentos foi considerada uma das oito áreas especiais que mereceriam atenção especial da, então criada, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Essa foi a primeira área a merecer normas específicas, estabelecidas na Resolução CNS nº 251/1997 (GOLDIM, 2007). 5.4 QUALIDADE DOS MEDICAMENTOS A indústria farmacêutica tem colocado à disposição dos consumidores e profissionais da saúde inúmeras alternativas farmacêuticas, as quais vão desde novos produtos (medicamentos complexos não biológicos) a alternativas mais econômicas e tradicionais (genéricos, similares e biossimilares), além de novas formas de liberação. Entre essas alternativas, algumas, como os genéricos, já são conhecidas, estão disponíveis no mercado há alguns anos e, de fato, vêm sendo cada vez mais consumidas, inclusive no Brasil, em detrimento aos de referência (ARAUJO, 2010). A Política de Regulamentação de Medicamentos, implementada em 2004, lida com as regras aplicadas ao controle do mercado de medicamentos no Brasil. Essa política está fundamentada no reconhecimento de três categorias principais para registro de medicamentos, qualidade, controle da matéria- prima, redefinição da categoria de vendas, boas práticas de fabricação e controle (BPFC), assimetria de informação e falsa propaganda, controle de estoque de psicotrópicos, estratégias para facilitar o acesso a medicamentos pela população, informatização e desburocratização, monitoramento do mercado, redução de associações irracionais e fiscalização quanto a nomes comerciais (CONDESSA, 2005). A segurança de um medicamento, seja qual for sua classe, está intima- mente relacionada com a sua qualidade, embora esse não seja o único parâmetro a ser considerado. Enquanto a qualidade envolve a comparação com um padrão, a segurança engloba ainda uma série de outros aspectos. A mortalidade e a mor- bidade, por exemplo, associadas à segurança de medicamentos, são os problemas mais sérios resultantes do uso de medicamentos. Esses desfechos dependem de causas intrínsecas (por exemplo, polimor- fismo das enzimas de metabolização, genética, dieta, entre outros) e extrínsecas ao organismo, como aqueles referentes aos processos utilizados na fabricação e capazes de influenciar a qualidade e a composição dos medicamentos. As causas intrínsecas estão ligadas a reações adversas e resultam da ineficiência dos testes toxicológicos utilizados na etapa de pré-comercialização do medicamento, como testes realizados em animais, que não garantem a segurança de um medicamento TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES 85 para uso humano. Além disso, o número de pacientes submetidos aos ensaios pré-clínicos e clínicos é limitado, dificultando, ou mesmo inviabilizando, a iden- tificação de reações raras e de grupos populacionais susceptíveis. Soma-se a isso o pouco conhecimento das interações medicamentosas (OPAS/OMS, 2005). De fato, medicamentos com qualidade duvidosa ou abaixo dos padrões exigidos pelas agências reguladoras têm se tornado um grande problema para a saúde pública. Eles podem ser resultado de processos de produção e padrões inadequados, embalagem inadequada, controle de qualidade de produtos ineficiente, entre outras causas. Um exemplo de processo de produção inadequada foi a recente recomendação da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) de recolhimento de oito medicamentos genéricos a base de clopidogrel após uma inspeção nas etapas de produção (KOSTEV et al., 2013). Outro exemplo, que ocorreu no Brasil, foi um caso de armazenagem inadequada, em que análises de drogas antimaláricas revelaram problemas de liberação em comprimidos de cloridrato de mefloquina e de produção em comprimidos de primaquina e sulfato de quinina que, possivelmente, teriam sido gerados por causa de condições inapropriadas de estocagem (NOGUEIRA et al., 2001). Por estarem diretamente relacionadas à saúde pública, é imperativo que a regulamentação, a segurança, a eficácia e a qualidade de medicamentos sejam controladas e garantidas. Entretanto, diversos estudos indicam problemas nesse contexto, tanto internacionais quanto nacionais, como o fato de que, mesmo pequenas alterações nas formulações farmacêuticas, podem provocar alterações significativas na segurança do medicamento, exigindo ações corretivas pelo órgão responsável pelo controle (BARATA-SILVA et al., 2017). 5.5 FORMAS FARMACÊUTICAS Existem diversas formas farmacêuticas de incorporar um fármaco para o tratamento conveniente e eficaz de uma doença. As formasfarmacêuticas podem ser projetadas para a administração por vias de liberação alternativas (Quadro 1), a fim de melhorar a resposta terapêutica (AULTON, 2016). Muitos fármacos são formulados em diferentes formas e em várias potências, cada uma apresentando características farmacêuticas adequadas para uma aplicação específica (AULTON, 2016). UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA 86 QUADRO 1 – FORMAS FARMACÊUTICAS DISPONÍVEIS PARA AS DIFERENTES VIAS DE ADMINIS- TRAÇÃO FONTE: Aulton (2016, p. 35) Ao delinear e produzir formas farmacêuticas, é necessário considerar as propriedades dos fármacos, do medicamento e as necessidades dos pacientes, pois alguns possuem necessidades específicas, como idosos e crianças que têm dificuldade em deglutir formas farmacêuticas sólidas (AULTON, 2016). Comprimidos e cápsulas são as formas farmacêuticas sólidas mais comumente prescritas, pois são relativamente baratas de produzir, são portáteis, podem ser revestidas para mascarar sabor desagradável ou formuladas com alteração de liberação do medicamento. Ao mesmo tempo que são populares entre os prescritores, nem sempre são as formas mais adequadas para o paciente com dificuldade de deglutição, o que pode resultar tanto em uma aversão psicológica à deglutição de comprimido como em uma deficiência física que impede a deglutição (disfagia; AULTON, 2016). Nas crianças, fórmulas líquidas, de fato, são simples de administrar e oferecem uma dosagem flexível, porém precisam, quando utilizadas com o auxílio de um dispositivo, de dosagem apropriado (AULTON, 2016). Os medicamentos líquidos são a alternativa lógica para comprimidos e cápsulas em pacientes com dificuldades de deglutição, sendo recomendados nos casos em que o mecanismo de deglutição por via oral ainda é possível e quando se pode obter uma textura adequada que minimize a probabilidade de aspiração (AULTON, 2016). Via de administração Formas da utilização Oral Soluções, xaropes, suspensões, emulsões, géis, pós, grânulos, cápsulas e comprimidos Retal Supositório, pomadas, cremes, pós, soluções Tópica Unguentos, cremes, pastas, loções, géis, soluções, aerossóis, espumas tópicas e emplastros transdérmicos Parenteral Injeções (soluções, suspensão e formas de emulsão), implantes e soluções de irrigação e de diálise Respiratória Aerossóis (solução, suspensão, emulsão e pó), inalações, nebulizados e gases Nasal Soluções e inalações Ocular Soluções, pomadas e cremes Auricular Soluções, suspensões, pomadas e cremes TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES 87 5.6 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO A absorção é a transferência do fármaco do seu local de administração para o compartimento central e a amplitude com que isso ocorre. No caso das preparações sólidas, a absorção depende, inicialmente, da dissolução do comprimido ou da cápsula, que então libera o fármaco. A biodisponibilidade é um termo usado para descrever a porcentagem em que uma dose do fármaco chega ao seu local de ação, ou a um líquido biológico a partir do qual o fármaco chegou ao seu local de ação. Por exemplo, um fármaco administrado por via oral precisa ser absorvido primeiramente pelo estômago e intestino, mas esse processo pode ser limitado pelas características da preparação do fármaco e por suas propriedades físico-químicas. A redução da biodisponibilidade depende da estrutura anatômica a partir da qual houve a absorção; outros fatores fisiológicos e patológicos podem influenciar a biodisponibilidade, e a escolha da via de administração de um fármaco deve ser baseada no conhecimento dessas condições (BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006). O padrão de absorção de fármacos varia consideravelmente de substância para substância, bem como entre as diferentes vias de administração. As formas farmacêuticas são projetadas para fornecer o fármaco numa estrutura adequada para a absorção, a partir de cada via de administração selecionada (AULTON, 2016). Segundo Howland e Mycek (2007), a via de administração é determinada primeiramente pelas propriedades dos fármacos e pelos objetivos terapêuticos, sendo importante adequar a forma farmacêutica de acordo com a facilidade de uso do paciente. Em geral, existem algumas opções de vias pelas quais um agente terapêutico pode ser administrado e, por essa razão, o conhecimento das vantagens e desvantagens das diferentes vias de administração é fundamental (BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006). A via enteral é composta por todas as administrações que utilizam o trato gastrointestinal para introduzir o fármaco no organismo. UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA 88 FIGURA 4 – VIA ENTERAL (A) E VIAS DE ADMINISTRAÇÃO (B) A B FONTE: <https://bit.ly/2W1AAFI>; <https://bit.ly/2IA3ucS>. Acesso em: 27 jul. 2020. A via parenteral é composta por todas as administrações que não utilizam o trato gastrointestinal para introduzir o fármaco no organismo. Contudo, existem exceções nessa via, como as vias tópica, inalatória, bucal, sublingual e retal, que utilizam a pele e a mucosa para a administração de fármacos (HOWLAND; MYCEK, 2007). 5.6.1 Via oral A ingestão oral é o método mais comumente usado para administrar os fármacos. Também é o mais seguro, conveniente e econômico. Suas desvantagens são a absorção limitada de alguns fármacos em função de suas características (BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006). As farmacêuticas orais são normalmente planejadas para obter um efeito sistêmico decorrente da absorção do fármaco por vários epitélios e mucosa do trato gastrointestinal. Alguns fármacos, porém, devem se dissolver na boca, para rápida absorção ou para efeito local no trato gastrointestinal, devido à má absorção por via ou baixa solubilidade aquosa. Em comparação com outras vias de administração, a via oral é a mais simples, mais prática e o meio mais seguro de administração de fármaco. No entanto, as desvantagens incluem início relativamente lento de ação, possibilidade de absorção irregular e destruição de certos fármacos pelas enzimas e secreções do trato gastrointestinal. Por exemplo, as preparações que contêm insulina são TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES 89 inativadas pela ação de fluidos do estômago (apesar de já existirem pesquisas para tentar formular a insulina por via oral; AULTON, 2016). A via oral possui várias vantagens e algumas desvantagens em relação às outras vias, como: a ação do pH estomacal sobre o fármaco, a possibilidade de o fármaco sofrer metabolismo de primeira passagem, a interação com alimentos e outras substâncias ingeridas. Fatores como absorção, biodisponibilidade e coeficiente de ionização do composto são variáveis entre os diversos fármacos que utilizam essa via (RANG et al., 2012). As formas farmacêuticas orais mais comuns são comprimidos, cápsulas (Figura 5), suspensões, soluções e emulsões. Os comprimidos são obtidos por compactação e contêm fármacos e adjuvantes de formulação que são incluídos para funções específicas (AULTON, 2016). As cápsulas são formas farmacêuticas sólidas que contêm fármacos e, geralmente, adjuvantes de enchimento apropriado, fechados dentro de um invólucro de gelatina dura ou mole ou de outro material polimérico adequado. Tal como os comprimidos, a uniformidade da dose pode ser facilmente conseguida e há vários tamanhos, formas e cores de cápsulas disponíveis. A cápsula se rompe e se dissolve após a administração oral e, na maioria dos casos, os fármacos são liberados de maneira muito mais rápida quando comparados aos comprimidos (AULTON, 2016). FIGURA 5 – COMPRIMIDOS E CÁPSULAS UTILIZADOS POR VIA ORAL FONTE: <https://pt.freeimages.com/photo/pills-tablets-3-1524565>. Acesso em: 27 jul. 2020. As suspensões que contêm fármacos, finamente divididos ou suspensos em um veículo adequado, são um meio útil de administrar grande quantidade de fármacos que, de outro modo, seriam inconvenientes se administrados na forma de comprimido ou cápsula. Elas também são úteis para pacientes que experimentam dificuldade em deglutir comprimidosou cápsulas e no uso pediátrico. Embora seja necessária a dissolução do fármaco antes da absorção, as finas partículas sólidas em suspensão têm uma grande área de superfície a ser apresentada aos fluidos gastrointestinais, o que facilita a dissolução do fármaco, https://pt.freeimages.com/photo/pills-tablets-3-1524565 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA 90 auxiliando a absorção e, portanto, o início da ação do fármaco. No entanto, nem todas as suspensões orais são formuladas para obter efeitos sistêmicos, uma vez que várias são projetadas para obter efeitos locais no trato gastrointestinal. Por outro lado, as soluções, incluindo formulações como xaropes e elixires, são absorvidas mais rapidamente do que as formas sólidas ou suspensões, já que a dissolução do fármaco não é necessária (AULTON, 2016). A absorção pela mucosa oral tem importância especial para alguns fármacos, apesar de a superfície disponível para a absorção ser pequena. A drenagem venosa da boca dirige-se à veia cava superior, que protege o fármaco do metabolismo rápido causado pela primeira passagem pelo fígado (BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006). 5.6.2 Via retal Os fármacos aplicados por via retal na forma de solução, supositório ou emulsão geralmente são administrados para obter efeito local, em vez de sistêmico. Os supositórios são formas farmacêuticas sólidas destinadas à introdução em cavidades do corpo (normalmente retal, mas também vaginal e uretral) onde serão dissolvidas para liberar o fármaco. Essa via de administração é indicada para fármacos inativados pelos fluidos gastrointestinais quando por via oral ou quando esta é desaconselhada. Os fármacos administrados por via retal entram na circulação sistêmica sem passar pelo fígado, uma vantagem para aqueles acentuadamente inativados pelo fígado após serem absorvidos pela via oral. Como desvantagens da via retal podemos citar o fato de ser inconveniente e, muitas vezes, a absorção do fármaco ser irregular e difícil de prever (AULTON, 2016). No Brasil, temos poucas apresentações usadas via retal, embora em outros países essa via de administração seja muito usada. Para reforçar seu conhecimento a respeito das formas farmacêuticas usadas pela via oral, assista ao seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=eRphuldcQKk&t=24s. DICAS https://www.youtube.com/watch?v=eRphuldcQKk&t=24s TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES 91 FIGURA 6 – EXEMPLO DE FÁRMACO VIA RETAL: SUPOSITÓRIO DE GLICERINA FONTE: <https://www.tuasaude.com/supositorio-de-glicerina/>. Acesso em: 27 jul. 2020. 5.6.3 Via parenteral A administração parenteral é feita por meio da utilização de uma agulha oca para injetar o fármaco em vários locais e com diferente profundidade. As três principais vias parenterais são: subcutânea, intramuscular e intravenosa. Outras vias, como intracardíaca e intratecal, são utilizadas com menos frequência. A via parenteral é preferida quando uma absorção rápida é essencial, como em situações de emergência ou quando o paciente está inconsciente ou incapaz de aceitar a medicação por via oral, e ainda em casos em que o fármaco é destruído, inativado ou mal absorvido após a administração oral. Em geral, os níveis do fármaco no sangue são mais previsíveis do que aqueles obtidos por formas farmacêuticas orais (AULTON, 2016). As preparações injetáveis geralmente são soluções ou suspensões estéreis de fármacos em água ou outros veículos adequados e fisiologicamente aceitáveis. Os fármacos em solução são rapidamente absorvidos, já as suspensões injetáveis atuam de maneira lenta. Como os fluídos do corpo são um meio aquoso, a utilização de fármacos suspensos em veículos oleosos mostra características de absorção mais lenta, podendo ser formuladas para proporcionar uma preparação de depósito, promovendo um reservatório do fármaco que é lentamente liberado para a circulação sistêmica. Geralmente, as injeções subcutâneas são soluções aquosas ou suspensões que permitem que o fármaco seja colocado nas imediações dos capilares sanguíneos. O fármaco se difunde, então, para os capilares. A administração intravenosa envolve a injeção de soluções aquosas estéreis diretamente na veia a uma velocidade adequada. Os volumes injetados podem variar de poucos mililitros, como no tratamento de emergência ou para sedativos hipnóticos, até litros, como no caso de tratamento de reposição de fluidos ou alimentação parenteral (AULTON, 2016). Nessa via, a biodisponibilidade é total. Todo o fármaco é posto de forma uniforme na circulação sistêmica por um acesso arterial ou venoso. A injeção intravascular tem a garantia de que a dose, em sua totalidade, vai chegar ao alvo e fazer o seu efeito, porém existem desvantagens em alguns casos, como https://www.tuasaude.com/supositorio-de-glicerina/ UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA 92 em obesos que possuem muito tecido adiposo e não expõem tanto suas veias periféricas, difi cultando o acesso. Outra desvantagem é a chance de infecção sistêmica, oriunda da agulha que entra em contato direto com a circulação. Um ponto importante a ser lembrado é que, quando o profi ssional aplicar a injeção, ele deve ter em mente que não há mais chance de retrocesso (AULTON, 2016). FIGURA 7 – EXEMPLOS DE USO DE FÁRMACO VIA PARENTERAL 5.6.4 Via tópica/transdérmica Nem todos os fármacos penetram facilmente pela pele intacta. A absorção daqueles que o fazem depende da superfície sobre a qual são aplicados e de sua lipossolubilidade, pois a epiderme comporta-se como uma barreira lipídica. Entretanto, a derme é livremente permeável a muitos solutos; por essa razão, a absorção sistêmica dos fármacos ocorre mais facilmente pela pele que sofreu abrasão, queimadura ou desnudamento. Infl amação e outros distúrbios que aumentam o fl uxo sanguíneo cutâneo também ampliam a absorção (BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006). Os fármacos são aplicados topicamente, isto é, sobre a pele, visando principalmente à ação local. Embora essa via possa ser utilizada para administração sistêmica de fármacos, a absorção percutânea é, muitas vezes, defi ciente e irregular, embora estejam disponíveis vários sistemas transdérmicos capazes de liberar o fármaco para distribuição sistêmica (por exemplo, adesivos de nicotina para a interrupção do tabagismo, testosterona e estrogênio para terapia de reposição hormonal e anticoncepcionais). Fármacos aplicados sobre a pele com efeito local incluem antissépticos, antifúngicos e anti-infl amatórios, assim como emolientes de pele, para efeito protetor (AULTON, 2016). As formulações farmacêuticas tópicas – unguentos, cremes e pastas – são compostas por um fármaco em um estado semissólido apropriado. É comum a aplicação de fármacos sobre outras superfícies tópicas, como ocular, FONTE: <https://bit.ly/343aCpA>; <https://bit.ly/37V3xZx>. Acesso em: 27 jul. 2020. A B TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES 93 auricular e nasal, sendo utilizados unguentos, cremes, suspensões e soluções. As preparações oftálmicas, entre outras características, devem ser estéreis. As formas farmacêuticas nasais incluem soluções ou suspensões aplicadas por conta gotas ou em aerossol, utilizando-se um spray. As formulações auriculares, em geral, são viscosas para prolongar o contato com as áreas afetadas (AULTON, 2016). FIGURA 8 – EXEMPLOS DE FÁRMACOS POR VIA TÓPICA/TRANSDÉRMICA FONTE: <https://bit.ly/37V3xZx>. Acesso em: 27 jul. 2020. 5.6.5 Via respiratória Os pulmões são uma excelente superfície de absorção com fármaco administrado nas formas gasosa, aerossol ou de partícula, determinando a extensão em que eles penetram na região alveolar, uma zona de absorção rápida. As partículas do fármaco, que possuem 0,5 a 1 mm de diâmetro, atingem os sacos alveolares. Essa via de administração é particularmente útil para o tratamento de problemas asmáticos, utilizando aerossóis pulvéricos e aerossóis com dispositivo dosador que contêm o fármaco incorporado em um gás propelente liquefeito e inerte(AULTON, 2016). FIGURA 9 – EXEMPLO DE FÁRMACO POR VIA RESPIRATÓRIA: NEBULÍMETRO FONTE: <http://dicaspneumoped.blogspot.com/2016/03/a-bombinha-vicia.html>. Acesso em: 28 jul. 2020. http://dicaspneumoped.blogspot.com/2016/03/a-bombinha-vicia.html 94 Neste tópico, você aprendeu que: • A farmacologia é o principal estudo da farmácia que guia o entendimento de composição, qualidade, farmacocinética, efeitos, uso terapêutico e tóxico dos medicamentos. • É importante entender a definição dos termos técnicos comuns na área de farmacologia, como fármaco, drogas, formas farmacêuticas, vias de administração, entre outros. • As plantas medicinais, utilizadas há milhares de anos, até hoje são base para pesquisas e desenvolvimento de novos medicamentos. • A finalidade dos medicamentos é o alívio de sintomas, a cura e/ou a prevenção e o diagnóstico de doenças. • O medicamento é feito de um fármaco com efeitos benéficos, enquanto o remédio é tudo aquilo que se acredita que cura. • Os medicamentos a serem lançados no mercado precisam passar por várias fases de estudo para comprovar sua eficácia e segurança. Essas etapas demoram anos e custam muito dinheiro. • A qualidade dos medicamentos é essencial para garantir a segurança do paciente. • Existem diversas formas farmacêuticas para o tratamento, planejadas para garantir a absorção e o tratamento correto do paciente. • As vias de administração são divididas em enteral e parenteral, e é importante conhecer suas vantagens e desvantagens para ajudar o paciente na adesão ao tratamento proposto. RESUMO DO TÓPICO 1 95 1 Desde a antiguidade, o homem busca aliviar os males. Assim, surgiu o desenvolvimento dos medicamentos. Quais são as finalidades dos medicamentos? a) b) c) d) ( ) ( ) ( ) ( ) Causar reações adversas, colocando a vida do paciente em risco. Aliviar sintomas, curar doenças, prevenir doenças e realizar diagnóstico. Não ter efeito terapêutico. Somente aliviar sintomas. 2 Os candidatos a fármacos que passam com sucesso pelos procedimentos iniciais de triagem e estabelecimento do perfil farmacológico devem ser cuidadosamente avaliados quanto aos riscos potenciais, antes e no decorrer dos testes clínicos. Correlacione as fases de estudos com as devidas definições: ( ) ( ) ( ) ( ) Também denominados como estudos de eficácia comparativa, consistem no aumento da amostragem e na diversificação da gama de pessoas nos testes. Avaliar a tolerância do ser humano e determinar a posologia segura. Visa a estudar a eficácia terapêutica, o intervalo de dose, a cinética e o metabolismo. Destina-se a testar a eficácia e a segurança, por meio de um grande número de amostras. Assinale a sequência correta: a) b) c) d) ( ) Fase IV – Fase I – Fase II – Fase III. ( ) Fase I – Fase III – Fase II – Fase IV. ( ) Fase II – Fase III – Fase I – Fase IV. ( ) Fase II – Fase IV – Fase I – Fase III. 3 As fases de estudo de um medicamento são desenvolvidas para a garantia de seu uso pela população. Quais são os principais requisitos para o uso de um medicamento? a) b) c) d) ( ) Segurança e posologia. ( ) Preço e qualidade. ( ) Segurança, eficácia e qualidade. ( ) Eficácia e preço. AUTOATIVIDADE 96 4 Existem várias vias para uso de medicamentos. Se o paciente precisa de um efeito rápido, em razão de algum sintoma grave, qual é a via de absorção do medicamento mais rápida? a) b) c) d) ( ) Parenteral. ( ) Oral. ( ) Transdérmica. ( ) Subcutânea. 97 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Atualmente, com a evolução em desenvolvimento e pesquisa, a indústria farmacêutica produz, em larga escala e grande variedade, medicamentos alopáticos para comercialização em farmácias, que são os mais utilizados e confiáveis para a população. Com a cultura da medicalização, em que o consumo de medicamentos nos dias de hoje é alto, o farmacêutico deve conhecer todos os tipos de medicamentos existentes, pois, como profissionais do medicamento, temos a obrigação de informar e conscientizar a população. Desse modo, este tópico trata das definições sobre os tipos de medicamen- tos que se encontram nas farmácias hoje em dia. Serão abordados temas como alopatia, homeopatia, origem do princípio ativo e elementos dos medicamentos, como embalagem, rastreabilidade, rótulos etc. 2 ALOPATIA Alopatia é uma medicina tradicional, que utiliza os medicamentos que irão produzir no organismo do paciente uma reação contrária aos sintomas que ele apresenta, diminuindo ou neutralizando os sintomas. Por exemplo, se o paciente tem febre, o médico receita um medicamento para baixar a temperatura (BRASIL, 2010). Os principais problemas dos medicamentos alopáticos são seus efeitos colaterais e sua toxicidade. A fitoterapia entra na categoria de medicamentos alopáticos (BRASIL, 2010). 3 HOMEOPATIA A homeopatia, sistema médico de caráter holístico, é baseada no princípio vitalista e no uso da lei dos semelhantes, enunciada por Hipócrates no século IV a.C. (CRF-SP, 2019). A homeopatia é uma especialidade farmacêutica, médica, odontológica e veterinária que foi fundada no início do século XIX pelo alemão Samuel Hahnemann, ganhando popularidade no final do mesmo século. Entretanto, TÓPICO 2 — TIPOS DE MEDICAMENTOS 98 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA com o advento da medicina moderna, a homeopatia foi vista como velha pelos praticantes da medicina convencional e sua popularidade caiu. Essa tendência foi revertida e, desde 1980, ela voltou a crescer em vários países (BRASIL, 2011a). A homeopatia baseia-se no princípio “semelhante cura semelhante”. Isso significa que uma pessoa doente pode ser curada por um medicamento que é capaz de produzir sintomas parecidos em uma pessoa sadia. Em um tratamento homeopático, o clínico deve observar cuidadosamente e considerar cada paciente como único (BRASIL, 2011a). Para a homeopatia, as doenças são geradas pelo desequilíbrio das forças do organismo. Portanto, o clínico homeopata não investiga somente sintomas isolados, mas considera o paciente como um todo, corpo e mente. Assim, a homeopatia trata o doente, e não a doença (BRASIL, 2011a). Os medicamentos homeopáticos são produzidos de forma diferenciada dos fitoterápicos, por meio de dinamização. Nesse tipo de terapia, são utilizados, além de princípios ativos de origem vegetal, outros de origem animal, mineral e sintética (BRASIL, 2011a). Dinamização é o processo pelo qual os medicamentos são preparados a partir de insumos submetidos a triturações sucessivas ou diluições seguidas de agitação ritmada, para o desenvolvimento da capacidade terapêutica do medicamento (BRASIL, 2011a). No Brasil, a homeopatia foi introduzida oficialmente em 1840, pelo médico francês Benoít Jules Mure, que trazia na bagagem a experiência de grande divulgador da homeopatia em algumas cidades europeias. Suas convicções e propostas na área social encontraram campo de ação na divulgação da homeopatia, pois ele se propunha a tratar os escravos e socialmente excluídos do Brasil Império (CRF-SP, 2019). A homeopatia propagou-se pelo país pelas mãos dos discípulos de Mure, e foi abraçada pelo movimento positivista em fins do século XIX. Com a República, a homeopatia ganhou força institucional, tanto na sua prática como no seu ensino. Figuras importantes, como Monteiro Lobato e Rui Barbosa, estiveram ligadas a ela (CRF-SP, 2019). A partir da década de 1930, a homeopatia gradativamente perdeu força e importância no Brasil, sem, porém, desaparecer. Conheceu um renascimento na década de 1970, na trilha das ideias libertárias da época. De terapia “alternativa”, desenvolveu-se científica e politicamente para a posição de prática complementar no início do século XXI, avalizada pelas políticas de saúde do governo brasileiro (CRF-SP, 2019). TÓPICO 2 — TIPOS DE MEDICAMENTOS 99 3.1 MEDICAMENTO HOMEOPÁTICO X MEDICAMENTO ALOPÁTICO O tratamento homeopático não busca eliminar apenas os sintomas da doença e sim estimularo organismo a se fortalecer. Logo, o tratamento homeopático é eficaz para curar o doente, e não apenas aliviá-lo (BRASIL, 2011a). Já o tratamento alopático busca, por meio dos medicamentos de ação química, eliminar os sintomas e manifestações da doença pelo chamado princípio dos contrários. Por exemplo: uso de laxante para prisão de ventre (BRASIL, 2011a). Essa anulação de sintomas normalmente não combate a origem e as causas da doença. Na maioria dos casos, há grande alívio, mas apenas durante o tratamento (BRASIL, 2011a). 4 ORIGEM DO PRINCÍPIO ATIVO É importante sabermos qual a procedência dos medicamentos e a diferença de um medicamento inovador, seu similar e seu genérico. Esse conhecimento é necessário para seguirmos algumas legislações, que permitem a intercambialidade de medicamentos, e também para a orientação correta à população consumidora. 4.1 MEDICAMENTOS DE REFERÊNCIA E/OU INOVADORES Um produto inovador é aquele registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária e comercializado no país, cuja eficácia, segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente por ocasião do registro. A empresa interessada em registrar medicamentos genéricos e/ou similares deverá utilizar obrigatoriamente o medicamento de referência (BRASIL, 2020). A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 35, de 15 de junho de 2012, dispõe sobre os critérios de indicação, inclusão e exclusão de medicamentos na Lista de Medicamentos de Referência. Assista ao vídeo, a seguir, para fixar o conhecimento dos medicamentos homeopáticos e alopáticos: https://www.youtube.com/watch?v=tn0VAvqUg0Q. DICAS https://www.youtube.com/watch?v=tn0VAvqUg0Q 100 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA FIGURA 10 – EXEMPLO DE MEDICAMENTO DE REFERÊNCIA FONTE: <https://bit.ly/3gAYukF>. Acesso: 29 jul. 2020. 4.1.1 Medicamentos genéricos Contém o mesmo princípio ativo, na mesma dose e forma farmacêutica, é administrado pela mesma via e com a mesma posologia e indicação terapêutica do medicamento de referência, apresentando eficácia e segurança equivalentes à do medicamento de referência e podendo, com este, ser intercambiável. A intercambialidade, ou seja, a segura substituição do medicamento de referência pelo seu genérico, é assegurada por testes de equivalência terapêutica, que incluem comparação in vitro, através dos estudos de equivalência farmacêutica, e in vivo, com os estudos de bioequivalência apresentados à Anvisa. Os medicamentos genéricos podem ser identificados pela tarja amarela, na qual se lê “Medicamento Genérico”. Além disso, deve constar na embalagem a frase “Medicamento Genérico Lei nº 9.787/1999”. Como os genéricos não têm marca, o que você lê na embalagem é o princípio ativo (BRASIL, 2020). Acesse a RDC nº 35/2012 na íntegra em: https://pfarma.com.br/noticia-setor- farmaceutico/legislacao-farmaceutica/891-rdc-35-2012-norma-lista-medicamentos- referencia.html. DICAS TÓPICO 2 — TIPOS DE MEDICAMENTOS 101 FIGURA 11 – APRESENTAÇÃO DO MEDICAMENTO GENÉRICO FONTE: <https://bit.ly/2KbRjDw>. Acesso em: 30 jul. 2020. Na década de 1970, deu-se o início do processo de discussão sobre os medicamentos genéricos no país, culminando com a publicação do Decreto nº 793/1993, revogado pelo Decreto nº 3.181, de 23 de setembro de 1999, que regulamentou a Lei nº 9.787, de 10 de fevereiro de 1999 (BRASIL, 2020). Durante a década de 1990, com a aprovação da Lei nº 9.787, de 10 de fevereiro de 1999, foram criadas as condições para a implantação de medicamentos genéricos, em consonância com normas adotadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por países da Europa, além de Estados Unidos e Canadá (BRASIL, 2020). Em 3 de fevereiro de 2000, iniciou-se a concessão dos primeiros registros de medicamentos genéricos. Naquele ano foram concedidos 182 registros de medicamentos genéricos e tomadas as ações para implementar a produção desses medicamentos, inclusive com incentivo à importação (BRASIL, 2020). Leia a Lei nº 9.787/99 na íntegra em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9787.htm#:~:text=L9787&text=LEI%20N%C2%BA%209.787%2C%20DE%2010%20DE%20 FEVEREIRO%20DE%201999.&text=Altera%20a%20Lei%20no,farmac%C3%AAuticos%20 e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias. DICAS http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9787.htm#:~:text=L9787&text=LEI N%C2%BA 9.787%2C DE 10 DE FEVEREIRO DE 1999.&text=Altera a Lei no,farmac%C3%AAuticos e d%C3%A1 outras provid%C3%AAncias. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9787.htm#:~:text=L9787&text=LEI N%C2%BA 9.787%2C DE 10 DE FEVEREIRO DE 1999.&text=Altera a Lei no,farmac%C3%AAuticos e d%C3%A1 outras provid%C3%AAncias. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9787.htm#:~:text=L9787&text=LEI N%C2%BA 9.787%2C DE 10 DE FEVEREIRO DE 1999.&text=Altera a Lei no,farmac%C3%AAuticos e d%C3%A1 outras provid%C3%AAncias. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9787.htm#:~:text=L9787&text=LEI N%C2%BA 9.787%2C DE 10 DE FEVEREIRO DE 1999.&text=Altera a Lei no,farmac%C3%AAuticos e d%C3%A1 outras provid%C3%AAncias. 102 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA 4.1.2 Vantagens dos medicamentos genéricos • Disponibilizar medicamentos de menor preço, uma vez que o medicamento genérico deve ser, no mínimo, 35% mais barato que o medicamento de referência. • Reduzir os preços dos medicamentos de referência, com a entrada de medicamentos concorrentes (genéricos). • Contribuir para aumento do acesso a medicamentos de qualidade, seguros e eficazes. Desde a criação da lei dos medicamentos genéricos, o registro desses medicamentos pela Anvisa teve um número significativo por ano, conforme demonstrado na Figura 12. FIGURA 12 – NÚMERO DE MEDICAMENTOS GENÉRICOS REGISTRADOS POR ANO FONTE: <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/medicamentos/genericos/estatisticas/arqui- vos/6462json-file-1>. Acesso em: 29 jul. 2020. 4.1.3 Medicamentos similares Contêm o mesmo ou os mesmos princípios ativos e apresentam mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica, que são equivalentes ao medicamento registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, podendo deferir somente em características relativas a tamanho e forma do produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipiente e veículo, devendo sempre ser identificado por nome comercial e marca (BRASIL, 2020). TÓPICO 2 — TIPOS DE MEDICAMENTOS 103 4.1.4 Medicamentos manipulados Os medicamentos manipulados são aqueles preparados diretamente na farmácia, pelo profissional farmacêutico, a partir das fórmulas inscritas no Formulário Nacional ou Internacional reconhecidas pela Anvisa, ou ainda a partir de uma prescrição de profissional habilitado, que estabeleça em detalhes sua composição, forma farmacêutica, posologia e modo de usar (BRASIL, 2012). O processo de elaboração de um medicamento manipulado exige um rígido controle, já que, na maioria das vezes, o seu quantitativo impede uma análise farmacopeica de avaliação da qualidade do produto final. Essa qualidade é obtida por meio de um processo de formulação totalmente controlado, que conduz ao produto final. Para tal, é necessário ter em mãos insumos farmacêuticos oriundos de fornecedores qualificados e com certificados analíticos bem elaborados e que traduzam a real especificidade do insumo, segundo requisitos farmacopeicos (BRASIL, 2012). O processo magistral, realizado de forma artesanal, é seguro, pois tem base em procedimentos rigorosos por profissionais especializados e preparados ao desempenho de suas funções, legitimamente amparadas pela legislação em vigor (BRASIL, 2012). O medicamento manipulado é produzido de forma personalizada, ou seja, para atender a uma necessidade particular de um paciente e para uso imediato. Por isso, não se atribui a ele um prazo de validade e sim uma data limite para o uso (prazo de uso), que pode variar de alguns dias até poucos meses. Os critérios para definição do prazode uso são, portanto, diferentes daqueles aplicados nos estudos de prazo de validade dos produtos industrializados (BRASIL, 2012). Para garantir segurança, eficácia e qualidade do produto manipulado, são necessários cálculos corretos, medidas exatas, condições e procedimentos apropriados para o desenvolvimento de formulação, insumos de qualidade e prudente julgamento do farmacêutico, que deve ser um profissional qualificado para esse fim. Além disso, uma fórmula adequada com um perfil de estabilidade comprovado deve ser procurada em literatura específica (BRASIL, 2012). 4.1.5 Intercambialidade de medicamentos • Bioequivalência, os produtos farmacológicos são considerados equivalentes farmacêuticos se tiverem os mesmos ingredientes ativos e forem idênticos em potência ou concentração, apresentação e via de administração. Em termos farmacêuticos, dois fármacos equivalentes são considerados bioequivalentes quando as taxas e amplitudes da biodisponibilidade do ingrediente ativo em dois produtos não forem significativamente diferentes sob condições experi- mentais adequadas (BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006). Consiste na demons- tração de equivalência farmacêutica entre produtos apresentados sob a mesma forma farmacêutica, contendo idêntica composição qualitativa e quantitativa 104 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA de princípio(s) ativo(s), e que tenham comparável biodisponibilidade, quando estudados sob um mesmo desenho experimental (BRASIL, 2009). FIGURA 13 – INTERCAMBIALIDADE DE MEDICAMENTOS DE REFERÊNCIA, GENÉRICO E SIMILAR FONTE: <https://www.mypharma.com.br/blog/intercambialidade-medicamentos/>. Acesso em: 29 jul. 2020. • Biodisponibilidade: indica a velocidade e a extensão de absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem, a partir de sua curva concentração versus tempo na circulação sistêmica ou sua excreção na urina (BRASIL, 2020). • Denominação Comum Brasileira (DCB): denominação do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo aprovado pelo órgão federal responsável pela vigilância sanitária (Lei nº 9.787/1999; BRASIL, 2020). • Denominação Comum Internacional (DCI): denominação do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo recomendado pela OMS (BRASIL, 2020). https://www.mypharma.com.br/blog/intercambialidade-medicamentos/ 105 FIGURA 14 – NOMENCLATURA FARMACÊUTICA FONTE: <http://enfermagembio.blogspot.com/2015/01/nomenclatura-dos-farmacos.html>. Acesso em: 30 jul. 2020. • Produtos farmacêuticos intercambiável: equivalente terapêutico de um medicamento de referência, comprovados, essencialmente, os mesmos efeitos de eficácia e segurança (BRASIL, 2020). Quando o medicamento é um equivalente, ele deverá obrigatoriamente vir com o símbolo (EQ; Figura 15). FIGURA 15 – MEDICAMENTO DE MARCA SIMILAR EQUIVALENTE FONTE: <https://www.novaquimicafarma.com.br/>. Acesso em: 20 jul. 2020. A seguir, vamos observar na Figura 16 uma representação das principais diferenças entre os medicamentos. http://enfermagembio.blogspot.com/2015/01/nomenclatura-dos-farmacos.html https://www.novaquimicafarma.com.br/ 106 FIGURA 16 – DIFERENÇAS ENTRE OS MEDICAMENTOS DE REFERÊNCIA, GENÉRICO E SIMILAR EQUIVALENTE FONTE: <https://bit.ly/3gwgQn6>. Acesso em: 29 jul. 2020. Na prática, a Figura 17 mostra exemplos de embalagens de medicamentos comuns no mercado brasileiro. FIGURA 17 – EMBALAGENS DE MEDICAMENTOS PARA COMPARAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3oAC8CE>. Acesso em: 29 jul. 2020. Com essa imagem, você consegue identificar qual é o medicamento referência, o similar e o genérico? Confira a lista de medicamentos de referência no link: https://pt.slideshare.net/ docanto/medicamentos-de-referncia-anvisa. DICAS 107 5 ELEMENTOS DO MEDICAMENTO Há uma infinidade de embalagens diferentes de medicamentos no mercado, as quais devem ser resultado de compromisso do fabricante com a qualidade, representada por alguns fatores, como a função física de manuseio e proteção do produtor, consumidor e meio ambiente, a função competitiva de comunicação e a função econômica, relacionada ao custo total do produto (FIORENTINO et al., 2008). As funções das embalagens podem ser resumidas em: • Acondicionamento: conter o produto acondicionado, isto é, em uma embalagem capaz de resistir a qualquer reação devido às substâncias contidas no produto. • Proteção: proteger o produto do manuseio, da ação de agentes externos, como oxigênio, temperatura etc., que podem danificar o produto. • Comunicação: informar de forma inequívoca todas as características, formas de uso, manuseio e cuidados, bem como o número do lote e prazo de validade. • Utilidade: função na qual o tipo de embalagem, formato, tamanho e apresentação estão diretamente relacionados ao uso que será dado. Por exemplo, um blister, uma seringa, um gotejador (AULTON, 2016). A embalagem, o rótulo e a bula dos medicamentos devem transmitir todas as informações relevantes sobre o produto, contribuindo para o seu uso adequado (BRASIL, 2010). Devem conter informações obrigatórias sobre o medicamento, estabelecidas por resoluções publicadas pela Anvisa. A indústria responsável pelo medicamento tem obrigação legal de prestar todas as informações necessárias para o uso adequado e os possíveis problemas e cuidados relacionados ao produto (BRASIL, 2010). 5.1 EMBALAGEM As embalagens têm como finalidade proteger os medicamentos de agentes externos, como calor, luz e umidade, de forma a garantir a não ocorrência de degradação que comprometa a qualidade do produto. Os tipos de embalagem de medicamentos são divididos em: • Embalagem primária: tem contato direto com o produto e é a maior barreira de proteção; como exemplos, podemos citar o blister e o frasco de vidro. • Embalagem secundária: protege a embalagem primária, como cartuchos (caixinhas que envolvem a embalagem primária). • Embalagem terciária: contém a embalagem primária e secundária, para que haja melhor transporte – caixa de papelão é o exemplo mais comum. • Bisnaga: recipiente flexível para semissólidos e cremes. • Blister: bandeja moldada com selagem laminada, para comprimidos e pílulas. 108 • Frasco: recipiente rígido para líquidos, geralmente de plástico ou vidro. Na embalagem secundária, deve constar algumas informações importantes: • Nome comercial do medicamento (ausente em genéricos). Em caso de medicamentos fitoterápicos, deve ser apresentado o nome botânico da planta. • Denominação genérica. • Nome, endereço e CNPJ da empresa produtora. • Nome do fabricante e local de fabricação do produto. • Número do lote. • Data de fabricação (mês e ano). • Data da validade (mês e ano). • Número do registro (MS seguido do número, constando 13 números). • Composição do medicamento, quantidade e via de administração. • Nome do farmacêutico responsável técnico e número de inscrição no Conselho Regional de Farmácia (CRF). • Telefone do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC). • Lacre de segurança (toda embalagem deve estar lacrada). • Tinta reativa que, quando raspada com metal, deve apresentar a palavra qualidade e nome do laboratório ou selo de rastreabilidade. Além do atendimento de suas funções, os projetos de embalagem devem adequar-se à manufatura sem deixar de considerar os aspectos logísticos, o cumprimento das legislações específicas e as questões ambientais relacionadas ao descarte. A rastreabilidade de medicamentos é o conjunto de procedimentos que permite traçar o histórico, a aplicação ou a localização de medicamentos, por meio de informações previamente registradas, mediante sistema de identificação exclusivo de produtos, prestadores de serviços e usuários, a ser aplicado no controle de toda e qualquer unidade de medicamento produzido, dispensado ou vendido em território nacional. A rastreabilidade é um tema debatido no setor farmacêutico brasileiro desde a Lei nº 11.903, de 2009, que dispõe sobre a criação de um Sistema Nacional de Controle de Medicamentos. A legislação propõe que, por meio da tecnologiade rastreabilidade, seja traçado o histórico, a custódia atual ou a última destinação conhecida dos medicamentos. A rastreabilidade tem diversas funções importantes para a saúde pública e as questões sanitárias. Caso seja necessário realizar um recall de um medicamento (recolhimento de um lote por algum motivo de desvio de qualidade), a empresa fabricante saberá exatamente onde deve buscar o produto e como tirá-lo do mercado de forma rápida, evitando danos à população (MÜLLER; LEONARDI, 2018). NOTA 109 É preciso considerar que, para cada situação, o que inclui tipo de medicamento (pH, química envolvida, dispensação), dosagem, via de administração, indicação de uso, linha de tratamento, forma farmacêutica, entre outros fatores, deve ser analisado qual o melhor tipo de embalagem e material a ser utilizado, seguindo as diretrizes ofi ciais para confecção e manipulação de cada produto. FIGURA 18 – TIPOS DE EMBALAGEM DE MEDICAMENTOS FONTE: <https://www.optelgroup.com.br/agregacao-de-medicamentos-serializados/>. Acesso em: 7 ago. 2020. 5.2 TARJA Apesar de os medicamentos apresentarem benefícios, também há possibilidade de riscos, conhecidos como efeitos adversos, que variam de acordo com as propriedades químicas das substâncias presentes em sua composição, bem como com as características do usuário do medicamento (idade, etnia, condição clínica). Os efeitos colaterais nocivos dos medicamentos (ou reações adversas) e a capacidade de ocasionar dependência são os principais riscos associados ao uso de medicamentos. Para indicar o potencial de risco de cada tipo de medicamento, seguindo também o quadro clínico a que ele é destinado, os medicamentos foram divididos em categorias, que podem ser identifi cadas na embalagem externa do produto farmacêutico da seguinte forma: sem tarja, com tarja vermelha e com tarja preta. Os medicamentos não tarjados são aqueles que, embora possam apresentar risco em potencial associado ao uso, ele é considerado pequeno e o quadro clínico a que são destinados é de baixa gravidade. Os medicamentos de tarja vermelha apresentam maior risco ao usuário, quando comparados aos não tarjados, além de serem empregados para situações clínicas crônicas e de maior gravidade. Por isso, só devem ser utilizados por pacientes que passaram previamente em consulta médica. 110 Os medicamentos com tarja preta requerem maior risco de atenção, no que diz respeito à segurança dos seus usuários. O potencial de risco associado ao uso desses produtos obriga a apresentação de prescrição médica na farmácia, para a aquisição do produto. As substâncias presentes nesse tipo de medicamento apresentam, além dos riscos de reações adversas graves, o potencial de ocasionar dependência (ASCORFEJ, 2014). Assim, cada cor de tarja tem sua receita correspondente: • os medicamentos com tarja vermelha (ou amarela no caso dos genéricos) devem ser vendidos somente com a apresentação da receita por profissional habilitado. • os medicamentos com tarja preta exigem receita azul. FIGURA 19 – RESUMO DAS DIFERENÇAS ENTRE MEDICAMENTOS SEM TARJA E COM TARJAS VERMELHA E PRETA FONTE: <https://cemedmg.wordpress.com/2017/07/07/o-que-sao-medicamentos-isentos-de- -prescricao-mips/>. Acesso em: 7 ago. 2020. 5.3 RÓTULO Os rótulos devem apresentar informações adequadas para dispensação e uso de medicamento, armazenamento correto e rastreamento, desde a sua fabricação até o consumo. Em algumas situações, devem alertar sobre os riscos do uso do produto para alguns grupos, como diabéticos, celíacos e alérgicos, podendo conter orientações adicionais (BRASIL, 2010). Medicamentos isentos de prescrição, como analgésicos, antitérmicos, ácidos e xaropes para tosse, entre outros Sem Tarja Tarja preta Possuem inscrição "venda sob prescrição médica". Anticoncepcionais antifúngicos, al- guns remédios para doenças crônicas, como hipertensão, entre outros, estão neste grupo. Podem causar graves efeitos colaterais e possuem contra-in- dicações Possuem inscrição "venda sob pres- crição médica" - só pode ser vendido com retenção da re- ceita. Antibióticos e algumas classes de anti-inflamatórios estão neste grupo São os medicamen- tos que exercem ação sedativa ou que ativam o siste- ma nervoso central, portanto fazem parte dos chamados psicotrópicos. Só podem ser vendidos com receituário especial de cor azul. Na tarja vem impresso "venda sob prescrição médica - o abuso deste medicamento pode causar depen- dência" Tarja vermelha (sem retenção de receita) Tarja vermelha (com retenção de receita) https://cemedmg.wordpress.com/2017/07/07/o-que-sao-medicamentos-isentos-de-prescricao-mips/ https://cemedmg.wordpress.com/2017/07/07/o-que-sao-medicamentos-isentos-de-prescricao-mips/ 111 5.4 BULA A bula é um documento legal sanitário que serve para obter informações e orientações sobre medicamentos necessários para uso seguro e tratamento eficaz. Ela pode ser de dois tipos: bula para o paciente (com termos acessíveis e diretos) e bula para os profissionais de saúde (com termos mais técnicos e informações mais complexas). Para mais informações sobre as bulas dos medicamentos, acesse: https:// www.gov.br/anvisa/pt-br/acessoainformacao/perguntasfrequentes/medicamentos/bulas. DICAS 112 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A alopatia utiliza o medicamento para produzir, no organismo, reação contrária aos sintomas. • A homeopatia baseia-se no princípio do “semelhante cura semelhante”. • Os medicamentos de referência e/ou inovadores são registrados e comercializados com eficácia, segurança e qualidade comprovados cientificamente. Esses medicamentos têm dez anos de patente e só depois desse período pode ser comercializado seu genérico ou similar. • Os medicamentos genéricos são aqueles com o mesmo princípio ativo, mesma dose e indicação terapêutica do medicamento de referência. • Os medicamentos similares são aqueles que contêm o mesmo princípio ativo, mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação do medicamento de referência. • Os medicamentos manipulados são aqueles preparados diretamente pelo farmacêutico em farmácias de manipulação. • Os medicamentos bioequivalentes são aqueles considerados equivalentes farmacêuticos, sendo permitida, pela legislação, a troca de um medicamento de referência pelo bioequivalente. • A embalagem, o rótulo e a bula dos medicamentos devem transmitir as informações relevantes dos produtos. 113 1 A lei, que dispõe sobre a vigilância sanitária, estabelece o medicamento genérico, trata sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos e dá outras providências. Qual é a lei que se refere à criação do medicamento genérico? a) b) c) d) ( ) Lei nº 9.787. ( ) Lei nº 8.080. ( ) Lei nº 5.991. ( ) Lei nº 13.021. 2 O medicamento similar é aquele que contém o mesmo princípio ativo, apresenta a mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica. Quais são as únicas características que o medicamento similar pode diferir do medicamento de referência? a) b) c) d) ( ) Posologia, forma farmacêutica. ( ) Via de administração e indicação terapêutica. ( ) Posologia e via de administração. ( ) Tamanho e formato do produto. 3 A intercambialidade de medicamentos corresponde à substituição de produtos com a mesma qualidade, eficácia e segurança para o sucesso do tratamento. Quando chega uma prescrição na farmácia, por qual medicamento você pode trocar o medicamento de referência que foi prescrito? a) b) c) d) ( ) Somente pelo referência. ( ) Somente pelo similar (que não é bioequivalente). ( ) Somente pelo genérico. ( ) Pelo genérico ou pelo similar. AUTOATIVIDADE 114 115 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Os medicamentos isentos de prescrição (MIPs), também chamados de medicamentos de venda livre ou over the conter (OTC, que significa sobre o balcão), são, segundo oMinistério da Saúde, aqueles cuja dispensação não requerem receita de um profissional prescritor habilitado (COSTA, 2005). Geralmente, os MIPs são indicados para doenças com alta morbidade e baixa gravidade e são considerados de elevada segurança de uso, eficácia comprovada cientificamente ou de uso tradicional reconhecido, de fácil utilização e baixo risco de uso abusivo; são exemplos os antiácidos, os analgésicos e os antieméticos (CRF-SP, 2010). O fácil acesso aos MIPs torna-os diretamente atrelados à automedicação – prática comum devido à dificuldade de atendimento médico (CRF-SP, 2010). A automedicação, condenada por muitos, em alguns casos, quando feita de forma correta, pode ser desejável. A OMS define a automedicação responsável como “prática dos indivíduos em tratar seus próprios sintomas e males menores com medicamentos aprovados e disponíveis sem a prescrição médica e que são seguros quando usados segundo as instruções” (CRF-SP, 2010), recomendando-a como forma de desonerar o sistema público de saúde. Em EUA, Canadá, Japão e países da União Europeia, a automedicação é prática consolidada, sendo a automedicação responsável praticada principalmen- te para tratamento de sintomas e doenças sem gravidade, como gripe, resfriado, dores de cabeça comuns, alguns tipos de micoses, dores musculares, entre outras enfermidades (CRF-SP, 2010). No Brasil, a Portaria nº 2, de 24 de janeiro de 1955, define os seguintes medicamentos como de venda livre ou isentos de prescrição: • profiláticos da cárie; • antissépticos bucais; • soluções isosmóticas de cloreto de sódio para uso oftálmico; • produtos para uso oftálmico, com ação emoliente ou protetora; • antiácidos simples ou associados com antifiséticos ou carminativos, antifiséticos simples e carminativos simples; • colagogos e coleréticos; TÓPICO 3 — MEDICAMENTOS COM EXIGÊNCIA E ISENTOS DE PRESCRIÇÃO 116 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA • laxantes suavizantes e emolientes, e laxantes incrementadores de bolo fecal; • absorventes intestinais; • digestivos contendo exclusivamente enzimas; • suplementos dietéticos com vitaminas, suplementos dietéticos proteicos, e produtos para dietas especiais; • tônicos e reconstituintes para uso oral; • hidratantes eletrolíticos orais; • preparações contendo ferro; • emolientes e protetores de pele e mucosas, queratolíticos e queratoplásticos, agentes cicatrizantes, adstringentes, rubefacientes, antissépticos e desinfetantes; • analgésicos não narcóticos; • balsâmicos e mucolíticos, unguentos percutâneos, inalantes tradicionais; • anti-inflamatórios não esteroidais de uso tópico; • produtos fitoterápicos; • vitaminas em geral ou associadas com sais minerais. 2 MEDICAMENTOS ISENTOS DE PRESCRIÇÃO No Brasil, a questão de medicamentos é paradoxal: por um lado, a população sofre com a falta de acesso aos medicamentos, por outro, há o consumo irracional estimulado pela automedicação e pela concepção errônea de medicamento como simples mercadoria, isenta de risco. A automedicação é uma realidade evidente, devido às carências e aos hábitos da população, à propaganda abusiva de medicamentos, aos medicamentos disponibilizados ao consumidor (autoatendimento) e também pelo fato de o usuário, muitas vezes, não solicitar orientação do profissional farmacêutico quando vai à farmácia (CRF-SP, 2010). Todos os países, independentemente de seu grau de desenvolvimento, precisam de meios para assegurar o uso racional e custo-efetividade dos medicamentos. Nesse sentido, os farmacêuticos podem desempenhar um papel- chave no atendimento às necessidades do indivíduo e da sociedade (OPAS/OMS, 2004). Esses profissionais devem ampliar sua responsabilidade para além dos produtos, das estruturas químicas e da farmacologia, envolvendo os pacientes e suas condições médicas (CRF-SP, 2010). Para que ocorra o uso correto, seguro e racional de medicamentos, os farmacêuticos precisam se conscientizar da importância dos MIPs, pois essa classe terapêutica está sob sua responsabilidade e deve ser usada como a principal ferramenta para tratamentos de sintomas menores de baixa gravidade, passíveis de orientação farmacêutica e automedicação (CRF-SP, 2010). A dispensação de medicamentos, isentos ou não de prescrição, deve ser entendida como um processo de atenção à saúde. Quando a dispensação é acompanhada de orientação adequada, os riscos relativos ao medicamento diminuem, contribuindo para que os estabelecimentos farmacêuticos sejam um verdadeiro estabelecimento de saúde (CRF-SP, 2010). TÓPICO 3 — MEDICAMENTOS COM EXIGÊNCIA E ISENTOS DE PRESCRIÇÃO 117 No site da Anvisa, você encontrará todas as informações e resoluções sobre MIP: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/acessoainformacao/perguntasfrequentes/medicamentos/ medicamentos-isentos-de-prescricao. DICAS Você sabe o que é dispensar um medicamento? É o ato de assegurar que o medicamento de boa qualidade seja entregue ao paciente certo, na dose prescrita, na quantidade adequada, com a embalagem adequada (para preservação da qualidade do produto) e que sejam fornecidas informações suficientes para seu uso correto. Os objetivos da dispensação são: garantir o cumprimento da prescrição, contribuir na adesão do paciente ao tratamento, minimizar erros de prescrição, proporcionar atenção farmacêutica e informar sobre o uso correto (ANGONESI; RENNO, 2011). NOTA 3 MEDICAMENTOS COM PRESCRIÇÃO O farmacêutico deve ter conhecimento sobre os tipos de receitas para a prescrição de medicamentos controlados. Essa prescrição só pode ser feita por profissionais habilitados, sendo eles médicos, dentistas e veterinários. O farmacêutico é responsável por avaliar as receitas antes da dispensação. 3.1 TIPOS DE PRESCRIÇÃO Existem leis específicas que o farmacêutico deve seguir, como a Portaria nº 344/1998 e todas as suas atualizações, que tratam dos medicamentos controlados, e a Resolução nº 20/2011, que trata dos medicamentos antimicrobianos que, a partir do ano de 2011, também fazem parte da lista de medicamentos controlados. A Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (SVS/MS) é a principal legislação nacional sobre o comércio de medicamentos sujeitos a controle especial. Nela, as substâncias estão distribuídas em listas que determinam a forma como devem ser prescritas e dispensadas (Figura 20). Essas listas são atualizadas por meio de Resoluções de Diretoria Colegiada (RDC) da Anvisa e devem ser acessadas por todos os profissionais que trabalham com substâncias sujeitas a controle especial (CRF-PR, 2015). 118 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA FIGURA 20 – RESUMO DO RECEITUÁRIO, PRESCRIÇÃO E BALANÇOS DE MEDICAMENTOS SUJEITOS A CONTROLE ESPECIAL FONTE: <https://crf-pr.org.br/uploads/pagina/25664/Manual_Dispensacao_de_Medicamen- tos_4_Edicao.pdf>. Acesso em: 7 ago. 2020. Para facilitar o entendimento das informações da Figura 20, as siglas apresentadas correspondem a: notificação de receita (NR); apresentação injetável (Inj); balanço de substâncias psicoativas e outras sujeitas a controle especial (BSPO); balanço de medicamentos psicoativos e outros sujeitos a controle especial (BMPO); relação mensal de notificações de receita A (RMNRA); relação mensal de notificações de receita B2 (RMNRB2). Já em caso de substâncias sujeitas a controle especial, os medicamentos devem ser guardados sob chave ou outro dispositivo que ofereça segurança, em local exclusivo para esse fim e sob a responsabilidade do farmacêutico. Sua dispensação deve ser feita exclusivamente por farmacêuticos, sendo proibida a delegação da responsabilidade sobre o controle dos medicamentos a outros funcionários (CRF-PR, 2015). As prescrições de medicamentos, tanto controlados quanto antimicrobia- nos, valem em todo território nacional. https://crf-pr.org.br/uploads/pagina/25664/Manual_Dispensacao_de_Medicamentos_4_Edicao.pdf https://crf-pr.org.br/uploads/pagina/25664/Manual_Dispensacao_de_Medicamentos_4_Edicao.pdfTÓPICO 3 — MEDICAMENTOS COM EXIGÊNCIA E ISENTOS DE PRESCRIÇÃO 119 O receituário é o papel utilizado para a prescrição de medicamentos. Já a receita é a prescrição escrita de medicamentos, contendo orientação de uso para o paciente, efetuada por profissional legalmente habilitado. • Receituário simples: é utilizada para a prescrição de medicamentos anódinos e de medicamentos de tarja vermelha, com os dizeres venda sob prescrição médica, e segue as regras descritas na Lei nº 5.991/1973. • Receita branca: receituário de controle especial, é utilizada para a prescrição de medicamentos à base de substâncias contidas na lista C1. Os medicamentos dessa lista contêm tarja vermelha (Figura 21). • Receita azul: também conhecida como receita B, é um impresso padronizado de cor azul, utilizado para a prescrição de medicamentos que contenham substâncias da lista B1 e B2. Terá validade por 30 dias a partir da emissão (Figura 22). • Receita amarela: a notificação de Receita A é um impresso de cor amarela para os medicamentos da lista A1, A2 e A3 (Figura 23). • Notificação de Receita Especial de Retinoides: receita de cor branca, específica para prescrição de retinoides de uso oral (Figura 24). Leia na íntegra o texto da RDC nº 344/1998 em: https://www.cff.org.br/userfiles/ file/portarias/344.pdf. Confira também a RDC nº 20/2011 em: https://bvsms.saude.gov.br/ bvs/saudelegis/anvisa/2011/rdc0020_05_05_2011.html. DICAS https://www.cff.org.br/userfiles/file/portarias/344.pdf https://www.cff.org.br/userfiles/file/portarias/344.pdf 120 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA FIGURA 21 – RECEITA BRANCA: RECEITUÁRIO DE CONTROLE ESPECIAL FONTE: <https://bit.ly/3oEg7mD>. Acesso em: 8 ago. 2020. FIGURA 22 – RECEITA AZUL FONTE: <https://bit.ly/2W4gTNm>; <https://bit.ly/3qMxtzG>; <https://bit.ly/3gGGTbd>. Acesso em: 4 ago. 2020. TÓPICO 3 — MEDICAMENTOS COM EXIGÊNCIA E ISENTOS DE PRESCRIÇÃO 121 FIGURA 23 – RECEITA AMARELA FONTE: <https://bit.ly/37Relb9>. Acesso em: 4 ago. 2020. FIGURA 24 – NOTIFICAÇÃO DE RECEITA ESPECIAL DE RETINOIDES FONTE: <https://bit.ly/3m03FvO>; <https://bit.ly/3oASStu>. Acesso em: 7 ago. 2020. 122 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA LEITURA COMPLEMENTAR PREVALÊNCIA DA AUTOMEDICAÇÃO NO BRASIL E FATORES ASSOCIADOS Paulo Sérgio Dourado Arrais Maria Eneida Porto Fernandes Tatiane da Silva Dal Pizzo Luiz Roberto Ramos Sotero Serrate Mengue Vera Lucia Luiza Noemia Urruth Leão Tavares Mareni Rocha Farias Maria Auxiliadora Oliveira Andréa Dâmaso Bertoldi Medicamentos são importantes bens sociais. Sua utilização pela população brasileira é alta e influenciada por vários fatores, como o aumento da expectativa de vida da população e o consequente aumento da carga de doença crônica, o surgimento de novas e velhas doenças transmissíveis, o aumento da prevalência dos transtornos de humor, as doenças resultantes da degradação do meio ambiente, da poluição ambiental e das mudanças climáticas, e os crescentes investimentos financeiros por parte do governo brasileiro para garantir o acesso universal aos serviços de saúde. Apesar dos avanços conquistados ao longo dos anos, persistem dificuldades de acesso, demora e baixa qualidade do atendimento nos serviços de saúde, tanto do setor público quanto do privado. Soma-se a esses aspectos, a veiculação de propagandas de medicamentos isentos de prescrição na mídia, a presença da “farmacinha” caseira nos domicílios e a crença de que os medicamentos resolvem tudo – constituindo fatores importantes para a prática da automedicação. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 1998) define automedicação como a seleção e o uso de medicamentos sem prescrição ou supervisão de um médico ou dentista. A automedicação é um fenômeno mundial e sua prevalência difere em função da população estudada, do método e do período recordatório utilizado: na Alemanha, a prevalência de uso de medicamentos por automedicação foi de 27,7%; em Portugal, de 26,2%; na Espanha, de 12,7%; em Cuba, de 7,3%; em Atenas-Grécia, de 23,4%; na região da Catalunha-Espanha, de 34% entre os homens e 25% entre as mulheres; e em Puducherry-Índia, de 11,9%. No Brasil, poucos estudos de base populacional traçaram o padrão de consumo de medicamentos da população brasileira como um todo. No estudo de Carvalho et al. (2005), a prevalência geral de utilização de medicamentos pela população maior de 18 anos, nos 15 dias anteriores a entrevista, foi de 49% e a automedicação, de 24,6%. 123 Outros estudos enfocam as populações de municípios brasileiros. Entre os moradores da cidade de São Paulo, com idade acima de 40 anos, a prevalência da automedicação variou entre 27% e 32%; já no estudo da cidade mineira de Bambuí, com pessoas de idade maior ou igual a 18 anos, a prevalência de consumo exclusivo de medicamentos não prescritos foi de 28,8%. Em Santa Maria, Rio Grande do Sul, 76,1% das pessoas entrevistadas afirmaram ter se automedicado pelo menos uma vez. Nesse contexto, considerando os poucos estudos publicados com representatividade nacional, a Pesquisa Nacional sobre Acesso, Utilização Promoção do Uso Racional de Medicamentos (PNAUM), desenvolvida pelo Ministério da Saúde, possibilita avaliar a situação da automedicação no país como temática relevante, dados os riscos inerentes à sua prática (intoxicações medicamentosas e reações adversas) e o possível aumento dos gastos em saúde. FONTE: ARRAIS, P. S. et al. Prevalência da automedicação no Brasil e fatores associados. Rev. Saúde Pública, v. 50, supl. 2, 13s, 2016. Disponível em: https:// www.scielo.br/pdf/rsp/v50s2/pt_0034-8910-rsp-s2-S01518-87872016050006117. pdf. Acesso em: 17 nov. 2020. Leia o artigo na íntegra e reflita sobre a relevância do tema nos dias atuais. DICAS https://www.scielo.br/pdf/rsp/v50s2/pt_0034-8910-rsp-s2-S01518-87872016050006117.pdf https://www.scielo.br/pdf/rsp/v50s2/pt_0034-8910-rsp-s2-S01518-87872016050006117.pdf https://www.scielo.br/pdf/rsp/v50s2/pt_0034-8910-rsp-s2-S01518-87872016050006117.pdf 124 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Os medicamentos isentos de prescrição são aqueles também chamados de venda livre, cuja dispensação não precisa de receita: são indicados para tratamento com alta morbidade e baixa gravidade. • Os medicamentos com prescrição só podem ser dispensados mediante receita de profissional habilitado. • Para os medicamentos controlados, existem duas leis principais: a Portaria nº 344/1998 e a Resolução nº 20/2011. • Existem alguns tipos de receita para a dispensação dos medicamentos, sendo elas a branca (com duas vias), a azul e a amarela. • O farmacêutico tem por responsabilidade avaliar sempre as prescrições. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 125 1 Os medicamentos tarjados são aqueles que necessitam de uma prescrição médica para serem adquiridos. Qual é a cor da tarja dos medicamentos que só podem ser dispensados com receita azul? a) b) c) d) ( ) Tarja preta. ( ) Tarja Vermelha. ( ) Tarja Amarela. ( ) Sem Tarja. 2 É um regulamento técnico que regulamenta substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial no Brasil. Qual é a resolução específica dos medicamentos controlados? a) b) c) d) ( ) Portaria nº 344/1998. ( ) Portaria nº 20/2011. ( ) Portaria nº 317/2019. ( ) Portaria nº 586/2013. 3 É um regulamento que dispõe sobre o controle de medicamentos à base de substâncias classificadas como antimicrobianos, de uso sob prescrição, isoladas ou em associação. Qual é a Resolução específica dos medicamentos antimicrobianos? a) b) c) d) ( ) Resolução nº 344/1998. ( ) Resolução nº 20/2011. ( ) Resolução nº 317/2019. ( ) Resolução nº 586/2013. AUTOATIVIDADE 126 REFERÊNCIAS ADAMS, C. P.; BRANTNER, V. V. Spending on new drug development. Health Economics, v. 19, n. 2, p. 130-141,2010. ANGONESI, D.; RENNO, M. U. P. Dispensação farmacêutica: proposta de um modelo para a prática. Ciências e Saúde Coletiva, v. 16, n. 9, p. 3883-3891, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v16n9/a24v16n9.pdf. Acesso em: 17 nov. 2020. ARAÚJO, L. U. et al. Medicamentos genéricos no Brasil: panorama histórico e legislação. Rev Panam Salud Publica, v. 28, n. 6, p. 480-92, 2010. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1020-49892010001200010. Acesso em: 1 ago. 2020. ASCOFERJ – ASSOCIAÇÃO DO COMÉRCIO FARMACÊUTICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. A Importância das definições para medicamentos tarja preta e vermelha. ASCOFERJ, 2014. 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Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 132 133 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A educação permanente dos profissionais de saúde, incluindo o farmacêutico, deve ser constante, pois as pesquisas na área da farmácia são amplas e é dever dos profissionais sempre repassar informações fidedignas à população. A comunicação na área de saúde envolve o estudo e a utilização de estratégias e técnicas de comunicação para informar, orientar e influenciar o indivíduo e/ou uma comunidade. Assim, o farmacêutico é um dos profissionais que terá um primeiro contato com esses indivíduos. Essa educação traz como responsabilidade o esforço técnico e comunicativo a favor da saúde e do bem-estar do paciente que busca orientação com o profissional. 2 EDUCAÇÃO EM SAÚDE A educação em saúde é uma temática complexa devido às diversas dimensões que a compreendem: política, filosófica, social, religiosa, cultural, além de envolver aspectos práticos e teóricos de indivíduo, grupo, comunidade e sociedade. Como abarca o processo saúde-doença nas duas facetas dessa ação na saúde, faz-se necessária para sua manutenção ou para evitar e/ou retardar a presença de doença e torna-se essencial para a qualidade de vida das pessoas e/ ou para retardar as complicações do processo de adoecimento (SALCI et al., 2013). A concepção de educação em saúde está atrelada aos conceitos de educa- ção e de saúde. Tradicionalmente é compreendida como a transmissão de infor- mações em saúde, com o uso de tecnologias mais avançadas ou não. Concepções críticas e participativas têm conquistado espaço e compreendem a educação em saúde como desenvolvida, para alcançar a saúde, sendo considerada “um conjun- to de práticas pedagógicas de caráter participativo e emancipatório, que perpasse vários campos de atuação e tem como objetivo sensibilizar, conscientizar e mobi- lizar para o enfrentamento de situações individuais e coletivas que interferem na qualidade de vida” (CANDEIAS, 1997, p. 225). A prática educativa visa ao desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade dos indivíduos pelas decisões diárias que envolvem o seu cuidado com a saúde (empoderamento). Não pode ser entendida como imposição TÓPICO 1 — EDUCAÇÃO FARMACÊUTICA UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO 134 de um saber técnico-científico transmitido de forma vertical pelo profissional da saúde. Nessa perspectiva, educar em saúde não é somente transmitir informações, mas envolve a transformação de saberes e práticas existentes. A educação em saúde está relacionada ao desenvolvimento de responsabilidade nas pessoas por sua própria saúde e pela saúde da comunidade a que pertence, além de possibilitar a participação ativa na vida da comunidade (FRADE, 2006). A educação em saúde na área farmacêutica é definida como um serviço que compreende diferentes estratégias educativas, as quais integram os sabores popular e científico, de modo a contribuir para aumentar conhecimentos, desenvolver habilidades e atitudes sobre os problemas de saúde e seus tratamentos. Tem como objetivo a autonomia dos pacientes e o comprometimento de todos (pacientes, profissionais, gestores e cuidadores) com a promoção da saúde, a prevenção e o controlede doenças, e a melhoria da qualidade de vida. Envolve, ainda, ações de mobilização da comunidade com o compromisso pela cidadania (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2016). 3 EDUCAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS – PRÁTICAS EDUCATIVAS EM SAÚDE O farmacêutico é um educador em saúde (SILVA, 2009). A formação desse profissional prima por um exaustivo estudo dos processos relacionados ao medicamento e às doenças. No entanto, há uma lacuna no que diz respeito aos processos humanos envolvidos na relação farmacêutico-paciente (SILVA, 2009). Para entender e conseguir se comunicar com o paciente, pode-se utilizar a abordagem centrada na pessoa, desenvolvida por Carl Rogers. Trata-se de uma terapia não diretiva que se baseia na construção de uma relação de confiança por meio de consideração positiva incondicional, empatia e congruência (SILVA, 2009). O trabalho de Carl Rogers inspira os profissionais de Farmácia a ouvir atenta e profundamente o paciente, pois ele acredita no potencial de evolução do ser humano e no trato do paciente como agente do seu próprio tratamento, e não como um sujeito passivo; assim, em vez de só esperar os cuidados dos outros, o paciente é estimulado a cuidar de si mesmo (SILVA, 2009). Não existe uma única resposta para todos os problemas, por isso essa sugestão não pretende ser a única resposta, uma vez que é possível desenvolver ideias próprias a respeito de como lidar com o paciente. Na prática, aprendemos que, quanto mais alternativas tivermos diante de um problema, maiores serão as chances de resolvê-lo (SILVA, 2009). O objetivo da comunicação do farmacêutico é instruir sobre cuidados de saúde e utilização correta dos medicamentos. Ele tem que usar uma comunicação TÓPICO 1 — EDUCAÇÃO FARMACÊUTICA 135 simples e clara, para que o paciente consiga entender corretamente as informações (SILVA, 2009). A formação do farmacêutico ainda é centrada no medicamento. É natural que sua preocupação seja a qualidade técnica da informação. Contudo, a atual inserção do profissional na equipe de saúde exige que ele se atualize. Como educador em saúde, ele precisa se comunicar melhor (SILVA, 2009). Na prática, a preocupação com o bem-estar do paciente passa a ser essencial e o farmacêutico assume papel fundamental, somando esforços aos outros profissionais de saúde e à comunidade para a promoção da saúde (VIEIRA, 2007). Nesse sentido, James e Rovers (2003) indicam algumas iniciativas que podem ser implantadas pelo farmacêutico para a melhoria do estado de saúde da comunidade: • acompanhamento e educação do paciente e para o paciente; • avaliação dos seus fatores de risco; • prevenção da saúde; • promoção da saúde e vigilância das doenças. Com a implantação desses serviços, o profissional farmacêutico assume um papel na área clínica, com grande responsabilidade para contribuir com os cuidados de saúde da população. A seguir, vamos descrever, como exemplo, um diálogo entre paciente e far- macêutico: Paciente: – Sabe, eu estava tomando um remédio para aquela maldita dor de garganta. Em três dias, eu já estava bom. Aí sobrou esses aqui, que eu guardei para o caso de alguém lá em casa ficar doente. Farmacêutico: – Sei, mas por quantos dias o médico pediu para que o senhor fizesse o tratamento? Paciente: – Sete. Farmacêutico: – E o senhor interrompeu o tratamento em três dias? – tom de discordân- cia. Paciente: – É. Farmacêutico: – Mas isso não pode ser feito! Se o médico prescreveu o antibiótico por sete dias, é preciso tomá-lo por sete dias. Interromper o tratamento pode levar a uma resistência bacteriana, como futuras complicações para o senhor. Além disso, nenhum medicamento deve ser tomado por conta própria nem prescrito para outra pessoa sem se consultar o médico, especialmente no caso dos antibióticos. O senhor não pode saber se a doença da outra pessoa é a mesma que o senhor teve desta vez e, simplesmente, entregar o seu medicamento. Seguem as explicações... NOTA UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO 136 Paciente: – Hummm... Hum.... Observe, nesse diálogo, que o farmacêutico cumpriu seu dever esclarecendo sobre a utili- zação correta dos medicamentos, informando por que o paciente não podia ter interrom- pido o tratamento. Será que o paciente entendeu o recado? Só o farmacêutico falou, enquanto o paciente só ouviu. As respostas do paciente foram monossilábicas. O farmacêutico deu muitas informações de uma só vez, usando expres- sões técnicas, comuns para o farmacêutico, mas desconhecidas para o paciente. Ele não deu tempo para o paciente pensar nem falar. O paciente precisa ter memória e cultura privilegiada para assimilar, de uma só vez, tudo o que o farmacêutico disse. Portanto, é pouco provável que o paciente “entenda o recado” e utilize corretamente os medicamentos. Para entender a dificuldade do paciente e compreender informações que você classifica como simples e claras, coloque-se no lugar dele (SILVA, 2009). O farmacêutico pode trabalhar para que a comunidade seja informada sobre condições determinantes sobre o seu estado de saúde. É necessário que ela esteja orientada sobre como proceder em relação ao uso de medicamentos e conheça as doenças mais prevalentes em seu meio, bem como as maneiras de preveni-las ou minimizar suas complicações (VIEIRA, 2007). Com o desenvolvimento das habilidades individuais e da comunidade, será possível contar com seu apoio para a realização de movimentos maiores, que tenham em vista a promoção da saúde. O Quadro 1 apresenta algumas ações que podem ser adotadas para alcançar tal objetivo (VIEIRA, 2007). QUADRO 1 – AÇÕES PARA DESENVOLVER AS HABILIDADES DA COMUNIDADE FONTE: Vieira (2007, p. 217) Identificação das necessidades da população/comunidade em relação à informação em saúde (considerando as condições de alimentação, habitação, escolaridade, morbidade e mortalidade, higiene etc. em que vivem os indivíduos). Elaboração de impressos abordando temas relativos ao acondicionamento, prazos de validade, efeitos de uso de medicamentos, bem como a importância da adesão ao tratamento. Palestras sobre as doenças e os medicamentos, dirigidas a grupos específicos, como diabéticos, hipertensos, alcoólatras, pacientes HIV-positivos etc. Elaboração de campanhas para o desenvolvimento do conceito de que o res- tabelecimento da saúde não se restringe à prática terapêutica medicamentosa, mas constitui um conjunto de variáveis que deve ser observado, como hábitos alimentares, de higiene, uso abusivo de drogas lícitas ou ilícitas etc. TÓPICO 1 — EDUCAÇÃO FARMACÊUTICA 137 As Práticas Educativas em Saúde (PES) podem envolver trabalhar junto a famílias, grupos, usuários e trabalhadores da área da saúde, assim como educação inicial em saúde nos cursos de nível médio e superior, educação continuada em saúde, como cursos de atualização e pós-graduação (BAGNATO; RENOVATO, 2006). Logo, ao pensar em PES, não se deve restringir ao encontro apenas entre farmacêutico/profissional da saúde com o usuário/paciente/ser humano, mas aos espaços “entre sujeitos” que ocorrem entre professor e aluno, grupos educativos de uma equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) ou curso de capacitação (RENOVATO, 2017). Assim, as PES não se restringem a ações informativas, orientações ou enfoque somente na técnica, mas envolve intencionalidade educativa, acolhimento, escuta, vínculo, construção/desconstrução, caos/ordem, linguagem verbal/não verbal, olhares, silêncios, permanências/rupturas, adaptações/ resistências, interdições, sentidos e significados (BAGNATO; RENOVATO, 2006). As PES não se conformam tão somente ao campo da saúde ou da farmácia, mas são práticas sociais, culturais e históricas; apresentam racionalidades e podem contribuir para a produção de identidades e subjetividades, embora existam resistências aos processos educativos, como a não adesão ao tratamento farmacológico, simplesmente porque o paciente não compreendeu a doença e não se percebeu hipertenso ou diabético,por exemplo (RENOVATO, 2017). As PES podem ocorrer em diferentes cenários, como Unidades Básicas de Saúde (UBS), hospitais, ambulatórios, escolas, espaço virtual, grupos da comunidade, conversas informais, consulta farmacêutica, entre outros. Essa multiplicidade de espaços pode configurar possibilidades criativas ou resolutivas das PES a serem realizadas pelo farmacêutico, ou seja, permeiam nosso dia a dia (BAGNATO; RENOVATO, 2006). Logo, as PES não se limitam apenas ao momento da dispensação, mas ressoam nas mídias sociais, em consultas virtuais, em impressos adequados à compreensão dos pacientes/usuários, em telefonemas de aconselhamento, na realização de campanhas educativas, no apoio aos cuidadores e familiares desses pacientes/usuários (RENOVATO, 2017). O planejamento e a implementação das PES pelo farmacêutico nos mais variados cenários apresentam algumas características, conforme será visto seguindo propostas de Bagnato e Renovato (2006). 3.1 ESPAÇOS DE ENCONTROS Primeiramente, segundo propostas de Bagnato e Renovato (2006), as PES são tidas como espaços de encontros com os sujeitos, que, por sua vez, têm UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO 138 diferentes saberes, quer em uma farmácia, consulta, visita domiciliar ou outro espaço; consigo, o paciente traz uma biografia repleta de vivências e experiências, logo, isso requer que o farmacêutico considere as diferenças, evitando discursos educativos em saúde padronizados, mas percebendo outras maneiras de olhar e de compreender os vários significados da saúde e da vida. Cada paciente/usuário pode ter vivenciado experiências diferentes sobre o uso do medicamento, como reações adversas ou resultados positivos. Alguns podem ter feito adaptações posológicas, mesmo sem o conhecimento do profissional de saúde; outros associam o uso de medicamentos com plantas medicinais – as possibilidades são inúmeras, sem contar que o acesso pode interferir no uso diário, além da automedicação ser uma prática bem cotidiana. Nesses encontros educativos, ocorre a produção de subjetividade, sentidos e significados, os quais são construídos em um tempo e espaço históricos. Os próprios pacientes/usuários trazem essas representações; por exemplo, para muitos, alguns medicamentos são considerados mais “perigosos” ou mais “sérios”, que é o caso dos antimicrobianos; para outros, como gestantes, a possibilidade de algum dano ao feto reforça a dimensão negativa dos medicamentos, já que elas apresentam medo e insegurança sobre o uso, mesmo prescrito pelo médico. 3.2 RECIPROCIDADE DIALÓGICA Nos encontros educativos, o diálogo é condição indispensável para a concretização das PES. Será apenas por meio dele que o farmacêutico poderá conhecer e obter os dados do paciente/usuário e que as experiências sobre o uso dos medicamentos são compreendidas. Assim, o paciente/usuário expõe os sentidos e significados que tem sobre seu processo de adoecimento, o uso de medicamentos, suas práticas de medicação, sua rotina e suas estratégias de enfrentamento da enfermidade. Suas necessidades são reveladas no diálogo que se dá entre o farmacêutico e o usuário/paciente. Logo, as PES prescindem de espaços em que o diálogo se torne possível. Talvez, em uma dispensação feita de maneira rápida, a possibilidade de comunicação seja comprometida, pois é necessário tempo para que ocorra a reci- procidade dialógica, e, muitas vezes, ela não se concretiza no primeiro momento, mas ao longo de determinado tempo. A perspectiva da longitudinalidade possi- bilita a criação de vínculo e oportuniza espaços de escuta ativa. 3.3 EDUCADOR EM SAÚDE COMO MEDIADOR CULTURAL A cultura está articulada às vivências e às relações que constituem a vida cotidiana, como nossos hábitos alimentares, os sentidos que damos às doenças (por exemplo, o câncer é visto por muitos como algo muito grave e quase uma sentença de morte). Como lidamos com a doença, ou seja, a quem recorremos TÓPICO 1 — EDUCAÇÃO FARMACÊUTICA 139 inicialmente: a uma farmácia ou ao vizinho? Damos mais ênfase à perspectiva curativista ou à possibilidade de prevenir e promover a saúde? Desse modo, o educador em saúde, como mediador cultural, precisa levar em conta o contexto de cada paciente/usuário, pois todos falamos a partir de um lugar, uma história, uma experiência e uma cultura particular. Cabe, ao educador em saúde, compreender que as identidades estão em permanente processo de construção e são construídas pelas práticas e experiências do sujeito. Em relato de idosos, muitas vezes, a fala de que na juventude não faziam uso de medicamentos, mas, agora, ao envelhecer, seu uso é algo normal em sua vida; quanto mais medicamentos eles utilizam, pior acreditam ser o seu estado de saúde. Nesse sentido, esses processos identitários ocorrem ao longo do tempo e, no exemplo relatado, a pessoa idosa é vista como alguém que faz uso de muitos medicamentos. Evidencia-se, assim, a constituição de uma identidade, que pode sofrer transformações ao longo do tempo. O farmacêutico tem várias formas e locais para interagir com a população. Ele é um profissional essencial, pois é reconhecido pela preocupação no bem-estar das pessoas, assumindo papel fundamental para a comunidade na promoção à saúde. 140 Neste tópico, você aprendeu que: • A prática educativa é desenvolvida para a autonomia do indivíduo; o profissional farmacêutico tem o saber técnico científico para transmitir informações para população e outros profissionais de saúde. • A educação em saúde, na área da farmácia, tem como objetivo a promoção da saúde, a prevenção e o controle de doenças. • Na prática farmacêutica, a preocupação com o bem-estar do paciente é essencial. • O farmacêutico deve trabalhar para que a comunidade entenda os fatores determinantes para o estado de saúde da população. • A educação em saúde para as pessoas, realizada pelo farmacêutico, não deve ser resumida somente nas informações sobre os medicamentos, mas também sobre melhorar a qualidade de vida das pessoas. RESUMO DO TÓPICO 1 141 1 Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: I- ( ) II- ( ) Educação em saúde é uma temática complexa devido às diversas dimensões que a compreendem: política, filosófica, social, religiosa, cultural, além de envolver aspectos práticos e teóricos do indivíduo. A educação em saúde na área farmacêutica é definida como um serviço que compreende diferentes estratégias educativas, as quais integram os sabores popular e científico, de modo a contribuir para aumentar conhecimentos, desenvolver habilidades e atitudes sobre os problemas de saúde e seus tratamentos. Assinale a alternativa CORRETA: a) b) c) d) ( ) Somente a sentença II está correta. ( ) As sentenças I e II estão corretas. ( ) Somente a sentença I está correta. ( ) As sentenças I e II estão incorretas. 2 Os autores James e Rovers (2003) indicam algumas iniciativas que podem ser implantadas pelo farmacêutico para a melhoria do estado de saúde da comunidade. Descreva resumidamente como você, como futuro profissional de saúde, poderia desenvolvê-la. a) Acompanhamento e educação do paciente e para o paciente. b) Avaliação dos seus fatores de risco. c) Prevenção da saúde. d) Promoção da saúde e vigilância das doenças. AUTOATIVIDADE 142 143 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO O curso de farmácia visa a formar um profissional com conhecimentos específicos e flexibilidade intelectual que lhe permita trabalhar em todas as áreas de conhecimento, além de interagir com os outros profissionais de saúde, sempre analisando e criando soluções diante de todas as situações com responsabilidade e comprometimento social. A profissão farmacêutica tem várias áreas de atuação. O campo para quem faz farmácia é amplo no Brasil. Há todo um futuro repleto de avanços e oportuni- dades dentro da área, com diversas oportunidades de trabalho. Todas essas áreas serão vistas no decorrer desta unidade. 2 ÁREAS DA FARMÁCIAO Brasil criou o primeiro curso de Farmácia em 1832, no Rio de Janeiro. Até então, o boticário era o profissional autorizado a exercer as funções corres- pondentes às do atual farmacêutico. Em 1931, a profissão foi finalmente regula- rizada, passando a ser exercida apenas por farmacêutico diplomado em institui- ções de ensino oficialmente reconhecidas (CRF-PR, 2015). Para seguir carreira, é preciso ter aptidão em matérias ligadas à Química e à Biologia, que formam a base do conhecimento necessário à formação em Ci- ências Farmacêuticas. O conhecimento sobre a síntese química de um fármaco em particular, o mecanismo de ação, o metabolismo, a distribuição, a excreção, os efeitos fisiológicos e farmacológicos sobre o corpo humano tornam o farmacêuti- co um especialista em produtos com importante função nos resultados esperados pelos pacientes (CRF-PR, 2015). Em linhas gerais, o farmacêutico atua em seis modalidades básicas: • fármacos e medicamentos; • análises clínicas e toxicológicas; • alimentos; • educação; • saúde pública; • práticas integrativas e complementares. TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 144 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO Na modalidade de fármacos e medicamentos, pode-se trabalhar na in- dústria farmacêutica, dedicando-se à pesquisa de novos fármacos e cosméticos ou atuando na produção e no controle de qualidade de medicamentos. As far- mácias de qualquer natureza, com manipulação, fitoterápicas ou homeopáticas, além daquelas instaladas em hospitais ou unidades de saúde, formam também um mercado de trabalho em expansão (CRF-PR, 2015). Já na área de análises clínicas e toxicológicas, absorvido por laboratórios de análise, públicos e particulares, esse profissional será responsável pela exe- cução de exames clínico-laboratoriais que auxiliam no diagnóstico de doenças, além de controlar e identificar a presença de produtos que, atuando como tóxicos, afetam as pessoas, o ambiente, os alimentos e os próprios medicamentos. Outra possibilidade é a toxicologia ocupacional, que trata da adequação dos ambientes de trabalho às funções do trabalhador, além da Toxicologia Desportiva, para ava- liação de doping de atletas e animais (CRF-PR, 2015). Já na área de alimentos, o profissional pode atuar na indústria de produ- tos alimentícios e de bebidas, principalmente no controle da qualidade microbio- lógica, físico-química e sensorial. Merece destaque as indústrias de água mineral, cervejas, óleos vegetais comestíveis, leite e derivados e produtos que podem pro- mover a saúde, todas em expansão. O farmacêutico também pode trabalhar no desenvolvimento de novos produtos e ingredientes alimentícios (CRF-PR, 2015). Nas instituições de estudo e pesquisa, suas atividades estarão voltadas para a pesquisa básica e aplicada. Qualquer que seja a modalidade escolhida, o estudante ainda poderá, depois de formado, seguir a carreira acadêmica em universidades e centros públicos ou particulares de pesquisa, dentro dos vários campos de atuação que a profissão oferece (CRF-PR, 2015). Na área de saúde pública, poderá atuar como farmacêutico sanitarista, buscando oferecer maiores condições para o tratamento de epidemias e doenças que resultam de condições de trabalho, por exemplo. Também pode atuar em saúde ambiental, controle de vetores e pragas urbanas, epidemiologia genética e participar de outras atividades de vigilância sanitária, trazendo uma contribuição relevante para a melhoria da saúde no país (CRF-PR, 2015). O farmacêutico que opta pelas práticas integrativas e complementares, por sua vez, atua no campo da antroposofia, trabalhando com homeopatia, acu- puntura, plantas medicinais e fitoterapia, termalismo social/crenoterapia, ou seja, terapias que visam à prevenção de agravos e à recuperação da saúde (CRF-PR, 2015). Os farmacêuticos são representados internacionalmente pela Federação Internacional Farmacêutica (FIP). No Brasil, a defesa da profissão é fiscalizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) e Conselhos Regionais de Farmácia (CRF). Cada organismo representativo é também responsável pela regulação e ética profissional (CRF-PR, 2015). TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 145 O estudante da área de saúde, mais especificamente de Farmácia, deve ser alguém que gosta muito de estudar, de amparar e ajudar as pessoas; comprome- tido com o bem-estar dos outros, além de ter equilíbrio emocional, sensibilidade para questões sociais e facilidade de comunicação (CRF-PR, 2015). Para que o farmacêutico possa desempenhar bem o atendimento aos usuá- rios, é imprescindível o desenvolvimento de habilidades, como (CRF-PR, 2015): • atenção a detalhes; • capacidade de concentração e de observação; • curiosidade e espírito de investigação; • facilidade para matemática; • gosto pela pesquisa e pelos estudos; • habilidade para transformar ideias em ações; • capacidade para ouvir e responder a dúvidas; • capacidade de expressar-se por escrito; • fazer apresentações orais; • capacidade de cooperação e iniciativa; • facilidade para trabalhar em equipe; • destreza para treinar e aconselhar; • reconhecer problemas e resolvê-los; • identificar oportunidades para promover inovações que gerem mais benefí- cios ao trabalho; • capacidade de selecionar informações importantes para a tomada de decisões. Em síntese, essas características fazem parte do dia a dia do farmacêutico. Portanto, a natureza do exercício da profissão tem por base pressupostos quanto à atitude, ao conhecimento e à habilidade do profissional na busca pela satisfação de necessidades sociais que melhorem a qualidade de vida da população (CRF- -PR, 2015). A farmácia abarca vários tipos de estabelecimentos em que o farmacêuti- co exerce a sua atividade, isto é, a farmácia é sempre única, mas, dependendo da natureza dos serviços nela prestados, são designados pelos nomes apresentados na Figura 1 (CRF-PR, 2015). 146 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO FIGURA 1 – ESTABELECIMENTOS FARMACÊUTICOS EM QUE É POSSÍVEL EXERCER A PROFISSÃO FONTE: CRF-PR (2015, p. 18) De acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a função do farmacêutico materializa-se, entre outras, pelas seguintes ações: • Informação aos doentes sobre a utilização correta de produtos farmacêuticos e contribuição para o seu uso racional. • Acompanhamento e avaliação de acordo com protocolos terapêuticos para os doentes (perfil farmacoterápico). • Aconselhamento aos doentes sobre o uso de produtos farmacêuticos não prescritos (autotratamento farmacológico), de produtos médico-farmacêuticos e produtos para a saúde. • Participação em programas de educação em saúde. • Colaboração com outros membros da equipe de atenção à saúde (CRF-PR, 2015). A vantagem do farmacêutico são as várias possibilidades de atuação em diversas áreas, principalmente no início da carreira (CRF-PR, 2015). A questão é saber por onde começar, qual atividade seguir e o que fazer para conquistar uma carreira de sucesso (CRF-PR, 2015). TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 147 Quando se está cursando farmácia, é muito difícil conseguir visualizar qual área tem maior opção e retorno para crescimento profissional, incluindo retorno financeiro. Por isso, a seguir, serão elencadas as principais áreas de atuação do farmacêutico. 3 MANIPULAÇÃO A expansão e o crescimento da prescrição e manipulação de fármacos e de cosméticos, nos últimos anos, aumentaram o interesse dos farmacêuticos por esse atrativo setor da atividade profissional. Pode-se afirmar que, hoje, nenhum outro estabelecimento farmacêutico possui, em seus quadros de pessoal, tantos profissionais no exercício direto dessa atividade (CRF-PR, 2015). Outra modalidade que se abre para a manipulação de fármacos é a nanofarmácia, que emprega nanotecnologia para a preparação de produtos, como filtros de proteção solar, material para proteção (screening) contra raios ultravioletas, pó antibacteriano, cosméticos etc. (CRF-PR,2015). FIGURA 2 – FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO FONTE: <https://www.ictq.com.br/guia-de-carreiras/507-farmaceutico-magistral>. Acesso em: 29 ago. 2020. Atente-se para as opções listadas, a seguir, e veja se alguma chama a sua atenção. Faça também uma pesquisa aprofundada sobre a área escolhida (CRF-PR, 2015). DICAS https://www.ictq.com.br/guia-de-carreiras/507-farmaceutico-magistral 148 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO 3.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS • Manipulação de medicamentos a partir de insumos/matérias-primas, inclusive de origem vegetal. • Manipulação de substâncias de baixo índice terapêutico. • Manipulação de antibióticos, hormônios, citostáticos e substâncias sujeitas a controle especial. • Manipulação de produtos estéreis. • Manipulação de medicamentos homeopáticos. • Manipulação de doses unitárias e unitarização de dose de medicamentos em serviços de saúde (ICTQ, 2020). A realização do controle de qualidade, tanto nas farmácias de manipula- ção quanto nas indústrias farmacêuticas, é de extrema importância para que qua- lidade, segurança, eficácia e credibilidade dos seus produtos sejam asseguradas junto à população que irá consumir esses medicamentos (ROCHA; GALENDE, 2014). 4 HOMEOPATIA A homeopatia é um sistema terapêutico que tem por base a observação e a aplicação do princípio da similaridade e do emprego de doses infinitesimais, ou seja, o princípio da diluição ou atenuação da substância ativa e nos princípios da especificação do doente e do remédio (CRF-PR, 2015). A farmácia antroposófica é uma abordagem complementar à farmácia comunitária, que integra as teorias e práticas da medicina moderna com os tratamentos homeopáticos, as terapêuticas físicas e o aconselhamento. A abordagem farmacêutica considera o ser humano além do seu aspecto corporal, valorizando também sua vida psíquica e sua individualidade: corpo, alma e espírito – instâncias que estão em permanente movimento e interação entre si e com o mundo a sua volta (CRF-PR, 2015). Assista ao vídeo, a seguir, sobre a rotina de uma farmácia de manipulação: youtube.com/watch?v=odHfBKROUCY. DICAS TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 149 FIGURA 3 – HOMEOPATIA FONTE: <https://www.crfmg.org.br/farmaciarevista/64/Especializacao-em-Homeopatia-tem-no- vos-referenciais>. Acesso em: 29 ago. 2020. 5 HOSPITAL A farmácia hospitalar responsabiliza-se por todo o ciclo do medicamento, desde sua seleção (ativos e fornecedores), armazenamento e controle até o último momento, a dispensa e o uso pelo paciente. A atuação do farmacêutico hospitalar é muito abrangente. Ele é responsável pela orientação aos pacientes internos e ambulatoriais, buscando cooperar na efetividade do tratamento e na redução dos custos (CRF-PR, 2015). O farmacêutico, diretor técnico da farmácia de hospital, deve cumprir, e fazer cumprir, todas as regras profissionais e sanitárias em relação às atividades de hospital: organizar, supervisionar, acompanhar e orientar todos os setores que compõem os serviços da farmácia hospitalar, fazendo com que o produto ou serviço, oriundo da farmácia, tenha qualidade assegurada para o cuidado do paciente (CRF-PR, 2015). Veja, a seguir, um vídeo explicativo sobre o farmacêutico na área de homeopatia e florais: https://www.youtube.com/watch?v=9C7fpBulT6Y&t=6s. DICAS https://www.crfmg.org.br/farmaciarevista/64/Especializacao-em-Homeopatia-tem-novos-referenciais https://www.crfmg.org.br/farmaciarevista/64/Especializacao-em-Homeopatia-tem-novos-referenciais 150 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO FIGURA 4 – FARMÁCIA HOSPITALAR FONTE: <https://bit.ly/3oUYShd>; <https://bit.ly/2W8BuA4>. Acesso em: 27 ago. 2020. 6 INDÚSTRIA FARMACÊUTICA No Brasil, a indústria farmacêutica teve origem com a evolução do trabalho do farmacêutico nas boticas. Ela é responsável pela produção de medicamentos com eficácia, qualidade e segurança para a saúde, contribuindo para o bem-estar da população. A produção farmacêutica é atividade exclusiva do farmacêutico por disposições legais e pela legitimidade de formação universitária específica. A produção de medicamentos é destacada nas áreas de (CRF-PR, 2015): • industrialização de medicamentos alopáticos; • industrialização de medicamentos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos; • industrialização de medicamentos homeopáticos. 6.1 ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES DO FARMACÊUTI- CO NA INDÚSTRIA As funções desempenhadas pelo farmacêutico da indústria são observa- das na produção, na garantia da qualidade, no controle de qualidade e no con- trole de processos e assuntos regulatórios, incluindo praticamente todas as áreas da indústria, como planejamento e controle de produção, marketing, pesquisa e desenvolvimento, vigilância farmacológica, farmacoeconomia, centro de atendi- mento ao consumidor, distribuição e transporte (CRF-PR, 2015). Conheça o papel do farmacêutico na farmácia hospitalar acessando: https:// www.youtube.com/watch?v=5rjQjwmpVSE. DICAS TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 151 FIGURA 5 – INDÚSTRIA FARMACÊUTICA FONTE: <https://www.sic.go.gov.br/images/2020/pib.jpeg>. Acesso em: 27 ago. 2020. 7 PLANTAS E FITOTERAPIA O conhecimento da preparação e do uso de plantas medicinais é tão antigo quanto a própria existência humana (CRF-PR, 2015). O farmacêutico é o profissional especialista em fármacos que detém os conhecimentos científicos, desenvolvidos nas últimas décadas, sobre forma correta, efeitos indesejados, precauções e contraindicações do uso das plantas (CRF-PR, 2015). A formação universitária básica em química, física e botânica (sistemática e morfológica), alicerçada por conhecimentos adquiridos nas matérias de farmacotécnica e tecnologia farmacêutica, farmacodinâmica (descritiva e analítica) e fitoquímica credenciam o farmacêutico para as atividades de estudo, cultivo, extração, purificação, controle de qualidade, preparação, produção e orientação sobre o uso de plantas de aplicações terapêuticas para garantir a farmacognosia, eficácia e segurança dos produtos de origem vegetal (CRF-PR, 2015). A terapêutica floral, a aromaterapia e a hidroterapia são apenas algumas de muitas e tradicionais terapêuticas médicas que, no início do século XXI, Assista ao vídeo sobre o papel do farmacêutico na indústria em: https://www. youtube.com/watch?v=VPbE6vBlaGo. DICAS 152 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO renasceram com mais força do que nunca. São frutos da crescente busca de produtos e serviços naturais do mercado da saúde. Conhecê-las de perto permite ao farmacêutico um julgamento objetivo quanto a seu crédito e sua eficacidade, os efeitos benéficos dos seus tratamentos, seus produtos e seus “remédios” (CRF- PR, 2015). FIGURA 6 – USO DE PLANTAS E FITOTERAPIA FONTE: <https://bit.ly/3m8ua2d>. Acesso em: 27 ago. 2020. 8 TOXICOLOGIA A toxicologia é o conjunto de conhecimentos físicos, químicos e biológi- cos aplicados ao estudo de substâncias nocivas à vida. Conforme o propósito do estudo dessas substâncias, a atuação do farmacêutico pode ser destacada nas se- guintes áreas da toxicologia: profilática, industrial, forense, analítica e desportiva (CRF-PR, 2015). O somatório de conhecimentos obtidos no currículo cursado torna o farmacêutico capaz de exercer um serviço fundamental na execução de análises toxicológicas relacionadas à criminologia, à medicina legal e ao doping (CRF-PR, 2015). Assista ao vídeo sobre o papel do farmacêutico em dispensação e prescrição de fitoterápicos acessando: https://www.youtube.com/watch?v=kd6B5JTypx8. DICAS TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 153 FIGURA 7 – TOXICOLOGIA FONTE: CRF-PR (2015, p. 31) 9 LABORATÓRIO E ANÁLISES CLÍNICAS No Brasil, durante a primeira década do século XX, foram realizados os primeiros exames em análises clínicas. Os exames eram feitos no interior das farmácias, como o teste de glicose na urina pelo reagente de Benedict, utilizando uma solução de sulfato de cobre a quente, evidenciandoaçúcares redutores (CRF- PR, 2015). Em 1910, a Farmácia Silva Araújo (fundada em 1870 pelo farmacêutico Luiz Eduardo Silva Araújo no Rio de Janeiro) foi um dos primeiros estabelecimentos a agregar um laboratório clínico à farmácia para a elaboração de diagnósticos. A formação do farmacêutico inclui um conjunto de disciplinas imprescindíveis para o laboratório clínico, como o ensino de bioquímica, parasitologia, microbiologia, imunobiologia, histologia, genética humana, saúde pública e patologia (CRF-PR, 2015). Uma forte base de ciência exata (química, matemática e física), ciências morfológicas (anatomia e fisiologia humana), ciências farmacêuticas (farmacotécnica, farmacognosia e química farmacêutica) e bromatologia, além da prática em laboratório clínico, complementa a formação do farmacêutico, distinguindo-o para o exercício dessa especialidade (CRF-PR, 2015). Assim, o farmacêutico com título em análises clínicas é capaz de executar com perícia pesquisas, análises bioquímicas, imunológicas, morfológicas e de biologia celular e molecular de constituintes do organismo humano, como sangue, 154 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO secreções, exsudatos, esfoliados, órgãos, tecidos e de material puncionado, bem como a identificação de agentes patogênicos solicitados pela clínica médica para elucidar diagnósticos, controlar a terapêutica farmacológica, confirmar a cura, produzir soros antipeçonhentos e vacinas, além de executar análises toxicológicas reclamadas pela medicina legal (CRF-PR, 2015). Cabe mencionar ainda a atividade farmacêutica nos bancos de leite humano, bancos de sêmen e bancos de sangue de cordão umbilical (CRF-PR, 2015). FIGURA 8 – LABORATÓRIO E ANÁLISES CLÍNICAS FONTE: CRF-PR (2015, p. 35) 10 ANÁLISES QUÍMICAS Também as análises de óleo, carvão, vinho, cervejas, refrigerantes e água, além de outros produtos, estão ao alcance do farmacêutico e vêm sendo por ele exercidas (CRF-PR, 2015). TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 155 FIGURA 9 – ANÁLISES QUÍMICAS FONTE: CRF-PR (2015, p. 37) Especialmente, no setor de controle de qualidade, tratamento de água e controle ambiente, o farmacêutico tem posição de destaque, uma vez que matérias eletivas de análises físico-químicas e de microbiologia (CRF-PR, 2015). Além da rotina, o laboratório de controle de qualidade de água realiza pesquisas relacionadas à espectrofotometria de absorção atômica (pesquisa de metais pesados) e à cromatografia de gás (análise de pesticidas) na água (CRF- PR, 2015). Tem também condições de monitorar agentes químicos e componentes orgânicos e inorgânicos encontrados em lençóis freáticos e na água de superfície para abastecimento (CRF-PR, 2015). O papel do farmacêutico é identificar substâncias, emitir laudos e fazer intervenções corretivas junto à vigilância sanitária e epidemiológica, de modo a evitar o agravamento de condições epidêmicas e endêmicas e os agravos de doenças como a cólera (CRF-PR, 2015). A legislação em vigor obriga todas as instituições públicas e particulares, hospitais, escolas, condomínios, clubes etc., para fazer controle de qualidade da água que utiliza, tanto para consumo humano como para recreação (CRF-PR, 2015). 156 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO 11 COSMÉTICOS E DERMOCOSMÉTICOS O aspecto da pele reflete os cuidados que lhe são dedicados, além do estado de saúde, da alimentação, da história de vida e da sua personalidade. Tanto homens quanto mulheres dedicam diariamente parte de seu tempo à proteção e aos cuidados da pele (CRF-PR, 2015). Para a elaboração de produtos dermatológicos, o farmacêutico aplica seus conhecimentos teóricos e práticos, adquiridos nas matérias de tecnologia farmacêutica e de cosméticos, controle de qualidade de produtos farmacêuticos e cosméticos, farmacotécnica, farmacognosia, química farmacêutica, análise de função orgânica e análise química de produtos farmacêuticos (CRF-PR, 2015). As atividades desse setor, embora não exclusivo do farmacêutico, têm ocupado significativamente a profissão, sobretudo na indústria e nas farmácias de manipulação, por ser o único com formação privilegiada nesse campo (CRF- PR, 2015). FIGURA 10 – COSMÉTICOS E DERMOCOSMÉTICOS FONTE: <https://bit.ly/2JUOXJw>. Acesso em: 27 ago. 2020. 12 SAÚDE ESTÉTICA O farmacêutico que atua no campo da estética tem como responsabilidade tratar alterações estéticas da epiderme por meio do domínio das técnicas de tratamento facial e corporal com o uso de produtos, materiais e equipamentos adequados a cada procedimento estético, atuando na preservação, no melhoramento ou na restauração da beleza do corpo e do rosto. Busca o cuidado da aparência e o retardo do aparecimento de sinais de envelhecimento, bem como a compensar ou ocultar os desvios do ideal normal de beleza, mediante o tratamento cosmético da pele (CRF-PR, 2015). TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 157 FIGURA 11 – SAÚDE ESTÉTICA FONTE: <https://bit.ly/39Ze1K0>. Acesso em: 27 ago. 2020. 13 ALIMENTOS As mudanças nos hábitos alimentares da população têm desafiado a indústria a uma crescente transformação e progressiva atividade competitiva (CRF-PR, 2015). A produção de alimentos em estado sólido, líquido, pastoso ou qualquer outra forma, destinados a fornecer ao organismo os elementos normais para sua formação, manutenção e desenvolvimento, exige conhecimentos científicos e tecnológicos (CRF-PR, 2015). O estudante de Farmácia será preparado para atuar na indústria de alimentos, a fim de (CRF-PR, 2015): • estabelecer meios de obtenção, produção e conservação de alimentos; • determinar a composição química e as propriedades físicas de cada produto alimentício; • estudar a influência das manipulações tecnológicas sobre os alimentos, procurando meios e formas de evitar o empobrecimento dos produtos ou, eventualmente, que se tornem nocivos à saúde; • estabelecer normas e métodos capazes de revelar adulterações, falsificações e alterações em alimentos; • estudar o aproveitamento biológico dos alimentos. 158 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO Guaraná Jesus O farmacêutico Jesus Norberto Gomes (1891-1963) criou, no início dos anos 1920, em São Luís, Maranhão, uma bebida a partir do extrato de guaraná, cafeína, teofilina e teobro- mina. O objetivo de Jesus era desenvolver um medicamento para indisposições estoma- cais. O resultado foi uma bebida de sabor adocicado, com coloração rósea, aroma que lembra tutti-frutti com traços de cravo e canela. A bebida fez sucesso entre seus familiares e passou a ser comercializada em sua farmácia. O Jesus farmacêutico construiu um forte mercado no Nordeste, especialmente no Mara- nhão. A marca chegou a pertencer à Antarctica nos anos 1960, mas, atualmente, pertence à Coca-Cola. A fórmula da Coca-Cola também foi criada por um farmacêutico, John Smi- th Pemberton, em 1886. FARMACÊUTICO JESUS NORBERTO GOMES E SUA CRIAÇÃO, O GUARANÁ DE JESUS FONTE: <https://bit.ly/2LtYCar>. Acesso em: 27 ago. 2020. Nestlé Alimentos S.A. O farmacêutico Henri Nestlé (1814-1890) foi o fundador da Nestlé Alimentos S.A., com sede na Suíça. Ele criou a Farinha Láctea Nestlé para alimentar as crianças da época, que estavam com sérios problemas de desnutrição e, até mesmo, perdendo a vida. Ao juntar leite de vaca com malte, farinha de trigo e açúcar, ele produziu um substituto do leite ma- terno para crianças incapazes de receber o leite das suas mães. Além disso, retirou o ácido e o amido da farinha de trigo, por serem de difícil digestão para os bebês. O produto podia ser preparado pela simples adição de água e é considerado a primeira fórmula infantil, feita em 1921, além de ter tido ampla aceitação na Europa e, depois, em todo o mundo. NOTA TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 159 IMPÉRIO CRIADO POR HENRI NESTLÉ FONTE: <https://bit.ly/3nbMI2X>. Acesso em: 27 ago. 2020. 14 GENÉTICA As relações específicas entre genética e farmácia apresentam-se no setor de seleçãoe de produção de fármacos, por meio da biotecnologia, quando são indispensáveis estudos genéticos em micro-organismos, tanto do tipo clássico como de manipulação direta do DNA (CRF-PR, 2015). A amplitude da aplicação da genética no exercício da profissão farmacêutica pode ser ilustrada conforme mostra a Figura 12 (CRF-PR, 2015). 160 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO FIGURA 12 – A GENÉTICA NA PROFISSÃO FARMACÊUTICA FONTE: CRF-PR (2015, p. 47) 15 BIOTECNOLOGIA A biotecnologia tem a capacidade de promover uma verdadeira revolu- ção em vários setores da atividade humana. O progresso científico nas áreas da genética, bioquímica, biologia molecular e microbiologia levou ao desenvolvi- mento de tecnologia que permite a manipulação da própria vida (CRF-PR, 2015). Bactérias que produzem insulina humana, vacinas que dispensam o uso de animais, cultura de células resistentes a pragas sem o uso de adubos ou agrotóxicos, correção de doenças hereditárias no ser humano e micro-organismos que degradam o petróleo derramado em acidentes ecológicos ou atuam sobre poluentes químicos são exemplos de aplicações da biotecnologia na indústria farmacêutica (CRF-PR, 2015). A cana, o milho, o algodão e o café são alguns dos produtos que, além de representarem riqueza expressiva em nossa economia, necessitam de tratamento preventivo. Embora não se saiba, o agricultor tem o êxito de sua plantação, em parte, confiado ao farmacêutico, pois é esse profissional que, por meio dos herbicidas, fungicidas e de tecnologias do DNA recombinante, cria os meios de proteção aos frutos do trabalho no campo (CRF-PR, 2015). A formação profissional do farmacêutico, estruturada em profundos conhecimentos de matemática e estatística, biofísica e física industrial, fisiopatologia, farmacologia, bioquímica, genética, biologia molecular, microbiologia e imunologia, enzimologia e tecnologia das fermentações, entre outros, qualifica o farmacêutico para a pesquisa acadêmica e tecnológica vinculada à indústria, sendo um elemento imprescindível no desenvolvimento da biotecnologia nacional (CRF-PR, 2015). TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 161 FIGURA 13 – BIOTECNOLOGIA FONTE: CRF-PR (2015, p. 49) 16 SAÚDE PÚBLICA O farmacêutico, durante a sua formação universitária, realiza o estudo de saúde coletiva por meio de disciplinas e tópicos muito abrangentes, que vão desde o estudo das doenças epidêmicas (aquelas que acometem grande número de pessoas ao mesmo tempo) até as doenças profissionais (CRF-PR, 2015). O farmacêutico colabora com eficiência em todos os aspectos da vigilância epidemiológica e sanitária, buscando oferecer maiores condições para o trata- mento de doenças e a preservação da saúde (CRF-PR, 2015). No âmbito da farmacoepidemiologia, o farmacêutico presta valiosa colaboração atuando nas seguintes áreas (CRF-PR, 2015): • Farmacovigilância. • Estudos de utilização de medicamentos. • Farmacoeconomia. • Centros de Informação de Medicamentos. 162 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO FIGURA 14 – FARMACÊUTICO NA SAÚDE PÚBLICA FONTE: <https://bit.ly/385HS0C>. Acesso em: 29 ago. 2020. 17 SAÚDE AMBIENTAL Os conhecimentos biológicos, microbiológicos, físico-químicos, edafoló- gicos, químico-analíticos e toxicológicos tornam o farmacêutico capaz de realizar qualquer tipo de investigação em saúde ambiente (CRF-PR, 2015). A carreira do farmacêutico ambiental vem sendo cada vez mais demandada pelo mercado de trabalho. Numa época em que as exigências relacionadas ao controle ambiental estão cada vez maiores, o farmacêutico desponta como profissional preparado para atuar nesse promissor nicho de mercado (ICTQ, 2020). Um campo promissor de atuação para esses profissionais é o tratamento de água e esgotos industriais (ICTQ, 2020). Como leitura sobre o farmacêutico no Sistema Único de Saúde (SUS), sugerimos o texto da apostila elaborada pelo CRF-MG: https://www.crfmg.org.br/externo/ profissional_empresa/downloads/2.pdf. Com relação à importância do farmacêutico no SUS, assista também ao seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=KQA3KED3WRQ. DICAS https://www.crfmg.org.br/externo/profissional_empresa/downloads/2.pdf https://www.crfmg.org.br/externo/profissional_empresa/downloads/2.pdf TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 163 FIGURA 15 – CAMPO DA SAÚDE AMBIENTAL FONTE: <https://bit.ly/348rY4I>. Acesso em: 30 ago. 2020. 18 FORÇAS ARMADAS É relevante a contribuição do farmacêutico nos serviços de saúde das Forças Armadas Brasileiras: Exército, Marinha, Aeronáutica e Polícia Militar (CRF-PR, 2015). Prestando serviço a essa comunidade, o farmacêutico pode exercer suas funções no âmbito de: • microbiologia e imunologia; • parasitologia; • bioquímica; • hematologia; • laboratório de análises clínicas em geral; • bromatologia; • farmacotécnica e tecnologia farmacêutica; • indústria de produtos biológicos; • pesquisas clínicas e toxicologia. Entre as atividades que o profissional pode desenvolver no serviço militar estão a dispensação ambulatorial, farmácia clínica, análise de medicamentos, ações de defesa civil e saúde pública, desinfestação ambiental, análise de água e alimentos, material de intendência e acompanhamento das tropas em operações militares (Figura 16). Vale observar que as três armas (Aeronáutica, Exército e Marinha) possuem laboratórios produtores de medicamentos, onde os farmacêuticos também podem atuar (ICTQ, 2020). 164 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO FIGURA 16 – ATIVIDADES DO FARMACÊUTICO NAS FORÇAS ARMADAS FONTE: CRF-PR (2015, p. 56) 19 POLÍCIA CIENTÍFICA A formação profissional do farmacêutico é a que mais se ajusta ao exercício da perícia técnica legal, em razão de profundos conhecimentos biológicos e também da formação química de elevada expressão científica (CRF-PR, 2015). A atividade do farmacêutico no campo da segurança pública é exercida na Polícia Federal e na Polícia Civil, compreendendo as funções de: Perito Criminal, Químico Legal e Toxicologista (CRF-PR, 2015). A atuação do perito criminal é marcada pela diversidade das perícias, que realiza tanto pesquisa de laboratório como de outras áreas ligadas à profissão. Além disso, o perito também faz exames de local de crime, quando ocorre morte violenta, incêndio, explosões, entre outros (CRF-PR, 2015). As perícias técnico-legais envolvem aquelas de natureza civil e penal, químico-legal e perícias de acidentes profissionais (alcoolismo e agentes químicos). Em todos esses casos, o farmacêutico perito emite laudos, pareceres e faz consultoria técnica (CRF-PR, 2015). TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 165 FIGURA 17 – FARMACÊUTICO NA POLÍCIA CIENTÍFICA FONTE: <https://bit.ly/34aueZa>. Acesso em: 31 ago. 2020. A atuação do farmacêutico na Polícia Federal e Civil envolve (CRF-PR, 2015): • o controle de entorpecentes e psicotrópicos, efetivando as análises e perícias toxicológicas ligadas às toxicomanias; • o controle de farmacodependência; • o diagnóstico e os laudos requeridos pelas autoridades competentes; • o controle do uso indiscriminado de psicotrópicos. FIGURA 18 – ATIVIDADES DO FARMACÊUTICO NA POLÍCIA CIENTÍFICA FONTE: CRF-PR (2015, p. 59) 166 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO 20 PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES A definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) é bem clara sobre o que são as práticas integrativas e complementares de saúde (PICs): sistemas que buscam estimular mecanismos naturais de prevenção e recuperação da saúde, por meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase no atendimento humanizado e na integração homem, meio ambiente e sociedade (TELESI JÚNIOR, 2016). Essas atividades também são denominadas de medicina tradicional e complementar/alternativa (MT/MCA), que preconiza um resgate das práticas mais antigas sem desconsiderar os avanços da ciência (ICTQ, 2020). Entre as atividades incluídas nas PICs estão acupuntura, uso de plantas medicinais e fitoterapia,homeopatia, crenoterapia (uso da água mineral para tratamento de saúde), medicina antroposófica (visão global do indivíduo) e práticas da medicina tradicional chinesa – corporais (tai chi chuan, lian gong, tui- na) e mentais, como a meditação. É na Europa, particularmente em Alemanha, França e Holanda, que a medicina integrativa está mais avançada no Ocidente, sobretudo na área da fitoterapia e da homeopatia. Os EUA também têm evoluído no segmento de suplementos nutricionais. As PICs, no Brasil, têm progredido também, principalmente depois que foram inseridas no SUS (ICTQ, 2020). A atuação do farmacêutico se dá nos laboratórios fitoterápicos, no ensino e na pesquisa científica e sua mais conhecida função é a presença nas farmácias e drogarias. Além de aviar a receita médica, esses profissionais orientam sobre o uso correto dos medicamentos, fazem o acompanhamento do paciente e também podem prescrever fitoterápicos que não exigem prescrição médica. No âmbito da fitoterapia, ainda há farmacêuticos atuando na gestão de serviços do SUS, como as Farmácias Vivas, e nos hospitais públicos espalhados pelo país (ICTQ, 2020). Não é por necessidade de saúde que milhares de pessoas vêm procurando as PICs como forma de recuperação da saúde – afinal, temos o que há de mais moderno e avançado na medicina, tanto no SUS como no sistema privado. É por vontade de afirmar uma identidade de cuidado oposta à prática de cuidados feita, muitas vezes, de forma desumana que, infelizmente, prepondera entre nós. As PICs expressam o desejo de mostrar que é possível implementar outras práticas de saúde (TELESI JÚNIOR, 2016). TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 167 FIGURA 19 – EXEMPLOS DE PICS FONTE: <https://bit.ly/34accGp>. Acesso: 31 ago. 2020. 21 PESQUISAS A pesquisa tem grande significado em todos os países, sendo o principal instrumento de desenvolvimento e progresso de uma nação (CRF-PR, 2015). A relevância do trabalho do farmacêutico nessa área é resultante de sua formação em ciências exatas, biológicas, da saúde e farmacêuticas, que propiciam várias especialidades ao seu alcance, permitindo atuação multiprofissional na pesquisa (CRF-PR, 2015). A carreira de farmacêutico pesquisador é de amplo reconhecimento mundial e é bastante promissora no Brasil. Além disso, é cada vez mais valorizada em países que atuam na fronteira do conhecimento, no que se refere ao desenvolvimento de novos fármacos. No entanto, algumas grandes empresas brasileiras fazem planos para, a médio prazo, atuarem como desenvolvedoras Acesse o site do Ministério da Saúde para saber mais sobre as PICs, disponível em: https://aps.saude.gov.br/ape/pics. Veja também um manual publicado pelo Ministério da Saúde sobre o tema: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_ praticas_integrativas_complementares_2ed.pdf. DICAS https://aps.saude.gov.br/ape/pics 168 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO de novas moléculas, o que mostra o potencial de valorização dessa área no país (ICTQ, 2020). O farmacêutico pesquisador é uma das carreiras mais especializadas da farmácia e percorre os caminhos acadêmicos do mestrado, doutorado e, em alguns casos, pós-doutorado. Devido ao alto grau de especialização, apesar de raras, as oportunidades oferecem excelentes remunerações (ICTQ, 2020). Ser farmacêutico pesquisador exige do profissional conhecimentos aprofundados em química farmacêutica, farmacotécnica e tecnologia farmacêutica, química analítica, farmacocinética e farmacodinâmica. O domínio da língua inglesa é obrigatório para acessar o conhecimento necessário para o exercício da carreira. O espanhol é fator importante para a diferenciação do profissional no mercado, visto que parte da literatura técnica pode ser encontrada nesse idioma (ICTQ, 2020). FIGURA 20 – FARMACÊUTICO COM ATUAÇÃO EM PESQUISA FONTE: CRF-PR (2015, p. 63) 22 DISPENSAÇÃO A dispensação pode ser definida como o ato farmacêutico de proporcionar aos pacientes medicamentos, produtos para a saúde, cosméticos e alimentos de forma adequada para as suas necessidades clínicas, acompanhados das devidas orientações (BRASIL, 1973; 1998; CGCOF et al., 2010). Trata-se de uma atividade farmacêutica de grande relevância, pois, além do acesso ao medicamento/ produto, garante que o paciente receba informações sobre utilização e conservação adequadas, interações, reações adversas potenciais, entre outras (BRASIL, 1998; CFF, 2008). TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 169 É sabido que o uso de medicamentos, além de trazer benefícios na recuperação e manutenção da saúde, também pode causar problemas. Por isso, observa-se a necessidade de racionalização do uso de medicamentos, fazendo com que a dispensação adquira um caráter de serviço (ANGONESI, 2008). Com a qualificação dos serviços, o paciente percebe a melhora de sua qualidade de vida, o que fortalece o vínculo com o farmacêutico e com a farmácia. Simultaneamente, quando a dispensação é realizada de forma correta, a população passa a reconhecer o farmacêutico como agente de saúde e a farmácia como um verdadeiro estabelecimento de saúde (CRF-SP, 2012). O sucesso da dispensação e a concomitante valorização pela população dependem da capacidade, por parte do farmacêutico, de absorver o máximo de conhecimento durante a graduação e a educação continuada ao longo de sua vida profissional (OF, 2006). É fundamental que o conhecimento técnico (fisiologia, patologia, farmacologia, interações, efeitos adversos, entre outros) e jurídico (regulamentação sanitária e profissional, além do código de ética da profissão), bem como as habilidades e as atitudes voltadas para o uso racional de medicamentos, sejam transpostos para a prática profissional (CRF-SP, 2012). O farmacêutico deve romper as barreiras que o separam da relação direta com o paciente, agindo com empatia, profissionalismo e confidencialidade. Deve transmitir confiança, de forma que os pacientes saibam que podem contar com esse profissional para aconselhamento e assistência, e também para que suas necessidades sejam ouvidas (GERBINO, 2005). 23 FARMÁCIA CLÍNICA E CUIDADO FARMACÊUTICO O farmacêutico clínico é o profissional que está inserido no cuidado ao paciente, participando ativamente da terapia medicamentosa, da promoção e/ ou da recuperação da saúde, exercendo suas atividades com autonomia para a tomada de decisões, com base nos princípios éticos da profissão (CRF-SP, 2019). Para o desenvolvimento da farmácia clínica, o farmacêutico deverá possuir conhecimento amplo e integrado em diversas áreas, como farmacologia, bioquímica, fisiopatologia, farmacotécnica, farmacocinética e farmacodinâmica. De acordo com a Associação Americana de Farmacêuticos Clínicos (ACCP – do inglês American College of Clinical Pharmacy), as competências exigidas pelo farmacêutico clínico envolvem (CRF-PR, 2015): • capacidade de solucionar problemas; • julgamento e tomada de decisão; • comunicação e educação; • gerenciamento e avaliação das informações médicas; • gerenciamento de populações; • conhecimentos de farmacoterapia. 170 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO Além da capacidade de estabelecer conexão com os pacientes, é importante que o farmacêutico exercite sua visão sistêmica, para antever os riscos e promover segurança, buscando sempre o melhor desfecho clínico e utilizando os recursos de maneira sustentável e empatia nas relações (CRF-SP, 2019). Os serviços prestados pelo farmacêutico, para atender as necessidades de saúde do paciente, da família e da comunidade, são: rastreamento em saúde, educação em saúde, manejo de problemas de saúde autolimitados, dispensação, monitoração terapêutica de medicamentos, conciliação de medicamentos, revisão da farmacoterapia, gestão da condição de saúde e acompanhamento farmacoterapêutico (CFF, 2016). FIGURA 21 – FARMÁCIA CLÍNICA FONTE: CFF (2016, p. 74) TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA 171 A área de farmácia clínica é nova,em comparação às outras áreas de atuação do farmacêutico, e vem crescendo muito. Para mais informações sobre o que o farmacêutico pode fazer e sobre a consulta farmacêutica, acesse o material desenvolvido pelo CFF em: https://www.cff.org.br/userfiles/Profar_Arcabouco_TELA_FINAL.pdf. O site do CFF também tem especificadas todas as áreas em que o farmacêutico pode atuar: http://www.cff.org.br/pagina.php?id=14&titulo=%C3%81reas+de+atua%C3%A7%C3%A3o. DICAS https://www.cff.org.br/userfiles/Profar_Arcabouco_TELA_FINAL.pdf http://www.cff.org.br/pagina.php?id=14&titulo=%C3%81reas+de+atua%C3%A7%C3%A3o RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O boticário, ao longo da história, corresponde atualmente ao farmacêutico. • O farmacêutico possui várias áreas de atuação; segundo o CFF, são 131 especialidades com dez linhas de atuação. • O estudante de farmácia tem que estar comprometido com o bem-estar dos outros e adquirir uma habilidade de comunicação importante para a profis- são. • O profissional precisa ter atitude e preocupação com a qualidade de vida da população como um todo. 1 As atribuições do farmacêutico são uma das forças mais poderosas que compõem o arsenal de recursos que o homem dispõe para promover a saúde física e mental da humanidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde, qual das opções, a seguir, NÃO é função do farmacêutico? a) ( ) b) ( ) c) ( ) d) ( ) Informação aos doentes sobre a utilização correta de produtos far- macêuticos e contribuição para o seu uso racional. Acompanhamento e avaliação de acordo com protocolos terapêu- ticos para os doentes (perfil farmacoterápico). Fazer diagnóstico de doenças. Participar de programas de educação em saúde. 2 No âmbito da farmacoepidemiologia, o farmacêutico presta valiosa colaboração. Para as áreas que o farmacêutico atua na farmacoepidemiologia, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Farmacovigilância ( ) Estudos de Utilização de Medicamentos ( ) Desenvolvimento de medicamentos novos Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) b) c) d) ( ) V – F – F. ( ) V – F – V. ( ) F – V – F. ( ) V – V – F. 3 Entre as várias atribuições privativas do farmacêutico, participar de visitas aos pacientes, reuniões, discussões de casos clínicos, elaboração de protocolos clínicos e outras atividades técnico-científicas junto à equipe multiprofissional. Quais são consideradas competências do farmacêutico clínico? a) b) c) d) ( ) Capacidade de solucionar problemas, ter boa comunicação. ( ) Omitir informações ao médico e aos profissionais de saúde sobre medicamentos. ( ) Não contribuir para a educação em saúde da população. ( ) Tomar decisões sobre o paciente, sem o conhecimento da equipe multiprofissional. AUTOATIVIDADE 175 UNIDADE 3 “A dimensão ética da profissão farmacêutica é determinada, em todos os seus atos, pelo benefício ao ser humano, à coletividade e ao meio ambiente, sem qualquer discriminação” (Código de Ética Farmacêutica) 1 INTRODUÇÃO A ética farmacêutica é o que guia as bases de conhecimentos e as atitudes na carreira profissional, tanto no cuidado do paciente quanto com outros profissionais de saúde. Ela pode ser reconhecida como um conjunto de normas e procedimentos, valores e condutas profissionais aplicados às peculiaridades do profissional farmacêutico no exercício das atribuições profissionais e nas relações com a comunidade. Desse modo, a profissão tem que ser exercida com responsabilidade e seguindo os preceitos do Código de Ética Farmacêutica. 2 NOÇÃO BÁSICA SOBRE ÉTICA Ética, moral e bioética são assuntos não somente para a profissão, mas para a vida pessoal também. FIGURA 22 – ÉTICA É DEFINIDA COMO O MODO DE SER, O CARÁTER E OS COSTUMES E HÁBITOS TANTO PROFISSIONAIS QUANTO PESSOAIS FONTE: <https://bit.ly/3miqWcg>. Acesso em: 8 ago. 2020. TÓPICO 3 — ÉTICA FARMACÊUTICA 176 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO A ética é o estudo da conduta e do caráter, relacionando-se com a determi- nação sobre o que é bom ou valioso para os indivíduos, grupos de indivíduos e a sociedade em geral. Atos considerados éticos refletem compromisso com padrões além das preferências pessoais – padrões que indivíduos, profissões e sociedades se empenham para alcançar (POTTER; PERRY, 2009). A ética profissional ou deontologia compila, para os profissionais, os princípios orientadores em sua interação com pacientes, com outros profissionais e com as instituições em que trabalham (MILLER, 2000). Ética e moral são termos complementares. Ética, com origem no grego ethos, significa “modo de ser”, “caráter”. Moral, do latim mor ou moris, significa “costume”, ou seja, um conjunto de normas ou regras adquiridas pelo ser humano por uso ordinário (GRISARD, 2006). Nas relações profissionais, a ética consubstancia-se mediante a responsabilidade, o compromisso com o trabalho e com o outro, bem como por respeito e afetividade às pessoas. Para tanto, desenvolve-se na formação profissional, quando atitudes, valores e habilidades são construídos no exercício da prática da profissão (ALARCÃO, 2001). Na área da saúde, ética é uma competência dos futuros profissionais, entendida como a capacidade autônoma de percepção, reflexão crítica e decisão coerente em relação às condutas humanas no cuidado à saúde e à vida. O desenvolvimento dessa competência requer docentes capacitados e dispostos a assumir a discussão de aspectos relativos à prática educativa, de modo a favorecer uma formação centrada no educando e qualificada para a sociedade que subsidia e depende dessa formação (FINKLER et al., 2008). 3 CÓDIGO DE ÉTICA FARMACÊUTICO O CFF, pessoa jurídica de direito público classificada como autarquia especial criada por lei, é uma entidade fiscalizadora do exercício profissional e da ética farmacêutica no país (CFF, 2014a), que criou o Código de Ética Farmacêutica. Esse código contém as normas que devem ser observadas pelos farmacêuticos e os demais inscritos nos CRFs para o exercício do âmbito profissional respectivo, inclusive nas atividades relativas a ensino, pesquisa e administração de serviços de saúde, bem como quaisquer outras atividades em que se utilize o conhecimento advindo do estudo de Farmácia, em prol do zelo pela saúde (CFF, 2014a). TÓPICO 3 — ÉTICA FARMACÊUTICA 177 A seguir, veremos uma parte relativa somente ao exercício profissional, mas é essencial conhecer o Código de Ética Farmacêutico completo. RESOLUÇÃO Nº 596, DE 21 DE FEVEREIRO DE 2014 A resolução dispõe sobre o Código de Ética Farmacêutica, o Código de Processo Ético e estabelece as infrações e as regras de aplicação das sanções disciplinares. Esse Código deve ser integralmente seguido por todos os profissionais em exercício da profissão. TÍTULO I – Do Exercício Profissional CAPÍTULO I – Dos Princípios Fundamentais Art. 1º O exercício da profissão farmacêutica tem dimensões de valores éticos e morais que são reguladas por este Código, além de atos regulatórios e diplomas legais vigentes, cuja transgressão poderá resultar em sanções disciplinares por parte do Conselho Regio- nal de Farmácia (CRF), após apuração de sua Comissão de Ética, observado o direito ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa, independentemente das demais penalidades estabelecidas pela legislação em vigor no país. Art. 2º O farmacêutico atuará com respeito à vida humana, ao meio ambiente e à liber- dade de consciência nas situações de conflito entre a ciência e os direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal. Art. 3º A dimensão ética farmacêutica é determinada em todos os seus atos, sem qualquer discriminação, pelo benefício ao ser humano, ao meio ambiente e pela responsabilidade social. Art. 4º O farmacêutico responde individual ou solidariamente, ainda que por omissão, pelos atos que praticar, autorizar ou delegar no exercícioda profissão. Art. 5º O farmacêutico deve exercer a profissão com honra e dignidade, devendo dispor de condições de trabalho e receber justa remuneração por seu desempenho. Art. 6º O farmacêutico deve zelar pelo desempenho ético, mantendo o prestígio e o ele- vado conceito de sua profissão. Art. 7º O farmacêutico deve manter atualizados os seus conhecimentos técnicos e cien- tíficos para aprimorar, de forma contínua, o desempenho de sua atividade profissional. Art. 8º A profissão farmacêutica, em qualquer circunstância, não pode ser exercida so- brepondo-se à promoção, prevenção e recuperação da saúde e com fins meramente comerciais. Art. 9º O trabalho do farmacêutico deve ser exercido com autonomia técnica e sem a inadequada interferência de terceiros, tampouco com objetivo meramente de lucro, finali- dade política, religiosa ou outra forma de exploração em desfavor da sociedade. Art. 10º O farmacêutico deve cumprir as disposições legais e regulamentares que regem a prática profissional no país, sob pena de aplicação de sanções disciplinares e éticas regidas por este regulamento. NOTA 178 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO CAPÍTULO II – Dos Direitos Segue os artigos e as orientações para melhor entendimento. Art. 11. É direito do farmacêutico: I- Exercer a sua profissão sem qualquer discriminação, seja por motivo de religião, etnia, orientação sexual, raça, nacionalidade, idade, condição social, opinião política, deficiência ou de qualquer outra natureza vedada por lei. Orientação: manter a postura, hábito e atitudes apropriadas leva à conquista de respeito no ambiente profissional, evitando conduta abusiva por parte de terceiros. II- Interagir com o profissional prescritor, quando necessário, para garantir a segurança e a eficácia da terapêutica, observado o uso racional de medicamentos. Orientação: Interagir de forma cordial, formal e amigável, demonstrando seu interesse no cuidado adequado ao paciente, e propor alternativas fundamentadas tecnicamente, quando necessário. III- Exigir dos profissionais da saúde o cumprimento da legislação sanitária vigente, em especial quanto à legibilidade da prescrição. Orientação: manter-se atualizado quanto às legislações vigentes, para que a interação com o prescritor seja realizada com embasamento legal, além do técnico. Demonstrar também seu interesse na segurança e eficácia do tratamento do paciente, além de garantir o direito desse como consumidor. IV- Recusar-se a exercer a profissão em instituição pública ou privada sem condições dig- nas de trabalho ou que possam prejudicar o usuário, com direito a representação às auto- ridades sanitárias e profissionais. Orientação: ao identificar irregularidades no ambiente de trabalho, apresentá-las aos res- ponsáveis, propondo soluções fundamentadas técnica e legalmente, de forma documen- tada. Não havendo regularização, recursar-se a exercer a profissão nessas condições e de- nunciar aos Órgãos competentes, como CRF-SP, Vigilância Sanitária e Ministério Público. V- Opor-se a exercer a profissão ou suspender a sua atividade em instituição pública ou privada sem remuneração ou condições dignas de trabalho, ressalvadas as situações de urgência ou emergência, devendo comunicá-las imediatamente às autoridades sanitárias e profissionais; Orientação: ao constatar irregularidades trabalhistas, expô-las aos responsáveis de forma amigável, apresentando as atribuições de sua competência na área de atuação, e solicitar adequação da situação, de forma documentada. VI - Negar-se a realizar atos farmacêuticos que sejam contrários aos ditames da ciência, da ética e da técnica, comunicando o fato, quando for o caso, ao usuário, a outros profissio- nais envolvidos e ao respectivo Conselho Regional de Farmácia. Orientação: manter-se atualizado quanto aos conhecimentos técnicos e às legislações vigentes, para que possa argumentar a recusa em realizar atos farmacêuticos ilícitos ou não reconhecidos. VII- Ser fiscalizado no âmbito profissional e sanitário, obrigatoriamente por farmacêutico. Orientação: este direito está normatizado pelo Decreto nº 85.878/81 e pela Resolução CFF nº 539/10 e garante que a fiscalização seja realizada por profissional igualmente ca- pacitado, permitindo a correta avaliação das atividades profissionais do farmacêutico e da matéria sanitária. TÓPICO 3 — ÉTICA FARMACÊUTICA 179 VIII- Exercer sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames da legislação vigente. Orientação: demonstrar competência técnica e postura profissional, de modo a garantir sua autonomia na recusa da realização de atos ilícitos. IX- Ser valorizado e respeitado no exercício da profissão, independentemente da função que exerce ou cargo que ocupe. Orientação: transmitir a imagem de profissional de saúde, de maneira a tornar-se referên- cia na sua função ou cargo; manter postura, hábito e atitudes apropriadas leva à conquista de respeito e valorização no ambiente profissional. X- Ter acesso a todas as informações técnicas relacionadas ao seu local de trabalho e ao pleno exercício da profissão. Orientação: identificar as necessidades do local de trabalho no exercício da profissão e solicitar ao responsável acesso às informações pertinentes ao seu bom desempenho profissional. XI- Decidir, justificadamente, sobre o aviamento ou não de qualquer prescrição, bem como fornecer as informações solicitadas pelo usuário. Orientação: manter-se atualizado no aspecto técnico e com relação às legislações vigen- tes, para que a interação com o usuário seja realizada com embasamento, justificando a ele sua decisão quanto à prescrição, focada na segurança e eficácia do tratamento, orien- tando-o a respeito dos riscos e benefícios decorrentes. XII- Não ser limitado, por disposição estatutária ou regimental de estabelecimento farma- cêutico, tampouco de instituição pública ou privada, na escolha dos meios cientificamen- te reconhecidos a serem utilizados no exercício da sua profissão. Orientação: manter-se atualizado em relação aos meios cientificamente reconhecidos para que possa argumentar quanto à necessidade de sua utilização no exercício profis- sional. FONTE: CFF – CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Resolução nº 596, de 21 de fevereiro de 2014. 2014a. Dispõe sobre o código de Ética Farmacêutica, o Código de Processo Ético e estabelece infrações e as regras de aplicações de sanções disciplinares. Disponível em: <https://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/596.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2020. Para a leitura completa do Código de Ética Farmacêutico, com comentários para melhor entendimento do seu conteúdo, acesse: http://portal.crfsp.org.br/images/ arquivos/codigodedticacomentado_digital.pdf. DICAS 180 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO Como exemplo sobre ética e o papel do farmacêutico, a seguir, leia um estudo de caso (CRF-SP, 2014). “Um paciente, após passar por check-up com seu médico, recebeu solicitação de diversos exames e compareceu a um laboratório sob responsabilidade técnica de um farmacêutico para realizar os exames. Ao retirar seus exames e notar que, entre eles, havia um diagnóstico positivo de sífilis, retornou ao médico, que, diante da total ausência de qualquer sintoma da doença, pediu que ele repetisse o exame em dois outros laboratórios. Ao chegar em casa com os novos pedidos de exame, sua esposa, desconfiada, compareceu ao laboratório inicial e, comprovando a condição de esposa, obteve cópia do exame de seu marido com diagnóstico positivo para sífilis. Ela o espancou na mesma data por acreditar que ele a estava traindo, em função de ser portador de doença venérea. Revoltado, o marido, que já havia recolhido sangue para realização dos exames em dois outros laboratórios, aguardou o resultado e, ao levar esses diagnósticos para seu médico, foi informado de que o exame realizado no primeiro laboratório teve um resultado chamado de falso-positivo, já que nada constounos novos exames. Ao retornar ao primeiro laboratório para esclarecer o ocorrido, foi informado, pela farmacêutica e responsável técnica pela empresa, que o exame havia sido analisado por outra profissional que integrava a equipe na época dos fatos, a qual já fora demitida por sua incapacidade técnica apurada em diversos outros exames. Indicou- se o nome da outra profissional, apesar de o exame conter apenas o nome da responsável técnica”. Analise o caso descrito, indique os erros ocorridos e explique com base nos preceitos de moral e ética profissional. _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ UNI TÓPICO 3 — ÉTICA FARMACÊUTICA 181 LEITURA COMPLEMENTAR DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE: PROCESSO SAÚDE DOENÇA Lucila Amaral Carneiro Vieira Doença A doença não pode ser compreendida apenas por meio das medições fisiopatológicas, pois quem estabelece o estado da doença é o sofrimento, a dor, o prazer, enfim, os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que adoece (CANGUILHEM; CAPONI, 1995, apud BRÊTAS; GAMBA, 2006). Para Evans e Stoddart (1990), a doença não é mais que um constructo que guarda relação com o sofrimento, com o mal, mas não lhe corresponde integralmente. Quadros clínicos semelhantes, ou seja, com os mesmos parâmetros biológicos, prognóstico e implicações para o tratamento, podem afetar pessoas diferentes de forma distinta, resultando em diferentes manifestações de sintomas e desconforto, com comprometimento diferenciado de suas habilidades de atuar em sociedade. O conhecimento clínico pretende balizar a aplicação apropriada do conhecimento e da tecnologia, o que implica que seja formulado nesses termos. No entanto, do ponto de vista do bem-estar individual e do desempenho social, a percepção individual sobre a saúde é que conta (EVANS; STODDART, 1990). Conceito de saúde O que é saúde? Segundo o conceito de 1947 da Organização Mundial da Saúde (OMS), com ampla divulgação e conhecimento em nossa área, a saúde é definida como: “Um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. A saúde é silenciosa, geralmente não a percebemos em sua plenitude; na maior parte das vezes, apenas a identificamos quando adoecemos. É uma experiência de vida, vivenciada no âmago do corpo individual. Ouvir o próprio corpo é uma boa estratégia para assegurar a saúde com qualidade, pois não existe um limite preciso entre a saúde e a doença, mas uma relação de reciprocidade entre ambas; entre a normalidade e a patologia, na qual “os mesmos fatores que permitem ao homem viver (alimento, água, ar, clima, habitação, trabalho, tecnologia, relações familiares e sociais) podem causar doença, agem com determinada intensidade, pesam em excesso ou faltam, agem sem controle”. Essa relação é demarcada pela forma de vida dos seres humanos, pelos determinantes biológicos, psicológicos e sociais. Tal constatação nos remete à 182 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO reflexão de o processo saúde-doença-adoecimento ocorrer de maneira desigual entre os indivíduos, as classes e os povos, recebendo influência direta do local que os seres ocupam na sociedade (BERLINGUER, apud BRÊTAS; GAMBA, 2006). Canguilhem e Caponi (1995, apud BRÊTAS; GAMBA, 2006) considera que, para a saúde, é necessário partir da dimensão do ser, pois é nele que ocorre as definições do normal ou patológico. O considerado normal em um indivíduo pode não ser em outro; não há rigidez no processo. Dessa maneira, podemos deduzir que o ser humano precisa conhecer-se, necessita saber avaliar as transformações sofridas por seu corpo e identificar os sinais expressos por ele. Esse processo é viável apenas na perspectiva relacional, pois o normal e o patológico só podem ser apreciados em uma relação. Processo saúde-doença Muito se tem escrito sobre o processo saúde-doença, porém um novo instrumento intelectual para a apreensão da saúde e da doença deve levar em conta a distinção entre a doença, tal como definida pelo sistema da assistência à saúde e a saúde, tal como percebida pelos indivíduos. Ademais, deve incluir a dimensão do bem-estar, um conceito ainda mais amplo, no qual a contribuição da saúde não é a única nem a mais importante. O sofrimento experimentado pelas pessoas, suas famílias e grupos sociais não corresponde necessariamente à concepção de doença que orienta os provedores da assistência, como os profissionais da Estratégia de Saúde da Família. Por outro lado, como alternativa para a superação dos modelos causais clássicos, centrados em ações individuais, como os métodos diagnósticos e terapêuticos, a vacinação, a educação em saúde, ainda que dirigidos aos denominados grupos de risco, haveria que privilegiar a dimensão coletiva do fenômeno saúde-doença, por meio de modelos interativos que incorporassem ações individuais e coletivas. Uma nova maneira de pensar a saúde e a doença deve incluir explicações para os achados universais de que a mortalidade e a morbidade obedecem a um gradiente, que atravessa as classes socioeconômicas, de modo que menores rendas ou status social estão associados a uma pior condição em termos de saúde. Tal evidência constitui-se em um indicativo de que os determinantes da saúde estão localizados fora do sistema de assistência à saúde (EVANS; STODDART, 2003; SCHRAIBER; MENDES-GONÇALVES, 1996). Para Gadamer (1997), saúde e doença não são duas faces de uma mesma moeda. De fato, se considerarmos um sistema de saúde, por exemplo, o SUS, é possível verificar que as ações voltadas para o diagnóstico e tratamento das doenças são apenas duas das suas atividades. Inclusão social, promoção de equidade ou de visibilidade e cidadania são consideradas ações de saúde. O entendimento da saúde como um dispositivo social relativamente autônomo em relação à ideia de doença, e as repercussões que este novo entendimento traz para a vida social e para as práticas cotidianas em geral e dos serviços de saúde em particular, abre novas possibilidades na concepção do processo saúde doença. Dessa maneira, o processo saúde-doença está diretamente atrelado à forma como TÓPICO 3 — ÉTICA FARMACÊUTICA 183 o ser humano, no decorrer de sua existência, foi se apropriando da natureza para transformá-la, buscando o atendimento às suas necessidades (GUALDA; BERGAMASCO, 2004). Fica claro que tal processo representa o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde e doença de uma população, que se modifica nos diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. Portanto, não é um conceito abstrato. Define-se no contexto histórico de determinada sociedade e num dado momento de seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela população em suas lutas cotidianas (GUALDA; BERGAMASCO, 2004). Sendo que o conceito de saúde varia segundo a época em que vivemos, assim como os interesses dos diversos grupos sociais. Assim, vários autores afirmam que “a saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como componente da qualidade de vida e, assim, não é um bem de troca, mas um bem comum, um bem e um direito social, no sentido de que cada um e todos possam ter assegurado o exercício e a prática deste direito à saúde, a partir da aplicação e utilização de toda a riqueza disponível, conhecimento e tecnologia que a sociedade desenvolveu e vem desenvolvendo neste campo, adequados as suas necessidades, envolvendo promoção e proteção da saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de doenças. Assim, considerar este bem e este direito como componente e exercício da cidadania, compreensão esta que é um referencial e um valor básico a ser assimilado pelo poder público para o balizamento e orientação de sua conduta, decisões, estratégias eações. Em síntese, pode-se dizer, em termos de sua determinação causal, que o processo saúde-doença representa o conjunto de relações e variáveis que produzem e condicionam o estado de saúde e doença de uma população, que variam em diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. FIGURA 1 – CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS, CULTURAIS E AMBIENTAIS GERAIS FONTE: Vianna (2020) 184 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO Conclusão Segundo Brêtas e Gamba (2006), por mais que se pense a saúde na dimensão do coletivo, é o ser humano que adoece e como tal requer cuidados. A saúde e o adoecer são experiências subjetivas e individuais, conhecidas de maneira intuitiva, dificilmente descritas ou quantificáveis. É, na lógica relacional, que se visualiza o cuidado e a assistência pelos profissionais da saúde, que se concretizam de forma abrangente quando aliados aos conhecimentos técnicos, científicos e políticos, capazes de sustentar as bases do cuidado profissional, a sensibilidade humana para compreender a subjetividade expressa pelo ser que está sendo cuidado. É necessário compreender as condições impostas como passíveis de interferência e atentar para não culpar os indivíduos quando tais condições são insalubres e interferem em seu estilo de vida. Trabalhar com as condições de vida impostas requer um trabalho interdisciplinar e intersetorial. A área da saúde sozinha não consegue assegurar qualidade de vida e, consequentemente, de saúde. É, na esfera da ética, que compreenderemos a necessidade do empenho de parte significativa da sociedade para assegurar a dignidade da vida humana. Nós, profissionais da área da saúde, temos que imaginar o cliente – assim como nós mesmos – capaz de perceber e explorar o mundo externo a partir de experiências pessoais, sua cultura, sua linguagem, crenças, valores, interesses e pressuposições. Cada um de nós dá um sentido ao mundo que lhe é apresentado. Podemos dizer que cada um traça um mapa, ou seja, um panorama próprio do mundo. Portanto, os mapas são seletivos: prestamos atenção aos aspectos do mundo que nos interessam e ignoramos outros. Assim, no entendimento de Brêtas e Gamba (2006), um bom profissional da área da saúde é aquele capaz de traduzir o inaparente, o indizível em um primeiro contato com o ser doente. Ao compreender que o corpo humano não é um produto genérico isolado, pois existe em relação com outros seres em um dado contexto social, cultural e político, entendem que, para cuidar da pessoa, faz-se necessário considerar algumas questões pertinentes ao vínculo saúde-doença-adoecimento-sociedade: as condições de vida impostas e os estilos de vida escolhidos pelos próprios indivíduos. A primeira situação diz respeito à esfera pública, na qual nem sempre o indivíduo consegue interferir sem a participação do Poder Público; a segunda localiza-se no mundo privado, onde o indivíduo define a melhor forma de se utilizar da própria vida (CAPONIS, apud BRÊTAS; GAMBA, 2006). É importante compreender os limites da esfera pública e privada, e em nome da educação em saúde, para não construirmos práticas autoritárias e prescritivas que, em vez de produzir autonomia, acabam reduzindo-a. As escolhas são sempre individuais e, desde que não prejudiquem o coletivo, devem ser sempre respeitadas. Cabe aos profissionais da saúde rever TÓPICO 3 — ÉTICA FARMACÊUTICA 185 sua prática, buscando entender que não basta trabalhar com as doenças, é necessário compreender o indivíduo no todo como alguém que vive a experiência da necessidade, do adoecimento, carregada de valores e significados subjetivos, únicos, capazes de interferir na qualidade do cuidado prestado. Assim, resta-nos, como profissionais da saúde, enfrentar o desafio de construir estratégias para conceber a saúde no âmbito da atenção básica, de forma mais solidária e menos punitiva na convivência com os estilos de vida individuais. FONTE: Adaptado de VIANNA, L. A. C. Determinantes Sociais de Saúde: Pro- cesso Saúde Doença. Biblioteca Virtual. Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde. Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Disponível em: <https:// bit.ly/3a9DWij>. Acesso em: 20 nov. 2020. 186 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A ética é a conduta do profissional com as situações do dia a dia. É o que distingue o certo do errado. • A ética orienta o comportamento e caráter do indivíduo, tanto pessoal como profissional. • O CFF criou um código de ética da profissão, que contém normas a serem seguidas pelos profissionais. • As condutas do código de ética garantem o trabalho digno e responsável para com a população, não sobrepondo nenhum tipo de interesse financeiro ou que tire vantagem de ninguém e de nenhuma situação. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 187 1 A palavra ética, de origem grega, significa o conjunto de normas de conduta. Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Na área da saúde, a competência ética dos futuros profissionais é en- tendida como a capacidade autônoma de percepção, reflexão crítica e decisão coerente em relação às condutas humanas no cuidado à saúde e à vida. ( ) A ética é o estudo da conduta e do caráter. ( ) Atos considerados éticos refletem falta de padrões não respeitando as preferências pessoais. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) b) c) d) ( ) V – F – F. ( ) V – V – F. ( ) F – V – F. ( ) F – F – V. 2 O Código de Ética é estruturado em capítulos. Em relação ao exercício da profissão, ele é dividido em: princípios fundamentais, direitos, deveres, proibições, publicidade e artigos científicos. Analise as sentenças a seguir: I- O Código de Ética Farmacêutica contém as normas que devem ser observadas pelos farmacêuticos e os demais inscritos nos Conselhos Regionais de Farmácia no exercício do âmbito profissional respectivo, inclusive nas atividades relativas ao ensino, pesquisa e a administração de serviços de saúde, bem como quaisquer outras atividades em que se utilize o conhecimento advindo do estudo de Farmácia, em prol do zelo pela saúde. II- Exercer a sua profissão ocorrendo algum tipo de discriminação, seja por motivo de religião, etnia, orientação sexual, raça, nacionalidade, idade, condição social, opinião política, deficiência ou de qualquer outra natureza vedada por lei. Assinale a alternativa CORRETA: a) b) c) d) ( ) As sentenças I e II estão corretas. ( ) Somente a sentença II está correta. ( ) Somente a sentença I está correta. ( ) As sentenças I e III estão incorretas. AUTOATIVIDADE 188 REFERÊNCIAS ALARCÃO, I. Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed, 2001. ALEXANDRA, A. Dermocosméticos: cosméticos com propósito. Farmacêuticas, 2019. Disponível em: https://bit.ly/2JUOXJw. Acesso em: 4 out. 2020. ANGONESI, D. Dispensação farmacêutica: uma análise de diferentes conceitos e modelos. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n. 13, p. 629-640, 2008. BAGNATO, M. H. S.; RENOVATO, R. D. Práticas educativas em saúde: um terri- tório de saber, poder e produção de identidades. In: DEITOS, R. 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