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Roberta Laredo

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Programa de Pós-graduação 
Mestrado em Arquitetura e Urbanismo
Roberta Laredo
Construindo o espaço público 
contemporâneo: 
o caso da Praça Victor Civita
São Paulo
2013
capa vermelha.indd 1 13/02/2014 09:25:06
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Programa de Pós-graduação
Mestrado em Arquitetura e Urbanismo
Dissertação de Mestrado
Roberta Laredo
Construindo o espaço público 
contemporâneo: 
o caso da Praça Victor Civita
Dissertação apresentada ao Programa Gra-
duação em Arquitetura e Urbanismo da Uni-
versidade Presbiteriana Mackenzie como 
parte das exigências para obtenção do título 
de Mestre em Arquitetura e Urbanismo
Orientadora: Profª. Drª. Nadia Somekh
São Paulo
2013
Construindo o espaço - livro.indb 2 13/02/2014 09:06:08
L321c Laredo, Roberta
 Construindo o espaço público contemporâneo : o caso da 
Praça Victor Civita. / Roberta Laredo – 2014.
167 f. : il. ; 30cm.
 Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - 
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014.
 Bibliografia: f. 91-97.
 1. Parceria público-privada. 2. Espaço público. 3. Praça. 
4. Praça Victor Civita. 5. Termo de Cooperação. 6. São Paulo. 
 I. Título. 
CDD 711.4098161
Construindo o espaço - livro.indb 4 13/02/2014 09:06:08
Roberta Laredo
Construindo o espaço público 
contemporâneo: 
o caso da Praça Victor Civita
Dissertação apresentada ao Programa Gra-
duação em Arquitetura e Urbanismo da Uni-
versidade Presbiteriana Mackenzie como 
parte das exigências para obtenção do título 
de Mestre em Arquitetura e Urbanismo
Aprovada em 21/1/2014
BANCA EXAMINADORA
Profª. Drª. Nadia Somekh – Orientadora
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Valter Caldana
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Vladimir Bartalini
Universidade de São Paulo
Construindo o espaço - livro.indb 3 13/02/2014 09:06:08
3
À cidade de São Paulo, 
que despertou em mim o afeto a novos lugares, 
novas pessoas e novas experiências.
Construindo o espaço - livro.indb 3 13/02/2014 09:06:08
4
Agradecimentos
Este estudo foi realizado graças às oportunidades imensuráveis que surgiram ao longo desses dois anos. Agradeço primeiramente à professora Nadia Somekh por ter me acolhido no grupo de pesquisa, e pela clareza e assertividade com a qual 
orientou meus estudos.
Ao Mackpesquisa pelo apoio.
Aos professores Valter Caldana e Vladimir Bartalini pela participação na banca e 
orientações necessárias.
Ao Hamilton dos Santos, Cleide Rovai Castellan e Marcelo Bressanin pela generosi-
dade em abrir os arquivos e me contar as histórias.
À arquiteta Adriana Levisky por transmitir que São Paulo é uma cidade possível.
Aos arquitetos Marcos Cartum e Jaime Cupertino pelas conversas e rica indicação 
bibliográfica.
Aos funcionários da subprefeitura de Pinheiros, em especial ao subprefeito Angelo 
Filardo e à arquiteta Ana Cristina Archangeletti por me concederem material e entrevistas 
valiosas para a elaboração deste estudo.
Ao professor Marcos Alves da Silva, pelas leituras, revisões e indicação de livros.
Ao meu amigo Mauro Calliari, que não só me abriu algumas portas, como também 
dividiu comigo os momentos de trabalho, carregados de entusiasmo e angústia. Tudo 
vale pela experiência.
Ao Gustavo Laredo pela revisão e à Maria Thereza Scarazzato Laredo pelo apoio.
Ao Paulo Futagawa pela compreensão nos momentos mais conturbados, pelo com-
panheirismo nos momentos mais solitários e pelo amor em todos os momentos.
Construindo o espaço-sem anexos V5.indd 4 16/02/2014 21:59:03
5
A cooperação azeita a máquina de concretização 
das coisas, e a partilha é capaz de compensar 
aquilo que acaso nos falte individualmente.
Richard Sennett
Construindo o espaço - livro.indb 5 13/02/2014 09:06:08
6
Resumo
Esta pesquisa aborda a implantação da Praça Victor Civita, localizada no bairro de Pi-nheiros, na cidade de São Paulo. Em uma área marcada pela degradação ambiental, surge a possibilidade de reabilitação por meio da modalidade de financiamento e 
gestão denominada “parceria público-privada”. Ao levantar conceitos que definem o que 
é público e o que é privado, tentamos verificar se o espaço público, criado por meio da 
parceria entre o poder público e o setor privado, é de fato público e feito para o público, 
e o seu real significado. Utilizamos alguns exemplos de experiências internacionais para 
traçar um paralelo com a situação observada na cidade de São Paulo com o objetivo de 
reconhecer as diferenças que tornam as parcerias mais efetivas, considerando não só a 
iniciativa privada, mas também a sociedade, como parceiras na construção do espaço 
público. Este trabalho oferece um panorama de como foi o processo da parceria, concep-
ção, projeto e implantação da Praça Victor Civita.
Palavras-Chave: Parceria público-privada; espaço público; praça; Praça Victor Civi-
ta; Termo de Cooperação; São Paulo.
Construindo o espaço - livro.indb 6 13/02/2014 09:06:09
7
Abstract
This research approaches the implementation of Praça Victor Civita (Victor Civita Square), situated in Pinheiros district, in São Paulo. The area, once environmentally degraded, was rehabilitated through a funding and management modality called 
“public-private partnership”. By researching concepts that define what is public and what 
is private, we try to determine if the public space created through the partnership betwe-
en the government and the private sector is actually public and made for the public, and 
its meaning. We use examples of international experiences to compare the situation ob-
served in São Paulo, aiming at recognizing the differences that make partnerships more 
effective, when we consider not only the private business, but also society as a partner in 
shaping the public space. This work offers an overview of the partnership, including its 
conception, processes, project and deployment of Praça Victor Civita.
Keywords: Public-private partnership; public space; square; Praça Victor Civita; Vic-
tor Civita Square; Cooperation Agreement; São Paulo.
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8
Lista de ilustrações
Figura 1.1 - Pátio do Colégio em ilustração de 1824: A paróquia como centro do espaço 
público ............................................................................................................................................................34
Figura 1.2 - Praça da República – 1915: embelezamento da cidade .......................................................35
Figura 1.3 - Parque do Ibirapuera – 1954: lazer e práticas esportivas representam o 
novo espaço público ..................................................................................................................................35
Figura 1.4 - Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro (Praça Pôr do Sol) – 1968: 
lazer cultural e a contemplação ..............................................................................................................36
Figura 1.5 - Parque ecológico do Tietê – 1982: viés ambiental na concepção de novos 
parques ...........................................................................................................................................................36
Figura 1.6 - Largo da Concórdia – 1990: o entorno define o espaço......................................................37
Figura 1.7 - Praça Victor Civita – 2008: espaço público caracterizado pelo uso múltiplo................37
Figura 2.1 – POP IBM Atrium, localizado em Nova Iorque: espaço público criado pela 
iniciativa privada ..........................................................................................................................................44
Figura 2.2: Superfícies e usos projetados no High Line permitem a interação dos usuários .........47
Figura 2.3: Superfícies e usosprojetados no High Line permitem a interação dos usuários .........48
Figura 2.4 e 2.5: High Line: bancos projetados para leitura, descanso e contemplação .................48
Figura 2.6 – Mapa representa a distribuição espacial das áreas verdes sob responsabilidade 
de subprefeitura de Pinheiros .................................................................................................................53
Figura 3.1 – Área do antigo incinerador municipal no bairro de Pinheiros na cidade de 
São Paulo, local onde atualmente se localiza a Praça Victor Civita ............................................57
Figura 3.2 – Implantação da Praça Victor Civita em relação à quadra ..................................................58
Figura 3.3 – Localização da Praça Victor Civita em relação a outros pontos da cidade 
de São Paulo .................................................................................................................................................58
Figura 4.1: Uma das inspirações para o projeto foi o Terminal Internacional do Porto de 
Yokohama ......................................................................................................................................................65
Figura 4.2: Maritime Youth House do Plot Architects, usado como inspiração para o projeto 
da praça ..........................................................................................................................................................65
Figura 4.3 – Praça Victor Civita: sistema de alagado construído para reter a água da chuva e 
tratá-la, a fim de irrigar as árvores do bosque ..................................................................................66
Figura 4.4 – Praça Victor Civita: espelho d´água com água de reuso proveniente do esgoto 
sanitário tratado ...........................................................................................................................................67
Figuras 4.5 a 4.7 – Praça Victor Civita: estrutura elevada de madeira (deck) que protege os 
frequentadores do contato com o solo ...............................................................................................68
Figura 4.8– Praça Victor Civita: área com painel explicativo sobre o biodiesel ..................................69
Construindo o espaço - livro.indb 8 13/02/2014 09:06:09
9
Figura 4.9 – Praça Victor Civita: Prática de Ioga gratuita no sábado de manhã .................................71
Figura 4.10 – Entorno da Praça Victor Civita: terminal de ônibus urbano. Ao fundo, o prédio 
da Editora Abril ............................................................................................................................................72
Figuras 4.11 – Placa informativa com regulamento na entrada da praça ..............................................72
Figuras 4.12 e 4.13 – Acessos abertos ao público da Praça Victor Civita ..............................................73
Figura 4.14 – Entorno da Praça Victor Civita: atividades esportivas no final de semana 
atraem usuários pela manhã ...................................................................................................................73
Figura 4.15 – Entorno da Praça Victor Civita: horário do almoço durante a semana garante a 
frequencia de trabalhadores da região ................................................................................................74
Figura 4.16 – Entorno da Praça Victor Civita: calçamento novo com rampas de acesso .................74
Figuras 4.17 a 4.20 – Bancos instalados na Praça Victor Civita: não favorecem a 
contemplação e a leitura ...........................................................................................................................75
Figuras 4.21 a 4.24 – Perfis metálicos e tábuas de madeira: os elementos mais usados na 
obra da Praça em processo de deterioração ....................................................................................76
Figura 5.1 – Entrada da Praça durante evento com a presença de seguranças particulares.. ........84
Figuras 5.2 a 5.4 – Evento realizado anualmente na Praça Victor Civita com recursos 
captados por leis de incentivo ................................................................................................................85
Figura 5.5 – Público no horário do almoço no meio da semana acompanhando ensaio de 
músicos ...........................................................................................................................................................85
Figura 5.6 – Público no horário do almoço no meio da semana. ...........................................................86
Construindo o espaço - livro.indb 9 13/02/2014 09:06:09
10
Sumário
Introdução .................................................................................................................................... 11
1. As transformações do espaço público ............................................................................. 18
1.1 Conceitos e Definições: o que é o espaço público contemporâneo? .....................18
1.2 Tipologias que caracterizam o espaço público ............................................................. 28
2. A parceria público-privada na construção do espaço público ..................................40
2.1 Experiências internacionais ...................................................................................................41
2.2 Experiências em São Paulo ..................................................................................................49
3. A praça Victor Civita .............................................................................................................56
3.1 História, criação e estrutura ................................................................................................. 56
3.2 A parceria entre poder público e setor privado ........................................................... 59
4. Em busca de um bom projeto............................................................................................62
4.1 Limitações e conceitos: as soluções encontradas na Praça Victor Civita .............. 62
4.2 A construção do modelo: processo e proposta de gestão 
da Praça Victor Civita ............................................................................................................. 76
5. Perspectivas: o espaço transformado e a comunidade ............................................... 81
5.1 Programação e manutenção ................................................................................................81
5.2 Resultados alcançados .......................................................................................................... 83
6. Algumas conclusões .............................................................................................................87
Referências bibliográficas ........................................................................................................ 91
Anexos
Anexo A: Tipos de espaços livres.............................................................................................. 98
Anexo B: Minuta do termo de cooperação ......................................................................... 102
Anexo C: Ficha técnica ............................................................................................................... 106
Anexo D: Termo de referência ................................................................................................. 108
Anexo E: Portaria 139//SPPI//GAB//2008 .............................................................................. 119
Anexo F: Termo de Cooperação ............................................................................................. 126
Anexo G: Estatuto AAPVC ......................................................................................................... 144
Anexo H: Entrevista .....................................................................................................................163
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11
Introdução
Os espaços públicos sempre foram uma questão que nos vem sendo apresen-tada sobre o modo como usamos a cidade. Após a formação em engenharia civil, o trabalho com limpeza urbana trouxe um primeiro contato com o lado 
executivo da cidade. Embora não se tratasse do projeto em si, mas sim da manutenção e 
limpeza, essas áreas sempre suscitaram o desejo de entender como a população se rela-
ciona com o espaço público e como o projeto, a manutenção e a localização interferem 
na sua apropriação pela população.
Mas qual é o papel do poder público na criação desses espaços? Quanto as pre-
feituras se preocupam em executar bons projetos? Qual a importância que os espaços 
públicos têm no orçamento municipal? Dentro de um contexto em que os orçamentos 
públicos têm sido cada vez mais limitados pelos entraves constitucionais, surge a pos-
sibilidade da parceria entre o poder público e o setor privado construírem espaços que 
possam dar à cidade áreas com qualidade para o uso da população.
Este trabalho aborda a criação e a gestão da Praça Victor Civita, localizada no bair-
ro de Pinheiros em São Paulo, tendo como principal discussão a modalidade de gestão/
financiamento denominada parceria público-privada (PPP), analisando, desse modo, um 
modelo de gestão pouco empregado em praças do município. Pretende, ainda, levantar 
a questão da construção do espaço público com recursos do setor privado, considerando 
essa tendência administrativa não isenta de consequências ao tecido urbano, tais como 
valorização da área e a regulamentação de uso.
A pesquisa caracteriza o panorama atual de utilização da parceria público-privada 
no município de São Paulo por meio da observação da Praça Victor Civita, verificando a 
viabilidade de seu projeto e sistema de gestão, de forma a analisar a aplicação dessa fer-
ramenta na criação de novos espaços públicos - especificamente as praças -, buscando 
evidências que possam responder se o espaço público criado pela parceria público-pri-
vada é, efetivamente, um ganho à cidade.
A Praça Victor Civita foi escolhida como objeto deste estudo por ter sido implanta-
da por meio da parceria entre a Prefeitura do Município de São Paulo (PMSP) e a Editora 
Abril. Além disso, a escolha por estudar uma praça em meio a outros equipamentos 
públicos que utilizaram o instrumento da PPP para sua implantação e/ou gestão, como 
Construindo o espaço - livro.indb 11 13/02/2014 09:06:10
12
por exemplo, as estações de metrô e as obras de infraestrutura, fez-se pela importância 
da representatividade e carência que este tipo de espaço público tem na cidade de São 
Paulo. A representatividade se dá pela qualidade das atividades oferecidas pelo espaço 
e não em termos de número, já que o município conta com duzentos parques contabi-
lizados no ano de 2012 dentro do programa 100 parques da Prefeitura do Município de 
São Paulo1. 
Para Bartalini (2007, p. 5), a cidade demanda espaços públicos de qualidade:
Para dar sentido a uma investigação sobre a praça na nossa contempo-
raneidade é preciso, antes de mais nada, reconhecer a necessidade de 
um lugar onde possam se expressar, publicamente, determinadas rela-
ções entre pessoas, sendo esta interpessoalidade característica distintiva, 
embora não exclusiva, da praça. Para isso pode-se contar com os estu-
dos e pesquisas que trazem à tona a vitalidade presente nos espaços de 
encontro e inter-relacionamento, mesmo que improvisados e precários.
O espaço público figura como um dos objetos de maior relevância no desenvolvi-
mento urbano das metrópoles. De um lado, a valorização da terra permite que o mer-
cado imobiliário avance na edificação do espaço; de outro, o crescimento populacional 
exige que a cidade ofereça melhores condições de vida à população, tornando inadiável 
a criação de novas áreas verdes que sirvam ao lazer e ao convívio (ROBBA; MACEDO, 
2010) e promovam o bom uso do espaço público.
Percebemos, assim, que a praça, dentro de uma gama de elementos urbanos que 
chamamos de espaço público, encontra-se como ambiente de troca, conforto e vitalida-
de na cidade, principalmente nas megalópoles do sudeste2 onde podem ser vistas como 
refúgios que compõem a paisagem seca da maior parte dos bairros.
A praça é um índice (signo) do lugar, de civilidade e qualidade de vida 
urbana. A praça é, ainda hoje, um local próprio para manifestações políti-
cas, comemorações e protestos. Sub-espaço carregado de simbologias e 
memórias; tanto é capaz de contribuir para a afirmação inercial do poder 
1 Guia dos parques municipais de São Paulo. 3ª Edição atualizada e revisada. Disponível em: <http://
www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/meio_ambiente/arquivos/publicacoes/guia_dos_
parques_3.pdf>. Acesso em 26 mai. 2013.
2 QUEIROGA, Eugenio Fernandes. A megalópole e a praça: o espaço entre a razão de dominação e a 
ação comunicativa. Tese de doutorado. São Paulo: s.n., 2001, p. 332.
Construindo o espaço - livro.indb 12 13/02/2014 09:06:10
13
institucional, como ser local próprio para crítica e o protesto público, 
para a ação comunicativa política (QUEIROGA, 2001, p. 332-333).
No entanto, mesmo indispensável para a manutenção da qualidade de vida da 
população, não podemos esquecer que a criação e manutenção das praças paulistanas 
estão diretamente ligadas ao investimento público no setor de desenvolvimento de áreas 
verdes do município que, na maioria das vezes, não possui recursos suficientes para su-
prir de forma eficiente a carência e qualidade desses espaços. Nesse sentido, a parceria 
público-privada é hoje uma das formas de viabilizar projetos que antes eram competên-
cia exclusiva da administração pública.
Um exemplo é o que acontece nos Estados Unidos cuja administração pública se 
utiliza de parcerias com a iniciativa privada para financiar espaços públicos e melhorar a 
qualidade de vida da população. A partir daí surgiu a possibilidade da parceria público
-privada, como forma de garantir a criação desses espaços e como uma alternativa capaz 
de implementar projetos urbanos, que de outra maneira não sairiam do papel (LE GOIX; 
LOUDIER-MALGOUYERES, 2005).
Apesar de ser diferente em alguns aspectos, a experiência americana e europeia na 
utilização da modalidade de gestão/financiamento denominada parceria público-priva-
da, como uma ferramenta dada ao poder público para fomentar a criação e manutenção 
de praças com recursos privados, tem se mostrado uma alternativa à falta de investimen-
tos nesse setor da administração municipal.
Cabe aqui questionar se essa aliança entre o poder público e a iniciativa privada na 
gestão de espaços públicos é uma alternativa que gera benefícios à população ou tem a 
finalidade de capitalizar espaços públicos, engessando seus projetos e restringindo seu 
uso. Nossa pesquisa busca avançar nesta questão.
Por outro lado, a questão da parceria público-privada poderia ser entendida como 
uma “privatização” do espaço público? Nesse sentido, o que seria publicizado como uma 
gestão eficiente para revitalização e manutenção do espaço público, na verdade é apenas 
um instrumento de marketing utilizado em benefício das empresas para melhorar sua 
imagem perante a sociedade (LE GOIX; LOUDIER-MALGOUYERES, 2005).
A privatização do espaço está, então, diretamente relacionada com a visão que o 
capitalismo traz de progresso. Para Harvey (2011, p.16), a presença do capital na formação 
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14
das políticas atuais chega a atingir as políticas públicas de formação do tecido urbano, 
como é o caso de parcerias público-privadas utilizadas na criação do espaço público.
A ação do poder público, capital e sociedade na construção do espaço público 
tem sido constantemente estudada e revista, e este trabalho pretende considerar essa 
discussão para a análise das interferências que cada um desses atores tem naformação 
das praças.
Esta pesquisa, entretanto, não pretende encerrar o espaço em conceitos que o 
definam como fruto apenas das ações econômicas e políticas que os constroem, mas 
considera que os lugares estão sujeitos às variações do tempo e aos processos e discur-
sos de modernização que a sociedade vive. A pesquisa investiga, ainda, as características 
do instrumento de gestão da parceria público-privada e analisa as formas pelas quais a 
tendência se manifesta na construção do espaço público urbano, considerando a par-
ticipação de todos os atores envolvidos no processo de planejamento, quais sejam: a 
administração pública, o setor privado e a sociedade civil, com o objetivo de confirmar 
se a ferramenta de gestão PPP pode produzir bons espaços públicos e, em caso positivo, 
investigar quais os entraves que fazem com que esse modelo não seja aplicado na cria-
ção de outros espaços.
Tendo como premissa que a parceria público-privada é um instrumento legal de con-
tratação pública, o trabalho foi desenvolvido a partir do levantamento e análise da legislação 
referente ao tema aplicada à cidade de São Paulo, traçando um paralelo ao que foi desenvol-
vido em relação à parceria público-privada na criação de espaços públicos em cidades como 
Nova Iorque, de onde foi tirada a experiência internacional no debate da pesquisa.
A revisão bibliográfica foi realizada com base em estudos que permitiram identificar 
características similares ao modelo de gestão estudado. Partindo de teses e referências 
bibliográficas relacionadas ao estudo, foram pesquisados três grandes temas: parceria 
público-privada, espaço público e praças, e ainda consultada literatura relacionada à pro-
dução do espaço público, à gestão de áreas verdes, à vida urbana em espaços públicos, 
à legislação e às formas de financiamento de projetos baseados nessa forma de gestão.
Este levantamento inicial permitiu reconhecer o material sobre a aplicação da 
PPP para as operações urbanas do município de São Paulo com a criação de espaços 
públicos atrelados a expansão imobiliária. Isso nos levou a formatar um paralelo que se 
encaixasse ao caso estudado.
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15
Como levantamento de dados primários, foram feitas visitas ao local estudado e 
entrevistas com alguns dos atores que participam ou participaram da implantação e 
gestão do empreendimento. Desta forma, a pesquisa buscou ainda avaliar o efeito da 
parceria público-privada no processo de planejamento do espaço público, em especial, 
praças, já inseridas no tecido urbano construído.
Como já mencionado, o objeto deste estudo foi a Praça Victor Civita no Município 
de São Paulo. A praça está localizada na Rua Sumidouro, nº 580, no Bairro de Pinheiros 
e foi construída a partir da parceria público-privada entre a Editora Abril e a Prefeitura 
do Município de São Paulo, e suas características estarão descritas em capítulo especí-
fico deste trabalho.
Além da Praça Victor Civita, este estudo pretende dedicar um capítulo à experiência 
internacional, relatando algumas parcerias público-privadas realizadas para revitalização, 
implantação ou manutenção de praças, com destaque para a cidade de Nova Iorque, que 
utiliza essa modalidade de contratação em alguns de seus projetos urbanos. 
A pesquisa abordará o processo de realização da parceria público-privada entre a 
Editora Abril e a Prefeitura de São Paulo desde a assinatura do Protocolo de Intenções 
em 2001, que pretendia viabilizar a recuperação do terreno para transformá-lo em pra-
ça pública, passando pela criação da legislação que institui normas para a contratação 
de parceria público-privada e termos de cooperação, até os dias de hoje com a análise 
dos resultados alcançados.
Embora muitos autores importantes tenham discutido as revitalizações do espaço 
urbano como um fenômeno de gentrificação3, o conceito criado por Neil Smith talvez 
tenha de ser encaixado em uma nova realidade brasileira que faz parte do que Ascher 
(2010) chama de neourbanismo, onde “os serviços públicos urbanos devem, hoje em dia, 
3 A gentrificação é, por definição, um processo de “filtragem social” da cidade. Vem desencadear um 
processo de recomposição social importante em bairros antigos das cidades, indiciando um processo 
que opera no mercado de habitação, de forma mais vincada e concreta nas habitações em estado de 
degradação dos bairros tradicionalmente populares. Correspondendo à recomposição (e substituição) 
social desses espaços – tradicionalmente da classe operária/popular – e à sua transformação em bair-
ros de classes média, média-alta – não se pode deixar de referir, por conhecimento deste processo de 
“substituição social”, o reforço da segregação sócio-espacial, que na sua sequência parece aprofundar a 
divisão social do espaço urbano (Smith e LeFaivre, 1984). Mendes, Luís. O contributo de Neil Smith para 
uma geografia crítica da gentrificação. e-metropolis- Revista eletrônica de estudos urbanos e regio-
nais. Rio de Janeiro. nº 01, ano 1,maio de 2010. Disponível em: <http://www.emetropolis.net/edicoes/
n01_mai2010/e-metropolis_n01_artigo2.pdf>. Acesso em 11 jun. de 2012.
Construindo o espaço - livro.indb 15 13/02/2014 09:06:10
16
considerar o processo de individualização que marca a evolução da nossa sociedade”, e, 
portanto, serem considerados caso a caso.
Neste trabalho, usamos o pressuposto de que certas intervenções urbanas podem 
ter grande valor para a comunidade desde que envolva a participação de setores repre-
sentativos da sociedade, gerando a criação de soluções inclusivas. Assim, estruturamos 
esta dissertação em cinco capítulos:
O primeiro capítulo apresentará um panorama das transformações pelas quais os 
espaços públicos passaram, considerando especialmente as definições que os caracteri-
zam e as relações sociais neles representadas. Não temos a pretensão de querer esgotar 
a discussão sobre os conceitos que buscam explicar como as relações sociais particulari-
zam os lugares e os tornam expressões de épocas e condições vividas pela humanidade. 
Passamos, então, às características físicas que absorveram essas transformações e ten-
tamos reduzir as tipologias dos espaços livres públicos urbanos, até conceituar a praça 
objeto deste estudo.
Como este trabalho tem como eixo a parceria público-privada na criação e gestão 
do espaço público, o segundo capítulo tratará do tema observando como esse tipo de 
PPP é trabalhado primeiro trazendo as experiências internacionais que aqui tiveram foco 
na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, escolhida por tratar a criação e gestão 
do espaço público de maneira distinta, porém com grande importância para a qualidade 
de vida urbana. Em seguida, no mesmo capítulo apresentaremos um painel com algu-
mas outras iniciativas de PPP em espaços públicos de São Paulo, pois observamos que a 
parceria com o poder público tem se materializado não só por meio de grandes projetos 
como a Praça Victor Civita, mas também de pequenas ações que partem da sociedade, 
representada pela comunidade local em busca de um espaço público aproveitável.
Tendo, desse modo, definido conceitos e exposto outras experiências, o terceiro ca-
pítulo focaliza o objeto de estudo e compartilha os levantamentos, análises e depoimen-
tos que traduzem o processo de criação, projeto e implementação da Praça Victor Civita, 
relacionando a pré-existência da área com seu uso atual, relatando como foi o papel dos 
diversos atores que compuseram e compõem a história desse espaço.
O quarto capítulo traz elementos de análises do projeto executado, cotejando o 
resultado com os fundamentos que observam o que é um bom espaço público e consi-
derando os desafios técnicos trazidos pela configuração da área.
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Tendo em vista que o planejamento e projeto foram pontos fundamentais para a 
recuperação da área, o quinto capítulo pretende analisara gestão e os resultados alcan-
çados por meio da implantação da praça.
Por último, as considerações finais fazem um balanço do estudo, partindo dos obje-
tivos e chegando às respostas do que foi proposto. Concluímos, assim, a partir de nossa 
linha de argumentação, que a parceria público-privada, na produção do espaço urbano, 
é uma realidade presente na cidade contemporânea, onde, tanto o setor privado, quanto 
a sociedade civil, representada pelos seus moradores - organizados ou não em asso-
ciações de movimento de bairro - participam cada vez mais da construção do espaço 
público por meio de ações de cooperação.
Resta-nos convidarmos o leitor a perseguir a trajetória estabelecida neste trabalho, 
com a esperança de que os espaços públicos se tornem cada vez mais objeto de afeto da 
sociedade, à medida que os resultados da participação popular no processo sejam vistos 
como forma de ampliar a qualidade das relações mantidas com a cidade e com a praça.
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1. As transformações do espaço público
O espaço público figura como base importante da expressão popular; elemento urbanístico que, ora é exaltado pelo poder público na medida em que a criação de alguns deles passa a ser meta de determinadas administrações, ora é apro-
priado pela iniciativa privada, que alavanca empreendimentos imobiliários publicizando a 
criação de áreas que, nem sempre, são de fato abertas ao público.
Nesses espaços é que, muitas vezes, precebemos as reais transformações da so-
ciedade; não apenas as características urbanas das cidades, mas as transformações de 
comportamento, que se revelam de forma direta no momento em que esses espaços 
tornam-se palco e lugar para manifestações e trocas necessárias para a construção das 
identidades urbana e social. Segundo Ascher (2010, p.20), essas transformações absor-
vidas pelas cidades que são impulsionadas pelas forças e relações sociais: “As formas 
das cidades, sejam projetadas, sejam resultantes mais ou menos espontaneamente de 
dinâmicas diversas, cristalizam e refletem as lógicas das sociedades que as acolhem”. Isso 
pode ser interpretado como sendo a vontade – ou necessidade – da sociedade interfe-
rindo diretamente na formação das políticas que regem a formação do espaço.
Nesse contexto, este capítulo pretende conceituar o que entendemos por espaço 
público e, a partir de sua definição, relacioná-lo com o objeto deste estudo.
1.1 Conceitos e Definições: o que é o 
espaço público contemporâneo?
Antes de tudo e, pela gama de definições que se aplicam ao tema, será proposta a 
escolha dos conceitos mais usados para tratar os espaços públicos de forma a caracte-
rizá-lo. Para isso, selecionamos alguns autores que tratam desse assunto como: Hannah 
Arendt, Jürgen Habermas, Fançois Ascher, Milton Santos, Edward Soja, e outros que se 
basearam nesses autores para formular suas pesquisas.
Dentro do quadro referencial teórico proposto, muitos autores têm retornado aos 
conceitos fundamentais que caracterizam a esfera pública, privada e social cunhados 
por Arendt e Habermas. Essas revisões bibliográficas buscam na filosofia e nas ciências 
políticas esclarecer determinadas questões que constroem o que entendemos hoje por 
espaço público.
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Neste trabalho, não poderia ser diferente, pois a discussão sobre o que é esse es-
paço nos fornece a base teórica necessária para avaliar em qual contexto a Praça Victor 
Civita está inserida e, outrossim, para classificá-la como um equipamento urbano que 
serve ao público.
Insere-se no contexto do espaço público construído através da parceria 
público-privada, a discussão das diferenças entre o que é público e o que é privado. Sa-
bemos que o espaço está em constante transformação e, para classificá-lo como público, 
necessitamos entender como a dialética entre o público e o privado se dá em nossa so-
ciedade, com suas apropriações, esvaziamentos, individualismos e coletividade.
Como observou Arendt (2007), após a Segunda Guerra Mundial, a esfera pública 
entra em decadência, sendo substituída pelo que Habermas (1984, apud CUSTÓDIO et 
al., 2011) chama de esfera social, caracterizada basicamente pelas novas relações de mer-
cado (CUSTÓDIO et al., 2011, p. 5). Sendo assim, é pertinente utilizar a proposição feita 
por Ascher (2010, p. 18) ao colocar que o novo urbanismo, ou neourbanismo, é pautado 
nas mutações das sociedades que implicam em “necessárias transformações na concep-
ção, produção e gestão das cidades e do território”.
Assim como o urbanismo moderno atribuía ao público tudo aquilo que era exter-
no, ou seja, o espaço externo, as grandes infraestruturas e os espaços de uso coletivo, 
o neourbanismo deve compreender que a individualização é o sentido no qual nossa 
sociedade tem se desenvolvido e, portanto, a noção de público deve também considerar 
essa característica para seu entendimento.
Essas transformações sofridas na nossa sociedade e, por extensão, no espaço, foram 
ressaltadas por Milton Santos (2012) para o entendimento da lógica imposta pela forma e 
conteúdo do espaço. Em seus estudos, foi possível reconhecer a sinergia entre o espaço 
geográfico e o espaço social, formando um só espaço, “o local e a localização”, onde, quan-
do o primeiro é entendido como objeto em um lugar, o segundo está em constante movi-
mento, impulsionado pelas forças sociais que o transformam. Nesse sentido, Santos (2012, 
p. 13) afirma: “[...] cada lugar está sempre mudando de significação, graças ao movimento 
social: a cada instante as frações da sociedade que lhe cabem não são mais as mesmas”.
Esse entendimento vai além das transformações urbanas, caracterizando a própria 
evolução social ao longo dos séculos, desde o conceito de privado como aquilo que é 
intimo, sem interferência externa (LAVALLE, 2005), até o que entendemos por público 
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como tudo aquilo que é divulgado, visto e ouvido por todos (ARENDT, 2007).. Vejamos 
nas citações abaixo os seguintes apontamentos:
[...] tem como público tudo aquilo que é aberto, acessível, ou seja, que 
não há restrições quanto à entrada e/ou circulação. [...]. Tem como 
privado tudo aquilo que pode ser considerado próprio da intimidade 
ou que é restrito ao mundo familiar. Temos então o espaço público 
como o oposto à privacidade, associando dicotomias como: casa x 
rua, conhecimento x estranho, fechado x aberto, segurança x perigo. 
(LAVALLE, 2005 apud CÂNDIDO, 2008, p.19).
O termo “público” para Arendt (1999) nos remete a dois fenômenos 
que se relacionam, mas não são idênticos. O primeiro refere-se à apa-
rência, ou seja, a tudo o que pode ser visto e ouvido por todos, sendo 
esta a característica que dá realidade ao mundo em que vivemos e à 
nossa própria existência. O segundo significa o mundo que é comum 
a todos nós, o mundo do artefato humano, ou seja, que é produzido e 
negociado pelas mãos humanas (ARENDT, 1999 apud CÂNDIDO, 2008, 
p. 21).
Freire (2006, p. 78) sintetiza com precisão as diferenças entre o público e o privado:
Dentro do republicanismo, o privado é aquilo que está afeito e dentro 
do âmbito da particularidade dos indivíduos, o que de forma alguma 
exclui sua função pública, uma vez que as particularidades se entre-
cruzam na existência social e se imbricam na construção da sociedade; 
eis uma das peculiaridades que o republicanismo nos brindou. A pro-
priedade privada não é um lugar onde se pode exercer um domínio 
ilimitado, mas o contorno de uma extensão sob o cuidado de particu-
lares. Antes de ser uma ampliação da liberdade, é uma limitação, uma 
privação.
O público é aquilo que está afeito e dentro do âmbito da comunidade 
cívica dos cidadãos, o que é comum, que expande e potencializa as 
particularidades numa totalidade maior, podendo ser uma cidade, uma 
nação ou um país. É mais do que a soma das individualidades,pois daí 
se teria apenas uma multidão ou uma extensão territorial: não é uma 
mera soma aritmética, mas uma fusão que resulta em força moral e 
cultural, que forma uma identidade nacional.
No entanto, a noção do que é público não estará completa se não discutirmos a 
diferença entre público e Estatal.
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Segundo o Dicionário Houaiss (2004) Estatal é aquilo “relativo ou pertencente ao 
Estado (‘país soberano’)”, sendo formado por alguns elementos básicos que podem di-
vergir em identificação e número dependendo do autor (DALLARI, 2013). Para o nosso 
estudo, trabalharemos com a teoria de que o Estado é caracterizado por três elementos: 
o povo, o território e a figura estatal - governo -, que exerce soberania sobre os outros 
dois elementos. (DONATO DONATI apud DALLARI, 2013, p. 79).
É essa soberania Estatal que está relacionada à produção do espaço público con-
temporâneo, à medida que este é construído sobre as permissões e regras do Estado. 
Para Laband (apud DALLARI, 2013, p. 93), a soberania do Estado é traduzida como seu 
poder sobre o território, atuando como seu proprietário, podendo usá-lo e disponibilizá
-lo com poder absoluto e exclusivo (DALLARI, 2013), esclarecendo que aqui não estamos 
tratando de propriedades privadas.
É verdade que o Estatal é entendido como público e, portanto,opões-se ao privado, 
no entanto, tem função clara no desenvolvimento social e econômico em uma República 
como nos mostra Freire (2006, p. 77):
[...] o privado não se contrapõe ao público, pelo contrário, desde que se 
constitua a res publica, o privado adquire (ou deve adquirir) uma fun-
ção social relevante (além de permitir o bem particular, é claro), e tem 
a função de possibilitar o desenvolvimento social ou público, ou seja, 
visa o bem comum: não há necessariamente conflito entre os interesses 
particulares e os interesses públicos, e o desenvolvimento dos cidadãos 
particulares é também o desenvolvimento da República. O valor ético 
dos interesses depende apenas do uso que se faça dos instrumentos 
para obtê-lo.
A Praça Victor Civita, mesmo tendo sido concebida, implantada e gerida através da 
parceria com a iniciativa privada, faz parte do território pertencente ao Estado. Também é 
importante ressaltar que o que é Estatal é, em princípio, público; todavia, o que é público 
pode não ser Estatal, se não faz parte do aparato do Estado (BRESSER-PEREIRA; GRAU, 
1999, p. 17). Revendo os conceitos sobre o que é público podemos extrapolar essa teoria 
para a construção do entendimento do que seria o espaço público.
Como podemos, então, definir o que é o espaço público na cidade contemporâ-
nea? Ainda que se fale muito no espaço público, como lócus de convivência e de troca, 
é necessário inserir esse espaço na cidade contemporânea, que traz para o cotidiano as 
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características da pós-modernidade, advinda do modo moderno de se construir a cidade. 
Esse espaço, portanto, está carregado de signos que transmitem os elementos-chave da 
sociedade quando explicitam as relações em rede, a substituição da indústria pelos ser-
viços, o fim do planejamento central, as operações urbanas etc.
É sobre essa nova sociedade, interconectada através de redes, que Ascher (2010, 
p. 45) comenta, trazendo a solidariedade como elemento essencial para a discussão da 
construção da cidade contemporânea:
[a estrutura social de redes] funda uma nova solidariedade[...] uma so-
lidariedade “comutativa”, que relaciona pessoas e organizações perten-
centes a uma multiplicidade de redes interconectadas. O desafio para a 
democracia consiste então em transformar essa solidariedade ”reflexi-
va”, ou seja, uma consciência de pertencimento a sistemas de interesse 
coletivo.
E essa sociedade dinâmica, ligada por redes, não se fecha para a cidade, pelo con-
trário, através da comunicação mais rápida, é capaz de se mobilizar e avaliar melhor o es-
paço que a ela é oferecido. Vejamos o que Ascher (2010, p. 67) tem a nos dizer sobre isso:
A terceira revolução urbana não gera, portanto, uma cidade virtual, imó-
vel e introvertida, mas sim uma cidade que se move e se telecomunica, 
constituída de novas decisões de deslocamento das pessoas, bens e in-
formações, animada pelos eventos que exigem a copresença, e na qual 
a qualidade dos lugares mobilizará todos os sentidos, inclusive o toque, 
o gosto, o cheiro.
Voltando ao neourbanismo de Ascher (2010, p. 84), que está aqui entendido como 
uma forma cunhada pelo autor para denominar a sociedade na cidade contemporânea, 
temos que esta:
[...] privilegia os objetivos, os resultados a ser obtidos, e incentiva os 
atores públicos e privados a encontrar modalidades de realização des-
ses objetivos, os mais eficientes para a coletividade e para o conjunto 
de agentes.
Portanto, além da coletividade ligada por meio de redes, a velocidade das trans-
formações e os signos citados anteriormente refletem a fragmentação e a ideia de co-
lagem que a pós-modernidade trouxe com o rompimento do moderno que “privilegia 
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as soluções permanentes, coletivas e homogêneas, a fim de responder às demandas da 
habitação, do urbanismo, do transporte, do lazer, do comércio.” (Ascher 2010, p. 87).
Nesse sentido, o espaço público da cidade contemporânea acaba por absorver 
essas características e pode até passar a ser efêmero, de pouca duração; o espaço urba-
no já não é mais projetado para ser eterno e sim para ser transformado à medida que a 
sociedade assim desejar.
Vejamos o que diz Harvey (2012, p. 69) sobre a cidade pós-moderna:
Como é impossível comandar a metrópole exceto aos pedaços, o projeto 
urbano [...] deseja somente ser sensível às tradições vernáculas, às his-
tórias locais, aos desejos, necessidades e fantasias particulares, gerando 
formas arquitetônicas especializadas, e até altamente sob medida, que 
podem variar dos espaços íntimos e personalizados ao esplendor do es-
petáculo, passando pela monumentalidade tradicional.
E completa comparando a fase anterior, modernista, com a atual:
Enquanto os modernistas veem o espaço como algo a ser moldado para 
propósitos sociais e, portanto, sempre subserviente à construção de um 
projeto social, os pós-modernistas o veem como uma coisa indepen-
dente e autônoma a ser moldada segundo objetivos e princípios estéti-
cos que não têm necessariamente nenhuma relação com algum objetivo 
social abrangente, salvo, talvez, a consecução da intemporalidade e da 
beleza “desinteressada” como fins em si mesmas. (ibid., p. 69).
Para Borja (1998), uma forma de entender as transformações sofridas pela cidade 
é justamente analisando o espaço público, uma vez que sua importância na questão 
das novas dinâmicas urbanas torna sua concepção um desafio a ser vencido. Essa “nova 
realidade urbana” é traduzida pelo autor por meio do binômio mobilidade-centralidade 
como nos mostra a seguir:
Estamos convencidos que a dialética mobilidade-centralidade é uma 
questão chave do urbanismo moderno. E que a concepção dos es-
paços públicos é, por sua vez, um fator decisivo, embora não seja o 
único [...]. (tradução nossa).
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Dentro do urbanismo moderno, ao qual se refere Borja (1998), o espaço público, 
como território a ser regulamentado pelo Estado, passa a ter um caráter jurídico e é por 
meio deste que ele o define:
O espaço público é um conceito jurídico: um espaço submetido a uma 
regulação específica por parte da administração pública, proprietária e 
que possui a faculdade de domínio do solo, que garanta a acessibilidade 
a todos e que fixe as condições de sua utilização e sua instalação de ati-
vidades (tradução nossa).
Mas ainda devemos considerar o caráter sócio-cultural que também define o es-
paço público como vimos anteriormente; e é importante notar queo espaço público 
pode, nem sempre, ter a demarcação judicial, já que algumas vezes espaços privados 
abandonados podem ser apropriados pela comunidade, tranformando-os em locais para 
recreação, como, por exemplo, os campos de futebol de várzea localizados em cidades 
menores ou em bairros da periferia das metrópoles. Ou seja: “o que define a natureza do 
espaço público é o uso e não o estatuto jurídico” (BORJA, 1998).
Abrahão (2008, p. 45) quando discute o entendimento de Borja sobre o espaço 
público esclarece:
Há, em Jordi Borja, forte convicção de que o espaço público é um ins-
trumento urbanístico fundamental para o resgate da cidade democrática 
contemporânea, seriamente ameaçada pela dissolução, fragmentação e 
privatização dos seus espaços.
Com base nessas referências, podemos concluir até aqui que o espaço público se 
define como o espaço onde a sociedade se manifesta publicamente, onde se dá a troca 
das relações interpessoais e onde podemos exercer e notar as transformações sociais de 
cada tempo.
Com a ascensão da classe média urbana, no século XX, e, a partir disso, a crescente 
necessidade de aquisição de bens de consumo, as pessoas passam a ter de encontrar um 
espaço onde seria possível exibir o status conquistado. O espaço público passa ser, então, 
o espaço de quem consome: o consumo da cultura, da ação e do estilo. Nas palavras de 
Custódio et al. (2011):
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A cidade passa então a ser tida como lócus de um grande espetá-
culo, onde são considerados importantes os “espaços” para ver e 
ser visto, os “espaços” de vitrine e pretensa transparência (VIRILIO, 
2005:24)4; onde o consumo da forma, da função e dos conteúdos pro-
gramados (ideológicos-simbólicos) se alimenta das incertezas do mun-
do globalizado, a um só tempo, sucateador e reforçador de identidades 
e procedimentos.
Mas é nesse espaço de consumo e consumível que é exercida a construção da 
cidadania e que, apesar da sua quase substituição pelos shoppings centers, ainda são 
utilizados pela população (CUSTÓDIO et al., 2011, p. 8).
Cabe aqui questionar até que ponto a vida contemporânea tem atraído ou esva-
ziado o espaço público urbano. O Arquiteto Michael Brill (1989, apud ABRAHÃO, 2008, 
p. 146), discorrendo sobre a vida pública na sociedade americana, a definiu como o lócus 
das principais trocas sociais, apontando que seu esvaziamento havia ocorrido pela perda 
dos limites entre o público e o privado e pelas leis de zoneamento nas cidades norte-a-
mericanas, que desagregavam a vida comunitária e, consequentemente, limitavam as 
trocas sociais da vida pública.
No entanto, mesmo que importantes autores tenham estudado e apontado o esva-
ziamento do espaço público, ele ainda continua sendo o lugar das trocas e das interações 
sociais encerrando a vida pública e a construção da cidadania, à medida que também 
dita as regras de convivência da sociedade. Nesse sentido, o espaço público pode ser o 
“mundo subjetivo das vivências e das emoções”, além de ser o local do exercício da “di-
versidade e conscientização” (QUEIROGA, 2001, p. 214-215).
O espaço abstrato é materializado pelas relações sociais; são elas que dão vida, mo-
vimento e sentimento, tornando-o conteúdo e natureza, forma e lugar. Assim, podemos 
entender que é nesse lugar que se reproduz a vida cotidiana como nos mostra Carlos 
(2001, p. 35):
O Lugar é, assim, a porção do espaço apropriável para a vida, revelando 
o plano da microescala: o bairro, a praça, a rua, o pequeno e restrito 
comércio que pipoca na metrópole, aproximando seus moradores, que 
4 VIRILIO, P. (2005:24) escreve: “A transparência torna-se evidente, uma evidência que reorganiza a apa-
rência e a medida do mundo sensível e, portanto, muito em breve, sua figura, sua forma-imagem” 
(apud CUSTÓDIO et al., 2011, p. 6).
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podem ser mais do que pontos de troca de mercadoria, pois criam pos-
sibilidades de encontro e guardam uma significação como elementos de 
sociabilidade.
Para Santos (2012, p. 322), é no lugar que os códigos racionais traduzidos por “ações 
condicionadas” se manifestam e vão além da sociabilização da vida cotidiana, passando 
para um campo onde emoções e criatividade se evidenciam construindo a personalidade 
de cada sociedade:
No lugar – um cotidiano compartido entre as mais diversas pessoas, 
firmas e instituições – cooperação e conflito são a base da vida em 
comum. Porque cada um exerce uma ação própria, a vida social se in-
dividualiza; e porque a contiguidade é criadora da comunhão, a politica 
se territorializa, com o confronto entre organização e espontaneidade. 
O lugar é o quadro de uma referência pragmática ao mundo, do qual 
lhe vêm solicitações e ordens precisas de ações condicionadas, mas 
é também o teatro insubstituível das paixões humanas, responsáveis, 
por meio da ação comunicativa, pelas mais diversas manifestações da 
espontaneidade e da criatividade.
No entanto, é necessário ressaltar que os conceitos de espaço que queremos 
aqui apresentar estão relacionados ao espaço físico-social, o qual classificamos como 
espaço público. Esse espaço não se configura apenas no espaço per se, mas, como 
já visto antes, em palco para as diversas transformações e experiências sociais, como 
nos mostra Soja (1993, p. 101): “O espaço em si pode ser primordialmente dado, mas a 
organização e o sentido do espaço são produto da translação, da transformação e das 
experiências sociais”.
Além disso, não podemos deixar de destacar a relação que este espaço tem com a 
cultura e a natureza, o que Castells chamou de “debate sobre a teoria do espaço” (1977, 
apud SOJA, 1993, p. 106). Essa construção do lócus como espaço para as interações 
sociais também leva em consideração fatores determinantes como, esses apresenta-
dos por Castells; desse modo podemos compreender o espaço como a conjunção 
de elementos que se somam para formar uma estrutura sócio espacial necessária à 
comunidade.
Vejamos o que diz Santos (1996, apud QUEIROGA, 2001, p. 43) a respeito da relação 
espaço-paisagem e espaço-conteúdo:
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“[...] o espaço é um misto, um híbrido, um composto de formas-conte-
údo” (1996, p. 35). “A forma e o conteúdo somente existem separada-
mente como ‘verdades parciais’, abstrações que somente reencontram 
seu valor quando vistos em conjunto” conforme R. Ledrut (1984, p. 38) 
citado por Milton Santos (1996, p. 80).
Esses conceitos dominantes da pesquisa, público, Estatal e espaço, pretendem en-
cerrar a ideia do espaço público propriamente dito, também denominado por Espaços 
Livres Públicos, conforme Magnoli (1982, apud CUSTÓDIO et al., 2011, p. 3) conceitua: “O 
Espaço Livre é todo espaço não ocupado por um volume edificado (espaço-solo, espaço
-água, espaço-luz) ao redor das edificações e que as pessoas têm acesso”.
Sem querer esgotar os diversos conceitos de espaço e, muito menos, sem a preten-
são de analisá-lo quanto à sua produção, este trabalho aborda o espaço como lócus da 
complexidade das relações humanas que nos incita a pesquisar o que é um bom espaço 
público para que essas relações se deem de modo a manter a fruição das cidades. Para 
Lefebvre (1975, p. 223 apud CARLOS, 2001, p.42):
No espaço se encontram a brecha objetiva (socioeconômica) e a brecha 
subjetiva (poética). No espaço se inscrevem e ainda mais, se “realizam” 
as diferenças, da menor à extrema. Desigualmente iluminado, desigual-
mente acessível, cheio de obstáculos, obstáculo ele mesmo diante de 
iniciativas, modelado por eles, o espaço torna-se o lugar e o meio das 
diferenças [...]. Obra e produto da espécie humana, o espaço sai da som-
bra, como um planeta em eclipse.
Portanto, o espaço só se tornará público se nele houver a troca entre as pessoas, 
relações interpessoais que, mesmo quando desconhecidas entre si, compartilham e, 
portanto, trocam a vivênciae a experiência de estarem num mesmo lugar. Para Gomes 
(apud ALEX, 2008, p. 19), “os atributos de um espaço público são aqueles que têm re-
lação com a vida pública [...] E, para que esse “lugar” opere uma atividade pública, é 
necessário que se estabeleça, em primeiro lugar, uma copresença de indivíduos”.
Entretanto, devemos ainda questionar se essa vida pública, repleta de diversidade e 
de trocas cabe em nosso modelo cultural. Essa discussão veio à tona nos Estados Unidos 
na década de 1960 quando - impulsionados pelos valores discutidos por Jane Jacobs em 
seu livro Morte e Vida de Grandes Cidades, que critica o modelo de vida pública que 
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estava sendo construído na maioria das grandes cidades americanas, o urbanismo busca 
um retorno aos valores da vida pública exercida em seus espaços livres.
O arquiteto Michael Brill (1989 apud ALEX, 2008, p. 20) foi um dos que chamou a 
atenção para o fato dessa tentativa de resgatar algo que nunca existiu, visto que a socie-
dade americana nunca exerceu a vida pública como a praticada nos moldes europeus e, 
portanto, seria incapaz de vivenciá-la da forma como estavam idealizando os urbanistas 
daquela época. Alex (2008, p. 20) comenta o pensamento de Brill:
Para Brill, essa nostalgia tornou-se uma ideologia de projeto, para a qual 
o espaço público “tradicional” traria automaticamente de volta aquela 
“antiga vida pública perdida”, que provavelmente nunca existiu dessa 
forma nos Estados Unidos. O autor afirma que, no contexto america-
no, pautado pela segmentação, pluralismo e estratificação da sociedade, 
não há lugar para uma vida pública diversificada, democrática e sem 
distinção de classes.
De fato, como ressalta Brill, as sociedades vivenciam o espaço público conforme sua 
cultura e seus costumes; no entanto, é senso comum que este espaço é o lócus da cidade 
acessível a todos, capaz de exibir as transformações da sociedade, que, individual ou co-
letivamente, exerce as trocas interpessoais e se manifesta publicamente. Esse espaço, por 
seu caráter público, contém as relações humanas e para elas deve ser construído.
O espaço público é, então, definido como palco dos acontecimentos das manifesta-
ções urbanas, coletivas ou individuais, local que pode ser de passagem ou permanência, 
de encontro ou de contemplação, sempre estruturante e vinculador da vida urbana.
O espaço público em seus tipos, características e diferenças que podem ser encon-
trados na cidade contemporânea é o que veremos a seguir.
1.2 Tipologias que caracterizam o espaço público
Na arquitetura, a tipologia pode ser entendida, não como um modelo a ser segui-
do, e sim como uma ideia que carrega em si símbolos nem sempre explicitamente histó-
ricos, sendo resultado da soma de referências existentes em torno de um mesmo tema.
Argan (2008, p. 268) coloca que “a criação de um “tipo” depende da existência de 
uma série de construções que tenham entre si uma evidente analogia formal e funcional.” 
É com essa referência que traremos para este estudo um apanhado das tipologias que 
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encerram o espaço público, tal qual nós o conhecemos, a fim de caracterizarmos nosso 
objeto de estudo dentro desse espectro.
Como já mencionado no item anterior, o Espaço Livre (EL) apresenta várias tipolo-
gias que contemplam ruas, calçadas, avenidas, calçadões, jardins, matas, parques, pátios, 
praças, quintais, rios, vazios urbanos e outros (CUSTÓDIO et al., 2011, p. 3). Os ELs ur-
banos podem ser de natureza, pública ou privada, e, neste trabalho, trataremos dos ELs 
públicos considerando aqueles que são acessíveis a todos. Alex (2008, p. 19) considera 
que a palavra “público” deve ser empregada para determinar locais “abertos e acessíveis, 
sem exceção, a todas as pessoas”.
Os espaços livres públicos assumem várias formas e ocupam diversos lugares na 
cidade, moldando-se e refletindo as transformações e dinâmicas da sociedade. Nesse 
sentido, os ELs urbanos podem ser enquadrados em três tipos-padrão (CUSTÓDIO et al., 
2011, p. 4): o primeiro pode ser entendido como aquele de circulação, convívio e lazer, 
como por exemplo, as calçadas, parques, praças e ciclovias.
O segundo tipo de ELs é o de preservação e conservação ambiental. Esses espaços 
são determinados por meio de legislação e se caracterizam por formações como encos-
tas, dunas, mangues, rios e matas. Por último, um terceiro tipo é proposto, onde podem 
ser enquadrados os espaços destinados às infraestruturas, como por exemplo, estações 
de tratamento de água e esgoto, cemitérios, estações de metrô, aterros sanitários etc. 
(CUSTÓDIO et al., 2011).
Esses espaços representam diversos papéis na sociedade, sendo usados para a ex-
pressão humana, para atividades de lazer, contemplação, circulação, preservação am-
biental e drenagem, além de poderem ser vistos como patrimônio que constituem a 
identidade social de uma comunidade (MACEDO, CUSTÓDIO et al. 2009, p.5 apud CUS-
TÓDIO et al., 2011, p. 3).
Dentre os ELs públicos urbanos, as praças e parques são os tipos mais comuns 
no Brasil (MACEDO, 1999, CUSTÓDIO et al., 2011, p. 10). Entretanto, os parques exercem 
maior atração à população, principalmente aos finais de semana, mesmo havendo praças 
com boa manutenção nos bairros residenciais (CUSTÓDIO et al., 2011, p. 11).
Além de classificarmos os espaços livres por meio de seus tipos, podemos, ainda, 
agrupá-los através de seus subtipos e caracterização (CUSTÓDIO et al., 2011). Dentro des-
sa classificação, são levantadas diversas categorias de espaços livres, como por exemplo, 
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de caráter ambiental, de circulação e seus associados e particulares. Definido o tipo, esses 
podem ser desdobrados em subtipos que especificam seu uso determinado, possibilitan-
do a redução que nos ajuda a compreender e classificar melhor o espaço público que 
estamos estudando.
Para este estudo, considerando a classificação proposta por Custódio et al. (2011), 
podemos definir que, dentre os ELs elencados, o Espaço Livre de práticas sociais melhor 
representa nosso objeto, uma vez que, seu subtipo – praça, contém elementos que a ca-
racterizam como um espaço para desenvolvimento de atividades contemplativas, recre-
ativas, mistas (lazer, cultura, esporte), de conservação e até memorial, já que uma parte 
do patrimônio histórico da cidade foi conservado. O anexo A – Tipos de Espaços Livres 
apresenta essas classificações em sua completude.
Outros autores também classificaram esses espaços; Lima (Org, 1994 apud LOBO-
DA; DE ANGELIS, 2005) conceitua essas áreas com termos como espaço livre, que é um 
conceito mais abrangente, pois integra outros espaços e se diferencia daqueles ocupados 
por construções dentro da área urbana. Áreas verdes é um termo que também figura 
nas proposições de Lima5 e caracteriza espaços com predomínio de vegetação como nas 
praças, parques, jardins públicos, canteiros centrais, rotatórias etc. Em contrapartida, o 
parque urbano tem uma função ecológica preponderante, além de integrar atividades de 
lazer e estética e é diferenciado das outras áreas pela sua dimensão.
Podemos dar destaque ao que Lima6 define como praça, pois sua definição a ca-
racteriza como área cuja principal função é o lazer e, mesmo não sendo permeável pela 
presença de área verde, pode ter a função de contemplação e convivência.
A denominação que Llardent (1982, p. 151 apud LOBODA; DE ANGELIS, 2005) usa 
para essas áreas está resumida em três dimensões, onde a primeira é um sistema de 
espaços livres que engloba o espaço livre caracterizado por áreas verdes livres de edifi-
cações e que, por sua vez, integra as “zonas verdes”, cujas áreas com predominância de 
vegetação correspondem ao que se denomina como parques, praças e jardins.
5 (LIMA, org., 1994 apud LOBODA, Carlos Roberto; DE ANGELIS, Bruno Luiz Domingos.Áreas verdes pú-
blicas urbanas: conceitos, usos e funções. Ambiência, Guarapuava, PR v.1 n.1 p. 125-139 jan./jun. 2005. 
Disponível em: <http://www.unicentro.br/EDITORA/REVISTAS/AMBIENCIA/v1n1/artigo%20125-139_.
pdf>. Acesso em: 07 mai. 2012
6 Ibid.
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31
Alex (2008) define a praça “não apenas como um espaço físico aberto, mas também 
como um centro social integrado ao tecido urbano” e ainda cita Kevin Lynch (1981, apud 
ALEX, 2008, p. 23) para evidenciar sua argumentação:
The square ou plaza. Este é um modelo diferente de espaço aberto ur-
bano, tomado fundamentalmente das cidades históricas europeias. A 
plaza pretende ser um foco de atividades no coração de alguma área 
“intensamente” urbana. Tipicamente, ela será pavimentada e definida por 
edificações de alta densidade e circundada por ruas ou em contato com 
elas. Ela contém elementos que atraem grupos de pessoas e facilitam 
encontros: fontes, bancos, abrigos e coisas parecidas. A vegetação pode 
ou não ser proeminente. A piazza italiana é o tipo mais comum. Em al-
gumas cidades americanas em que a densidade das pessoas nas ruas é 
alta o suficiente, essa forma tem-se sucedido elegantemente. Em outros 
lugares, essas plazas emprestadas podem ser melancólicas e vazias.
Alguns autores, no entanto, definem a praça considerando sua forma preponderan-
te ao seu viés social, como por exemplo Claire Cooper-Marcus e Carolyn Francis (1990, 
apud ALEX, 2008, p. 24) que consideram a praça como “[...] uma área pavimentada do 
espaço externo de onde os carros são excluídos. [...] a superfície predominante é a pavi-
mentada [hard surfasse] e, se a área plantada exceder a superfície pavimentada, deve-se 
defini-la como park”. 
No Brasil, dentro de um contexto de sucessivas mutações sociais, podemos dizer que 
as praças acompanharam essas transformações. Depois de ter passado por um período em 
que desempenhou a função de elo entre a comunidade e a Paróquia da cidade colonial 
brasileira, além de na segunda metade do século XIX, passar a ser objeto de projetos com 
foco no paisagismo, em 1920 os parques e praças nacionais passam a ser uma opção de 
lazer, tendo não mais somente a função contemplativa (ROBBA; MACEDO, 2010).
Embora a formação cultural do espaço tenha surgido e se transformado ao longo 
do tempo, sua inspiração de forma sempre foi europeia, principalmente no momento do 
ecletismo, em que se buscava um padrão europeu que nunca foi alcançado por falta de 
investimento. Essa situação fez surgir o que Queiroga (2001, p. 60) classifica como “pra-
ças-jardim” e “praças-ajardinadas”.
É certo que se almejava o jardim e o passeio público europeu, mas 
o fato é que, diante do quadro local de urbanização incipiente e 
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expatriação estrutural de recursos, se criaram alguns poucos jardins, so-
bretudo nas maiores cidades de então, e muito mais “praças-jardim” e 
“praças-ajardinadas”.
No entanto, a função da praça se diversifica no país, tornando-a um espaço público 
necessário, como lembra Bartalini (2007, p. 1):
As praças também nasceram de necessidades: de espaço para abrigar as 
atividades de troca e para a tomada de decisões coletivas; de endereço 
para os encontros7, para as festividades, de um símbolo para a comuni-
dade, enfim, de um “centro” facilmente acessível para a realização das 
mais variadas funções.
Sendo assim, as classificações feitas por Queiroga (2001) apresentam diferenças. 
Para ele, a “praça-ajardinada” é o que chamamos de praça e a “praça-jardim” é um híbri-
do de praça e jardim que, por ser demasiadamente ajardinada, não oferece lugares onde 
o público possa se expressar, desfavorecendo as aglomerações de pessoas, elemento 
essencial que caracteriza uma praça. Como exemplo de praça-jardim Queiroga (2001, p. 
60) cita a Praça Buenos Aires8, no bairro de Higienópolis em São Paulo. Na “praça-jardim”, 
a atividade pública torna-se “enfraquecida diante do conceito de praça e das potenciali-
dades de ações da esfera da vida pública”.
Derivando a “praça-ajardinada” e dividindo o espaço entre ajardinado e pavimen-
tado como elementos de diferenciação entre as tipologias mais encontradas no Brasil, 
ainda temos dentre essas duas tipologias, a que chamamos de parque. O parque, no en-
tanto, possui características específicas que propiciam mais o lazer e o paisagismo do que 
propriamente a concentração e interação pública. Vejamos como se dá essa distinção:
As praças ajardinadas distinguem-se dos parques pois nestes, o sistema 
de ações e objetos privilegia, em essência, o lazer, o passeio, a fruição da 
paisagem, o descanso e a recreação e não o encontro e a manifestação 
pública. A fragmentação em subespaços é mais intensa no parque que 
7 Sobre os jardins públicos brasileiros, sobretudo do século XIX, cf. SEGAWA, Hugo. Ao amor do público: 
jardins do Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP, 1996, apud QUEIROGA, 2001, p. 60.
8 Classificada pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente como Parque Buenos Aires desde 
1988. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_ambiente/parques/
regiao_centrooeste/index.php?p=5732>. Acesso em 29 set. 2013.
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na praça, esta é, por excelência, voltada a co-presença, enquanto no 
parque dá-se a dispersão mais que a reunião. (QUEIROGA, 2001, p. 61).
No Brasil, que apesar de ter sofrido influência europeia na constituição de suas pra-
ças, habituou-se a chamar de praça áreas verdes públicas arborizadas ou simplesmente 
gramadas como, por exemplo, as rotatórias e canteiros centrais de avenidas nem sempre 
acessíveis ao público devido ao tráfego e à falta de estrutura de lazer. Robba e Macedo 
(2010, p.17) definem praças como: “espaços livres de edificação, públicos e urbanos, des-
tinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos”.
No entanto, ainda pode ser motivo de dúvida a distinção entre parque e praça. 
Usualmente, no município de São Paulo, a implantação, manutenção e gestão dos 
parques está sob responsabilidade da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente 
e as praças sob responsabilidade das subprefeituras, possuindo elementos que os dis-
tinguem entre si. 
Segundo Buzzo et al. (2012), as principais diferenças entre os parques e praças são 
que os parques possuem cerca e horários de funcionamento, estruturas de apoio, como 
banheiros e bebedouros, possui segurança terceirizada, sendo administrados por um con-
selho gestor, enquanto as praças, tendem a não ter gradeamento e ter acesso irrestrito.
Isso posto, podemos caracterizar a Praça Victor Civita, objeto de nosso estudo, 
como um Espaço Livre público, de práticas sociais de uso misto: uma praça; entretan-
to, algumas de suas características a enquadram como um parque, como por exemplo, 
ter horário de funcionamento determinado. Porém, a fundamental característica – estar 
sob a responsabilidade da Subprefeitura de Pinheiros – a define como praça e assim a 
classificaremos.
É evidente que, como veremos mais à frente, nem todos os elementos apontados 
por Lynch (1981, apud ALEX, 2008) são encontrados na Praça Victor Civita, pois esta foi 
criada em local onde antes funcionava outro equipamento urbano; no entanto o partido 
adotado em seu projeto sugere o lazer e a convivência como principais âncoras do espa-
ço, caracterizando-a, portanto, como uma praça.
Podemos concluir que, como espaço livre público, a praça possui características con-
cretas – forma e espaço – e subjetivas – interações sociais e exercício da vida pública – ob-
tendo grande importância para a cidade e para as pessoas, e absorvendo as transforma-
ções sociais, econômicas e políticas ao longo da história. Portanto, a forma dos espaços 
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Como vimos, dentro do espectro dastipologias apresentadas, a praça tem caracte-
rísticas específicas e formais que a definem como espaço público, voltado para a convi-
vência, exercida por meio das práticas sociais e de lazer, além de ser um espaço dotado 
de certos elementos construtivos, como acesso, mobiliário, vegetação, água, sombra, 
limpeza, segurança e recreação, que podem ser encontrados em bons projetos e repre-
sentam a forma contemporânea da praça.
Nos espaços públicos, percebemos as transformações urbanísticas e comporta-
mentais da sociedade. É a sociedade que interfere na formação de políticas que pautam a 
formação do espaço. Dentro da lógica de público e privado, encontramos elementos te-
óricos capazes de nos fazer entender como um espaço pode ser definido como público.
Se o urbanismo moderno atribuía ao público o que era externo e de uso coletivo, 
a sociedade contemporânea deve considerar o individualismo como uma nova forma de 
olhar o público; e é o movimento social, inerente ao espaço, que transforma o entendi-
mento do que é público e do que é privado.
Daí, a noção de público e privado é importante para se pensar na função do espaço 
público. O privado pode ser entendido como o que está na particularidade de uma pes-
soa, e o público, o que diz respeito à comunidade cívica. Mas mesmo que entendamos o 
público e o privado como conceitos antagônicos, eles não se contrapõem entre si, pois o 
privado também tem uma função social expressiva que visa o bem comum.
Na análise do espaço público, podemos entender as transformações na sociedade 
que também repercutem na tipologia que encontramos para caracterizar esses lugares. 
A natureza do espaço é definida pelo seu uso e absorve as diversas fases nas quais a vida 
urbana se insere. É o caso dos diversos usos que o espaço agregou ou abandonou ao 
longo da história, passando de lugar de troca e protesto para o de lazer e contemplação.
Dentro das tipologias estudadas, a Praça Victor Civita, apesar de não possuir todos 
os elementos formais que caracterizam uma praça, encerra grande parte dos princípios 
fundamentais que explicam uma praça em seu programa, concentrando atividades de 
lazer, educativa e cultural. Podemos assim perceber que, em sua criação, o espaço deve 
prever que as trocas e atividades pessoais devem acontecer livremente, mesmo havendo 
regras que organizem a sociedade e o coletivo.
Podemos, então, definir o espaço público como aquele aberto e acessível a todos, 
onde são exercidas as manifestações individuais ou coletivas capazes de transmitir e 
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demonstrar as relações e transformações vividas pela sociedade. Esse espaço compreen-
de diversas tipologias, desde àquelas que garantem a circulação, como as calçadas, até 
a praça, local de lazer e convívio social, que possui elementos específicos que a caracte-
rizam e que encerram as práticas sociais, de convívio e lazer, reflexos esses das transfor-
mações da sociedade.
Na cidade atual, a sociedade está conectada por redes que têm a solidariedade 
como elemento indispensável para a discussão da construção do espaço público con-
temporâneo, visto como um espaço efêmero que se transforma à medida que a socieda-
de quer ou necessita.
A praça, mesmo tendo sofrido transformações em seu estilo, ainda permanece 
como referencial de lazer, tranquilidade e qualidade de vida para a população. No entan-
to, apesar da responsabilidade que o poder público tem em fornecer espaços de qua-
lidade à população, nem sempre o planejamento financeiro municipal leva em conta a 
necessidade desses espaços e, por terem orçamentos cada vez mais reduzidos, priorizam 
outros setores da administração. Dentro desse quadro, surge a parceria público-privada 
para a criação e manutenção de praças. Como se dá a parceria e como esse instrumento 
tem sido usado em São Paulo e em outras cidades do mundo é o que veremos no pró-
ximo capítulo.
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2. A parceria público-privada na 
construção do espaço público
Códigos e regulações de uso e ocupação do solo – mais precisamente leis que autorizam os empreendimentos imobiliários a terem uma taxa de ocupação do terreno maior que a permitida em uma determinada região, desde que estes des-
tinem parte de sua área a espaços livres com acesso ao público – oficializaram as PPPs 
para a construção do espaço público. Mas a parceria público-privada não ficou só nessa 
concessão de uso de área; hoje, muitas cidades do mundo têm transferido a construção 
e manutenção de praças e outras áreas verdes municipais aos cuidados de empresas que, 
em troca de publicidade, cuidam dessas áreas.
Essa condição, em que o poder público partilha com a iniciativa privada – e muitas 
vezes com a população, os cuidados na manutenção da cidade, não é novidade. Nos 
Estados Unidos, desde a década de 1960, são feitas parcerias, que nem sempre são bem 
vistas pela sociedade, mas que refletem a forma da cidade contemporânea que podemos 
entender como esforços conjuntos para construção coletiva do espaço. Vejamos o que 
Ascher (2010, p. 56) nos diz a respeito:
Todavia, um novo tipo de regulação parece se esboçar, ao qual poderí-
amos classificar de “regulação de parceria”, na medida em que os ato-
res, com lógicas diferenciadas e com interesses divergentes e conflitan-
tes em uma série de pontos, se esforçam ou são obrigados a elaborar 
gestos comuns, negociar compromissos duradouros e criar instituições 
coletivas.
Mesmo sendo um sinal claro de nossa contemporaneidade, as parcerias públi-
co-privadas, usadas na construção e gestão do espaço público, têm sido muitas vezes 
contestadas por trazerem ao espaço um caráter de espaço privado construído em área 
pública. Além disso, esses espaços sofrem códigos e regulações nem sempre definidos 
apenas pelo poder público, pois permitem ao gestor do espaço estabelecer regras que 
cerceiem ou ao menos inibam a plena utilização do espaço público. Essa preocupação é 
clara há muito tempo para alguns urbanistas. Sobre isso Lefebvre (1972, apud CARLOS, 2001, 
p. 49-50) nos mostra sua visão entre a cidade-realidade presente e a realidade so-
cial, repleta de relações a serem estabelecidas. Nesse sentido, as regulamentações, 
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manipulações e códigos forçosamente estabelecidos podem enfraquecer, senão des-
truir, a relação entre o espaço e o público.
[...] devemos distinguir a ação e o resultado, o grupo (ou os grupos) e 
seu produto. Sem separações. Não há obra sem uma sucessão regulada 
de atos e ações, de decisões e de condutas, sem mensagens e códigos. 
Não há obras sem coisas, sem uma matéria a modelar, sem uma reali-
dade prático-sensível, sem um sítio, sem uma “natureza”, um campo e 
um entorno. As relações sociais se atingem a partir do sensível; não se 
reduzem a esse mundo sensível embora não flutuem no ar, não escapam 
da transcendência. Se a realidade social implica formas e relações, se não 
pode ser concebida de forma homóloga à de um objeto e coisas. Insis-
timos nesse ponto, metodológica e teoricamente importante. Há lugar e 
razão para distinguir a morfologia material e a morfologia social. Talvez 
se deva aqui introduzir uma distinção entre a cidade-realidade presente, 
imediata, dado prático-sensível, arquitetural – e de outro lado o urba-
no, realidade social composta de relações a conceber, a construir ou re-
construir pelo pensamento. Todavia essa distinção se revela perigosa e a 
denominação proposta não se manipula sem riscos [...] (LEFEBVRE, 1972, 
p. 57 apud CARLOS, 2001, p. 49-50).
Em meio às incertezas que as parcerias público-privadas, na construção do es-
paço, ainda têm em relação à apropriação deste espaço pela população, este capítulo 
apresentará como essas parcerias têm sido realizadas em alguns lugares do mundo e no 
município de São Paulo.
2.1 Experiências internacionais
No contexto internacional,

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