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Módulo 1 - Corrupção e seus impactos na fruição dos direitos humanos no Brasil

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Prévia do material em texto

1
Direitos Humanos 
como ferramenta de 
combate à corrupção
Corrupção e seus impactos 
na fruição dos direitos 
humanos no Brasil1
2
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Coopera-
ção Técnica UFSC/Laboratório CEPED e Coordenação-Geral de Desen-
volvimento de Cursos e Laboratório 
Curso produzido em Brasília, 2021 
Enap Escola Nacional de Administração Pública
Enap, 2021
Diretoria de Educação Continuada
SAIS - Área 2-A -70610-900 - Brasília, DF
Conteudista:
Daniel Fassa Evangelista (Conteudista, 2021); 
Diretoria de Desenvolvimento Profissional. 
3
Sumário
Unidade 1: Corrupção e Direitos Humanos: definições ........................................... 5
1.1 O que é corrupção? .................................................................................................... 7
1.2 O que são direitos humanos ................................................................................... 9
1.3 A relação entre corrupção e Direitos Humanos ................................................ 11
Unidade 2: O impacto da corrupção no Brasil ........................................................... 12
2.1 Corrupção e prejuízos aos direitos econômicos, sociais e culturais ............ 14
2.2 Clientelismo: corrupção e direitos políticos ........................................................ 15
2.3 Quando o Estado atenta contra direitos civis .................................................... 15
2.4 Corrupção e perda de confiança ............................................................................ 15
2.5 Definições e dados sobre corrupção no setor público (Estado) ................... 16
2.6 Definições e dados sobre corrupção no setor privado (Mercado) ............... 19
2.7 Definições e dados sobre corrupção no terceiro setor .................................... 21
Referências ........................................................................................................................ 22
4
5
Ao final desta unidade, você será capaz de compreender o que é cor-
rupção à luz de conceitos como ética, integridade, democracia, repúbli-
ca e direitos humanos.
1. parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que 
motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento huma-
no, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescri-
ções e exortações presentes em qualquer realidade social. [...] 2 p.ext. 
conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indi-
víduo, de um grupo social ou de uma sociedade.
Imaginemos a seguinte situação: as avaliações de uma disciplina obrigatória de uma faculdade têm fama de serem 
extremamente difíceis, com altas taxas de reprovação a cada semestre. Um dia, ao disponibilizar os conteúdos da 
disciplina no site da turma, o professor acidentalmente posta um teste com todas as respostas indicadas no final. Ele 
percebe o erro e imediatamente exclui o arquivo, mas antes disso um aluno percebe o ocorrido e baixa o teste, sem 
que ninguém fique sabendo. 
Como agiu rapidamente e não tem consciência de que alguém teve acesso às respostas, o professor aplica a mesma 
prova em seguida. O Código de Ética do Aluno proíbe os estudantes de fazer uma prova caso tenham acesso prévio 
às respostas. As violações ao código são passíveis de punição. 
Como o aluno que obteve as respostas deveria agir? 
O estudante sabe que realizar a prova nessas circunstâncias seria um ato de desonestidade não só para com o professor, 
mas também para com seus colegas. Avaliações sempre pressupõem que os avaliados não conheçam previamente as 
respostas e que todos a realizem em igualdade de condições. 
Mas ele poderia pensar: se o professor cometeu esse deslize e não se preocupou em elaborar uma nova prova, qual 
o problema de se aproveitar? Além disso, muitos consideram injusta a aplicação de uma avaliação excessivamente 
rigorosa quando comparada à média das demais disciplinas. Não seria essa mais uma justificativa para colher a 
oportunidade?
As reflexões prosseguem: seriam as atitudes questionáveis do professor uma boa justificativa para uma ação 
desonesta? A quem o aluno prejudicaria se fizesse a prova sabendo previamente as respostas? Nesse momento, ele se 
lembra da punição prevista no Código de Ética do Aluno para quem agir desse modo. No entanto, tem certeza de que 
jamais será descoberto, porque o sistema não registra quantos e quais usuários baixaram um determinado arquivo. A 
garantia de que “ninguém está vendo” e a certeza da impunidade seriam motivos suficientes para um comportamento 
desonesto?
Cada um de nós certamente já se deparou com dilemas semelhantes aos desse caso hipotético, não necessariamente 
em âmbito educacional, mas também no trabalho, em espaços públicos ou privados, até mesmo em família. 
As interrogações que ele suscita têm a ver com algo que todos os seres humanos temos em comum: aquele constante 
diálogo com a própria consciência sobre nossas ações, sobre o que é bom, o que é justo, o que é dever, em suma, 
reflexões típicas daquilo que denominamos ética. De acordo com Dicionário Houaiss Online, em linhas gerais, a ética 
pode ser definida como:
Corrupção e Direitos Humanos: definições
U
N
ID
A
D
E
1
6
Falar em ética, significa, portanto, falar dos valores e princípios que guiam o nosso comportamento. Ao longo da 
história, respostas para as inevitáveis interrogações éticas foram elaboradas por diversos autores, como Aristóteles, 
John Stuart Mill e Immanuel Kant. 
Não é possível aprofundarmos essas e outras teorias neste curso. Mas o fato mesmo de existirem diferentes perspectivas 
teóricas indica que a ética não é feita de respostas prontas, mas sim da contínua reflexão pessoal e coletiva sobre o 
nosso agir, da sincera busca dos melhores critérios a partir dos quais faremos nossas escolhas, levando em conta que 
vivemos em sociedades estruturadas em torno de valores compartilhados. 
Essa dimensão volitiva – ou seja, da vontade – é fundamental quando pensamos em ética, porque, além da racionalidade, 
o que nos distingue enquanto seres humanos é a liberdade de ação e a responsabilidade dela decorrente. Conhecer o 
bem não nos leva necessariamente a fazê-lo. É necessário escolhê-lo. 
Isso fica evidente no caso do estudante que tem acesso às respostas da prova. Como vimos, ele tem bons motivos e 
até mesmo supostas justificativas para se aproveitar da ocasião. Mas duas ponderações o detêm: 
1. Existe uma norma escrita – o Código de Ética do Aluno – que promete punir aqueles que a desrespeitarem (trata-
se, portanto, de um código que, no âmbito universitário, opera coercitivamente, como fazem as leis na vida social); 
2. Ainda que o estudante tenha a certeza de que não será descoberto, permanece a consciência de que fazer a prova 
sabendo previamente as respostas é um ato desonesto. 
As duas ponderações podem dissuadi-lo de fazer a prova nessas condições, mas por motivos diferentes: se optar por 
não fazer por medo da punição, ele terá apenas “respeitado a lei”. Se não o fizer porque deseja ser honesto, ele terá 
sido fiel a um conjunto de valores que condenam eticamente essa prática. A esse segundo comportamento chamamos 
integridade.
A palavra integridade deriva do latim integritas (totalidade) e está profundamente ligada com as reflexões éticas. Ela 
pode ser compreendida como a coerência entre os valores, decisões e ações de uma pessoa. A ela, geralmente se 
associam princípios como honestidade, responsabilidade e confiabilidade.
A imagem a seguir é uma célebre pintura do francês Jacques-Louis David, concluída em 1787. Ela retrata a morte de 
Sócrates mais de dois mil anos antes, episódio que marcou não só a história da filosofia, mas da humanidade, por se 
tornar um dos mais conhecidos exemplos de integridade. 
Jacques Louis David | A morte de Sócrates | 1787 | Óleo sobre Tela |
Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/8c/David_-_
The_Death_of_Socrates.jpg/1280px-David_-_The_Death_of_Socrates.jpg1,30 m x 1,96 m | Metropolitan Museum | New York
7
Sócrates (470-399 a.C.) foi um pensador grego que se tornou um divisor de águas na história da filosofia, porque foi 
o primeiro a afirmar que o homem é a sua alma, entendida como consciência, personalidade intelectual e moral. Para 
ele, a alma racional é o traço distintivo dos seres humanos e deve prevalecer sobre o corpo e seus apetites. Por isso 
dedicou sua vida à educação espiritual de seus concidadãos atenienses, através do método dialético (ou dialógico). 
Acabou acusado de corromper os jovens da cidade com essas e outras ideias, como a negação do politeísmo previsto 
em lei. No julgamento a que foi submetido, defendeu-se sozinho, recorrendo à argumentação racional que sempre 
utilizou ao longo de sua vida, mas não conseguiu convencer os juízes e foi condenado à morte por envenenamento. 
Quando seus amigos organizaram tudo para sua fuga, recusou-se, porque fugir teria significado negar seus 
ensinamentos, além de desrespeitar as leis de Atenas, às quais ele era fiel, ainda que não concordasse com elas. 
Acreditava que, se as únicas armas com que considerava justo combater – a razão e a persuasão – não haviam 
funcionado, cabia-lhe aceitar sua sentença.
Platão, o mais conhecido discípulo e maior responsável pela propagação escrita das ideias de Sócrates (que não 
escreveu livros), coloca as seguintes palavras na boca de seu mestre, conforme trecho citado na página 98 da obra 
“História da Filosofia”, de Giovanni Reale e Dario Antisseri (2003):
Como se vê, Sócrates prefere a morte à incoerência, porque isso significaria corromper-se, ou seja, distanciar-se 
dos valores preconizados por sua consciência racional, considerada por ele fonte segura da verdade ética. Para ele, 
esse conhecimento estava disponível a todos aqueles que sinceramente se dispusessem a buscá-lo (“conhece-te a ti 
mesmo”, recomendava, reproduzindo a máxima do oráculo de Delfos). 
Ao aceitar destemidamente a morte, o filósofo clama, uma última vez, que não era ele quem corrompia a juventude, 
mas as leis ímpias de Atenas que corrompiam todos os cidadãos, porque preconizavam ideais abaixo daquilo que os 
seres humanos são capazes de alcançar.
 E aqui chegamos a uma primeira definição de corrupção. Se em sua raiz latina originária esse termo designa a 
deterioração física, o processo de putrefação, na vida ética ele indica a decadência de valores, princípios, hábitos, 
costumes, como se lê em qualquer dicionário da língua portuguesa.
1.1 O que é corrupção?
“Não se deve desertar, nem retirar-se, nem abandonar o posto, mas 
sim, na guerra, no tribunal e em qualquer lugar, é preciso fazer aquilo 
que a pátria e a cidade ordenam, ou então persuadi-las em que consiste 
a justiça, ao passo que fazer uso da violência é coisa ímpia”.
Afirmar, em sentido literal ou figurado, que a corrupção significa deca-
dência, deterioração, implica assumir que exista algo a ser deteriora-
do. A palavra corrupção está, portanto, intimamente relacionada com 
determinados valores e padrões de conduta. No caso específico deste 
curso, tais padrões estão diretamente relacionados ao Estado Demo-
crático de Direito. 
Neste vídeo você encontra uma análise detalhada do quadro “A morte de Sócrates” de Jacques-
Louis David. Não se esqueça de ligar as legendas em português.
https://www.youtube.com/watch?v=rKhfFBbVtFg
SAIBA MAIS
https://www.youtube.com/watch?v=rKhfFBbVtFg
8
Esse conceito de Estado Democrático de Direito vem à tona logo no primeiro artigo de nossa Constituição (1988), 
em que se lê: “Todo o poder emana do povo (isso significa que vivemos em uma República), que o exerce por meio 
de representantes eleitos (temos o direito de eleger vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e 
presidentes) ou diretamente, nos termos desta Constituição” (nossa Carta Magna também prevê a participação e o 
controle social, através de espaço como os conselhos de políticas públicas, dentre outros instrumentos).
O artigo 5° também é muito significativo nesse sentido: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Finalmente, vale mencionar o artigo 37, que determina que “a administração pública direta e indireta de qualquer 
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. É a partir desses pressupostos que poderemos então definir o 
termo corrupção no sentido com que trabalharemos neste curso: 
Uma definição bastante sintética foi proposta pelo Banco Mundial (1997), que entende a corrupção como “o uso de 
poderes públicos para a obtenção de benefícios privados”. Como se vê, aqui o enfoque está na administração pública, 
com seus funcionários e políticos. Isso não significa que a corrupção não ocorra na esfera privada, como empresas, 
organizações da sociedade civil e até mesmo nas atitudes de cidadãos comuns. 
Muitas vezes, é na interface entre o público e o privado que a corrupção acontece. Pensemos, por exemplo, nas situações 
em que uma empresa ou indivíduo subornam um agente público para obter uma vantagem, como superfaturar uma 
obra ou acelerar o acesso a um serviço público em que há fila de espera. 
Toda ação que contrarie o interesse público – expresso não apenas nos 
valores que fundamentam os Estados Democráticos de Direito mas 
também as normas cristalizadas por suas respectivas legislações – 
pode ser considerada um ato de corrupção.
Daí a importância da definição proposta pela Organização para a Coo-
peração e Desenvolvimento Econômico (OCDE) (2007), segundo a qual 
a corrupção consiste no “abuso do poder público ou privado para a 
obtenção de benefícios pessoais”. A organização não-governamental 
(ONG) Transparência Internacional (2021), por sua vez, define-a como 
“o abuso de um poder confiado para um benefício pessoal”.
O Estado Democrático de Direito que pode ser compreendido como um sistema político em que:
1. as relações sociais, políticas e econômicas são determinadas por leis; 
2. as leis são elaboradas pelo povo (ou por seus representantes eleitos); 
3. todos são iguais perante a lei, que deve ser aplicada universalmente, sem exceções;
4. as leis garantem um conjunto de direitos civis, políticos e sociais. 
É importante que tenhamos claro o que significa um Estado Democrático de Direito. Para reforçar nossa compreensão, 
vejamos este vídeo:
 O que é um Estado Democrático de Direito?
https://www.youtube.com/watch?v=DX8Hkgzbn2A
https://www.youtube.com/watch?v=DX8Hkgzbn2A
9
A trajetória que fizemos até aqui evidenciou que refletir sobre a corrupção e buscar instrumentos para combatê-la 
implica reconhecer os valores e princípios éticos que norteiam as relações sociais no contexto em que estamos inseridos 
– muitos dos quais cristalizados em leis – bem como a nossa fidelidade a elas (integridade). A seguir, buscaremos 
compreender o significado da expressão direitos humanos e qual a sua relação com a corrupção.
Nos últimos anos, órgãos de diversas entidades especializadas no combate à corrupção ligadas à Organização das 
Nações Unidas (ONU) têm sustentado que a chamada grande corrupção, que envolve altos escalões do poder público, 
tem impedido muitos países de cumprir sua obrigação de preservar os direitos humanos. 
Alguns organismos internacionais, como o Conselho Internacional de Políticas para Direitos Humanos (International 
Council on Human Rights Policy – ICHRP), chegam a referir-se à corrupção como um crime contra a humanidade, uma 
categoria de crimes que inclui genocídio e tortura. Mas o que são direitos humanos?
Essas duas últimas definições têm a vantagem de contemplar desvios que não envolvem somente políticos e 
funcionários públicos. Quando em uma grande empresa os diretores abusam do poder que lhes foi confiado pelos 
acionistas e/ou membrosdo conselho de administração, aceitando suborno, desviando fundos ou exigindo favores 
sexuais, têm-se, evidentemente, casos de corrupção. 
O Brasil é signatário de diversas convenções internacionais de combate à corrupção, como a Convenção das Nações 
Unidas contra a Corrupção (CNUCC), que em junho de 2019 já havia sido adotada por 186 Estados, a Convenção 
Interamericana contra a Corrupção (CICC), elaborada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), e a Convenção 
sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, 
elaborada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE).
Embora não proponham uma definição sintética para o termo, esses documentos também são fontes importantes 
para compreendermos o que significa corrupção, porque definem os atos que assim podem ser classificados. No caso 
da CNUCC, entre eles estão os seguintes:
1. Suborno nos setores público e privado (artigos 15.º, 16.º e 21.º)
2. Peculato, apropriação ilegítima ou outro desvio de bens por um agente público ou privado (artigos 17.º e 22º)
3. Tráfico de influência (artigo 18.º)
4. Abuso de funções (artigo 19.º)
5. Enriquecimento ilícito (artigo 20.º)
6. Lavagem de dinheiro (artigo 23.º)
7. Ocultação (artigo 24.º) 
8. Obstrução à justiça (artigo 25.º) na investigação dos crimes citados nos artigos anteriores.
Para compreender melhor as engrenagens da corrupção, vejamos este esclarecedor curta-metragem de animação 
produzido pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) em parceria com a Controladoria Geral 
da União:
A Fábula da corrupção (CGU)
https://www.youtube.com/watch?v=a8423f6Aw1A
1.2 O que são direitos humanos
https://www.youtube.com/watch?v=a8423f6Aw1A
10
Historicamente, o conceito de cidadania se desenvolve com a gradativa democratização dos Estados-nação (o que 
hoje chamamos países) a partir do século XVIII. A cidadania consiste em um conjunto de direitos que, segundo o 
sociólogo britânico Thomas H. Marshall (1967), podem ser divididos em três categorias principais: 
• os direitos civis, que protegem as liberdades individuais (ir e vir, expressão, religião etc.); 
• os direitos políticos, como o voto e a participação política; e 
• os direitos sociais, que se referem às condições mínimas de bem-estar econômico e social, como o trabalho, a 
educação, a moradia, a saúde etc. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que emerge no dramático contexto do imediato pós-segunda 
Guerra, busca ampliar o alcance desses direitos, atribuindo-os a todos os seres humanos, independentemente de sua 
nacionalidade.
Seu fundamento é a ideia de que todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos, devendo ser 
protegidos de toda forma de arbítrio e opressão. Na democracia, é do povo que emana o poder político. É em nome do 
povo que esse poder deve ser exercido, a fim de garantir o pleno desenvolvimento de cada ser humano.
Essas afirmações têm algumas implicações importantes:
1. Autonomia: cada indivíduo tem o direito de construir sua própria 
 história da maneira que lhe parecer mais conveniente, desde que 
 respeite a lei e a liberdade dos outros.
2. Cidadania: os direitos não são fruto da boa vontade ou benevolência 
 contingente de determinadas elites, mas garantidos por lei;
3. Isonomia: a lei deve ser aplicada de modo estritamente igual a todos 
 os cidadãos, inclusive os governantes e demais autoridades, o que 
 implica aquilo que em ciência política costuma-se chamar accountability 
 (“verificabilidade” do poder, transparência, prestação de contas).
Como se vê, os direitos de cidadania, assim como os direitos humanos, têm como princípios fundamentais a liberdade 
e a igualdade. No entanto, segundo alguns autores, falta-lhes uma dimensão relacional que apenas a fraternidade – o 
terceiro elemento da célebre divisa da Revolução Francesa de 1789 – é capaz de suscitar. 
É esse, por exemplo, o argumento do filósofo francês Henri Bergson (1948). Na obra “As duas fontes da moral e da 
religião” (Les deux sources de la morale et de la religion), ele afirma que, para serem de fato invioláveis, os direitos 
de cidadania “exigem de todos uma fidelidade inalterável ao dever”. A democracia, prossegue o autor, pressupõe 
um cidadão “respeitador dos outros e de si mesmo, enquadrando-se em obrigações que assume como absolutas”. 
Influenciado por Bergson, Emanuel Lévinas (1997) afirma, por sua vez, que os direitos humanos devem ser reconhecidos 
também “como direitos dos outros e pelos quais devo responder”, como se lê no livro “Os direitos do homem e os 
direitos dos outros” (Les droits de l’homme et les droits d’autrui). 
Desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, diversas convenções internacionais foram firmadas com 
o intuito de institucionalizar essa dimensão do dever, conferindo força jurídica vinculativa aos seus princípios. É o caso 
do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (ICCPR) e do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e 
Culturais (ICESCR), que foram adotados pelas Nações Unidas em 1966 e entraram em vigor em 1976. 
Para assistir um vídeo sobre o conceito de Direitos 
Humanos acesse: “Direitos Humanos”
https://youtu.be/hGKAaVoDlSs
https://youtu.be/hGKAaVoDlSs
11
Foi nesse período que o jurista Karel Vasak, durante conferência ministrada em 1979, no Instituto Internacional de 
Direitos Humanos, em Estrasburgo, iniciou a tradição de classificar os direitos humanos em três gerações: a primeira 
geração é composta pelos direitos civis e políticos conquistados com as revoluções democratizantes a partir do 
século XVIII; a segunda geração consiste nos direitos econômicos, sociais e culturais (típicos do Estado de bem-estar 
social desenvolvido no século XX); mais recentes, os direitos de terceira geração dizem respeito a direitos coletivos à 
autodeterminação, ao desenvolvimento, aos recursos naturais e a um ambiente satisfatório.
Além dos dois já mencionados, há outros sete pactos cujo enfoque volta-se a questões mais específicas, mas que são 
igualmente centrais para a promoção dos direitos humanos. Dentre eles, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação Contra as Mulheres, de 1979, e a Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989.
Para monitorar o respeito a todas essas convenções, foram criados também órgãos internacionais fiscalizadores, como 
o Comitê das Nações Unidas para os Direitos Humanos e o Comitê dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, além 
do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Os impactos negativos da corrupção são objeto de preocupação da comunidade internacional desde a década de 1970, 
mas é sobretudo a partir da década de 1990 que o nexo entre corrupção e direitos humanos passa a ser explicitado. 
A já mencionada Convenção Interamericana contra a Corrupção, da OEA foi assinada em 1996. A Convenção sobre 
o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, da OCDE, 
em 1997, e a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção data de 2003. 
Nos últimos anos, diversos especialistas têm atestado que a corrupção dificulta – quando não impede – o pleno gozo 
dos direitos humanos. Isso ocorre, por exemplo, quando uma parte da população é privada do acesso ao saneamento 
básico devido ao desvio de recursos destinados a essa finalidade.
Um estudo publicado pelo Conselho Internacional de Políticas de Direitos Humanos em parceria com a Transparência 
Internacional (2015), afirma que analisar a corrupção da perspectiva dos direitos humanos significa lançar luz sobre as 
violações que ela causa, direta ou indiretamente. 
Por exemplo, se policiais e juízes sempre tomarem suas decisões com base em suborno, muitas pessoas não terão 
garantido seu direito à justiça e à segurança. Da mesma forma, se funcionários de um hospital público derem preferência 
a pacientes que são seus parentes ou que pagam um valor “por fora”, o direitoà saúde será violado. Se programas de 
assistência social forem instrumentalizados por agentes públicos interessados em perpetuar relações de clientelismo, 
as pessoas assistidas têm a própria condição de cidadão ameaçada, porque experimentam direitos como se fossem 
favores. Finalmente, poderíamos pensar em como o desvio de recursos destinados à manutenção de uma escola 
pública pode privar estudantes do seu direito à educação de qualidade, dentre outras situações.
Uma declaração publicada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU (2020) enfatiza que a comunidade internacional 
está cada vez mais consciente do impacto negativo da corrupção sobre o gozo dos direitos humanos. Além disso, 
ao diminuir a capacidade dos governos de cumprir sua obrigação de protegê-los, a corrupção gera um clima de 
desconfiança e incerteza nas relações sociais, políticas e econômicas.
Quer saber mais sobre os sistemas de direitos humanos? Confira este “Guia Resumido dos 
Sistemas Regionais de Direitos Humanos”, produzido pelo Universal Rights Group. Basta 
acessar a página, mudar o idioma para o português no canto superior direito da tela e mergulhar 
no mundo dos direitos humanos.
SAIBA MAIS
Se você quiser saber mais sobre direitos humanos, consulte os cursos disponíveis sobre o tema na Escola 
Virtual de Governo.
SAIBA MAIS
1.3 A relação entre corrupção e Direitos Humanos
https://www.universal-rights.org/human-rights-rough-guides/a-rough-guide-to-the-regional-human-rights-systems/
https://www.universal-rights.org/human-rights-rough-guides/a-rough-guide-to-the-regional-human-rights-systems/
https://www.escolavirtual.gov.br
12
Finalmente, é importante observar que há, na sociedade, grupos particularmente vulneráveis aos efeitos negativos da 
corrupção, porque dependem mais de serviços públicos, sobretudo no campo da educação e da saúde. Dentre eles 
estão mulheres, crianças, idosos, povos indígenas, migrantes em situação irregular e outros estrangeiros, pessoas com 
deficiência, reclusos e pessoas que vivem em situação de pobreza.
De acordo a reportagem publicada pelo Fórum Econômico Mundial, com base em dados da Transparência Internacional, 
a corrupção custa cerca de 1,26 trilhão de dólares por ano para os países em desenvolvimento. Com essa quantia, 
seria possível auxiliar, durante seis anos, todas as pessoas que vivem com menos de 1,25 dólares por dia, afirma o 
texto, disponível neste link.
Em plena pandemia de Covid-19, um cidadão caminha na orla de uma importante cidade brasileira sem usar máscara, 
equipamento de proteção individual obrigatório nessas circunstâncias, segundo determinação de decreto municipal. 
Uma equipe da Guarda Civil se aproxima, solicitando que a norma seja cumprida, mas ele se recusa. Informado de que 
seria multado, o cidadão afirma que jogará o comprovante na cara do guarda, além de tentar intimidá-lo afirmando ser 
desembargador e fazendo uma ligação para o secretário de segurança pública local.
Esse episódio, amplamente divulgado pelos meios de comunicação em julho de 2020, é um caso típico do “você sabe 
com quem está falando?”, expediente que, como evidencia o antropólogo brasileiro Roberto DaMatta (1997), revela 
uma baixa adesão à ideia de que as leis valem igualmente para todos. 
Dada a grande repercussão, a “carteirada” acabou mal para o cidadão que quis colocar-se acima da lei. Ele foi punido 
pelo Conselho Nacional de Justiça e condenado, em primeira e segunda instância, a indenizar o guarda, a quem chamou 
de analfabeto durante a abordagem. Até a data de publicação deste curso, ainda cabia recurso a instâncias superiores. 
Mas, independentemente dos desdobramentos judiciais, a situação suscitou muitas reflexões. 
Não tivesse o caso se tornado público, as consequências seriam as mesmas? Do ponto de vista ético e legal, a resposta 
é clara. Mas quando nos lembramos dos inúmeros “jeitinhos brasileiros”, tão comuns no imaginário nacional, como 
tentar subornar um policial para evitar ser multado ou recorrer a um conhecido poderoso para cortar fila no acesso a 
um serviço público, dúvidas começam a surgir. 
Embora costumem ser naturalizados e considerados menos importantes que os escândalos vistos nos noticiários, 
esses também podem ser considerados casos de corrupção. O infográfico a seguir, ajuda-nos a compreender o impacto 
de nossas ações cotidianas: 
Ao final desta unidade, você será capaz de compreender como a cor-
rupção se manifesta nas diferentes esferas de interação social e quais 
seus impactos diretos e indiretos no contexto brasileiro.
O impacto da corrupção no Brasil
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2
https://www.weforum.org/agenda/2019/12/corruption-global-problem-statistics-cost
13
Infográfico “O impacto das pequenas corrupções”. 
Fonte: Politize. https://www.politize.com.br/wp-content/
uploads/2017/04/Pequenas-Corrupcoes-1.pn
14
Não por acaso, a Controladoria-Geral da União (CGU) promoveu, entre 2013 e 2014, a Campanha “Pequenas 
Corrupções – Diga Não”, cujo objetivo principal foi conscientizar os cidadãos para a necessidade de combater atitudes 
antiéticas ou ilegais, que costumam ser culturalmente aceitas e ter a gravidade minimizada. Vejamos a seguir duas 
peças produzidas pela iniciativa.
Pequena ou grande, praticada pelo cidadão comum ou pelo político, a corrupção corrompe com os valores e padrões 
de conduta compartilhados e fere os direitos dos outros.
Sempre que atos de corrupção subtraem recursos que seriam destinados à educação, à saúde, à habitação, à 
alimentação, à cultura, dentre outros, tem-se violações dos direitos econômicos, sociais e culturais, também chamados, 
como vimos, direitos humanos de segunda geração. 
Tomemos o exemplo da alimentação. Segundo análise realizada em 2001 pelo Relator Especial para o Direito à 
Alimentação da ONU, a corrupção está entre os sete principais obstáculos à garantia do direito à alimentação em 
todo o mundo (2021). Além de desviar recursos destinados a essa finalidade, a corrupção pode causar a entrega de 
produtos de qualidade duvidosa (por exemplo, quando um funcionário público deliberadamente ignora os critérios 
estabelecidos para a emissão de licenças de produção alimentar). Em reportagem veiculada no Jornal da Band, 
disponível na plataforma YouTube, encontramos um exemplo disso.
O mesmo raciocínio se aplica à saúde: recursos desviados e fiscalização comprometida podem colocar em risco a 
vida de muitos cidadãos. Um dos maiores exemplos nesse campo foi aquele que ficou conhecido como escândalo dos 
sanguessugas, esquema de superfaturamento da compra de mais de mil ambulâncias para municípios de seis estados 
brasileiros, como evidencia reportagem veiculada no Canal do MPF, disponível na plataforma Youtube.
Campanha “Pequenas Corrupções – Diga Não.
Fonte: CGU https://www.gov.br/cgu/pt-br/centrais-de-conteudo/campanhas/redes/diga-nao
2.1 Corrupção e prejuízos aos direitos econômicos, sociais e culturais
https://www.youtube.com/watch?v=uUhAdmsd8OE
https://www.youtube.com/watch?v=uUhAdmsd8OE
15
O sociólogo brasileiro Victor Nunes Leal (2012) foi pioneiro no estudo do coronelismo. Ao analisar a política praticada 
no contexto da chamada Primeira República (1889-1930), ele evidenciou que os chamados currais eleitorais e o voto 
de cabresto funcionavam como correia de transmissão de uma lógica de subcidadania entre municípios, estados e 
União.
Por meio do coronelismo, direitos civis, políticos e sociais eram experimentados como favores de aristocratas rurais 
decadentes. Em contrapartida, eles exigiam da população a lealdade política que manteria intocadas as relações de 
poder numa República apenas formal.
Desde o fim de nossa primeira experiência republicana, oscilamos entre regimes democráticos e ditatoriais, até 
chegarmos à redemocratização e à promulgação da Constituição de 1988, que reestabeleceu no Brasil o Estado 
Democrático de Direito. No entanto, ainda hoje a mentalidade que caracterizou o coronelismo se faz presente, por meio 
de fenômenos como o clientelismo (troca de favores entreagentes políticos e cidadãos), o nepotismo (favorecimento 
de parentes na administração pública) e a compra de votos.
Esses atos de corrupção atentam contra os direitos civis e políticos dos cidadãos, porque rompem com a presumida 
igualdade de todos perante a lei, privilegiando alguns grupos em detrimento de outros, além de deturparem o 
funcionamento do sistema eleitoral. O vídeo disponível no site do TSE é bastante esclarecedor a respeito do assunto.
Os direitos civis também podem ser ameaçados pela corrupção, como evidencia relatório publicado em 2015 pelo 
Comitê Consultivo do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (UNHRC, da sigla em inglês). O Estado 
detém o monopólio do uso legítimo da força, ou seja, é a única instituição social que tem o poder de processar, prender 
e até recorrer à violência em determinadas situações. Mas isso deve ser feito apenas quando estritamente necessário e 
justificável, de modo a assegurar a todos os cidadãos o status de igualdade perante a lei e as liberdades fundamentais, 
como o direito de ir e vir, a liberdade de expressão, de pensamento, de culto, de manifestação, dentre outras.
Por essa razão, lê-se no artigo 14º do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (IPCPR) (1966): “Todos os 
acusados de uma infração penal têm o direito de ser presumidos inocentes até que sua culpa seja provada de acordo 
com a lei”. E na Constituição Federal, art. 5º, incisos LIV e LV: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens 
sem o devido processo legal; aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são 
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
Segundo o cientista político Jong-sung You (2018), da Universidade Nacional Australiana, há uma clara relação entre 
a corrupção e a queda da confiança social, entendida como a convicção de que as pessoas podem confiar umas nas 
outras. A partir da análise de estudos empíricos sobre o tema, o autor evidencia a existência de uma via de mão dupla: 
atos corruptos diminuem a confiança social ao mesmo tempo em que baixos níveis de confiança social geralmente 
favorecem práticas corruptas.
Para além da confiança social em geral, a corrupção também afeta diretamente a confiança nas instituições democráticas, 
como evidencia artigo dos cientistas políticos Thiago Moraes, Romer Santos e Geraldo Torrecillas (2014). A partir do 
cruzamento de informações de três bases de dados distintas – Índice de Percepção da Corrupção, Latinobarômetro 
e Ranking da Qualidade da Democracia – os autores sustentam que a percepção de corrupção influencia no nível 
de confiança no Congresso e nos partidos; indicam também que, países latino-americanos com menor qualidade 
democrática estão mais suscetíveis a altos níveis de percepção de corrupção.
O primeiro impacto da corrupção no Brasil se dá, portanto, no nível da confiança social e política. Segundo a edição de 
2020 do Índice de Percepção da Corrupção, publicado anualmente pela Transparência Internacional (2021), o Brasil 
encontra-se na 94ª posição em um ranking de 180 países. 
O índice é calculado com base em informações produzidas por 13 fontes distintas, dentre as quais o Banco Mundial e 
o Fórum Econômico Mundial. A partir desses dados, atribui-se aos países notas em uma escala entre 0 (quando o país 
é percebido como altamente corrupto) e 100 (quando o país é percebido como muito íntegro).
No gráfico a seguir, podemos verificar que o Brasil permanece estagnado na faixa dos 38 pontos nos últimos anos, 
com pequenas variações. A percepção da corrupção no Brasil permanece abaixo da média dos BRICS (39), da média 
regional para a América Latina e o Caribe (41) e mundial (43) e ainda mais distante da média dos países do G20 (54) 
e da OCDE (64).
2.2 Clientelismo: corrupção e direitos políticos
2.3 Quando o Estado atenta contra direitos civis
2.4 Corrupção e perda de confiança
https://www.tse.jus.br/videos/crime-contra-a-democracia-compra-e-venda-de-votos
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Pontuação do Brasil no Índice de Percepção da Corrupção desde o início da série histórica.
De acordo com o Conselho Internacional de Políticas para Direitos Humanos, o Estado tem três obrigações quanto 
aos direitos humanos: respeitá-los, protegê-los e concretizá-los. O dever de respeitar os direitos humanos se realiza 
na medida em que o Estado garante a todos o devido processo legal, não emprega força desproporcional, não recorre 
à tortura, dentre outras ações; para proteger os direitos humanos, o Estado deve prevenir que terceiros realizem 
violações, seja através da violência, da obtenção de vantagens ilícitas, ou da degradação ambiental, por exemplo; 
finalmente, a obrigação estatal de concretizar os direitos humanos se realiza quando o Estado garante a satisfação das 
necessidades básicas de seus cidadãos, como saúde, educação, moradia e segurança (ICHRP, 2009).
O uso dessas três categorias – respeitar, proteger e concretizar – é fundamental para que compreendamos com maior 
clareza como a corrupção se relaciona com a violação dos direitos humanos. Há situações em que a corrupção leva 
a violações diretas: quando a presumida independência do judiciário se perde pela conduta de um juiz que aceita 
suborno; ou quando um servidor público cobra propina para permitir acesso a um serviço que deveria ser gratuito e 
universal (como o atendimento médico ou uma vaga em uma escola). 
Há outros casos em que a corrupção é causa indireta de violações, porque faz parte de uma complexa cadeia de 
acontecimentos. Isso acontece, por exemplo, quando, em troca de propina, funcionários públicos autorizam a importação 
e despejo de lixo tóxico em uma área residencial. Nesse caso, o direito à vida e à saúde não é diretamente violado por 
quem foi subornado, mas sem seu ato de corrupção essa violação não teria ocorrido. A corrupção é, portanto, condição 
necessária para a violação. O mesmo raciocínio se aplica a violações como o tráfico de seres humanos, possibilitada 
por funcionários públicos que fecham os olhos para a prática em troca de dinheiro.
Calcular o custo efetivo da corrupção para um país é uma tarefa desafiadora e nem sempre possibilita conclusões 
precisas. Em entrevista à Agência Lupa (2016), o professor Luciano Vaz Ferreira, integrante do Centro de Estudos e 
Pesquisas sobre Corrupção (CEPC) da Unesp e autor do livro “Corrupção e Negócios Internacionais”, afirmou que “não 
tem como mensurar o quanto é desviado. Existe a corrupção que é encontrada, que é a que chega ao processo, que 
gera condenação, que gera uma prova, e também existe a corrupção real, que não tem como saber (seu tamanho)”. 
Apesar disso, algumas organizações fizeram tentativas, em busca de valores aproximados. O Departamento de 
Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp (2010), por exemplo, publicou em 2010 um estudo estimando que 
a corrupção no Brasil representava um custo médio de 1,38% a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano, ou seja, 
de R$ 41,5 bilhões a R$ 69,1 bilhões. O cálculo foi feito simulando como seria o PIB do país se tivéssemos um nível de 
corrupção percebida igual à média das nações mais bem colocadas no ranking da Transparência Internacional.
Transparência Internacional. 
Fonte: https://infogram.com/pontuacao-do-brasil-no-indice-de-percepcao-da-
corrupcao-desde-o-inicio-da-serie-historica-1hxj48pmv5rm52v
2.5 Definições e dados sobre corrupção no setor público (Estado)
17
- Abuso de poder
Situação em que um agente público se utiliza de seu cargo e/ou função pública para obter benefício próprio ou 
impor sua vontade contra a de outrem. Divide-se em duas espécies: excesso de poder e desvio de finalidade.
- Advocacia administrativa 
Patrocínio, direto ou indireto, de interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade 
de agente público.
- Apropriação indevida
Ato de subtração de algo pertencente a terceiro contra a vontade deste e com a intenção de tê-lo como próprio.
- Assédio
Comportamento indesejado, nomeadamentebaseado em fator de discriminação, com o objetivo ou o efeito 
de perturbar ou constranger a pessoa, afetar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente intimidativo, hostil, 
degradante, humilhante ou desestabilizador.
- Assédio moral 
Conduta abusiva, a exemplo de gestos, palavras e atitudes que se repitam de forma sistemática, atingindo a 
dignidade ou integridade psíquica ou física de um trabalhador.
- Assédio sexual 
Comportamento indesejado de caráter sexual, sob forma verbal, não verbal ou física, com o objetivo ou o 
efeito de perturbar ou constranger a pessoa, afetar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente intimidativo, 
hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador.
- Clientelismo 
Um sistema desigual de troca de recursos e favores baseado numa relação informal de exploração entre 
pessoas de diferentes status econômicos e sociais: um “patrono” mais rico e/ou mais poderoso e um “cliente 
menos rico e mais fraco”.
- Concussão 
Ato de exigir para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, 
mas em razão dela, vantagem indevida.
- Conluio
Acordo secreto, entre partes, no setor privado ou público, para conspirar para cometer ações com intenção 
de ludibriar ou cometer fraude para obtenção de ganhos ilícitos. Em economia, conluio refere-se ao acordo de 
não competição entre partes, com o objetivo de limitar a concorrência num determinado mercado.
- Condescendência criminosa
Quando um superior hierárquico deixa, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração 
no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade 
competente.
O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, por sua vez, sustenta que a corrupção consome 8% de tudo que é 
arrecadado no país – R$ 160 bilhões por ano. A estimativa foi feita com base na contabilização dos desvios apurados 
pela Operação Lava Jato e processos envolvendo corrupção no Tribunal de Contas da União (TCU) e nos tribunais de 
contas dos estados, como podemos verificar em reportagem disponível no canal Globoplay.
Na lista a seguir estão os principais atos de corrupção que podem envolver o setor público. Ela foi elaborada com base 
em documento do Banco do Nordeste. Alguns verbetes foram retirados do Glossário Anticorrupção da Transparência 
Internacional.
Confira também este glossário animado com alguns verbetes
SAIBA MAIS
https://globoplay.globo.com/v/7670506/
https://transparencia.pt/glossario-anti-corrupcao
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- Conflito de interesses 
Ocorre quando uma decisão é influenciada pelos interesses de apenas uma das partes envolvidas, prejudicando 
as demais. Também pode ocorrer quando somente uma pessoa tem dois interesses em relação a um mesmo 
cenário.
- Corrupção ativa 
Oferecimento ou promessa de vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir 
ou retardar ato de ofício.
- Corrupção passiva 
Solicitação ou recebimento, para si ou para outros, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes 
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.
- Crime da lei de licitações 
Dispensa ou inexigência de licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou inobservância das formalidades 
pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade.
- Desvio de finalidade
Quando o agente público atua visando uma finalidade diversa para o qual o ato foi criado, mesmo atuando 
dentro dos limites da sua própria competência.
- Estelionato 
Obtenção, para si ou para outrem, de vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em 
erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.
- Excesso de poder
Atuação de um agente público fora dos limites legais de sua competência, ferindo assim o princípio da 
legalidade.
- Falsificação
Ato de reproduzir ou alterar algo com o objetivo de passar por autêntico ou legal
- Fraude 
De origem interna ou externa, é uma ação ilícita e desonesta, realizada por pessoa denominada fraudador, 
que se utiliza de má-fé, com o propósito de enganar outras pessoas para garantir benefício próprio ou de 
terceiros.
- Furto 
Ato de subtração de algo pertencente a outrem, sem o consentimento do proprietário, com a intenção de ter 
a coisa como própria.
- Improbidade administrativa
Ato ilegal ou contrário aos princípios básicos da Administração Pública no Brasil, cometido por agente público, 
durante o exercício de função pública ou decorrente desta.
- Inserção de dados falsos ou adulteração em sistemas de informação 
Inserção ou facilitação de inserção de dados falsos, alteração ou exclusão indevida de dados corretos nos 
sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida 
para si ou para outrem ou para causar dano.
- Lavagem de dinheiro 
Conjunto de situações e operações comerciais e/ou financeiras que buscam a incorporação à economia de um 
país, dos valores, bens e direitos que se originaram de atos ilícitos.
- Nepotismo 
Termo usado para designar quando um agente público usa de sua posição de poder para nomear, contratar 
ou favorecer um ou mais parentes.
- Negligência 
Omissão ou falta de observação do dever.
 
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- Peculato 
Termo usado para designar quando um agente público se apropria de dinheiro, valor ou qualquer outro bem 
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou 
alheio.
- Prevaricação 
Quando um agente público retarda, deixa de praticar ou pratica indevidamente ato de ofício, ou o pratica 
contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
- Propina 
Valor pago a um agente público para permitir a realização de atos ilegais ou indevidos.
- Suborno
Também conhecido no Brasil como Propina, é a prática de prometer, oferecer ou pagar a um agente público 
dinheiro ou favores para que a pessoa deixe de se portar eticamente com seus deveres profissionais.
- Tráfico de influência 
Consiste na prática ilegal de uma pessoa se aproveitar da sua posição privilegiada dentro de uma empresa 
ou entidade, ou das suas conexões com pessoas em posição de autoridade, para obter favores ou benefícios 
para si própria ou terceiros, geralmente em troca de favores ou pagamento.
- Violação de sigilo funcional
Quando um agente público revela fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em 
segredo, ou facilitar-lhe a revelação.
2.6 Definições e dados sobre corrupção no setor privado (Mercado)
Em setembro de 2015, a Agência Ambiental Americana (EPA) denunciou a Volkswagen por equipar seus veículos com 
um software capaz de manipular os resultados de testes de emissão de poluentes. Através da fraude, as agências 
fiscalizadoras eram impedidas de constatar que as emissões eram até 40 vezes superiores ao limite legal. Após a 
denúncia, a montadora reconheceu que 11 milhões de seus automóveis continham o software malicioso. Durante anos, 
eles mascararam as emissões de óxido de nitrogênio (NOx), causador de doenças respiratórias e cardiovasculares. 
Vejamos a reportagem exibida pelo SBT Jornalismo na plataforma YouTube sobre o assunto.
Esse caso evidencia como atos de corrupção no setor privado (ou mercado) também podem violar direitos humanos 
de milhões de pessoas, de diversos países. Ao produzir automóveis mais poluentes que o juridicamente aceito e 
deliberadamente ludibriar cidadãos e agências reguladoras, a Volkswagen violou direitos de segunda e terceira 
geração: o direito à saúde e o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Infelizmente, não se trata de um episódio isolado. A Pesquisa sobre Fraude e Crime Econômico Global de 2018, 
realizada pela PwC (2018), revelou que 28% das empresas analisadas reportaram corrupção interna nos dois anos 
anteriores. Em 45% delas, houve má conduta negocial e casos de apropriação indevida de ativos. 
Entre as consequências disso estão a distorção dos mercados, a concorrência desleal, o aumento dos custos empresariais,a redução da qualidade dos bens e serviços e a perda de oportunidades negociais. Além disso, a corrupção muitas 
vezes se dá pela articulação entre atores dos setores público e privado, como evidencia o Comentário Geral n.º 24 de 
2017 do Comitê da ONU para os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Vejamos alguns exemplos de quando isso 
acontece:
• Manipulação de critérios para aprovação de novos medicamentos;
• Concessão de licenças de exploração de recursos naturais sem que tenham sido devidamente levados em conta 
os potenciais impactos adversos de tais atividades; 
• Falhas na regulação do mercado imobiliário e da atividade dos atores financeiros que nele operam, colocando em 
risco o direito à habitação.
Finalmente, vejamos também algumas das principais práticas de corrupção no setor privado:
https://www.youtube.com/watch?v=BRl7Qn_aFn0
20
- Suborno e propinas empresariais
Ocorre quando funcionários de uma empresa concedem dinheiro, vantagens indevidas ou presentes caros aos 
trabalhadores de outra empresa para obter algum benefício. Por exemplo: influenciar a equipe responsável 
pela contratação de um serviço terceirizado para que decidam a favor da empresa que realiza o suborno; a 
oferta de um presente caro ao gerente de um banco para garantir um empréstimo; 
- Evasão/Elisão Fiscal 
Consiste no não pagamento, ou pagamento insuficiente de impostos, normalmente através da apresentação 
de declarações falsas – declarando menos lucros ou ganhos que aqueles efetivamente obtidos ou exagerando 
as deduções – ou da não apresentação de qualquer declaração às autoridades fiscais. Elisão fiscal por sua 
vez é a prática legal de procurar minimizar o peso da carga tributária aproveitando-se ou de permissões 
legais, lacunas na lei ou exceções às regras, ou através da adoção de uma interpretação literal do Código 
Tributário. Procura-se neste caso evitar o pagamento de impostos através da adesão à letra da lei, por vezes 
em desrespeito pelo espírito da mesma.
- Extorsão
Ocorre quando o funcionário de uma empresa solicita pagamentos, vantagens indevidas, presentes caros ou 
favores sexuais em troca da realização de determinadas tarefas relacionadas com o negócio ou para a tomada 
de decisões específicas.
- Presentes e hospitalidade
Oferta excessiva de presentes e de hospitalidade a trabalhadores para influenciar as suas decisões e o modo 
como desempenham as suas tarefas. Tais presentes podem ser viagens, artigos de luxo ou bilhetes para 
eventos desportivos.
- Taxas e comissões
Os agentes e intermediários recebem taxas e comissões além do que é normal no setor para alterarem as 
decisões negociais tomadas ou as tarefas levadas a cabo pela empresa. A caracterização de um pagamento 
como taxa ou comissão pode ajudar a disfarçar um suborno.
- Conluio
Ocorre quando, por exemplo, um membro de um sindicato e um membro da equipe de administração da 
empresa trocam favores entre si, o que resulta na não representação adequada dos interesses de todos os 
trabalhadores.
- Troca de informações
Quando um funcionário de uma empresa oferece ou recebe um suborno em troca de informações confidenciais, 
podendo o suborno revestir-se das mais variadas formas. Quando a informação confidencial constitui a base 
para a negociação de ações, títulos ou outros valores mobiliários de uma empresa, tal conduta constitui um 
crime designado de “violação de segredo”.
- Tráfico de influência
Esta atividade ocorre quando o funcionário de uma empresa oferece pagamentos, vantagens indevidas ou 
presentes caros a um funcionário público, procurando, em troca, receber uma vantagem indevida por parte 
do agente público. Um exemplo é a realização de doações políticas por parte de empresários para tentarem 
influenciar as decisões tomadas, as políticas e as leis.
- Pagamentos de facilitação
Pequeno suborno feito com a intenção de assegurar ou acelerar a execução de uma ação rotineira ou 
necessária, a que a parte que faz o pagamento tem direito.
- Peculato
Ocorre quando os trabalhadores se apropriam indevidamente de algum bem de valor que lhes tinha sido 
confiado em virtude da sua posição.
- Favoritismo, nepotismo, compadrio, clientelismo
Estas formas de corrupção ocorrem quando uma pessoa ou um grupo de pessoas recebem tratamentos 
preferenciais injustos à custa dos demais.
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2.7 Definições e dados sobre corrupção no terceiro setor
No início de 2018, um escândalo de corrupção expôs uma das mais conhecidas e prestigiadas Organizações Não 
Governamentais do mundo: a Oxfam International. De acordo com o jornal britânico The Times (2018), funcionários da 
ONG contrataram prostitutas e organizaram orgias em instalações financiadas pela Oxfam no Haiti, durante a missão 
humanitária posterior ao terremoto que destruiu o país em 2010. 
A descoberta trouxe à tona outros casos de abuso sexual, revelados por uma ex-funcionária da organização, e levou 
à abertura de uma investigação pela agência reguladora de ONGs britânicas. Em nota, a Oxfam (2018) classificou os 
casos como revoltantes e inadmissíveis, pediu desculpas às vítimas e prometeu tomar medidas para que isso não mais 
ocorresse.
No Brasil, um caso que ficou conhecido foi o do Instituto Contato, ONG condenada em 2016 pela Justiça Federal a 
devolver R$ 1,1 milhão aos cofres públicos, devido ao desvio de verbas do Programa Segundo Tempo, do Ministério 
do Esporte.
Esses dois casos evidenciam que também no chamado terceiro setor – que abarca ONGs, fundações e outras 
organizações da sociedade civil sem fins lucrativos – a corrupção pode levar à violação de direitos humanos. 
No primeiro caso, temos uma violação direta por parte de funcionários que se aproveitam de mulheres em situação de 
vulnerabilidade, contrariando diversas convenções internacionais que definem qualquer forma de exploração sexual 
como um atentado contra a dignidade e o valor da pessoa humana (vide art. 18 da Declaração e Programa de Ação 
de Viena, de 1993); no segundo, o desvio de recursos priva um grupo de cidadãos do acesso a recursos destinados a 
lhes assegurar o direito à educação, ao desporto e ao lazer.
Por gozarem de imunidades e benefício fiscais, além de atuarem em contato direto com a Administração Pública, 
muitas vezes recebendo recursos para auxiliar na prestação de serviços de interesse público, as organizações da 
sociedade civil devem se adequar às mesmas exigências a que se submetem os governos, como os princípios da 
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Assim, os mesmos desvios elencados no que se 
refere à corrupção no setor público se aplicam ao terceiro setor.
22
BANCO MUNDIAL. Anti-Corruption policies and program: a framework for evaluation. Washington DC, 1997. 
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Referências
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	Corrupção e Direitos Humanos: definições
	1.1 O que é corrupção?
	1.2 O que são direitos humanos
	1.3 A relação entre corrupção e Direitos Humanos
	O impacto da corrupção no Brasil
	2.1 Corrupção e prejuízos aos direitos econômicos, sociais e culturais
	2.2 Clientelismo: corrupção e direitos políticos
	2.3 Quando o Estado atenta contra direitos civis
	2.4 Corrupção e perda de confiança
	2.5 Definições e dados sobre corrupção no setor público (Estado)
	2.6 Definições e dados sobre corrupção no setor privado (Mercado)
	2.7 Definições e dados sobre corrupção no terceiro setor
	Referências

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