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Claudinara Botton Dal Paz 
Vera Lucia Rodrigues de Moraes
Claudinara Botton Dal Paz 
Vera Lucia Rodrigues de Moraes
PSICO
MOTRICIDADE 
no cont
exto escolar 
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6528-8
9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 2 8 8
Código Logístico
58869
Psicomotricidade no 
contexto escolar
IESDE
2019
Claudinara Botton Dal Paz 
Vera Lucia Rodrigues de Moraes
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2019 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem 
autorização por escrito das autoras e do detentor dos direitos autorais.
Capa: IESDE BRASIL S/A. 
Imagem da capa: NadyaEugene/YamabikaY/ Robert Kneschke/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
D138p
Dal Paz, Claudinara Botton
Psicomotricidade no contexto escolar / Claudinara Botton Dal Paz, 
Vera Lucia Rodrigues de Moraes. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 
2019. 
112 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6528-8
1. Educação de crianças 2. Psicomotricidade 3. Capacidade motora. 
I. Moraes, Vera Lucia Rodrigues de. II. Título.
19-58940 CDD: 152.334 
CDU: 159.943
Claudinara Botton Dal Paz
Mestre em Educação Física pela Universidade Federal do 
Paraná (UFPR). Especialista em Deficiência Intelectual pela 
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões 
(URI). Graduada em Educação Física pela Universidade Regional 
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). Possui 
experiência como professora na rede pública, coordenadora 
de curso de graduação em Educação Física e como docente no 
ensino superior em cursos de Educação Física e Pedagogia. 
Vera Lucia Rodrigues de Moraes
Mestre em Educação pela Universidade do Vale do Rio 
dos Sinos (Unisinos). Especialista em Pedagogia Social pela 
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões 
(URI). Especialista em Ginástica Escolar e graduada em Educação 
Física pela instituição Faculdades Reunidas de Administração 
Ciências Contábeis e Econômicas de Palmas/PR (Facepal). 
Possui experiência como docente no ensino superior em cursos 
de Educação Física (licenciatura e bacharelado). 
Sumário
Apresentação 7
1. História, significado e áreas de atuação da 
psicomotricidade 9
1.1 História e significado da psicomotricidade 9
1.2 A psicomotricidade e suas áreas de atuação 15
2. Conceitos funcionais 23
2.1 Conceitos psicomotores funcionais estruturais 23
2.2 Conceitos psicomotores funcionais globais 28
2.3 Conceitos psicomotores funcionais perceptivos 34
3. Conceitos relacionais 43
3.1 Expressão e comunicação 43
3.2 A afetividade e sua relação com a corporeidade 49
3.3 Os limites e a agressividade no campo psicomotor 54
4. Desenvolvimento psicomotor 61
4.1 Desenvolvimento psicomotor do nascimento até os 3 anos 
de idade 61
4.2 Desenvolvimento psicomotor de 2 a 6 anos e de 6 a 11 
anos 71
4.3 Desenvolvimento psicomotor na adolescência 76
5. Orientações para práticas psicomotoras na escola 81
5.1 Práticas psicomotoras para a educação infantil 81
5.2 Práticas psicomotoras para os anos iniciais do ensino 
fundamental 89
5.3 Principais consequências da falta de estímulos 
psicomotores 95
Gabarito 107
Apresentação
A obra Psicomotricidade no contexto escolar aborda 
conhecimentos necessários para a docência na Educação 
Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Resgata 
a origem, significado e áreas de atuação da psicomotricidade 
e adentra nos conceitos psicomotores fundamentais para se 
entender o processo do desenvolvimento cronológico das 
crianças. Compreendendo a evolução da criança nos aspectos 
motor, cognitivo e afetivo, o livro traz algumas propostas de 
atividades práticas a serem desenvolvidas no ambiente escolar, 
bem como as possíveis consequências da falta de estímulo 
psicomotor para o aprendizado dos alunos. 
 Inicialmente, traz um breve levantamento histórico 
sobre a psicomotricidade no mundo e no Brasil, destacando 
os principais estudiosos e seus achados nessa área. Define 
o conceito de psicomotricidade da Associação Brasileira de 
Psicomotricidade (ABP) e apresenta também as áreas de 
atuação nesse âmbito. 
Depois de situar psicomotricidade, destaca seus conceitos 
funcionais, os quais estão divididos em: conceitos psicomotores 
funcionais estruturais, conceitos motores funcionais globais e 
conceitos motores funcionais perceptivos. 
Além dos conceitos funcionais, destaca-se a importância 
dos conceitos relacionais da psicomotricidade, que estão 
vinculados ao comportamento e aos sentimentos e que 
influenciam diretamente o desenvolvimento dos alunos. Estes 
são: a expressão, a comunicação, a corporeidade, a afetividade, 
os limites e a agressividade.
Compreendendo-se os conceitos que envolvem a 
psicomotricidade, é apresentado o desenvolvimento 
psicomotor da criança de forma cronológica, ou seja, desde 
o seu nascimento até a adolescência. Para isso, recorre-se 
a autores que descrevem esse desenvolvimento com base 
em estudos científicos que observaram e pontuaram os 
aspectos físicos, psicológicos, motores, sociais e afetivos que 
caracterizam cada fase de vida do indivíduo. 
Após esta compreensão, é possível pensar em formas 
de estimular o desenvolvimento dos alunos e, para isso, o 
último capítulo do livro aborda atividades práticas possíveis 
de serem desenvolvidas na Educação Infantil e nos anos 
iniciais do Ensino Fundamental. Descreve de forma objetiva 
as atividades psicomotoras que desenvolvem os alunos nos 
aspectos funcionais e relacionais psicomotores. Além disso, 
aborda as principais consequências que podem surgir na 
criança pela falta de estímulos psicomotores. 
Estas práticas, porém, não se esgotam neste livro, ele 
apresenta de forma clara e objetiva subsídios necessários 
para os profissionais que atuam na educação, que estão 
comprometidos com o processo de aprendizagem dos 
alunos. Contribuir com este processo recai sobre estudos 
e planejamento de atividades que sejam significativos no 
ambiente escolar, que desenvolvam os alunos nos aspectos 
motores, cognitivos e afetivos, bases da educação psicomotora.
Tenham todos uma boa leitura!
1
História, significado e áreas de 
atuação da psicomotricidade
Iniciamos esta obra fazendo um breve levantamento histórico 
sobre a psicomotricidade no mundo e no Brasil, destacando 
os principais cientistas e seus achados nessa área. Definiremos 
o conceito de psicomotricidade da Associação Brasileira de 
Psicomotricidade (ABP) e apresentaremos as áreas de atuação da 
psicomotricidade.
Entendendo a sua importância para o desenvolvimento integral 
do ser humano, é fundamental que os profissionais que atuam na 
área da educação tenham em sua formação o conhecimento sobre a 
psicomotricidade e suas contribuições. Por que a psicomotricidade 
é tão importante na educação? Como ela surgiu? Vamos descobrir 
juntos!
1.1 História e significado da 
psicomotricidade
Para compreender a h is tór ia da 
psicomotricidade, é importante inicialmente 
conceituar o termo psicomotricidade. De origem 
grega, psico representa a alma, o espírito, o intelecto 
(NICOLA, 2004), e motricidade é o “domínio do 
corpo, agilidade, destreza, locomoção, a faculdade 
de mover-se voluntariamente” (BUENO, 2014).
Historicamente, a palavra psicomotricidade surgiu de um discurso 
do médico e neurologista Ernesto Dupré, no início do século XIX, 
mais precisamente em 1907 (BUENO, 2014). Para Nicola (2004), o 
Vídeo
10 Psicomotricidade no contexto escolar 
emprego do termo é associado diretamente ao desenvolvimento da 
motricidade, inteligência e afetividade.
Segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP, 
2017c), psicomotricidade é a:
Ciênciaque tem como objeto de estudo o homem através 
do seu corpo em movimento e a relação ao mundo interno 
e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde 
o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e 
orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: 
o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade é, 
portanto, um termo empregado para uma concepção 
de movimento organizado e integrado, em função das 
experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de 
sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.
Observamos que existem muitos autores que se preocuparam 
em estudar a relação entre o corpo e a mente, e entre distúrbios 
motores e distúrbios mentais. Nesta obra, apontamos os principais 
autores para que possamos também observar a origem histórica 
da psicomotricidade, que remete aos tempos mais antigos da 
humanidade.
Tendo em vista que o corpo é o elemento principal de estudo da 
psicomotricidade, a evolução histórica dessa área tem relação com 
vários estudos sobre o corpo ao longo do tempo. Observa-se isso 
em filósofos e estudiosos no início da Grécia Antiga, como Platão e 
Aristóteles. Descartes e Juvenal também contribuíram para avanços 
nessa área. Esse último com a frase célebre: “mente sã e corpo são”. 
Temos também Freud, que ressalta a importância do corpo na 
formação do inconsciente (NICOLA, 2004; BUENO, 2014).
Muitos autores participaram efetivamente na consolidação da 
psicomotricidade com estudos científicos e teorias nas áreas da 
saúde e educação, entre os quais podemos destacar: Shilder, Tissié, 
Heuyer, Guilmain, Gesell, Piaget, Wallon, Ajuriaguerra e Le Boulch 
(NICOLA, 2004; BUENO, 2014).
História, significado e áreas de atuação da psicomotricidade 11
Shilder, um médico psiquiatra e filósofo, desenvolveu estudos 
sobre a imagem corporal e sua influência no eixo psicológico em 
1923. Na mesma época, Tissié apontava relações entre pensamento 
e movimento. Heuyer, em 1925, utilizou o termo psicomotricidade 
para a associação entre inteligência, motricidade e afetividade. 
Considerado o pai da reeducação psicomotora, Guilmain, em 1935, 
assumiu publicamente a necessidade de exames motores em crianças 
com distúrbios de caráter (BUENO, 2014).
Segundo Bueno (2014), na década de 1930, surgiram vários 
testes motores, e, nessa época, a psicomotricidade:
encerrava seu olhar através da habilidade motora, em que o 
ser comunica-se com o mundo através do motor. O limite 
corporal vinha de intervenções externas ao indivíduo, ou 
seja, de fora para dentro. Os objetivos da prática eram, 
prioritariamente, reeducar a atividade tônica com exercícios 
de atitude e de equilíbrio, desenvolver o controle motor com 
exercícios de inibição e desinibição e desenvolver atividades 
de relaxação com exercícios de dissociação e coordenação 
motora associados.
Em seguida, mais precisamente ao final da Segunda Guerra 
Mundial, associando estudos de psicólogos, como Lewin e Piaget, 
médicos, como Gesell e Wallon, e neurobiólogos, como Ajuriaguerra, 
veio à tona a questão do afeto presente no corpo, que, ao receber as 
informações e movimentos, executa-os conforme seu entendimento 
(BUENO, 2014).
Gesell, um médico pediatra e pesquisador, criou escalas 
de maturação e iniciou a divulgação dessas escalas para o 
desenvolvimento motor (NICOLA, 2004). Segundo Bueno (2014), 
Henry Wallon, utilizando como base os estudos de Shilder, introduziu 
o senso de identidade corporal, sendo a linguagem corporal 
precedida da linguagem verbal, e evoluiu seus estudos de associação 
do movimento com as relações do sujeito com o meio. Para a ABP 
(2017b), Wallon “ocupa-se do movimento humano dando-lhe uma 
categoria fundante como instrumento na construção do psiquismo. 
12 Psicomotricidade no contexto escolar 
Esta diferença permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, à 
emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo”.
Jean Piaget, psicólogo e biólogo, estabeleceu estágios cognitivos, os 
quais relacionavam a interação do sujeito com o ambiente, apresentando 
as características de cada estágio de desenvolvimento. O psiquiatra 
Ajuriaguerra, a partir de seus estudos, afirmou que o movimento é uma 
forma de adaptação ao mundo exterior (BUENO, 2014).
Segundo a ABP (2017b):
em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, redefine o 
conceito de debilidade motora, considerando-a como uma 
síndrome com suas próprias particularidades. É ele quem 
delimita com clareza os transtornos psicomotores que 
oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. Com estas 
novas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de 
outras disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e 
autonomia.
Le Boulch, educador físico, médico e psicólogo, em 1952, com 
o seu método da psicocinética, defendeu a educação psicomotora 
em todas as idades e, em sua tese de medicina, afirmou que por 
meio do trabalho corporal é possível trabalhar dois sistemas 
funcionais: os fatores de execução, que dependem da musculatura e 
nutrição, e o sistema nervoso central, como coordenador dos outros 
sistemas, servindo de suporte às funções mentais (BUENO, 2014; LE 
BOULCH, 2007).
Entre o final da Segunda Guerra Mundial até meados da década 
de 1970, “a psicomotricidade passa a tomar um novo rumo onde as 
práticas aproximam-se da visão global do indivíduo e se organizam, 
com a utilização do exame psicomotor e da reeducação psicomotora” 
(BUENO, 2014).
A psicomotricidade se oficializou como especialidade em 1963, 
quando o Hospital Henry de Roussele passou a emitir certificados 
de reeducação psicomotora aos profissionais, dando início ao 
História, significado e áreas de atuação da psicomotricidade 13
surgimento de instituições especializadas e sindicatos nessa área 
(BUENO, 2014).
No Brasil, os primeiros documentos apontam que a 
psicomotricidade surgiu em meados de 1950, quando os 
profissionais ligados à área da deficiência começaram a considerar 
o corpo e o movimento como aspectos interligados, mesmo sem 
usarem o termo psicomotricidade. No final dessa década, Grunspun, 
em seu livro Distúrbios neuróticos da criança, dedicou um capítulo 
inteiro para a psicomotricidade da criança, indicando atividades 
psicomotoras para distúrbios de aprendizagem (BUENO, 2014).
Foi na década de 1970 que a psicomotricidade, no Brasil, teve 
uma grande visibilidade, sendo dividida em duas correntes: a dos 
profissionais que seguiam estudos de cientistas estrangeiros e a 
dos profissionais que generalizavam todas as práticas corporais 
como psicomotricidade. Contudo, aos poucos, os profissionais 
foram mesclando suas ações com as duas correntes (BUENO, 2014).
Com a chegada de Françoise Desobeau no Brasil, a psicomotricidade 
começou a ser vista como terapia, revelando a espontaneidade e o 
simbolismo do indivíduo. Beatriz Saboya, que fazia curso de formação 
com Françoise, juntamente com Susana Veloso Cabral e Regina 
Morizot, começou a busca pela estruturação da psicomotricidade no 
Brasil (BUENO, 2014). Assim, “em 19 de abril de 1980, [...] deu-se 
a fundação da Sociedade Brasileira de Terapia Psicomotora (SBTP), 
ligada à Sociedade Internacional de Terapia Psicomotora” (ABP, 2017a).
A Sociedade Brasileira de Terapia Psicomotora, que teve seu nome 
alterado em 2005 para Associação Brasileira de Psicomotricidade, 
“é uma entidade de caráter científico-cultural, sem fins lucrativos e 
foi fundada com o objetivo de agregar os profissionais que vinham 
se formando e trabalhando na área” (ABP, 2017a).
Em maio de 1982 é realizado o I Congresso Brasileiro de 
Psicomotricidade, promovido pela SBP no Rio de Janeiro, 
com o tema “o Corpo em Movimento” onde entre os 
14 Psicomotricidade no contexto escolar 
convidados internacionais destaca-se André Lapierre, 
trazendo a sua linha de trabalho – a psicomotricidade 
relacional – ao nosso conhecimento em prol de vivências 
mais espontâneas, do valor da relação simbólica corporal e 
a favor do sujeito desejante, bem como aproximando-se da 
educação. (BUENO,2014)
Neste mesmo ano de 1982, teve início o primeiro curso de 
formação em psicomotricidade relacional no Rio de Janeiro, o que 
demonstrou um esforço maior dos profissionais da área em prol 
de um mesmo objetivo: concretizar a psicomotricidade como uma 
ciência (BUENO, 2014).
Para Bueno (2014), a partir de então, estudiosos no Brasil 
destinam seus esforços na área da psicomotricidade e promovem 
eventos como o Congresso Brasileiro de Psicomotricidade. Entre 
esses estudiosos podemos citar Susana Veloso Cabral, Regina 
Morizot, Beatriz Saboya, Jocian Machado Bueno, Carlos Alberto 
Mattos Ferreira, Maria Beatriz Loureiro, Margarida Pinto e Silvia 
Carné. Ainda, como aponta Bueno (2014), outros profissionais 
estrangeiros visitaram o país para participar dos congressos, 
como Esteban Levin, Vitor Garcia, Vitor da Fonseca, Bernard 
Aucounturier, Alfredo Jerusalinski, entre outros.
Apesar de a psicomotricidade ser uma área recente de estudos e 
atuação, observamos uma grande expansão no território brasileiro, 
pois é de extrema importância para a aprendizagem escolar, por 
encarar “de forma integrada as funções cognitivas, socioemocionais, 
simbólicas, psicolinguísticas e motoras, promovendo a capacidade 
de ser e agir em um contexto psicossocial” (ABP, 2017c).
Conforme a ABP (2017c), “a psicomotricidade possui as 
linhas de atuação educativa, reeducativa, terapêutica, relacional, 
aquática e ramain”. Nesta obra, dividimos as áreas de atuação em 
História, significado e áreas de atuação da psicomotricidade 15
três campos: educação psicomotora, reeducação psicomotora e 
terapia psicomotora.
1.2 A psicomotricidade e suas áreas de 
atuação
Apresentaremos agora as principais 
áreas de atuação da psicomotricidade e suas 
particularidades, dividindo-se em linhas de estudo, 
pesquisa e atuação. É importante ressaltar que essas 
áreas de atuação vêm se modificando ao longo dos 
anos, sendo que, inicialmente, a psicomotricidade 
era focada na linha terapêutica, mas com a evolução entendeu-se 
que é importante também a atuação na área preventiva. Vamos 
conhecer as possibilidades de atuação da psicomotricidade?
1.2.1 Educação psicomotora
Seguindo as bases da psicomotricidade, essa área considera o ser 
humano sob os aspectos motor, afetivo e social, compreendendo-o do 
ponto de vista da integralidade, em que o desenvolvimento envolve 
todas as instâncias, ou seja, com todos os aspectos interligados.
Uma das linhas de atuação é a educativa, que objetiva educar a 
pessoa na correta utilização do próprio corpo. Nessa área, aprende-se 
a conhecer o corpo, explorá-lo e organizá-lo como um instrumento 
para a aquisição da aprendizagem (NICOLA, 2004).
Desde o nascimento, a primeira interação do ser humano consigo 
mesmo e com o mundo é por meio do movimento. Desse modo, 
é importante oferecer estímulos diversos ao bebê para despertar 
o corpo e fortalecer vínculos de afetividade. A estimulação está 
diretamente relacionada à educação motora, visto que proporcionará 
o conhecimento do corpo e a sua harmonia nos diferentes aspectos. 
Para Bueno (2014),
Vídeo
16 Psicomotricidade no contexto escolar 
a educação psicomotora abrange todas as aprendizagens da 
criança e do sujeito, processando-se por etapas progressivas 
e específicas conforme o desenvolvimento geral de cada 
indivíduo. Realiza-se em todos os momentos da vida 
através de percepções vivenciadas, com uma intervenção 
direta em nível cognitivo, motor e emocional, estruturando 
o indivíduo como um todo.
Segundo o autor supracitado, na educação psicomotora, o 
estímulo se dá em condições naturais, respeitando as etapas do 
desenvolvimento. Ela envolve a escola e a família, podendo ocorrer 
por meio da natação, de atividades aquáticas, judô, balé, ginástica, 
dança etc. Ressalta-se que a educação psicomotora é precursora 
para todas as aprendizagens. Ainda, na “primeira infância, toda a 
educação é educação psicomotora” (BUENO, 2014).
Lapierre (1989 apud BUENO, 2014) afirma que a educação 
psicomotora “é uma ação psicopedagógica que utiliza os meios 
da Educação Física, com a finalidade de normalizar ou melhorar 
o comportamento do indivíduo”. Assim, a Educação Física 
contribui para que se construa a fundamentação necessária para o 
desenvolvimento da criança por meio de práticas corporais.
Desse modo, é necessário oportunizar um ambiente próprio para 
a aquisição de habilidades motoras, cognitivas e afetivas. É preciso 
considerar as necessidades da criança desde o seu nascimento, 
estimulando a expressividade por meio de movimentos espontâneos 
e também promovendo o desenvolvimento psicomotor com 
atividades motoras próprias para a idade e fase da aprendizagem.
Considerando os campos de atuação, Nicola (2004) diz que 
podem atuar na educação psicomotora professores do período pré- 
-escolar e/ou professores de Educação Física. Destacamos também que 
os professores da educação infantil aos anos iniciais também atuam 
com educação psicomotora.
História, significado e áreas de atuação da psicomotricidade 17
Entendemos aqui que a abordagem educativa da psicomotricidade 
é precursora para a aprendizagem. Vamos agora conhecer a 
psicomotricidade do ponto de vista das ações reeducativas.
1.2.2 Reeducação psicomotora
Vimos que a educação psicomotora atende à estimulação 
no processo natural do desenvolvimento da criança. Para que 
ela se desenvolva, é preciso que lhe seja permitida a resolução de 
problemas de ordem motora por meio da exploração do ambiente, 
ou seja, a criança precisa do movimento para se desenvolver. 
Segundo Gallahue e Ozmun, (2005, p. 15), “as experiências de uma 
criança podem afetar o índice de aparecimento de certos padrões 
de comportamento”. Desse modo, quando ocorre a restrição de 
movimentos na fase adequada, são necessárias outras intervenções 
para suprir as dificuldades existentes.
A reeducação psicomotora é a ação desenvolvida em indivíduos 
que sofrem com perturbações ou distúrbios psicomotores. Ela 
tem como objetivo retomar as vivências anteriores com falhas ou 
as fases da educação ultrapassadas inadequadamente (BUENO, 
2014). Para Nicola (2004), o objetivo da reeducação psicomotora é a 
reintegração da pessoa com relação ao seu corpo. Nessa área, podem 
atuar profissionais de Educação Física, fisioterapeutas, terapeutas 
ocupacionais e psicólogos.
Sendo assim, a abordagem reeducativa da psicomotricidade 
objetiva restabelecer os gestos, as posturas e os movimentos, por 
meio de práticas corporais, nos variados métodos e técnicas, 
evitando uma estruturação patológica da personalidade dos sujeitos 
(BUENO, 2014).
Após entender as abordagens educativa e reeducativa da 
psicomotricidade, vamos agora conhecer as características da 
terapia psicomotora.
18 Psicomotricidade no contexto escolar 
1.2.3 Terapia psicomotora
A abordagem educativa da psicomotricidade envolve estimular 
todas as crianças para que elas se desenvolvam adequadamente, 
enquanto a reeducativa se refere a estímulos para suprir as falhas do 
desenvolvimento. O que seria, então, a terapia psicomotora?
A abordagem terapêutica está vinculada, em grande parte, 
a aspectos psicológicos e, segundo Bueno (2014), é destinada 
a “indivíduos com conflitos mais profundos na sua estruturação 
psíquica, associados aos conceitos funcionais ou com desorganização 
total de sua harmonia corporal e pessoal”. Nesse sentido, dificuldades 
e falhas devem ser analisadas considerando a história da criança, 
suas experiências anteriores e a falta delas, que podem incidir em 
problemas de comportamento e de aprendizagem.
Nicola (2004) enfatiza que a terapia psicomotora trabalha com 
a corporalidade associada aos aspectos psicológicos. Nessa área de 
atuação, a autora aponta que deve ser trabalhada por profissionais 
formados ou especializados em psicomotricidade, com base 
psicanalítica ou psicológica.
Considerando o que foi apresentado nesta seção, entendemos 
as principais áreas de atuação da psicomotricidade, que envolvem 
educação, reeducaçãoe terapias psicomotoras.
Considerações finais
O termo psicomotricidade tem origem grega e associa corpo e 
mente. Historicamente, construiu-se um modelo dualista, em que 
o ser humano era fragmentado em corpo separado da mente. No 
entanto, buscando entender os processos de ensino-aprendizagem 
e também algumas patologias, estudiosos passaram a associar 
aspectos motores a psicológicos e afetivos, surgindo, assim, a 
psicomotricidade.
História, significado e áreas de atuação da psicomotricidade 19
Com essa descoberta, muitos pesquisadores citados neste 
capítulo contribuíram para o entendimento e evolução nessa área de 
conhecimento, que apontava relações entre pensamento e movimento, 
e associações entre inteligência, motricidade e afetividade.
Inicialmente, a psicomotricidade era voltada a ações terapêuticas, 
mas evoluiu no sentido de prevenção. Desse modo, com base 
em estudos, descobriu-se o potencial de oferecer experiências 
motoras a partir do nascimento da criança. Foi possível prevenir 
problemas comportamentais e de aprendizagem, por meio de 
estimulações motoras, que se inserem na abordagem educativa da 
psicomotricidade.
Quanto à abordagem reeducativa, entende-se que deve ser 
usada para suprir falhas ocorridas em fases anteriores; a terapêutica 
está mais voltada para resolver problemas de ordem psicológica, 
relacionados à psicomotricidade.
Sendo assim, é importante que os profissionais que atuam 
na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental se 
apropriem do conhecimento da psicomotricidade para terem auxílio 
no aprendizado de seus alunos.
Ampliando seus conhecimentos
• COSTA, A. C. de. Psicopedagogia e psicomotricidade: pontos 
de intersecção nas dificuldades de aprendizagem. 9. ed. Rio 
de Janeiro: Vozes, 2012.
A obra resgata a história do corpo em suas diferentes 
concepções no espaço temporal e sua importância no 
processo de aprender e não aprender. Valoriza o movimento 
como forma de comunicar tanto a objetividade quanto a 
subjetividade nas relações com o outro.
20 Psicomotricidade no contexto escolar 
• FALCÃO, H. T.; BARRETO, M. A. M. Breve histórico da 
psicomotricidade. Ensino, saúde e ambiente, Niterói, RJ, v. 2, 
n. 2, p. 84-96, 2009. Disponível em: http://periodicos.uff.br/
ensinosaudeambiente_backup/article/download/14544/9149. 
Acesso em: 30 jul. 2019.
O artigo traz uma narrativa do desenvolvimento da 
psicomotricidade e alguns de seus principais autores. 
Constata que não há um conceito sobre a psicomotricidade, 
mas sim vários olhares que se fundamentam em pressupostos 
teóricos oriundos da filosofia, psicologia, psicanálise, 
psiquiatria, biologia, neurologia e pedagogia. São 13 páginas 
com os principais momentos históricos da psicomotricidade 
no mundo, desde a Idade Média até os das atuais. Portanto, 
faz menção à preocupação do homem em compreender o seu 
corpo na busca por seu desenvolvimento de forma satisfatória.
Atividades
1. Na década de 1930, surgem vários testes motores. Qual era o 
objetivo da psicomotricidade nessa época?
2. Quando e como surgiu a psicomotricidade no Brasil?
3. Quais as áreas de atuação da psicomotricidade? Explique 
suas características.
Referências
ABP – Associação Brasileira de Psicomotricidade. A Associação Brasileira 
de Psicomotricidade. Rio de Janeiro, 2017a. Disponível em: https://
psicomotricidade.com.br/sobre/. Acesso em: 30 jul. 2019.
História, significado e áreas de atuação da psicomotricidade 21
ABP – Associação Brasileira de Psicomotricidade. Histórico da 
psicomotricidade. Rio de Janeiro, 2017b. Disponível em: https://
psicomotricidade.com.br/historico-da-psicomotricidade/. Acesso em: 17 
jul. 2019.
ABP – Associação Brasileira de Psicomotricidade. O que é psicomotricidade. 
Rio de Janeiro, 2017c. Disponível em: https://psicomotricidade.com.br/
sobre/o-que-e-psicomotricidade/. Acesso em: 17 jul. 2019.
BUENO, J. M. Psicomotricidade teoria e prática: da escola à aquática. São 
Paulo: Cortez, 2014. E-pub.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor: 
bebês, crianças, adolescentes e adultos. Trad. de Denise R. de Sales. 3. ed. 
São Paulo: Phorte, 2005.
LE BOULCH, J. Educação psicomotora: psicocinética na idade escolar. Trad. 
de Jeni Wolf. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007.
NICOLA, M. Psicomotricidade: manual básico. 2. ed. Rio de Janeiro: 
Revinter, 2004.
2
Conceitos funcionais
Estudamos no capítulo anterior a origem do termo 
psicomotricidade e seu significado – fundamentado no ser humano 
do ponto de vista motor, do intelecto e do afeto. Também vimos sobre 
as áreas de atuação, sendo as principais: a educativa, a reeducativa e 
a terapêutica, e os profissionais envolvidos nas respectivas áreas.
Agora convidamos você a conhecer os conceitos relacionados 
aos elementos psicomotores. O que seriam esses conceitos? Como 
influenciam no desenvolvimento integral do ser humano?
Antes de iniciarmos, vamos apresentar as classificações dos 
conceitos funcionais da psicomotricidade, que estão divididos em: 
conceitos psicomotores funcionais estruturais, conceitos motores 
funcionais globais e conceitos motores funcionais perceptivos.
2.1 Conceitos psicomotores funcionais 
estruturais
O ser humano se expressa e se comunica por 
diferentes linguagens, entre as quais a motora. 
Contudo, nenhum dos aspectos é estudado e/
ou desenvolvido individualmente, ou seja, todos 
estão integrados e são dependentes entre si. Esses 
aspectos dizem respeito às diferentes dimensões que 
envolvem o ser humano e que estão presentes no desenvolvimento 
do ponto de vista da psicomotricidade: a motricidade, a cognição e 
a afetividade.
Segundo Bueno (2014), “conceitos ou condutas psicomotoras 
funcionais referem-se àquelas cuja ação, qualidade e mensuração 
Vídeo
24 Psicomotricidade no contexto escolar 
são possíveis de serem percebidas e que conjuntamente formam a 
integralização motora do ser humano num espaço e num tempo 
enquadrado”.
Assim, os conceitos funcionais estruturais estão diretamente 
relacionados ao desenvolvimento do ser humano. Ou seja, são 
a base para o movimento harmonioso e envolvem as questões de 
comportamento, estando integrados aos conceitos relacionais.
São aqueles sobre os quais se desenvolve o sujeito, e pelo 
qual se constrói a base, tanto objetiva quanto subjetiva, 
sendo também os conceitos que mais se envolvem com os 
campos afetivos, relacionais e psíquicos da constituição 
humana, não podendo destas isolarem-se. (BUENO, 2014)
Ainda segundo o autor supracitado, na classificação de conceitos 
funcionais estruturais, destacam-se: o esquema corporal, o tônus e 
a respiração.
O esquema corporal relaciona-se com aspectos psicológicos da 
criança, mas está vinculado à parte estrutural do corpo em relação 
à sua localização no espaço. Pode ser mensurado e comparado de 
acordo com a idade, peso, altura e perímetro, ou seja, medidas 
padronizadas a que a criança corresponde (LEVIN, 2001). Desse 
modo, entende-se que o esquema corporal é a percepção do corpo 
no espaço. Para Wallon (1966 apud MATTOS; NEIRA, 2008), 
esquema corporal é o elemento imprescindível para a formação da 
personalidade da criança. É a representação global e diferenciada 
que a criança tem do próprio corpo, sendo que as experiências 
vividas constroem a forma de ser da pessoa.
Portanto, “o esquema corporal é um elemento básico indispensável 
para a formação da personalidade da criança, sendo seu núcleo 
central, pois reflete o equilíbrio entre as funções psicomotoras e sua 
maturidade” (BUENO, 2014).
Para Levin (2001), o esquema corporal é a representação que 
temos acerca do próprio corpo, no sentido evolutivo e temporal, e é 
Conceitos funcionais 25
no desenvolvimento psicomotor da criança que o esquema corporal 
se constrói. Quando perguntamos a uma criança de qual parte do 
corpo ela gosta mais, ela responde porque tem noção de seu corpo. 
Portanto, evidencia-se que “esse conceito que a criança tem do seu 
corpo é o esquema corporal” (LEVIN, 2001, p. 71).Os autores Gallahue e Ozmun (2005) também contribuem para esse 
conceito. Em seus estudos, o esquema corporal se refere à capacidade 
da criança de discriminar com exatidão suas partes corporais. Isso 
ocorre em três etapas: a primeira é o reconhecimento das partes do 
corpo; a segunda é saber o que cada uma delas pode fazer; e a terceira 
é conhecer como fazer as partes do corpo se movimentarem com 
eficiência. Assim, “referem-se à habilidade de reorganizar as partes 
do corpo para um ato motor particular e desempenhar uma tarefa 
motora” (GALLAHUE; OZMUN, 2005, p. 315).
Defontaine (1980 apud BUENO, 2014) defende que “uma 
boa estruturação e utilização do esquema corporal se relaciona 
diretamente com a adaptação do sujeito no espaço e no tempo, 
contribuindo para uma disposição corporal mais adequada para 
a realização das diferentes atividades”. Com relação à consciência 
corporal, afirma-se que ela “é alcançada através da percepção do 
mundo exterior, da mesma forma que a consciência do mundo 
exterior acontece através do corpo” (BUENO, 2014).
Como visto, o esquema corporal se refere ao conhecimento 
das partes do corpo, o qual se confunde com a imagem corporal. 
Para Levin (2001), muitas vezes os termos esquema corporal e 
imagem corporal são tomados como sinônimos ou são justapostos, 
dificultando a sua diferenciação. Gallahue e Ozmun (2005, p. 329) 
colocam que a imagem corporal está relacionada à imagem interna 
que a criança tem de seu corpo, relacionando-se fortemente com a 
autoestima, definida como “o valor que o indivíduo atribui as suas 
características peculiares, atributos e limitações”.
26 Psicomotricidade no contexto escolar 
A imagem corporal passa por fases de maturação até a criança 
construir-se como um ser que age e interage (FONSECA, 2008). 
Ambos, esquema e imagem, têm base psicoafetiva, porém a imagem 
corporal se relaciona a processos inconscientes, na dimensão do 
sensível e do imaginário (BUENO, 2014). Nesse sentido, existe a 
interpretação de si como corpo, partindo tanto da inconsciência 
quanto da consciência, baseando-se em suas relações mútuas. A 
imagem corporal configura-se, portanto, em uma reconstrução 
constante do que o indivíduo percebe de si e das determinações 
inconscientes que traz de seu diálogo com o mundo. Tais conceitos 
podem ser desenvolvidos por vivências de práticas corporais, 
considerando a criança, seus limites e potencialidades.
Assim como os demais conceitos, a imagem corporal depende da 
interação da criança com o mundo. Isso ocorre por meio de práticas 
corporais e está relacionado diretamente às interações com outras 
crianças.
Outro conceito funcional estrutural é o tônus: estado de 
tensão permanente de um músculo, com origem reflexa. Ele pode 
ser hipertônico, quando a resistência à distensão é elevada, ou 
hipotônico, quando o oposto ocorre, ou seja, com diminuição do 
tônus e da força, relacionando-se ao ajuste das posturas (BUENO, 
2014). O tônus integra-se ao aspecto motor promovendo o 
equilíbrio necessário para a manutenção da postura e também para 
o movimento.
As reações posturais que uma criança adota diante de 
sentimentos, como ansiedade, angústia, agressividade e outras 
emoções, podem se manter ou evoluir. Assim, o conhecimento 
do corpo é fundamental e se apresenta como um instrumento de 
aprendizagem. Quanto mais a criança domina os movimentos do 
corpo, mais ela se encanta e se dispõe a novas experiências (NISTA- 
-PICCOLO; MOREIRA, 2012).
Conceitos funcionais 27
Segundo Mattos e Neira (2008), a vivência de diversos 
posicionamentos – sentado, deitado, inclinado em situação de 
equilíbrio com base reduzida, correndo, rolando, entre outros – 
acentua a compreensão global do corpo, estabelecendo a consciência 
corporal e fortalecendo o aparelho locomotor.
O desenvolvimento do tônus é uma condição básica para a 
aquisição de movimentos globais e manuais coordenados, 
ou seja, para uma boa coordenação motora ampla e viso-
-manual. Com um tônus anormal, necessariamente a 
imagem sensorial de seus movimentos, bem como suas 
ações, serão anormais. (BUENO, 2014)
Com relação à respiração, fenômeno que permite a troca 
gasosa, na qual é eliminado o gás tóxico e inalado oxigênio para 
fornecer energia ao organismo, ressalta-se a sua importância 
como componente relacionado ao esquema corporal, já que está 
intimamente ligado à atenção (MATTOS; NEIRA, 2008). Nesse 
sentido, por meio de práticas corporais, é possível ter conhecimento 
das fases da respiração e dos tipos, sendo eles nasal e bucal.
Quando o processo da respiração não é adequado, a criança tem 
menos energia e seus movimentos ficam desorganizados. Portanto, 
é comprovado que existe relação entre o ato de respirar e a ansiedade 
e a atenção das crianças (BUENO, 2014).
Nesta seção, foram apresentados o esquema e a imagem corporal, 
o tônus e a respiração, conceitos funcionais estruturais, essenciais 
para o desenvolvimento psicomotor. Ressaltamos que o movimento 
é capaz de desenvolver tais conceitos – e que estes estão interligados. 
Isso remete ao termo corporeidade, que, como diz Nista-Piccolo e 
Moreira (2012, p. 33), significa o entendimento do corpo em sua 
totalidade, “dotado de motricidade, intelecção e transcendência. O 
ser criança é corporalmente tudo isso ao mesmo tempo”.
28 Psicomotricidade no contexto escolar 
Na próxima seção, apresentaremos os conceitos psicomotores 
funcionais globais. Vamos conhecê-los e identificar suas características?
2.2 Conceitos psicomotores funcionais 
globais
Conceitos psicomotores funcionais globais são 
os que envolvem o corpo como um todo, e dos 
quais dependem seus gestos e harmonia, quando 
o indivíduo interage com o meio. Citamos cinco 
conceitos psicomotores importantes: coordenação 
motora ampla, coordenação motora fina, equilíbrio, 
postura e relaxamento.
A coordenação motora ampla, também conhecida como 
coordenação dinâmica global ou geral, é considerada a possibilidade 
de controle dos movimentos amplos de nosso corpo, permitindo 
contrair grupos musculares diferentes de uma forma independente 
(BUENO, 2014).
Para que ocorra essa coordenação, torna-se necessária uma 
harmonia de grupos musculares colocados em movimento ou 
em repouso. A função é permitir, de maneira eficaz e econômica, 
movimentos que interessam a vários segmentos corporais, 
implicados em uma atitude ou em um gesto (BUENO, 2014).
Segundo Nicola (2004, p. 80), “para a criança, não se trata 
de conhecer o nome das diferentes partes do seu corpo, mas de 
movimentar-se livremente, de sentir-se bem à vontade”. Desse modo, 
a coordenação motora ampla bem desenvolvida permite à criança 
participar de diferentes atividades, que envolvem movimentos 
coordenados de todas as partes de seu corpo.
É importante salientar que devemos propiciar um clima de 
segurança e confiança no decorrer do trabalho de coordenação 
Vídeo
Conceitos funcionais 29
motora ampla, pois a criança deve viver essa experiência de forma 
positiva na área afetiva, e também ter em conta as possibilidades da 
criança e avaliar as aquisições anteriores (LE BOULCH, 2007).
Ainda, enfatiza-se a importância dos exercícios de coordenação 
global:
Estes exercícios consistem em colocar a criança em situação 
de pesquisa diante de uma tarefa global, em presença da 
qual ela vai encontrar um modo resposta por ajustamentos 
progressivos, permitindo assim a descoberta de uma nova 
praxia. Uma praxia pode ser definida como um sistema de 
movimentos coordenados em função de um objetivo a ser 
atingido. (LE BOULCH, 2007, p. 147)
Com isso, as atividades de expressão e jogos livres, na 
experiência vivida do corpo em confronto com o objeto, permitem 
uma primeira amostra do esquema corporal, assegurando 
uma comunicação do corpo relacionado com seu meio de 
comportamento (LE BOULCH, 2007).
Portanto, essa habilidade é a atividade dos grandes músculos 
e depende da capacidade de equilíbrio postural do indivíduo. 
Verificamos o uso desses músculos nas habilidades motorasbásicas, 
como correr, saltar, rolar, rastejar, equilibrar-se etc., presentes em 
todas as práticas corporais que as crianças realizam em seu cotidiano.
A coordenação motora fina é considerada a capacidade de 
controlar os pequenos músculos para exercícios refinados, por 
exemplo, recorte, perfuração, colagem, encaixes, entre outros 
(BUENO, 2014). Para Nicola (2004, p. 80), a coordenação motora 
fina está relacionada a “movimentos que exigem dissociação digital 
fina, onde há preensão delicada como principal objetivo. Pode-se 
ilustrar como sendo a coordenação dos detalhes”.
A coordenação motora fina também se relaciona à coordenação 
visomotora, que coordena movimentos com a visão, ou seja, a 
partir do olhar, executa uma ação que envolve pequenos músculos, 
principalmente os movimentos que realizamos com as mãos. Como 
30 Psicomotricidade no contexto escolar 
exemplo bem refinado da coordenação viso-manual, temos a 
escrita, na qual:
A habilidade manual será desenvolvida, quer pela 
utilização da modelagem, do recorte, da colagem, quer 
por exercícios de dissociação ao nível da mão e dos dedos 
que identificamos como exercícios de percepção do corpo 
próprio fazendo atuar a função de interiorização O ritmo 
do traço e sua orientação da esquerda para a direita serão 
melhorados pelos exercícios gráficos baseados nas formas 
da pré-escrita, como as diferentes hélices e guirlandas. (LE 
BOULCH, 2007, p. 32)
Conforme o autor supracitado, essa habilidade inicia as 
atividades para o desenvolvimento da coordenação dos pequenos 
músculos, em formações de espirais, circulares, organizando a 
criança para a escrita. No entanto, o trabalho da coordenação viso- 
-manual não deve contar apenas com exercícios em folhas com a 
escrita ou desenhos, pois, assim, a criança estará treinando apenas 
a coordenação viso-manual gráfica (LE BOULCH, 2007).
 Segundo Bueno (2014), no desenvolvimento da coordenação 
motora fina e grafismo, vê-se que aos:
3 anos a criança é capaz de fazer um traço vertical 
(Bernardes, 1979). Em exercícios de dissociação abre e 
fecha as mãos simultaneamente. 4 anos desenha uma cruz 
e apresenta dismetria somente de olhos fechados. 5 anos 
a criança desenha um círculo e um quadrado. Também 
consegue resolver exercícios de pianotagem. Já consegue 
abrir e fechar as mãos alternadamente. Ainda não faz 
laços, mas tenta. É a fase em que a coordenação motora 
fina está em seu maior desenvolvimento. 6 anos a criança 
é capaz de executar e copiar desenhos como zigue-zagues e 
movimentos sinuosos. A dissociação visual e manual já está 
firmada. 7 anos espera-se que a criança faça um losango e 
ovais. Até essa idade a sincinesia (contrações musculares 
involuntárias) é considerada normal. Já possui dissociação 
entre a mão direita, as duas mãos e mão esquerda. 8 anos já 
possui dissociação com o pé direito, palma, pé esquerdo etc. 
Acima de 8 anos consegue realizar o movimento do andar 
sem sair do lugar. Na escrita passa a figurar a memória 
Conceitos funcionais 31
motriz, ou seja, planeja a ação motora antes de executá-la. 
Entre 9 e 10 anos a dissociação manual está bem definida e 
o indivíduo já apresenta boa precisão. Entre 10 e 14 anos já 
possui boa força manual e uma excelente labilidade tônica, 
circulando com facilidade entre a hiper e a hipotonia 
(diminuição do tônus muscular), refletidas em precisão, 
destreza e velocidade manual adequadas.
Assim, o trabalho da habilidade da coordenação viso-motora 
tem um lugar muito importante no grafismo e desenho, pois a 
preparação para a escrita precisa ser feita antes de aprender a ler, de 
tal forma que a aquisição da leitura e a da escrita sejam simultâneas. 
Torna-se relevante que o simbolismo verbal se associe ao simbolismo 
gráfico da criança, e também que se expresse por meio deles (LE 
BOULCH, 2007).
Outro conceito psicomotor é o equilíbrio, caracterizado pela 
“noção de distribuição do peso em relação a um espaço e a um 
tempo e em relação ao eixo de gravidade” (BUENO, 2014).
O equilíbrio está relacionado ao centro de gravidade; assim, o 
fato de um corpo estar equilibrado depende da base de apoio, que 
é a parte do corpo que está em contato com a superfície. Quanto 
mais ampla ela for, maior é a estabilidade do corpo (GALLAHUE; 
OZMUN, 2005). Em concordância com isso, Bueno (2014) afirma 
que “o equilíbrio pode ser estático ou dinâmico. O primeiro 
apresenta mais dificuldade, sendo mais abstrato e exigindo muita 
concentração. Contudo, seu controle é importantíssimo para uma 
futura e adequada aprendizagem”.
Assim, o equilíbrio estático interfere não apenas nas atividades 
que exigem concentração, mas está presente em todas as ações, 
inclusive na manutenção da postura corporal. Para Nicola (2004), o 
equilíbrio dinâmico está relacionado ao movimento, ao controle das 
forças do corpo para a realização das atividades.
O equilíbrio relaciona-se ao esquema corporal, e, quando a 
criança não possui equilíbrio adequado, demonstra angústia ao 
32 Psicomotricidade no contexto escolar 
executar movimentos coordenados (BUENO, 2014). Da mesma 
forma, Le Boulch (2007, p. 135) afirma que “todo o medo ocasiona 
reações de enrijecimento que comprometem as reações reflexas de 
equilibração”.
Na coordenação global, equilíbrio e postura, vê que aos:
2 anos a criança adquire a consciência da alternância e 
oscilação dos pés; tem um passo mais leve, mas já é capaz 
de andar por momentos na ponta dos pés, porém, ao correr, 
toca toda a sola do pé no chão e aí o correr é desestabilizado 
ainda. 3 anos é capaz de andar numa linha reta de frente 
e de costas. Fica parada com os dois pés no chão e olhos 
abertos sem se desequilibrar. Alterna os pés na prancha de 
equilíbrio e corre suavemente já utilizando a ponta dos pés. 
Sobe escadas sozinha, mas um degrau de cada vez. 4 anos 
anda na ponta dos pés sem dificuldade. Fica parada com 
os dois pés no chão e olhos fechados sem se desequilibrar. 
Desce escadas sozinha alternando os pés. 5 anos anda 
com um pé na frente do de olhos abertos. No equilíbrio 
dinâmico a criança é capaz de saltar com os pés juntos no 
mesmo lugar. Realiza o controle de meia-volta com parada. 
Usa o correr de modo eficaz em jogos espontâneos. 6 anos 
anda com um pé na frente do outro de olhos fechados. 
No equilíbrio dinâmico salta num pé só e com os dois pés 
uma boa distância. 7 anos pula num pé só e equilibra-se 
parada num pé também. 8 anos fica parada num pé só 
de olhos fechados por instantes. 9, 10 anos a criança está 
mais relaxada na postura, tornando-se mais ágil em seus 
movimentos. (BUENO, 2014)
Tisi (2007, p. 89) afirma que é importante desenvolver o equilíbrio 
em diferentes posições, como sentado, em pé ou agachado, pois 
ele “é condição indispensável para qualquer atividade”. Dominar 
o equilíbrio envolve: dominar o corpo com relação à gravidade, 
equilibrar objetos com partes do corpo, equilibrar o corpo em 
movimento e parado, e equilibrar o corpo em situações de queda 
(depois de um salto).
Outro conceito psicomotor funcional global é a postura, que, 
segundo Bueno (2014), relaciona-se com o tônus. É uma atitude do 
Conceitos funcionais 33
corpo que está intimamente ligada ao movimento – e é graças a ela 
que consumimos o mínimo de energia para a execução de nossas 
atividades. Esse controle depende do nível de maturação, da força 
muscular e das características psicomotoras do indivíduo. A postura 
deve ser observada desde o nascimento, pois:
A obtenção da locomoção ereta ou caminhada depende 
da estabilidade do bebê. Este deve, primeiro, ser capaz de 
controlar o corpo em pé, antes de dominar as mudanças 
posturais dinâmicas necessárias para a locomoção ereta. 
(GALLAHUE; OZMUN, 2005, p. 171)
Desse modo, a criança que mantiver uma postura adequada 
aprenderá novas habilidades em determinada posição – sentada, 
em pé e deitada (GALLAHUE; OZMUN, 2005). Na vida adulta, a 
capacidade do indivíduo de mudar rapidamente de uma posição 
para a outra durante a realização de um movimento éautomática e 
não depende mais de concentração, pois foi aprendida anteriormente 
(BUENO, 2014).
O relaxamento, último conceito psicomotor funcional global, é 
vinculado à redução das tensões e descontração muscular. Por meio 
do relaxamento, é possível obter melhor conhecimento do corpo por 
meio da contração e descontração muscular. Sendo assim, está ligado 
a outros conceitos, como esquema corporal, estruturação espaço- 
-temporal e equilíbrio. Mediante às atividades de relaxamento (duro, 
mole, tenso ou solto), a criança conhece o seu corpo (BUENO, 2014).
A educação pelo movimento concebe relaxamento como 
a capacidade de descontração da musculatura voluntária. 
Algumas crianças que contraem exaustivamente os músculos 
dos seus segmentos, quando a atividade, na verdade, 
solicita apenas uma leve contração (correr, escrever, pegar, 
empurrar) mostram pouco controle sobre suas ações, e o 
oposto também ocorre, quando executam movimentos que 
implicariam grandes contrações (atividade que requerem 
força ou paralisação), fazem uso de contrações insuficientes. 
(MATTOS; NEIRA, 2008, p. 26)
34 Psicomotricidade no contexto escolar 
Nesses casos, as crianças não têm muita experiência e 
apresentam pouco conhecimento sobre o assunto. Segundo Bueno 
(2014), o relaxamento regula o ritmo da respiração e circulação. 
A conscientização dos diferentes estados tensionais do corpo 
promove uma integração entre corpo e mente, importante para a 
corporeidade.
Para o mesmo autor, o relaxamento proporciona o conhecimento 
corporal e ajuda na descontração, procurando regularizar os ritmos 
do corpo e favorecendo a aprendizagem, pois possibilita a percepção 
e controle corporal. Um bom relaxamento não é somente dormir, 
mas, sim, a conscientização de cada parte do corpo em ação e 
harmonia.
2.3 Conceitos psicomotores funcionais 
perceptivos
Os conceitos psicomotores funcionais 
perceptivos são influenciados pelo sistema 
sensorial, sobretudo pelos canais cinestésicos, 
auditivos e visuais – que são seus receptores 
sensoriais. Além de envolverem a integração desses 
canais, esses conceitos estão relacionados também 
à memória, isto é, às experiências vividas pelo corpo – que são 
individuais para cada pessoa (BUENO, 2014).
Nesta seção, vamos apresentar seis conceitos psicomotores 
importantes: as percepções (auditiva, visual, tátil, olfativa e 
gustativa), a estruturação espacial (espaço), a estruturação temporal 
(tempo), a estruturação espaço-temporal, a lateralidade e o ritmo.
De acordo com Bueno (2014, grifo nosso), “a percepção é a 
capacidade de reconhecer e compreender estímulos”. Gallahue 
e Ozmun (2005, p. 182) complementam ao afirmarem que “o 
termo percepção se refere a qualquer processo pelo qual obtemos 
Vídeo
Conceitos funcionais 35
consciência imediata do que está acontecendo ao redor”. Ainda, 
acrescenta-se a essas informações a observação de que “A percepção 
depende de estímulos sensoriais captados pelos sentidos: audição, 
tato, paladar, olfato, visão, e por sensações cinestésicas interceptivas, 
sensações estas que se originam no ambiente interno, tais como 
sede, fome etc.” (BUENO, 2014).
Concordando com os autores citados, as percepções e suas 
associações fazem a criança entender o que está acontecendo com 
o mundo à sua volta – e também são influenciadas pela memória. 
Observamos isso quando sentimos um cheiro ou um sabor que nos 
remete a um momento de nossa vida que já passou.
Como citado anteriormente, as percepções, segundo Bueno 
(2014), podem ser captadas por estímulos auditivos, visuais, táteis, 
olfativos e gustativos.
A percepção auditiva é a capacidade de entender estímulos 
sonoros e se faz essencial para o aprendizado da linguagem falada, 
para o entendimento dos diferentes sons do ambiente em que a 
criança vive, que vai desde o reconhecimento de um animal até o 
reconhecimento de um meio de transporte (BUENO, 2014).
As condições ambientais influenciam a extensão do 
desenvolvimento da audição. O ouvido está estruturalmente 
completo ao nascimento, e o bebê é capaz de ouvir assim que 
o fluido amniótico é drenado (usualmente, um ou dois dias 
após o nascimento). (GALLAHUE; OZMUN, 2005, p. 192)
Segundo Bueno (2014), a criança, adaptada ao ambiente após 
o nascimento, adquire prazer ao ouvir sons como a voz materna, 
sons da língua, lábios e cordas vocais. Isso é observado com os 
gritinhos e balbucios que os bebês fazem em diferentes intensidades 
e entonações, que serão a base de sua comunicação verbal. “É a 
percepção auditiva dos sons que a própria criança emite e ouve e 
os emitidos pelas outras pessoas e que também pode ouvir, que 
desenvolvem a linguagem de forma geral” (BUENO, 2014).
36 Psicomotricidade no contexto escolar 
A percepção visual, processada e analisada pelo estímulo da luz, 
é a principal experiência sensorial da criança (BUENO, 2014). De 
acordo com Gallahue e Ozmun (2005, p. 184),
Desde o nascimento, os olhos do bebê possuem todas as 
estruturas necessárias à visão, e estão quase completamente 
formadas. A fóvea não está totalmente desenvolvida e os 
músculos oculares são imaturos. Esses dois fatores resultam 
em fixação, foco e coordenação dos movimentos visuais 
deficientes.
Nesse sentido, os olhos estão completos estruturalmente, mas 
imaturos funcionalmente. Por isso, desenvolvem-se nos primeiros 
meses após o nascimento as habilidades perceptivo-visuais 
(GALLAHUE; OZMUN, 2005).
Com relação à percepção visual, Bueno (2014) comenta que:
Anatomicamente, todo olho saudável deve aprender a mexer 
para ver. Alinhar os dois olhos e concentrá-los num ponto 
ou num plano é fundamental, pois uma inadequação da 
mobilidade ocular pode prejudicar a percepção das formas 
e detalhes, refletindo-se em distúrbios de aprendizagem. 
Já o processamento da visão assim ocorre: a visão começa 
quando os raios luminosos batem no olho.
Segundo o mesmo autor, a visão está presente em todas as nossas 
experiências motoras, e é por meio dela que diferenciamos objetos 
e os manipulamos. Utilizamos a visão para nossas necessidades da 
vida diária e para a aprendizagem escolar, cabendo ao professor, 
portanto, dar atenção especial à percepção visual e utilizá-la de 
diferentes formas, de acordo com as necessidades dos alunos.
Já a percepção tátil refere-se à utilização de partes do corpo (mãos, 
boca, língua e lábios) para explorar o ambiente e os objetos quanto à 
sua forma, temperatura e textura (GALLAHUE; OZMUN, 2005).
A percepção olfativa é a capacidade de identificar odores, sendo 
possível associá-los à sua origem, e está relacionada ao paladar. 
“Contudo, é um sentido menos evoluído no homem em relação aos 
animais inferiores” (BUENO, 2014).
Conceitos funcionais 37
De acordo com Gallahue e Ozmun (2005, p. 193), há uma 
escassez de pesquisas a respeito das percepções olfativa e gustativa, 
sendo “difícil separar a sequência de desenvolvimento do olfato e do 
paladar, simplesmente porque o nariz e a boca estão intimamente 
conectados e os estímulos aplicados a um deles provavelmente vão 
afetar o outro”.
Como visto, o olfato e o gosto são pouco desenvolvidos em 
humanos. No entanto, promover atividades de distinção dos 
odores na educação infantil e anos iniciais contribui muito para o 
desenvolvimento dessas percepções, auxiliando em aprendizagens 
importantes para o longo da vida, como diferenciar odores e sabores 
que caracterizam alimentos impróprios para o consumo.
Temos a organização espacial (espaço) como outro conceito 
psicomotor funcional de extrema importância, pois é no
campo físico que o corpo se tornará presente e ativo 
e poderá se organizar, estruturar e orientar. Por essa 
razão, muitos autores confundem essas três conotações 
e defendem parcialmente apenas uma delas; porém, 
somente a compreensão das três nomenclaturas permitirá 
sua completa apreensão. Essa confusão se dá porque a 
noção não é algo simples: ela é elaborada e se diversifica 
progressivamente no decurso do desenvolvimento 
psicomotor da criança. (BUENO,2014)
Ajuriagerra (1980 apud BUENO, 2014) afirma que a percepção 
espacial se estrutura, inicialmente, com referência ao próprio 
corpo. Sua percepção é individual, única e pessoal, fruto de uma 
experiência compreendida apenas por seu corpo no meio e mediante 
às referências visuais percebidas.
Lapierre e Aucouturier (1986) comentam que a estruturação 
espacial não se ensina nem se aprende, descobre-se. No 
entanto, o processo educativo deve levar em conta a 
evolução da estrutura progressiva da noção de espaço a fim 
de poder proporcionar os meios e motivações mais eficazes 
para ajudar essa descoberta, pois a primeira fase de sua 
estruturação é efetuada de forma inconsciente, penetrando 
38 Psicomotricidade no contexto escolar 
através das vivências e memorizadas como cenas prazerosas 
ou desprazerosas. (BUENO, 2014)
Então, podemos dizer que a organização espacial é a tomada de 
consciência da situação de seu próprio corpo em relação ao mundo 
exterior. A partir do movimento do corpo a criança conhece o seu 
tamanho no meio ambiente e a relação entre as pessoas e objetos.
O exercício psicomotor em relação com o espaço terá por 
meta permitir ao sujeito tomar consciência dessas noções 
da maneira mais completa possível. Referindo-se agora à 
organização espacial, e partindo da compreensão do eu 
corporal, para que a criança se organize, ela, quando explora 
o ambiente, percebe o meio e os objetos através dos canais 
exteroceptivos, promovidos pelos sentidos, bem como dos 
proprioceptivos, como a referência da amplitude e força 
impressa nos gestos para agarrar um objeto. (BUENO, 2014)
Concordando com o autor supracitado, o espaço para as 
atividades deve ser organizado e depois é preciso relacioná-lo com o 
outro e com os objetos. Em seguida, deve-se proporcionar exercícios 
de velocidade, noção de direção, em cima, embaixo, à frente, atrás, 
ao lado, perto, longe, em casa, na rua, na escola, pracinha e em várias 
outras situações do cotidiano.
Já a organização temporal (tempo) é
a capacidade de situar-se em função: a) da sucessão dos 
acontecimentos (antes, durante, após); b) da duração dos 
intervalos (hora, minuto, aceleração, freada, andar, corrida); 
c) da renovação cíclica de certos períodos (dias da semana, 
meses, estações); d) do caráter irreversível do tempo (noção 
de envelhecimento, plantas e pessoas). (BUENO, 2014)
Segundo o mesmo autor, a noção de tempo é muito abstrata e 
difícil de ser aprendida pelas crianças. Os intervalos imediatos de 
antes e depois ou ontem e amanhã são mais concretos e melhor 
relacionados ao diálogo verbal. São pontos de referência para a 
organização da criança em relação à sua segurança individual.
Conceitos funcionais 39
A noção de tempo está intimamente ligada à noção de 
espaço. O tempo é, no entanto, uma noção material a qual, 
não podendo ser objetivada, pode apenas ser expressa pelo 
som. Assim, situamos o presente, o passado e o futuro em 
relação ao antes e ao depois e avaliamos o movimento 
no tempo, distinguindo o rápido do lento, o sucessivo do 
simultâneo. (BUENO, 2014)
Podemos destacar ainda um conceito funcional psicomotor 
que se refere aos dois conceitos vistos anteriormente e que estão 
interligados: a estruturação espaço-temporal.
Dentro da organização espaço temporal estão incluídos o 
tempo, o espaço e o ritmo, do qual o termo foi desenvolvido 
nos tempos iniciais da ciência psicomotora, a partir do 
momento em que os estudiosos não conseguiram falar 
isoladamente do tempo ou do espaço, com isso, passaram 
a usar o termo espaço temporal, as duas estritamente 
relacionadas com diferentes modalidades sensoriais, a visual 
e a auditiva, respectivamente. Então, trata-se da integração 
desses dois conceitos psicomotores, em atividades que os 
envolvem de forma integrada. (BUENO, 2014)
Com relação à lateralidade, outro conceito psicomotor funcional, 
Mattos e Neira (2008) afirmam que se refere à dominância de um dos 
lados do corpo quanto à força e à precisão. Segundo Bueno (2014), a 
lateralidade está intimamente ligada a outros conceitos psicomotores, 
como percepção visual e esquema corporal: “A lateralidade liga- 
-se ao desenvolvimento do esquema corporal. A predominância de 
um dos lados do corpo se faz em função do hemisfério cerebral. Os 
movimentos preferenciais de um dos lados de seu corpo determinam 
se o indivíduo é destro (D) ou sinistro (E)”.
Para Mattos e Neira (2008) e Gallahue e Ozmun (2005), na 
infância as crianças desenvolvem muitas vivências com relação 
aos dois lados do corpo e, ao longo do tempo, definem seu lado 
dominante, sendo comum utilizarem os dois lados para tarefas 
diferentes. A lateralidade é extremamente importante para a escrita, 
pois podemos perceber dificuldades nas posições do caderno e da 
40 Psicomotricidade no contexto escolar 
mão, assim como na orientação das linhas e folhas, caso ela não 
esteja bem definida.
Os problemas reais ou aparentes decorrentes da lateralização 
são, com frequência, fonte de ansiedade nos pais e em 
muitos professores da escola maternal. Se for verdade que 
um certo número de dificuldades escolares está relacionado 
a problemas na lateralidade, a atitude mais correta a este 
respeito, a fim de ajudar a criança a conquistar e consolidar 
sua lateralidade, é uma ação educativa facilitadora, 
permitindo-lhe sua motricidade global. (TISI, 2007, p. 67)
O professor precisa conhecer o lado dominante do aluno não 
somente em provas escritas, afinal, as atividades motoras permitem 
a espontaneidade da criança. Para descobrir a dominância genética, 
então, são preferíveis provas de habilidade da velocidade, pois a 
força dos membros superiores será confirmada pela procura da 
dominância dos membros inferiores (TISI, 2007).
O último conceito psicomotor funcional que temos é o ritmo. Ele 
está presente em todas as atividades humanas (físicas e intelectuais) 
e se manifesta em todos os fenômenos da natureza. Pode ser 
caracterizado a partir de uma série de movimentos diferentes, como 
a forma que caminhamos e conversamos. Essa gesticulação do dia a 
dia também é conhecida como ritmo vital (BUENO, 2014).
Assim, concordamos com Gallahue e Ozmun (2005, p. 317) 
quando afirmam que o ritmo “é definido como uma repetição 
sincronizada de eventos”. Esses gestos repetidos, por sua vez, são 
realizados em um tempo, sendo cruciais no desempenho coordenado 
de qualquer ação.
Considerações finais
Após estudar os conceitos, é possível entender que tudo o 
que fazemos envolve diferentes conceitos funcionais de origens 
Conceitos funcionais 41
estruturais, funcionais ou perceptivas. No entanto, quando algum 
conceito não é desenvolvido, uma desarmonia é gerada nos 
movimentos, o que influencia também no comportamento. Nessa 
perspectiva, é importante oferecer diferentes tipos de movimentos 
e atividades, pois é a partir deles que a criança se desenvolve de 
forma integral.
Ampliando seus conhecimentos
• ROSSI, F. S. Considerações sobre a psicomotricidade na 
educação infantil. Vozes dos vales, Teófilo Otoni, MG, 
n. 1, ano 1, p. 1-18, maio 2012. Disponível em: http://
site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/files/2011/09/
Considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-Psicomotricidade-
na-Educa%C3%A7%C3%A3o-Infantil.pdf. Acesso em: 30 jul. 
2019.
Esse artigo traz considerações sobre a importância da 
psicomotricidade na educação infantil, que busca o equilíbrio 
e o desenvolvimento motor e intelectual da criança. A autora 
enfatiza que a estrutura da educação psicomotora é a base 
fundamental para o processo de aprendizagem da criança.
• SANCHÉZ, P. A.; MARTINEZ, M. R.; PEÑALVER, I. V. A 
psicomotricidade na educação infantil: uma prática preventiva 
e educativa. Porto Alegre: Artmed, 2003.
A obra aborda a psicomotricidade como uma prática 
pedagógica que ajuda na maturação. Trata também da prática 
psicomotora educativo-preventiva e dos princípios da ação 
da prática psicomotora, discutindo o papel dos educadores 
nas ações pedagógicas e nas intervenções propostas parao 
trabalho eficiente da psicomotricidade e do amadurecimento 
psicoafetivo.
42 Psicomotricidade no contexto escolar 
Atividades
1. O que são conceitos psicomotores funcionais estruturais e 
com o que eles estão relacionados?
2. Qual é a diferença entre coordenação motora ampla e 
coordenação motora fina?
3. Explique as percepções auditiva, visual, tátil, olfativa e 
gustativa.
Referências
BUENO, J. M. Psicomotricidade teoria e prática: da escola à aquática. São 
Paulo: Cortez, 2014. E-pub.
FONSECA, V. da. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto 
Alegre: Artes Médicas, 2008.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor: 
bebês, crianças, adolescentes e adultos. Trad. de Denise R. de Sales. 3. ed. 
São Paulo: Phorte, 2005.
LE BOULCH, J. Educação psicomotora: psicocinética na idade escolar. Trad. 
de Jeni Wolf. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007.
LEVIN, E. A clínica psicomotora: o corpo na linguagem. Trad. de Julieta 
Jerusalinsky. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
MATTOS, M. R. G.; NEIRA, M. G. Educação física infantil: construindo o 
movimento. 7. ed. São Paulo: Phorte, 2008.
NISTA-PICCOLO, V. L.; MOREIRA, W. W. Corpo em movimento na 
educação infantil. São Paulo: Cortez, 2012.
TISI, L. Educação física e alfabetização. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2007.
3
Conceitos relacionais
Após entender os conceitos funcionais, vamos conhecer os 
conceitos relacionais da psicomotricidade. Ambas as abordagens 
estão relacionadas e integradas, buscando o desenvolvimento das 
crianças por meio de diferentes experiências motoras.
Associa-se o movimento ao desenvolvimento integral, ou seja, 
quando a criança interage com o meio e expressa suas emoções, 
potencializa a sua aprendizagem.
Como visto anteriormente, a psicomotricidade envolve os 
aspectos motores, intelectuais e afetivos – e esses elementos que 
compõem o ser humano estão interligados. É preciso oportunizar 
uma gama variada de movimentos para que, a partir deles, a criança 
se expresse e se comunique. Assim, os conceitos relacionais estão 
mais vinculados ao comportamento e aos sentimentos, e são 
expressos por meio do movimento. Vamos conhecê-los?
3.1 Expressão e comunicação
O ser humano se expressa por meio de 
diferentes linguagens, entre as quais, a corporal. 
Pela linguagem do corpo podemos expressar 
sentimentos e emoções, estabelecendo formas 
de comunicação. Entende-se como conceitos 
relacionais a forma como o corpo estabelece os 
parâmetros para interagir com o meio e com as pessoas. Assim, a 
psicomotricidade
aborda o sujeito como um corpo em movimento nas 
relações com seu mundo externo e interno, todas as suas 
inibições, motivações e ansiedades são apresentadas 
Vídeo
44 Psicomotricidade no contexto escolar 
por meio dos movimentos nesse corpo, e compreender 
essa decodificação permitirá mais uma porta de acesso, 
facilitadora para a intervenção psicomotora, sobretudo nas 
áreas da estimulação, educação e reeducação psicomotoras. 
(BUENO, 2014)
Para desenvolver sua sociabilidade e afetividade, a criança precisa 
interagir com o meio. Essa interação ocorre pela comunicação 
que ela estabelece por meio do pensamento e que expressa pela 
linguagem e pela motricidade. Todos esses elementos interligados 
permitem à criança agir frente a demandas que lhe são atribuídas. 
Nessas tarefas, nas quais ela interage com os colegas, pode mudar a 
sua forma de pensar e agir, observando gestos e atitudes dos demais 
(NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012).
A identidade dos sujeitos e de suas expectativas está diretamente 
ligada aos seus conteúdos relacionais, pois o sujeito precisa estar 
pleno consigo mesmo, em seu corpo e com suas verdades, para 
realizar as conquistas almejadas. É a partir de sua unidade que ele se 
afirma, permitindo a convivência em grupo (BUENO, 2014).
Nesta seção, abordamos os conceitos relacionais, apresentando 
a expressão e a comunicação – pontos interligados que resultam da 
interação da criança consigo mesma e com o ambiente. São aspectos 
oriundos das oportunidades da prática que são proporcionadas 
à criança desde o seu nascimento. Para Bueno (2014), “expressão 
e comunicação estão intimamente relacionadas, pois quando 
o indivíduo aprende a expressar-se corporalmente, assume sua 
identidade e se relaciona com o outro e com o mundo”.
Concordando com o autor supracitado, Fonseca (2008) aponta 
que a motricidade é uma característica tão fundamental para a 
criança que inclusive a aquisição da linguagem depende dela. É por 
meio da motricidade que são dadas respostas às suas necessidades 
básicas e aos seus estados emocionais e relacionais. Percebe-se que, 
acerca da expressão:
Conceitos relacionais 45
é interessante e fundamental que em todos os conceitos 
desenvolvidos anteriormente a expressão, facial ou corporal, 
esteja incluída por meio das atividades com liberdade, 
mímicas, dramatizações e danças, as quais funcionam 
como facilitadoras dessa livre expressão. Por meio dela a 
criança exprime verdadeiramente os seus sentimentos 
e, consequentemente, as suas dificuldades, sejam elas de 
ordem psicológica, física ou biológica. Uma expressão 
plena, de corpo inteiro, só é atingida com a coordenação 
física e psíquica integradas. (BUENO, 2014)
Considerando que o estado emocional é mostrado por meio dos 
gestos, a criança transmite inibição quando apresenta movimentos 
acanhados e, da mesma forma, mostra-se eufórica, satisfeita ou 
possuidora de uma conquista quando os gestos são mais expansivos. 
Portanto, o corpo como via de acesso ao emocional possui limites, 
capacidades e dificuldades que podem ser demonstradas por suas 
expressões (NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012).
Wallon (1989 apud FERNANDES, 2012, p. 6) diz que “o 
movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do 
psiquismo e que não está dissociado dos afetos”. Para ele, a 
motricidade e o desenvolvimento geral da personalidade não estão 
isolados das emoções. Assim, muitos significados simbólicos não 
são expressos por meio de palavras, tendo no corpo seu principal 
veículo de expressão (BUENO, 2014).
Dar atenção ao corpo é ir ao sentido do desenvolvimento 
da consciência individual e social que se inicia na criança, 
sustentada por um viver humano que acontece em redes de 
comunicação, tratando-se inicialmente de uma linguagem 
sem fala, por meio da expressão realizada pelo corpo e com 
o corpo, primeira forma de comunicação, que é tônica e 
emocional. Com o domínio da fala, o homem esquece o 
poder do corpo. Mas os humanos existem na linguagem, no 
conversar, resultado do entrelaçamento do emocional com 
a expressividade da linguagem. É por essa possibilidade de 
comunicação e trocas, dessa expressividade corporal que 
a ação psicomotora conecta o sujeito com a sua natureza. 
(LOVISARO, 2012, p. 61)
46 Psicomotricidade no contexto escolar 
Para Fonseca (2008), a maneira como a criança usa o seu corpo 
e a sua motricidade no espaço retrata sua identidade pessoal e 
autoconhecimento. Com relação a isso, Gallahue e Ozmun (2005, 
p. 330) trazem o termo autoconceito como “a livre descrição de 
valores que o indivíduo atribui a si mesmo”. Eles afirmam que o 
autoconceito é proveniente da competência percebida, competência, 
autoconfiança e autoestima.
Assim, o nível das atividades desenvolvidas pela criança 
precisa ser adequado à sua fase de desenvolvimento psicomotor, 
possibilitando o êxito com a tarefa e contribuindo para a aquisição 
dos aspectos mencionados anteriormente.
Por meio do movimento, é possível oportunizar atividades 
diversificadas, de acordo com a fase de aprendizagem da criança. 
Para Le Boulch (2007), a função imaginativa exercida durante o jogo 
implica em manifestações de interiorização – etapa indispensável 
para a formação do eu individual e social. Na fase dos 7-8 anos, 
surge como necessidade estabelecer uma correspondência entre si 
mesmo e o mundo exterior. Desse modo, “os jogos e as atividades de 
expressão são um meio privilegiado de ajudar a criança a equilibrar--se em seu ambiente humano, a comunicar-se, a cooperar” (LE 
BOULCH, 2007, p. 46).
Se a expressão corporal é uma forma de se comunicar, trata-se, 
então, de um elemento imprescindível para o ser humano, pois ele 
é um ser social. Existem diferentes formas de estimular a expressão, 
tanto com brincadeiras, nas quais são estimuladas a criatividade 
e a liberdade, quanto com músicas e formas de simbolismos e 
fantasia, uma vez que no universo das crianças tudo é possível em 
sua imaginação.
Atividades que estimulem a criatividade são imprescindíveis ao 
processo educativo. Elas favorecem a incorporação da disciplina 
interna, contextualizam a ação, canalizam as tensões, conflitos e 
ansiedades e equilibram a relação consigo e com os demais. Além 
Conceitos relacionais 47
disso, fortalecem seu autoconceito, contribuindo para a aquisição 
de uma boa imagem corporal. “E para que haja uma boa expressão, 
a ação deve ser também espontânea e considerada como uma 
manifestação natural, uma expressão de livre vontade. Por meio da 
espontaneidade o indivíduo facilita sua adaptação a novas situações” 
(BUENO, 2014).
Existem níveis na organização da expressividade do movimento 
no desenvolvimento psicomotor. De Franch (1998 apud BUENO, 
2014) delimita esses níveis ao afirmar que “entendemos que 
essa organização se dá a partir de quatro níveis, na sua essência: 
organização tônica, organização sensório-motora, organização 
cognitiva e organização simbólica”.
Assim, a partir das experiências oportunizadas e da maturação 
biológica, a criança vai evoluindo em sua capacidade de organização 
e aprendizagem. O que se pretende é que ela tenha subsídios 
para atuar com autonomia no ambiente em que vive a partir das 
experiências motoras.
Com relação à comunicação, outro conceito relacional a ser 
apresentado nesta seção, Nicola (2004, p. 11) define como “o ato 
de expressar um pensamento, sentimento, emoção, através de uma 
linguagem verbal ou não verbal. Para a Psicomotricidade, os aspectos 
comunicativos do ser humano – corpo, gestualidade e verbo – são 
essenciais em sua abordagem quer na educação, reeducação ou 
terapêutica”.
Se a nossa linguagem é um sistema fundamental na intervenção 
entre sujeito e objeto de conhecimento, a linguagem corporal é o 
conjunto de atitudes e comportamentos com significância para 
outra pessoa (LA TAILLE; OLIVEIRA; DANTAS, 1992). Todos 
os nossos gestos, atitudes e comportamentos corporais podem ser 
interpretados a despeito de nossa intenção. A mãe, por exemplo, 
interpreta uma reação da criança como um apelo dirigido a ela, 
48 Psicomotricidade no contexto escolar 
projetando-a no mundo da comunicação a partir de suas respostas 
(NICOLA, 2004).
Assim, é preciso observar os gestos e a linguagem corporal das 
crianças, pois quando uma criança realiza um movimento, ela reflete 
seus desejos e emoções – e para que se estabeleça uma comunicação 
deve haver um retorno à criança.
O movimento para as crianças significa muito mais do 
que mexer partes do corpo ou deslocar-se no espaço. A 
criança se expressa e se comunica por meio dos gestos e das 
mímicas faciais e interage utilizando fortemente o corpo. 
A dimensão corporal integra-se fortemente ao conjunto 
da atividade da criança. O ato motor faz-se presente em 
suas funções expressiva, instrumental ou de sustentação às 
posturas e aos gestos. (MATTOS; NEIRA, 2007, p. 27)
Sendo assim, o corpo fala mesmo que não intencionalmente. Um 
professor, por meio da observação, pode perceber os sentimentos 
de seus alunos e ter, com essa leitura corporal, a oportunidade de 
adequar atividades e rever processos a fim de melhorar a sua aula. 
Mattos e Neira (2007) apontam que sinais de que os alunos estão 
cansados de ficar muito tempo sentados ou que estão distraídos e 
entediados podem ser traduzidos como respostas a uma aula muito 
fácil ou além da compreensão.
Todas as emoções, todos os sentimentos e também todos os 
desejos e reações, conscientes ou inconscientes, tudo o que 
somos, se expressam nas atitudes e nos gestos, os quais não 
devem necessariamente vir relacionados com a linguagem 
verbal, pois esta pode mascarar ou transformar o vivido. 
O interessante é que o verbal venha após o vivido, na sua 
reflexão e não associado a ele. (BUENO, 2014)
Assim, Nicola (2004) nos informa que os comportamentos 
comunicativos podem ser classificados da seguinte forma:
• Inatos: reações primitivas a estímulos externos, que 
independem da cultura e são comuns para todos os humanos 
(bocejar, espirrar, espreguiçar etc.). São condicionados a 
Conceitos relacionais 49
modalidades familiares e socioculturais, assim como por 
processos patológicos (no caso dos tiques).
• Adquiridos: adquirimos no decorrer da aprendizagem 
social (higienizar-se, caminhar, alimentar-se etc.). Esses 
comportamentos traçam para os outros um perfil de nossa 
personalidade (postura à mesa, diferenças culturais etc.).
• Socioculturais: gestos socializados, não sendo apenas a 
polidez e a etiqueta, mas a expressão do sujeito de interiorizar 
e reproduzir esses gestos.
Santin (1992 apud BUENO, 2014) salienta que o homem, por 
meio de seus movimentos, “expressa os mais puros sentimentos 
como alegria, medo, amor, entre outros, descobrindo como o corpo 
é sensível e como possui uma linguagem própria revelada nos gestos, 
que possibilitam um elo de comunicação com o mundo”.
Na perspectiva da expressão e da comunicação, entendemos que 
essas se refletem na linguagem do corpo e podem ser interpretadas 
quando interagimos com outras pessoas, demonstrando sentimentos 
e emoções. Na próxima seção, apresentaremos a afetividade e a sua 
relação com a corporeidade.
3.2 A afetividade e sua relação com 
a corporeidade
Sendo o corpo o elemento central para a 
psicomotricidade, a corporeidade vem a ser um 
termo carregado das relações que esse corpo tem 
consigo, com os outros e com o meio. Como afirma 
Bueno (2014), “a corporeidade é entendida por 
nós como sendo a vivência do corpo na relação 
com o outro e o mundo, condição básica para qualidade de vida 
do indivíduo. É um dos canais mais importantes para facilitar essa 
relação”.
Vídeo
50 Psicomotricidade no contexto escolar 
É por meio dos movimentos que se constrói a noção de 
corporeidade, e não existe ação que não seja resposta às necessidades 
e aos desejos que o meio ambiente impõe. Essa construção gradual 
se dá por meio da estruturação da imagem corporal, a qual, aos 
poucos, vai se constituindo nas crianças (BUENO, 2014).
Acrescentamos à corporeidade a importância da imagem corporal 
– ela já foi apresentada no capítulo anterior e aqui será retomada 
para compreender a relação entre afetividade e corporeidade.
A imagem corporal é “o centro do sentimento de maior ou 
menor disponibilidade que temos do nosso corpo e no centro dessa 
relação vivida universo-objeto, passa por uma sucessão de estados 
de equilíbrio” (LE BOULCH, 2007, p. 15). Portanto, é correto 
afirmar que
o objeto central da educação psicomotora é, precisamente, 
ajudar a criança a chegar a uma imagem do corpo 
operatório, que concerne não só ao conteúdo, mas também 
à estrutura da relação entre as partes e a totalidade do corpo 
e uma unidade organizada, instrumento da relação com a 
realidade. (LE BOULCH, 2007, p. 17)
Assim, a corporeidade se firma na busca da criança por sua 
identidade, na qual ela percebe a noção de sua totalidade. Essa 
totalidade é oriunda das experiências sensório-motoras que a criança 
possui. “A noção de corporeidade está intimamente ligada à noção 
de identidade, porque, para que esta possa aparecer, o corpo deve ser 
reunido em uma imagem global” (BUENO, 2014). Portanto, é por 
meio das experiências motoras e dos movimentos espontâneos que 
a criança descobre o seu próprio corpo.
Sobre o equilíbrio da quantidade e da qualidade das relações, 
Bueno (2014) ressalta:
A estruturação da imagem corporal também está 
relacionada ao objeto de amor ali investido, ou seja, a ação 
da criança e a ação do outro

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