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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 679-STJ Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR ▪ Mandado de injunção é via imprópria para pleitear a regulamentação do direito militar de ascensão funcional do quadro especial do Exército Brasileiro. DIREITO CIVIL ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA ▪ O valor a ser restituído ao devedor fiduciante, quando há venda extrajudicial do bem no bojo de ação de busca e apreensão posteriormente julgada extinta sem resolução do mérito, deve ser o valor do veículo na Tabela FIPE à época da busca e apreensão. USUCAPIÃO ▪ Após a citação, é possível a mera juntada da planta e do memorial descritivo, sem a anuência do demandado, desde que não implique em alteração do pedido formulado na petição inicial da ação de usucapião. DIVÓRCIO ▪ Em dissolução de vínculo conjugal, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem edificado em loteamento irregular, quando ausente a má-fé dos possuidores. DIREITO DO CONSUMIDOR PRÁTICAS ABUSIVAS ▪ É abusiva a publicidade de alimentos direcionada, de forma explícita ou implícita, a crianças. ▪ Esclarecimentos posteriores ou complementares desconectados do conteúdo principal da oferta (informação disjuntiva, material ou temporalmente) não servem para exonerar ou mitigar a enganosidade ou abusividade. DIREITO EMPRESARIAL PROPRIEDADE INDUSTRIAL ▪ É ilegal a Resolução nº 113/2013 do INPI que afasta a aplicação do direito de restauração de patente, previsto no art. 87 da Lei nº 9.279/96, para as hipóteses de inadimplemento superior uma retribuição anual. RECUPERAÇÃO JUDICIAL ▪ O crédito decorrente das astreintes aplicadas no bojo de processo trabalhista deve ser habilitado na recuperação judicial na classe dos quirografários, e não na dos créditos trabalhistas. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE PROTEÇÃO CÍVEL ▪ É obrigatória a intervenção da FUNAI em ação de destituição de poder familiar que envolva criança cujos pais possuem origem indígena. GUARDA ▪ Sentença que afastou criança do lar não impede pedido judicial de guarda pela mesma família. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR ▪ Processo em que foi decretada a destituição do poder familiar não pode ser anulado por falta de citação de suposto pai com identidade ignorada. DIREITO AMBIENTAL CÓDIGO FLORESTAL ▪ O cumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta deve ser regido pelo Código Florestal vigente à época da celebração do acordo. ▪ Compensação ambiental feita no mesmo bioma, mas fora da mesma bacia hidrográfica. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PRINCÍPIOS ▪ O dever de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, previsto no art. 489, §1º, VI, do CPC/2015, abrange também o dever de seguir julgado proferido por Tribunal de 2º grau distinto daquele a que o julgador está vinculado? COMPETÊNCIA (OUTROS TEMAS) ▪ Compete às Turmas que compõem a Segunda Seção do STJ (especializada em direito privado) apreciar recurso em que se discute ressarcimento pelo desconto de mensalidades de plano de saúde cobradas em fatura de energia elétrica. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA ▪ A inversão do ônus probatório leva consigo o custeio da carga invertida, não como dever, mas como simples faculdade, sujeita as consequências processuais advindas da não produção da prova. RECURSOS (NOÇÕES GERAIS) ▪ É devido o pagamento de honorários advocatícios recursais quando o acórdão recorrido for publicado na vigência do CPC/2015, mesmo que a sentença tenha sido proferida sob a égide do CPC/1973. PROCESSO COLETIVO / JUIZADOS ESPECIAIS ▪ Não é possível ajuizar cumprimento de sentença no Juizado Especial da Fazenda Pública para executar individualmente título judicial oriundo de ação coletiva, ainda que o valor individual cobrado seja inferior a 60 SM. DIREITO PENAL HOMICÍDIO ▪ A tenra idade da vítima é fundamento idôneo para a majoração da pena-base do crime de homicídio pela valoração negativa das consequências do crime. AGRAVANTES ▪ Não se aplica a agravante do art. 61, II, “h”, do CP ao furto praticado aleatoriamente em residência sem a presença do morador idoso. DIREITO PROCESSUAL PENAL PRISÃO ▪ Depois da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), não é mais possível que o juiz, de ofício, converta a prisão em flagrante em prisão preventiva (é indispensável requerimento). Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 DIREITO ADMINISTRATIVO DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR Mandado de injunção é via imprópria para pleitear a regulamentação do direito militar de ascensão funcional do quadro especial do Exército Brasileiro Determinado militar impetrou mandado de injunção contra o Comandante do Exército afirmando que ele estaria sendo omisso ao não regulamentar o direito de promoção do quadro especial do Exército Brasileiro. Não cabe mandado de injunção neste caso. Para o cabimento do mandado de injunção, é imprescindível a existência de direito previsto na Constituição que não esteja sendo exercido por ausência de norma regulamentadora. O mandado de injunção não é remédio destinado a fazer suprir lacuna ou ausência de regulamentação de direito previsto em norma infraconstitucional e, muito menos, de legislação que se refere a eventuais prerrogativas a serem estabelecidas discricionariamente pela União. Constata-se que não cabe ao Comandante do Exército, por ato infralegal, nem por iniciativa própria, inovar no ordenamento jurídico quanto à promoção de militares das Forças Armadas, sob pena de violação ao art. 61, § 1º, II, “f”, da Constituição Federal. A Carta Magna exige lei ordinária ou complementar, de iniciativa do Presidente da República, para tratar de promoções, entre outros direitos, aos militares das Forças Armadas. Além disso, o direito à promoção hierárquica no âmbito do Quadro Especial do Exército não está assegurado na Constituição Federal. STJ. Corte Especial. MI 324-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 19/02/2020 (Info 679). Imagine a seguinte situação hipotética: João, militar, impetrou mandado de injunção contra o Comandante do Exército afirmando que ele estaria sendo omisso ao não regulamentar o direito de promoção do quadro especial do Exército Brasileiro. O impetrante pediu para que fosse fixado prazo para que o Comandante do Exército editasse norma disciplinando o direito militar de promoção do Quadro Especial do Exército Brasileiro. E, por analogia, que, fosse aplicada a Lei nº 12.158/2009, permitindo ao impetrante sua ascensão funcional conforme assegurado aos Taifeiros do Comando da Aeronáutica, até que seja publicada lei específica. De quem é a competência para julgar esse mandado de injunção? Do STJ, nos termos do art. 105, I, “h”, da CF/88: Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: (...) h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal; O que é o mandado de injunção? Mandado de injunção é... - uma ação (instrumento processual) - de cunho constitucional (remédio constitucional) - que pode ser proposta por qualquer interessadoInformativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 - com o objetivo de tornar viável o exercício de - direitos e liberdades constitucionais ou - de prerrogativas relacionadas com nacionalidade, soberania ou cidadania - e que não estão sendo possíveis de ser exercidos - em virtude da falta, total ou parcial, de norma regulamentando estes direitos. “O mandado de injunção (MI) é instrumento processual instituído especialmente para fiscalizar e corrigir, concretamente, as omissões do Poder Público em editar as normas necessárias para tornar efetivos direitos e liberdades constitucionais e prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania (art. 5º, LXXI, da Constituição).” (BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional. Tomo II - Direito Constitucional Positivo. 5ª ed., Salvador: Juspodivm, 2016, p. 230). Veja como este instrumento foi previsto na CF/88 e na Lei nº 13.300/2016: Art. 5º (...) LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; Art. 2º Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador competente. Cabe mandado de injunção no caso acima detalhado? NÃO. Não cabe mandado de injunção neste caso. Para o cabimento do mandado de injunção, é imprescindível a existência de direito previsto na Constituição Federal que não esteja sendo exercido por ausência de norma regulamentadora. O mandado de injunção não é remédio destinado a fazer suprir lacuna ou ausência de regulamentação de direito previsto em norma infraconstitucional e, muito menos, de legislação que se refere a eventuais prerrogativas a serem estabelecidas discricionariamente pela União. Constata-se que não cabe ao Comandante do Exército, por ato infralegal, nem por iniciativa própria, inovar no ordenamento jurídico quanto à promoção de militares das Forças Armadas, sob pena de violação ao art. 61, § 1º, II, “f”, da Constituição Federal. A Carta Magna exige lei ordinária ou complementar, de iniciativa do Presidente da República, para tratar de promoções, entre outros direitos, aos militares das Forças Armadas. Além disso, o direito à promoção hierárquica no âmbito do Quadro Especial do Exército não está assegurado na Constituição Federal. Em suma: Mandado de injunção é via imprópria para pleitear a regulamentação do direito militar de ascensão funcional do quadro especial do Exército Brasileiro STJ. Corte Especial. MI 324-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 19/02/2020 (Info 679). Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 DIREITO CIVIL ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA O valor a ser restituído ao devedor fiduciante, quando há venda extrajudicial do bem no bojo de ação de busca e apreensão posteriormente julgada extinta sem resolução do mérito, deve ser o valor do veículo na Tabela FIPE à época da busca e apreensão Importante!!! Os arts. 2º e 3º do DL 911/69 preveem que, após a execução da liminar de busca e apreensão do bem, o devedor terá o prazo de 5 dias para pagar a integralidade da dívida pendente, oportunidade em que o bem lhe será restituído sem o respectivo ônus. No entanto, caso o devedor não efetue o pagamento no prazo legal, haverá a consolidação da propriedade e da posse plena e exclusiva do bem móvel objeto da alienação fiduciária no patrimônio do credor. Consolidado o bem no patrimônio do credor, estará ele investido em todos os poderes inerentes à propriedade, podendo vender o bem. Se, contudo, efetivar a venda e a sentença vier a julgar improcedente o pedido, o risco do negócio é seu, devendo ressarcir os prejuízos que o devedor fiduciante sofrer em razão da perda do bem. Privado indevidamente da posse de seu veículo automotor, a composição do prejuízo do devedor fiduciante deve traduzir-se no valor de mercado do veículo no momento de sua apreensão indevida (valor do veículo na Tabela FIPE à época da ocorrência da busca e apreensão). Isso porque é indiscutível que tal valor é o que melhor exprime o montante do desequilíbrio financeiro sofrido pelo devedor fiduciante. Saliente-se que a tabela FIPE é comumente utilizada para pesquisa do preço médio de veículos e serve como balizador de valores dos veículos automotores terrestres, considerando, inclusive, os diversos fatores de depreciação existentes. STJ. 3ª Turma. REsp 1.742.897-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679). Imagine a seguinte situação hipotética: João comprou um carro mediante alienação fiduciária em 60 parcelas. João ficará andando no veículo, mas a propriedade resolúvel é do Banco que lhe emprestou o dinheiro. Quando o adquirente terminar de pagar as prestações do mútuo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a João. Inadimplemento Ocorre que João passou a atrasar o pagamento das prestações Diante disso, o banco credor ingressou com ação de busca e apreensão requerendo que lhe fosse entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). O juiz concedeu a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), conforme determina o art. 3º do DL 911/69. Apreensão e venda O bem foi apreendido e entregue ao banco. Em seguida, o banco efetuou a venda do carro por R$ 30 mil. Vale ressaltar que, conforme ocorre na prática, o veículo foi vendido por preço abaixo da tabela FIPE. No caso concreto, esse veículo, no momento da apreensão, custava R$ 40 mil segundo a tabela FIPE. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 Abrindo um parêntese: Tabela FIPE FIPE é a sigla de “Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas”, uma organização de direito privado ligada ao Departamento de Economia da USP. Esta fundação elabora, mensalmente, uma tabela prevendo os preços médios dos veículos usados que são vendidos no mercado nacional. Ex: segundo a tabela FIPE, um Fiat Palio City 1.0 4p, ano 2000, custa em, em julho de 2016, R$ 10.435,00. Os valores estabelecidos na tabela variam em função da região, conservação, cor, acessórios ou qualquer outro fator que possa influenciar as condições de oferta e procura por um veículo específico. Vale ressaltar que o preço dos carros, em regra, vai diminuindo com o passar dos meses. Ex: em maio de 2016, o valor do mesmo Fiat Palio City 1.0 4p, ano 2000, era de R$ 10.516,00 na tabela FIPE. Já em julho de 2016, caiu para R$ 10.435,00, como vimos acima. As seguradoras utilizam a Tabela FIPE para determinar o valor do automóvel segurado. Voltando ao caso concreto: O banco recorreu alegando que o magistrado não poderia ter deferido a busca e apreensão considerando que o banco não fez a notificação extrajudicial do devedor antes do ajuizamento da ação. Logo, não foi comprovada a mora do devedor, conforme exige o STJ: Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente. Provimento do recurso e ressarcimento do devedor O Tribunal de Justiça deu provimento ao recurso do banco e extinguiu a ação de busca e apreensão sem resoluçãodo mérito sob o argumento de que a comprovação da mora representa pressuposto de desenvolvimento válido do processo. Como consequência, o TJ determinou que o banco devolvesse a João o valor do carro (já foi alienado extrajudicialmente). Até aí, tudo bem. O ponto nevrálgico foi o seguinte: O banco terá que restituir o valor obtido com a venda (R$ 30 mil) ou o valor do veículo segundo a tabela FIPE no momento da apreensão (R$ 40 mil)? O valor do veículo segundo a tabela FIPE. Os arts. 2º e 3º do DL 911/69 preveem que, após a execução da liminar de busca e apreensão do bem, o devedor terá o prazo de 5 dias para pagar a integralidade da dívida pendente, oportunidade em que o bem lhe será restituído sem o respectivo ônus. No entanto, caso o devedor não efetue o pagamento no prazo legal, haverá a consolidação da propriedade e da posse plena e exclusiva do bem móvel objeto da alienação fiduciária no patrimônio do credor. Consolidado o bem no patrimônio do credor, estará ele investido em todos os poderes inerentes à propriedade, podendo vender o bem. Se, contudo, efetivar a venda e a sentença vier a julgar improcedente o pedido, o risco do negócio é seu, devendo ressarcir os prejuízos que o devedor fiduciante sofrer em razão da perda do bem. Como ficou decidido que o devedor fiduciante foi privado indevidamente da posse de seu veículo automotor, o ressarcimento do prejuízo deve traduzir-se no valor de mercado do automóvel no momento de sua apreensão indevida (valor do veículo na Tabela FIPE à época da ocorrência da busca e apreensão). Isso porque é indiscutível que tal valor é o que melhor exprime o montante do desequilíbrio financeiro sofrido pelo devedor fiduciante. Saliente-se que a tabela FIPE é comumente utilizada para pesquisa do preço médio de veículos e serve como balizador de valores dos veículos automotores terrestres, considerando, inclusive, os diversos fatores de depreciação existentes. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 Em suma: O valor a ser restituído ao devedor fiduciante, quando há venda extrajudicial do bem no bojo de ação de busca e apreensão posteriormente julgada extinta sem resolução do mérito, deve ser o valor do veículo na Tabela FIPE à época da busca e apreensão. STJ. 3ª Turma. REsp 1.742.897-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679). USUCAPIÃO Após a citação, é possível a mera juntada da planta e do memorial descritivo, sem a anuência do demandado, desde que não implique em alteração do pedido formulado na petição inicial da ação de usucapião É admissível a determinação de emenda à petição inicial, mesmo após a citação do réu e a apresentação de defesa, quando não houver alteração no pedido ou na causa de pedir. Eventuais alterações no memorial descritivo do imóvel podem ser feitas unilateralmente antes da angularização da relação jurídico-processual ou, depois da citação, somente com a anuência explícita do réu. Não há como concluir que a mera juntada da planta e do memorial descritivo georreferenciado implicou alteração objetiva da demanda, ou seja, do pedido formulado na petição inicial da ação de usucapião. No caso concreto, não houve prejuízo aos litigantes, visto que, depois da apresentação dos documentos, o magistrado de primeiro grau determinou a intimação do demandado, dos confinantes e das Fazendas Públicas, em observância ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.140-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/08/2020 (Info 679). Imagine a seguinte situação hipotética: Em 2010, João ajuizou ação de usucapião de um imóvel rural contra Pedro. O CPC/1973 exigia expressamente que, na ação de usucapião, o autor juntasse, na petição inicial, a planta do imóvel: CPC/1973 Art. 942. O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e juntando planta do imóvel, requererá a citação daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel usucapiendo, bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais interessados, observado quanto ao prazo o disposto no inciso IV do art. 232. Vale ressaltar, ainda, que o § 3º do art. 225 da Lei nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) estabelece que, nas ações judiciais que versem acerca de imóveis rurais, a localização, os limites e as confrontações serão obtidos a partir de memorial descritivo assinado por profissional habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, contendo as coordenadas dos vértices definidores dos limites dos imóveis rurais, georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com precisão posicional a ser fixada pelo INCRA. Ocorre que João não juntou a planta na petição inicial. Pedro e os confinantes do imóvel foram citados. O advogado de João percebeu, então, que não havia cumprido a determinação legal e, por isso, apresentou petição anexando a planta do imóvel e o memorial descritivo. O juiz determinou a intimação de Pedro, dos confinantes do imóvel e das Fazendas Públicas para se manifestarem sobre a juntada. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 Pedro requereu a extinção do processo sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, IV, do CPC/1973 (art. 485, IV, do CPC/2015, em virtude da impossibilidade de aditar a inicial após a citação e apresentação de contestação, nos termos do art. 264 do CPC/1973 (art. 329 do CPC/2015): CPC/1973 CPC/2015 Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por lei. Art. 329. O autor poderá: I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consentimento do réu; II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar. João poderia ter feito a referida juntada mesmo já tendo ocorrido a citação? SIM. Isso porque essa juntada não significou alteração do pedido formulado na petição inicial da ação de usucapião. Não há como concluir que a mera juntada da planta e do memorial descritivo georreferenciado implicou alteração objetiva da demanda, ou seja, do pedido formulado na petição inicial da ação de usucapião. No caso concreto, não houve prejuízo aos litigantes, visto que, depois da apresentação dos documentos, o magistrado de primeiro grau determinou a intimação do demandado, dos confinantes e das Fazendas Públicas, em observância ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa. O STJ entende que “é admissível a determinação de emenda à petição inicial, mesmo após a citação do réu e a apresentação de defesa, quando não houver alteração no pedido ou na causa de pedir (REsp 1.698.716/GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 11/9/2018). Em suma: Após a citação, é possível a mera juntada da planta e do memorial descritivo, sem a anuência do demandado, desde que não implique em alteração do pedido formulado na petição inicial da ação de usucapião. STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.140-MG,Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/08/2020 (Info 679). Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 DIVÓRCIO Em dissolução de vínculo conjugal, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem edificado em loteamento irregular, quando ausente a má-fé dos possuidores Atenção! DPE Importante!!! Caso concreto: em um processo de divórcio litigioso, foi reconhecido que seria possível a partilha dos direitos possessórios sobre um imóvel localizado em área irregular. Em alguns casos, a falta de regularização do imóvel que se pretende partilhar não ocorre por má-fé ou desinteresse das partes, mas por outras razões, como a incapacidade do poder público de promover a formalização da propriedade ou, até mesmo, pela hipossuficiência das pessoas para dar continuidade aos trâmites necessários para a regularização. Nessas situações, os titulares dos direitos possessórios devem sim receber a tutela jurisdicional. A melhor solução para tais hipóteses é admitir a possibilidade de partilha dos direitos possessórios sobre o bem edificado em loteamento irregular, quando não for identificada má- fé dos possuidores. Essa medida faz com que resolva de forma imediata a questão da dissolução do vínculo conjugal, relegando a um segundo momento as eventuais discussões acerca da regularidade e da formalização da propriedade sobre o bem imóvel. STJ. 3ª Turma. REsp 1.739.042-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679). Imagine a seguinte situação hipotética: Francisca ajuizou ação de divórcio litigioso contra Pedro. No momento da prolação da sentença, constatou-se que o único bem do casal a ser partilhado era uma casa localizada em um loteamento irregular e que, por essa razão, não se encontrava devidamente regularizada no cartório de registro de imóveis. Diante disso, indaga-se: será possível a partilha dos direitos sobre esse bem? SIM. Será possível a partilha dos direitos possessórios sobre esse imóvel mesmo ele estando localizado em área irregular. Em alguns casos, a falta de regularização do imóvel que se pretende partilhar não ocorre por má-fé ou desinteresse das partes, mas por outras razões, como a incapacidade do poder público de promover a formalização da propriedade ou, até mesmo, pela hipossuficiência das pessoas para dar continuidade aos trâmites necessários para a regularização. Nessas situações, os titulares dos direitos possessórios devem sim receber a tutela jurisdicional. A melhor solução para tais hipóteses é admitir a possibilidade de partilha dos direitos possessórios sobre o bem edificado em loteamento irregular, quando não for identificada má-fé dos possuidores. Essa medida faz com que resolva de forma imediata a questão da dissolução do vínculo conjugal, relegando a um segundo momento as eventuais discussões acerca da regularidade e da formalização da propriedade sobre o bem imóvel. Em suma: Em dissolução de vínculo conjugal, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem edificado em loteamento irregular, quando ausente a má-fé dos possuidores. STJ. 3ª Turma. REsp 1.739.042-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679). Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 DIREITO DO CONSUMIDOR PRÁTICAS ABUSIVAS É abusiva a publicidade de alimentos direcionada, de forma explícita ou implícita, a crianças Importante!!! A decisão de comprar gêneros alimentícios cabe aos pais, especialmente em época de altos e preocupantes índices de obesidade infantil, um grave problema nacional de saúde pública. Diante disso, consoante o art. 37, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor, estão vedadas campanhas publicitárias que utilizem ou manipulem o universo lúdico infantil. Se criança, no mercado de consumo, não exerce atos jurídicos em seu nome e por vontade própria, por lhe faltar poder de consentimento, tampouco deve ser destinatária de publicidade que, fazendo tábula rasa da realidade notória, a incita a agir como se plenamente capaz fosse. STJ. 2ª Turma. REsp 1.613.561-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/04/2017 (Info 679). A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: Em 2007, na época dos Jogos Pan-Americanos, a Sadia fez uma campanha publicitária direcionada ao público infanto-juvenil, na qual incentivava as crianças a trocarem os selos impressos nas embalagens de produtos da empresa por mascotes de pelúcia uniformizados, mediante o pagamento de R$ 3,00. Em outras palavras, nas embalagens dos produtos da empresa havia selos e se o consumidor juntasse determinada quantidade poderia trocar por bichinhos de pelúcia. O Procon de São Paulo multou a Sadia em R$ 428 mil alegando que a campanha incentivaria as crianças a consumidor produtos industrializados calóricos, que comprometem a alimentação saudável e podem trazer prejuízos à saúde. A Sadia ajuizou ação anulatória do auto de infração argumentando que não existe proibição no ordenamento jurídico de publicidade dirigida a crianças. O TJSP concordou com a tese da empresa e afirmou que não houve excessos nem indução a comportamentos prejudiciais à saúde ou à segurança pessoal. Além disso, considerou que a decisão sobre a compra dos produtos alimentícios seria dos pais ou responsáveis, e não diretamente das crianças. O Procon de SP – que tem a natureza jurídica de fundação – recorreu ao STJ. O STJ concordou com a autuação feita pelo Procon? Houve publicidade abusiva? SIM. É abusiva a publicidade de alimentos direcionada, de forma explícita ou implícita, a crianças. STJ. 2ª Turma. REsp 1.613.561-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/04/2017 (Info 679). Publicidade ilícita Publicidade ilícita é toda aquela que viola os deveres jurídicos estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor para a realização, produção e divulgação de mensagens publicitárias. Existem duas espécies de publicidade ilícita: a) publicidade enganosa: é aquela que viola o dever de veracidade e clareza estabelecidos pelo CDC. Está conceituada nos §§ 1º e 3º do art. 37 do CDC, que veremos mais abaixo. b) publicidade abusiva: é aquela que viola valores ou bens jurídicos considerados socialmente relevantes (tais como meio ambiente, segurança e integridade dos consumidores), assim como a que se caracteriza pelo apelo indevido a vulnerabilidade agravada de determinados consumidores, como crianças e idosos. Está disciplinada no § 2º do art. 37: Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 Art. 37 (...) § 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. Veja mais em: MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 278). PUBLICIDADE ILÍCITA Publicidade ENGANOSA Publicidade ABUSIVA É a publicidade falsa ou que possa induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. Pode ser: • por comissão: quando o fornecedor faz uma afirmação não verdadeira, parcial ou total, sobre o produto ou serviço; • por omissão:que é quando deixa de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. É a publicidade... • discriminatória; • que incita violência; • que explora o medo ou a superstição; • que se aproveita da deficiência de julgamento e experiência da criança; • que desrespeita valores ambientais • que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. O CDC proíbe tanto a publicidade enganosa como a abusiva (art. 37, caput, do CDC). Mas, em provas de concurso, é comum a tentativa de confundir os dois conceitos: (Promotor MP/SC 2019) A Lei Federal n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) proíbe a publicidade enganosa, definida, exemplificativamente, como a publicidade que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. (ERRADO. Isso é publicidade abusiva) Vale ressaltar que, em alguns casos, uma publicidade pode ser enganosa e também abusiva. Veja esta questão de prova: (Juiz TJ/AL 2019 FCC) Para vender a roupa do herói Megaman, seu fabricante veicula anúncio na TV em que um ator sai voando pela janela e salva uma criança e seu cachorro em um imóvel pegando fogo. Essa publicidade, quando vista por crianças, (A) é apenas enganosa, pois não é possível que uma publicidade seja ao mesmo tempo abusiva e enganosa pelas normas do CDC. (B) é somente abusiva, pelo induzimento ao comportamento perigoso, pois toda criança saberá discernir o conteúdo falso do ator voando pela janela. (C) será só abusiva, pois esta engloba a publicidade enganosa no conceito mais amplo da periculosidade da conduta e do aproveitamento da falta de experiência dos infantes. (D) é simultaneamente abusiva e enganosa; abusiva por eventualmente induzir a comportamento perigoso, por deficiência de julgamento e de experiência, e enganosa pelo conteúdo não verdadeiro de pessoa voando no salvamento publicitário. (E) é lícita, pois além do aspecto lúdico não pode haver jamais restrições à liberdade de expressão, o que inclui a veiculação publicitária lastreada na fantasia. Gabarito: letra D No caso concreto acima analisado, a campanha violou o art. 37, § 2º do CDC, que preconiza: Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 (...) § 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. Não há dúvidas de que a decisão de comprar, ou não, o alimento é dos pais. No entanto, a propaganda acaba incentivando, indiretamente, que as crianças peçam os produtos dos pais. Vale ressaltar que vivemos uma época de altos e preocupantes índices de obesidade infantil, um grave problema nacional de saúde pública. Diante disso, consoante o art. 37, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor, estão vedadas campanhas publicitárias que utilizem ou manipulem o universo lúdico infantil. Se criança, no mercado de consumo, não exerce atos jurídicos em seu nome e por vontade própria, por lhe faltar poder de consentimento, tampouco deve ser destinatária de publicidade que, fazendo tábula rasa da realidade notória, a incita a agir como se plenamente capaz fosse. PRÁTICAS ABUSIVAS Esclarecimentos posteriores ou complementares desconectados do conteúdo principal da oferta (informação disjuntiva, material ou temporalmente) não servem para exonerar ou mitigar a enganosidade ou abusividade Viola os princípios da vulnerabilidade, da boa-fé objetiva, da transparência e da confiança prestar informação por etapas e, assim, compelir o consumidor à tarefa impossível de juntar pedaços informativos esparramados em mídias, documentos e momentos diferentes. Cada ato de informação é analisado e julgado em relação a si mesmo, pois absurdo esperar que, para cada produto ou serviço oferecido, o consumidor se comporte como Sherlock Holmes improvisado e despreparado à busca daquilo que, por dever ope legis inafastável, incumbe somente ao fornecedor. Seria transformar o destinatário-protegido, à sua revelia, em protagonista do discurso mercadológico do fornecedor, atribuindo e transferindo ao consumidor missão de vasculhar o universo dos meios de comunicação para ter uma informação completa. STJ. 2ª Turma. REsp 1.802.787-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/10/2019 (Info 679). O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte: O Habib´s divulgou publicidade na internet na qual anunciava a seguinte promoção: o preço normal da coxinha é R$ 1,50. No entanto, se você comprar 30 unidades, o preço individual passa a ser R$ 0,49. Até aí, tudo bem. O problema foi que essa promoção não era válida para todas as lojas do grupo e não houve um aviso objetivo e claro informando isso. Em razão dessa omissão, o Procon/SP autuou a empresa por publicidade enganosa. Agiu corretamente o Procon? Houve publicidade enganosa? SIM. A publicidade enganosa pode ser de duas espécies: a) comissiva; ou b) omissiva. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 Publicidade enganosa por COMISSÃO: Ocorre quando o fornecedor faz uma afirmação não verdadeira, parcial ou total, sobre o produto ou serviço, capaz de induzir o consumidor em erro (art. 37, § 1º, do CDC): Art. 37 (...) § 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. Publicidade enganosa por OMISSÃO: Ocorre quando a publicidade deixa de informar dado essencial do produto ou serviço, também induzindo o consumidor em erro por deixar de esclarecer elementos fundamentais (art. 37, § 3º, do CDC): Art. 37 (...) § 3º Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. No caso, houve publicidade enganosa por omissão. O anúncio referente ao produto oferecido (coxinha) não foi acompanhado por um aviso objetivo e claro das unidades participantes. Essa lacuna fez com que os consumidores considerassem que todas as unidades estariam participando, induzindo-os em flagrante equívoco. O fornecedor tem a obrigação legal de assegurar ao consumidor informações ostensivas, claras e precisas na oferta, publicitária ou não, nos termos do art. 31 do CDC: Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. Esse dever de informação se mostra ainda mais forte em se tratando de publicidade que possa atingir pessoas de baixa renda, exigindo do fornecedor comportamento eficaz, pró-ativo e leal. O dever de informação exige comportamento positivo e ativo do fornecedor. Isso porque o CDC rechaça a chamada regra caveat emptor* e também não aceita que o silêncio equivalha à informação. Ao contrário. O silêncio é considerado como “patologia repreensível”, sendo interpretado em desfavor do fornecedor,inclusive como oferta e publicidade enganosa por omissão, punida civil, administrativa e criminalmente pelo CDC. * Caveat emptor Caveat emptor é uma locação em latim que, se traduzida literalmente, seria algo como “comprador, tome seus cuidados”. A regra do caveat emptor significa que o cliente (o comprador ou tomador de serviços) é quem deve tomar os cuidados de se informar no momento da contratação para se resguardar de eventuais danos. Assim, o cliente que teria o ônus de perguntar tudo do fornecedor e, se ele não perguntasse, teria que arcar com as consequências disso. O CDC não aceita essa regra do caveat emptor. O CDC afirma que o consumidor tem o direito de ser informado: Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; Isso significa que o fornecedor tem o dever de informação, ou seja, o CDC exige um comportamento positivo e ativo do fornecedor de explicar o produto ou serviço ao consumidor, mesmo que não tenha sido provocado. Se a empresa posteriormente complementar a informação isso serve para exonerar ou mitigar a enganosidade? NÃO. Esclarecimentos posteriores ou complementares desconectados do conteúdo principal da oferta (informação disjuntiva, material ou temporalmente) não servem para exonerar ou mitigar a enganosidade ou abusividade. STJ. 2ª Turma. REsp 1.802.787-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/10/2019 (Info 679). Viola os princípios da vulnerabilidade, da boa-fé objetiva, da transparência e da confiança prestar informação por etapas e, assim, compelir o consumidor à tarefa impossível de juntar pedaços informativos esparramados em mídias, documentos e momentos diferentes. Cada ato de informação é analisado e julgado em relação a si mesmo, pois absurdo esperar que, para cada produto ou serviço oferecido, o consumidor se comporte como Sherlock Holmes improvisado e despreparado à busca daquilo que, por dever ope legis inafastável, incumbe somente ao fornecedor. Seria transformar o destinatário-protegido, à sua revelia, em protagonista do discurso mercadológico do fornecedor, atribuindo e transferindo ao consumidor missão de vasculhar o universo dos meios de comunicação para ter uma informação completa. PLANO DE SAÚDE Em caso de morte do beneficiário, o cancelamento de plano de saúde só ocorre com a comunicação à operadora A eficácia do contrato de plano de saúde se protrai no tempo até que a operadora seja comunicada do falecimento da beneficiária, descabendo cobranças efetuadas em relação ao período posterior à comunicação e sendo viável que a notificação ocorra nos autos de processo cujo objeto seja o referido contrato. A morte é fato jurídico superveniente que implica o rompimento do vínculo entre o beneficiário e a operadora do plano de saúde. Esse efeito, contudo, só produzirá efeitos para a operadora depois que ela tomar conhecimento de sua ocorrência. Isso significa que a eficácia do contrato se protrai no tempo até que a operadora seja comunicada do falecimento do beneficiário. A Resolução ANS nº 412/2016, que versa sobre a solicitação de cancelamento do contrato do plano de saúde individual ou familiar pelo beneficiário titular, estabelece o efeito imediato do requerimento, a partir da ciência da operadora ou administradora de benefícios, e dispõe, por conseguinte, que só serão devidas, a partir de então, as contraprestações pecuniárias vencidas e/ou eventuais coparticipações devidas, nos planos em pré-pagamento ou em pós-pagamento, pela utilização de serviços realizados antes da solicitação (art. 15, II e III). Embora o ato normativo indique as formas apropriadas ao pedido de cancelamento - presencial, por telefone ou pela internet, certo é que a notificação nos autos do processo cujo objeto é o próprio contrato de plano de saúde atinge a mesma finalidade, de tal modo que, Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 constatada a ciência inequívoca da operadora sobre o falecimento da beneficiária, cessa, imediatamente, a obrigação assumida pelas partes. Assim, reputam-se indevidas todas as cobranças efetuadas em relação ao período posterior à notificação da operadora do falecimento do beneficiário ao plano de saúde. STJ. 3ª Turma. REsp 1.879.005-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/08/2020 (Info 679). Imagine a seguinte situação hipotética: João e Regina, casados. João era usuário, na qualidade de titular, de plano de saúde empresarial. Regina, como esposa, era dependente no plano e também gozava da cobertura. Determinado dia, eles foram indevidamente desligados do plano. Diante disso, João e Regina ajuizaram ação de obrigação de fazer contra o plano pedindo para continuassem gozando da assistência à saúde, pagando as respectivas prestações mensais. Em fevereiro de 2015, o juiz concedeu tutela provisória de urgência determinando que: - João e Regina permanecessem pagando a mensalidade (que era R$ 1.000,00 para cada um); - o plano de saúde continuasse oferecendo a cobertura ao casal. Em agosto de 2015, antes que o processo fosse julgado, Regina morreu. Como a esposa faleceu, João passou a pagar apenas R$ 1.000,00 referente à sua cota no plano, deixando de pagar os R$ 1.000,00 relacionados com Regina. Em janeiro de 2016, João recebeu uma carta informando que o plano de saúde havia inserido seu nome no SERASA em razão de uma dívida de R$ 4.000,00 relacionada com 4 meses de plano de saúde atrasados (setembro/2015 a dezembro/2015). Esses meses atrasados são referentes às mensalidades que seriam devidas por Regina. No dia seguinte, João peticionou nos autos afirmando que essa cobrança de R$ 4.000,00 seria indevida tendo em vista que Regina havia morrido. Logo, desde a sua morte (em setembro/2015), não seria mais possível cobrar a mensalidade. O plano de saúde foi intimado sobre a petição de João. Neste caso hipotético, a partir de quando se pode considerar que o plano de saúde estava cancelado em relação à Regina, com a consequente cessão do pagamento das parcelas? A partir da data da comunicação do plano de saúde. Em caso de morte do beneficiário, o cancelamento de plano de saúde só ocorre com a comunicação à operadora. STJ. 3ª Turma. REsp 1.879.005-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/08/2020 (Info 679). A eficácia do contrato de plano de saúde se protrai no tempo até que a operadora seja comunicada do falecimento da beneficiária, descabendo cobranças efetuadas em relação ao período posterior à comunicação e sendo viável que a notificação ocorra nos autos de processo cujo objeto seja o referido contrato. A morte é fato jurídico superveniente que implica o rompimento do vínculo entre o beneficiário e a operadora do plano de saúde. Esse efeito, contudo, só produzirá efeitos para a operadora depois que ela tomar conhecimento de sua ocorrência. Isso significa que a eficácia do contrato se protrai no tempo até que a operadora seja comunicada do falecimento do beneficiário. A Resolução ANS nº 412/2016, que versa sobre a solicitação de cancelamento do contrato do plano de saúde individual ou familiar pelo beneficiário titular, estabelece o efeito imediato do requerimento, a partir da ciência da operadora ou administradora de benefícios, e dispõe, por conseguinte, que só serão devidas, a partir de então, as contraprestações pecuniárias vencidas e/ou eventuaiscoparticipações Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 devidas, nos planos em pré-pagamento ou em pós-pagamento, pela utilização de serviços realizados antes da solicitação (art. 15, II e III). Embora o ato normativo indique as formas apropriadas ao pedido de cancelamento - presencial, por telefone ou pela internet, certo é que a notificação nos autos do processo cujo objeto é o próprio contrato de plano de saúde atinge a mesma finalidade, de tal modo que, constatada a ciência inequívoca da operadora sobre o falecimento da beneficiária, cessa, imediatamente, a obrigação assumida pelas partes. Assim, reputam-se indevidas todas as cobranças efetuadas em relação ao período posterior à notificação da operadora do falecimento do beneficiário ao plano de saúde. DIREITO EMPRESARIAL PROPRIEDADE INDUSTRIAL É ilegal a Resolução nº 113/2013 do INPI que afasta a aplicação do direito de restauração de patente, previsto no art. 87 da Lei nº 9.279/96, para as hipóteses de inadimplemento superior uma retribuição anual Atenção! Juiz Federal! Com o objetivo de fornecer recursos financeiros para o INPI, a Lei exigiu que o depositante do pedido de patente ou a pessoa que já seja titular da patente deverão pagar, anualmente, a partir do 3º ano, um valor chamado “retribuição anual” (art. 84 da LPI). A falta do pagamento da retribuição acarreta a extinção da patente (art. 86). O art. 87 da LPI prevê, como forma de preservar o direito do titular da patente, o instituto da restauração. Assim, esse artigo estabelece que, notificado do arquivamento do pedido ou da extinção da patente em razão do não pagamento da retribuição anual, o depositante ou o titular poderá, no prazo de três meses contados dessa notificação, restaurar o pedido ou a patente, por meio do pagamento de retribuição específica. O art. 13 da Resolução nº 113/2013, do INPI, afasta a aplicação do art. 87 da Lei nº 9.279/96 nas hipóteses de inadimplemento em mais de uma retribuição anual. A partir da análise sistemática da LPI, verifica-se que o INPI extrapolou seu poder disciplinar. O referido ato infralegal vai além da disciplina estabelecida no art. 87 da LPI, restringindo o cabimento da restauração para hipóteses não definidas pela lei. Enquanto o art. 87 da LPI permite ao titular ou ao depositante de patente requerer a restauração, dentro do período de 3 (três) meses a partir da notificação, a resolução do INPI limita a aplicação do instituto a um requisito não previsto na LPI - o inadimplemento não superior a uma retribuição anual. Assim, é evidente que, ao afastar o direito de restauração de patente em hipóteses não previstas na lei, o INPI restringiu ilegalmente o direito de restauração. STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.439-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 01/09/2020 (Info 679). INPI O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, sendo responsável, no Brasil, pela concessão e garantia dos direitos de propriedade intelectual para a indústria. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 Patente Patente é um título de propriedade temporária concedido pelo INPI para a pessoa que inventou um novo produto, um novo processo ou para quem fez aperfeiçoamentos destinados à aplicação industrial. Em outras palavras, a patente é concedida ao autor de uma invenção ou de um modelo de utilidade. Veja o que diz a Lei nº 9.279/96: Art. 6º Ao autor de invenção ou modelo de utilidade será assegurado o direito de obter a patente que lhe garanta a propriedade, nas condições estabelecidas nesta Lei. Pedido junto ao INPI Em regra, a patente deverá ser requerida junto ao INPI pelo próprio autor, em nome próprio. Poderá também ser requerida pelos herdeiros ou sucessores do autor, pelo cessionário ou por aquele a quem a lei ou o contrato de trabalho ou de prestação de serviços determinar que pertença a titularidade (art. 6º, § 2º, da Lei nº 9.279/96). Retribuição anual Com o objetivo de fornecer recursos financeiros para o INPI, a Lei exigiu que o depositante do pedido de patente ou a pessoa que já seja titular da patente deverão pagar, anualmente, a partir do 3º ano, um valor chamado “retribuição anual”: Art. 84. O depositante do pedido e o titular da patente estão sujeitos ao pagamento de retribuição anual, a partir do início do terceiro ano da data do depósito. § 1º O pagamento antecipado da retribuição anual será regulado pelo INPI. (...) Assim, o pagamento da retribuição anual configura requisito imprescindível para que o titular de uma patente goze do monopólio, garantido pelo Estado, de exploração comercial do objeto patenteado durante o seu prazo de vigência. A retribuição anual é devida a partir do início do terceiro ano do depósito e deve ser paga nos três primeiros meses de cada período anual. Caso não ocorra tempestivamente, a retribuição pode ser realizada nos seis meses subsequentes, desde que acrescida de retribuição adicional, nos termos do art. 84 da Lei nº 9.279/96. O que acontece se a pessoa não pagar essa retribuição anual? A falta do pagamento da retribuição acarreta: • o arquivamento do pedido de patente (se o processo de concessão ainda estiver em tramitação); ou • a extinção da patente (caso ela já tenha sido concedida). É o que prevê o art. 86 da LPI: Art. 86. A falta de pagamento da retribuição anual, nos termos dos arts. 84 e 85, acarretará o arquivamento do pedido ou a extinção da patente. Instituto da restauração O art. 87 da LPI prevê, como forma de preservar o direito do titular da patente, o instituto da restauração. Assim, esse artigo estabelece que, notificado do arquivamento do pedido ou da extinção da patente em razão do não pagamento da retribuição anual, o depositante ou o titular poderá, no prazo de três meses contados dessa notificação, restaurar o pedido ou a patente, por meio do pagamento de retribuição específica: Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 Art. 87. O pedido de patente e a patente poderão ser restaurados, se o depositante ou o titular assim o requerer, dentro de 3 (três) meses, contados da notificação do arquivamento do pedido ou da extinção da patente, mediante pagamento de retribuição específica. Dessa forma, na hipótese de inadimplemento da retribuição anual, a notificação do arquivamento do pedido ou da extinção da patente é obrigatória, nos termos do art. 87. Não existe, portanto, a caducidade automática pela falta de pagamento de anuidade. Resolução 113/2013, do INPI O art. 13 da Resolução nº 113/2013, do INPI, afasta a aplicação do art. 87 da Lei nº 9.279/96 nas hipóteses de inadimplemento em mais de uma retribuição anual. Veja a sua redação: Art. 13. Os pedidos de patente ou as patentes que estiverem inadimplentes em mais de uma retribuição anual serão arquivados ou extintos definitivamente, não se aplicando a esses casos a hipótese de restauração prevista no artigo 87 da LPI. Essa previsão é válida? NÃO. A partir da análise sistemática da LPI, verifica-se que nesse art. 13 da Resolução nº 113/2013, o INPI extrapolou seu poder disciplinar. O referido ato infralegal vai além da disciplina estabelecida no art. 87 da LPI, restringindo o cabimento da restauração em uma hipótese não prevista na lei. Enquanto o art. 87 da LPI permite aotitular ou ao depositante de patente requerer a restauração, dentro do período de 3 (três) meses a partir da notificação, a resolução do INPI limita a aplicação do instituto a um requisito não previsto na LPI: o inadimplemento não superior a uma retribuição anual. Assim, é evidente que, ao afastar o direito de restauração de patente em hipóteses não previstas na lei, o INPI restringiu ilegalmente o direito de restauração. Em suma: É ilegal a Resolução nº 113/2013 do INPI que afasta a aplicação do direito de restauração de patente, previsto no art. 87 da Lei nº 9.279/96, para as hipóteses de inadimplemento superior uma retribuição anual. STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.439-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 01/09/2020 (Info 679). RECUPERAÇÃO JUDICIAL O crédito decorrente das astreintes aplicadas no bojo de processo trabalhista deve ser habilitado na recuperação judicial na classe dos quirografários, e não na dos créditos trabalhistas Importante!!! As astreintes, fixadas no âmbito de uma reclamação trabalhista (concebidas como sanção pecuniária de natureza processual), não possuem origem, nem sequer indireta, no desempenho da atividade laboral do trabalhador. A interpretação demasiadamente alargada à noção de “crédito trabalhista”, a pretexto de beneficiar determinado trabalhador, promove, em última análise, indesejado desequilíbrio no processo concursal de credores, sobretudo na classe dos trabalhistas, em manifesta violação ao princípio da par conditio creditorum. STJ. 3ª Turma. REsp 1.804.563-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/08/2020 (Info 679). Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 Imagine a seguinte situação hipotética: João, ex-empregado da Cerâmica Chiarelli S.A., ajuizou reclamação trabalhista contra a empresa. Durante o curso do processo, o juiz do trabalho ordenou que a empresa cumprisse determinada ordem judicial, sob pena de multa diária (astreintes) de R$ 5 mil. Como a empresa atrasou 4 dias para cumprir a ordem, ela foi multada em R$ 20 mil. Ao final, na sentença, o juiz condenou a empresa a pagar: • R$ 100 mil, a título de verbas trabalhistas; e • confirmou o pagamento de R$ 20 mil como astreintes. Assim, o título executivo (sentença trabalhista) corresponde a um total de R$ 120 mil. A sentença transitou em julgado. Ocorre que, logo depois, foi decretada a recuperação judicial da Cerâmica Chiarelli S.A. Diante disso, João habilitou seu crédito para ser recebido no processo de recuperação judicial. Vale ressaltar que João pediu para os R$ 120 mil serem habilitados como crédito de natureza trabalhista. A relevância disso está no fato de que os créditos trabalhistas possuem preferência em relação às outras classes de crédito. O pedido de João deve ser integralmente acolhido? Os R$ 120 mil deverão ser habilitados como crédito trabalhista? NÃO. Os R$ 100 mil devem ser habilitados como crédito trabalhista e os R$ 20 mil relativos às astreintes enquadram-se como créditos quirografários. Por quê? As astreintes possuem o propósito específico de coagir a parte a cumprir determinada obrigação imposta pelo juízo, incutindo, em seu psicológico, o temor de sofrer sanção pecuniária decorrente de eventual inadimplemento. Desse modo, as astreintes possuem um caráter coercitivo e intimidatório. Trata-se, portanto, de técnica executiva, de viés puramente instrumental, destinada a instar a parte a cumprir, voluntariamente (ainda que sem espontaneidade), a obrigação judicial. O objetivo, portanto, é fazer com que se cumpra a ordem judicial. Vale ressaltar, no entanto, que se essa técnica executiva se mostrar inócua, ou seja, se mesmo assim o devedor não cumprir a obrigação judicial, a multa será aplicada como uma sanção. Assim, a multa efetivamente aplicada é uma penalidade processual imposta à parte. Não haverá nenhuma finalidade ressarcitória pelos prejuízos eventualmente percebidos pela parte adversa em razão do descumprimento da determinação judicial ou correlação com a prestação, em si, não realizada. Resumindo: - as astreintes, em princípio, têm uma finalidade coercitiva (intimidatória); - se a ordem for descumprida e a multa aplicada, a finalidade passa a ser a de impor uma sanção pelo descumprimento (caráter sancionatório); - as astreintes não têm finalidades ressarcitória e não tem relação direta com o direito material que está sendo discutido em juízo. Desse modo, fato de a multa processual ter sido imposta em uma reclamação trabalhista não faz com que esta multa passe a ter a mesma natureza jurídica do direito material ali discutido. Em outras palavras, as astreintes não terão caráter trabalhista porque não possuem origem remuneratória ou indenizatória. Primeiro, porque a obrigação judicial inadimplida, ensejadora da imposição de sanção pecuniária, não se confunde, necessariamente, com o direito ao final reconhecido na reclamação trabalhista. Segundo e principalmente, porque a sanção pecuniária imposta em razão do descumprimento da obrigação judicial, de natureza processual, não possui nenhum conteúdo alimentar, que é, justamente, o critério justificador do privilégio legal dado às retribuições trabalhistas de origens remuneratória e indenizatória. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 Se for feita uma interpretação muito alargada do que seja “crédito trabalhista” isso pode até servir para beneficiar um trabalhador em específico, mas, por outro lado, irá gerar indesejado desequilíbrio no processo concursal de credores, sobretudo na classe dos trabalhistas, em manifesta violação ao princípio da par conditio creditorum (princípio da igualdade entre os credores). Em suma: O crédito decorrente das astreintes aplicadas no bojo de processo trabalhista deve ser habilitado na recuperação judicial na classe dos quirografários, e não na dos créditos trabalhistas. STJ. 3ª Turma. REsp 1.804.563-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/08/2020 (Info 679). RECUPERAÇÃO JUDICIAL Pode-se arguir como matéria de defesa, em impugnação de crédito incidente à recuperação judicial, a existência de abusividade em cláusulas dos contratos de que se originou o crédito impugnado Em uma impugnação de crédito incidente à recuperação judicial é possível que a empresa recuperanda alegue e que o juiz reconheça a existência de abusividade na cláusula do contrato de que se originou o crédito impugnado? Sim. O incidente de impugnação de crédito configura procedimento de cognição exauriente, possibilitando o pleno contraditório e a ampla instrução probatória, em rito semelhante ao ordinário (arts. 13 e 15 da Lei nº 11.101/2005). Não há, na Lei nº 11.101/2005, qualquer restrição à defesa que pode ser apresentada na impugnação de crédito, não se tratando de procedimento simplificado ou mais célere, mas de procedimento semelhante ao ordinário. Diante disso, devem ser examinadas todas as alegações trazidas pela recuperanda, o que inclui a eventual existência de abusividades nas cláusulas contratuais relativas aos encargos moratórios que o impugnante busca acrescer aos seus créditos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.799.932-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 01/09/2020 (Info 679). Imagine a seguinte situação hipotética: A sociedade empresária “ABC” está sofrendo processo de recuperação judicial. O Banco habilitou um crédito para receber no processo de recuperação judicial. A empresa recuperanda questionou o crédito do Banco, apresentando ao juiz uma impugnação do crédito, nos termos do art. 8º e do art. 13 da Lei nº 11.101/2005:Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7º, § 2º, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado. Parágrafo único. Autuada em separado, a impugnação será processada nos termos dos arts. 13 a 15 desta Lei. Art. 13. A impugnação será dirigida ao juiz por meio de petição, instruída com os documentos que tiver o impugnante, o qual indicará as provas consideradas necessárias. Parágrafo único. Cada impugnação será autuada em separado, com os documentos a ela relativos, mas terão uma só autuação as diversas impugnações versando sobre o mesmo crédito. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 Na impugnação, a empresa “ABC” afirma que os R$ 300 mil cobrados pelo Banco são decorrente de um contrato assinado entre elas. Ocorre que esse contrato seria nulo por conter uma cláusula abusiva quanto aos juros cobrados. O Banco refutou o argumento afirmando que essa matéria (abusividade de cláusula contratual) não poderia ser discutida em impugnação de crédito. Quem tem razão: a empresa “ABC” ou a “RZZ”? Em uma impugnação de crédito incidente à recuperação judicial é possível que a empresa recuperanda alegue e que o juiz reconheça a existência de abusividade na cláusula do contrato de que se originou o crédito impugnado? SIM. Pode-se arguir como matéria de defesa, em impugnação de crédito incidente à recuperação judicial, a existência de abusividade em cláusulas dos contratos de que se originou o crédito impugnado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.799.932-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 01/09/2020 (Info 679). O incidente de impugnação de crédito configura procedimento de cognição exauriente, possibilitando o pleno contraditório e a ampla instrução probatória, em rito semelhante ao ordinário (arts. 13 e 15 da Lei nº 11.101/2005). Não há, na Lei nº 11.101/2005, qualquer restrição à defesa que pode ser apresentada na impugnação de crédito, não se tratando de procedimento simplificado ou mais célere, mas de procedimento semelhante ao ordinário. Diante disso, devem ser examinadas todas as alegações trazidas pela recuperanda, o que inclui a eventual existência de abusividades nas cláusulas contratuais relativas aos encargos moratórios que o impugnante busca acrescer aos seus créditos. ECA PROTEÇÃO CÍVEL É obrigatória a intervenção da FUNAI em ação de destituição de poder familiar que envolva criança cujos pais possuem origem indígena A intervenção da FUNAI nos litígios relacionados à destituição do poder familiar e à adoção de menores indígenas ou menores cujos pais são indígenas é obrigatória e apresenta caráter de ordem pública. O objetivo dessa intervenção é fazer com que sejam consideradas e respeitadas a identidade social e cultural do povo indígena, os seus costumes e tradições, suas instituições, bem como que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia. As regras do art. 28, §6º, I e II, do ECA, visam conferir às crianças de origem indígena um tratamento verdadeiramente diferenciado, pois, além de crianças, pertencem elas a uma etnia minoritária, historicamente discriminada e marginalizada no Brasil, bem como pretendem, reconhecendo a existência de uma série de vulnerabilidades dessa etnia, adequadamente tutelar a comunidade e a cultura indígena, de modo a minimizar a sua assimilação ou absorção pela cultura dominante. Nesse contexto, a obrigatoriedade e a relevância da intervenção obrigatória da FUNAI decorre do fato de se tratar do órgão especializado, interdisciplinar e com conhecimentos aprofundados sobre as diferentes culturas indígenas, o que possibilita uma melhor verificação das condições e idiossincrasias da família biológica, com vistas a propiciar o adequado Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 acolhimento do menor e, consequentemente, a proteção de seus melhores interesses, não se tratando, pois, de formalismo processual exacerbado apenar de nulidade a sua ausência. STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.635-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679). Imagine a seguinte situação hipotética: O Ministério Público estadual ajuizou, na Justiça Estadual, ação de destituição de poder familiar contra Jaciara. O Promotor de Justiça alegou que Jaciara abandonou a filha de 2 anos, razão pela qual deve ser destituída do poder familiar e a criança encaminhada à adoção. A Defensoria Pública estadual, que fez a defesa de Jaciara, argumentou que seria obrigatória a intervenção da Fundação Nacional do Índio - FUNAI e a realização de estudo antropológico considerando que a genitora requerida é indígena. Assiste razão à Defensoria Pública? SIM. É obrigatória a intervenção da FUNAI em ação de destituição de poder familiar que envolva criança cujos pais possuem origem indígena. STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.635-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679). Essa exigência encontra-se expressamente prevista no art. 28, § 6º, III, e no art. 157, § 2º do ECA: Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. (...) § 6º Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é ainda obrigatório: I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Constituição Federal; II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia; III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, no caso de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso. Art. 157 (...) § 2º Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe interprofissional ou multidisciplinar referida no § 1º deste artigo, de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, observado o disposto no § 6º do art. 28 desta Lei. (Promotor MP/GO 2016 banca própria) Em se tratando de colocação em família substituta de criança ou adolescente indígena é, entre outros, obrigatório a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista e de antropólogos, perante equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso. (certo) A regra segundo a qual é obrigatória a intervenção da FUNAI nos litígios que envolvam destituição de poder familiar e adoção de menores indígenas ou oriundos de pais indígenas tem caráter de ordem pública, na medida em que resguardam valores e objetivos político-sociais muitíssimo caros à sociedade e, portanto, são imperativas e inderrogáveis. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 O art. 28, §6º, do ECA, embora trate especificamente das crianças indígenas, aplica-se inteiramenteàs crianças cujos pais são de origem indígena, devendo a referida regra ser igualmente respeitada nas ações de destituição de poder familiar e adoção que as envolvam. Por se tratar de órgão especializado, é a FUNAI que reúne as melhores condições de avaliar a situação do menor de origem indígena, não apenas à luz dos padrões de adequação da sociedade em geral, mas, sobretudo, a partir das especificidades de sua própria cultura, o que influencia, inclusive, na escolha de uma família substituta de tribo que possua maiores afinidades com aquela da qual se origina o menor. A obrigatoriedade e a relevância da intervenção obrigatória da FUNAI decorre do fato de se tratar do órgão especializado, interdisciplinar e com conhecimentos aprofundados sobre as diferentes culturas indígenas, o que possibilita uma melhor verificação das condições e idiossincrasias da família biológica, com vistas a propiciar o adequado acolhimento do menor e, consequentemente, a proteção de seus melhores interesses. Não se trata, portanto, de excesso de formalismo processual. No mesmo sentido: (...) 2. A intervenção da FUNAI nesses tipos de processos é de extrema relevância, porquanto os povos indígenas possuem identidade social e cultural, costumes e tradições diferenciados, tendo, inclusive, um conceito de família mais amplo do que o conhecido pela sociedade comum, de maneira que o ideal é a manutenção do menor indígena em sua própria comunidade ou junto a membros da mesma etnia. A atuação do órgão indigenista visa justamente a garantir a proteção da criança e do jovem índio e de seu direito à cultura e à manutenção da convivência familiar, comunitária e étnica, tendo em vista que a colocação do menor indígena em família substituta não indígena deve ser considerada a última medida a ser adotada pelo Estado. 3. A adoção de crianças indígenas por membros de sua própria comunidade ou etnia é prioritária e recomendável, visando à proteção de sua identidade social e cultural. Contudo, não se pode excluir a adoção fora desse contexto, pois o direito fundamental de pertencer a uma família sobrepõe-se ao de preservar a cultura, de maneira que, se a criança não conseguir colocação em família indígena, é inconcebível mantê-la em uma unidade de abrigo até sua maioridade, sobretudo existindo pessoas não indígenas interessadas em sua adoção. 4. A ausência de intervenção obrigatória da FUNAI no processo de colocação de menor indígena em família substituta é causa de nulidade. A decretação de tal nulidade, contudo, deve ser avaliada em cada caso concreto, pois se, a despeito da não participação da FUNAI no processo, a adoção, a guarda ou tutela do menor indígena envolver tentativas anteriores de colocação em sua comunidade ou não for comprovado nenhum prejuízo ao menor, mas, ao contrário, forem atendidos seus interesses, não será recomendável decretar-se a nulidade do processo. (...) STJ. 3ª Turma. REsp 1566808/MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/09/2017. Competência da Justiça Federal Vale ressaltar que, havendo intervenção da FUNAI, o feito deverá ser apreciado pela Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da CF/88: Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; Nesse sentido: STJ. Decisão monocrática. CC 133798/SC, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/02/2015. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 GUARDA Sentença que afastou criança do lar não impede pedido judicial de guarda pela mesma família Situação hipotética: um casal exerceu irregularmente a guarda de uma criança nos anos de 2014 e 2016. O juiz, atendendo a pedido do Ministério Público, determinou que essa criança fosse levada a acolhimento institucional em razão de burla ao cadastro de adoção. Houve trânsito em julgado dessa decisão que determinou o afastamento da criança do convívio com essa família. Ocorre que se passaram quatro anos e a criança permanece no “abrigo”, sem que tenha sido adotada. Diante disso, em 2020, o casal formulou novo pedido de guarda alegando que existem vínculos socioafetivos entre a criança e a família. O STJ afirmou que é possível o deferimento do pedido. As ações que envolvam a guarda da criança, por suas características peculiares, são modificáveis com o tempo, bastando que exista a alteração das circunstâncias fáticas que justificaram a sua concessão, ou não, no passado. Assim, transitada em julgado a sentença de procedência do pedido de afastamento do convívio familiar de que resultou o acolhimento institucional da menor, quem exercia irregularmente a guarda e pretende adotá-la possui interesse jurídico para, após considerável lapso temporal, ajuizar ação de guarda cuja causa de pedir seja a modificação das circunstâncias fáticas que ensejaram o acolhimento, não lhe sendo oponível a coisa julgada que se formou na ação de afastamento. Em suma: o trânsito em julgado de sentença de procedência do pedido de afastamento do convívio familiar não é oponível a quem exercia a guarda irregularmente e, após considerável lapso temporal, pretende ajuizar ação de guarda cuja causa de pedir seja a modificação das circunstâncias fáticas. STJ. 3ª Turma. REsp 1.878.043-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679). Imagine a seguinte situação hipotética: Isabela, quando tinha 2 anos de idade, foi entregue por sua mãe biológica e registral para ser criada por João e Regina. A mãe alegou que não tinha condições de sustentar a filha. Vale ressaltar que essa entrega foi feita de modo informal. O casal cuidou de Isabela de 2014 até 2016. Isso porque a situação foi descoberta pelo Conselho Tutelar, que informou o fato ao Ministério Público. O Promotor de Justiça ajuizou ação contra o casal argumentando que eles estavam exercendo irregularmente a guarda da criança. O MP pediu ao juiz que a menor fosse encaminhada ao acolhimento institucional (“abrigo”) em razão de a guarda exercida pelo casal representar “burla” ao cadastro de adoção. O juiz acolheu o pedido e a criança foi tirada do convívio do casal e encaminhada a um abrigo. A decisão transitou em julgado. Ocorre que se passaram 4 anos e a criança permanece no “abrigo”, sem que tenha sido adotada. Diante disso, em 2020, o casal formulou novo pedido de guarda alegando que existem vínculos socioafetivos entre a criança e a família. O Ministério Público manifestou-se contrariamente afirmando que, como houve o trânsito em julgado, não é possível o deferimento da guarda nessa nova ação. É possível o deferimento do pedido? O casal poderá obter a guarda da criança? SIM. Informativo comentado Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 As ações que envolvam a guarda da criança, por suas características peculiares, são modificáveis com o tempo, bastando que exista a alteração das circunstâncias fáticas que justificaram a sua concessão, ou não, no passado. Nesse sentido: “Por fim, sem qualquer alteração, determina o art. 35 da Lei 8.069/1990 que a guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamento, ouvido o Ministério Público, sempre tendo como parâmetro o princípio de proteção integral ou de melhor interesse da criança. Justamente por isso é que a jurisprudência tem apontado que a decisão quanto à guarda não faz coisa julgada material. (TARTUCE, Flávio. Direito Civil Vol. 5:
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