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Informativo 679 STJ

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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 679-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR 
▪ Mandado de injunção é via imprópria para pleitear a regulamentação do direito militar de ascensão funcional do 
quadro especial do Exército Brasileiro. 
 
DIREITO CIVIL 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
▪ O valor a ser restituído ao devedor fiduciante, quando há venda extrajudicial do bem no bojo de ação de busca e 
apreensão posteriormente julgada extinta sem resolução do mérito, deve ser o valor do veículo na Tabela FIPE à 
época da busca e apreensão. 
 
USUCAPIÃO 
▪ Após a citação, é possível a mera juntada da planta e do memorial descritivo, sem a anuência do demandado, desde 
que não implique em alteração do pedido formulado na petição inicial da ação de usucapião. 
 
DIVÓRCIO 
▪ Em dissolução de vínculo conjugal, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem edificado em loteamento 
irregular, quando ausente a má-fé dos possuidores. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
PRÁTICAS ABUSIVAS 
▪ É abusiva a publicidade de alimentos direcionada, de forma explícita ou implícita, a crianças. 
▪ Esclarecimentos posteriores ou complementares desconectados do conteúdo principal da oferta (informação 
disjuntiva, material ou temporalmente) não servem para exonerar ou mitigar a enganosidade ou abusividade. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
PROPRIEDADE INDUSTRIAL 
▪ É ilegal a Resolução nº 113/2013 do INPI que afasta a aplicação do direito de restauração de patente, previsto no 
art. 87 da Lei nº 9.279/96, para as hipóteses de inadimplemento superior uma retribuição anual. 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
▪ O crédito decorrente das astreintes aplicadas no bojo de processo trabalhista deve ser habilitado na recuperação 
judicial na classe dos quirografários, e não na dos créditos trabalhistas. 
 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
PROTEÇÃO CÍVEL 
▪ É obrigatória a intervenção da FUNAI em ação de destituição de poder familiar que envolva criança cujos pais 
possuem origem indígena. 
 
GUARDA 
▪ Sentença que afastou criança do lar não impede pedido judicial de guarda pela mesma família. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
 
DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR 
▪ Processo em que foi decretada a destituição do poder familiar não pode ser anulado por falta de citação de suposto 
pai com identidade ignorada. 
 
DIREITO AMBIENTAL 
CÓDIGO FLORESTAL 
▪ O cumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta deve ser regido pelo Código Florestal vigente à época da 
celebração do acordo. 
▪ Compensação ambiental feita no mesmo bioma, mas fora da mesma bacia hidrográfica. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
PRINCÍPIOS 
▪ O dever de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, previsto no art. 489, §1º, 
VI, do CPC/2015, abrange também o dever de seguir julgado proferido por Tribunal de 2º grau distinto daquele a 
que o julgador está vinculado? 
 
COMPETÊNCIA (OUTROS TEMAS) 
▪ Compete às Turmas que compõem a Segunda Seção do STJ (especializada em direito privado) apreciar recurso em 
que se discute ressarcimento pelo desconto de mensalidades de plano de saúde cobradas em fatura de energia 
elétrica. 
 
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA 
▪ A inversão do ônus probatório leva consigo o custeio da carga invertida, não como dever, mas como simples 
faculdade, sujeita as consequências processuais advindas da não produção da prova. 
 
RECURSOS (NOÇÕES GERAIS) 
▪ É devido o pagamento de honorários advocatícios recursais quando o acórdão recorrido for publicado na vigência 
do CPC/2015, mesmo que a sentença tenha sido proferida sob a égide do CPC/1973. 
 
PROCESSO COLETIVO / JUIZADOS ESPECIAIS 
▪ Não é possível ajuizar cumprimento de sentença no Juizado Especial da Fazenda Pública para executar 
individualmente título judicial oriundo de ação coletiva, ainda que o valor individual cobrado seja inferior a 60 SM. 
 
DIREITO PENAL 
HOMICÍDIO 
▪ A tenra idade da vítima é fundamento idôneo para a majoração da pena-base do crime de homicídio pela valoração 
negativa das consequências do crime. 
 
AGRAVANTES 
▪ Não se aplica a agravante do art. 61, II, “h”, do CP ao furto praticado aleatoriamente em residência sem a presença 
do morador idoso. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
PRISÃO 
▪ Depois da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), não é mais possível que o juiz, de ofício, converta a prisão em 
flagrante em prisão preventiva (é indispensável requerimento). 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR 
Mandado de injunção é via imprópria para pleitear a regulamentação do 
direito militar de ascensão funcional do quadro especial do Exército Brasileiro 
 
Determinado militar impetrou mandado de injunção contra o Comandante do Exército 
afirmando que ele estaria sendo omisso ao não regulamentar o direito de promoção do quadro 
especial do Exército Brasileiro. 
Não cabe mandado de injunção neste caso. 
Para o cabimento do mandado de injunção, é imprescindível a existência de direito previsto 
na Constituição que não esteja sendo exercido por ausência de norma regulamentadora. 
O mandado de injunção não é remédio destinado a fazer suprir lacuna ou ausência de 
regulamentação de direito previsto em norma infraconstitucional e, muito menos, de 
legislação que se refere a eventuais prerrogativas a serem estabelecidas discricionariamente 
pela União. 
Constata-se que não cabe ao Comandante do Exército, por ato infralegal, nem por iniciativa 
própria, inovar no ordenamento jurídico quanto à promoção de militares das Forças Armadas, 
sob pena de violação ao art. 61, § 1º, II, “f”, da Constituição Federal. A Carta Magna exige lei 
ordinária ou complementar, de iniciativa do Presidente da República, para tratar de 
promoções, entre outros direitos, aos militares das Forças Armadas. 
Além disso, o direito à promoção hierárquica no âmbito do Quadro Especial do Exército não 
está assegurado na Constituição Federal. 
STJ. Corte Especial. MI 324-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 19/02/2020 (Info 679). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, militar, impetrou mandado de injunção contra o Comandante do Exército afirmando que ele estaria 
sendo omisso ao não regulamentar o direito de promoção do quadro especial do Exército Brasileiro. 
O impetrante pediu para que fosse fixado prazo para que o Comandante do Exército editasse norma 
disciplinando o direito militar de promoção do Quadro Especial do Exército Brasileiro. E, por analogia, que, 
fosse aplicada a Lei nº 12.158/2009, permitindo ao impetrante sua ascensão funcional conforme 
assegurado aos Taifeiros do Comando da Aeronáutica, até que seja publicada lei específica. 
 
De quem é a competência para julgar esse mandado de injunção? 
Do STJ, nos termos do art. 105, I, “h”, da CF/88: 
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
I - processar e julgar, originariamente: 
(...) 
h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de 
órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos 
de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, 
da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal; 
 
O que é o mandado de injunção? 
Mandado de injunção é... 
- uma ação (instrumento processual) 
- de cunho constitucional (remédio constitucional) 
- que pode ser proposta por qualquer interessadoInformativo 
comentado 
 
 
Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
- com o objetivo de tornar viável o exercício de 
- direitos e liberdades constitucionais ou 
- de prerrogativas relacionadas com nacionalidade, soberania ou cidadania 
- e que não estão sendo possíveis de ser exercidos 
- em virtude da falta, total ou parcial, de norma regulamentando estes direitos. 
 
“O mandado de injunção (MI) é instrumento processual instituído especialmente para fiscalizar e corrigir, 
concretamente, as omissões do Poder Público em editar as normas necessárias para tornar efetivos 
direitos e liberdades constitucionais e prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania 
(art. 5º, LXXI, da Constituição).” (BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. 
Direito Constitucional. Tomo II - Direito Constitucional Positivo. 5ª ed., Salvador: Juspodivm, 2016, p. 230). 
 
Veja como este instrumento foi previsto na CF/88 e na Lei nº 13.300/2016: 
Art. 5º (...) 
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne 
inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à 
nacionalidade, à soberania e à cidadania; 
 
Art. 2º Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de norma 
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das 
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. 
Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as normas 
editadas pelo órgão legislador competente. 
 
Cabe mandado de injunção no caso acima detalhado? 
NÃO. Não cabe mandado de injunção neste caso. 
Para o cabimento do mandado de injunção, é imprescindível a existência de direito previsto na 
Constituição Federal que não esteja sendo exercido por ausência de norma regulamentadora. 
O mandado de injunção não é remédio destinado a fazer suprir lacuna ou ausência de regulamentação de 
direito previsto em norma infraconstitucional e, muito menos, de legislação que se refere a eventuais 
prerrogativas a serem estabelecidas discricionariamente pela União. 
Constata-se que não cabe ao Comandante do Exército, por ato infralegal, nem por iniciativa própria, inovar 
no ordenamento jurídico quanto à promoção de militares das Forças Armadas, sob pena de violação ao 
art. 61, § 1º, II, “f”, da Constituição Federal. A Carta Magna exige lei ordinária ou complementar, de 
iniciativa do Presidente da República, para tratar de promoções, entre outros direitos, aos militares das 
Forças Armadas. 
Além disso, o direito à promoção hierárquica no âmbito do Quadro Especial do Exército não está 
assegurado na Constituição Federal. 
 
Em suma: 
Mandado de injunção é via imprópria para pleitear a regulamentação do direito militar de ascensão 
funcional do quadro especial do Exército Brasileiro 
STJ. Corte Especial. MI 324-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 19/02/2020 (Info 679). 
 
 
 
 
 
 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
DIREITO CIVIL 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
O valor a ser restituído ao devedor fiduciante, quando há venda extrajudicial do bem no bojo de 
ação de busca e apreensão posteriormente julgada extinta sem resolução do mérito, deve ser o 
valor do veículo na Tabela FIPE à época da busca e apreensão 
 
Importante!!! 
Os arts. 2º e 3º do DL 911/69 preveem que, após a execução da liminar de busca e apreensão 
do bem, o devedor terá o prazo de 5 dias para pagar a integralidade da dívida pendente, 
oportunidade em que o bem lhe será restituído sem o respectivo ônus. No entanto, caso o 
devedor não efetue o pagamento no prazo legal, haverá a consolidação da propriedade e da 
posse plena e exclusiva do bem móvel objeto da alienação fiduciária no patrimônio do credor. 
Consolidado o bem no patrimônio do credor, estará ele investido em todos os poderes 
inerentes à propriedade, podendo vender o bem. Se, contudo, efetivar a venda e a sentença 
vier a julgar improcedente o pedido, o risco do negócio é seu, devendo ressarcir os prejuízos 
que o devedor fiduciante sofrer em razão da perda do bem. 
Privado indevidamente da posse de seu veículo automotor, a composição do prejuízo do 
devedor fiduciante deve traduzir-se no valor de mercado do veículo no momento de sua 
apreensão indevida (valor do veículo na Tabela FIPE à época da ocorrência da busca e 
apreensão). Isso porque é indiscutível que tal valor é o que melhor exprime o montante do 
desequilíbrio financeiro sofrido pelo devedor fiduciante. 
Saliente-se que a tabela FIPE é comumente utilizada para pesquisa do preço médio de veículos 
e serve como balizador de valores dos veículos automotores terrestres, considerando, 
inclusive, os diversos fatores de depreciação existentes. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.742.897-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João comprou um carro mediante alienação fiduciária em 60 parcelas. 
João ficará andando no veículo, mas a propriedade resolúvel é do Banco que lhe emprestou o dinheiro. 
Quando o adquirente terminar de pagar as prestações do mútuo, a propriedade do carro pelo banco 
“resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a João. 
 
Inadimplemento 
Ocorre que João passou a atrasar o pagamento das prestações 
Diante disso, o banco credor ingressou com ação de busca e apreensão requerendo que lhe fosse entregue 
o bem (art. 3º do DL 911/69). 
O juiz concedeu a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), conforme determina o art. 
3º do DL 911/69. 
 
Apreensão e venda 
O bem foi apreendido e entregue ao banco. 
Em seguida, o banco efetuou a venda do carro por R$ 30 mil. 
Vale ressaltar que, conforme ocorre na prática, o veículo foi vendido por preço abaixo da tabela FIPE. 
No caso concreto, esse veículo, no momento da apreensão, custava R$ 40 mil segundo a tabela FIPE. 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Abrindo um parêntese: Tabela FIPE 
FIPE é a sigla de “Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas”, uma organização de direito privado ligada 
ao Departamento de Economia da USP. Esta fundação elabora, mensalmente, uma tabela prevendo os 
preços médios dos veículos usados que são vendidos no mercado nacional. 
Ex: segundo a tabela FIPE, um Fiat Palio City 1.0 4p, ano 2000, custa em, em julho de 2016, R$ 10.435,00. 
Os valores estabelecidos na tabela variam em função da região, conservação, cor, acessórios ou qualquer 
outro fator que possa influenciar as condições de oferta e procura por um veículo específico. 
Vale ressaltar que o preço dos carros, em regra, vai diminuindo com o passar dos meses. Ex: em maio de 
2016, o valor do mesmo Fiat Palio City 1.0 4p, ano 2000, era de R$ 10.516,00 na tabela FIPE. Já em julho 
de 2016, caiu para R$ 10.435,00, como vimos acima. 
As seguradoras utilizam a Tabela FIPE para determinar o valor do automóvel segurado. 
 
Voltando ao caso concreto: 
O banco recorreu alegando que o magistrado não poderia ter deferido a busca e apreensão considerando 
que o banco não fez a notificação extrajudicial do devedor antes do ajuizamento da ação. Logo, não foi 
comprovada a mora do devedor, conforme exige o STJ: 
Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado 
fiduciariamente. 
 
Provimento do recurso e ressarcimento do devedor 
O Tribunal de Justiça deu provimento ao recurso do banco e extinguiu a ação de busca e apreensão sem 
resoluçãodo mérito sob o argumento de que a comprovação da mora representa pressuposto de 
desenvolvimento válido do processo. 
Como consequência, o TJ determinou que o banco devolvesse a João o valor do carro (já foi alienado 
extrajudicialmente). 
Até aí, tudo bem. O ponto nevrálgico foi o seguinte: 
 
O banco terá que restituir o valor obtido com a venda (R$ 30 mil) ou o valor do veículo segundo a tabela 
FIPE no momento da apreensão (R$ 40 mil)? 
O valor do veículo segundo a tabela FIPE. 
Os arts. 2º e 3º do DL 911/69 preveem que, após a execução da liminar de busca e apreensão do bem, o 
devedor terá o prazo de 5 dias para pagar a integralidade da dívida pendente, oportunidade em que o 
bem lhe será restituído sem o respectivo ônus. No entanto, caso o devedor não efetue o pagamento no 
prazo legal, haverá a consolidação da propriedade e da posse plena e exclusiva do bem móvel objeto da 
alienação fiduciária no patrimônio do credor. 
Consolidado o bem no patrimônio do credor, estará ele investido em todos os poderes inerentes à 
propriedade, podendo vender o bem. Se, contudo, efetivar a venda e a sentença vier a julgar 
improcedente o pedido, o risco do negócio é seu, devendo ressarcir os prejuízos que o devedor fiduciante 
sofrer em razão da perda do bem. 
Como ficou decidido que o devedor fiduciante foi privado indevidamente da posse de seu veículo 
automotor, o ressarcimento do prejuízo deve traduzir-se no valor de mercado do automóvel no momento 
de sua apreensão indevida (valor do veículo na Tabela FIPE à época da ocorrência da busca e apreensão). 
Isso porque é indiscutível que tal valor é o que melhor exprime o montante do desequilíbrio financeiro 
sofrido pelo devedor fiduciante. 
Saliente-se que a tabela FIPE é comumente utilizada para pesquisa do preço médio de veículos e serve 
como balizador de valores dos veículos automotores terrestres, considerando, inclusive, os diversos 
fatores de depreciação existentes. 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
Em suma: 
O valor a ser restituído ao devedor fiduciante, quando há venda extrajudicial do bem no bojo de ação 
de busca e apreensão posteriormente julgada extinta sem resolução do mérito, deve ser o valor do 
veículo na Tabela FIPE à época da busca e apreensão. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.742.897-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679). 
 
 
USUCAPIÃO 
Após a citação, é possível a mera juntada da planta e do memorial descritivo, sem a anuência do 
demandado, desde que não implique em alteração do pedido formulado na petição inicial da 
ação de usucapião 
 
É admissível a determinação de emenda à petição inicial, mesmo após a citação do réu e a 
apresentação de defesa, quando não houver alteração no pedido ou na causa de pedir. 
Eventuais alterações no memorial descritivo do imóvel podem ser feitas unilateralmente 
antes da angularização da relação jurídico-processual ou, depois da citação, somente com a 
anuência explícita do réu. 
Não há como concluir que a mera juntada da planta e do memorial descritivo georreferenciado 
implicou alteração objetiva da demanda, ou seja, do pedido formulado na petição inicial da 
ação de usucapião. 
No caso concreto, não houve prejuízo aos litigantes, visto que, depois da apresentação dos 
documentos, o magistrado de primeiro grau determinou a intimação do demandado, dos 
confinantes e das Fazendas Públicas, em observância ao devido processo legal, ao 
contraditório e à ampla defesa. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.140-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/08/2020 (Info 679). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 2010, João ajuizou ação de usucapião de um imóvel rural contra Pedro. 
O CPC/1973 exigia expressamente que, na ação de usucapião, o autor juntasse, na petição inicial, a planta 
do imóvel: 
CPC/1973 
Art. 942. O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e juntando planta do imóvel, 
requererá a citação daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel usucapiendo, bem como 
dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais interessados, observado 
quanto ao prazo o disposto no inciso IV do art. 232. 
 
Vale ressaltar, ainda, que o § 3º do art. 225 da Lei nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) estabelece que, 
nas ações judiciais que versem acerca de imóveis rurais, a localização, os limites e as confrontações serão 
obtidos a partir de memorial descritivo assinado por profissional habilitado e com a devida Anotação de 
Responsabilidade Técnica – ART, contendo as coordenadas dos vértices definidores dos limites dos 
imóveis rurais, georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com precisão posicional a ser fixada 
pelo INCRA. 
Ocorre que João não juntou a planta na petição inicial. 
Pedro e os confinantes do imóvel foram citados. 
O advogado de João percebeu, então, que não havia cumprido a determinação legal e, por isso, 
apresentou petição anexando a planta do imóvel e o memorial descritivo. 
O juiz determinou a intimação de Pedro, dos confinantes do imóvel e das Fazendas Públicas para se 
manifestarem sobre a juntada. 
 Informativo 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Pedro requereu a extinção do processo sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, IV, do CPC/1973 
(art. 485, IV, do CPC/2015, em virtude da impossibilidade de aditar a inicial após a citação e apresentação 
de contestação, nos termos do art. 264 do CPC/1973 (art. 329 do CPC/2015): 
CPC/1973 CPC/2015 
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de 
mérito: 
IV - quando se verificar a ausência de pressupostos 
de constituição e de desenvolvimento válido e 
regular do processo; 
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: 
IV - verificar a ausência de pressupostos de 
constituição e de desenvolvimento válido e regular 
do processo; 
Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor 
modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o 
consentimento do réu, mantendo-se as mesmas 
partes, salvo as substituições permitidas por lei. 
Art. 329. O autor poderá: 
I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a 
causa de pedir, independentemente de 
consentimento do réu; 
II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar 
o pedido e a causa de pedir, com consentimento 
do réu, assegurado o contraditório mediante a 
possibilidade de manifestação deste no prazo 
mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o 
requerimento de prova suplementar. 
 
João poderia ter feito a referida juntada mesmo já tendo ocorrido a citação? 
SIM. Isso porque essa juntada não significou alteração do pedido formulado na petição inicial da ação de 
usucapião. 
Não há como concluir que a mera juntada da planta e do memorial descritivo georreferenciado implicou 
alteração objetiva da demanda, ou seja, do pedido formulado na petição inicial da ação de usucapião. 
No caso concreto, não houve prejuízo aos litigantes, visto que, depois da apresentação dos documentos, 
o magistrado de primeiro grau determinou a intimação do demandado, dos confinantes e das Fazendas 
Públicas, em observância ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa. 
O STJ entende que “é admissível a determinação de emenda à petição inicial, mesmo após a citação do 
réu e a apresentação de defesa, quando não houver alteração no pedido ou na causa de pedir (REsp 
1.698.716/GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 11/9/2018). 
 
Em suma: 
Após a citação, é possível a mera juntada da planta e do memorial descritivo, sem a anuência do 
demandado, desde que não implique em alteração do pedido formulado na petição inicial da ação de 
usucapião. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.140-MG,Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/08/2020 (Info 679). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
DIVÓRCIO 
Em dissolução de vínculo conjugal, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem 
edificado em loteamento irregular, quando ausente a má-fé dos possuidores 
 
Atenção! DPE 
Importante!!! 
Caso concreto: em um processo de divórcio litigioso, foi reconhecido que seria possível a 
partilha dos direitos possessórios sobre um imóvel localizado em área irregular. 
Em alguns casos, a falta de regularização do imóvel que se pretende partilhar não ocorre por 
má-fé ou desinteresse das partes, mas por outras razões, como a incapacidade do poder 
público de promover a formalização da propriedade ou, até mesmo, pela hipossuficiência das 
pessoas para dar continuidade aos trâmites necessários para a regularização. Nessas 
situações, os titulares dos direitos possessórios devem sim receber a tutela jurisdicional. 
A melhor solução para tais hipóteses é admitir a possibilidade de partilha dos direitos 
possessórios sobre o bem edificado em loteamento irregular, quando não for identificada má-
fé dos possuidores. 
Essa medida faz com que resolva de forma imediata a questão da dissolução do vínculo 
conjugal, relegando a um segundo momento as eventuais discussões acerca da regularidade e 
da formalização da propriedade sobre o bem imóvel. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.739.042-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Francisca ajuizou ação de divórcio litigioso contra Pedro. 
No momento da prolação da sentença, constatou-se que o único bem do casal a ser partilhado era uma 
casa localizada em um loteamento irregular e que, por essa razão, não se encontrava devidamente 
regularizada no cartório de registro de imóveis. 
 
Diante disso, indaga-se: será possível a partilha dos direitos sobre esse bem? 
SIM. Será possível a partilha dos direitos possessórios sobre esse imóvel mesmo ele estando localizado em 
área irregular. 
Em alguns casos, a falta de regularização do imóvel que se pretende partilhar não ocorre por má-fé ou 
desinteresse das partes, mas por outras razões, como a incapacidade do poder público de promover a 
formalização da propriedade ou, até mesmo, pela hipossuficiência das pessoas para dar continuidade aos 
trâmites necessários para a regularização. Nessas situações, os titulares dos direitos possessórios devem 
sim receber a tutela jurisdicional. 
A melhor solução para tais hipóteses é admitir a possibilidade de partilha dos direitos possessórios sobre 
o bem edificado em loteamento irregular, quando não for identificada má-fé dos possuidores. 
Essa medida faz com que resolva de forma imediata a questão da dissolução do vínculo conjugal, 
relegando a um segundo momento as eventuais discussões acerca da regularidade e da formalização da 
propriedade sobre o bem imóvel. 
 
Em suma: 
Em dissolução de vínculo conjugal, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem edificado em 
loteamento irregular, quando ausente a má-fé dos possuidores. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.739.042-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679). 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
PRÁTICAS ABUSIVAS 
É abusiva a publicidade de alimentos direcionada, de forma explícita ou implícita, a crianças 
 
Importante!!! 
A decisão de comprar gêneros alimentícios cabe aos pais, especialmente em época de altos e 
preocupantes índices de obesidade infantil, um grave problema nacional de saúde pública. 
Diante disso, consoante o art. 37, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor, estão vedadas 
campanhas publicitárias que utilizem ou manipulem o universo lúdico infantil. 
Se criança, no mercado de consumo, não exerce atos jurídicos em seu nome e por vontade 
própria, por lhe faltar poder de consentimento, tampouco deve ser destinatária de 
publicidade que, fazendo tábula rasa da realidade notória, a incita a agir como se plenamente 
capaz fosse. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.613.561-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/04/2017 (Info 679). 
 
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: 
Em 2007, na época dos Jogos Pan-Americanos, a Sadia fez uma campanha publicitária direcionada ao 
público infanto-juvenil, na qual incentivava as crianças a trocarem os selos impressos nas embalagens de 
produtos da empresa por mascotes de pelúcia uniformizados, mediante o pagamento de R$ 3,00. 
Em outras palavras, nas embalagens dos produtos da empresa havia selos e se o consumidor juntasse 
determinada quantidade poderia trocar por bichinhos de pelúcia. 
O Procon de São Paulo multou a Sadia em R$ 428 mil alegando que a campanha incentivaria as crianças a 
consumidor produtos industrializados calóricos, que comprometem a alimentação saudável e podem 
trazer prejuízos à saúde. 
A Sadia ajuizou ação anulatória do auto de infração argumentando que não existe proibição no 
ordenamento jurídico de publicidade dirigida a crianças. 
O TJSP concordou com a tese da empresa e afirmou que não houve excessos nem indução a 
comportamentos prejudiciais à saúde ou à segurança pessoal. Além disso, considerou que a decisão sobre 
a compra dos produtos alimentícios seria dos pais ou responsáveis, e não diretamente das crianças. 
O Procon de SP – que tem a natureza jurídica de fundação – recorreu ao STJ. 
 
O STJ concordou com a autuação feita pelo Procon? Houve publicidade abusiva? 
SIM. 
É abusiva a publicidade de alimentos direcionada, de forma explícita ou implícita, a crianças. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.613.561-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/04/2017 (Info 679). 
 
Publicidade ilícita 
Publicidade ilícita é toda aquela que viola os deveres jurídicos estabelecidos no Código de Defesa do 
Consumidor para a realização, produção e divulgação de mensagens publicitárias. 
Existem duas espécies de publicidade ilícita: 
a) publicidade enganosa: é aquela que viola o dever de veracidade e clareza estabelecidos pelo CDC. Está 
conceituada nos §§ 1º e 3º do art. 37 do CDC, que veremos mais abaixo. 
b) publicidade abusiva: é aquela que viola valores ou bens jurídicos considerados socialmente relevantes 
(tais como meio ambiente, segurança e integridade dos consumidores), assim como a que se caracteriza 
pelo apelo indevido a vulnerabilidade agravada de determinados consumidores, como crianças e idosos. 
Está disciplinada no § 2º do art. 37: 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Art. 37 (...) 
§ 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à 
violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e 
experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor 
a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. 
 
Veja mais em: MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 278). 
 
PUBLICIDADE ILÍCITA 
Publicidade ENGANOSA Publicidade ABUSIVA 
É a publicidade falsa ou que possa induzir em erro 
o consumidor a respeito da natureza, 
características, qualidade, quantidade, 
propriedades, origem, preço e quaisquer outros 
dados sobre produtos e serviços. Pode ser: 
• por comissão: quando o fornecedor faz uma 
afirmação não verdadeira, parcial ou total, sobre o 
produto ou serviço; 
• por omissão:que é quando deixa de informar 
sobre dado essencial do produto ou serviço. 
É a publicidade... 
• discriminatória; 
• que incita violência; 
• que explora o medo ou a superstição; 
• que se aproveita da deficiência de julgamento e 
experiência da criança; 
• que desrespeita valores ambientais 
• que seja capaz de induzir o consumidor a se 
comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua 
saúde ou segurança. 
 
O CDC proíbe tanto a publicidade enganosa como a abusiva (art. 37, caput, do CDC). 
Mas, em provas de concurso, é comum a tentativa de confundir os dois conceitos: 
 (Promotor MP/SC 2019) A Lei Federal n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) proíbe a 
publicidade enganosa, definida, exemplificativamente, como a publicidade que seja capaz de induzir o 
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. (ERRADO. Isso é 
publicidade abusiva) 
 
Vale ressaltar que, em alguns casos, uma publicidade pode ser enganosa e também abusiva. Veja esta 
questão de prova: 
(Juiz TJ/AL 2019 FCC) Para vender a roupa do herói Megaman, seu fabricante veicula anúncio na TV em 
que um ator sai voando pela janela e salva uma criança e seu cachorro em um imóvel pegando fogo. Essa 
publicidade, quando vista por crianças, 
(A) é apenas enganosa, pois não é possível que uma publicidade seja ao mesmo tempo abusiva e enganosa 
pelas normas do CDC. 
(B) é somente abusiva, pelo induzimento ao comportamento perigoso, pois toda criança saberá discernir 
o conteúdo falso do ator voando pela janela. 
(C) será só abusiva, pois esta engloba a publicidade enganosa no conceito mais amplo da periculosidade 
da conduta e do aproveitamento da falta de experiência dos infantes. 
(D) é simultaneamente abusiva e enganosa; abusiva por eventualmente induzir a comportamento 
perigoso, por deficiência de julgamento e de experiência, e enganosa pelo conteúdo não verdadeiro de 
pessoa voando no salvamento publicitário. 
(E) é lícita, pois além do aspecto lúdico não pode haver jamais restrições à liberdade de expressão, o que 
inclui a veiculação publicitária lastreada na fantasia. 
Gabarito: letra D 
 
No caso concreto acima analisado, a campanha violou o art. 37, § 2º do CDC, que preconiza: 
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
(...) 
§ 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à 
violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e 
experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor 
a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. 
 
Não há dúvidas de que a decisão de comprar, ou não, o alimento é dos pais. No entanto, a propaganda 
acaba incentivando, indiretamente, que as crianças peçam os produtos dos pais. Vale ressaltar que 
vivemos uma época de altos e preocupantes índices de obesidade infantil, um grave problema nacional 
de saúde pública. 
Diante disso, consoante o art. 37, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor, estão vedadas campanhas 
publicitárias que utilizem ou manipulem o universo lúdico infantil. 
Se criança, no mercado de consumo, não exerce atos jurídicos em seu nome e por vontade própria, por 
lhe faltar poder de consentimento, tampouco deve ser destinatária de publicidade que, fazendo tábula 
rasa da realidade notória, a incita a agir como se plenamente capaz fosse. 
 
 
PRÁTICAS ABUSIVAS 
Esclarecimentos posteriores ou complementares desconectados do conteúdo principal da oferta 
(informação disjuntiva, material ou temporalmente) não servem para exonerar ou mitigar a 
enganosidade ou abusividade 
 
Viola os princípios da vulnerabilidade, da boa-fé objetiva, da transparência e da confiança 
prestar informação por etapas e, assim, compelir o consumidor à tarefa impossível de juntar 
pedaços informativos esparramados em mídias, documentos e momentos diferentes. 
Cada ato de informação é analisado e julgado em relação a si mesmo, pois absurdo esperar 
que, para cada produto ou serviço oferecido, o consumidor se comporte como Sherlock 
Holmes improvisado e despreparado à busca daquilo que, por dever ope legis inafastável, 
incumbe somente ao fornecedor. Seria transformar o destinatário-protegido, à sua revelia, em 
protagonista do discurso mercadológico do fornecedor, atribuindo e transferindo ao 
consumidor missão de vasculhar o universo dos meios de comunicação para ter uma 
informação completa. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.802.787-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/10/2019 (Info 679). 
 
O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte: 
O Habib´s divulgou publicidade na internet na qual anunciava a seguinte promoção: o preço normal da 
coxinha é R$ 1,50. No entanto, se você comprar 30 unidades, o preço individual passa a ser R$ 0,49. 
Até aí, tudo bem. O problema foi que essa promoção não era válida para todas as lojas do grupo e não 
houve um aviso objetivo e claro informando isso. 
Em razão dessa omissão, o Procon/SP autuou a empresa por publicidade enganosa. 
 
Agiu corretamente o Procon? Houve publicidade enganosa? 
SIM. 
A publicidade enganosa pode ser de duas espécies: 
a) comissiva; ou 
b) omissiva. 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
Publicidade enganosa por COMISSÃO: 
Ocorre quando o fornecedor faz uma afirmação não verdadeira, parcial ou total, sobre o produto ou 
serviço, capaz de induzir o consumidor em erro (art. 37, § 1º, do CDC): 
Art. 37 (...) 
§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, 
inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir 
em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, 
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. 
 
Publicidade enganosa por OMISSÃO: 
Ocorre quando a publicidade deixa de informar dado essencial do produto ou serviço, também induzindo 
o consumidor em erro por deixar de esclarecer elementos fundamentais (art. 37, § 3º, do CDC): 
Art. 37 (...) 
§ 3º Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar 
sobre dado essencial do produto ou serviço. 
 
No caso, houve publicidade enganosa por omissão. 
O anúncio referente ao produto oferecido (coxinha) não foi acompanhado por um aviso objetivo e claro 
das unidades participantes. Essa lacuna fez com que os consumidores considerassem que todas as 
unidades estariam participando, induzindo-os em flagrante equívoco. 
O fornecedor tem a obrigação legal de assegurar ao consumidor informações ostensivas, claras e precisas 
na oferta, publicitária ou não, nos termos do art. 31 do CDC: 
Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, 
claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, 
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem 
como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. 
 
Esse dever de informação se mostra ainda mais forte em se tratando de publicidade que possa atingir 
pessoas de baixa renda, exigindo do fornecedor comportamento eficaz, pró-ativo e leal. 
O dever de informação exige comportamento positivo e ativo do fornecedor. Isso porque o CDC rechaça 
a chamada regra caveat emptor* e também não aceita que o silêncio equivalha à informação. Ao 
contrário. O silêncio é considerado como “patologia repreensível”, sendo interpretado em desfavor do 
fornecedor,inclusive como oferta e publicidade enganosa por omissão, punida civil, administrativa e 
criminalmente pelo CDC. 
 
* Caveat emptor 
Caveat emptor é uma locação em latim que, se traduzida literalmente, seria algo como “comprador, tome 
seus cuidados”. 
A regra do caveat emptor significa que o cliente (o comprador ou tomador de serviços) é quem deve tomar 
os cuidados de se informar no momento da contratação para se resguardar de eventuais danos. Assim, o 
cliente que teria o ônus de perguntar tudo do fornecedor e, se ele não perguntasse, teria que arcar com 
as consequências disso. 
O CDC não aceita essa regra do caveat emptor. O CDC afirma que o consumidor tem o direito de ser 
informado: 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
(...) 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação 
correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem 
como sobre os riscos que apresentem; 
 
Isso significa que o fornecedor tem o dever de informação, ou seja, o CDC exige um comportamento 
positivo e ativo do fornecedor de explicar o produto ou serviço ao consumidor, mesmo que não tenha sido 
provocado. 
 
Se a empresa posteriormente complementar a informação isso serve para exonerar ou mitigar a 
enganosidade? 
NÃO. 
Esclarecimentos posteriores ou complementares desconectados do conteúdo principal da oferta 
(informação disjuntiva, material ou temporalmente) não servem para exonerar ou mitigar a 
enganosidade ou abusividade. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.802.787-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/10/2019 (Info 679). 
 
Viola os princípios da vulnerabilidade, da boa-fé objetiva, da transparência e da confiança prestar 
informação por etapas e, assim, compelir o consumidor à tarefa impossível de juntar pedaços informativos 
esparramados em mídias, documentos e momentos diferentes. 
Cada ato de informação é analisado e julgado em relação a si mesmo, pois absurdo esperar que, para cada 
produto ou serviço oferecido, o consumidor se comporte como Sherlock Holmes improvisado e 
despreparado à busca daquilo que, por dever ope legis inafastável, incumbe somente ao fornecedor. Seria 
transformar o destinatário-protegido, à sua revelia, em protagonista do discurso mercadológico do 
fornecedor, atribuindo e transferindo ao consumidor missão de vasculhar o universo dos meios de 
comunicação para ter uma informação completa. 
 
 
PLANO DE SAÚDE 
Em caso de morte do beneficiário, o cancelamento de plano de saúde só ocorre com a 
comunicação à operadora 
 
A eficácia do contrato de plano de saúde se protrai no tempo até que a operadora seja 
comunicada do falecimento da beneficiária, descabendo cobranças efetuadas em relação ao 
período posterior à comunicação e sendo viável que a notificação ocorra nos autos de processo 
cujo objeto seja o referido contrato. 
A morte é fato jurídico superveniente que implica o rompimento do vínculo entre o 
beneficiário e a operadora do plano de saúde. Esse efeito, contudo, só produzirá efeitos para a 
operadora depois que ela tomar conhecimento de sua ocorrência. Isso significa que a eficácia 
do contrato se protrai no tempo até que a operadora seja comunicada do falecimento do 
beneficiário. 
A Resolução ANS nº 412/2016, que versa sobre a solicitação de cancelamento do contrato do 
plano de saúde individual ou familiar pelo beneficiário titular, estabelece o efeito imediato do 
requerimento, a partir da ciência da operadora ou administradora de benefícios, e dispõe, por 
conseguinte, que só serão devidas, a partir de então, as contraprestações pecuniárias vencidas 
e/ou eventuais coparticipações devidas, nos planos em pré-pagamento ou em pós-pagamento, 
pela utilização de serviços realizados antes da solicitação (art. 15, II e III). 
Embora o ato normativo indique as formas apropriadas ao pedido de cancelamento - 
presencial, por telefone ou pela internet, certo é que a notificação nos autos do processo cujo 
objeto é o próprio contrato de plano de saúde atinge a mesma finalidade, de tal modo que, 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
constatada a ciência inequívoca da operadora sobre o falecimento da beneficiária, cessa, 
imediatamente, a obrigação assumida pelas partes. 
Assim, reputam-se indevidas todas as cobranças efetuadas em relação ao período posterior à 
notificação da operadora do falecimento do beneficiário ao plano de saúde. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.879.005-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/08/2020 (Info 679). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João e Regina, casados. 
João era usuário, na qualidade de titular, de plano de saúde empresarial. Regina, como esposa, era 
dependente no plano e também gozava da cobertura. 
Determinado dia, eles foram indevidamente desligados do plano. 
Diante disso, João e Regina ajuizaram ação de obrigação de fazer contra o plano pedindo para 
continuassem gozando da assistência à saúde, pagando as respectivas prestações mensais. 
Em fevereiro de 2015, o juiz concedeu tutela provisória de urgência determinando que: 
- João e Regina permanecessem pagando a mensalidade (que era R$ 1.000,00 para cada um); 
- o plano de saúde continuasse oferecendo a cobertura ao casal. 
 
Em agosto de 2015, antes que o processo fosse julgado, Regina morreu. 
Como a esposa faleceu, João passou a pagar apenas R$ 1.000,00 referente à sua cota no plano, deixando 
de pagar os R$ 1.000,00 relacionados com Regina. 
Em janeiro de 2016, João recebeu uma carta informando que o plano de saúde havia inserido seu nome 
no SERASA em razão de uma dívida de R$ 4.000,00 relacionada com 4 meses de plano de saúde atrasados 
(setembro/2015 a dezembro/2015). Esses meses atrasados são referentes às mensalidades que seriam 
devidas por Regina. 
No dia seguinte, João peticionou nos autos afirmando que essa cobrança de R$ 4.000,00 seria indevida 
tendo em vista que Regina havia morrido. Logo, desde a sua morte (em setembro/2015), não seria mais 
possível cobrar a mensalidade. 
O plano de saúde foi intimado sobre a petição de João. 
 
Neste caso hipotético, a partir de quando se pode considerar que o plano de saúde estava cancelado em 
relação à Regina, com a consequente cessão do pagamento das parcelas? 
A partir da data da comunicação do plano de saúde. 
Em caso de morte do beneficiário, o cancelamento de plano de saúde só ocorre com a comunicação à 
operadora. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.879.005-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/08/2020 (Info 679). 
 
A eficácia do contrato de plano de saúde se protrai no tempo até que a operadora seja comunicada do 
falecimento da beneficiária, descabendo cobranças efetuadas em relação ao período posterior à 
comunicação e sendo viável que a notificação ocorra nos autos de processo cujo objeto seja o referido 
contrato. 
A morte é fato jurídico superveniente que implica o rompimento do vínculo entre o beneficiário e a 
operadora do plano de saúde. Esse efeito, contudo, só produzirá efeitos para a operadora depois que ela 
tomar conhecimento de sua ocorrência. Isso significa que a eficácia do contrato se protrai no tempo até 
que a operadora seja comunicada do falecimento do beneficiário. 
A Resolução ANS nº 412/2016, que versa sobre a solicitação de cancelamento do contrato do plano de 
saúde individual ou familiar pelo beneficiário titular, estabelece o efeito imediato do requerimento, a 
partir da ciência da operadora ou administradora de benefícios, e dispõe, por conseguinte, que só serão 
devidas, a partir de então, as contraprestações pecuniárias vencidas e/ou eventuaiscoparticipações 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
devidas, nos planos em pré-pagamento ou em pós-pagamento, pela utilização de serviços realizados antes 
da solicitação (art. 15, II e III). 
Embora o ato normativo indique as formas apropriadas ao pedido de cancelamento - presencial, por 
telefone ou pela internet, certo é que a notificação nos autos do processo cujo objeto é o próprio contrato 
de plano de saúde atinge a mesma finalidade, de tal modo que, constatada a ciência inequívoca da 
operadora sobre o falecimento da beneficiária, cessa, imediatamente, a obrigação assumida pelas partes. 
Assim, reputam-se indevidas todas as cobranças efetuadas em relação ao período posterior à notificação 
da operadora do falecimento do beneficiário ao plano de saúde. 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
PROPRIEDADE INDUSTRIAL 
É ilegal a Resolução nº 113/2013 do INPI que afasta a aplicação do direito de restauração de 
patente, previsto no art. 87 da Lei nº 9.279/96, para as hipóteses de inadimplemento superior 
uma retribuição anual 
 
Atenção! Juiz Federal! 
Com o objetivo de fornecer recursos financeiros para o INPI, a Lei exigiu que o depositante do 
pedido de patente ou a pessoa que já seja titular da patente deverão pagar, anualmente, a 
partir do 3º ano, um valor chamado “retribuição anual” (art. 84 da LPI). 
A falta do pagamento da retribuição acarreta a extinção da patente (art. 86). 
O art. 87 da LPI prevê, como forma de preservar o direito do titular da patente, o instituto da 
restauração. Assim, esse artigo estabelece que, notificado do arquivamento do pedido ou da 
extinção da patente em razão do não pagamento da retribuição anual, o depositante ou o 
titular poderá, no prazo de três meses contados dessa notificação, restaurar o pedido ou a 
patente, por meio do pagamento de retribuição específica. 
O art. 13 da Resolução nº 113/2013, do INPI, afasta a aplicação do art. 87 da Lei nº 9.279/96 
nas hipóteses de inadimplemento em mais de uma retribuição anual. 
A partir da análise sistemática da LPI, verifica-se que o INPI extrapolou seu poder disciplinar. 
O referido ato infralegal vai além da disciplina estabelecida no art. 87 da LPI, restringindo o 
cabimento da restauração para hipóteses não definidas pela lei. 
Enquanto o art. 87 da LPI permite ao titular ou ao depositante de patente requerer a 
restauração, dentro do período de 3 (três) meses a partir da notificação, a resolução do INPI 
limita a aplicação do instituto a um requisito não previsto na LPI - o inadimplemento não 
superior a uma retribuição anual. 
Assim, é evidente que, ao afastar o direito de restauração de patente em hipóteses não 
previstas na lei, o INPI restringiu ilegalmente o direito de restauração. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.439-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 01/09/2020 (Info 679). 
 
INPI 
O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da 
Indústria, Comércio Exterior e Serviços, sendo responsável, no Brasil, pela concessão e garantia dos 
direitos de propriedade intelectual para a indústria. 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
Patente 
Patente é um título de propriedade temporária concedido pelo INPI para a pessoa que inventou um novo 
produto, um novo processo ou para quem fez aperfeiçoamentos destinados à aplicação industrial. 
Em outras palavras, a patente é concedida ao autor de uma invenção ou de um modelo de utilidade. 
Veja o que diz a Lei nº 9.279/96: 
Art. 6º Ao autor de invenção ou modelo de utilidade será assegurado o direito de obter 
a patente que lhe garanta a propriedade, nas condições estabelecidas nesta Lei. 
 
Pedido junto ao INPI 
Em regra, a patente deverá ser requerida junto ao INPI pelo próprio autor, em nome próprio. 
Poderá também ser requerida pelos herdeiros ou sucessores do autor, pelo cessionário ou por aquele a 
quem a lei ou o contrato de trabalho ou de prestação de serviços determinar que pertença a titularidade 
(art. 6º, § 2º, da Lei nº 9.279/96). 
 
Retribuição anual 
Com o objetivo de fornecer recursos financeiros para o INPI, a Lei exigiu que o depositante do pedido 
de patente ou a pessoa que já seja titular da patente deverão pagar, anualmente, a partir do 3º ano, um 
valor chamado “retribuição anual”: 
Art. 84. O depositante do pedido e o titular da patente estão sujeitos ao pagamento de retribuição 
anual, a partir do início do terceiro ano da data do depósito. 
§ 1º O pagamento antecipado da retribuição anual será regulado pelo INPI. 
(...) 
 
Assim, o pagamento da retribuição anual configura requisito imprescindível para que o titular de 
uma patente goze do monopólio, garantido pelo Estado, de exploração comercial do objeto patenteado 
durante o seu prazo de vigência. 
A retribuição anual é devida a partir do início do terceiro ano do depósito e deve ser paga nos três 
primeiros meses de cada período anual. Caso não ocorra tempestivamente, a retribuição pode ser 
realizada nos seis meses subsequentes, desde que acrescida de retribuição adicional, nos termos do art. 
84 da Lei nº 9.279/96. 
 
O que acontece se a pessoa não pagar essa retribuição anual? 
A falta do pagamento da retribuição acarreta: 
• o arquivamento do pedido de patente (se o processo de concessão ainda estiver em tramitação); ou 
• a extinção da patente (caso ela já tenha sido concedida). 
 
É o que prevê o art. 86 da LPI: 
Art. 86. A falta de pagamento da retribuição anual, nos termos dos arts. 84 e 85, acarretará o 
arquivamento do pedido ou a extinção da patente. 
 
Instituto da restauração 
O art. 87 da LPI prevê, como forma de preservar o direito do titular da patente, o instituto da restauração. 
Assim, esse artigo estabelece que, notificado do arquivamento do pedido ou da extinção da patente em 
razão do não pagamento da retribuição anual, o depositante ou o titular poderá, no prazo de três meses 
contados dessa notificação, restaurar o pedido ou a patente, por meio do pagamento de retribuição 
específica: 
 Informativo 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Art. 87. O pedido de patente e a patente poderão ser restaurados, se o depositante ou o titular 
assim o requerer, dentro de 3 (três) meses, contados da notificação do arquivamento do pedido 
ou da extinção da patente, mediante pagamento de retribuição específica. 
 
Dessa forma, na hipótese de inadimplemento da retribuição anual, a notificação do arquivamento do 
pedido ou da extinção da patente é obrigatória, nos termos do art. 87. 
Não existe, portanto, a caducidade automática pela falta de pagamento de anuidade. 
 
Resolução 113/2013, do INPI 
O art. 13 da Resolução nº 113/2013, do INPI, afasta a aplicação do art. 87 da Lei nº 9.279/96 nas hipóteses 
de inadimplemento em mais de uma retribuição anual. Veja a sua redação: 
Art. 13. Os pedidos de patente ou as patentes que estiverem inadimplentes em mais de uma 
retribuição anual serão arquivados ou extintos definitivamente, não se aplicando a esses casos a 
hipótese de restauração prevista no artigo 87 da LPI. 
 
Essa previsão é válida? 
NÃO. 
A partir da análise sistemática da LPI, verifica-se que nesse art. 13 da Resolução nº 113/2013, o INPI 
extrapolou seu poder disciplinar. 
O referido ato infralegal vai além da disciplina estabelecida no art. 87 da LPI, restringindo o cabimento da 
restauração em uma hipótese não prevista na lei. 
Enquanto o art. 87 da LPI permite aotitular ou ao depositante de patente requerer a restauração, dentro 
do período de 3 (três) meses a partir da notificação, a resolução do INPI limita a aplicação do instituto a 
um requisito não previsto na LPI: o inadimplemento não superior a uma retribuição anual. 
Assim, é evidente que, ao afastar o direito de restauração de patente em hipóteses não previstas na lei, o 
INPI restringiu ilegalmente o direito de restauração. 
 
Em suma: 
É ilegal a Resolução nº 113/2013 do INPI que afasta a aplicação do direito de restauração de patente, 
previsto no art. 87 da Lei nº 9.279/96, para as hipóteses de inadimplemento superior uma retribuição 
anual. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.439-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 01/09/2020 (Info 679). 
 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
O crédito decorrente das astreintes aplicadas no bojo de processo trabalhista deve ser habilitado 
na recuperação judicial na classe dos quirografários, e não na dos créditos trabalhistas 
 
Importante!!! 
As astreintes, fixadas no âmbito de uma reclamação trabalhista (concebidas como sanção 
pecuniária de natureza processual), não possuem origem, nem sequer indireta, no 
desempenho da atividade laboral do trabalhador. 
A interpretação demasiadamente alargada à noção de “crédito trabalhista”, a pretexto de 
beneficiar determinado trabalhador, promove, em última análise, indesejado desequilíbrio no 
processo concursal de credores, sobretudo na classe dos trabalhistas, em manifesta violação 
ao princípio da par conditio creditorum. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.804.563-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/08/2020 (Info 679). 
 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, ex-empregado da Cerâmica Chiarelli S.A., ajuizou reclamação trabalhista contra a empresa. 
Durante o curso do processo, o juiz do trabalho ordenou que a empresa cumprisse determinada ordem 
judicial, sob pena de multa diária (astreintes) de R$ 5 mil. 
Como a empresa atrasou 4 dias para cumprir a ordem, ela foi multada em R$ 20 mil. 
Ao final, na sentença, o juiz condenou a empresa a pagar: 
• R$ 100 mil, a título de verbas trabalhistas; e 
• confirmou o pagamento de R$ 20 mil como astreintes. 
 
Assim, o título executivo (sentença trabalhista) corresponde a um total de R$ 120 mil. 
A sentença transitou em julgado. 
Ocorre que, logo depois, foi decretada a recuperação judicial da Cerâmica Chiarelli S.A. 
Diante disso, João habilitou seu crédito para ser recebido no processo de recuperação judicial. 
Vale ressaltar que João pediu para os R$ 120 mil serem habilitados como crédito de natureza trabalhista. 
A relevância disso está no fato de que os créditos trabalhistas possuem preferência em relação às outras 
classes de crédito. 
 
O pedido de João deve ser integralmente acolhido? Os R$ 120 mil deverão ser habilitados como crédito 
trabalhista? 
NÃO. Os R$ 100 mil devem ser habilitados como crédito trabalhista e os R$ 20 mil relativos às astreintes 
enquadram-se como créditos quirografários. 
 
Por quê? 
As astreintes possuem o propósito específico de coagir a parte a cumprir determinada obrigação imposta 
pelo juízo, incutindo, em seu psicológico, o temor de sofrer sanção pecuniária decorrente de eventual 
inadimplemento. Desse modo, as astreintes possuem um caráter coercitivo e intimidatório. 
Trata-se, portanto, de técnica executiva, de viés puramente instrumental, destinada a instar a parte a 
cumprir, voluntariamente (ainda que sem espontaneidade), a obrigação judicial. 
O objetivo, portanto, é fazer com que se cumpra a ordem judicial. Vale ressaltar, no entanto, que se essa 
técnica executiva se mostrar inócua, ou seja, se mesmo assim o devedor não cumprir a obrigação judicial, 
a multa será aplicada como uma sanção. Assim, a multa efetivamente aplicada é uma penalidade 
processual imposta à parte. Não haverá nenhuma finalidade ressarcitória pelos prejuízos eventualmente 
percebidos pela parte adversa em razão do descumprimento da determinação judicial ou correlação com 
a prestação, em si, não realizada. 
Resumindo: 
- as astreintes, em princípio, têm uma finalidade coercitiva (intimidatória); 
- se a ordem for descumprida e a multa aplicada, a finalidade passa a ser a de impor uma sanção pelo 
descumprimento (caráter sancionatório); 
- as astreintes não têm finalidades ressarcitória e não tem relação direta com o direito material que está 
sendo discutido em juízo. 
 
Desse modo, fato de a multa processual ter sido imposta em uma reclamação trabalhista não faz com que 
esta multa passe a ter a mesma natureza jurídica do direito material ali discutido. Em outras palavras, as 
astreintes não terão caráter trabalhista porque não possuem origem remuneratória ou indenizatória. 
Primeiro, porque a obrigação judicial inadimplida, ensejadora da imposição de sanção pecuniária, não se 
confunde, necessariamente, com o direito ao final reconhecido na reclamação trabalhista. 
Segundo e principalmente, porque a sanção pecuniária imposta em razão do descumprimento da 
obrigação judicial, de natureza processual, não possui nenhum conteúdo alimentar, que é, justamente, o 
critério justificador do privilégio legal dado às retribuições trabalhistas de origens remuneratória e 
indenizatória. 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Se for feita uma interpretação muito alargada do que seja “crédito trabalhista” isso pode até servir para 
beneficiar um trabalhador em específico, mas, por outro lado, irá gerar indesejado desequilíbrio no 
processo concursal de credores, sobretudo na classe dos trabalhistas, em manifesta violação ao princípio 
da par conditio creditorum (princípio da igualdade entre os credores). 
 
Em suma: 
O crédito decorrente das astreintes aplicadas no bojo de processo trabalhista deve ser habilitado na 
recuperação judicial na classe dos quirografários, e não na dos créditos trabalhistas. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.804.563-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/08/2020 (Info 679). 
 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
Pode-se arguir como matéria de defesa, em impugnação de crédito incidente à recuperação judicial, 
a existência de abusividade em cláusulas dos contratos de que se originou o crédito impugnado 
 
Em uma impugnação de crédito incidente à recuperação judicial é possível que a empresa 
recuperanda alegue e que o juiz reconheça a existência de abusividade na cláusula do contrato 
de que se originou o crédito impugnado? 
Sim. O incidente de impugnação de crédito configura procedimento de cognição exauriente, 
possibilitando o pleno contraditório e a ampla instrução probatória, em rito semelhante ao 
ordinário (arts. 13 e 15 da Lei nº 11.101/2005). 
Não há, na Lei nº 11.101/2005, qualquer restrição à defesa que pode ser apresentada na 
impugnação de crédito, não se tratando de procedimento simplificado ou mais célere, mas de 
procedimento semelhante ao ordinário. 
Diante disso, devem ser examinadas todas as alegações trazidas pela recuperanda, o que inclui 
a eventual existência de abusividades nas cláusulas contratuais relativas aos encargos 
moratórios que o impugnante busca acrescer aos seus créditos. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.799.932-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 01/09/2020 
(Info 679). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A sociedade empresária “ABC” está sofrendo processo de recuperação judicial. 
O Banco habilitou um crédito para receber no processo de recuperação judicial. 
A empresa recuperanda questionou o crédito do Banco, apresentando ao juiz uma impugnação do crédito, 
nos termos do art. 8º e do art. 13 da Lei nº 11.101/2005:Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7º, § 2º, desta 
Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público podem apresentar 
ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou 
manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado. 
Parágrafo único. Autuada em separado, a impugnação será processada nos termos dos arts. 13 a 
15 desta Lei. 
 
Art. 13. A impugnação será dirigida ao juiz por meio de petição, instruída com os documentos que 
tiver o impugnante, o qual indicará as provas consideradas necessárias. 
Parágrafo único. Cada impugnação será autuada em separado, com os documentos a ela relativos, 
mas terão uma só autuação as diversas impugnações versando sobre o mesmo crédito. 
 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Na impugnação, a empresa “ABC” afirma que os R$ 300 mil cobrados pelo Banco são decorrente de um 
contrato assinado entre elas. Ocorre que esse contrato seria nulo por conter uma cláusula abusiva quanto 
aos juros cobrados. 
O Banco refutou o argumento afirmando que essa matéria (abusividade de cláusula contratual) não 
poderia ser discutida em impugnação de crédito. 
 
Quem tem razão: a empresa “ABC” ou a “RZZ”? Em uma impugnação de crédito incidente à recuperação 
judicial é possível que a empresa recuperanda alegue e que o juiz reconheça a existência de abusividade 
na cláusula do contrato de que se originou o crédito impugnado? 
SIM. 
Pode-se arguir como matéria de defesa, em impugnação de crédito incidente à recuperação judicial, a 
existência de abusividade em cláusulas dos contratos de que se originou o crédito impugnado. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.799.932-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 01/09/2020 (Info 679). 
 
O incidente de impugnação de crédito configura procedimento de cognição exauriente, possibilitando o 
pleno contraditório e a ampla instrução probatória, em rito semelhante ao ordinário (arts. 13 e 15 da Lei 
nº 11.101/2005). 
Não há, na Lei nº 11.101/2005, qualquer restrição à defesa que pode ser apresentada na impugnação de 
crédito, não se tratando de procedimento simplificado ou mais célere, mas de procedimento semelhante 
ao ordinário. 
Diante disso, devem ser examinadas todas as alegações trazidas pela recuperanda, o que inclui a eventual 
existência de abusividades nas cláusulas contratuais relativas aos encargos moratórios que o impugnante 
busca acrescer aos seus créditos. 
 
 
 
ECA 
 
PROTEÇÃO CÍVEL 
É obrigatória a intervenção da FUNAI em ação de destituição de 
poder familiar que envolva criança cujos pais possuem origem indígena 
 
A intervenção da FUNAI nos litígios relacionados à destituição do poder familiar e à adoção de 
menores indígenas ou menores cujos pais são indígenas é obrigatória e apresenta caráter de 
ordem pública. 
O objetivo dessa intervenção é fazer com que sejam consideradas e respeitadas a identidade 
social e cultural do povo indígena, os seus costumes e tradições, suas instituições, bem como 
que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a 
membros da mesma etnia. 
As regras do art. 28, §6º, I e II, do ECA, visam conferir às crianças de origem indígena um 
tratamento verdadeiramente diferenciado, pois, além de crianças, pertencem elas a uma etnia 
minoritária, historicamente discriminada e marginalizada no Brasil, bem como pretendem, 
reconhecendo a existência de uma série de vulnerabilidades dessa etnia, adequadamente 
tutelar a comunidade e a cultura indígena, de modo a minimizar a sua assimilação ou absorção 
pela cultura dominante. 
Nesse contexto, a obrigatoriedade e a relevância da intervenção obrigatória da FUNAI decorre 
do fato de se tratar do órgão especializado, interdisciplinar e com conhecimentos 
aprofundados sobre as diferentes culturas indígenas, o que possibilita uma melhor verificação 
das condições e idiossincrasias da família biológica, com vistas a propiciar o adequado 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
acolhimento do menor e, consequentemente, a proteção de seus melhores interesses, não se 
tratando, pois, de formalismo processual exacerbado apenar de nulidade a sua ausência. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.635-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
O Ministério Público estadual ajuizou, na Justiça Estadual, ação de destituição de poder familiar contra 
Jaciara. 
O Promotor de Justiça alegou que Jaciara abandonou a filha de 2 anos, razão pela qual deve ser destituída 
do poder familiar e a criança encaminhada à adoção. 
A Defensoria Pública estadual, que fez a defesa de Jaciara, argumentou que seria obrigatória a intervenção 
da Fundação Nacional do Índio - FUNAI e a realização de estudo antropológico considerando que a 
genitora requerida é indígena. 
 
Assiste razão à Defensoria Pública? 
SIM. 
É obrigatória a intervenção da FUNAI em ação de destituição de poder familiar que envolva criança cujos 
pais possuem origem indígena. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.635-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679). 
 
Essa exigência encontra-se expressamente prevista no art. 28, § 6º, III, e no art. 157, § 2º do ECA: 
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, 
independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. 
(...) 
§ 6º Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade 
remanescente de quilombo, é ainda obrigatório: 
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e 
tradições, bem como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos 
fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Constituição Federal; 
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a 
membros da mesma etnia; 
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, 
no caso de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe 
interprofissional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso. 
 
Art. 157 (...) 
§ 2º Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto 
à equipe interprofissional ou multidisciplinar referida no § 1º deste artigo, de representantes do 
órgão federal responsável pela política indigenista, observado o disposto no § 6º do art. 28 desta Lei. 
 
 (Promotor MP/GO 2016 banca própria) Em se tratando de colocação em família substituta de criança 
ou adolescente indígena é, entre outros, obrigatório a intervenção e oitiva de representantes do órgão 
federal responsável pela política indigenista e de antropólogos, perante equipe interprofissional ou 
multidisciplinar que irá acompanhar o caso. (certo) 
 
A regra segundo a qual é obrigatória a intervenção da FUNAI nos litígios que envolvam destituição de 
poder familiar e adoção de menores indígenas ou oriundos de pais indígenas tem caráter de ordem 
pública, na medida em que resguardam valores e objetivos político-sociais muitíssimo caros à sociedade 
e, portanto, são imperativas e inderrogáveis. 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
O art. 28, §6º, do ECA, embora trate especificamente das crianças indígenas, aplica-se inteiramenteàs 
crianças cujos pais são de origem indígena, devendo a referida regra ser igualmente respeitada nas ações 
de destituição de poder familiar e adoção que as envolvam. 
Por se tratar de órgão especializado, é a FUNAI que reúne as melhores condições de avaliar a situação do 
menor de origem indígena, não apenas à luz dos padrões de adequação da sociedade em geral, mas, 
sobretudo, a partir das especificidades de sua própria cultura, o que influencia, inclusive, na escolha de 
uma família substituta de tribo que possua maiores afinidades com aquela da qual se origina o menor. 
A obrigatoriedade e a relevância da intervenção obrigatória da FUNAI decorre do fato de se tratar do órgão 
especializado, interdisciplinar e com conhecimentos aprofundados sobre as diferentes culturas indígenas, 
o que possibilita uma melhor verificação das condições e idiossincrasias da família biológica, com vistas a 
propiciar o adequado acolhimento do menor e, consequentemente, a proteção de seus melhores 
interesses. Não se trata, portanto, de excesso de formalismo processual. 
 
No mesmo sentido: 
(...) 2. A intervenção da FUNAI nesses tipos de processos é de extrema relevância, porquanto os povos 
indígenas possuem identidade social e cultural, costumes e tradições diferenciados, tendo, inclusive, um 
conceito de família mais amplo do que o conhecido pela sociedade comum, de maneira que o ideal é a 
manutenção do menor indígena em sua própria comunidade ou junto a membros da mesma etnia. A 
atuação do órgão indigenista visa justamente a garantir a proteção da criança e do jovem índio e de seu 
direito à cultura e à manutenção da convivência familiar, comunitária e étnica, tendo em vista que a 
colocação do menor indígena em família substituta não indígena deve ser considerada a última medida a 
ser adotada pelo Estado. 
3. A adoção de crianças indígenas por membros de sua própria comunidade ou etnia é prioritária e 
recomendável, visando à proteção de sua identidade social e cultural. Contudo, não se pode excluir a 
adoção fora desse contexto, pois o direito fundamental de pertencer a uma família sobrepõe-se ao de 
preservar a cultura, de maneira que, se a criança não conseguir colocação em família indígena, é 
inconcebível mantê-la em uma unidade de abrigo até sua maioridade, sobretudo existindo pessoas não 
indígenas interessadas em sua adoção. 
4. A ausência de intervenção obrigatória da FUNAI no processo de colocação de menor indígena em família 
substituta é causa de nulidade. A decretação de tal nulidade, contudo, deve ser avaliada em cada caso 
concreto, pois se, a despeito da não participação da FUNAI no processo, a adoção, a guarda ou tutela do 
menor indígena envolver tentativas anteriores de colocação em sua comunidade ou não for comprovado 
nenhum prejuízo ao menor, mas, ao contrário, forem atendidos seus interesses, não será recomendável 
decretar-se a nulidade do processo. (...) 
STJ. 3ª Turma. REsp 1566808/MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/09/2017. 
 
Competência da Justiça Federal 
Vale ressaltar que, havendo intervenção da FUNAI, o feito deverá ser apreciado pela Justiça Federal, nos 
termos do art. 109, I, da CF/88: 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas 
na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de 
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; 
 
Nesse sentido: STJ. Decisão monocrática. CC 133798/SC, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 
12/02/2015. 
 
 
 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
GUARDA 
Sentença que afastou criança do lar não impede pedido judicial de guarda pela mesma família 
 
Situação hipotética: um casal exerceu irregularmente a guarda de uma criança nos anos de 
2014 e 2016. O juiz, atendendo a pedido do Ministério Público, determinou que essa criança 
fosse levada a acolhimento institucional em razão de burla ao cadastro de adoção. Houve 
trânsito em julgado dessa decisão que determinou o afastamento da criança do convívio com 
essa família. 
Ocorre que se passaram quatro anos e a criança permanece no “abrigo”, sem que tenha sido 
adotada. 
Diante disso, em 2020, o casal formulou novo pedido de guarda alegando que existem vínculos 
socioafetivos entre a criança e a família. 
O STJ afirmou que é possível o deferimento do pedido. 
As ações que envolvam a guarda da criança, por suas características peculiares, são 
modificáveis com o tempo, bastando que exista a alteração das circunstâncias fáticas que 
justificaram a sua concessão, ou não, no passado. 
Assim, transitada em julgado a sentença de procedência do pedido de afastamento do convívio 
familiar de que resultou o acolhimento institucional da menor, quem exercia irregularmente 
a guarda e pretende adotá-la possui interesse jurídico para, após considerável lapso temporal, 
ajuizar ação de guarda cuja causa de pedir seja a modificação das circunstâncias fáticas que 
ensejaram o acolhimento, não lhe sendo oponível a coisa julgada que se formou na ação de 
afastamento. 
Em suma: o trânsito em julgado de sentença de procedência do pedido de afastamento do 
convívio familiar não é oponível a quem exercia a guarda irregularmente e, após considerável 
lapso temporal, pretende ajuizar ação de guarda cuja causa de pedir seja a modificação das 
circunstâncias fáticas. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.878.043-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Isabela, quando tinha 2 anos de idade, foi entregue por sua mãe biológica e registral para ser criada por 
João e Regina. A mãe alegou que não tinha condições de sustentar a filha. 
Vale ressaltar que essa entrega foi feita de modo informal. 
O casal cuidou de Isabela de 2014 até 2016. Isso porque a situação foi descoberta pelo Conselho Tutelar, 
que informou o fato ao Ministério Público. 
O Promotor de Justiça ajuizou ação contra o casal argumentando que eles estavam exercendo 
irregularmente a guarda da criança. O MP pediu ao juiz que a menor fosse encaminhada ao acolhimento 
institucional (“abrigo”) em razão de a guarda exercida pelo casal representar “burla” ao cadastro de 
adoção. 
O juiz acolheu o pedido e a criança foi tirada do convívio do casal e encaminhada a um abrigo. 
A decisão transitou em julgado. 
Ocorre que se passaram 4 anos e a criança permanece no “abrigo”, sem que tenha sido adotada. 
Diante disso, em 2020, o casal formulou novo pedido de guarda alegando que existem vínculos 
socioafetivos entre a criança e a família. 
O Ministério Público manifestou-se contrariamente afirmando que, como houve o trânsito em julgado, 
não é possível o deferimento da guarda nessa nova ação. 
 
É possível o deferimento do pedido? O casal poderá obter a guarda da criança? 
SIM. 
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Informativo 679-STJ (09/10/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
As ações que envolvam a guarda da criança, por suas características peculiares, são modificáveis com o 
tempo, bastando que exista a alteração das circunstâncias fáticas que justificaram a sua concessão, ou 
não, no passado. Nesse sentido: 
“Por fim, sem qualquer alteração, determina o art. 35 da Lei 8.069/1990 que a guarda poderá ser 
revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamento, ouvido o Ministério Público, 
sempre tendo como parâmetro o princípio de proteção integral ou de melhor interesse da criança. 
Justamente por isso é que a jurisprudência tem apontado que a decisão quanto à guarda não faz 
coisa julgada material. (TARTUCE, Flávio. Direito Civil Vol. 5:

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