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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 681-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CIVIL 
BEM DE FAMÍLIA 
▪ Para a incidência da exceção à impenhorabilidade do bem de família, prevista no art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90, é 
imprescindível a sentença penal condenatória transitada em julgado. 
 
DIREITOS AUTORAIS 
▪ A utilização do trecho de maior sucesso de uma música como título de programa televisivo, em conjunto com o 
fonograma, sem autorização do titular do direito, viola os direitos do autor. 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS IMÓVEIS 
▪ Nos contratos de mútuo imobiliário com pacto adjeto de alienação fiduciária, é possível que o devedor fiduciante 
faça a purgação da mora após a consolidação da propriedade em nome do fiduciário? 
 
PRISÃO CIVIL 
▪ É ilegal/teratológica a prisão civil do devedor de alimentos, sob o regime fechado, no período de pandemia, anterior 
ou posterior à Lei nº 14.010/2020. 
▪ Não pode ser decretada a prisão civil do devedor de alimentos devidos em razão da prática de ato ilícito. 
 
USUFRUTO VIDUAL 
▪ A viúva meeira não faz jus ao usufruto vidual previsto no art. 1.611, § 1º, do Código Civil de 1916. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO 
▪ Consumidor que, em ação redibitória, recebeu a restituição do valor pago, deve devolver o veículo com defeito ao 
vendedor mesmo que na sentença essa obrigação não tenha ficado expressamente prevista. 
 
PLANO DE SAÚDE 
▪ A operadora de plano de saúde não é obrigada a custear o procedimento de fertilização in vitro associado ao 
tratamento de endometriose profunda. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
TÍTULOS DE CRÉDITO (DUPLICATA) 
▪ A assinatura do sacador/emitente da duplicata é requisito que pode ser suprido por outro meio. 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
▪ Juiz deferiu a recuperação judicial; TJ reformou a decisão; STJ restaurou o entendimento de 1ª instância deferindo 
a recuperação; entre a decisão do TJ e do STJ os atos executivos praticados em execuções individuais são nulos. 
▪ O cômputo do período de dois anos de exercício da atividade econômica, para fins de recuperação judicial, nos 
termos do art. 48 da Lei 11.101/2005, aplicável ao produtor rural, inclui aquele anterior ao registro do 
empreendedor. 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
▪ São devidos os honorários de sucumbência ao procurador que não participou de acordo firmado entre as partes, 
realizado e homologado antes do trânsito em julgado da sentença que fixou tal verba. 
▪ O fato de estar caracterizada a sucumbência recíproca não afasta a condenação das partes litigantes ao pagamento 
de honorários de sucumbência. 
▪ O art. 85, § 11 do CPC trata sobre a possibilidade, na fase de recurso, haver a majoração dos honorários advocatícios. 
É cabível a majoração dos honorários advocatícios com base no § 11 do art. 85 do CPC mesmo que na sentença 
tenha sido reconhecida a sucumbência recíproca? 
 
PRECATÓRIO 
▪ É imprescritível a pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV, após o cancelamento de que trata o art. 
2º da Lei nº 13.463/2017? 
 
EMBARGOS À EXECUÇÃO 
▪ A caução prestada em ação conexa pode ser aceita como garantia do juízo para a concessão de efeito suspensivo a 
embargos à execução. 
 
DIREITO PENAL 
TEMAS DA PARTE GERAL / CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA 
▪ A teoria do domínio do fato não permite, isoladamente, que se faça uma acusação pela prática de qualquer crime, 
eis que a imputação deve ser acompanhada da devida descrição, no plano fático, do nexo de causalidade entre a 
conduta e o resultado delituoso. 
 
ESTUPRO DE VULNERÁVEL 
▪ A irmã de vítima do crime de estupro de vulnerável responde por conduta omissiva imprópria se assume o papel de 
garantidora. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
COMPETÊNCIA 
▪ A Justiça do Distrito Federal é a competente para julgar o crime de falso testemunho praticado em processos sob 
sua jurisdição. 
 
PRISÃO E LIBERDADE 
▪ Em razão da Covid-19, o STJ determinou a soltura de todos os presos que tiveram a liberdade provisória 
condicionada ao pagamento de fiança. 
 
EXECUÇÃO PENAL (PROGRESSÃO DE REGIME) 
▪ A progressão de regime do reincidente não específico em crime hediondo ou equiparado com resultado morte deve 
observar o que previsto no inciso VI, “a”, do art. 112 da LEP. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
CONTRIBUIÇÕES 
▪ As receitas decorrentes das operações de vendas de mercadorias destinadas à Zona Franca de Manaus devem ser 
excluídas da base de cálculo da contribuição previdenciária sobre a receita bruta (CPRB). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
DIREITO CIVIL 
 
BEM DE FAMÍLIA 
Para a incidência da exceção à impenhorabilidade do bem de família, prevista no art. 3º, VI, da 
Lei nº 8.009/90, é imprescindível a sentença penal condenatória transitada em julgado 
 
Importante!!! 
O inciso VI do art. 3º da Lei nº 8.009/90 afirma que é possível a penhora do bem de família 
caso ele tenha “sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal 
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens”. 
Para a incidência da exceção prevista no art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90, é indispensável que a 
sentença penal condenatória já tenha transitada em julgado, por não ser possível a 
interpretação extensiva. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.823.159-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/10/2020 (Info 681). 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.021.440/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/05/2013. 
 
Bem de família legal 
A Lei nº 8.009/90 prevê a impenhorabilidade do bem de família. 
Trata-se daquilo que a doutrina chama de “bem de família legal”. 
• Regra: o bem de família legal é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, 
comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que 
sejam seus proprietários e nele residam (art. 1º). 
• Exceções: o art. 3º da Lei nº 8.009/90 prevê situações nas quais o bem de família poderá ser penhorado. 
Confira a redação do texto legal: 
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, 
previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: 
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do 
imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; 
III - pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu 
coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em 
que ambos responderão pela dívida; 
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do 
imóvel familiar; 
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela 
entidade familiar; 
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória 
a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens. 
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. 
 
Inciso VI 
O inciso VI prevê que o bem de família pode ser penhorado se: 
• o bem em questão tiver sido adquirido como produto de crime; ou 
• em caso de execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de 
bens. 
 
É necessário o trânsito em julgado da sentença penal condenatória? 
SIM. 
 Informativocomentado 
 
 
Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
Para a incidência da exceção prevista no art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90, é indispensável que a sentença 
penal condenatória já tenha transitada em julgado. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.823.159-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/10/2020 (Info 681). 
 STJ. 4ª Turma. REsp 1.021.440/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/05/2013. 
 
Por se tratar de regra que excepciona a impenhorabilidade do bem de família e decorre automaticamente 
de sentença penal condenatória, o STJ afirma que não é possível se fazer uma interpretação extensiva do 
dispositivo. 
 
 
 
DIREITOS AUTORAIS 
A utilização do trecho de maior sucesso de uma música como título de programa televisivo, em 
conjunto com o fonograma, sem autorização do titular do direito, viola os direitos do autor 
 
Caso concreto: a música de maior sucesso do cantor de funk MC Leozinho é intitulada “Ela só 
pensa em beijar”. No refrão da música existe a seguinte frase: “Se ela dança, eu danço”. 
Alguns anos depois da música ser lançada, a produtora do cantor recebeu um e-mail no qual o 
SBT pediu para usar a obra na abertura de um programa, mas, em virtude do baixo valor 
oferecido e dos interesses comerciais que mantinha com outra emissora, o cantor não 
concedeu a autorização. A despeito disso, alguns meses depois, o programa estreou, tendo se 
apropriado do refrão, como nome, e do fonograma, como fundo musical. 
Em sua defesa, o SBT sustentou que o envio do e-mail para a produtora do cantor, no qual 
solicitou autorização para utilizar a música, foi feito nos termos previstos em ajuste existente 
entre as partes, e que a falta de resposta significaria autorização tácita. 
O STJ não concordou com o argumento porque considera que o uso de obra literária, artística 
ou científica depende de autorização expressa e prévia do autor, nos termos do art. 29 da Lei 
de Direitos Autorais (Lei nº 9.618/98). 
A escolha do trecho de maior sucesso da obra musical como título de programa televisivo e 
seu uso em conjunto com o fonograma, gerou uma associação inadequada do autor da obra 
musical com a emissora, que utilizou o sucesso da música como título em sua programação 
semanal também como forma de atrair audiência. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.704.189-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/10/2020 (Info 681). 
 
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: 
A música de maior sucesso do cantor de funk MC Leozinho é intitulada “Ela só pensa em beijar”. 
No refrão da música existe a seguinte frase: “Se ela dança, eu danço”. 
Alguns anos depois da música ser lançada, a produtora do cantor recebeu um e-mail no qual o SBT pediu 
para usar a obra na abertura de um novo programa de TV que seria lançado. 
Em virtude do baixo valor oferecido e dos interesses comerciais que mantinha com outra emissora, o 
cantor não concedeu a autorização. 
A despeito disso, alguns meses depois, o programa estreou, tendo se apropriado do refrão, como nome, 
e do fonograma, como fundo musical. 
Diante disso, o cantor ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a emissora. 
Em sua defesa, o SBT sustentou que o envio do e-mail para a produtora do cantor, no qual solicitou 
autorização para utilizar a música, foi feito nos termos previstos em ajuste existente entre as partes, e que 
a falta de resposta significaria autorização tácita. 
 
A questão chegou até o STJ por meio de recurso especial. O STJ acolheu a alegação da emissora? 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
NÃO. O STJ não concordou com o argumento porque considera que o uso de obra literária, artística ou 
científica depende de autorização expressa do autor, nos termos do art. 29 da Lei de Direitos Autorais (Lei 
nº 9.618/98), não podendo ser presumida: 
Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer 
modalidades, tais como: 
(...) 
 
Desse modo, não há falar em autorização tácita por ausência de resposta ao e-mail enviado pela ré. 
 
Os direitos de conteúdo patrimonial do autor estão relacionados ao aproveito econômico que poderá ser 
obtido com a exploração comercial da obra. Há configuração de ato ilícito quando sua utilização não 
observa o disposto no art. 29 da LDA. 
 
Art. 46, III, da LDA 
Outro argumento da emissora foi o de que foi utilizado um pequeno trecho da obra, de sorte que não 
configurou ofensa a direitos autorais. 
O STJ também não concordou com a alegação. 
A citação de pequenos trechos de obras preexistentes não constituirá ofensa aos direitos autorais desde 
que não tenha caráter de completude nem prejudique a sua exploração, pelo titular do direito, da obra 
reproduzida, na forma do art. 46, VIII, da LDA: 
Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: 
(...) 
VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer 
natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja 
o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida 
nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores. 
 
No caso, a escolha do trecho de maior sucesso da obra musical como título de programa televisivo e seu 
uso em conjunto com o fonograma, gerou uma associação inadequada do autor da obra musical com a 
emissora, que utilizou o sucesso da música como título em sua programação semanal também como forma 
de atrair audiência. 
A utilização da expressão “Se ela dança, eu danço”, no caso concreto, configurou ofensa ao direito do 
autor e não um mero uso acessório de trecho de obra musical, não estando acobertada pelo art. 46, VIII, 
da LDA. 
 
Em suma: 
A escolha do trecho de maior sucesso da obra musical como título de programa televisivo e seu uso em 
conjunto com o fonograma, gerou uma associação inadequada do autor da obra musical com a 
emissora, que utilizou o sucesso da música como título em sua programação semanal também como 
forma de atrair audiência. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.704.189-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/10/2020 (Info 681). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS IMÓVEIS 
Nos contratos de mútuo imobiliário com pacto adjeto de alienação fiduciária, é possível que o devedor 
fiduciante faça a purgação da mora após a consolidação da propriedade em nome do fiduciário? 
 
Exemplo: João celebrou com a CEF contrato de alienação fiduciária para a compra de seu 
imóvel residencial. João comprometeu-se a pagar a dívida em 180 prestações. Ocorre que, por 
dificuldades financeiras, o mutuário/fiduciante tornou-se inadimplente. Havendo mora por 
parte do mutuário, o credor deverá fazer a notificação extrajudicial (“intimação”) do devedor 
de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora. Se, passados 15 dias da 
intimação, o fiduciante não pagar a dívida (purgar a mora), o art. 26 da Lei nº 9.514/97 afirma 
que ocorre a consolidação da propriedade em nome do fiduciário. 
Após a consolidação da propriedade, a Lei impõe ao fiduciário a obrigação de tentar alienar o 
imóvel por meio de leilão público (art. 27). 
É possível que o devedor fiduciante faça a purgação da mora após a consolidação da 
propriedade em nome do fiduciário? 
a) antes da entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017: SIM. Mesmo que já consolidada a 
propriedade do imóvel dado em garantia em nome do credor fiduciário, era possível a 
purgação da mora. A purgação era admitida até a assinatura do auto de arrematação. 
b) a partirda entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017: NÃO. 
Nos contratos de mútuo imobiliário com pacto adjeto de alienação fiduciária, com a entrada 
em vigor da Lei nº 13.465/2017, não se admite a purgação da mora após a consolidação da 
propriedade em favor do credor fiduciário, sendo assegurado ao devedor fiduciante tão 
somente o exercício do direito de preferência. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.649.595-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/10/2020 (Info 681). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João quer comprar uma casa, mas não possui o dinheiro suficiente. Diante disso, ele procurou a Caixa 
Econômica Federal (CEF), que celebrou com ele contrato de financiamento com garantia de alienação 
fiduciária. 
Assim, a CEF emprestou a João o dinheiro suficiente para comprar o imóvel. Como garantia do pagamento 
do empréstimo, a propriedade resolúvel da casa ficará com o banco e João terá a posse, podendo usar 
livremente o bem. 
Diz-se que o banco tem a propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do 
imóvel pelo banco “resolve-se” (acaba) e ela passa a pertencer a João. 
 
Inadimplemento 
João comprometeu-se a pagar a dívida em 180 prestações. 
Ocorre que, por dificuldades financeiras, o mutuário/fiduciante tornou-se inadimplente. 
Havendo mora por parte do mutuário, o credor deverá fazer a notificação extrajudicial (“intimação”) do 
devedor de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora. 
Se, passados 15 dias da intimação, o fiduciante não pagar a dívida (purgar a mora), o art. 26 da Lei nº 
9.514/97 afirma que ocorre a consolidação da propriedade em nome do fiduciário: 
Art. 26. Vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e constituído em mora o fiduciante, 
consolidar-se-á, nos termos deste artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário. 
(...) 
 
Para que serve essa intimação? 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
O devedor é notificado para ter a possibilidade de purgar a mora, no prazo de 15 dias, mediante o 
pagamento das prestações vencidas e não pagas. Veja o que diz o § 1º do art. 26: 
Art. 26 (...) 
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, o fiduciante, ou seu representante legal ou procurador 
regularmente constituído, será intimado, a requerimento do fiduciário, pelo oficial do competente 
Registro de Imóveis, a satisfazer, no prazo de quinze dias, a prestação vencida e as que se 
vencerem até a data do pagamento, os juros convencionais, as penalidades e os demais encargos 
contratuais, os encargos legais, inclusive tributos, as contribuições condominiais imputáveis ao 
imóvel, além das despesas de cobrança e de intimação. 
 
Se o devedor purgar a mora 
Se o devedor purgar a mora, o contrato de alienação fiduciária se convalescerá (§ 5º do art. 26). 
O oficial do Registro de Imóveis, nos três dias seguintes à purgação da mora, entregará ao fiduciário 
(banco) as importâncias recebidas, deduzidas as despesas de cobrança e de intimação. 
 
Se o devedor não purgar a mora 
Se passarem os 15 dias sem que o devedor purgue a mora, o oficial do Registro de Imóveis irá certificar 
esse fato e promoverá a averbação, na matrícula do imóvel, da consolidação da propriedade em nome do 
fiduciário (§ 7º do art. 26). Em outras palavras, o fiduciário (credor) torna-se o proprietário pleno. 
Vale ressaltar que, antes de fazer a consolidação da propriedade, o registrador deverá exigir do fiduciário 
o pagamento do imposto de transmissão inter vivos (ITBI) e, se for o caso, do laudêmio. 
Após a consolidação da propriedade, a Lei impõe ao fiduciário a obrigação de tentar alienar o imóvel por 
meio de leilão público: 
Art. 27. Uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o fiduciário, no prazo de trinta dias, 
contados da data do registro de que trata o § 7º do artigo anterior, promoverá público leilão para 
a alienação do imóvel. 
(...) 
 
Vimos acima que o devedor possui o prazo de 15 dias após a intimação para purgar a mora. Indaga-se: 
é possível que o devedor fiduciante faça a purgação da mora após a consolidação da propriedade em 
nome do fiduciário? 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BEM IMÓVEL 
É possível que o devedor fiduciante faça a purgação da mora mesmo após 
já ter ocorrido a consolidação da propriedade em nome do fiduciário? 
Antes da entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017: 
SIM (era possível) 
A partir da entrada em vigor da Lei 13.465/2017: 
NÃO (não é mais possível) 
Mesmo que já consolidada a propriedade do 
imóvel dado em garantia em nome do credor 
fiduciário, era possível a purgação da mora. 
A purgação era admitida até a assinatura do auto 
de arrematação. 
Nos contratos de mútuo imobiliário com pacto 
adjeto de alienação fiduciária, com a entrada em 
vigor da Lei nº 13.465/2017, não se admite a 
purgação da mora após a consolidação da 
propriedade em favor do credor fiduciário, sendo 
assegurado ao devedor fiduciante tão somente o 
exercício do direito de preferência. 
A purgação da mora era permitida até a assinatura 
do auto de arrematação, com base no art. 34 do 
DL 70/1966, aplicado subsidiariamente às 
A Lei nº 13.465/2017 introduziu o § 2º-B ao art. 27 
à Lei nº 9.514/97 prevendo que, após a 
consolidação da propriedade fiduciária, o devedor 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
operações de financiamento imobiliário relativas à 
Lei nº 9.514/97. 
fiduciante só terá o direito de preferência para 
adquirir o imóvel. A doutrina e a jurisprudência 
interpretaram que, ao afirmar isso, o dispositivo 
proibiu a purgação da mora após a consolidação 
da propriedade. 
 
Confira a redação do § 2º-B do art. 27: 
Art. 27 (...) 
§ 2º-B. Após a averbação da consolidação da propriedade fiduciária no patrimônio do credor 
fiduciário e até a data da realização do segundo leilão, é assegurado ao devedor fiduciante o 
direito de preferência para adquirir o imóvel por preço correspondente ao valor da dívida, somado 
aos encargos e despesas de que trata o § 2º deste artigo, aos valores correspondentes ao imposto 
sobre transmissão inter vivos e ao laudêmio, se for o caso, pagos para efeito de consolidação da 
propriedade fiduciária no patrimônio do credor fiduciário, e às despesas inerentes ao 
procedimento de cobrança e leilão, incumbindo, também, ao devedor fiduciante o pagamento dos 
encargos tributários e despesas exigíveis para a nova aquisição do imóvel, de que trata este 
parágrafo, inclusive custas e emolumentos. (Incluído pela Lei nº 13.465/2017) 
 
Sobrevindo a Lei nº 13.465, de 11/07/2017, que introduziu no art. 27 da Lei nº 9.514/97 o § 2º-B, não se 
cogita mais da aplicação subsidiária do Decreto-Lei nº 70/1966, uma vez que, consolidada a propriedade 
fiduciária em nome do credor fiduciário, descabe ao devedor fiduciante a purgação da mora, sendo-lhe 
garantido apenas o exercício do direito de preferência na aquisição do bem imóvel objeto de propriedade 
fiduciária. 
 
Em suma: 
Antes da entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017: mesmo que já consolidada a propriedade do imóvel 
dado em garantia em nome do credor fiduciário, era possível a purgação da mora. A purgação era 
admitida até a assinatura do auto de arrematação. 
A partir da entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017: não se admite a purgação da mora após a 
consolidação da propriedade em favor do credor fiduciário, sendo assegurado ao devedor fiduciante tão 
somente o exercício do direito de preferência. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.649.595-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/10/2020 (Info 681). 
 
 
 
PRISÃO CIVIL 
É ilegal/teratológica a prisão civil do devedor de alimentos, sob o regime fechado, 
no período depandemia, anterior ou posterior à Lei nº 14.010/2020 
 
Como ficou a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19? 
Antes da Lei nº 14.010/2020: 
• 4ª Turma do STJ e CNJ: entendiam que a prisão civil por dívida alimentar deveria ser 
cumprida em prisão domiciliar. 
• 3ª Turma do STJ: afirmava que, durante a pandemia de Covid-19, deveria ser suspensa a 
prisão civil dos devedores (e não assegurar a prisão domiciliar). 
Depois da Lei nº 14.010/2020: 
A Lei nº 14.010/2020 adotou a mesma solução jurídica da 4ª Turma do STJ e do CNJ e previu o 
seguinte: 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 
3º e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser 
cumprida exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das 
respectivas obrigações. 
Desse modo, o certo é que, seja antes ou depois da Lei nº 14.010/2020, o devedor de alimentos 
não poderia permanecer preso no regime fechado durante a pandemia da Covid-19. 
STJ. 3ª Turma. HC 569.014-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/10/2020 (Info 681). 
 
Pandemia decorrente da Covid-19 
A pandemia decorrente da Covid-19 levou os governos a adotarem uma série de medidas de isolamento 
social para tentar conter a transmissão da doença. 
Uma das preocupações era com a transmissão da doença entre as pessoas presas. 
Como as unidades prisionais são superlotadas, o receio era o de que, estando um dos presos infectado, 
ele transmitisse a doença para todos os demais de sua cela ou ala. 
O CNJ editou a Recomendação nº 62/2020 recomendando aos Tribunais e magistrados a adoção de 
medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo coronavírus – Covid-19 no âmbito dos sistemas 
de justiça penal e socioeducativo. 
 
Prisão civil decorrente de alimentos 
Em razão do cenário acima exposto, iniciou-se uma discussão para saber se as prisões civis decorrentes de 
atraso no pagamento da pensão alimentícia poderiam continuar sendo decretadas ou se, diante do risco 
à saúde pública, seria mais adequado suspendê-las enquanto perdurassem os efeitos da pandemia. 
 
O que o STJ decidiu sobre o tema? 
O QUE O STJ ENTENDIA SOBRE A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS 
NA PANDEMIA DA COVID-19 (ANTES DA LEI 14.010/2020)? 
4ª Turma do STJ e CNJ: prisão domiciliar 
Durante a pandemia de Covid-19, deve-se 
assegurar prisão domiciliar aos presos em 
decorrência de dívidas alimentícias. 
3ª Turma do STJ: suspensa 
Durante a pandemia de Covid-19, deve-se 
suspender a prisão civil dos devedores (e não 
assegurar a prisão domiciliar). 
O contexto atual de gravíssima pandemia devido 
ao chamado coronavírus desaconselha a 
manutenção do devedor em ambiente fechado, 
insalubre e potencialmente perigoso. 
Assim, diante do iminente risco de contágio pelo 
Covid-19, bem como em razão dos esforços 
expendidos pelas autoridades públicas em reduzir 
o avanço da pandemia, é recomendável o 
cumprimento da prisão civil por dívida alimentar 
em prisão domiciliar. 
STJ. 4ª Turma. HC 561.257-SP, Rel. Min. Raul 
Araújo, julgado em 05/05/2020 (Info 671). 
 
Recomendação nº 62/2020-CNJ: 
Art. 6º Recomendar aos magistrados com 
competência cível que considerem a colocação em 
prisão domiciliar das pessoas presas por dívida 
alimentícia, com vistas à redução dos riscos 
Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus 
(covid-19), admite-se, excepcionalmente, a 
suspensão da prisão dos devedores por dívida 
alimentícia em regime fechado. 
Assegurar aos presos por dívidas alimentares o 
direito à prisão domiciliar é medida que não 
cumpre o mandamento legal e que fere, por vias 
transversas, a própria dignidade do alimentando. 
Por esse motivo, não é plausível substituir o 
encarceramento pelo confinamento social, o que, 
aliás, já é a realidade da maioria da população, 
isolada em prol do bem-estar de toda a 
coletividade. 
A excepcionalidade da situação emergencial de 
saúde pública permite o diferimento (adiamento) 
provisório da execução da obrigação cível 
enquanto durar a pandemia. 
A prisão civil suspensa terá seu cumprimento no 
momento processual oportuno, já que a dívida 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
epidemiológicos e em observância ao contexto 
local de disseminação do vírus. 
 
 
alimentar remanesce íntegra. Essa medida 
resguarda a dignidade do alimentando que, em 
regra, é vulnerável. 
STJ. 3ª Turma. HC 574.495-SP, Rel. Min. Ricardo Villas 
Bôas Cueva, julgado em 26/05/2020 (Info 673). 
 
 
Lei nº 14.010/2020 
Depois das decisões acima expostas, foi sancionada a Lei nº 14.010/2020, que adotou a mesma solução 
jurídica da 4ª Turma do STJ e do CNJ e previu a seguinte regra: 
Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e 
seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida 
exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações. 
 
Diante disso, a 3ª Turma do STJ também teve que se curvar ao entendimento: 
A Lei 14.010/2020, ao estatuir acerca do Regime Jurídico Emergencial Regime Jurídico Emergencial e 
Transitório das relações jurídicas de Direito Privado (RJET) no período da pandemia do coronavírus (Covid-
19), dispôs expressamente, em seu art. 15, acerca do cumprimento da prisão civil por dívida alimentar, 
determinando que seja feito exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade 
das respectivas obrigações. 
STJ. 3ª Turma. HC 578.282/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 25/08/2020. 
 
Regime fechado, não 
Repare que, independentemente de qual das duas correntes acima fosse adotada, o certo é que, durante 
a pandemia da Covid-19, o devedor de alimentos não poderia permanecer preso em unidade prisional 
utilizada para presos do regime fechado. Foi isso que decidiu o STJ: 
 É ilegal/teratológica a prisão civil do devedor de alimentos, sob o regime fechado, no período de 
pandemia, anterior ou posterior à Lei nº 14.010/2020. 
Desse modo, seja antes ou depois da Lei nº 14.010/2020, o devedor de alimentos não poderia 
permanecer preso no regime fechado durante a pandemia da Covid-19. 
STJ. 3ª Turma. HC 569.014-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/10/2020 (Info 681). 
 
 
PRISÃO CIVIL 
Não pode ser decretada a prisão civil do devedor de alimentos 
devidos em razão da prática de ato ilícito 
 
Importante!!! 
Os alimentos devidos em razão da prática de ato ilícito possuem natureza indenizatória (arts. 
948, 950 e 951 do Código Civil) e, portanto, não se aplica o rito excepcional da prisão civil como 
meio coercitivo para o adimplemento. 
Exemplo: João cometeu homicídio contra Pedro e foi condenado a pagar pensão mensal de 3 
salários mínimos aos filhos da vítima. Caso ele se torne inadimplente, o juiz não poderá 
decretar prisão civil como meio coercitivo para o pagamento. 
STJ. 4ª Turma. HC 523.357-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 01/09/2020 (Info 681). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João cometeu homicídio culposo contra Pedro e foi condenado a penas restritivas de direito. 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
No juízo cível, João foi condenado a pagar pensão mensal de 3 salários mínimos aos filhos da vítima. 
Depoisde algum tempo pagando regularmente as prestações, João tornou-se inadimplente. 
Diante disso, os filhos de Pedro ingressaram com pedido de execução de alimentos sob o rito do art. 528 
do CPC/2015 pedindo a prisão civil do devedor: 
Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou 
de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará 
intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou 
justificar a impossibilidade de efetuá-lo. 
 
Será possível a decretação da prisão civil do devedor, neste caso? 
NÃO. 
Não pode ser decretada a prisão civil do devedor de alimentos devidos em razão da prática de ato ilícito. 
STJ. 4ª Turma. HC 523.357-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 01/09/2020 (Info 681). 
 
Classificação dos alimentos quanto à origem 
Os alimentos, de acordo com a causa de sua origem, podem ser classificados em três espécies: 
a) legítimos (devidos por força de vínculo familiar estabelecido em lei); 
b) voluntários/negociais (derivados de negócio jurídico); ou 
c) indenizatórios (em razão de ato ilícito). 
 
Obrigação alimentar decorrente de ato ilícito é diferente da obrigação alimentar decorrente de vínculo 
familiar 
A obrigação de prover a subsistência dos dependentes da vítima de ato ilícito possui natureza diversa da 
obrigação alimentar de direito de família. 
Os alimentos decorrentes de ato ilícito (letra “c”) são considerados como indenização, conforme se verifica 
da leitura dos seguintes artigos do Código Civil: 
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: 
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; 
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração 
provável da vida da vítima. 
 
Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou 
profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do 
tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à 
importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. 
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga 
de uma só vez. 
 
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por 
aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, 
causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho. 
 
Na obrigação alimentar decorrente de ato ilícito fala-se em “alimentos” apenas como uma referência, no 
entanto, consiste realmente em uma indenização. 
Ao comentar o art. 948, II, do Código Civil, acima transcrito, Sérgio Cavalieri Filho explica: 
“A alusão a alimentos contida no inciso II do dispositivo em comento é simples ponto de referência 
para o cálculo da indenização e para a determinação dos beneficiários. Tem por finalidade orientar 
o julgador para o quantum da indenização. Não se trata de prestação de alimentos, que fixa em 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada, e sim de 
indenização, que visa reparar, pecuniariamente, o mal originado do ato ilícito.” (Programa de 
Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 11ª ed., p. 160-161) 
 
OBRIGAÇÃO ALIMENTAR 
Decorrente de vínculo familiar Decorrente da prática de ato ilícito 
Os alimentos civis/naturais devem 
necessariamente levar em consideração o binômio 
necessidade-possibilidade para a sua fixação, 
estando sujeitos à reavaliação para mais ou para 
menos, a depender das circunstâncias fáticas 
ocorridas na vida dos sujeitos da relação jurídica. 
Os “alimentos” indenizatórios são arbitrados em 
quantia fixa, pois são medidos pela extensão do 
dano, de forma a ensejar, na medida do possível, 
o retorno ao status quo ante. 
Não possuem natureza indenizatória. Possuem natureza indenizatória. 
 
Com base nessa premissa, ou seja, na distinção entre obrigação alimentar propriamente dita e obrigação 
de ressarcimento de prejuízo decorrente de ato ilícito, o STJ afirma que somente no primeiro caso 
(obrigação alimentar decorrente de direito de família) é cabível a prisão civil do devedor de obrigação de 
prestar alimentos. 
 
Prisão civil é medida excepcional e taxativa 
A prisão civil do devedor de alimentos é prevista no texto constitucional, sendo considerada, no entanto, 
hipótese excepcional e taxativa: 
Art. 5º (...) 
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário 
e inescusável de obrigação alimentícia (...); 
 
Qualquer outra previsão de prisão civil ou mesmo uma interpretação ampliativa serão consideradas 
inconstitucionais. 
Assim, o alargamento das hipóteses de prisão civil, para alcançar também prestação de alimentos de 
caráter indenizatório acaba por enfraquecer a regra do art. 5º, LXVII, da CF/88, sendo, por isso mesmo, 
inconstitucional. 
 
Em suma: 
Não pode ser decretada a prisão civil do devedor de alimentos devidos em razão da prática de ato ilícito. 
Os alimentos devidos em razão da prática de ato ilícito possuem natureza indenizatória (arts. 948, 950 
e 951 do Código Civil) e, portanto, não se aplica o rito excepcional da prisão civil como meio coercitivo 
para o adimplemento. 
Exemplo: João cometeu homicídio contra Pedro e foi condenado a pagar pensão mensal de 3 salários 
mínimos aos filhos da vítima. Caso ele se torne inadimplente, o juiz não poderá decretar prisão civil 
como meio coercitivo para o pagamento. 
STJ. 4ª Turma. HC 523.357-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 01/09/2020 (Info 681). 
 
 
 
 
 
 
 
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USUFRUTO VIDUAL 
A viúva meeira não faz jus ao usufruto vidual previsto no art. 1.611, § 1º, do Código Civil de 1916 
 
O usufruto vidual era um instituto previsto no art. 1.611, § 1º do Código Civil de 1916, nos 
seguintes termos: 
Art. 1.611 (...) § 1º O cônjuge viúvo, se o regime de bens do casamento não era o da comunhão 
universal, terá direito, enquanto durar a viuvez, ao usufruto da quarta parte dos bens do 
cônjuge falecido, se houver filhos, deste ou do casal, e à metade, se não houver filhos embora 
sobrevivam ascendentes do de cujus. 
O objetivo era garantir um mínimo necessário ao cônjuge que não tinha direito à herança do 
falecido. 
Na interpretação teleológica do instituto, não faz jus ao usufruto legal a que alude o art. 1.611, 
§ 1º, do Código Civil revogado, a viúva meeira. Isso porque ela já foi contemplada com parcela 
significativa do patrimônio, afastando a necessidade econômica autorizativa da benesse. 
No caso concreto, o STJ negou a uma viúva o reconhecimento do usufruto vidual porque a 
mulher já havia sido contemplada com a meação de bens. Além disso, já tinha havido a 
separação de corpos, ocorrida dois anos antes do falecimento. 
Obs: o Código Civil de 2002 não previu o usufruto vidual, porém, em compensação, estendeu o 
direito real de habitação a todos os regimes de bens (art. 1.831), sem as restrições então 
previstas. Além disso, o cônjuge passou a ser herdeiro necessário. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.280.102-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 13/10/2020 (Info 681). 
 
Usufruto vidual 
O usufruto vidual era um instituto previsto no art. 1.611, § 1º do Código Civil de 1916, nos seguintes termos: 
Art. 1.611 (...) 
§ 1º O cônjuge viúvo, se o regimede bens do casamento não era o da comunhão universal, terá 
direito, enquanto durar a viuvez, ao usufruto da quarta parte dos bens do cônjuge falecido, se 
houver filhos, deste ou do casal, e à metade, se não houver filhos embora sobrevivam ascendentes 
do de cujus. 
 
O objetivo era garantir um mínimo necessário ao cônjuge que não tinha direito à herança do falecido. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
Em 30/10/1982, João e Regina casaram-se, optando pelo regime da comunhão parcial de bens. 
Em 04/09/1998, por decisão judicial, houve a separação de corpos do casal e eles passaram a morar em 
locais diferentes, deixando de ter uma vida em comum. 
Em 10/11/2000, João faleceu. 
Embora houvesse ação de separação litigiosa em trâmite, a separação judicial não chegou a ser decretada, 
em razão do falecimento do varão. 
Na partilha de bens decorrente da morte de João, Regina recebeu metade dos bens deixados pelo de cujus, 
ou seja, foi meeira. 
 
Regina terá direito ao usufruto vidual? 
NÃO. 
Na interpretação teleológica do instituto, não faz jus ao usufruto legal a que alude o art. 1.611, § 1º, do 
Código Civil revogado, a viúva meeira. Isso porque ela já foi contemplada com parcela significativa do 
patrimônio, afastando a necessidade econômica autorizativa da benesse. 
Neste caso a viúva meeira já teve o mínimo existencial para a sua manutenção. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.280.102-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 13/10/2020 (Info 681). 
 Informativo 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
 
Código Civil de 2002 
OCódigo Civil de 2002 não previu o usufruto vidual, porém, em compensação, estendeu o direito real de 
habitação a todos os regimes de bens (art. 1.831), sem as restrições então previstas. Além disso, o cônjuge 
passou a ser herdeiro necessário. 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO 
Consumidor que, em ação redibitória, recebeu a restituição do valor pago, deve devolver o 
veículo com defeito ao vendedor mesmo que na sentença essa obrigação não tenha ficado 
expressamente prevista 
 
Caso concreto: consumidor adquiriu veículo, que apresentou diversos problemas após a 
compra, tornando-se inadequado ao uso. Consumidor propôs ação redibitória contra a 
concessionária, pedindo a devolução do preço pago. A sentença foi procedente tendo o juiz 
determinado a restituição da quantia gasta com a aquisição do carro. Não falou nada, contudo, 
sobre a devolução do carro à concessionária. Com o trânsito em jugado, o consumidor deu 
início do cumprimento de sentença. A concessionária restituiu o valor pago e pediu a 
devolução do veículo usado. O juiz negou o pleito afirmando que no título executivo não 
constou nenhum comando para que o consumidor devolvesse o automóvel. 
Não agiu corretamente o magistrado. 
É obrigatória a devolução de veículo considerado inadequado ao uso após a restituição do 
preço pelo fornecedor no cumprimento de sentença prolatada em ação redibitória. 
Acolhida a pretensão redibitória do consumidor, rescinde-se o contrato de compra e venda, 
retornando as partes à situação anterior à sua celebração (status quo ante), sendo uma das 
consequências automáticas da sentença a sua eficácia restitutória, com a restituição 
atualizada do preço pelo vendedor e devolução da coisa adquirida pelo comprador. 
Constitui obrigação do consumidor devolver o veículo viciado à fornecedora, sob pena de 
afronta ao princípio que veda o enriquecimento sem causa e à proibição do venire contra 
factum proprium. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.823.284-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/10/2020 
(Info 681). 
 
O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte: 
O consumidor adquiriu veículo, que apresentou diversos problemas após a compra, tornando-se 
inadequado ao uso. 
O consumidor propôs, então, ação redibitória contra a concessionária, pedindo a devolução do preço pago. 
A sentença julgou o pedido procedente tendo o juiz determinado a restituição da quantia gasta com a 
aquisição do carro, nos termos do art. 18, § 1º, II, do CDC: 
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem 
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou 
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem 
ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o 
consumidor exigir a substituição das partes viciadas. 
 Informativo 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
§ 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, 
alternativamente e à sua escolha: 
(...) 
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais 
perdas e danos; 
 
 O magistrado não falou nada, contudo, sobre a devolução do carro à concessionária. 
Com o trânsito em jugado, o consumidor deu início do cumprimento de sentença. 
A concessionária restituiu o valor pago e, logo em seguida, pediu a devolução do veículo usado. 
O juiz negou o pleito afirmando que, na sentença da fase de conhecimento (título executivo), não constou 
nenhum comando para que o consumidor devolvesse o automóvel. 
 
Agiu corretamente o magistrado? 
NÃO. 
É obrigatória a devolução de veículo considerado inadequado ao uso após a restituição do preço pelo 
fornecedor no cumprimento de sentença prolatada em ação redibitória. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.823.284-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/10/2020 (Info 681). 
 
Acolhida a pretensão redibitória do consumidor, rescinde-se o contrato de compra e venda, retornando 
as partes à situação anterior à sua celebração (status quo ante), sendo uma das consequências 
automáticas da sentença a sua eficácia restitutória, com a restituição atualizada do preço pelo vendedor 
e devolução da coisa adquirida pelo comprador. 
Constitui obrigação do consumidor devolver o veículo viciado à fornecedora, sob pena de afronta ao 
princípio que veda o enriquecimento sem causa e à proibição do venire contra factum proprium. 
 
 
PLANO DE SAÚDE 
A operadora de plano de saúde não é obrigada a custear o procedimento de 
fertilização in vitro associado ao tratamento de endometriose profunda 
 
O STJ possui entendimento consolidado no sentido de que, se não houver previsão contratual 
expressa, o plano de saúde não é obrigado a custear o tratamento de fertilização in vitro. 
Existe julgado no qual o STJ afirmou que é devida a cobertura, pelo plano de saúde, do 
procedimento de criopreservação de óvulos de paciente fértil, até a alta do tratamento 
quimioterápico, como medida preventiva à infertilidade (STJ REsp 1.815.796/RJ). No entanto, 
nesse acórdão, foi feita a seguinte distinção aplicável aqui: 
• tratamento da infertilidade: não é de cobertura obrigatória pelo plano de saúde; 
• prevenção da infertilidade, enquanto efeito adverso do tratamento prescrito ao paciente: é 
coberto pelo plano de saúde. 
No caso concreto, o procedimento de fertilização in vitro não foi prescrito à mulher para 
prevenir a infertilidade decorrente do tratamento para a endometriose. O procedimento foi 
prescrito como tratamento da infertilidade coexistente à endometriose. Logo, não há 
cobertura do plano. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.859.606-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Turma, julgado em 06/10/2020 (Info 681). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Regina sofre de uma doença chamada endometriose, o que faz com que ela tenha dificuldades para 
engravidar.Informativo 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
O seu médico prescreveu um tratamento para a endometriose e também a realização de fertilização in 
vitro, que é uma técnica na qual a fecundação do óvulo com o espermatozoide ocorre em um laboratório 
de embriologia, sendo posteriormente transferido ao útero materno. 
O plano de saúde de Regina aceitou custear o tratamento para endometriose, mas recusou-se a custear a 
fertilização in vitro. 
Inconformada, Regina ingressou com ação de obrigação de fazer contra o plano afirmando que a negativa 
foi abusiva e que este tratamento deveria ser obrigatoriamente prestado. 
Vale ressaltar que no contrato assinado entre a consumidora e o plano não existe previsão expressa de 
cobertura deste tipo de tratamento. 
 
O STJ concordou com os argumentos da autora? O plano de saúde é obrigado a custear o tratamento? 
NÃO. 
O STJ possui entendimento consolidado no sentido de que, se não houver previsão contratual expressa, o 
plano de saúde não é obrigado a custear o tratamento de fertilização in vitro. Nesse sentido: 
Não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora do plano de saúde, do tratamento de fertilização in 
vitro, quando não houver previsão contratual expressa. 
O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98 estabelece que a “inseminação artificial” não é um procedimento de 
cobertura obrigatória pelos planos de saúde. Em outras palavras, o contrato pode ou não prever a 
cobertura desse tratamento. Se o contrato não cobrir expressamente e o plano de saúde, em virtude disso, 
se recusar a custear, essa negativa não será abusiva. 
Vale ressaltar que a fertilização in vitro não é mesmo que inseminação artificial. Mesmo assim, a partir de 
uma interpretação sistemática e teleológica, que garanta o equilíbrio atuarial do sistema, deve-se 
entender que o mesmo raciocínio se aplica para a fertilização in vitro e que este tratamento também não 
é de cobertura obrigatória. 
Nesse sentido, a Resolução Normativa nº 428/2017, da ANS permite que o plano de saúde não ofereça 
inseminação artificial e outras técnicas de reprodução humana assistida. Assim, ao falar em outras 
técnicas, pode-se incluir aí a fertilização in vitro. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1794629/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado 
em 18/02/2020. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1823077-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 20/02/2020 (Info 666). 
 
Imagine agora uma situação diferente: 
Vitória estava fazendo quimioterapia para combater um câncer. Ocorre que esse tratamento pode 
ocasionar, como reação adversa, a falência ovariana, gerando infertilidade. 
A forma de preservar a capacidade reprodutiva, nestes casos, é o congelamento dos óvulos, um 
procedimento denominado de “criopreservação”. 
Diante disso, ela pleiteou junto ao plano de saúde que custeasse esse procedimento. 
A operadora recusou o custeio sob a justificativa de que o procedimento não seria de cobertura 
obrigatória. Para o plano de saúde, assim como ele não é obrigado a custear inseminação artificial, ele 
também não poderia ser compelido a pagar o procedimento de criopreservação. Seria o mesmo raciocínio. 
 
O STJ concordou com o argumento do plano de saúde? 
NÃO. 
Como vimos, em regra, o plano de saúde pode se recusar a custear o procedimento de criopreservação. 
O caso concreto, porém, é diferente. 
O que a usuária do plano busca é a atenuação (diminuição) dos efeitos colaterais, previsíveis e evitáveis, 
da quimioterapia, dentre os quais a falência ovariana. 
O objetivo de todo tratamento médico, além de curar a doença, é não causar mal. Esse é um dos princípios 
milenares da medicina conhecido pela locução “primum, non nocere” (primeiro, não prejudicar). Esse 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
princípio está consagrado no art. 35-F da Lei nº 9.656/98, segundo o qual a cobertura dos planos de saúde 
abrange também a prevenção de doenças, no caso, a infertilidade: 
Art. 35-F. A assistência a que alude o art. 1º desta Lei compreende todas as ações necessárias 
à prevenção da doença e à recuperação, manutenção e reabilitação da saúde, observados os 
termos desta Lei e do contrato firmado entre as partes. 
 
Desse modo, o plano de saúde pode ser obrigado a custear o procedimento pleiteado que funciona como 
medida de prevenção para a possível infertilidade da paciente. 
Vale ressaltar que, depois de obter alta do tratamento quimioterápico, caberá à mulher custear o 
tratamento de reprodução assistida, considerando que isso se encontra fora da cobertura do plano. 
 
Em suma: 
É devida a cobertura, pela operadora de plano de saúde, do procedimento de criopreservação de óvulos 
de paciente fértil, até a alta do tratamento quimioterápico, como medida preventiva à infertilidade. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.815.796-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/05/2020 (Info 673). 
 
Mais uma vez, peço novamente para não confundirem: 
• usuária é infértil e busca tratamento para a infertilidade (ex: inseminação artificial): plano de saúde NÃO 
é obrigado a custear. 
• usuária é fértil e busca a criopreservação como forma de prevenir a infertilidade: plano de saúde É 
obrigado a custear. 
 
Resumindo: 
A operadora de plano de saúde não é obrigada a custear o procedimento de fertilização in vitro 
associado ao tratamento de endometriose profunda. 
O STJ possui entendimento consolidado no sentido de que, se não houver previsão contratual expressa, 
o plano de saúde não é obrigado a custear o tratamento de fertilização in vitro. 
Existe julgado no qual o STJ afirmou que é devida a cobertura, pelo plano de saúde, do procedimento 
de criopreservação de óvulos de paciente fértil, até a alta do tratamento quimioterápico, como medida 
preventiva à infertilidade (STJ REsp 1.815.796/RJ). No entanto, nesse acórdão, foi feita a seguinte 
distinção aplicável aqui: 
• tratamento da infertilidade: não é de cobertura obrigatória pelo plano de saúde; 
• prevenção da infertilidade, enquanto efeito adverso do tratamento prescrito ao paciente: é coberto 
pelo plano de saúde. 
No caso concreto, o procedimento de fertilização in vitro não foi prescrito à mulher para prevenir a 
infertilidade decorrente do tratamento para a endometriose. O procedimento foi prescrito como 
tratamento da infertilidade coexistente à endometriose. Logo, não há cobertura do plano. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.859.606-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Turma, julgado em 06/10/2020 (Info 681). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO EMPRESARIAL 
 
TÍTULOS DE CRÉDITO (DUPLICATA) 
A assinatura do sacador/emitente da duplicata é requisito que pode ser suprido por outro meio 
 
Segundo o art. 2º, § 1º da Lei nº 5.474/68 um dos requisitos da duplicata é a assinatura do 
sacador. 
O requisito da assinatura do emitente deve ser considerado suprível nessa específica 
modalidade de título de crédito, sobretudo quando não ocorre sua circulação. 
Existem dois principais argumentos que permitem chegar a essa conclusão: 
a) com fundamento no art. 13, § 1º da Lei nº 5.474/68, é dispensável a apresentação física da 
duplicata, bastando para a constituição do título executivo extrajudicial: os boletos de 
cobrança bancária, os protestos por indicação e os comprovantes de entrega de mercadoria 
ou de prestação de serviços. 
b) a duplicata, por ser um título causal, permite a incidência da literalidade indireta, que 
autoriza a identificação de seus elementos no documento da compra e venda mercantilou da 
prestação de serviços que lhe serve de ensejo, pois o devedor tem a ciência de que aquela 
obrigação também tem seus limites definidos em outro documento. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.790.004-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/10/2020 (Info 681). 
 
Conceito de duplicata 
Duplicata é... 
- um título de crédito 
- que consiste em uma ordem de pagamento emitida pelo próprio credor 
- por conta de mercadorias que ele vendeu ou de serviços que prestou 
- e que estão representados em uma fatura 
- devendo ser paga pelo comprador das mercadorias ou pelo tomador dos serviços. 
 
Título de crédito genuinamente brasileiro 
A duplicata foi criada pelo direito brasileiro, sendo considerada um título genuinamente brasileiro. 
 
Regulamentação 
A duplicata é regida pela Lei nº 5.474/68 e pela Lei nº 13.775/2018. 
 
Requisitos 
O § 1º do art. 2º da Lei nº 5.474/68 prevê os requisitos da duplicata. Confira: 
Art. 2º (...) 
§ 1º A duplicata conterá: 
I - a denominação “duplicata”, a data de sua emissão e o número de ordem; 
II - o número da fatura; 
III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; 
IV - o nome e domicílio do vendedor e do comprador; 
V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso; 
VI - a praça de pagamento; 
VII - a cláusula à ordem; 
VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada 
pelo comprador, como aceite, cambial; 
IX - a assinatura do emitente. 
 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Assinatura do emitente 
Conforme vimos acima, um dos requisitos da duplicata é a assinatura do emitente. 
O STJ, contudo, entendeu que esse requisito não é essencial, ou seja, mesmo sem a assinatura é possível 
considerar o título como válido. Trata-se de “defeito suprível”. 
O requisito da assinatura do emitente deve ser considerado suprível nessa específica modalidade de título 
de crédito, sobretudo quando não ocorre sua circulação. 
Existem dois principais argumentos que permitem chegar a essa conclusão: 
 
1º) A apresentação física da duplicada pode ser dispensada 
com fundamento no protesto por indicação previsto no art. 13, § 1º da Lei nº 5.474/68, entende-se que é 
dispensável a apresentação física da duplicata, bastando, para a constituição do título executivo 
extrajudicial: 
• os boletos de cobrança bancária; 
• os protestos por indicação; e 
• os comprovantes de entrega de mercadoria ou de prestação de serviços. 
Com base nisso, se permitiu a execução da denominada duplicata virtual. 
 
Veja como o § 1º do art. 13 autoriza o protesto sem a apresentação física da duplicata: 
Art. 13 (...) 
§ 1º Por falta de aceite, de devolução ou de pagamento, o protesto será tirado, conforme o caso, 
mediante apresentação da duplicata, da triplicata, ou, ainda, por simples indicações do portador, 
na falta de devolução do título. 
 
Conforme explica a Min. Nancy Andrighi: 
“(...) se o boleto que subsidia o protesto por indicação é suficiente para o protesto, o qual, somado 
ao comprovante da entrega de mercadorias, justifica o ajuizamento de ação executiva, deve-se 
entender que alguns dos elementos mencionados no art. 2º, § 1º, da Lei 5.474/68 admitem 
suprimento, podendo ser corrigidos por formas que não prejudiquem a segurança na tramitação 
da duplicata.” 
 
2º) A duplicata, por ser um título causal, admite a incidência da literalidade indireta 
A ideia de que a assinatura do sacador seria essencial decorre do princípio da literalidade, segundo o qual 
os títulos de crédito devem possuir todas as informações necessárias ao exercício do direito nela 
mencionado. 
Ocorre que a duplicata, por ser um título causal, permite a incidência da literalidade indireta, que autoriza 
a identificação de seus elementos no documento da compra e venda mercantil ou da prestação de serviços 
que lhe serve de ensejo. 
Conforme ensina a doutrina, a duplicata, por ser causal, está “ligada a um contrato de compra e venda ou 
de prestação de serviços, deve[ndo] a duplicata mencionar ainda os nomes das partes do referido 
contrato, dada a sua função de documentar o crédito nascido desse contrato” (TOMAZETE, Marlon. A 
duplicata virtual. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 92, n. 807, p. 725-740, jan. 2003). 
Assim, é possível a aplicação da literalidade indireta, na possibilidade de a cártula fazer expressa remissão 
a um elemento constante em documento referente ao negócio jurídico que lhe serve de causa. 
Mesmo sem a assinatura do sacador, fica evidente que o devedor tem a ciência de que aquela obrigação 
também tem seus limites definidos em outro documento. 
 
Em suma: 
A assinatura do sacador/emitente da duplicata é requisito que pode ser suprido por outro meio. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.790.004-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/10/2020 (Info 681). 
 
 
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RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
Juiz deferiu a recuperação judicial; TJ reformou a decisão; STJ restaurou o entendimento de 1ª 
instância deferindo a recuperação; entre a decisão do TJ e do STJ os atos executivos praticados 
em execuções individuais são nulos 
 
Exemplo: João, empresário rural, pediu recuperação judicial, cujo processamento foi deferido 
pelo juiz. Um dos credores recorreu alegando que não ficou comprovado o exercício da 
atividade agrícola pelo período de 2 anos (art. 48 da Lei nº 11.101/2005). O TJ deu provimento 
ao recurso negando direito à recuperação judicial. João recorreu ao STJ e o Ministro Relator 
concedeu tutela provisória para restabelecer a decisão do juiz assegurando ao empresário o 
direito à recuperação judicial. 
Ocorre que, no período entre o acórdão do TJ e a decisão do Ministro do STJ, as execuções 
individuais contra o empresário que estavam suspensas voltaram a tramitar e foram 
praticados diversos atos executivos. Esses atos executivos são válidos? 
A validade dos atos executivos realizados no bojo das execuções individuais, no interregno em 
que a decisão de deferimento do processamento da recuperação judicial encontra-se 
sobrestada ou mesmo reformada (porém, sujeita a revisão por instância judicial superior), 
fica condicionada à confirmação, por provimento judicial final, de que o empresário, de fato, 
não fazia jus ao deferimento do processamento de sua recuperação judicial. 
Assim, no exemplo dado, se a decisão concedendo a recuperação judicial for confirmada por 
provimento judicial final, os atos executivos que foram praticados serão considerados inválidos. 
O credor assume os riscos de prosseguir com a sua execução individual. Ele deve saber, contudo, 
que, se for confirmado o acerto da decisão que deferiu o processamento da recuperação judicial, 
com o restabelecimento de todos os seus efeitos desde a sua prolação, os atos executivos 
realizados no âmbito das execuções individuais tornam-se absolutamente nulos. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.867.694-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/10/2020 (Info 681). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, produtor rural, pediu recuperação judicial, cujo processamento foi deferido pelo juiz. 
Um dos credores recorreu alegando que não ficou comprovado o exercício da atividade agrícola pelo 
período de 2 anos, um dos requisitos do art. 48 da Lei nº 11.101/2005): 
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça 
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, 
cumulativamente: 
(...) 
 
O Tribunal de Justiça deu provimento ao recurso negando direito à recuperação judicial. 
Aí foi a vez de João recorrer. Ele interpôsrecurso especial ao STJ e o Ministro Relator concedeu tutela 
provisória para restabelecer a decisão do juiz de 1ª instância, assegurando ao empresário o direito à 
recuperação judicial. 
Ocorre que, no período entre o acórdão do TJ e a decisão do Ministro do STJ, as execuções individuais contra 
o empresário que estavam suspensas voltaram a tramitar e foram praticados diversos atos executivos. 
 
Esses atos executivos são válidos? 
A validade dos atos executivos realizados no bojo das execuções individuais, no interregno em que a 
decisão de deferimento do processamento da recuperação judicial encontra-se sobrestada ou mesmo 
reformada (porém, sujeita a revisão por instância judicial superior), fica condicionada à confirmação, 
 Informativo 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
por provimento judicial final, de que o empresário, de fato, não fazia jus ao deferimento do 
processamento de sua recuperação judicial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.867.694-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/10/2020 (Info 681). 
 
Assim, no exemplo dado, se a decisão concedendo a recuperação judicial for confirmada por provimento 
judicial final, os atos executivos que foram praticados serão considerados inválidos. 
O credor assume os riscos de prosseguir com a sua execução individual. Ele deve saber, contudo, que, se 
for confirmado o acerto da decisão que deferiu o processamento da recuperação judicial, com o 
restabelecimento de todos os seus efeitos desde a sua prolação, os atos executivos realizados no âmbito 
das execuções individuais tornam-se absolutamente nulos. 
 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
O cômputo do período de dois anos de exercício da atividade econômica, para fins de 
recuperação judicial, nos termos do art. 48 da Lei 11.101/2005, aplicável ao produtor rural, inclui 
aquele anterior ao registro do empreendedor 
 
O empresário rural que objetiva se valer dos benefícios do processo recuperacional, instituto 
próprio do regime jurídico empresarial, há de proceder à inscrição no Registro Público de 
Empresas Mercantis, não porque o registro o transforma em empresário, mas sim porque, ao 
assim proceder, passou a voluntariamente se submeter ao aludido regime jurídico. 
Assim, a inscrição, sob esta perspectiva, assume a condição de procedibilidade ao pedido de 
recuperação judicial. 
Ainda que relevante para viabilizar o pedido de recuperação judicial, como instituto próprio 
do regime empresarial, o registro é absolutamente desnecessário para que o empresário rural 
demonstre a regularidade (em conformidade com a lei) do exercício profissional de sua 
atividade agropecuária pelo biênio mínimo, podendo ser comprovado por outras formas 
admitidas em direito e, principalmente, levando-se em conta período anterior à inscrição. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.811.953-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/10/2020 (Info 681). 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.800.032-MT, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em 
05/11/2019 (Info 664). 
 
Recuperação judicial 
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a 
superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, 
com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. 
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado 
um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência. 
 
Fases da recuperação 
De forma resumida, a recuperação judicial possui três fases: 
a) postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento; 
b) processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva; 
c) execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial. 
 
Requisitos para a recuperação judicial 
A recuperação judicial é um processo judicial, ou seja, é um pedido que será formulado ao juiz. 
Para isso, no entanto, é necessário que a devedora cumpra alguns requisitos previstos no art. 48 da Lei nº 
11.101/2005: 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça 
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, 
cumulativamente: 
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as 
responsabilidades daí decorrentes; 
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; 
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no 
plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; 
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa 
condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei 
 
Requisito temporal de 2 anos 
O primeiro requisito para que a empresa possa requerer a recuperação judicial é que ela esteja exercendo 
regulamente suas atividades há, no mínimo, 2 anos (caput do art. 48) no momento do pedido. 
O prazo de 2 anos tem como objetivo principal conceder a recuperação judicial apenas a empresários ou 
a sociedades empresárias que se acham, de certo modo, consolidados no mercado e que apresentem 
certo grau de viabilidade econômico-financeira capazes de justificar o sacrifício dos credores. 
Segundo Marlon Tomazzete, apenas em relação a empresas sérias, relevantes e viáveis “é que se justifica 
o sacrifício dos credores em uma recuperação judicial. Uma empresa exercida há menos de dois anos ainda 
não possui relevância para a economia que justifique a recuperação.” (Curso de direito empresarial: 
falência e recuperação de empresas. São Paulo: Atlas, 2011, p. 60). 
 
 (Delegado PC/BA 2018 VUNESP) Poderá requerer a recuperação judicial o devedor que, no momento 
do pedido, exerça regularmente suas atividades empresariais pelo período mínimo de seis meses. (errado) 
 
A partir de quando se começa a contar esse prazo de 2 anos? 
Em regra, da data de inscrição na junta comercial competente. 
Logo, no pedido de recuperação judicial, deverá ser juntada uma certidão emitida pela respectiva junta 
comercial na qual conste a inscrição do empresário individual ou o registro do contrato social ou do 
estatuto da sociedade. 
Desse modo, estão proibidos de requerer recuperação judicial, os empresários “de fato” ou “irregulares”, 
isto é, aqueles que exercem a atividade empresarial de modo informal, sem registro na junta comercial. 
 
Por que se falou “em regra”? Existe alguma exceção? 
SIM. O caso do empresário rural. 
Todo empresário, antes de iniciar suas atividades, deverá se inscrever no Registro Público de Empresas 
Mercantis da respectiva sede, isto é, na Junta Comercial. É o que prevê o art. 967 do Código Civil: 
Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da 
respectiva sede, antes do início de sua atividade. 
 
Para o empresário rural, todavia, o Código Civil concedeu a faculdade de se registrar ou não perante a 
Junta da sua unidade federativa. Por isso, o dispositivo utiliza o verbo “pode”: 
Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as 
formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público 
de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, 
para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. 
 
Ora, se pode ele requerer inscrição, significa que o empreendedor rural, diferentemente do 
empreendedoreconômico comum, não está obrigado a requerer inscrição antes de empreender. 
 Informativo 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
Desse modo, o empreendedor rural, inscrito ou não, está sempre em situação regular; não existe situação 
irregular para este, mesmo ao exercer atividade econômica agrícola antes de sua inscrição, por ser esta 
facultativa. 
Por isso, se exerce atividade de produção de bens agrícolas, esteja inscrito ou não, estará em situação 
regular, justamente porque poderia se inscrever ou não. 
 
Assim, os efeitos decorrentes da inscrição são distintos para as duas espécies de empresário: 
• Para o empreendedor rural, o registro, por ser facultativo, tem o efeito constitutivo de equipará-lo, para 
todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro, sendo tal efeito apto a retroagir (ex tunc), pois a 
condição regular de empresário já existia antes mesmo do registro. 
• Já para o empresário comum, o registro, por ser obrigatório, somente pode operar efeitos prospectivos 
(ex nunc), pois apenas com o registro é que ingressa na regularidade e se constitui efetivamente e 
validamente, empresário. 
 
O registro do produtor rural, portanto, apenas o transfere do regime do Código Civil para o regime 
empresarial, com efeito ex tunc, pois não o transforma em empresário regular, condição que já antes 
ostentava apenas em decorrência do anterior exercício da atividade econômica rural. 
Assim, a qualidade de empresário rural regular já se fazia presente desde o início do exercício profissional 
de sua atividade, sendo irrelevante, para fins de regularização, a efetivação da inscrição na Junta 
Comercial, pois não estava sujeito a registro. 
Então, o produtor rural é regido pelo Código Civil, enquanto não registrado e, querendo, passa ao regime 
jurídico empresarial, após a inscrição é facultativa. 
 
No caso de empresário rural, para fins de cômputo desses 2 anos, é possível aproveitar o tempo em que 
ele não estava registrado 
O empresário rural, para fazer o pedido de recuperação judicial, deve estar registrado. 
Assim, o registro empresarial deve ser anterior ao pedido de recuperação judicial. 
No entanto, pelas razões acima explicadas, esses 2 anos, exigidos pelo caput do art. 48, não precisam ser 
exercidos após o registro. No caso de empresário rural, o exercício da atividade econômica rural pelo prazo 
de 2 anos pode ser computado somando-se ao período anterior e posterior ao registro. 
 
Em suma: 
O cômputo do período de dois anos de exercício da atividade econômica, para fins de recuperação 
judicial, nos termos do art. 48 da Lei nº 11.101/2005, aplicável ao produtor rural, inclui aquele anterior 
ao registro do empreendedor. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.811.953-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/10/2020 (Info 681). 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.800.032-MT, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em 
05/11/2019 (Info 664). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
São devidos os honorários de sucumbência ao procurador que não participou de acordo firmado entre 
as partes, realizado e homologado antes do trânsito em julgado da sentença que fixou tal verba 
 
Caso concreto: condomínio ajuizou ação de indenização contra empresa de engenharia em 
razão de serviços que não foram bem realizados. O juiz julgou parcialmente procedente, 
condenando a empresa a pagar R$ 200 mil. Ambas as partes apelaram. O TJ manteve a 
sentença, mas antes que houvesse trânsito em jugado, as partes ingressaram com petição 
afirmando que haviam feito um acordo de R$ 150 mil. O ponto controverso é que o condomínio 
foi representado por Juliana, nova advogada que participou apenas do acordo e cuja 
procuração revogou o mandato que havia sido outorgada ao advogado anterior (Pedro), que 
ajuizou e acompanhou a ação. 
Pedro peticionou nos autos requerendo que fosse preservado o valor que ele teria direito de 
receber a título de honorários advocatícios sucumbenciais definidos na sentença 
condenatória (10% de 200 mil). A sentença homologou o acordo firmado entre as partes, e 
indeferiu o pedido de Pedro, deixando expressamente consignado que, como o acordo foi 
apresentado antes do trânsito em julgado da sentença, não haveria que se falar em honorários 
sucumbenciais. Pedro tem direito aos honorários? 
Sim. O acordo firmado entre as partes, sem a concordância do advogado, não pode atingir o 
direito desse profissional de receber os honorários advocatícios fixados na sentença judicial, 
desde que esta já tenha transitada em julgado. 
No caso, a despeito de não ter havido trânsito em julgado da sentença que fixou os honorários, 
existem peculiaridades que permitem concluir ser possível a manutenção dos honorários. 
Em 1º grau, a sentença condenou a empresa ao pagamento de 10% de honorários advocatícios 
sucumbenciais, condenação esta que foi mantida pelo TJ e que estava prestes a transitar em 
julgado, não fosse pelo fato de as partes terem, neste meio tempo, atravessado pedido de 
homologação de acordo extrajudicial - que sequer fez menção ao pagamento de qualquer 
verba honorária -, com a participação de nova advogada constituída nos autos, o que revogou 
automaticamente anterior procuração outorgada pelo Condomínio. 
Dada as particularidades da situação, convém reconhecer o direito autônomo do advogado ao 
recebimento da verba honorária estabelecida na sentença condenatória. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.851.329-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 681). 
 
O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte: 
Determinado condomínio, assistido juridicamente pelo advogado Pedro, ajuizou ação de indenização 
contra empresa de engenharia em razão de serviços que não foram executados corretamente. 
O juiz julgou parcialmente procedente o pedido, condenando a empresa a pagar R$ 200 mil ao condomínio. 
Ambas as partes apelaram. 
O TJ manteve a sentença, mas antes que houvesse trânsito em jugado, as partes ingressaram com petição 
afirmando que haviam feito um acordo de R$ 150 mil. 
Até aí, tudo bem. 
O ponto controverso é que o condomínio, nas negociações e assinatura do ajuste, foi representado por 
Juliana, nova advogada que participou apenas do acordo. 
Para que Juliana participasse do acordo, o condomínio outorgou procuração a advogada e, nesse 
instrumento, revogou expressamente o mandato que havia sido outorgado ao advogado anterior (Pedro), 
que ajuizou e acompanhou a ação. 
Pedro peticionou nos autos requerendo que fosse preservado o valor que ele teria direito de receber a 
título de honorários advocatícios sucumbenciais definidos na sentença condenatória (10% de 200 mil). 
 Informativo 
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Informativo 681-STJ (06/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
A sentença homologou o acordo firmado entre as partes, e indeferiu o pedido de Pedro. 
Segundo afirmou o juiz, o acordo foi apresentado antes do trânsito em julgado da sentença. Logo, Pedro 
(o antigo advogado), não teria direito aos honorários sucumbenciais. 
 
A questão chegou até o STJ. Pedro tem direito aos honorários? 
SIM. O acordo firmado entre as partes, sem a concordância do advogado, não pode atingir o direito desse 
profissional de receber os honorários advocatícios fixados na sentença judicial, desde que esta já tenha 
transitada em julgado. 
Assim, se o acordo feito pelo condomínio e a empresa tivesse sido feito após o trânsito em julgado, não 
haveria

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