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12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=xp… 1/26 ECONOMIA POLÍTICA CAPÍTULO 2 - COMO SE ENCONTRA A ECONOMIA BRASILEIRA NO ATUAL CONTEXTO INTERNACIONAL? André Abdala INICIAR Introdução Você sabia que, antes do Regime Militar, a economia brasileira passou por importantes ganhos institucionais, a exemplo de estatais que assumiriam a dianteira de um processo de desenvolvimento econômico? (ABREU, 2014). Além disso, você sabia que a discussão entre a intervenção estatal no mercado versus o liberalismo econômico teve, nos anos de 1940, um importante debate que até hoje influi os seus valores nas decisões e opiniões sobre o planejamento econômico brasileiro? E quanto a insuficiência da política pública no Brasil para unir o progresso científico-tecnológico entre as instituições públicas e as privadas? Para compreender todos esses questionamentos, veremos, neste capítulo, alguns aspectos sobre a Escola Cepalina, que estuda o subdesenvolvimento latino- americano, além de uma digressão histórica sobre os períodos marcantes da história econômica brasileira, sem deixar de lado os fatos políticos que tanto determinaram o processo econômico. Na sequência, continuaremos a estudar a história econômica do Brasil, mas a partir do Golpe Militar até o fim do governo de Dilma. Ao longo do capítulo, também aprenderemos sobre dois pensadores da 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=xp… 2/26 década de 1940 que continuam a exercer peso no debate do planejamento econômico do Brasil, e veremos as diferenças entre o fomento à produção científica e tecnológica no Brasil e no Estados Unidos. Vamos começar? 2.1 Conjuntura brasileira antiga e contexto mundial Você conhece a CEPAL? Trata-se de uma instituição que estuda o subdesenvolvimento latino-americano. Sendo assim, as ideias dessa organização influem nas decisões sobre o processo de desenvolvimento econômico brasileiro. Ao longo do segundo governo de Vargas (1951-1954), estudos foram desenvolvidos junto à CEPAL para modernizar a estrutura produtiva no Brasil. Em vista disso, o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) aplicou o famoso Plano de Metas para desenvolver a infraestrutura e a indústria brasileira, devido à enorme dependência da exportação de produtos agrícolas, em especial, o café (ABREU, 2014). Assim, durante o processo de desenvolvimento da economia brasileira, houve a preocupação em como modernizar a indústria. Veremos um pouco mais sobre o assunto a partir de agora. 2.1.1 Desenvolvimento para fora e CEPAL Em 1949, iniciara o Estudo Econômico da América Latina, que significou o surgimento dos estudos de Economia Política da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) — entidade vinculada à ONU para compreender e apresentar propostas ao desenvolvimento latino-americano (MELLO, 1986). Conforme estudo de pensadores cepalinos, a exemplo de Mello (1986), dentro da divisão internacional do trabalho, as economias nacionais periféricas ou subdesenvolvidas produzem produtos de baixo valor. Consequentemente, essas economias são dependentes da exportação de produtos primários (minérios e agrícolas), e, por isso, possuem um desenvolvimento para fora, visto que as etapas para os seus respectivos desenvolvimentos econômicos são moldadas pela dinâmica externa. Isso quer dizer que, tendo em vista que as nações periféricas exportam quase que exclusivamente produtos primários, as economias são altamente dependentes da dinâmica da economia internacional. 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=xp… 3/26 Por outro lado, as economias centrais ou desenvolvidas têm um desenvolvimento para dentro, posto que, apesar de interagirem com o mercado externo, conseguem se dinamizar pelo investimento do capital industrial. Ou seja, os investimentos da indústria de bens capitais (máquinas, siderurgia etc.) nucleiam toda a economia, de modo a intensificar a dinâmica do mercado interno, além de atender ao mercado externo (MELLO, 1986). Contudo, a dinâmica da economia internacional está amparada em uma divisão internacional da produção entre países, na qual os países desenvolvidos produzem bens industrializados, enquanto que os países pobres produzem produtos primários (agrícolas, carnes, etc.). Nessa divisão, há uma deterioração nas relações de trocas internacionais, que tendem a aprofundar as desigualdades entre os países centrais e periféricos, já que o preço dos produtos industrializados, em relação ao preço dos produtos primários, aumenta. Essa deterioração, por sua vez, restringe a quantidade de divisas (moeda estrangeira, como o dólar estadunidense) em posse das economias periféricas, uma vez que os gastos com importação crescem mais do que as remunerações das exportações (PREBISCH, 1949). Como resultado, a escassez de divisas impede o Processo Substitutivo de Importações (PSI), que é quando as economias periféricas adquirem maquinários para determinadas produções manufatureiras ou fabris, a partir das divisas obtidas nas vendas de produtos primários para o mercado estrangeiro (PREBISCH, 1949; TAVARES, 1982). Visto algumas ideias centrais da escola cepalina, vamos ver como se desenvolveu a economia brasileira. 2.1.2 O café e o surgimento da produção industrial A produção do café respondeu pela predominância da exportação brasileira a partir do século XIX, quando todo o fluxo da renda do país dependia desse produto. Assim, a renda, expressa nos salários e lucros, gerava demanda por outras mercadorias. Por conta disso, o comércio gerou produções variadas, como bebidas e roupas (MELLO, 1986; ABREU, 2014). 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=xp… 4/26 A partir de então, surgia uma elite política, que, por concentrar a produção do café em suas posses, também predominava na política, moldando-a conforme o seu interesse. Dessa forma, uma vez que a produção do café começava em São Paulo e seguia para o Rio de Janeiro e Minas Gerais, a elite política nacional também se concentrava nesses três Estados. Considerando, então, que o Brasil era o principal produtor de café no mundo, investimentos em infraestrutura foram realizados com suporte financeiro do capital inglês, a exemplo das ferrovias, que escoavam os grãos. Mello (1986), inclusive, classificou o período entre 1888 e 1933 como quando o capital industrial brasileiro nasceu e se consolidou. Além do fator dinamizador do café na economia nacional, a Crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial também intensificaram o peso do Estado no desenvolvimento industrial, tendo em vista que esses eventos criaram estrangulamentos externos. Isto é, o fluxo comercial no mundo ficou menor e, consequentemente, a possibilidade de importar para seguir o PSI também arrefeceu. Figura 1 - O café, por ser um elemento dinamizador da economia brasileira, criou condições para o surgimento da indústria. Fonte: Shutterstock, 2018. 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=xp… 5/26 2.1.3 Industrialização restringida De acordo com Mello (1986), podemos caracterizar o período entre 1933 e 1955 como o de industrialização restringida, pois, apesar de todo o capital produtivo já desenvolvido, ele ainda era insuficiente para que se dinamizasse a indústria nacional. Assim, durante esse intervalo temporal, o capital privado nacional ainda dispunha das condições técnicas e financeiras insuficientes. Dessa forma, era necessário que o Estado aportasse os recursos para o desenvolvimento da indústria de base (petroquímica e siderurgia), cujos investimentos eram vultosose de longo prazo de maturação. Com a Crise de 1929, acentuou-se os conflitos no Brasil, em especial nos setores econômicos não ligados ao segmento cafeeiro, como os industriais e os produtores de outros Estados, uma vez que eram afetados pela ação governamental de desvalorizar o câmbio (quando a moeda nacional perde valor perante à moeda estrangeira) para ajudar na exportação de café, encarecendo os preços dos importados. Nesse caso, a indústria precisa importar ao investir. Inclusive, setores urbanos e militares reclamavam que o encarecimento dos importados elevava o custo de vida, já que muitos alimentos e utensílios eram comprados do exterior (ABREU, 2014). Assim, toda uma comunhão de interesses contrários aos grupos dominantes levou Getúlio Vargas ao poder, em 1930, derrubando, por meio de um golpe, o Presidente Washington (LIRA NETO, 2012a). Figura 2 - A chegada de Getúlio Vargas ao poder nacional envolveu uma aliança com diversos segmentos econômicos, políticos e militares. Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em LIRA NETO, 2012b. 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=xp… 6/26 Durante o Governo Vargas, muitas empresas públicas foram criadas, com destaque para a indústria de base, a exemplo da mineradora Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional (ABREU, 2014). Em 1951, Vargas retorna ao poder após governar de 1930 a 1945, só que, agora, por meio das eleições. Durante o segundo governo de Vargas, foi criado o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (antigo BNDE, hoje conhecido como BNDES), em 1952; e a Petrobrás e o Banco do Nordeste, em 1953. Além disso, também fora criada, em 1951, sob o auxílio da CEPAL, a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU) para a elaboração de projetos de infraestrutura, perante o suporte financeiro do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e do Banco de Exportação e Importação (EXIMBANK). Porém, em 1952, a CMBEU não vai adiante com a parceria pelo interesse do governo estadunidense em concentrar recursos nas questões políticas-econômicas da Guerra Fria, quando os Estados Unidos e a União Soviética disputavam a influência mundial (ABREU, 2014). Getúlio permanece no poder até 1954. No mesmo ano, o presidente comete suicídio em razão da pressão de uma crise política, devido à tentativa de assassinato do opositor Carlos Lacerda, cujo tiro matou o major da aeronáutica, Rubens Vaz, em vez de Lacerda. Vargas não tinha conhecimento desse plano criminoso. Com isso, um inquérito militar toma as investigações, no qual setores militares e políticos exigem a sua destituição da presidência (LIRA NETO, 2012c). O filme Getúlio, de João Jardim, produzido em 2013, conta mais a fundo a história de Vargas. A obra retrata os últimos dias de governo do presidente, em 1954. Com a obra, você poderá compreender melhor a crise política que inviabilizou o governo e levou Vargas ao suicídio. Vale a pena assistir! A partir de então, o vice-presidente, Café Filho, passa a governar o Brasil até a chegada de Juscelino Kubitschek, que assume o poder em 1956, quando se inicia a fase da industrialização intensiva (ABREU, 2014). 2.1.4 Industrialização intensiva e o Golpe Militar VOCÊ QUER VER? 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=xp… 7/26 De acordo com Mello (1986), o PSI apresenta duas fases: a primeira diz respeito a industrialização extensiva, que corresponde desde o surgimento da indústria no Brasil até o período da industrialização restringida; já a segunda fase é a industrialização intensiva, a partir de 1956. Na industrialização extensiva, a substituição de importações se faz pelos bens de consumo não-duráveis e de baixo valor, como alimentos e calçados. Assim, gradualmente, reduz-se o peso das importações desses produtos no mercado interno. A industrialização intensiva, por sua vez, começa a ganhar força com o governo de Kubitschek, período em que se abre a economia para o investimento do capital estrangeiro no setor produtivo, de modo amplo, diferentemente do que ocorreu no Segundo Governo Vargas, quando ficou estabelecido como estratégia de desenvolvimento o investimento estatal, juntamente com o capital estrangeiro. Este, porém, em setores estratégicos, como a mineração e a siderurgia (MELLO, 1986). No governo de Kubitschek, o capital estrangeiro passa a atuar em bens de consumo duráveis, além da produção nos bens de capital em geral. Conjuntamente, o Estado continuou a exercer maior peso nos investimentos em infraestrutura, como rodovias e hidrelétricas (MELLO, 1986). A abertura econômica desse período contou com a Lei de Similares Nacionais, que limitou a entrada de produtos estrangeiros similares aos produzidos internamente, a fim de garantir uma reserva de mercado como forma de estímulo ao investidor estrangeiro. Como consequência, desenvolveu-se a indústria (ABREU, 2014). Além disso, o governo de Kubitschek se destacou pelo Plano de Metas, cujos investimentos foram planejados em cinco grandes áreas, ultrapassando a construção da nova capital federal (Brasília). Nesse modelo desenvolvimentista, o governo trabalhou com uma política de crédito bastante expansiva, ante os recursos do BNDE e do Banco do Brasil (ABREU, 2014). Assim, as áreas compreendidas incluíam a indústria de base (aço, maquinaria pesada etc.), a energia (petróleo, energia elétrica etc.), a alimentação (fertilizantes, mecanização da agricultura etc.), o transporte (pavimentação de estradas, portos etc.) e a educação. Na energia e no transporte, o que predominou foram os recursos públicos; na indústria de base, sobressaiu-se os recursos privados articulados com o capital estrangeiro; enquanto que a educação e a alimentação tiveram apenas recursos 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=xp… 8/26 públicos. Salienta-se, contudo, que a educação ficou com a quantia mínima de recursos. VOCÊ SABIA? A política desenvolvimentista no governo de Vargas e de Kubitschek teve forte apoio das forças armadas, interessadas no reaparelhamento militar. No entanto, de acordo com os militares, o capital estrangeiro não poderia interferir na segurança dos recursos naturais brasileiros (BENEVIDES, 1979; ABREU, 2014). Em 1961, Jânio Quadros assume a presidência do Brasil, mas fica somente oito meses até a sua renúncia, sob à alegação de “forças ocultas”. Durante esse período, houve uma tentativa de alinhamento com a União Soviética, fato marcado como Política Externa Independente (PEI), devido ao não alinhamento automático com os Estados Unidos (ABREU, 2014). No ano seguinte, já sob a presidência de João Goulart (vice de Quadros), o Ministro Extraordinário para Assuntos do Desenvolvimento Econômico, Celso Furtado, apresenta o Plano Trienal com o objetivo de conter a inflação por meio da contenção do déficit público e do controle da expansão de crédito. Todavia, o controle inflacionário não obteve êxito, tendo em vista que a expectativa de interferência estatal na correção de preços defasados causou uma remarcação forte no setor privado (ABREU, 2014). Celso Furtado foi um economista brasileiro, pensador cepalino e idealizador da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), objetivando a redução das desigualdades regionais no governo de Kubitschek. Ele também foi Ministro de Assuntos do Desenvolvimento Econômico no governo de João Goulart (ABREU, 2014). VOCÊ O CONHECE? 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=xp… 9/26 Como Goulart sofria uma desconfiança sobre o direcionamento das ações socialistas, uma rebelião de sargentos da Marinha e da Aeronáutica fora atribuída como uma fraqueza do presidente.Em determinação do governo, foi editado uma instrução que previa compras obrigatórias de certos títulos públicos em posse de investidores, sem pagamento de juros, ante o intuito de melhorar a situação fiscal. Contudo, o setor privado contestou essa medida (ABREU, 2014). Diante de um quadro de persistência inflacionária, o governo regulamentou limites de remessas de lucros ao exterior, fato que marcou negativamente o período com relação ao empresariado. E, para piorar, Goulart compareceu em um comício organizado por grupos esquerdistas, assinando decretos de encampação (tomada pelo Estado) de refinarias privadas e a desapropriação de terras beneficiadas por investimento público (ABREU, 2014). Em resposta, as forças conservadoras organizaram manifestações, mobilizando a classe média. Somado à circunstância de fraqueza governamental em reprimir uma revolta dos marinheiros, em resistência à oficialidade, no dia 31 de março de 1964 uma rebelião militar — com o apoio dos empresários e da classe média, além do respaldo e omissão, em vários casos, parlamentar — derrubou Goulart do poder, colocando na presidência o Marechal Castelo Branco (ABREU, 2014). Assim, iniciou-se a Ditadura Militar, que durou até 1985 (ABREU, 2014). 2.2 Conjuntura brasileira contemporânea e contexto mundial Agora que você já foi introduzido na história econômica do Brasil, estudaremos na sequência os governos militares e a economia brasileira a partir de 1985, quando há a abertura política e o fim da Ditadura Militar, bem como alguns aspectos relacionados ao governo de Dilma. Aliás, você sabia que durante os governos militares uma grande monta de infraestrutura fora edificada? E que esses investimentos deixaram uma elevada dívida pública externa? Por acaso, você já leu ou escutou sobre a crise inflacionária dos Anos de 1980, que só foi superada com a adoção Plano Real, em 1994? 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 10/26 A partir de agora, analisaremos com mais detalhes os governos militares e o Brasil a partir da abertura política, quando se inicia o processo para a estabilidade de preços. 2.2.1 Governos militares Entre 1964 e 1967, o governo brasileiro trabalhou com o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), que objetivava o crescimento econômico e o controle de preços e de déficit público. Durante esse período, buscou-se fortalecer o sistema bancário e diversificar a pauta exportadora, ainda muito dependente de produtos primários. Sendo assim, o governo mirou na redução de desequilíbrios entre setores produtivos e regiões brasileiras. Além da meta de redução do déficit público para impedir a subida dos preços, o governou também aplicou um controle de reajuste salarial, em que os salários seriam ajustados anualmente pela média do salário mínimo real (eliminando os efeitos da inflação), acrescidos de metade da inflação esperada para o ano seguinte. Já o período entre 1967 e 1973, que começa com o Presidente Costa e Silva e segue com o Presidente Médici, foi classificado como “milagre econômico”, pois a economia crescia a taxas em torno de 10% ou mais. Considerando, então, que o crescimento econômico implica em aumento nos preços, nesse período, já não havia tanta preocupação com a inflação. Assim, o desenvolvimento do mercado de crédito estimulou o consumo da classe média, e o Sistema Nacional de Habitação se vinculou ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) no financiamento do Banco Nacional de Habitação, o que, consequentemente, permitiu o crescimento da construção civil. Além disso, o estímulo à exportação e a ocupação da capacidade ociosa pela indústria também ajudaram com o alto crescimento econômico no período. Durante o “milagre econômico”, o governo estimulou a concentração do setor bancário, de maneira que se formasse uma estrutura oligopolista, ocasionando uma redução nos custos de operação bancárias, já que os bancos teriam ganhos com economia de escala. Essa economia acontece quando o aumento do retorno produtivo é maior do que o aumento nos custos (ABREU, 2014). Entre os fatos marcantes do notório crescimento no “milagre econômico”, cita-se o I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que objetivou a redução das desigualdades regionais por meio de investimentos em infraestrutura, a exemplo da 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 11/26 rodovia Transamazônica. Também foram criadas estatais, como a Telebrás e a Eletrobrás, que ficaram encarregadas de obter financiamentos externos, causando, posteriormente, uma crise da dívida externa (ABREU, 2014). Mais tarde, entre 1974 e 1980, o governo de Geisel aplica o II PND, que mira na substituição de importação de bens de capital via subsídios e diversificação da matriz energética, como a construção de hidrelétricas (ABREU, 2014). Com relação ao crescimento econômico do II PND, houve uma piora acentuada na dívida externa. Assim, ao tentar controlar o passivo externo, o governo de Figueiredo, entre 1979 e 1985, sofreu com um aumento das taxas de juros nos refinanciamentos, principalmente devido a menor liquidez mundial (menor fluxo monetário no mundo). A menor liquidez ocorreu porque a economia internacional ressentiu o choque do petróleo praticado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que reduziu a oferta do produto para elevar os preços (ABREU, 2014). Já em 1985, o governo de Sarney marca o início da abertura política. Tancredo Neves foi eleito presidente pelo Congresso Nacional por meio das eleições indiretas (as eleições diretas são realizadas pelo povo), mas falece devido a um adoecimento. Assim, o então seu vice assume o poder. 2.2.2 Abertura política e econômica O principal fato marcante no governo de Sarney foi a busca para a superação da inflação. Portanto, tentou-se diversos planos econômicos para conter os preços, como o congelamento praticado no Plano Cruzado, em 1986. Entretanto, nenhum deles obteve sucesso em segurar o quadro hiperinflacionário (elevação acelerada e persistente da inflação), o que só veio a ser conquistado com a introdução do Plano Real, em 1994, durante o Governo de Itamar Franco (1992-1994). 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 12/26 Com o governo de Fernando Collor, em 1990, iniciou-se uma reorganização da administração pública federal, das privatizações e da abertura comercial, as quais foram seguidas no governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1995. Porém, o descontentamento popular pela prática do congelamento das poupanças para aliviar o consumo e, com isso, a inflação, que, aliás, falhou, criou condições para o seu impeachment, sob acusações de corrupção (ABREU, 2014). Já em 2003, o governo de Lula ficou caracterizado por um período de crescimento econômico, geração de empregos, além de inflação e dívida pública (% PIB) controlada. Não obstante, em 2005, o governo sofre a Crise do Mensalão, em que diversos parlamentares foram acusados de receber propina para votar a favor do então presidente (ABREU, 2014). Durante o governo de Lula, a economia internacional gozava de um cenário favorável, em que as commodities (produtos primários negociados no mercado internacional) estavam com os preços valorizados, aliadas ao forte fluxo de capital, substanciando, assim, o acúmulo de reservas de moeda estrangeira e o crescimento do país. Além disso, vale destacar que, quando entra muita divisa, a moeda nacional Figura 3 - O Real simboliza a superação da alta inflação e a estabilidade de preços. Desde a sua introdução, a economia brasileira não sofre com a hiperinflação. Fonte: Catarina Belova, Shutterstock, 2018. 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x…13/26 se fortalece perante a estrangeira, como o dólar e o euro. Dessa forma, com a valorização na taxa de câmbio, os importados ficam menos custosos e há menor pressão altista nos preços domésticos. Por fim, após a saída de Lula e a entrada de Dilma Rousseff, o governo passou por dificuldades com o controle inflacionário, tendo em vista que sofreu declínio de credibilidade junto ao mercado; e também com o controle do déficit público, devido à queda da arrecadação com redução da atividade econômica ensejada pela Crise do Subprime. O artigo “Impedindo Dilma”, escrito por Fernando Limongi, apresenta alguns fatos que determinaram a decisão final do impeachment da Presidente Dilma Rousseff, diferentemente daqueles que oficialmente são justificados, no qual é apresentado algumas razões que levaram certos políticos a se indisporem com o governo. Leia o texto completo no link: <http://novosestudos.uol.com.br/wp- content/uploads/2017/06/IMPEDINDO-DILMA-Fernando-Limongi.pdf (http://novosestudos.uol.com.br/wp-content/uploads/2017/06/IMPEDINDO-DILMA-Fernando- Limongi.pdf)>. Diante de acentuada queda de popularidade e falta de apoio do Congresso Nacional, a presidente sofreu impeachment, sob a acusação do crime de responsabilidade fiscal, devido à prática das “pedaladas fiscais”. Isso significa que houve retardamento de repasses aos bancos federais, referentes a subsídios e benefícios socais, bem como a utilização de crédito suplementar para o Plano Safra, sem a autorização do Congresso, por meio de decreto. Assim como no governo de Lula, o governo de Dilma estimula o papel do BNDES no desenvolvimento econômico, liberando crédito à indústria. Na política externa, busca-se a ampliação das trocas comerciais no Mercosul e o acordo de abertura comercial entre a União Europeia. VOCÊ QUER LER? http://novosestudos.uol.com.br/wp-content/uploads/2017/06/IMPEDINDO-DILMA-Fernando-Limongi.pdf 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 14/26 2.3 Economia política e planejamento econômico A década de 1940 encarou um relevante debate entre dois pensadores: Roberto Simonsen e Eugenio Gudin, em relação ao planejamento econômico brasileiro, que transparece até hoje toda uma influência de valores e estudos da economia política no Brasil. Aliás, você conhece Roberto Simonsen? Ele foi um defensor da intervenção do Estado na economia, como forma de suprir os vácuos ou lacunas mal preenchidas pelo setor privado. Mas e quanto a Eugenio Gudin? Ele, por sua vez, foi opositor das ideias de Simonsen, colocando fundamentos das deficiências da intervenção estatal no mercado. A partir de agora, estudaremos o planejamento econômico e a economia política, com enfoque para como o Estado pode atuar, visando o desenvolvimento de uma economia. 2.3.1 Pensamento de Simonsen O industrial Roberto Simonsen, em 1944, apresenta um artigo ao Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial chamado “A planificação da economia brasileira”. No documento, ele justifica a necessidade da intervenção estatal na economia no estágio em que se encontrara o desenvolvimento da economia nacional (TEIXEIRA; MARINGONI; GENTIL, 2010). Em sua explanação, o industrial detalha a avaliação da economia brasileira feita por uma missão técnica estadunidense, em 1942, em que observa que o desenvolvimento industrial brasileiro estava atrasado e necessitava de importação de recursos produtivos essenciais, como o petróleo (TEIXEIRA; MARINGONI; GENTIL, 2010). A missão ainda propôs a criação de bancos industriais destinados ao financiamento da infraestrutura e das estruturas produtivas, além da promoção de assistência técnica (TEIXEIRA; MARINGONI; GENTIL, 2010). Em 1952, foi criado o BNDE e, no ano seguinte, o Banco do Nordeste. Ambos para financiar o desenvolvimento da produção nacional. Aliás, até hoje, podemos observar industriais pressionarem por mais liberações de crédito no BNDES, uma 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 15/26 vez que a taxa de juros do mercado para financiamento de longo prazo é mais elevada (ABREU, 2014). Após a apresentação do artigo, Simonsen também fez uma breve análise da economia brasileira, na qual apontou que, no período vigente da Segunda Guerra Mundial, a economia do país obteve um considerável progresso. Entretanto, ainda faltavam indústrias fundamentais para o desenvolvimento da produção nacional, além do déficit de infraestrutura, carência de progresso técnico na produção e mão de obra qualificada, fatores que obstam o progresso industrial (TEIXEIRA; MARINGONI; GENTIL, 2010). Como consequência, Simonsen conclui a necessidade da intervenção governamental na economia para proporcionar o progresso econômico, tal como ocorrera na Rússia e nos Estados Unidos (TEIXEIRA; MARINGONI; GENTIL, 2010). Com tudo isso, o industrial ainda ponderou que o Estado deveria planejar o desenvolvimento das indústrias-chaves para o progresso produtivo nacional, sob a criação de bancos industriais para o investimento produtivo. Além disso, também Figura 4 - Simonsen considerava a intervenção estatal um meio de alocação de recursos produtivos para o desenvolvimento da estrutura produtiva nacional. Fonte: Andrey_Popov, Shutterstock, 2018. 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 16/26 deveria haver investimento técnico-científico, como a criação de institutos de pesquisa tecnológica, industrial e agrícola, bem como educação profissionalizante. Simonsen também menciona que o grau de intervencionismo deveria ser discutido entre as entidades de classe, de modo a não impedir a dinâmica do setor privado. Assim, é possível proporcionar, ao mesmo, o aparelhamento do país. Para o industrial, enquanto a economia se desenvolve, o capital produtivo deve ser protegido contra a concorrência estrangeira (TEIXEIRA; MARINGONI; GENTIL, 2010). Contudo, Simonsen não foi o único a deixar registros sobre a economia. Gudin também teve seu papel na história, o qual veremos na sequência. 2.3.2 Pensamento de Gudin Eugenio Gudin, Ministro da Fazendo durante o governo de Café Filho, vai contra as afirmações de Simonsen, enxergando o plano de intervenção do governo na economia como a solução de todos os problemas econômicos (TEIXEIRA; MARINGONI; GENTIL, 2010). Gudin reverbera a doutrina do livre-comércio de Adam Smith ao apontar que ela é a negação da interferência estatal, partindo do princípio de que a riqueza da nação representa o total das riquezas dos indivíduos, guiados pelo interesse próprio e com liberdade de alocar seus recursos como bem entendem. De acordo o pensador, até 1914, a economia liberal conduziu muito bem a humanidade, aumentando o bem-estar social e o padrão de vida das pessoas. No entanto, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, os alicerces da estrutura liberal foram abalados, uma vez que desorganizaram ou destruíram os sistemas econômicos dos países (TEIXEIRA; MARINGONI; GENTIL, 2010). Para Gudin, os interessados na planificação são os socialistas, que querem a eliminação da propriedade privada; a burocracia, interessada na concentração de poder; e certos empresários, que miram no plano de intervenção do governo na economia um excelente meio de eliminação da concorrência e consolidação das posições garantidas, sob a tutela estatal (TEIXEIRA; MARINGONI; GENTIL, 2010). Inclusive, Gudin afirmava que o único argumento favorável à proteção governamental contra a concorrência estrangeira é a indústria nascente. Assim, à medida que essa indústria for se desenvolvendo, retira-se aos poucos a proteção para que a concorrência estimule a inovação. 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x…17/26 Ainda conforme o pensador, a ideia de que um país industrializado é rico, enquanto que um país de produção primária é pobre, vai contra suas crenças. Ele considerava que, quando se dispõe de conhecimentos técnicos, um país se desenvolve com ganhos de produtividade. Portanto, uma nação de riquezas naturais pode obter vantagens no comércio exterior ao investir na produtividade agrícola. Assim, se o governo continuar a proteger a indústria com tarifas alfandegárias, manterá o país na pobreza. Gudin também defendia que a cooperação estatal com a iniciativa privada deveria se dar por meio de medidas administrativas e legislativas — como o monopólio —, aos cartéis e outras formas que inibam a concorrência, pois é a livre concorrência que promove o progresso econômico. CASO Figura 5 - Gudin defendia que a concorrência deve ser estimulada, pois é indispensável ao incentivo à inovação e ao progresso econômico de uma nação. Fonte: Pressmaster, Shutterstock, 2018. 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 18/26 Os defensores da intervenção governamental são favoráveis aos financiamentos do BNDES em razão, justamente, da condição de subdesenvolvimento na economia brasileira. Já os que são contrários a essa ideia consideram o BNDES um canal de elevação das contas públicas. Temos o exemplo da JBS, que, durante os governos de Dilma e Lula, obteve seus créditos aprovados no BNDES. Como resultado, a empresa se tornou a maior produtora de carne bovina do mundo, investindo na compra da concorrente estadunidense Swi�, entre outras empresas do segmento de carnes. Em meio a essa discussão, você pode decidir o que é mais favorável para a sua empresa: o maior gasto do governo, via BNDES, que pode gerar aumento dos impostos e da taxa de juros; ou optar por financiamentos do BNDES para gerar mais renda na economia. Esses tipos de afirmações levaram Simonsen a caracterizar Gudin como um “partidário convicto da agricultura” (TEIXEIRA; MARINGONI; GENTIL, 2010). A convergência entre Gudin e Simonsen está no incentivo ao investimento público em centros ou institutos de pesquisa técnico-científico. Quanto ao crédito, Gudin recomenda que ele seja expandido na recessão econômica e reduzido no crescimento, assim como as obras públicas podem ser estimuladas na recessão e inibidas no crescimento (TEIXEIRA; MARINGONI; GENTIL, 2010). Visto as diferenças entre o pensamento favorável ao livre comércio e o adepto da interferência governamental, analisaremos, agora, como as políticas públicas promovem a ciência e a tecnologia. 2.4 Políticas públicas de incentivo à inovação tecnológica Você sabia que o Brasil não permite que instituições privadas operem instituições públicas-científicas? Aliás, você já tinha ouvido falar na relação entre Estado e setor privado para realizar pesquisas tecnológicas? E quanto as razões do atraso em ciência e tecnologia no Brasil? Para responder esses questionamentos, a partir de agora, você estudará as políticas em ciência e tecnologia no Brasil e nos Estados Unidos, o que ternará perceptível a relevância tanto do Estado quando do ente privado no progresso tecnológico. 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 19/26 Também iremos estudar o Modelo de Solow, que é um modelo tradicional para avaliar o crescimento econômico; e veremos com mais detalhes alguns aspectos referentes ao progresso tecnológico. 2.4.1 Modelo de Solow e progresso tecnológico De acordo com o Modelo de Solow, o crescimento econômico está em função do nível de capital e mão de obra. Sendo assim, a acumulação de capital determina o nível de investimento e, consequentemente, o nível do produto. Então, quando o nível de poupança cresce, o nível de capital (K) se eleva e, por consequência, sobe o investimento e o produto (Y). Dessa forma, ao aumentar o capital por trabalhador (K/N), o produto por trabalhador (Y/N) cresce. O Modelo de Solow poder ser ampliado ao avaliar que a infraestrutura, a educação e o progresso tecnológico afetam positivamente o crescimento. Se o governo é perdulário, sobra menos poupança pública para investir em infraestrutura, assim como em educação e tecnologia. Com isso, o investimento em educação, dito capital humano, eleva o produto por trabalhador (Y/N) (DORNBUSCH; FISHER, 1991). 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 20/26 Quanto à tecnologia, por reduzir o número de trabalhador na produção, eleva-se o capital por produto (K/N). Isso significa que o progresso tecnológico aumenta a produtividade. Aliás, mesmo com a tecnologia estando associada à perda de emprego, a experiência em muitos países mostra o oposto (BLANCHARD, 2007). 2.4.2 Incentivo à tecnologia no Brasil e nos Estados Unidos A criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em 1951, marcaram um princípio das ações governamentais voltadas às Figura 6 - O progresso tecnológico eleva o nível do crescimento econômico em longo prazo, pois torna maior a produtividade. Fonte: Shutterstock, 2018. 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 21/26 políticas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) no Brasil (CAVALCANTE, 2009). Mais tarde, no final da década de 1960, o Governo Federal criou a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que privilegiou a pesquisa científica e se voltou para o financiamento da implantação de cursos de pós-graduação. Já a partir da década de 1970, o governou passou a produzir os Planos Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBDCT) para articular metas e ações de CT&I junto aos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND). Na década de 1980, devido ao foco do governo no combate à hiperinflação, as políticas de CT&I foram deixadas de lado. O processo de abertura comercial — que levou a exposição das empresas brasileiras à concorrência estrangeira — fez com que o governo desse relevo ao fomento à inovação como mecanismo de competitividade, em vez de subsidiar a indústria. Assim, as análises setoriais passaram a observar ações para ganhos de competitividade em uma dimensão sistêmica, que envolve o setor privado e o público. Contudo, a insuficiência de gastos públicos e privados é um problema para essa articulação. De maneira gradual, as ações voltadas a incentivar a pesquisa e o desenvolvimento (P&D) no setor privado e de articulação deste com as instituições de Ensino Superior só acontecem no início da década de 1990. Entretanto, esses instrumentos se tornaram pouco efetivos, em razão das restrições fiscais (CAVALCANTE, 2009). Em 1999, passou a haver uma preocupação em criar fundos setoriais, a fim de ter a CT&I em um formato sistêmico de cooperação entre o governo e o setor privado, envolvendo o incentivo empresarial e um novo padrão de financiamento. Com isso, em 2004, foi criada a Lei da Inovação, e, no ano seguinte, a Lei do Bem para incentivos fiscais à inovação (CAVALCANTE, 2009). Dessa forma, houve um crescimento do envolvimento privado em P&D, em virtude da maior concorrência externa; além da introdução de políticas públicas de fomento à inovação. Todavia, comparações internacionais demonstram que os gastos em P&D são feitos em sua maioria pelo setor público. Além disso, a elevada participação do Ministério da Educação e Cultura (MEC) nos gastos em P&D aponta um favorecimento da pesquisa científica. Os critérios de avaliação de desempenho da CNPQ tendem a privilegiar a pesquisa científica em 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x…22/26 relação ao depósito de patentes (pesquisa tecnológica). Isso evidencia a fragilidade do caráter sistêmico da CT&I no Brasil, pesando na persistência do modelo linear de inovação. O modelo linear, adotado no mundo a partir da década de 1940, compreende que a inovação deve seguir etapas, começando pela pesquisa básica e aplicada, passando pela pesquisa experimental, até chegar na atividade econômica (CAVALCANTE, 2009). Em 1990, a participação brasileira no total de artigos em periódicos internacionais era de 0,6%. Já em 2007, ela passa para 2,5%. Enquanto isso, a participação no total de concessões de patentes é de 0,1%, em 2004 (CAVALCANTE, 2009). O artigo “Revoluções tecnológicas, finanças internacionais e estratégias de desenvolvimento: um Approach Neo-Schumpeteriano”, de Marcelo Arend, traz uma análise do subdesenvolvimento econômico brasileiro, no qual a economia não se inseriu na última revolução tecnológica (Microeletrônica), iniciada na década de 1970. Isso resultou na ampliação da fronteira tecnológica entre o Brasil e os países desenvolvidos. Leia o artigo em: <https://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/view/2393 (https://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/view/2393)>. Já nos Estados Unidos, houve um forte crescimento do investimento governamental em pesquisa, entre o final de 1950 e início da década de 1970, no contexto da Guerra Fria, o qual ocasionou elevados investimentos em P&D voltados para a indústria bélica. Assim, em 2013, os Estados Unidos investiram por volta de 2,8% do PIB em P&D, sendo que, desse total, 0,8% foram investimentos públicos, nos quais a metade foram para a Defesa (NEGRI; SQUEFF, 2014). VOCÊ SABIA? VOCÊ QUER LER? https://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/view/2393 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 23/26 Que o crescimento chinês é resultado da ação estatal? A política chinesa para ciência e tecnologia tem uma ótica sistêmica. Assim, na década de 1980, a Lenovo foi criada pela legislação, permitindo que universidades e institutos possuíssem empresas de alta tecnologia. Para se aprofundar no assunto, você pode acessar o link: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3928/1/BEPI_n13_politicas.pdf (http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3928/1/BEPI_n13_politicas.pdf)>. De acordo com Negri e Squeff (2014), os Estados Unidos apresentam uma variedade de instituições executoras dos recursos de P&D, as quais incluem: institutos de pesquisa e laboratórios federais vinculados aos Departamentos de Estado (conhecido como Ministérios no Brasil), como laboratórios ligados à NASA; laboratórios federais operados privadamente por empresas, universidades, instituições sem fins lucrativos ou consórcio dessas instituições, como a Embrapa e a Fiocruz; concessão de subvenções para pessoas e empresas; acordos de cooperação; contratos de P&D, nos quais o governo contrata o desenvolvimento tecnológico de produtos e serviços, sendo que essa contratação é claramente prevista na legislação de compras públicas dos Estados Unidos, atividade que é menos desenvolvida no Brasil. Vale destacar, ainda, que os Departamentos de Estado têm como missão principal desenvolver a ciência e a tecnologia em suas áreas ao alocar os recursos. Isso porque a ciência e a tecnologia são meios para alcançar os objetivos de cada missão institucional. Quadro 1 - Podemos comparar as políticas brasileira e estadunidense, assim, vemos o desempenho dos Estados Unidos sendo superior em ciência e tecnologia. Fonte: Elaborada pelo autor, baseado em CAVALCANTE, 2009 e NEGRI; SQUEFF, 2014. http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3928/1/BEPI_n13_politicas.pdf 12/09/22, 17:28 Economia Política https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=L3kNgFfmjYtuJe%2bT6C3TPw%3d%3d&l=N5BDPdeI%2bbIqyNPbvaTPAg%3d%3d&cd=x… 24/26 Menos de 5% do investimento público em P&D é realizado por uma agência governamental voltada para o fomento científico. Além disso, conforme menciona Negri e Squeff (2014), a maior dos recursos de P&D são voltados para o desenvolvimento e engenharia (pesquisa tecnológica). Síntese Concluímos a unidade relativa à posição da economia brasileira no atual contexto mundial. Agora, você já conhece as fases da economia brasileira, os diferentes fundamentos do planejamento econômico, os fatores que afetam o desenvolvimento da economia, entre outros pontos relevantes. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: entender que as economias periféricas têm desenvolvimento para fora; compreender a produção industrial brasileira, que nasce graças à renda do café na economia; analisar o ano de 1956, quando se inicia a fase da industrialização intensiva; absorver quanto ao decênio de 1980, que é célebre pela alta inflação, superada pelo Plano Real; assimilar que Gudin defende o liberalismo, enquanto que Simonsen defende a intervenção governamental; perceber que o modelo sistêmico de inovação oportuniza o progresso tecnológico. Referências bibliográficas ABREU, M. de P. (Org.). A Ordem do Progresso: dois séculos de política econômica no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. AREND, M. 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