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Realismo-resumido

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REALISMO
Contexto histórico
A partir da segunda metade do século XIX, a concepção espiritualista de mundo que caracterizava o período romântico vai sendo substituída por uma visão mais científica e materialista, decorrente da importância dada à ciência, vista como único instrumento seguro para explicar a realidade.
a) Sociedade:
Na Europa, a aristocracia feudal e a Igreja deixaram de desempenhar um papel orientador na vida política. 
A classe média, cuja maneira de viver nada tem em comum com a aristocracia tradicional, passa a ocupar o primeiro plano no cenário histórico. Mais tarde, classe média e operariado, cujos objetivos se confundiam, começam a separar-se.
Dessa separação decorre a consciência do proletariado e seu esforço no sentido de se organizar. São essas condições que propiciam o Manifesto Comunista de 1848, em que Marx e Engels analisam a situação do proletariado e apontam soluções para os problemas detectados.
b) Economia:
O racionalismo econômico do período leva a uma industrialização cada vez mais intensa, com a consequente vitória do capitalismo. “O dinheiro é a grande força que domina toda a vida pública e privada, toda a força e todos os direitos passam a se exprimir através dele. Tudo, para ser compreendido, tem que se reduzir a um denominador comum: o dinheiro”. (Arnold Hauser)
O enorme progresso científico da época gerou a teoria de que todos os fenômenos aparentemente isolados, na verdade, pertenciam a uma única realidade material. É notável o desenvolvimento das ciências biológicas. A título de exemplo, citamos algumas descobertas do período: a utilização do éter na anestesia, a assepsia, a teoria microbiana das doenças, a descoberta dos micro-organismos responsáveis pelas sífilis, malária e tuberculose, a descrição dos hormônios e vitaminas.
Às anteriores, associam-se as buscas no campo da calorimetria, ótica, termodinâmica, telefonia, astronomia, eletricidade, eletromagnetismo, etc.
Identificam-se a pesquisa e o uso de novas fontes de energia, como o carvão, o petróleo e a eletricidade, o que propicia o desenvolvimento industrial, em especial, na metalurgia e nos ramos têxteis.
Paralelamente, acentua-se o interesse pela biologia e pela genética, que até os anos anteriores haviam permanecido limitadas pelas concepções dos antigos.
Assim, João Batista Lamark (1744-1829) formula as leis da evolução natural, assegurando que a formação ou desaparecimento de órgãos, nos seres vivos, são condicionados pelo uso, e que as alterações ocorridas se integram ao patrimônio da espécie.
Fundamental é a referência ao Darwinismo, princípio estabelecido por Darwin, de que há uma comunhão de origem entre todos os seres vivos. É a teoria da evolução natural das espécies, que expõe uma concepção biológica da vida. Darwin publica, em 1859, A Origem das Espécies provocando uma verdadeira revolução no campo das ciências.
d) Filosofia:
Positivismo
No campo da filosofia, o evento que se destaca é a publicação do Curso de Filosofia Positiva, ocorrido entre 1830 e 1842, e a do Sistema de Política Positiva, entre 1851 e 1854, ambos da autoria de Augusto Comte (1798 - 1857). Com essas obras, instaura-se um novo pensamento filosófico, que não destoa da mentalidade geral da época no que diz respeito à importância da natureza, da objetividade e do culto ao real. Segundo Comte, a humanidade está entrando, com o Positivismo, em um terceiro estágio de sua evolução - os dois primeiros haviam sido o teológico e o metafísico.
Agora, os fatos é que determinam o conhecimento, o abstrato perdeu seu valor para o concreto; a observação e a experiência tornam-se regras básicas para o pensamento e para a atividade científica.
Determinismo
Doutrina de Taine, que explica a obra de arte como produto de leis inflexíveis: raça, meio e momento. Fundamentado nos princípios positivistas, Taine leva, em 1864, as novas concepções para o domínio artístico, criando o determinismo literário, no prefácio de sua História da Literatura Inglesa.
Procura provar que a “personalidade” do homem é condicionada por três aspectos: a) Hereditariedade - a criança recebe caracteres do pai e da mãe; b) Meio ambiente - a criança vai aprendendo a se comportar em contato com outras pessoas; c) Momento Histórico - em cada época da história da humanidade a criança desenvolve-se e forma sua personalidade segundo as influências de então.
Quando o escritor realista se orientava por esse cientificismo, elaborava obras classificadas como naturalistas (um realismo mais científico).
Resta-nos, ainda, citar a forte atuação que as ideias filosóficas de Arthur Schopenhauer (1788 - 1860) exercem sobre o pensamento europeu do século XIX. Através de três obras: Mundo como vontade e representação (1819), A autonomia da vontade (1839) e O Fundamento Moral (1840), o filósofo alemão apresenta o homem condicionado a determinismos morais. Segundo suas ideias, “o mundo é a exteriorização de uma força cega, onde viver significa sofrer. O homem é determinado pela dor e pelo sofrimento, e a conquista da alegria também advém de um esforço doloroso que logo destrói as ânsias e desejos humanos”.
Todas essas doutrinas contribuem para dar ao homem deste momento uma concepção materialista da vida. O subjetivismo cede lugar ao objetivismo; o interesse pelo passado, característico do Romantismo, é substituído pelo presente e pela noção de desenvolvimento e progresso.
e) Sociologia:
No domínio da sociologia, aparecem as teorias de Spencer, explicando a luta pela existência como uma crescente divergência entre as classes sociais. 
Em 1862, inicia seus trabalhos, formulando O Evolucionismo, levando os historiadores a interpretarem a história como resultante de movimentos sociais.
Nas artes plásticas
Os quebradores de pedra, de Gustave Courbet, 1849. Óleo sobre teia
"Courbet proclamou-se inimigo do ideal, da poesia e da religião. Não que ele não tivesse um ideal, mas esse ideal era o oposto do que os seus contemporâneos consideravam como ideal. 
Contra a beleza total, contra a escolha na natureza, com uma fé absoluta na sua ciência de reproduzir os objetos físicos como ele os via, contra as classes elevadas da sociedade, o esnobismo e a pretensão à cultura que as caracterizavam, Courbet apega-se à terra, à gente do povo e à sua verdadeiro maneira de viver
O povo torna-se tema da pintura, fato que representa uma tomada de posição política por parte dos pintores que seguem a nova estética. Para eles, verdade social e verdade artística se identificam, tornando-se a arte um meio de denúncia da ordem social vigente, um protesto contra a classe dominante.
O Realismo e o público
Quando Madame Bovary apareceu em folhetins, despertou admiração e escândalo ao tratar de modo direto e franco do adultério de uma legítima representante do universo burguês. 
Emma Bovary (2ª madame de Bovary)viveu sempre em um convento e se casa com Charles Bovary esperando viver o amor que os romances românticos que lia apontava.
Envolve-se com amantes: Rodolphe (que a larga) e Leon; fica endividada por conta do primeiro e se mata com veneno pelo desespero, deixando a filha Bert (fruto do relacionamento com Charles) sem a mãe. O pai, após descobrir que está falido e que foi traído, morre de desgosto.
A obra não é bem recebida porque o desejo de compreender as transformações sociais levava o público a procurar obras em que a idealização romântica fosse substituída por uma postura racional. O que esse leitor não esperava era encontrar uma condenação do seu modo de vida. 
Por esse motivo, a reação do público foi desqualificar os autores mais incisivos, como Gustave Flaubert e Eça de Queirós, acusados de abordar temas imorais. 
No Brasil, Machado de Assis também espantou o público após a publicação de seu romance mais ousado, Memórias póstumas de Brás Cubas. A causa do espanto, porém, era outra: a estrutura dessa narrativa rompia todas as expectativas de um leitor acostumado aos romances românticos.
O Realismo literário
O materialismo na literatura
O subjetivismo é substituído por um olhar mais objetivo.O interesse pelo funcionamento e pela organização da sociedade leva os escritores realistas a abordarem principalmente duas coisas:
As necessidades materiais humanas (alimentação, moradia, etc.) 
Discutir as condições econômicas (aspectos referentes ao mundo do trabalho) necessárias para satisfazer tais necessidades. 
Esse interesse pela realidade concreta, material, afasta o romance realista da perspectiva idealizada o que caracterizou o romantismo.
A objetividade “absoluta” da prosa realista precisa ser questionada porque os autores tendem a direcionar o pensamento racional dos leitores diferentemente dos românticos. Como exemplo temos a forma como o narrador de O primo Basílio descreve dona felicidade de Noronha:
Sobre a anatomia do caráter...
Condição para compreender a sociedade era observar como se compor estavam as pessoas e se havia alguma relação entre esse comportamento e problemas sociais. 
Os realistas deixam de lado o particular, o exótico, e procuram flagrar o que é típico, sistemático, recorrente. Vem daí o interesse pela análise das motivações psicológicas que poderiam explicar certos comportamentos. 
Além disso, as personagens também passam a ser construídas de modo coerente com o contexto social, cultural, econômico e político em que se inserem.
Em resumo
A atração que D. Felicidade sente pelo Conselheiro é exibida como "uma doença" que a desmoraliza "como um vício". 
Seu gosto pelos homens calvos é definido como "perverso". 
A cena explora o lado ridículo desse sentimento: estamos contemplando a degradação daquela senhora, que mal consegue se controlar ao ver a calva do Conselheiro Acácio.
O enfado da burguesia lisboeta
Em seu romance mais conhecido, Eça de Queiros volta seu olhar crítico para o casamento como instituição representativa da hipocrisia burguesa.
O primo Basílio (episódio doméstico) foi originalmente publicado em 1878 e conta a história de Luísa, jovem educada segundo os princípios românticos que, estando casada com o engenheiro Jorge, deixa-se seduzir pelo primo, Basílio de Brito, que volta a Portugal durante uma viagem de Jorge. 
Jorge é um jovem engenheiro lisboeta de boa família. Luísa pertence igualmente a burguesia abastada de Lisboa. Após a morte da mãe de Jorge, o rapaz encanta-se com Luísa e rapidamente decidem casar-se.
Juntos fazem um típico casal privilegiado com um cotidiano monótono e previsível.
A apresentação da personagem destaca como a desocupação e o ócio marcam sua vida:
Luísa espreguiçou-se. Que seca ter de se ir vestir! Desejaria estar numa banheira de mármore cor-de-rosa, em água tépida, perfumada, e adormecer! Ou numa rede de seda, com as janelas cerradas embalar-se, ouvindo música! Sacudiu a chinelinha; esteve a olhar muito amorosamente o seu pé pequeno, branco como leite, com veias azuis, pensando numa infinidade de coisinhas: - em meias de seda que queria comprar, no farnel que faria a Jorge para a jornada, em três guardanapos que a lavadeira perdera... Tornou a espreguiçar-se. E saltando na ponta do pé descalço, foi buscar ao aparador por detrás de uma compota um livro um pouco enxovalhado, veio a estender-se na voltaire, quase deitada, e, com o gesto acariciador e amoroso dos dedos sobre a orelha, começou a ler, toda interessada. [...]
Enxovalhado = amarrotado
O trecho destaca aquela que era a maior paixão de Luísa: os romances românticos. 
A intenção de Eça é mostrar, por meio da historia dessa personagem, como uma educação baseada nos princípios Românticos pode levar a busca de uma vida marcada pelo desejo da aventura, sem qualquer preocupação com as instituições sociais. 
Por meio de Luísa, o escritor ilustrará essa tese: a personagem, casada com o engenheiro Jorge, deixa-se seduzir pelo primo, Basílio de Brito, porque deseja viver uma aventura semelhante às dos romances que lia. O romance ganha força com a presença de Juliana, criada na casa de Jorge e Luísa. 
Revoltada com sua condição social, Juliana espera uma oportunidade para mudar de vida. Nas páginas em que apresenta a personagem, Eça mostra toda a sua habilidade de romancista, tornando quase palpável para o leitor o ódio social que movia o comportamento de Juliana.
[...] Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mudava de amos, mas não mudava de sorte. Vinte anos a dormir em cacifos, a levantar-se de madrugada, a comer os restos, a vestir trapos velhos, a sofrer os repelões das crianças e as más palavras das senhoras, a fazer despejos, a ir para o hospital quando vinha a doença, a esfalfar-se quando voltava a saúde!... Era demais! Tinha agora dias em que só de ver o balde das águas sujas e o ferro de engomar se lhe embrulhava o estômago. Nunca se acostumara a servir. [...]
A necessidade de se constranger trouxe-lhe o hábito de odiar; odiou sobretudo as patroas, com um ódio irracional e pueril. Tivera-as ricas, com palacetes; e pobres, mulheres de empregados, velhas e raparigas, coléricas e pacientes; - odiava-as a todas, sem diferença. É patroa e basta! [...]
QUEIROS, Eça de. O primo Basílio. 21. ed. São Paulo: Ática, 1998, p. 61-63. (Fragmento).
Chantageada pela criada Juliana, que intercepta cartas trocadas pelos amantes, Luísa vê seus sonhos desmoronarem. 
O principal alvo da crítica, nesse romance, é a pequena burguesia lisboeta
O lado moralizador do Realismo se faz presente no arrependimento final da mulher adúltera.
Quando Jorge volta da viagem, estranha o comportamento da empregada e decide demiti-la. A partir de então, as chantagens se intensificam e Luísa não vê outra alternativa se não pedir ajuda a um amigo.
Um exemplo da chantagem...
"Nessa semana, uma manhã, Jorge, que não se recordava que era dia de gala, encontrou a secretaria fechada e voltou para casa ao meio-dia. (...) chegando despercebido ao quarto, surpreendeu Juliana comodamente deitada na chaise-longue* , lendo tranquilamente o jornal (...) Jorge não encontrou Luísa na sala de jantar; foi dar com ela no quarto dos engomados, despenteada, em roupão de manhã, passando roupa, muito aplicada e muito desconsolada. 
- Tu estás a engomar? - exclamou. (...) 
A sua voz era tão áspera, que Luísa fez-se pálida, e murmurou: 
- Que queres tu dizer?
 - Quero dizer que te venho encontrar a ti a engomar, e que a encontrei a ela lá embaixo muito repimpada na tua cadeira, a ler o jornal”
* chaise-longue: cadeira de encosto reclinável e com lugar para estender as pernas
Quando Jorge volta da viagem, estranha o comportamento da empregada e decide demiti-la. A partir de então, as chantagens se intensificam e Luísa não vê outra alternativa se não pedir ajuda a um amigo.
Sebastião - o amigo - pressiona Juliana e consegue obter as tais cartas de volta. Desesperada por perder a oportunidade de crescimento financeiro, a empregada entra em colapso e morre. Luísa, por sua vez, adoece.
Enquanto Luísa padece da doença, Jorge descobre uma carta da esposa trocada com o amante Basílio e toma conhecimento de tudo o que se passou. Paciente, ele espera até a cura da mulher para confrontá-la com o achado.
Quando finalmente confrontada, Luísa, aflita, adoece novamente e, por fim, morre.
O retrato impiedoso da aristocracia
O ano de 1888 viu surgir aquele que é considerado o mais bem-acabado romance escrito por Eça de Queirós: Os Maias (episódios de vida romântica). 
Tomando como ponto de partida dois núcleos diferentes (o envolvimento incestuoso entre os irmãos Maria Eduarda e Carlos da Maia e a vida da alta burguesia de Lisboa), o romance expõe de modo cruel aristocracia que se comporta de modo irresponsável
Criado pelo avô, separado da irmã, Carlos da Maia é um médico que exerce sua profissão apenas por diletantismo. Na vida, não se fixa em nada. Após alguns envolvimentos amorosos, conhece a madame Castro Gomes, por quem se apaixona.
Nessa altura da narrativa, Carlos desconhece que essa mulher é, na verdade, a irmã de quem foi separado na infância e que julgava morta, como a mãe. Quando descobre o parentesco através de uma série de documentos, continua a encontrar-se com a irmã, consciente do incestoque comentem. A situação acaba levando à morte do avô de Carlos. 
Após o funeral, Maria Eduarda viaja para Paris, onde se casa. Carlos passa a viajar pelo mundo e termina o romance também vivendo na capital francesa, aliando ociosidade e diletantismo.
Comparado aos outros romances, Os Maias mostram uma sociedade portuguesa retratada com as tintas do ridículo. 
Focalizando sua lente sobre Lisboa, eleita como um microcosmos representativo de todo o país, Eça não poupa sequer os escritores, caracterizados de modo impiedoso por meio da personagem João da Ega, principal amigo de Carlos da Maia.
Ega é um escritor fracassado, que, apesar de se revelar um eterno romântico, defende ardorosamente os valores da estética realista. 
Revolucionário e cínico, João da Ega personifica, no romance, o olhar irônico do autor para a sua própria geração intelectual, que pretendia realizar uma transformação social por meio da literatura e, anos mais tarde, confessa-se vencida pela vida.
E importante reconhecer que os três romances que constituem as Cenas da vida portuguesa realmente compõem um retrato da burguesia portuguesa como uma classe que tem a hipocrisia como traço definidor. O resultado final é uma obra em que as instituições burguesas não escapam à denúncia do falso moralismo religioso, da encenação do casamento e do ócio da alta sociedade.
Os últimos romances
Os muitos anos vivendo longe da realidade portuguesa, desempenhando a função de cônsul na França e na Inglaterra, fazem com que Eça modere as críticas a Portugal nas últimas obras que escreveu. 
Romances como A ilustre casa de Ramires (1900) e A cidade e as serras (1901 - publicação póstuma) nos mostram um escritor cuja veia realista foi substituída por uma visão mais humanizada e um tanto patriótica, que defende uma postura mais indulgente com relação às falhas do ser humano, chegando mesmo a perdoar-lhe os vícios. 
Ironia e o sarcasmo realistas são substituídos, em A cidade e as serras, pela visão idílica da vida (sonho) em um Portugal rural, único cenário possível para a felicidade do protagonista, Jacinto de Tormes.
[...] Em fila, começamos a subir para a serra. A tarde adoçava o seu esplendor de estio. Uma aragem trazia, como ofertados perfumes das flores silvestres. As ramagens moviam, com um aceno de doce acolhimento, as suas Toalhas vivas e reluzentes. Toda a passarinhada cantava, um alvoroço de alegria e de louvor. As águas correntes, saltantes, luzidias, despedir um brilho mais vivo, numa pressa mais animada. Vidraças distantes de casas amáveis, flamejavam com um fulgor de ouro. A serra toda se ofertava, na sua beleza eterna e verdadeira. [...]
QUEIROS, Eça de. A cidade e as serras. Belo Horizonte: Vila Rica, 1994. p. 191-192. (Fragmento).
A voz do narrador de A cidade e as serras revela o novo olhar de Eça para seu país. Como o protagonista Jacinto de Tormes, também o crítico impiedoso das Cenas portuguesas fizera, afinal, as pazes com suas origens.
O crime do Padre Amaro – Naturalista e Realista
Objetivo de atacar o clero pelos costumes imorais.
Torna-se um escândalo para a sociedade.
Personagens: amaro (o padre), Amélia (amante de amaro), Cônego Dias (padre e mentor de Amaro), José Eduardo (noivo de Amélia), Senhora Joaneira (mãe de Amélia)
“- E diga-me lá então a senhora, já que é tão doutora. O vinho, no divino sacrifício, deve ser branco ou tinto?
D. Josefa parecia-lhe que devia ser tinto, para se parecer mais com o sangue de Nosso Senhor.
Emende a menina, mugiu o cônego de dedo em riste para Amélia.” (p. 218)
“O padre Amaro esclareceu-a, com bondade. O Inimigo tinha muitas maneiras, mas a habitual era esta: fazia descarrilar um trem de modo que morressem passageiros, e como essas almas não estavam preparadas pela Extrema-Unção, o demônio ali mesmo, zás, apoderava-se delas!
- É de velhaco! rosnou o cônego com uma admiração secreta por aquela manha tão hábil do Inimigo.”
 
Realismo - Brasil
No Brasil
A poesia do final da década de 1860 já anunciava o fim do Romantismo; Castro Alves, Sousándrade e Tobias Barreto mantinham-se românticos na forma e na expressão, mas os temas estavam voltados para uma realidade político-social. O mesmo se pode afirmar de algumas produções do romance romântico, notadamente a de Manuel Antônio de Almeida, Franklin Távora e Visconde de Taunay. Era o Pré-Realismo que se manifestava.
1870 - O positi­vismo, o evolucionismo e, principalmente, a filosofia alemã inspiraram o Realismo.
Considera-se 1881 o ano inaugural do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas e mais dois outros romances: O mulato, de Aluísio Azevedo, considerado o primeiro romance naturalista brasileiro e O alienista, uma novela exemplar, publicada em capítulos em A Estação, de outubro de 1881 a março de 1882.
1893 o ano “final” do Realismo, quando foram publicados Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Sousa (simbolista). 
É importante salientar que essas obras registram o início do Simbolismo, mas não o término do Realismo e suas manifestações na prosa, com os romances realistas e naturalistas, e na poesia, com o Parnasianismo. Basta lembrar que D. Casmurro, de Machado de Assis, é de 1900; Esaú e Jacó, do mesmo autor, é de 1904. Olavo Bilac foi eleito "príncipe dos poetas" em 1907
Na segunda metade do século XIX, o Brasil enfrenta um cenário de crise. O fim do tráfico negreiro, em 1850, acelera a decadência da economia açucareira e anuncia a ruptura definitiva do regime escravocrata. 
As discussões sobre a abolição dos escravos não afetam somente os grandes latifundiários, que dependiam da mão de obra para plantar e colher. As instituições políticas também são abaladas, porque a ala progressista ganha força para se opor à mentalidade conservadora dos escravocratas. 
Essa instabilidade institucional atinge a economia, a política e ameaça até o imperador D. Pedro II, com o início da propaganda republicana. O quadro é agravado quando o país se envolve na Guerra do Paraguai.
As bases sociais que sustentavam a ideologia romântica desaparecem. O pensamento burguês mais conservador, que assumiu o poder econômico, entra em confronto com os anseios de uma classe média cada vez mais numerosa.
A sociedade precisava de novos intérpretes para essa realidade. Assim, vemos Machado de Assis assumir esse papel.
Machado de Assis: um cético analisa a sociedade
Com Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis profetiza a construção de um Realismo diferente daquele que surgiu com Flaubert e chegou ao Brasil com os romances de Eça de Queirós. Como avisou no prólogo. seu livro "é taça que pode ter lavores de igual escola, mas leva outro vinho".
A carreira de Machado como escritor costuma ser dividida em duas frases. Determinadas a partir da natureza dos romances que criou. A primeira mostra um autor cuja genialidade já começa a aparecer. Fazem parte dessa fase Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e iaiá Garcia (1878).
Essas obras, apesar de marcadas por traços claramente românticos, traduzem a preocupação do escritor com a questão da ascensão social. As histórias de amor envolvem sempre dinheiro, família e casamento e apresentam a estrutura das narrativas românticas, com princípio, meio e fim, construídas com o objetivo de provocar surpresa e emoção. Essa estrutura demonstra uma intenção evidente de divertir e moralizar, muito presa à forma imposta pelo folhetim.
Romances realistas: melancolia e sarcasmo
A obra da segunda fase machadiana é composta pelos romances Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908). 
A trama de todos desenvolve-se durante o Segundo Reinado, tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro, capital do Império. Os romances da segunda fase machadiana concentram-se na falsidade da vida depois do casamento, marcado pela traição. 
A insistência nesse tema parece ter origem no pessimismo do autor, que vê as relações humanas sempre motivadas por interesse. Tal visão faz com que as personagens,reflexo das camadas dominantes, busquem o proveito próprio, sem espaço para as ações desinteressadas.
As afrontas de um "defunto autor"
Costuma-se dizer que o ano de 1881 marca o inicio do Realismo no Brasil, porque foi nessa data que Machado de Assis publicou Memórias póstumas de Brás Cubas, que promoveu uma ruptura radical com o "modelo" romântico de narrativa.
O romance é a autobiografia de Brás Cubas, narrador protagonista que se apresenta, no primeiro capítulo, como um "defunto autor". O contexto narrativo criado é, portanto, surpreendente: um morto, cansado da vida eterna, resolve escrever suas memórias "póstumas".
O estilo machadiano aparece bastante alterado nessa obra. Machado de Assis abandona a preocupação com o desenvolvimento de uma historia central e cuida de apresentar uma série de episódios ilustrativos da vida de Brás Cubas.
A história não tem nada de excepcional. Na verdade, o que merece estudo e atenção é a composição detalhada e atenta das personagens.
Impressionante observar a arrogância e a prepotência que constituem os traços fundamentais do caráter de Brás Cubas. Diferentemente do que se esperaria de um narrador protagonista, ele revela os piores traços de sua personalidade, “liberado" das consequências por sua cômoda posição de defunto autor que não tem mais nada a perder porque já está morto. 
A frase final explica o titulo "O menino é pai do homem": seu caráter se formou em um contexto familiar que favorecia comportamentos prepotentes. O realismo machadiano é diferente dos outros, foge da crítica direta e fácil. De modo engenhoso, surpreende com um retrato fiel e sem retoques de um membro da elite brasileira. 
Ao apresentar Brás Cubas em toda a sua desfaçatez e arrogância, o que se percebe é que esse era o comportamento daqueles que ocupavam as altas posições em nossa sociedade. Através dele, o leitor é forçado a encarar, sem atenuantes, o retrato de sua própria miséria humana.
Epígrafe do livro “Memórias póstumas de Brás Cubas”
AO VERME QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES DO MEU CADÁVER DEDICO COMO SAUDOSA LEMBRANÇA ESTAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS
Dom Casmurro
Bento confessa ter tentado reconstituir a adolescência na velhice por meio da construção de uma réplica perfeita da casa onde passou sua infância. A estratégia fracassou: ele não é mais a mesma pessoa que viveu dias felizes na casa de Matacavalos ("Se só me faltassem os outros, vá; [...] mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo");
Essas palavras iniciais do narrador são pistas valiosas para a compreensão do projeto narrativo a que se dedica Bento Santiago: provar para o leitor do romance que sua felicidade foi destruída pela traição cometida pela esposa Capitu e pelo amigo Escobar
Sua personalidade começa a transparecer nas primeiras revelações que faz sobre a vida que leva: solitário, sem amigos, em meio às recordações de um passado que busca reconstituir. O isolamento em que vive e a postura algo arrogante valeram-lhe o apelido de "dom casmurro", como ele mesmo esclarece ao explicar o título da obra.
A destruição completa do indivíduo
De modo bastante resumido, Dom Casmurro conta a história de um homem completamente perturbado por um sentimento mesquinho: o ciúme. 
A questão básica é: até que ponto a narrativa de um homem certo de ter sido traído pela esposa é confiável? Como saber o que de fato aconteceu entre Capitu e Escobar (se é que houve mesmo um envolvimento amoroso entre ambos)? 
Apenas Bento Santiago, amargurado e só, decide o que deve ou não ser relatado ao leitor. 
Assim, a grande questão do livro deixa de ser se Capitu cometeu ou não adultério. O que importa é perceber como Machado retrata, de modo extraordinário, o comportamento de um homem completamente transtorno nado pelo ciúme.
Capitu é inteligente, tem iniciativa, procura articular maneiras de livrá-lo do seminário etc. Trata-se de uma garota humilde, mas avançada e independente, muito diferente da mulher vista como modelo pela sociedade patriarcal do século XIX. Nesse sentido, Capitu representa no livro duas categorias sociais marginalizadas no Brasil oitocentista: os pobres e as mulheres. A personagem acabará por “perturbar” a família abastada, ao casar-se com o homem rico.
O leitor no centro da cena literária
A ficção de Machado é caracterizada por um diálogo constante como leitor. Ao contrário do que faziam os românticos, o narrador provoca, insulta desafia e ironiza seu público, transformado em alvo de chacota.
Os contos: o exercício crítico em narrativas curtas
Os contos de Machado de Assis constituem pequenas obras-primas da literatura brasileira. Das várias coletâneas, quatro se destacam: Papéis avulsos (1882), Histórias sem data (1884), Várias histórias (1896) e Relíquias de casa velha (1906). 
"Missa do Galo", por exemplo, apresenta a sedução de um jovem por uma mulher mais velha. Nesse conto, Machado revela toda a sua capacidade de tratar do erotismo sem apelar para descrições de natureza sexual, algo que criticava ferozmente nos romances de Eça de Queirós. 
Outro exemplo de maestria é "O alienista", narrativa que obriga o leitor a olhar de modo crítico para o fervor científico que dominou a sociedade na segunda metade do século XIX.
NATURALISMO
Novas perspectivas para origem humana
Ao lado de todo o desenvolvimento tecnológico, a Europa presenciou, na segunda metade do século XIX, um avanço científico muito significativo. 
A publicação em 1859 do livro A origem das espécies, do biólogo inglês Charles Darwin, causou espanto e revolta de setores mais conservadores da sociedade inglesa.
O ser humano não era fruto da criação divina, mas resultado de um longo processo de evolução e adaptação por que passaram todos os seres vivos. Sua defesa do evolucionismo causou revolta ao afirmar que seres humanos e primatas tinham um ancestral comum. 
Esse pensamento influenciou a estética naturalista, a partir de duas ideias:
A constatação de que o ser humano é um animal como outro qualquer ("uma coisa sórdida, nua, bufante, sem qualquer alusão ao divino").
A crença de que a natureza promove um processo de seleção no qual sobrevivem os mais adaptados e os mais fracos são eliminados (“da guerra da natureza, da fome e da morte segue-se a produção de animais superiores”.
Para uma sociedade com fortes valores religiosos, essas duas ideias soavam como uma negação da origem divina dos seres humanos.
Surge o chamado “Darwinismo social". 
Nesse contexto, o Naturalismo surge como um desdobramento da estética realista, voltado para a valorização da ciência como instrumento para análise da sociedade; 
Outros dois intelectuais influenciaram de modo de finitivo a estética naturalista: Auguste Comte e Hippolyte Taine.
Comte criou a filosofia positivista, que apontava o saber positivo, baseia nas leis científicas, como superior ao teológico ou ao metafísico, muito valorizado em momentos históricos anteriores. 
Hippolyte Taine era um crítico literário e, em seus trabalhos sobre a literatura inglesa, utilizou pela primeira vez o termo determinismo para explicar quais fatores deveriam ser considerados na apreciação das obras literárias de um povo. Segundo ele, o indivíduo era socialmente condicionado por três fatores:
A raça da qual fazia parte e que lhe garantiria uma determinada herança; 
O meio no qual se encontrava; 
O momento em que vivia.
É determinista a visão que apresenta o ser humano como produto do meio em que se encontra, da herança (cultural, social, biológica) recebida e das condições históricas características do momento em que vive. 
Naturalismo: a aproximação entre literatura e ciência
Inspirados pela teoria da evolução, os naturalistas acreditavam que o impulso para a transformação das espécies era a seleção natural. Ressaltavam que os seres humanos não estão livres das leis que regem a natureza, mesmo sendo dotados de razão.
A personagem naturalista age movida por desejos de ordem sexual que quase sempre superam sua capacidade racional de controlá-los.
A literatura passa a ser vista como estando a serviço da ciênciapor esses escritores. Para cumprir esse projeto, os escritores buscam olhar para a realidade através da lente do determinismo e das teorias evolucionistas.
Émile Zola chega a definir o Naturalismo como uma aplicação, na literatura, do método de observação e de experimentação descrito por Claude Bernard no livro Introdução ao estudo da medicina experimental. Cria, assim, o que chama de romance experimental. 
Ele acredita que, compreendendo o comportamento humano e suas motivações, é possível atuar na transformação dos indivíduos para alcançar o melhor estado social.
 Em suma, o Naturalismo...
A visão do mundo do naturalista é mais mecanicista, mais determinista, pois aceita o princípio segundo o qual só as leis da ciência são válidas.
O homem é condicionado por forças que determinam seu comportamento. Nos romances naturalistas, o comportamento das personagens resulta da liberação dos instintos, sob determinadas condições do meio.
Os personagens naturalistas são parecidos porque estão submetidos as mesmas leis.
Diferente disso, os dramas das personagens realistas têm origem moral ou são decorrentes de desequilíbrio social. Os naturalistas deixam de lado a análise psicológica que marcou a literatura realista. Para eles, os traços individuais não interessam. Dedicam-se à análise dos fenômenos coletivos, que caracterizam melhor a tese determinista por eles defendida. Por isso, voltam o olhar para uma classe social que, até aquele momento, não havia merecido destaque nos romances: o proletariado.
Tendência a retratar temas ligados à patologia sexual ou social, aos aspectos mais repulsivos da vida e às camadas mais baixas da sociedade.
Os romances naturalistas são, com frequência, caracterizados como literatura de tese, porque desenvolvem uma estrutura pensada para provar ao leitor a visão determinista da sociedade. O aviltamento e a perda da dignidade dos indivíduos que vivem em um meio degradante é a grande tese exposta nesses romances.
A estrutura dos romances mostra que seus autores eram entusiasmados divulgadores da visão racional e objetiva, criando personagens para ilustrar comportamentos específicos, confrontando espaços de modo a permitir o choque de classes sociais.
Aluísio Azevedo 
Os diálogos são vivos e naturais. As descrições minuciosas e precisas.
Sua ocupação artística reside em verificar o comportamento social dos seres que cria.
 Melhor ainda: quer sondar até que ponto o social é capaz de determinar a vida individual do ser humano, como ocorre com os inúmeros portugueses que pululam no livro, todos aos poucos se condicionando ao clima, ao meio tropical brasileiro, perdendo suas qualidades sóbrias e modestas para caírem vítimas do sensualismo tropical e da malandragem coletiva que domina a todos.
O cortiço – Aluísio Azevedo
Uma alegoria do Brasil do século XIX
Ao ser lançado, em 1890, “O Cortiço” teve boa recepção da crítica, chegando a obscurecer escritores do nível de Machado de Assis. Isso se deve ao fato de Aluísio Azevedo estar mais em sintonia com a doutrina naturalista, que gozava de grande prestígio na Europa. O livro é composto de 23 capítulos, que relatam a vida em uma habitação coletiva de pessoas pobres (cortiço) na cidade do Rio de Janeiro.
O Cortiço - O protagonista do romance é o ambiente do cortiço, com toda a movimentação de seus personagens.
Em um trecho do romance o narrador compara o cortiço a uma estrutura biológica (floresta), um organismo vivo que cresce e se desenvolve, aumentando as forças daninhas e determinando o caráter moral de quem habita seu interior, ou diz o narrador “os olhos do cortiço se abrem”
João Romão, empregado dum vendeiro, consegue comprar a venda do patrão, depois de muito economizar. Constrói, então, um conjunto de casinhas, que formam o “O Cortiço São Romão”. Amiga-se com Bertoleza, a escrava que se submete a todas as privações para servir a ele, que considera seu senhor. O cortiço progride, desenvolve-se e expande-se através dos dramas, vícios e paixões de seus habitantes. Quando fica rico, João Romão, para ascender socialmente, vai casar-se com Zulmira, filha de um aristocrata, vizinho de suas propriedades. Bertoleza suicida-se.
Na situação de capitalismo incipiente, o explorador vivia muito próximo ao explorado, daí a estalagem de João Romão estar junto aos pobres moradores do cortiço. 
Ao lado, o burguês Miranda, de projeção social mais elevada que João Romão, vive em seu palacete com ares aristocráticos e teme o crescimento do cortiço. 
Por isso pode-se dizer que “O Cortiço” não é somente um romance naturalista, mas uma alegoria do Brasil.
Aluísio se propõe a mostrar que a mistura de raças em um mesmo meio desemboca na promiscuidade sexual, moral e na completa degradação humana. Além disso, a imensa desigualdade social.
Narrador
A obra é narrada em terceira pessoa, com narrador onisciente (que tem conhecimento de tudo), como propunha o movimento naturalista.
Tempo
Em “O Cortiço”, o tempo é trabalhado de maneira linear, com princípio, meio e desfecho da narrativa. A história se desenrola no Brasil do século XIX, sem precisão de datas.
Espaço
São dois os espaços explorados na obra. 
O primeiro é o cortiço, amontoado de casebres mal-arranjados, onde os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas. Funciona como um organismo vivo. 
Junto ao cortiço estão a pedreira e a taverna do português João Romão.
O segundo espaço, que fica ao lado do cortiço, é o sobrado aristocratizante do comerciante Miranda e de sua família. 
Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo, explorando a exuberante natureza local como meio determinante. Dessa maneira, o sol abrasador do litoral funciona como elemento corruptor do homem local.
O Mulato
Com Domingas, uma de suas escravas, José teve um filho bastardo: Raimundo. José casou-se com Quitéria Inocência de Freitas Santiago e desconfiada da relação que tinha com sua escrava, a esposa pede para açoitar a mulher e ainda, queimar suas genitais.
Desesperado, José leva a criança para a casa de seu irmão Manuel. Quando ele retorna à fazenda, encontra sua esposa na cama com o Padre Diogo.
Num momento de fúria, ele mata sua esposa e faz um pacto com o padre para que ninguém fique sabendo do ocorrido.
Desolado, José passa a viver com seu irmão, que tinha uma casa na cidade de São Luís. Pouco depois, ele adoece. Quando decide retornar a sua fazenda, ele é morto a mando do Padre Diogo.
Diante de tudo isso, Raimundo, ainda criança, vai para Lisboa, em Portugal, se afastando de sua mãe. Ali passou anos de sua vida e se formou em Direito.
Mais tarde, resolveu retornar ao Brasil e vai morar no Rio de Janeiro. Decidido a encontrar seu tio Manuel Pescado, Raimundo viaja ao Maranhão.
A ideia inicial era saber sobre sua infância e origem. Além disso, seu pai deixou a herança para ele que estava aos cuidados de seu tio.
Assim, quando encontra Manuel, Raimundo fala que quer visitar fazenda onde morava quando era criança. Ali, ele desvenda alguns fatos desconhecidos, por exemplo, quem era sua mãe e que fora filho bastardo de José. Durante a estadia na casa de seu tio, apaixona-se por sua filha, Ana Rosa.
Entretanto, Manuel pensa em casar sua filha com um de seus empregados o Cônego Dias. Sendo assim, seu tio não lhe concede a mão de Ana.
Diante disso, Raimundo começa a desconfiar que essa recusa está associada com sua origem e cor de pele, uma vez que ele era filho de uma escrava.
Ana Rosa também nutre sentimentos por Raimundo e o casal resolve fugir. Na hora da fuga, eles são surpreendidos por Padre Diogo (agora Cônego) e mediante a confusão, Raimundo é morto por Luís Dias, seu rival.
Ana, que estava grávida de Raimundo, fica em choque com a morte de seu amado e acaba abortando a criança. Por fim, ela se casa com o assassino de Raimundo e com ele teve três filhos.
Com 19 capítulos sem título, O Mulato foi uma revelação para a sociedade da época e recebeu muitas críticas. Além dos temas explorados pelo autor, o finalda obra distancia-se dos moldes clássicos e românticos onde o bem sempre vence o mal.
Aqui, o mal e a infelicidade das pessoas permeiam a obra. São encobertas por uma falsa felicidade onde os interesses, a futilidade, a imoralidade e a discriminação estão acima de tudo.
Isso pode ser revelado no desfecho da obra. No fim do livro aparece Ana Rosa e o assassino de Raimundo supostamente felizes vivendo uma vida burguesa e cuidando dos três filhos.

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