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1 Khilver Doanne Sousa Soares Opioides (geral) Farmacologia V O termo opiáceo refere-se aos compostos relacionados estruturalmente com os produtos encontrados no ópio. Os opiáceos incluem os alcaloides vegetais naturais, como morfina, codeína, tebaína e muitos derivados semissintéticos. Opioide é qualquer substância que tenha as propriedades farmacológicas e funcionais de um opiáceo. Peptídeos opioides endógenos Opioide endógeno é uma molécula biológica presente no cérebro que atua por meio de um receptor opioide. Os precursores dos peptídeos opioides constituem uma família numerosa definida pelo pró-hormônio do qual derivam. As principais famílias são as encefalinas, as endorfinas e as dinorfinas. Classes de receptores As três classes de receptores dos opiáceos - MOR, DOR e KOR - têm em comum homologias de sequência extensivas (55-58%) e fazem parte da família rodopsina de GPCR. Os receptores opioides estão amplamente distribuídos na periferia e nos corpos celulares dos neurônios e suas terminações. Porém, também existem sítios de ligação dos opioides em várias células não neuronais – macrófagos, astrócitos e no sistema nervoso entérico do TGI. Em termos gerais, os ligantes dos receptores opioides podem ser definidos com base em suas propriedades funcionais como agonistas e antagonistas do receptor específico. Agonistas Quase todos os agonistas clinicamente úteis têm como alvo o receptor μ. Antagonistas Os antagonistas opioides utilizados normalmente, inclusive naloxona ou naltrexona, são pan-antagonistas com afinidade por todos os receptores opioides conhecidos. Estrutura dos receptores opioides Cada um dos receptores opioides consiste em um segmento N-terminal extracelular, sete hélices TM, três alças extracelulares e intracelulares e um segmento e-terminal intracelular típico das GPCR. Embora as interações entre opiáceo e receptores sejam significativamente complexas, vários princípios gerais definem sua ligação e seletividade: Todos os receptores opioides contêm uma "bolsa" de ligação formada pela TM3-TM7; A bolsa do respectivo receptor está parcialmente coberta pelas alças extracelulares que, junto com as terminações extracelulares dos segmentos TM, formam um portão que assegura a seletividade e permite que ligantes (principalmente peptídeos) tenham acesso diferenciado aos diferentes tipos de receptor - desse modo, os alcaloides (p. ex., morfina) ligam-se ao centro da porção TM do receptor, enquanto os ligantes peptidílicos longos ligam-se às alças extracelulares; A seletividade foi atribuída às alças extracelulares: primeira e terceira para o MOR, segunda para o KOR e terceira para o DOR. Os antagonistas alcaloides parecem ligar-se mais profundamente dentro da bolsa, dificultando de modo estérico as alterações de conformação e acarretando um antagonismo funcional; Na membrana, os receptores opioides podem formar homodímeros e heterodímeros e, assim, alterar suas propriedades farmacológicas. Desse modo, a diversidade de respostas é ampliada além das que são produzidas pelos monômeros de MOR, DOR e KOR; A heterodimerização e a homodimerização dos receptores opioides e sua circulação pós-ativação são importantes ao entendimento da seletividade de vários 2 Khilver Doanne Sousa Soares ligantes e das respostas fisiológicas a eles. O desenvolvimento de tolerância aos opioides pode envolver mecanismos de circulação dos receptores; Os receptores opioides apresentam variantes de splicing. Por exemplo, o gene do MOR humano tem ao menos dois promotores e vários éxons, dos quais alguns geram pelo menos 11 variantes de splicing que codificam várias isoformas de ligação à morfina com variações acentuadas de suas terminações carboxílicas. Sinalização dos receptores opioides MOR, DOR e KOR ligam-se às proteínas G/G0 sensíveis à toxina pertússis. Com a ativação do receptor, o acoplamento da G/G0 desencadeia alguns eventos intracelulares mediados pelas subunidades α e βy dessas proteínas G. Inibição da atividade de AC; Redução da abertura dos canais de Ca2+ regulados por voltagem (isso diminui a liberação dos neurotransmissores pelas terminações pré-sinápticas); Estimulação das correntes de K+ através de vários canais, inclusive GIRK (que hiperpolariza e inibe os neurônios pós-sinápticos); Ativação da PKC e da PLCβ. Regulação da circulação dos receptores opioides pós-ativação; agonismo opioide tendencioso Os MOR e os DOR são rapidamente interiorizados por ação do agonista. Os MOR são reciclados à membrana depois da interiorização, enquanto os DOR são decompostos depois desse 3 Khilver Doanne Sousa Soares processo. Os KOR não são interiorizados depois da exposição prolongada ao agonista. Aparentemente, a interiorização dos MOR e dos DOR ocorre por vias endocíticas parcialmente diferentes, sugerindo interações receptor- específicas com diferentes mediadores do tráfego intracelular. Esses processos podem ser induzidos diferencialmente em função da estrutura do ligante. Por exemplo, alguns agonistas como a etorfina e as encefalinas causam interiorização rápida do receptor, enquanto a morfina não provoca a interiorização do MOR, mesmo que reduza com igual eficácia a atividade da AC. Esses estudos reforçam a hipótese de que diferentes ligantes induzam alterações conformacionais diversificadas do receptor, que resultam em sinalização intracelular divergente e possam explicar as diferenças nos espectros dos efeitos dos vários opioides e indicar novas possibilidades terapêuticas. A. Vias de sinalização celular que podem ser reguladas diferentemente pelos agonistas opioides . As respostas aos agonistas opioides podem ser desviadas tendenciosamente no sentido da sinalização das 13-arrestinas ou das proteínas G. A ERK1 /2 pode ser ativada por essas duas vias, mas provavelmente em compartimentos subcelulares diferentes com consequências diversas. A ativação do Pl3K e da PLCl3 pode resultar na ativação de outras proteínas-cinase que desencadeiam vários efeitos subsequentes. Além de iniciar a sinalização (p. ex., ERK1 /2), as 13-arrestinas interagem com os receptores fosforilados e acarretam dessensibilização e circulação dos receptores. O estado diferenciado da célula que responde pode afetar os tipos de respostas possíveis, assim como as propriedades do agonista. Cada célula pode expressar mais de um tipo de receptor opioide. Dados funcionais sugerem que os receptores opioides possam interagir formando homodímeros e heterodímeros e que esses complexos possam alterar a sinalização e a circulação do receptor e contribuir para a tolerância à morfina e, possivelmente, para alguns estados patológicos. 4 Khilver Doanne Sousa Soares B. Fatores que supostamente afetam as consequências variáveis da ativação do MOR. A panóplia de interações que resultam do acoplamento dos ligantes ao MOR é complexa. Por essa razão, a ativação tendenciosa do MOR pode afetar diferentemente diversas vias subsequentes. 1. Os agonistas mu ligam-se ao MOR, que é um GPCR da membrana. Respostas tendenciosas poderiam resultar da ligação preferencial do agonista a uma das diversas formas de MOR, que podem resultar em splicing alternativo. As respostas tendenciosas também poderiam ser atribuídas às interações dos agonistas mu com o MOR, que estabilizam as conformações do receptor que são agonista-especificas e diferem quanto à sua capacidade de produzir efeitos. Em resposta ao agonista, o MOR interage com uma proteína G e fica sujeito à fosforilação - esses eventos também podem refletir uma isoforma do receptor e a conformação especifica estabilizada pelo agonista. 2. O MOR dispõe de mais de uma dúzia de sítios de fosforilação acessíveis às diversas proteínas-cinase. O padrão de fosforilação pode ser determinado pela conformação do receptor induzida pelo agonista ou pela mobilização de diferentesproteínas-cinase (p. ex., GRK, PKC, ERKl/2, CaMKII), ou o receptor pode não ser fosforilado. Essas proteínas- cinase existem em diversas isoformas, resultando em variabilidade/seletividade mais ampla do processo. Existem sete isoformas de GRK (expressas heterogeneamente em todas as células), e a fosforilação mediada pelas GRK também pode ser especifica do agonista e da forma do receptor (i.e., dependente da conformação do receptor induzida pelo agonista e heterogeneidades [variantes de splicing] da estrutura do receptor). 3. A fosforilação do MOR, basicamente pelas GRK, facilita a ligação das p-arrestinas, estimula o desacoplamento do MOR das proteínas G e afeta a dessensibilização, a circulação do receptor e, possivelmente, a tolerância. Duas isoformas da P-arrestina podem interagir com o MOR fosforilado. Essas interações parecem ser especificas para cada agonista. A interação do MOR fosforilado com as p-arrestinas inicia os processos de dessensibilização, interiorização e reciclagem do receptor. Há uma correlação direta entre fosforilação do MOR, recrutamento da P-arrestina 2 e interiorização do MOR. O complexo P-arrestina/MOR fosforilado é reconhecido pela clatrina. O MOR fosforilado pode ser interiorizado para diversos locais, dependendo de sua participação no processo dependente ou independente da clatrina. 4. Os complexos MOR fosforilado/(3-arrestina podem iniciar a sinalização celular independentemente das proteínas G. 5. O MOR ligado ao agonista interage com a família Gu0 e altera as vias de sinalização. Os componentes dessa família oferecem muitas possibilidades de sinalização (4 subunidades a, 5 isoformas p e 12 isoformas y) e regulam as proteínas da membrana e de diversos compartimentos subcelulares. 6. A homodimerização e a heterodimerização do receptor especificas do agonista e sua interação com outras proteínas também podem desempenhar funções importantes no agonismo tendencioso. 5 Khilver Doanne Sousa Soares Efeitos das ativações aguda e crônica dos receptores opioides Além do alívio pretendido da dor, a ocupação dos receptores opioides pelos agonistas durante intervalos curtos e longos resulta na perda do efeito, com propriedades bem definidas relacionadas com o desenvolvimento de tolerância e dependência. Dessensibilização Durante uma ativação transitória (minutos a horas), há tolerância ou dessensibilização imediata, que é específica para este receptor e desaparece com evolução temporal paralela à depuração do agonista. A dessensibilização de curto prazo provavelmente envolve a fosforilação dos receptores, resultando no desacoplamento do receptor de sua proteína G ou na interiorização do receptor. Tolerância Refere-se à redução da eficácia aparente do agonista opioide com sua administração contínua ou repetida (ao longo de dias ou semanas), que, depois da remoção do agonista, ela desaparece ao longo de várias semanas. Essa tolerância é refletida pela redução do efeito máximo alcançável ou por um desvio da curva de dose-efeito para a direita. Esse fenômeno pode ser evidenciado no nível da via de sinalização intracelular (p. ex., inibição reduzida da AC) e no nível do sistema do organismo (p. ex., perda dos efeitos sedativos e analgésicos). Essa perda de efeito com a exposição persistente a um agonista opiáceo demonstra várias propriedades essenciais: Respostas fisiológicas diferentes podem desenvolver tolerância a taxas acentuadamente variadas. Desse modo, no nível dos sistemas do organismo, alguns pontos terminais demonstram pouca ou nenhuma tolerância (miose pupilar), alguns apresentam tolerância moderada (constipação, vômitos, analgesia e sedação) e outros desenvolvem tolerância rápida (efeito euforizante). Por essa razão, o usuário crônico de heroína continua a apresentar pupilas puntiformes e precisa de um aumento rápido da dose para sentir a euforia provocada pela droga; Em geral, os agonistas opiáceos de determinada classe comumente mostram resposta reduzida em um sistema que se tornou tolerante a outro fármaco da mesma classe (p. ex., tolerância cruzada entre os agonistas MOR, como a morfina e a fentanila). Por razões ainda desconhecidas, essa tolerância cruzada não é absoluta nem completa. Essa falta de tolerância cruzada completa entre os agonistas constitui a base da estratégia clínica de troca dos opioides durante o tratamento da dor. Dependência A dependência é uma condição de adaptação evidenciada por uma síndrome de abstinência desencadeada pela cessação da exposição à substância (p. ex., abstinência de uma droga) ou pela administração de um antagonista (p. ex., naloxona). A dependência é específica da classe farmacológica e do receptor envolvidos. No nível dos sistemas do organismo, a abstinência dos opiáceos evidencia-se por ativação somatomotora e autônoma significativas (refletida em agitação, hiperalgesia, hipertermia, hipertensão, diarreia, dilatação pupilar e secreção de quase todos os hormônios hipofisários e do córtex suprarrenal) e por sintomas afetivos (disforia, ansiedade e depressão). O estado de abstinência é altamente aversivo e motiva o usuário da droga a envidar esforços intensos para evitar a abstinência. Mecanismos de tolerância/ dependência/ abstinência Disposição do receptor A dessensibilização aguda ou a interiorização imediata do receptor pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento da tolerância crônica, mas não 6 Khilver Doanne Sousa Soares é suficiente para explicar as alterações persistentes observadas. Por exemplo, a morfina (ao contrário de outros agonistas μ) não provoca interiorização do MOR e fosforilação ou dessensibilização significativa desse receptor. A endocitose e o sequestro dos receptores nem sempre resultam em sua degradação, mas também podem acarretar desfosforilação e reciclagem do receptor até a superfície celular. Desse modo, a tolerância aos opioides pode não estar relacionada com a dessensibilização dos receptores, mas sim com a falta de dessensibilização. Adaptação dos mecanismos de sinalização intracelulares O estudo do acoplamento entre MOR e efeitos celulares – por exemplo, inibição de AC, ativação dos canais de K+ retificadores internos, inibição das correntes de Ca2+ e inibição da liberação dos neurotransmissores - demonstra a independência entre a ocupação do receptor e a função efetora. Contra-adaptação sistêmica A perda do efeito antinociceptivos com a exposição crônica aos opioides pode refletir a hiperexcitabilidade do sistema regulado. Desse modo, a tolerância ao efeito analgésico dos opiáceos μ administrados por períodos longos pode resultar na ativação das vias bulboespinais, que aumenta a excitabilidade das vias de transmissão da dor no corno dorsal da medula. Com a exposição crônica aos opiáceos, a ocupação dos receptores opioides resulta na ativação da PKC, que pode fosforilar e aumentar a ativação dos receptores locais de glutamato do tipo NMDA. O bloqueio desses receptores pode, ao menos em parte, atenuar a perda da eficácia analgésica durante a exposição continuada aos opiáceos. Esse mecanismo de contra-adaptação sistêmica pode se aplicar aos sistemas específicos, mas não necessariamente aos outros. Efeitos dos opioides utilizados clinicamente Analgesia Os fármacos semelhantes à morfina produzem analgesia, sonolência e euforia (alterações do humor e obnubilação mental). Além do alívio do sofrimento, alguns pacientes podem apresentar euforia. A analgesia comumente ocorre sem perda da consciência, embora frequentemente haja sonolência. Em pacientes sem dor que recebem doses terapêuticas de morfina pode haver sonolência, dificuldade mental, apatia e redução da atividade física. À medida que se aumenta a dose, os efeitos subjetivos, analgésicos e tóxicos, incluindo depressão respiratória, tornam-se mais pronunciados. Mecanismos da analgesia induzida pelos opioides As açõesanalgésicas dos opiáceos administrados por via sistêmica representam suas ações no cérebro, na medula espinal e, em alguns casos, nos tecidos periféricos. Ações supraespinhais As microinjeções de morfina em algumas regiões cerebrais rigorosamente demarcadas produzem analgesia potente reversível pela naloxona (um antagonista do MOR). A mais bem caracterizada dessas áreas é a região da SCP mesencefálica. 7 Khilver Doanne Sousa Soares Mecanismos da nocicepção desencadeada por uma lesão neural. Mecanismos de ação dos opiáceos na produção de analgesia. Ao alto e à esquerda: organização esquemática da ação dos opiáceos na SCP. Ao alto e à direita: vias sensíveis aos opiáceos na SCP. As ações dos opiáceos por meio do MOR bloqueiam a liberação de GABA pelos sistemas tonicamente ativos que, de outro modo, regulam as projeções ao bulbo (1), resultando em um aumento da atividade da SCP, que acarreta ativação dos receptores de monoaminas do prosencéfalo (2) e da medula espinal (3) responsáveis por regular as projeções à medula espinal (4), que enviam estímulos sensoriais aos centros superiores e regulam o humor. Embaixo e à esquerda: ilustração esquemática da sinapse aferente primária com o neurônio espinal de segunda ordem do corno dorsal, demonstrando receptores opioides pré- sinápticos e pós-sinápticos acoplados aos canais de Ca2+ e K+, respectivamente. A ligação dos receptores opioides está abundantemente expressa no corno dorsal da medula espinal superficial (substância gelatinosa). Esses receptores estão localizados antes das sinapses das terminações das fibras aferentes primárias finas (fibras C) e depois das sinapses nos neurônios de segunda ordem. Antes da sinapse, a ativação do MOR bloqueia a abertura do canal de Ca2+ sensível à voltagem, que, de outro modo, inicia a liberação dos neurotransmissores. Depois da sinapse, a ativação do MOR amplia a abertura dos canais de K+ e provoca hiperpolarização. Desse modo, um agonista opioide que atue simultaneamente nessas áreas atenua a excitação evocada por estímulos aferentes do neurônio de segunda ordem Nocicepção aguda. A ativação aguda das fibras aferentes sensoriais finas de limiar alto (fibras Aδ e C) desencadeia estimulação transitória da medula espinal dependente do estímulo, que, por sua vez, resulta na ativação dos neurônios do corno dorsal que se projetam contralateralmente ao tálamo e daí para o córtex somatossensorial. Uma projeção espinofugal paralela estende-se pelo tálamo medial e, daí, às regiões do córtex límbico, inclusive cingulado anterior. A resposta produzida pela ativação aguda desse sistema ascendente é suficiente para provocar queixas de dor. Exemplos desses estímulos são uma xícara de café quente, uma picada de agulha ou uma incisão. Lesão tecidual. Depois da lesão dos tecidos ou da inflamação localizada tem início um estado de dor persistente que se caracteriza por ardência, sensação de pulsação ou dor difusa e continua com resposta anormal à dor (hiperalgesia). Nos casos típicos, esse tipo de dor reflete os efeitos de fatores ativos como prostaglandinas, bradicinina, citocinas, serinas-protease e íons H+, entre muitos outros mediadores. Esses mediadores são liberados localmente no foco da lesão e, por meio dos receptores epônimos existentes nas terminações das fibras aferentes finas de limiar alto (fibras Aδ e C), podem ativar esses aferentes sensoriais e reduzir a intensidade dos estímulos necessários à sua ativação (p. ex., sensibilização periférica). Além disso, o tráfego aferente contínuo iniciado por essa lesão e inflamação dos tecidos resulta na ativação das vias facilitadoras espinais, que ampliam os estímulos enviados ao cérebro depois de determinada ativação aferente. Essa facilitação parece ser responsável pelos estados de hiperalgesia. Lesão neural. A lesão de um nervo periférico desencadeia alterações anatômicas e bioquímicas complexas no nervo e na medula espinal, que produzem disestesias espontâneas (pontadas, dor ardente) e alodínia (dor desencadeada pelo toque mais suave). Esse estado de dor causado por uma lesão neural pode não depender da ativação das fibras aferentes finas, mas ser desencadeado pelos aferentes sensoriais de limiar baixo. Essas lesões neurais resultam no desenvolvimento de atividade ectópica originada dos neuromas formados pela lesão do nervo e dos gânglios da raiz dorsal dos axônios lesados, além de alterações do processamento sensorial no corno dorsal. Essas alterações incluem ativação de células não neuronais (gliais) e supressão dos circuitos inibitórios constitutivos. Esses estados dolorosos são descritos como neuropáticos. 8 Khilver Doanne Sousa Soares Mecanismos da nocicepção provocada por lesão dos tecidos. BK, bradicinina; K, potássio; PG, prostaglandinas. Os agonistas do MOR bloqueiam a liberação do transmissor inibitório GABA pelos sistemas tonicamente ativos da SCP que regulam a atividade das projeções ao bulbo. As projeções da SCP ao bulbo ativam a liberação bulboespinal de NE e 5-HT no corno dorsal da medula. Essa secreção pode atenuar a excitabilidade do corno dorsal. Curiosamente, essa organização da SCP também pode ampliar a excitabilidade da rafe dorsal e do locus ceruleus, dos quais se originam, respectivamente, projeções serotoninérgicas e noradrenérgicas ascendentes para o prosencéfalo límbico. Ação espinal dos opiáceos. A ação local dos opiáceos na medula espinal deprime seletivamente a deflagração dos neurônios do corno dorsal, que é provocada pelas fibras nervosas aferentes finas (limiar alto), mas não pelas fibras calibrosas (limiar baixo). A administração intratecal dos opioides aos animais (desde camundongos a seres humanos) atenua de forma confiável a resposta do organismo a vários estímulos somáticos e viscerais que, de outro modo, provocariam estados dolorosos. Os opiáceos espinais atuam nos receptores opioides localizados antes das sinapses das fibras aferentes primárias finas de limiar alto e impedem a abertura dos canais de Ca2+ sensíveis à voltagem e, desse modo, evitam a liberação do neurotransmissor por esses aferentes. A ação pós-sináptica é demonstrada pela capacidade dos opiáceos de bloquear diretamente a excitação dos neurônios do corno dorsal desencadeada pelo glutamato, refletindo uma ativação direta dos neurônios de projeção ao corno dorsal, em parte pela hiperpolarização dos neurônios por meio da ativação dos canais de K+, de forma que o potencial de membrana esteja mais próximo do potencial de equilíbrio para o íon K+. Ação periférica. A aplicação direta dos opiáceos em concentrações altas em um nervo periférico pode, na verdade, causar efeitos semelhantes aos de um anestésico local, mas esses efeitos não são revertidos pela naloxona e parecem refletir uma ação "inespecífica". Por outro lado, nas estruturas periféricas em condições de inflamação, quando há hipersensibilidade das terminações, resultando em uma resposta exagerada à dor (p. ex., hiperalgesia), a injeção direta dos opiáceos causa um efeito local que pode ter ação normalizadora nos limiares exacerbados. Alterações do humor e propriedades de recompensa Dados farmacológicos e comportamentais sugerem um papel fundamental do sistema dopaminérgico mesocorticolímbico que se projeta ao NAc na recompensa e na motivação induzidas por substâncias. A liberação de quantidades maiores de DA nessa região é considerada responsável por um estado de gratificação. No NAc, os MOR estão presentes depois da sinapse dos neurônios GABAérgicos. Os efeitos reforçadores dos opiáceos parecem ser parcialmente mediados por inibição da atividade neuronal GABAérgica, que, de outro modo, têm a função de inibir a liberação de DA. 9 Khilver Doanne Sousa Soares Vias responsáveis pelas propriedades de recompensa dos opiáceos. Painel superior: esse corte sagital do cérebro de um rato demonstra a liberação de DA e GABApela ATV e pelo CPF, respectivamente, dentro do NAc. Painel inferior: os neurônios estão assinalados por seus neurotransmissores principais. No nível celular, os agonistas do MOR reduzem a excitabilidade e a liberação do neurotransmissor nos pontos indicados por inibição da entrada de Ca2+ e ampliação da corrente de K+. Desse modo, a inibição induzida pelos opiáceos na ATV sobre os interneurônios GABAérgicos ou no NAc reduz a inibição mediada pelo GABA e aumenta os estímulos gerados pelo PV, que parece correlacionar-se com um estado reforçador positivo (gratificação aumentada). Efeitos respiratórios A depressão respiratória clinicamente significativa raramente ocorre com doses analgésicas convencionais, desde que não existam outras variáveis contribuintes. Entretanto, é importante ressaltar que a depressão respiratória é a causa principal de morbidade secundária ao tratamento com opiáceos. Nos seres humanos, a morte associada à intoxicação opioide quase sempre se deve a obstrução ou parada respiratória. Os opiáceos deprimem todos os componentes da atividade respiratória (frequência, volume por minuto e volume corrente) e causam respiração irregular e aperiódica – dessa forma os opioides devem ser usados com cuidado nos pacientes portadores de asma, DPOC, cor pulmonale, reserva respiratória reduzida, depressão respiratória preexistente, hipóxia ou hipercapnia. Os opioides semelhantes à morfina deprimem a respiração por sua ação no MOR por vários mecanismos: Efeito depressor direto na regulação do ritmo respiratório; Depressão da resposta ventilatória à elevação da concentração de CO2; Efeito nos quimiorreceptores dos corpos carotídeo e aórtico, que reduz as respostas ventilatórias desencadeadas normalmente pela hipóxia. A frequência respiratória e o volume corrente dependem dos geradores de ritmo intrínsecos localizados no bulbo ventrolateral. Esses sistemas geram um ritmo "respiratório" estimulado pelos impulsos aferentes, que refletem a pressão parcial de 02 arterial captada por quimiossensores localizados nos corpos carotídeos e aórticos e o nível de C02 captado pelos quimiossensores existentes no tronco encefálico. Os opioides semelhantes à morfina deprimem a respiração por sua ação nos MOR, em parte por um efeito depressor direto na geração do ritmo, que altera o padrão e a frequência respiratória observados com doses menores que as alterações do volume corrente. Uma característica fundamental dos efeitos dos opiáceos na respiração é a depressão da resposta ventilatória à elevação do C02. Além dos efeitos no ritmo e na quimiossensibilidade respiratória, os opiáceos podem produzir efeitos mecânicos na 10 Khilver Doanne Sousa Soares função das vias respiratórias porque aumentam a rigidez da parede torácica e diminuem a patência das vias respiratórias superiores. + Fatores que exacerbam a depressão respiratória pelos opioides Outros fármacos. A combinação dos opiáceos com outros agentes depressores, como anestésicos gerais, tranquilizantes, álcool ou sedativos-hipnóticos, causa depressão aditiva da atividade respiratória; Sono. O sono natural diminui a sensibilidade do centro bulhar ao C02, e os efeitos depressores da morfina e do sono são, no mínimo, aditivos. A apneia obstrutiva do sono é considerada um fator de risco importante para o aumento da probabilidade de ocorrer depressão respiratória fatal; Idade. Os recém-nascidos podem desenvolver depressão respiratória e insaturação significativas; isso pode ser evidenciado pelos índices de Apgar mais baixos caso os opioides sejam administrados por via parenteral às gestantes pouco antes do parto (2-4 h), em consequência da transferência transplacentária dos fármacos. Os pacientes idosos estão mais sujeitos à depressão respiratória porque seus pulmões são menos elásticos, as paredes torácicas são rígidas e a capacidade vital está reduzida; Doenças. Os opiáceos podem causar efeitos depressores mais graves nos pacientes com doenças cardiopulmonares ou renais crônicas, porque esses indivíduos podem ter dessensibilização da resposta à elevação do C02; DPOC. A depressão respiratória também pode ser mais grave nos pacientes com DPOC e apneia do sono secundária à depressão do drive hipóxico; Alívio da dor. Como a dor estimula a respiração, a eliminação da condição dolorosa (p. ex., analgesia resultante do uso terapêutico do opiáceo) deprime o estímulo ventilatório e causa depressão respiratória aparente. Sedação Os opiáceos podem causar sonolência e disfunção cognitiva. Essa depressão pode agravar a disfunção respiratória. Esses efeitos são observados mais comumente depois do início do tratamento com opiáceos ou do aumento de suas doses. Hormônios sexuais Nos homens, o tratamento de curta duração com opiáceos reduz os níveis plasmáticos do cortisol, da testosterona e das gonadotropinas. A inibição da função suprarrenal é refletida pela produção reduzida de cortisol e pelos níveis baixos dos androgênios suprarrenais (DHEA). Nas mulheres, a morfina também diminui as secreções de LH e FSH. Nos dois sexos, o tratamento crônico pode causar endocrinopatias como hipogonadismo hipogonadotrópico. Prolactina. A secreção de prolactina pela hipófise anterior está sob controle inibitório da DA secretada pelos neurônios do núcleo arqueado. Os agonistas dos MOR atuam antes das sinapses dessas terminações que liberam DA de forma a inibir sua liberação e, assim, aumentar o nível plasmático da prolactina. ADH e ocitocina. Os efeitos dos opiáceos nas secreções do ADH e da ocitocina são complexos. Esses hormônios são sintetizados no pericário dos neurônios magnocelulares dos núcleos paraventriculares e supraópticos do hipotálamo e liberados pela hipófise posterior. Os agonistas do KOR inibem a secreção de ocitocina e ADH e causam diurese abundante. Entretanto, vale ressaltar que os fármacos como a morfina podem causar hipotensão secundária à Liberação de histamina; isso poderia estimular independentemente a secreção de ADH. Miose Os agonistas do MOR causam constrição pupilar (miose) no estado desperto e bloqueiam a dilação reflexa durante a anestesia. A ativação parassimpática originada do núcleo de Edinger Westphal ativa a atividade parassimpática por ação do gânglio ciliar da pupila, produzindo constrição. Essa ativação é regulada localmente pelos interneurônios GABAérgicos. Os opiáceos bloqueiam essa inibição mediada pelos interneurônios GABAérgicos, aumentando a atividade parassimpática. Com as doses altas dos 11 Khilver Doanne Sousa Soares agonistas, a miose é extrema e as pupilas puntiformes são patognomônicas; contudo, quando a asfixia começa, o paciente apresenta midríase. Epilepsias e crises convulsivas Nas crianças maiores e nos adultos, as doses moderadamente mais altas dos opiáceos causam lentidão no EEG. No recém-nascido, a morfina pode causar atividade epileptiforme e, ocasionalmente, atividade convulsiva. Inibição dos interneurônios inibitórios. Os fármacos semelhantes à morfina excitam indiretamente determinados grupos de neurônios, inclusive as células piramidais do hipocampo, porque bloqueiam a inibição exercida de outro modo pelos interneurônios GABAérgicos. Efeitos estimuladores diretos. Os opiáceos podem interagir com os receptores acoplados por meio de proteínas G inibitórias e estimuladoras com o acoplamento inibitório, mas não com o acoplamento excitatório que apresenta tolerância depois da exposição prolongada. Ações mediadas por receptores não opioides. Os metabólitos de vários opiáceos (morfina-3- glicuronídeo, normeperidina) foram implicados na atividade convulsiva. Tosse Tosse é um reflexo protetor desencadeado pela estimulação das vias respiratórias. A tosse consiste na expulsão rápida do ar contra a glote transitoriamente fechada. Esse reflexo é complexo e envolve os sistemas nervosos central e periférico,bem como a musculatura lisa da árvore brônquica. A morfina e os opioides semelhantes deprimem o reflexo da tosse, ao menos em parte por um efeito direto no centro bulhar da tosse; esse efeito supressor da tosse pode ser obtido sem alterar a função protetora da glote. Efeitos nauseantes e eméticos A náusea e os vômitos provocados pelos fármacos semelhantes à morfina são efeitos colaterais causados pela estimulação direta da zona de gatilho quimiorreceptora do vômito, que está situada na área postrema do bulbo. Sistema cardiovascular No paciente deitado, as doses terapêuticas dos opioides semelhantes à morfina não produzem efeitos expressivos na pressão arterial ou na frequência e no ritmo cardíacos. Contudo, essas doses produzem vasodilatação periférica, diminuem a resistência periférica e inibem os reflexos barorreceptores. Portanto, quando os pacientes deitados se põem de pé, podem ter hipotensão ortostática e síncope. A vasodilatação arteriolar e venosa periférica causada pela morfina tem diversos mecanismos: A morfina estimula a Liberação de histamina pelos mastócitos, que causa vasodilatação; esse efeito é revertido pela naloxona, mas é bloqueado apenas parcialmente pelos antagonistas H1; A morfina atenua a vasoconstrição reflexa causada pela elevação da Pco2. Doses altas dos antagonistas do MOR, inclusive fentanila e sufentanila, usadas como agentes de indução anestésica, têm somente efeitos modestos sobre a estabilidade hemodinâmica, em parte porque elas não causam liberação de histamina. A morfina pode produzir seu efeito benéfico no tratamento da angina de peito e do infarto agudo do miocárdio porque reduz a pré-carga, o inotropismo e o cronotropismo e, assim, altera favoravelmente os determinantes do consumo miocárdico de 02. A morfina também tem efeitos cardioprotetores. Esse fármaco pode mimetizar o fenômeno de pré-condicionamento isquêmico, no qual um breve episódio isquêmico paradoxalmente protege o coração contra isquemia adicional. Esse efeito parece ser mediado pelos receptores que transmitem sinais por meio de um canal de K+ sensível ao ATP mitocondrial dos miócitos cardíacos; além disso, esse efeito é produzido por outros GPCR que enviam sinais por meio da Gi. 12 Khilver Doanne Sousa Soares Tônus da musculatura esquelética Com as doses terapêuticas necessárias para obter analgesia, os opiáceos produzem poucos efeitos no tônus ou na função muscular. Entretanto, as doses altas de opioides (p. ex., usadas na indução anestésica) causam rigidez muscular. Mioclonia evidenciada por tremores discretos ou espasmos generalizados é um efeito colateral ocasional descrito com todos os opiáceos utilizados clinicamente e é especialmente comum nos pacientes tratados com doses altas. Trato GI Os opiáceos produzem efeitos importantes em todos os aspectos da função GI. Cerca de 40 a 95% dos pacientes tratados com opioides têm constipação e alterações da função intestinal. Os receptores opioides estão profusamente distribuídos nos neurônios entéricos entre os plexos miontérico e submucoso e em várias células secretoras. Esôfago O esfíncter esofágico está sob o controle dos reflexos do tronco encefálico que ativam os neurônios motores colinérgicos do plexo miontérico esofágico. Esse sistema regula a passagem do bolo alimentar do esôfago para o estômago e impede a regurgitação; por outro lado, ele permite o relaxamento durante os vômitos. A morfina inibe o relaxamento do esfíncter esofágico inferior induzido pela deglutição e pela distensão do esôfago. Estômago A morfina aun1enta as contrações tônicas da musculatura do antro e do segmento proximal do duodeno e reduz o tônus em repouso da musculatura do reservatório gástrico e, desse modo, prolonga o tempo de esvaziamento gástrico e aumenta a tendência ao refluxo esofágico. A passagem do conteúdo gástrico pelo duodeno pode ser retardada em até 12 horas e a absorção dos fármacos administrados por via oral também é mais lenta. Intestino A morfina diminui a atividade propulsora dos intestinos delgado e grosso e reduz as secreções intestinais. Os agonistas opiáceos suprimem a inibição rítmica do tônus muscular, resultando em aumentos simultâneos do tônus basal da musculatura circular dos intestinos delgado e grosso. Isso aumenta as contrações fásicas de amplitude alta, que não são propulsaras. O segmento superior do intestino delgado, particularmente o duodeno, é mais afetado que o íleo. Depois do período de hipertonia basal, pode-se seguir um período de atonia relativa. A taxa reduzida de trânsito do conteúdo intestinal, somada à redução das secreções intestinais, aumentando a absorção de água e a viscosidade do conteúdo intestinal, agrava a constipação. O tônus do esfíncter anal aumenta significativamente e o relaxamento reflexo diminui em resposta à distensão retal. Pacientes tratados cronicamente com opioides são constipados. As secreções intestinais originam-se da ativação dos enterócitos pelos neurônios secretomotores colinérgicos do plexo submucoso. Os opioides atuam por meio dos receptores μ/δ existentes nesses neurônios secretomotores e inibem sua atividade excitatória nos enterócitos e, desse modo, reduzem a secreção intestinal. Vias biliares A morfina causa contração do esfíncter de Oddi e a pressão do dueto colédoco pode aumentar em mais de 10 vezes nos primeiros 15 minutos. A pressão do líquido biliar também pode aumentar dentro da vesícula biliar e causar sintomas como desconforto epigástrico ou cólica biliar típica. O espasmo do esfíncter de Oddi provavelmente é responsável pelas elevações dos níveis plasmáticos de amilase e lipase que ocorrem ocasionalmente depois da administração de morfina. Ureter e bexiga A morfina inibe o refluxo miccional e aumenta o tônus do esfíncter externo, com elevação resultante do volume da bexiga. Há 13 Khilver Doanne Sousa Soares tolerância a esses efeitos dos opioides sobre a bexiga. Clinicamente, a inibição da micção mediada pelos opiáceos pode ser tão intensa que, em alguns casos, é necessário realizar cateterização depois da administração de doses terapêuticas de morfina. Útero A morfina pode prolongar o trabalho de parto. Quando o útero está hiperativo em razão da ação da ocitocina, a morfina tende a normalizar as contrações. Pele As doses terapêuticas de morfina causam dilatação dos vasos sanguíneos cutâneos. A pele da face, do pescoço e da parte superior do tórax frequentemente se torna ruborizada. A administração sistêmica de morfina frequentemente causa prurido. Esse efeito é encontrado frequentemente com a morfina e a meperidina, mas é muito menos comum com a fentanila ou a sufentanila. Esse efeito correlaciona-se com as propriedades de desgranulação mastocitária dos opiáceos. Nem o prurido nem a desgranulação são revertidos pelos antagonistas opioides. Sistema imune Os opioides modulam a função imune por seus efeitos diretos nas células do sistema imune e indiretamente por mecanismos neuronais mediados a nível central. Os efeitos imunomoduladores centrais agudos dos opioides podem ser mediados pela ativação do sistema nervoso simpático; os efeitos crônicos dos opioides podem envolver a modulação do eixo HHSR. Um mecanismo sugerido para explicar os efeitos imunossupressores da morfina nos neutrófilos parece ser a inibição NO-dependente da ativação do NF-KB ou a ativação das MAP- cinases. Além dos efeitos dos opiáceos na função imune, alguns agonistas opioides provocam desgranulação dos mastócitos e liberação de histamina. Essa ação pode causar broncoconstrição e vasodilatação. Regulação da temperatura Os opioides alteram o ponto de equilíbrio dos mecanismos termorreguladores hipotalâmicos, de modo que a temperatura corporal em geral diminui ligeiramente. Os agonistas do MOR (p. ex., alfentanila e meperidina) com ações no SNC causam aumentos discretos dos limiaresde transpiração e reduzem significativamente os limiares térmicos para desencadear vasoconstrição e tremores. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ REFERÊNCIAS BRUNTON, Laurence L.; CHABNER, Bruce A.; KNOLLMANN, Bjorn C. As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman. 13. ed. São Paulo: AMGH, 2018.
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