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@anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues SÍNDROME DE CUSHING Síndrome de Cushing corresponde a qualquer condição em que há aumento de glicocorticóides circulantes. Nesse contexto, existem duas situações: − Endógena: aumento na síntese de glicocorticóides pelas suprarrenais; − Exógena: administração exógena de glicocorticóides (iatrogênica), correspondendo está à maioria dos casos da síndrome. Na primeira, existem duas possibilidades: − Aumento de ACTH circulante provocado por: (i) lesões hipofisárias que produzem ACTH, principalmente adenomas secretores; (ii) outras neoplasias de órgãos não endócrinos que produzem ACTH (manifestação paraneoplásica). Excesso de ACTH leva a hiperplasia e hiperfunção das suprarrenais (dependente de ACTH); − Hiperprodução de glicocorticóides por hiperplasia, adenoma ou adenocarcinoma da suprarrenal (independente de ACTH). ETIOLOGIA As causas endógenas podem, por sua vez, ser divididas naquelas que são dependentes do ACTH e naquelas que são independentes do ACTH. Numerosas são, portanto, as causas da síndrome de Cushing. Hiperplasia bilateral da cortical da suprarrenal secundária a adenoma ou microadenoma da adeno-hipófise é encontrada em 60 a 70% dos casos de doença de Cushing. Tumores de outros órgãos produtores de ACTH ou de produtos com ação semelhante à desse hormônio (sobretudo carcinoma de pequenas células do pulmão) respondem por outros 10 a 15% dos casos. Com elevação do ACTH, surge hiperplasia da suprarrenal, que se caracteriza por aumento da zona reticular, cujas células compactas se insinuam na zona fascicular; as células desta são mais volumosas do que as normais. Em outros pacientes com a síndrome, a lesão adrenal corresponde a adenoma (10% dos casos) ou adenocarcinoma (15%) da suprarrenal, sem hiperprodução de ACTH. Em crianças, a distribuição é diferente: adenocarcinoma da cortical é mais frequente (50%), seguindo-se hiperplasia (35%) e adenoma (15%). Os adenomas hipofisários secretores de ACTH são responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de hipercortisolismo endógeno. Em reconhecimento a Harvey Cushing, o neurocirurgião que publicou primeiro a descrição completa desta síndrome, a forma hipofisária é conhecida como doença de Cushing. O distúrbio afeta as mulheres cerca de quatro vezes mais frequentemente do que os homens e ocorre com mais frequência em adultos jovens. Na grande maioria dos casos, ele é causado por um microadenoma hipofisário produtor de ACTH; alguns tumores corticotróficos se qualificam como macroadenomas (>10 mm). Raramente, a adeno-hipófise contém áreas de hiperplasia celular corticotrófica sem um adenoma nítido. A hiperplasia celular corticotrófica pode ser primária ou surgir secundariamente ao estímulo excessivo da liberação de ACTH por um tumor hipotalâmico produtor do hormônio liberador de corticotrofina (HLC). As glândulas suprarrenais em indivíduos com doença de Cushing são caracterizadas por graus variáveis de hiperplasia cortical nodular (discutida posteriormente), causada pelos níveis elevados de ACTH. A hiperplasia cortical, por sua vez, é responsável pelo hipercortisolismo. A secreção ectópica de ACTH pelos tumores não hipofisários é responsável por cerca de 10% da síndrome de Cushing dependente de ACTH. Em muitos casos, o tumor responsável é um carcinoma de célula pequena do pulmão, embora outras neoplasias, inclusive carcinoides, carcinomas medulares da tireoide e tumores de células das ilhotas, estejam associados à síndrome. Além dos tumores que produzem o ACTH ectopicamente, uma neoplasia neuroendócrina ocasional produz o HLC ectopicamente, o qual, por sua vez, causa a secreção de ACTH e o hipercortisolismo. Assim como na variante hipofi sária, as glândulas suprarrenais sofrem uma hiperplasia cortical bilateral, mas o rápido curso em declive dos pacientes com esses cânceres frequentemente abrevia o aumento da adrenal. Esta variante da síndrome de Cushing é mais comum em homens e geralmente ocorre aos 40 e 50 anos de idade. As neoplasias suprarrenais primárias, como os adenomas (~10%) e os carcinomas (~5%) suprarrenais, são as causas subjacentes mais comuns da síndrome de Cushing independente de ACTH. A condição bioquímica necessária da síndrome de Cushing independente de ACTH é a presença de níveis séricos elevados de cortisol com baixos níveis de ACTH. Os carcinomas corticais tendem a produzir um hipercortisolismo mais marcante do que os adenomas ou hiperplasias. Em casos de neoplasia unilateral, o córtex suprarrenal não-envolvido e o córtex da glândula oposta sofrem atrofia por causa da supressão da secreção de ACTH. HIPERFUNCIONAMENTO ADRENOCORTICAL (HIPERADRENALISMO) •Assim como existem três tipos básicos de corticosteróides produzidos pelo córtex adrenal, existem três síndromes hiperadrenais características: •Síndrome de Cushing, caracterizada por um excesso de cortisol; •Hiperaldosteronismo; •Síndromes androgênicas ou virilizantes causadas por excesso de androgênios. @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues A grande maioria das suprarrenais hiperplásicas são ACTH dependentes e a hiperplasia cortical primária (hiperplasia independente de ACTH) é incomum. Na hiperplasia macronodular, os nódulos são geralmente maiores do que 3 mm em diâmetro. A hiperplasia macronodular é tipicamente uma condição não esporádica (não sindrômica) observada em adultos. Sabe-se agora que, embora a condição seja independente de ACTH, ela não é inteiramente “autônoma”. Especificamente, a produção de cortisol é regulada pelos hormônios circulantes não ACTH, como resultado da superexpressão ectópica de seus receptores correspondentes nas células adrenocorticais. Por exemplo, a superexpressão dos receptores para peptídeo inibidor gástrico, LH, ADH e serotonina é frequentemente encontrada nos tecidos hiperplásicos.68 O mecanismo pelo qual esses receptores para hormônios não ACTH são superexpressados nos tecidos adrenocorticais é, no entanto, desconhecido. Um subgrupo da hiperplasia macronodular surge na condição da síndrome de McCune-Albright, caracterizada por mutações ativadoras da linhagem germinativa em GNAS, que codifica a Gsα estimulatória. Além disso, as hiperplasias corticais primárias podem resultar de mutações em outros genes que controlam os níveis intracelulares do AMPc. Estes incluem o gene PRKAR1A (ver adiante) e o gene da fosfodiesterase 11A (PDE11A). MANIFESTAÇÕES CLINICAS As manifestações da síndrome de Cushing resultam do excesso de mineralo e glicocorticoides. A síndrome caracteriza-se por: • Obesidade de distribuição peculiar, predominando na face (face em lua cheia), no pescoço e no tronco, poupando os membros; • Estrias purpúricas ou violáceas na pele do abdome (simulando estrias gravídicas), esquimoses e acne; • Hirsutismo, hipogonadismo e distúrbios sexuais (amenorreia em mulheres, impotência em homens); • Osteoporose generalizada, fraturas patológicas; • Hipertensão arterial em 85% dos casos; • Fraqueza e atrofia musculares; • Redução da tolerância à glicose, com tendência a diabetes; • Transtornos emocionais variados, inclusive quadros psicóticos. Apresenta desenvolvimento lento ao longo do tempo, a síndrome de Cushing pode ser muito suave em suas manifestações precoces. Os estágios iniciais deste distúrbio podem se apresentar com hipertensão e ganho de peso. Com o tempo, o padrão mais característico de deposição do tecido adiposo se torna aparente na forma de obesidade do tronco, rosto arredondado e acúmulo de gordura na parte posterior do pescoço e nas costas (corcova de búfalo). O hipercortisolismo causa uma atrofia seletiva das miofibras de contração rápida (tipo 2), resultando em massa muscular diminuída e fraqueza nos membros proximais. Os glicocorticoides induzem a gliconeogênese e inibem a captação de glicose pelas células, resultando em hiperglicemia, glicosúria e polidipsia (diabetes secundário). Os efeitos docatabolismo causam perda de colágeno e reabsorção óssea. Consequentemente, a pele é fina, frágil e facilmente machucada; a cicatrização de ferimentos é fraca; e as estrias cutâneas são particularmente comuns na área abdominal. A reabsorção óssea resulta no desenvolvimento de osteoporose, com consequente dor nas costas e suscetibilidade a fraturas. As pessoas com a síndrome de Cushing estão sob risco para uma variedade de infecções, porque os glicocorticoides suprimem a resposta imunológica. As manifestações @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues adicionais incluem diversos distúrbios mentais, incluindo mudanças de humor, depressão e psicose franca, assim como hirsutismo e anormalidades menstruais. DIAGNOSTICO A síndrome de Cushing é diagnosticada laboratorialmente a partir de: • Concentração de cortisol livre na urina por 24 horas, que está aumentada, • Perda do padrão diurno normal de secreção de cortisol. Laboratorialmente, encontra-se elevação dos níveis séricos ou urinários de cortisol, não suprimíveis pela dexametasona. Nas fases iniciais da doença, às vezes pode ser demonstrada perda do ritmo normal de liberação de cortisol. Alterações nos níveis de eletrólitos são encontradas principalmente nos casos com tumor da cortical. O ACTH plasmático é normal ou pouco elevado nos pacientes com hiperplasia bilateral das suprarrenais, muito elevado naqueles com tumores APUD produtores de ACTH, suprimido no carcinoma da suprarrenal e indetectável na hiperplasia de células produtoras de ACTH existentes na própria cortical das suprarrenais. Em 12% dos pacientes, desenvolvem-se policitemia, discreta neutrofilia, linfo e eosinopenia. A determinação da causa da síndrome de Cushing depende do ACTH sérico e da medida da excreção urinária de esteroides após a administração de dexametasona (teste da supressão de dexametasona). Os resultados desses testes caem em três padrões gerais: 1. Na síndrome de Cushing hipofisária, a forma mais comum, os níveis de ACTH estão elevados e não podem ser suprimidos pela administração de uma baixa dose de dexametasona. Por isso, não há redução na excreção urinária dos 17-hidroxicorticosteroides. No entanto, após a injeção de altas doses de dexametasona, a hipofisária responde diminuindo a secreção de ACTH, o que é refletido pela supressão da secreção urinária de esteroides. 2. A secreção ectópica de ACTH resulta em um nível elevado de ACTH, mas sua secreção é completamente insensível às baixas ou altas doses de dexametasona exógena. 3. Quando a síndrome de Cushing é causada por um tumor suprarrenal, o nível de ACTH é muito baixo devido à inibição retroativa da hipófise. Assim como na secreção ectópica de ACTH, tanto baixas quanto altas doses de dexametasona falham em suprimir a excreção de cortisol.
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