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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Janiane Mayra Valério SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE A influência das certificações ISO no valor das organizações brasileiras do ranking Global 100 Rio de Janeiro – RJ 2020 ii Janiane Mayra Valério SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE A influência das certificações ISO no valor das organizações brasileiras do ranking Global 100 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Veiga de Almeida como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Bacharel em Engenharia de Produção. Orientador: Justino Sanson Wanderley da Nóbrega, M.Sc. Rio de Janeiro – RJ 2020 iii “Este trabalho reflete a opinião do autor, e não necessariamente a da Universidade Veiga de Almeida. Autorizo a difusão deste trabalho” 164 Valério, Janiane Mayra Sustentabilidade e qualidade: a influência das certificações ISO no valor das organizações brasileiras do ranking global 10 / por Janiane Mayra Valério. – 2020. 124 p.: il. color.; 30 cm. Orientação: Prof. M. Sc. Justino Sanson Wanderley da Nóbrega. 1. Engenharia de Produção. 2. Sustentabilidade. 3. Certificação. 4. Valor (Economia). 5. Controle de Qualidade Total. I. Nóbrega, Justino Sanson Wanderley da (Orientador). II. Universidade Veiga de Almeida. Graduação em Engenharia de Produção. III. Título iv Janiane Mayra Valério SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE A influência das certificações ISO no valor das organizações brasileiras do ranking Global 100 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Veiga de Almeida como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Bacharel em Engenharia de Produção. Aprovado em 16 de Junho de 2020. ____________________________________________ Justino Sanson Wanderley da Nóbrega, M.Sc. (Orientador) Universidade Veiga de Almeida ____________________________________________ Antônio Carlos Sarquis, M.Sc. Universidade Veiga de Almeida ____________________________________________ Lais Amaral Alves, M.Sc. Centro de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ v Dedico com muito amor à minha avó Marcelina Adelino (in memorian), que sempre será um exemplo de mulher forte e guerreira. vi AGRADECIMENTOS É chegado ao fim um ciclo de muito aprendizado, choro, risadas, felicidade e superação. Sendo assim, agradeço aos que fizeram parte desta etapa de minha vida: Agradeço inicialmente a Deus por ter me ter me dado saúde e força para superar as dificuldades e principalmente por ter iluminado meus caminhos. Agradeço à minha mãe Jaciran Cezário e madrinha Verusca Reis pelo amor, apoio e incentivo incondicional. Em especial aos meus amigos Deyci Souza e Matheus Mota por nunca me deixarem desistir, por me apoiarem, pela leal parceria até aqui e que em breve serão meus amigos de profissão. Aos familiares e a todos os colegas que conquistei nesses cinco anos de curso. Ao meu orientador Justino da Nóbrega, pelo suporte, correções e incentivos no pouco tempo que lhe coube, e a todo o corpo docente da Universidade Veiga de Almeida por todo o ensinamento e boa vontade em contribuir para o meu crescimento oportunizando a janela que hoje vislumbro. Por fim, sou eternamente grata a todos que, direta ou indiretamente, foram parte da minha formação e participaram dessa realização, deixando aqui o meu muito obrigado. Agradeço ao universo por ter me concedido essa oportunidade. vii “Aprender é uma coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende.” (Leonardo da Vinci) viii RESUMO O cenário atual apesenta uma crescente preocupação acerca da concorrência austera entre empresas do mesmo segmento econômico, do impacto causado pelas mudanças do meio empresarial, da preocupação em manter-se no mercado e principalmente da necessidade de melhor atender o cliente. É necessário compreender os conceitos de sustentabilidade e qualidade, discutir suas abordagens técnicas e apresentar modelos alternativos de gestão responsável explorando a relação do homem com o meio ambiente. Exposto isso, este estudo partiu da necessidade de compreensão e entendimento da importância da sustentabilidade, através da definição e uso de indicadores e, relacioná-la, respeitando seus diferentes aspectos, à gestão da qualidade organizacional com foco no crescimento sustentável, certificando se a sustentabilidade e a qualidade são ou não uma fonte capaz de gerar retorno financeiro e de imagem (utilizando como métrica seu valor de mercado), para as organizações. Tendo por base a evolução das certificações ISO 9001, ISO 14001, ISO 26000 e ISO 45001 procurou- se analisar a importância que as empresas brasileiras atribuem à certificação de uma forma geral, se estas possuem relação entre si e agregam real valor às envolvidas. Os dados foram coletados nas Demonstrações Financeiras e Relatórios Administrativos Anuais das respectivas organizações brasileiras integrantes do ranking Global 100 da Corporate Knights. Com isso, concluiu-se que as certificações demonstraram influenciar a situação financeira das empresas, ainda que estas dependam de inúmeros fatores, sejam eles internos e ou externos. Palavras-Chave: Certificação, Sustentabilidade, Qualidade, Valor de Mercado. ix ABSTRACT The current scenario raises a growing concern about austere competition between companies in the same economic segment, the impact caused by changes in the business environment, the concern to remain in the market and especially the need to better serve the customer. It is necessary to understand the concepts of sustainability and quality, discuss their technical approaches and present alternative models of responsible management exploring the relationship between man and the environment. Having said that, this study started from the need to understand and understand the importance of sustainability, through the definition and use of the indicators and, relating it, respecting its different aspects, to the management of organizational quality with a focus on sustainable growth, making sure that sustainability and quality are or are not a source capable of generating financial and image return (using their market value as a metric) for organizations. Based on the evolution of ISO 9001, ISO 14001, ISO 26000 and ISO 45001 certifications, we sought to analyze the importance that Brazilian companies attach to certification in general, if they are related to each other and add real value to those involved. The data were collected in the Financial Statements and Annual Administrative Reports of the respective Brazilian organizations included in the Global 100 ranking of Corporate Knights. As a result, it was concluded that the certifications have been shown to influence the financial situation of the company, even though they depend on numerous factors, whether internal or external. Keywords: Certification, Sustainability, Quality, Market Value. x LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Dia da Sobrecarga 1970-2019_________________________ 25 Figura 2 - Fluxograma do tratamento dos dados___________________ 33 Figura 3 - Print da Página Periódicos Capes para pesquisa de publicações envolvendo os termos “sustainability” e “quality management” _____________________________________ 34 Figura 4 - Sustentabilidade e as suas dimensões __________________47 Figura 5 - Relação do Ciclo PDCA com a estrutura da norma ISO 14001:2015_______________________________________ 51 Figura 6 - Resumo dos conceitos, barreiras e motivadores relacionados à ISO 26000 ______________________________________ 54 Figura 7 - Logística Reversa __________________________________ 56 Figura 8 - Ondas da Gestão da Qualidade 60 Figura 9 - Modelo de Sistema de Gestão da Qualidade da ISO 9001:2015 63 Figura 10 - Diagrama de causa e efeito___________________________ 65 Figura 11 - Folha de verificação de um sistema de um item de controle de processo__________________________________________ 65 Figura 12 - Folha de verificação para a classificação de defeitos________ 66 Figura 13 - Gráfico de Pareto___________________________________ 66 Figura 14 - Histograma________________________________________ 67 Figura 15 - Diagrama de dispersão: correlação positiva (a), negativa (b) e inexistente (c)______________________________________ 68 Figura 16 - Ilustração dos gráficos da média e amplitude _____________ 68 Figura 17 - Print da Página SciELO para pesquisa de publicações envolvendo a expressão “indicadores de sustentabilidade” ___ 72 Figura 18 - Palavras-chave mais empregadas pelos autores ___________ 76 Figura 19 - Premiações do BB 2018 _____________________________ 87 Figura 20 - Benefícios para Gestão Ambiental Santander 2016 _________ 89 Figura 21 - Prêmios e reconhecimentos Santander 2019 90 Figura 22 - Certificações, prêmios e reconhecimentos CEMIG 2018 93 Figura 23 - Print do Website da ENGIE – Seção Sustentabilidade 95 xi LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Publicações envolvendo sustentabilidade e gestão da qualidade_______________________________________ 35 Gráfico 2 - Quantidade de artigos publicados por ano na base SciELO_ 75 Gráfico 3 - Percentual de artigos publicados por classificação Qualis- CAPES dos periódicos_____________________________ 81 Gráfico 4 - Quantidade de artigos publicados por área_____________ 82 Gráfico 5 - PL, LL e Rentabilidade do PL - Banco do Brasil__________ 105 Gráfico 6 - Lucro Líquido por Ação – Banco do Brasil______________ 105 Gráfico 7 - PL, LL e Rentabilidade do PL – CEMIG________________ 106 Gráfico 8 - Lucro Líquido por Ação – CEMIG_____________________ 107 Gráfico 9 - Valor de Mercado – CEMIG_________________________ 107 Gráfico 10 - PL, LL e Rentabilidade do PL-Natura Cosméticos________ 108 Gráfico 11 - Lucro Líquido por Ação – Natura Cosméticos____________ 109 xii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Classificação das ferramentas_______________________ 69 Tabela 2 - Principais finalidades das ferramentas da qualidade______ 70 Tabela 3 - Significado das palavras do 5S ______________________ 71 Tabela 4 - Leis que regem estudos bibliométricos_________________ 74 xiii LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Abordagens da qualidade ___________________________ 61 Quadro 2 - Classificação A Qualis-CAPES dos artigos conforme publicação_______________________________________ 78 Quadro 3 - Classificação B Qualis-CAPES dos artigos conforme publicação_______________________________________ 79 Quadro 4 - Classificação dos periódicos, conforme publicação, segundo Qualis-CAPES____________________________________ 83 Quadro 5 - Premiações, reconhecimentos e certificações BB 2019_____ 88 Quadro 6 - Resumo das certificações a serem consideradas__________ 98 Quadro 7 - Ano de certificação baseado em informações divulgadas pelas empresas___________________________________ 102 xiv LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ASQC – American Society of Quality Control – Sociedade Americana de Controle de Qualidade ASQ – American Society of Quality – Sociedade Americana de Qualidade BIREME – Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências de Saúde BS – Barometer of Sustainability – Barômetro da Sustentabilidade CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEP – Controle Estatístico do Processo CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNUDS – Conferência das Nações Unidas Sobre Desenvolvimento Sustentável CNUMAD – Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento COP-13 – Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas COP-15 – Conferência Climática de Copenhagen Cp – Controle do Processo Cpk – Índice de Capacidade do Processo CQ – Controle de Qualidade CSCMP – Council of Suplly Chain Management Proffesionals – Conselho de Profissionais de Gestão da Cadeia de Suprimentos DS – Desenvolvimento Sustentável DS – Dashboard of Sustainability – Painel da Sustentabilidade DSR – Driving Force, State, Response – Força Dirigida, Estado, Resposta EFM – Ecological Footprint Method - Método da Pegada Ecológica EUA – Estados Unidos da América FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo GEE – Gases de Efeito Estufa GFN – Global Footprint Network GRI – Global Reporting Initiative HDI – Human Development Index - Índice de Desenvolvimento Humano IDH – Índice de Desenvolvimento Humano xv INMETRO – Instituto Navional de Meteorologia, Normalização e Qualidade Industrial ISO – International Organization Standardization – Organização Internacional de Padronozação JUSE – Japan Union of Scientists and Engineers União dos Cientistas e Engenheiros Japoneses KPI – Key Performance Indicator - Indicadores Chave de Desempenho LL – Lucro Líquido ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável OHSAS – Ocupational Health and Safety Assement Series – Série De Avaliação de Segurança e Saúde Ocupacional PDCA – Plan, Do, Check, Action – Planejar, Executar, Verificar, Agir PL – Patrimônio Líquido PNQ – Prêmio Nacional de Qualidade PNUMA – Programa Nacional das Nações Unidas para o Meio Ambiente PPL – Pessoas, Planeta, Lucro PSR – Pressure, State, Response – Pressão, Estado, Resposta P+L – Produção Mais Limpa RSC – Responsabilidade Social Corporativa RS – Responsabilidade Social SGA – Sistema de Gestão Ambiental SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade SciELO – Scientific Eletronic Library Online SIG – Sistemas Integrados de Gestão SMS – Saúde, Meio Ambiente e Segurança TBL – Triple Bottom Line – Tripé da Sustentabilidade TQC – Total Quality Control – Controle da Qualidade Total TQM – Total Quality Management – Gestão Da Qualidade Total UNEP – United Nations Enviroment Programe WCED – Word Commission on Environment an Development 3P – People, Planet, Profit – Pessoas, Planeta, Lucro xvi SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................. 18 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................... 18 1.2 PROBLEMA ..................................................................................................... 22 1.3 OBJETIVOS .................................................................................................... 26 1.3.1 Objetivo Geral ........................................................................... 26 1.3.2 Objetivos Específicos ................................................................ 26 1.3.3 Delimitação do Estudo .............................................................. 27 1.4 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 28 1.5 METODOLOGIA ..............................................................................................30 1.5.1 Quanto aos fins ......................................................................... 30 1.5.2 Quanto aos meios ..................................................................... 31 1.5.3 Universo e Amostra ................................................................... 32 1.5.4 Coleta de dados ........................................................................ 32 1.5.5 Tratamento dos dados .............................................................. 33 1.5.6 Limitações do método ............................................................... 33 1.6 BIBLIOMETRIA ............................................................................................... 34 1.8 ESTRUTURA DO TRABALHO ........................................................................ 36 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................... 37 2.1 SUSTENTABILIDADE ..................................................................................... 37 2.1.1 Desenvolvimento Sustentável ................................................... 40 2.1.2 Indicadores de desenvolvimento sustentável ............................ 42 2.1.3 Sustentabilidade sob a ótica do Triple Bottom Line .................. 46 2.1.4 Âmbito Normativo ...................................................................... 49 2.1.4.1 Norma de Gestão Ambiental ISO 14001 ............................. 50 2.1.4.2 Produção Mais Limpa (Cleaner Production) ....................... 52 2.1.4.3 Norma de Responsabilidade Social ISO 26000 .................. 53 2.1.5 Logística Reversa ..................................................................... 55 2.1.6 OSHAS 18001 e a nova ISO 45001 .......................................... 57 2.2 QUALIDADE .................................................................................................... 57 2.2.1 Abordagens da qualidade ......................................................... 61 xvii 2.2.2 ISO 9001:2015 .......................................................................... 62 2.2.2.1 Requisitos do sistema da qualidade ISO 9000:2015 .......... 62 2.2.4 Ferramentas da qualidade ........................................................ 64 DESENVOLVIMENTO .................................................................................. 72 3.1 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE ...................................................... 72 3.2 EMPRESAS BRASILEIRAS E O RANKING GLOBAL 100 DA CORPORATE KNIGHTS .............................................................................................................. 82 3.2.1 Banco do Brasil S.A .................................................................. 84 3.2.2 Banco Santander Brasil S.A ...................................................... 88 3.2.3 CEMIG - Concessionária Estatal de Energia Elétrica de Minas Gerais.....................................................................................................................91 3.2.3 ENGIE Brasil Energia S.A ......................................................... 93 3.2.4 Natura Cosméticos S.A ............................................................. 95 3.3 CERTIFICAÇÕES ........................................................................................... 97 3.4 VARIAÇÕES FINANCEIRAS ......................................................................... 103 CONCLUSÃO ............................................................................................. 111 4.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 111 4.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................. 112 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 114 18 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO Uma das principais fontes de recursos dos processos produtivos das organizações é o meio ambiente, portanto o tema sustentabilidade vem sendo cada vez mais abordado na esfera empresarial, uma vez que existem crescentes dúvidas em relação ao futuro no que tange ao meio ambiente e a humanidade (PEREIRA, 2019). Scandelari et.al (2016) evidenciam que existe um impasse provocado pelo conflito entre desenvolvimento econômico e a proteção ao meio ambiente, sendo o grande desafio torná-lo sustentável. Grande parte das organizações estão convencidas de que a busca pela sustentabilidade é a chave para o progresso e em resposta à pressão sofrida pelo mercado, estas organizações empresariais começaram a desenvolver estratégias sustentáveis baseadas no Triple Bottom Line (TBL), buscando alcançar sucesso: ambiental, social e econômico (ROCHA; SEARCY; KARAPETROVIC, 2007; STREIMIKIENE; SIKSNELYTE, 2016). A teoria do TBL, no português Tripé da Sustentabilidade, foi desenvolvida na década de 90, conhecida pela sigla 3P: People (pessoas), Planet (planeta) e Profit (lucro) e surgiu de um estudo realizado por Elkington em 1994 (OLIVEIRA et.al, 2010). A qualidade possui o viés de item inseparável da sustentabilidade, já que esta vem a ser um fator determinante na tomada de decisão por um produto ou serviço. Preserva-se o foco no cliente, visto que está fortemente relacionada com a satisfação de suas necessidades e expectativas, porém considera os impactos desta relação com o meio ambiente (BORN, 2011). Lima et.al (2018) levantam, em seu estudo, que os consumidores estão alterando seus hábitos e seu comportamento, buscando cada vez mais, investir e adquirir produtos ou serviços que interfiram menos no aquecimento global, prejudiquem menos as terras agriculturáveis, causem menos desmatamento, menos poluição de corpos de d’água e utilizem menos recursos não renováveis, enfim, produtos que apresentem noções de sustentabilidade na produção e na logística, inclusive a reversa. 19 Uma abordagem sustentável do sistema de gestão da qualidade a partir da adoção de procedimentos sustentáveis permite que as organizações construam um grande diferencial em seu sistema permitindo que se tornem mais competitivas, reduzindo custos, fortalecendo a imagem dos negócios e dela mesma, melhorando a relação com os clientes além de deixar legados positivos para o planeta (HEPPER, 2015). A utilização de indicadores com foco e enfoque em sustentabilidade parece ser indispensável para que haja um maior controle sobre os processos de execução e para um sistema de gestão que atenda a requisitos especificados nas organizações, permitindo a otimização das atividades. A sustentabilidade tornou-se ponto de destaque para a qualidade dos processos e dos produtos das organizações, demandando que sejam desenvolvidas técnicas de mensuração, acompanhamento e controle focados na obtenção de resultados favoráveis à competitividade empresarial. Nidumolu, Prahalad e Rangaswani (2009), expõem estudo efetuado com trinta empresas norte americanas, destaques em seus ramos de atuação, definidas como grandes corporações, explicitando que a sustentabilidade é uma rica fonte de inovações tecnológicas e organizacionais capaz de gerar retorno considerável, financeiro e de imagem. De acordo com estes autores, uma empresa ambientalmente correta tende a ter custos menores, pois utiliza melhor e mais racional e eficientemente os insumos, além de gerar receita adicional por produtos melhores e novos negócios criados pela organização. Bellen (2006) apud Nidumolu, Prahalad e Rangswani (2009), ao observar os indicadores de desenvolvimento sustentável, afirma que “a emergência da temática ambiental está fortemente relacionada à falta de percepção da ligação existente entre ação humana e suas principais consequências [...]” o que força as empresas a mudar sua maneira de pensar sobre as tecnologias, os produtos, processos e modelos de negócios visando a busca pela sustentabilidade. De acordo com Kemerich,Ritter e Borba (2014), os indicadores de sustentabilidade precisam ser construídos a partir da realidade e dos problemas existentes em cada cenário organizacional, possibilitando uma visão de conjunto que viabilize compreender não só seus aspectos críticos assim como seu verdadeiro potencial com enfoque integrador para a consolidação de uma sociedade sustentável. 20 As primeiras abordagens sobre qualidade e meio ambiente tiveram maior força e apelo após a Segunda Guerra Mundial. Os indicadores ambientais começaram a ser desenvolvidos nos anos 80 por países europeus principalmente, entretanto, o marco foi a assinatura da Agenda 21, na qual representantes de 179 países afirmaram a necessidade de desenvolverem indicadores de desenvolvimento sustentável (DS), na Segunda Conferência da ONU Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento que foi realizada no Rio de Janeiro em 1992, a ECO- 92 (BELLEN, 2003). O Relatório Brundtland, que recebeu o título de “Nosso Futuro Comum”, foi formulado pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento das Organizações das Nações Unidas, definindo desenvolvimento sustentável como o atendimento das necessidades da geração atual sem o comprometimento da capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades (WCDE,1988). Tal definição é a que mais se difundiu pelo mundo abordando explicitamente dois conceitos chave de acordo com Bellen (2006). Para este autor, tem-se o conceito de necessidade, referindo-se às necessidades dos países mais subdesenvolvidos, e, a ideia de limitação imposta pelo estado da tecnologia e de organização social, para atender às necessidades do presente e do futuro. Desta forma, agregar conceitos de sustentabilidade aos de qualidade vem a ser um passo natural na gestão empresarial. A norma NBR ISO 9001:2015 define qualidade como “o grau que um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos”, que nada mais é que satisfazer as expectativas e necessidades do cliente ou consumidor, que cada vez mais está preocupado com questões ambientais e geração de poluição e resíduos. A qualidade, enquanto referencial de mercado, permite que as empresas vejam seus níveis de eficiência aumentados assegurando sua sobrevivência mesmo quando inseridas em ambiente instável e mutante. Estas empresas, de acordo com Rodrigues e Costa (2013), têm na qualidade o elemento fundamental para a competitividade e a sustentabilidade e não somente um diferencial competitivo. A sustentabilidade e a qualidade são dois grandes pilares que regem a boa gestão empresarial. O presente estudo aborda a importância da sustentabilidade, pautada em indicadores de sustentabilidade, na gestão da qualidade nas organizações. A responsabilidade socioambiental pode ser traduzida por seus indicadores e seu uso 21 e implantação podem permitir uma melhor otimização e utilização dos recursos com foco total na qualidade. Relacionar estas duas vertentes importantes, Sustentabilidade e Qualidade, auxiliará na análise e compreensão da permanência das organizações, consideradas exemplos a serem seguidos, no mercado atual. Os benefícios e os resultados positivos, analisados sob o prisma de indicadores dos processos de gestão da qualidade nos processos, garantem maior eficácia e eficiência em longo prazo refletindo em melhoria dos resultados operacionais, graças a uma política de qualidade bem estruturada baseada em indicadores efetivos. Em uma empresa sustentável, todos saem ganhando, seguem os destaques para: os colaboradores, o proprietário, a comunidade, o planeta e as futuras gerações (RODRIGUES e COSTA, 2013). É necessário compreender os conceitos de sustentabilidade e qualidade, discutir suas abordagens técnicas e apresentar modelos alternativos de gestão responsável explorando a relação do homem com o meio ambiente. Discutir a sustentabilidade justifica-se pela necessidade de rever os impactos das atividades produtivas no modelo capitalista tradicional de exploração dos recursos naturais. Empresas e grupos sociais podem alcançar benefícios a partir da mudança de postura das organizações, com base na implantação de modelos de gestão sustentável e de responsabilidade socioambiental, conforme Quadros e Tavares (2014, p. 46) que mencionam: Diversos estudos apontam a sustentabilidade como peça fundamental da inovação. Reduzir a quantidade de matérias-primas usadas na produção ou repensar processos para eliminar o impacto ambiental de certas substâncias traduzindo-se, cada vez mais, em melhoria nos indicadores financeiros da empresa. Em um futuro próximo, as empresas que não adotarem práticas sustentáveis não conseguirão mais competir no mercado. Exposto isso, este estudo partiu da necessidade de compreensão e entendimento da importância da sustentabilidade, através da definição dos indicadores de sustentabilidade e, relacioná-la, respeitando seus diferentes aspectos, à gestão da qualidade organizacional com foco no crescimento sustentável, certificando se a sustentabilidade e a qualidade são ou não uma fonte capaz de gerar retorno financeiro e de imagem (corroborando utilizando como métrica seu valor de mercado), para as organizações. Tal ação visa que os 22 gestores, empresários e empreendedores não só compreendam a necessidade de assumir uma postura responsável nas suas relações com a sociedade, como inclusive possam avaliar os processos de mudança necessários à manutenção competitiva das suas organizações diante de um novo cenário de consciência econômica, social e ambiental. Em suma, evidenciar a existência da relação entre a Sustentabilidade e a Qualidade no que se refere a impactar em ampliação no valor das organizações diante do mercado. 1.2 PROBLEMA No Brasil e no mundo, empresas do mesmo ramo ou segmento econômico preocupam-se com questões relacionadas à melhoria de seus processos para o aumento da produtividade e a melhor conceituação de suas atividades frente ao mercado, com vistas à competitividade. Os indicadores de sustentabilidade são um ponto crucial que levam estas empresas a abrir vantagem competitiva frente às demais na corrida empresarial e tal ação é vista, pelos consumidores, como diferencial da qualidade do produto ou serviço oferecido (CARVALHO; GUEDES, 2018; WWF, 2018). De acordo com estudo realizado pelo SEBRAE (2016), 18,3% dos empresários acreditam que a falta de informações sobre sustentabilidade é a principal barreira para adotar ações sustentáveis na empresa. Em seguida, estão a dificuldade em encontrar parceiros para cooperação (16,6%) e o preço a pagar para adotar ações (11,2%). As organizações têm questionamentos e preocupações sobre a real necessidade de programar e implementar práticas sustentáveis, e assim, parte destas cogitam que não é tão imprescindível e até argumentam que essas ações demandam muitos esforços e recursos humanos e financeiros (SEBRAE, 2016; SPALENZA; AMARAL, 2018). Isso gera perda do market share, diminuição da lucratividade e até possível extinção da organização (SPALENZA; AMARAL, 2018). A oportunidade atrelada ao atual cenário é compreender que a mudança de mentalidade na forma de executar os processos operacionais, requer um grande esforço por parte dos colaboradores e dos gestores destas organizações. Ações em 23 sinergia visando à melhoria contínua organizacional nas três esferas de atuação: estratégica, tática e operacional, trarão consequências satisfatórias. Programar e implementar práticas sustentáveis tende a trazer resultados a médio e longo prazo, esta implementação requer tempo e por esse motivo, é preciso entender a importância dos indicadores de sustentabilidade e confiar que tal implementação gerará frutos e benefícios que só serão colhidos no futuro caso as ações sejam implementadas de modo imediato. Otimizar os recursos, ou seja,produzir gastando menos, diminuir o desperdício, conscientizar os colaboradores e a alta gestão possibilita que as empresas entrem em sintonia com a sociedade, que cada vez mais exige a participação ativa das instituições, optando por empresas com as quais está disposta a fechar negócio com base em valores como a responsabilidade ambiental, que considera cruciais. Não é tão simples concluir o processo de implementação de práticas sustentáveis e pode sim ser difícil projetar possíveis resultados, todavia para isso é primordial entender a importância e como incitar ideias que proponham soluções relacionadas à sustentabilidade e como aplicá-las com foco na obtenção de vantagem competitiva através da qualidade. A sustentabilidade empresarial se equilibra em três pilares: o social, o econômico e o ambiental. Sendo assim as organizações devem buscar o bem-estar social, a viabilidade financeira e trabalhar para a conservação do planeta. Infelizmente, muitas empresas estão preocupadas apenas em obter lucro. Verifica-se o descaso com o meio ambiente e a sociedade através de notícias que são recebidas diariamente em todos os lugares do mundo por diferentes meios de comunicação, independente do segmento da organização, do fato de o país ser desenvolvido ou subdesenvolvido, do nível educacional e renda familiar dos atores envolvidos. É triste a realidade em que toda a sociedade vive e toda e quaisquer atitudes e ações tomadas com o objetivo de modificar esse quadro, tende a trazer benefícios ao meio ambiente que está suplicando por socorro. Dentro deste processo estão os colaboradores, fornecedores, acionistas e o proprietário, porém, fora estão a comunidade, agências reguladoras governamentais, instituições públicas de fomento/desenvolvimento, instituições privadas e/ou mistas de crédito/financiamento, associações, federações e confederações empresariais ligadas à indústria, sindicatos e federações, ou 24 confederações de trabalhadores, associação de consumidores, agências e organismos públicos de defesa dos direitos do consumidor, associações comunitárias, associações de moradores, sem esquecer o planeta e as futuras gerações. Os riscos atuais caracterizam-se por ter consequências, em geral de alta gravidade, desconhecidas em longo prazo e que não podem ser avaliadas com precisão dependendo do nicho de atividade da organização. O WWF- Brasil, uma organização que trabalha em defesa da vida com o propósito de mudar a atual trajetória de degradação socioambiental, relatou que o crescimento do padrão mundial de consumo e da população irá dobrar a demanda mundial por recursos naturais e alimentos. Em 1961, quando foi fundado, a sigla WWF significava “World Wildlife Fund” e foi traduzido como “Fundo Mundial da Natureza” em português. No entanto, com o crescimento da organização ao redor do planeta nas décadas seguintes, a atuação da instituição mudou de foco e as letras passaram a simbolizar o trabalho de conservação da organização de maneira mais ampla. Com isso, a sigla ganhou sua segunda tradução: "World Wide Fund For Nature" ou “Fundo Mundial para a Natureza” (WWF-Brasil, 2018). É preciso muita atenção e ação, pois no ano de 2019, a entidade internacional Global Footprint Network (GFN), organização pioneira no cálculo da Pegada Ecológica, realizado desde 1986, divulgou o chamado Dia da Sobrecarga que marca a data a partir da qual o consumo de recursos naturais ultrapassa a capacidade de regeneração dos ecossistemas para o ano. Neste cálculo, a instituição revelou que o planeta entrou em déficit, ou seja, no vermelho. A população mundial já consumiu todos os recursos naturais (água, terra, ar limpo) que o planeta oferece, além da capacidade de regeneração dos ecossistemas. Esse dia chegou dois meses antes quando comparado a 20 anos atrás, e de acordo com a instituição, se adianta a cada ano no calendário, o que é alarmante. Atualmente, é exercida uma procura 1.75 vezes superior à capacidade de regeneração dos ecossistemas, ou seja, atualmente a humanidade usa os recursos equivalentes de 1.75 planetas Terra como apresentado na Figura 1. 25 Figura 1 – Dia da Sobrecarga 1970-2019. Fonte: Global Footprint Network (2019). A proposta é entender a importância da sustentabilidade, através de seus indicadores, e relacioná-la à gestão da qualidade organizacional com foco no crescimento sustentável diante de um novo cenário de consciência econômica, social e ambiental. Portanto, emerge a seguinte questão de pesquisa motivadora deste estudo: Existe ampliação do valor de mercado das empresas brasileiras catalogadas no ranking Global 100, ano referência 2020, da revista Corporate Knights que possuem certificações socioambientais (ISO 14001, ISO 26000 e ISO 45001) e/ou certificações de qualidade (ISO 9001)? O aumento do número de empresas certificadas no Brasil e no Mundo tem demonstrado que as certificações são cada vez mais encaradas como objetivos estratégicos. Ao aderir as certificações socioambientais e de qualidade pode-se, ou não, afirmar que estas geram maior competitividade, aumento da quota de mercado ou simplesmente a melhoria da imagem organizacional. Tendo por base a evolução das certificações ISO 9001, ISO 14001, ISO 26000 e ISO 45001 procurou-se analisar a importância que as empresas brasileiras atribuem à certificação de uma forma geral, se estas possuem relação entre si e agregam real valor às envolvidas. 26 A fim de ajustar os rumos que as empresas vêm tomando em relação à sua interação com o meio ambiente natural, busca-se de fato, evidenciar que aplicar sistemas de indicadores ou ferramentas de sustentabilidade, na busca pela melhoria contínua nos serviços e produtos para melhor enfrentar a competitividade do mercado, está diretamente relacionada com a gestão da qualidade empresarial e a consequente valorização do valor de tais empresas no mercado, culminando em retorno financeiro e de imagem. O desenvolvimento sustentável pode ser definido e operacionalizado para que seja utilizado como ferramenta da qualidade. Evidenciar se as empresas que possuem certificações de sustentabilidade possuem em conseguintes certificações de qualidade e se tal critério atua na ampliação de seus valores de mercado. 1.3 OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo verificar se existe ampliação do valor de mercado das empresas brasileiras catalogadas no ranking Global 100 2020, da revista Corporate Knights, que possuem certificações socioambientais e/ou certificações de qualidade. 1.3.1 Objetivo Geral Tomando como base o cenário até aqui apresentado, o cerne deste estudo é identificar o conceito e a importância da sustentabilidade, através do uso de indicadores e relacioná-la à gestão da qualidade organizacional, verificando a existência de evidências de relação e associação entre a Sustentabilidade, a Qualidade e o Valor de mercado. 1.3.2 Objetivos Específicos Dentre os objetivos específicos destacam-se: ⎯ Verificar a importância dos indicadores de sustentabilidade; 27 ⎯ Demonstrar a existência da relação entre a sustentabilidade e o desempenho de sistemas de gestão da qualidade das empresas brasileiras catalogadas no ranking Global 100 2020 da revista Corporate Knights, que lista as 100 empresas mais sustentáveis do mundo; ⎯ Analisar as vantagens e desvantagens desta relação, se esta existir; ⎯ Identificar, através da verificação da existência de certificações socioambientais e certificações de qualidade, se tais dimensões são convergentes para a ampliação do valor de tais organizações no mercado. 1.3.3 Delimitação do Estudo O estudo, ora em projeto, delimita-se a promover uma análise sobre a importância da sustentabilidade, através de seus indicadores, na gestão da qualidade nas organizações brasileiras, demodo a evidenciar a relação entre as duas variáveis/dimensões, qualidade e sustentabilidade. Essa amostra contempla as empresas brasileiras catalogadas no ranking Global 2020, das 100 empresas mais sustentáveis do mundo, da revista canadense Corporate Knights, e verifica-se a existência de certificações socioambientais e/ou de qualidade e se tais são convergentes para a ampliação do valor de mercado destas organizações. Tal objetivo será alcançado através da discussão de abordagens, respeitando os diferentes aspectos. O índice Global 100 é gerenciado pela empresa canadense Corporate Knights, ligada ao mercado editorial, e utiliza uma variedade de diferentes fontes de informação para formar o indicador Global 100. O universo de partida para o projeto é determinado usando os dados encontrados em declarações de empresas financeiras, relatórios de sustentabilidade, Bloomberg (empresa de tecnologia e dados para o mercado financeiro e agência de notícias operacionais em todo o mundo com sede em Nova York) e outras fontes de terceiros. Como uma primeira amostra, eliminam-se todas as empresas que não divulgam pelo menos 75% dos “indicadores prioritários” em seu respectivo grupo da indústria para o ano de desempenho. 28 O modelo de pesquisa é composto por 21 Key Performance Indicator (KPI), no português indicadores-chave de desempenho. As empresas só são pontuadas nos KPI prioritários para seus respectivos grupos industriais. Para a elaboração do ranking os especialistas consideram 21 KPI como: gestão financeira, de pessoal e de recursos; receita obtida de serviços/produtos com benefícios ambientais e/ou sociais; desempenho da cadeia de fornecedores, dentre outros (CORPORATE KNIGHTS, 2020). 1.4 JUSTIFICATIVA Explorar a relação do homem com o meio ambiente a partir da tomada de consciência a respeito da crise ambiental é de suma importância. O conceito de sustentabilidade cada vez mais vem sendo abordado com enfoques mercadológicos e econômico-sociais, uma preocupação essencial considerada pelas empresas para corresponder às expectativas da sociedade de um modo geral. Atuando com base em preceitos de sustentabilidade, as empresas podem contribuir para a exploração mais consciente dos recursos naturais, evitando a escassez dos mesmos e contribuindo inclusive para a redução dos impactos ambientais da atividade produtiva. Assim, a própria sobrevivência das populações do globo pode ser menos ameaçada. A produtividade e a qualidade de uma empresa são medidas através de indicadores com o foco em utilizar os recursos disponíveis de maneira adequada e verificar a capacidade da empresa em atender às expectativas dos clientes, respectivamente (SEBRAE, 2015). Os indicadores de produtividade estão relacionados à eficiência, pois tratam da utilização e dos processos dos recursos para a geração de produtos e serviços, enquanto que os indicadores da qualidade estão vinculados diretamente ao conceito de eficácia, que nada mais é que a maneira como o produto é percebido pelo cliente conforme os seus requisitos. A utilização de indicadores de sustentabilidade e a consequente mudança de postura nas empresas que aderem viés sustentável vêm ganhando espaço nos planos de gestão da qualidade das organizações e pode diagnosticar, dentro de um processo, as interferências ambientais, a fim de valorizar o ciclo produtivo e diminuir impactos nos processos produtivos através da busca por alternativas que levem em 29 conta o equilíbrio de novas filosofias e propostas de abordagem referentes ao tema. (CASTRO et.al, 2016) No âmbito profissional, existe a necessidade de que a capacidade produtiva se torne mais eficiente no uso dos recursos naturais, com isso através de um monitoramento rigoroso, um controle adequado e uma análise correta dos itens utilizados como indicadores nos processos, este trabalho pode beneficiar as empresas representando como melhorias o aumento de produtividade, melhor organização, a diminuição de custos e desperdícios e a possível ampliação de seu valor no mercado. É necessário, por conseguinte integrar as dimensões da sustentabilidade na empresa e ao longo da cadeia produtiva para que o negócio se mantenha e se perpetue, resultando em mais qualidade oferecida ao mercado e mais competitividade dentro do segmento empresarial. A sustentabilidade é essencial para a permanência da vida, de negócios e de ganhos no mercado, e para atuar de maneira competitiva em mercados com concorrência cada vez mais acirrada, as empresas precisam coordenar os esforços com bases em preceitos de sustentabilidade. Em relação aos ganhos à sociedade, que são expressivos, destacam-se o fato de os colaboradores encontrarem um bom ambiente de trabalho, a comunidade que se desenvolve no entorno da organização sustentável, o planeta que é preservado e os recursos naturais são que disponibilizados com qualidade e as futuras gerações que encontram um ambiente equilibrado. Evidenciar para a sociedade a importância de adquirir produtos e serviços de empresas que possuem o viés de responsabilidade socioambiental mostrando que tal viés está diretamente associado à qualidade dos produtos e serviços por esta oferecidos. A comunidade científica leva como legado o conhecimento agregado, que esse trabalho possa servir de base para futuros estudos relacionados métodos voltados à aplicação da sustentabilidade como medida estratégica na implementação de sistemas de gestão da qualidade com foco em ampliação do valor de mercado das organizações. Tal assunto pode ser útil para integrantes de todos os níveis do meio acadêmico que buscam verificar e discutir acerca da relação entre sustentabilidade e qualidade, da importância dos indicadores de 30 sustentabilidade e da possível ampliação do valor de mercado ao se assumir tais práticas. Como justificativa pessoal, o objeto do estudo será de suma importância para integrar valores e possibilitar trazer o futuro para o presente, levando ao conhecimento de que é possível realizar nossos sonhos hoje sem comprometer os sonhos daqueles que ainda nem nasceram. Muitos não querem tratar do assunto, têm dificuldade de pensar no futuro, mas para a autora é uma grande questão que precisa ser resolvida. É preciso reinventar, criar uma nova consciência, pois o investimento é medido em longo prazo e para isso é preciso ter um começo. 1.5 METODOLOGIA A metodologia fundamenta-se no estudo dos métodos e suas limitações. Avaliam-se as técnicas de pesquisa que possam conduzir a elaboração de novos métodos, de como processar e fornecer informações em meio investigativo (BARROS; LEFHELD, 2007). Tem como principal objetivo esclarecer tudo o que foi feito durante a elaboração do estudo, bem como os instrumentos utilizados, seus métodos, os atores envolvidos, dentre outros (MASCARENHAS, 2012). Para classificação da pesquisa, toma-se como base a taxionomia de Vergara (2016), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios. 1.5.1 Quanto aos fins De acordo com Perovano (2016), o objetivo da definição do tipo de estudo é poder estabelecer as estratégias que serão utilizadas e que poderão ser desenvolvidas na pesquisa e apontarão o nível científico sobre o tema em questão. Quanto aos fins, a pesquisa apresentada é descritiva, explicativa e aplicada. Para Vergara (2016) tais pesquisas denominam-se conforme as definições a seguir: Pesquisa descritiva é aquela que expõe características claras de uma determinada população ou fenômeno, que podem ainda 31 estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza, envolvendo técnicas padronizadas e bem estruturadas de coleta de seus dados. Pesquisa explicativa tem como principal objetivo tornar as ações estudadas em algo inteligível, como dados de fácil compreensão, justificandoe explicando os seus principais motivos, esclarecendo quais fatores contribuem para a ocorrência de determinado fenômeno. Pesquisa aplicada é aquela motivada pela necessidade de resolver problemas que já existem na prática, de forma imediata ou não, tem, portanto, finalidade prática. Sendo assim, o trabalho em questão é de caráter descritivo e explicativo visto que descreverá a importância dos indicadores de sustentabilidade e a relação destes com a gestão da qualidade dentro das organizações e aplicado, uma vez que é motivado pela necessidade de resolver um problema que já existe. Esse trabalho serve de instrumento para empresas que visam sustentabilidade como diferencial de qualidade e notória elevação de valor frente ao mercado e buscam por um estudo introdutório que evidencie a relação entre sustentabilidade e qualidade nesse viés. Além de ser um legado para o universo acadêmico e para os próximos estudos que almejam realizar um aprofundamento do tema em questão. 1.5.2 Quanto aos meios Pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado que ocorre a partir da tentativa de resolver problemas baseando-se a partir de informações advindas de material gráfico, sonoro e informatizado: literatura, revistas, jornais, redes eletrônicas, ou seja, materiais onde o público em geral tem facilidade no acesso a essas informações (BARROS; LEHFELD, 2007 e VERGARA, 2016). Desta forma, este trabalho caracteriza-se por realizar pesquisa bibliográfica, pois é elaborado a partir da revisão literária, incluindo livros, artigos e teses relacionados ao tema. Para a fundamentação teórico-metodológica será realizada 32 investigação sobre os seguintes assuntos: indicadores de sustentabilidade, sustentabilidade, qualidade, existência de certificações socioambiental e de qualidade e valor de mercado (considerando indicadores) das organizações em questão para o estudo. 1.5.3 Universo e Amostra Vergara (2016) define população como conjunto de elementos, no caso deste estudo empresas, que possuem as características que serão objeto de estudo e define ainda População amostral ou Amostra como parte do universo (população) escolhida segundo algum critério de representatividade. O Universo de estudo engloba a importância dos indicadores de sustentabilidade na gestão da qualidade das organizações de forma a evidenciar a relação entre a sustentabilidade e o desempenho de sistemas de gestão da qualidade com viés de ampliar valor de mercado. Para seleção das Amostras, foram selecionadas as empresas brasileiras catalogadas no ranking 2020 da revista Corporate Knights, que lista as 100 empresas mais sustentáveis do mundo. 1.5.4 Coleta de dados Os dados foram coletados por meio de pesquisa bibliográfica a fim de sustentar e justificar os conceitos de indicadores de sustentabilidade, sustentabilidade e qualidade. Foram levantados a partir da análise dos Relatórios Anuais e Demonstrações Financeiras das respectivas organizações e a partir da revisão da literatura na base SciELO em que, direta ou indiretamente, contemplem dados pertinentes a assuntos relacionados ao tema através de livros, revistas especializadas, artigos, anais de congresso, teses, dissertações, jornais e internet. As pesquisas bibliográficas justificam-se, à medida que contribuem para maior compreensão do fenômeno da possível relação de empresas que possuem certificações socioambientais e/ou de qualidade e sua ampliação de valor no mercado. 33 1.5.5 Tratamento dos dados Os dados são tratados de forma qualitativa e de acordo com os objetivos estabelecidos para este estudo será elencada a importância da sustentabilidade, considerando sua dimensão através de indicadores de sustentabilidade, analisar a existência da possível relação entre a sustentabilidade e o desempenho dos sistemas de gestão da qualidade das empresas brasileiras catalogadas no ranking 2020 Global 100; verificar, caso exista, as vantagens e desvantagens da relação entre a sustentabilidade e os sistemas de gestão da qualidade a partir verificação da existência de certificações das empresas em questão evidenciando se tais dimensões, sustentabilidade e qualidade, são convergentes para a ampliação do valor destas organizações no mercado. A Figura 2 ilustra o fluxograma do processo de tratamento dos dados. Figura 2 – Fluxograma do tratamento dos dados. Fonte: Elaborado pela Autora (2020). 1.5.6 Limitações do método O método escolhido para o estudo apresenta certas limitações que serão apresentadas a seguir: 34 ⎯ A delimitação da abrangência da pesquisa às empresas brasileiras catalogadas no ranking Global 100 2020 deixando à parte outras empresas importantes e tradicionais em função do tempo disponível e da importância a nível mundial que tal Relatório possui, não permite generalização das conclusões extraídas do estudo. ⎯ Dados das empresas serão coletados por meio de bases de pesquisa à internet e órgãos responsáveis pelas certificações. 1.6 BIBLIOMETRIA A bibliometria é uma importante ferramenta que possibilita analisar como está a produção intelectual sobre um determinado tema ou assunto. De acordo com pesquisa realizada nos periódicos CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), a varredura foi feita a partir de dissertações, teses e artigos que abordam “Sustentabilidade” e “Gestão da Qualidade” e contemplou o período de 1980 até 2019. Conforme evidenciado na Figura 3, foram utilizadas, em inglês, as palavras- chave “Sustainability” e “Quality management”, pois a quantidade de documentos é maior neste idioma, o que facilitou a busca e a posterior análise. Figura 3 - Print da Página Periódicos Capes para pesquisa de publicações envolvendo os termos “sustainability” e “quality management” Fonte: Periódicos CAPES (2020). 35 No Gráfico 1 é possível observar a evolução do número de publicações envolvendo os temas sustentabilidade e gestão da qualidade que ocorreram entre 1980 e 2019 a partir de consulta realizada na base de dados Periódicos CAPES. Gráfico 1 - Publicações envolvendo sustentabilidade e gestão da qualidade. Fonte: Elaborado pela Autora a partir dos dados Periódicos CAPES (2020). As primeiras abordagens sobre o tema tiveram início a partir de 1991, após a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento definirem Desenvolvimento Sustentável. Nos anos seguintes ocorreram expressivos aumentos, destacando-se os que aconteceram após 2000, 2005 e 2010. Em 2015 as publicações reduziram significativamente em 7,79%, porém, nos anos subsequentes, ocorreu uma valorização de enfoque do tema que permaneceu em uma crescente evolução até o ano de 2018. Em 2019 houve uma queda nas publicações de 6,27%. Com isso pode-se verificar a relevância da Sustentabilidade diretamente relacionada à Gestão da Qualidade dentro das empresas. A cada ano o número de publicações aumenta evidenciando que o assunto visa garantir vantagem competitiva no atual cenário de globalização em que a concorrência está cada vez mais acirrada. 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 36 1.8 ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho será apresentado em quatro capítulos, conforme descrição a seguir: O capítulo 1 contempla introdução, objetivos geral e específicos, justificativa, delimitação do estudo em questão. Descreve metodologia aplicada e as partes que a compõem, sendo o tipo de pesquisa aplicado, o universo e a amostra selecionada. Aborda o tratamento e a análise dos dados coletados, assim como as limitações no método aplicado. Por fim, tem-se a bibliometria para justificar a relevância do assunto e a estrutura de apresentação do trabalho. No capítulo 2 é apresentada a fundamentação teórica acerca do trabalho proposto, que é compostapor referencial teórico e definição dos métodos e das ferramentas incluindo conceitos referentes à sua abordagem. O capítulo 3 descreve identificação, verificação e posterior discussão sobre o tema, tratando em suma do desenvolvimento dos objetivos específicos. No capítulo 4 são apresentadas as considerações finais e propostas para futuros trabalhos. 37 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para legitimar este conteúdo e trazer uma melhor compreensão sobre o papel dos temas abordados neste estudo analisam-se a Sustentabilidade e a Qualidade relacionando-as com o objetivo desta pesquisa. Composta por referencial teórico que abrange de forma clara uma visão histórica da trajetória da Sustentabilidade e contempla ainda o desenvolvimento sustentável, seus indicadores, o tripé da sustentabilidade, a ISO 14001:2015, Produção Mais Limpa (lean production), ISO 26000, OSHAS 18001 e a nova ISO 45001 e Logística Reversa. Com o viés complementar aos temas abordados neste estudo, este referencial teórico abrange ainda uma visão histórica da trajetória da Qualidade, a ISO 9001:2015 e discorre sobre as ferramentas da qualidade. 2.1 SUSTENTABILIDADE Para se atentar à relevância de Sustentabilidade precisa-se permear um pouco pelo passado através de uma visão histórica da trajetória buscando interpretar conceito e evolução desta área, para o consenso da percepção de sobrevivência da organização, que de acordo com a WCED (1988) é preciso sobreviver sem comprometer as futuras gerações. A discussão sobre o desenvolvimento sustentável vem de longa data, pois em suas várias dimensões o tema tem sido abordado sob diferentes aspectos e com conotações distintas (BARBIERI, 2004; SEIFFERT, 2005). O primeiro encontro ocorreu na Suécia em 1972 com a Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo. Pode-se mencionar que a preocupação ambiental foi primeiramente abordada pelo Clube de Roma, um órgão colegiado liderado por empresários que, por meio da publicação intitulada “Limites do Crescimento”, contemplou em termos trágicos o futuro mundial caso a sociedade mantivesse os padrões de produção e consumo vigentes à época (MEADOWS et.al, 1972). Deste encontro surgiu o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). No ano de 1983 reuniu-se, a pedido do secretário-geral das Nações Unidas, Javier Pérez de Cuéllar (Peru) – 1982/1991, a Comissão Mundial sobre o Meio 38 Ambiente e Desenvolvimento para avaliar os avanços dos processos de degradação ambiental e a eficácia das políticas ambientais para enfrentá-los. Este evento teve como ponto alto a publicação do Relatório de Brundtland, que recebeu este nome em homenagem à Gro Harlem Brundtland, ex-primeira ministra da Noruega (AMATO NETO, 2011; ONU, 2020). Em 1987 ocorreu novo encontro, que gerou um documento intitulado Protocolo de Montreal, também conhecido como o relatório “Nosso futuro comum” (WECD,1988), o qual foi responsável por disseminar o conceito de desenvolvimento sustentável, definido como aquele que atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atenderem às suas (WILKINSON; HILL; GOLLAN, 2001). Este evento reuniu um número expressivo de países (180 nações), que se comprometeram com as metas de redução da produção de gases causadores do estreitamento da camada de ozônio (BELLEN, 2003). Já em 1992, tem-se a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como ECO-92, na cidade do Rio de Janeiro. Nesta conferência estabeleceu-se a Agenda 21 – Agenda de Desenvolvimento Sustentável, assinada por 179 países. A ECO-92 reforçou a necessidade de a sociedade como um todo engendrar o desenvolvimento sustentável, cuja base está alicerçada em mudanças paradigmáticas no modo de conceber e implementar ações econômicas, políticas e sociais que considerem os impactos dessas atividades sobre o meio ambiente (SEIFFERT; LOCH, 2005). Um dos mais importantes eventos internacionais para se discutirem as perspectivas das nações em relação aos problemas ambientais globais foi o Protocolo de Kyoto, no Japão, em 1997. Neste encontro estabeleceu-se o protocolo de um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa e o esforço necessário para se evitar o aquecimento global. Após longa discussão e negociação entre os representantes dos países participantes, foi aberto para assinaturas em 11 de dezembro de 1997 e ratificado em 15 de março de 1999 entrando em vigor em 2005 (LEFF, 2015). No ano de 2000, líderes mundiais reuniram-se na sede das Nações Unidas em Nova Iorque para estabelecer uma agenda de compromissos mínimos pela humanidade e definir uma visão abrangente para combater a pobreza nas suas 39 várias dimensões, a fome, doenças transmissíveis e evitáveis, a desigualdade de gênero, a destruição do meio ambiente e as condições precárias de vida. Essa visão foi traduzida em Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e foi, nos últimos 15 anos, o quadro de desenvolvimento dominante para o mundo (IPEA; SPI, 2014; ONU, 2016). No ano de 2002 ocorreu o encontro Rio +10, Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, África do Sul. Este encontro teve por objetivo principal checar se os objetivos da Agenda 21 estavam sendo alcançados (BELLEN, 2006). Posteriormente, em 2007, aconteceu a Conferência de Bali – Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-13), envolvendo 187 países, que ratificaram seus compromissos com a redução dos gases-estufa até 2050. O encontro de Bangkok em 2008 foi o evento que serviu primordialmente para preparar as negociações de um novo tratado internacional para o período pós- Kyoto, a partir de 2012, com vistas à redução das emissões de gases-estufa entre 25% e 40% (em relação aos níveis de 1990). Já em 2009 ocorreu a Conferência Climática de Copenhagen, capital da Dinamarca (COP-15). O encontro foi considerado o mais importante da história recente dos acordos multilaterais ambientais, pois teve por objetivo estabelecer o tratado que substituiria o Protocolo de Kyoto, vigente de 2008 a 2012. Neste evento foram debatidas questões como o impasse entre países desenvolvidos e em desenvolvimento para se estabelecerem metas de redução de emissões e as bases para um esforço global de mitigação e adaptação. Cabe destacar, ainda, que essa conferência foi marcada pela chegada de Barack Obama ao poder nos Estados Unidos, prometendo uma nova postura dos EUA face às questões ambientais (AMATO NETO, 2011). Em 2011 ocorreu a 16ª Conferência sobre as Mudanças Climáticas, ou Cimeira de Cancun, México. Essa conferência ocorreu após o fracasso verificado em 2009 na COP-15, onde a presença de mais de 150 chefes de Estado e Governo não foi suficiente para se chegar a um entendimento sobre a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). A conferência de 2009 resultou apenas em um acordo mínimo, concluído e assinado às pressas por 20 chefes de Estado que se comprometeram a limitar, de maneira voluntária, o aquecimento global a dois graus 40 Celsius sem, contudo, especificarem os meios para atingir essa meta (BELLEN, 2003). A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS), no Rio de Janeiro, em 2012 conhecida como Rio +20, teve como foco a renovação do compromisso sobre o desenvolvimento sustentável formalizado em diversos países em conferências anteriores. Dessa conferência surgiu o documento intitulado The future we Want, com foco principalmente nas questões da utilização de recursos naturais, e em questões sociais como a falta de moradia (UNSCD, 2012). Com o fim da vigência da Declaração do Milênio das Nações Unidas foi elaborada uma agenda pós-2015 para o desenvolvimento sustentável,tendo em vista a continuidade das ações para avanço em todos os níveis. O plano de ações intitulado “Transformando nosso mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, com vistas ao cumprimento em 2030, possui dezessete objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) e 169 metas sendo “integradas e indivisíveis, e mesclam de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental” (ONU, 2016). 2.1.1 Desenvolvimento Sustentável Para Amato Neto (2011), o tema sustentabilidade faz parte de uma significativa parcela da agenda de chefes de estado, de estratégias corporativas de grandes empresas no Brasil e no mundo e vem ocupando espaços cada vez mais importantes na mídia, nos meios empresariais, no debate acadêmico e em muitas outras esferas de discussão da sociedade mundial. De acordo com Sachs (1993 p. 23), A sustentabilidade ambiental pode ser alcançada por meio da intensificação do uso dos recursos potenciais [...] para propósitos socialmente válidos; da limitação do consumo de combustíveis fósseis e de outros recursos e produtos facilmente esgotáveis ou ambientalmente prejudiciais, substituindo-se por recursos ou produtos renováveis e/ou abundantes e ambientalmente inofensivos; redução do volume de resíduos e de poluição...; intensificação da pesquisa de tecnologias limpas. 41 O conceito de sustentabilidade é bastante amplo e integra a parte econômica (capital, vendas, custo, rentabilidade, taxa de retorno), social (trabalho, oportunidade, dignidade, saúde e segurança, ergonomia) e ambiental (terreno, materiais, destino dos efluentes, resíduos, conforto, qualidade do ar). Tais partes precisam ser analisadas de maneira integrada, pois a garantia do desenvolvimento sustentável para preservação do patrimônio natural depende de um desenvolvimento econômico e social pleno, em que a busca por alternativas deve buscar equilíbrio entre a utilização dos recursos naturais e a geração de resíduos (KAZAZIAN, 2005; AGOPYAN et.al, 2011). O termo Desenvolvimento Sustentável manifestou-se nas últimas décadas do século XX para tornar inteligível ideias e preocupações advindas dos graves problemas que ocasionam riscos às condições de vida no planeta. Bellen (2003) sustenta que o conceito de desenvolvimento sustentável resulta de um processo histórico relativamente longo que inclui a reavaliação crítica da relação entre a sociedade civil e seu meio natural e ainda que a noção de desenvolvimento sustentável tem sua origem mais remota no debate acerca do conceito de desenvolvimento, quando da sua relação ao crescimento. Alguns pontos importantes na discussão dos riscos do crescimento contínuo foram: o relatório sobre os limites do crescimento, publicado em 1972 pelo Clube de Roma; o surgimento do conceito de eco desenvolvimento que abrange as questões sociais, econômicas, culturais, políticas e ambientais, formulada por intelectuais como Sachs, Leff e Strong, em 1973; a declaração de Cocoyok, em 1974; o relatório da Fundação Dag-Hammarkskjöld, em 1975, e finalmente a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, no Rio de Janeiro (BELLEN, 2003; LEFF, 2005; SILVA, 2018). O conceito de DS é relativamente recente e surgiu inicialmente com o nome de Eco desenvolvimento na década de 1970 (SACHS, 2009), este conceito demonstra pontos básicos que devem considerar, de maneira harmônica, o crescimento econômico, uma maior percepção com impactos sociais decorrentes e o equilíbrio ecológico na utilização dos recursos naturais (MEYER, 2000). Vizeu, Meneghetti e Seifert (2012, p. 580) propõem a uma reflexão ao conceito de desenvolvimento sustentável: 42 Baseada na teoria tradicional, a proposta de desenvolvimento sustentável apresenta-se também como concepção aparente, que mascara as contradições da relação dialética destruição/sustentabilidade: a sustentabilidade torna-se cada vez mais importante na medida em que a destruição econômica e da natureza se intensificam. É por esse movimento dialético que não teve sentido a concepção de sustentabilidade em contextos históricos em que a destruição econômica e da natureza não se faziam presentes. Para Barbieri e Silva (2011), existe um entendimento de que o termo desenvolvimento sustentável vem sendo substituído por sustentabilidade. É necessário esclarecer que a sustentabilidade foca a responsabilidade das organizações e seus impactos ambientais, sociais e econômicos, com vistas em identificar práticas capazes de prejudicar, nessas dimensões, e propor melhorias para o bem-estar das comunidades e para a manutenção dos ecossistemas (AHMIĆ; ŠUNJE; KURTIĆ, 2016). O “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p. 46). 2.1.2 Indicadores de desenvolvimento sustentável Indicador é um termo originário do latim indicare, que significa descobrir, estimar, apontar, anunciar (HAMMOND et.al, 1995; MEIRA, 2009). A partir da ação de medirmos o que nos preocupa e de nos preocuparmos com o que podemos medir, geramos valores (MEADOWS, 1998), que são instrumentos dinâmicos importantes na construção e consolidação de juízos sobre condições de um sistema, seja ele passado, atual ou futuro possibilitando construir trajetórias possíveis (QUIROGA, 2001; ARAUJO, FERNANDES e RAUEN, 2015). No contexto da sustentabilidade, Quiroga (2001) divide indicadores em três gerações: indicadores ambientais a partir da década de 1980; indicadores das dimensões de desenvolvimento sustentável, mas sem a devida articulação, no final da década de 1980 e início de 1990; e a partir da década de 1990, indicadores de sustentabilidade, ou seja, indicadores cujas dimensões de desenvolvimento sustentável passam a ser articuladas. 43 Bellen (2006) elenca alguns dos indicadores ou sistemas de indicadores mais conhecidos e Rodrigues e Rippel (2015) pontuam suas vantagens e desvantagens: ⎯ Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (Human Development Index – HDI) (1990) – que sugere a medida do desenvolvimento humano focado em três elementos: longevidade, conhecimento e padrão de vida decente (um padrão que, atualmente, já vai além do produto interno bruto ou da renda per capita). ✓ Vantagens: Fácil aplicação e compreensão; Auxilia na tomada de decisão. ✓ Desvantagens: É um índice ponderado por valores que são determinados arbitrariamente. ⎯ Pressão, Estado, Resposta (Pressure, State, Response – PSR) (1993) - que assume implicitamente uma causa na interação dos diferentes elementos da metodologia, sendo Pressão (P) a descrição da pressão das atividades humanas exercidas sobre o meio ambiente, incluindo recursos naturais; Estado (S) sendo referente a qualidade e quantidade de recursos naturais e qualidade do ambiente; e Resposta (R) a extensão e intensidade das reações da sociedade em responder às preocupações e alterações ambientais; ✓ Vantagens: Fácil aplicação e compreensão; Auxilia na tomada de decisão; Fornece informações específicas sobre o estágio de desenvolvimento. ✓ Desvantagens: Fornece uma visão parcial do desenvolvimento sustentável. ⎯ Pegada Ecológica (Ecological Footprint Method – EFM) (1993). A ferramenta auxilia a compreensão dos limites da biosfera e a reorientação da vida para uma direção mais sustentável. Quando inseridos os dados referentes ao tipo de consumo, o EFM converte as características em uma área medida em hectares proporcional ao impacto do consumo. ✓ Vantagens: Auxilia na tomada de decisão e fortalece a visão de sistema integrado; Auxilia na formação de uma consciência ambiental. 44 ✓ Desvantagens: É um método estatístico e não aborda as demais dimensões do desenvolvimento sustentável(econômica e social). ⎯ Força Dirigida, Estado, Resposta (Driving Force, State, Response – DSR) (1996), possui a função de organizar informações sobre desenvolvimento e avaliações setoriais sendo desenvolvido a partir do sistema PSR alterando Pressão por Força dirigida (D); ✓ Vantagens: Fácil aplicação e compreensão; Auxilia na tomada de decisão; Fornece informações específicas sobre o estágio de desenvolvimento. ✓ Desvantagens: Fornece uma visão parcial do desenvolvimento sustentável. ⎯ Barômetro da Sustentabilidade (Barometer of Sustainability – BS) (1997) – é um projeto destinado às agências governamentais e não governamentais, tomadores de decisão e pessoas envolvidas com questões relativas ao desenvolvimento sustentável, em qualquer nível do sistema, do local ao global. O sistema apresenta conclusões em formato visual e fornece um retrato do bem-estar humano e tecnológico. ✓ Vantagens: Auxilia na tomada de decisão; Apresenta as informações de forma clara; Fácil aplicação e compreensão; A queda de um índice não afeta o crescimento do outro. ✓ Desvantagens: O processo de determinação das escalas de desempenho, estão sujeitas à subjetividade, o que influencia a avaliação final do desenvolvimento sustentável. ⎯ Painel da sustentabilidade (Dashboard of Sustainability – DS) (1999) projetado para informar os tomadores de decisão, a mídia e o público em geral sobre a situação de desenvolvimento de um determinado sistema, público ou privado, de pequena ou grande escala, nacional, regional, local ou setorial em relação à sua sustentabilidade. Foi criada uma representação gráfica como metáfora ao painel de um automóvel. Os indicadores vão acelerando no painel à medida que os dados são inseridos. 45 ✓ Vantagens: Fácil aplicação e compreensão. Rápida avaliação dos pontos positivos e negativos do desenvolvimento. Auxilia na tomada de decisão. ✓ Desvantagens: Complexidade em alcançar a interação e demonstrar as tendências para os sistemas, econômico, social, ambiental e institucional. A Iniciativa Relatório Global (Global Reporting Iniciative – GRI), criado em 1997, é uma ferramenta de comunicação do desempenho social, ambiental e econômico das organizações, com difusão global. A GRI é um processo de acreditação ao qual as empresas se submetem, tendo como objetivo ter sua sustentabilidade avaliada. A GRI se posiciona como padrão internacional para desenvolvimento de perspectivas sólidas para a publicação e divulgação do desempenho socioambiental das empresas através de relatórios cujo objetivo é certificar, após medições, as empresas com parâmetros que vão além da questão da transparência e da governança corporativa (BENITES; PÓLO, 2013; CALIXTO, 2013; CARREIRA; PALMA, 2013; Global Reporting Initiative [GRI], 2013). A adesão às diretrizes da GRI é voluntária, gratuita, de livre acesso e visa atender a necessidade de uma comunicação transparente e clara, todavia é complexo e trata de indicadores organizados em três categorias tratadas na quarta geração do modelo GRI: a econômica, a ambiental e a social que se subdivide em outras quatro subcategorias: práticas trabalhistas e trabalho decente, direitos humanos, sociedade e responsabilidade pelo produto (CARREIRA; PALMA, 2013; ROSA et.al, 2013; SANTOS; SANTOS; SEHNEM, 2016). Kemerich, Ritter e Borba (2014), ao analisar os indicadores de sustentabilidade ambiental observam em seu estudo seus pontos fortes e fracos e evidenciam que devem possibilitar uma visão de conjunto sendo construídos a partir dos problemas e da realidade existente para que se possa entender seus aspectos críticos e aproveitar seu verdadeiro potencial. 46 2.1.3 Sustentabilidade sob a ótica do Triple Bottom Line A visão mais ampla de sustentabilidade manifestou-se em uma perspectiva tridimensional. A teoria do Triple Bottom Line (TBL), no português Tripé da Sustentabilidade, foi desenvolvida na década de 90, conhecida pela sigla 3P: People (pessoas), Planet (planeta) e Profit (lucro) e surgiu de um estudo realizado por Elkington em 1994 (OLIVEIRA et.al, 2010). Corroborando com este pensamento, Pizzetti (2017) defende em seu estudo que o TBL veio para trazer equilíbrio para a sociedade ao englobar as dimensões ambiental (planet), social (people) e econômica (profit) com o foco em transformar os empreendimentos viáveis considerando as três esferas. Barreto (2018) salienta que estas dimensões devem agir de maneira holística para que, de fato, possam ser atribuídos o título de sustentável a seus resultados. Para Oliveira et.al (2010 p.73): O Triple Bottom Line surgiu do estudo realizado por Elkington (1994), no inglês, é conhecido por 3P (People, Planet e Profit); no português, seria PPL (Pessoas, Planeta e Lucro). Analisando-os separadamente, tem-se: Econômico, cujo propósito é a criação de empreendimentos viáveis, atraentes para os investidores; Ambiental, cujo objetivo é analisar a interação de processos com o meio ambiente sem lhe causar danos permanentes; e Social, que se preocupa com o estabelecimento de ações justas para trabalhadores, parceiros e sociedade. A figura 4 demonstra a sinergia entre as três dimensões do TBL conforme a concepção de Alledi Filho (2003). Para este autor, a interseção formada dois a dois entre si resulta em três aspectos possíveis: vivível, viável e justo. Seguindo esta lógica, o alcance da sustentabilidade acontece quando os três aspectos ocorrem juntos: 47 Figura 4 – Sustentabilidade e as suas dimensões. Fonte: Alledi Filho (2003). É necessário que as estratégias das organizações estejam completamente conectadas e alinhadas com os clientes e contemplem as dimensões econômica, social e ambiental conforme descrito na figura 4 anteriormente apresentada. Para Carvalho e Rabechini (2011) esse tripé vem responder ao processo de exaustão dos recursos naturais, em grande medida consequência de uma visão deturpada da dimensão econômica e da visão de curto prazo. De acordo com essa visão sucedida no passado, a hipótese que geria a ação é que as questões sociais e ambientais gerariam impacto negativo na dimensão econômica, algo que tem sido impugnado nestas últimas décadas, pelas claras evidências de que as três dimensões se integram e se reforçam, constituindo um ciclo virtuoso. A sustentabilidade sob o panorama corporativo aparece frequentemente abordando o TBL, cuja matriz é a busca da continuidade no mercado e no crescimento da organização a partir de sua viabilidade econômica, além da simultaneidade harmônica com o meio ambiente e sociedade (ELKINGTON, 2001; HART; MILSTEIN, 2004; BENITES; PÓLO, 2013). Para Barbieri et.al (2010, p. 50), as três dimensões da sustentabilidade são descritas pelas suas características dimensionais: a) Dimensão social: preocupação, tendo um olhar dentro e fora da organização, com os impactos sociais que as inovações podem causar nas comunidades humanas (exclusão social, aumento do 48 nível de desemprego, pobreza, diversidade organizacional, dentre outros.); b) Dimensão ambiental: preocupação com os impactos ambientais causados pela emissão de poluentes e pelo uso dos recursos naturais; c) Dimensão econômica: preocupação com a eficácia e eficiência econômica. É de suma importância pois sem elas, as organizações não perpetuariam, uma vez que essa dimensão significa geração de vantagens competitivas no mercado onde atuam e obtenção de lucro. Seguindo a ótica do TBL, Martins e Oliveira (2005 p. 122) definem as três dimensões da seguinte forma: (1) Sustentabilidade social: Dimensão a ser guiada pelo propósito de busca pela igualdade de distribuição de bens e de renda, com vistas a nivelar os padrões de vida dos indivíduos de classes diferentes e promover a equidade de acesso a serviços sociais e ao emprego pleno. (2) Sustentabilidade
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