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Pães Ázimos

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PÃES ÁZIMOS 
 
Valter Mariano Silva Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARTE I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília 
2020 
 
 
Pães Ázimos 
 
Vês?! Olha o campo, o trigo maturado 
Cujo dourar, do Céu, hoje te é posto 
Aos olhos para que, sonhando o gosto, 
Tu possas lhe colher para o suado 
 
Trabalho da moenda, e o teu rosto 
Há de alegrar-se no suor banhado! 
Tu molharás o trigo triturado 
E sovarás a massa, como a um mosto, 
 
E ao forno o levarás... E hás de perder 
A água que irrigara este teu pão, 
Mas, quando fores logo o recolher, 
 
Verás que tão maior tornou-se e, então, 
Tu cantarás a glória de morrer 
O trigo para, assim, nascer o pão! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lira das castanheiras 
 
Cantando à sombra das castanheiras, 
Como alguém que um dia sonhou 
A liberdade luzente nas asas férteis do amor, 
Vai serena a bela lira das pungentes derradeiras 
Sonatas que alguém cantou... 
 
E o nosso pobre velho em grosseiras 
Lacrimais gotas de amor 
Vai cantando docilmente à rosa que se lançou 
Pra lá da lira dos homens, das trovas do trovador, 
Pousando n'outras ramagens, como a vida sertaneira 
Que trilha os prados da dor, 
 
Para então florir nas eiras 
Mais formosas em candor... 
E o seu canto mansamente como uma brisa passou 
Pelas campinas da margem, pela montanha altaneira 
E à rosa bela chegou... 
 
E o que lhe disse, em saudade, entre as horas enervadas 
O murmúrio do cantor? 
Disse cantares macios que vibravam entoadas 
Cantilenas dedilhadas 
Sobre a ventura do amor 
 
 
 
 
 
Sobre as frias madrugadas 
De alguém num campo sem cor, 
Que espera um canto mais belo de sua flor, nas estadas 
Estações desconsoladas 
Que só se cura co'amor! 
 
E assim, nas notas fagueiras, 
Deleitosas de esplendor... 
A rosa, já comovida, entre lágrimas voltou, 
Voando como a saudade que à sombra das castanheiras 
Se morre em botão de flor! 
 
Valter Mariano Silva Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conquista 
 
Senti que meu amor ruflou-se em flora, 
Naquelas todas tardes, rios de alvura, 
Que mui sonhava de levar, na altura 
Do próprio sonho, um canto de penhora! 
 
E, por amor de uma infantil candura, 
Mandei-lhe um riso doce, de que cora 
O coração de uma gentil senhora 
Unido ao meu numa maior ternura... 
 
Então a dama respondeu-me, olhando 
O que lhe foi plantado por vontade: 
O meu sorriso tão desconcertado! 
 
E, entre rubores, eu cantei chorando 
O que a paixão fez-me, por amizade: 
Um vasto amor de um peito enternurado! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maternal conselho 
 
Toca-me o rosto, canta uma cantiga 
A minha mãe que me trajou no verso, 
Levanta a mão e vê meu peito imerso 
No sentimento de uma flor antiga... 
 
Diz-me que o amor é valsa a que se siga 
Em passos nobres de um desejo expresso: 
O compassar das formas do universo, 
A régia mão que afaga, a mão amiga... 
 
Assim, ouvi, de minha mãe, o intento 
De apresentar-me o véu da formosura 
De um coração que Deus pôs linha reta 
 
E neste encanto, eu vi meu pensamento 
Tornar, em verso, amante da candura 
Que faz sorrir meu coração de poeta... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Felicidade 
 
Eu conto estrelas como conto histórias: 
As mãos abertas, vivas, esplanando; 
A mente, em passos fúlgidos, olhando 
O lago aberto que abrigou vitórias. 
 
E aponto e digo o quanto o amor, brilhando, 
Fez renascer em bases tão notórias, 
Quer a beleza de triunfantes glórias, 
Quer a tristeza de um violão chorando... 
 
Levanto o olhar ao céu, cheio de amores 
E, como um bravo herói, canto alegrias 
De meu país, nos autos das memórias! 
 
E contemplando os grandes esplendores, 
Faço das nuvens casas de poesias, 
Pois conto estrelas como conto histórias... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Da aliança ao leme 
 
Avança o barco! Gira e lustra o leme 
E, no estalar das ondas, puxa a vela, 
Oh capitã graciosa e pura e bela, 
Por ti meu peito rema e luta e geme! 
 
Oh capitã que doma o que é procela, 
Doma este peito que, em paixão, mui teme 
Perder-te neste mar e chora e treme 
E vive a amar-te sem fazer protela! 
 
Oh, vem comigo, ao balançar das velas, 
Para nas ondas mansas do oceano 
Pousar o olhar... Para que aliançadas 
 
No sacramento, as nossas almas belas 
Se tornem uma... Em matrimônio humano 
Como estas ondas todas ajuntadas! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Noite solitária 
 
Pálida mão à luz enternurada... 
Toca fremente as lágrimas do rosto 
E apruma o laço, em tácito desgosto, 
A dama triste e bela, abandonada... 
 
Levanta os olhos, vê, na madrugada, 
Um grão de amor e um verso sobreposto: 
Eis que contempla a vida a próprio gosto 
Enquanto vai na renascida estrada... 
 
Quando, no céu, a encanta a luz celeste 
Quer das estrelas todas, quer da lua, 
Ela celebra a alvura em sua veste... 
 
É viva dama e, embora triste, é sua 
Certeza de que, mesmo em terra agreste, 
Toda alegria é flor que vive nua... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informis hominem 
 
Existe, no país, uma corrente idéia: 
Que os homens são pedra, algodão, árvore, peixes, 
Lascas de ferro, são tudo e nada são... 
Ontem, no jornal, feito por garrafas, vi a notícia 
De um homem que era panela, pedaço de lençol. 
Outro dizia-se apontador... 
... Também não há mulheres: 
Há espelho, papéis, pedaços de cerâmica, 
Aparelhos nucleares, mas não há mulheres... 
A mulher da escola virou uma caixa, pedaço de feno, 
As damas são linhas de costura... 
O homem não quis ser... Não é... 
Mulheres também não são... 
.... Semana passada, assinou-se um decreto 
Urgente: os animais, não por serem importantes 
Na natureza criada, mas por fazerem literatura, 
Medicina, Engenharia, podem adestrar os pingos de papel, na forma de homem... 
Perdeu-se a liberdade: 
O homem desumanizou-se! 
A mulher desintegrou-se! 
Em nome de uma absoluta liberdade, 
Amputaram a própria consciência: nada mais é. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Disposições da Rosa 
 
Amar o mar e ser no meu jardim 
A rosa mais humana e tão mais bela 
E ver o sol pintar uma aquarela 
Sobre o amor - o amor que vive em mim! 
 
E viverei qual vive o meu Carmim: 
Imersa em beijos, procurando aquela 
Vontade de cantar a cor singela 
De nossas vivas pétalas, assim! 
 
O Amar é o mar de mor imensidão 
Que se conjuga em formas de saudades 
Quando do amado a dama distancia! 
 
E se essa dama é rosa de paixão, 
Sente ela mesma as dores das verdades 
Que dos espinhos brotam sem poesia... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tristeza líquida 
 
É um triste fluido de um sonhar perdido, 
Um pranto pobre, um sôfrego desejo... 
Que mais farás, Quixote? Com que arpejo 
Tu buscarás a guerra do vencido?! 
 
É fria a gota que, em qualquer ensejo, 
Percorre a estrada de um olhar sofrido... 
Pobre Romeu, teu peito dolorido 
É como o fim de um tábido festejo! 
 
Eu ando e vejo nas literaturas 
Essa tristeza de um viver aflito, 
Esse chorar sem ter motivo algum! 
 
Pois bem! Meu riso vive nas alturas 
Pois Deus me deu amor, amor bendito 
Que faz o pranto o riso ser mais um! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Amor enternurado 
 
Enternurado amor, enternurado 
Banhando em rosas, em jasmins, em lírios... 
Por flor pintado em todos os delírios, 
E na maior ternura apaziguado! 
 
Repousa em águas, águas dos plantírios 
E empreende um laço no mistério alado! 
O triste sonho - amor enclausurado - 
No próprio peito, aos dias dos martírios! 
 
Corações belos, quanto o que é jocoso 
De suspirar vos vale a mão fremente? 
Pois que na vida o riso canta o gozo 
 
E geme e chora e canta a dor, somente... 
Somente um crivo para ser formoso 
Do que nos causa dor constantemente... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dúvida rosada 
 
Oh flor que chora lágrimas mimosas, 
Dize-me, agora,o que, no imenso espaço 
Do peito do homem, faz para ter traço 
De verdadeiras pétalas de rosas?! 
 
Se é dor altiva que completa o abraço, 
Se são as ânsias das ciências prosas 
Que configuram fases fabulosas 
Do que parece rosa presa ao laço?! 
 
Dize-me, oh flor, com que serenidade 
Há de ser rosa o que me é simplesmente 
Uma aparência de um lirismo arguto?! 
 
Pois se me vou num mar de intensidade, 
Sinto no peito amor florentemente 
Que já não sei se eu amo ou contra luto! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pater et Filio 
 
Ao Pai que tudo rege e tudo cria, 
Ao pai que ao filho educa nobremente 
Ao Pai que o Filho gera eternamente, 
Ao pai que o filho imita e mui confia... 
 
Ao Pai que aos filhos seus tudo perdoa; 
Mas que também exorta e lhes corrige, 
Ao pai que, assim também, muito perdoa 
E que qual Pai do Céu também exige... 
 
Ao Pai que o Filho entrega à humanidade 
Para na Cruz, pendido abrir os braços... 
Ao pai que o filho entrega à cristandade 
Para que ao Filho o filho siga em passos... 
 
Ao Pai que cria o pai e lhe confia 
Paternidade e vida e fé ardente... 
No Cristo que, na cruz remiu a gente, 
Tornando a nós filhos quando vertia 
 
Do lado aberto as águas do batismo... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Explicação do amor 
 
Amo-te assim: num verbo conjugado 
Em todo o meu viver, vivo e formoso, 
No coração que pulsa palpitoso!. 
Amo-te assim: sereno e perfumado! 
 
Amo-te assim: alegre e jubiloso 
Num vasto amor, sublime dom formado 
De dois a dois, juntando o que é logrado 
Do coração mais sacro e mais glorioso! 
 
Amo-te, ó dama amada, simplesmente... 
E nada há que de ti nunca me encante 
Pois tudo que tu me és rico é de amores! 
 
Pois tu me encantas, dama, e aonde fores, 
Encantarás meu peito, teu infante, 
Encantarás meu verso, eternamente... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Décima d'água da fonte 
 
Plantarei no teu jardim 
A fonte do amor mais doce 
A que eu queria que fosse 
As águas do amor sem fim... 
Das águas da fonte, o sim 
Que diz aquele que, amando, 
Conjuga o verso cantando 
Vai vigorar de esplendor 
Que as fontes santas do amor, 
Meu peito plantou rezando... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pequena lira da Estrela do poeta 
 
És tão ditosa e tão bela 
És tão contente e tão pura, 
Oh dama de meu amor, 
Que toda a rama singela 
Ganha o verdor da esperança, 
E torna a vida segura 
De amar e ter na lembrança 
A Estrela do meu penhor... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Escreve o poeta, estando no hospital e não podendo ir à missa do Sábado Santo 
 
Iluminado céu, nuvens douradas... 
Meu peito aberto, lacrimado clama 
Ver tanto o Amor do Cristo que derrama 
Na Santa Missa as bênçãos conjugadas! 
 
Penso na bela e rica liturgia, 
Nos salmos, nas leituras, no evangelho... 
O sacro Círio que renova o velho 
Coração meu que sonha a Eucaristia! 
 
Chorei, meu Deus, em lágrimas pesadas 
Pois esta febre que me pôs em cama 
Não me deixou louvar Aquele que ama... 
O Meu Jesus, nas hóstias consagradas! 
 
Vela por mim, meu Deus, és a alegria 
Que faz meu peito cintilar parelho 
Ao teu Cuidado eterno cujo selho 
É a Santa Cruz que verte a noite em dia! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cantiga do combatente 
 
Desde a alvorada dos olhos 
Até o poente, o combate 
Não cessa nunca o arremate 
A mui lançar-se de abrolhos! 
E, nisso, a luta é notória: 
Quanto mais, virtuosamente, 
Resiste o bom combatente, 
Mais se firma na vitória! 
Pois que inimigos são muitos 
A desejar sua queda 
E quanto mais não se arreda 
De sempre ter bons intuitos, 
Mais dura a guerra se fica! 
E se da fé muito vale 
Para enfrentar, em detalhe, 
Tudo que se modifica, 
Mais se lhe vem a ventura... 
Mas nunca, na terra, o sorriso 
Tem duramentos tão tantos 
Pois só no Céu não há prantos... 
Depois do embate preciso! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Soneto do Desabafo 
 
Chovem meus olhos águas tão tristonhas... 
Meu coração, confuso, envolto em brumas, 
Busca entender por que nestas espumas 
Tem naufragado... Como que te ponhas 
 
A navegar, sem não chegar às dunas... 
Das praias do teu peito... Oh, vê, suponhas... 
Que esteja em lágrimas banhando as fronhas 
Dos travesseiros pobres em que durmas... 
 
Assim estou, como que navegando, 
Num mar revolto, muito atribulado 
Que os olhos meus às águas tem regando... 
 
Amigo, o pranto que tu tens secado 
É vivo mui de amar e estar sangrando 
O coração que chora quebrantado! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cântico na orla da praia... 
 
Na orla da praia... Um barco vai passando: 
O navegante chora o amor dolente 
E o mar salgado escuta docemente 
O pescador à pesca celebrando... 
 
Na orla da praia... Uma Senhora rente 
Ao mar azul contempla o barco arfando 
Por sobre as ondas. D'ouro o sol que brilha 
Beijando as águas vai... Mas não se sente 
 
Beijado pelas águas... E o barqueiro 
Cantando a Amada, ao sol consola e, triste, 
Não vê consolo em não vê-La sem prol! 
 
Mas quando ergue a cabeça, canta alteiro, 
Pois ele e a Senhora vêem-se em diste 
De amor que, bem... Uniu bela a Água ao sol! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Primeiro Amor 
 
Primeiro Amor eu quero amar... Primeiro 
Para poder amar esta Verdade, 
Primeiro, amor, Amor Primeiro, a Idade 
De todo o Coração Sagrado Inteiro! 
 
Para sincero estar na realidade, 
Eu devo amar O que me amou primeiro, 
Pois que de mim não posso amar... E beiro 
A estar em pedra o coração... Cidade 
 
Do mais sublime Céu, de Deus morada... 
Habita, pois, quem ama e vê primeiro 
Que muito ingrato fôra a quem inteiro 
 
De Amor doou-se à tão fragilizada 
Humanidade... E tenho por amada 
Esta Verdade de um Amor Primeiro! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tempo Passado 
 
Como há passado... O tempo... E como passa 
Cada segundo acima dos meus olhos... 
Como um passar de fibrilantes fólios, 
Como o passar dos versos numa esparsa... 
Como há passado o tempo entre os meus dedos, 
Qual viva areia que se escorre em face 
De uma ampulheta, sem nenhum... empasse, 
De um gondoleiro que não tem mais medos, 
E canta e vê que os derramados óleos 
Sobre o velário de seu barco, em graça, 
Não tem na vida, pois, quaisquer segredos! 
 
Mas não me vejo por perdido, amigo, 
Eu vejo que ganhei um peito leve, 
Pois cada dor que tive é como a neve 
Que, alva na cor, conserva amor consigo! 
E quanto o mesmo tempo há conservado, 
Por cada desventura redimido: 
Ao Bom Jesus perdão eu hei pedido, 
E, por amor, Jesus há me perdoado! 
E nos Seus braços.... Durmo.... E quem se atreve 
Vim separar-me do meu Deus comigo, 
Pois todo eu sou para Ele consagrado! 
 
O mesmo tempo passa... E renovando 
As suas ilhas, casas da saudade, 
Vai me mostrando o rosto da Verdade 
Enquanto pelo mar, vai navegando... 
Traz pequeninas crianças, pequeninas, 
No seio azul de sua sinfonia, 
Um canto passeiforme que viria 
A ser um canto de aves campesinas! 
E eu vejo um germe, pois, da Eternidade 
Que, no azul celeste, está voando... 
Tornando belas todas as matinas! 
 
O tempo passa e, florescendo, um tanto 
Da primavera vem me visitar: 
As flores do jardim tocam no mar 
De amores que verteram do meu pranto! 
Quando, porém, eu fico indiferente, 
O mar é de tormentas e de espinhos 
E nada há que contente os passarinhos 
Que, por preguiça, não voam em frente! 
E, assim, levanto, para bem amar 
Porque o amor é ativo e bem mais santo 
Quando há regado a flor mais exigente! 
 
Depois de tudo... O tempo se evapora 
E a eternidade é que, envolvendo o mundo, 
Faz renascer um peito tão profundo, 
Que no sorriso canta o amor que flora... 
E tudo o que se flora está sorrindo 
Pois que o sorrir é vida florescendo 
Na imagem que se tem do amor, vertendo 
Em cantos de alegria, o amor... Sorrindo! 
Assim, pois,quanto o pranto era mais fundo, 
Hoje, mais tanto, o riso revigora 
A alma que a Cristo sempre está seguindo! 
 
Como há passado o tempo e há tocado 
No meu presente toda a sua beleza, 
Toda justiça e toda galhardia 
Do bom viver, tão terno e tão sagrado 
Que ,em frente à mesa, canta noite e dia! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Poema nas asas de uma andorinha 
 
Nas asas de uma andorinha, 
Este poema se vai, 
Por sobre o que vejo e... Ai... 
Não sei falar d'onde vinha 
Pois se a atenção me retinha, 
Não soube ver nem falar, 
Cantando à beira do mar, 
Ouço outro canto mais belo, 
De um verde-azul com que anelo 
A graça sublime de amar! 
 
Nas asas de uma andorinha, 
Este poema se vai, 
Sobre as nuvens... Quando cai 
É sobre alguém que continha 
No peito nobre, uma vinha: 
Muito amor para lhe dar 
Que nunca pôde esperar 
Tanto amor - grande castelo - 
Em que pode, tão singelo, 
Ser rei sem nunca reinar! 
 
Nas asas de uma andorinha, 
Este poema se vai... 
E vós, que ouvis, também, dai 
Muita pena a esta que tinha 
Saído, pois, de uma asinha, 
Pousado na minha mão 
Para, em tinta, ter então 
Escrito tão pobres versos, 
Sem o fulgor dos progressos, 
Nas asas que ao céu se vão... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
In the Sky 
 
The hope can flies above the our head. 
Sometime we are so sad, no look to life, 
And, as bird, the hope gives us a wife: 
This happiness, this love: the flower red! 
 
And our heart can looks to sky... And had 
A lot to learn, in past full of the strife. 
But today sings the Love and plays a fife 
Of the bright day so happy and blue, instead 
 
To cry , no hope, no color, no this love. 
Because is happy and happiness has wings 
As butterfly or like a flying bird suit 
 
Because the life is beautiful as dove 
What in the sky, serene, so soft sings 
The Live alive in peace of dream so sweet! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No céu 
 
A esperança sobre nós pode voar 
Por vezes, tristes, não vemos a vida... 
Qual pássaro nos dá a mulher querida: 
Felicidade, amor, flor rubra, a amar... 
 
E o nosso peito ao céu vê, a relembrar, 
O que aprendeu na conflituosa vida, 
Mas hoje canta o amor e toca em lida 
A flauta em dia belo e azul, não dar 
 
De ver o pranto triste sem amor 
Porque é feliz nas asas da alegria 
Qual borboleta ou pássaro tão doce 
 
Pois bela é a vida qual pomba a se pôr 
No céu, serena, a cantar, pois, tão pia 
E, ao vivo, eu vivo em paz de um sonho doce. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os sete sorrisos 
 
A primeira vez que lhe sorri 
Foi por pura caridade: 
Estava ela tão triste, 
Sentada à margem da rua, 
Numa calçada amarga, 
E eu vi que precisava 
Alegrar seus olhos tristes 
E dei meu primeiro sorriso, 
Talvez um pouco tímido, 
Talvez um pouco forçado, 
Mas lhe sorri... 
 
O segundo sorriso que lhe dei 
Foi numa noite de chuvas 
Ela estava nervosa, 
Talvez os falsos amores, 
Talvez as dores do tempo... 
Seu rosto, pois, tão cansado, 
Surrado pelo sofrer! 
Senti que algo importava, 
Que havia algo de flor, 
Sorri-lhe como quem olha 
A quem sofreu por amor... 
 
Numa terceira ventura, 
Num dia todo enevado, 
Vi seu rosto amendrotado, 
Vermelho em flor de nervura... 
Passei por ela e bem algo 
Tão diferente senti, 
Via-me em vez de fidalgo 
E a bela moça sorri! 
 
Na quarta vez, já tomado 
Por um doce sentimento, 
Quisera, pois, num momento 
A moça ter encontrado... 
E quando na rua lhe vi, 
Quase gritei de alegria, 
Não sei se era noite ou dia, 
Quando, amável, lhe sorri. 
 
Quinta vez, floral, de amores 
Cantando a santa bondade 
Do bom Deus na eternidade, 
Colhi no jardim as flores 
Mais belas que um dia achei 
E quando a dama cruzara 
Por mim, naquela seara, 
Sorriso e flores lhe dei! 
 
Por sexta vez, conhecida 
A paixão em mim vivente, 
De coração tão ardente, 
Amava a flor tão querida, 
E, em dia silencioso, 
A vi em tanto mistério... 
E um sorriso carinhoso 
Dei-lhe num dia tão sério! 
 
Num dia triste e tão atribulado, 
Perdido o emprego e tanto perseguido, 
Sentei num banco e, em dores, tão sentido 
Chorei em rios o que não hei chorado... 
 
E quando o céu, de nuvens, encoberto 
Me pareceu chorar o sofrimento, 
Senti dourar a luz no firmamento 
Senti, também, que um anjo estava perto! 
 
E, ao me virar, encantado 
A bela dama, pois, vi 
E, todo desconcertado, 
À linda moça sorri... 
E para morrer de surpresa 
Um sorriso tão fulgente 
Em seu rosto floresceu, 
E aproximando, em beleza, 
Como quem vive esplendente, 
Sorriso e beijo me deu! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este olhar 
 
Este olhar que me abrasa docemente, 
Este olhar que se punge, nos amores 
É como um caminhão de tantas flores 
Que assim despeja-as no jardim da gente. 
 
Este olhar que me encanta fortemente 
Como uma onda em túrbidos torpores, 
Como uma banda a ressoar tambores, 
Faz leve a vida quando olha clemente! 
 
Este olhar que, na aurora, contagia, 
De uma pureza e de uma identidade 
Tão simples, tem tão forte melodia... 
 
O olhar da dama é de forte saudade 
Tão causador que pode, assim, ser via 
De dor, de amor e de felicidade! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Simplicidade 
 
Tão simples e tão manso e tão divino, 
Sagrado Coração de meu Jesus, 
Oh santa e bela, Estrela que conduz 
Tão única a tão vívido destino! 
 
Tão simples e tão manso e tenro sino 
Tocando às madrugadas, e reluz 
No alvorecer do dia, a Santa Cruz 
Sempre constante a fé que ao vespertino 
 
Olhar de quem se vê simples, sem nada 
Dá tudo, por amor - A Providência - 
A cada qual que marcha pela estrada, 
 
E, assim, simples, serena, esta inocência 
De quem se põe em prece, e crê sagrada 
A simples e tão pura florescência! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Registros 
 
Certa vez, eu andava pela estrada 
E vi cartazes com poemas duros, 
Sem forma e vida, brados de inseguros 
Medos de contemplar tenra alvorada! 
 
Um brado contra a vida e alegada 
A luta contra a escravidão dos muros 
De todo um vão racismo de imaturos, 
Mas o que vi não foi luta acertada: 
 
Foi todo um brado contra os bons valores, 
Contra o labor e todas estas flores 
Que brilham nos jardins belos e ternos, 
 
Mas eu me fito nos Santos Amores, 
Nas chagas divinais, nas santas dores, 
Nas asas dos valores mais eternos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Alvorada 
 
Quando se doira num princípio amado 
O céu todo azulado e escurecido, 
Um raio surge ao longe! Eu hei vivido 
À espera de seu brilho, lacrimado! 
 
Do verde céu à flâmula do ouvido 
Cantar do galo, eu vejo fecundado 
O céu por este raio projetado 
Em seu interior, tremeluzido! 
 
Como há fulgido em matinal essência, 
O sol eu vi, eu vi, no alvo semblante 
Das nuvens, tenro ardor, oh quem diria! 
 
Em ouro vivo, como a florescência, 
Um louro abraço terno e, assim, infante... 
Do sol no Céu eu vi nascendo um dia... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Floreio 
 
Como num mar tomado por saudades, 
Como um tremor de gôndolas partidas, 
Caem chorando as pétalas feridas 
Em meio às mais pungentes tempestades... 
 
Como num campo aberto a despedidas, 
Como se fosse a dor das realidades 
Tão mais distantes de outras amizades: 
As que estas rosas cantam emergidas 
 
Talvez de um sonho antigo ou de uma prosa, 
Talvez do terno olhar que, amanhecido, 
Cantou a vida cheio de esperança, 
 
Oh que ventura além da própria rosa: 
Entre os floreios do chorar vertido 
E dos cantares - é esta paz tão mansa! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sonatas 
 
Oh lua das matinas perfumadas, 
Entre os cristais da chuva, refletindo 
O sôfrego cantar das mãos chagadas 
E o refulgente andar do olhar sorrindo, 
 
Oh floresmaternais que vão se abrindo, 
Cantai alegres em voltas sagradas, 
Firmai no olhar em pétalas rosadas 
Os cânticos de amor florais sentindo 
 
O que eu não sinto, assim, tão simplesmente, 
Mas que a virtude pode conceber 
No seio das sonatas e dos cantos 
 
Pois se, na vida, a lua florescente 
Também chorando pode compreender 
O mar, assim eu cantarei sem prantos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O todo o nada (En honor a la Hna. Clare) 
 
La hermana, en su sonrisa, como se decía, 
Tenía un brillo puro de un fraterno amor. 
En su cantar, la voz, sagrada melodía, 
¡Era Evangelio vivo, anuncio del Señor! 
 
Donándose a sí misma, incluso en el dolor, 
Era oblación alegre y, alegre, muy sonría... 
Tocando la guitarra, a todos alegró, 
Sin elegirse a sí en todo lo que hacía. 
 
Y el corazón que, un día, fama se buscó 
Quedóse conocido a quien feliz sirvió: 
Hermanas y hasta niños, santa, ha apacentado... 
 
Y a Quien siempre buscará, a Él se consagró: 
Besando Cristo en cruz, el Paraíso vio; 
Muriendo para Tierra, ¡en Cielo se ha encontrado! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Soneto do dia das mães 
 
Dulcente a flor que a aurora vai regando 
Co o orvalho da manhã manso e sereno, 
Gestando o fruto vai, de doce pleno 
Como se gesta amor que vai se amando... 
 
Tão terna a rosa do jardim que, ameno, 
O aroma espalha e flore, rebrilhando... 
É a Mãe que ao filho nina, contemplando 
O seu rostinho belo e tão pequeno! 
 
Pois toda mãe é flor que nasce e gesta, 
Que sofre de saudade e que suspira, 
E que, em seu ventre, a vida manifesta! 
 
Às mães dedico a flor que mui me inspira 
E que, quanto mais amo, mais me presta 
O verso, a pena, a voz, a prece e a lira! 
 
Valter Mariano Silva Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Soneto a favor da vida 
 
Nascer e ser alguém no amor formado, 
Cantar a vida em cantos esplendentes, 
Ter rosas no quintal manso e logrado 
De toda a floridão das flores quentes... 
 
É maravilha do mais alto sonho, 
Nascer na aurora de uma fé tão bela, 
Ser batizado, pois, numa capela 
E a Deus cantar no canto mais risonho! 
 
Mas um terror ao longe se aproxima, 
Funesto olhar que têm alguns no mundo: 
De, em loucos brados, abortar a vida 
 
Querem matar crianças e hoje, em cima, 
De um tribunal, um grito moribundo: 
Da madre pátria, ao chão, já decaída! 
 
Valter Mariano Silva Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Soneto de natal: o presépio! 
 
Oh Luz que brilha em vívidos olhares, 
Na enternecida lágrima luzente, 
Oh Deus que chora, oh meu Jesus clemente 
No colo de Maria Santa, em ares 
 
De uma família santa e tão presente, 
Dos pastorinhos simples já tomados 
Por tão tenro louvor, temor e agrados 
Ao Coração Divino, eternamente! 
 
Três reis que trazem tudo o que são seus 
E tudo, pois, que são e querem ser 
Ao Bom Jesus que vence a noite escura.. 
 
Sendo, em verdade, Homem, pois, e Deus 
Ele se doa todo, a conceder 
O Amor para morar no que O procura! 
 
Valter Mariano Silva Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Soneto da flor verdadeira 
 
Dentre tantas ideias e discursos, 
Nada há que seja assim tão consistente, 
Que não se esvaia quando sopra a gente, 
Que não se dobre por quaisquer concursos! 
 
Não vejo flor que tenha, em cor clemente, 
Doce perfume de alegrar os ursos 
E na corola, em cantos sem impulsos, 
Brilhe mais calma a flor tranquilamente... 
 
Não há discurso que, por mais que forte, 
Compreenda em si florais beleza e amor, 
Pois tudo que se fala é como a bruma 
 
Que quando se olha, pouco se tem numa 
Certeza de que a planta gesta a flor, 
Certeza de que a Vida vence a morte! 
 
Valter Mariano.S.Pereira 
 
 
 
 
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Soneto do Amor em forma de flor (Ao amigo A.B, quando começou o namoro com 
a garota identificada por ele como a flor de sua vida) 
 
Na flor que punge o sino da Esperança, 
O Amor repousa e, como em torre erguida, 
Faz verberar a pétala querida 
Como quem segue os passos de uma dança! 
 
Se é vivo o olhar que, em ramas, se apaixona 
E faz brotar no peito a cor do orvalho, 
Límpida é a gota em face do carvalho 
Que, pois, sustenta a gota, a qual é dona 
 
De um doce senhorio, em que se preza 
Ceder para ganhar as alegrias 
Com que se abriga toda a eternidade... 
 
E, pois, amando, é doce o que se reza: 
“Amor, amor, amor!” e as harmonias 
Do som da prece é flor de santidade! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Poema da flor da vida 
Dia 8 de outubro (dia do nascituro) 
 
Prólogo: 
 
Ergue a cabeça e vê nos altos mares 
Que a tua vida é um dom tão precioso 
Pois és querido e feito tão formoso 
Por Mãos Divinas em todos os cantares! 
 
 _A todos os que nasceram e vivem, a todos os que não nasceram mas vivem em Deus, 
aos que nasceram e já não vivem mais, aos que nasceram e não querem viver e aos que 
nasceram e vivem como se não vivessem dedico com todo o amor este terno poema_ 
 
Oh flor bendita, em germe venturoso 
De um tão sublime e esplêndido mistério 
Por tantos homens não levada a sério, 
Mas sempre viva em Cristo tão glorioso! 
 
Oh flor divina, de perfume amigo, 
Oh flor que choras lágrimas sofridas, 
Sei quanto dói profundas as feridas 
Que te fizeram e, hoje, tens contigo! 
 
Tu vens de Deus e em cores tão vividas 
Tu brilhas tanto que aos teus passos sigo, 
Como quem vê tão simples grão de trigo 
Formar-se pão de fôrmas tão queridas! 
 
Lembra-te, ó Deus, da flor cujo saltério 
É vívido em beleza e em formoso 
Olhar de quem se vive esperançoso 
De amar a Cruz, ó Deus, em vosso Império! 
 
Valter Mariano Silva Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Soneto do melhor amigo (Ao m 
eu estimado amigo e irmão M.B.) 
 
Amigo, és tu, na vida atribulada, 
Força e consolo, irmão de tantas horas, 
Que valerei, nas lágrimas que choras, 
Para pagar-te a força aventurada?! 
 
Pois tantas vezes, tu me rememoras 
A força da Trindade conjugada 
Em todas as virtudes, mais sagrada 
E tão mais bela, em todas as penhoras 
 
De que a amizade pode conceber! 
Oh caro amigo, irmão de tantos dias, 
Não pode o peito humano compreender 
 
Estas singelas contas de harmonias 
Múltiplos crivos próprios, a saber, 
De uma amizade fonte de poesias! 
 
 
 
 
 
 
Soneto da amizade 
 
Este talho que molda a nossa vida, 
Aparando as arestas mais agudas, 
Amparando-nos as mãos quando estão mudas 
Por esta una jornada tão querida 
 
Esta seta que rege as tão sisudas 
Praias do sentimento e das sofridas 
Manhãs das navegâncias mais vividas 
É a forma mais sublime das ajudas 
 
Que Deus nos dá para formar no peito 
Uma casa repleta de ternura, 
Um bom jardim de perfumadas flores, 
 
Pois este talho que vive ser tem ter leito, 
Esta Rama tão nobre da candura 
É o lírio a que chamamos “amizade”! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lira das castanheiras 
 
Cantando à sombra das castanheiras, 
Como alguém que um dia sonhou 
A liberdade luzente nas asas férteis do amor, 
Vai serena a bela lira das pungentes derradeiras 
Sonatas que alguém cantou... 
 
E o nosso pobre velho em grosseiras 
Lacrimais gotas de amor 
Vai cantando docilmente à rosa que se lançou 
Pra lá da lira dos homens, das trovas do trovador, 
Pousando n'outras ramagens, como a vida sertaneira 
Que trilha os prados da dor, 
 
Para então florir nas eiras 
Mais formosas em candor... 
E o seu canto mansamente como uma brisa passou 
Pelas campinas da margem, pela montanha altaneira 
E à rosa bela chegou... 
 
E o que lhe disse, em saudade, entre as horas enervadas 
O murmúrio do cantor? 
Disse cantares macios que vibravam entoadas 
Cantilenas dedilhadas 
Sobre a ventura do amor 
 
Sobre as frias madrugadas 
De alguém num campo sem cor, 
Que espera um canto mais belo de sua flor, nas estadas 
Estações desconsoladas 
Que só se cura co'amor! 
 
E assim, nasnotas fagueiras, 
Deleitosas de esplendor... 
A rosa, já comovida, entre lágrimas voltou, 
Voando como a saudade que à sombra das castanheiras 
Se morre em botão de flor! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Despertamento 
 
Como se o mundo sôfrego e tão raso 
Fosse algo bom entre as contadas flores 
Tu vais pensando e, não contando as dores 
Que tu tiveste, em vida, o teu ocaso 
 
Vai sendo o amor cujo perder das cores 
É amor que morre aos quais eu me comprazo! 
O que tu pensas, pois, é um vil descaso 
Co'a cruz de Cristo a que jamais tu fores 
 
Amar e crer, para além-mais viver! 
Ainda há tempo, há tempo de voltar 
O Coração à Pátria duradoura... 
 
Basta lutar na guerra aterradora 
Ao lado de Quem morre por amor 
E, assim, também, junto a Jesus morrer! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
II PARTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Matéria-Prima 
 
Sofrer conforme a vontade divina, 
No Calvário da vida, a dor vertendo 
Em púrpuras de amor, é viver sendo 
Amigo de Jesus que à fé ilumina! 
 
Vivendo em autos de batalhas duras, 
Chorando lágrimas tão sós, dolosas 
Vale tão belas orações formosas 
Do sofredor a Deus, iluminuras! 
 
Se a Cruz mui pesa, o mundo é de amarguras, 
O céu é doce, e leve as mãos gloriosas 
Da Mãe Santíssima que leva em rosas 
As preces dos seus filhos às Alturas. 
 
Pois, saibas, muito bem, vês, imagina 
Que Jesus fez o sofrimento sendo 
Matéria de salvar a alma que, crendo, 
Ofrece a Deus a dor que lhe é ferina! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Poema à Santa Teresinha do Menino Jesus 
 
Oh Minha Irmã, pequena flor celeste! 
És a benquista rosa de Jesus, 
Que no jardim mui perfumou a cruz! 
A flor que do alto céu, rosas nos deste! 
 
Eu canto alegre essa rosada veste 
De amor: as santas pétalas de rosa 
Que em via desta infância tão gloriosa 
Graças em tantos corações puseste! 
 
Oh santa carmelita, os Céus azuis, 
Sorrindo para ti, cantam formosa 
A eterna primavera! E quão vistosa 
É a prece que ao Bom Cristo se conduz! 
 
Da infância a via pequenina é a veste 
De quem por Cristo vive e, assim, produz 
No peito o que de amor flore e reluz: 
A tenra santidade que disseste! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Primado 
 
Oh Santo Padre, oh Pedro destes dias, 
Cujo primado alegre me conclama 
À obediência que brilhando em chama 
Verbera santa em belas sinfonias! 
 
Das chaves celestiais que, abrindo a flama 
Dos corações humanos, tens em rias, 
Sois portador, qual Pedro das porfias, 
Ó Santo Padre que a este Círio inflama! 
 
Se alegre de, por certo, conseguido 
Verter em fé o amor esperançoso, 
Eu canto, assim, sincero e mais glorioso 
 
O Amor que, desta forma, é mais formoso 
Do Coração de Cristo enternecido 
E de Deus Pai, na glória reluzido! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Poema da Paixão de Cristo 
 
Soldados tão nervosos com açoites 
A tilintar nas costas do Senhor... 
Oh! Chagas do Divino Salvador 
Que brilharão nas mais escuras noites 
 
As mãos cravadas por nossos pecados... 
O prego a perfurar-lhe as mãos sagradas, 
O sangue a se verter pelas estradas... 
E todos os flagelos abrasados! 
 
Ferido, no madeiro, tão sozinho, 
Nosso Senhor chorou por nossas almas, 
Sangrando e coroado, em tanto espinho... 
 
Para salvar-nos, à Justiça acalma 
Doando-nos a si, no pão, no vinho, 
Seu Corpo e Sangue... Ó transpassada palma! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mês de maio 
 
À tarde do querido mês de maio, 
O teu olhar, oh Mãe, vivo e glorioso 
Põe-me a pensar se, porventura, eu saio 
Bem aos teus olhos, ou tempestuoso... 
 
Mas tu me mostras, minha Mãe, que a vida 
Não se resume em querer ser somente 
Brilhante em tudo e, em tudo, simplesmente 
Em vejo o teu olhar, oh Mãe querida 
 
À tarde do querido mês de maio, 
Eu me devoto a ti tão ternamente 
Que toda vida ganha um novo brilho 
 
Pois, ó tão terna Mãe, teu pobre filho 
Muito por ti se entrega fielmente 
Ao sofrimento e, sendo assim, não caio! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Poema à Virgem Maria 
 
Ó Mãe! Meu coração está quebrado! 
Minh'alma clama o vosso olhar mais doce 
Por quem senão por ti eu sou cuidado 
Para a Jesus voltar - O amor que trouxe - ?! 
 
Ó Mãe! Tu nos sarais para o perdão 
Que Cristo nos concede e nos liberta. 
Ó Mãe! Tu és a guia tão bem certa 
Que guia-nos a Cristo, à Salvação! 
 
É Cristo a Salvação, remissão bela, 
Mas duro é o caminho pela pena 
De nossos vis pecados, a gangrena! 
 
Mas tu, Senhora, que por mim me vela 
Torna mais doce a cruz, forma singela 
De amor verter em gota mais serena! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Soneto à Imaculada Conceição 
 
Oh Santa Mãe, formosa e sem pecado! 
Deus vos formou na graça e quanto amor 
Verteu-vos por vos dar o Salvador: 
Filho Divino, pois, por vós cuidado! 
 
És Mãe de Deus, oh toda Pura Flor, 
E sendo Mãe és arca do Sagrado 
Verbo Divino, o Cristo muito amado 
De toda Santa Igreja em seu clamor! 
 
Aos nossos corações, Mãe de Pureza 
Mostrai-nos o Divino Redentor! 
Por tuas mãos puríssimas, Senhora, 
 
Consagro-me a Jesus nesta certeza 
De que, por ti, guiado ao Vivo Amor, 
Serei feliz na eternidade e agora! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Soneto do amor à Santíssima Virgem 
 
Eu quero amar-vos, oh Senhora, eu quero 
Pois sois a Mãe do Salvador Divino, 
Sois o Sacrário de Jesus Menino 
Sois a Senhora do mais puro esmero! 
 
Ah! Quanto eu sou de pó... Mui mais ferino 
Que as feras dos mais sujos bosques , zero 
Por cento de ternura eu tenho! Espero 
Que eu possa amar-vos qual badala o sino: 
 
Suave e terno a vos servir, Senhora, 
Pronto para vos dar a própria vida 
Pois de Deus tendes todo o amor e, agora... 
 
Desejo consagrar-me sem medida 
Pois vês que em mim não tenho nada e fora 
De mim, em ti, posso encontrar a Vida! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Desejo de Amor 
 
Amar de forma verdadeira e pura, 
Sem egoísmo e esta cobardia! 
Eu peço a graça desse amor, Maria, 
Para grafar no peito o que é ternura! 
 
Teu Coração da mancha preservado 
Ensina-me a viver, pois, a vontade 
De Deus tão Santo, em suma imensidade 
Para poder amar O que é Sagrado! 
 
Viva vontade eu quero ter e amar 
Tão simplesmente, por amor e fé, 
Por vivo amar, o Amor e simplesmente 
 
Estar com Deus em sua barca, em mar, 
Pois quero amá-Lo e este amor bem é 
O próprio Amor que amou divinamente 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A arca do Céu 
 
Ó Mãe Celeste, és a arca do Deus Trino: 
Do Pai és filha, do Filho és a Mãe 
E do Espírito Santo tu és a esposa... 
Sendo tão suave: a Mãe de todos nós! 
 
Cantaste o Céu, cantaste as esperanças, 
Pois és o templo da Trindade Santa, 
És esta flor divina da pureza 
Cuja Ventura é um canto de louvor! 
 
És tão serena, oh Mãe, pura e tão bela 
Dos esplendores toda agraciada, 
Pois és a Mãe de Deus e nossa Mãe! 
Eu agradeço a ti, Maria, e louvo 
 
A Deus por ter nos dado a sua Mãe! 
Não somos órfãos e eu exulto alegre 
Por bem poder falar a ti, Senhora, 
Todas as minhas dúvidas e dores! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sagrada Família 
 
Santa Família, esplêndida esperança 
De amor, de vida e fé, de salvação 
Cuja pureza vívida, então, 
Nos mostra a terna e boa aventurança! 
 
Oh Mãe de Deus, vós sois tão mui bendita, 
Entre todas as mulheres: venturada 
Pois de Jesus és mãe agraciada 
E de Deus Pai és filha em que se fita 
 
O Santo Espírito que gera a vida 
Nos corações humanos, em ti gera 
O Salvador da Nossa humanidade! 
 
Oh São José, que graça concedida: 
Ser guardião desta Família: impera 
Em ti o amor de Deus, suma bondade! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rosário 
 
Pois, oh, com que alegria, alegre sigo 
O santo e bom caminho que me apontas: 
O Cristo Vivo que nos mostra as contas 
Do teu rosário: Ave-Maria eu digo! 
 
Oh Santa Mãe, pastoratão divina 
Que a todos nós nos mostras o Teu Filho! 
Que nunca, oh Mãe, me perca do teu brilho, 
Mas viva o que Nosso Senhor ensina! 
 
Santa Maria, és chave que abre o cilho 
Dos nossos corações, nesta matina 
Para provar da graça tão divina, 
Para assentar-nos neste santo trilho! 
 
A todos inimigos, pois, afrontas 
Para guardar-nos neste Amor Antigo 
De Jesus Cristo que se faz amigo 
Dos corações que rezam estas contas! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Materna Luna 
 
Ó Lua das belezas elevadas, 
Dos sonhos, dos sorrisos e das flores, 
És Bela e o teu Amor socorre as dores 
Dos corações, das almas quebrantadas, 
 
Ó Lua de fulguras tão amadas 
Depois do Sol Divino, os teus fulgores 
São os mais santos, ricos de candores, 
Cuja doçura eleva as mãos cansadas... 
 
Ó Lua de materno olhar, tens puro 
O Coração que aponta ao Arrebol, 
Teu seio virginal é o dom mais puro: 
 
Refúgio que protege do crisol! 
Teu Coração, Maria, é o Céu seguro, 
Pois tu és a Lua que gerou o Sol! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Presépio 
 
Quando a Jesus Menino nos teus ternos braços 
Tomavas, com amor, e em prece tão divina, 
Vencias a Herodes de inveja ferina, 
Vencias ao que em mim se deu n'amargos passos! 
 
Quando, a Jesus, em Vosso Coração, teus laços 
De Amor se convergiam, Graça cristalina 
Vertia do presépio como a chuva fina 
Para depois lavar meus pobres pés descalços... 
 
E o teu Amor que ao Bom Jesus mui canta e serve 
Ao mesmo Verbo Eterno, Flor da Eternidade, 
Une sereno o vosso Coração que estava 
 
A interceder a Cristo: "Salva a humanidade!"... 
Quando há passado o tempo, em Cruz, Jesus vos dava 
A mim por Mãe e a Vós, por filho, oh, que ventura leve! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ressurreição 
 
Na pálida esperança - noite adentro - 
Quando não mais os olhos se ajuntavam, 
Aquelas ternas mãos me levantavam 
E do seu vivo Amor me punham dentro! 
 
Aqueles olhos ternos que me olhavam... 
E que tão belos viam o meu tormento 
Fizeram-me clamar ao firmamento 
Por ser-lhes pertencente... Oh, quão brilhavam! 
 
Aquela doce voz que aconselhava 
E que em sua pertença eu já me via... 
Aquele olhar que tanto me encantava... 
 
Aproximou-se e eu vi quem me sorria, 
A Flor que o coração me conquistava: 
Imaculada a Flor, Virgem Maria! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Consolo 
 
Se o pranto escorre de te amar, 
Se a vida é ganho em sangue e em dor, 
Se tudo flore nesta Estrada... 
Para onde irei se o próprio Mar 
Me aponta o Rio, Me aponta a Flor 
Como esperança desejada?! 
 
Se o peito punge e sofre cá, 
Se tu me queres aonde for, 
Eu vou, eu vou, Estrela amada! 
Se estou contigo, eu tenho um lar, 
Já não me importa mais a dor, 
Em ti minh'alma é consolada! 
 
Se tudo canta o meu pesar, 
Se a chuva rega o meu temor, 
Teus pés pisando a relva ornada 
Trazem-me alento de alegrar 
Aquela chama que minguou, 
Como uma rosa que é regada... 
 
A noite avança devagar 
E o peito geme no estupor... 
Quando tu vens, Doce Alvorada, 
Por ti, me ponho a suspirar... 
E tudo ganha nova cor: 
Um verde puro de Esmeralda! 
 
 
Soneto ao Cristo Redentor 
 
 
Toma esta nota, oh Redentor das Casas, 
Dos auriplanos versos, dos sonetos 
Que são, por hora, apenas dois quartetos 
Mas que, de amor, penderam suas asas! 
 
Eu sei que o verso dos meus pobres guetos 
Não são mais simples, belos, que te abrasas 
De ler ou de estimar, rimadas plazas, 
Mas vês que há fé na forma de tercetos! 
 
Oh meu Jesus! Vós sois o Redentor 
Que rege o mundo e que conjuga o verso 
Em todo coração piedoso e, tanto 
 
Tendes regido a vida com amor, 
Que fazes verberar num universo 
Um coração mais puro e bem mais santo! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como o jardín 
 
Como o jardim da bela e fresca serra 
Abriga a rosa e todos os amores, 
Sois vós, Maria, em todos fulgores 
Cuja pureza amansa a dura guerra 
 
Em que combato contra vis terrores... 
Pois sois a mim a Amada e a vossa Terra 
De amor é feita - amor assim não erra - 
Pois sois maior que estrelas e que flores... 
 
Vós sois, Maria, a mãe da Eterna Vida 
Vós sois a dama e a rosa mais querida, 
Vós sois amiga e o céu de eternidade... 
 
Por minha Amada eu vivo a santidade 
Por Ela morro - a Imaculada Estrela - 
De amá-la eu vivo e morro por querê-la! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Da esplêndida realeza de Maria 
 
Se nada nesta vida me parece 
Mais belo quanto o teu sorrir materno 
Nada será mais puro e nem mais terno 
Do que o sorriso que à minh'alma aquece! 
 
Se tudo que há no mundo é frio e inverno 
E se somente a rosa que floresce 
É flor que vive n'alma, então, em prece 
Eu mui te peço: o amor mais sempiterno! 
 
Se nada nesta vida é poesia 
Tão verdadeira e certa como a tua 
Celeste companhia que a alma espera 
 
Eu digo que nem mesmo a branca lua 
Com seu fulgor tão manso me seria 
Tão bela como a Dama que a supera! 
 
 
 
 
	Soneto da amizade
	Este talho que molda a nossa vida,
	Aparando as arestas mais agudas,
	Amparando-nos as mãos quando estão mudas
	Por esta una jornada tão querida
	Esta seta que rege as tão sisudas
	Praias do sentimento e das sofridas
	Manhãs das navegâncias mais vividas
	É a forma mais sublime das ajudas
	Que Deus nos dá para formar no peito
	Uma casa repleta de ternura,
	Um bom jardim de perfumadas flores,
	Pois este talho que vive ser tem ter leito,
	Esta Rama tão nobre da candura

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