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AUTOMOTIVA Direcionado a técnicos da reparação automotiva, este livro apresenta os procedimentos corretos estabelecidos pela enge- nharia automobilística para efetuar diagnósticos e reparações nos sistemas que agregam e dão suporte ao funcionamento do motor de combustão ciclo OTTO, com o intuito de promover alto desempenho, economia de combustível, alta durabilidade do motor e baixo índice de emissão de poluentes. D iag nó stico s e reg ulag ens d e m o to res d e co m b ustão interna Diagnósticos e regulagens de motores de combustão interna M E L S I M A R A N ISBN 978-85-65418-39-3 Diagnósticos e regulagens de motores de combustão interna Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Maran, Melsi Diagnósticos e regulagens de motores de combustão interna / Melsi Maran. – São Paulo : SENAI-SP Editora, 2019. 200 p. : il. Inclui referências ISBN 978-85-65418-39-3 1. Diagnóstico de motor 2. Eficiência térmica 3. Motor de combustão interna 4. Regulagem de motor I. Título. CDD 621.43 Índices para o catálogo sistemático: 1. Motor de combustão interna 621.43 2. Reparação automotiva 621.43 SENAI-SP Editora Avenida Paulista, 1313, 4o andar, 01311 923, São Paulo – SP F. 11 3146.7308 | editora@sesisenaisp.org.br | www.senaispeditora.com.br M E L S I M A R A N Diagnósticos e regulagens de motores de combustão interna AUTOMOTIVA Departamento Regional de São Paulo Presidente Paulo Skaf Diretor Superintendente Corporativo Igor Barenboim Diretor Regional Ricardo Figueiredo Terra Gerência de Assistência à Empresa e à Comunidade Celso Taborda Kopp Gerência de Inovação e de Tecnologia Osvaldo Lahoz Maia Gerência de Educação Clecios Vinícius Batista e Silva Comissão editorial Milton Gava Osvaldo Lahoz Maia João Ricardo Santa Rosa Vilson Polli Adelmo Belizário Ophir Figueiredo Júnior José Carlos Dalfré Escola Senai Conde José Vicente de Azevedo Fabio Rocha da Silveira (Diretor) Prefácio O ritmo de crescimento da frota de veículos nos últimos anos tem superado o da população em grande parte dos municípios brasileiros. Ao mesmo tempo que os veículos representam mais mobilidade e uma solução para a melhoria da qualidade de vida do cidadão, há também a preocupação com os efeitos de sua grande concentração, sobretudo nas metrópoles. Além das questões relacionadas à segurança no trânsito, tem sido crescente a preocupação com os efeitos ambientais decorrentes do uso intenso dos veículos automotores. Nesse sentido, o Código Na- cional de Trânsito, instituído pela Lei no 9.503/97, prevê a implanta- ção de Programas de Inspeção e Manutenção de Veículos. De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a idade média da frota nacional de veículos é de 9,4 anos. Fabricantes, sistemistas e entidades de classe do setor são unânimes sobre a importância da manutenção preventiva dos veículos como forma de garantir o bom desempenho, a segurança e o controle das emissões veiculares. Novas tecnologias estão sendo incorporadas aos sistemas veicula- res, incluindo o conjunto motopropulsor, que vem sendo aprimorado para proporcionar o melhor desempenho com o menor consumo de combustível e menor nível de emissões de poluentes. Para manter esses sistemas em plenas condições de funcionamento são requeri- dos profissionais cada vez mais capacitados e conscientes sobre as questões voltadas ao meio ambiente. O SENAI de São Paulo, além da formação tradicional do mecâ- nico automobilístico, implantou de forma inédita, em 1996, o Curso Técnico em Manutenção Automotiva, e em 2012, o Curso Superior de Tecnologia em Sistemas Automotivos, com o intuito de suprir essa demanda por profissionais qualificados. Com o objetivo de fornecer material de apoio didático aos estu- dantes e profissionais que atuam no setor de manutenção automotiva, a SENAI-SP Editora estimulou esta publicação, que reúne informa- ções sobre o princípio de funcionamento do motor, seus sistemas e desempenho, além de recomendações para execução do diagnóstico de falhas. Dessa forma, o autor espera contribuir com a comunidade de es- pecialistas para uma melhor compreensão do assunto, apresentando técnicas de diagnóstico que trazem benefícios à sociedade e ao meio ambiente. Fabio Rocha da Silveira Diretor da Escola Senai Conde José Vicente de Azevedo Sumário Introdução 9 Definições de torque e potência 10 Eficiência térmica 14 Componentes de entrada e de saída de uma combustão 15 Eficiência térmica 17 Características dos gases 17 Formação da mistura ar/combustível 22 Propriedades da gasolina 25 Propriedades do álcool combustível 32 Características construtivas dos motores de combustão interna 38 Tempo de admissão/enchimento dos cilindros 40 Velocidade do pistão/enchimento do motor 41 Coletor de admissão com geometria variável 43 Diagrama de válvulas 44 Importância da troca da correia da distribuição 49 Comando variável das válvulas 52 Funcionamento da regulagem do avanço 54 Funcionamento da regulagem do retardo 56 Funcionamento da regulagem da intermediária 57 Posição de retardo (básica) 58 Posição de avanço 60 Gerenciamento do motor 61 Turboalimentador acionado por gás de escapamento 61 Turbina de Geometria Variável (TGV) 66 Sistema de gerenciamento do motor – princípio de funcionamento e testes 68 Sensores 70 Eletroinjetores de combustíveis 87 Bomba de combustível 88 Transformador de ignição 89 Corretor da rotação de marcha lenta por motor de passo 96 Corretor da marcha lenta por pulso de largura modulada (PWM) 97 Interruptor da luz de freio e interruptor do pedal de freio 99 Interruptor do pedal da embreagem 100 Tempo de pressão de compressão do motor 102 Teste de vazamento de cilindros 110 Sistema de arrefecimento do motor 117 Sistema de lubrificação do motor 122 Funções básicas do óleo do motor 123 Contaminação do óleo lubrificante do motor 125 Classificação de lubrificantes 127 Observações importantes do diagnóstico 129 Sistema de carga e partida 130 Combustíveis e combustão 157 Catalisador com aquecimento fracionado homogêneo 171 Anexo 179 Sequência recomendada para diagnósticos de falhas do motor 179 Sobre o autor 198 Referências 199 INTRODUÇÃO O objetivo deste livro é apresentar aos técnicos de reparação au- tomotiva os procedimentos corretos estabelecidos pela engenharia automobilística para efetuar diagnósticos e reparações nos sistemas que agregam e dão suporte ao funcionamento do motor de com- bustão ciclo OTTO, seguindo uma ordem lógica e prática pautada em literaturas técnicas, equipamentos e ferramentas convencionais e específicas, a fim de promover alto desempenho, economia de com- bustível, alta durabilidade do motor e baixo índice de emissões de poluentes. Considerando que nos grandes centros urbanos, como a cidade de São Paulo, para efetuar o licenciamento dos veículos é necessário submetê-los uma inspeção veicular – que visa reduzir a emissão de gases tóxicos –, é indispensável que todos os sistemas estejam funcionando corretamente, dentro dos parâmetros especifi- cados pelos fabricantes. Para um diagnóstico bem-sucedido, é necessário ter domínio de causa, ou seja, conhecer o perfeito funcionamento do sistema que se pretende diagnosticar: as características construtivas do motor, o conteúdo de sua ficha técnica, os procedimentos e valores espe- cíficos de regulagens do motor e de todos os sistemas agregados e as curvas de torque e potência. É preciso conhecer também as pro- priedades dos combustíveis e dos fluidos utilizados. INTRODUÇÃO10 Os procedimentos de diagnósticos devem obedecer a seguinte ordem lógica: • levantar informações dos problemas apresentados pelo condutor; • constatar os problemas por meio de testes de funcionamento; • iniciar o diagnósticopelos sistemas que agregam o motor em ordem de prioridade: – sistema de alimentação (carburação ou injeção eletrônica); – sistema de ignição; – sincronismo mecânico do motor; – medição de pressão de compressão; – medição de vazamento de cilindros; – regulagens de válvulas, quando houver; – medição de pressão de óleo do motor; – testes no sistema de arrefecimento (estanqueidade, infrapressão e sobrepressão); – testes no sistema de carga e partida (bateria, alternador e motor de partida); – análise de gases emitidos pelo escapamento. Definições de torque e potência As curvas de torque e potência estão entre os dados mais impor- tantes de um motor. Potência é o trabalho realizado (força multiplica- da pela distância de deslocamento) dentro de um período de tempo. potência = trabalho/tempo Até 1985, a potência era especificada em cavalos-vapor (represen- tada pelo símbolo cv) ou horsepower (em inglês, representada pelo DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 11 símbolo HP) em função do método comparativo pelo qual se obtinha seus valores. Após esse período, a potência passou a ser especificada em quilowatt (kW). A seguir, podemos observar que a potência desenvolvida depen- de da rotação do motor. Po tê nc ia d e sa íd a (k W ) 0 Rotação do motor (rpm) Potência de saída do motor A potência de saída do motor é a quantidade de trabalho (torque) gerado em um determinado período. Embora kW seja a unidade internacio- nal, as unidades de HP e PS também são usadas. A potência de saída é o resultado da rotação do motor multiplicada pelo torque. Uma vez que o torque axial diminui por conta da redução da e�ciência de admissão que ocorre nas altas rotações, a potência de saída atinge picos em determinado nível. Esse pico é chamado de potência de saída máxima. RECOMENDAÇÃO Os valores abaixo descrevem a relação entre kW, HP e PS. 1 kW = 1,3596 PS (1 PS = 0,7355 kW) 1 kW = 1,3410 HP (1 HP = 0,74571 kW) Figura 1 – Curva de potência T = F x d Torque do motor O torque do motor representa a força que faz girar a árvore de manivelas. É representado por N . m, que é calculado conforme se segue: T = F x d T = Torque F = Força d = Distância RECOMENDAÇÃO N (newton) é uma unidade de força, e está relacionada a kgf conforme se segue: 1 N = 0,11355 kgf 1 kgf = 9,80665 N F d Figura 2 – Torque do motor INTRODUÇÃO12 O torque corresponde à força atuando em relação a um ponto de apoio. torque = força x distância do ponto de aplicação Quando se altera a intensidade da força ou a dimensão da alavan- ca, altera-se também o resultado de torque. Os fabricantes desenvolvem motores modernos para que tenham o mais alto torque possível, mesmo em rotações muito baixas, e que sejam capazes de manter esses valores numa ampla faixa de rota- ção. Isso faz que o motor tenha uma grande elasticidade, exigindo mínimas trocas de marcha, o que o torna mais econômico. A mais importante faixa de consumo específico de um motor é a de rotação, em que apresenta seu torque ideal. A unidade de potência atual, o quilowatt, corresponde à quantida- de de energia necessária para realizar o trabalho de um newton- me- tro em um segundo (1 kW = 1000 W). Um ser humano pode realizar por volta de 1/10 kW continuamente ou chegar a um pico, durante um curto período, cerca de vinte vezes mais alto. 1 kW = 1,36 HP 1 HP = 0,735 kW 1 kgf = 9,8 N DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 13 PMS 1a fase 2a fase 3a fase 4a fase 180o 360o 540o 720o Admissão Compressão Combustão Escape PMI Representação dos quatro tempos do ciclo OTTO, com 720 graus e um tempo produtivo Figura 4 – Curva de desempenho do motor Figura 3 – Tempos do Motor ciclo OTTO INTRODUÇÃO14 Eficiência térmica É a relação entre a energia térmica convertida em trabalho pelo motor dividida pela energia térmica total gerada nas câmaras de combustão. É interessante saber que apenas uma pequena parcela de energia térmica produzida pelo motor é convertida em trabalho. A maior parte da energia produzida pela combustão (energia po- tencial da combustão) é desviada ou perdida, pois, além das perdas do calor eliminado pelos sistemas de escapamento, arrefecimento e lubrificação, existem ainda, no caso de aplicação veicular, as per- das por atritos dos pneus, da embreagem, da transmissão etc. Nos veículos movidos a gasolina e a álcool, são convertidos em trabalho produtivo apenas 17% da energia térmica, e nos veículos movidos a diesel, 25% (aproximadamente). Os motores de combustão interna geram energia através da conversão de energia química contida no combustível em calor, e o calor produzido, em trabalho mecânico. A conversão de energia Figura 5 – Curvas de desempenho em condução REFERÊNCIA: Curva de desempenho da condução Esta curva transforma o desempenho do veículo equipado com motor, em forma grá�ca. Permite a interrupção destas três conexões: A rotação do motor e a velocidade do veículo A conexão entre a rotação do motor e a velocidade do veículo em cada posição de marcha. Potência de condução e velocidade do veículo A conexão entre potência de condução em cada posição de marcha e a velocidade do veículo enquanto o acelerador está totalmente aplicado. A resistência de condução e a velocidade do veículo A conexão entre velocidade do veículo em uma inclina- ção e a resistência de condução na inclinação varia entre 0 e 60%. Ré 60% 50% 40% 30% 20% 0% 10% Ré 1a 1a 3 a 2a 4 a 5a 2a 3a 4a 5a Po tê nc ia d e co nd uç ão e re si st ên ci a de c on du çã o: N (k gf ) 7850 (800) 5880 (600) 3920 (400) 1960 (200) 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 20 (12) 60 (37) 100 (62) 140 (67) 160 (99) Velocidade do veículo: km/h (mph) Ro ta çã o do m ot or (r pm ) 3 2 1 Grá�co de curvas de desempenho em condução 3 2 1 DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 15 química em calor é realizada através da combustão, enquanto a conversão subsequente está em processo, permitindo que o calor aumente a pressão dentro de um meio que realiza o trabalho à medida que se expande. Os líquidos asseguram o aumento na pressão de serviço por meio de uma transformação de fase (vaporização) ou gases, cuja pressão de serviço pode ser aumentada pela compressão. Os com- bustíveis, principalmente os hidrocarbonetos, precisam de oxigênio para sua queima, que é fornecido normalmente como um consti- tuinte do ar de admissão. Se a combustão ocorrer dentro do cilin- dro, o processo é chamado de combustão interna e o próprio gás de combustão é usado como meio de serviço. O serviço mecânico contínuo é possível apenas em um processo cíclico (motor com pistão). Os diversos processos para motores de combustão interna também podem ser definidos conforme sua formação de mistura ar/combustível e tipos de ignição. A formação da mistura ar/combustível pode ocorrer fora da câ- mara de combustão, que será homogênea quando a combustão for iniciada; quando o combustível é introduzido internamente na câ- mara de combustão, ela é heterogênea. Componentes de entrada e de saída de uma combustão De acordo com a equação química que explica a combustão, a queima de um combustível com o ar, na teoria, deveria ser perfeita, pois somente restariam nitrogênio, água e dióxido de carbono. Na prática, por causa da influência de efeitos químicos, físicos e elétricos dentro da câmara de combustão, essa queima total do combustível INTRODUÇÃO16 não acontece, e no resíduo da combustão aparecem os gases poluen- tes e nocivos para o ambiente, como veremos adiante. A figura a seguir dá uma ideia geral dos componentes iniciais e finais da combustão no motor. Figura 6 – Componentes iniciais e finais da combustão no motor EFICIÊNCIA TÉRMICA Características dos gases Nitrogênio (N) Gás inerte, incolor e inodoro. O nitrogênio compõe 78% do ar que respiramos. A maior parte do nitrogênio aspiradovolta a sair puro nos gases de escape, mas uma pequena proporção se combina com o oxigênio, formando o NOX (óxido de nitrogênio), gerado pelas altas tempera- turas e pressões do motor. EFICIÊNCIA TÉRMICA18 Oxigênio (O) Gás comburente, incolor e inodoro, o oxigênio compõe 21% do ar que respiramos. É o gás mais importante para o funcionamento do motor e também para os seres vivos. Água (H2O) A água está presente no ar (umidade) e no combustível (por exemplo, no álcool) consumidos pelo motor. É inofensiva nos gases de escape. DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 19 Dióxido de carbono (CO2) Gás incolor, resultado da combinação do carbono (C) do com- bustível com o oxigênio (O2) aspirado. Em grandes concentrações, o dióxido de carbono forma uma manta gasosa na atmosfera do plane- ta, impedindo a reflexão dos raios solares, o que resulta no conhecido efeito estufa. Não é tóxico em baixas concentrações. Monóxido de carbono (CO) Gás incolor, inodoro e altamente tóxico (asfixiante). O monóxido de carbono surge na combustão incompleta do com- bustível. Sua produção aumenta se houver falta de oxigênio na combus- tão ou falhas de ignição. Em uma concentração normal no ar, oxida-se EFICIÊNCIA TÉRMICA20 rapidamente, formando CO2. O monóxido de carbono inibe o trans- porte de oxigênio para o cérebro e, se aspirado em ambiente fechado, com o motor ligado, pode causar a morte em questão de minutos. Hidrocarbonetos (HC) São resíduos de combustível não queimados durante a combustão. Os hidrocarbonetos se manifestam em diferentes combinações (exemplos: C6H6, C8H18) e prejudicam o organismo de diversas for- mas. Alguns hidrocarbonetos afetam os órgãos sensoriais e outros são cancerígenos. Óxidos de nitrogênio (NOX) Combinação de nitrogênio com oxigênio (exemplos: NO, NO2, N2O), os óxidos de nitrogênio são produzidos em altas temperaturas, DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 21 alta pressão e excesso de oxigênio durante a combustão do motor, por isso devem ser medidos com o motor em condição de carga em dinamômetros. Alguns óxidos de nitrogênio são nocivos para a saúde, pois atacam o sistema respiratório. As medidas destinadas a reduzir o consumo de combustível ge- ram aumento das concentrações de óxidos de nitrogênio nos gases de escape, pois uma combustão mais eficaz produz temperaturas mais altas. Dióxido de enxofre (SO2) Gás incolor, com forte odor e não combustível. O dióxido de en- xofre afeta as vias respiratórias, no entanto, há uma parcela muito pequena dele nos gases de escape. Somente a redução do enxofre durante o refino do combustível pode reduzir a produção do SO2. Curiosamente, o enxofre é que provoca o escurecimento do óleo dos motores a gasolina. EFICIÊNCIA TÉRMICA22 Formação da mistura ar/combustível Existem diversas técnicas que visam reduzir o consumo de com- bustível e, por consequência, diminuir a emissão de poluentes. Po- demos citar, por exemplo, a aplicação de carrocerias mais aerodinâ- micas, fazendo que o veículo utilize menos potência para vencer a resistência do ar durante o seu deslocamento; o estudo minucioso para aliviar o peso da carroceria, utilizando chapas de maior espes- sura e resistência somente em lugares estratégicos ou em zonas es- truturais do veículo, a fim de garantir a segurança dos ocupantes; o cálculo bem dimensionado das relações de marcha das transmissões; a aplicação dos conversores catalíticos para a transformação da maior parte dos gases nocivos em gases inofensivos. Contudo, a principal contribuição para o controle da combustão e a redução da emissão de gases nocivos na atmosfera é o gerencia- mento do motor. Por meio de medições realizadas por sensores, a Unidade de Co- mando do Motor (UCM) determina as necessidades de combustível a todo instante e aciona os atuadores para que o motor trabalhe a maior parte do tempo respeitando a relação estequiométrica. Relação estequiométrica É a relação ideal entre a massa de ar admitido e o combustível injetado para a queima mais completa possível. A/F = air/fuel (ar/combustível) DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 23 Informa a proporção, em massa, da mistura ar/combustível utili- zada no funcionamento do motor. No caso de motores movidos a gasolina brasileira, o A/F ideal é 13,2/1, ou seja, precisa-se de 13,2 partes de ar para queimar uma parte de gasolina. No caso do álcool, é de 9/1. Os valores teóricos para o A/F de um motor a gasolina (pura) é de 15/1, mas como no Brasil a gasolina recebe de 20% a 26% de álcool anidro, o A/F muda para 13,2/1. Se o motor trabalhar o máximo do tempo com essa proporção respeitada, os resíduos de gases poluentes serão os menores possíveis. Relação estequiométrica da gasolina: A/F = 13,2/1 = 13,2 kg de ar para queimar 1 kg de gasolina Relação estequiométrica do álcool: A/F = 9/1 = 9 kg de ar para queimar 1 kg de álcool Relação lambda (λ) Para que a UCM possa ajustar a proporção correta de combustí- vel nas distintas condições de carga, é necessário obter informações exatas sobre a quantidade de massa de ar aspirada pelo motor. Quando a mistura ar/combustível é estequiométrica, dizemos que ela tem valor lambda 1, ou seja, a massa de combustível forne- cida ao motor é a ideal. Somente quando a proporção da mistura aproxima-se da estequiométrica é possível eliminar quase por com- pleto, com auxílio do catalisador, as substâncias nocivas contidas nos gases de escape. EFICIÊNCIA TÉRMICA24 Se o valor lambda é maior que 1, existe falta de combustível na combustão, ou seja, dizemos que a mistura está pobre, o que aumenta consideravelmente a emissão de NOX. Se o valor lambda é menor que 1, existe excesso de combustível na combustão, ou seja, dizemos que a mistura está rica, o que aumenta a emissão de gases como o CO e o HC. A UCM leva o motor a trabalhar dentro da faixa de lambda 1, principalmente a fim de otimizar as conversões feitas pelo catalisa- dor. A redução do NOX no catalisador é favorecida quanto menos oxigênio houver nos gases de escape, e a oxidação do HC e do CO é mais eficiente quando existe mais oxigênio nos gases de escape. Massa de combustível ideal Massa de combustível admitida pelo motor λ= Figura 1 – Emissões de escape versus relação lambda DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 25 Propriedades da gasolina A gasolina é uma mistura complexa formada por vários tipos de hidrocarboneto (de C5H12 a C12H26), e o octano (C8H18) é o seu princi- pal componente. É obtida por processos de destilação, craqueamen- to, reformação e polimerização que se desenvolvem nas refinarias. Entre as propriedades da gasolina, podemos destacar a volatilidade, que permite a vaporização e a mistura com o ar, possibilitando a combustão. A facilidade de partida e o consumo satisfatório são di- retamente influenciados por essa propriedade. Se a vaporização for lenta, a partida torna-se difícil; se for muito rápida, poderá ocorrer vaporização nas tubulações e nos dutos do sistema, comprometendo seu funcionamento. Esse efeito é denominado vapor lock. Na segunda metade do século XX, por falta de testes científicos e exatos, a volatilidade da gasolina era testada por um método conheci- do como Ensaio do Segundo Andar: consistia em derramar gasolina de uma janela do segundo andar e, se uma quantidade dessa gasolina atingisse o solo na forma líquida, o combustível era considerado in- suficientemente volátil. Veremos a seguir as principais propriedades especificadas para a gasolina. Pressão de vapor De maneira geral, a pressão de vapor de um líquido volátil é a pressão exercida pelos vapores desse líquido num espaço confinado. No caso da gasolina, as condições de ensaio devem ser cuidadosa- mente estabelecidas, uma vez que a pressão de vapor varia com a temperatura, a quantidade de ar dissolvida e a relação de vapor para o líquido existente dentro do recipiente. EFICIÊNCIA TÉRMICA26 A pressão devapor da gasolina, quando medida a 37,8 ºC (100 ºF), em uma bomba com uma relação de ar para líquido de 4/1, é conhe- cida como Pressão de Vapor Reid (PVR) e é expressa em kPa (abs). A PVR, intimamente relacionada com as características de volati- lidade do produto, é importante nas perdas por evaporação durante o armazenamento, o transporte e o manuseio. Pressões de vapor ele- vadas e temperaturas baixas no ponto de 10% da curva de destilação resultam em facilidade de partida do motor; entretanto também au- mentam a tendência de tamponamento pelo vapor de combustível durante a operação do motor por causa do aumento da vaporização no sistema de alimentação. Embora a pressão de vapor seja um dos fatores que influem na quantidade de vapor formado sob as condições que levam ao tampo- namento, não é o melhor índice dessa tendência. Atualmente, consi- dera-se a temperatura mais representvativa para dar uma relação de vapor/líquido (V/L) igual a 20. Quanto mais baixa a temperatura com V/L = 20, maior a tendência de causar o tamponamento por vapor. Gomas e seu período de indução A gasolina pode conter compostos instáveis que, pela polimeri- zação, poderão formar depósitos de gomas ou lacas tanto durante o armazenamento como no motor. Altas temperaturas favorecem a polimerização e a formação de depósitos. A goma é uma substância resinosa que, no início, permanece so- lúvel na gasolina e, em seguida, precipita-se, aumentando as condi- ções de desgaste e obstruindo a passagem da gasolina nas tubulações e nos furos calibrados dos componentes do sistema de injeção. DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 27 A formação de goma é reduzida com a incorporação de aditivos inibidores. O período de indução especifica o tempo que a gasolina pode passar sem que a concentração de goma ou outras substâncias indesejáveis tenham influência nociva considerável. O período de indução é determinado por meio de ensaios de oxidação. Poder antidetonante Outra importante propriedade da gasolina é seu poder antideto- nante. O comportamento da gasolina depende diretamente das carac- terísticas construtivas do motor em que é aplicada, principalmente da relação de compressão. Nos motores ciclo OTTO, a mistura ar/com- bustível deve sofrer determinada compressão sem que ocorra a com- bustão espontânea. As propriedades antidetonantes são indicadas pelo índice de octano, obtido da comparação com misturas-padrão de iso-octano puro (índice 100) e heptano normal puro (índice 0). Considerando que o hidrocarboneto iso-octano tem excelente poder antidetonante e o heptano normal possui características antidetonan- tes, se uma gasolina apresenta as mesmas características de detona- ção de uma mistura de 70% de iso-octano e 30% de heptano normal, é classificada com índice 70. Até a década de 1970, no Brasil, para aumentar o índice de octano da gasolina, adicionava-se chumbo tetraetila (Pb(C2H5)4), substância altamente venenosa e causadora de intoxicação por inalação e conta- to com a pele. A partir de 1980 a adição de álcool à gasolina permitiu, além do aumento do índice de octano, a economia de petróleo. Nesse mesmo ano, o CNP9 normalizou a adição de álcool etílico à gasolina, aumentando a relação de compressão e eficiência dos motores, o que EFICIÊNCIA TÉRMICA28 possiblitou, na época, aumentar o índice de octano de 73 para 80 (mínimo) com teor de álcool de 22% na gasolina. Poder antidetonante e parâmetros que influem no requisito octanagem Detonação é uma reação química instantânea de uma porção final de combustível com o oxigênio do ar. No momento em que salta a faísca da vela, começa uma frente de chama que percorre a câmara de combustão. Com isso, a pressão aumenta e a temperatu- ra sobe. Pode ocorrer de o combustível que ainda não foi atingido pela frente de chama não resistir à temperatura gerada e entrar em “combustão espontânea”. O resultado é um aumento extremamen- te brusco de pressão, que provoca um barulho semelhante a uma “batida de pino”. O requisito de qualidade antidetonante pode ser entendido como a resistência do combustível que sofre uma detonação prematura por causa da compressão, em condições de operação definidas, e é influenciada pela taxa de compressão – quanto maior a taxa de compressão, maiores serão a temperatura e a pressão no interior do motor, o que exige maior resistência à detonação do combustível – e pelo avanço de ignição – quanto maior o avanço de ignição, maiores serão a temperatura e a pressão no interior da câmara, necessitando de maior número de octano. O número de octano, denominado oc- tanagem, é o indicativo do poder antidetonante da gasolina, aferido por um ensaio de laboratório efetuado experimentalmente em um motor com taxa de compressão variável. DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 29 Número de octano A octanagem é expressa por meio de um número, denominado número de octano, que corresponde à porcentagem volumétrica de um composto químico chamado iso-octano (C8H18) em uma mistura com n-heptano (C7H16), que apresenta a mesma qualidade antideto- nante da amostra. Ela é aferida pela comparação da intensidade de detonação do combustível com a produzida pela queima de misturas dos padrões citados em motores e condições padronizados. O com- posto químico iso-octano é considerado padrão de boa qualidade, ao qual é conferido o valor de octanagem igual a 100, enquanto o composto químico n-heptano é considerado padrão de má qualida- de, ao qual é conferido o valor de octanagem igual a 0. Escala de octanagem 0% iso-octano 50% iso-octano 100% iso-octano 100% n-heptano 50% n-heptano 0% n-heptano n-heptano H3C – CH2 – CH2 – CH2 – CH2 – CH2 – CH3 iso-octano H3C – C – CH2 – CH – CH3 CH3 CH3 CH3 Na verdade, a mistura de hidrocarbonetos que compõem a ga- solina não precisa ter obrigatoriamente nem o heptano, nem o iso- -octano. Uma gasolina com número de octano igual a 80 é aquela que resiste à compressão, sem detonação, equivalente a uma mistura de 80% de iso-octano e 20% de n-heptano. Essa gasolina oferece uma resistência à compressão 20% menor que uma gasolina formada so- mente por iso-octano. Assim, quando se diz que uma gasolina usada EFICIÊNCIA TÉRMICA30 em aviação apresenta número de octano igual a 120, isso não signi- fica que ela seja constituída de 120% de iso-octano (seria um absur- do), mas de uma mistura que oferece uma resistência à compressão 20% maior que a gasolina formada somente por iso-octano. Entre os métodos existentes para a determinação do número de octano, destacam-se o método motor (MON) e o método pesquisa (RON), realizados segundo condições operacionais diferentes. Tabela 2.1. Número de octano COMUM PREMIUM MON RON IAD MON RON IAD Brasil 80 – 87 – – 91 EUA 82 – 87 – – 91 Europa 80 91 – 85 95 – Japão – 89 – – 96 – Argentina – 83 – – 93 – MON (Motor Octane Number) é medido em um motor-padrão de taxa de compressão variável denominado CFR (Cooperative Fuel Research). Esse motor possui um sistema para medir detonações (Knockmeter) e um carburador com três cubas selecionáveis. As condições do ensaio são: mistura aquecida a 150 oC antes de entrar na câmara de combustão, rotação de 900 rpm e avanço de faísca variável de ângulo de 19 a 26 graus APMS10 (conforme a taxa). O combustível a ser ensaiado é comparado com padrões de forma para determinar o valor da octanagem. O MON representa situações de carga com altas rotações. DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 31 RON (Research Octane Number) é medido em motor-padrão de taxa de compressão variável (ASTM-CFR). Esse motor possui um sistema para medir detonações (Knockmeter) e um carburador com três cubas selecionáveis. As condições do ensaio são: mistura não aquecida antes de entrar na câmara de combustão, rotação de 600 rpm e avanço da faísca fixo em ângulo de 13 graus APMS. O combustível a ser ensaiado é comparado com padrões de forma para determinar o valor de octanagem.O RON representa situações de carga com baixas rotações. A detonação ainda pode ocorrer quando a taxa de compressão do motor for muito alta para o tipo de gasolina empregada. A taxa de compressão de um motor é a relação entre o volume da mistura ar/combustível contida no cilindro, quando o pistão está no ponto morto inferior, e o volume, quando está no ponto superior. Se no ponto morto inferior o volume for de 500 cm3 e, no ponto superior, for 60 cm3, a taxa de compressão será 500/60 = 8,33:1. Quando a combustão é normal, a mistura ar/combustível queima uniformemente no momento em que a centelha da vela salta. Entre- tanto, se a taxa de compressão for demasiadamente elevada para o tipo de gasolina em uso, uma parte da mistura queima uniforme- mente e o restante detona. Além do ruído, a detonação resulta em sobreaquecimento, perda de potência e, se prolongada, pode dani- ficar o motor. A gasolina atual é mais resistente à detonação graças a novos mé- todos de refinação e modificação dos projetos dos motores. Há ainda a gasolina premium, de maior octanagem, usada em motores com taxa de compressão mais elevada (nacionais ou impor- tados) que tendem a ter um desempenho melhor quando utilizam essa gasolina. Porém, esse combustível pode fazer pouca ou nenhuma EFICIÊNCIA TÉRMICA32 diferença para os demais veículos, projetados para rodar com ga- solina comum. Indicada para veículos avançados tecnologicamente (motores com alta taxa de compressão, ignição mapeada, injeção eletrônica e sensor de detonação), a gasolina premium diferencia- -se da comum pelo preço (cerca de 18% superior) e pelo número de octano: enquanto a gasolina comum tem índice antidetonante 87, a gasolina premium tem índice antidetonante 91. As gasolinas aditivadas contêm aditivo detergente/dispersante. São altamente recomendáveis, pois têm a função de limpar e manter limpo o sistema de alimentação. É importante ter em mente que, se forem utilizadas em um sistema muito velho e sujo, toda a sujeira do tanque e da tubulação será desprendida, podendo saturar filtros num primeiro momento. Propriedades do álcool combustível Nos motores ciclo OTTO podem ser utilizados tanto o álcool ani- dro como o álcool hidratado. O álcool anidro é obtido da passagem do álcool já concentrado por destilação, com cerca de 90% em peso, numa terceira coluna com benzeno ou hexano que, por extração, per- mite chegar a 99,3% em peso. No caso do álcool hidratado, a terceira coluna não é utilizada, obtendo-se um álcool com 92% em peso. O álcool anidro é misturado à gasolina, pois são miscíveis em quaisquer proporções, o que já não ocorre com o álcool hidratado, porque o teor de água existente em sua composição dificulta a mistura com a gasolina. O álcool anidro possui índice de octano superior ao da gasolina, ou seja, quando misturado com esse derivado, aumenta a DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 33 octanagem e elimina ou reduz a necessidade de adição do chumbo tetraetila (CTE). Outra vantagem do uso do álcool é a economia de energia obtida nas operações de refino, na medida em que a produção de gasolina de baixo índice de octano exige menor processamento, pois as etapas de craqueamento e/ou reforma, geralmente realizadas para aumen- tar a octanagem, são dispensáveis para essa finalidade. Após vários estudos e testes concluiu-se que, na proporção entre 20% e 25% em volume de álcool, os motores operam satisfatoriamente. Os tipos de álcool oferecidos no mercado para uso automotivo recebem o nome de álcool carburante. São compostos oxigenados adicionados à gasolina (quando o objetivo for o aumento de octana- gem) ou para uso puro em motores projetados para utilização desse combustível. O metanol é um álcool oriundo da mesma família do etanol. Seu uso como carburante remonta ao início do século, pelas mãos do pio- neiro Henry Ford. Nos primórdios do desenvolvimento da tecnologia dos motores a combustão interna, em 1916, Ford já declarava que “o álcool é mais limpo e melhor combustível para automóveis que a gasolina, e acredito que será o combustível do futuro para os motores de combustão interna”. Os alemães o utilizaram em larga escala na Segunda Guerra Mundial. Esse combustível pode ser extraído da nafta, do xisto, do gás, da madeira ou do carvão vegetal. Os meios mais simples e usuais são a gaseificação do carvão vegetal e da madeira ou a pirólise desses ele- mentos. Na Europa utiliza-se um processo de reação catalítica de mo- nóxido de carbono e hidrogênio muito caro e altamente sofisticado. São necessárias duas toneladas de madeira para a produção de 200 litros de álcool ou metanol. O Brasil, com grandes áreas cultiváveis, EFICIÊNCIA TÉRMICA34 produz álcool com um custo infinitamente inferior utilizando cana- -de-açúcar, mandioca, babaçu, batata, eucalipto, beterraba etc. O metanol é extremamente tóxico: penetra no corpo humano pela pele e pelas vias respiratórias e digestivas, podendo levar à cegueira total ou parcial e até mesmo à morte. A principal vantagem de sua utilização é o poder de resistência à detonação: possui um elevado índice de octanagem (que se situa na faixa de 90 a 120, avaliado pelo sistema MON). Esse valor é meramente comparativo à gasolina, uma vez que o álcool não possui octano. Essa resistência à detonação viabiliza a utilização do metanol em motores com alta taxa de compressão, na ordem de 10:1 a 17:1, pro- porcionando ótimo desempenho, pois aproveita em torno de 40% da energia fornecida. Em termos mecânicos, as contraindicações são: baixo poder calorífico, menor que o do etanol (causa maiores difi- culdades para as situações de partida a frio), baixa miscibilidade à gasolina (quando é utilizado para aumentar seu índice de octano) e facilidade de pré-ignição. A utilização do álcool como combustível implica aumento de con- sumo por causa do menor poder calorífico, quando comparado ao da gasolina. Ou seja, é necessária maior quantidade de combustível para realização do mesmo trabalho. O etanol, ou álcool etílico hidratado carburante (AEHC), é pro- duzido no Brasil por meio da fermentação de açúcares (amido e ce- lulose) e é o combustível que adquirimos nas bombas dos postos de combustíveis. Sua composição de álcool e água é padronizada, pois alterações na densidade acarretarão mau funcionamento e possíveis danos internos ao motor. O álcool hidratado, por motivos de economia produtiva e por sua eficiência, é utilizado exclusivamente como combustível. É adi- DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 35 cionada pequena quantidade de gasolina para inibir o uso domés- tico ou a fabricação de bebidas, por exemplo. O álcool etílico hidratado possui 96% de pureza e 4% de água (96° GL). O álcool anidro (sem água) é miscível com a gasolina em qualquer proporção e tem, como resultado, um combustível com ótimas características antidetonantes. Para cada 5% de álcool, há um aumento de octanagem em aproximadamente dois pontos percen- tuais, sem os inconvenientes da adição de chumbo tetraetila (CTE), extremamente poluente e que destrói os elementos dos catalisadores. O álcool anidro possui características de pureza na ordem de 99,95%, com 0,05% de água na escala GL (Gay-Lussac), ou seja, é considerado isento de água. Para obter álcool puro ou anidro, deve-se retirar a quantidade excedente de água; um dos processos utilizados consiste em adicionar cal viva à mistura. A cal viva, ou cal virgem (óxido de cálcio), tem a propriedade de reagir com a água, formando hidróxido de cálcio, segundo esta equação: CaO + H2O = Ca (OH)2 óxido de cálcio + água = hidróxido de cálcio Como o hidróxido de cálcio não é solúvel em álcool etílico, ocorre a formação de uma mistura heterogênea. Por meio de filtração, sepa- ra-se o hidróxido de cálcio. Cada litro de álcool obtido na destilação produz cerca de 12 litros de resíduos do mosto fermentado, os quais recebem o nome de vinhoto. EFICIÊNCIA TÉRMICA36 Tabela 2.2. Podercalorífico dos principais combustíveis COMBUSTÍVEL PODER CALORÍFICO kJ/kg kcal/kg Gás liquefeito do petróleo 49030 11730 Gasolina sem álcool 46900 11220 Gasolina com 20% de álcool 40546 9700 Querosene 45144 10800 Óleo diesel 44581 10730 Etanol 29636 7090 Álcool combustível 27200 6507 Metanol 22200 5311 Metano 53922 12900 Propano 49951 11950 Butano 49324 11800 Acetileno 40964 9800 Hidrogênio 120802 28900 Tabela 2.3. Poder calorífico dos principais combustíveis COMBUSTÍVEL PONTO DE EBULIÇÃO oC PONTO DE FULGOR oC PONTO DE IGNIÇÃO oC Etanol 78 13 423 Éter etílico 34,6 -45 180 Benzeno 80 -11 562 Tolueno 111 4 536 Gasolina 40-200 -43 280 Querosene 175-320 45 255 Óleo combustível 230-350 66 259 DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 37 1o – Tempo de admissão No tempo de admissão, o pistão desce puxado pela árvore de ma- nivelas e aspira uma mistura de ar/combustível através da abertura da válvula de admissão instalada no cabeçote, que se abre pela ação de um ressalto no comando de válvulas, acionado por uma correia dentada ligada à árvore de manivelas. Ao final do curso do pistão, a árvore de manivelas terá girado 180 graus. 2o – Tempo de compressão No tempo de compressão, o pistão sobe impulsionado pela árvore de manivelas, comprimindo a massa de ar/combustível na câmara de combustão, que aquece e homogeneiza a mistura, pois as válvulas de admissão e escapamento estão fechadas. Ao final do curso do pistão, a árvore de manivelas terá girado 360 graus. Tempos do motor ciclo OTTO, funcionamento e in�uências físicas e construtivas 1o – Admissão 2o – Compressão 3o – Combustão 4o – Escapamento Figura 2 – Tempos do motor ciclo OTTO EFICIÊNCIA TÉRMICA38 3o – Tempo de combustão No tempo de combustão, as válvulas permanecem fechadas, a pressão existente na câmara é muito elevada e, nesse momento, uma centelha é gerada na vela de ignição. Isso provoca a inflamação da mistura ar/combustível, que se expande, impulsionando o pistão para baixo com grande força. Nesse tempo se produz trabalho na árvore de manivelas em sentido rotatório, que é transferido para a transmis- são e para as rodas. Ao final do curso do pistão, a árvore de manivelas terá girado 540 graus. 4o – Tempo de escapamento No tempo de escapamento, a válvula de escapamento se abre antes do ponto morto inferior, o pistão sobe impulsionado pela árvore de manivelas e expele os gases queimados para a atmosfera. Ao final do curso do pistão, a árvore de manivelas terá girado 720 graus e completado o ciclo de quatro tempos. Características construtivas dos motores de combustão interna Ao iniciar um curso descendente, o pistão encontra-se no ponto mais elevado dentro do cilindro, o que denominamos ponto morto superior (PMS). Ao iniciar um curso ascendente, o pistão encontra- -se no ponto mais baixo dentro do cilindro, e a isso denominamos ponto morto inferior (PMI). Com as referências de PMS e PMI pode- mos determinar o curso do pistão e, por consequência, a capacidade volumétrica de cada cilindro e a cilindrada total do motor. A capacidade volumétrica do cilindro é calculada por V= r² . π . c. DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 39 Figura 3 – Classificação dos motores Motor Diâmetro e curso Os motores são classi�cados em três tipos, conforme o diâmetro do cilindro e a relação de curso do êmbolo: 1. Motor de longo curso de deslocamento (do êmbolo) O motor em que o curso do êmbolo é maior do que o diâmetro do cilindro. 2. Motor quadrado O motor em que o diâmetro do cilindro e o curso do êmbolo são iguais. 3. Motor de curso curto de deslocamento (do êmbolo) O motor em que o curso do êmbolo é menor do que o diâmetro do cilindro. Diâmetro Curso PMS (Ponto Morto Superior) A posição do êmbolo no cilindro quando este está na posição mais alta. PMI (Ponto Morto Inferior) A posição do êmbolo no cilindro quando este está na posição mais baixa. 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 Volume de deslocamento total do êmbolo (cilindrada ou volume do motor) O volume de deslocamento do êmbolo (ou simples- mente “deslocamento”) no cilindro é determinado por diâmetro e curso. O volume de deslocamento total do êmbolo é obtido multiplicando-se o volume de deslocamento do êmbolo de um cilindro pelo número de cilindros. Geralmente, quanto mais alto for o volume de deslocamento total do êmbolo, maior será a potên- cia de saída do motor. Diâmetro Curso PMS (Ponto Morto Superior) PMI (Ponto Morto Inferior) 1 2 1 3 2 4 1 3 2 4 Figura 4 – Volume de deslocamento total do êmbolo EFICIÊNCIA TÉRMICA40 Tempo de admissão/enchimento dos cilindros O tempo de admissão do motor ciclo OTTO é aquele no qual se inicia todo o processo para que o motor atinja o máximo de desem- penho esperado. A mistura que se encontra no cilindro após o fechamento das válvulas de admissão, formada pelo ar fresco admitido e pelo gás do combustível vaporizado, é o chamado enchimento do cilindro. Esse ar admitido é o fator decisivo para o trabalho realizado no pistão durante a combustão e, portanto, para o torque produzido pelo motor. O enchimento máximo teórico é determinado pela cilindrada, e, nos motores sobrealimentados, pela pressão controlada de sobrea- limentação. Considerando que, num motor convencional com uma válvula de admissão e uma de escapamento, o enchimento máximo é de aproximadamente 85% da capacidade do cilindro devido a fatores construtivos, físicos e atmosféricos, para chegar a 95% os fabricantes utilizam alguns recursos tecnológicos, como duas ou três válvulas de admissão por cilindro, coletor de admissão variável e comando variável. A sobrealimentação é um recurso que produz o enchimento total do cilindro para todas as situações de trabalho do motor. Efeito de condições atmosféricas A quantidade de ar que um motor aspira ou é introduzida no motor por sobrealimentação depende da densidade do ar ambiente; o ar mais frio, mais pesado ou mais denso aumenta o rendimento do motor. A potência do motor cai aproximadamente 1% para cada 100 metros de subida. Dependendo do design do motor, o ar de admissão DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 41 frio é normalmente aquecido em alguns graus enquanto atravessa os dutos de admissão, com consequente redução de sua densidade e do rendimento do motor. O ar úmido possui menos oxigênio que o ar seco e, assim, produz rendimentos mais baixos do motor. Filtragem do ar de admissão Um dos fatores que comprometem o enchimento do cilindro é o filtro de ar de admissão. Os filtros de ar de admissão retêm as impure- zas, como aerossóis, fuligem de diesel, gases de emissões industriais, pólen e poeira. Aproximadamente 75% das partículas têm uma faixa de tamanho de 5 µm a 100 µm. Os elementos de filtragem são projetados para atender às exigên- cias de cada tipo de motor, assegurando que as perdas de pressão sejam mínimas. A periodicidade de troca do filtro é determinada pelos fabrican- tes, principalmente em função do tipo de terreno a ser utilizado ou quando a contrapressão atingir 20 µbar. Velocidade do pistão/enchimento do motor Este é um fator muito importante para determinar diâmetros dos dutos de admissão, cursos de válvulas de admissão e escapamento, diagramas, curvas de ignição e tempo de injeção de combustível. O gráfico representa a velocidade de um pistão num motor de curso de 86 mm em metro por segundo. Observe que, a 2800 rpm, EFICIÊNCIA TÉRMICA42 o pistão está a 30 m/s e, quanto maior a rotação, menor será o tempo de enchimento do cilindro, comprometendo o rendimento do motor. Fórmula para calcular a velocidade do pistão: Curso s Ve lo ci da de m éd ia d o pi st ão m Ve lo ci da de m áx im a do p is tã o m ax m/s 30 20 18 16 14 10 12 9 8 7 mm1601401201009080706050 45 6 7 8 9 10 15 m/s 10 00 12 00 14 00 16 00 18 00 20 00 30 00 40 00Ve loc ida de do m oto r = 50 00 rp m (m/s)VMP = curso do pistão (mm) x RPM 30000 Figura 5 – Gráfico de enchimento do motor em relação à velocidade do pistão DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 43 Coletor de admissão com geometria variável Uma vez que o efeito de sobrealimentação dinâmico depende do ponto de operação do motor, a geometria variável do coletor de ad- missão permite uma curva de torque virtualmente ideal. Sistemas variáveis podem ser implementados por: • ajustes do comprimento dos canais de admissão; • alternância entre vários comprimentos de canais de admissão; • desativação alternada de um canal de admissão por cilindro em sistemas de canais múltiplos; • comutação para diferentes volumes de admissão. Eixo de comando Canal de torque Canal de potência Exemplo de coletor de �uxo variável para otimizar o enchimento dos cilindros Faixa de potência (admissão/duto curto) Faixa de torque (admissão/duto longo) Figura 6 – Coletor de fluxo variável EFICIÊNCIA TÉRMICA44 Diagrama de válvulas O diagrama de válvulas é determinado pelos cames do eixo de comando de válvulas, e seu formato define o momento de abertura e fechamento das válvulas. Para a manutenção dos ângulos do diagrama, é necessário um perfeito sincronismo mecânico entre o eixo de comando de válvulas e a árvore de manivelas. Da mesma forma, a manutenção precisa das folgas de dilatação das válvulas e do sincronismo mecânico entre o eixo de comando e a árvore de manivelas. Carga parcial Marcha lenta ou plena carga Depósito de depressão Eletroválvula N156 Válvula para o canal de admissão (retenção) Acionamento mecânico da borboleta Mangueira de depressão Pressão atmosférica Cápsula pneumática para comutação do coletor de admissão variável Figura 7 – Funcionamento em carga DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 45 Válvula de admissão Instalada no cabeçote e no fluxo de ar admitido do motor, a válvu- la de admissão trabalha com temperaturas mais baixas. Os materiais usados em sua fabricação (ligas de cromo-níquel) apresentam grande resistência ao desgaste. Abre-se um pouco antes do PMS do primeiro cilindro (final de escapamento/início de admissão) e fecha depois do PMI para otimizar o enchimento do cilindro, aproveitando a inércia dos gases (início da fase de compressão). Válvula de escape Instalada no cabeçote e no duto de saída de gases queimados, a válvula de escape tem a função de liberar a descarga dos gases pro- duzidos durante a combustão. Como a válvula de escape é exposta a altas temperaturas, por conta da passagem dos gases aquecidos, ela deve ser fabricada com materiais que, além de alta resistência ao desgaste, ainda apresentem resistência a elevadas temperaturas, próximo de 900 oC. Figura 8 – Diagramas de válvula de admissão e de escapamento EFICIÊNCIA TÉRMICA46 Para resistir a tão severas condições de trabalho, a válvula de esca- pe é revestida, na região de contato com a sede, de ligas especiais, tipo estelite e outras à base de silício. Em função dessa característica, as válvulas de escape não podem ser retificadas. Elas abrem um pouco antes do PMI, para um rápido alívio da pressão de combustão do cilindro (fase final da expansão dos gases da combustão), e fecham alguns graus depois do PMS (início de admissão). Os inconvenientes da folga incorreta das válvulas são ruídos, des- gastes, perda de compressão, alteração da marcha lenta, queima da válvula ou sede, perda de rendimento e consumo. Se a folga da válvula estiver desajustada Folga excessiva Folga insuficiente Ruído anormal Vibração na marcha lenta Figura 9 – Inconvenientes da folga incorreta das válvulas DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 47 Escapamento (�xo) Admissão (variável) Ângulo da manivela Ângulo da manivela 300 o 360 o 420 o 480 o 540 o 600 o TDC BDC Cu bo s s 1 2 3 2 2 1 1 0 Cu bo s s Rotação do eixo de comando de válvulas de admissão 1-Retardo, 2-Padrão, 3-Avanço Grá cos representativos do diagrama de válvulas em relação ao virabrequim Escapamento (�xo) Admissão (variável) 120 o 240 o 360 o 480 o 600 o BDC TDC BDC 0 Comando seletivo do ressalto do eixo de comando de válvula 1-Ressalto do eixo de comando de válvulas da base 2-Ressalto do eixo de comando de válvulas auxiliar Figura 10 – Gráficos representativos do diagrama das válvulas em relação ao virabrequim Árvore de comando de válvulas Calço de regulagem Vedador Tucho Válvula Rolete Duto do lubri�cante Óleo Tipos de acionamento de válvulas mais utilizados em motores modernos Acionamento com tucho hidráulico Acionamento com tucho mecânico e pastilha Figura 11 – Tipos de acionamentos de válvulas mais utilizados em motores modernos EFICIÊNCIA TÉRMICA48 Sincronismo das válvulas com o virabrequim Nos desenhos mais utilizados, os eixos de comando das válvulas estão localizados no cabeçote do motor, no qual um conjunto tucho- -haste que se move para dentro e para fora absorve a força lateral do excêntrico, transferindo sua pressão linear de comando para a haste das válvulas. A abertura antecipada das válvulas de escape permite um alto grau de purga, garantindo, desse modo, uma baixa compressão resi- dual quando o pistão está em seu curso para cima, ainda que ocorra redução no índice de trabalho dos gases de combustão. A sincronização da válvula de admissão fechada exerce efeito decisivo sobre a relação entre o consumo de ar e a velocidade do motor. Quando a válvula de admissão fecha antecipadamente, a efi- ciência máxima de carga ocorre em baixas velocidades do motor, enquanto o fechamento retardado muda o pico de eficiência na di- reção da extremidade superior do espectro de velocidade do motor. Quanto maior for a velocidade em que a potência máxima ocorre e quanto maior for a faixa de velocidades operacionais do motor, menos satisfatório será o resultado. A B 2V 4V A – ponto de referência: comando de válvulas B – ponto de referência: virabrequim Exemplo de pontos de sincronismo mecânico com correia dentada 1 – V do tensionador 2 – parafuso de apoio 3 – referência de tensionamento 2 3 1 Figura 12 – Exemplo de pontos de sincronismo mecânico com correia dentada DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 49 Importância da troca da correia da distribuição A correia sofre desgastes, contaminações e enrijece por causa do calor do motor, o que poderá resultar em trincas e quebras nos den- tes, pois o material é feito de borracha. Se a correia da distribuição quebrar O ponto de abertura e o de fechamento da válvula não estarão sincronizados e o motor deixará de funcionar. O êmbolo pode tocar nas válvulas, provocando empe- namento e vazamentos de compressão e de gases de escapamento. Polia dentadaDistribuidor de ignição Exemplos de pontos de sincronismo mecânico com correia dentada Figura 13 – Exemplos de pontos de sincronismo mecânico com correia dentada EFICIÊNCIA TÉRMICA50 As correntes utilizadas para a distribuição, o acionamento da bomba de óleo e o conjunto equilibrador têm a mesma configuração e se diferenciam unicamente pelo número de elos. Essas correntes são de novo desenho e livres de manutenção. São mais silenciosas, têm um rendimento mais elevado e maior flexibili- dade que as correntes antigas, além de transmitirem o mesmo torque mas com uma espessura menor. Existem três tensores e vários patins de plástico poliamida para manter o sistema de correntes com a tensão de trabalho correta: • um tensor hidráulico para a corrente de acionamento dos eixoscomando de válvulas: para desmontagem é necessário bloquear o seu êmbolo com ferramenta; • um tensor mecânico para a corrente de acionamento dos eixos equi- libradores: o tensor está aparafusado ao bloco e é lubrificado com óleo; • um tensor mecânico para a corrente de acionamento da bomba de óleo: seu bloqueio também é feito com ferramenta. Figura 14 – Distribuição Motora por corrente Acionamento da árvore comando de válvulas de escape Tensor hidráulico Tensor hidráulico Acionamento da bomba de óleo Pinhão da árvore de manivelas Corrente de roletes para árvores comando de válvulas Corrente de roletes primária Acionamento da bomba de alta pressão de combustível e bomba de depressão Acionamento da árvore comando de válvulas de admissão Distribuição por corrente DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 51 Para ajustar o sincronismo deve-se coincidir as marcas nos pi- nhões com os elos escuros das correntes. Esses elos vêm somente de um lado das correntes, de forma que existe apenas uma possi- bilidade de montagem e não é necessário marcar o sentido de giro. A correia é poly-V unilateral, funciona de forma silenciosa e isen- ta de vibrações, mesmo em altas velocidades. Ela é acionada pela árvore de manivelas por meio de uma polia poly-V com tensionador antivibrador, fixada por parafusos, em consideração de forças e tor- ques mais intensos que intervêm no motor. Com o acionamento por correia, impulsionam-se o compressor do climatizador, o alternador e a bomba do líquido de arrefecimento. A correia é continuamente tensionada por meio de um rolamento tensor específico. Periodi- camente deve-se efetuar uma inspeção dos elementos e a troca da correia para garantir o funcionamento dos acessórios. Figura 15 – Acessórios do acionamento por correia Rolamento tensor Rolamento guia Rolamento guia Malha de cobertura Placa de cobertura Reforço de poliéster Corpo Polia poly-V Detalhe da correia poly-V Polia poly-V do motor 3.6 ℓ v6 R36 Acionamento da bomba do líquido de arrefecimento Acessórios do acionamento por correia Acionamento do alternador Acionamento do compressor do climatizador COMANDO VARIÁVEL DAS VÁLVULAS Os motores equipados com comando variável de válvulas pos- sibilitam acertar a fase dos eixos de comando de válvulas, em re- lação à árvore de manivelas, sem afetar o período de abertura e o levantamento das válvulas. Os comandos operados elétrica ou eletro- -hidraulicamente permitem o ajuste do eixo de comando de válvulas como uma função de velocidade do motor. O eixo de comando de válvulas é ajustado para fechamento retardado da admissão na velo- cidade de marcha lenta e na faixa superior de velocidade do motor. A sobreposição reduzida das válvulas gera uma recirculação interna reduzida dos gases de escape, assegurando, ao mesmo tempo, carac- terísticas estáveis de marcha lenta. Os efeitos de reforço atribuídos à propriedade dinâmica de gases em velocidades mais altas asseguram um maior rendimento do motor. O fechamento antecipado das válvulas evita que o ar aspirado seja expelido, aumentando o rendimento. Um sistema que também permite o ajuste do eixo de comando de válvulas de escape possibi- lita variação da recirculação interna de gás de escape para reduzir emissões de óxido de nitrogênio. A finalidade da distribuição variável é obter um ótimo torque do motor para as suas diferentes fases de funcionamento, além de DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 53 suavizar o funcionamento e a qualidade dos gases de escape. A distri- buição variável atua sobre o eixo comando de válvulas de admissão, podendo defasá-lo em 30 graus, ou seja, 60 graus em relação à árvore de manivelas. A unidade de controle utiliza os sinais do medidor de massa de ar e do sensor de rotação do motor como indícios básicos para o cálculo do avanço desejado, e o sinal do sensor de temperatura do líquido de arrefecimento como indício corretor. O sinal do sensor de fase Hall é utilizado como retroinformação para reconhecer a posição do eixo comando de válvulas de admissão. A posição do variador é definida pela eletroválvula para a distri- buição variável, controlada pela UCM com um sinal de frequência fixa e Proporção de Período Variável (PWM). Depois da parada do motor, o variador é bloqueado na posição de repouso. Por meio de um pino de bloqueio submetido à força de uma mola, o sistema é desbloqueado quando a pressão do óleo supera 0,5 bar. O variador é composto de um rotor, um estator, uma válvula distribuidora de pressão de óleo e um pino de bloqueio. O rotor é incorporado ao eixo comando de válvulas de admissão, e o estator é acionado diretamente pela corrente da distribuição. A válvula distribuidora está aparafusada ao eixo comando de válvulas com rosca à esquerda. Em função do campo magnético, o induzido da eletroválvula em- purrará a válvula distribuidora, abrindo a passagem de óleo até a câmara correspondente do variador. Com o motor em marcha lenta ou em rotação inferior a 1800 rpm e baixas solicitações de carga, a UCM não excita a eletroválvula para a distribuição variável, e o va- riador se mantém em posição de repouso. Quando o motor está com mais de 1800 rpm e com solicitação de carga, a UCM modifica a posição do eixo comando de válvulas de admissão, adiantando o COMANDO VARIÁVEL DAS VÁLVULAS54 momento de abertura e fechamento das válvulas para otimizar o preenchimento dos cilindros. A regulagem do eixo comando é efe- tuada tomando como referência uma família de curvas característi- cas armazenadas na UCM. No caso de avarias no sistema, o eixo comando de válvulas permanece na posição de repouso, provocando uma redução do torque do motor. Funcionamento da regulagem do avanço Para melhorar o torque do motor nas cargas parciais e para que ocorra a recirculação dos gases de escape, é necessário alterar a po- sição relativa da árvore de comando de admissão, de modo que suas válvulas abram antes do PMS. Para isso, a unidade de controle do Válvula distribuidora Dispositivo variador do ângulo do comando de válvulas em corte Eletroválvula para distribuição variável N205 Pino de bloqueio Palheta Figura 1 – Dispositivo variador do ângulo do comando de válvulas em corte DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 55 motor energiza a eletroválvula do variador de fase, deslocando o êmbolo do variador. Na carcaça da distribuição, o conduto de óleo para regulagem de avanço abre em conformidade com o ângulo de regulagem determinado. Na sequência, o óleo do motor sob pressão flui através da carcaça da distribuição até o conduto anelar da árvore de comando de válvulas. Para a regulagem de avanço, o óleo passa por cinco orifícios frontais da árvore de comando de válvulas até as cinco câmaras do variador de fase, onde o óleo exerce força contra as aletas do rotor interno, fazendo-o deslocar em relação ao rotor externo. A árvore de comando de válvulas de admissão desloca-se solidariamente ao rotor interno, no sentido contrário ao giro da ár- vore de manivelas, o que antecipa a abertura das válvulas otimizando o torque do motor. Carcaça da distribuição Óleo do motor sob pressão Retorno de óleo Êmbolo do variador Conduto de óleo para regulagem de avanço Retorno de óleo Condutores anelares Orifícios frontais Distribuição variável: funcionamento e diagnósticos Regulagem do avanço Figura 2 – Distribuição variável: funcionamento e diagnósticos COMANDO VARIÁVEL DAS VÁLVULAS56 Atenção: se o sistema de regulagem da distribuição variável não funcionar, o variador de fase fica em sua posição de repouso, sob pressão de óleo do motor, a 25o depois do PMS. Funcionamento da regulagem do retardo Em marcha lenta e em altas rotações do motor, que requer potên- cia, é necessário alterar a posição da árvore de comando de válvulas de admissão, de modo que as suas válvulas abram mais tarde, isto é, depois do PMS. Para a regulagem do retardoda árvore de admissão, a unidade de controle do motor energiza a eletroválvula. Com o deslocamento Carcaça da distribuição Variador de fase de admissão Regulagem do retardo Óleo do motor sob pressão Retorno de óleo Êmbolo do variador Conduto de óleo para regulagem de atraso Orifício não passante no parafuso de �xação Retorno de óleo Condutores anelares Orifícios frontais Figura 3 – Variador de fase de admissão DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 57 do êmbolo variador, o conduto de óleo para a regulagem de atraso é aberto. O óleo flui através da carcaça da distribuição até o conduto anelar e depois para o orifício não passante do parafuso de fixação do variador de fase na árvore de comando de válvulas. Na sequência, o óleo passa através de cinco furos no variador até as câmaras de óleo atrás das aletas do rotor interno, fazendo-o deslocar no sentido de giro da árvore de manivelas com a árvore de comando de válvulas. Simultaneamente, com a abertura do conduto para a regulagem de retardo, o êmbolo do variador abre o retorno do óleo pelo conduto de regulagem do avanço. Por esse conduto, o óleo consegue sair da câma- ra destinada à regulagem do avanço, fazendo-o voltar para o motor. Funcionamento da regulagem intermediária A regulagem intermediária permite realizar uma regulagem de- finida entre o avanço total e o retardo total da árvore de comando de válvulas de admissão. O curso de regulagem máximo é de 52o da árvore de manivelas. Através da análise dos sinais procedentes dos sensores de fase, a unidade de controle do motor detecta a posição momentânea da árvore de admissão. Em função dos mapas caracte- rísticos programados na unidade de controle, ela inicia a energização da eletroválvula, que desloca o êmbolo do variador, por exemplo, para a posição de avanço. O óleo sob pressão passa pela carcaça de distribuição até o variador de fase deslocando-o para a posição de avanço. Com o deslocamento do êmbolo do variador em direção ao avanço, abre-se automaticamente o conduto destinado à regulagem de retardo para que seja possível a saída de óleo. COMANDO VARIÁVEL DAS VÁLVULAS58 Uma vez alcançado o ângulo de regulagem desejado, a unidade de controle do motor excita a eletroválvula de maneira que o êmbolo do variador seja levado a uma posição em que ambas as câmaras fi- quem mantidas sob pressão. Se os tempos de distribuição devem ser alterados em outro momento, o processo se desenvolve novamente. Posição de retardo (básica) A árvore de comando de válvulas de escape encontra-se na posi- ção básica nas rotações superiores à da marcha lenta e durante a fase de partida do motor. Nessa posição, as válvulas fecham um pouco an- tes do PMS. A árvore de escape adota essa posição básica nos estados operativos destinados ao favorecimento de potência e à recirculação de gases de escape. Variador de fase admissão Regulagem intermediária Figura 4 – Variador de fase admissão DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 59 Funcionamento da posição de retardo Na posição básica, a eletroválvula do variador de fase de escape não é excitada pela unidade de controle do motor. Assim, o êmbolo do variador abre a passagem do conduto de óleo para a posição básica (retardo). Por esse conduto, o óleo do motor sob pressão chega até a carcaça da distribuição e passa pelo conduto anelar da árvore de escape. Daí, o óleo passa pelos orifícios não passantes do parafuso de fixação até as câmaras de óleo no variador de fase. O óleo atua contra as aletas do rotor interno, fazendo com que o rotor se desloque até o topo, movimentando solidariamente a árvore de escape. Carcaça da distribuição Óleo de motor sob pressão Retorno de óleo Êmbolo do variador Conduto de óleo para posição de retardo Orifício não passante no parafuso de �xação Retorno de óleo Condutores anelares Orifícios frontais Variador de fase de escape Posição de retardo (básica) Figura 5 – Variador de fase de escape COMANDO VARIÁVEL DAS VÁLVULAS60 Posição de avanço Na marcha lenta e em rotações de até 1200 rpm, a árvore de co- mando de válvulas é deslocada para a posição de avanço. Funcionamento da posição de avanço A eletroválvula é excitada pela unidade de controle do motor, fazendo o êmbolo do variador abrir a passagem do conduto de óleo para a posição de avanço. Com isso, o óleo segue pela carcaça da dis- tribuição, passa pelo conduto anelar, pelos orifícios frontais e chega às câmaras de óleo do variador, onde atua contra as aletas do rotor interno, fazendo-o deslocar no sentido de giro do motor e arrastando solidariamente a árvore de comando de válvulas de escape. Assim, elas abrem e fecham mais cedo. O óleo procedente das câmaras opos- tas às aletas retorna à eletroválvula e em seguida vai para o motor. Carcaça da distribuição Óleo do motor sob pressão Retorno de óleo Êmbolo do variador Conduto de óleo para posição de avanço Retorno de óleo Condutores anelares Orifícios frontais Variador de fase de escape Posição de avanço Figura 6 – Variador de fase de escape GERENCIAMENTO DO MOTOR Turboalimentador acionado por gás de escapamento O turboalimentador movido a gás de escapamento consiste de quatro componentes principais: turbina, compressor, alojamento do mancal e válvula limitadora de pressão. A turbina usa a energia do gás de escape para acionar o compressor que, por sua vez, aspira o ar fornecido aos cilindros, sob a forma comprimida. Em termos de energia, o ar e o fluxo de massa dos gases de escape representam o único acoplamento entre o turbo e o motor. Figura 1 – Componentes do turboalimentador movido a gás de escapamento Exaustão Ar 64 Anel elástico 13 Anel de pistão 6 Rotor da turbina 38 De�etor de calor 5 Carcaça da turbina 33 De�etor de óleo 31 Borrifador de óleo 8 Carcaça compressora 7 Impulsor 16 Anel de pistão 36 Colar de encosto 12 Mancal axial 14 Placa difusora 4 Carcaça dos mancais 11 Mancal radial Óleo Óleo GERENCIAMENTO DO MOTOR62 A velocidade do turbo não depende da velocidade do motor, mas do equilíbrio entre o ar admitido e a massa dos gases de escape de acordo com o regime de trabalho do motor. A sobrealimentação aumenta o rendimento dos motores de com- bustão interna, pois garante o enchimento completo do cilindro, o que não se consegue no motor aspirado. Os mancais radiais são projetados sobre buchas lisas duplas e rotativas, e o mancal axial sobre uma bucha com superfície com múl- tiplas ranhuras ou rolamentos, lubrificadas e arrefecidas pelo óleo enviado sob pressão das galerias de lubrificação do motor. O eixo pode atingir rotações de até 300000 rpm, vedado por anéis especiais que reduzem o consumo de óleo. Para garantir maior vida útil, alguns turboalimentadores são esfriados com água do sistema de arrefecimento do motor, pois a temperatura dos gases de escape podem ser de 800 °C a 1000 °C. Check-list do turboalimentador 1. Verificar o nível de óleo e o seu prazo de troca. 2. Verificar o estado dos filtros de óleo e de ar, bem como dos seus prazos de troca. Rotor do compressor Rotor do turbo Carcaça do turboCarcaça do compressor Figura 2 – Válvula wastegate DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 63 3. Verificar as mangueiras e as conexões do sistema quanto a trincas, vazamentos, obstruções, rupturas ou conexões malfeitas. 4. Inspecionar ambos os rotores quanto a danos provocados por objetos estranhos. 5. Verificar se existe dificuldade de giro do conjunto eixo-rotor. 6. Verificar se o conjunto eixo-rotor não possui folga excessiva, movimentando-o para cima, para baixo, para dentro e para fora da carcaça. 7. Inspecionar os contornos dos rotores e suas respectivas carcaças quanto a sinais de raspagem. A turbina do turboalimentador, formada por um rotor e uma vo- luta, tem por objetivo converter o gás de escape do motor em energia mecânica para acionar o compressor. O gás de escape,restringido pela área da seção transversal da voluta, sofre um processo de expan- são na turbina, resultando em queda de pressão e temperatura entre a admissão e a saída. Essa queda de pressão é convertida pela turbina em energia cinética para mover o rotor da turbina. Existem dois tipos principais de turbina: radial e axial. No tipo axial, a vazão pelo rotor é apenas na direção axial. Nas turbinas ra- diais, o fluxo de gás é centrípeto, ou seja, em uma direção radial de fora para dentro, e a descarga de gás na direção axial. Em rotores com diâmetro de até 160 mm, usam-se apenas turbinas radiais, o que corresponde a uma potência do motor de aproximadamente 1000 kW por turboalimentador. A partir de 300 mm, usam-se apenas turbi- nas axiais. Entre esses dois valores, ambas as variações são possíveis. Como a turbina radial é a mais aceita em aplicações automotivas, essa descrição limita-se a design e função. Na voluta de turbinas radiais ou centrípetas, a pressão dos gases de escape é convertida em energia GERENCIAMENTO DO MOTOR64 cinética. Após esse processo de aceleração, o gás de escape é direciona- do à velocidade constante para o rotor, em toda a sua circunferência. A conversão da energia cinética em trabalho mecânico de eixo ocorre no rotor da turbina, que é projetado para aproveitar a maior parte dessa energia cinética antes de o gás deixar a turbina. O desem- penho da turbina melhora com uma maior diferença entre a pressão na admissão e na saída, ou seja, quando mais gases de escape são acu- mulados antes da turbina em consequência de uma maior velocidade do motor ou no caso de uma elevação na temperatura dos gases de escape, causado pela maior energia deles. O comportamento caracte- rístico da turbina é determinado por uma seção transversal específica da voluta, também conhecida como garganta, que se localiza na área de transição entre o duto de admissão e a voluta propriamente dita. Ao reduzir essa seção, uma maior quantidade de gases de exaustão é retida na turbina, e o desempenho aumenta como resultado de uma maior razão de expansão. Portanto, uma seção transversal menor resulta em maior pressão de sobrealimentação. A área de seção transversal da turbina pode ser facilmente modificada com a troca da carcaça de turbina. A ca- pacidade de vazão mássica de uma turbina também é influenciada pela área de entrada no rotor da turbina, além da área da garganta na voluta. A usinagem do contorno em um rotor fundido permite modificar a área de entrada do rotor de turbina, permitindo ajustes na pressão de sobrealimentação. Um contorno maior resulta em uma maior área de entrada no rotor. As características operacionais de uma turbina são descritas por mapas contendo o parâmetro de fluxo plotado em função da razão de expansão na turbina. O mapa de turbina mostra as curvas de vazão mássica e a eficiência para várias rotações. Para simplificar o mapa, DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 65 tanto as curvas de vazão mássica quanto as de eficiência podem ser mostradas por uma curva média. Para obter um turbocompressor eficiente, a escolha dos diâmetros dos rotores de compressor e da turbina é essencial. A posição do ponto de operação no mapa do compressor dita a rotação do turbocompressor. O diâmetro do rotor de turbina precisa ser bem escolhido, visando maximizar a eficiência na faixa de operação. O bypass no lado da turbina é a forma mais simples de controle da pressão de alimentação. O tamanho da turbina é escolhido de for- ma que as exigências da característica de torque para baixas rotações do motor possam ser atendidas, alcançando-se boa dirigibilidade do veículo. Com esse design, logo antes do ponto de máximo torque, for- nece-se à turbina mais ar que o necessário para produzir a pressão de sobrealimentação necessária. Portanto, uma vez atingido certo valor de sobrealimentação, parte do gás de exaustão é desviada da turbina por meio de um bypass. A abertura ou o fechamento da válvula do waste- gate geralmente é operada por meio de um diafragma conectado a uma mola, cujo deslocamento depende da pressão de sobrealimentação. Atualmente, sistemas eletrônicos de controle de pressão de so- brealimentação são cada vez mais utilizados em motores a gasolina ou a diesel em carros de passeio. Quando comparado a controles puramente pneumáticos, que somente funcionam como limitador de pressão máxima, um sistema flexível de controle de sobreali- mentação permite um ajuste de pressão ótimo em cargas parciais. A operação é regulada por diversos parâmetros, como temperatura do ar, ponto de avanço da ignição e qualidade do combustível. A operação da válvula é semelhante à operação puramente pneumá- tica. O diafragma do atuador é submetido a um controle de pressão modulado, contrastando com o controle por pressão máxima de GERENCIAMENTO DO MOTOR66 sobrealimentação. Essa pressão de controle é menor que a pressão de sobrealimentação e é gerada por uma válvula proporcional, ga- rantindo que o diafragma fique sujeito à pressão de sobrealimen- tação e também à pressão de entrada no compressor, em diferentes proporções. A válvula de proporcionalidade é controlada por meio da unidade eletrônica do motor. Turbina de Geometria Variável (TGV) As turbinas com geometria variável modificam a área da seção transversal entre a voluta e o rotor de turbina por meio de aletas mó- veis ou anel deslizante, cobrindo parte da área da seção transversal. A turbina de geometria variável permite uma variação da área de pas- sagem de gás de acordo com o ponto de operação do motor. Sendo assim, permite-se a utilização total da energia dos gases de exaustão por conta do ajuste da área de passagem do gás, otimizada para cada ponto de operação do motor. Como resultado, a eficiência do turbo- compressor, e também a do motor, é maior comparada com a utiliza- Funcionamento da geometria variável segundo o regime motor Motor a baixa rpm Cápsula manométrica TurbinaAleta Prato ou coroa Motor a alta rpm Figura 3 – Funcionamento da geometria variável segundo o regime motor DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA 67 ção de um sistema de controle por bypass. As aletas variáveis entre a voluta e o rotor de turbina influenciam o comportamento de aumento de pressão de escape, atuando, portanto, no trabalho extraído pela turbina. Em baixas rotações do motor, a seção transversal é reduzida pelo fechamento das palhetas. A pressão de sobrealimentação e, como consequência, o torque aumentam como resultado da maior razão de expansão na turbina. Em rotações altas do motor, as palhetas abrem de forma gradual. A pressão de sobrealimentação requerida é atingida com uma menor razão de expansão, influenciando positivamente o consumo de combustível. Durante a aceleração do veículo a baixa ve- locidade, as palhetas são fechadas para aproveitar ao máximo a energia dos gases de exaustão. Com o aumento na velocidade, as palhetas são abertas para otimizar a operação naquele ponto. Atualmente, a temperatura dos gases de exaustão de um motor moderno, com alta potência específica, atinge até 900 oC. O movi- mento preciso e confiável das palhetas em um ambiente de alta tem- peratura exige materiais especiais e também um controle preciso sobre as tolerâncias. Independente do tamanho do turbocompressor, as palhetas devem apresentar folga mínima para assegurar uma ope- ração segura durante toda a vida do veículo. Verificar a folga axial Movimentar o eixo do rotor axial- mente e veri�car se existe atrito dos rotores com as carcaças. Inspecionar os contornos dos rotores e das carca- ças, se houve raspagem. Se não for perceptível qualquer atrito dos rotores nas respectivas carcaças, a folga axial está correta. Verificações de folgas no turbo compressor Figura 4 – Verificação de folga axial no turbo compressor GERENCIAMENTO DO MOTOR68 Sistema de gerenciamento do motor – princípio de funcionamento e testes Verificar a folga radial
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