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TERMO DE AUTORIA E RESPONSABILIDADE Declaro para os devidos fins que eu, Cauê Marcelo Martins Pedras , aluno(a) devidamente matriculado(a) no Curso de Direito da Universidade Guarulhos sob o Registro Acadêmico – RA nº 28273373 portador(a) da Cédula de Identidade - R.G. nº.50.724.265-8, CPF nº.465.066.388-18, sou o(a) autor(a) da Monografia que ora se apresenta com o Título “O RESPEITO E A IMPUTABILIDADE DOS POVOS INDÍGENAS PERANTE AS NORMAS BRASILEIRAS, com a finalidade de conclusão do Curso. Declaro ainda, que o trabalho é inédito, não contendo cópias de outras produções sejam bibliográficas ou da rede mundial de computadores (Internet), sem a devida indicação das fontes, nos padrões definidos pelas normas da ABNT, estando ciente também que a infração ao acima disposto, poderá me levar à reprovação, bem como, à responsabilização civil e criminal pelos atos praticados. Guarulhos, 27 de maio de 2022. Cauê Marcelo Martins Pedras. Termo de Autorização para Publicação de Trabalhos de Conclusão de Curso na forma eletrônica no REPOSITORIVM Na qualidade de titular dos direitos de autor da publicação, autorizo o Grupo SER Educacional a disponibilizar por meio de seu repositório institucional (REPOSITORIVM) sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o texto integral da obra abaixo citada, conforme permissões assinaladas, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data. 1. Identificação do material bibliográfico: Trabalho de Conclusão de Curso (x ) Outros ________________________ 2. Identificação dos Autores e da a Obra: Autor: Cauê Marcelo Martins Pedras RG.: 50.724.265-8 CPF:465.066.388-18 E-mail: cauemarcelo10@gmail.com Orientador: Victor Pergoraro CPF 385.647.368-88 Membros da Banca:_________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________ Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? (x )Sim ( ) Não Data de Defesa (se houver): __/__/__ Nº de páginas:______________ Título: O RESPEITO E A IMPUTABILIDADE DOS POVOS INDÍGENAS PERANTE AS NORMAS BRASILEIRAS. filiação:____________________________________ Área do Conhecimento ou Curso (no caso de TCC): Direito Palavras-chave: Direito, Imputabilidade; Indígena. Guarulhos, 27 de maio de 2022. A Comissão Julgadora dos trabalhos de conclusão de curso, intitulado “O RESPEITO E A IMPUTABILIDADE INDÍGINA PERANTE AS NORMAS BRASILEIRAS”, em sessão pública realizada em ___ de __________ de 20__, considerou o candidato CAUÊ MARCELO MARTINS PEDRAS ____________. COMISSÃO EXAMINADORA: ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ Guarulhos, SP, ___, __________, 20___. Dedico a presente monografia aos meus queridos pais, Dr. Adermil Bertoldo Cordeiro Pedras e Professora Marilda Aparecida Martins Pedras, e também ao meu Querido Irmão Eduardo Augusto Martins Pedras. Sempre me fortaleceram da melhor forma possível, no âmbito familiar, estudantil e profissional. Agradeço primeiramente a Deus, por sempre conceder conquistas e abençoar a minha vida. Agradeço aos meus familiares em especial os já citados nas dedicatórias, meus pais, Dr. Adermil Bertoldo Cordeiro Pedras e Professora Marilda Aparecida Martins Pedras, e ao meu ilustre irmão Eduardo Augusto Martins Pedras. Agradeço profundamente todos os professores do curso de Direito da Universidade de Guarulhos, sempre muito solícitos e preparados da melhor forma possível para a transmissão do conhecimento. Agradeço também de forma específica, a nossa Coordenadora de Curso, Professora Dra. Luciana, e também ao professor Orientador desta monografia, Dr. Victor Pergoraro, sempre prepostos a atender as dúvidas que surgem ao longo da produção deste trabalho de conclusão de curso. “Hoje, me desperto com as obras e a chave das portas das repostas que eu tanto procurei. Ontem fui dormir pensando em procurar as perguntas das respostas que hoje achei” Cauê Marcelo Martins Pedras RESUMO O respeito e a imputabilidade dos povos indígenas perante as normas brasileiras, tratam-se de assuntos a serem melhor explorados dentro do nosso contexto de Direito, muitas lacunas precisam ser preenchidas para que a justiça ocorra de forma plena, esta monografia analisará o respeito ao indígena, segundo a nossa constituição federal e outras normas, como por exemplo o Estatuto do índio, as convenções da OIT. Pelos mesmos instrumentos, também será analisado a questão da imputabilidade dos povos indígenas, buscando a luz jurisprudencial e o que diz nosso código penal brasileiro. Esses conceitos devem ser melhor analisados dentro da nossa justiça brasileira, já que tratamos de cerca de oitocentos mil indígenas, sendo um número de praticamente um município bem populoso em território brasileiro. Buscaremos explicar qual o atual entendimento em relação aos crimes cometidos pelos índios, e também dos crimes cometidos contra os indígenas, atingindo as culturas, crenças e costumes deste povo, e também, abordaremos a questão das terras indígenas, as quais são bastante citadas em nossas normas, buscando a proteção para que as tribos indígenas vivam de uma forma harmoniosa. As terras indígenas são de supra importância, pelo motivo que desde os primórdios da humanidade, brigamos pelos nossos territórios, e é importante o povo ter um lugar estabelecido para poder executar as suas crenças, costumes e consagrar a sua cultura, todos os povos são assim. Devido a este fato, hoje no Brasil é encontrado uma guerra civil, pela disputa de terras indígenas. Os maiores interessados baseiam-se em agricultores, proprietários de grandes fazendas e garimpeiros. A FUNAI, fundação nacional do índio, também será comentada e exposta nesta monografia, já que trata do órgão mais importante para atender os direitos indígenas, inclusive é responsável pela demarcação das terras indígenas. Por fim veremos casos jurisprudenciais para melhor analisarmos como estão sendo julgados os indígenas praticantes de atos ilícitos, sendo que deve ser feito o exame antropológico para averiguar “o grau de índio” previsto no Estatuto do Índio. Palavras-chave: Imputabilidade, Indígena, Pena, Respeito, Brasil. ABSTRACT The respect and the attribution of indigenous peoples regarding the norms, it is about gaps within the context, the competence for justice to form within the norms, this monograph analyzes the respect for Brazilian norms Our federal clause and other norms, such as to ILO clauses. By the same instruments, the question of imputability of peoples will also be deepened, seeking the jurisprudential light and what our Brazilian penal code says. These concepts should be better analyzed within our Brazilian justice system, since we deal with about eight hundred thousand indigenous people, practically a number from a very populous municipality in Brazilian territory. We will try to explain what is the current understanding regarding the crimes committed by the Indians, and also the crimes committed against the indigenous people, affecting the cultures, beliefs and customs of this people, and also, we will address the issue of indigenous lands, which are often cited in our norms, seeking protection so that indigenous tribes live in a harmonious way. Indigenous lands are of paramount importance, for the reason that since the dawn ofhumanity, we have fought for our territories, and it is important for the people to have an established place to be able to carry out their beliefs, customs and consecrate their culture, all peoples are like that . Due to this fact, today in Brazil there is a civil war over indigenous lands. The biggest stakeholders are farmers, large farm owners and prospectors. FUNAI, the national indigenous foundation, will also be discussed and exposed in this monograph, as it is the most important body for meeting indigenous rights, and is also responsible for the demarcation of indigenous lands. Finally, we will see jurisprudential cases to better analyze how indigenous people who practice illicit acts are being judged, and an anthropological examination must be carried out to ascertain “the degree of Indian” provided for in the Indian Statute. Palavras-chave: Accountability, Indigenous, Penalty, Respect, Brazil. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .........................................................................................01 1. PRINCIPAIS COMUNIDADES INDÍGENAS NO BRASIL........................................................................................................02 1.1 Guaranis............................................................................................02 1.2 Ticunas..............................................................................................03 1.3 Caingangue.......................................................................................04 1.4 Macuxis............................................................................................05 1.5 Terenas.............................................................................................06 1.6 Guajajaras.........................................................................................08 2. O RESPEITO AO INDÍGENA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL..10 3. DO ESTATUTO DO ÍNDIO ................................................................15 3.1 O Estatuto do Índio na ditadura militar............................................15 3.2 Os Direitos e Deveres consagrados no Estatuto do Índio................17 3.3 Das normas penais no Estatuto do índio..........................................18 4. FUNAI (FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO.................................26 4.1 Deveres da FUNAI..........................................................................26 4.2 Cenário da FUNAI nos dias atuais..................................................27 5. IMPUTABILIDADE PENAL INDÍGENA........................................29 5.1 Da imputabilidade...........................................................................29 5.2 Situações de imputabilidade no código penal.................................30 5.3 A imputabilidade e os indígenas.......................................................31 6. O INFANTICÍDIO INDÍGENA E SUA IMPUTABILIDADE...........34 6.1 Casos de infanticídio indígena..........................................................37 7. O TRÁFICO DE DROGAS INDÍGENA E SUA IMPUTABILIDADE....................................................................................40 7.1 Casos de tráfico de drogas indígena...................................................42 8. JURISPRUDÊNCIAS DE IMPUTABILIDADE INDÍGENA.............44 8.1 Índio integrado e sua jurisprudência..................................................44 8.2 Índio em fase de integração e sua jurisprudência..............................45 8.3 Índio não integrado e sua jurisprudência...........................................47 9. CONCLUSÃO..........................................................................................50 10. REFERÊNCIAS.....................................................................................55 Os povos indígenas passaram por histórias bem árduas no território brasileiro, fatos advindos desde o descobrimento do Brasil até os dias de hoje. Várias guerras foram estabelecidas entre indígenas e não indígenas, fazendo com que as tribos sempre protegessem ao máximo os seus costumes, crenças e a sua própria cultura. Os anos passam e de qualquer forma as pessoas e as culturas também passam por algumas mudanças, e claro, o mesmo ocorreu com os povos indígenas. Apesar de muitos ainda manterem os seus costumes, a maioria das tribos hoje estão plenamente integradas a sociedade brasileira, tendo legislações próprias de direitos e deveres que acarretam em algumas discussões, pois muitos também não se consideram integrados em comunhão nacional. Dentre essas questões, além do respeito que diversas vezes é violado aos povos indígenas, também temos a questão da imputabilidade dos índios, já que de certa forma, existem os que não conhecem a legislação brasileira perante ao fato do que é lícito e ilícito. Discursaremos nesta monografia a situação atual do Respeito e a Imputabilidade indígena perante as normas brasileiras. 2 1. PRINCIPAIS COMUNIDADES INDÍGENAS NO BRASIL Segundo dados da Fundação nacional do Índio (FUNAI), Hoje, no Brasil, vivem mais de 800 mil índios, representando cerca de 0,4% da população brasileira, vivem principalmente em 688 Terras Indígenas e em várias áreas urbanas. Há também 77 grupos indígenas que ainda não se foi possível estabelecer contato, logo não foram contabilizados nestes dados. Ao analisarmos, parece apenas uma pequena parcela da população, porém, se formos ver o número de Habitantes do Estado do Amapá, por exemplo, é de aproximadamente 751 mil habitantes, ou seja, os números populacionais dos indígenas poderiam facilmente compor um Estado Brasileiro. Após análises estatísticas, vem como justificativa, o fato de não podermos ser negligentes, que a população indígena, a qual tem proporção estadual, seja julgada, principalmente no âmbito penal, da forma que bem entender o Juízo naquele momento. Lembramos que conforme a doutrina, “temos cerca de 136 (cento e trinta e seis) povos indígenas no Brasil desde o ano de 1970”1. Vamos as principais comunidades Indígenas que encontramos no Brasil hoje. 1.1 Guaranis Hoje, considerada a maior comunidade Indígena, em torno de 57.000 (cinquenta e sete mil) integrantes, os Índios Guaranis estão localizados nos ¹ MELATTI, Júlio Cesar, pág. 14, Índios Do Brasil, 1º Edição, São Paulo- SP, EDUSP, 1970 3 Estados Brasileiros: Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pará, Santa Catarina e Tocantins. A maior reserva dos Guaranis se encontra na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul (MS), “com a extensão de 3,5 mil hectares, o local conta com 12 mil indivíduos de grupos distintos”2. Dentro da Comunidade Guarani a ainda uma subdivisão de povos chamados Kaiowá, Mbya e Nhandeva, possuem a Língua original Tupi-Guarani, da qual derivaram vinte e uma línguas pelo mundo. Como toda comunidade Indígena, sua história é de muita perda de terras principalmente pelo desenvolvimento do agronegócio no centro-oeste brasileiro, uma batalha na qual gerou milhares de mortes de ambos os lados nesses anos vívidos. Sua cultura se vem da crença de Deuses, portanto, suas cantigas e até mesmo a sua organização social é baseada nesse princípio, e também como em todas as comunidades indígenas a natureza é considerada parte de sua família. 1.2 Ticunas A comunidade Ticuna se encontra na Amazônia Brasileira, com cerca de 54000 (cinquenta e quatro mil) integrantes, que conseguiram estabelecer suas terras apenas em 1990, depois de muita luta contra seringueiros e madeireiros que 2 BEZERRA, Luciana, Índios Guarani, TodaMatéria, disponível em: https://www.todamateria.com.br/indios-guarani/amp/ . Acesso em 30 de março de 2022. 4 fizeram umaimensa exploração pela maior floresta de mata fechada do mundo que é a Amazônia. Com cerca de cem aldeias, a maior parte delas ficam nas represas do Rio Solimões. Independente de quão próximo chega a ser os centros urbanos desta comunidade, a língua Ticuna não é atingida, mantida fielmente pelos integrantes, mostrando o tanto que sua cultura é tida como base principal na vida dos integrantes. A sociedade ticuna está dividida, composta por clãs, dentro dos clãs a identidade de cada um é passado de pai para filho, sempre mantendo-se no mesmo grupo, a menos nos casamentos que só ocorrem entre membros de clãs diferentes. No caso, vemos que não é só sobre o código penal que há divergências com a cultura indígena, poderíamos falar claramente também do Código Civil, como o casamento. 1.3 Caingangues Os Caingangues ou Kaingangs estão localizados nos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Atualmente esta comunidade, está entre os mais numerosos povos indígenas do Brasil. Sua língua vem de uma família linguística chamada "Jê''. Sua cultura tem como características de desenvolvimento nas sombras de Pinheiros que na geografia brasileira, se encontram nos Estados ditos que integram o Território Cainganguês. Há dois séculos atrás, seu território se desenvolveu nas beiras do Rio Tietê em São Paulo até o Rio Lijuí no Rio Grande Do Sul. Atualmente encontram-se 5 em mais ou menos 30 áreas de terra reduzidas com uma população que chega a cinquenta mil pessoas. A sua organização social funciona em dois segmentos que são denominados de Kame e Kanhru. O grupo Kame costuma usar pinturas por todo o corpo e também nos artesanatos feitos pela comunidade, já o grupo Kanhru utiliza traços circulares e todo animal que há no grupo também é indicado com essa marcação. Os Kaingangs se desenvolveram de uma forma muito considerada nos centros urbanos, o que chamam de Índios modernos, se encontram muito neste grupo, por mais que uma grande parte faz o máximo possível para preservar sua cultura e seus costumes. Uma grande Curiosidade é que no ano de 2008 Uma integrante dos Caingangues se tornou mestre em Direito, Fernanda Caingangue, como ficou apelidada, “foi um grande exemplo de superação e amor pelo Direito na faculdade Federal do Rio Grande do Sul”3. Uma das mais renomadas líderes indígenas do país. 1.4 Macuxis Os Macuxis se concentram em Roraima, hoje com uma população de mais ou menos (34.000) trinta e quatro mil pessoas que tem como filiação linguística o que chamam de Karib. Estão bem na fronteira de Brasil e Guiana. 3 EMILIANO, Darci.; MARTIN, Alfredo Guilermo; PEREIRA, Vilmar Alves. Cultura Kaingang: saberes e identidades direcionados aos desafios contemporâneos da preservação e da educação ambiental. PerCursos, Florianópolis, v.19, n.41, p.203-233,2019. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/percursos/article/view/1984724619412018203. Acesso em: 05 de abril de 2022. 6 Sua tribo é espalhada pelo território Roraimense com grupos de poucas casas, e por isso, um número bem grande de aldeias que totalizam mais ou menos em 104 (cento e quarenta) pontos. O ponto mais populoso tem o nome de Raposa Serra do Sol, “uma área com cerca de dez mil habitantes divididos em oitenta aldeias”4. A maior aldeia se chama Pemon. As aldeias que costumam ficar dentro matas fechadas tem a característica de casas com muitos moradores com mais de uma família distinta e estas famílias também são numerosas. Já as casas encontradas na savana geralmente são dispersas e com menos quantidade de pessoas, sendo o completo contrário das comunidades nas aldeias de mata fechada. Os matrimônios, como já vimos na tribo Ticuna também são realizados entre parentes da própria tribo, apenas casos isolados que são encontrados de união matrimonial de aldeias diferentes, e mesmo assim, elas devem ter um relacionamento harmonioso entre si para que isso aconteça. 1.5 Terenas O grupo Terena está localizado nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo, com cerca de vinte e seis mil integrantes que tem contato direto com a população regional, na verdade, “considerado o grupo que mais 4 CONSELHO INDÍGENA DE RORAIMA. Raposa Serra do Sol : os índios no futuro de Roraima. Boa Vista : CIR, 1993. Disponível em https://cir.org.br/site/sobre-o-cir/ acesso em 15 de abril de 2022. 7 contato com a população brasileira no geral”5. Esse fato ocorre pois foram se introduzindo nos grandes centros como vendedores de rua ou trabalhadores nas grandes usinas de açúcar da região. Neste sentido, o Grupo de Índios Terena, são hoje muito conhecidos por Índios Urbanos ou aculturados. Infelizmente, vemos uma triste história deste grupo que foi simplesmente encurralado pelas grandes cidades, principalmente podemos destacar Campo Grande em Mato Grosso do Sul. Foi colocado à disposição da tribo resistir sua cultura e se integrar a uma nova realidade ou acabar-se, e mesmo em meio a pobreza, pois são grande parte pessoas com baixa renda nas cidades, sustentam a sua história e parte de seus costumes. A língua do grupo é de origem Aruak, é conhecida por todos Terenas, porém hoje, é a língua menos utilizada entre os povos Indígenas. É considerado um povo bilíngue, e é encontrado Jovens e Idosos que não falam o português de uma forma clara porém de fácil compreensão, mas todos falam muito bem a sua língua de origem caso seja necessário. Visando esse trabalho de conclusão de curso no qual tratamos da relação indígena com a lei brasileira, o grupo Terena é o mais belo exemplo ao fato de ainda ter uma cultura vigente e ser o grupo indígena que mais tem relação com a sociedade brasileira como um todo. E como saber e tratar esta situação nas normas brasileiras? O quanto de índio deve ser considerado para fazer parte do grupo dos inimputáveis? Questões que parecem simples, mas que causam bastante transtorno na justiça. 5 ITTENCOURT, Circe Maria Fernandes; LADEIRA, Maria Elisa. A história do povo Terena. Brasília : MEC ; São Paulo : USP/CTI, 2000. 156 p 8 1.6- Guajajaras A tribo Guajajara está localizada no Maranhão, nas margens da Amazônia, totalizando dez terras. Hoje, encontra-se cerca de vinte e sete mil integrantes. Os Guajajaras também podem ser chamados por sua outra denominação, Tenetehára que tem como significado o termo de serem todos seres humanos verdadeiros, o nome Guajajara não é possível ter um significado em si. A língua desse grupo pertence a língua Tupi-Guarani, com poucas modificações fazem parte da língua indígena mais famosa não só no Brasil mas também na América Latina. Chamam a sua língua de Ze' egete. Os conflitos mais pavorosos surgiram entre a década de 60 e 70, e meros anos de 80, com a expansão descontrolada de latifúndios no centro do Maranhão, esta sociedade indígena foi simplesmente aniquilada e como a maioria encurralada em seus pedaços de terras. Os Guajajaras praticam muito a cultura da lavoura, sua principal subsistência tanto para consumo e até como atividade econômica, entre os principais cultivos estão: mandioca, macaxeira, milho, arroz, abóbora, melancia, feijão, fava, inhame, cará, gergelim e o amendoim. A pesca não é de muito costume, porém os Guajajaras ribeirinhos também são desta prática. Uma grande Curiosidade é o cultivo de uma fruta com o nome dado pelos indígenas de Canapu, não é uma planta que tenha certa tipificação pelos cientistas, não se sabe se traz benefícios ou malefícios, porém, pelos Guajajaras é considerado sagrado, tanto que nas colheitas é o único fruto que fica intacto, retratando que era um alimento de seus tempos Místicos, e foi com a Deusa cultivada por eles, Maira, que começaram a agricultura, parando de comer esse fruto. 9 Os Guajajarasestão sempre perto de pontos de água, se não em rios, estarão em lagos e lagoas ao longo da mata fechada, e uma grande parte deles gostam também de ficar perto de beiras de estradas, a onde podem vender os seus artesanatos. As aldeias são construídas ao estilo camponês, e não é tudo um número certo de habitantes, pode ser uma família ou até quatrocentas pessoas. Uma das coisas mais impressionantes desta tribo é a proteção da mulher, que sempre se baseia no fato de se constituírem grandes grupos de mulheres parentes ou não, muitas até adotadas, protegidas por homens até conseguirem seus casamentos, é de lei própria da tribo, que o genro fique com seus sogros vivendo o dia-a-dia pelo menos um ano para que possa se casar com uma das mulheres da tribo. 10 2. O RESPEITO AO ÍNDIO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL Por toda a história que acompanhamos de nosso país, sabemos que os indígenas são os verdadeiros descobridores das terras brasileiras, na qual diversas tribos desenvolveram sua comunidade, sua cultura, seus costumes, conforme analisamos de uma forma breve no capítulo anterior. Nossa constituição Federal, a qual denominamos de carta magna, resguarda os direitos e deveres de todos os cidadãos componentes da sociedade brasileira trazendo a democracia, o respeito aos povos, a dignidade humana e a soberania dos cidadãos como pilares para o desenvolvimento do país, e encontramos em seu texto então, o Capítulo VIII, o qual leva por título “DOS ÍNDIOS”, mostrando que nossa sociedade tem dever de proteger e respeitar o povo que apesar de não ter uma grande proporção em nosso território, é o mais importante deste país, já que são eles que estão desde o princípio, protegendo, respeitando e vivendo desta terra. Como vemos no principal artigo da Constituição Federal no que tange aos povos indígenas: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.”6 6 Constituição Federal, Artigo 231º site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em dia 15 de abril de 2022. 11 A defesa dos bens indígenas sempre terá caráter permanente e imprescindível nas terras brasileiras de modo que possam ter uma vida digna, conforme parágrafo primeiro do mesmo artigo: § 1.º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.7 É comum vermos notícias, em nossos principais meios de comunicação, de conflitos entre indígenas e cidadãos que se dizem donos de terras, muitas vezes fazendeiros ou exploradores, como garimpeiros. No fim do último mês de abril, foi constatado diversas reportagens em que garimpeiros invadiram as terras indígenas do Vale do Javari, que fica localizado no extremo oeste do Estado de Amazonas. Foi constatado que a invasão ocorreu com diversas bebidas alcóolicas e drogas ilícitas, fazendo com que os garimpeiros praticassem até o crime de abuso sexual inclusive com menores de idade, como vemos em uma citação em rede social da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIJAVA): Garimpeiros invadiram a comunidade para realizar festa regada a gasolina com água e álcool etílico com suco, oferecido aos indígenas. Além disso, há relatos de crimes sexuais cometidos contra as mulheres 7Constituição Federal, Artigo 231º, parágrafo 1º site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em dia 15 de abril de 2022 12 indígenas”, informou a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), nesta quarta-feira, 20 de abril.8 No mesmo período, outra invasão também ocorreu na aldeia Karimaa, localizada no Estado do Pará. Os invasores armados tiveram praticamente os mesmos atos dos invasores das tribos do Vale do Javari, porém como as notícias se repercutiram de uma forma bastante branda, o IBAMA ( Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a Polícia Federal e a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) aplicaram uma força tarefa fazendo com que os garimpeiros fugissem da região das aldeias de Pará. Fora isto, nada foi feito e nenhum garimpeiro foi apreendido. Essas brigas, tratam de conflitos que levam a morte de pessoas de ambos os lados, digamos que hoje, é a principal guerra civil que existe em nosso país. De um lado, fazendeiros, com suas produções para sustento de suas vidas, neste momento, nem falamos em termos de valores econômicos, apenas sustento, e de outro, os povos indígenas da mesma forma brigando pelas terras e também o sustento de suas famílias. Fazendeiros dizem que a terra é deles, Índios dizem que chegaram primeiro e são terras demarcadas pela lei. E nesse caso o que parece ser complicado, simplesmente está em nossa carta magna. Pela nossa Constituição, vemos da forma mais clara possível no Parágrafo segundo do artigo 231: 8PAJOLLA, Murilo. Indígenas denunciam invasão de garimpeiros e relatam abusos sexuais no Amazonas. 2022, disponível em https://www.brasildefato.com.br/2022/04/20/indigenas-denunciam-invasao-de-garimpeiros- e-relatam-abusos-sexuais-no-amazonas. Acesso em 01 de maio de 2022. 13 § 2.º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.9 E também vemos no parágrafo quarto e logo em seguida no parágrafo quinto do mesmo artigo: “§ 4.º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.” No parágrafo quarto transcrito acima, vemos que das terras indígenas serem inalienáveis e indisponíveis, e seus direitos imprescritíveis, se dá pelo fato destas terras serem do domínio da União. O doutrinador José afonso da Silva diz:, “desta forma cria-se uma propriedade vinculada ou propriedade reservada com o fim de garantir os direitos dos índios sobre ela.”10 A questão da terra parece que será algo sempre a ser discutido, parece que a evolução de nossa espécie nos apreendeu a ideia da posse para ser digno em uma sociedade, o direito a terra se tornou algo primordial para a dignidade humana, todos querem ter o seu espaço para poder viver e prosperar. Se formos pensar, tudo em nossa história se dá a partir de conquistas de territórios. Desde de a era dos Homo Sapiens, já combatiam para estabelecer os seus espaços. Claro que com os povos indígenas não seria diferente, e por isso a maioria dos artigos no que se diz ao respeito do povo indígena, se baseiam na demarcação de território, para que possam ter as suas vidas como bem entender. Um simples fato que pode realmente desmoralizar uma pessoa e até tirar a vontade de viver 9 Constituição Federal, Artigo 231º, parágrafo 2º site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em dia 15 de abril de 2022. 10 SANTILLI, Juliana (Coodenadora da obra). Os Direitos Indígenas e a Constituição, página 46. 1993. São Paulo-SP, Editora SAFE. 14 é o ato do despejo de seu lar, ser jogado para as margens da sociedade, um ser sem espaço, sem o território não fará jus a sua vida e sua cultura. O respeito as culturas, o respeito as terras são fundamentais para que um povo tenha uma vida próspera, e para completar este estado de prosperidade, o respeito jurídico, finda muitas questões. Respeito jurídico se baseia no ato da análise de um determinado povo para que desta formaas normas jurídicas se adequem e assim para termos um dos principais pilares da constituição que é a soberania de todos os cidadãos brasileiros. Neste intuito surge antes mesmo da nossa carta magna atual, em 1973, a promulgação do Estatuto do Índio, para ser mais exato, no dia 19 de dezembro de 1973. Um detalhe bastante atenuante é que neste período estávamos em plena Ditadura Militar no Estado brasileiro, mas vamos discutir isto no próximo capítulo. 15 3. DO ESTATUTO DO ÍNDIO O Estatuto do índio, lei 6.001 de 19 de dezembro de 1973 já estabelece em seu artigo 1º a sua finalidade, vejamos: Esta lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão universal.11 3.1 O Estatuto do índio na Ditadura Militar Declarando os Direitos e Deveres dos indígenas, o Estatuto do Índio surgiu perante ao fato de a Constituição da época, no caso a de 1967, chamada de Consolidação do Regime Militar que teve emendas até 1969, não tratar dos assuntos indígenas, deixando uma abertura muito vasta do assunto. Trata-se de um período muito delicado da história brasileira, pois apesar de ter sido um fato histórico e de suma importância, pois utilizamos o estatuto até os dias de hoje, tudo ocorreu durante a ditadura militar, mostrando o quanto o governo tinha um ar de hipocrisia devastando os povos e terras indígenas e fazendo leis para que todos vivessem harmoniosamente. Tendo como pretexto grandes obras na região amazônica para a evolução do país, povos não tão conhecidos, como os Waimiri Atroari foram simplesmente bombardeados causando um verdadeiro genocídio. Isso ocorreu em 1974 e temos 11 BRASIL, Lei Nº 6.001, De 19 de dezembro de 1973, ESTATUTO DO ÍNDIO, art 1º, site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm, acesso em 02 de maio de 2022 16 relatos como o do indigenista Egydio Schwade, um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário: Pelo meio-dia, um ronco de avião ou de helicóptero se aproximou. O pessoal saiu da maloca para ver. A criançada estava toda no pátio para ver. O avião derramou como que um pó. Todos menos um foram atingidos e morreram.12 Este pó, se tratava-se de um veneno que dizimou a tribo, mostrando que o governo da época não tinha o mínimo de interesse na ideologia indígena e que o Brasil necessitava crescer economicamente, com a cultura do agronegócio. Por sinal, muito parecido com os dias atuais, quando vemos a lei que aprovam agrotóxicos proibidos em todos os países, lei 6299/02 e até a lei 2510/19 que alterou o licenciamento de quem e como poderá ser feito o desmatamento que contribuirá para o fim de uma área verde de cerca de 170 mil km², tudo também pelo apoio ao agronegócio. Apesar desta hipocrisia de ao mesmo tempo se criar uma norma com direitos deveres para o povo indígena, também tentar dizimar tal sociedade, o que nos importa no momento é que as leis foram aprovadas e valem até os dias de hoje e são fundamentais para a concepção desta monografia. 12 DAMASIO, Kevin, Ditadura militar quase dizimou os waimiri atroari – e índígenas temem novo massacre, National Geographic, 2019, disponível em https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2019/04/ditadura-militar-waimiri-atroari- massagre-genocidio-aldeia-tribo-amazonia-indigena-indio-governo, acesso em 05 de maio de 2022 17 3.2 Os direitos e deveres consagrados no Estatuto do Índio Voltando ao ano de 1976, o Estatuto do índio foi criado, suas terras meramente demarcadas e foram meramente integradas as normas da sociedade brasileira, tendo as suas classificações, vejamos. Os Índios isolados, são considerados os grupos que não se tem conhecimento e que se obteve pouquíssimo contato com a área Urbana brasileira e sua comunhão nacional. Os índios em vias de integração, são os que já estabelecem contatos com a comunhão nacional, porém ainda vivem de seus costumes e normas da sua tribo, porém já aceitando também as ações das normas brasileiras. Os integrados levam essa denominação, pois pelo próprio termo, já estão integrados na sociedade e comunhão nacional, ainda conservam a sua cultura, porém obedecem e seguem completamente as normas brasileiras. Percebemos, que dentro destes termos muito se fala da comunhão nacional, para melhor entendermos, apresentamos o seu significado, a comunhão nacional, nada mais é do que a sociedade civil não indígena, que segue absolutamente as normas brasileiras em pleno entendimento. Realmente muito complicado em se dizer que o estatuto do índio não busca o respeito e a harmonização entre os povos, basicamente todos os artigos citam esses princípios que realmente são primordiais para o convívio em sociedade. O artigo 2º do Estatuto do índio, o artigo com mais incisos, em uma comparação, poderíamos dizer que seria um Parágrafo 5º da Constituição Federal, ao que se trata de deveres da federação com os índios, no que tange a proteção dos povos, a assistência aos índios que ainda não são integrados na comunhão 18 nacional, o cuidado para o desenvolvimento dos povos tendo o respeito como carro chefe, a garantia do seu habitat e a posse das terras, a execução de projetos e programas para beneficiar a comunidade indígena, e a garantia dos direitos políticos civis e políticos dos índios. Estes são os temas ditos no artigo 2º, os quais são mais adentrados nos artigos e capítulos seguintes, ao todo são sessenta e oito artigos divididos em sete títulos: Dos princípios e definições, Dos direitos civis e políticos, Do registro civil, Das condições de trabalho, Das terras dos Índios, Dos bens e Renda do Patrimônio indígena, Da educação Cultura e saúde, Das normas Penais, Das Disposições Gerais. 3.3 Das normas penais no Estatuto do Índio O Estatuto do índio, em seu título sexto, dividido em dois capítulos, diz a respeito das Normas Penais e a sociedade indígena, sendo fundamental destrincharmos estes artigos para falarmos sobre a imputabilidade indígena dentro das normas brasileiras. Começamos então com o 56º artigo, que começa falando dos princípios, capítulo I: Art. 56. No caso de condenação de índio por infração penal, a pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o Juiz atenderá também ao grau de integração do silvícola. Parágrafo único. As penas de reclusão e de detenção serão cumpridas, se possível, em regime especial de semiliberdade, no local de 19 funcionamento do órgão federal de assistência aos índios mais próximos da habitação do condenado.13 Primeiramente, vemos que o artigo cita as infrações penais conforme o Código Penal brasileiro, e que no momento da condenação o Juiz analisará o que chamamos no subcapítulo anterior de “grau de índio”, que se dividem em Isolados, em via de Integração e Integrados. Ou seja, vemos que na prática do crime, caso o indígena não esteja em plena comunhão nacional, sua pena poderá ser reduzida ou ele poderá ser considerado inimputável, já que não tem o pleno conhecimento das normas brasileiras. Vemos também no parágrafo único do mesmo artigo, que a forma de cumprimento de pena também será diferente, sendo da forma de semiliberdade e em regime especial, no local de funcionamento do órgão federal de assistência aos índios mais próximo da habitação do condenado, ou seja, não irá para uma prisão comum, dependendo do entendimento do juiz ao que tange sobre o “grau de índio”. Falaremos nos próximos capítulos sobre esse entendimento do Juiz que em diversos casos, infelizmente por formas equivocadas, não está ocorrendo da maneira justa, prejudicando o cumprimento das normas brasileiras. No artigo 57º vemos sobre as leis penais das próprias tribos indígenas que também possuem, de certaforma, uma constituição própria. Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os 13 BRASIL, Lei Nº 6.001, De 19 de dezembro de 1973, ESTATUTO DO ÍNDIO, artigo 56º, site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm, acesso em 02 de maio de 2022 20 seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.14 Como já dito, o artigo faz jus as tribos com legislação própria, e respeita as decisões indígenas desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibindo em qualquer caso a pena de morte. O que também será analisado nos próximos capítulos, pois a partir do momento em que na nossa constituição federal, nossa carta magna, diz sobre o respeito a cultura indígena de forma geral e plena, vemos um atrito que pode causar algumas desavenças dentro da justiça. No capítulo segundo do Título Das Normas Penais, vemos sobre os crimes que são cometidos contra os índios, que, como já foi muito dito nesta monografia e ainda será, não são poucos. Temos um caso bastante recente que foi interposto nos principais meios de noticias do Brasil, que trata de estupro de mulheres e menores vulneráveis da tribo Ianomâni, por garimpeiros que estão invadindo suas terras em Roraima. “Foi constatado que o garimpo nessa região cresceu 46% durante o ano passado”.15 14 BRASIL, Lei Nº 6.001, De 19 de dezembro de 1973, ESTATUTO DO ÍNDIO, artigo 57º, site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm, acesso em 02 de maio de 2022 15 NOGUEIRA, Carolina, Garimpo ilegal em terras Yanomami aumentou 46% em 2021, MSN, 2022, Disponível em https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/garimpo-ilegal-em- terras-yanomami-aumentou-46-25-em-2021/ar AAWdwma#:~:text=Veja%20as%20maiores%20extravag%C3%A2ncias%20dos%20famoso s%21%20A%20atividade,hectares%20foi%20superada%20ainda%20em%20setembro%20de %202021. Acesso em 02 de maio de 2022. 21 O artigo 58º diz: Art. 58. Constituem crimes contra os índios e a cultura indígena: I - escarnecer de cerimônia, rito, uso, costume ou tradição culturais indígenas, vilipendiá-los ou perturbar, de qualquer modo, a sua prática. Pena - detenção de um a três meses; II - utilizar o índio ou comunidade indígena como objeto de propaganda turística ou de exibição para fins lucrativos. Pena - detenção de dois a seis meses; III - propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e a disseminação de bebidas alcoólicas, nos grupos tribais ou entre índios não integrados. Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. As penas estatuídas neste artigo são agravadas de um terço, quando o crime for praticado por funcionário ou empregado do órgão de assistência ao índio.16 Neste artigo, tratando dos crimes cometidos contra os índios, vemos no seu primeiro inciso a palavra “escarnecer”, que seria o núcleo do tipo penal. Seu significado está mais apropriado no sentido de “zombar”, “ridicularizar”, vem do ato de fazer escárnio. Por mais que parece um inciso que não deveria existir, pois o respeito a cultura já está previsto na constituição federal, nunca é demais ressaltar que atitudes de desrespeito aos ritos, costumes, usos e tradições culturais indígenas, não serão toleradas. No segundo inciso, vemos a atitude do turismo em utilizar os índios para ter um fim lucrativo, também se trata de crime contra o índio, e claramente é algo 16 BRASIL, Lei Nº 6.001, De 19 de dezembro de 1973, ESTATUTO DO ÍNDIO, artigo 58º, site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm, acesso em 02 de maio de 2022. 22 que gera bastante desconforto as comunidades indígenas. Colocando-nos no mesmo prisma, é o mesmo de um grupo comprar uma visita turística para visitar sua residência, muitas vezes sem que você saiba, e começarem a falar como vivemos, como descansamos, como trabalhamos e tudo mais, seria no mínimo constrangedor, além de ter alguém faturando por cima disso que no caso não seremos nós. O estudo e a compreensão da cultura indígena é de extrema importância, porém a principal base das nossas normas sobre essa tangente sempre será o respeito. No terceiro inciso vemos o verbo “propiciar”, que teria como sinônimo “facilitar, conceder”, bebidas alcoólicas aos grupos indígenas que não são integrados a comunhão nacional. É claro que as tribos indígenas não integradas também possuem as suas drogas, os seus alucinógenos e relaxantes, isso sempre teve na humanidade, porém, não podemos empregar nada a eles, estaríamos modificando sua cultura e seus costumes, além de não sabermos o que pode acarretar o consumo de álcool desses povos, com organismos completamente diferentes dos brasileiros de comunhão nacional. As bebidas alcóolicas, como todos produtos, que são comercializadas no país passam pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para saber o que pode carretar a saúde e criam- se regras para a comercialização, e no caso das bebidas alcóolicas, criam-se até campanhas, também pelo Ministério da saúde para evitar o consumo excessivo de álcool. Como não é de alçada das leis brasileiras normalizar a cultura dos povos indígenas não integrados, não podemos fornecer as bebidas alcoólicas para eles. O que se torna bastante intrigante, é o fato do inciso terceiro, tratar apenas das bebidas alcóolicas. E os cigarros? Refrigerantes? Doces industrializados? Outras comidas industrializadas? E se for fornecido comidas instantâneas com alto número de sódio para estes povos indígenas e num futuro trazer problemas de saúde para estas pessoas? Algo que precisa ser melhor analisado do porquê o 23 inciso não trata a situação da seguinte forma a seguir: “Propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e a disseminação de produtos industrializados e/ou comercializados na comunhão nacional, nos grupos tribais ou entre índios não integrados.” Porém, neste prisma, também há de se falar na igualdade entre os povos. Será que é certo policiar os povos indígenas do que eles podem ou não consumir? Vemos muito da doutrina que isso acaba afetando o Estado de Direito dos povos tribais indígenas e não acaba sendo uma solução para a saúde pública, já que o número do mercado negro de bebidas alcoólicas aumenta a cada ano nas tribos trazendo ainda mais risco a comunidade, já que não se sabe a procedência dessas bebidas. Até mesmo as lideranças indígenas não são de acordo com o disposto no inciso: É importante ressaltar que esse dispositivo legal não goza de popularidade mesmo entre lideranças indígenas, principalmente porque costuma ser associado ao regime tutelar, historicamente adotado pelo Estado brasileiro, considerado anacrônico por atribuir ao índio a condição de juridicamente incapaz.17 As doutrinas que trabalham na defesa do dispositivo, dizem que as tribos indígenas já possuem as suas próprias bebidas, e desta forma, acaba-se proporcionando uma alteração nos seus costumes e culturas, com o oferecimento de bebidas desconhecidas por ele. Mas grande preocupação mesmo, está baseada na saúde pública, referente ao consumo excessivo de álcool, principalmente por 17 PERSCH, Hudson Carlos Avancini, A proibição de aquisição, uso e disseminação de bebidas alcoólicas aos povos indígenas, Jus.com.br, 2019, disponível em https://jus.com.br/artigos/73594/a-proibicao-de-aquisicao-uso-e-disseminacao-de-bebidas- alcoolicas-aos-povos-indigenas, acesso em 08 de maio de 2022. 24 mulheres e idade fértil, trazendo risco no nascimento de novos integrantes da tribo. Existem tantos argumentos e teses contra o dispositivo, como a favor, todas tem os seus pontos de vista importante, o correto seria que essa discussão fosse feita com integrantes de tribos, para que se possa ter um acordo em comum, paradesta forma, não afetar o Estado de Direito Indígena. O principal ponto de discussão desta monografia é que estamos passando por um momento, que não é de agora, podemos relatar até antes da Ditadura interposta no Brasil, em que o índio não é ouvido, simplesmente se faz normas, atrás de normas buscando o respeito da etnia, porém com pouca integração do índio nas discussões, neste momento estão falado apenas das bebidas alcoolicas, que acaba, na teoria, sendo até algo supérfluo em meio a tantos direitos indígenas que são interpostos por não-índios mais importantes para uma vida digna em sua terra. Vamos ao artigo 59º do Estatuto do Índio: ART 59. No caso de crime contra a pessoa, o patrimônio ou os costumes, em que o ofendido seja índio não integrado ou comunidade indígena, a pena será agravada de um terço. 18 Este artigo diz a respeito dos crimes que ocorrem contra os índios que são considerados pelo juízo como não integrados, neste caso a pena terá um aumento de um terço. 18 BRASIL, Lei Nº 6.001, De 19 de dezembro de 1973, ESTATUTO DO ÍNDIO, artigo 59º, site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm, acesso em 02 de maio de 2022. 25 Agora vamos as ponderações. Ainda o que se torna intrigante é o fato deste baseamento do juízo, se torna uma linha muito tênue do índio integrado para o índio não integrado, sempre acabará tendo decisões que índios integrados serão considerados não integrados e vice-versa, acaba se criando uma lacuna na lei para que se possa fazer várias teses de defesa para o réu que praticou o crime. E claro, que como estudantes de Direito, em nossa sociedade, precisamos buscar o máximo da justiça. Partimos de um ponto que não seria o juízo que teria condições para avaliar esta situação de integração e quem fará isto será um perito. Para todas as questões legislativas se tornarem mais práticas, seria necessário que o prévio cadastro indígena, pela FUNAI (Fundação Nacional do índio), constatasse, como um CPF indígena, se trata de um índio integrado ou em fase de integração, para assim poder ser julgado. Os índios não integrados não teriam esse cadastro, até porque como o próprio termo retrata, eles não estão em comunhão nacional. E desta forma partirmos para outro ponto que seria o índio integrado não realizar o cadastro e se considerar um índio não integrado, mas, desta prerrogativa, ele mesmo que está cometendo uma fraude que poderá ser analisada por seus costumes e vida cotidiana, e neste caso entraria a perícia. 26 4. FUNAI (FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO) Como citado em alguns trechos nos últimos capítulos, analisamos que é de suma importância falar sobre esse órgão que, ao se tratar do índio no Brasil, faz muito parte desta história. A Fundação Nacional do índio é o órgão indigenista oficial do Brasil, visando sempre a proteção dos direitos indígenas, seguem os princípios que adentram na lei brasileira junto com os princípios dos povos tribais, lutando para que sempre ocorra a harmonia dentro da sociedade brasileira. A FUNAI foi criada em 5 de dezembro de 1967, seis anos antes do Estatuto do Índio, também em período de Ditadura Militar, antes, o órgão que prestava assistência aos indígenas se chamava Serviço de Proteção ao índio, criado em 1910, o qual se envolveu em muitas polêmicas nacionais e internacionais, com acusações de corrupção, genocídio de povos indígenas e uma assistência bastante rasa para os índios. Surgindo de forma marginal no governo da época, que concentrava o crescimento do país pelo interior, a FUNAI, após passar pelos anos sombrios da ditadura, foi de extrema importância, na década de 80, período da democratização, junto com o Estatuto do índio, para organizar a sociedade indígena e lutar pelos seus direitos previstos hoje principalmente em nossa Constituição. 4.1 Deveres da FUNAI De suma importância, um dos deveres da Funai é a demarcação das terras indígenas, pelo decreto nº 1775/96, o limite e a demarcação das terras serão propostos, resguardando o patrimônio indígena, sendo que como já vimos, essa demarcação também está prevista na nossa Constituição Federal, no seu artigo 27 231º. Desta forma, é melhor assegurado as invasões e ocupações por não-índios. Um dos principais projetos da FUNAI, em 1996, levou o nome de PPTAL (Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal), junto com o programa piloto de conservação das florestas tropicais no Brasil (PPG7). Junto com a tribo Wajãpi, localizada no Amapá, também foi criado um projeto chamado Demarcação Participativa, que tem a ideia de junto com os povos indígenas, desenvolver e formular políticas que os afete de forma direta, para que desta forma, as normas brasileiras se adequem cada vez mais a cultura índigena. Em 2001, também foi criado o projeto PDPI (Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas), também em parceria com o PPG7, e orientado pelo Ministério do Meio Ambiente, tem como base o financiamento de iniciativas para que ocorra um maior desenvolvimento na valorização da cultura indígena, e ter como base que quem cuidaria deste desenvolvimento, seriam os próprios membros indígenas e os órgãos parceiros. 4.2 Cenário da FUNAI nos dias atuais De 1967 à 2017, ou seja, cinquenta anos, o órgão teve quarenta presidentes diferentes. Hoje temos na presidência da FUNAI, Marcelo Augusto Xavier da Silva, indicado pela a presidência do Brasil Atual. Bastante indagado a escolha, já que Marcelo Xavier, é altamente ligado pelos principais ruralistas do país, esses que, têm muito interesses econômicos nas Terras indígenas e suas demarcações. Em seu mandato, até agora, nenhuma terra Indígena foi demarcada, isso nunca aconteceu na história da FUNAI, soma-se em 18 de novembro de 2021, vinte e sete áreas indígenas que precisam ser demarcadas, o equivalente a uma área de 832 mil hectares, e o garimpo está sendo bastante instigado nas demarcações, trazendo muita violência entre Índios e não-índios. O atual presidente da FUNAI 28 é réu em diversos processos e em audiência na Câmara dos Deputados em agosto de 2021 disse uma frase impactante para um membro que deveria proteger a comunidade indígena brasileira: “Muito me orgulha essa alegação de que sou ligado ao setor ruralista que coloca arroz e feijão na mesa dos brasileiros”.19 19 GONÇALVES, Eduardo, Pela obediência a Bolsonaro, presidente da Funai se torna réu, e fundação acumula processos, 2021, Disponível em https://oglobo.globo.com/brasil/pela- obediencia-bolsonaro-presidente-da-funai-se-torna-reu-fundacao-acumula-processos- 25281298 acesso em 06 de maio de 2022 29 5. IMPUTABILIDADE PENAL INDÍGENA A imputabilidade indígena parte do prisma que índio, por ser de uma cultura diferente da comunhão nacional, talvez não conheça o ato ilícito praticado, e desta forma não sendo considerado a formação do crime. Vamos aos conceitos para que o assunto seja melhor explanado e discutido. 5.1 Da Imputabilidade Dentro da nossa legislação penal brasileira, representada principalmente pelo código penal criado em 7 de dezembro de 1940, existe a questão da imputabilidade, princípio que deve ser respeitado e analisado na questão do polo ativo da norma, ou seja, de quem está praticando o crime previsto na lei. Encontrada no artigo 26º do nosso código Penal, vemos a inimputabilidade penal: Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimentomental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)20 20 BRASIL, DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940, Código Penal, artigo 26º, site do Planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm , acesso em 03 de Maio de 2022 30 Uma pessoa inimputável, é aquela que de certa forma não possui o total discernimento para saber o que está praticando, e não tem a ideia que aquilo trata- se de um crime previsto em nossa norma penal brasileira. Este é o principal meio a ser observado, pois se a pessoa não tem o conhecimento do que é lícito e o que é ilícito, ela não pode ter sua culpabilidade julgada. A imputabilidade penal diz a respeito da culpabilidade, o que não se pode confundir com responsabilidade, a pessoa mesmo que imputável pode ser considerada responsável pelo crime e responde-lo, o que mudará será a pena. Com base na Teoria finalista da ação, criada por Hans Welzel em 1930 podemos dividir a culpabilidade em duas faces, a primeira podemos dizer da questão intelectual, tratando de que forma a pessoa a ser julgada enxerga os fatos que acontecem no nosso dia-a-dia, e o conhecimento que ela tem do mundo em que vivemos, e a segunda face analisemos a questão volitiva, ou seja a vontade, mostrando que a pessoa não queria praticar o ato que cometeu, e desta forma sua culpa não será tida como fato legal. 5.2 Situações de imputabilidade perante o Código Penal Não havendo uma definição em lei sobre a imputabilidade penal, é apresentado as causas que se encaixam no perfil de inimputabilidade, que se baseia nas doenças mentais, no baixo desenvolvimento ou na deficiência mental, podendo ser por situação biológica, ou por intermédio de alguma substância química que fez com que a pessoa ficasse nesta situação de forma acidental ou por ato criminoso de outrem. O Código Penal Brasileiro divide a imputabilidade em três condições, a imputabilidade, ou seja, as pessoas com total autodeterminação sabem o que é 31 legal e o que é ilegal e, portanto, a elas são atribuídos os crimes cometidos. A segunda envolve uma pessoa semi-imputável, com ou sem patologia, avaliando se a pessoa tem capacidade de autodeterminação no momento do crime e, por fim, a pessoa não imputável que não tem capacidade de autodeterminação. Determinar que, seja por uma patologia de qualquer natureza que afete o seu discernimento e não permita a autodeterminação, seja pela idade, estes e os considerados semi- imputável recebam medidas de segurança, que incluem tratamento para a patologia, e são condições se aplicam aos menores que não são punidos, mas são medidas socioeducativas voltadas à educação e ressocialização. 5.3 A Imputabilidade e os Indígenas Tratando da imputabilidade indígena, no caso, entraríamos no conceito intelectual da culpabilidade, sendo desta forma, não querendo dizer que o indígena não tem intelectualidade, aliás muito pelo contrário, o que ocorre é a intelectualidade dele ser diferente dos conhecimentos da comunhão nacional. Entramos neste contexto, pois como está transcrito no artigo 26º do Código Penal incompleto, ele apenas está enquadrado em outra cultura e tem outros costumes. Em teoria pelo Código Penal, nenhum índio é inimputável. O código Civil de 1916, em seu artigo 6º, parágrafo 3º, dizia sobre o índio como uma pessoa incapaz, o que mudou no código de 2002, não tratando o índio desta forma, e sim como apenas alguém com etnia própria. Desta forma, analisando o antigo Código Civil, o índio entraria perfeitamente no artigo 26º do Código Penal por ser Incapaz, porém hoje, apesar de vermos a capacidade indígena de entendimento de sociedade, até de índios considerados não 32 integrados, não se pode julgar da mesma forma, existem jurisprudências, que veremos mais a frente tratando desta situação. O que transcende e coloca régua para análise sobre inimputabilidade indígena é a convenção número 169 da OIT, Organização Internacional do Trabalho, que em seu Artigo 8.1 diz: “ Na aplicação da legislação nacional aos povos interessados, seus costumes ou leis consuetudinárias deverão ser levados na devida consideração”. E logo em seguida, também para ser melhor analisado, os artigos 9º; 10º; 11º falam desta situação: ARTIGO 9 1. Desde que sejam compatíveis com o sistema jurídico nacional e com direitos humanos internacionalmente reconhecidos, os métodos tradicionalmente adotados por esses povos para lidar com delitos cometidos por seus membros deverão ser respeitados. 2. Os costumes desses povos, sobre matérias penais, deverão ser levados em consideração pelas autoridades e tribunais no processo de julgarem esses casos. ARTIGO 10 1. No processo de impor sanções penais previstas na legislação geral a membros desses povos, suas características econômicas, sociais e culturais deverão ser levadas em consideração. 2. Deverá ser dada preferência a outros métodos de punição que não o encarceramento.21 21Convenção nº 169 da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais (adotada em Genebra, em 27 de junho de 1989; aprovada pelo Decreto Legislativo nº 143, de 20 de junho de 2002; depositado o instrumento de ratificação junto ao Diretor Executivo da OIT em 25 de julho de 2002; entrada em vigor internacional em 5 de setembro de 1991, e, para o Brasil, em 25 de julho de 2003, nos termos de seu art. 38; e promulgada em 19 de abril de 2004) . 33 Para saber se o índio será responsabilizado por um crime, e se deve ser responsabilizado, é necessário determinar se, de acordo com sua cultura, costumes e tradições, se ele entende a natureza ilegal de um ato que é considerado crime por lei. O nível de contato de um indivíduo pertencente a um povo indígena com a sociedade envolvente não importa, mas determina se ele entende no momento do ato que é considerado ilegal fora de sua cultura e, portanto, punível, fora de seu direito consuetudinário. Desta forma, entramos na questão dos graus indígenas transcritos no Estatuto do índio; índios não integrados, índios em fase de integração e índios integrados, verificando que a inimputabilidade se encaixará aos indígenas não integrados, sem conhecimentos das normas brasileiras. Novamente, grifando o mais importante, que se transforma no grande causador de problema, é a verificação do grau de índio, o fato de que antes do julgamento do crime, é o julgamento de seu grau perante comunhão nacional, tendo em vista que, se o indígena for considerado integrado, terá que cumprir com seus deveres, mas também terá que ser estabelecidos os seus direitos que nesses casos de dúvidas de grau, muitas vezes não são respeitados, pois são índios que até podem ter conhecimento de nossa sociedade, porém vivem em situações precárias, sem a devida assessoria que é imposta tanto na constituição federal, quanto no Estatuto do índio. 34 6. O INFANTICÍDIO INDÍGENA E SUA IMPUTABILIDADE O Infanticídio, vindo do latim como infantcidium, é objeto a muito tempo na história da humanidade, sempre tendo como base a morte da criança na sua fase recém nascida ou em seus primeiros meses de vida O infanticídio é o crime previsto no artigo 123º do Código Penal Brasileiro, e se baseia no ato da mãe eliminar a vida do filho no momento do nascimento ou logo após o parto, sob a influência do estado puerperal, que é estado pós-parto no qual a mãe está expulsando a placenta do seu corpo e seu organismo voltará ao normal aos poucos, período este, que pode durar de três a sete dias: “Artigo 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após; Pena – detenção, de 2 a 6 anos.”22 Muito se estuda sobre este crime, pois envolve circunstâncias diversas, ecoloca em xeque a situação da mãe não estar em seu estado comum, e por mais que não pareça, é um crime que ocorre corriqueiramente e é muito discutido, já que a norma deixa um pouco de dúvida sobre o que seria esse período de “logo após o parto”, sendo que o Estado puerperal pode ocorrer de três a sete dias após o parto. O infanticídio dentro da cultura indígena, acaba se tornando algo mais vasto ainda. Como vimos, este conceito não é algo que apareceu no último século, e ocorreu em diversos períodos da humanidade, cada época com suas culturas e 22 BRASIL, DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940, Código Penal, artigo 123º, site do Planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del2848compilado.htm , acesso em 03 de Maio de 2022 35 decisões diferentes, isso é o que acontece também em algumas tribos indígenas, inclusive brasileiras, que não são integradas à comunhão nacional. Tratando do respeito e da imputabilidade indígena perante as normas brasileiras, precisamos analisar a questão do infanticídio indígena já que entramos na discussão do respeito a cultura das tribos, com previsões na constituição federal e também no estatuto do índio, mas também precisamos levar em consideração o direito a vida que da mesma forma é colocado em nossa carta magna, no artigo 5º, caput: Art.5º, Caput- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes;23 Lembrando que o artigo cita “aos brasileiros e residentes no País”, ou seja, também colocando em caso os índios não integrados. E o direito à vida, é a base de nossa sociedade como um todo, sendo o primeiro princípio citado no artigo 5º da constituição Federal e também sendo reconhecido em diversos tratados internacionais, como por exemplo o Pacto Internacional de Direitos Civis e políticos de 1992, em seu artigo 6º, cita: “O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser protegido pela lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.”24 E também vemos na Declaração Universal 23Constituição Federal, Artigo 5º, caput. site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em dia 16 de abril de 2022. 24 BRASIL, DECRETO Nº 592, DE 6 DE JULHO DE 1992. Atos Internacionais. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. Promulgação. Site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm. Acesso em 15 de maio de 2022 36 dos Direitos Humanos aprovada pela ONU no ano de 1948 dizendo em seu primeiro artigo: “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”25 O Infanticídio indígena, ocorre hoje em ao menos vinte tribos brasileiras identificadas, o ato é praticado em casos nos quais a criança indígena nasce de uma mãe solteira, em casos de doenças não conhecidas pela tribo, em casos de deficiências mentais ou físicas, entre outros aspectos. Baseando em um assunto de certa complexidade como o infanticídio indígena, podemos adentrar sobre o relativismo ético cultural, levando em consideração a ampla diversidade de culturas que existem em nossa sociedade, e que não é simples o fato de você modificar esta cultura, que também é amparada por lei, porém em nossa concepção, o direito existe até o momento que não é infringido o direito de outrem, visando a proteção de cada indivíduo. A questão do relativismo ético também adentra no fato de nossas leis serem criadas para o nosso mundo que no caso, “o mundo ocidental” que vivemos nos transmite o que seria ético para nós, o que seria justo ou injusto, e o que devemos cumprir de deveres como cidadãos. Desta mesma forma, cada tribo indígena tem os seus conceitos, que olhando de forma externa pode nos causar bastante estranheza, da mesma forma a visão destes perante nós. Agora entramos na nossa lei propriamente citada no começo do capítulo, ao dizer que, para ocorrer o crime de infanticídio temos como base o estado 25DECLARAÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS. Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10 de dezembro 1948. Site da UNICEF, https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos- humanos. Acesso em 08 de maio de 2022. 37 puerperal e o fato de ser a própria mãe que praticará o ato, então, a etimologia da palavra infanticídio, perante nossa lei, não se baseia apenas ao homicídio de uma criança, envolve esses fatores já ditos, logo, se dentro das tribos indígenas, não ocorrer exatamente desta forma do artigo 123 do Código Penal, trataremos como homicídio comum, artigo 121º do Código Penal: “Matar alguém; Pena - reclusão, de seis a vinte anos.”26 Baseando neste fato, o infanticídio indígena em nosso código penal, seria tido como homicídio, pois o crime visto por nós, nas tribos, além de não ser praticado pela mãe, e sim por outros membros da tribo, também é inexistente a questão do Estado Puerperal. No estudo então, a questão do infanticídio indígena tem como significado, o homicídio de crianças que de certa forma não são consideradas, pelos membros, aptas para viver na sociedade de determinada tribo. 6.1 Casos de infanticídio indígena Dentro das tribos que tratam com normalidade o ato praticado em termos de homicídio de crianças, encontramos a tribo Kamayurá, com maior parte localizada no Parque do Xingu, no estado do Mato Grosso. É cometido o crime, visto por nós, nos casos onde ocorre o nascimento de gêmeos, crianças com problemas físicos, que na tribo, por sua língua, são chamadas de “crianças defeituosas”, e nos casos nos quais a mulher não possui um marido ou ele está 26BRASIL, DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940, Código Penal, artigo 26º, site do Planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del2848compilado.htm acesso em 03 de Maio de 2022. 38 ausente por um longo período, é praticado o aborto. Outro fato que também causa o homicídio de crianças dentro da tribo é o controle populacional, que devido a sua crença deve ser proporcional o número de crianças e jovens, adultos e idosos. Na tribo Arawá que está localizada no Rio Puros na região amzônica, as mulheres no momento do parto, partem em floresta adentro para que ocorra o nascimento do filho, após o nascimento, verificam se o recém-nascido, em sua teoria, nasceu de “forma perfeita”, caso é visto alguma irregularidade em relação aos seus conceitos, o nascituro é abandonado no próprio local de nascimento, ou o homicídio é cometido no mesmo momento. Quando falamos da tribo Suruwaha, eles têm como forma a prática do infanticídio, já que para eles, qualquer meio de sofrimento, principalmente físico não torna uma vida plena, desta forma não é propício viver, além de que o nascituro advindo de uma mãe solteira, não será aceito perante a sociedade dos Suruwaha, logo para eles, o melhor meio de escolha é o infanticídio. Também encontramos o infanticídio na tribo Yanomani, pelos motivos já citados, como deficiências físicas, casos de mães solteiras, e nascimento de gêmeos, a menos que sejam de sexo oposto, também ocorre o sacrifício do nascituro. O que parecia muito difícil de se encontrar no Brasil, em poucos parágrafos mostramos que não, o homicídio de crianças nascituras é muito encontrado nas tribos indígenas brasileira, sendo que citamos os casos mais expostos, levando em consideração o numero de tribos até desconhecidas que existem em nosso país. Diante deste fato, mesmo analisando o respeito que devemos ter aos indígenas, previstos nas normas brasileiras, principalmente na constituição Federal e no Estatuto do índio, temos que levar em consideração o Direito à Vida 39 também previsto em nossaCarta Magna. Não podemos deixar que tais homicídios de incapazes continuem em nosso país, é necessário conversar com líderes indígenas, estabelecendo um conselho junto com a FUNAI para que desta forma seja discutido e acordado um meio para que os nascituros considerados indecentes pelas tribos tenham direito à vida. Uma cultura não pode validar se uma pessoa deve nascer ou viver, ainda mais um ser cidadão que ainda não consegue ter a mínima noção dos seus atos e deveres. Problemas que, de certa forma, muito dificilmente serão resolvidos com uma brevidade, já que não conseguimos se quer estabelecer uma relação harmoniosa com as tribos indígenas, quanto mais fazer com que alterem a sua cultura, mesmo que esteja prejudicando a vida de outrem, e vindo de um presidente da FUNAI que nem ao menos combate os homicídios indígenas, de forma muito difícil tomará frente a esta causa discutida. 40 7. O TRÁFICO DE DROGAS INDÍGENA E SUA IMPUTABILIDADE O tráfico de drogas, hoje, não só no Brasil, mas no mundo, é um dos problemas mais complexos dentro de uma sociedade, levando em consideração a legalidade de cada país, todos, sem sombra de dúvidas sofrem com o crime de tráfico de drogas. A lei de número 11343/06, é a norma que criou o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, estabelecendo em seu artigo 33º, o crime de tráfico: Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.27 Lembrando que como vemos no art 28º o consumo de drogas terá uma pena mais branda, não concorrendo a prisão: Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em 27 BRASIL, Decreto lei Nº LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006, Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm, acesso em 12 de maio de 2022. 41 desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.28 No Brasil o combate ao tráfico de drogas parece algo que nunca terá um fim, a cada ano que passa, o Estado parece ter menos controle sobre a situação e sobre as aplicações das normas. Hoje podemos constatar que há mais mortes pelo tráfico de drogas e toda a problemática envolvendo a criminalização, do que pelo próprio uso da droga. Entendemos que quanto mais ilegal, mais problemas aparecem, outros crimes nascem a partir do tráfico de drogas. Furtos, roubos e latrocínios, homicídios, receptações, são uns dos encarregados por cercar este problema brasileiro. Por trás desta problemática ainda encontramos um assunto que se baseia na desigualdade social no Brasil, a qual é devastadora e intrigante, notícias e indícios dos crimes citados no último parágrafo, são facilmente encontrados nos bairros brasileiros de pobreza e extrema pobreza, seja nos interiores do Brasil em pequenas cidades, ou em grandes centros urbanos dentro de suas periferias e comunidades. O fato é que claramente existe um governo paralelo devido ao tráfico de drogas, grandes facções com extrema organização comandam a prática e faz com que os problemas brasileiros se destaquem ainda mais. 28 BRASIL, Decreto lei Nº LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006, artigo 28º Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm, acesso em 12 de maio de 2022. 42 Os grupos indígenas não fogem desta questão e ainda tornam o problema ainda maior. Existe o indígena que pratica o tráfico de drogas e sabe o que está fazendo, este, tratado como índio integrado ou em fase de Integração, e também, existe o Índio, que não está integrado e além de fazer o uso de drogas ilícitas, também pratica o tráfico de drogas, ocorrendo principalmente nas fronteiras brasileiras com outros países da América do Sul, onde o controle é extremamente difícil, e a entrada de grande quantidade de ilícitos se torna muito fácil em nosso território. 7.1 Casos de tráficos de Drogas Indígenas Entre o ano de 2011 e 2012, os índios da tribo Tikuna, começaram a se tornar um dos maiores perigos para a proliferação de cocaína, que já é grande, na américa do sul. Ocorre que a Tribo passou a cultivar com uma produção em enorme escala na região da Amazônia que se encontra em fronteira com o Peru. O que antes no Brasil, seria apenas um país de passagem para a droga, neste momento se torna um dos maiores produtores pelo número de coca que está sendo cultivado. A maconha, apesar de ser legalizada em muitos países, no Brasil, ainda se trata de uma droga ilegal. Muitas Tribos Indígenas praticam o cultivo e fazem uso da folha da Maconha, em especial as tribos Marienê e Seruini, localizadas no Estado do Acre, na Capital Rio Branco. Além do cultivo e do consumo da maconha, encontraram também uma forma de comercializar, o que acaba se tornando o grande problema da situação. Desde o ano de 2011, foi constatado que membros da tribo indígena, estavam vendendo a maconha produzida para “bocas de fumo” da capital do acre, além do comércio na fronteira, em especial com a Bolívia. 43 Além do cultivo e venda da maconha, os indígenas das tribos Marienê e Seruini estão com alto índice de vícios em uma droga que se chama “oxi”, droga subproduto da cocaína que se torna muito pior do que o crack. Sendo uma das portas de entradas do País, “oxi” está se espalhando cada vez mais pela região norte, nordeste e centro-oeste do país, principalmente nas aldeias indígenas. Outra questão de grave conceito que está ocorrendo nas tribos indígenas, é a utilização de menores de idade para a prática do Tráfico de Drogas, muitas vezes para o transporte de um lugar para o destino da droga. Na tribo Guarani-Caiovás, na qual fica localizada na região centro-oeste brasileira, Mato Grosso do Sul em divisa com o Paraguai, muitas crianças indígenas estão desaparecidas após se filiarem ao tráfico de drogas. Região esta, onde existe o maior índice de índios presos do país, tanto que na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul, existe uma prisão onde contém apenas presos indígenas integrados, e este número vem crescendo cada vez mais, muito devido ao tráfico. Em 2011 eram cinquenta e cinco índios presos neste departamento e no ano de 2017, ano de último registro, o número estava em cento e vinte. Vimos que trata de uma questão que assombra o país e nossos povos indígenas que ficam à mercê de uma algo que seus remotos antepassados não presenciaram. Questão esta que necessita ser analisada de uma forma bastante profunda, pois novamente entramos na questão do judiciário e sua imputabilidade com os indígenas, pois neste contexto, existem os indígenas integrados que tem plena noção de seus atos, e que muitas vezes são inocentados, e também temos índios não integrados que são utilizados por facções para o tráfico de drogas, e realmente não têm noção de seus atos, mesmo assim acabam sendo condenados. 44 8. JURISPRUDÊNCIAS DE IMPUTABILIDADE INDÍGENA Como vimos ao longo desta monografia, o artigo 26º do Código Penal diz da Imputabilidade, considerando inimputável, o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação
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