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O respeito e a imputabilidade dos povos indigenas perante as normas brasileiras

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TERMO DE AUTORIA E RESPONSABILIDADE 
 
 Declaro para os devidos fins que eu, Cauê Marcelo Martins Pedras , aluno(a) 
devidamente matriculado(a) no Curso de Direito da Universidade Guarulhos sob o 
Registro Acadêmico – RA nº 28273373 portador(a) da Cédula de Identidade - R.G. 
nº.50.724.265-8, CPF nº.465.066.388-18, sou o(a) autor(a) da Monografia que ora 
se apresenta com o Título “O RESPEITO E A IMPUTABILIDADE DOS POVOS 
INDÍGENAS PERANTE AS NORMAS BRASILEIRAS, com a finalidade de 
conclusão do Curso. 
 Declaro ainda, que o trabalho é inédito, não contendo cópias de outras 
produções sejam bibliográficas ou da rede mundial de computadores (Internet), 
sem a devida indicação das fontes, nos padrões definidos pelas normas da ABNT, 
estando ciente também que a infração ao acima disposto, poderá me levar à 
reprovação, bem como, à responsabilização civil e criminal pelos atos praticados. 
Guarulhos, 27 de maio de 2022. 
Cauê Marcelo Martins Pedras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Termo de Autorização para Publicação de Trabalhos de Conclusão de Curso 
na forma eletrônica no REPOSITORIVM 
 Na qualidade de titular dos direitos de autor da publicação, autorizo o Grupo 
SER Educacional a disponibilizar por meio de seu repositório institucional 
(REPOSITORIVM) sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 
9610/98, o texto integral da obra abaixo citada, conforme permissões assinaladas, 
para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção 
científica brasileira, a partir desta data. 
1. Identificação do material bibliográfico: 
Trabalho de Conclusão de Curso (x ) Outros ________________________ 
2. Identificação dos Autores e da a Obra: Autor: Cauê Marcelo Martins Pedras 
RG.: 50.724.265-8 CPF:465.066.388-18 E-mail: cauemarcelo10@gmail.com 
Orientador: Victor Pergoraro CPF 385.647.368-88 
Membros da Banca:_________________________________________________________ 
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________ 
Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? (x )Sim ( ) Não 
Data de Defesa (se houver): __/__/__ Nº de páginas:______________ 
Título: O RESPEITO E A IMPUTABILIDADE DOS POVOS INDÍGENAS PERANTE 
AS NORMAS BRASILEIRAS. 
filiação:____________________________________ 
Área do Conhecimento ou Curso (no caso de TCC): Direito 
Palavras-chave: Direito, Imputabilidade; Indígena. 
 Guarulhos, 27 de maio de 2022. 
 
A Comissão Julgadora dos trabalhos de conclusão de curso, intitulado “O 
RESPEITO E A IMPUTABILIDADE INDÍGINA PERANTE AS NORMAS 
BRASILEIRAS”, em sessão pública realizada em ___ de __________ de 20__, 
considerou o candidato CAUÊ MARCELO MARTINS PEDRAS 
____________. 
 
 
 
 
 
 
 
COMISSÃO EXAMINADORA: 
________________________________________________ 
________________________________________________ 
________________________________________________ 
 
 
Guarulhos, SP, ___, __________, 20___. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico a presente monografia aos meus queridos pais, Dr. 
Adermil Bertoldo Cordeiro Pedras e Professora Marilda 
Aparecida Martins Pedras, e também ao meu Querido Irmão 
Eduardo Augusto Martins Pedras. Sempre me fortaleceram 
da melhor forma possível, no âmbito familiar, estudantil e 
profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Agradeço primeiramente a Deus, por sempre conceder 
conquistas e abençoar a minha vida. Agradeço aos meus 
familiares em especial os já citados nas dedicatórias, meus 
pais, Dr. Adermil Bertoldo Cordeiro Pedras e Professora 
Marilda Aparecida Martins Pedras, e ao meu ilustre irmão 
Eduardo Augusto Martins Pedras. Agradeço profundamente 
todos os professores do curso de Direito da Universidade de 
Guarulhos, sempre muito solícitos e preparados da melhor 
forma possível para a transmissão do conhecimento. 
Agradeço também de forma específica, a nossa 
Coordenadora de Curso, Professora Dra. Luciana, e também 
ao professor Orientador desta monografia, Dr. Victor 
Pergoraro, sempre prepostos a atender as dúvidas que surgem 
ao longo da produção deste trabalho de conclusão de curso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Hoje, me desperto com as obras e a chave das portas das 
repostas que eu tanto procurei. Ontem fui dormir pensando 
em procurar as perguntas das respostas que hoje achei” 
Cauê Marcelo Martins Pedras 
 
 RESUMO 
O respeito e a imputabilidade dos povos indígenas perante as normas 
brasileiras, tratam-se de assuntos a serem melhor explorados dentro do nosso 
contexto de Direito, muitas lacunas precisam ser preenchidas para que a justiça 
ocorra de forma plena, esta monografia analisará o respeito ao indígena, segundo 
a nossa constituição federal e outras normas, como por exemplo o Estatuto do 
índio, as convenções da OIT. Pelos mesmos instrumentos, também será analisado 
a questão da imputabilidade dos povos indígenas, buscando a luz jurisprudencial 
e o que diz nosso código penal brasileiro. 
Esses conceitos devem ser melhor analisados dentro da nossa justiça 
brasileira, já que tratamos de cerca de oitocentos mil indígenas, sendo um número 
de praticamente um município bem populoso em território brasileiro. 
Buscaremos explicar qual o atual entendimento em relação aos crimes 
cometidos pelos índios, e também dos crimes cometidos contra os indígenas, 
atingindo as culturas, crenças e costumes deste povo, e também, abordaremos a 
questão das terras indígenas, as quais são bastante citadas em nossas normas, 
buscando a proteção para que as tribos indígenas vivam de uma forma 
harmoniosa. 
As terras indígenas são de supra importância, pelo motivo que desde os 
primórdios da humanidade, brigamos pelos nossos territórios, e é importante o 
povo ter um lugar estabelecido para poder executar as suas crenças, costumes e 
consagrar a sua cultura, todos os povos são assim. Devido a este fato, hoje no 
Brasil é encontrado uma guerra civil, pela disputa de terras indígenas. Os maiores 
interessados baseiam-se em agricultores, proprietários de grandes fazendas e 
garimpeiros. 
 
A FUNAI, fundação nacional do índio, também será comentada e exposta 
nesta monografia, já que trata do órgão mais importante para atender os direitos 
indígenas, inclusive é responsável pela demarcação das terras indígenas. 
Por fim veremos casos jurisprudenciais para melhor analisarmos como 
estão sendo julgados os indígenas praticantes de atos ilícitos, sendo que deve ser 
feito o exame antropológico para averiguar “o grau de índio” previsto no Estatuto 
do Índio. 
Palavras-chave: Imputabilidade, Indígena, Pena, Respeito, Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ABSTRACT 
 The respect and the attribution of indigenous peoples regarding the norms, 
it is about gaps within the context, the competence for justice to form within the 
norms, this monograph analyzes the respect for Brazilian norms Our federal 
clause and other norms, such as to ILO clauses. By the same instruments, the 
question of imputability of peoples will also be deepened, seeking the 
jurisprudential light and what our Brazilian penal code says. 
 These concepts should be better analyzed within our Brazilian justice 
system, since we deal with about eight hundred thousand indigenous people, 
practically a number from a very populous municipality in Brazilian territory. 
 We will try to explain what is the current understanding regarding the 
crimes committed by the Indians, and also the crimes committed against the 
indigenous people, affecting the cultures, beliefs and customs of this people, and 
also, we will address the issue of indigenous lands, which are often cited in our 
norms, seeking protection so that indigenous tribes live in a harmonious way. 
 Indigenous lands are of paramount importance, for the reason that since the 
dawn ofhumanity, we have fought for our territories, and it is important for the 
people to have an established place to be able to carry out their beliefs, customs 
and consecrate their culture, all peoples are like that . Due to this fact, today in 
Brazil there is a civil war over indigenous lands. The biggest stakeholders are 
farmers, large farm owners and prospectors. 
 FUNAI, the national indigenous foundation, will also be discussed and 
exposed in this monograph, as it is the most important body for meeting 
indigenous rights, and is also responsible for the demarcation of indigenous lands. 
 Finally, we will see jurisprudential cases to better analyze how indigenous 
people who practice illicit acts are being judged, and an anthropological 
 
examination must be carried out to ascertain “the degree of Indian” provided for 
in the Indian Statute. 
 
Palavras-chave: Accountability, Indigenous, Penalty, Respect, Brazil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .........................................................................................01 
1. PRINCIPAIS COMUNIDADES INDÍGENAS NO 
BRASIL........................................................................................................02 
 1.1 Guaranis............................................................................................02 
 1.2 Ticunas..............................................................................................03 
 1.3 Caingangue.......................................................................................04 
 1.4 Macuxis............................................................................................05 
 1.5 Terenas.............................................................................................06 
 1.6 Guajajaras.........................................................................................08 
2. O RESPEITO AO INDÍGENA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL..10 
3. DO ESTATUTO DO ÍNDIO ................................................................15 
 3.1 O Estatuto do Índio na ditadura militar............................................15 
 3.2 Os Direitos e Deveres consagrados no Estatuto do Índio................17 
 3.3 Das normas penais no Estatuto do índio..........................................18 
 4. FUNAI (FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO.................................26 
 4.1 Deveres da FUNAI..........................................................................26 
 4.2 Cenário da FUNAI nos dias atuais..................................................27 
 5. IMPUTABILIDADE PENAL INDÍGENA........................................29 
 5.1 Da imputabilidade...........................................................................29 
 5.2 Situações de imputabilidade no código penal.................................30 
 
 5.3 A imputabilidade e os indígenas.......................................................31 
6. O INFANTICÍDIO INDÍGENA E SUA IMPUTABILIDADE...........34 
 6.1 Casos de infanticídio indígena..........................................................37 
7. O TRÁFICO DE DROGAS INDÍGENA E SUA 
IMPUTABILIDADE....................................................................................40 
 7.1 Casos de tráfico de drogas indígena...................................................42 
8. JURISPRUDÊNCIAS DE IMPUTABILIDADE INDÍGENA.............44 
 8.1 Índio integrado e sua jurisprudência..................................................44 
 8.2 Índio em fase de integração e sua jurisprudência..............................45 
 8.3 Índio não integrado e sua jurisprudência...........................................47 
9. CONCLUSÃO..........................................................................................50 
10. REFERÊNCIAS.....................................................................................55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Os povos indígenas passaram por histórias bem árduas no território 
brasileiro, fatos advindos desde o descobrimento do Brasil até os dias de hoje. 
Várias guerras foram estabelecidas entre indígenas e não indígenas, fazendo 
com que as tribos sempre protegessem ao máximo os seus costumes, crenças e 
a sua própria cultura. 
 Os anos passam e de qualquer forma as pessoas e as culturas também 
passam por algumas mudanças, e claro, o mesmo ocorreu com os povos 
indígenas. Apesar de muitos ainda manterem os seus costumes, a maioria das 
tribos hoje estão plenamente integradas a sociedade brasileira, tendo 
legislações próprias de direitos e deveres que acarretam em algumas 
discussões, pois muitos também não se consideram integrados em comunhão 
nacional. 
 Dentre essas questões, além do respeito que diversas vezes é violado aos 
povos indígenas, também temos a questão da imputabilidade dos índios, já que 
de certa forma, existem os que não conhecem a legislação brasileira perante ao 
fato do que é lícito e ilícito. 
 Discursaremos nesta monografia a situação atual do Respeito e a 
Imputabilidade indígena perante as normas brasileiras. 
 
 
2 
 
 
1. PRINCIPAIS COMUNIDADES INDÍGENAS NO BRASIL 
 Segundo dados da Fundação nacional do Índio (FUNAI), Hoje, no 
Brasil, vivem mais de 800 mil índios, representando cerca de 0,4% da população 
brasileira, vivem principalmente em 688 Terras Indígenas e em várias áreas 
urbanas. Há também 77 grupos indígenas que ainda não se foi possível estabelecer 
contato, logo não foram contabilizados nestes dados. Ao analisarmos, parece 
apenas uma pequena parcela da população, porém, se formos ver o número de 
Habitantes do Estado do Amapá, por exemplo, é de aproximadamente 751 mil 
habitantes, ou seja, os números populacionais dos indígenas poderiam facilmente 
compor um Estado Brasileiro. 
 Após análises estatísticas, vem como justificativa, o fato de não podermos 
ser negligentes, que a população indígena, a qual tem proporção estadual, seja 
julgada, principalmente no âmbito penal, da forma que bem entender o Juízo 
naquele momento. 
 Lembramos que conforme a doutrina, “temos cerca de 136 (cento e trinta e 
seis) povos indígenas no Brasil desde o ano de 1970”1. 
 Vamos as principais comunidades Indígenas que encontramos no Brasil 
hoje. 
1.1 Guaranis 
 Hoje, considerada a maior comunidade Indígena, em torno de 57.000 
(cinquenta e sete mil) integrantes, os Índios Guaranis estão localizados nos 
 
¹ MELATTI, Júlio Cesar, pág. 14, Índios Do Brasil, 1º Edição, São Paulo- SP, EDUSP, 1970 
3 
 
 
Estados Brasileiros: Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, 
Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pará, Santa Catarina e Tocantins. 
 A maior reserva dos Guaranis se encontra na cidade de Dourados, Mato 
Grosso do Sul (MS), “com a extensão de 3,5 mil hectares, o local conta com 12 
mil indivíduos de grupos distintos”2.
 Dentro da Comunidade Guarani a ainda uma subdivisão de povos 
chamados Kaiowá, Mbya e Nhandeva, possuem a Língua original Tupi-Guarani, 
da qual derivaram vinte e uma línguas pelo mundo. 
 Como toda comunidade Indígena, sua história é de muita perda de terras 
principalmente pelo desenvolvimento do agronegócio no centro-oeste brasileiro, 
uma batalha na qual gerou milhares de mortes de ambos os lados nesses anos 
vívidos. 
 Sua cultura se vem da crença de Deuses, portanto, suas cantigas e até 
mesmo a sua organização social é baseada nesse princípio, e também como em 
todas as comunidades indígenas a natureza é considerada parte de sua família. 
 
1.2 Ticunas 
 A comunidade Ticuna se encontra na Amazônia Brasileira, com cerca de 
54000 (cinquenta e quatro mil) integrantes, que conseguiram estabelecer suas 
terras apenas em 1990, depois de muita luta contra seringueiros e madeireiros que 
 
2 BEZERRA, Luciana, Índios Guarani, TodaMatéria, disponível em: 
https://www.todamateria.com.br/indios-guarani/amp/ . Acesso em 30 de março de 2022. 
4 
 
 
fizeram umaimensa exploração pela maior floresta de mata fechada do mundo 
que é a Amazônia. 
 Com cerca de cem aldeias, a maior parte delas ficam nas represas do Rio 
Solimões. Independente de quão próximo chega a ser os centros urbanos desta 
comunidade, a língua Ticuna não é atingida, mantida fielmente pelos integrantes, 
mostrando o tanto que sua cultura é tida como base principal na vida dos 
integrantes. 
 A sociedade ticuna está dividida, composta por clãs, dentro dos clãs a 
identidade de cada um é passado de pai para filho, sempre mantendo-se no mesmo 
grupo, a menos nos casamentos que só ocorrem entre membros de clãs diferentes. 
No caso, vemos que não é só sobre o código penal que há divergências com a 
cultura indígena, poderíamos falar claramente também do Código Civil, como o 
casamento. 
 
1.3 Caingangues 
 Os Caingangues ou Kaingangs estão localizados nos Estados de São Paulo, 
Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. 
 Atualmente esta comunidade, está entre os mais numerosos povos 
indígenas do Brasil. Sua língua vem de uma família linguística chamada "Jê''. 
 Sua cultura tem como características de desenvolvimento nas sombras de 
Pinheiros que na geografia brasileira, se encontram nos Estados ditos que 
integram o Território Cainganguês. 
 Há dois séculos atrás, seu território se desenvolveu nas beiras do Rio Tietê 
em São Paulo até o Rio Lijuí no Rio Grande Do Sul. Atualmente encontram-se 
5 
 
 
em mais ou menos 30 áreas de terra reduzidas com uma população que chega a 
cinquenta mil pessoas. 
 A sua organização social funciona em dois segmentos que são denominados 
de Kame e Kanhru. O grupo Kame costuma usar pinturas por todo o corpo e 
também nos artesanatos feitos pela comunidade, já o grupo Kanhru utiliza traços 
circulares e todo animal que há no grupo também é indicado com essa marcação. 
 Os Kaingangs se desenvolveram de uma forma muito considerada nos 
centros urbanos, o que chamam de Índios modernos, se encontram muito neste 
grupo, por mais que uma grande parte faz o máximo possível para preservar sua 
cultura e seus costumes. 
 Uma grande Curiosidade é que no ano de 2008 Uma integrante dos 
Caingangues se tornou mestre em Direito, Fernanda Caingangue, como ficou 
apelidada, “foi um grande exemplo de superação e amor pelo Direito na faculdade 
Federal do Rio Grande do Sul”3. Uma das mais renomadas líderes indígenas do 
país. 
 
1.4 Macuxis 
 
 Os Macuxis se concentram em Roraima, hoje com uma população de mais 
ou menos (34.000) trinta e quatro mil pessoas que tem como filiação linguística o 
que chamam de Karib. Estão bem na fronteira de Brasil e Guiana. 
 
3 EMILIANO, Darci.; MARTIN, Alfredo Guilermo; PEREIRA, Vilmar Alves. Cultura 
Kaingang: saberes e identidades direcionados aos desafios contemporâneos da preservação e 
da educação ambiental. PerCursos, Florianópolis, v.19, n.41, p.203-233,2019. Disponível em: 
https://www.revistas.udesc.br/index.php/percursos/article/view/1984724619412018203. 
Acesso em: 05 de abril de 2022. 
6 
 
 
 Sua tribo é espalhada pelo território Roraimense com grupos de poucas 
casas, e por isso, um número bem grande de aldeias que totalizam mais ou menos 
em 104 (cento e quarenta) pontos. 
 O ponto mais populoso tem o nome de Raposa Serra do Sol, “uma área com 
cerca de dez mil habitantes divididos em oitenta aldeias”4. A maior aldeia se 
chama Pemon. 
 As aldeias que costumam ficar dentro matas fechadas tem a característica 
de casas com muitos moradores com mais de uma família distinta e estas famílias 
também são numerosas. Já as casas encontradas na savana geralmente são 
dispersas e com menos quantidade de pessoas, sendo o completo contrário das 
comunidades nas aldeias de mata fechada. 
 Os matrimônios, como já vimos na tribo Ticuna também são realizados 
entre parentes da própria tribo, apenas casos isolados que são encontrados de 
união matrimonial de aldeias diferentes, e mesmo assim, elas devem ter um 
relacionamento harmonioso entre si para que isso aconteça. 
 
1.5 Terenas 
 
 O grupo Terena está localizado nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso 
do Sul e São Paulo, com cerca de vinte e seis mil integrantes que tem contato 
direto com a população regional, na verdade, “considerado o grupo que mais 
 
4 CONSELHO INDÍGENA DE RORAIMA. Raposa Serra do Sol : os índios no futuro de 
Roraima. Boa Vista : CIR, 1993. Disponível em https://cir.org.br/site/sobre-o-cir/ acesso em 
15 de abril de 2022. 
 
7 
 
 
contato com a população brasileira no geral”5. Esse fato ocorre pois foram se 
introduzindo nos grandes centros como vendedores de rua ou trabalhadores nas 
grandes usinas de açúcar da região. 
 Neste sentido, o Grupo de Índios Terena, são hoje muito conhecidos por 
Índios Urbanos ou aculturados. 
 Infelizmente, vemos uma triste história deste grupo que foi simplesmente 
encurralado pelas grandes cidades, principalmente podemos destacar Campo 
Grande em Mato Grosso do Sul. Foi colocado à disposição da tribo resistir sua 
cultura e se integrar a uma nova realidade ou acabar-se, e mesmo em meio a 
pobreza, pois são grande parte pessoas com baixa renda nas cidades, sustentam a 
sua história e parte de seus costumes. 
 A língua do grupo é de origem Aruak, é conhecida por todos Terenas, 
porém hoje, é a língua menos utilizada entre os povos Indígenas. 
 É considerado um povo bilíngue, e é encontrado Jovens e Idosos que não 
falam o português de uma forma clara porém de fácil compreensão, mas todos 
falam muito bem a sua língua de origem caso seja necessário. 
 Visando esse trabalho de conclusão de curso no qual tratamos da relação 
indígena com a lei brasileira, o grupo Terena é o mais belo exemplo ao fato de 
ainda ter uma cultura vigente e ser o grupo indígena que mais tem relação com a 
sociedade brasileira como um todo. E como saber e tratar esta situação nas normas 
brasileiras? O quanto de índio deve ser considerado para fazer parte do grupo dos 
inimputáveis? Questões que parecem simples, mas que causam bastante 
transtorno na justiça. 
 
5 ITTENCOURT, Circe Maria Fernandes; LADEIRA, Maria Elisa. A história do povo Terena. 
Brasília : MEC ; São Paulo : USP/CTI, 2000. 156 p 
8 
 
 
1.6- Guajajaras 
 
 A tribo Guajajara está localizada no Maranhão, nas margens da Amazônia, 
totalizando dez terras. Hoje, encontra-se cerca de vinte e sete mil integrantes. 
 Os Guajajaras também podem ser chamados por sua outra denominação, 
Tenetehára que tem como significado o termo de serem todos seres humanos 
verdadeiros, o nome Guajajara não é possível ter um significado em si. 
 A língua desse grupo pertence a língua Tupi-Guarani, com poucas 
modificações fazem parte da língua indígena mais famosa não só no Brasil mas 
também na América Latina. Chamam a sua língua de Ze' egete. 
 Os conflitos mais pavorosos surgiram entre a década de 60 e 70, e meros 
anos de 80, com a expansão descontrolada de latifúndios no centro do Maranhão, 
esta sociedade indígena foi simplesmente aniquilada e como a maioria 
encurralada em seus pedaços de terras. 
 Os Guajajaras praticam muito a cultura da lavoura, sua principal 
subsistência tanto para consumo e até como atividade econômica, entre os 
principais cultivos estão: mandioca, macaxeira, milho, arroz, abóbora, melancia, 
feijão, fava, inhame, cará, gergelim e o amendoim. A pesca não é de muito 
costume, porém os Guajajaras ribeirinhos também são desta prática. 
 Uma grande Curiosidade é o cultivo de uma fruta com o nome dado pelos 
indígenas de Canapu, não é uma planta que tenha certa tipificação pelos cientistas, 
não se sabe se traz benefícios ou malefícios, porém, pelos Guajajaras é 
considerado sagrado, tanto que nas colheitas é o único fruto que fica intacto, 
retratando que era um alimento de seus tempos Místicos, e foi com a Deusa 
cultivada por eles, Maira, que começaram a agricultura, parando de comer esse 
fruto. 
9 
 
 
 Os Guajajarasestão sempre perto de pontos de água, se não em rios, estarão 
em lagos e lagoas ao longo da mata fechada, e uma grande parte deles gostam 
também de ficar perto de beiras de estradas, a onde podem vender os seus 
artesanatos. 
 As aldeias são construídas ao estilo camponês, e não é tudo um número 
certo de habitantes, pode ser uma família ou até quatrocentas pessoas. 
 Uma das coisas mais impressionantes desta tribo é a proteção da mulher, 
que sempre se baseia no fato de se constituírem grandes grupos de mulheres 
parentes ou não, muitas até adotadas, protegidas por homens até conseguirem seus 
casamentos, é de lei própria da tribo, que o genro fique com seus sogros vivendo 
o dia-a-dia pelo menos um ano para que possa se casar com uma das mulheres da 
tribo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
2. O RESPEITO AO ÍNDIO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
 Por toda a história que acompanhamos de nosso país, sabemos que os 
indígenas são os verdadeiros descobridores das terras brasileiras, na qual 
diversas tribos desenvolveram sua comunidade, sua cultura, seus costumes, 
conforme analisamos de uma forma breve no capítulo anterior. 
 Nossa constituição Federal, a qual denominamos de carta magna, 
resguarda os direitos e deveres de todos os cidadãos componentes da sociedade 
brasileira trazendo a democracia, o respeito aos povos, a dignidade humana e a 
soberania dos cidadãos como pilares para o desenvolvimento do país, e 
encontramos em seu texto então, o Capítulo VIII, o qual leva por título “DOS 
ÍNDIOS”, mostrando que nossa sociedade tem dever de proteger e respeitar o 
povo que apesar de não ter uma grande proporção em nosso território, é o mais 
importante deste país, já que são eles que estão desde o princípio, protegendo, 
respeitando e vivendo desta terra. Como vemos no principal artigo da 
Constituição Federal no que tange aos povos indígenas: 
 
“Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, 
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as 
terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, 
proteger e fazer respeitar todos os seus bens.”6 
 
6 Constituição Federal, Artigo 231º site do planalto 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em dia 15 de 
abril de 2022. 
11 
 
 
 A defesa dos bens indígenas sempre terá caráter permanente e 
imprescindível nas terras brasileiras de modo que possam ter uma vida digna, 
conforme parágrafo primeiro do mesmo artigo: 
 § 1.º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles 
habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades 
produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais 
necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e 
cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.7 
 
 É comum vermos notícias, em nossos principais meios de comunicação, 
de conflitos entre indígenas e cidadãos que se dizem donos de terras, muitas 
vezes fazendeiros ou exploradores, como garimpeiros. No fim do último mês 
de abril, foi constatado diversas reportagens em que garimpeiros invadiram as 
terras indígenas do Vale do Javari, que fica localizado no extremo oeste do 
Estado de Amazonas. Foi constatado que a invasão ocorreu com diversas 
bebidas alcóolicas e drogas ilícitas, fazendo com que os garimpeiros 
praticassem até o crime de abuso sexual inclusive com menores de idade, como 
vemos em uma citação em rede social da União dos Povos Indígenas do Vale 
do Javari (UNIJAVA): 
 
Garimpeiros invadiram a comunidade para realizar festa regada a 
gasolina com água e álcool etílico com suco, oferecido aos indígenas. 
Além disso, há relatos de crimes sexuais cometidos contra as mulheres 
 
7Constituição Federal, Artigo 231º, parágrafo 1º site do planalto 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em dia 15 de 
abril de 2022 
 
12 
 
 
indígenas”, informou a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari 
(Univaja), nesta quarta-feira, 20 de abril.8 
 
 No mesmo período, outra invasão também ocorreu na aldeia Karimaa, 
localizada no Estado do Pará. Os invasores armados tiveram praticamente os 
mesmos atos dos invasores das tribos do Vale do Javari, porém como as notícias 
se repercutiram de uma forma bastante branda, o IBAMA ( Instituto Brasileiro 
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a Polícia Federal e a 
FUNAI (Fundação Nacional do Índio) aplicaram uma força tarefa fazendo com 
que os garimpeiros fugissem da região das aldeias de Pará. Fora isto, nada foi 
feito e nenhum garimpeiro foi apreendido. 
 Essas brigas, tratam de conflitos que levam a morte de pessoas de ambos 
os lados, digamos que hoje, é a principal guerra civil que existe em nosso país. 
De um lado, fazendeiros, com suas produções para sustento de suas vidas, neste 
momento, nem falamos em termos de valores econômicos, apenas sustento, e 
de outro, os povos indígenas da mesma forma brigando pelas terras e também 
o sustento de suas famílias. Fazendeiros dizem que a terra é deles, Índios dizem 
que chegaram primeiro e são terras demarcadas pela lei. E nesse caso o que 
parece ser complicado, simplesmente está em nossa carta magna. 
 Pela nossa Constituição, vemos da forma mais clara possível no Parágrafo 
segundo do artigo 231: 
 
8PAJOLLA, Murilo. Indígenas denunciam invasão de garimpeiros e relatam abusos sexuais no Amazonas. 
2022, disponível em https://www.brasildefato.com.br/2022/04/20/indigenas-denunciam-invasao-de-garimpeiros-
e-relatam-abusos-sexuais-no-amazonas. Acesso em 01 de maio de 2022. 
13 
 
 
§ 2.º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a 
sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas 
do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.9 
 
 E também vemos no parágrafo quarto e logo em seguida no parágrafo 
quinto do mesmo artigo: “§ 4.º As terras de que trata este artigo são inalienáveis 
e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.” 
 No parágrafo quarto transcrito acima, vemos que das terras indígenas 
serem inalienáveis e indisponíveis, e seus direitos imprescritíveis, se dá pelo 
fato destas terras serem do domínio da União. O doutrinador José afonso da 
Silva diz:, “desta forma cria-se uma propriedade vinculada ou propriedade 
reservada com o fim de garantir os direitos dos índios sobre ela.”10 
 A questão da terra parece que será algo sempre a ser discutido, parece que 
a evolução de nossa espécie nos apreendeu a ideia da posse para ser digno em 
uma sociedade, o direito a terra se tornou algo primordial para a dignidade 
humana, todos querem ter o seu espaço para poder viver e prosperar. Se formos 
pensar, tudo em nossa história se dá a partir de conquistas de territórios. Desde 
de a era dos Homo Sapiens, já combatiam para estabelecer os seus espaços. 
Claro que com os povos indígenas não seria diferente, e por isso a maioria dos 
artigos no que se diz ao respeito do povo indígena, se baseiam na demarcação 
de território, para que possam ter as suas vidas como bem entender. Um simples 
fato que pode realmente desmoralizar uma pessoa e até tirar a vontade de viver 
 
9 Constituição Federal, Artigo 231º, parágrafo 2º site do planalto 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em dia 15 de 
abril de 2022. 
10 SANTILLI, Juliana (Coodenadora da obra). Os Direitos Indígenas e a Constituição, 
página 46. 1993. São Paulo-SP, Editora SAFE. 
14 
 
 
é o ato do despejo de seu lar, ser jogado para as margens da sociedade, um ser 
sem espaço, sem o território não fará jus a sua vida e sua cultura. 
 O respeito as culturas, o respeito as terras são fundamentais para que um 
povo tenha uma vida próspera, e para completar este estado de prosperidade, 
o respeito jurídico, finda muitas questões. Respeito jurídico se baseia no ato 
da análise de um determinado povo para que desta formaas normas jurídicas 
se adequem e assim para termos um dos principais pilares da constituição que 
é a soberania de todos os cidadãos brasileiros. 
 Neste intuito surge antes mesmo da nossa carta magna atual, em 1973, a 
promulgação do Estatuto do Índio, para ser mais exato, no dia 19 de dezembro 
de 1973. Um detalhe bastante atenuante é que neste período estávamos em 
plena Ditadura Militar no Estado brasileiro, mas vamos discutir isto no próximo 
capítulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
3. DO ESTATUTO DO ÍNDIO 
 
 O Estatuto do índio, lei 6.001 de 19 de dezembro de 1973 já estabelece em 
seu artigo 1º a sua finalidade, vejamos: 
 
 Esta lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das 
comunidades indígenas, com o propósito de preservar sua cultura e 
integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão universal.11 
 
 
 3.1 O Estatuto do índio na Ditadura Militar 
Declarando os Direitos e Deveres dos indígenas, o Estatuto do Índio surgiu 
perante ao fato de a Constituição da época, no caso a de 1967, chamada de 
Consolidação do Regime Militar que teve emendas até 1969, não tratar dos 
assuntos indígenas, deixando uma abertura muito vasta do assunto. 
Trata-se de um período muito delicado da história brasileira, pois apesar de 
ter sido um fato histórico e de suma importância, pois utilizamos o estatuto até os 
dias de hoje, tudo ocorreu durante a ditadura militar, mostrando o quanto o 
governo tinha um ar de hipocrisia devastando os povos e terras indígenas e 
fazendo leis para que todos vivessem harmoniosamente. 
 Tendo como pretexto grandes obras na região amazônica para a evolução 
do país, povos não tão conhecidos, como os Waimiri Atroari foram simplesmente 
bombardeados causando um verdadeiro genocídio. Isso ocorreu em 1974 e temos 
 
11 BRASIL, Lei Nº 6.001, De 19 de dezembro de 1973, ESTATUTO DO ÍNDIO, art 1º, site 
do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm, acesso em 02 de maio de 
2022 
16 
 
 
relatos como o do indigenista Egydio Schwade, um dos fundadores do Conselho 
Indigenista Missionário: 
Pelo meio-dia, um ronco de avião ou de helicóptero se aproximou. O 
pessoal saiu da maloca para ver. A criançada estava toda no pátio para 
ver. O avião derramou como que um pó. Todos menos um foram 
atingidos e morreram.12 
 
Este pó, se tratava-se de um veneno que dizimou a tribo, mostrando que o 
governo da época não tinha o mínimo de interesse na ideologia indígena e que o 
Brasil necessitava crescer economicamente, com a cultura do agronegócio. Por 
sinal, muito parecido com os dias atuais, quando vemos a lei que aprovam 
agrotóxicos proibidos em todos os países, lei 6299/02 e até a lei 2510/19 que 
alterou o licenciamento de quem e como poderá ser feito o desmatamento que 
contribuirá para o fim de uma área verde de cerca de 170 mil km², tudo também 
pelo apoio ao agronegócio. 
Apesar desta hipocrisia de ao mesmo tempo se criar uma norma com 
direitos deveres para o povo indígena, também tentar dizimar tal sociedade, o que 
nos importa no momento é que as leis foram aprovadas e valem até os dias de hoje 
e são fundamentais para a concepção desta monografia. 
 
 
 
 
12 DAMASIO, Kevin, Ditadura militar quase dizimou os waimiri atroari – e índígenas 
temem novo massacre, National Geographic, 2019, disponível em 
https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2019/04/ditadura-militar-waimiri-atroari-
massagre-genocidio-aldeia-tribo-amazonia-indigena-indio-governo, acesso em 05 de maio de 
2022 
17 
 
 
3.2 Os direitos e deveres consagrados no Estatuto do Índio 
 
Voltando ao ano de 1976, o Estatuto do índio foi criado, suas terras 
meramente demarcadas e foram meramente integradas as normas da sociedade 
brasileira, tendo as suas classificações, vejamos. 
 Os Índios isolados, são considerados os grupos que não se tem 
conhecimento e que se obteve pouquíssimo contato com a área Urbana brasileira 
e sua comunhão nacional. 
 Os índios em vias de integração, são os que já estabelecem contatos com a 
comunhão nacional, porém ainda vivem de seus costumes e normas da sua tribo, 
porém já aceitando também as ações das normas brasileiras. 
 Os integrados levam essa denominação, pois pelo próprio termo, já estão 
integrados na sociedade e comunhão nacional, ainda conservam a sua cultura, 
porém obedecem e seguem completamente as normas brasileiras. 
Percebemos, que dentro destes termos muito se fala da comunhão nacional, 
para melhor entendermos, apresentamos o seu significado, a comunhão nacional, 
nada mais é do que a sociedade civil não indígena, que segue absolutamente as 
normas brasileiras em pleno entendimento. 
 Realmente muito complicado em se dizer que o estatuto do índio não busca 
o respeito e a harmonização entre os povos, basicamente todos os artigos citam 
esses princípios que realmente são primordiais para o convívio em sociedade. 
O artigo 2º do Estatuto do índio, o artigo com mais incisos, em uma 
comparação, poderíamos dizer que seria um Parágrafo 5º da Constituição Federal, 
ao que se trata de deveres da federação com os índios, no que tange a proteção 
dos povos, a assistência aos índios que ainda não são integrados na comunhão 
18 
 
 
nacional, o cuidado para o desenvolvimento dos povos tendo o respeito como 
carro chefe, a garantia do seu habitat e a posse das terras, a execução de projetos 
e programas para beneficiar a comunidade indígena, e a garantia dos direitos 
políticos civis e políticos dos índios. 
 Estes são os temas ditos no artigo 2º, os quais são mais adentrados nos 
artigos e capítulos seguintes, ao todo são sessenta e oito artigos divididos em sete 
títulos: Dos princípios e definições, Dos direitos civis e políticos, Do registro civil, 
Das condições de trabalho, Das terras dos Índios, Dos bens e Renda do Patrimônio 
indígena, Da educação Cultura e saúde, Das normas Penais, Das Disposições 
Gerais. 
 
3.3 Das normas penais no Estatuto do Índio 
O Estatuto do índio, em seu título sexto, dividido em dois capítulos, diz a 
respeito das Normas Penais e a sociedade indígena, sendo fundamental 
destrincharmos estes artigos para falarmos sobre a imputabilidade indígena dentro 
das normas brasileiras. 
Começamos então com o 56º artigo, que começa falando dos princípios, 
capítulo I: 
Art. 56. No caso de condenação de índio por infração penal, a pena 
deverá ser atenuada e na sua aplicação o Juiz atenderá também ao grau 
de integração do silvícola. 
Parágrafo único. As penas de reclusão e de detenção serão cumpridas, 
se possível, em regime especial de semiliberdade, no local de 
19 
 
 
funcionamento do órgão federal de assistência aos índios mais 
próximos da habitação do condenado.13 
 
Primeiramente, vemos que o artigo cita as infrações penais conforme o 
Código Penal brasileiro, e que no momento da condenação o Juiz analisará o que 
chamamos no subcapítulo anterior de “grau de índio”, que se dividem em 
Isolados, em via de Integração e Integrados. Ou seja, vemos que na prática do 
crime, caso o indígena não esteja em plena comunhão nacional, sua pena poderá 
ser reduzida ou ele poderá ser considerado inimputável, já que não tem o pleno 
conhecimento das normas brasileiras. 
Vemos também no parágrafo único do mesmo artigo, que a forma de 
cumprimento de pena também será diferente, sendo da forma de semiliberdade e 
em regime especial, no local de funcionamento do órgão federal de assistência 
aos índios mais próximo da habitação do condenado, ou seja, não irá para uma 
prisão comum, dependendo do entendimento do juiz ao que tange sobre o “grau 
de índio”. Falaremos nos próximos capítulos sobre esse entendimento do Juiz que 
em diversos casos, infelizmente por formas equivocadas, não está ocorrendo da 
maneira justa, prejudicando o cumprimento das normas brasileiras. 
 No artigo 57º vemos sobre as leis penais das próprias tribos indígenas que 
também possuem, de certaforma, uma constituição própria. 
 
Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com 
as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os 
 
13 BRASIL, Lei Nº 6.001, De 19 de dezembro de 1973, ESTATUTO DO ÍNDIO, artigo 56º, 
site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm, acesso em 02 de maio 
de 2022 
20 
 
 
seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, 
proibida em qualquer caso a pena de morte.14 
 
Como já dito, o artigo faz jus as tribos com legislação própria, e respeita as 
decisões indígenas desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibindo 
em qualquer caso a pena de morte. O que também será analisado nos próximos 
capítulos, pois a partir do momento em que na nossa constituição federal, nossa 
carta magna, diz sobre o respeito a cultura indígena de forma geral e plena, vemos 
um atrito que pode causar algumas desavenças dentro da justiça. 
No capítulo segundo do Título Das Normas Penais, vemos sobre os crimes 
que são cometidos contra os índios, que, como já foi muito dito nesta monografia 
e ainda será, não são poucos. Temos um caso bastante recente que foi interposto 
nos principais meios de noticias do Brasil, que trata de estupro de mulheres e 
menores vulneráveis da tribo Ianomâni, por garimpeiros que estão invadindo suas 
terras em Roraima. “Foi constatado que o garimpo nessa região cresceu 46% 
durante o ano passado”.15 
 
14 BRASIL, Lei Nº 6.001, De 19 de dezembro de 1973, ESTATUTO DO ÍNDIO, artigo 57º, 
site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm, acesso em 02 de maio de 
2022 
15 NOGUEIRA, Carolina, Garimpo ilegal em terras Yanomami aumentou 46% em 2021, 
MSN, 2022, Disponível em https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/garimpo-ilegal-em-
terras-yanomami-aumentou-46-25-em-2021/ar 
AAWdwma#:~:text=Veja%20as%20maiores%20extravag%C3%A2ncias%20dos%20famoso
s%21%20A%20atividade,hectares%20foi%20superada%20ainda%20em%20setembro%20de
%202021. Acesso em 02 de maio de 2022. 
21 
 
 
O artigo 58º diz: 
Art. 58. Constituem crimes contra os índios e a cultura indígena: 
I - escarnecer de cerimônia, rito, uso, costume ou tradição culturais 
indígenas, vilipendiá-los ou perturbar, de qualquer modo, a sua prática. 
Pena - detenção de um a três meses; 
II - utilizar o índio ou comunidade indígena como objeto de propaganda 
turística ou de exibição para fins lucrativos. Pena - detenção de dois a 
seis meses; 
III - propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e a disseminação 
de bebidas alcoólicas, nos grupos tribais ou entre índios não integrados. 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único. As penas estatuídas neste artigo são agravadas de um 
terço, quando o crime for praticado por funcionário ou empregado do 
órgão de assistência ao índio.16 
 
Neste artigo, tratando dos crimes cometidos contra os índios, vemos no seu 
primeiro inciso a palavra “escarnecer”, que seria o núcleo do tipo penal. Seu 
significado está mais apropriado no sentido de “zombar”, “ridicularizar”, vem do 
ato de fazer escárnio. Por mais que parece um inciso que não deveria existir, pois 
o respeito a cultura já está previsto na constituição federal, nunca é demais 
ressaltar que atitudes de desrespeito aos ritos, costumes, usos e tradições culturais 
indígenas, não serão toleradas. 
No segundo inciso, vemos a atitude do turismo em utilizar os índios para 
ter um fim lucrativo, também se trata de crime contra o índio, e claramente é algo 
 
16 BRASIL, Lei Nº 6.001, De 19 de dezembro de 1973, ESTATUTO DO ÍNDIO, artigo 58º, 
site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm, acesso em 02 de maio de 
2022. 
 
22 
 
 
que gera bastante desconforto as comunidades indígenas. Colocando-nos no 
mesmo prisma, é o mesmo de um grupo comprar uma visita turística para visitar 
sua residência, muitas vezes sem que você saiba, e começarem a falar como 
vivemos, como descansamos, como trabalhamos e tudo mais, seria no mínimo 
constrangedor, além de ter alguém faturando por cima disso que no caso não 
seremos nós. O estudo e a compreensão da cultura indígena é de extrema 
importância, porém a principal base das nossas normas sobre essa tangente 
sempre será o respeito. 
No terceiro inciso vemos o verbo “propiciar”, que teria como sinônimo 
“facilitar, conceder”, bebidas alcoólicas aos grupos indígenas que não são 
integrados a comunhão nacional. É claro que as tribos indígenas não integradas 
também possuem as suas drogas, os seus alucinógenos e relaxantes, isso sempre 
teve na humanidade, porém, não podemos empregar nada a eles, estaríamos 
modificando sua cultura e seus costumes, além de não sabermos o que pode 
acarretar o consumo de álcool desses povos, com organismos completamente 
diferentes dos brasileiros de comunhão nacional. As bebidas alcóolicas, como 
todos produtos, que são comercializadas no país passam pela ANVISA (Agência 
Nacional de Vigilância Sanitária) para saber o que pode carretar a saúde e criam-
se regras para a comercialização, e no caso das bebidas alcóolicas, criam-se até 
campanhas, também pelo Ministério da saúde para evitar o consumo excessivo de 
álcool. Como não é de alçada das leis brasileiras normalizar a cultura dos povos 
indígenas não integrados, não podemos fornecer as bebidas alcoólicas para eles. 
O que se torna bastante intrigante, é o fato do inciso terceiro, tratar apenas 
das bebidas alcóolicas. E os cigarros? Refrigerantes? Doces industrializados? 
Outras comidas industrializadas? E se for fornecido comidas instantâneas com 
alto número de sódio para estes povos indígenas e num futuro trazer problemas 
de saúde para estas pessoas? Algo que precisa ser melhor analisado do porquê o 
23 
 
 
inciso não trata a situação da seguinte forma a seguir: “Propiciar, por qualquer 
meio, a aquisição, o uso e a disseminação de produtos industrializados e/ou 
comercializados na comunhão nacional, nos grupos tribais ou entre índios não 
integrados.” 
Porém, neste prisma, também há de se falar na igualdade entre os povos. 
Será que é certo policiar os povos indígenas do que eles podem ou não consumir? 
Vemos muito da doutrina que isso acaba afetando o Estado de Direito dos povos 
tribais indígenas e não acaba sendo uma solução para a saúde pública, já que o 
número do mercado negro de bebidas alcoólicas aumenta a cada ano nas tribos 
trazendo ainda mais risco a comunidade, já que não se sabe a procedência dessas 
bebidas. Até mesmo as lideranças indígenas não são de acordo com o disposto no 
inciso: 
É importante ressaltar que esse dispositivo legal não goza de 
popularidade mesmo entre lideranças indígenas, principalmente porque 
costuma ser associado ao regime tutelar, historicamente adotado pelo 
Estado brasileiro, considerado anacrônico por atribuir ao índio a 
condição de juridicamente incapaz.17 
 
As doutrinas que trabalham na defesa do dispositivo, dizem que as tribos 
indígenas já possuem as suas próprias bebidas, e desta forma, acaba-se 
proporcionando uma alteração nos seus costumes e culturas, com o oferecimento 
de bebidas desconhecidas por ele. Mas grande preocupação mesmo, está baseada 
na saúde pública, referente ao consumo excessivo de álcool, principalmente por 
 
17 PERSCH, Hudson Carlos Avancini, A proibição de aquisição, uso e disseminação de bebidas 
alcoólicas aos povos indígenas, Jus.com.br, 2019, disponível em 
https://jus.com.br/artigos/73594/a-proibicao-de-aquisicao-uso-e-disseminacao-de-bebidas-
alcoolicas-aos-povos-indigenas, acesso em 08 de maio de 2022. 
24 
 
 
mulheres e idade fértil, trazendo risco no nascimento de novos integrantes da 
tribo. 
Existem tantos argumentos e teses contra o dispositivo, como a favor, todas 
tem os seus pontos de vista importante, o correto seria que essa discussão fosse 
feita com integrantes de tribos, para que se possa ter um acordo em comum, paradesta forma, não afetar o Estado de Direito Indígena. 
O principal ponto de discussão desta monografia é que estamos passando 
por um momento, que não é de agora, podemos relatar até antes da Ditadura 
interposta no Brasil, em que o índio não é ouvido, simplesmente se faz normas, 
atrás de normas buscando o respeito da etnia, porém com pouca integração do 
índio nas discussões, neste momento estão falado apenas das bebidas alcoolicas, 
que acaba, na teoria, sendo até algo supérfluo em meio a tantos direitos indígenas 
que são interpostos por não-índios mais importantes para uma vida digna em sua 
terra. 
Vamos ao artigo 59º do Estatuto do Índio: 
ART 59. No caso de crime contra a pessoa, o patrimônio ou os 
costumes, em que o ofendido seja índio não integrado ou comunidade 
indígena, a pena será agravada de um terço. 18 
 
Este artigo diz a respeito dos crimes que ocorrem contra os índios que são 
considerados pelo juízo como não integrados, neste caso a pena terá um aumento 
de um terço. 
 
18 BRASIL, Lei Nº 6.001, De 19 de dezembro de 1973, ESTATUTO DO ÍNDIO, artigo 59º, 
site do planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm, acesso em 02 de maio de 
2022. 
25 
 
 
Agora vamos as ponderações. Ainda o que se torna intrigante é o fato deste 
baseamento do juízo, se torna uma linha muito tênue do índio integrado para o 
índio não integrado, sempre acabará tendo decisões que índios integrados serão 
considerados não integrados e vice-versa, acaba se criando uma lacuna na lei para 
que se possa fazer várias teses de defesa para o réu que praticou o crime. E claro, 
que como estudantes de Direito, em nossa sociedade, precisamos buscar o 
máximo da justiça. 
Partimos de um ponto que não seria o juízo que teria condições para avaliar 
esta situação de integração e quem fará isto será um perito. Para todas as questões 
legislativas se tornarem mais práticas, seria necessário que o prévio cadastro 
indígena, pela FUNAI (Fundação Nacional do índio), constatasse, como um CPF 
indígena, se trata de um índio integrado ou em fase de integração, para assim 
poder ser julgado. Os índios não integrados não teriam esse cadastro, até porque 
como o próprio termo retrata, eles não estão em comunhão nacional. E desta forma 
partirmos para outro ponto que seria o índio integrado não realizar o cadastro e se 
considerar um índio não integrado, mas, desta prerrogativa, ele mesmo que está 
cometendo uma fraude que poderá ser analisada por seus costumes e vida 
cotidiana, e neste caso entraria a perícia. 
 
 
 
 
 
26 
 
 
4. FUNAI (FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO) 
Como citado em alguns trechos nos últimos capítulos, analisamos que é 
de suma importância falar sobre esse órgão que, ao se tratar do índio no Brasil, 
faz muito parte desta história. 
A Fundação Nacional do índio é o órgão indigenista oficial do Brasil, 
visando sempre a proteção dos direitos indígenas, seguem os princípios que 
adentram na lei brasileira junto com os princípios dos povos tribais, lutando para 
que sempre ocorra a harmonia dentro da sociedade brasileira. 
A FUNAI foi criada em 5 de dezembro de 1967, seis anos antes do Estatuto 
do Índio, também em período de Ditadura Militar, antes, o órgão que prestava 
assistência aos indígenas se chamava Serviço de Proteção ao índio, criado em 
1910, o qual se envolveu em muitas polêmicas nacionais e internacionais, com 
acusações de corrupção, genocídio de povos indígenas e uma assistência bastante 
rasa para os índios. 
Surgindo de forma marginal no governo da época, que concentrava o 
crescimento do país pelo interior, a FUNAI, após passar pelos anos sombrios da 
ditadura, foi de extrema importância, na década de 80, período da democratização, 
junto com o Estatuto do índio, para organizar a sociedade indígena e lutar pelos 
seus direitos previstos hoje principalmente em nossa Constituição. 
4.1 Deveres da FUNAI 
 De suma importância, um dos deveres da Funai é a demarcação das terras 
indígenas, pelo decreto nº 1775/96, o limite e a demarcação das terras serão 
propostos, resguardando o patrimônio indígena, sendo que como já vimos, essa 
demarcação também está prevista na nossa Constituição Federal, no seu artigo 
27 
 
 
231º. Desta forma, é melhor assegurado as invasões e ocupações por não-índios. 
Um dos principais projetos da FUNAI, em 1996, levou o nome de PPTAL 
(Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal), junto com o 
programa piloto de conservação das florestas tropicais no Brasil (PPG7). 
 Junto com a tribo Wajãpi, localizada no Amapá, também foi criado um 
projeto chamado Demarcação Participativa, que tem a ideia de junto com os povos 
indígenas, desenvolver e formular políticas que os afete de forma direta, para que 
desta forma, as normas brasileiras se adequem cada vez mais a cultura índigena. 
 Em 2001, também foi criado o projeto PDPI (Projeto Demonstrativo dos 
Povos Indígenas), também em parceria com o PPG7, e orientado pelo Ministério 
do Meio Ambiente, tem como base o financiamento de iniciativas para que ocorra 
um maior desenvolvimento na valorização da cultura indígena, e ter como base 
que quem cuidaria deste desenvolvimento, seriam os próprios membros indígenas 
e os órgãos parceiros. 
4.2 Cenário da FUNAI nos dias atuais 
 De 1967 à 2017, ou seja, cinquenta anos, o órgão teve quarenta presidentes 
diferentes. Hoje temos na presidência da FUNAI, Marcelo Augusto Xavier da 
Silva, indicado pela a presidência do Brasil Atual. Bastante indagado a escolha, 
já que Marcelo Xavier, é altamente ligado pelos principais ruralistas do país, esses 
que, têm muito interesses econômicos nas Terras indígenas e suas demarcações. 
Em seu mandato, até agora, nenhuma terra Indígena foi demarcada, isso nunca 
aconteceu na história da FUNAI, soma-se em 18 de novembro de 2021, vinte e 
sete áreas indígenas que precisam ser demarcadas, o equivalente a uma área de 
832 mil hectares, e o garimpo está sendo bastante instigado nas demarcações, 
trazendo muita violência entre Índios e não-índios. O atual presidente da FUNAI 
28 
 
 
é réu em diversos processos e em audiência na Câmara dos Deputados em agosto 
de 2021 disse uma frase impactante para um membro que deveria proteger a 
comunidade indígena brasileira: “Muito me orgulha essa alegação de que sou 
ligado ao setor ruralista que coloca arroz e feijão na mesa dos brasileiros”.19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 GONÇALVES, Eduardo, Pela obediência a Bolsonaro, presidente da Funai se torna réu, 
e fundação acumula processos, 2021, Disponível em https://oglobo.globo.com/brasil/pela-
obediencia-bolsonaro-presidente-da-funai-se-torna-reu-fundacao-acumula-processos-
25281298 acesso em 06 de maio de 2022 
29 
 
 
5. IMPUTABILIDADE PENAL INDÍGENA 
 A imputabilidade indígena parte do prisma que índio, por ser de uma cultura 
diferente da comunhão nacional, talvez não conheça o ato ilícito praticado, e desta 
forma não sendo considerado a formação do crime. Vamos aos conceitos para que 
o assunto seja melhor explanado e discutido. 
5.1 Da Imputabilidade 
 Dentro da nossa legislação penal brasileira, representada principalmente 
pelo código penal criado em 7 de dezembro de 1940, existe a questão da 
imputabilidade, princípio que deve ser respeitado e analisado na questão do polo 
ativo da norma, ou seja, de quem está praticando o crime previsto na lei. 
 Encontrada no artigo 26º do nosso código Penal, vemos a inimputabilidade 
penal: 
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da 
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito 
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Redução de pena 
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o 
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por 
desenvolvimentomental incompleto ou retardado não era inteiramente 
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo 
com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984)20 
 
20 BRASIL, DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940, Código Penal, artigo 
26º, site do Planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm 
, acesso em 03 de Maio de 2022 
30 
 
 
 
 Uma pessoa inimputável, é aquela que de certa forma não possui o total 
discernimento para saber o que está praticando, e não tem a ideia que aquilo trata-
se de um crime previsto em nossa norma penal brasileira. Este é o principal meio 
a ser observado, pois se a pessoa não tem o conhecimento do que é lícito e o que 
é ilícito, ela não pode ter sua culpabilidade julgada. 
 A imputabilidade penal diz a respeito da culpabilidade, o que não se pode 
confundir com responsabilidade, a pessoa mesmo que imputável pode ser 
considerada responsável pelo crime e responde-lo, o que mudará será a pena. 
 Com base na Teoria finalista da ação, criada por Hans Welzel em 1930 
podemos dividir a culpabilidade em duas faces, a primeira podemos dizer da 
questão intelectual, tratando de que forma a pessoa a ser julgada enxerga os fatos 
que acontecem no nosso dia-a-dia, e o conhecimento que ela tem do mundo em 
que vivemos, e a segunda face analisemos a questão volitiva, ou seja a vontade, 
mostrando que a pessoa não queria praticar o ato que cometeu, e desta forma sua 
culpa não será tida como fato legal. 
5.2 Situações de imputabilidade perante o Código Penal 
 Não havendo uma definição em lei sobre a imputabilidade penal, é 
apresentado as causas que se encaixam no perfil de inimputabilidade, que se 
baseia nas doenças mentais, no baixo desenvolvimento ou na deficiência mental, 
podendo ser por situação biológica, ou por intermédio de alguma substância 
química que fez com que a pessoa ficasse nesta situação de forma acidental ou 
por ato criminoso de outrem. 
 O Código Penal Brasileiro divide a imputabilidade em três condições, a 
imputabilidade, ou seja, as pessoas com total autodeterminação sabem o que é 
31 
 
 
legal e o que é ilegal e, portanto, a elas são atribuídos os crimes cometidos. A 
segunda envolve uma pessoa semi-imputável, com ou sem patologia, avaliando 
se a pessoa tem capacidade de autodeterminação no momento do crime e, por fim, 
a pessoa não imputável que não tem capacidade de autodeterminação. Determinar 
que, seja por uma patologia de qualquer natureza que afete o seu discernimento e 
não permita a autodeterminação, seja pela idade, estes e os considerados semi-
imputável recebam medidas de segurança, que incluem tratamento para a 
patologia, e são condições se aplicam aos menores que não são punidos, mas são 
medidas socioeducativas voltadas à educação e ressocialização. 
 
5.3 A Imputabilidade e os Indígenas 
 Tratando da imputabilidade indígena, no caso, entraríamos no conceito 
intelectual da culpabilidade, sendo desta forma, não querendo dizer que o indígena 
não tem intelectualidade, aliás muito pelo contrário, o que ocorre é a 
intelectualidade dele ser diferente dos conhecimentos da comunhão nacional. 
Entramos neste contexto, pois como está transcrito no artigo 26º do Código Penal 
incompleto, ele apenas está enquadrado em outra cultura e tem outros costumes. 
Em teoria pelo Código Penal, nenhum índio é inimputável. 
 O código Civil de 1916, em seu artigo 6º, parágrafo 3º, dizia sobre o índio 
como uma pessoa incapaz, o que mudou no código de 2002, não tratando o índio 
desta forma, e sim como apenas alguém com etnia própria. Desta forma, 
analisando o antigo Código Civil, o índio entraria perfeitamente no artigo 26º do 
Código Penal por ser Incapaz, porém hoje, apesar de vermos a capacidade 
indígena de entendimento de sociedade, até de índios considerados não 
32 
 
 
integrados, não se pode julgar da mesma forma, existem jurisprudências, que 
veremos mais a frente tratando desta situação. 
 O que transcende e coloca régua para análise sobre inimputabilidade 
indígena é a convenção número 169 da OIT, Organização Internacional do 
Trabalho, que em seu Artigo 8.1 diz: “ Na aplicação da legislação nacional aos 
povos interessados, seus costumes ou leis consuetudinárias deverão ser levados 
na devida consideração”. E logo em seguida, também para ser melhor analisado, 
os artigos 9º; 10º; 11º falam desta situação: 
ARTIGO 9 
1. Desde que sejam compatíveis com o sistema jurídico nacional e com 
direitos humanos internacionalmente reconhecidos, os métodos 
tradicionalmente adotados por esses povos para lidar com delitos 
cometidos por seus membros deverão ser respeitados. 
2. Os costumes desses povos, sobre matérias penais, deverão ser 
levados em consideração pelas autoridades e tribunais no processo de 
julgarem esses casos. 
ARTIGO 10 
 1. No processo de impor sanções penais previstas na legislação geral a 
membros desses povos, suas características econômicas, sociais e 
culturais deverão ser levadas em consideração. 
2. Deverá ser dada preferência a outros métodos de punição que não o 
encarceramento.21 
 
 
21Convenção nº 169 da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais (adotada em Genebra, em 27 de 
junho de 1989; aprovada pelo Decreto Legislativo nº 143, de 20 de junho de 2002; depositado 
o instrumento de ratificação junto ao Diretor Executivo da OIT em 25 de julho de 2002; entrada 
em vigor internacional em 5 de setembro de 1991, e, para o Brasil, em 25 de julho de 2003, nos 
termos de seu art. 38; e promulgada em 19 de abril de 2004) . 
33 
 
 
 Para saber se o índio será responsabilizado por um crime, e se deve ser 
responsabilizado, é necessário determinar se, de acordo com sua cultura, costumes 
e tradições, se ele entende a natureza ilegal de um ato que é considerado crime 
por lei. O nível de contato de um indivíduo pertencente a um povo indígena com 
a sociedade envolvente não importa, mas determina se ele entende no momento 
do ato que é considerado ilegal fora de sua cultura e, portanto, punível, fora de 
seu direito consuetudinário. 
 Desta forma, entramos na questão dos graus indígenas transcritos no 
Estatuto do índio; índios não integrados, índios em fase de integração e índios 
integrados, verificando que a inimputabilidade se encaixará aos indígenas não 
integrados, sem conhecimentos das normas brasileiras. 
 Novamente, grifando o mais importante, que se transforma no grande 
causador de problema, é a verificação do grau de índio, o fato de que antes do 
julgamento do crime, é o julgamento de seu grau perante comunhão nacional, 
tendo em vista que, se o indígena for considerado integrado, terá que cumprir com 
seus deveres, mas também terá que ser estabelecidos os seus direitos que nesses 
casos de dúvidas de grau, muitas vezes não são respeitados, pois são índios que 
até podem ter conhecimento de nossa sociedade, porém vivem em situações 
precárias, sem a devida assessoria que é imposta tanto na constituição federal, 
quanto no Estatuto do índio. 
 
 
 
 
34 
 
 
6. O INFANTICÍDIO INDÍGENA E SUA IMPUTABILIDADE 
 
 O Infanticídio, vindo do latim como infantcidium, é objeto a muito tempo 
na história da humanidade, sempre tendo como base a morte da criança na sua 
fase recém nascida ou em seus primeiros meses de vida 
 O infanticídio é o crime previsto no artigo 123º do Código Penal Brasileiro, 
e se baseia no ato da mãe eliminar a vida do filho no momento do nascimento ou 
logo após o parto, sob a influência do estado puerperal, que é estado pós-parto no 
qual a mãe está expulsando a placenta do seu corpo e seu organismo voltará ao 
normal aos poucos, período este, que pode durar de três a sete dias: “Artigo 
123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto 
ou logo após; Pena – detenção, de 2 a 6 anos.”22 
 Muito se estuda sobre este crime, pois envolve circunstâncias diversas, ecoloca em xeque a situação da mãe não estar em seu estado comum, e por mais 
que não pareça, é um crime que ocorre corriqueiramente e é muito discutido, já 
que a norma deixa um pouco de dúvida sobre o que seria esse período de “logo 
após o parto”, sendo que o Estado puerperal pode ocorrer de três a sete dias após 
o parto. 
 O infanticídio dentro da cultura indígena, acaba se tornando algo mais 
vasto ainda. Como vimos, este conceito não é algo que apareceu no último século, 
e ocorreu em diversos períodos da humanidade, cada época com suas culturas e 
 
22 BRASIL, DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940, Código Penal, artigo 
123º, site do Planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del2848compilado.htm , acesso em 03 de Maio de 2022 
35 
 
 
decisões diferentes, isso é o que acontece também em algumas tribos indígenas, 
inclusive brasileiras, que não são integradas à comunhão nacional. 
 Tratando do respeito e da imputabilidade indígena perante as normas 
brasileiras, precisamos analisar a questão do infanticídio indígena já que entramos 
na discussão do respeito a cultura das tribos, com previsões na constituição federal 
e também no estatuto do índio, mas também precisamos levar em consideração o 
direito a vida que da mesma forma é colocado em nossa carta magna, no artigo 
5º, caput: 
Art.5º, Caput- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e residentes no País 
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes;23 
 
 Lembrando que o artigo cita “aos brasileiros e residentes no País”, ou seja, 
também colocando em caso os índios não integrados. E o direito à vida, é a base 
de nossa sociedade como um todo, sendo o primeiro princípio citado no artigo 5º 
da constituição Federal e também sendo reconhecido em diversos tratados 
internacionais, como por exemplo o Pacto Internacional de Direitos Civis e 
políticos de 1992, em seu artigo 6º, cita: “O direito à vida é inerente à pessoa 
humana. Este direito deverá ser protegido pela lei. Ninguém poderá ser 
arbitrariamente privado de sua vida.”24 E também vemos na Declaração Universal 
 
23Constituição Federal, Artigo 5º, caput. site do planalto 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em dia 16 de 
abril de 2022. 
24 BRASIL, DECRETO Nº 592, DE 6 DE JULHO DE 1992. Atos Internacionais. Pacto 
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. Promulgação. Site do planalto 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm. Acesso em 15 de maio 
de 2022 
 
36 
 
 
dos Direitos Humanos aprovada pela ONU no ano de 1948 dizendo em seu 
primeiro artigo: “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e 
direitos”25 
 O Infanticídio indígena, ocorre hoje em ao menos vinte tribos brasileiras 
identificadas, o ato é praticado em casos nos quais a criança indígena nasce de 
uma mãe solteira, em casos de doenças não conhecidas pela tribo, em casos de 
deficiências mentais ou físicas, entre outros aspectos. 
 Baseando em um assunto de certa complexidade como o infanticídio 
indígena, podemos adentrar sobre o relativismo ético cultural, levando em 
consideração a ampla diversidade de culturas que existem em nossa sociedade, e 
que não é simples o fato de você modificar esta cultura, que também é amparada 
por lei, porém em nossa concepção, o direito existe até o momento que não é 
infringido o direito de outrem, visando a proteção de cada indivíduo. 
 A questão do relativismo ético também adentra no fato de nossas leis serem 
criadas para o nosso mundo que no caso, “o mundo ocidental” que vivemos nos 
transmite o que seria ético para nós, o que seria justo ou injusto, e o que devemos 
cumprir de deveres como cidadãos. Desta mesma forma, cada tribo indígena tem 
os seus conceitos, que olhando de forma externa pode nos causar bastante 
estranheza, da mesma forma a visão destes perante nós. 
 Agora entramos na nossa lei propriamente citada no começo do capítulo, 
ao dizer que, para ocorrer o crime de infanticídio temos como base o estado 
 
25DECLARAÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS. Adotada e 
proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10 de dezembro 
1948. Site da UNICEF, https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-
humanos. Acesso em 08 de maio de 2022. 
37 
 
 
puerperal e o fato de ser a própria mãe que praticará o ato, então, a etimologia da 
palavra infanticídio, perante nossa lei, não se baseia apenas ao homicídio de uma 
criança, envolve esses fatores já ditos, logo, se dentro das tribos indígenas, não 
ocorrer exatamente desta forma do artigo 123 do Código Penal, trataremos como 
homicídio comum, artigo 121º do Código Penal: “Matar alguém; Pena - reclusão, 
de seis a vinte anos.”26 
 Baseando neste fato, o infanticídio indígena em nosso código penal, seria 
tido como homicídio, pois o crime visto por nós, nas tribos, além de não ser 
praticado pela mãe, e sim por outros membros da tribo, também é inexistente a 
questão do Estado Puerperal. No estudo então, a questão do infanticídio indígena 
tem como significado, o homicídio de crianças que de certa forma não são 
consideradas, pelos membros, aptas para viver na sociedade de determinada tribo. 
 
6.1 Casos de infanticídio indígena 
 Dentro das tribos que tratam com normalidade o ato praticado em termos 
de homicídio de crianças, encontramos a tribo Kamayurá, com maior parte 
localizada no Parque do Xingu, no estado do Mato Grosso. É cometido o crime, 
visto por nós, nos casos onde ocorre o nascimento de gêmeos, crianças com 
problemas físicos, que na tribo, por sua língua, são chamadas de “crianças 
defeituosas”, e nos casos nos quais a mulher não possui um marido ou ele está 
 
26BRASIL, DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940, Código Penal, 
artigo 26º, site do Planalto https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del2848compilado.htm acesso em 03 de Maio de 2022. 
 
38 
 
 
ausente por um longo período, é praticado o aborto. Outro fato que também causa 
o homicídio de crianças dentro da tribo é o controle populacional, que devido a 
sua crença deve ser proporcional o número de crianças e jovens, adultos e idosos. 
 Na tribo Arawá que está localizada no Rio Puros na região amzônica, as 
mulheres no momento do parto, partem em floresta adentro para que ocorra o 
nascimento do filho, após o nascimento, verificam se o recém-nascido, em sua 
teoria, nasceu de “forma perfeita”, caso é visto alguma irregularidade em relação 
aos seus conceitos, o nascituro é abandonado no próprio local de nascimento, ou 
o homicídio é cometido no mesmo momento. 
 Quando falamos da tribo Suruwaha, eles têm como forma a prática do 
infanticídio, já que para eles, qualquer meio de sofrimento, principalmente físico 
não torna uma vida plena, desta forma não é propício viver, além de que o 
nascituro advindo de uma mãe solteira, não será aceito perante a sociedade dos 
Suruwaha, logo para eles, o melhor meio de escolha é o infanticídio. 
 Também encontramos o infanticídio na tribo Yanomani, pelos motivos já 
citados, como deficiências físicas, casos de mães solteiras, e nascimento de 
gêmeos, a menos que sejam de sexo oposto, também ocorre o sacrifício do 
nascituro. 
 O que parecia muito difícil de se encontrar no Brasil, em poucos parágrafos 
mostramos que não, o homicídio de crianças nascituras é muito encontrado nas 
tribos indígenas brasileira, sendo que citamos os casos mais expostos, levando em 
consideração o numero de tribos até desconhecidas que existem em nosso país. 
 Diante deste fato, mesmo analisando o respeito que devemos ter aos 
indígenas, previstos nas normas brasileiras, principalmente na constituição 
Federal e no Estatuto do índio, temos que levar em consideração o Direito à Vida 
39 
 
 
também previsto em nossaCarta Magna. Não podemos deixar que tais homicídios 
de incapazes continuem em nosso país, é necessário conversar com líderes 
indígenas, estabelecendo um conselho junto com a FUNAI para que desta forma 
seja discutido e acordado um meio para que os nascituros considerados indecentes 
pelas tribos tenham direito à vida. Uma cultura não pode validar se uma pessoa 
deve nascer ou viver, ainda mais um ser cidadão que ainda não consegue ter a 
mínima noção dos seus atos e deveres. 
 Problemas que, de certa forma, muito dificilmente serão resolvidos com 
uma brevidade, já que não conseguimos se quer estabelecer uma relação 
harmoniosa com as tribos indígenas, quanto mais fazer com que alterem a sua 
cultura, mesmo que esteja prejudicando a vida de outrem, e vindo de um 
presidente da FUNAI que nem ao menos combate os homicídios indígenas, de 
forma muito difícil tomará frente a esta causa discutida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
7. O TRÁFICO DE DROGAS INDÍGENA E SUA 
IMPUTABILIDADE 
 O tráfico de drogas, hoje, não só no Brasil, mas no mundo, é um dos 
problemas mais complexos dentro de uma sociedade, levando em consideração a 
legalidade de cada país, todos, sem sombra de dúvidas sofrem com o crime de 
tráfico de drogas. 
 A lei de número 11343/06, é a norma que criou o Sistema Nacional de 
Políticas Públicas sobre Drogas, estabelecendo em seu artigo 33º, o crime de 
tráfico: 
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, 
adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, 
trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou 
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em 
desacordo com determinação legal ou regulamentar: 
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.27 
 
 Lembrando que como vemos no art 28º o consumo de drogas terá uma pena 
mais branda, não concorrendo a prisão: 
 
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou 
trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em 
 
27 BRASIL, Decreto lei Nº LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006, Sistema Nacional 
de Políticas Públicas sobre Drogas, site do planalto 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm, acesso em 12 de 
maio de 2022. 
41 
 
 
desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às 
seguintes penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso 
educativo.28 
 No Brasil o combate ao tráfico de drogas parece algo que nunca terá um 
fim, a cada ano que passa, o Estado parece ter menos controle sobre a situação e 
sobre as aplicações das normas. Hoje podemos constatar que há mais mortes pelo 
tráfico de drogas e toda a problemática envolvendo a criminalização, do que pelo 
próprio uso da droga. Entendemos que quanto mais ilegal, mais problemas 
aparecem, outros crimes nascem a partir do tráfico de drogas. Furtos, roubos e 
latrocínios, homicídios, receptações, são uns dos encarregados por cercar este 
problema brasileiro. 
 Por trás desta problemática ainda encontramos um assunto que se baseia na 
desigualdade social no Brasil, a qual é devastadora e intrigante, notícias e indícios 
dos crimes citados no último parágrafo, são facilmente encontrados nos bairros 
brasileiros de pobreza e extrema pobreza, seja nos interiores do Brasil em 
pequenas cidades, ou em grandes centros urbanos dentro de suas periferias e 
comunidades. O fato é que claramente existe um governo paralelo devido ao 
tráfico de drogas, grandes facções com extrema organização comandam a prática 
e faz com que os problemas brasileiros se destaquem ainda mais. 
 
28 BRASIL, Decreto lei Nº LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006, artigo 28º Sistema 
Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, site do planalto 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm, acesso em 12 de 
maio de 2022. 
42 
 
 
 Os grupos indígenas não fogem desta questão e ainda tornam o problema 
ainda maior. Existe o indígena que pratica o tráfico de drogas e sabe o que está 
fazendo, este, tratado como índio integrado ou em fase de Integração, e também, 
existe o Índio, que não está integrado e além de fazer o uso de drogas ilícitas, 
também pratica o tráfico de drogas, ocorrendo principalmente nas fronteiras 
brasileiras com outros países da América do Sul, onde o controle é extremamente 
difícil, e a entrada de grande quantidade de ilícitos se torna muito fácil em nosso 
território. 
7.1 Casos de tráficos de Drogas Indígenas 
 Entre o ano de 2011 e 2012, os índios da tribo Tikuna, começaram a se 
tornar um dos maiores perigos para a proliferação de cocaína, que já é grande, na 
américa do sul. Ocorre que a Tribo passou a cultivar com uma produção em 
enorme escala na região da Amazônia que se encontra em fronteira com o Peru. 
O que antes no Brasil, seria apenas um país de passagem para a droga, neste 
momento se torna um dos maiores produtores pelo número de coca que está sendo 
cultivado. 
 A maconha, apesar de ser legalizada em muitos países, no Brasil, ainda se 
trata de uma droga ilegal. Muitas Tribos Indígenas praticam o cultivo e fazem uso 
da folha da Maconha, em especial as tribos Marienê e Seruini, localizadas no 
Estado do Acre, na Capital Rio Branco. Além do cultivo e do consumo da 
maconha, encontraram também uma forma de comercializar, o que acaba se 
tornando o grande problema da situação. Desde o ano de 2011, foi constatado que 
membros da tribo indígena, estavam vendendo a maconha produzida para “bocas 
de fumo” da capital do acre, além do comércio na fronteira, em especial com a 
Bolívia. 
43 
 
 
 Além do cultivo e venda da maconha, os indígenas das tribos Marienê e 
Seruini estão com alto índice de vícios em uma droga que se chama “oxi”, droga 
subproduto da cocaína que se torna muito pior do que o crack. Sendo uma das 
portas de entradas do País, “oxi” está se espalhando cada vez mais pela região 
norte, nordeste e centro-oeste do país, principalmente nas aldeias indígenas. 
 Outra questão de grave conceito que está ocorrendo nas tribos indígenas, é 
a utilização de menores de idade para a prática do Tráfico de Drogas, muitas vezes 
para o transporte de um lugar para o destino da droga. Na tribo Guarani-Caiovás, 
na qual fica localizada na região centro-oeste brasileira, Mato Grosso do Sul em 
divisa com o Paraguai, muitas crianças indígenas estão desaparecidas após se 
filiarem ao tráfico de drogas. Região esta, onde existe o maior índice de índios 
presos do país, tanto que na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul, existe uma 
prisão onde contém apenas presos indígenas integrados, e este número vem 
crescendo cada vez mais, muito devido ao tráfico. Em 2011 eram cinquenta e 
cinco índios presos neste departamento e no ano de 2017, ano de último registro, 
o número estava em cento e vinte. 
 Vimos que trata de uma questão que assombra o país e nossos povos 
indígenas que ficam à mercê de uma algo que seus remotos antepassados não 
presenciaram. Questão esta que necessita ser analisada de uma forma bastante 
profunda, pois novamente entramos na questão do judiciário e sua imputabilidade 
com os indígenas, pois neste contexto, existem os indígenas integrados que tem 
plena noção de seus atos, e que muitas vezes são inocentados, e também temos 
índios não integrados que são utilizados por facções para o tráfico de drogas, e 
realmente não têm noção de seus atos, mesmo assim acabam sendo condenados. 
 
44 
 
 
8. JURISPRUDÊNCIAS DE IMPUTABILIDADE INDÍGENA 
 
 Como vimos ao longo desta monografia, o artigo 26º do Código Penal diz 
da Imputabilidade, considerando inimputável, o agente que, por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação

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