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SUMÁRIO Sumário 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 3 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................... 4 2.1 REFORMA PSIQUIÁTRICA............................................................................ 4 2.2 CAPS .............................................................................................................. 5 2.3 OFICINAS TERAPÊUTICAS .......................................................................... 7 2.3.1 Tipos de Oficinas Terapêuticas ................................................................... 8 2.4 A ARTETERAPIA NO CAPS .......................................................................... 9 2.5 REINSERÇÃO SOCIAL ................................................................................ 10 3 METODOLOGIA ........................................................................................... 12 4 ANÁLISE ...................................................................................................... 13 4.1 DIRECIONAMENTO PARA AS OFICINAS................................................... 13 4.2 CAPACITAÇÂO TÉCNICA ........................................................................... 14 4.3 BENEFÍCIOS DAS OFICINAS TERAPÊUTICAS NO CAPS ........................ 16 4.4 PROCESSOS PARA A REINSERÇÃO SOCIAL .......................................... 18 4.5 OFICINAS TERAPEUTICAS NA PANDEMIA ............................................... 20 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 21 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 22 APÊNDICE A– ROTEIRO DE ENTREVISTA ........................................................... 27 APÊNDICE B – DESCRIÇÃO DA ENTREVISTA CAPS II ....................................... 28 APÊNDICE C – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA CAPS AD ............................... 33 3 1 INTRODUÇÃO O atendimento à saúde mental vem se modificando ao longo do tempo. Segundo Lappann-Botti (2004), no Brasil Colonial os primeiros centros destinados ao atendimento das pessoas em sofrimento mental foram anexos das Casas de Misericórdia ou Santas Casas, posteriormente passaram a ser realizados por hospitais psiquiátricos, modelo que culminou na reforma psiquiátrica nos anos de 1970 e a criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O primeiro CAPS surgiu em março de 1986, na cidade de São Paulo, posteriormente se instalou em outros locais do país, com o objetivo de oferecer atendimento psicossocial à população, por meio do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2004). Dentre os serviços ofertados no CAPS, podemos destacar as Oficinas Terapêuticas, tema do presente relatório. As oficinas se caracterizam como atividades grupais de socialização, expressão e inserção social (BRASIL, 2004). Neste contexto, os autores deste relatório buscaram responder os seguintes objetivos: a) Compreender os benefícios das oficinas terapêuticas para os usuários do CAPS; b) Analisar como a pandemia do COVID-19 influencia no tratamento do usuário. A pesquisa se justifica visto que atualmente o CAPS é o principal serviço de atendimento à saúde mental no Brasil e as oficinas são consideradas por como uma das principais formas de tratamento dentre os serviços ofertadas pelo Centro (BRASIL, 2004). Em paralelo a esta questão, a pandemia do COVID-19 trouxe a obrigatoriedade do distanciamento social e a possível interferência na realização das oficinas terapêuticas, visto que estas são realizadas em grupos. Nesse contexto é de suma importância a busca de entendimento referente ao impacto da pandemia nas oficinas terapêuticas e aos seus usuários. Desta forma, ancorados na abordagem qualitativa, foram aplicadas entrevistas semiestruturadas. Uma das entrevistadas foi uma psicóloga do CAPS II e a outra foi uma assistente social do CAPS-AD, conforme será detalhado na sequência deste relatório. As entrevistadas trouxeram informações importantes com 4 relação à prática das Oficinas e os benefícios proporcionados aos seus usuários e ambas são consonantes ao afirmar que durante a pandemia houve suspensão das oficinas terapêuticas, o que possivelmente afetou significativamente o tratamento dos usuários. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 REFORMA PSIQUIÁTRICA No Brasil a reforma psiquiátrica inicia-se no final da década de 1970 com a mobilização dos profissionais da saúde mental e dos familiares de pacientes com transtornos mentais, provocando uma reflexão sobre a forma como os ditos “loucos” eram tratados pela sociedade. Neste período a assistência ainda estava centrada nas intervenções (psiquiátricas e a pessoa em sofrimento mental encontrava-se desprovida de direitos sobre o processo de saúde mental (AMARANTE, 2007). O tratamento de saúde no modelo manicomial, narrado por profissionais que trabalhavam na área da saúde como enfermeiros na época, eles relatam que antes da reforma psiquiátrica, os doentes mentais eram tratados como animais, vivendo em condições desumanas, dormindo sobre capim sujo de urina e fezes. Se as medidas farmacológicas não fossem suficientes, eram utilizadas terapia de choques sem qualquer aprovação das famílias daqueles que ainda possuíam, pois muitos deles sequer tinham nomes, conhecidos ou documentos (GUIMARAES; BORBA; LAROCCA; MAFTUM, 2013). A ideia da Reforma Psiquiátrica era a desativação e extinção gradual de manicômios, e a desconstrução da ideia de tratar o louco com o isolamento, para que estas pessoas que sofriam de transtornos mentais pudessem conviver livremente na sociedade. Nesse sentido surgia a luta antimanicomial, que veio para orientar as mudanças na assistência em saúde desta população (BRASIL, 2005). O ano de 1978 foi de início do movimento social pelos direitos dos pacientes psiquiátricos no Brasil, mas somente em 1987 ocorre o surgimento do primeiro Centro de atenção psicossocial (CAPS) no Brasil, como uma ferramenta para substituir o modelo manicomial (BRASIL, 2005). 5 A partir 1992, os movimentos sociais, inspirados pelo Projeto de Lei Paulo Delgado, conseguem aprovar em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição gradativa dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental (BRASIL, 2005). Segundo Amarante (2007), estas conquistas decorrem de lutas e reinvindicações dos trabalhadores da saúde mental e grupos sociais organizados, e culminaram na elaboração de declarações, projetos de lei, e mais tarde na promulgação de leis que viessem garantir um atendimento de qualidade para estas pessoas, baseado em uma lógica de reabilitação e reinserção social. Em abril de 2001, foi aprovada a Lei nº 10.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redirecionamento do modelo assistencial em saúde mental, influenciando o fechamento progressivo dos leitos em hospitais psiquiátricos e a consequente substituição por leitos em hospitais gerais e outros dispositivos. Isso contribuiu para a progressiva desospitalização de pacientes portadores de transtornos mentais e a inserção deles em novos serviços propostos pelo processo da Reforma (BRASIL, 2005). 2.2 CAPS A criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) se deu com um intenso movimento social, primeiramente iniciado por profissionais da saúde mental, que denunciavam a precariedade dos hospitais psiquiátricos e buscavam melhorias na assistência aos usuários, portadores de transtornos mentais. O primeiro CAPS surgiu em março de 1987, na cidade de São Paulo, denominado: Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira (BRASIL, 2004). Segundo Ribeiro (2004) as inspiraçõespara a criação dos CAPS vieram principalmente das experiências que foram realizadas no exterior, sobretudo, baseado em alguns princípios das comunidades terapêuticas, Psiquiatria de setor e Psiquiatria democrática italiana. De acordo com o autor Pitta (1994), a inspiração mais forte foi a dos centros de atenção psicossocial de Manágua (Nicarágua) que surgiram durante a revolução que ocorria no país em 1986. 6 Apesar de todas as dificuldades sociais, econômicas e políticas, esses centros foram maneiras criativas de cuidar, com responsabilidade, de pessoas com problemas psiquiátricos. Utilizavam-se de líderes comunitários, profissionais, materiais improvisados e sucatas para reabilitar as pessoas que, pelos transtornos mentais, eram excluídas da sociedade. As equipes eram interdisciplinares e tinham a proposta de uma ação ligada, ao mesmo tempo, à prevenção, tratamento e reabilitação. Outro aspecto importante desses centros era a parceria com outras instâncias sociais, sendo que alguns deles funcionavam em salões paroquiais ou outros locais. A marca dessas estruturas foi o compromisso ético de que todos têm o direito a uma vida digna a despeito da doença mental ou de outras limitações sociais e econômicas (RIBEIRO, 2004, p. 95). Nesse contexto, os serviços de saúde mental são criados em vários municípios do país e vão estabelecendo-se como eficazes na redução de internações e também sendo um símbolo da mudança do modelo assistencial (BRASIL 2004). Nesse sentido, o Centro de atenção psicossocial (CAPS) é um serviço de saúde comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS), que é referência no tratamento de pessoas que possuem transtornos mentais e que necessitam de cuidado intensivo, comunitário e personalizado (BRASIL, 2004). Os CAPS têm por objetivo oferecer atendimento à população, através do apoio clínico e a reinserção por meio do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários (BRASIL, 2004). O CAPS é um serviço de atendimento de saúde mental criado para substituir às internações em hospitais psiquiátricos. Os Centros de atenção psicossocial visam: a) Prestar atendimento em regime de atenção diária; b) Gerenciar os projetos terapêuticos oferecendo cuidado clínico eficiente e personalizado; e c) Promover a inserção social dos usuários por meio de ações intersetoriais que envolvam educação, trabalho, esporte, cultura e lazer, montando estratégias conjuntas de enfrentamento dos problemas (GOLDBERG, 1972). A intervenção dos CAPS é de suma importância, pois abrange vários aspectos ligados a atenção em saúde mental, desde a situações de crise a construção de projetos de inclusão social (SILVA, 2010). Dentre os serviços terapêuticos disponíveis nos CAPS estão: 7 QUADRO I - Atividades oferecidas peloCAPS (BRASIL, 2004) Atividades oferecidas pelos CAPS •Atendimento individual: prescrição de medicamentos, psicoterapia, orientação; • Atendimento em grupo: oficinas terapêuticas, oficinas expressivas, oficinas geradoras de renda, oficinas de alfabetização, oficinas culturais, grupos terapêuticos, atividades esportivas, atividades de suporte social, grupos de leitura e debate, grupos de confecção de jornal; • Atendimento para a família: atendimento nuclear e a grupo de familiares, atendimento individualizado a familiares, visitas domiciliares, atividades de ensino, atividades de lazer com familiares; • Atividades comunitárias: atividades desenvolvidas em conjunto com associações de bairro e outras instituições existentes na comunidade, que têm como objetivo as trocas sociais, a integração do serviço e do usuário com a família, a comunidade e a sociedade em geral. Essas atividades podem ser: festas comunitárias, caminhadas com grupos da comunidade, participação em eventos e grupos dos centros comunitários; • Assembleias ou Reuniões de Organização do Serviço: a Assembleia é um instrumento importante para o efetivo funcionamento dos CAPS como um lugar de convivência. É uma atividade, preferencialmente semanal, que reúne técnicos, usuários, familiares e outros convidados, que juntos discutem, avaliam e propõem encaminhamentos para o serviço. Discutem-se os problemas e sugestões sobre a convivência, as atividades e a organização do CAPS, ajudando a melhorar o atendimento oferecido Fonte: BRASIL, 2004, p.17. 2.3 OFICINAS TERAPÊUTICAS A inspiração para a criação das oficinas terapêuticas no Brasil se deu por meio do modelo produzido pela reforma psiquiátrica italiana, na qual o trabalho é considerado como fundamental para a reinserção social do indivíduo. Naquele país, esta ideia foi colocada em prática na criação de cooperativas, as quais admitiam ex- internos do Hospital Psiquiátrico como cooperados (ESTEVAM; SALES, 2016). Já o modelo utilizado no Brasil segue a normativa prevista na Portaria/SNAS, n. 189 de 19 de novembro de 1991, do Ministério da Saúde, segundo a qual as oficinas terapêuticas se caracterizariam como atividades grupais de socialização, expressão e inserção social (BRASIL, 2004). Atualmente as oficinas terapêuticas constituem uma das principais formas de tratamento oferecido no CAPS. Elas são realizadas em grupo, com a presença e a orientação de um ou mais profissionais. As atividades realizadas pelos usuários são 8 definidas conforme seu interesse, capacidade técnica do orientador e materiais disponíveis (BRASIL, 2004). Neste contexto, o termo “oficinas” tem a finalidade de designar atividades desenvolvidas em diversos espaços de saúde mental, representando dispositivos catalisadores da produção psíquica dos sujeitos envolvidos e ainda, pode ser compreendida como canais, destinados a dar vazão à singularidade e subjetividade do indivíduo, por meio das atividades criativas ofertadas (DIAS, 2018). As atividades propostas nas oficinas, possibilitam a inserção no trabalho, desenvolvimento de habilidades e atividades expressivas que promovem a manifestação de sentimentos e conflitos, atividades grupais, melhora na comunicação, na integração social e familiar. As atividades podem ser desenvolvidas e praticadas fora do CAPS e locais da instituição, servindo como uma estratégia terapêutica de reabilitação psicossocial, reinserindo esses indivíduos na comunidade, no trabalho e na vida social. Envolvendo o campo social e político do indivíduo (IBIAPINA, 2017; NUNES, TORRES e ZANOTTI, 2015; BRASIL, 2004). Segundo Bettarello (2008), a reabilitação psicossocial visa minimizar prejuízos funcionais e característicos ocasionados pelas doenças mentais. Tais limitações podem marginalizar o paciente da família e da sociedade e possibilitar recidivas sintomatológicas. As oficinas auxiliam os pacientes na redução ou extinção destes prejuízos. A busca pela reabilitação psicossocial, reinserção social e de exercício da cidadania do indivíduo são objetivos importantes dentro do CAPS e as oficinas terapêuticas são fundamentais nesse trabalho, proporcionando atividades que minimizam o estigma de “louco” e promovem o protagonismo de cada usuário na sua própria vida, resgatando sua identidade (IBIAPINA, 2017; BRASIL, 2004). 2.3.1 Tipos de Oficinas Terapêuticas Dentre as oficinas ofertadas no contexto de saúde mental, há alguns tipos principais. Guimarães, (2018) e Ibiapina, (2017), destacam as oficinas expressivas: as quais contam com a utilização de pintura, argila e desenho. Nesta categoria econtra-se a oficina de expressão corporal, a qual trabalha com modelos através da dança, ginástica e técnicas teatrais, juntamente com a expressão verbal, que é 9 exposta na poesia, contos, leitura e redação de textos, teatros e letras de música, bem como a expressão musical, que se dá através de musicais, fotografia e teatro. Há também oficina da canção/violão,sensibilização social/banda, tecelagem, horta e jardinagem, mosaico, libras, entre outras. No que se refere ao contexto de produção de capital, podemos citar as oficinas geradoras de renda, que consistem em um meio de aprendizagem para geração de renda através da aprendizagem de uma atividade, a qual pode ser igual ou diferente da profissão do usuário, proporcionandoao usuário uma aprendizagem a mais para se conseguir renda. As oficinas geradoras de renda podem ser realizadas através da culinária, marcenaria, costura, fotocópias, venda de livros, fabricação e artesanatos em geral, cerâmica, bijuterias, brechó, teatro oficina mecânica, oficina de marcenaria (NERY, 2011; GUIMARÃES, 2018). Outro tipo importante são as oficinas de alfabetização, as quais atuam de forma a ajudar os usuários que não tiveram acesso ou que não conseguiram permanecer na escola para que possam exercitar a escrita e leitura, sendo um recurso de extrema importância na construção e ou reconstrução da cidadania (NERY, 2011). Além das oficinas supracitadas alguns CAPS ofertam as oficinas de beleza, promovida por profissionais e/ou estagiários que promovem cuidados relacionados a higiene pessoal, para que assim possam melhorar a aparência das mãos, dos pés, da pele, dos cabelos dos usuários. Práticas como aparar os cabelos, barbear, pintar as unhas, apesar de ser comum e parte da rotina da maioria das pessoas, para muitos têm efeitos especiais por proporcionar bem-estar, acolhimento por meio do toque corporal, e por isso torna-se terapêutico (NERY, 2011; IBIAPINA, 2017). 2.4 A ARTETERAPIA NO CAPS Segundo Carvalho (1995), a Arteterapia é uma área de atuação que faz uso de atividades artísticas – música, pintura, desenho e poesia – como recursos terapêuticos e propõe estimular o autoconhecimento e a expansão da consciência. A arte em si pode ser considerada um meio de expressão, de comunicação, de linguagem e socialização, em que o artista relaciona seus sentimentos com aquilo que foi criado (BUENO; COSCRATO, 2009). 10 A respeito de seu desenvolvimento, a Arteterapia foi influenciada por grandes figuras da psicologia, como Freud e Jung, e foi na psicologia analítica onde a arte foi fortemente associada à psicologia. Nessa lógica, os pacientes de Jung utilizavam de atividades artísticas como desenhos e pinturas para que se expressassem e também estruturassem seus conflitos. No Brasil, esse desenvolvimento se iniciou ao longo do século XX, por meio da abordagem psicanalítica e Junguiana, entretanto neste mesmo momento ainda havia manicômios onde a violência era extrema, e então a arteterapia era um método oposto do que se utilizavam na época - isolamento, eletrochoque (REIS, 1995). Nise da Silveira foi uma das pessoas que se colocou extremamente aversiva aos métodos agressivos dentro dos manicômios, embora Nise não se intitulava como arteterapeuta a mesma utilizava de vários instrumentos artísticos, como pintura e modelagem em seus tratamentos em saúde mental (CASTRO; LIMA, 2007). Para a comunidade, a Arteterapia pode ser ofertada através das oficinas terapêuticas disponibilizadas pelo SUS nos CAPS. Esse recurso terapêutico visa proporcionar a melhoria da autoestima, relaxamento, lazer e o desenvolvimento de diversas habilidades, entre elas as habilidades visuais, motoras e espaciais (BUENO; COSCRATO, 2009). No campo da saúde mental, a comunicação verbal e não verbal é indispensável, porém muitas vezes ela pode ser distorcida, fazendo com que a arte se torne um grande apoio para a comunicação entre o profissional e o paciente (TAVARES, 2004). Além disso, alguns usuários do CAPS não se sentem seguros para expressar seus sentimentos de forma direta, ou seja, de forma verbal e então a existência de outro meio de comunicação faz com que um público maior seja atendido e acolhido (BUENO; COSCRATO, 2009). 2.5 REINSERÇÃO SOCIAL Levando em conta a trajetória histórica a respeito da saúde mental, a sociedade enfrenta diariamente desafios para zelar e refugiar indivíduos que adoecem mentalmente. Ainda assim, o que prevalece é a percepção discriminatória acerca da doença mental, ocasionando a segregação de pessoas necessitadas por cuidado psiquiátrico (MELMAM, 2001). 11 Nas condições atuais quanto à saúde mental, é notória a inevitabilidade da reinserção psicossocial, visando a necessidade de manter o indivíduo incluso, como cidadão. O CAPS trata-se de um serviço acessível ao público de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). Possuem funções caracterizadas e direcionadas a indivíduos que passam por graves neuroses, transtornos psíquicos, psicoses insistentes e severas, o que fundamenta a permanência em um espaço de atenção intensiva, social e fomentadora (L'ABBATE, 2003). Nessas instituições, são realizadas como parte do programa terapêutico atividades religiosas, educação profissionalizante, convivência em comunidade e programas culturais. Diante do cenário descrito observa-se que o suporte para a recuperação do indivíduo e sua reinserção na sociedade é realizado por meio de equipe multidisciplinar e por este motivo surge o questionamento sobre qual o papel da psicoterapia na reabilitação das pessoas que recebem esse tratamento (SOUZA; SILVA; BATISTA e ALMEIDA, 2016). O modelo utilizado para a reinserção pelo CAPS se faz pelo Matriciamento, onde Chiaverini (2011) cita que esse é um atual modelo de desenvolvimento de saúde entre equipes, e um método compartilhado para criação de uma proposta de mediação “pedagógico-terapêutica”. Esse processo advém de diálogos e discussões onde os profissionais prestam apoio individualizado à cada paciente, além dessas conversas a equipe faz uso do “Projeto terapêutico singular” observando qual a melhor conduta para cada usuário e os reinserindo em seus contextos (PEGORARO, CASSIMIRO e LEÃO, 2014). Para que isso ocorra é imprecindivel que o sistema de saúde (principalmente a UBS) tenha conhecimento das principais demandas do CAPS, para que seja possível a realização do matriciamento e da alta assistida dos pacientes em seus contextos diários, ou seja, em suas proximidades de moradia (PEGORARO; CASSIMIRO; LEÃO, 2014). 12 3 METODOLOGIA Para a elaboração deste relatório, utilizou-se a abordagem de pesquisa qualitativa, o qual se baseia em uma lógica e um processo indutivo (explorar e descrever, e depois gerar perspectivas teóricas). Neste modelo, o pesquisador inicia examinando o mundo social desenvolve uma teoria coerente com os dados adquiridos (HERNÁNDEZ SAMPIERI, 2013). A coleta de dados se deu por meio de entrevistas semiestruturadas, este modelo de entrevista permite ao pesquisador a possibilidade de obter informações diretamente do objeto estudado ou com pessoas que detenham maior conhecimento sobre o assunto. Ela apresenta a vantagem da flexibilização, alta taxa de respostas em sua aplicação e pode ser acessada por todos os públicos (LOZADA, 2018). A entrevista contou com um roteiro composto por 10 prguntas abertas, acerca da rotina diária do profissional do CAPS e sua equipe de atendimento, do contexto da realização das oficinas terapêuticas, seu papel na reinserção social e do impacto da pandemia de Covid-19 na realização das oficinas. O roteiro utilizado para a entrevista encontra-se no apêndice A. O processo de coleta de dados foi dividido em duas entrevistas. A primeira entrevista aconteceu no dia 11 de maio de 2021, de forma presencial no CAPS II, na cidade de Colombo. A entrevistada foi a psicóloga e coordenadora do CAPS, a qual chamaremos de Judy (nome fictício). A condução foi realizada por duas integrantes da equipe. Enquanto, a segunda entrevista ocorreu no dia 17 de maio de 2021, também de forma presencial no CAPS AD, na cidade de São José dos Pinhais. A entrevistada foi uma Assistente Social do CAPS, a qual chamaremosde Frida (nome fictício). A condução foi realizada por três integrantes da equipe. Para análise das entrevistas, utilizou-se da abordagem qualitativa, visto que o intuito foi diagnosticar questões subjetivas, característica da abordagem qualitativa. Esta abordagem se preocupa com os aspectos da realidade que não podem ser quantificados, pois estão relacionados com a compreensão e explicação das dinâmicas sociais (LOZADA, 2018). A fim de relacionar de forma efetiva a análise ao objetivo do trabalho, após a transcrição/descrição das entrevistas, utilizou-se de categorização. A categorização consiste numa operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto 13 com critérios previamente definidos (DESLANDES, 2015). Os assuntos categorizados foram agrupados em temas e relacionados ao referencial teórico. Os maiores desafios encontrados na pesquisa ocorreram devido à pandemia de Covid-19, que impossibilitou a presença de todos os integrantes do grupo nas entrevistas, bem como a impossibilidade de conhecer a prática das oficinas terapêuticas suspensas neste momento pelo mesmo motivo e a ausência de referencial teórico variado sobre as oficinas terapêuticas. 4 ANÁLISE 4.1 DIRECIONAMENTO PARA AS OFICINAS As oficinas terapêuticas se caracterizam como atividades grupais de socialização, expressão e inserção social (BRASIL, 2004). Segundo a entrevista feita com psicóloga no CAPS II de Colombo, a entrevistada trouxe que os usuários são encaminhados para as oficinas. Segundo ela, muitos deles vem por decisão própria ao CAPS sem encaminhamento algum, outros são encaminhados pelo UBS/UPA, que é recebido e acolhido pelo profissional que esta de plantão no dia, podendo ser ele de qualquer área da equipe. Após a chegada dos usuários, a psicóloga relata que é feito uma avaliação pela equipe multidisplinar, onde são feitas as escolhas das oficinas. Para esclarecer os objetivos das oficinas é fundamental explicitar que elas estão lidagas a um dos paradigmas que amparam a Reforma Psquiatrica no Brasil: a reabilitação psicossocial. Rauter (2000) afirma que essa é o grande desafio da reforma, cuja finalidade explícita é recuperar o louco como cidadão “por meio de ações que passam fundamentalmente pela inserção do paciente psquiatrico no trabalho, em atividades artísticas e artesanais, ou em dar-lhe acesso aos meios de comunicação.” As oficinas terapêuticas realizadas no CAPS são espaços de interação e socialização que visam à inserção do usuário em um espaço social, por meio de atividades que promovem a expressão de sentimentos e vivencias; a entrada dos 14 usuários no mercado de trabalho, e o resgate da cidadania por meios das oficinas. Elas cumprem a finalidade de reabilitação psicossocial (SOUZA, et al, 2016). Nos CAPS visitados, as oficinas terapêuticas aconteciam com alguma tematização como artesanatos, hortas, musicoterapias dentre outras, o que possibilitava desenvolver as habilidades daqueles que estavam acostumados a ser desacreditados no convívio social. Segundo Azevedo (2011), a realização de atividades sócio-terapêuticas desenvolvidas pelos profissionais busca dar suporte terapêutico aos pacientes, além de contar com apoio da família e da comunidade para realização das mesmas. A diversidade de atividades realizadas é essencial para o acolhimento dos usuários de forma integral. Deste modo, as oficinas terapêuticas são de suma importância para a ressocialização no sentido de configurar uma peça chave desse processo que possibilita o desenvolvimento de atividades em grupo, respeitando as diferenças e as individualidades de cada usuário. 4.2 CAPACITAÇÂO TÉCNICA De acordo com as entrevistas realizadas, foi possível observar que perante os relatos das oficinas terapêuticas, os pacientes não veem as oficinas como uma ação separada pelo CAPS com um determinado objetivo, e sim como qualquer outra atividade oferecida no local. Uma das entrevistadas diz ser apenas uma "psicóloga" e não uma especialista e por esses motivos não são oferecidas as oficinas como observamos na literatura onde diz ser específica para cada situação e sim são disponibilizadas atividades parecidas com os profissionais que se encontram na unidade e tem uma certa habilidade como música ou outra habilidade artística , então são criadas as modalidades e inseridas no grupo com um determinado objetivo, porém nos CAPS entrevistados não encontramos pessoas específicas que sejam profissionais voltados para a área de oficinas terapêuticas. Estes serviços de saúde mental propõem ações e atividades na vivencia e dimensão comunitárias, com o objetivo de o "louco" ser reabilitado e voltar a sua família, através de uma equipe técnica. Assim, a partir da Reforma Psiquiátrica, os serviços substitutivos e os profissionais de saúde passam a não dar preferencia para o atendimento individual do doente, destacando o transtorno mental como ponto 15 central, mas a coletividade de seus relacionamentos afetivos, sociais, familiares e comunitários. Assim, a família representa o espaço coletivo indispensável para a melhora de seu familiar, mesmo que não tenha uma boa convivência no cotidiano, e nesse momento que vemos a importância de não tratar o paciente com sofrimento psíquico isoladamente, e sim todos que compõem seu núcleo familiar (ALENCAR; DELMO, 2017). O sofrimento psíquico de um membro da família afeta também outros membros, e nesse momento a capacitação técnica do profissional se diferencia, pois tem o desafio de entender e buscar a união familiar ou social para que a recuperação desse paciente aconteça e em conjunto é trabalhado a prevenção familiar e social (MEDEIROS; DULCIAN, 2011). A importância e reconhecimento da família como unidade de cuidados, tendo sua inserção na agenda terapêutica dos serviços de saúde mental, representada como beneficiaria na participação ou transformação do paciente, representa um desafio para os profissionais de saúde. Onde exige força de vontade dos profissionais seguidos de acolhimento e atenção adequada nas práticas terapêuticas (MEDEIROS; DULCIAN, 2011). Então com esse pensamento o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) responde pela porta de entrada e regulação em saúde mental no SUS, com o objetivo de substituir internações manicomiais pelo atendimento a comunidade, com acompanhamento clínico e reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis, fortalecimento dos laços familiares e comunitários, além de oferecer suporte à saúde mental na rede básica de saúde. Essas atividades são programadas mediante o interesse dos usuários, as possibilidades dos técnicos ou as necessidades do serviço no projeto terapêutico, objetivando maior integração na família ou sociedade. Nesse modelo o CAPS possui muitos desafios que mesmo investigados ainda possuem falhas, porem ocorre à busca da melhoria do serviço oferecido, mesmo que os familiares ainda não entendam todos os aspectos estruturais e organizacionais localizados no funcionamento, incluindo a capacitação dos recursos materiais e humanos (ALENCAR; DELMO, 2017). 16 4.3 BENEFÍCIOS DAS OFICINAS TERAPÊUTICAS NO CAPS Sobre os benefícios observados nas oficinas terapêuticas pela psicóloga do CAPS II, ela relata que é nessas oficinas em que os usuários socializam, aprendem e se expressam, além da melhora na coordenação motora, socialização e empoderamento. Ela relata que o fato de eles observarem que são capazes de fazer aquela atividade proposta os empodera, eles começam a ver capacidade dentro de si, que é o contrário do que ouvem fora do CAPS na comunidade. A entrevistada do CAPS-AD que trabalha com usuários de álcool e outras drogas, relata que as nas oficinas as atividades são voltadas para conscientização dos pacientes, da questão da doençae da importância da questão do tratamento. Ela não acha que há uma oficina que traga mais benefícios que outra, mas cada uma é importante no que propõe. Sobre a socialização a entrevistada relata que os pacientes podem ser reinseridos no mercado de trabalho e quando um paciente consegue uma alta melhorada ela sabe que melhorou a realidade daquela família e a relação do usuário com os familiares. A entrevistada diz que muitos deles sempre estão fazendo alguma atividade junto à sociedade seja na igreja, seja no trabalho, relata que a partir do momento que o usuário se torna funcional, ele passa a ser produtivo com eles mesmos para manter esse tratamento. Alves, Oliveira e Vasconcelos (2013) trouxeram uma contribuição muito benéfica na área da saúde mental com uma pesquisa que abrange a visão dos usuários, profissionais e familiares sobre empoderamento em saúde mental dentro do CAPS. Dentro deste contexto foi identificado a definição de empoderamento por parte dos usuários e familiares entre eles algumas categorias que serão abordadas, sendo elas: cuidado de si, recuperação/sociabilização e ajuda mútua/coletivização. Na categoria de cuidado de si observa-se reflexão sobre independência, liberdade e autocuidado, relatos orgulhosos de conseguir fazer atividades sozinhos, serem responsáveis consigo e suas atividades diárias como: “ser dona de si”, “adquirir experiência a respeito da minha doença”, “tomo conta dos meus remédios”, “vou sozinho fazer exame do coração e tudo”, “tudo eu faço sozinho, pago as minhas contas sozinho”. Observa-se aqui que o cuidado de si é relatado por eles como melhora significativa no funcionamento funcional e individual (ALVES, OLIVEIRA e VASCONCELOS, 2013). A psicóloga entrevistada do CAPS II relata 17 que existem casos em que o paciente pede alta para que esse possa tentar “viver lá fora”, o que demonstra essa ânsia por liberdade e independência. Na categoria de recuperação e sociabilização (ALVES, OLIVEIRA e VASCONCELOS, 2013) traz esta ferramenta de estimular a socialização desses indivíduos como uma forma de reinserção social. Como a psicóloga do CAPS II entrevistada para o trabalho atual relata que os pacientes criam vínculos entre eles que levam essa amizade pra fora do ambiente do CAPS. E a entrevistada do CAPS- AD relata a reinserção no mercado de trabalho e relação melhorada com os familiares e rede de apoio. A categoria ajuda mútua e coletivização foi algo trazido pela entrevistada com grande ênfase, quando perguntado qual oficina ela via mais engajamento dos usuários, ela responde que,“o engajamento é observado em todas as oficinas, e ela acredita que não é propriamente pela atividade da oficina que se dá a melhora, mas sim pela “troca”, pela interação e pela percepção de si na sociedade e na identificação dos problemas dos outros, ou seja, o processo por um todo que traz os benefícios.” Alves, Oliveira e Vasconcelos (2013) apresentam que “a ajuda entre os pares, entre os iguais em sofrimento”, é vista através do respeito às diferenças e a diversidade e esta ajuda mútua fortalece as capacidades individuais e coletivas. Possibilita uma partilha de experiências, convivência e aprendizado, o que faz dessas atividades com interação experiências construtivas e terapêuticas. Santos (2019) informa que atividades que tem por características ajuda e suporte mútuo, são atividade nas quais há interação de pessoas com pessoas, sem uma relação de superioridade, o que ocasiona numa relação real, não mecânica e mais confortável ao usuário. Estas ações tem capacidade de estimular a interação social, o convívio e ajuda os participantes a serem mais ativos nas suas vidas. Atividades de suporte mútuo criam um sentimento de pertencimento, o qual auxilia no sentimento de confiança e autoestima, características fundamentais para reinserção social. (SANTOS, 2019). A cartilha de manual ajuda e suporte mútuo em saúde mental auxilia a diferenciar as atividades de ajuda mútua do suporte mútuo. Ajuda mútua é primordialmente a acolhida, é a troca e escuta de experiências e apoio emocional compartilhadas por pessoas que partilham o mesmo sofrimento. Já o suporte mútuo seria realizar atividades juntos como atividades sociais, artísticas, culturais, 18 esportivas, de lazer etc, ambos podem ser encaixados nas falas das entrevistadas (BRASIL, 2013). Observamos, a partir desses relatos e da fundamentação de alguns autores, que o empoderamento se apresenta como um cuidado de si representado pela melhora da funcionalidade social, pela mudança de comportamento, a conquista da capacidade de andar sozinha na cidade, dando aos sujeitos a liberdade de ir e vir trazendo um significado de bem-estar e consequente melhora das condições de vida dos usuários e familiares (Alves, Oliveira e Vasconcelos, 2013). Desta forma pode-se observar que as oficinas terapêuticas e suas atividades que promovem, cuidado de si, sociabilização e ajuda mútua são dispositivos de empoderamento em saúde mental e são ferramentas importantes para criação de autonomia e reinserção social. 4.4 PROCESSOS PARA A REINSERÇÃO SOCIAL De acordo com a entrevistada, os principais objetivos do CAPS é a promoção da autonomia, o desenvolvimento e a capacidade do paciente ser reinserido na sociedade, principalmente em seus contextos diários. Sendo um dos principais objetivos, a reinserção conta com uma série de fatores para que seja concluída de forma efetiva. Um dos fatores que se desenvolve desde o início do tratamento é o projeto terapêutico singular, que nada mais é que a construção de uma proposta terapêutica (individualizada), pela equipe multidisciplinar e a família do paciente. O PTS é utilizado no CAPS como uma ferramenta que proporciona melhor resposta para os processos de tratamento, visando diversos aspectos além do diagnóstico e da medicação (MATOS, et al, 2017). Além da participação da família no projeto, Judy relata que o acolhimento familiar é fundamental para o processo de recuperação do paciente, entretanto há diversos obstáculos, já que nem todas as famílias têm conhecimento a respeito do assunto e acabam deslegitimando o transtorno e todo o processo do CAPS e do paciente. Uma das formas encontradas para essa inclusão da família no processo terapêutico é através das oficinas, esses trabalhos realizados são considerados ótimas estratégias já que dá oportunidade ao paciente se desenvolver em seu meio 19 e proporciona momentos agradáveis com a família (SCHRANK; OLSCHOWKY, 2008). A gente procura sempre trazer a família pra perto, pra próximo. É uma dificuldade bem grande que a gente tem, porquê geralmente os pacientes de saúde mental são estigmatizados, acabam ficando a margem e não é toda família que é suportiva (JUDY; 2021). Curiosamente, durante a entrevista a psicóloga do CAPS II trouxe um assunto pouco encontrado nas literaturas, a respeito da resistência que os pacientes tem quando estão perto de receber alta. Os principais motivos para que isso ocorra são citados durante a entrevista e correspondem a questões ligadas ao acolhimento, respeito, e atenção as condições deles, além disso, a profissional do CAPS-AD discorre a respeito disso em sua fala, evidenciando essa grande resistência dos pacientes para receber alta. Muitos deles consideram o CAPS como uma segunda família, não são acolhidos num primeiro momento, e depois são compreendidos e isso faz toda diferença, porque é o suporte deles, e muitos vinculam a tal ponto que chega no momento de dar alta, eles não querem (FRIDA, 2021). Além desses, para a realização da reinserção social de maneira eficiente, a alta assistida se faz muito presente, fazendo com que o paciente seja liberado do CAPS, mas ainda continue em tratamento pela rede de saúde. Esse modo de alta ocorre simultaneamente com o matriciamento– acompanhamento do paciente em todas as esferas da saúde pública–, visando estabelecer uma ampla rede de cuidados principalmente no cenário diário dos usuários e responsabilizando toda a rede pela reinserção de determinado paciente, assim esses indivíduos vão sendo reinseridos na sociedade de maneira gradual explorando os desafios que as atividades diárias trazem (GAZIGNATO; SILVA, 2014). A alta é assistida, não é alta do tratamento, mas sim do CAPS, o paciente continua o tratamento dele dentro da rede de saúde. [...] Esse matriciamento a gente faz junto com a unidade de saúde, fazer o acompanhamento desse paciente na região dele, para que esse paciente seja acompanhado, tratado e acolhido pela UBS (JUDY, 2021). Por fim, Judy relata que a reinserção de pacientes crônicos é extremamente difícil já que a rede de saúde não está preparada para receber esses pacientes, 20 infelizmente o tratamento multidisciplinar só é encontrado dentro dos CAPS e por esse motivo os pacientes não conseguem se estabelecer na sociedade, precisando então voltar diversas vezes ou nem sair do CAPS. “Se tivéssemos uma rede, onde dentro da unidade tivesse um psicólogo, um T.O e psiquiatra, eles não precisariam ficar uma vida toda no CAPS” (JUDY, 2021). 4.5 OFICINAS TERAPEUTICAS NA PANDEMIA Em relação às oficinas terapêuticas, ambas as entrevistadas relataram que devido ao contexto pandêmico atual, as oficinas terapêuticas não estão funcionando. Segundo a assistente social do CAPS-AD, no momento estão sendo prestados apenas atendimentos individuais, além de um acompanhamento via telefone, com o objetivo de orientar e ouvir, realizando o acolhimento desses pacientes. De acordo com Pitiá e Santos (2006) “o objetivo do Acompanhamento Terapêutico (AT) é descrito como significar aquilo que o sujeito expressa com seu adoecer, para que interaja de forma mais saudável em termos biopsicossociais”. De acordo com a entrevistada do CAPS II, os pacientes ficaram muito isolados nos últimos meses. Muitos deles entraram em contato via telefone perguntando a respeito de quando as oficinas voltariam a funcionar. Diante desse relato é possível perceber a falta que as oficinas fazem na vidados usuários. Em ambas as entrevistas, foi possível identificar, por meio dos relatos apresentados pelas profissionais, o aumento significativo na procura por atendimento nos CAPS durante a pandemia. De acordo com a psicóloga do CAPS II, a procura se deu por queixa de crises de ansiedade geradas pela pandemia do COVID-19. Como descrito por Ornelle e colaboradores (2020) em uma pandemia, o medo aumenta os níveis de ansiedade e estresse em indivíduos saudáveis e intensifica os sintomas naqueles com desordens psiquiátricas preexistentes. Pesquisas apontam que indivíduos com transtornos mentais tendem a apresentar níveis mais elevados de estresse e sofrimento psicológico durante a quarentena provocada pela COVID-19, comparados a pessoas sem esses transtornos. Isso se dá em decorrência tanto da maior vulnerabilidade psíquica como de outros fatores; por exemplo, a dificuldade de acesso a tratamento durante a pandemia (BARROS, et al, 2020, p. 2) 21 A assistente social do CAPS-AD também relatou que a demanda triplicou durante a pandemia. De acordo com a entrevistada, isso pode estar ocorrendo, pois nesse momento as famílias estão em casa com mais freqüência e acabam não querendo que o usuário esteja no ambiente familiar. Ela também destacou o fato de que muitos usuários frequentavam as ruas e agora isso se tornou um fator de risco frente a pandemia do COVID-19. Segundo ela, esses fatores fizeram com que os familiares buscassem ajuda nesse período e consequentemente aumentou a demanda. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A elaboração deste artigo possibilitou visualizar a complexidade do assunto, considerando que ao analisar o que abrange o tema “Oficinas Terapêuticas no CAPS”, inicialmente é necessário compreender o processo terapêutico do CAPS como um todo, assunto que foi abordado de maneira ampla pelas profissionais entrevistadas. Ficou evidente que são inúmeras as atividades realizadas nas oficinas pelo CAPS e essas ações geram diversos benefícios aos usuários, sendo os principais: a socialização, expressão, autonomia, empoderamento e até o desenvolvimento de habilidades profissionais. Apesar da falta de profissionais que apliquem essas atividades de maneira permanente (oficineiros), as oficinas são realizadas e se obtém resultados eficientes. Um dos principais pontos abordados neste artigo trata-se da reinserção social dos usuários do CAPS, esse processo conta com o PTS (Projeto Terapêutico Singular) e com o Matriciamento que são instrumentos de apoio, que visam proporcionar ao paciente uma construção de proposta terapêutica individual, mas de forma coletiva. É importante ressaltar a relevância da família para o processo de reinserção, como forma de alicerce que contribui para a recuperação do indivíduo e proporciona a ele uma base acolhedora e segura. Referente ao cenário atual que nos encontramos - pandemia do Covid 19 -, se fez necessário novas adaptações no processo de tratamento utilizado pelo CAPS, além disso, a demanda nos CAPS aumentou consideravelmente durante esse novo momento que estamos vivendo. Para isso, a aceleração no uso de novas 22 tecnologias educacionais remotas, se tornou um facilitador no processo, pois a redução do fluxo de pessoas dentro do CAPS foi imprescindível para a segurança de todos. Por fim, foi possível evidenciar nas entrevistas realizadas, que na área da saúde ainda há muito a fazer, seja a respeito de capacitação técnicas para aqueles que planejam trabalhar no CAPS, ou até para a formulação de novas políticas públicas, para que haja uma troca de informações eficientes a respeito dos pacientes e assim o matriciamento seja superior ao atual e então a reinserção social consiga atingir a todos os usuários, incluindo os pacientes crônicos. REFERÊNCIAS ALENCAR, Carvalho. Oficinas Terapêuticas e as mudanças sociais em pacientes com transtorno mental. Escola Anna Nery, 2017. Doi: 10.1590/2177-9465-EAN- 2016-0375 ALVES, Tarcísia Castro; OLIVEIRA, Walter Ferreira de; VASCONCELOS, Eduardo Mourão. 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Acesso em: 26 Abr. 2021. https://doi.org/10.1590/S0034-71672003000100007 27 APÊNDICE A– ROTEIRO DE ENTREVISTA Prezada, A presente entrevista faz parte de umtrabalho para disciplina de Oficina de Produção do Conhecimento do curso de Psicologia do Centro Universitário Unidombosco. Suas respostas serão gravadas e utilizadas restritamente para a elaboração do relatório da disciplina e mantidas em sigilo. Agradecemos por sua colaboração. 1. Como é para você trabalhar no CAPS? Poderia descrever um pouco da sua função e como é o dia-a-dia? 2. Quais profissionais fazem parte da equipe do CAPS? 3. Quais são os objetivos do trabalho do CAPS, das oficinas terapêuticas? 4. Quais tipos de Oficinas terapêuticas são ofertadas neste CAPS? 5. De que forma essas oficinas terapêuticas podem contribuir para o tratamento dos usuários? 6. Em relação as oficinas terapêuticas, há diversas atividades que podem ser desenvolvidas para melhorar a qualidade de vida dos usuários. Qual você observa que tem maior impacto na vida para eles? (complementar: Quais oficinas apresentam maior engajamento?) 7. Segundo a literatura, as oficinas produzem resultados significativos na reabilitação psicossocial dos usuários. Qual a sua percepção sobre esta afirmação? 8. A literatura apresenta a arteterapia como uma atividade importante no contexto das oficinas terapêuticas. Você concorda com esta afirmação? Na sua opinião de que forma esta atividade auxilia no desenvolvimento dos usuários do CAPS? 9. Qual o papel das oficinas na reinserção social do usuário do CAPS? 10. De que forma a pandemia ocasionada pelo Covid-19 afetou o desenvolvimento das Oficinas? (Os usuários relatam prejuízos?) 28 APÊNDICE B – DESCRIÇÃO DA ENTREVISTA CAPS II DESCRIÇÃO ABREVIADA DO ÁUDIO Entrevistada: Judy – Psicóloga e Coordenadora do Caps II na cidade de Colombo- PR. Maristela: Apresentação inicial – nome, faculdade, curso, disciplina e o objetivo da entrevista. Maristela: Realização da primeira pergunta – “Como é para você trabalhar no CAPS? Poderia descrever um pouco da sua função e como é o dia-a-dia?” Judy: Discorre a respeito do seu início de carreira (após sua formação apenas trabalhou na área de Recrutamento e Seleção, e após 6/7 anos a mesma prestou concurso para estar no CAPS), e deixa explicito que em sua época não havia disciplinas que envolviam a saúde pública. Judy: Inicia a explicação a respeito do funcionamento do CAPS (quem são os pacientes e que estes podem ter transtornos como esquizofrenia, depressão, ansiedade etc.) e evidencia a participação do CAPS na saúde pública (UBS). Judy: Apresenta toda a equipe multidisciplinar – psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, psiquiatras e técnicos de enfermagem – deixando claro que neste CAPS de Colombo faltam alguns profissionais nessa grade, como oficineiros e profissionais de educação física. Judy: Continua a fala apresentando os objetivos do CAPS evidenciando as oficinas (“Promoção da autonomia, o desenvolvimento e a capacidade do paciente ser reinserido na sociedade, no contexto familiar e no contexto de trabalho”), mesmo que existam os pacientes de alto risco que não conseguem exercer certos tipos de autonomia os profissionais trabalham o máximo dentro de cada individualidade. Nesse mesmo momento a entrevistada deixa claro que por conta da pandemia as oficinas não estão funcionando. Maristela: Realização das seguintes perguntas: “Quais são os objetivos do trabalho do CAPS, das oficinas terapêuticas?” e “Quais são as oficinas ofertadas no CAPS?”. Judy: Antes de começar a responder as questões, Judy deixa claro novamente que devido ao Covid-19 as oficinas estão temporariamente desativadas. Entretanto relembra as oficinas ofertadas anteriormente – pintura, artesanato, horta, grupos de enfermagem que trata saúde e medicação, grupos de terapia e também de terapia ocupacional -. 29 Judy: Um dos processos mais realizados nos CAPS são as divisões em grupos que são feitas a fim de unir pacientes com características próximas e propor oficinas e recursos terapêuticos a esses de acordo com a necessidade de cada. Para isso há o Projeto Terapêutico Singular, onde a equipe avalia qual a melhor conduta para cada um dos pacientes e assim os inserindo nas oficinas adequadas. Judy: Exemplifica o “fluxo” do CAPS em: Chegada do paciente acolhido, seja por “portas abertas” (onde o paciente decide ir ao CAPS sem encaminhamento algum) ou encaminhamento pelo UBS/UPA É recebido pelo profissional de plantão do dia (podendo ser o profissional de qualquer área da equipe) Avaliação pela equipe multidisciplinar Projeto terapêutico Singular e escolhas das oficinas Inserção na Oficinas. Judy: Nesse momento a entrevistada comenta da importância da aproximação da família em todo o processo terapêutico e comenta que há uma dificuldade bem grande nessa aproximação, pois há uma estigmatização do paciente pela família e que acaba dificultando a reinserção desse indivíduo nesse contexto. Judy: Neste momento a entrevistada informa os horários de funcionamento do CAPS (das 08:00 às 18:00 de segunda à sexta), e das oficinas, que ocorrem todos os dias em diferentes períodos. Além disso Judy deixa evidente que o CAPS II não faz atendimento emergencial – somente a UPA, ou CAPS III, emergência psiquiátrica –. E em colombo não há atendimento emergencial para estes pacientes com transtornos. Judy: Novamente é apresentado a função/objetivo do CAPS: “Acolher, tratar, estabilizar e conceder a alta”, entretanto alguns pacientes ao conhecer essa rede de atendimento não querem mais “sair”. Os principais motivos para a resistência da alta são pontos positivos que acabam prendendo-os, como: equipe ótima, acolhimento, respeito, não julgamento e atenção à condição deles. Maristela: Para continuar nesse assunto a entrevistadora pergunta: “É decisão deles (pacientes) a alta?” Judy: A resposta é não, a decisão é da equipe juntamente com o paciente e sua família. Apesar da maioria dos pacientes terem alta, existem os pacientes crônicos/graves que não conseguem ter uma vida “normal” fora do CAPS, o que não é o ideal para ele. Neste sentido a entrevistada apresenta um ponto que ainda não existe na rede de saúde mas que poderia ajudar esses paciente graves, “Se tivéssemos uma rede, onde dentro da unidade tivesse um psicólogo, um T.O e psiquiatra, eles não precisariam ficar uma vida toda no CAPS”. Judy: Avançando no assunto, Judy relata que o tempo do tratamento do CAPS é individual de cada um e que existem casos em que o paciente pede alta para que 30 esse possa tentar “viver lá fora”. E a alta é de modo assistido, onde a liberação é do CAPS mas o paciente continua seu tratamento na rede de saúde. Maristela: Ainda nesse assunto a entrevistadora questiona: “Vocês conseguem saber da vida do paciente posteriormente? Em algum momento algum deles volta para contar para vocês sua trajetória?”. Judy: Afirmando Judy diz que há vários casos de pacientes que retornam para serem parceiros em trabalhos voluntários e para darem apoios em atividades. Judy: Em seguida a entrevistada expõe uma fala que é dita diversas vezes aos pacientes “eles não são a doença, eles não são aquilo que apresentam ali, eles são gente, e que vão melhorar”. Nesse sentido a psicóloga explica a necessidade da paciência e do comprometimento que se deve ter com o tratamento. Marianna: Outra pergunta é exposta á convidada: “Como você percebe a relação interpessoal dos pacientes?”. Judy: A Psicóloga responde que há melhoras, já que esses pacientes criam vínculos entre eles e que levam essa amizade para além do CAPS. Mesmo que não seja mensurável a quantidade de pacientes que apresentam essa melhora é facilmente observada por eles. Judy: Um novo conceito é exposto pela entrevistada, o “MATRICIAMENTO”, que é feito juntamente com a rede de saúde. Esse matriciamento nada mais é que o acompanhamento do indivíduo no seu ambiente (na sua unidadede saúde, na sua região). Maristela: Continuando a entrevista a Maristela questiona: “Dentre os serviços ofertados pelo CAPS, o que você sente sobre as oficinas terapêuticas? Os pacientes sentem falta?”. Judy: A entrevistada confirma que as oficinas fazem falta para os pacientes. Pois é nessas oficinas em que os usuários socializam, aprendem e se expressam, além da melhora na coordenação motora, socialização e empoderamento. Outros benefícios se dão pelo projeto “Economia Solidária”, onde os pacientes podem expor os produtos desenvolvidos nos CAPS (antes da pandemia), e o dinheiro ganho com estes produtos é revertido nas oficinas. Maristela: A respeito dos materiais usados no CAPS, a entrevistadora indaga: “Os materiais das oficinas são disponibilizados pela prefeitura? É um processo fácil? Judy: A entrevistada lembra que alguns anos atrás o CAPS não tinha um total apoio e que os profissionais já tiveram que comprar alguns materiais com a sua própria 31 renda, mas que atualmente os materiais são entregues pela prefeitura, mesmo sendo um processo burocrático. Judy: Nesse momento da entrevista, a profissional trouxe uma curiosidade: “com a pandemia o CAPS teve uma grande procura”, ou seja, uma grande demanda para poucos profissionais e apenas um CAPS em Colombo. Maristela: Avançando no assunto a entrevistadora pergunta: “Em relação as oficinas terapêuticas, há diversas atividades que podem ser desenvolvidas para melhorar a qualidade de vida dos usuários. Qual você observa que tem maior impacto na vida para eles?” Judy: A profissional explica que o engajamento é observado em todas as oficinas, e a mesma acredita que que não é propriamente pela oficina que se dá a melhora, mas sim pela “troca”, pela interação e pela percepção de si na sociedade e na identificação dos problemas dos outros, ou seja, o processo por um todo trás os benefícios. Lembrando que no sentido das oficinas, não é o resultado (beleza) do produto que importa, mas sim a experiencia nesse momento e percepção de que os usuário tem capacidade. Maristela: Afunilando no assunto, a entrevistadora questiona “A literatura apresenta a arteterapia como uma atividade importante no contexto das oficinas terapêuticas. Você concorda com esta afirmação? Na sua opinião de que forma esta atividade auxilia no desenvolvimento dos usuários do CAPS?” Judy: A profissional concorda, pois é através da arteterapia que há a verbalização e expressão dos sentimentos que antes os pacientes não conseguiam identificar e expor. Judy: Novamente a psicóloga impõe que, não é a realização do trabalho que importa, mas sim a identificação, a expressão do sentimento e dos pensamentos pelo paciente. Judy: Ao ressaltar os pacientes crônicos a profissional discorre: “Nós temos pacientes que são cognitivamente rebaixados que não tem a capacidade de cognição, para fazer esse processo de reflexão”, e alguns deles não participam as oficinas da mesma maneira. Judy: Finalizando esta parte, Judy comenta que a partir do momento em que o paciente entende que é a partir da fala e da exposição que esse conseguirá “acalmar” a sua dor, ele se da conta do caminho para a melhora. Judy: Ao discorrer sobre a pergunta que é feita à profissional, a mesma expõe que existe os tratamentos individuais/pontuais, mesmo que dentro dos CAPS não existam as convencionais “psicoterapias” esse acolhimento individual existe. Ressaltando o assunto, Judy dispõe que o CAPS não é um ambulatório de 32 psicologia, mas quando um individuo necessita desse tipo de tratamento esses são encaminhados ao CAPS - pois não há atendimento ambulatorial psicológico na rede de saúde de Colombo – e acabam se frustrando, já que o tratamento nesse serviço é multidisciplinar (mesmo que haja atendimento psicoterápico brevemente e pontualmente). Maristela: Mais uma pergunta é apresentada à profissional “Você acha que a falta da psicoterapia no cotidiano influencia no processo?”. Judy: Ao dizer que sim a psicóloga declara que nesses casos onde o paciente não é de médio nem grave risco, mas necessita/quer algum tratamento psicológico, ele passa pela avaliação e é adicionado ao CAPS temporariamente, lembrando que o processo de tratamento que ele passará será semelhante aos outros pacientes. Maristela: Ao comentar sobre assuntos abordados devido à pandemia, surgiu a seguinte dúvida: “Os pacientes relatam algum tipo de prejuízo devido à falta das oficinas?”. Judy: Em resposta a essa pergunta, Judy comenta que os pacientes ficaram muito isolados nesses últimos meses, fazendo com que esses ficassem ligando para eles perguntando a respeito de quando as oficinas voltariam novamente. Maristela: Ao analisar o local a entrevistadora pergunta “Essas pessoas que estão aguardando, são pacientes novos?”. Judy: Momentos antes a entrevistada estava realizando um acolhimento com um paciente novo, onde o mesmo chegou ao local com queixa de crises de ansiedade gerada pela covid-19 (pandemia), o hospital o encaminhou para o CAPS, entretanto o CAPS o encaminhou para a UBS pelo seu quadro ser entendido como leve. Judy: A profissional comenta que geralmente o horário de acolhimento acontece na parte da manhã, mas simultaneamente os pacientes do CAPS vão para as suas “agendas” que são as suas consultas individuais com o profissional agendado naquele dia. Maristela: Agradecimentos realizados pelas alunas para com a profissional entrevistada. 33 APÊNDICE C – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA CAPS AD Entrevistada: Frida (nome fictcío)– Assistente Social do Caps AD na cidade de São José dos Pinhais- PR. Entrevistadora 1 (Larissa): Então, meu nome é Larissa, essa é a Giovana, a gente é estudante de psicologia do 5° período da UniDomBosco e a gente está fazendo um trabalho acadêmico na disciplina de Oficina de Produção do Conhecimento de Saúde Mental, o nosso trabalho é sobre as Oficinas e a importância que ela tem para os usuários do CAPS... Aí nós vamos começar fazendo algumas perguntas... Como é para você trabalhar no CAPS? Você poderia descrever um pouquinho para nós sobre a sua função, como é o seu dia a dia. Entrevistada: Bom dia, meu nome é Frida, eu sou assistente social, estou no CAPS-AD aqui de São José dos Pinhais há 6 anos, e hoje a gente tá numa realidade um pouquinho diferente, devido a pandemia, mas antes da pandemia, a gente tinha as oficinas, onde a gente leva para eles a respeito principalmente a questão de comportamento, o que é a dependência química, prevenção de recaída, e que dentro da minha área, inclusive, do serviço social, eu levo vários temas como aborto, como Lei Maria da Penha, e geralmente são assuntos que crescem, geram bastante polêmica, dia 18 de Maio agora é tanto a Luta Antimanicomial, quanto a luta contra o abuso infantil de um caso bem conhecido Araceli, e eu sempre trago isso pra eles, faço eles refletirem, porque, não digo em todos os casos de violência, eles estão envolvidos com os usos de substância, mas nesse caso em específico, estava atrelado, então a gente traz no sentido de orientar essas pessoas, na questão dos cuidados, e na questão da família, os riscos que essa criança, ou esposa, familiares, podem ter, mediante ao uso de substâncias… Então, assim, amo trabalhar no CAPS, sou apaixonada pelo que eu faço, e acho que é bem importante a gente fazer aquilo que você gosta, acho que esse é o diferencial, porque a hora que eles vão coloacar esse conhecimento em prática, é quando vai fazer a diferença. Entrevistadora 1 (Larissa): E vocês trabalham com Oficinas Terapêuticas aqui? Entrevistada: Sim, a maioria delas são Oficinas Terapêuticas, hoje nós temos a psicóloga, a assistente social, tem enfermeira, tem os técnico e auxiliar de enfermagem que fazem os grupos também e uma terapeuta ocupacional. Então, assim, geralmente asnossas atividades são voltadas realmente para conscientização dos pacientes, da questão da doença, da importância da questão do tratamento, e deles caírem em si, porque o que a gente sempre fala, não adianta eu pensar que eu vou mudar o outro porque o mudo só a mim mesmo. Mas assim, a 34 gente está aqui para ajudar nesse processo, alguns casos os pacientes usam a medicação mas nem todos precisam de medicação, e no ano passado, no começo da pandemia a gente teve uma situação que a gente até cogitou de fechar o CAPS por algumas semanas, ou 30 dias, e os pacientes fizeram todo o movimento, e não, e foram atrás porque é porque ele sabe da importância que tem os grupos terapêuticos para eles, e eles se posicionaram dizendo: “não a gente não pode, nem medicação a gente toma, a gente vem aqui justamente para desabafar, para trazer os nossos problemas”... E por que? Porque eles sabem que a gente não vai julgar eles em nenhum momento, então é diferente da família, que às vezes uma família julga, condena, e eles sabem que aqui não, aqui eles podem trazer a verdade, e o que está acontecendo com eles e a gente tiver trabalhando diante da situação apresentada. Entrevistadora 1 (Larissa): A família, até mesmo, às vezes, discrimina, exclui aquele indivíduo. Entrevistada: Na maioria das vezes, eu não digo que só a família, mas a própria sociedade em si, ela acaba estereotipando pessoas que fazem uso de algum tipo de substância, e ele acaba vindo pra cá como se ele fosse um vagabundo, uma pessoa que estaria à margem da sociedade. Mas por que ele está à margem da sociedade? Por que ele perdeu o trabalho? O que aconteceu? E assim muitas famílias não entendem isso como uma doença ainda, então, o comportamento dele acaba gerando vários conflitos, mas a gente sempre fala assim, que quando a gente consegue que a pessoa caia em si, e ela começa a mudar, ela não muda só ela, mas ela muda ela e a família, e nós tivemos situações onde a pessoa ficou abstinente por um longo período, E a esposa estava tão acostumada com ele chegar em casa, beber, sair e gritar, e fazer toda aquela dinâmica que quando ele começou a ficar bem, ela chegou num ponto que ela disse: “Ué, você não vai mais no bar? Agora você só fica atrás de mim o tempo inteiro” ... Então assim, não estava acostumada com aquela rotina, então, além da família, a gente também trabalha além do usuário também, no trabalho da família e com reuniões familiares, não dá para fazer semanal porque a maioria das famílias trabalha, mas pelo menos mensal a gente procurava fazer. Entrevistadora 1 (Larissa): Uhum. E agora com a pandemia, como está sendo para vocês? Vocês tiveram que tirar alguma oficina, estão fazendo oficina ou devido à pandemia, vocês tiveram que tirar, como está funcionando? Entrevistada: Então, em virtude do decreto municipal nós não estamos fazendo oficinas. A gente tem acompanhado os nossos pacientes que estão aqui, e uma outra parte está lá na outra sala, via telefone e atendimentos individuais que cada profissional faz, além disso, as consultas com um psiquiatra. Então, a gente sabe que isso não é legal nem para nós, nem para eles, mas assim, o máximo que a 35 gente tem conseguido fazer realmente são os atendimentos individuais, que acaba buscando uma tentar orientar, ouvir principalmente esse paciente, mas assim, a gente não consegue atender todos porque a demanda é muito grande. Então, quando aconteciam os grupos, a gente conseguia pegar a maioria, e orientar a maioria dos pacientes assim. Então, como a gente divide em grupos de técnicos de referência, acaba atendendo os meus referenciados, e também não são todos que a gente consegue fazer os atendimentos individuais, é lógico que, quando é uma questão mais específica, do serviço social, da enfermagem ou psicologia, a gente acaba dando direcionamento, mas a prioridade sempre vai ser trabalhar a situação com seu técnico de referência. Então tem sido para nós bem difícil essa experiência, até porque muitos dos nossos usuários não têm telefone, celular, porque a gente até tinha pensado em fazer grupos online ou o Facebook, uma vez na semana, nem que fosse, ou diário, e até as oficinas de culinária, que eles vêm, para eles era assim, maravilhoso, porque, puxa, tem gente que nunca teve um bolo, e a gente fazia o bolo com eles e cantava parabéns, no mês, nos aniversariantes do mês, então para eles era algo muito diferente, muito especial, porque uma vida de uso de substância, de repente não é que a família deixou mas ele nem que valorizava isso, aniversarioo o que era? para ele a comemoração era no uso da substância e aí a gente mostra pra eles que não, que tem outra forma de você comparar, sem ser com o uso de substâncias. Entrevistadora 1 (Larissa): Uhum, perfeito! Entrevistadora 2 (Giovana): Quantos pacientes mais ou menos vocês acham que atendem aqui? Entrevistada: Que a gente inserido deve ter uns 80, fora os que vêm só para acompanhamento agora, nesse momento com as consultas com o psiquiatra, então ele vai identificando, na medida que ele vai vendo que é um caso que a gente precisa acompanhar com uma frequência maior, ele vai inserindo dentro dos grupos, daí também, mas assim a demanda nesse período de pandemia posso garantir para você que triplicou, eu acho que as famílias estando um pouco mais em casa e acabam não querendo que a pessoa que tem o uso da substância esteja naquele círculo, naquele ambiente familiar, até porque a vida deles é rotina fora, ficam o dia inteiro, uma semana, três dias fora, e daí volta para casa, isso acaba trazendo o risco, em virtude da questão do covid, então, assim, eu acho que a família buscou muito mais ajuda nesse período da vida, então aumentou demais, nós temos muito pacientes que nós não conhecemos. Entrevistadora 2 (Giovana): Eu queria que você falasse mais um pouco sobre as oficinas, eu ouvi que você falou da oficina culinária, como, quais são os outros tipos de oficinas que têm assim, como que é a dinâmica? Como que é feito? 36 Entrevistada: Então, eu posso falar da minha demanda do serviço social, a gente geralmente faz como se fosse palestra, mas é muito mais uma conversa onde a gente traz vários temas, vários assuntos, onde são abordados, e sempre falo para eles, você pode projetar um tema, aí de repente você chega num dia lá na hora de fazer um grupo você escuta ou alguém vem falar alguma coisa pra você, e aquele teu assunto, que você tinha preparado, não era tão importante quanto o que está acontecendo para ele naquele momento, e aí às vezes de uma conversa, de uma dúvida, você acaba fazendo um grupo terapêutico. Por que? Porque a dúvida dele não era só dele, mas era de outras pessoas também, assim como a gente trabalha com um adulto, eu garanto pra vocês que eles questionam bastante, trazem várias demandas, isso também é os grupos da psicologia, voltado para a questão da psicologia, na questão de culpa, da questão de depressão, eles têm muitas dúvidas nesse sentido. Então assim, é abordada de uma forma geral, e aí vêm as oficinas de culinária que eu falei para vocês, são feitas atividades, ali tem as dinâmicas dentro dos nossos grupos, a gente também fala das dinâmicas, então tanto o serviço social, quanto a psicologia, e tem os grupos da terapia ocupacional, que não necessita de São José, ela veio uns três meses ou quatro meses antes da pandemia, então ela não conseguiu ser tão produtiva digamos assim, nas atividades, porque já entrou a pandemia, e a gente acabou ficando sem, mas dentro do CAPS foi bem recente a experiência de ter a terapeuta ocupacional, então geralmente são assuntos que a gente traz, que a gente aborda, que a gente debate, mas assim, de várias situações, não só voltado para a dependência química, mas é claro que nosso foco central é sempre tentar trazere chamar atenção para a realidade que não aconteceu e ainda pode vir a acontecer. Como perder a família, perder o emprego, essas coisas, então a gente trabalha a questão, por exemplo, do mercado, que hoje a crise está para todo mundo, mas imagine para quem tem uso de alguma substância que vai piorar a situação, então sempre nesse sentido, mas como se fosse palestra no sentido de orientação nesse caminho. Entrevistadora 1 (Larissa): E qual o objetivo do Caps, oferecendo as oficinas? Entrevistada: Hoje a gente trabalha bastante com a questão do tratamento da abstinência. Por que? Porque eu acompanho principalmente os casos judiciais que vêm mães, pais, que tiveram seus filhos em abrigo. Então assim, hoje ainda existe a questão de que isso traz risco para as crianças e adolescentes e essa família precisa estar abstinente, mesmo a gente sabendo que com a redução de danos a gente já consegue um ponto significativo, mas tem a questão legal ainda, o entendimento e proteção da criança ainda eu vejo que é um pouco punitiva e que não aceita a redução de danos, tem que estar abstinente, então o nosso trabalho é focado na abstinência, as nós tivemos vários. Pacientes que saíram daqui do campo com a redução de danos, e para eles já é algo significativo, de repente estavam usando crack e cocaína, e conseguiu ficar só na maconha, não digo que é “só” na maconha, no sentido de não estar trazendo prejuízo, continua, claro, mas não tão 37 destrutivo e acelerador quanto as demais dependências, então o objetivo sempre é conscientizá-los dessa doença, do que ela está trazendo, do que ela está fazendo na sociedade, mas a escolha sempre vai ser do indivíduo, porque é o que eu falei, só vai mudar se ela quiser ajuda para isso, e se for o caso, que a gente perceba algo, ou que é preciso ter um acompanhamento mais individual da psicologia por exemplo a gente vai encaminhar para atendimento individual nas UBS, então assim, a gente tenta dar um suporte pra ele, mas aí é ele que vai escolher, e assim, nas feridas a gente mexe até onde a gente suporta a dor, então tem coisas que você prefere dizer não não quero trabalhar então a gente respeita muito isso também. Entrevistadora 1 (Larissa): Em relação ainda às oficinas terapêuticas, como você mencionou, tem vários tipos de oficinas terapêuticas, que vão contribuir na qualidade de vida deles, você observa que tem alguma oficina terapêutica em específico que contribui mais do que outra? Entrevistada: Veja, eu não sei se eu posso dizer que uma contribui mais que a outra, acho que todas elas são importantes para a gente, mas assim não vejo que uma contribui mais que a outra, mas assim, eu acho que todas elas são importantes dentro do que cada um vem buscar, então assim, a psicologia é extremamente importante porque eu acho que eu comentei com vocês a questão do sentimento de culpa, da pessoa se sentir útil, então ele precisa às vezes desse estímulo, desse trabalho com ele dentro da parte da enfermagem, às vezes ele vem tão adoecido, ele não consegue enxergar outros problemas que ela já desenvolveu e que são consequências do uso das substâncias, então, você trabalha nele como um todo, e por exemplo, dentro do serviço social as famílias que vêm aqui em virtude de seus filhos, que foram abrigados numa Instituição, então para elas, elas querem sugar um assistente social, porque é a partir do momento que elas entendem, porque primeiro você tem que desconstruir uma realidade, porque elas acham que o CAPS e o serviço social principalmente, ele é secretário do juiz, então elas acham que você tem livre acesso com um juiz, então você acaba desconstruindo essa realidade primeiro para ela, que não, que você está aqui, que você não está aqui para julgar, mas pra ajudar, aí sim ela passa criar um vínculo de confiança onde ela começa a trazer as intercorrências do tratamento no dia a dia dela, mas enquanto isso não acontece, essa quebra desse círculo que ela entende que você que está aqui só para “canetear” ela, e ter a autoridade com a juíza, ela não vai se abrir com você, às vezes leva um tempo até que ela consiga, então depende muito do que o indivíduo vem buscar e as oficinas vão se encaixar, então vejo que cada uma delas tem o seu papel importante, no passado tínhamos um grupo com os psiquiatras, inclusive hoje não tem mais, e assim, a demanda deles por saber o por quê da medicação,o que a medicação faz, onde a age, é muito grande, eles querem e questionam, e hoje eles trazem esses questionamentos para a gente, a gente vai orientando eles nesse sentido também. 38 Entrevistadora 1 (Larissa): E o acompanhamento é junto com psiquiatra, como funciona isso? Entrevistada: Como assim? Entrevistadora 1 (Larissa): Porque, assim, é retirado a substância de imediato dele e é substituído por algum medicamento nesse meio tempo? Entrevistada: Então, normalmente não são todos os pacientes, mas é lógico que às vezes os pacientes que chegam aqui, chegam no uso ou numa dependência muito grande da substância e para que ele consiga se manter sem uma crise de abstinência por exemplo, às vezes é necessário introduzir a medicação, um dos questionamentos dos usuários é assim “poxa, mas eu estou trocando uma droga pela”, aí você vai de novo, trazer eles para a realidade e mostrar que não, que aquilo ali vai ser uma medicação que eles vão usar por um determinado momento, sim, se ele já desenvolveu um transtorno, uma esquizofrenia uma coisa, talvez ele vai usar a medicação para o resto da vida, mas aí isso é uma outra discussão, mas que num primeiro momento, às vezes, você vai precisar, por exemplo usar uma medicação para que ele consiga voltar a dormir, para que ele consiga baixar um pouquinho a ansiedade, então jamais a gente vai deixar ele dependente de uma medicação. Por que? Porque se não seria incoerente, amanhã ou depois estaria tratando ele por conta da dependência da medicação, então a gente mostra pra eles num primeiro momento que, se necessário for e é sempre com psiquiatra, e essa é uma discussão dele com um psiquiatra, se ele quer ou não quer a medicação, e a gente vai respeitar isso, é óbvio que em alguns casos não tem como, e o psiquiatra vai dizer que é importante porque você vai fazer uma crise de abstinência que vai convulsionar, e você não vai… Corre o risco de vir a óbito, então ele vai colocar medicação com a ciência do paciente e da família. Entrevistadora 1 (Larissa): Perfeito! Segundo o que a gente pesquisou na literatura para elaborar o nosso trabalho, nosso referencial teórico, às oficinas elas produzem resultados significativos na reabilitação psicossocial dos usuários, qual a sua percepção sobre isso? Entrevistada: Então é o que eu falei para vocês, talvez o nosso êxito de paciente ainda que de alta melhorada não seja um número tão expressivo, mas quando a gente fala quando sai um, dois, de alta melhora a gente sabe que a gente conseguiu não só transformar aquela, ele né, o paciente, mas a gente junto, não só transformar a realidade dele, mas a realidade da família como um todo né, então às vezes você consegue atingir oito, nove pessoas que estavam sofrendo com relação aquilo ali, e quando ele consegue ficar abstinente, ele consegue mudar essa realidade na família, geralmente ele se conscientiza e começa a buscar o trabalho, isso quando não sai aqui do CAPS já trabalhando, às vezes mesmo que seja na 39 questão informal, a questão espiritual que ajudar ele a se manter no posterior, no tratamento deles é extremamente importante, então a gente não prega religião nenhuma aqui, mas a gente entende que a própria Organização Mundial da Saúde, ela trabalha com esse fator também, da questão do biopsicossocial espiritual e isso faz toda diferença, por quê? Porque você mudar o comportamento não é fácil, principalmente deuma pessoa que é dependente química, onde ela manipula, onde ela traz mentiras e você mudar de um dia para outro, não, e assim, jovens hoje em dia tem baladas e é onde esses jovens vão, então a igreja acaba sendo um alicerce pra eles, principalmente na manutenção do tratamento dele, posterior a saída deles daqui do CAPS, todos vão para a igreja? Não, mas uma grande maioria eu posso dizer pra ti que se mantém em tratamento, e sempre estão fazendo alguma atividade junto à sociedade seja na igreja seja no trabalho, a partir do momento que ele se torne funcional, aí eles passam a ser produtivo com eles mesmos para manter esse tratamento. Entrevistadora 1 (Larissa): Perfeito! A gente também encontrou referenciais teóricos que abordam sobre a arteterapia, como uma atividade importante no contexto das oficinas. O que você acha sobre isso? Aqui tem alguma oficina mais voltada para a parte artística? Entrevistada: Não, não temos isso ainda, apesar de dentro das nossas possibilidades a gente monta os nossos teatros com eles, então a gente faz alguma coisa mais lúdica, nesse sentido a gente fazia campeonatos de futebol com eles, então assim, dentro dos nossos conhecimentos, aquilo que a gente pode, a gente promove tentando trabalhar essa realidade de uma forma menos pesada um pouco, para eles também, e isso é apresentado para as famílias seja no dia das mães, seja no dia de Natal, então com coral, com musicoterapia, não digo nem a musicoterapia, porque a gente tinha um técnico que sabia tocar violão e a gente resolveu fazer um coral, então assim, dentro dos nossos conhecimentos, mas isso para eles, posso afirmar para ti que faz toda a diferença, porque a gente teve uma apresentação do dia das mães onde o filho dela que por tantas vezes chegava agredia, seja fisicamente e verbalmente, de repente num dia das mães, no primeiro pra ela posso dizer para vocês, ela viu ele tocando violão, então assim, transformou para ela, transformou de uma forma grandiosa e outras mães por exemplo que chegaram a falar pra elas foi mais do que ter ganho na mega-sena, ver o filho transformado, estando bem, então assim, não temos específico alguém que faça isso, mas sempre que a gente pode, nós mesmos, a gente tenta fazer essas atividades diferentes, que leva um maior tempo, mas com certeza são benéficas, vem para ajudar, vem para somar na nossa realidade, e hoje você tem um público totalmente diferente, tem gente que gosta de hip-hop, então assim, quanto mais você tiver estratégias para atingir esse público, seja o pessoal do teatro, seja o pessoal da música, mais você está levando uma oportunidade para ele ser inserido, transformar a realidade dele e partir para transformar outras realidades. 40 Entrevistadora 1 (Larissa): E eles engajam bem nas oficinas ou às vezes ficam um pouco mais tímidos? Como que funciona? Entrevistada: Assim, a nossa oficina então os nossos grupos terapêuticos não é separado, então tem a pessoa que está saindo de alta no final do mês, de alta melhorada e a pessoa que está chegando hoje, então a gente faz essa mistura justamente, por quê? Porque quem está chegando hoje, realmente não quer falar às vezes, está muito tímido, mas ainda está sob efeito de alguma substância, então a gente acaba colocando-o ali no meio, mas ele vai ouvindo, então o que que eu falo para vocês, há cada três, quatro meses, alguns grupos que você considera importante, por exemplo, trabalhar sobre prevenção de recaída, você vai repetir, por quê? Porque talvez hoje eu esteja trabalhando com uma pessoa que acabou de chegar e que ela não está nem conseguindo ouvir direito, mas daqui a três meses ela já vai ter conseguido aplicar, então são pontos, temas que a gente considera fundamental e que a gente sabe que a gente vai repetir de tempos em tempos, porque quem está chegando hoje, às vezes não está conseguindo ter um entendimento, e você está aqui há três meses, e você vai conseguir um resultado muito mais positivo, então assim, eles adoram os grupos, eles gostam bastante, agora no período da pandemia como a gente está fazendo mais contato por telefone, eles cobram o tempo inteiro, quando vai voltar, a gente já está com saudade, até porque muitos deles consideram o CAPS como uma segunda família, não são acolhidos num primeiro momento, e depois são compreendidos e isso faz toda diferença, porque é o suporte deles, e muitos vinculam a tal ponto que chega no momento de dar alta, eles não querem, porque às vezes o CAPS é o único lugar que eles têm para sair de casa, tinha uma paciente que ela dizia que os dias que ela vinha para o CAPS, era o dia que ela tirava o pijama e os dias que eu não vinha, ficava o dia inteiro, então assim, o quanto aquilo mudava a vida dela, e mesmo que seja para vir aqui conversar com outras pessoas ou com equipe, ela estava sendo produtiva, o fato às vezes de sair, já era uma terapia. Entrevistadora 1 (Larissa): Nossa, que legal! Entrevistadora 2 (Giovana): O CAPS não auxilia a procurar um emprego, por exemplo, isso eles não interferem, né? Entrevistada: A gente até orienta, teve um período que a gente uma parceria com o SINE, onde eles faziam cursos profissionalizantes, mas assim, não temos específico um canal com as empresas, a gente gostaria de ter isso ainda aqui no município, mas ainda não existe essa parceria com as empresas que seria fundamental, então normalmente eles acabam eles mesmos saindo, a gente ajuda a montar currículo, encaminha, mas geralmente é com o SINE mesmo. 41 Entrevistadora 1 (Larissa): E assim, depois que eles recebem alta, eles voltam aqui para contar histórias, como é esse processo? Entrevistada: Então, dentro de um dos nossos grupos, nós temos um grupo que a gente fala de experiência, onde a gente traz pacientes que também saíram daqui, para vim dar o depoimento ou testemunho da vida deles, porque isso faz toda diferença, vou citar o caso de uma mulher, ela veio dar o depoimento dela e tinham outras mulheres que elas entendiam aquilo que eu falei, que o CAPS, principalmente o serviço social iria “canetear”, dedurar para o juíz, e ela conseguiu pontuar que não, que aqui ela foi ajudada, aqui hoje ela ta com os filhos dela, que estava super bem, por conta do que ela recebeu aqui, e ali foi uma quebra de paradigma para essas pessoas, porque a gente conseguiu dar pra elas que a pessoa que esteve aqui mal, hoje está bem e consegue vir falar que viveu e então faz toda a diferença, além disso, nós tínhamos um grupo de manutenção que uma vez por mês pacientes que saíam da alta melhorada daqui do CAPS, eles voltavam para a gente acompanhar por mais um período, porque o grupo de manutenção era qualquer técnico que fazia, inclusive na época nós tínhamos a nossa médica clínica geral e ela também fazia um grupo, então se a gente percebesse que aquela pessoa estava dando algum sinal de recaída, a gente chegava antes, nem que seja para que ele retornasse ao grupo para uma conversa individual, seja para uso da medicação se fosse o caso, então já gente tinha uma equipe que estaria avaliando ele na sequência para não deixá-lo recair, se a gente conseguisse evitar recaídas já trazendo ele de volta para outros grupos, então a gente tinha um grupo de manutenção e que aconteceu uma vez por mês e esses depoimentos que eles vem e eles adoram fazer isso, trazer, mostrar, eles são questionados, porque a gente sempre fala, quem tá chegando hoje tá aqui mas o que está saindo também passou por todo esse processo, então tem toda uma questão de incentivo de ficar firme, você vai conseguir, eu consegui, então é bem legal, e o nosso momento de alta melhorada é assim, a gente faz uma festa com eles, e a gente faz um feedback de como esse paciente chegou, e como foi, e como ele está hoje, isso para mostrar para todos os demais que se ele realmente conseguiu,todos são capazes, basta pagar um preço, e é a escolha deles, eu sempre falo que o tratamento todo é gratuito, desde a vinda deles aqui, o internamento, tudo é gratuito, mas eles tem um preço a pagar, e são as escolhas, e isso quem vai ter que fazer isso são eles mesmos. Entrevistadora 2 (Giovana): Uma coisa que eu fiquei com dúvida, por que eles ficam desconfiados? Que vai ser dedurado para juiz… Vocês têm alguma ligação com o juiz, com o juizado, para tirar a guarda quando a mãe é usuária, ou não existe essa relação? Entrevistada: Não, na realidade o que existe é como eu falei, a juíza,quando as crianças são obrigadas, o Conselho Tutelar e a Vara da Família, ela já determina que essa mãe e esse pai vai fazer o tratamento, para a juíza ainda existe aquela 42 “não quero saber se é um baseado ou é dez, eu quero abstinência”, então pra lá pra família que chega aqui ela acha que se ela me falar que ela usou, que ela teve um lapso, eu vou avisar a juíza, eu vou dizer: “Olha, segure as crianças porque ela teve um lapso”, e não é assim, porque eu entendo que ter um lapso faz parte do tratamento, e eu sempre trabalho com “se você aprendeu onde você caiu, então por esse caminho você não vai”, ou vai voltar a repetir esse mesmo modelo, então a gente vai trabalhando isso com eles, mas jamais jamais eu vou chegar e vou dizer para o juiz: “olha ele está em uso”, Quando tem uma situação que a gente envia relatório informativo para a juíza, a nossa situação enviar se ela está ou não um tratamento, diferente de uma audiência, que aí a juíza vai querer se saber se ela realmente tá em uso ou não, mas relatórios que eu mando para a juíza, é para saber se ela aderiu ou ao não tratamento, se ela tá vindo ou não tá vindo, então até eles se compreender isso, leva-se um tempo e eles acham então que a gente tá aqui no papel de punidor, que vão ter um lapso e a gente imediatamente vai avisar a juíza e eles nunca mais vão ter seus filhos de volta, então a gente fala que realmente, eles vão ter os filhos deles de volta, mas pra isso eles têm que fazer o tratamento, mas jamais a gente vai dedurar eles nesse sentido. Entrevistadora 3 (Vinicius): Na parte de, se o paciente vem, ou se ele não vem, ou se ele não consegue vir, tem alguma visita ou algum acompanhamento domiciliar que é feito diretamente Entrevistada: Então, os pacientes que nos procuram e que querem o tratamento, que estão inseridos aqui, e a gente está acompanhando, e de repente ele começa a apresentar faltas no tratamento a gente consegue fazer visitas, de busca ativa, assim, a gente tinha como objetivo visitar todos os nossos pacientes daqui, por quê? Porque às vezes, uma visita de um profissional na casa deles ajuda- nos a entender um pouquinho da realidade deles também. Mas assim, faz toda diferença no tratamento, ‘puxa você foi lá em casa’, e assim, eles até queriam que a gente avisasse o dia que a gente fosse fazer essas visitas, pra eles preparar um café, mas a gente sempre fala que não tem como, uma porque o objetivo é que você veja a realidade e outra, porque às vezes a gente sai pra fazer cinco, seis visitas e você se prende em duas e você não consegue, aí a pessoa deixou de trabalhar, ou fez um bolo, gastou… Então assim, a gente não avisva porque é porque a gente sabia que ele queria nos agradar mas que seria um gasto que às vezes a gente não iria conseguir chegar até lá pra fazer essa festa com ele e participar dessa confraternização. Então o objetivo deles é que a gente esteja ali também porque é isso que eu falei eles entendam caps como uma família, extensão da família deles então eles se sentem gratificado se você for fazer uma visita Entrevistadora 2 (Giovana): E essas visitas ficaram difíceis agora com a pandemia? 43 Entrevistada: Não tá sendo feito, só em casos de urgência, mas não está sendo feito, outros casos, por exemplo, a gente fazia visita domiciliar e às vezes dentro da própria família tinha outros familiares que estavam em uso de substância e não queria o tratamento, precisava de internamento involuntário, então a gente ia também, às vezes a pedido do próprio paciente porque tinha um irmão que estava doente também, que não entendia como uma doença e estava precisando de uma intervenção, porque estava em risco tanto ele, quanto a família, então a gente faz esse tipo de visita também, então o objetivo é trabalhar a realidade como um todo e encaminhar os serviços para as redes, principalmente os pacientes que estão em processo de alta melhorada, se ainda estão em medicação, quais são os cuidados que a família tem que ter, as orientações necessárias e evitar festas, evitar churrasco no final de semana em casa com cerveja essas coisas, porque se não o paciente está se colocando em risco, nosso objetivo é sempre orientar essa família consiga estender o tratamento para após a saída deles do CAPS, a gente sempre fala que a família deles vai ser o suporte, quem eles vão gritar por ajuda direta vai ser a família, se eles confiarem na família esse ponto. Eles conseguem esse tratamento, então a gente fazia, agora por conta da pandemia estamos sem visitas também, só em casos assim, urgentes, graves. Entrevistadora 1 (Larissa): E sobre os materiais que são utilizados nas oficinas vocês recebem todo o apoio da prefeitura e recebem tudo que precisam? Entrevistada: Sim, a gente tem e se for uma oficina mais lúdica, a terapia ocupacional não conseguiu ainda o êxito, isso porque chegou há três meses, então alguns materiais nem chegaram ainda, porque é preciso da licitação, compra, porque são diferentes, mas assim, nas outras atividades geralmente eles acabam encaminhando e assim, internet, power point, essas coisas, a gente tem tudo aqui, então a gente acaba utilizando esses recursos que tem aqui para facilitar, mas eu falo assim, a gente prepara toda nossa palestra ali, visual também, mas muito pouco se acaba usando, porque você vai discutindo e às vezes da sua palestra que tem vinte páginas, você caminhou até uma segunda, uma terceira, porque os questionamentos vêm e você não vai dizer “não esse aqui não é agora, ou a gente já conversou naquele momento, como a gente explica sobre isso, então você vai reforçando pra eles, e eu falo por trabalhar com um adulto, pra mim, eu sou apaixonada porque realmente eles acabam te questionando e isso faz com que você esteja estudando o tempo inteiro, buscando conhecimento, porque se não você cai em descrédito com eles. Entrevistadora 3 (Vinicius): Então você não consegue ter um planejamento dentro do que você vai trabalhar ou não? Entrevistada: A gente consegue, consigo, mas muitas vezes, como eu falei, vai depender do que está acontecendo naquela realidade, às vezes você vai com o 44 material, hoje eu vou passar o filme, você chega lá está toda estrutura para o cinema, você chega lá, você vê que se você passar o filme naquela hora, tem dois três pacientes que estão muito ansiosos e que não vão conseguir aderir nada, ouvi a questão do filme. Então, você diz não, hoje não vamos fazer cinema nesse momento, vamos fazer na semana que vem, e aí você vai acolher aquela demanda dele, que está gritando ali naquela hora, e os filmes a gente trabalha muito com a questão de filmes também, a gente passa, explica pra eles depois do filme, geralmente na semana seguinte. Então a gente quer que você percebeu que foi produtivo, então não é só assistir, a equipe fica ali para eles, porque a gente faz pipoca, suco, às vezes refrigerante, então eles são bem participativos nisso também, eles adoram, acham que é cinema de verdade mesmo, teve um tempo que a gente tinha um ônibus que a gente fazia muitos passeios, principalmente parques em Curitiba, a Caixa Cultural vinha nos buscar aqui em São José para participar, a gente já foi em teatro, tudo gratuito,tudo que é gratuito a gente levava eles, mas também a gente está sem ônibus para fazer esses passeios, então eu digo que o grupo aqui para eles faz parte já já é tradição no final do ano a gente faz a churrascada que eles chamam de churrascada no Parque São José, então a gente vai em todos os pacientes pra lá para fazer a nossa finalização nessas atividades, não que o CAPS fecha, mas daí assim, depois do dia 18 de dezembro muitos pacientes acabam viajando com suas famílias, então lá pelo dia 16, 18, a gente faz o fechamento das atividades e quem não viaja permanece vindo pro CAPS, natal e ano novo que a gente não fecha, e para eles, assim, a linguiçada no parque, a churrascada já faz parte do tratamento, então eles colaboram e eles trazem as linguiças pra gente ir lá, a gente faz gincanas, campeonato de futebol, a gente faz volêi, e a gente faz atividades com eles, assim, o sonho deles é levar a família, só que a gente também não tem estrutura para cuidar, no parque tem água, não dá ainda, mas a gente já fez por exemplo, o almoço do dia das mães aqui com eles, eles fazendo, eles cozinhando, então as oficinas, ela sempre tem o objetivo de tentar aproximar, o dia dos pais, eles montam, principalmente cartões, páscoa, tem algumas atividades específicas que naquela semana a gente vai trabalhar, festa junina, porque geralmente está relacionado à questão de uso de bebida, quentão, essas coisas, e a gente mostra que dá para você fazer uma festa junina sem o quentão, e sem o suco de uva lá que deixa o “crentão”, mas sem ele também, porque a partir do momento você começa a ferver o suco da uva vai cheirar o vinho e eles vão trazer isso à memória, então não precisa, a gente se diverte de várias outras formas e então a gente faz isso com refrigerante, faz com várias atividades, pescaria com eles, mesmo nesse espaço pequeno, eles se divertem bastante. Entrevistadora 1 (Larissa): Nosso muito bacana, muito bacana. Vocês têm mais alguma dúvida? Entrevistadora 3 (Vinicius): A idade dos pacientes é muito variada? 45 Entrevistada: Bastante variada, nós temos de 18, até perder de vista, sessenta, sessenta e cinco, aqui como é questão de adulto. Então a gente não tem uma faixa etária e é isso que eu falo, estamos com a interação com todos os grupos de homens de mulheres, tudo junto, se eu tiver que trabalhar a Lei Maria da Penha, eu vou trabalhar com eles em grupo, geralmente são grupos que têm muita polêmica, mas com trabalho você consegue lidar, questão de abuso, e eles questionam, se a gente perceber que é algo que não dá, a gente chama individual ou daí a gente faz um grupo menor, a gente procura trabalhar a realidade como um todo com eles ali, e assim a gente sabe que muitas mulheres, principalmente na época que elas estão em uso, tem a questão da prostituição, tem a questão do tráfico, então gente trabalha iisso, da questão da violência, a gente nunca teve problema, tem problema no sentido, “mas e a Lei João da Penha?”, pode até acontecer de ter, mas eu quero ver se você apanha, se você vai denunciar, porque nós somos uma sociedade extremamente machista, como que eu, apanhando, vou lá denunciar, então eles ainda tem esse preconceito, mas eu sempre falo, se você apanha, você também tem o direito de fazer a denúncia, a única coisa que você não vai ter, é a proteção da Lei Maria da Penha, que ela é específica ainda para mulher, mas ele pode passar um boletim de ocorrência como manda a lei, então a gente sempre orienta mas assim ainda é difícil, porque claro, eles ainda tem essa questão de falar que apanha, imagina, eu sou homem, como eu vou apanhar, e ter que falar ainda na frente de todo mundo, não fala mesmo, mas já tivemos situações aqui que o homem chegou e ele disse que apanhava tanto da esposa, quanto da filha, então assim, várias coisas a gente acaba descobrindo do grupo e trabalhando, e se ele traz no grupo, a gente vai trabalhar no grupo, e se ele traz individualmente, a gente vai trabalhar individualmente, então assim, a gente vai trabalhar assim, às vezes num grupo você vai apontar, ele vai se identificar com a situação e depois, na sequência ter um particular com o profissional, pode às vezes no mesmo dia, às vezes marca no dia seguinte, e gente consegue entender que aquilo ali mexeu com ele, que ele precisa de ajuda naquela situação. Entrevistadora 1 (Larissa): Perfeito, é isso.