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AULA 1 PROJETO LUMINOTÉCNICO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Profª Juliana Loss Vicenzi 2 INTRODUÇÃO Os espaços são percebidos por meio da luz que incide sobre eles. Com a iluminação, podemos transformar a percepção de um espaço. Entender os aspectos físicos da luz e seus efeitos de percepção é importante para conseguir uma iluminação apropriada para o ambiente, que valorize os elementos arquitetônicos e possa trazer conforto aos usuários. Nesta aula, iremos verificar os aspectos visuais (forma, quantidade, efeitos) e não visuais (percepção, efeitos psicológicos) da luz e entender os dados de consumo de energia e a relação da iluminação e eficiência energética. Iremos estudar as principais grandezas físicas da luz necessárias para elaborar um projeto luminotécnico, grandezas relativas à quantidade e qualidade da luz. Por fim, veremos um tema dedicado aos aspectos da cor relacionados à luz, que terão influência na sensação que queremos passar para os usuários nos ambientes, bem como na qualidade da luz e na visualização dos objetos. TEMA 1 – LUZ E ILUMINAÇÃO O projeto luminotécnico tem como principal função o desenho da luz. E, para que possamos começar nosso estudo, é importante que possamos entender como funciona esse elemento tão importante para a vida e a arquitetura. A luz é o termo dado para a radiação eletromagnética capaz de sensibilizar os olhos humanos. Hoje, sabemos que a luz tem características que nos sensibilizam: • Aspectos visuais; • Aspectos não visuais. Os aspectos visuais são os mais facilmente percebidos, pois são os efeitos visuais criados por meio da iluminação, as cores ou até mudança de cores dos elementos. Os aspectos que conseguimos medir mais facilmente ou quantificar, como as grandezas relacionadas à luz, serão vistas no tema 4. Já os aspectos não visuais, como luz e percepção, requerem uma análise mais fina do potencial da luz. Eles podem ser os aspectos de percepção que ajudam a transformar o ambiente e a nossa relação com ele, sobre os quais iremos falar a respeito no tema 3. Além da percepção, o desconforto causado por uma fonte de luz é um aspecto não visual da luz. 3 E, além desses aspectos recentemente estudos apontaram os efeitos da luz no nosso organismo e como ela influencia nossa saúde. Vivemos alguns milhões de anos sob o ciclo natural da luz, com luz intensa durante o dia e escuridão à noite. Com a descoberta da luz elétrica, mudamos completamente essa relação, e muitos estudos recentes têm nos indicado o quanto é importante entender os aspectos de conforto da luz e o seu uso adequado, para que o nosso organismo possa cumprir suas funções fisiológicas sem prejuízos à saúde. A ABNT NBR ISO/CIE 8995-1 (2013), norma de Iluminação de Ambientes de Trabalho, descreve que uma boa iluminação propicia a visualização do ambiente, permitindo que as pessoas vejam, se movam com segurança e desempenhem tarefas visuais de maneira eficiente, precisa e segura, sem causar fadiga visual e desconforto. A iluminação pode ser natural, artificial ou uma combinação de ambas. A norma também descreve que a boa iluminação precisa ter atenção para as quantidades e igualmente para a qualidade da luz, utilizando fontes adequadas para que a iluminação não gere desconforto aos usuários. Quanto ao conforto, como podemos descrever o conforto relacionado à luz? É um consenso entre os profissionais de iluminação que o conforto se traduz em ausência de desconforto. Parece óbvio quando se descreve, mas a luz precisa ser bem projetada a ponto de não a percebermos quando usamos um ambiente ou executamos uma tarefa, a não ser por algum efeito visual interessante. Mas a luz técnica que projetamos para “ver” os ambientes precisa ser confortável, e isso se dá com boa qualidade de projeto luminotécnico. TEMA 2 – EFICIÊNCIA ENERGÉTICA A Eficiência Energética é um tema que tem sido muito utilizado nos últimos anos. Segundo o Atlas de Eficiência Energética Brasil (EPE, 2020), as edificações consomem 52% da eletricidade do país, e por haver um grande consumo de eletricidade, é nesse segmento que está o maior potencial de eficiência energética. Um edifício com conceito sustentável tem como característica um bom aproveitamento das condições ambientais e escolhas de materiais com menor impacto ambiental. Além disso, propicia ao usuário conforto térmico, visual e acústico com baixo consumo de energia. As novas tecnologias e técnicas construtivas têm avançado, e a criação de edifícios mais sustentáveis tem sido também uma estratégia de Marketing para as 4 empresas, já que estes edifícios geram menor gasto para o uso e manutenção dos imóveis. A iluminação tem uma parcela importante no consumo de energia e também em potencial redução. O EPE (2020) também aponta que a iluminação vem perdendo participação no consumo de energia elétrica no setor residencial, em função do uso cada vez mais disseminado de lâmpadas mais eficientes, sobretudo as fluorescentes compactas e as de tecnologia LED. Na figura 1, pode- se ver esta redução da participação da iluminação no consumo de energia elétrica residencial. Figura 1 – Redução do consumo de energia elétrica Fonte: EPE, 2020. No Brasil, o impacto do “Apagão” em 2001, devido ao racionamento de energia elétrica, estimulou uma mudança nos hábitos e promoveu medidas de eficiência energética nas residências. Para a iluminação, isso se traduziu na troca das lâmpadas incandescentes, que eram mais usadas na época, por lâmpadas fluorescentes compactas, a tecnologia mais econômica disponível e de fácil acesso à população. Atualmente, com a tecnologia LED totalmente inserida no mercado, esse consumo reduziu ainda mais. A criação e uso da energia elétrica nos edifícios gerou, em um primeiro momento, uma ruptura com técnicas de controle das variáveis climáticas, já que com a iluminação artificial e equipamentos como o ar-condicionado, as possibilidades de forma e estética aumentaram, mas o compromisso ambiental do projeto reduziu, já que com o clicar de um botão, esses problemas se resolviam. 5 As crises energéticas, com recessão e necessidade de economia, trouxeram novos paradigmas, como bons projetos de arquitetura que visam à redução do uso de equipamentos elétricos para o conforto e também uma busca da indústria por equipamentos mais eficientes. A tabela a seguir faz um breve resumo dos desafios da lâmpada desde a sua criação. Depois da lâmpada incandescente, a lâmpada fluorescente foi uma grande invenção, já que essa tinha um consumo de energia menor, mas em contrapartida, uma qualidade pior de luz. As pesquisas dos fabricantes então se voltaram para a qualidade da luz, com o aprimoramento de lâmpadas halógenas e fluorescentes. Nos anos 1990, com a descoberta do LED, houve uma nova transformação nesse setor, embora no início ainda com baixo consumo de energia, emitindo pouca luz e de baixa qualidade. Estamos ainda em grande evolução nessa tecnologia, mas hoje a tecnologia LED já propicia uma redução de consumo de energia com luz de qualidade e uma grande flexibilidade da forma das luminárias, além de possibilidade de interações com automação e luz dinâmica. Tabela 1 – Evolução das lâmpadas Domínio da eletricidade – desafios das lâmpadas 1879 1932 1959 1980 1987 1990 Lâmpada incandescente Lâmpada fluorescente Lâmpada incandescente halógena Lâmpada fluorescente compacta Lâmpada incandescente econômica LED Como aumentar vida útil? Como melhorar a reprodução de cor? Como direcionar o calor irradiado? Como aumentar desempenho? Como conscientizar o usuário? Como melhorar fluxo luminoso e qualidade da luz? Fonte: Vicenzi, com base em Vianna, 2001. Nos dias atuais, temos produtos e tecnologia para fazer projetos com maior eficiência energética. Para os projetosluminotécnicos, é essencial conhecer as funções dos ambientes e, principalmente, os conceitos e grandezas da luz para que esta possa ser aplicada de maneira eficiente, gerando menor consumo energético e menor impacto ambiental. 6 TEMA 3 – LUZ E PERCEPÇÃO Para criarmos um projeto luminotécnico, precisamos entender como a luz se comporta e como a percebemos. Esse entendimento nos possibilitará utilizar a iluminação para melhorar os espaços. Conseguimos perceber a luz por meio da visão, e cerca de 75% da nossa percepção de um espaço vem dos olhos. Somos seres verticais, e apesar de projetarmos em planta, enxergamos a arquitetura em três dimensões. Compreendendo isso, temos uma primeira estratégia para iluminação, que é iluminar os planos verticais, o que nos permite compreender os limites do espaço, uma vez que estudos mostram que isso nos traz mais segurança. Outro fator importante para a iluminação é o foco. Quando iluminamos um objeto, a luz revela a forma e as cores desse objeto. Quando colocamos foco nesse objeto, conseguimos enxergar as texturas. E, dessa forma, compreendemos o objeto como um todo. Para compreendermos melhor, podemos observar as duas fotos abaixo (figura 2), tiradas no Museu Metropolitan de Nova Iorque. Na foto da esquerda, a ideia era de que o visitante pudesse compreender as formas, espacialidade e dimensões desta construção. A luz difusa possibilita essa visualização. Já na foto da direita, foi colocado foco na parede para que as imagens gravadas na rocha fossem destacadas e estivessem em primeiro plano. Figura 2 – Comparação de iluminação Crédito: Vicenzi, 2021. Para iluminarmos um espaço, podemos usar esses elementos de percepção, criando a iluminação por meio de camadas de luz. A ERCO (2020) descreve essas camadas em três tipos, conforme vemos a seguir. 7 • Luz para ver: usamos a iluminação para definir o espaço e possibilitar uma compreensão geral do ambiente. Crédito: ERCO GmbH. • Luz destaque: iluminação com foco em elementos principais ou interessantes a serem valorizados. Crédito: ERCO GmbH. • Luz contemplar: este tipo de iluminação é o elemento decorativo, que pode ser feito tanto com um efeito de cor da luz quanto com uma luminária decorativa. Crédito: ERCO GmbH. Quando projetamos em camadas, dando foco a alguns elementos, também é importante compreendermos a sensação e a leitura que o usuário irá ter do 8 ambiente. Ambientes com maior uniformidade da luz nos trazem a sensação de racionalidade, limpeza, clareza, sendo indicados em ambientes de trabalho, nos quais a função da iluminação é mais importante que a estética. Para uma iluminação que remeta ao conforto, pode-se usar foco moderado, com alguns contrastes, geralmente com luz mais suave e destaque em elementos principais. E quando queremos um efeito dramático ou teatral para o espaço, criamos a iluminação com muito contraste, o claro e escuro, iluminação somente focada. Além dos efeitos de luz, a cor da luz também afeta nossa percepção do espaço. Se usarmos cores mais quentes na iluminação, ela irá nos trazer uma sensação de conforto, aconchego, calor. Já a iluminação com aparência de luz mais fria traz a sensação de limpeza, racionalidade, frio. Além dos elementos quantitativos, é importante entendermos os elementos de percepção da luz, já que, além de vista, a luz também afeta nossa emoção. Nesse sentido, Innes (2014) descreve que “projeto de luminotécnica não é apenas uma arte ou uma ciência, mas sim a síntese de ambos”. TEMA 4 – GRANDEZAS RELACIONADAS À LUZ Neste tema, iremos falar a respeito das grandezas relacionadas à luz que são essenciais para o bom entendimento da iluminação. A fotometria é o ramo da ciência que trata da medição da luz. 4.1 Fluxo luminoso Símbolo: φ. Unidade: lúmen (lm). Quantidade de luz (radiação visível) emitida por uma fonte luminosa por segundo. Para o fluxo luminoso, é medida a quantidade total em todas as direções, e não em uma direção específica. Essa informação é fornecida pelos fabricantes na embalagem ou ficha técnica das lâmpadas ou luminárias que já têm sistema de iluminação integrado. Na imagem abaixo (figura 3), identificamos em amarelo a informação do fluxo luminoso de uma lâmpada. 9 Figura 3 – Informações técnicas da lâmpada Fonte: Brilia, 2021. 4.2 Intensidade luminosa Símbolo: I. Unidade: candela (cd). Quantidade de luz emitida em uma direção por segundo. É, portanto, uma unidade de luz que pode iluminar em uma direção especificada. As lâmpadas, por exemplo, têm diferentes características de distribuição da luz, algumas com luz focal, outras com luz difusa. E para comparar lâmpadas com foco direcionado, o ideal é usarmos a intensidade luminosa, que irá medir a quantidade de luz no ângulo específico para o qual a lâmpada direciona a luz. Na Figura 4, vemos como o fluxo luminoso da lâmpada é diferente da intensidade luminosa. 10 Figura 4 – Informações técnicas de lâmpada Fonte: Brilia, 2021. Quando usamos uma lâmpada com foco direcionado, quanto menor o foco, maior será a quantidade de luz no ângulo específico. No exemplo a seguir (Figura 5), comparamos a intensidade de luz de duas luminárias com mesma característica, uma com ângulo mais fechado e outra com ângulo mais aberto. Como o fluxo luminoso é o mesmo, a lâmpada com ângulo de incidência menor apresenta maior intensidade luminosa. 11 Figura 5 – Informações técnicas de lâmpada Fonte: Itaimlc, 2021. 4.3 Iluminância Símbolo: E. Unidade: lux (lm/m²). Também conhecida como nível de iluminação, indica a quantidade de luz (lumens) por unidade de área (m²) que chega em um determinado ponto. 4.4 Luminância Símbolo: L. Unidade: cd/m2. Podemos ver os objetos por meio da luz que é refletida por eles. A luminância é uma medida física de brilho de uma superfície, sendo por meio dela que os seres humanos enxergam. Uma vez que os objetos possuem diferentes capacidades de reflexão da luz, fica compreendido que uma certa iluminância pode gerar diferentes luminâncias. Um exemplo disso é uma parede com pintura clara e outra com 12 pintura escura iluminadas com a mesma fonte de luz. A luminância da parede clara será maior, já que ela reflete mais a luz emitida pela fonte de luz. 4.5 Curva de distribuição luminosa Cada fonte de luz possui uma distribuição da luz diferente, que irá depender da fonte associada ao seu material e ao seu formato. A curva de distribuição luminosa descreve por meio de um gráfico como a luz se distribui em todos os ângulos. A fonte de luz é colocada em um aparelho chamado goniofotômetros, que mede a distribuição da luz e o resultado é demonstrado por meio de um gráfico polar. Para o projetista de iluminação, é importante compreender a distribuição de cada lâmpada/luminária na hora da especificação para que o resultado na obra seja o esperado. Para lâmpadas focais, a curva será bem concentrada. Já para a luz geral ou difusa, a curva é mais aberta, como vemos nas imagens a seguir. A primeira imagem é de uma lâmpada focal com ângulo de 12, e a segunda é de uma lâmpada bulbo que distribui a luz em todas as direções. Figura 6 – Comparação entre lâmpadas Fonte: Stella, 2021. Já na curva de distribuição da lâmpada abaixo, percebemos que ela direciona a luz para cima, acima da linha de 90°. Isso quer dizer que essa fonte distribui a luz no ambiente de forma indireta. 13 Figura 7 – Direcionamento da luz Fonte: Stella, 2021. Os grandes fabricantes de lâmpadas e luminárias fornecem esta informação em seus sites ou catálogos, o que permite ao projetista entender aquele produto para que ele faça a melhor escolha para seu projeto. 4.6 Eficiência luminosa Símbolo: η. Unidade: lm/w. Em uma fonte de luz, uma parte da energia consumidaé transformada em luz e outra parte em maioria em calor. Para que se possa identificar que uma fonte é mais eficiente energeticamente que outra, usamos a eficiência energética, que é a quantidade de luz emitida por uma fonte (fluxo luminoso) por watt (consumo). Para obter esse resultado, dividimos o fluxo luminoso da fonte pelo seu consumo energético. A tecnologia tem transformado as lâmpadas, e com as lâmpadas incandescentes, por exemplo, o fluxo luminoso variava muito pouco em lâmpadas com mesma potência. Com o avanço das tecnologias de lâmpadas, podemos ter uma lâmpada dicroica halógena consumindo 50 W e uma lâmpada com mesma característica, mas LED, consumindo 4 W. Nesse caso, avaliando somente a eficiência luminosa, a lâmpada LED seria mais indicada. 14 4.7 Reflexão No item 4.4, vimos que enxergamos os objetos por meio da luz que é refletida através desses. Já é de conhecimento geral que ambientes com as cores dos revestimentos mais claros refletem mais a luz e aparentam mais iluminados, mesmo que comparados a outro ambiente iluminado com a mesma quantidade de luz. Esse efeito é o resultado das características de refletir, absorver e transmitir a luz dos materiais. A luz que incide em um material tem uma porcentagem refletida, uma porcentagem absorvida e, se o material não for opaco, uma porcentagem transmitida. A soma dessas porcentagens é igual a 100. Um exemplo é uma parede com pintura fosca branca, que reflete cerca de 70% da luz incidida e absorve 30%. Já uma parede escura reflete apenas 10% da luz incidida e absorve os 90 restantes. Podemos usar esse conceito para otimizar a iluminação dos projetos. Se precisamos de uma iluminação mais eficiente, ou seja, com menor quantidade de luminárias para atingir uma quantidade de luz, o ideal é usarmos materiais de revestimento claros. Na imagem a seguir, do Palácio do Itamaraty, em Brasília, foi utilizado o recurso da reflexão para iluminar o salão principal. Esse projeto tem um grande vão livre sem pilares, e criar fachos de luz no meio dessa laje poderia criar uma ruptura visual. A iluminação foi feita de forma periférica, com luz iluminando uma parede de mármore branco, do artista Athos Bulcão e, por meio da reflexão desse material claro e brilhante, o espaço todo é iluminado. Além da parede, apenas a escada recebe iluminação. E, na frente e fundo, o espaço recebe luz natural de grandes aberturas. Figura 8 – Iluminação no Palácio do Itamaraty Crédito: Diego Grandi/Shutterstock. 15 Já a estratégia oposta também pode ser utilizada. Na figura a seguir, temos uma parede com pintura preta que é iluminada por vários spots direcionados, para iluminar os quadros fixados na mesma. Essa estratégia de usar um fundo escuro é muito utilizada porque o escuro absorve boa parte da luz incidente e não gera brilhos ou manchas de luz na parede, dando a percepção de que está em segundo plano, deixando as telas que são o elemento principal em primeiro plano. Figura 9 – Estratégia de oposição Crédito: Vicenzi, 2021. É importante avaliar as características de reflexão dos materiais de acabamento de um ambiente para criar as estratégias corretas de iluminação. Quando se faz cálculo ou simulação por software da iluminância do ambiente ou superfície, sempre se leva em consideração as cores dos materiais, já que essas características influenciam no resultado de iluminação. 4.8 Ofuscamento O ofuscamento é o desconforto ou a redução da visibilidade provocada pela luz. O olho busca o ajuste da luz, que pode ser momentâneo, causando uma dificuldade de visão por alguns segundos, ou prolongada, causando fadiga ocular. Esse desconforto ocorre por três principais motivos: • Visão direta da lâmpada ou fonte de luz: quando a luz é direcionada para nosso olho; • Reflexos indesejados: quando a luz incide em uma superfície brilhante e essa reflete no olho do observador; 16 • Diferença grande de intensidade de luz: quando temos muita luz em uma superfície e pouca luz no entorno, nosso olho tenta constantemente ajustar e acaba gerando a fadiga. Também quando estamos em um ambiente escuro e adentramos em um espaço com muita luz, o olho necessita de alguns segundos para ajuste. O ofuscamento ou desconforto visual causado pela luz é ponto de atenção em um projeto luminotécnico. As duas principais estratégias para evitar o ofuscamento são a escolha de luminárias adequadas e equilíbrio de intensidades de luz. Em relação às luminárias, é interessante utilizar produtos de qualidade que tenham a preocupação com o ofuscamento, como: • Utilização de difusores eficientes, que não marcam a fonte de luz e, dessa forma, a luz sai da luminária de uma maneira mais uniforme; • Aletas, que impedem a visão direta da lâmpada, e se houver material reflexivo, aumentam a performance da luminária; • Luminárias com a fonte de luz recuada permitem que a luz chegue ao ambiente, mas que não enxergamos o teto com brilho, o que aumenta muito o conforto do espaço. 4.9 Flicker ou cintilação O flicker, termo mais comum usado para iluminação, é um fenômeno de variação da intensidade provocado pela variação de tensão, efeito estroboscópico, no qual visualmente parece que a luz pisca em uma velocidade alta. Nosso olho consegue se ajustar a níveis menores de flicker e, por isso, geralmente ele não é visualmente perceptível. No entanto, mesmo não não sendo visto, o flicker pode gerar desconforto ao usuário. Como muitas vezes não é visualizado, ele gera dor de cabeça ou mal-estar em pessoas que permanecem muito tempo em um ambiente que está iluminado com uma fonte de luz com essa variação maior que a permitida. As fontes de LED têm uma alta preocupação com este item, e os bons fornecedores testam suas fontes para identificar se não estão com níveis prejudiciais. Por isso a escolha de fornecedores que se preocupam com a qualidade das suas fontes é tão importante. 17 TEMA 5 – ASPECTOS RELACIONADOS À COR As cores que enxergamos em um objeto são resultado da cor desse objeto somadas à cor da luz que incide nele e à fisiologia da visão e da percepção de cada indivíduo. O olho humano é sensível às cores vermelho, verde e azul. Apesar disso, consegue distinguir 40 milhões de cores diferentes. Em relação à fisiologia da visão, algumas pessoas apresentam uma deficiência na percepção das cores. Em relação à percepção dos indivíduos, alguns estudos mostram que diferenças culturais e prferências pessoais também afetam nossa percepção das cores. Sobre a iluminação, há três aspectos: quantidade de luz, o índice de reprodução de cor e a cor da luz que incide no objeto. Sobre a quantidade, existe em nível mínimo de iluminação por meio do qual conseguimos distinguir as cores, 50 lux. Em níveis muito baixos de iluminação, só conseguimos distinguir o preto e o branco. Em relação à cor da luz, somente o Sol e poucas fontes de luz nos mostram a cor real dos objetos. Na figura a seguir, vemos um mesmo ambiente iluminado com diferentes fontes/cores de luz. Percebemos os mesmos objetos com diferentes cores dependendo da luz que os ilumina. No exemplo da Figura 10, podemos perceber o quanto a cor do objeto se altera dependendo da cor da luz. Figura 10 – Luzes e percepção das cores de objetos Crédito: Pozitivo/Shutterstock. 18 Ainda em relação à cor, temos dois conceitos muito importantes: o Índice de Reprodução de cor e Temperatura de cor, que veremos a seguir. 5.1 Índice de reprodução de cor O Índice de reprodução de cor ou IRC mede o quanto a fonte de luz pode reproduzir a cor real do objeto. Para medir esse índice, é usada como base a luz natural, e a escala vai de 0 a 100. Para ambientes internos de grande permanência, o índice mínimo recomendado é 80. A ABNT NBR ISO/CIE 8995-1 (2013) descreve que o IRC é importante tanto para o desempenho visualquanto para a sensação de conforto e bem-estar, bem como para que as cores do ambiente, dos objetos e da pele humana sejam reproduzidas natural e corretamente. Quando estamos iluminando um ambiente no qual visualizar as cores é importante, como lojas de artigos com cor, museus, entre outros, é importante especificar uma fonte de luz com IRC alto, acima de 90, por exemplo, para que as cores possam ser reproduzidas fielmente. 5.2 Temperatura de cor A luz branca pode variar a tonalidade dependendo da sua fonte. A temperatura de cor é a grandeza que identifica a cor que a lâmpada emite e também pode ser chamada de temperatura de cor correlata. A unidade de medida é Kelvin. A ABNT NBR ISO/CIE 8995-1 (2013) classifica em três grupos, conforme tabela abaixo. Tabela 2 – Classificação dos grupos segundo a ABNT Aparência de cor Temperatura de cor correlata Quente Abaixo de 3.300 K Intermediária 3.300 a 5.300 K Fria Acima de 5.300 K A escolha da temperatura de cor de um projeto afeta a percepção do espaço. Para ambientes com o intuito de relaxamento, por exemplo, recomenda- se temperaturas de cores mais quentes. Para laboratórios de análises, é recomendada a cor neutra, para que a cor da luz não influencie no resultado. 19 A escolha da temperatura de cor não tem regras, mas ela influencia a leitura que o usuário tem do espaço e de como ele será usado, por isso, é importante a análise da função do espaço e do conceito estático para que a iluminação possa estar alinhada com esses, criando um ambiente agradável e confortável para os usuários. 20 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO/CIE 8995-1. Rio de Janeiro, 2013. BOMMEL, W.; ROUHANA, A. The Science of Light. Signify. Eindhoven, 2019. BRILIA. Disponível em: <https://brilia.com/product-category/lampadas/>. Acesso em: 9 jul. 2021. EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Atlas de Eficiência Energética Brasil 2020. Disponível em: <https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dados- abertos/publicacoes/atlas-da-eficiencia-energetica-brasil-2020>. Acesso em: 9 jul. 2021. ERCO. Language of Light. Erco, 2020. INNES, M. Iluminação no design de interiores. Tradução de Alexandre Salvaterra. São Paulo: Gustavo Gili, 2014. ITAIMLC. Lighting Concept. Disponível em: <https://itaimlc.com.br/pt/produtos/>. Acesso em: 9 jul. 2021. STELLA. Disponível em: <https://www.stella.com.br/produtos/lampadas>. Acesso em: 9 jul. 2021.
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