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PAPEL DAS OFICINAS DE CRIATIVIDADE JUNTO A IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS LuCIANA TosETTO GAUCHER WILMA ANTONIA NuBIATO SANTESSO INTRODUÇÃO Este capítulo faz um apanhado do trabalho realizado por nós como estágio em "Oficina de Criatividade", oferecido pela Universidade Paulista. A intervenção proposta era implantar e analisar o funcionamento e os resultados de uma Oficina de Criatividade junto a algum segmento da população, através de alguma instituição de nossa escolha. Escolhemos uma instituição para idosos, localizada na zona sul da cidade de São Paulo. A finalidade desta instituição é a de acolher idosos moradores nas ruas, que possuam ou não familiarese que tenham ou não deficiências fisicas e mentais, mesmo que limitantes. Abriga mais de 50 idosos, entre homens e mulheres, cuja manutenção vem de doações e voluntariado, oferecidos pela comunidade local. Quanto à manutenção financeira, a maior parte vem do investimento social de uma multinacional e outra parte, da ajuda comunitária, através de bazares e bingos beneficentes. A escolha desta instituição para o desenvolvimento do trabalho deu-se pelo fato desta abrigar pessoas dos mais diversos niveis culturais e intelectuais, que por dificuldades financeiras encontram-se em situação 31. Colaboraram nas oficinas Heloisa Olival Costa e Maria Beatriz C. de Mello. 218 ESPMÇOS DE CRIAÇAOEMPSICOLOGIA OFICINAS NA PRATICA de misériac abandono, de forma diferente de outuas instituiçocs para Tdosos que abriganm aqucles que têm condiçöes financeinas para residir DCm e tamilias que venham a seu cncontro quando nccessario. Nosso objetivo, ao clegermos a instituição para desenvolver a Oficina de Criatividade, foi o de buscar um entendimento sobre as questoes que envolvem o sofrimento para as pessoas que nao recebem 0 amparo de suas tamilias na fasc final da vida e necessitam de alguma forma de intervenção para que ultrapassem obstáculos e limites dessa etapa. Na instituição, os abrigados encontram-se em fase de inserção em um novo grupo onde todos são idosos, ex-desabrigados ou semi-abrigados, sem familiares que lhes dêem amparo e com as doenças físicas e mentais próprias do envelhecimento. A REALIDADE DO ENVELHECIMENTO Desde a Antigüidade se discute a respeito do envelhecer. Encontramos leituras sobre direitos dos idosos no Código de Hamurabi, em hieróglifos encontrads no Egito, e citaçoes na Biblia e no Cristianismo. Em cada cultura, época ou religião o envelhecimento é caracterizado de alguma forma. A velhice � uma categoria social. Cada sociedade vive de forma diferente o desgaste do ser humano. Atualmente a sociedade rejeita o idoso, não querendo continuar a sua obra, por considerar que ele já não é mais produtivo. O idoso detentor de propriedades é mais bem acolhido, pois seus bens o defendem de sua desvalorização como pessoa. Depois do desenvolvimento industrial e urbanístico desordenado, os anciãos foram relegados a situações de marginalização e de empobrecimento. Idosos são populações ou indivíduos que podem ser caracterizados pela duração do seu ciclo vital. Segundo as convenções sócio- demográficas atuais, idosos são pessoas com mais de sessenta anos, nos países em desenvolvimento, e de mais de sessenta e cinco, nos países desenvolvidos (Neri, 2001).O envelhecimento éo processo de mudanças genéticas para a espécie e para cada indivíduo, que se traduz na diminuição da plasticidade comportamental, aumento da vulnerabilidade, acumulação de perdas evolutivas e aumento da probabilidade de morte (Neri, 1995). Beauvoir (1976) o entende como CHRISTINA M. B.CUPERTINO (oRGANZADORA) 219 um lenoneno biológico com conseqiências psicológicas consideradas tipicas da rdade avançada, quc modifica a relação do homem n CSeu Tconecnto com o mundo c com sua própria nistor preterivel para o idoso ser independente no ponto de VIsta CconomiCo, pois iSso significa quc tem meios para viver dignamente Depender da lamilia o leva ao retraimento, pois esta vai d com pequcnas cquzantias em dinheiro quando se faz necessário, o que cercea sua autonomia. Muitos idosos só apresentam sua necessidade monetara quando se trata de problemas de saúde ou moradia, tendo vergonha de desejar comer melhor ou fazer uma viagem. Ficam na dependência da sensibilidade dos filhos. No Brasil, é caracteristica da relação dos adultos com os velhos a falta de reciprocidade, que se pode traduzir numa tolerância sem o calor da sinceridade (Bosi, 2003). Não se discute com o velho e nen se confronta suas opiniöes, negando-Ihe a oportunidade de desenvolver aquilo que só se permite aos amigos: a convivència com a alteridade,o enfrentamento e o conflito. Recentemente, certas áreas das ciências sociais despertaram para o estudo dessa temática. A sociologia do envelhecimento constituiu-se como campo específico de investigaçãoa partir do surgimento de um novo fenômeno: o rápido aumento da população de mais de 60 anos. A representação social do idoso conheceu uma série de modificações ao longo do tempo, uma vez que as mudanças sociais reclamavam políticas sociais para a velhice, que pressionaram a CTiaçao de categorias classificatórias adaptadas à nova condição moral e a uma construção ética do envellhecer, ou seja, conceder aos idosos condiçõese direitos para continuarem o restante da vida de forma digna e respeitosa. Em nosso pais, o interesse do Estado nas questões ligadas aos idosos caminha a passos lentos. Em 2003 foi criado o Estatuto do ldoso, que entende que o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade, devendo ser objeto de conhecimento e intormação para todos asseverando que os idosos não devem sotrer nenhuma discriminação 220 ESPACOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA OFICINAS NA PRÁTICA O iDOsO INSTITUCIONALIZADO Na Holanda do século XV surgiram as primeiras instituições oficiais para acolher idosos carentes ou enfermos e a Inglaterra foi o primeiro país a formalizar programas de cuidados em função do envelhecimento, após a Segunda Guerra Mundial. De maneira geral, a sociedade fecha os olhos para os abusos aplicados contra os idosos, que devido a uma discutível melhora da qualidade de vida, estão crescendo em número a cada ano. Ou seja, cresce a expectativa de vida, e, conseqüentemente, o número de pessoas idosas. Atualmente se morre com mais idade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografiae Estatisticas (1BGE), entre 1991 e 2000, aumentou em 47,5% o número de idosos (com 65 anos ou mais). O crescimento da parcela de idosos da população foi de 17% em dez anos. Estima-se que em 2020, os maiores de 60 anos serão 30 milhöes, ou o correspondente a 13% da população total do país. Os adultos, segundo Beauvoir (1990), muitas vezes interessam- se pelo idoso como um objeto de exploração. Multiplicam-se clínicas e casas de repouso, onde idosos que podem pagaro fazem a troco de conforto e cuidados, que freqüentemente deixam a desejar. Nessas instituições, apesar de receber os cuidados básicos, o idoso vai perdendo a originalidade, a vontade, a capacidade de projetar o futuro, o raciocínio, a memória, estando sempre à parte do processo da vida (Goffman, 1974). No cansaçoe no desgaste do dia-a-dia, a vida vai passando. Os filhos, quando existem, já estão enfrentando os seus próprios problemas, eo velho fica só, sem reservas, sem saúde, sem planos, restringindo-se somente a um lugar para comer, higienizar-see dormir. Sua vida torna-se mais sem sentido, passando ao isolamento. Quando se fala de idosos institucionalizados, temos que muitas são suas formas de inserção. A mais comum delas é que muitos idosos dependem de seus filhos, que não podem lhes dar muita atenção, posto que trabalham e possuem seus afazeres, optando por colocá-los em asilos. Outra forma, mais dolorosa, são os idosos que, com o passar dos anos, perdem o contato com seus familiares e sofrem constantes abalos financeiros, que oslevam a perder o lar e ir para a rua onde, após algum tempo e com muita sorte, são recolhidos em instituições de benemeréncia. CHRISTINAM.B.CUPERTINO (ORGANIZADORA) 22 Oviver em um asilo faz com que muta se abandonados por seus familiares, que quando existem ou sabem do o taz com que muitas vezes os idosos sintam paradeiro de seus velhos, passam a visitá-los esporadicamene disso, o fato de estarem abrigados em um local com custódia, ra que fiquem totalmente afastados do seu convívio social anterior. Nesse sentido, a proposta de Oficina de Criatividade traz consig uma oportunidade de elaboracão de um trabalho junto aos idosos, que visa estabelecer redes de relacionamentos e facilitar sua inserção na instituiçao. Dentro de uma instituição, mesmo sabendo que os idosos têm limitaçoes, pode-se estimular sua capacidade de reflexäo e recuperar, pelo menos em parte, a capacidade motora e intelectual. E importante conscientizá-los, de forma gradativa, sobre a necessidade e a importância da interação nesse novo contexto social, criando um espaço em que sejam incentivados a desenvolver uma percepção integral de si e dos outros, através de exercicios de sensibilização, expressão artística com e corporal. O IDOSO INSTITUCIONALIZADO EA PROPOSTA DE OFICINA DE CRIATIVIDADE Quando desenvolvemos o projeto para a aplicação de Oficina de Criatividade junto a idosos institucionalizados, diante do exposto acima sobre o envelhecimento, levantamos a hipótese de que, através da exploração de diversas formas de expressão, poderíamos facilitar o autoconhecimento e levar este grupo à compreensão de atitudes praticadas, no presente e no passado. Com a finalidade de promover a integração dos idosos através da criatividade, investiriamos no resgate da auto-estima e da dignidade, visto que os idosos, em grande parte, sentem-se frágeis e abandonados. Assim, a liberação da criatividade através de recursos expressivos deveria criar condições de desenvolvimento individual e grupal de forma produtiva e agradável. Os exercicios propostos na Oficina, a partir de atividades corporais e utilização de materiais expressivos, permitem aos participantes expressarem uma criatividade mais livre. Estes passam a ter, pouco a pouco, uma memória de instantâneos reconstituídos e transformados em seus trabalhos expressivos. A Oficina de Criatividade Dode desempenhar, em uma instituição para idosos, um papel de 122 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA OFICINAS NA PRATICA fundamental importância, uma vez que, por meio dela, é possivel explorar a expressividade e modificar a forma de ver o mundo. A mplantação de Oficina de Criatividade persegue, como produto djacente, uma visão do ser humano contemporâneo como alguém que POue e deve expressar seus pensamentos e sentimentos, sem o receio de Ser censurado. Para isso, utiliza a arte como estímulo sensorial, despertando capacidades. Podem também ser realizados exercicios de Cstmulação dos sentidos, trabalhando as percepções, explorando possibilidades e capacidades de cada um. Na Oficina de Criatividade pode-se trabalhar não só os conflitos e angústias, mas o florescimento das potencialidades criativas, desenvolvendo a recuperação da auto- estima, interação e integração dos idosos na instituição. O fazer artístico viabiliza a criatividade eo contato com os mais diversos tipos de elementos que constituem essa forma de linguagem, em uma atitude de constante reflexão e análise. Através da Oficina, a potencialidade criativa expressiva de cada um emerge a partir da pratica, levando em conta o ritmo, as necessidades, e os interesses de cada um, visando um espaço interativo de criação. Os trabalhos ressaltam as possibilidades, fazendo reviver no grupo a sua condição de humanidade, individualidade e coletividade (Schmidt e Ostronoff, 1999). Tudo isso pode demarcar um lugar para a Oficina de Criatividade como prática possível para o atendimento à população de idosos, trabalhando percepções, explorando suas possibilidades criativas, levando em consideração as necessidades e interesses de cada um. Outro objetivo é fazer com que o idoso participante de uma Oficina de Criatividade analise a sua possível mudança e a adaptação à instituição, levando em conta que, sendo individuo, é um ser em constante evolução, participante de um mundo do qual recebe impactos e no qual também provoca reações. As vivÊNCIAS E OS PROCESSOS NOS GRUP0s Despertar as capacidades, além de caracterizar-se como um espaço de elaboração da experiência pessoal e coletiva por meio de recursos expressivos (Jord�o, 1999). Esse foi o conceito de Oficina de Criatividade utilizado por nós no atendimento. Sabemos que a criatividade está presente em todos os indivíduos, mas nos idosos mostra- CHRISTINAM.B.CUPERTINO (ORGANIZADORA) 223 lOComoc Oprios da idade, como as dificuldades , doenças degenerativas e os problemas de se mais inibida por fatores próp motoras e de locomoção, doenças ória. Desta forma, encaramo pOsIivo para o ana Cncaramos a Oficina como um instrurnento participantes resnento do processo criativo, que aflora quando os participantes respondem prontamente às atividau para aplica ra Para a intervenção, positivo para o aparecimento do processo criativo, es. atividades de Ofri ao, formamos duas duplas para aplicarmos as ividades de Oficina junto aos idosos, d para um a publico masculina. flutuans As atividades com o grupo feminino foram dirigidas a um publico flutuante de 26 mulheres, com idades variáveis entre bUe Junto aos idosos, uma para a ala feminina e outra interessaram-se nel e porque, em princípio, todas as mulheres interessaram-se pelo trabalho. mas a cada encontro Copa 90 anos. Falamos flutuante noraue em princípio, todas do que tinham condições de participar. Na ala masculina, rOs o grupo expressivos menos interesse em particinar de atividades com recursos expressivo COno a manipulação de tinta. papel. linha etc., por questoes cuiturd ue ho entendimento geral deles. muitas dessas ferramentas sao voltadas exclusivamente para mulheres. Por esse motivo, procurou-se evitando utizar o tempo disponível em atividades mais livres, evitando COnstrangimentos, além do número de participantes do grupo po atividades ser totalmente aberto e flutuante. AS atividades na ala feminina foram iniciadas através de entrevistas de avaliação de demanda, observações e atendimento individuale grupal no período de dois meses, sendo os encontros realizados uma vez por semana, com duas horas de duração. O embasamento teórico das atividades foi elaborado através de pesquisa bibliográfica. A instituição colocou à disposição para a realização das atividades uma sala e o quiosque. A articulação das atividades levou em consideração o ritmoeo interesse das idosas, e elas foram orientadas para a conscientização gradativa e continua da necessidade e da importância dos cuidados com seus corpos e mentes, estimulando a criatividadeea imaginação através de exercicios e manifestações artísticas. Com elas, visamos atingir conflitos e angústias, favorecendo o florescimento de potencialidades criativas e promovendo a recuperação da auto-estima. Com relação às mulheres, pretendiamos que a potencialidade criativae expressiva de cada uma emergisse a partir da prática, levando em conta o ritmo, as necessidades e os interesses individuais, visando um espaço interativo de eriação. Foram aplicadas técnicas previamente estruturadas e algumas improvisadas em função do contexto momentàneo. 14 ESPAÇOS DE CRIAÇAO EM PSICOLOGIA OFICINAS NA PRATICA Com os homens não houve avaliação da denmanda, pois o inicio das atividades não foi conconmitante com o das mulheres, ocorrendo Omente. Além disso,. com a dificuldade de aceitação de determinados recursos expressivos, nos limitamos a alguns que eram aceitos pelogrupo. As atividades também levaram em consideração o nteresse dos idosos, sendo elaboradas em bases teóricas atraves de bibliografia. Na ala masculina não havia um espaço especifico para a realização das atividades, então utiliz.amos a própia sala de estar e o pátio da instituição. Com as idosas, trabalhamos abordando temas relacionados com a questão do envelhecimento, seu significado e suas conseqüëncias, acoplados à utilização de Oficinas de Criatividade como ferramenta de motivaç�o. Focalizamos aspectos como o viver asilado, o distanciamento de filhos e familiareseo afastamento do convívio social de amigos e vizinhos, festas, encontros sociais, clubes e igrejas e atividades prazerosas que compartilharam no passado. Nas oficinas, pudemos realizar atividades de discuss�o de filmes brasileiros antigos, trazendo de volta valores e experiências prévias à sua realidade atual; músicas sugeridas por elas, tocadas para reviver situações da vida de cada uma; leitura de textos e poesias voltadas para as vicissitudes humanas, o envelhecer ea morte; receitas da arte culinária familiar e depoimentos pessoais sobre situações a elas ligadas; utilizaç�o de recortes de revistas para colagens ou histórias; aplicação de diversos materiais em atividades artesanais; manipulação de materiais de estimulação sensorial, como essências de perfume; e muitas manifestações plásticas, através de colagens, desenhos, sempre antecedidas por uma introdução onde se explicava a atividade e um relaxamento para prepará-los para a participação ativa. Ao final das intervenções era feita a parte mais importante: recolher os depoimentos e fazer uma análise conjunta, tanto da apresentação em si, como dos afetos que a atividade despertou e assim levá-los à compreensão de alguns de seus sentimentos mais angustiantes. Nos encontros com os homens, propusemos atividades mais livres, como leitura de fábulas que focavamo envelhecimento, músicas antigas que fizeram com que eles entrassem em contato com o passado, trazendo à tona a realidade atual, fazendo com que eles expressassem suas angústias e desejos. Elaboramos, tanmbém, projeto de montar uma peça de teatro que expressasse seus sentimentos, dando-lhes a responsabilidade CuRISTINAM.B.CUPERTINO (ORGANIZADORA) 125 de elaborar o roteiro, para que percebessem qu que percebessem que eram capazes de muita desenho com uma temática onde puderam expre csaltarmos aqui coisa ainda, melhorando a sua auto Oficina de Criatividade tinha representado para e que, como os idosoS se mostraram um pouco re auto-estima. Finalizamos com um de puderam expressar no papel o quea para eles. Ressaltamos aqui maneira que se atividades iam acontecendo de acordo com a maneira que se encaminhavam nossos encontros. artisticos, as escolhas das atividades iam acontece pouco receosos com os recursos As atividades realizadas junto ao grupo de idosos mostrararm que a OnICina e viável como veiculo nara interacão, compatiVel co realidade dos institucionalizados Nas atividades, observou-se no i que a imensa sentiam, dificuldade. de evn que alguns idosos encontraram em expressar o ue sentiam, de experimentar algo novo, pois tinham ne cio que novo, pois tinham medo de errar Senndo-Se frageis e precisando de aiuda. Importante observar que to um trabalho dinâmico que envolveu muitas pessoas de uma sO V qual cada uma delas acrescentou algo à experiència da outra. Como oficineiras, permanccemos numa atitude de escuta, reconhecendo aquio SObre o que não podíiamos interferir em determinados momentos, mas quando pOssivel, ajudamos a dar um novo ritmo ao desenrolar da Oficina, propondo atividades e assuntos baseados no cabedal teoc que recebemos durante o curso de Psicologia. Por ser um trabalho desenvolvido sobre uma base fenomenológica, privilegiamos o que as dosas traziam no momento, fazendo assinalamentos e evitando interpretações. no O DESENVOLVIMENTO Do GRUPO DE IDOSAS A integração entre as mulheres deu-se de forma lenta. pois, tendo uma longa experiência de vida, possuem suas crenças e valores arraigados, e muitas vezes não abriam mão de suas opiniões. A experiència de desprendimento e escuta das demais por vezes não toi fácil para as idosas, porém toi signiticativa. No decorrer das atividades foi possível observar mudanças importantes na forma de relacionarem- se umas com as outras, pois houve uma maior aceitação das diterenças individuais e uma maior integração do grupo. Percebemos que as mulheres idosas, no cotidiano da instituiç�ão, acabam por perder a curiosidade e a capacidade de criar. pois os acontecimentos rotineiros nao geram novas ideias, nao nutrem mais seu lado criativo. A instituigão não oferece novas informações sobre 226 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA OFICINAS NA PRATICA assintos variados, o que não contribui para que mantenham o interesse aceso, relegando-o a encontros casuais com eventos cxternos, que nao oferecem necessariamente a oportunidade de novas descobertas. Nema questao da morte é tratada, mesmo que no cotidiano das dOSas institucionalizadas a morte scja una constante. As idosas mostraram preconceitos que bloqueiam a sua Criatividade e sua inserção no grupo: em uma das atividades, uma das idosas afirmou: "não posso pintar porque estou velha". O sentimento de inferioridade por estar velha não permitiu um momento de descontração cde atividade conjunta. Durante o tempo em que foi aplicada a Oficina, pudemos promover algumas modificações na rotina do dia-a-dia, visto que, pelo menos num dia da semana, as idosas participantes passaram a ter uma forma para pensar e criar, desenvolvendo uma maior valorização de suas próprias produçöes, o que favoreceu a confiança em si mesmas e nas construções, tanto materiais como afetivas realizadas por elas. A Oficina de Criatividade proporcionou às idosas a oportunidade de descobrirem o prazer do ato de inovar, de conheccerem o sentimento de estarem ainda interferindo no mundo e que não são "velhas inútcis" como aprenderam a pensar sobre si mesmas. Assim, passaram a procurar mais o campo da criação, da imaginação e das fantasias, ou seja, romperam seus bloqueios, questionando novas maneiras para enfrentarem e resgatarem uma parte do que perderam junto com a liberdade de ir e vir. Em todos os nossos encontros, as idosas falavam de sua intenção de voltarem para a casa de scus filhos e de viverem junto com seus netos, mas estas falas em geral eram fantasiosas, pois sabem que näo voltarão para o convivio de seus filhos, já que a maioria delas foi recolhida na rua. Falar sobre isso, no entanto, sem receber críticas, causava um certo conforto e uma forma de luta contra a certe2a do abandono. E percebemos, também, que durante a participação na Oficina, muitas destas mulheres passaram a interagir mais com as colegas, mostrando um maior grau de ligação com sua situação atual, ao invés de criarem formas fantasiosas de protcgerem-se contra o abandono. A cada Oficina percebemos o quanto a música, o filmne c a poesia proporcionam bem-estar, acabando, pelo menos naqucle momento, com a tristeza, a decepção, a depressäo ou a confusão mental. CHRISTINA M.B.CuPIRTINO (ORGAN7AOKI9A) 227 As idosas tiveram a possibilidade, através do at de desånimo pbilidade, através do ato de ver e ouvir cois25 passado, de sairem de um estado de desánimo e , Cm seus depoimentos, puderam refletir sobre poderem abrir-se e falar e, em seus dep suas vidas. Na atividade em que foi passado um filme, este claramente ativou Ihes a inaginaçãoe concentracão, constitu dO pensamento das idosas, suas fantasias, lds passadas, relacionando-as com o presente. Essa pereepe mensagem na dinámica do pensamento das jdosa Centração, constituindo-se em verdadeira Capacidade de captar não o que estava na supertic cie aparente dos fatos, e assim, emergiram as carências, contiitos, t sentimentos e lembranças. gmas idosas, em suasatividades e depoimentos, demonstraram a capacidade de gerir sua própria vida. opinar com independencld e autonomla, e este foi um ganho que puderan adquirir durante a pratica da Oficina de Criatividade. Também é importante ressaltar o inter resse que as idosas tiveram em escolher as próximas atividades e dar COntinuidade no processo da Oficina. Mostraram-se comprometids co o trabalh0, deram opiniöes, sugeriram o que mais gostavam e toram Sinceras quando näo tinham interesse em alguma atividade ievantau AOcna ofereceu a estas mulheres a estimulação da memoria, apesar de algumas possuírem enfermidades limitantes e incapacidades ISICas e mentais. Conforme resgatavam o seu passado, conversavam bastante, trocavam experiências e compartilhavam aspectos que marcaram as suas vidas. A Oficina de Criatividade foi riquissima, com 8rande crescimento tanto emocional como na compreensão do outro O DESENVOLVIMENTO Do GRUPO DE IDOSOS A experiência de Oficina de Criatividade com os idosos foi diferente daquela da ala feminina da instituiçao, e como já foi dito, foram feitas poucas atividades com recursos expressivos, que consideravam tipicas de mulheres. Na maioria dos encontros oterecemos cspaço para falarem dos seus sentimentos, deixando-os à vontade para expresarem se de mancira própria. Em um dos encontros, trabalhamos com a música EmoçoCs, interpretada por Roberto Carlos, escolhida cxatamente por tratar de sentimentos e cmoçoes, que foram de fato despertados. FAMI RA ADTMS OGIA ON INAS NA PRAT noudos, promovend o tt insito la commNICaqaO no grUpo Clanrndo e eplorand sentientos Aopao ela oterta de uma Oena de C nidade para idosos asilados, alem de desatiadora, foi pa7eosa. TOrem, toi muito mais e isto foi una vitoria 1 dir 0 de TCveTnoS ptcconceitos c nos abrimos para o novv. Para Rogeis, autor da Abordagem Centrada na ssoa, "uma pessoa c iaiva na medida em que realiza sua eneialidades ovmo ser humano" (17:24). Na instituição, cntramos preparados a olhar eada individuo como um ser huano caregado de sentimentos. E no processo percoebemos que, niais importante do que olhar, foi poder desenvolver nossa escuta, que Rogers nomeia como empatica e que signitica estar disposto a verdadeiramente ouvir e oompreender o outro no que ha de mais protundo. Um olhar e uma escuta auténticos tem o cteito de tacilitar o crescimento pessoal. propiciando mudanças. Nao estávamos preocupadas em interpretar, analisar ou impor nossas teorias e idéias sobre as experièncias vividas, mas sim em escutar e, junto com eles, facilitar a reformulação de ensamentos e sentimentos. Foi nesses encontros que demos aos idosos a oportunidade de perceber suas potencialidades e facilitar a compreensão, promovendo a tomada de consciência de cada um. A Oficina de Criatividade proporcionou um crescimento mútuo, das psicólogas e dos idosos. Todos ali, de alguma maneira, tiveram um desenvolvinmento pessoal e é assim, elaborando cada vez mais nossa escuta, que temos a certeza que, se formos abertas a cada relação que encontrarmos na vida, a ajuda acontecerá. REFEr£NCIAS BiBLIOGRÁFICAS BEAUVOIR, S. de. A velhice: a realidade incômoda. 2 ed. São Paulo: Difusäão Européia do Livro, 1976. v. 1. A velhice. Trad. Maria Helena Franco Monteiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1990. BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 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