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Espacos de criacao em psicologia - ultimo capítulo

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PAPEL DAS OFICINAS DE 
CRIATIVIDADE JUNTO A IDOSOS 
INSTITUCIONALIZADOS 
LuCIANA TosETTO GAUCHER 
WILMA ANTONIA NuBIATO SANTESSO 
INTRODUÇÃO 
Este capítulo faz um apanhado do trabalho realizado por nós 
como estágio em "Oficina de Criatividade", oferecido pela Universidade 
Paulista. A intervenção proposta era implantar e analisar o 
funcionamento e os resultados de uma Oficina de Criatividade junto a 
algum segmento da população, através de alguma instituição de nossa 
escolha. Escolhemos uma instituição para idosos, localizada na zona 
sul da cidade de São Paulo. A finalidade desta instituição é a de acolher 
idosos moradores nas ruas, que possuam ou não familiarese que tenham 
ou não deficiências fisicas e mentais, mesmo que limitantes. Abriga 
mais de 50 idosos, entre homens e mulheres, cuja manutenção vem de 
doações e voluntariado, oferecidos pela comunidade local. Quanto à 
manutenção financeira, a maior parte vem do investimento social de 
uma multinacional e outra parte, da ajuda comunitária, através de 
bazares e bingos beneficentes. 
A escolha desta instituição para o desenvolvimento do trabalho 
deu-se pelo fato desta abrigar pessoas dos mais diversos niveis culturais 
e intelectuais, que por dificuldades financeiras encontram-se em situação 
31. Colaboraram nas oficinas Heloisa Olival Costa e Maria Beatriz C. de Mello. 
218 ESPMÇOS DE CRIAÇAOEMPSICOLOGIA OFICINAS NA PRATICA 
de misériac abandono, de forma diferente de outuas instituiçocs para 
Tdosos que abriganm aqucles que têm condiçöes financeinas para residir 
DCm e tamilias que venham a seu cncontro quando nccessario. Nosso 
objetivo, ao clegermos a instituição para desenvolver a Oficina de 
Criatividade, foi o de buscar um entendimento sobre as questoes que 
envolvem o sofrimento para as pessoas que nao recebem 0 amparo de 
suas tamilias na fasc final da vida e necessitam de alguma forma de 
intervenção para que ultrapassem obstáculos e limites dessa etapa. Na 
instituição, os abrigados encontram-se em fase de inserção em um novo 
grupo onde todos são idosos, ex-desabrigados ou semi-abrigados, sem 
familiares que lhes dêem amparo e com as doenças físicas e mentais 
próprias do envelhecimento. 
A REALIDADE DO ENVELHECIMENTO 
Desde a Antigüidade se discute a respeito do envelhecer. 
Encontramos leituras sobre direitos dos idosos no Código de Hamurabi, 
em hieróglifos encontrads no Egito, e citaçoes na Biblia e no 
Cristianismo. Em cada cultura, época ou religião o envelhecimento é 
caracterizado de alguma forma. 
A velhice � uma categoria social. Cada sociedade vive de forma 
diferente o desgaste do ser humano. Atualmente a sociedade rejeita o 
idoso, não querendo continuar a sua obra, por considerar que ele já 
não é mais produtivo. O idoso detentor de propriedades é mais bem 
acolhido, pois seus bens o defendem de sua desvalorização como pessoa. 
Depois do desenvolvimento industrial e urbanístico desordenado, os 
anciãos foram relegados a situações de marginalização e de 
empobrecimento. 
Idosos são populações ou indivíduos que podem ser caracterizados 
pela duração do seu ciclo vital. Segundo as convenções sócio-
demográficas atuais, idosos são pessoas com mais de sessenta anos, 
nos países em desenvolvimento, e de mais de sessenta e cinco, nos países 
desenvolvidos (Neri, 2001).O envelhecimento éo processo de mudanças 
genéticas para a espécie e para cada indivíduo, que se traduz na 
diminuição da plasticidade comportamental, aumento da 
vulnerabilidade, acumulação de perdas evolutivas e aumento da 
probabilidade de morte (Neri, 1995). Beauvoir (1976) o entende como 
CHRISTINA M. B.CUPERTINO (oRGANZADORA) 
219 
um lenoneno biológico com conseqiências psicológicas consideradas 
tipicas da rdade avançada, quc modifica a relação do homem n CSeu Tconecnto com o mundo c com sua própria nistor 
preterivel para o idoso ser independente no ponto de VIsta 
CconomiCo, pois iSso significa quc tem meios para viver dignamente 
Depender da lamilia o leva ao retraimento, pois esta vai d 
com pequcnas cquzantias em dinheiro quando se faz necessário, o que 
cercea sua autonomia. Muitos idosos só apresentam sua necessidade 
monetara quando se trata de problemas de saúde ou moradia, tendo 
vergonha de desejar comer melhor ou fazer uma viagem. Ficam na 
dependência da sensibilidade dos filhos. 
No Brasil, é caracteristica da relação dos adultos com os velhos 
a falta de reciprocidade, que se pode traduzir numa tolerância sem o 
calor da sinceridade (Bosi, 2003). Não se discute com o velho e nen se 
confronta suas opiniöes, negando-Ihe a oportunidade de desenvolver 
aquilo que só se permite aos amigos: a convivència com a alteridade,o 
enfrentamento e o conflito. Recentemente, certas áreas das ciências 
sociais despertaram para o estudo dessa temática. A sociologia do 
envelhecimento constituiu-se como campo específico de investigaçãoa 
partir do surgimento de um novo fenômeno: o rápido aumento da 
população de mais de 60 anos. 
A representação social do idoso conheceu uma série de 
modificações ao longo do tempo, uma vez que as mudanças sociais 
reclamavam políticas sociais para a velhice, que pressionaram a CTiaçao 
de categorias classificatórias adaptadas à nova condição moral e a 
uma construção ética do envellhecer, ou seja, conceder aos idosos 
condiçõese direitos para continuarem o restante da vida de forma digna 
e respeitosa. 
Em nosso pais, o interesse do Estado nas questões ligadas aos 
idosos caminha a passos lentos. Em 2003 foi criado o Estatuto do ldoso, 
que entende que o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade, 
devendo ser objeto de conhecimento e intormação para todos 
asseverando que os idosos não devem sotrer nenhuma discriminação 
220 ESPACOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA 
OFICINAS NA PRÁTICA 
O iDOsO INSTITUCIONALIZADO 
Na Holanda do século XV surgiram as primeiras instituições 
oficiais para acolher idosos carentes ou enfermos e a Inglaterra foi o 
primeiro país a formalizar programas de cuidados 
em função do 
envelhecimento, após a Segunda Guerra Mundial. De maneira geral, a 
sociedade fecha os olhos para os abusos aplicados contra os idosos, 
que devido a uma discutível melhora da qualidade de vida, estão 
crescendo em número a cada ano. Ou seja, cresce a expectativa de 
vida, e, conseqüentemente, o número de pessoas idosas. Atualmente se 
morre com mais idade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografiae 
Estatisticas (1BGE), entre 1991 e 2000, aumentou em 47,5% o número 
de idosos (com 65 anos ou mais). O crescimento da parcela de idosos 
da população foi de 17% em dez anos. Estima-se que em 2020, os 
maiores de 60 anos serão 30 milhöes, ou o correspondente a 13% da 
população total do país. 
Os adultos, segundo Beauvoir (1990), muitas vezes interessam-
se pelo idoso como um objeto de exploração. Multiplicam-se clínicas e 
casas de repouso, onde idosos que podem pagaro fazem a troco de 
conforto e cuidados, que freqüentemente deixam a desejar. Nessas 
instituições, apesar de receber os cuidados básicos, o idoso vai perdendo 
a originalidade, a vontade, a capacidade de projetar o futuro, o 
raciocínio, a memória, estando sempre à parte do processo da vida 
(Goffman, 1974). No cansaçoe no desgaste do dia-a-dia, a vida vai 
passando. Os filhos, quando existem, já estão enfrentando os seus 
próprios problemas, eo velho fica só, sem reservas, sem saúde, sem 
planos, restringindo-se somente a um lugar para comer, higienizar-see 
dormir. Sua vida torna-se mais sem sentido, passando ao isolamento. 
Quando se fala de idosos institucionalizados, temos que muitas 
são suas formas de inserção. A mais comum delas é que muitos idosos 
dependem de seus filhos, que não podem lhes dar muita atenção, posto 
que trabalham e possuem seus afazeres, optando por colocá-los em 
asilos. Outra forma, mais dolorosa, são os idosos que, com o passar dos anos, perdem o contato com seus familiares e sofrem constantes abalos financeiros, que oslevam a perder o lar e ir para a rua onde, após algum tempo e com muita sorte, são recolhidos em instituições de benemeréncia. 
CHRISTINAM.B.CUPERTINO (ORGANIZADORA) 22 
Oviver em um asilo faz com que muta se abandonados por seus familiares, que quando existem ou sabem do 
o taz com que muitas vezes os idosos sintam 
paradeiro de seus velhos, passam a visitá-los esporadicamene disso, o fato de estarem abrigados em um local com custódia, ra 
que fiquem totalmente afastados do seu convívio social anterior. 
Nesse sentido, a proposta de Oficina de Criatividade traz consig 
uma oportunidade de elaboracão de um trabalho junto aos idosos, que 
visa estabelecer redes de relacionamentos e facilitar sua inserção na 
instituiçao. Dentro de uma instituição, mesmo sabendo que os idosos 
têm limitaçoes, pode-se estimular sua capacidade de reflexäo e recuperar, 
pelo menos em parte, a capacidade motora e intelectual. E importante 
conscientizá-los, de forma gradativa, sobre a necessidade e a 
importância da interação nesse novo contexto social, criando um espaço 
em que sejam incentivados a desenvolver uma percepção integral 
de si 
e dos outros, através de 
exercicios de sensibilização, expressão artística 
com 
e corporal. 
O IDOSO INSTITUCIONALIZADO 
EA PROPOSTA DE OFICINA 
DE CRIATIVIDADE 
Quando desenvolvemos o projeto para 
a aplicação de Oficina de 
Criatividade junto a idosos 
institucionalizados, diante do exposto acima 
sobre o envelhecimento, 
levantamos a hipótese de que, através da 
exploração de diversas formas 
de expressão, poderíamos 
facilitar o 
autoconhecimento e levar este grupo à compreensão 
de atitudes 
praticadas, no presente e 
no passado. Com a 
finalidade de promover a 
integração dos idosos 
através da criatividade, 
investiriamos no resgate 
da auto-estima e da dignidade, 
visto que os idosos, 
em grande parte, 
sentem-se frágeis e 
abandonados. Assim, a liberação da 
criatividade 
através de recursos 
expressivos deveria 
criar condições de 
desenvolvimento 
individual e grupal de forma produtiva 
e agradável. 
Os exercicios 
propostos na 
Oficina, a partir de atividades 
corporais e utilização 
de materiais expressivos, 
permitem aos 
participantes expressarem 
uma criatividade 
mais livre. Estes passam a 
ter, pouco 
a pouco, 
uma memória 
de instantâneos 
reconstituídos e 
transformados em 
seus trabalhos 
expressivos. A Oficina de 
Criatividade 
Dode desempenhar, 
em uma instituição para 
idosos, um papel de 
122 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA OFICINAS NA PRATICA 
fundamental importância, uma vez que, por meio dela, é possivel 
explorar a expressividade e modificar a forma de ver o mundo. 
A mplantação de Oficina de Criatividade persegue, como produto 
djacente, uma visão do ser humano contemporâneo como alguém que 
POue e deve expressar seus pensamentos e sentimentos, sem o receio de 
Ser censurado. Para isso, utiliza a arte como estímulo sensorial, 
despertando capacidades. Podem também ser realizados exercicios de 
Cstmulação dos sentidos, trabalhando as percepções, explorando 
possibilidades e capacidades de cada um. Na Oficina de Criatividade 
pode-se trabalhar não só os conflitos e angústias, mas o florescimento 
das potencialidades criativas, desenvolvendo a recuperação da auto-
estima, interação e integração dos idosos na instituição. 
O fazer artístico viabiliza a criatividade eo contato com os mais 
diversos tipos de elementos que constituem essa forma de linguagem, 
em uma atitude de constante reflexão e análise. Através da Oficina, a 
potencialidade criativa expressiva de cada um emerge a partir da 
pratica, levando em conta o ritmo, as necessidades, e os interesses de 
cada um, visando um espaço interativo de criação. Os trabalhos ressaltam 
as possibilidades, fazendo reviver no grupo a sua condição de 
humanidade, individualidade e coletividade (Schmidt e Ostronoff, 1999). 
Tudo isso pode demarcar um lugar para a Oficina de Criatividade 
como prática possível para o atendimento à população de idosos, 
trabalhando percepções, explorando suas possibilidades criativas, 
levando em consideração as necessidades e interesses de cada um. Outro 
objetivo é fazer com que o idoso participante de uma Oficina de 
Criatividade analise a sua possível mudança e a adaptação à instituição, 
levando em conta que, sendo individuo, é um ser em constante evolução, 
participante de um mundo do qual recebe impactos e no qual também 
provoca reações. 
As vivÊNCIAS E OS PROCESSOS NOS GRUP0s 
Despertar as capacidades, além de caracterizar-se como um 
espaço de elaboração da experiência pessoal e coletiva por meio de 
recursos expressivos (Jord�o, 1999). Esse foi o conceito de Oficina de 
Criatividade utilizado por nós no atendimento. Sabemos que a 
criatividade está presente em todos os indivíduos, mas nos idosos mostra-
CHRISTINAM.B.CUPERTINO (ORGANIZADORA) 223 
lOComoc Oprios 
da idade, como 
as 
dificuldades 
, doenças degenerativas e 
os problemas de 
se mais inibida por fatores próp motoras e de locomoção, doenças ória. Desta forma, encaramo pOsIivo para o ana Cncaramos a Oficina como um 
instrurnento 
participantes resnento do processo criativo, que 
aflora quando 
os participantes respondem prontamente às atividau 
para aplica ra 
Para a intervenção, 
positivo para o aparecimento do processo criativo, 
es. 
atividades de Ofri ao, formamos duas duplas para aplicarmos 
as 
ividades de Oficina junto aos idosos, 
d 
para 
um 
a 
publico 
masculina. 
flutuans 
As atividades com o grupo feminino foram dirigidas a um publico flutuante de 26 mulheres, com idades variáveis entre bUe 
Junto aos idosos, uma para a ala feminina 
e outra 
interessaram-se nel e porque, em princípio, 
todas as mulheres 
interessaram-se pelo trabalho. mas a cada encontro Copa 
90 anos. Falamos flutuante noraue em princípio, todas do 
que tinham condições de participar. Na ala masculina, rOs 
o grupo 
expressivos menos interesse em particinar de atividades com recursos expressivo COno a manipulação de tinta. papel. linha etc., por questoes cuiturd 
ue ho entendimento geral deles. muitas dessas ferramentas sao 
voltadas exclusivamente para mulheres. Por esse motivo, procurou-se 
evitando utizar o tempo disponível em atividades mais livres, evitando 
COnstrangimentos, além do número de participantes do grupo po atividades ser totalmente aberto e flutuante. 
AS atividades na ala feminina foram iniciadas através de 
entrevistas de avaliação de demanda, observações e atendimento 
individuale grupal no período de dois meses, sendo os encontros 
realizados uma vez por semana, com duas horas de duração. O 
embasamento teórico das atividades foi elaborado através de pesquisa 
bibliográfica. A instituição colocou à disposição para a realização das 
atividades uma sala e o quiosque. A articulação das atividades levou 
em consideração o ritmoeo interesse das idosas, e elas foram orientadas 
para a conscientização gradativa e continua da necessidade e da 
importância dos cuidados com seus corpos e mentes, estimulando a 
criatividadeea imaginação através de exercicios e manifestações 
artísticas. Com elas, visamos atingir conflitos e angústias, favorecendo 
o florescimento de potencialidades criativas e promovendo a recuperação 
da auto-estima. Com relação às mulheres, pretendiamos que a 
potencialidade criativae expressiva de cada uma emergisse a partir da 
prática, levando em conta o ritmo, as necessidades e os interesses 
individuais, visando um espaço interativo de eriação. Foram aplicadas 
técnicas previamente estruturadas e algumas improvisadas em função 
do contexto momentàneo. 
14 ESPAÇOS DE CRIAÇAO EM PSICOLOGIA OFICINAS NA PRATICA 
Com os homens não houve avaliação da denmanda, pois o inicio 
das atividades não foi conconmitante com o das mulheres, ocorrendo 
Omente. Além disso,. com a dificuldade 
de aceitação de 
determinados recursos expressivos, nos limitamos a alguns que eram 
aceitos pelogrupo. As atividades também levaram em consideração o 
nteresse dos idosos, sendo elaboradas em bases teóricas atraves de 
bibliografia. Na ala masculina não havia um espaço especifico para a 
realização das atividades, então utiliz.amos a própia sala de estar e o 
pátio da instituição. 
Com as idosas, trabalhamos abordando temas relacionados com 
a questão do envelhecimento, seu significado e suas conseqüëncias, 
acoplados à utilização de Oficinas de Criatividade como ferramenta de 
motivaç�o. Focalizamos aspectos como o viver asilado, o distanciamento 
de filhos e familiareseo afastamento do convívio social de amigos e 
vizinhos, festas, encontros sociais, clubes e igrejas e atividades prazerosas 
que compartilharam no passado. Nas oficinas, pudemos realizar 
atividades de discuss�o de filmes brasileiros antigos, trazendo de volta 
valores e experiências prévias à sua realidade atual; músicas sugeridas 
por elas, tocadas para reviver situações da vida de cada uma; leitura de 
textos e poesias voltadas para as vicissitudes humanas, o envelhecer ea 
morte; receitas da arte culinária familiar e depoimentos pessoais sobre 
situações a elas ligadas; utilizaç�o de recortes de revistas para colagens 
ou histórias; aplicação de diversos materiais em atividades artesanais; 
manipulação de materiais de estimulação sensorial, como essências de 
perfume; e muitas manifestações plásticas, através de colagens, desenhos, 
sempre antecedidas por uma introdução onde se explicava a atividade 
e um relaxamento para prepará-los para a participação ativa. Ao final 
das intervenções era feita a parte mais importante: recolher os 
depoimentos e fazer uma análise conjunta, tanto da apresentação em 
si, como dos afetos que a atividade despertou e assim levá-los à 
compreensão de alguns de seus sentimentos mais angustiantes. 
Nos encontros com os homens, propusemos atividades mais livres, 
como leitura de fábulas que focavamo envelhecimento, músicas antigas 
que fizeram com que eles entrassem em contato com o passado, trazendo 
à tona a realidade atual, fazendo com que eles expressassem suas 
angústias e desejos. Elaboramos, tanmbém, projeto de montar uma peça 
de teatro que expressasse seus sentimentos, dando-lhes a responsabilidade 
CuRISTINAM.B.CUPERTINO (ORGANIZADORA) 
125 
de elaborar o roteiro, para que percebessem qu que percebessem que eram capazes de muita desenho com uma temática onde puderam expre csaltarmos aqui 
coisa ainda, melhorando a sua auto 
Oficina de Criatividade tinha representado para e que, como os idosoS se mostraram um pouco re 
auto-estima. Finalizamos com um 
de puderam expressar no papel o quea 
para eles. Ressaltamos aqui 
maneira que se atividades iam acontecendo de acordo com a maneira que se encaminhavam nossos encontros. 
artisticos, as escolhas das atividades iam acontece 
pouco receosos com os recursos 
As atividades realizadas junto ao grupo de idosos mostrararm que a OnICina e viável como veiculo nara interacão, compatiVel co realidade dos institucionalizados Nas atividades, observou-se no i 
que 
a imensa 
sentiam, 
dificuldade. 
de evn que alguns idosos encontraram em expressar o ue sentiam, de experimentar algo novo, pois tinham ne 
cio 
que 
novo, pois tinham medo de errar Senndo-Se frageis e precisando de aiuda. Importante observar que to um trabalho dinâmico que envolveu muitas pessoas de uma sO V qual cada uma delas acrescentou algo à experiència da outra. Como oficineiras, permanccemos numa atitude de escuta, reconhecendo aquio SObre o que não podíiamos interferir em determinados momentos, mas quando pOssivel, ajudamos a dar um novo ritmo ao desenrolar da Oficina, propondo atividades e assuntos baseados no cabedal teoc que recebemos durante o curso de Psicologia. Por ser um trabalho desenvolvido sobre uma base fenomenológica, privilegiamos o que as dosas traziam no momento, fazendo assinalamentos e evitando 
interpretações. 
no 
O DESENVOLVIMENTO Do GRUPO DE IDOSAS 
A integração entre as mulheres deu-se de forma lenta. pois, tendo 
uma longa experiência de vida, possuem suas crenças e valores 
arraigados, e muitas vezes não abriam mão de suas opiniões. A 
experiència de desprendimento e escuta das demais por vezes não toi 
fácil para as idosas, porém toi signiticativa. No decorrer das atividades 
foi possível observar mudanças importantes na forma de relacionarem-
se umas com as outras, pois houve uma maior aceitação das diterenças 
individuais e uma maior integração do grupo. 
Percebemos que as mulheres idosas, no cotidiano da instituiç�ão, 
acabam por perder a curiosidade e a capacidade de criar. pois os 
acontecimentos rotineiros nao geram novas ideias, nao nutrem mais 
seu lado criativo. A instituigão não oferece novas informações sobre 
226 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA OFICINAS NA PRATICA 
assintos variados, o que não contribui para que mantenham o interesse 
aceso, relegando-o a encontros casuais com eventos cxternos, que nao 
oferecem necessariamente a oportunidade de novas descobertas. Nema 
questao da morte é tratada, mesmo que no cotidiano das dOSas 
institucionalizadas a morte scja una constante. 
As idosas mostraram preconceitos que bloqueiam a sua 
Criatividade e sua inserção no grupo: em uma das atividades, uma das 
idosas afirmou: "não posso pintar porque estou velha". O sentimento de 
inferioridade por estar velha não permitiu um momento de descontração 
cde atividade conjunta. Durante o tempo em que foi aplicada a Oficina, 
pudemos promover algumas modificações na rotina do dia-a-dia, visto 
que, pelo menos num dia da semana, as idosas participantes passaram 
a ter uma forma para pensar e criar, desenvolvendo uma maior 
valorização de suas próprias produçöes, o que favoreceu a confiança 
em si mesmas e nas construções, tanto materiais como afetivas 
realizadas por elas. 
A Oficina de Criatividade proporcionou às idosas a oportunidade 
de descobrirem o prazer do ato de inovar, de conheccerem o sentimento 
de estarem ainda interferindo no mundo e que não são "velhas inútcis" 
como aprenderam a pensar sobre si mesmas. Assim, passaram a procurar 
mais o campo da criação, da imaginação e das fantasias, ou seja, 
romperam seus bloqueios, questionando novas maneiras para 
enfrentarem e resgatarem uma parte do que perderam junto com a 
liberdade de ir e vir. 
Em todos os nossos encontros, as idosas falavam de sua intenção 
de voltarem para a casa de scus filhos e de viverem junto com seus 
netos, mas estas falas em geral eram fantasiosas, pois sabem que näo 
voltarão para o convivio de seus filhos, já que a maioria delas foi 
recolhida na rua. Falar sobre isso, no entanto, sem receber críticas, 
causava um certo conforto e uma forma de luta contra a certe2a do 
abandono. E percebemos, também, que durante a participação na 
Oficina, muitas destas mulheres passaram a interagir mais com as 
colegas, mostrando um maior grau de ligação com sua situação atual, 
ao invés de criarem formas fantasiosas de protcgerem-se contra o 
abandono. A cada Oficina percebemos o quanto a música, o filmne c a 
poesia proporcionam bem-estar, acabando, pelo menos naqucle 
momento, com a tristeza, a decepção, a depressäo ou a confusão mental. 
CHRISTINA M.B.CuPIRTINO (ORGAN7AOKI9A) 227 
As idosas tiveram a possibilidade, através do at de desånimo pbilidade, 
através do ato de ver 
e ouvir cois25 
passado, de sairem de um estado de 
desánimo e 
, Cm seus depoimentos, puderam 
refletir sobre poderem abrir-se e falar e, em seus dep suas vidas. 
Na atividade em que foi passado um filme, este claramente ativou 
Ihes a inaginaçãoe concentracão, constitu 
dO pensamento das idosas, 
suas fantasias, 
lds passadas, relacionando-as com o presente. Essa pereepe 
mensagem na dinámica do pensamento das jdosa 
Centração, constituindo-se em 
verdadeira 
Capacidade de captar não o que estava na supertic cie 
aparente dos fatos, e assim, emergiram as carências, contiitos, t sentimentos e lembranças. 
gmas idosas, em suasatividades e depoimentos, demonstraram 
a capacidade de gerir sua própria vida. opinar com independencld e 
autonomla, e este foi um ganho que puderan adquirir durante a pratica 
da Oficina de Criatividade. Também é importante ressaltar o inter resse 
que as idosas tiveram em escolher as próximas atividades e dar 
COntinuidade no processo da Oficina. Mostraram-se comprometids co 
o trabalh0, deram opiniöes, sugeriram o que mais gostavam e toram 
Sinceras quando näo tinham interesse em alguma atividade ievantau 
AOcna ofereceu a estas mulheres a estimulação da memoria, 
apesar de algumas possuírem enfermidades limitantes e incapacidades 
ISICas e mentais. Conforme resgatavam o seu passado, conversavam 
bastante, trocavam experiências e compartilhavam aspectos que 
marcaram as suas vidas. A Oficina de Criatividade foi riquissima, com 
8rande crescimento tanto emocional como na compreensão do outro 
O DESENVOLVIMENTO Do GRUPO DE IDOSOS 
A experiência de Oficina de Criatividade com os idosos foi 
diferente daquela da ala feminina da instituiçao, e como já foi dito, 
foram feitas poucas atividades com recursos expressivos, que 
consideravam tipicas de mulheres. Na maioria dos encontros oterecemos 
cspaço para falarem dos seus sentimentos, deixando-os à vontade para 
expresarem se de mancira própria. Em um dos encontros, trabalhamos 
com a música EmoçoCs, interpretada por Roberto Carlos, escolhida 
cxatamente por tratar de sentimentos e cmoçoes, que foram de fato 
despertados. 
FAMI RA ADTMS 
OGIA ON INAS NA PRAT 
noudos, promovend o tt insito 
la commNICaqaO no grUpo 
Clanrndo e eplorand sentientos 
Aopao ela oterta de uma Oena de C nidade para idosos 
asilados, alem de desatiadora, foi pa7eosa. TOrem, toi muito mais 
e isto foi una vitoria 1 dir 0 de TCveTnoS ptcconceitos c nos 
abrimos para o novv. Para Rogeis, autor da Abordagem Centrada na 
ssoa, "uma pessoa c iaiva na medida em que realiza sua 
eneialidades ovmo ser humano" (17:24). Na instituição, cntramos 
preparados a olhar eada individuo como um ser huano caregado de 
sentimentos. E no processo percoebemos que, niais importante do que 
olhar, foi poder desenvolver nossa escuta, que Rogers nomeia como 
empatica e que signitica estar disposto a verdadeiramente ouvir e 
oompreender o outro no que ha de mais protundo. Um olhar e uma 
escuta auténticos tem o cteito de tacilitar o crescimento pessoal. 
propiciando mudanças. Nao estávamos preocupadas em interpretar, 
analisar ou impor nossas teorias e idéias sobre as experièncias vividas, 
mas sim em escutar e, junto com eles, facilitar a reformulação de 
ensamentos e sentimentos. Foi nesses encontros que demos aos idosos 
a oportunidade de perceber suas potencialidades e facilitar a 
compreensão, promovendo a tomada de consciência de cada um. A 
Oficina de Criatividade proporcionou um crescimento mútuo, das 
psicólogas e dos idosos. Todos ali, de alguma maneira, tiveram um 
desenvolvinmento pessoal e é assim, elaborando cada vez mais nossa 
escuta, que temos a certeza que, se formos abertas a cada relação que 
encontrarmos na vida, a ajuda acontecerá. 
REFEr£NCIAS BiBLIOGRÁFICAS 
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