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21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 1/31 Política redistributiva Prof.ª Mariana Stussi Neves Descrição Preferências individuais e preferência por redistribuição, demanda por redistribuição e resposta dos eleitores, e política redistributiva no Brasil. Propósito Compreender como as preferências por redistribuição são formadas e como estão relacionadas com medidas de renda e desigualdade, como os políticos respondem às demandas por redistribuição e como os eleitores respondem nas urnas é fundamental para a formulação de políticas eficientes e duradouras. A formulação dessas políticas é importante para o combate à desigualdade e o alívio da pobreza em países em desenvolvimento. Objetivos Módulo 1 Demanda por redistribuição Identificar os determinantes de preferências por redistribuição. 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 2/31 Módulo 2 Política redistributiva e grupos de interesse Analisar a resposta dos eleitores e a política redistributiva no Brasil. Nas últimas décadas, debateu-se muito sobre desigualdade social, suas implicações e possíveis soluções para eliminá-la. A América Latina é uma das regiões do mundo com maior grau e persistência de desigualdade social. Os países da região são caracterizados por grandes disparidades de renda entre seus cidadãos, assim como em consumo, acesso a educação, terra, serviços básicos e outras variáveis socioeconômicas. O Brasil não é diferente. Pelo contrário, é frequente o choque entre diferentes realidades nas grandes metrópoles, com bairros nobres com prédios luxuosos convivendo ao lado de comunidades precárias. A partir dos anos 1990, a região experimentou políticas governamentais de transferências monetárias como forma de combate à desigualdade social. O combate à desigualdade é o resultado da introdução de grandes programas de transferência de renda focalizados. Mas qual foi o impacto dessas políticas? Haveria soluções melhores e mais eficientes? Analisar a desigualdade social, suas consequências para o desenvolvimento e as soluções concebidas e implementadas até então é essencial para a melhor compreensão desse fenômeno e para que se possam pensar políticas mais eficientes para o combate desse problema. Introdução 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 3/31 1 - Demanda por redistribuição Ao �nal desse módulo, você será capaz de identi�car os determinantes de preferências por redistribuição. Desigualdade e redistribuição De acordo com os modelos-padrão de economia política de redistribuição, um aumento na desigualdade deve levar a uma maior demanda pública por redistribuição e, em última instância, a mais redistribuição. Esta seção apresenta um modelo teórico da relação entre desigualdade de renda e demanda por redistribuição: o modelo de Meltzer e Richard (1981) de gastos do governo. O modelo de Meltzer e Richard O modelo de Meltzer e Richard (1981) é um modelo clássico de economia política com o objetivo de explicar a relação entre desigualdade e redistribuição de renda. Sob as hipóteses de (i) regra de votação 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 4/31 majoritária, (ii) sufrágio universal e (iii) taxa de imposto linear, o modelo mostra como a redistribuição depende da relação entre a renda média e a renda do eleitor decisivo (o eleitor da mediana). A distribuição de renda é concentrada na esquerda nos países industrializados avançados, como mostra o gráfico 2, o que implica que a renda do eleitor mediano está abaixo da renda média. Nesse caso, o eleitor mediano aumentará sua utilidade marginal se o governo aumentar a redistribuição, uma vez que ele se aproximará da renda média, diminuindo a distância entre ambos. Neste sentido, podemos compreender que: Modelos simples Nessa proposta, o eleitor mediano deseja redistribuir a renda perfeitamente, para fechar a lacuna entre a renda mediana e a renda média. Modelo de Meltzer e Richard (1981) No modelo em questão, assume-se que os eleitores estão cientes dos efeitos de desincentivo criados pela redistribuição — como menor oferta de trabalho —, de modo que a redistribuição não será perfeita. Afinal de contas, para que o governo possa redistribuir renda, é necessário tributar a sociedade, e a tributação apresenta distorções. Neste contexto, vamos observar os gráficos a seguir. Eleitor da mediana = eleitor de renda média Gráfico 1: Distribuição de renda simétrica. Elaborado por: Mariana Stussi Neves Eleitor da mediana à esquerda do eleitor com renda média. 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 5/31 Gráfico 2: Distribuição de renda concentrada à esquerda. Elaborado por: Mariana Stussi Neves Em democracias razoavelmente responsivas, o nível preferido de redistribuição será observado em equilíbrio. Se a distribuição de renda for alterada, o nível de redistribuição preferida também mudará. Em suma, o raciocínio do modelo ocorre em dois estágios. Primeiro, o nível de desigualdade de renda determina a demanda por redistribuição. Em segundo lugar, a demanda por redistribuição determina o nível real de redistribuição. Portanto, mais desigualdade deve aumentar o tamanho do governo, em que esse tamanho é entendido como uma carga tributária alta para financiar a redistribuição. Contudo, as previsões do modelo se sustentam empiricamente? Esse argumento implica que a redistribuição seria muito maior em democracias do que em não democracias, e que as sociedades desiguais redistribuem mais do que as igualitárias. Há alguma evidência apoiando a primeira conclusão. No entanto, dentro de um mesmo tipo de regime (democrático ou autoritário) pode haver grandes diferenças. esponsivas Democracias funcionais, em que a vontade do eleitor é atendida. Exemplo Considere duas democracias: Estados Unidos e Suécia. De acordo com dados do Luxembourg Income Study, a redução da taxa de pobreza nos EUA como resultado de impostos e transferências foi de 13% em 1994, enquanto na Suécia foi de 82% (IVERSEN; SOSKICE, 2006). A Suécia não apenas redistribui mais do que os EUA, mas também é uma sociedade muito mais igualitária, de modo que a segunda conclusão também não se sustenta. O modelo básico não explica por que algumas democracias redistribuem mais renda que outras. O fenômeno de que democracias avançadas com baixos níveis de desigualdade tendem a redistribuir mais, enquanto as nações com altos níveis de desigualdade tendem a redistribuir menos, é conhecido como paradoxo de Robin Hood. 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 6/31 Gráfico 3: O paradoxo de Robin Hood. Extraído de: Iversen e Soskice (2009, p. 441). Como resolver esse con�ito? Isso depende do que estamos testando. Algumas hipóteses do modelo são violadas, na realidade, e outros fatores também devem ser levados em conta. Considere a primeira previsão do modelo, de que mais desigualdade leva a maior demanda por redistribuição. A realidade implica uma série de violações dessa primeira relação, na presença de assimetria informacional. Exemplo Se as pessoas não tiverem noção da realidade socioeconômica em que se encontram, ou se acreditarem que o nível de desigualdade do país em que vivem é diferente do da realidade, elas podem ter uma demanda por redistribuição diferente da esperada. Além disso, a demanda por redistribuição pode estar relacionada com outros fatores que não a renda, como religião, raça, sistemas de crenças e valores, e o voto pode não ser materialístico, isto é, as pessoas, ao votar, não são movidas apenas por interesses pecuniários (monetários). Porém, mesmo na presençade motivações materialistas, há uma série de outras violações possíveis da primeira previsão do modelo: as pessoas podem estar mais interessadas em ganhos relativos do que em ganhos absolutos, e o voto pode não ser universal. Nesse último caso, é frequente que a participação eleitoral esteja correlacionada com a renda, e que pessoas mais pobres votem menos, o que afetaria diretamente a demanda por redistribuição. Mesmo que a primeira previsão do modelo se sustentasse, isto é, que mais desigualdade implicasse mais demanda por redistribuição, não significaria que o mesmo valesse para a segunda previsão do modelo: mais demanda por redistribuição não necessariamente implica mais gastos sociais. Nesse caso, é possível que outros fatores institucionais violem o modelo, como corrupção por parte de políticos, ou ainda alterações nas instituições (ou regras do jogo) por parte das elites, como lobby. Ainda assim, observamos motivações de interesse econômico próprio tanto no voto quanto no comportamento político. 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 7/31 Cultura, crenças e preferência por redistribuição Como vimos, ao analisar as preferências por redistribuição, os economistas estão acostumados a concentrar-se no ganho pecuniário líquido que resulta da redistribuição para os indivíduos. A maioria dos modelos político-econômicos prevê que um indivíduo apoiará o programa de redistribuição A, em vez do programa alternativo B, se e somente se a renda líquida do indivíduo for maior em A do que em B, ou seja, as preferências por redistribuição são guiadas pelo interesse pecuniário. Essa não é, contudo, a única maneira de pensar as preferências individuais por redistribuição. Uma abordagem alternativa vê as atitudes dos indivíduos em relação à redistribuição como um reflexo do sistema de valores que eles endossam. As pessoas podem não apoiar o programa de redistribuição que maximiza o benefício individual, mas aquele que está de acordo com sua visão do que constitui uma boa política para a sociedade como um todo. Ainda é possível que as preferências reflitam de fato apenas o interesse pessoal, mas isso pode incluir o status social do indivíduo, ou seja, sua posição relativa na sociedade. Nesse caso, o julgamento de alguém sobre a redistribuição pode depender do impacto sobre a distribuição de consumo em seu ambiente social, e não apenas do impacto em seu consumo individual. Essas três abordagens não são, em consequência, mutualmente exclusivas. Não apenas indivíduos diferentes podem ter motivações diferentes, como até o mesmo indivíduo pode tentar equilibrar essas motivações ao decidir-se, em suas preferências, por redistribuição. Comentário Corneo e Gruner (2002) investigam os determinantes do apoio das pessoas à redução das desigualdades de renda por parte do governo. Os autores estipulam que existem três forças competidoras apresentadas a seguir. Efeito homo oeconomicus Em modelos de economia política em que a renda é exógena e determinada antes da definição e da incidência de tributos, como no modelo de Meltzer e Richard (1981) visto anteriormente, a abordagem- padrão para determinar a atitude de um indivíduo em relação à redistribuição deriva apenas do efeito da redistribuição sobre sua renda líquida. Nesse sentido, quando consideramos esquemas de transferência de impostos puramente redistributivos, o “efeito homo oeconomicus” (EHO) afirma que o apoio a favor de mais redistribuição é inversamente relacionado com a posição do indivíduo na escala de renda. Em outras 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 8/31 palavras, há uma correlação negativa entre o apoio individual à redistribuição e o nível de renda. Assim, se o indivíduo tem a renda abaixo da média, ele apoiará a redistribuição; caso contrário, vai se opor a ela. Efeito dos valores públicos A segunda abordagem relaciona as preferências de redistribuição de um indivíduo com seus valores públicos. Os indivíduos podem ser dotados de uma função de bem-estar social que expressa suas preferências sobre a alocação de recursos para todos os indivíduos da sociedade. As atitudes de um indivíduo em relação à redistribuição podem refletir essa função de bem-estar social. O efeito sobre as atitudes individuais é chamado de “efeito dos valores públicos” (EVP). De acordo com essa abordagem, não há uma ligação, a priori, entre a renda bruta de um indivíduo e seu apoio a políticas de redistribuição. Até certo ponto, pode-se assumir que todos os indivíduos compartilham os mesmos valores, sob o argumento do “véu da ignorância”. No entanto, eles podem nutrir crenças idiossincráticas sobre as contribuições da origem familiar e do esforço individual para o sucesso econômico pessoal. Se um indivíduo acredita que as origens familiares, em termos de riqueza e capital humano, são os principais determinantes da renda individual, então é esperado que ele seja a favor da redistribuição por parte do governo. Por outro lado, se um indivíduo acredita que o trabalho árduo pessoal é mais importante para a determinação da renda individual, então espera-se que ele se oponha à redistribuição. éu da ignorância Argumento segundo o qual as pessoas formam seus valores como se não conhecessem sua situação específica – se serão ricos ou pobres, por exemplo. Dessa forma, os valores individuais não refletem a situação de cada um. Comentário Isso explica por que as preferências podem divergir entre indivíduos com o mesmo nível de renda e por que alguns países redistribuem mais do que outros, mesmo que tenham distribuições de renda semelhantes. Efeito da rivalidade social 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 9/31 A terceira abordagem gira em torno da ideia de que as preferências de redistribuição de uma pessoa dependem de seu efeito no padrão de vida relativo do indivíduo. Esse é o chamado “efeito de rivalidade social” (ERS). A qualidade do ambiente social de um indivíduo afeta fortemente seu bem-estar. No entanto, essa qualidade não é o objeto direto das transações de mercado. Conversas, festas, ser casado com alguém e outros indicadores de status social não são bens de mercado, para os quais frequentemente se desenvolve uma intensa competição. A presença de competição social (em detrimento da competição de mercado) por alguns bens pode gerar endogenamente uma preocupação com o consumo relativo. O ERS surge quando as preferências de redistribuição são impulsionadas pela crença de que a redistribuição afeta a qualidade do ambiente social dos indivíduos. Vamos ver como isso funciona na prática? Veremos a seguir um importante exemplo de aplicação. Suponha que, dentro de cada bairro, o mero jogo de interação social dê origem a um bem público local — a qualidade social de vida naquele bairro. Suponha também que, antes da redistribuição, o bairro seja habitado principalmente por uma classe média relativamente homogênea. Ao redistribuir a renda dos ricos para os pobres, o governo aumenta indiretamente a probabilidade de que indivíduos de classe baixa em ascendência social substituam residentes em descendência social do bairro. Os incumbentes podem não gostar da entrada de novos vizinhos vindos de camadas sociais mais baixas, porque tornam o ambiente dos incumbentes menos valioso. Às vezes, esses sentimentos podem ser alimentados por preconceitos raciais ou étnicos. Na medida em que os habitantes anteriores não gostam de viver com os novos ERS é a composição social das áreas residenciais 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 10/31 entrantes, eles podem opor-se à redistribuição, mesmo que não obtenham nenhuma desvantagem monetária dela. Para compreender quais fatores contribuem para as preferênciaspor redistribuição, Corneo e Gruner (2002) analisam dados do International Social Survey Programme (1992), uma pesquisa que perguntava a indivíduos de diferentes países se o governo deveria diminuir a lacuna de renda entre pessoas com alta e baixa renda. As respostas a essa pesquisa permitem descrever como o apoio à redistribuição de renda por parte do governo varia. Os autores confirmam a hipótese principal de que as preferências individuais por redistribuição podem ser explicadas principalmente por incentivos pecuniários individuais (EHO). No entanto, a principal contribuição do estudo é que essa não é a única força por trás do apoio à redistribuição. Os dados apontam que o EVP também importa bastante. Finalmente, os efeitos de status social (ERS) também desempenham papel significativo na formação das preferências individuais por redistribuição, de modo que os autores concluem que os três fatores importam. Atenção! O EVP pode variar não só entre pessoas de uma mesma região, como de país para país. Países diferentes variam na ênfase que dão a determinados aspectos culturais, que, por sua vez, são moldados por crenças, religião, história e outros aspectos socioeconômicos de uma população. Alesina e Giuliano (2015), interessados na interação entre cultura e instituição, avaliam a literatura econômica em torno do tema e reúnem artigos e pesquisas publicados na área para compreender melhor como essas duas variáveis interagem. Entre outros aspectos, eles mostram como valores como individualismo e coletivismo variam entre países (Imagem 4a) — sendo sociedades individualistas aquelas que enfatizam conquistas pessoais e direitos individuais, em detrimento de sociedades coletivistas, nas quais as pessoas agem como membros de grupo ou organização coesa e duradoura. Mostram também como valores sobre atitudes em relação a trabalho e percepção de pobreza variam entre países (Imagem 4b), isto é, se o que determina o sucesso é “trabalho duro” ou sorte, e se há a possibilidade de mobilidade social, caso o esforço necessário seja realizado. 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 11/31 Imagem 4a: Valor: individualismo. Imagem 4b: Valores: “trabalho duro” e sorte. Considerando a importância do EVP e a enorme variação entre valores como individualismo e relação trabalho-sorte, é possível imaginar como as preferências individuais por redistribuição podem ser moldadas de maneira diferente, a depender do país de origem do indivíduo e de sua cultura. Nesse sentido, concluímos que objetivos não materiais importam na formação dessas preferências, assim como as origens e as crenças das pessoas a respeito do processo de mobilidade social e dos impactos da redistribuição nos incentivos a trabalhar. Finalmente, a literatura econômica também mostra que os indivíduos também levam em consideração a justiça do processo de mobilidade e se as oportunidades são distribuídas igualmente. Preferências por redistribuição Neste vídeo, retornaremos aos conceitos principais estudados nesse módulo. 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 12/31 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 13/31 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre o modelo de Meltzer e Richard (1981), assinale a alternativa correta: Parabéns! A alternativa C está correta. O raciocínio do modelo de Meltzer e Richard (1981) ocorre em dois estágios. Primeiro, o nível de desigualdade de renda determina a demanda por redistribuição; e, em seguida, a demanda por redistribuição determina o nível real de redistribuição. Nesse sentido, mais desigualdade implica mais demanda por redistribuição, que determina um nível maior de redistribuição realizado (ou seja, um governo “maior”). As demais alternativas estão erradas, porque o modelo assume taxa de imposto linear para explicar a relação entre desigualdade e redistribuição de renda. Além disso, assume também que os eleitores estão cientes dos efeitos de desincentivo criados pela redistribuição, e o equilíbrio deve ocorrer em democracias responsivas. A O modelo assume as hipóteses de (i) regra de votação majoritária, (ii) sufrágio universal e (iii) taxa de imposto progressiva. B O modelo tem o objetivo de explicar a relação entre desigualdade e eleitor da mediana. C O modelo prevê que mais desigualdade deve aumentar o tamanho do governo. D Os eleitores não estão cientes dos efeitos de desincentivo criados pela redistribuição. E O modelo não tem um equilíbrio. Questão 2 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 14/31 Sobre a determinação das preferências individuais por redistribuição, assinale a alternativa que contém as forças competidoras, segundo Corneo e Gruner (2002): Parabéns! A alternativa D está correta. Corneo e Gruner (2002) investigam os determinantes do apoio das pessoas à redução das desigualdades de renda por parte do governo e estipulam a existência de três forças competidoras: o EHO, o EVP e o ERS. As demais alternativas estão incorretas, pois não se consideram os efeitos homo socius, valores privados ou rivalidade econômica. A Efeito homo oeconomicus, efeito de valores privados, efeito da rivalidade econômica B Efeito homo socius, efeito de valores públicos, efeito da rivalidade social C Efeito homo oeconomicus, efeito de valores públicos, efeito da rivalidade econômica D Efeito homo oeconomicus, efeito de valores públicos, efeito da rivalidade social E Efeito homo socius, efeito de valores privados, efeito da rivalidade econômica 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 15/31 2 - Política redistributiva e grupos de interesse Ao �nal desse módulo, você sera capaz de identi�car a resposta dos eleitores e a política redistributiva no Brasil. Eleitores respondem à redistribuição? No módulo anterior, vimos como as preferências e a demanda por redistribuição são formadas. Mas, uma vez que há redistribuição, o que acontece? Será que os eleitores respondem às políticas redistributivas, premiando políticos que os beneficiem com seu voto (ou o contrário, punindo aqueles que beneficiem outros grupos, caso desgostem de redistribuição)? Historicamente, há um debate amplo a respeito da melhor escolha de tipo de política pública: universal versus focal. Uma política universal é aquela que promoveria justiça social por meio da distribuição igual de um recurso por toda a população. Um exemplo disso é a renda básica universal, uma proposta que nunca foi 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 16/31 implementada no Brasil. Já uma política focalizada seria aquela que beneficia determinado grupo de indivíduos (público-alvo) a partir de um conjunto de critérios, com o objetivo de ter um gasto público eficiente, atingindo quem mais precisaria do recurso, segundo os critérios definidos. Um exemplo desse tipo de programa é o Bolsa Família, direcionado a famílias em condição de pobreza ou extrema pobreza. Defensores do universalismo argumentam que benefícios deveriam ser direito de todas as pessoas, sem distinção entre diferentes categorias de pessoas em termos de renda ou riqueza. Vejamos as vantagens desse tipo de política. olsa Família Em 2021, o programa foi substituído pelo Auxílio Brasil, ainda em fase de implementação no momento de confecção deste texto. São extremamente inclusivas. Sem discriminação ou fim previsível. São, em geral, muito onerosas, podendo ser considerado desperdício gastar parte dos recursos com determinada parcela da população, como a mais rica, por exemplo. Pense em um país como o Brasil, commais de 200 milhões de habitantes — uma política universal de apenas R$10,00 por pessoa envolveria um dispêndio de 2 bilhões de reais. Por outro lado, políticas focalizadas também têm problemas. Como assegurar que pessoas que realmente necessitam daquele recurso sejam identificadas e que o auxílio chegue até elas? Além disso, o que garante que o grupo correto de pessoas está sendo auxiliado e que a cobertura do programa não é excessivamente ampla ou restrita? É possível listar ainda outros obstáculos para o acesso a programas focalizados, como falta de informação a respeito do programa, estigma social (pessoas podem não querer determinado auxílio porque ele poderia carregar algum estigma, como taxar certo grupo de pobre, por exemplo), problemas de fiscalização e corrupção, entre outros. 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 17/31 Do ponto de vista político, o quão compatíveis são programas de transferência de renda e democracia? Em geral, programas focalizados tendem a diminuir o gasto discricionário de políticos e alocá-los segundo decisões programáticas, o que diminuiria o clientelismo. Em outras palavras, esses critérios preestabelecidos seriam uma barreira para que políticos não gastassem os recursos de maneira deliberada, escolhendo os beneficiários que quisessem, de maneira que não pudessem usar tais recursos como “prêmio” para conseguir votos. Por exemplo, se programas de transferência de renda não tivessem critérios, um político poderia escolher beneficiar um grupo em troca de votos. Esses programas de transferência monetária com critérios preestabelecidos são chamados de programas de transferência condicionada de renda (PTCR). asto discricionário Gasto que pode ser definido individualmente a cada momento, ao contrário de gastos não-discricionários, que devem seguir regras pré-determinadas. Comentário Programas focalizados poderiam estimular os eleitores a votar por razões programáticas: o eleitor pode decidir votar no partido A porque sabe que aquele partido beneficiou seu grupo com determinado programa. Nesse sentido, argumenta-se que programas focalizados podem ser prejudiciais à democracia, porque perpetuam o link clientelista entre incumbente e beneficiário: ou seja, seria quase uma compra de votos oficial. Os beneficiários poderiam estar sendo manipulados a votar de forma diferente de suas reais preferências por temer o término de um programa ou o corte dos benefícios. O que a evidência empírica diz a respeito? Manacorda, Miguel e Vigorito (2011) investigam os efeitos de um extenso programa de combate à pobreza no Uruguai no apoio político dos eleitores ao governo que o implementou. De maneira ampla, os autores querem saber se programas de transferência de renda são capazes de capturar votos. Para responder a essa pergunta, eles estimam o efeito causal do programa de transferência de renda Panes no apoio político ao partido incumbente no Uruguai. Entre 2001 e 2002, o Uruguai passou por uma grave crise econômica. A renda per capita do país caiu 11%, e a taxa de pobreza subiu de 18,8% para 23,6%. Em resposta à crise, o partido no poder, Colorado, decidiu expandir os programas já existentes, em vez de criar novos. Em 2004, a coalizão política de centro-esquerda Frente Ampla foi eleita com campanha focada em redistribuição de renda e reformas econômicas. Sob o novo governo, o programa de transferência de renda condicional Panes foi lançado. O programa tinha dois objetivos principais: 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 18/31 Objetivo 1 Prover assistência direta a domicílios que haviam experimentado uma queda rápida no padrão de vida desde o início da crise Objetivo 2 Fortalecer o capital humano e social dos mais pobres para capacitá-los a sair da situação de pobreza por conta própria. O maior benefício do programa era uma transferência de renda mensal fixada em um valor. Ele também previa um cartão de alimentação para famílias com grávidas e crianças, treinamento e oportunidades de emprego, além de subsídios para a saúde. O programa durou de abril de 2005 a dezembro de 2007. Para implementá-lo, o governo realizou uma pesquisa de linha de base em todos os domicílios de baixa renda, adquirindo informações sobre características dos domicílios, habitação, renda, trabalho e educação dos aplicantes. Com base nessas características, foi calculado um score de renda, e a elegibilidade do programa foi determinada por uma linha de corte desse score, de modo que apenas famílias com pontuação abaixo de um limite preestabelecido eram elegíveis a ele. Essa regra de focalização foi desenhada tanto para evitar discrição na atribuição do programa quanto para avaliar rigorosamente seu impacto. Para evitar a manipulação da regra de focalização, a fórmula do score de renda não foi divulgada aos potenciais beneficiários, entrevistadores e nem ao próprio governo, até que o programa terminasse. 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 19/31 Isso foi essencial para a identificação do efeito causal do programa. Como a regra de focalização foi definida longe de considerações políticas e sua implementação foi bastante rígida, pode-se considerar que a atribuição ao programa para os domicílios cujo score de renda se encontrava perto da linha de corte foi quase aleatória, por serem domicílios muito próximos em termos de características. Observaremos a seguir alguns resultados: Um ano e meio após o início do programa, as famílias com score de renda perto da linha de corte foram novamente entrevistadas em uma pesquisa com uma série de perguntas, incluindo algumas sobre apoio ao governo vigente. Uma segunda pesquisa de acompanhamento parecida foi realizada em 2008, depois do término o programa. Os autores usaram os dados dessas pesquisas para avaliar se o recebimento do programa afetou o apoio (em forma de voto) dos beneficiários ao governo. Eles encontraram que os indivíduos que se beneficiaram do programa em torno da linha de corte tinham uma probabilidade de 11 a 13 pontos percentuais maior de apoiar o governo incumbente (que o implementou), em relação àqueles que não conseguiram qualificar-se para o benefício. Além de estimar o impacto das transferências do governo no apoio político dos eleitores, os autores também testaram e rejeitaram duas teorias de comportamento do eleitor. Uma delas, a “votação de bolso”, enfatizava a centralidade da renda disponível real atual dos eleitores como o principal fator impulsionador dos resultados da votação. Usando os dados coletados após o término do programa Panes, os autores descobriram que o apoio político ao governo em exercício que criou o programa permaneceu significativamente maior entre os ex-beneficiários do programa, embora os níveis de renda dos beneficiários tenham caído rapidamente para o mesmo dos não beneficiários. A teoria da “votação de bolso” implica que beneficiários e não beneficiários deveriam apoiar o partido incumbente igualmente uma vez que seus níveis de renda fossem equalizados; no entanto, não é isso que os autores verificaram. Resultado 01 Resultado 02 Resultado 03 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 20/31 Outras teorias de economia política, mais modernas, pressupõem eleitores racionais, o que é consistente com a abordagem econômica padrão de tomada de decisão. Com informação assimétrica a respeito das características dos políticos, os eleitores usam as políticas implementadas e seus resultados como sinais para inferir os tipos e a competência dos políticos. Os resultados empíricos dos autores também vão contra essas teorias de eleitores racionais capazes de inferir características políticas ou partidárias por meio de sinais.Considerando o caráter quase aleatório da atribuição do programa em torno da linha de corte, eleitores de ambos os lados da linha de corte deveriam ter as mesmas visões da competência do partido incumbente, e, portanto, o apoio ao incumbente não deveria ser afetado pelas transferências. A explicação alternativa para os resultados encontrados é a de que eleitores são racionais, mas mal informados. Os autores argumentam que o apoio persistente ao partido incumbente pode ser explicado por eleitores que inferem as preferências redistributivas do governo por pessoas como eles próprios (os beneficiários do programa), com base na população-alvo anterior do programa. Como os eleitores não entendem completamente a regra de elegibilidade do programa, interpretam sua condição de beneficiários como um sinal de preferências redistributivas do governo incumbente. É como se a pessoa pensasse: “se eu recebo recursos do governo, é porque o governo de fato gosta de distribuir recursos para quem precisa”, sem avaliar a regra de elegibilidade em si. O resultado de que eleitores respondem fortemente às transferências não implica necessariamente que suas atitudes políticas e seu voto sejam baseados exclusivamente no próprio bem-estar. É razoável que os candidatos ao programa tenham interpretado o próprio recebimento das transferências como sinal da vontade e da capacidade do governo de ajudar os pobres, o que poderia aumentar, por sua vez, o apoio ao partido incumbente. Os dados das entrevistas realizadas no estudo apontam que os beneficiários das transferências demonstraram maior confiança no governo e em suas políticas, maior otimismo quanto ao futuro de suas famílias e do país como um todo, e até perceberam que as desigualdades sociais estavam diminuindo. Esse otimismo sobre a direção do país foi um fator plausível para um maior apoio dos beneficiários do Panes ao governo. De La O (2013) encontra resultados similares ao analisar os efeitos do programa de transferência de renda Progresa sobre o voto no incumbente no México. Como no artigo anterior, a autora está interessada em 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 21/31 avaliar se programas de transferência de renda afetam o voto do eleitor e a taxa de participação. Para responder a essa pergunta, ela explora a variação exógena na duração do programa de transferência de renda para compreender se o tempo de exposição ao Progresa afeta o comportamento eleitoral do beneficiário. Ele foi implementado em resposta a um cenário de crise econômica no final da década de 1990 no México. Após a crise do peso de 1995, mais de 16 milhões de pessoas caíram abaixo da linha de pobreza no país. Naquela época, a maioria dos fundos disponíveis para combater a pobreza não chegava aos pobres. Na verdade, 75% do orçamento total para programas de alívio da pobreza foram canalizados para áreas urbanas, onde famílias não tão pobres capturaram a maior parte das transferências. Em resposta a esse contexto, a administração vigente lançou o Progresa em 1997, que depois viria a chamar-se Oportunidades. O programa consistia em três componentes complementares: (i) uma transferência de renda, destinada principalmente a subsidiar despesas com alimentação, entregue diretamente às mulheres chefes de famílias pobres; (ii) uma bolsa de estudos, destinada a compensar o rendimento que poderia ser obtido com trabalho infantil, permitindo, assim, que as crianças permanecessem na escola; e (iii) cuidados básicos de saúde para todos os membros da família, com particular ênfase nos cuidados de saúde preventivos. As transferências eram realizadas a cada dois meses, e o recebimento do benefício era condicional à frequência escolar e à realização de exames médicos regulares e de planos de comparecimento (reuniões) relacionados com questões de saúde, higiene e nutrição. Saiba mais Se o leitor notou similaridade com o Programa Bolsa Família, não é por acaso. O Progresa, no México, que, depois, recebeu o nome Oportunidades, foi o primeiro programa de transferência de renda condicional (PTRCs) de larga escala na América Latina, tornando-se um marco histórico. A partir dele, foram disseminados PTRC em diversos países da América Latina e em outras partes do mundo, passando a ocupar um lugar de importância na agenda de governos, organismos internacionais e agências doadoras. Inicialmente, a exposição ao programa foi aleatorizada. O experimento aleatorizado foi realizado em sete estados onde o programa foi implementado pela primeira vez. A primeira etapa na escolha da amostra foi uma seleção de vilarejos elegíveis ao programa com base em uma medida de pobreza criada a partir de 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 22/31 dados dos censos demográficos de 1990 e 1995. O índice de pobreza foi dividido em cinco categorias, que vão de pobreza muito baixa a muito alta. As localidades consideradas com alto ou muito alto grau de pobreza foram consideradas as prioritárias a serem incluídas no programa. A segunda etapa se deu em razão das condicionalidades do programa. Foram consideradas elegíveis apenas as localidades com acesso a escola e serviços de saúde (ou com estradas disponíveis, quando os serviços não estavam localizados na mesma comunidade). O programa foi aleatorizado no nível dos vilarejos. Nesse contexto, observe os dados a seguir. Situação 01 Famílias em 320 vilarejos foram selecionadas para receber o benefício. Situação 02 Outros 186 vilarejos foram excluídos do programa até janeiro de 2000. Situação 03 Nos vilarejos de tratamento, o programa foi oferecido para todas as famílias elegíveis, e, nos vilarejos de controle, nenhuma família recebeu os benefícios. Três características adicionais diferenciam o Progresa de outros programas de alívio à pobreza no México. 1. Possuir critérios claros e fixos para determinar a elegibilidade com base na pobreza e ser explicitamente não partidário. 2. Os idealizadores do programa criaram uma nova burocracia para operá-lo. 3. A nova burocracia contornou todos os intermediários, incluindo mecanismos tradicionais e poderosos de distribuição de dinheiro federal, como governadores e agências estaduais. Ao contrário dos administradores de programas de alívio à pobreza anteriores, que eram em sua maioria políticos, o primeiro coordenador do Progresa era um cientista. Além disso, as disposições do decreto do orçamento federal proibiam o uso do programa para fazer proselitismo por qualquer partido político. Finalmente, seus idealizadores adiaram a inauguração do programa até um mês após as eleições de meio de mandato de 1997. Desde então, decretos orçamentários incluem a proibição de expandi-lo seis meses 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 23/31 antes da data das eleições. Em suma, ao adotar o Progresa, o Executivo diminuiu substancialmente seu poder discricionário de alocar gastos sociais. Atenção! Em virtude da aleatorização do programa, no momento das eleições presidenciais de 2000, havia famílias recebendo o benefício há 21 meses e famílias que o recebiam há seis. A autora explora a aleatorização no tempo de tratamento de 21 ou seis meses para estimar como a exposição ao programa de transferência de renda afeta o voto nas eleições presidenciais e o comparecimento às urnas. Para separar o efeito de persuasão e mobilização, a autora examina o impacto nos votos do partido incumbente, nos votos dos principais partidos de oposição e no comparecimento às urnas. Em particular, a preocupação é de que os beneficiários de programas direcionados possam ser persuadidos a votar contra suas preferências em resposta às ameaças de descontinuação do programa (efeito de persuasão). Porém, uma explicação alternativa é que, quanto maior a duração do programa, maior a exposiçãodos destinatários a seus benefícios e mais oportunidades o titular tem de receber crédito pelos resultados positivos do programa (efeito de mobilização). A�nal, o que os dados revelaram? Os dados mostram que mais tempo de exposição ao programa levou a aumentos substanciais na participação eleitoral e na parcela de votos do incumbente na eleição presidencial de 2000. O experimento também revela que a parcela de votos dos partidos da oposição não foi afetada pelo programa. Assim, o bônus eleitoral gerado pelas transferências pode ser mais bem explicado por um mecanismo de mobilização do que de persuasão. Essas descobertas são difíceis de conciliar com a noção de que os efeitos eleitorais dos programas de transferência de renda condicional são resultado de preocupações com ameaças de descontinuação. Em suma, a autora conclui que, se houvesse um continuum de mecanismos possíveis, em que o clientelismo estaria em um extremo e a política programática no outro, os efeitos de mobilização do Progresa seriam mais compatíveis com o extremo da política programática. Política redistributiva no Brasil 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 24/31 Agora que conhecemos um pouco sobre a teoria de preferências e demanda por redistribuição e sobre os efeitos de políticas de redistribuição no comportamento dos eleitores, falaremos da política redistributiva do Brasil. Nas últimas décadas, o Brasil observou uma expansão considerável de políticas públicas de transferência direta de renda para a população pobre. Hoje, o país tem dois grandes programas dessa natureza: o Benefício de Prestação Continuada (conhecido como BPC-Loas, ou simplesmente BPC) e o Programa Bolsa Família (PBF). Nesta seção, cobriremos o PBF. O Programa Bolsa Família O PBF é um programa de transferência mensal de renda que surgiu no final de 2003. Foi criado a partir da unificação de uma série de programas preexistentes, inspirado principalmente pelo programa de renda mínima vinculado à educação, o Bolsa Escola. O PBF tem, atualmente, três objetivos principais: Objetivo 01 Combater a fome e promover a segurança alimentar e nutricional. Objetivo 02 Combater a pobreza e outras formas de privação das famílias. Objetivo 03 Promover o acesso à rede de serviços públicos, em especial saúde, educação, segurança alimentar e assistência social. 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 25/31 Para garantir a focalização e a cobertura do PBF, em 2001 também foi criado o Cadastro Único (CadÚnico), considerado uma espécie de “censo” da população de baixa renda no Brasil. Ao longo dos anos, o CadÚnico passou por inúmeras modificações e aprimoramentos, com o objetivo de garantir a robustez da base de dados, que hoje serve como cadastro para diversos programas sociais, e não somente para o PBF (por exemplo, Minha Casa, Minha Vida, Tarifa Social de Energia, entre outros). A população-alvo do programa é constituída por famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza. As famílias extremamente pobres são aquelas que têm renda mensal de até R$89,00 por pessoa. As famílias pobres são aquelas que têm renda mensal entre R$89,01 e R$178,00 por pessoa (valores de setembro de 2021). Famílias pobres participam do programa, contanto que tenham em sua composição gestantes e crianças ou adolescentes entre 0 e 17 anos. O programa foi criado, inicialmente, por medida provisória, posteriormente convertida em lei, em 2004. A participação nele é condicionada a contrapartidas comportamentais. Em outras palavras, para receber as transferências, a família participante, dependendo de sua composição, deve comprovar frequência escolar, esquema de vacinação atualizado e acompanhamento pré e pós-natal de gestantes e nutrizes. A exigência de condicionalidades, também chamadas de contrapartidas, tem como objetivo combater a transmissão intergeracional da pobreza, incentivar a demanda por serviços sociais, como saúde e educação, e ampliar o acesso da população mais pobre a direitos sociais básicos, incentivando expansões e melhorias na oferta desses serviços. Nos anos que seguiram à sua criação, o PBF foi avaliado com bastante intensidade e rigor. Existe uma vasta literatura de avaliações do PBF no Brasil, com análises quantitativas e qualitativas. Focaremos aqui as análises quantitativas, trazendo um breve resumo de alguns dos principais resultados. A evidência sugere que o PBF teve contribuição significativa no combate à desigualdade no Brasil no início dos anos 2000. A decomposição do coeficiente de Gini nesse período mostra que a renda do trabalho foi a maior responsável pela redução da desigualdade. O PBF, apesar de ser responsável por apenas 0,5% da renda das famílias, foi responsável por 19% da queda. Em relação à pobreza, embora o programa tenha tido pouco impacto sobre a porcentagem de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, verificou-se um 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 26/31 impacto sobre o hiato de pobreza e a severidade de pobreza, medidas que dão maior peso ao que ocorre na cauda inferior da distribuição de renda. Saiba mais O programa passou por uma avaliação de impacto em 2006, que trouxe alguns resultados sobre seus efeitos em diversas variáveis, como educação (CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E PLANEJAMENTO REGIONAL, 2006). Os resultados apontam que as crianças atendidas pelo programa têm menor probabilidade de faltar um dia de aula por mês, em comparação com crianças em domicílios similares que não recebem o benefício. Ademais, a probabilidade de evasão escolar entre as crianças beneficiárias também é menor. Uma das críticas mais comuns que o programa sofre é o chamado “efeito preguiça”. Essa crítica parte da hipótese de que a transferência de renda cria um desincentivo ao trabalho, levando à acomodação e à diminuição da oferta de trabalho por parte dos beneficiários, principalmente nas famílias para as quais só existe o benefício básico e, portanto, não há condicionalidade a ser cumprida. As avaliações dos efeitos do PBF sobre o mercado de trabalho mostram que o programa não muda o número médio de horas trabalhadas pelos homens e aumenta marginalmente sua taxa de participação. Pelo lado da oferta de trabalho das mulheres, não há alterações na taxa de participação, mas há uma pequena queda no número médio de horas trabalhadas. Outros estudos buscaram compreender melhor esse último resultado para investigar se há algum tipo de incentivo adverso do programa no sentido de provocar diminuição da jornada de trabalho das mães beneficiárias. De fato, verifica-se uma diminuição média de 0,8- 1,7 hora semanal de trabalho a menos por parte de mães beneficiárias, em comparação com mães não beneficiárias com renda semelhante. Re�exão Os estudos consideram ainda a literatura sobre desenvolvimento infantil, que mostra que cuidados de mães com crianças pequenas têm consequências importantes, que perduram durante toda a vida. Nesse sentido, essa pequena redução verificada nas horas trabalhadas de mães beneficiárias pode representar um alívio para mães que desejassem dedicar mais tempo à criação de seus filhos e estavam antes limitadas pela renda. Políticas redistributivas e grupos de interesses 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 27/31 Neste vídeo, retornaremos aos conceitos principais estudados nesse módulo. 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 28/31 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Qual das alternativas a seguir representa uma vantagem de políticas universais? Parabéns! A alternativa A está correta. As vantagens de políticas universaisé que são extremamente inclusivas, sem discriminação ou fim previsível. Contudo, em geral são onerosas, e, porque atendem a toda a população, têm cobertura grande e não têm critérios definidos, de modo que as demais alternativas são falsas. A São políticas extremamente inclusivas. B São políticas muito baratas. C São políticas com critérios bem-definidos. D São políticas que atingem a população mais vulnerável. E São políticas com cobertura menor. Questão 2 Sobre os programas Panes, Progresa e Bolsa Família, assinale a alternativa que contém sua principal similaridade: 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 29/31 Considerações �nais Vimos, neste conteúdo, que as preferências por redistribuição são moldadas por fatores econômicos, sociais e culturais. Além do efeito direto da redistribuição sobre a renda líquida do indivíduo, que varia conforme sua posição na distribuição de renda de seu país, a variação relativa da renda da pessoa importa, assim como valores e crenças individuais sobre a contribuição do trabalho. Também aprendemos que as preferências por redistribuição nem sempre se convertem em maior demanda por redistribuição, uma vez que há uma série de violações possíveis dessa relação, como assimetria informacional e motivações não materialistas. O eleitor da mediana pode não ter a renda mediana, e o voto pode não ser universal. Parabéns! A alternativa E está correta. Os três programas são programas de transferência de renda cujo público-alvo são famílias em condição de pobreza, focalizados, de modo que a alternativa E é a verdadeira. As demais alternativas são falsas, porque o Panes foi um programa temporário e não tinha condicionalidades, enquanto os demais, não, e nenhum dos programas é direcionado apenas a mulheres. A São programas de transferência de renda condicional. B São programas de transferência de renda universal. C São programas de transferência de renda temporários. D São programas de transferência de renda para mulheres. E São programas de transferência de renda focalizada. 21/09/2022 22:05 Política redistributiva https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_7213791/temas/2/conteudos/1 30/31 Além disso, vimos como os eleitores respondem a programas de redistribuição de renda, premiando políticos e partidos incumbentes que implementaram essa política em primeiro lugar, e que esse efeito pode ser duradouro, mesmo se a renda voltar aos patamares iniciais. Há evidências de que esse efeito ocorre pela via do mecanismo de mobilização, e não de persuação por medo do término do programa. Finalmente, apresentamos também o Bolsa Família, suas condicionalidades e um resumo das evidências a respeito do programa. Podcast Neste podcast, o especialista realiza uma breve revisão sobre Política Redistributiva. Referências ALESINA, A.; GIULIANO, P. Culture and institutions. Journal of Economic Literature, v. 53, n. 4, p. 898-944, 2015. CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E PLANEJAMENTO REGIONAL. 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