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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 5 2 GESTÃO DE PESSOAS E RECURSOS HUMANOS .......................... 6 2.1 A gestão de pessoas ......................................................................... 6 2.1 A abordagem estratégica da gestão de pessoas ........................ 10 2.2 A gestão de pessoas no mundo pós-globalização ...................... 13 3 TENDÊNCIAS EM RECRUTAMENTO E SELEÇÃO ......................... 19 3.1 Recrutamento de pessoal ........................................................... 19 3.1.1 Recrutamento interno ................................................................... 22 3.1.2 Recrutamento externo .................................................................. 23 3.1.3 Recrutamento misto ..................................................................... 24 3.1.4 Seleção de pessoal ...................................................................... 24 3.2 Mercado de trabalho: oferta e demanda ..................................... 27 3.3 Sustentabilidade organizacional .................................................. 29 3.3.1 Desenho de cargos ...................................................................... 31 3.3.2 Descrição de cargos .................................................................... 33 4 ROTINAS MENSAIS E ANUAIS ........................................................ 34 4.1 Folha de pagamento ................................................................... 35 4.2 Provisões mensais da folha de pagamento................................. 37 4.2.1 Provisão de 13º ............................................................................ 37 4.2.2 Provisão de férias ........................................................................ 38 4.3 Informe de rendimentos anuais ................................................... 38 4.3.1 Regras e prazos para entrega do comprovante de rendimentos anuais ................................................................................................................ 39 3 5 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DE CARGOS, SALÁRIOS E BENEFÍCIOS ......................................................................................................... 40 5.1 Cargos e salários no ambiente organizacional: contexto histórico.......... ................................................................................................... 41 5.1.1 Administração de cargos .............................................................. 44 5.1.1.1 Cargo ........................................................................................ 45 5.1.1.2 Função ...................................................................................... 45 5.1.1.3 Tarefas ...................................................................................... 46 5.1.1.4 Descrição de cargos ................................................................. 46 5.2 Benefícios na perspectiva da gestão de carreira contemporânea........... ....................................................................................... 48 5.2.1 Gestão da remuneração .............................................................. 48 5.2.2 Gestão da carreira ....................................................................... 50 5.3 Valorização de pessoas com a gestão de salários e benefícios . 51 5.3.1 Benefícios quanto à exigência legal ............................................. 52 5.3.1.1 Benefícios sociais ou compulsórios .......................................... 52 5.3.1.2 Benefícios espontâneos ou voluntários ..................................... 52 5.3.2 Benefícios quanto à natureza ....................................................... 53 5.3.2.1 Benefícios monetários ............................................................... 53 5.3.2.2 Benefícios não monetários ........................................................ 53 5.3.3 Benefícios quanto aos objetivos ................................................... 53 6 TABELAS SALARIAIS ....................................................................... 55 6.1 As práticas salariais do mercado de trabalho.............................. 55 6.2 Etapas para a elaboração da pesquisa salarial ........................... 58 6.2.1 Estatísticas – tabulação da pesquisa salarial ............................... 59 6.2.2 Ranking de cargos ....................................................................... 61 4 6.3 Elaboração da tabela salarial ...................................................... 62 7 DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS À ADMISSÃO E À DEMISSÃO DE PESSOAL ............................................................................. 65 7.1 Processo de admissão ................................................................ 65 7.1.1 Exame médico admissional .......................................................... 66 7.1.2 Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) .... 68 7.2 Admissão e demissão: direitos dos empregados e empregadores........ ............................................................................................ 68 7.3 Rescisões de contratos e seguro-desemprego ........................... 71 7.3.1 Cálculo das rescisões .................................................................. 72 7.3.2 Seguro-desemprego .................................................................... 73 8 REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 75 5 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 6 2 GESTÃO DE PESSOAS E RECURSOS HUMANOS O mundo se reconfigurou nas últimas décadas, principalmente após o advento da globalização, que alterou a forma como as pessoas e as organizações atuam em sociedade. Assim, o mercado se tornou mais competitivo para todos os segmentos de negócios, o que fez com que as exigências sobre os trabalhadores se elevassem (SAGAH, 2020). A sociedade pós-globalização se tornou uma sociedade-aprendiz, e as organizações precisam ajustar as suas práticas de gestão de pessoas para acompanharem o dinamismo e promoverem o compartilhamento de conhecimentos e o incremento das competências dos seus colaboradores. Assim, a lógica atual que reveste a gestão estratégica de pessoas é o alinhamento dos interesses individuais dos trabalhadores com os objetivos estratégicos traçados pelas organizações (SAGAH, 2020). 2.1 A gestão de pessoas O mundo empresarial passou por mudanças muito contundentes após o evento da globalização econômica ocorrido na década de 1990. Assim, impulsionadas pela possibilidade de criação de blocos econômicos entre as nações, quebra de barreiras alfandegáriase aumento da mobilidade internacional e, ainda, pelo reforço das tecnologias digitais de informação e comunicação, as organizações passaram a atuar em um mercado altamente competitivo, como nunca havia sido experienciado. Esses efeitos da globalização atingiram as esferas econômica, política, social e cultural, modificando a maneira como as pessoas passaram a pensar, sentir e agir desde então (SAGAH, 2020). Atuando em um ambiente altamente competitivo, as organizações precisam cada vez mais de pessoas competentes, que sejam hábeis nas questões técnicas e sociais. Além disso, as competências necessárias se renovam e se modificam na mesma velocidade com que as informações invadem nossa vida cotidiana. Nesse 7 contexto, os esforços da tradicional administração de recursos humanos (RH) já não são suficientes. É necessário ir além, conhecer plenamente a natureza humana, seus anseios e comportamentos, e, assim, propor maneiras de fazer com que os conhecimentos se ampliem e que as habilidades se consolidem e sejam compartilhadas entre todos na organização (SAGAH, 2020). Dessa forma, ao começarmos a estudar a gestão estratégica de pessoas, precisamos compreender como a forma de lidar com as pessoas nas organizações evoluiu ao longo das últimas décadas, conforme mostra a Figura abaixo. Fonte: Adaptada de Knapik (2008) e Marras et al. (2010). A gestão de pessoas surgiu acompanhando a tendência da ênfase nas ações de gerenciamento, em detrimento das ações administrativas. O gerenciamento se tornou uma exigência a partir da globalização, buscando equilibrar as forças e fragilidades internas das organizações com as respectivas ameaças e oportunidades existentes no ambiente externo do segmento de mercado onde as empresas atuam (SAGAH, 2020). A gestão de pessoas trouxe para as organizações o entendimento de que o antigo setor de administração de RH pode e deve ser considerado como indispensável para incrementar a rentabilidade organizacional, e não somente como um centro de custos às custas dos trabalhadores, como era visto tradicionalmente. 8 O fato de passar a se chamar gestão de pessoas não descarta ou simplesmente anula as ações já existentes nas organizações relativas às rotinas do departamento pessoal e dos subsistemas de RH, mas traz um novo entendimento e maior valor a essas práticas, procurando realizá-las agora em sintonia com os resultados que as empresas buscam para si. Ao mesmo tempo que as exigências de mercado tornam as empresas supercompetitivas, a sociedade se transforma em aprendiz, e as pessoas passam a buscar seu aperfeiçoamento pessoal e profissional em várias instâncias educativas formais e não formais. Entre as possibilidades de educação não formal contemporâneas estão formações, treinamentos, capacitações e desenvolvimentos realizados pelas organizações, normalmente conduzidas pelo setor de gestão de pessoas (SAGAH, 2020). A partir desse contexto social e das evoluções na maneira como as pessoas são vistas dentro das organizações, pode-se conceituar a gestão de pessoas como “[...] a função gerencial que visa à cooperação das pessoas que atuam nas organizações para o alcance dos objetivos tanto organizacionais quanto individuais”, conforme leciona Gil (2001, p. 17). Trata-se do processo de desenvolvimento dos colaboradores da organização rumo ao seu aperfeiçoamento técnico e social. Ou seja, por meio da constituição de políticas internas de gestão de pessoas, treinamentos e várias outras práticas pedagógicas e vivenciais, busca-se conduzir o grupo de colaboradores a alcançar o seu melhor potencial, o que traz resultados positivos tanto para a empresa quanto para os próprios colaboradores. Para que isso ocorra, a organização deve ser hábil em conciliar os interesses das pessoas com os seus objetivos estratégicos, tarefa essa que se configura como o grande desafio e a finalidade da gestão estratégica de pessoas (SAGAH, 2020). Segundo Marras et al. (2010, p. 134), a gestão estratégica de pessoas tem como objetivo “[...] alavancar os resultados organizacionais agregando valor por meio de atitudes organizacionais verdadeiramente inovadoras em relação às pessoas”. Assim, deve-se buscar conciliar o desenvolvimento cognitivo e social e as possibilidades de ascensão dos colaboradores dentro da organização, ao 9 mesmo tempo que ocorre o desenvolvimento organizacional esperado. Dessa forma, ainda conforme Marras et al. (2010, p. 134): O desenvolvimento cognitivo dos trabalhadores terá como retorno dois cenários interessantes tanto para o empregado quanto para a empresa. Para o empregado, o interesse em adquirir mais e melhores conhecimentos contribuirá para a sua formação profissional, garantindo sua especialização e, portanto, maior probabilidade de ascensão intraempresarial e social (cargos, salários, benefícios e status). Para a empresa, a produtividade e a qualidade dos produtos são diretamente proporcionais à qualificação dos profissionais que os produzem. Portanto, empregados mais qualificados garantem à empresa melhor competitividade no mercado [...] ao mesmo tempo, a possibilidade de ampliar os seus conhecimentos leva os trabalhadores a permanecer na empresa, diminuindo a taxa de turnover e absenteísmo, o que representa uma enorme vantagem para a concorrência. Cabe pontuar que, quando chegam às organizações, os colaboradores trazem consigo uma formação técnica e social, bem como experiências de vida e de profissão totalmente distintas. Dessa forma, os seus níveis de conhecimento e habilidades costumam ser também diferentes, envolvendo competências distintas e, mesmo quando similares, em níveis diversos. Assim, cabe também à gestão de pessoas mapear esses conhecimentos existentes, realizando sua gestão e possibilitando o seu compartilhamento entre todos. Assim, investir na aprendizagem organizacional costuma ter um efeito muito positivo para ambos — colaboradores e organização (SAGAH, 2020). Existem inúmeros outros aspectos nos quais as pessoas diferem no interior de uma organização, relacionados a fatores como cultura, identidade, grau de instrução, expectativas, motivação, entre outros. Todos esses elementos deverão ser considerados pela gestão de pessoas, para que se consiga reter os colaboradores mais talentosos, bem como ampliar as competências de todos que se encontram na organização (SAGAH, 2020). Como se pode perceber, a gestão de pessoas possui uma importância muito grande nas organizações, pois realiza o gerenciamento do fator mais potente para que os resultados sejam alcançados. Assim, dada a tamanha diferença existente entre as pessoas e o comportamento organizacional que elas apresentam, 10 exige-se do gestor de pessoas muita habilidade para que consiga alavancar tanto o crescimento pessoal e profissional dos colaboradores quanto o desempenho organizacional (SAGAH, 2020). 2.1 A abordagem estratégica da gestão de pessoas Na seção anterior, foi abordado o conceito de gestão de pessoas, que abrange os esforços de gerenciamento sobre os colaboradores, no sentido de reconhecê- -los como seres dotados de talento e capacidades que contribuem diretamente para o alcance dos objetivos da organização. Dessa forma, pensando estrategicamente, ou seja, tendo como foco o resultado esperado a médio e longo prazo, é primordial que as organizações invistam no desenvolvimento, no bem-estar e na qualifi cação de seus colaboradores. Afinal, estando felizes e se sentindo reconhecidos, motivados e com chances de ascensão na empresa, esses colaboradores tendem a apresentar maior produtividade, e, assim, todos ganham, empresa e colaboradores (SAGAH, 2020). Para que se possa entender bem como se aplica o conceito de gestão estratégica de pessoas na contemporaneidade, é importante retomar o conceito de estratégia organizacional. A estratégia consistenos esforços das organizações em desenvolverem planos de ação que envolvam todos os seus recursos para o alcance de seus objetivos, considerando, para isso, o ambiente altamente competitivo do mercado onde estão atuando. Assim, estipular uma estratégia envolve a formulação de objetivos, metas e políticas que deverão ser postas em prática. Dessa forma, conciliando o conceito de estratégia com o de gestão de pessoas, fica clara a sua importância para o futuro das organizações (SAGAH, 2020). Ao analisar as possíveis formas com que a gestão de pessoas procura considerar o envolvimento dos colaboradores nas organizações, Lacombe e Chu (2008, documento on-line) destacam que: 11 A abordagem estratégica envolve o entendimento das pessoas como recurso para a obtenção de vantagem competitiva; uso de planejamento; coerência entre políticas e práticas de emprego (alinhamento interno); integração de políticas e práticas de emprego com a estratégia de negócios (alinhamento externo); administração proativa em vez de reativa; e tomada de decisões sobre os aspectos da relação de emprego no mais alto nível hierárquico. O primeiro passo da junção do pensamento estratégico competitivo com a gestão de pessoas, que culmina com a gestão estratégica de pessoas, é justamente este: entender que é somente por meio da maximização do potencial dos colaboradores que se pode obter diferenciais competitivos e manter ou ampliar as possibilidades de crescimento organizacional. Para que isso ocorra, deve haver um planejamento minucioso e constante em relação aos conhecimentos e às habilidades que cada trabalhador traz consigo, bem como em relação às tendências de mercado, visando, assim, promover práticas voltadas para a aprendizagem organizacional (learning organization) (SAGAH, 2020). Dessa forma, no ambiente de negócios pós-globalização, ter a capacidade de aprender mais rápido do que os concorrentes se torna uma das principais alavancas estratégicas para as empresas, o que envolve práticas de gestão de pessoas. Porter (2004, p. 19), ao reafirmar a importância da aprendizagem para as estratégias empresariais competitivas, afirma que “[...] as empresas nunca podem parar de aprender sobre o setor em que atuam, suas rivais ou formas de melhorar ou modificar sua posição competitiva”. Afinal, como as organizações vão enfrentar as mudanças e os novos desafios que se impõem no mercado se não capacitarem seus colaboradores? Torna-se estratégico também propor políticas de gestão de pessoas que se alinhem com as aspirações dos colaboradores, mantendo seu nível de motivação e suas expectativas de projeção dentro das empresas. Assim, as práticas de seleção de pessoal passam a focar com especial atenção os processos internos e mistos, permitindo que os colaboradores se sintam contemplados e participem desses processos. Além disso, as empresas passam a pensar em termos de planejamento e gerenciamento de carreiras daqueles colaboradores considerados talentos na 12 organização, procurando conciliar seus planos de desenvolvimento profissional individuais com o que a organização desejaria para esses trabalhadores. Nesse aspecto, temos também um aumento significativo nas ações de coaching e mentoring no ambiente corporativo, visando à potencialização de competências dos colaboradores e à gestão de suas carreiras (SAGAH, 2020). Da mesma forma, as organizações precisam buscar no mercado de trabalho pessoas que agreguem novas competências e possam contribuir para que alcancem seus resultados, oxigenando suas práticas e renovando os conhecimentos que vêm sendo geridos em seu meio. Assim, busca-se um alinhamento das questões relacionadas ao emprego, tanto interno quanto externo, visando sempre ao aumento do capital humano, que incide diretamente no aumento do capital intelectual da organização, conforme se observa na Figura abaixo. Fonte: Adaptada de Stewart (1998). Entender o conceito de capital intelectual contribui para que se possa perceber o quão importante é a gestão estratégica de pessoas na contemporaneidade, pois suas práticas incidirão diretamente no desenvolvimento desse capital. Conforme ressalta Stewart (1998, p. 13): 13 Capital intelectual é a soma do conhecimento de todos em uma empresa, o que lhe proporciona vantagem competitiva. Ao contrário dos ativos, com os quais empresários e contabilistas estão familiarizados, como propriedades, fábricas, equipamentos, dinheiro, constitui-se na matéria intelectual, sendo o conhecimento, informações, propriedade intelectual, experiência, que pode ser utilizada para gerar riqueza. Assim, o capital intelectual se compõe a partir do capital humano existente nos colaboradores. Este, por sua vez, resulta dos conhecimentos diversos dos colaboradores e das práticas voltadas para a gestão do conhecimento e a aprendizagem organizacional que estruturam esses saberes (capital estrutural). Ainda, resulta das trocas de conhecimentos e do aperfeiçoamento de processos ocasionados pela parceria entre as organizações e seus respectivos clientes (capital do cliente ou relacional) (SAGAH, 2020). Como se pode perceber, realizar a gestão estratégia de pessoas envolve o planejamento e a implementação de políticas e práticas de gestão que se voltem para o aperfeiçoamento constante dos colaboradores, tornando-os, de fato, responsáveis pelo sucesso da organização. Por meio do planejamento, pode-se atuar de forma proativa, adiantando-se aos cenários e às tendências que se apresentam, e não somente reagindo aos impactos do ambiente externo, como costumam fazer as organizações que não aliam a estratégia ao desenvolvimento de seus colaboradores (SAGAH, 2020). 2.2 A gestão de pessoas no mundo pós-globalização A globalização ocorrida na década de 1990 provocou mudanças significativas, que impactaram a vida das pessoas e das organizações. Tais mudanças alteraram componentes que estruturavam a vida pessoal e o funcionamento organizacional, devido aos novos desafi os ambientais que se colocaram desde então. Vergara (2012, p. 27) aponta que a globalização trouxe um novo formato para o ambiente de negócios contemporâneo, que passou a ter algumas características específi cas, como: “[...] um fluxo intenso de informações; 14 acelerado desenvolvimento tecnológico; ampliação das fronteiras geográfi cas; acirrada competição de base global; movimentos de cooperação, parcerias e alianças; elevação da consciência de cidadania do consumidor; customização; e degradação de recursos naturais” (SAGAH, 2020). Assim, essas mudanças precisam ser consideradas pelas organizações. Elas exigem dos gestores de pessoas que se empenhem na preparação de seus quadros funcionais, para que saibam como lidar com cada um desses aspectos vigentes desde então e que representam desafios para suas ações. Estes são alguns dos aspectos que sofreram mudanças por ocasião da globalização, afetando os processos organizacionais, incluindo a gestão de pessoas, segundo Gil (2001): informação e comunicação; estratégias globais; participação do Estado; setor de serviços; diversificação da força de trabalho; jornada de trabalho; nível de exigência do mercado; responsabilidade social. Com a globalização, teve impulso a revolução das tecnologias digitais de informação e comunicação, que proporcionaram a facilidade de acesso e a multiplicação de informações e, também, alteraram a forma como as pessoas se 15 relacionam socialmente. A esse respeito, Gil (2001, p. 39) afirma que as tecnologias digitais de informação e comunicação propuseram mudanças e, com isso, resistência por parte dos colaboradores, e que “[...] cada mudança tecnológica passa a requerer também a adoção de ações significativas em relação a seu pessoal com vistas a minimizar os riscosdecorrentes dessa resistência”. A gestão de pessoas começou a se valer desses elementos para suas práticas de gestão, analisando, por exemplo, o perfil de seus colaboradores via redes sociais digitais ou, ainda, recrutando e selecionando candidatos às suas vagas via plataformas de networking digitais, como o LinkedIn, na atualidade. Conforme comentam Renó, Gosciola e Renó (2018, p. 123): O LinkedIn tornou-se, para as áreas de Recursos Humanos das organizações, um novo ambiente comunicativo focado nas especificidades das relações de trabalho, com o objetivo de promover entre os usuários da rede social engajamentos profissionais de acordo com as demandas diversificadas do mundo empresarial e aderentes às particularidades das intenções e expectativas dos diversos nichos laborais ativos no mercado de trabalho. Além disso, essas mudanças proporcionaram maior dinamismo e trocas de informações em rede a respeito dos colaboradores da organização, facilitando seu aproveitamento e proporcionando ajustes em suas carreiras. Conforme Bes et al. (2019), o uso de recursos tecnológicos digitais hoje também representa possibilidades de incremento da aprendizagem organizacional, por meio de práticas de educação corporativa híbridas, que aliam encontros presenciais com atividades educativas on-line (SAGAH, 2020). Outro fator que afetou o funcionamento das organizações pós-globalização, conforme leciona Gil (2001), foi a ideia de competição global — ou seja, desde o advento da globalização, as estratégias antes restritas somente às empresas multinacionais passaram a ser comuns a todas as organizações. O fato de se ter contato em tempo real com as ações de organizações operando ao redor do mundo faz com que seja necessário o estabelecimento de estratégias globais competitivas, o que envolve a gestão das pessoas, em busca do desenvolvimento das 16 competências necessárias para agir nesse novo cenário, conforme destaca Gil (2001). Segundo Harvey (2014), no período pós-globalização, o papel do Estado passou a seguir uma racionalidade neoliberal, passando a fomentar cada vez mais as ações empreendedoras, ao mesmo tempo que se acompanha uma tendência de diminuição da regulação das relações de emprego na atualidade. No mundo todo, atualmente, percebe-se uma reconfiguração no mundo do trabalho, com uma diminuição nas possibilidades de emprego formal, com vínculo empregatício e carteira assinada, e, em contrapartida, um aumento das possibilidades de trabalho autônomo. Um exemplo disso são as empresas que operam por aplicativo, que fornecem meios para que seus usuários possam exercer as suas atividades na área do transporte urbano, como a Uber (SAGAH, 2020). Gil (2001) destaca ainda que o setor de serviços se ampliou notavelmente a partir da globalização, uma vez que o setor industrial, ao incorporar novas tecnologias, acabou por eliminar muitos postos de trabalho. Ao mesmo tempo, os clientes se tornaram mais exigentes, devido à existência de uma concorrência mais acirrada. Essas mudanças exigiram que as organizações aprimorassem seus processos de recrutamento e seleção de pessoas, em busca de profissionais que melhor se ajustassem a esse novo perfil; elas também passaram a investir na capacitação constante dos seus quadros funcionais (SAGAH, 2020). Castells (1999) salienta que a força de trabalho também se alterou, cedendo espaço para as mulheres, que partiram em busca de seu espaço e do direito de serem vistas como competentes e sem distinção em relação aos homens. Da mesma forma, outros aspectos relacionados à diversidade e às identidades culturais passaram a ser considerados no ambiente empresarial, tornando as organizações mais inclusivas. A jornada de trabalho sofreu um forte impacto nos anos 1990, com a emergência da globalização, quando se passou a priorizar a disponibilidade total para o trabalho e se exigir jornadas longas, carregadas de horas extras, para muitos dos cargos existentes nas organizações, segundo Gil (2001). Na atualidade, dadas as altas taxas de desemprego e o declínio dos salários pagos, são estudadas 17 jornadas menores, bem como pagamento variável de acordo com essa redução da carga horária. As organizações do Brasil, após a última reforma trabalhista ocorrida em 2017, que alterou a Consolidação das Leis do Trabalho, passaram a poder contar com essa redução da jornada. Assim, percebe-se que a gestão de pessoas deve estar sempre atenta e em sintonia com as legislações de sua área (SAGAH, 2020). Pode-se apontar como a maior mudança pós-globalização e que afeta diretamente a área da gestão de pessoas, conforme leciona Gil (2001), o aumento do nível de exigência do mercado, com clientes mais críticos e que, além de buscarem uma qualidade cada vez maior nos produtos e serviços que consomem, também passam a buscar seus direitos de consumidor quando se sentem lesados. Esses níveis de exigência fazem com que as organizações precisem desenvolver ainda mais as competências de seus colaboradores, aprimorando suas capacidades técnicas e relacionais de atuação (SAGAH, 2020). O cenário pós-globalização também faz com que as organizações empresariais passem a se preocupar com outras questões além do lucro de suas atividades, assumindo o entendimento de que o segundo setor da economia pode também contribuir com causas sociais indispensáveis ao planeta, conforme destaca Gil (2001). Essas causas envolvem o combate ao trabalho infantil e as questões de preservação ambiental, eliminação da pobreza e busca pela ética nas organizações. Além disso, o chamado terceiro setor foi impulsionado no período pós- - globalização, proporcionando que pessoas possam atuar de forma voluntária em causas sociais diversas. Cabe esclarecer que muitas das organizações que compõem esse setor se originam de associações e fundações constituídas por grandes corporações empresariais, atuando por meio delas para cumprir com suas responsabilidades sociais. Assim, no interior das empresas, passou a existir também colaboradores que atuam de forma voluntária em ações sociais, o que também passa a ser valorizado pelas organizações. Essas mudanças ocorridas após a globalização trouxeram alguns desafios para as organizações e, em particular, para a área da gestão de pessoas, conforme se observa no Quadro abaixo (SAGAH, 2020). 18 Fonte: Adaptado de Gil (2001). 19 Como se pode perceber, a sociedade do trabalho que se constituiu após a globalização é mais exigente, pois acompanha as tendências de um mercado altamente competitivo e que opera segundo as tendências mundiais. Isso faz com que as empresas tenham que estruturar sua gestão de pessoas de forma estratégica, fazendo com que seus colaboradores atinjam níveis de competência cada vez maiores e se sintam bem e realizados com o que fazem. Assim, tornam- se mais produtivos e possibilitam que as organizações alavanquem maiores lucros e ampliem suas participações nos segmentos de mercado em que atuam (SAGAH, 2020). 3 TENDÊNCIAS EM RECRUTAMENTO E SELEÇÃO A globalização, juntamente ao aumento da competitividade do mercado, contrariando a lógica conhecida até então, resultou na quebra de paradigmas. Hoje, as organizações precisam se adequar com extrema velocidade às demandas e às mudanças sociais para se desenvolverem e se manterem competitivas. Como você deve imaginar, tal adequação só pode ocorrer a partir do capital humano que compõe a organização (SAGAH, 2020). 3.1 Recrutamento de pessoal O recrutamento é uma atividade que tem como objetivo captar e atrair candidatos que posteriormente poderão ser selecionados como colaboradores da organização. Gil (2007) afirma que o recrutamento visa a atrair candidatos potencialmente qualificados que sejam capazes de ocupar cargos na organização. Dessa forma, o recrutamento é a porta de entrada de todocolaborador da organização. Vem daí a sua relevância (SAGAH, 2020). Bitencourt (2010) pontua que o recrutamento consiste na identificação de candidatos que possuam o perfil que a organização busca para suprir vagas em aberto. Esse é um processo que não se inicia pelo setor de recrutamento, mas pela 20 área que necessita da mão de obra. A reposição pode ocorrer por vários motivos, entre eles aumento de quadro de pessoal, reposição de pessoal e afastamentos legais (SAGAH, 2020). Lacombe (2005) ressalta que, quando se trata de aumento de quadro, o setor de recrutamento e seleção deve checar se esse aumento estava previsto. Caso contrário, deve solicitar que a área requisitante obtenha a autorização. Veja as etapas do processo de recrutamento: 1. identificar as necessidades de mão de obra; 2. emitir a requisição de pessoal; 3. analisar a descrição da vaga; 4. avaliar a atualização de requisitos; 5. analisar a descrição do cargo; 6. escolher o meio mais apropriado para a captação de candidatos; 7. encaminhar os candidatos para o processo de seleção. Cada autor possui uma compreensão sobre os meios para realizar o recrutamento. Gil (2007) afirma que há nove formas de realizar esse processo, que podem ser utilizadas ao mesmo tempo. São elas: recrutamento dentro da empresa; cartazes; 21 recomendação; pessoal dispensado; agências; associações profissionais; anúncios; caça-talentos; internet. Já Lacombe (2005) apresenta os seguintes métodos: anúncio na mídia; tabuletas na porta; informações em quadros de avisos; apresentações ou indicações; apresentação espontânea agência de emprego; 22 intercâmbio com outras empresas; anúncios em revistas técnicas; empresas de caça-talentos; instituições de formação de mão de obra especializada; sites de oferta e procura de mão de obra. Chiavenato (2009), por sua vez, afirma haver três meios de recrutamento, que são: recrutamento interno; recrutamento externo; recrutamento misto. 3.1.1 Recrutamento interno Conforme Chiavenato (2004), o recrutamento interno ocorre quando a organização possui uma vaga a ser preenchida e decide ocupá-la por meio do remanejamento dos seus empregados, que podem ser promovidos (movimentação vertical), transferidos (movimentação horizontal) ou também transferidos e promovidos (movimentação diagonal). Esse é um processo que precisa ser muito transparente e ser feito com muita seriedade e competência. Para realizá-lo, a empresa mobiliza vários sistemas e bancos de dados, uma vez que o recrutamento interno se baseia em dados e informações relacionadas com outros subsistemas, como: 23 resultados das avaliações de desempenho; resultados obtidos no teste de seleção; análise das descrições do cargo atual e do almejado; resultados dos programas de treinamento; verificação do plano de carreira, para definir a trajetória mais adequada ao ocupante do cargo; condições de promoção do candidato (se está pronto para ser promovido e se há substituto preparado para ocupar seu cargo). Marras (2009) afirma que o recrutamento interno privilegia os próprios recursos da organização e é informado por canais de comunicação interna, como quadros de avisos e intranet 3.1.2 Recrutamento externo Esse tipo de recrutamento consiste na divulgação e na captação de novos candidatos de forma externa à empresa. Os candidatos podem estar empregados ou não, mas devem estar aptos a suprir as necessidades da seleção (CHIAVENATO, 2004). Marras (2009, p. 73) afirma que “[...] o recrutamento externo é o processo de captação de recursos humanos no mercado de trabalho, com o objetivo de suprir uma necessidade da empresa no seu quadro de efetivos”. Já Chiavenato (2009) apresenta as seguintes técnicas de recrutamento externo: indicação de 24 colaboradores, contatos em universidades e escolas, sindicatos, anúncios, agências de recrutamento e recrutamento on-line (SAGAH, 2020). 3.1.3 Recrutamento misto Esse tipo de recrutamento mescla os dois processos apresentados anteriormente, o recrutamento interno e o recrutamento externo. Chiavenato (2004) afi rma que normalmente as empresas não utilizam apenas um dos processos, pois eles são complementares. O recrutamento misto pode ocorrer da seguinte forma: recrutamento externo seguido de recrutamento interno; recrutamento interno seguido de recrutamento externo; recrutamento externo e recrutamento interno concomitantes A partir da captação dos candidatos, inicia-se o processo de seleção de pessoal (SAGAH, 2020). 3.1.4 Seleção de pessoal A seleção de pessoal é a identifi cação dos candidatos recrutados mais adequados às vagas disponíveis na organização (CHIAVENATO, 2004). Bitencourt (2010) pontua que a seleção consiste em escolher os candidatos que possuem as qualifi cações para suprir a vaga em aberto. Marras (2009) afirma que a seleção de pessoal visa a escolher candidatos recrutados para atender às necessidades da empresa. Lacombe (2005), por sua vez, define a seleção como um processo utilizado para escolher, entre os recrutados, o candidato mais adequado para a vaga existente (SAGAH, 2020). 25 A seleção de pessoal é um processo comparativo entre duas varáveis: requisitos do cargo versus perfil dos candidatos recrutados. Os requisitos do cargo são fornecidos pela descrição e pela análise do cargo, enquanto o perfil dos candidatos é verificado por meio da aplicação das técnicas de seleção. Lacombe (2005) apresenta os principais métodos utilizados para a seleção. Veja: triagem preliminar dos currículos; entrevista na unidade de seleção; informação de pessoas confiáveis; testes técnico-profissionais; testes psicológicos; dinâmica de grupo; entrevista pelas chefias futuras; informações de empregos anteriores; informações cadastrais; exame médico. Chiavenato (2004) afirma que a escolha das técnicas de seleção deve considerar o cargo a ser preenchido. A ideia é escolher os candidatos que poderão suprir as necessidades da organização. As técnicas de seleção podem ser classificadas em cinco grupos: 26 entrevista de seleção; provas de conhecimentos ou capacidades; testes psicológicos; testes de personalidade; testes de simulação. Ter uma quantidade grande de candidatos no processo seletivo aumenta a probabilidade de contratar a pessoa certa. A técnica mais comum nos processos seletivos é a entrevista, também considerada a técnica mais importante. Conforme Marras (2009), a entrevista tem o objetivo detectar dados e informações dos candidatos para subsidiar o processo de seleção (SAGAH, 2020). A entrevista de seleção, quanto ao método, pode ser estruturada ou não estruturada. A entrevista estruturada possui um método previamente planejado, que garante uma entrevista uniforme para todos os entrevistados. Tal método é aplicado por meio de um roteiro, de forma padronizada e sistemática, de modo a se obter o máximo de informações possível. Uma das principais vantagens dessa técnica é a facilidade na comparação dos resultados dos diversos entrevistados (SAGAH, 2020). A entrevista não estruturada se opõe à anterior. Nela, o entrevistador possui autonomia para realizar os questionamentos desejados, de acordo com a situação, deixando o rumo da entrevista seguir os acontecimentos do momento. Esse tipo de entrevista tem como principal vantagem o aproveitamento do momento e das características individuais dos entrevistados, de modo que o entrevistador não fica preso a padrões (SAGAH, 2020). A prova de conhecimentos é um instrumentoutilizado para avaliar os conhecimentos e habilidades do candidato. Ela busca medir o grau de 27 conhecimentos profissionais ou técnicos considerando o que é exigido pelo cargo. Além disso, pode medir a capacidade ou habilidade do candidato para executar certas tarefas. Essas provas podem ocorrer de forma oral, escrita ou prática, ou seja, por meio da execução de um trabalho ou tarefa. Os testes psicológicos enfatizam as aptidões individuais dos candidatos, determinando em que nível elas existem em cada pessoa. Eles se baseiam nas diferenças entre as pessoas, podendo ser testes intelectuais ou de personalidade. Por fim, os testes de simulação partem do coletivo, sendo um método exclusivamente verbal ou prático. Eles são essencialmente as técnicas de dinâmica de grupo (SAGAH, 2020). Você sabe qual é a diferença entre aptidão e capacidade? Chiavenato (2009) afirma que a aptidão nasce com a pessoa, representa a sua predisposição ou potencialidade. Já a capacidade é a habilidade atual da pessoa em determinada atividade ou comportamento, ou seja, é uma habilidade desenvolvida. Os testes de personalidade analisam os diferentes traços de personalidade geral, que podem ser determinados pelo caráter (traços adquiridos) ou pelo temperamento (traços inatos). Neles, verifica-se o equilíbrio emocional, as frustrações, os interesses e as motivações do candidato (SAGAH, 2020). 3.2 Mercado de trabalho: oferta e demanda Um dos processos de recursos humanos (RH) está diretamente relacionado com o suprimento de pessoas para a organização: é o processo responsável pelo capital humano. Ele envolve atividades que estão vinculadas: pesquisa de mercado de RH, planejamento de RH, recrutamento e seleção de pessoas. O mercado de RH ou mercado de trabalho é constituído pelas ofertas de trabalho feitas pelas organizações em determinado lugar e determinada época, sendo definido pelas oportunidades de emprego (CHIAVENATO, 2004). Esse mercado funciona em termos de oferta e procura: existe a oferta de emprego (vagas 28 ofertadas) e a procura por emprego (vagas procuradas). O mercado se apresenta equilibrado quando há harmonia entre a oferta e a demanda. No Quadro abaixo, veja as características das situações de oferta e de procura. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004). No Quadro abaixo, a seguir, veja as características do mercado de RH. Você deve ter em mente que ambos os quadros representam uma situação genérica. O ideal é verificar cada atividade, cargo ou segmento (SAGAH, 2020). 29 Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004). 3.3 Sustentabilidade organizacional A velocidade com que as mudanças ocorrem na atualidade exige das empresas e das pessoas resiliência para se adaptar. Como afirma Moscovici (2003), toda mudança provoca resistência: normalmente, as pessoas sentem medo do novo, do desconhecido, do que não é familiar. A sensação de ameaça provoca desequilíbrio interno, que, por sua vez, causa reações diversas para a recuperação do estado anterior de equilíbrio. Então, como lidar com as mudanças? Uma das formas mais efi cazes é desenvolver-se sistematicamente (SAGAH, 2020). Nesse contexto, é necessário considerar o conceito de sustentabilidade. Conforme Sachs (2002), o termo sustentabilidade pode ser abordado a partir de distintas dimensões, como social, econômica, ecológica, espacial, cultural e política. Parente e Fischer (2014) afirmam que as organizações estão modificando e/ou adequando as suas práticas e os seus procedimentos a fim de atender aos princípios da sustentabilidade. Como a organização é um ambiente em que todos os processos estão inter-relacionados, essas novas práticas e processos impactam a área de gestão de pessoas (SAGAH, 2020). 30 Dutra (2008) pontua que, a partir da década de 1980, o capital humano passou a ser visto como fonte estratégica e competitiva. Desde então, os processos da área de gestão de pessoas precisam estar alinhados com os objetivos organizacionais. Veja o que afirmam Parente e Fischer (2014, p. 10): [...] a contribuição da gestão de pessoas para a organização deve ultrapassar as noções reativas da implantação e adaptação, sendo avaliada também pela sua capacidade de gerar e sustentar recursos estratégicos, desenvolver capacidades e competências organizacionais e criar organizações mais flexíveis e inteligentes do que seus competidores, por apresentarem níveis superiores de cooperação, coordenação e inovação. Há discussões conceituais sobre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Por exemplo, há autores que associam a sustentabilidade apenas às questões ambientais (SARTORI; LATRÔNICO; CAMPOS, 2014). Elkington (2014) apresenta o conceito de sustentabilidade como forma de atingir o desenvolvimento sustentável. Para Parente e Fischer (2014), contudo, isso não deve ser uma regra, uma vez que há autores que apresentam a sustentabilidade de forma diferente. Em 1994, John Elking, apresentou o conceito triple bottom line, segundo o qual os resultados financeiros, sociais e ambientais são uma “dimensão orientadora” (PARENTE; FISCHER, 2014, p. 112). Dessa forma, é possível criar um modelo de desenvolvimento organizacional a partir desses três pilares. Em síntese, o conceito de sustentabilidade evoluiu com o passar dos anos e atualmente faz parte da sociedade como um todo. A evolução desse conceito impactou diretamente as organizações, uma vez que agora elas precisam se preocupar com dimensões que vão além da esfera econômica, como aquelas ligadas às questões culturais, sociais e ambientais. Assim, os processos ligados à área de gestão de pessoas também precisaram se adequar, pois a área passou a ser considerada estratégica. A cultura da sustentabilidade se desenvolveu nas organizações e, com isso, as práticas de recrutamento, seleção, treinamento e avaliação de desempenho, por exemplo, precisaram ser reformuladas para auxiliar a organização no seu processo de desenvolvimento (SAGAH, 2020). 31 O desenvolvimento organizacional se baseia no ser humano, que tem aptidões para a produtividade. Tais aptidões podem permanecer inativas se o ambiente em que o sujeito vive e trabalha é restritivo e hostil, impedindo o crescimento e a expansão de suas potencialidades. A função principal do desenvolvimento organizacional é não permitir que a organização fique estagnada, sem evoluir. Pode-se afirmar que a zona de conforto e o desenvolvimento organizacional são divergentes. Assim, o desenvolvimento organizacional propõe que a empresa crie uma cultura de proatividade, adaptando-se rapidamente às mudanças ocorridas e antecipando o futuro (ROBBINS, 2014). Para que ocorra o desenvolvimento organizacional, os processos de recrutamento e seleção possuem papéis fundamentais. A empresa se desenvolve a partir dos seus colaboradores. Estes, quando estão alinhados com os objetivos organizacionais, realizam suas atividades de forma que a empresa atinja seus objetivos (MENEZES, 2014). Assim, é necessário que, desde o início do processo de recrutamento, sejam levados em consideração o desenho do cargo, a descrição do cargo e a análise de cargos. É por meio desses documentos que o recrutador inicia a triagem dos currículos (SAGAH, 2020). 3.3.1 Desenho de cargos Desenhar os cargos da organização é essencial, uma vez que o cargo constitui a base da aplicação das pessoas às tarefas organizacionais. É a partir do cargo que as pessoas ingressam nas organizações e realizam a sua trajetória profi ssional. Para muitos colaboradores, o cargo constitui uma das maiores fontes de expectativa e motivação (CHIAVENATO, 2004). Chiavenato (2004) afirma que o conceito de cargo se baseia nas noções de tarefa, atribuição e função. Veja a seguir. 32 Tarefa: toda atividade executada pelo colaborador que ocupa um cargo. Normalmente, astarefas são atribuídas a cargos simples e repetitivos. Por exemplo: montar uma peça, apertar um parafuso (cargos de horista ou operário) Atribuição: toda atividade executada pelo colaborador que ocupa um cargo. Normalmente, as atribuições entram em cena em cargos mais diferenciados. Por exemplo: elaborar uma ordem de serviço, preencher um documento (cargos de mensalista). Função: são todas as tarefas ou atribuições exercidas pelo ocupante do cargo. Pode ser que um colaborador, sem ocupar um cargo, desempenhe provisoriamente uma função. O que é um cargo? Um cargo é “[...] aquilo que é ou se tornou incumbência de alguém. Dever assumido em relação a alguém ou algo. Função assumida em instituição pública ou particular, emprego, trabalho” (NOGUEIRA, 2015). Chiavenato (2004) define cargo como um conjunto de funções (tarefas ou atribuições) com uma posição estabelecida na estrutura organizacional. O cargo é composto por todas as atividades desenvolvidas por um colaborador que ocupa um lugar formal no organograma da empresa. Esta define o nível hierárquico do colaborador, a sua subordinação, os seus subordinados e a área a que ele pertence. Para desenhar um cargo, é necessário estabelecer quatro funções fundamentais, como você pode ver a seguir (CHIAVENATO, 2004). Conteúdo do cargo: tarefas ou atribuições a serem desempenhadas. 33 Métodos e processos de trabalho: modos como essas tarefas e métodos serão desempenhados. Responsabilidade: relação com a liderança, a quem o colaborador deverá se reportar. Autoridade: colaboradores a quem o ocupante do cargo deverá supervisionar. Os cargos administrativos normalmente são desenhados pelos gerentes de áreas. Quando se trata do processo fabril, os cargos são desenhados pela engenharia industrial. Não é de responsabilidade da área de gestão de pessoas desenhar os cargos, mas geralmente essa área dá todo o suporte necessário para que o desenho ocorra, estabelecendo um padrão de construção (SAGAH, 2020). O desenho de cargos é relevante para que a organização obtenha sucesso. Ele se relaciona tanto com a satisfação dos colaboradores quanto com a conquista dos seus objetivos. Existe ainda um viés relativo a categorias sindicais relacionadas a cargos específicos, tais como de motoristas e alguns cargos técnicos. Outra preocupação importante diz respeito à tipificação das atividades e à defesa organizacional em casos de contendas trabalhistas, nas quais o princípio da isonomia deve ser atendido (SAGAH, 2020). 3.3.2 Descrição de cargos Para conhecer um cargo, é necessário formalizar, em um documento, as suas atribuições, responsabilidades e especificações, diferenciando-o de outros cargos existentes na organização. Esse documento é elaborado de forma detalhada. A descrição deve ser a mais clara e simples possível, pois serve de base 34 para inúmeros processos no RH. Cada descrição de cargos é única, ou seja, as atividades descritas compreendem apenas um cargo em específico. Chiavenato (2004) apresenta um sistema de qualidade e melhoria contínua para a descrição de um cargo. De acordo com o autor, tal descrição pode ser realizada por meio das seguintes definições: o que o ocupante faz; quando faz; como faz; por que faz. Dessa forma, pode-se afirmar que a descrição de um cargo consiste em determinar os elementos ou fatos que ocorrem no dia a dia de determinado cargo. Tais elementos ou fatos são o que Chiavenato (2004) apresenta como aspectos intrínsecos. Por meio da descrição de um cargo, busca-se dar um título a ele, estabelecer a sua posição no organograma e descrever as suas tarefas ou atribuições. Esse é um processo que não deve ser estático; pelo contrário, é um processo dinâmico que deve acompanhar as mudanças da organização (SAGAH, 2020). 4 ROTINAS MENSAIS E ANUAIS As rotinas mensais relativas à folha de pagamento e ao cálculo das provisões mensais abrangem uma série de atividades e responsabilidades que possuem regras e prazos. O conhecimento de tais regras e prazos de entrega é 35 fundamental para o bom andamento de um setor de departamento pessoal (SAGAH, 2020). 4.1 Folha de pagamento A folha de pagamento é o demonstrativo dos procedimentos relativos aos pagamentos dos colaboradores de uma empresa. É o documento que contém os dados funcionais dos colaboradores, o valor de salário, além dos descontos e do valor líquido a receber. Uma folha de pagamento, além de ser importante para organizar as informações dos pagamentos e descontos dos colaboradores, tem caráter contábil, pois seus valores são contabilizados como passivo circulante. Ela possui também caráter fiscal, pois há legislação específica que a torna uma obrigação, e, ainda, tem caráter operacional, pois a geração de tal documento representa um aspecto organizacional da empresa (SAGAH, 2020). Não há um modelo padrão para a folha de pagamento — as empresas possuem autonomia na geração do modelo desse documento, podendo ser manuscrito ou feito por meio de recursos eletrônicos. Entretanto, ela deve ser gerada seguindo o descrito no art. 225 do Decreto nº. 3.048, de 06 de maio de 1999, estabelecido pela Previdência Social (BRASIL, 1999). Segundo esse Decreto, na folha de pagamento devem estar discriminados o nome dos segurados, com os indicativos de cargo e função, os turnos que estes trabalham, as parcelas integrantes da remuneração, o nome dos segurados que estão recebendo auxílio maternidade, as informações relacionadas a salário família e os descontos legais. Uma folha de pagamento deve conter todos os proventos, sendo os principais o salário base, as horas extras e o reflexo das horas extras no descanso semanal remunerado, além dos descontos, como contribuição previdenciária para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e imposto de renda retido na fonte (IRRF). A legislação ainda aborda a obrigatoriedade do registro da folha de pagamento, explicitando que o empregador deve “[...] preparar folha de pagamento da remuneração paga, devida ou creditada a todos os segurados a seu serviço, devendo manter, em cada estabelecimento, uma via da respectiva folha e recibos 36 de pagamentos” (BRASIL, 1999, documento on-line). O Quadro abaixo apresenta um modelo de folha de pagamento construído utilizando um programa de planilhas eletrônicas. Nesse documento, estão inseridos os principais dados referentes aos colaboradores e em relação aos seus proventos e descontos; apresenta também o salário líquido de cada colaborador (SAGAH, 2020). Fonte: Adaptado de Peçanha (2019). Ainda não é obrigatório para todas as empresas, mas, a partir de 2019, as informações relacionadas à folha de pagamento passaram a ser enviadas pelo eSocial, seguindo o Decreto nº. 8.373, de 11 de dezembro de 2014 (BRASIL, 2014). Conforme a Portaria nº. 716 da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, apenas as empresas públicas ingressarão nesse sistema em 2020 (BRASIL, 2019). Nesse formato, a folha de pagamento terá como prazo final de envio o dia 7 de cada mês e deverá conter, além dos dados dos colaboradores, as informações sobre salários, horas extras, insalubridade, periculosidade ou trabalho noturno, caso haja, e descontos referentes à Previdência Social e ao IRRF, caso o colaborador não esteja na faixa de isenção. Outra obrigatoriedade em relação às rotinas mensais de uma empresa está relacionada aos holerites dos colaboradores, ou contracheques, que são os 37 documentos que apresentam os registros de pagamentos, com todos os proventos e descontos de funcionários de uma empresa. É uma obrigação legal a entrega dos holerites aos colaboradores, já que esses documentos comprovam o pagamento realizado e possibilitam que os colaboradores tenham acesso detalhado à sua remuneração,podendo verificar quais descontos serão aplicados ao seu salário e o valor líquido de saldo a receber. Ainda, é possível observar qual é a base de cálculo para os depósitos do fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS). O art. 464 do Decreto nº. 5452, de 01 de maio de 1943 — a Consolidação das Leis do Trabalho —, aborda a obrigatoriedade do holerite, estabelecendo que “O pagamento do salário deverá ser efetuado contra recibo, assinado pelo empregado; em se tratando de analfabeto, mediante sua impressão digital, ou, não sendo esta possível, a seu rogo” (BRASIL, 1943, documento on-line). Ainda é frisado na legislação que o pagamento de salário, quando realizado por meio de depósito bancário, possui força de comprovante, não sendo obrigatória a assinatura do colaborador. Entretanto, há a obrigatoriedade de entrega do holerite ao colaborador, seja por meio de e-mail, on-line ou até mesmo físico (SAGAH, 2020). 4.2 Provisões mensais da folha de pagamento Uma folha de pagamento deve conter, além de uma série de informações em relação aos colaboradores, uma série de provisionamentos, que são valores que serão pagos futuramente para os colaboradores de uma empresa. As provisões são um dos aspectos contábeis de uma folha de pagamento e são classifi cadas como passivo circulante; esses elementos devem ser calculados mês a mês, levando em conta a legislação trabalhista (SAGAH, 2020). 4.2.1 Provisão de 13º Uma das provisões de folha de pagamento é a provisão de 13º salário. Todo colaborador que trabalhar ao menos 15 dias no mês possui direito a 1/12 do 13º, 38 sendo a base de cálculo a remuneração do colaborador. Ainda, devem ser contabilizados no provisionamento de 13º os encargos sociais, que são o INSS, totalizando 20% do valor provisionado, e o FGTS, equivalente a 8% do valor provisionado (SAGAH, 2020). Em síntese, segundo Bulgacov (1999), o 13º salário é direito do trabalhador, sendo que cada mês trabalhado corresponde a 1/12 do seu total, considerando- - se como mês integral aquele em que o colaborador trabalhou mais de 14 dias. Acompanhe o exemplo a seguir, que apresenta o passo a passo do cálculo (SAGAH, 2020). 4.2.2 Provisão de férias Ainda em relação aos provisionamentos, há a obrigatoriedade de provisionar as férias, calculando-se o valor de 1/12 de férias a cada mês. Ainda, é necessário o provisionamento de 1/3 de férias, referente ao abono a que cada colaborador possui direito. Para o provisionamento de férias, também é necessário levar em conta o provisionamento dos encargos sociais, sendo 20% de INSS e 8% de FGTS. Segundo Bulgacov (1999, p. 422), “[...] o cálculo das férias será com base no salário fixo, mais as médias das verbas variáveis recebidas nos últimos 12 meses, acrescido de 1/3 de abono constitucional”. 4.3 Informe de rendimentos anuais O informe de rendimentos anuais, ou declaração do imposto de renda retido na fonte (Dirf), é um demonstrativo anual pelo qual tanto pessoas físicas quanto jurídicas comprovam à Receita Federal Brasileira (RFB) os seus rendimentos e o IRRF pagos a terceiros. Conforme a Instrução Normativa RFB nº. 1.215, de 15 de dezembro de 2011, a declaração é feita pela fonte pagadora e informa sobre os seguintes itens (BRASIL, 2011): 39 rendimentos pagos a pessoas físicas que residem no país; valor do IRRF; pagamentos ou remessas de valores realizados para pessoas no exterior; pagamentos de plano de saúde coletivo empresarial. Então, a Dirf informa sobre os valores pagos a pessoas físicas residentes no país, em remessa de valores para o exterior e, ainda, em relação aos valores pagos aos planos de saúde. Mas, o que é o valor retido na fonte? O IRRF representa aquele valor retido na fonte pagadora, representando uma antecipação de pagamento do imposto de renda (SAGAH, 2020). O cálculo do valor do imposto de renda retido na fonte é baseado nos rendimentos mensais de colaboradores. Conforme a faixa salarial em que o recebedor se enquadra, é aplicada uma alíquota de desconto e são feitas algumas deduções, como a parcela a deduzir, o desconto por dependentes, caso haja, e o valor do INSS pago pelo contribuinte. A regulação do IRRF está amparada na Lei nº. 7.713, de 22 de dezembro de 1988, em seu art. 7º: “O imposto a que se refere este artigo será retido por ocasião de cada pagamento ou crédito e, se houver mais de um pagamento ou crédito, pela mesma fonte pagadora, aplicar-se-á a alíquota correspondente à soma dos rendimentos pagos ou creditados à pessoa física no mês, a qualquer título” (BRASIL, 1988, documento on-line). 4.3.1 Regras e prazos para entrega do comprovante de rendimentos anuais A Dirf é um importante documento que apresenta os valores pagos a pessoas físicas em relação aos rendimentos destas e aos valores retidos na fonte 40 pagadora. Trata-se de um documento de entrega obrigatória, em geral de responsabilidade do departamento pessoal. O prazo final para a entrega desse documento é o último dia útil do mês de fevereiro. Esse documento pode ser disponibilizado pela internet e, inclusive, emitido pelo correio, desde que o prazo da emissão nos correios e sua posterior entrega não excedam o prazo limite do documento. As pessoas físicas ou jurídicas que deixarem de entregar o documento no prazo limite recebem multa do governo federal referente a cada documento não entregue, assim como as empresas que não entregam a Dirf no prazo estabelecido (SAGAH, 2020). 5 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DE CARGOS, SALÁRIOS E BENEFÍCIOS Cada vez mais os colaboradores buscam gerenciar as suas carreiras de modo a tomarem as melhores decisões visando obter melhor remuneração e recompensas relacionadas à contraprestação de serviços. Além disso, atingindo bons resultados, eles aumentam a sua satisfação profissional e, por consequência, a sua empregabilidade, que consiste nos atributos que tornam um colaborador capaz de ganhar e manter o emprego. Nesse sentido, quando as empresas implementam administração de salários e gestão de benefícios, passam a ter melhores resultados alinhados aos seus objetivos organizacionais. A comunicação com os colaboradores também se torna mais transparente, principalmente para reconhecer e relacionar as necessidades de capacitação e aprimoramento de competências e habilidades. Tais práticas impactam diretamente na valorização das pessoas e, por consequência, oportunizam a sua ascendência nas organizações (SAGAH, 2020). 41 5.1 Cargos e salários no ambiente organizacional: contexto histórico No final do século XIX e início do século XX, foi criada, por Frederick Taylor, a Administração Científica, que buscava aumentar os níveis de produtividade dos trabalhadores sem elevar os custos de produção. Isso era feito com métodos científicos que comprovaram a falta de padronização dos métodos de trabalho e o desconhecimento dos administradores em relação ao trabalho realizado pelos operários e à forma de remuneração. Em 1903, Taylor publicou a sua teoria, em que defendeu a padronização dos métodos e ferramentas de trabalho. Propôs, de certa forma, uma divisão de trabalho. Argumentou que os operários deveriam ser escolhidos considerando as suas aptidões, mas que, mesmo assim, era preciso treiná-los para diminuir o tempo de execução na atividade e, com isso, aumentar a produtividade e o sistema de remuneração diretamente proporcional à produção individual. Nessa época, a satisfação dos operários não era considerada como fator relevante para mudanças, até porque os salários estavam condicionados a produção dos operários (JONES; GEORGE, 2011). Após a Revolução Industrial, vários estudos e pesquisas surgiram trazendo grandes contribuições para a administração. A partir do século XX, a administração passou a ser considerada uma ciência e logo recebeu o nome de AdministraçãoClássica. A teoria clássica foi idealizada por Henri Fayol (1841–1925) e teve como ênfase a estrutura econômica organizacional e a busca da máxima eficiência. Henri Fayol foi bastante criticado por propor incentivos salariais e materiais aos trabalhadores e por defender o excesso de comando nas organizações (JONES; GEORGE, 2011). Em 1916, Henri Fayol defendeu 14 princípios da administração utilizados até hoje em todo o mundo, que estão dispostos no Quadro abaixo. 42 Fonte: Adaptado de Jones e George (2011). Com os princípios propostos por Fayol, surgiu a necessidade de definir o trabalho entre os empregados. Para o autor, é necessário atribuir as responsabilidades do trabalho de acordo com cada pessoa que o desempenha 43 (SAGAH, 2020). Para tanto, devem ser consideradas a sua especificidade e especialidade. Destaca- -se também o princípio 7, que diz respeito à remuneração pessoal, que visa garantir à satisfação dos funcionários e das organizações. Nesse olhar de Fayol, percebe-se o início da preocupação com o trabalhador. O foco não é somente na compensação pela produção, mas com o resultado que influencia na satisfação ao realizar a atividade (JONES; GEORGE, 2011). Depois da Administração Clássica e em oposição à administração de Taylor, surgiu a Teoria das Relações Humanas, que teve como pano de fundo os estudos coordenados e realizados por Elton Mayo, em 1927, em uma fábrica da Western Eletric Company. Essa experiência foi denominada Experiência de Hawthorne, que é um bairro em Chicago. Conforme descreve Ribeiro (2003, p. 58), “[…] o objetivo inicial era estudar a relação, entre a intensidade de iluminação e eficiência dos operários, tendo a produção como medida de avaliação”. Como principal conclusão, destaca-se que há uma relação diretamente proporcional entre o fator social (empregados) e o sucesso da empresa. A integração social sequer era considerada nas escolas anteriores. Os métodos de trabalho eram tão rigorosos que a relação entre empresa e empregado era desumana. A partir daí, surge a Escola do Comportamento Humano, em que se passa a considerar as necessidades humanas. Emergem, então, as teorias da motivação, a hierarquia de necessidades de Maslow, a teoria de dois fatores, de Herzberg, e tantas outras que são objetos de estudo até os dias atuais (RIBEIRO, 2003). Do antagonismo entre a Teoria Clássica e a Teoria das Relações Humanas, surge a Escola Burocrática, atribuída a Max Weber, então considerado o pai da Teoria da Burocracia. Conforme Ribeiro (2003, p. 85), “[…] a burocracia surge da necessidade de criar um modelo organizacional que considerasse todos os aspectos organizacionais, fossem eles humanos ou estruturais”. Considerando essa cronologia, Chiavenato (2008, p. 198) afirma que “[…] o conceito de cargo é uma decorrência do trabalho imposto pelo velho e tradicional modelo burocrático”; afinal, os cargos fazem parte do formato estrutural de uma organização. Alinhados a Ribeiro (2003) e Chiavenato (2008), Jonas e George (2011) representam os princípios da burocracia de Weber: 44 sistema escrito de regras e procedimentos operacionais padrão explicando como os funcionários devem se comportar; sistema de tarefas e papeis claramente especificado; hierarquia de autoridade claramente especificada; sistema de seleção e avaliação que recompensa os funcionários de maneira adequada e equitativa. Com contradições e alinhamentos, outras cinco escolas surgiram a posteriori, mas a administração de cargos na sua essência, e como é trabalhada nos dias atuais, advém da Teoria da Burocracia. A Teoria da Burocracia enfatiza a formalização da obediência às normas, rotinas, regulamentos e regras na divisão do trabalho. Considera a obediência à hierarquia no cumprimento das ordens dos superiores, o status e as posições hierárquicas elevadas, a impessoalidade e a profissionalização dos empregados e, finalmente, as competências técnicas inerentes à função (RIBEIRO, 2003; WILLIAMS, 2010). 5.1.1 Administração de cargos A administração de cargos está condicionada à estrutura organizacional, à cultura e ao negócio da empresa. Quando um empregado inicia as suas atividades em uma organização, ele passa a ser vinculado a um cargo e, com isso, começa a entender o que é esperado dele em relação a desempenho e resultados. Isso porque o cargo é composto por atividades que devem ser executadas (IVANCEVICH, 2011). O conceito de cargo nos moldes atuais é decorrência da divisão de trabalho advinda do modelo burocrático (CHIAVENATO, 2008). Para os autores Oliveira (2013), Snell e Bohlander (2011) e Ivancevich (2011), em relação 45 a administração de cargos, é necessário distinguir as diferenças entre cargo, funções e tarefas. 5.1.1.1 Cargo Conforme Oliveira (2013, p. 7), “[…] cargo é a ocupação oficial do empregado”. Alguns autores definem como o conjunto de funções (atividades e deveres) de mesma natureza de trabalho, de requisitos e nível de dificuldades, ou seja, posições com funções semelhantes e com responsabilidades em comum dos ocupantes. Cargo é, portanto, uma posição clara e distinta dentro da organização, que reúne as funções que o ocupante deverá cumprir. Para que o ocupante do cargo desempenhe de forma satisfatória o papel atribuído ao cargo, é necessário que ele possua as competências necessárias (SNELL; BOHLANDER, 2011; IVANCEVICH, 2011). São exemplos de cargos: presidente, diretor de marketing, diretor financeiro, assistente jurídico, estagiário, coordenador, supervisor. 5.1.1.2 Função Conjunto de tarefas executadas repetidamente. É um agregado de deveres, tarefas e responsabilidades que requerem os serviços de um indivíduo (OLIVEIRA, 2013; SNELL; BOHLANDER, 2011; IVANCEVICH, 2011). São exemplos de funções de um gerente de vendas: estruturar a equipe de vendas, definir as metas e estratégias de vendas, participar do planejamento anual e acompanhar as equipes com o objetivo de cumprir metas, contratar vendedores, capacitar os vendedores, desenvolver novos negócios e parcerias e acompanhar os indicadores de vendas. 46 5.1.1.3 Tarefas De acordo com Oliveira (2013, p. 7), “[…] é o conjunto de elementos que requer esforço humano para determinado fi m”. Ainda, os autores Snell e Bohlander (2011) e Ivancevich (2011) explicam que tarefas são as responsabilidades diárias do empregado que justifi cam sua função e, como consequência, o seu cargo. Apesar de haver cargos iguais, cada empregado pode executar funções diferentes. São exemplos de tarefas a serem realizadas por um gerente de vendas: extrair relatórios de acompanhamento de vendas do sistema; elaborar gráficos de vendas para a direção; visitar as lojas da concorrência para identificar as práticas de mercado; esclarecer as dúvidas dos vendedores para melhorar a qualidade da venda; dar feedback para os membros da sua equipe sobre resultados dos indicadores de vendas e comportamento individuais. 5.1.1.4 Descrição de cargos Nascimento e Carvalho (2006, p. 49) explicam que “[…] administrar cargos e salários pressupõe conhecer profundamente cada função do conjunto de cargos da empresa”. Entendendo esses conceitos, as organizações devem formalizar as especificações e necessidades dos cargos com a descrição de cargos (SAGAH, 2020). Para Ivancevich (2011, p. 152), a descrição de cargos é o “[…] principal produto de análise de cargos. É um resumo formal (escrito) do cargo como unidade identificável”. Na mesma linha, Snell e Bohlander (2011, p. 127) afirmam que a descrição de cargo é, para o empregado, “[…] uma declaração de suas tarefas, deveres e responsabilidades”. Já para Nascimento e Carvalho (2006, p. 50), a 47 descrição de cargo diz respeito ao “[…] registro, de forma organizada, das funções, tarefas eresponsabilidades atribuídas a uma ou mais pessoas”. Descrição de cargo é o processo de sintetização das informações recebidas e prospectadas no passo anterior de análise das funções, padronizando o registro de dados de maneira a permitir um rápido e fácil acesso aos contornos de cada um dos cargos da empresa. Além de registrar o universo de tarefas que compreendem um cargo, a descrição registra a análise dos diversos requisitos exigidos pelo cargo, como: escolaridade, experiência, responsabilidades, condições de trabalho, complexidade das tarefas, conhecimentos etc. (MARRAS, 2016, p. 97). Com a descrição de cargo é possível identificar: o que a empresa espera do empregado que ocupa ou ocupará aquele cargo; quais são as competências necessárias do ocupante do cargo descrito; quais são ou serão as condições em que o trabalho deverá ser realizado; a quem se reporta o cargo (quem é o superior imediato); quem o ocupante do cargo deverá supervisionar (se houver). Normalmente a descrição de cargo é sucinta e especifica as tarefas usuais (periódicas), as tarefas ocasionais (quando houver), a educação formal e os conhecimentos exigidos, a experiência anterior, a chefia imediata, o número de subordinados, entre outros campos informativos relevantes. Esse documento auxilia a área de recursos humanos a encontrar os candidatos mais aderentes às vagas disponíveis na empresa (MARRAS, 2016). Os sistemas de avaliação de cargo fornecem subsídios para a equidade salarial, que é a igualdade de remuneração para profissionais exercendo a mesma função dentro das organizações (SNELL; BOHLANDER, 2011). 48 5.2 Benefícios na perspectiva da gestão de carreira contemporânea 5.2.1 Gestão da remuneração A gestão da remuneração é um processo da organização para encorajar, reforçar comportamentos desejáveis e recompensar as pessoas por desenvolverem um particular conjunto de ações definidas pelo cargo. Esse processo impacta diretamente na gestão da carreira dos empregados, pois estes estão atentos ao mercado e, compreendendo os componentes da remuneração, fica mais fácil fazer escolhas. Afinal, a remuneração tem função de atrair e reter os talentos nas organizações e recompensar os empregados pelos trabalhos executados ao longo de um período. A remuneração é subdividida em remuneração direta e remuneração indireta (SAGAH, 2020). Remuneração direta: é a remuneração fixa somada à remuneração variável. A remuneração fixa é o salário pago em espécie (dinheiro), igual para todos os ocupantes do mesmo cargo. A remuneração variável está vinculada ao atingimento individual ou coletivo de objetivos propostos, normalmente com o intuito de aumentar a rentabilidade, a produtividade ou o lucro (SAGAH, 2020). Remuneração indireta: são os benefícios sociais concedidos pela empresa aos seus funcionários. Nesse grupo encontram-se, por exemplo, auxílio alimentação, planos de seguro saúde, seguro de vida, previdência privada, auxílio educação, combustível (SAGAH, 2020). Conforme Araújo e Garcia (2009), a administração de cargos, salários e benefícios deve estar alinhada à legislação e às tecnologias em relação às ações implementadas pelas organizações. Além disso, deve contemplar a remuneração estratégica, que vai considerar o desempenho, as recompensas e as punições aplicadas aos empregados, a fim de possibilitar equidade entre competências e habilidades. Isso vai influenciar diretamente na motivação do empregado e auxiliá- 49 lo na gestão de sua carreira. Assim, ele passa a saber quais competências técnicas e comportamentais precisa desenvolver. Ivancevich (2011, p. 356) descreve que foi a partir da década de 1950 que as empresas passaram por “[…] mudanças significativas no que diz respeito a mudanças de atitudes dos funcionários, nas filosofias corporativas e nas necessidades das empresas”. Os sindicatos começaram a exercer pressão sobre o aumento do salário ou inovação nos benefícios e serviços assistenciais, que passaram então a ter papel de compensação financeira indireta. Os benefícios também são responsáveis pela melhora no clima organizacional, uma vez que contribuem para motivar e reter os empregados. Além disso, têm impacto significativo na gestão de carreiras contemporâneas, porque propiciam aos empregados oportunidades de desenvolvimento e recompensas não financeiras, como liberdade e autonomia no trabalho. Esses dois fatores, a liberdade e a autonomia, estão diretamente alinhados à busca pela qualidade de vida que vem sendo foco nos dias atuais (SAGAH, 2020). O aumento na quantidade de leis, os custos das tecnologias, as doenças laborais, a concorrência global, as condições da economia e do mercado de trabalho, dentre outras situações, influenciam na oferta de benefícios oferecidos pelo empregador. Esses mesmos benefícios acabam influenciando na decisão do empregado, que busca os melhores benefícios e serviços assistenciais (por ser uma receita não tributável). Para as organizações, os benefícios são uma poderosa ferramenta de atração e retenção de talentos (IVANCEVICH, 2011). A seguir estão os tipos de recompensas que podem ser a razão de escolha na gestão da carreira dos empregados atualmente (CHIAVENATO, 2008). Financeiras: oportunidades de desenvolvimento; reconhecimento e autoestima; segurança no emprego; qualidade de vida no trabalho; orgulho da empresa e do trabalho; promoções; liberdade e autonomia no trabalho. Não financeiras (diretas): salário direto; prêmios; comissões. 50 Não financeiras (indiretas): descanso semanal remunerado (para horistas); férias; gratificações; gorjetas; horas extras; 13º salário; adicionais; decorrências financeiras dos benefícios concedidos. 5.2.2 Gestão da carreira A gestão da carreira deve considerar as necessidades de conciliar as demandas profissionais e as do mercado, além dos interesses pessoais para o desenvolvimento de competências. Snell e Bohlander (2011) reforçam que a carreira tem dois atores participantes: o funcionário, que exerce o papel de responsável pelo início e gerenciamento da carreira, e a empresa, que deve subsidiar o funcionário com feedback e comunicação clara e contínua acerca do desempenho do empregado e informar quais as lacunas deverão ser aprimoradas. Snell e Bohlander (2011, p. 177) ainda atribuem à empresa a responsabilidade de “[…] fornecimento de informações sobre a sua missão, políticas e planos e deve dar suporte a autoavaliação, o treinamento e o desenvolvimento do funcionário”. É fundamental o apoio da alta gerência a fim de estabelecer um contexto favorável para que esse desenvolvimento da carreira realmente aconteça. Ivancevich (2011) reforça a ideia de que a gestão da carreira acontece oportunizando ao empregado a ascensão dentro da organização, seja por maior remuneração, maior quantidade de responsabilidades ou até melhor status. Segundo o autor, “[…] os estudos a respeito das etapas da carreira mostram mudanças nas necessidades e expectativas à medida que o profissional vai passando de uma etapa para outra” (IVANCEVICH, 2011, p. 444), conforme ilustra o Quadro abaixo. 51 Fonte: Adaptado de Ivancevich (2011). 5.3 Valorização de pessoas com a gestão de salários e benefícios Quando se fala em remuneração, é importante compreender a diferença entre o salário nominal e o salário real recebido pelo empregado. Chiavenato (2008, p. 281, grifo nosso) explica que “O salário nominal diz respeito ao volume de dinheiro fixado em contrato individual pelo cargo ocupado”, já o salário real é “[…] a quantidade de bens que o empregado pode adquirir com o volume de dinheiro que recebe mensal ou semanalmente e corresponde ao poder aquisitivo”. Chiavenato (2008) ainda explica os três tipos de salários: salário por unidade de tempo, salário por resultado e o salário-tarefa
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