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Usucapião Extraordinário e Ordinário

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1. Usucapião Extraordinário:
	Esta modalidade de Usucapião encontra-se na letra do Art. 1.238, do Código Civil (CC), o qual orienta os requisitos necessários para a sua reivindicação, bem como o período prescritivo na persecução do direito de usucarpir. Importa salientar que o bojo subjetivo deve conter o animus domini, predicado inafastável tanto para esta, quanto para outras modalidades, porquanto - dentro do modo extraordinário - a posse mansa, pacífica e ininterrupta e sem oposição. Ainda, percebe-se o prazo aquisitivo prescritivo, inicialmente, de quinze (15) anos, tendo a possibilidade de diminuição para dez (10) anos, nas circunstâncias do imóvel ser utilizado como moradia habitual, proveito de sustento ou obras no local. (Parágrafo Único do supra artigo).
	Vige assinalar, que este modal de não faz menção ao justo título ou boa-fé, haja vista o longo decurso temporal, adquirindo o “ad usucapionem”, tal como não se inserem nos requisitos abarcados no mencionado artigo.
	Nesse passo, a lição de Cláudio Habermann Junior, esclarece:
“Essa modalidade de usucapião baseia-se somente na posse e no tempo, não havendo a necessidade do justo título e da boa fé. É imprescindível expor que quando ocorre a perda da propriedade imóvel pelo antigo proprietário pela usucapião, o fato se sustenta na sua inércia pelo período de quinze anos em tentar recuperar a coisa.”
	Também nesta direção aborda o Professor Benedito Silvério Ribeiro, que diz:
“O animus domini, é designativo de posse com ideia ou convicção de proprietário, sendo comum a expressão posse com ânimo de dono.”
1.2 Jurisprudência:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA REJEITADA. MÉRITO: IMÓVEL. CONSTRIÇÃO JUDICIAL DE IMÓVEL. PROPRIEDADE RECONHECIDA EM FAVOR DOS EMBARGANTES EM SEDE DE AÇÃO DE USUCAPIÃO. ACOLHIMENTO DOS EMBARGOS. 1. O INDEFERIMENTO DE PROVA DESNECESSÁRIA À SOLUÇÃO DO LITÍGIO NÃO CONFIGURA HIPÓTESE DE CERCEAMENTO DE DEFESA. 2. RECONHECIDA A AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE DO IMÓVEL EM QUESTÃO PELOS EMBARGANTES, EM SEDE DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO PRO LABORE, MOSTRA-SE IMPOSITIVO O ACOLHIMENTO DOS EMBARGOS DE TERCEIRO, PARA QUE SEJA AFASTADA A CONSTRIÇÃO JUDICIAL QUE RECAIU SOBRE O BEM. 3. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA REJEITADA. NO MÉRITO, RECURSO PROVIDO.
(Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. 3ª Turma Cível, Acórdão nº 498027 do Processo nº20040110954819apc, 13/04/2011 )
2. Usucapião Ordinário:
	Nesta alternativa de aquisição real, os requisitos contemplados na extraordinária se repetem (na verdade, são as características indispensáveis nas demais modalidades), com a implementação da boa-fé e justo título, além da diminuição do período prescritivo para dez (10)anos, ocorrendo a regressão para cinco (5), se no caso concreto for observado a aquisição onerosa, tal qual a inscrição no cartório competente - conforme institui o Art. 1.242, do CC, e parágrafo único. Defronte a isso, denota-se como principais diferenças o tempo prescritivo de aquisição e a exigência de justo título e boa-fé, na comparação com o modelo anterior.
Tal assertiva se vê nas lições do professor Sílvio de Salvo Venosa, do qual expõe que, in verbis:
“... a noção de justo título está intimamente ligada à boa-fé. O justo título exterioriza-se e ganha solidez na boa-fé. Aquele que sabe possuir de forma violenta, clandestina ou precária não tem justo título. Cabe ao impugnante provar a existência de má-fé, porque a boa-fé se presume.”
	Inobstante a isso, o usucapião ordinário tem a capacidade de contrair o tempo decorrido de posse do antigo possuidor, no fito de completar o tempo necessário para pretensão do usucapião. Obviamente, para os efeitos do Art. 1.243, do CC, o antecessor deve estar devidamente respaldado nos requisitos do modo ordinário.
	Em atenção ao justo título, o Eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior, versa:
“A orientação predominante, de antes e de agora, entende como justo título aquele hábil a transferir o domínio, o que não aconteceria por um vício de origem ou defeito de forma, comumente na hipótese de compra e venda a non domino.” 
	Cinge, pela oportunidade, que a proposição da ação está prevista no Art. 47,§§ 1o e 2o do NCPC/15, observada o domicílio da coisa intervida (caput), podendo o autor optar por domicílio diverso (do réu ou da eleição), nos casos de lides afastadas de coisa imóvel (§1º), e no fora da coisa imóvel, onde o juízo detém competência absoluta (§§2º).
2.1 Jurisprudência:
DIREITO DAS COISAS. RECURSO ESPECIAL. USUCAPIÃO. IMÓVEL OBJETO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA. INSTRUMENTO QUE ATENDE AO REQUISITO DE JUSTO TÍTULO E INDUZ A BOA-FÉ DO ADQUIRENTE. EXECUÇÕES HIPOTECÁRIAS AJUIZADAS PELO CREDOR EM FACE DO ANTIGO PROPRIETÁRIO. INEXISTÊNCIA DE RESISTÊNCIA À POSSE DO AUTOR USUCAPIENTE. HIPOTECA CONSTITUÍDA PELO VENDEDOR EM GARANTIA DO FINANCIAMENTO DA OBRA. NÃO PREVALÊNCIA DIANTE DA AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA DA PROPRIEDADE. INCIDÊNCIA, ADEMAIS, DA SÚMULA N. 308. 1. O instrumento de promessa de compra e venda insere-se na categoria de justo título apto a ensejar a declaração de usucapião ordinária. Tal entendimento agarra-se no valor que o próprio Tribunal - e, de resto, a legislação civil - está conferindo à promessa de compra e venda. Se a jurisprudência tem conferido ao promitente comprador o direito à adjudicação compulsória do imóvel independentemente de registro (Súmula n. 239) e, quando registrado, o compromisso de compra e venda foi erigido à seleta categoria de direito real pelo Código Civil de 2002 (art. 1.225, inciso VII), nada mais lógico do que considerá-lo também como "justo título" apto a ensejar a aquisição da propriedade por usucapião. 2. A própria lei presume a boa-fé, em sendo reconhecido o justo título do possuidor, nos termos do que dispõe o art. 1.201, parágrafo único, do Código Civil de 2002: "O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção". 3. Quando a lei se refere a posse "incontestada", há nítida correspondência com as causas interruptivas da prescrição aquisitiva, das quais é exemplo clássico a citação em ação que opõe resistência ao possuidor da coisa, ato processual que possui como efeito imediato a interrupção da prescrição (art. 219, CPC). Por esse raciocínio, é evidente que os efeitos interruptivos da citação não alcançam a posse de quem nem era parte no processo. Assim, parece óbvio que o ajuizamento de execução hipotecária por credores contra o proprietário do imóvel, por não interromper o prazo prescricional da usucapião, não constitui resistência à posse ad usucapionem de quem ora pleiteia a prescrição aquisitiva. 4. A declaração de usucapião é forma de aquisição originária da propriedade ou de outros direitos reais, modo que se opõe à aquisição derivada, a qual se opera mediante a sucessão da propriedade, seja de forma singular, seja de forma universal. Vale dizer que, na usucapião, a propriedade não é adquirida do anterior proprietário, mas, em boa verdade, contra ele. A propriedade é absolutamente nova e não nasce da antiga. É adquirida a partir da objetiva situação de fato consubstanciada na posse ad usucapionem pelo interregno temporal exigido por lei. Aliás, é até mesmo desimportante que existisse antigo proprietário. 5. Os direitos reais de garantia não subsistem se desaparecer o "direito principal" que lhe dá suporte, como no caso de perecimento da propriedade por qualquer motivo. Com a usucapião, a propriedade anterior, gravada pela hipoteca, extingue-se e dá lugar a uma outra, ab novo, que não decorre da antiga, porquanto não há transferência de direitos, mas aquisição originária. Se a própria propriedade anterior se extingue, dando lugar a uma nova, originária, tudo o que gravava a antiga propriedade - e lhe era acessório - também se extinguirá. 6. Assim, com a declaração de aquisição de domínio por usucapião, deve desaparecer o gravame real hipotecário constituído pelo antigo proprietário,antes ou depois do início da posse ad usucapionem, seja porque a sentença apenas declara a usucapião com efeitos ex tunc, seja porque a usucapião é forma originária de aquisição de propriedade, não decorrente da antiga e não guardando com ela relação de continuidade. 7. Ademais, "a hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel" (Súmula n. 308). 8. Recurso especial conhecido e provido. Decisão A Quarta Turma, por unanimidade, conheceu e deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Senhor Ministro Relator. Os Srs. Ministros Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti e Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator. Impedido o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.
(Superior Tribunal de Justiça. 4ª Turma, REsp 941464 / SC, 24/04/2012)
3. Usucapião Especial:
	Pode-se dizer que variante especial acolhe inúmeras vertentes legais, tanto da seara Constitucional, quanto do código infraconstitucional civil, tornando-o com maior incidência de peculiaridades, na sua requisição. Nessa toada é possível identificá-lo dentro dos artigos 1.238 e 1.240-A do CC, também no Art. 183, da Constituição Federal (CF 88), bem como na Lei Nº. 6.969/1981, que dispõe sobre a aquisição, por usucapião especial, de imóveis rurais, da qual altera a redação do §2º, do art. 589 do CC, e dá outras providências.
	Obviamente, tamanho a abrangência do conceito especial, podemos asseverar Usucapião Especial como gênero e Usucapião Especial Rural, Especial Urbano, e Familiar como espécie deste instituto.
	3.1 Usucapião Especial Rural:
	Os requisitos para esta modalidade compreendem a posse por cinco(5) anos ininterruptos, sem oposição, tendo animus domini, mansa e pacífica onde a área de terra em zona rural não seja superior a 50 (cinquenta) hectares, equivalente a 500.000 (quinhentos mil) metros quadrados, sendo esta produtiva para o trabalho do usucapiente e estabelecendo nela sua moradia.
	O Usucapião Especial Rural está presente no Art. 191, da CF88 e 1.239. do CC, cujos os termos demonstram as características do imóvel, sua funcionalidade e pressupostos na demanda. Contudo, faz-se indispensável verificar que o postulante usucapiente não poderá propor ação, caso já perceba propriedade em seu nome.
	Por tais razões, José Lopes Souza Júnior, corrobora:
“Nesse sentido, a usucapião especial rural teve sua procedência com o advento da Constituição Federal de 1988 em seu artigo 191 e também adequada pelo artigo 1239 do Código Civil vigente, prevendo que o usucapiente use a terra para fins de trabalho, laborando e nela habitando; que não seja proprietário de outro imóvel, rural ou urbano; a posse sem oposição durante 5 (cinco) anos; em propriedade rural que não seja superior a 50 (cinquenta) hectares, exceto em áreas públicas, favorecendo o pequeno agricultor e proporcionando a agricultura de subsistência.”
3.1.1 Jurisprudência:
Ementa: Usucapião Especial de Imóvel Rural – Art. 191 da CF/88 – Requisitos – Preenchimento – Procedência do Pedido. Constituem requisitos para aquisição de domínio rural por meio de usucapião especial: a) posse ininterrupta, sem oposição e com ‘animus domini’ pelo prazo de 5 (cinco) anos; b) imóvel rural de no máximo 50 hectares; c) exploração do imóvel para sustento da família, servindo de moradia ao possuidor; d) não ser o possuidor proprietário de outro imóvel, rural ou urbano. Preenchidos tais requisitos, deve-se declarar a aquisição da propriedade pela parte requerente. Apelação provida. (Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais – Décima Câmara Cível/ Apelação Cível Nº. 1.0388.02.000871-9/001/ Rel. Desembargador Marcos Lincoln/ Julgado em 19.08.2008/ Publicado em 05.09.2008)
	
3.2 Usucapião Especial Urbano:
 
	Integra o Art. 1.240, do CC, e Art. 183, da CF, os quais apresentam requisitos de compreensão limite de área (até 250m²), dentro do prazo prescritivo aquisitivo de cinco (5) anos sem interrupções e usando como sua moradia familiar, havendo óbice se o pretendente usucapiente for proprietário de outro imóvel, seja urbano ou rural, assim como não deve restar notícia de oposição a posse. 
Adiante, nos parágrafos subsequentes, extraí-se o entendimento que o usucapião poderá ser conferido a homem ou mulher, ou a ambos, ainda que em caráter sucessório, inexistindo possibilidade de exação repetitiva (acaso este já tenha sido agraciado, em ação diversa). Por atenção, no caso de sucessão, o legítimo herdeiro fará jus à usufruir do decurso temporal, desde que resida no imóvel em questão.
Para efeitos de coletividade, acerca das áreas superiores à 250m², subsiste viabilidade de arguir usucapião, observando a falta de demarcação no terreno de cada família, flagrante estado de hipossuficiência, assim como permanecem hígidos o prazo de cinco (5) anos e a inobservância de propriedade dos ocupantes sobre qualquer outro imóvel.
É pacifico o entendimento que estes dispositivos são uma grande conquista à respeito da função social da propriedade, pois eles abrigam funcionalidade da disseminação de solo/terrno/imovés, porquanto da persuasão popular em manter-se possuidor ao arrepio das mazelas sociais impostas por uma cultura conservadora, voltada para o acúmulo de bens.
 Sob esse prisma, o Professor Pedro Lenza, aduz:
“Apresentam-se como prestações positivas a serem implementadas pelo Estado (Social de Direito) e tendem a concretizar a perspectiva de uma isonomia substancial e social na busca de melhores e adequadas condições de vida, estando, ainda, consagrados como fundamentos da República Federativa do Brasil.”
3.2.1 Jurisprudência:
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. USUCAPIÃO (BENS IMÓVEIS). AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA. REQUISITOS PRESENTES. O pedido de usucapião, por constituir forma originária de aquisição de propriedade, deve vir acompanhado de todos os requisitos legais autorizadores. Para tanto, há que estar presente a prova da posse, elemento essencial ao reconhecimento do direito pleiteado, de forma ininterrupta e com ânimo de dono. Caso em que a prova produzida é suficiente a propiciar julgamento favorável à autora, ante a comprovação dos requisitos legais para aquisição originária da propriedade. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. IMPROCEDÊNCIA. CONSECTÁRIO LÓGICO DO JULGAMENTO DE PROCEDÊNCIA DA AÇÃO DE USUCAPIÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO. ERRO MATERIAL NA SENTENÇA. CORREÇÃO. DERAM PROVIMENTO AO RECURSO DE JOCELAINE, NEGARAM PROVIMENTO AO APELO DA TRANSCONTINENTAL E CORRIGIRAM, DE OFÍCIO, ERRO MATERIAL DA SENTENÇA. UNÂNIME. (Apelação Cível No 70064654478, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, Julgado em 16/07/2015).
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO DE APELAÇÃO. AÇÃO DE USUCAPIÃO URBANA INDIVIDUAL. IDENTIFICAÇÃO DA ÁREA OCUPADA PELOS POSSUIDORES. POSSIBILIDADE DE AJUIZAMENTO. ART. 9o DA LEI 10.257 /2001 ( ESTATUTO DA CIDADE ). DESCABIMENTO DA EXIGÊNCIA DE AJUIZAMENTO NA MODALIDADE COLETIVA PREVISTA NO ART. 10 DO MESMO DIPLOMA LEGAL. RECURSO
PROVIDO. SENTENÇA ANULADA. - Sentença que extinguiu a ação de usucapião urbana individual sem resolução de mérito, pela impossibilidade jurídica do pedido (art. 267, VI, do CPC ), ao entendimento de que seria cabível unicamente a sua modalidade coletiva prevista no art. 10 da Lei 10.257 /2001 ( Estatuto da Cidade ). - Negativa de vigência ao art. 9o do mesmo diploma legal, ao estabelecer critérios inexistentes na norma, que permite o ajuizamento da usucapião individual quando possível identificar o imóvel, sendo esta a hipótese dos autos. Recurso provido para anular
a sentença, com o consequente retorno dos autos à instância de origem, e regular processamento do feito em seus ulteriores termos.
(TJ-PE - Apelação APL 3105597 PE (TJ-PE)Data de publicação: 16/10/2013.)
3.3 Usucapião Familiar:
Inovação trazida na Lei nº 14.424/2011, trata da proteção ao bem familiar perante o cônjuge que abandona o lar, enquanto aquele ainda permanece no domicílio. Nesseapreço, verifica-se como requisitos a posse, constante, sem embargos, exclusiva e direta de no mínimo dois anos, imóvel urbano não superior à 250m², o qual dividia com o desarvorado ex-cônjuge, ainda utilizado como moradia pelos abandonados, desde que não perceba outra propriedade urbana ou rural.
Dessa forma, o cônjuge que resistiu no seio do núcleo familiar, alberga o pleno domínio do bem por outrem esmaecido, afastando a disponibilidade de retomad
a daquele, após rompidos os dois anos, perpetrados no Art. 1.240 -A, do CC.
A novidade Legal vem mitigar o conceito de propriedade fundamentalmente patriarcal, conceitualizado assim por Orlando Gomes:
“O Código refletia, ao tempo de sua elaboração, a imagem da família patriarcal entronizada num país essencialmente agrícola, com insignificantes deformações provenientes das disparidades da estratificação social. Sob permanente vigilância da Igreja, estendida às mais íntimas relações conjugais e ao comportamento religioso, funcionava como um grupo altamente hierarquizado, no qual o chefe exercia os seus poderes sem qualquer objeção ou resistência, a tal extremo que se chegou a descrevê-la como a um agregado social constituído por um marido déspota, uma mulher submissa e filhos aterrados”
3.3.1 Jurisprudência:
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIVÓRCIO LITIGIOSO. PARTILHA DE IMÓVEL. CÔNJUGES. USUCAPIÃO FAMILIAR. ART. 1.240-A CC/02. ABANDONO DO LAR. FLUÊNCIA PRAZO BIENAL. 1. O prazo aquisitivo bienal da usucapião familiar (art.1.240-A do CC/02) flui a partir da vigência do novo instituto, introduzida pela Lei 12.424/2011 (16/06/2011), para não incorrer em vedada retroatividade da norma e surpreender o ex-cônjuge ou ex-companheiro com a perda da sua parte ideal sobre o imóvel comum. 2. O requisito de abandono do lar do art. 1.240-A do CC/02 insere-se no âmbito patrimonial, no sentido do não exercício de atos possessórios (uso, gozo, disposição ou reivindicação) sobre determinado bem. Não basta a saída de um dos cônjuges do ambiente físico familiar, pela inviabilidade de convivência sob mesmo teto, nem alheamento afetivo. Com a abolição do conceito de culpa no âmbito do Direito de Família, pelo advento da EC no66/2010 que deu nova redação ao art.226 da CF/88, o pressuposto da usucapião familiar não se confunde com o abandono voluntário do lar conjugal do art. 1.573, IV do CC, causa de infração de dever matrimonial e consequente culpabilidade pelo fim do casamento. 3. Apelo desprovido. (TJ-DF - Apelação Cível APC 20130910222452 (TJ-DF) Data de publicação: 14/08/2015
4. Usucapião Indígena:
	
	Esta modalidade é engendrada na Lei nº 6.001/1973, conhecida como Estatuto do Índio, mais precisamente por força do seu Art. 33, no qual elabora o índio, mesmo não integrado, ocupando por mais de 10 anos, consecutivamente, porção de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade do trecho ocupado. Insta salientar que essa modalidade de usucapião possui os mesmo requisitos que as demais, com exceção de justo título e boa-fé que é exigido na usucapião ordinária, sendo eles animus domini, posse mansa e pacífica, ininterrupta. Os indígenas ainda tem guarida dentro do Art. 231, §2º da CF, em que dedica texto sobre o direito de posse das terras. 
Com efeito, o parágrafo único do supramencionado artigo alerta para inaplicabilidade do caput nas terras da União, lotadas de grupos tribais, assim como áreas mencionadas no decurso da Lei e trechos onde se perceba coletividades de grupos tribais.
Para o professor Carlos Roberto Gonçalves:
“As terras habitadas pelos silvícolas, são bens públicos federais, sendo intangíveis e, portanto, insuscetíveis de apropriação por usucapião. Os índios são protegidos pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio), sendo assim, via de regra, qualquer negócio jurídico que este realizar sem a participação da fundação será nulo, a exceção se dá para aqueles índios que já possuem consciência do que estão fazendo, contudo nesses casos só serão válidos os negócios jurídicos se o índio não for prejudicado.”
4.1 Jurisprudência:
Ementa: AÇÃO DE USUCAPIÃO. PRETENSÃO QUE RECAI SOBRE IMÓVEIS QUE ATÉ O MOMENTO NÃO FORAM DECLARADOS COMO TRADICIONALMENTE OCUPADOS PELAS POPULAÇÕES INDÍGENAS. COMPETÊNCIA PARA O PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL, NÃO SERVINDO COMO BASE PARA A DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA O FATO DE ESTAR TRAMITANDO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PERANTE A FUNAI. ADEMAIS, INTIMADA A AUTARQUIA FEDERAL PARA MANIFESTAR SEU INTERESSE, DECLINOU DE INTERVIR. AUSÊNCIA DE INTERESSES INDÍGENAS PREVISTAS PELO ART. 109 , XI , DA CF . AGRAVO PROVIDO. (Agravo de Instrumento No 70055795959, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elaine Harzheim Macedo, Julgado em 21/11/2013)
5. Usucapião Extrajudicial
	A perseguição da desjudicialização é alinea rotineira nos prefácios doutrinários e, nesta medida, foi inserida a Lei Federal no 6.015/73 (Lei de Registros Públicos), dentro do rol da Art. 1.071, do Código de Processo Civil (CPC), incluindo o Art. 216-A e seguintes, com o fito de viabilizar o acesso ao Direito Real de maneira célere e desburocratizada. 
	Em atento a algumas das suas características, o caput do artigo referido, não impõe óbice na via jurisdicional, admitindo o pedido do reconhecimento do Usucapião, em cartório competente para tanto, ou seja, alocado no mesmo foro onde se encontra o logradouro. Na sequência, os incisos seguintes descrevem os documentos necessários para sustentar o pedido, tal qual os prazos disponíveis acerca de possíveis reivindicações.
A usucapião extrajudicial ou administrativa, não é uma novidade no Direito Brasileiro, ela está prevista na Lei no 11.977/2009, alterada pela Lei no 12.424/2011. Sua previsão, entretanto, tem efeitos práticos bastante limitados, sendo exclusiva da regularização fundiária urbana, em procedimento administrativo excessivamente difícil, além de ter a contagem do prazo usucapionem condicionada ao prévio registro do título de legitimação de posse, art. 60 da Lei no 11.977/2009:
	Nessa direção, os ensinamentos do Mestre Carlos Roberto Gonçalves, segue, in verbis:
“(...) a propriedade, embora seja perpétua, não pode conservar este caráter senão enquanto o proprietário manifestar a sua intenção de manter o seu domínio, exercendo uma permanente atividade sobre a coisa possuída; a sua inação perante a usurpação feita por outrem, durante 10, 20 ou 30 anos, constitui uma aparente e tácita renúncia ao seu direito. De outro lado, à sociedade interessa muito que as terras sejam cultivadas, que as casas sejam habitadas, que os móveis sejam utilizados; mas um indivíduo que, durante largos anos, exerceu esses direitos numa coisa alheia, pelo seu dono deixada ao abandono, é também digno de proteção. Finalmente, a lei faculta ao proprietário esbulhado o exercício da respectiva ação para reaver a sua posse; mas esta ação não pode ser de duração ilimitada, porque a paz social e a tranquilidade das famílias exigem que os litígios cessem, desse que não foram postos em juízo num determinado prazo.”
	Embora o procedimento tenha ficado mais rápido, alguns predicados são considerados contraditórios ou demasiados para conflagrar o usucapião de qualquer quer sorte. In casu, por exemplo, umas das exigências extrajudiciais é a anuência do pretérito proprietário, gerando um possível debate sobre o domínio real sobre o imóvel requisitado.
	
	Destarte, segue comento da Professora Martha El Debs apud Lamana Paiva, que diz:
“O procedimento para o usucapião foi simplificado e ficou mais célere. Todavia, a disposição que prevê a anuência expressa do antigo proprietário (§ 2o do art. 216-A), parece-nos, prima facie, que esvaziou a mudança. Nas palavras de Lamana Paiva, ‘a redação dada ao § 2o do art. 216-A da Lei de Registros Públicos pareceu-nos inadequado ao procedimento tendo em vista que a usucapião é um instituto relativamente ao qual não é exigido, necessariamente, consenso ou concordância entre requerente e requerido, como ocorre no procedimento de retificação extrajudicial – estesim, caracteristicamente consensual – já que, ainda que ausente o consenso, se preenchidas as condições legais pelo usucapiente, este estará em plenas condições de adquirir a propriedade extrajudicial da usucapião, pode-se estimar que ele virá a ter um bom funcionamento como instrumento de regularização fundiária, especialmente dirigido àqueles casos em que houver um prévio negócio entre usucapiente e o titular do domínio do imóvel (o que será espelhado pela presença do justo titulo). Restará, entretanto, um problema de difícil para a hipótese em que haja o silêncio do titular do direito real sem que isso signifique propriamente discordância com a realização do procedimento (§ 2o do art. 216-A), mas signifique indiferença Às consequências de sua não manifestação expressa, que talvez venha a ser uma hipótese bastante recorrente no futuro, dada à forma como o procedimento foi concebido.”
5. Conclusão
	Por fim, destaca-se a importância desta aquisição de propriedade real, tendo em vista a sua função social e distribuição de propriedades em uma nação aplacada por injustiças e desigualdades sociais. Dar a capacidade do povo lutar por seu próprio lar é respeitar, antes, se não, o Direito Fundamental à dignidade Humana e suas valências.
6. Bibliografia
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. 10. ed. São Paulo:
Atlas, 2010. p.210.
RIBEIRO, Benedito Silverio. Tratado de Usucapião. v. 1. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 1998. p. 885.
AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. O usucapião ordinário e o justo título.
Revista Brasileira de Direito Civil, Rio de Janeiro, v. 2, out./dez. 2014.
SOUSA JÚNIOR, José Lopes de. Usucapião Especial Urbana e a Função Social da Propriedade.
THEMIS- Revista da Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará, UNISUL/LFG, 2010.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 13ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009.
SIMÃO, Jose Fernando. Usucapião familiar: problema ou solução? Disponível em:
http://www.juristas.com.br/informacao/artigos/usucapiao-familiar-problema-ou-solucao/598/,
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das Coi-
sas. v. 5: Direito das Coisas. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 274.
EL DEBS, Martha. Legislação Notarial e de Registros Públicos para
concursos. Ed. Juspodivm. Salvador. 2.015 pg. 778. 
Código Civil - Planalto - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm
Código de Processo Civil - Planalto - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
Constituição Federal Brasileira - Planalto - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

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