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Conhecendo a filosofia Márcio Tadeu Girotti Introdução A filosofia está presente no cotidiano das pessoas, desde o simples fato de pensar sobre os problemas do dia a dia à escolha de um caminho ou ainda na tomada de uma decisão. Quando compreendemos a filosofia podemos perceber sua importância para a aquisição do conhecimento e também sua influência na vida dos indivíduos, que passam a entender, inclusive, a própria exis- tência. Nesta aula iremos estudar a origem da filosofia e as possibilidades de abordagem da rea- lidade. Vamos aprender também sobre os primeiros pensamentos da filosofia, a partir da sua gêneses, a filosofia grega. Pronto para começar? Bons estudos. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender o papel da filosofia e sua prática; • compreender a importância da filosofia e do pensamento filosófico. 1 O que é filosofia Você saberia dizer como surgiu o termo filosofia? A filosofia é um conceito grego que apare- ceu a partir da junção de dois termos: philo, que significa aquele ou aquela que tem um sentimento amigável; derivando do termo philía, amizade e amor fraterno; juntamente com sophía, que signi- fica, derivando da palavra sophós, sábio ou sabedoria. Desta forma, a filosofia adquire um signifi- cado de amizade pela sabedoria, ou, como muitos preferem, o amor pelo saber, sendo o filósofo aquele que acompanha o saber e que ama a sabedoria. (CHAUI, 2005). Figura 1 – O pensador Fonte: Simon Bratt/Shutterstock.com Este significado do termo filosofia foi atribuído ao matemático Pitágoras (V. a.C.). Para ele, o saber era propriedade dos deuses, cabendo ao homem somente a sua contemplação. Ou seja, para Pitágoras, o filósofo pode somente acompanhar e ser amigo do saber, além de amar a sabedoria. Mais do que compreender o significado do termo filosofia, precisamos entender sua impor- tância no nosso dia a dia, além de sua aplicação no campo do saber, com influência na reflexão, crítica e construção do conhecimento. Vale a pena prosseguir. SAIBA MAIS! No vídeo “O que é filosofia” (2015), apresentado Mario Sérgio Cortella, o filósofo e escritor propõe uma reflexão sobre o conceito da filosofia a partir do pensamento grego. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Xsi6L9HeDCM>. 2 A importância da filosofia No campo do saber é fácil afirmar que a filosofia é muito importante, como a base e o fun- damento de todo o conhecimento. No entanto, a filosofia, no campo do senso comum, é subesti- mada, procurando seu espaço como um saber de excelência, mas que se perde em meros pensa- mentos e reflexões. Para compreender sua importância temos que justificar sua validade a partir das concepções de utilidade, entre aquilo que é útil e inútil. Desta forma, a primeira questão que devemos fazer é: para que serve a filosofia? A própria análise do porquê nos leva a buscar a utilidade de algo, pois, se é útil serve para alguma coisa, tem prestígio e resultados visíveis. Em contrapartida, o inútil é o descartável e sem utilidade, que não serve. Agora, reflita: para ser importante é preciso ser útil? Não. Observe estes exemplos: para que serve a música, a poesia e a literatura? Elas são úteis? Para quê? Podemos viver sem música, sem poesia e sem literatura? A resposta é evidente: sim, podemos. Mas, mesmo que elas não sejam úteis, na nossa vida prática, elas deixam de ser importantes? Não, mas não precisam ser importan- tes para serem úteis. Assim ocorre com a filosofia também. Mesmo que ela não seja útil, em com- paração a outros saberes, como a física ou a matemática, a filosofia não deixa de ser importante. Figura 2 – A contemplação do saber Fonte: Ververidis Vasilis/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! No campo do saber não existem questionamentos sobre a importância da filosofia, mas, quando a filosofia é lançada ao senso comum, seu saber é questionável, mesmo sendo ela a base da própria matemática. Os primeiros filósofos eram matemáticos. Portanto, qual é a utilidade da filosofia? De acordo com Chaui (2005, p. 24): Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes. Assim, não resta dúvida de que qualquer coisa que se coloca como útil ou inútil independe de sua utilidade, o que resta é saber o quanto é importante, ou seja, se a filosofia pode ser tomada, em certa medida, como inútil, ela não vai nunca deixar de ser importante. FIQUE ATENTO! Nem tudo que é útil é importante, e nem tudo que é importante é útil; essa contra- posição é importante para refletirmos acerca da aplicação e do uso da filosofia em nosso cotidiano. EXEMPLO A música pode servir para relaxar, apaziguar, unir pessoas e descontrair. Assim, a música é útil. Mas, será que ela é importante? Nós necessitamos de música para viver? Podemos viver sem música, mas nem por isso ela se torna inútil. 3 A reflexão filosófica Você sabia que a todo momento estamos fazendo filosofia? Todas as vezes que estamos indecisos e fazemos um escolha necessária, que exigiu pausa para ponderarmos e tomarmos uma decisão, estamos fazendo uma reflexão filosófica. A expressão aristotélica que diz que a filosofia nasce do espanto ilustra esta ideia de reflexão a partir de simples fatos cotidianos, daquilo que não sabemos e queremos conhecer. Há na litera- tura francesa, especificamente na obra “A viagem de Theo”, de Catherine Clement, um argumento que diz: “a consciência da ignorância é o começo da dúvida, que conduz a sabedoria” (CLEMENT, 1997, p. 211). Ou seja, a partir do momento que tenho a certeza de não saber, busco sanar esse não saber a partir da busca por conhecimento, que irá me fornecer sabedoria. Figura 3 – O espanto Fonte: BONNINSTUDIO /Shutterstock.com Em nosso cotidiano sempre estamos nos perguntando: por quê? O quê? Para quê? Estas questões estão ligadas aos nossos atos de pensar, agir e falar, além de atreladas ao indivíduo. São perguntas vinculadas à capacidade de conhecer, falar, agir, questionar e refletir, que mostram o indivíduo como um ser pensante, falante e agente. Trata-se da realidade interior dos homens. Mas, o que estas três perguntas têm a ver com a reflexão filosófica? Chaui (2005) explica que a reflexão filosófica carrega três conjuntos de questões. Observe: • por que pensamos o que pensamos? Dizemos o que dizemos? E fazemos o que faze- mos? Ou seja, há motivos, razões e causas; • o que queremos pensar quando pensamos? O que queremos dizer quando falamos? O que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o sentido do que pensamos, dize- mos ou fazemos? • para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que faze- mos? Qual é a intenção do que pensamos, dizemos e fazemos? Isso se resume em: o que é pensar, falar e agir. São objetos de indagação, pensamento e lin- guagem, que pertencem ao homem, e são instrumentos da vivência humana em sociedade: “O que pensamos, dizemos e fazemos em nossas crenças cotidianas constitui ou não um pensamento verdadeiro, uma linguagem coerente e uma ação dotada de sentido?” (CHAUI, 2005, p. 21). É importante perceber que a reflexão filosófica é uma reflexão radical, que busca a causa de todas as coisas, a raiz do problema e do pensamento, é um movimento de volta, um movimento de retorno a si mesmo, um pensamento que parte de si e volta a si mesmo,a fim de conhecer como é possível o próprio conhecimento. Por isso grave bem: diariamente estamos sempre refletindo, pensando, falando e agindo, sem perceber que estamos promovendo uma reflexão e possuindo uma atitude filosófica, que nada mais é do que se indagar: o que é? Como é? Por que é? SAIBA MAIS! Para saber mais sobre a importância da filosofia no cotidiano, como uma disciplina a ser contemplada no contexto escolar leia o artigo “A filosofia e o cotidiano: o professor como mediador entre o indivíduo particular e o humano-genérico” (GIROTTI, 2011). Disponível em: <http://fatece.edu.br/arquivos/arquivos%20 revistas/trilhas/volume1/7.pdf>. EXEMPLO Hoje sabemos da complexidade dos problemas e temos outros métodos para es- tudá-los, como o proposto por Edgar Morin (2005) sobre a complexidade. Esta pa- lavra significa que as questões são tecidas juntas e que você não pode separá-las para estudá-las, sob pena de não apreender o objeto de estudo e, consequentemen- te, não encontrar uma alternativa de solução para o problema. 4 A filosofia do cotidiano Pensar, falar e agir são ações que fazemos a todo momento, de forma inconsciente, pois está enraizado em nosso ser, um ser de atitude, de pensamento e de linguagem. Difícil é reconhecer que estamos a todo momento pensando e ponderando sobre nossas ações, resolvendo problemas, sistematizando soluções e, sobretudo, adquirindo conhecimento. Figura 4 – Pensamento cotidia Fonte: Ditty_about_summer/Shutterstock.com Note que a filosofia nos auxilia a pensar e refletir. Desde os simples fatos do dia a dia até os problemas mais complexos, respiramos o saber filosófico. A consciência de que não sabemos tudo, por exemplo, nos leva a buscar conhecimento; a capacidade de pensar também nos conduz ao conhecimento, assim como o fato de agir nos leva a pensar e, consequentemente, a refletir sobre a melhor decisão. Portanto, a todo momento estamos fazendo filosofia e isso mostra a sua importância, mesmo que ela seja julgada, muitas vezes, como inútil, por não encontrar a justificativa de sua relevância, nem por isso ela deixa de ser importante. FIQUE ATENTO! A filosofia não é simplesmente reflexão ou indagação. Mais do que isso, ela nos remete à busca pelo conhecimento e aquisição de novos saberes. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • compreender o conceito de filosofia; • entender a importância do pensamento filosófico na vida cotidiana. Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003. CHAUI, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005. CLEMENT, Catherine. A viagem de Theo: romance das religiões. São Paulo: Cia das Letras, 1997. GIROTTI, Marcio Tadeu. A filosofia e o cotidiano: o professor como mediador entre o indivíduo particular e o humano-genérico. Trilhas Pedagógicas, Pirassununga, v. 1, n. 1, p. 108-121, ago. 2011. Disponível em: <http://fatece.edu.br/arquivos/arquivos%20revistas/trilhas/volume1/7.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2016. O QUE É FILOSOFIA por Mario Sergio Cortella. Pensa Brasil. 2015. Vídeo. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=Xsi6L9HeDCM>. Acesso em: 21 dez. 2016. MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Tradução de Eliane Lisboa. Porto Alegre: Editora Sulina, 2005.
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