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Todas as citações bíblicas contidas nesta obra são da versão de Almeida Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original, a menos que outra seja, especificamente, mencionada. Nenhuma parte dessa publicação poderá ser reproduzida ou transmitida em qualquer forma ou por quaisquer meios, sejam eletrônicos ou mecânicos, incluindo fotocópias, gravação, ou por meio de qualquer sistema de recuperação de dados sem a permissão escrita dos editores. Copyright © 2018 - Todos os direitos reservados por: Depósito de Literatura Cristã Copyright da versão inglesa: GOSPEL TRACT PUBLICATIONS Edição em português com licença. “O TEMPLO DE SALOMÃO FALANDO DE CRISTO” Capa + Projeto Gráfico / Diagramação Liliana Ester Dinella Tradução Alexandros e Simone Meimaridis Impressão e Acabamento Imprensa da Fé, São Paulo - SP, Brasil Dados Internacionais de Catalogação na Publicação PAGE, John B. D. “O Templo de Salomão falando de Cristo”/ John B. D. Page; São Paulo-SP: Depósito de Literatura Cristã, 2018. 200p. ; 14 x 21 cm. ISBN: 978-85-9579-007-0 1ª Edição - Abril 2018 www.boasemente.com.br Rua Athos Palma, 250 CEP 04476-020 - São Paulo SP - BRASIL ÍNDICE PRÓLOGO7 PREFÁCIO9 AGRADECIMENTOS11 A Era de Ouro do Reino de Israel13 A Compra da Área do Templo23 Preparativos Sagrados33 Preparando a Construção43 Lançando os Alicerces61 A Planta do Templo73 Construindo o Templo85 O Embelezamento do Templo101 Os Objetos dos Pátios115 Os Elementos do Templo129 A Arca e a Glória145 Ações de Graça163 APÊNDICE 1171 APÊNDICE 2179 TABELA DE PESOS E MEDIDAS185 CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 6 ILUSTRAÇÕES187 BIBLIOGRAFIA197 ANOTAÇÕES199 PRÓLOGO Lucas, em seu belo tratado acerca do maravilhoso Homem Cristo Jesus, conclui seu evangelho com o registro do Cristo ressuscitado falando com Seus entristecidos seguidores, explicando-lhes por meio de todas as Escrituras as coisas concernentes a Si mesmo. É verdadeiro afirmarmos que não apenas os Evangelhos e o restante do Novo Testamento se ocupam com o Senhor Jesus, mas que toda a Palavra de Deus possui um tema central, que é a Pessoa do Senhor Jesus Cristo. Deus sempre teve o desejo de habitar com os homens, por isso Ele disse a Moisés: “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Êxodo 25:8). Deus desejava habitar com os homens e Se relacionar com eles; e assim Ele encontrou em Davi um homem segundo Seu próprio coração, e Davi canta acerca disto no Salmo 132:4-5: “Não darei sono aos meus olhos, nem repouso às minhas pálpebras, enquanto não achar lugar para o SENHOR, uma morada para o poderoso Deus de Jacó”. Deus, tendo feito o homem à Sua própria imagem, supriu tudo para seu conforto e prazer. Ele fez no Éden um jardim de delícias, conversou e comungou com o homem ali e, antes da comunhão ter sido rompida por causa do pecado (Gênesis 3), Deus visitava o homem ali, no que tem sido chamado por alguns de “santuário edênico”. A oferta de Abel em Gênesis 4 indica o reestabelecimento do acesso para a presença de Deus por meio do sangue derramado. Deus se fez conhecer constantemente aos patriarcas e desejava um lugar de habitação no meio dos homens. Consequentemente, temos a construção do tabernáculo e “o SENHOR entronizado sobre os louvores de Israel”. O tabernáculo era especialmente adequado para a experiência no deserto e, CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 8 como o autor deste livro declara: “se o tabernáculo nos fala da humilhação de Cristo, então o templo nos fala de Sua exaltação”. O tabernáculo finalmente chegou a Siló. Ao que parece, o mesmo foi bastante negligenciado e é possível que, por fim, tenha sido completamente descartado. Entretanto, o desejo profundo de Davi era construir uma habitação para o Senhor e, apesar de seu desejo não ter sido realizado, ele teve a permissão para acumular suprimentos abundantes para o templo, o qual foi, eventualmente, construído por Salomão, e todas as suas partes proclamavam o louvor do Senhor. Aquela construção maravilhosa foi destruída, e tempos depois o templo de Esdras foi construído nos dias de Zorobabel e Jesua. Mais tarde, por fim, o templo de Herodes foi levantado naquele mesmo local. O último templo, depois de quarenta e seis anos, ainda estava em construção quando o Senhor Jesus caminhou em seus pátios e declarou que ali estava Alguém, no meio deles, que era maior que o templo. Em outra ocasião, o Senhor Jesus falou do templo como Seu corpo, no qual Ele viveu sobre a terra e agora vive na glória, pois a Epístola aos Colossenses nos diz que “foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse” com o propósito de fazer expiação e trazer a reconciliação, o que leva Paulo a afirmar que, em Cristo, desde então e para sempre, “habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Diante disso, nosso irmão escreveu um livro acerca do templo, e aborda o tema cristologicamente — Cristo como visto no templo por meio de uma linguagem simbólica e imagens comoventes da Sua Pessoa. Não é comum que tal assunto seja abordado dessa forma. Muitos têm escrito e falado acerca da pessoa de Cristo em conexão com o tabernáculo, mas poucos O relacionam com o templo. Temos a certeza que cada leitor desse livro encontrará em suas páginas símbolos das maravilhosas glórias do nosso bendito Senhor e descobrirá seu coração, curiosamente aquecido, no que diz respeito à Pessoa de Cristo. Recomendamos esse livro a todos os que amam o Senhor e temos a certeza que os que lerem suas páginas tirarão grande proveito. A. M. S. Gooding PREFÁCIO Inúmeros livros têm sido escritos acerca do tabernáculo, mas poucos são os que tratam do templo construído por Salomão. O interesse inicial do autor por esse assunto surgiu por meio de um livro escrito pelo falecido Thomas Newberry, editor da Bíblia do Homem Inglês Comum (geralmente conhecida como Newberry Reference Bible), quando uma cópia dos modelos desenvolvidos por Newberry chegou às suas (do autor) mãos. Por muitos anos o Senhor abriu as portas para o autor ministrar acerca do templo em muitas igrejas na Grã Bretanha, além do Canadá e das Índias Ocidentais. Há alguns anos, sob o título de “Estudos no Templo de Salomão”, o mesmo autor contribuiu com uma série de artigos escritos para a revista Assembly Testimony e aproveita para agradecer a permissão que lhe foi dada pelos diretores da revista para utilizar aqueles artigos como base para o presente livro. Todas as citações das Escrituras são da versão de Almeida Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original — ACF. Outras versões foram utilizadas, como a tradução do Novo Testamento de J. N. Darby, mostrada pela abreviação JND acompanhada da respectiva referência. Também foram utilizadas outras versões ocasionalmente, onde as mesmas foram consideradas úteis para o entendimento do texto. As medidas de comprimento hebraicas são apresentadas pelas medidas originais. As equivalências métricas podem ser conferidas em uma tabela no anexo. CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 10 Cristo é a chave para o entendimento de todas as Escrituras. Isso foi ensinado pelo próprio Senhor Jesus quando, numa ocasião, “explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”. O templo de Salomão não é exceção, mas por ser um tipo, o mesmo nos oferece uma visão impressionante da glória do Senhor que ressuscitou e ascendeu ao céu. Dito isso, eu oro para que a compreensão do leitor acerca da majestosa glória do Senhor possa ser elevada e ampliada. John B. D. Page AGRADECIMENTOS Ao produzir este livro o autor reconhece com gratidão as contribuições recebidas das seguintes pessoas: A. M. Salway Golding por escrever o prólogo. Andrew White pelas fotografias do modelo do templo, das quais as ilustrações coloridas (com exceção daquela intitulada “Dentro do Templo”), foram feitas. David Brandy por seu desenho intitulado “O Templo de Salomão”. Elisabeth Small, filha casada do autor, pelos desenhos dos móveis do templo e de duas árvores. Derek Bishop pelo cálculo, aos valores de hoje, do ouro e da prata utilizados para embelezarem o templo. Joan, a esposa do autor, por seu encorajamento e ajuda espiritual.Merlin Parrington pela digitação do manuscrito. CAPÍTULO 1 Salomão, o mais sábio de todos os reis, elevou a insignificante nação de Israel a um lugar de poder e proeminência no mundo antigo. Durante aquele período o povo desfrutou de paz e prosperidade inigualáveis. Olhando para aquele ilustre período, ocorrido cerca de 500 anos antes, Esdras disse que Salomão era “um grande rei” (cp. 5:11), e Neemias, seu contemporâneo, disse que não havia “entre muitas nações rei semelhante a ele” (cp. 13:26). Essas são breves avaliações de Salomão feitas por dois historiadores sagrados. Em seu livro Salomão e seu Templo, W. W. Fereday diz: “nosso interesse principal em Salomão reside no fato que ele foi uma figura de Cristo. A paz de seu reino, sua justiça e sábia administração, a prosperidade de seu povo e a homenagem recebida da parte dos reis ao redor, sugerem as condições que se tornariam verdadeiras numa escala muito maior e mais gloriosa quando o verdadeiro Ungido de Deus se assentar sobre Seu santo monte Sião” (cf. Salmo 2:6). Como muitas outras nações, entre as quais temos o Egito, a Babilônia, a Pérsia, a Grécia e outras, Israel também pode olhar para um passado glorioso de poder e prosperidade como foram os dias de Salomão. Mas diferentemente daquelas e de outras nações, apenas Israel pode olhar para frente e para o glorioso futuro dos mil anos de Cristo como Rei, que foi prefigurado pelo reinado distinto de Salomão. A Era de Ouro do Reino de Israel CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 14 O REINO ÚNICO DE SALOMÃO As características do reinado de Salomão tornam o mesmo único na história de Israel e prefiguram os dias do futuro reino do Messias sobre a terra. Vamos considerar algumas dessas características. Um Reino Imenso Durante quarenta anos Salomão foi rei de Israel e reinou sobre todos os reinos que foram conquistados e anexados por seu pai Davi (2 Samuel 8:1-15; 1 Crônicas 18:1-14). Seu reino se estendia desde o rio Eufrates até a fronteira com o Egito ao sul (1 Reis 4:21; 2 Crônicas 9:26). A extensão máxima da terra sob sua jurisdição era de aproximadamente 725 quilômetros, conforme a promessa feita pelo SENHOR a Abrão (Gênesis 15:18). Como Salomão, Cristo será “o rei de Israel” (Sofonias 3:15) durante Seu reino milenar. Mas, diversamente de Salomão Ele será “rei sobre toda a terra” (Zacarias 14:9), para o qual os povos em todos os lugares baterão palmas alegremente e cantarão louvores a Ele (Salmo 47:1-2,6-7). Soberania Incontestável Salomão ”dominava sobre tudo quanto havia do lado de cá do rio, Tifsa até Gaza” (1 Reis 4:24). Isso denota que seu poder se estendia desde Tifsa, um entroncamento importante e uma cidade rica localizada às margens do rio Eufrates, até Gaza, que era a cidade filisteia no extremo sul. Nenhum outro rei de Israel igualou tal domínio. Durante Seu futuro reino na terra, Cristo “dominará de mar a mar”, o que significa que dominará desde o golfo Pérsico no Oriente até o mar Mediterrâneo no Ocidente, “e desde o rio até as extremidades da terra” (Salmo 72:8; cf. Zacarias 9:10). Isso indica que Seu domínio se estenderá desde o Eufrates até as mais distantes partes da terra. Um domínio mundial está reservado para Cristo naquele dia futuro. Os reis das nações subjugadas “traziam presentes”, o equivalente a pagar tributo “e serviram a Salomão todos os dias da sua vida“ (1 Reis 4:21). Tal fidelidade era um prenúncio da que existirá no reino messiânico. Quando Cristo reinar como monarca mundial e for o Rei dos reis, então “todos os reis se prostrarão CAPÍTULO 1 - A Era de Ouro do Reino de Israel 15 perante ele; todas as nações o servirão” (Salmo 72:11). Esse reconhecimento universal da autoridade do Messias também aparece em Isaías 45:23: “Por mim mesmo tenho jurado”, cujo significado é que o juramento do SENHOR é irrevogável, “... que diante de mim se dobrará todo joelho, e por mim jurará toda língua”. Sem exceção todos irão se ajoelhar em submissão e jurarão fidelidade ao Messias-Rei. Em Romanos 14:11, esse versículo é citado em referência ao tribunal de Cristo. Mas em Filipenses 2:10-11, Paulo interpreta esse versículo e afirma que todos os seres “que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra” se ajoelharão em submissão diante da menção do nome de Jesus, e com suas próprias línguas confessarão “que Jesus Cristo é o Senhor”, no sentido de que Ele é o soberano supremo e último de todo o universo. Paz sem Precedentes Salomão “tinha paz de todos os lados em redor dele” (1 Reis 4:24), o que era o cumprimento de uma promessa que o SENHOR tinha dado anos antes a Davi acerca de seu filho dizendo: “paz e descanso darei a Israel nos seus dias” (1 Crônicas 22:9). A guerra deu lugar à paz através de seu vasto reino. A paz estava alinhada com o significado do nome Salomão, que é “pacífico”, sendo ele mesmo um homem de paz. Todas as nações ao redor estavam em paz. Nunca antes, nem depois do reinado de Salomão, Israel experimentou tal paz. Era um prenúncio da vinda do reino de paz do Messias. Quando “o Príncipe da Paz” assumir o governo em Jerusalém a paz reinará sobre Israel e o mundo inteiro, assim nos diz o profeta, que prossegue: “do aumento deste principado e da paz não haverá fim” (Isaías 9:6-7). Isto é, em Sua administração não haverá limite quanto à extensão de Seu governo e nenhuma restrição para a paz que Ele dispensará no sentido que haverá “abundância de paz” durante Seu justo reinado (Salmo 72:7). A população aumentou durante o reinado pacífico de Salomão. Como nos diz o narrador: “eram, pois, os de Judá e Israel muitos, como a areia que está junto ao mar em multidão” (1 Reis 4:20). Referindo-se em sua oração à vasta população, Salomão disse ao SENHOR: “... ó SENHOR Deus... tu me fizeste reinar sobre um povo numeroso como o pó da terra” (2 Crônicas 1:9). As partículas de areia e de pó são incontáveis, dessa maneira o CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 16 povo era numeroso. Apesar da grande população, o povo estava “comendo, e bebendo, e alegrando-se” (1 Reis 4:20), o que indica que não tinha falta nem de comida nem de bebida e estava feliz. De igual modo, durante o milênio haverá um suprimento abundante de comida, pois “haverá abundância de grão sobre a terra” (Salmo 72:16, JND). Outra bênção da paz era a segurança. “Judá e Israel habitavam seguros, cada um debaixo de sua videira, e debaixo de sua figueira, desde Dã [ao norte] até Berseba [ao sul], todos os dias de Salomão” (1 Reis 4:25). Esse versículo nos apresenta as condições idílicas daquele período e a mesma frase é utilizada para descrever a beneficência mundial do reino messiânico no futuro (Miqueias 4:3-4; Zacarias 3:10). Precauções Militares A paz sem precedentes foi quebrada por um único registro de guerra, da qual Salomão saiu vitorioso (2 Crônicas 8:3). Salomão não acreditava em desarmamento! Ele possuía uma poderosa força de carruagens de guerra que exigiam quarenta mil cocheiras para abrigar os cavalos das mesmas, além de um grande exército de cavalaria que somava doze mil homens, que ficavam aquartelados, parte em Jerusalém e parte em cidades construídas para esse fim específico (1 Reis 4:26; 9:19; cf. 10:26; 2 Crônicas 1:14; 9:25). Apesar de Salomão ter a opinião que precisava de um exército forte para suprimir eventuais tentativas de revolta dos reis dos quais recolhia impostos, que poderiam perturbar a paz, é possível que tenha exagerado e quebrado o mandamento divino de Deuteronômio 17:14,16 que diz que um rei “não multiplicará para si cavalos”. Em contraste, a regra do “Príncipe da Paz” será o desarmamento para Seu reino pacífico. Com o fim da guerra, todas as nações “converterão as suas espadas em enxadões e as suas lanças em foices“. Armas de guerra serão convertidas em implementos de paz para promover a agricultura. Além disso, “uma nação não levantará espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerrear” (Isaías 2:4). Naqueles dias as academias militares não serão mais necessárias. CAPÍTULO 1 - A Era de Ouro do Reino de Israel 17 Comércio Marítimo Apesar das vantagens de contar com acosta marítima do Mediterrâneo no oeste, e do acesso ao golfo de Ácaba ao sul, o qual supria acesso por meio do Mar Vermelho ao Oceano Índico, Israel não era uma nação marítima. Enxergando a possibilidade de benefícios comerciais por meio do comércio marítimo, Salomão construiu uma frota marítima mercante. Para esse projeto, e certamente para outros projetos após a morte do rei Davi, Salomão estabeleceu uma aliança com Hirão, o rei de Tiro, para ajudá-lo, como seu pai tinha feito anos antes. Com a ajuda habilidosa dos habitantes de Tiro, Salomão construiu uma frota de navios num estaleiro localizado em Ezion- Geber próximo de Elate (hoje chamada de Eilat) situada ao norte do golfo de Ácaba que é, por sua vez, o braço leste do Mar Vermelho. Para tripular os navios Hirão enviou marinheiros experientes para trabalharem juntos com os do rei Salomão. Essa operação conjunta entrou no comércio marítimo com a frota navegando até Ofir e retornando com 420 talentos (veja anexo) de ouro para a o rei Salomão (1 Reis 9:26-28; 2 Crônicas 8:17-18). Além do ouro, grandes cargas de madeira de almugue e pedras preciosas foram trazidas de Ofir (1 Reis 10:11-12). Quanto a localização de Ofir, têm sido sugeridas a Arábia, o leste da África e a Índia, mas sua localização permanece incerta. Salomão tinha no mar “uma frota de navios de Társis” o que, de acordo com um estudioso hebreu, significa “uma frota de grandes navios transoceânicos”. Essa frota navegava com “as naus de Hirão” uma vez a cada três anos “trazendo ouro e prata, marfim, e macacos, e pavões” (1 Reis 10:22; 2 Crônicas 9:21). Uma vez que macacos e pavões não são nativos de Israel nem das nações vizinhas e sim da Índia, essa parte da carga confirma que esses navios transoceânicos realizavam viagens de longo curso. Os macacos e os pavões eram, provavelmente, mantidos nas propriedades reais como uma atração, do mesmo modo que pavões são encontrados em grandes propriedades no Ocidente nos dias de hoje. O comércio de Salomão não era apenas marítimo, mas também terrestre, porque ele, aparentemente, desenvolveu com o Egito um comércio importante de cavalos e fios de linho, e exportava os cavalos para os reis heteus e sírios ao norte (1 Reis 10:28-29; 2 Crônicas 1:16-17). CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 18 Olhando para o futuro distante do reino milenar do Messias, Isaías se dirigiu a Israel dizendo: “então verás, e serás iluminado”, referindo-se a iluminação espiritual, “e o teu coração estremecerá [não com medo, mas vibrará de alegria] e se alegrará...”. A razão para tal alegria tão intensa é mencionada em seguida: “porque a abundância do mar se tornará para ti”, uma referência às enormes quantidades de químicos no Mar Morto, tais como potássio e bromo utilizados para a agricultura e outros propósitos. Isaías prossegue: “e as riquezas dos gentios virão a ti”. Aparentemente, a riqueza virá por meio do comércio com outras nações. O versículo seguinte parece confirmar isso, eles trarão “ouro e incenso...” (Isaías 60:5-6). O PALÁCIO DE SALOMÃO Apenas uma descrição abreviada em 1 Reis 7:1-12 é dedicada ao palácio real. Menos ainda é dito em 2 Crônicas 2:1; 7:11 e 8:1. A filha de Faraó, que se tornou a esposa de Salomão, tinha sua própria residência (1 Reis 7:8). Para um vislumbre do palácio, usaremos a narrativa do livro de Reis. Depois de ter construído o templo, Salomão levou treze anos construindo seu palácio, que era composto de vários prédios, cada um com um nome e propósito distinto. Todo o complexo foi construído com o uso de “pedras de grande valor” (algumas das quais mediam dez côvados e outras oito côvados, que foram usadas nos alicerces) e madeira de cedro. O palácio estava no “grande pátio”, no qual existiam três ordens de pedras lavradas finalizadas com uma ordem de vigas de cedro (vv. 1,9-12). A Casa do Bosque do Líbano Como mais versículos são dedicados a esta parte do palácio, imaginamos que o mesmo fosse a parte principal dos prédios reais (vv. 2-5). O nome não indica que o mesmo fosse uma residência de verão para o rei, localizada no Líbano, mas que era parte do palácio em Jerusalém. Essa construção media cem côvados de comprimento, por cinquenta côvados de largura e trinta côvados de altura (v. 2). Era um salão espaçoso e alto. Com suas colunas e vigas de cedro (v. 2), a aparência do mesmo lembrava CAPÍTULO 1 - A Era de Ouro do Reino de Israel 19 uma floresta de cedros de onde, provavelmente, seu nome foi derivado. Câmaras sustentadas por vigas se encontravam nas laterais do salão. O teto foi todo construído com madeira de cedro. Janelas foram colocadas em grupos de três, opostas umas às outras, para permitir a iluminação natural (v. 4). Todas as portas e janelas eram quadradas. Para a decoração interna, o rei Salomão fez “paveses”, espécie de “escudos”. De acordo com 1 Reis 10:16-17 e 2 Crônicas 9:15-16, ele fabricou duzentos grandes paveses (v. 16) e trezentos pequenos (v. 17). Todos esses escudos foram revestidos com ouro batido — 600 siclos de ouro para cada escudo grande e três arráteis de ouro para cada pequeno. No mundo antigo, os escudos decorativos eram feitos de madeira sólida ou trançada e revestidos com couro. Salomão, por sua vez, usou ouro batido para revestir os mesmos. De acordo com 1 Reis 10:21 (cf. 2 Crônicas 9:20) “todos os vasos da casa do bosque do Líbano eram de ouro puro; não havia neles prata”. Isso indica a imensa riqueza daquele período. Banquetes oferecidos para reis visitantes podem ter sido realizados naquele suntuoso salão. A rainha de Sabá ficou impressionada quando ela viu as taças de ouro e a variedade de comida sobre a mesa, os assentos designados para os oficiais e o serviço e as vestes de seus copeiros (1 Reis 10:5; 2 Crônicas 9:4,20). Podemos ter uma ideia do rico cardápio oferecido para visitantes reais, tais como a rainha de Sabá, a partir da grande variedade e das vastas quantidades de comida que era trazida diariamente para a cozinha do palácio, como listada em 1 Reis 4:22-23 — trinta coros de flor de farinha e sessenta coros de farinha, dez bois cevados, vinte bois de pasto, cem carneiros; afora os veados e as cabras montesas, e os corços e aves cevadas. Partindo dessas enormes quantidades, C. F. Keil em seu comentário do Antigo Testamento (Vol. 3) faz o seguinte cálculo: “se considerarmos ½ quilo de pão para cada pessoa então existiriam 14.000 pessoas na corte de Salomão... esse consumo diário na corte de Salomão não nos parecerá tão grande se, por um lado, o compararmos com outras cortes tanto da Antiguidade quanto dos tempos modernos, e... quando sabemos que muitos impostos na Antiguidade eram pagos na forma de produtos do campo e animais”. CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 20 O autor sagrado diz que os oficiais do rei colocados sobre todo o Israel “proviam... ao rei Salomão e a todos quantos se chegaram à mesa do rei Salomão; coisa nenhuma deixavam faltar” (1 Reis 4:7,27) — os suprimentos feitos a Salomão eram adequados às necessidades. De modo semelhante, os crentes também não têm necessidade de nada. Paulo diz: “O meu Deus, porém, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” (Filipenses 4:19). A expressão “segundo as suas riquezas” indica que o suprimento de Deus supera e é muito maior aos recursos de Salomão. As riquezas de Deus são Sua medida para suprir nossas necessidades. Da mesa real e dos banquetes na casa do bosque do Líbano, voltemos nossa atenção para outras partes do palácio, acerca do qual pouco se fala, mas que não devem ser ignoradas. O Pórtico de Colunas A palavra “pórtico” pode transmitir uma ideia errada ao leitor moderno, então o Salão das Colunas (ERA)1 talvez seja preferível (1 Reis 7:6). O comprimento desse salão era de cinquenta côvados, que correspondiam à largura da casa do bosque do Líbano e, trinta côvados de largura. Junto da escada de acesso à entrada, provavelmente, existiam colunas. Essas colunas eram uma característica arquitetônica. O uso específico desse salão não é mencionado. O Pórtico para o Trono Nesse salãoencontrava-se o trono do rei, então o mesmo pode ser chamado de sala do trono. Nenhuma medida dessa sala é fornecida, mas sabemos que suas paredes eram revestidas com madeira de cedro. Salomão sentava-se em seu trono para julgar uma pessoa ou um problema que lhe era apresentado. Consequentemente, um nome alternativo para esse salão era o pórtico do juízo (1 Reis 7:7). Apesar do autor sagrado falar pouco acerca desse salão, tanto ele quanto o cronista descrevem o trono com detalhes (1 Reis 10:18-20; 2 Crônicas 9:17-19). O trono de Salomão era, sem sombra de dúvidas, uma obra soberba das artes manuais. O 1 N.T. ERA, versão de Almeida Revista e Atualizada no Brasil CAPÍTULO 1 - A Era de Ouro do Reino de Israel 21 “grande trono” era feito de marfim e revestido com o melhor ouro. Seis degraus conduziam ao mesmo, e a parte superior do espaldar era arredondada. Dos dois lados do trono havia apoios para os braços e um leão ao lado de cada apoio. Nas duas extremidades de cada degrau havia um leão, sendo seis leões de um lado e seis do outro. No reino animal, o leão é visto como o rei dos animais. Os dois leões localizados ao lado dos descansos para os braços eram, provavelmente, um símbolo da autoridade do rei. Os doze leões nos seis degraus que conduziam ao trono talvez servissem para indicar o governo real sobre as doze tribos de Israel. Entretanto, acerca desse trono, os dois narradores nos dizem que “nunca se tinha feito obra semelhante em nenhum dos reinos”. A magnificente grandeza do trono era condizente com a grandeza do monarca que se sentava no mesmo. Alguém disse que a grandeza dum monarca do Oriente era julgada pela altura de seu trono, e por isso os reis procuravam os tronos mais altos. O trono de Salomão tinha seis degraus que representavam a grandeza de seu reinado. Vários séculos mais tarde, Isaías teve uma visão do “SENHOR assentado sobre um alto e sublime trono”. O ocupante do trono era “o SENHOR”, Adonai no hebraico, cujo significado é: soberano ou Senhor absoluto. Seu trono era alto e sublime. E excedia a altura do trono de Salomão. O profeta identificou o SENHOR como “o Rei” e o “SENHOR dos Exércitos” (Isaías 6:1,5). Tal visão nos ensina que Cristo, antes mesmo de encarnar, é o grande Rei. A imensa riqueza do reinado de Salomão permanece insuperável na longa história de Israel. Tal riqueza não foi algo que Salomão buscou. Quando o Senhor respondeu ao pedido de Salomão por sabedoria, Ele disse: “Sabedoria e conhecimento te são dados; e te darei riquezas, bens e honra, quais não teve nenhum rei antes de ti, e nem depois de ti haverá” (2 Crônicas 1:12). Assim, a riqueza sem precedentes de Salomão era algo dado por Deus e, de acordo com as Escrituras, algo bem evidente por causa do ouro espalhado por todos os lugares. Seu reino pode muito bem ser chamado de: A era de ouro. A ERA DE OURO “E o peso do ouro, que vinha em um ano a Salomão era de seiscentos e sessenta e seis talentos de ouro”. A quantidade de ouro recebida a cada ano por Salomão era, provavelmente, o valor total arrecadado por meio do comércio marítimo e terrestre, CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 22 dos impostos sobre os territórios dominados e dos presentes que dignitários estrangeiros, tais como a rainha de Sabá, traziam. Ele também recebia tributos “de ouro e prata” dos “reis da Arábia”, os quais ele tinha conquistado. A quantidade desses materiais não é apresentada (2 Crônicas 9:13- 14, cf. 1 Reis 10:14-15). O ouro trazido é citado apenas como sendo por “peso”. Naqueles dias, como também no passado e até mesmo depois do exílio para a Babilônia, os judeus ainda não tinham cunhado moedas próprias, mas usavam siclos e talentos de ouro e de prata, os quais eram pesados nas transações comerciais. O talento era a medida máxima de peso (veja anexo). Não deve nos surpreender que, mais tarde em sua vida, Salomão disse: “Amontoei também para mim prata e ouro” (Eclesiastes 2:8). Ninguém rivalizava com Salomão em termos de riqueza naqueles dias. Para obtermos uma melhor noção da imensa riqueza de Salomão, vamos relembrar alguns pontos salientes. Escudos feitos de ouro batido adornavam as paredes do palácio real, e o diferenciavam de todas as outras residências reais pertencentes a qualquer outro monarca. Cálices de ouro eram utilizados pelo rei Salomão e todos os outros utensílios do palácio eram também feitos de ouro. Nenhum utensílio era feito de prata. Isso era algo sem precedentes. Ouro, e apenas ouro era a característica principal do reinado de Salomão, indicando uma riqueza ímpar para aquele período. Quanto à prata nos dias de Salomão, não tinha valor algum, assim nos diz o autor sagrado. De fato, ele prossegue dizendo: “Fez o rei que em Jerusalém houvesse prata como pedras” (algo comum; cf. 1 Reis 10:21,27). Apenas o ouro tinha valor. Esse é o quadro do reinado de ouro de Salomão, como apresentado nas Escrituras. Esse foi o tempo proposto por Deus para a construção do templo. Salomão foi o rei a quem o SENHOR, em Sua soberania, escolheu para construir o templo. Em nenhum outro momento teria sido possível para o templo ser revestido com ouro, por dentro e por fora. Quando um sacerdote entrava no templo, ele caminhava sobre um piso de ouro e via apenas ouro em todas as suas paredes ao redor e no teto acima. Os adoradores reunidos no pátio, do lado de fora, enxergavam apenas o ouro ao olharem para aquela grande construção dourada. CAPÍTULO 2 Surpreendentemente, não é nos livros históricos de Samuel e dos Reis, e nem mesmo nos livros de Crônicas que encontramos as primeiras citações acerca do templo. Por mais estranho que pareça, a primeira menção ao mesmo é encontrada no livro bem mais antigo de Deuteronômio. Os longos anos de peregrinação pelo deserto estavam agora no passado dos israelitas e, em breve eles cruzariam o leito do rio Jordão. Mas antes de entrarem na terra prometida, temos a menção ao templo, não por meio dessa expressão, mas de forma indireta. O templo não era, inicialmente, uma ideia humana, a mesma se originou em Deus e foi revelada para o Seu servo Moisés. O TEMPLO NA MENTE DE DEUS O tabernáculo era uma estrutura portátil apropriada, primariamente, para o deserto e era um tipo do Cristo encarnado, o qual tabernaculou1 (habitou) entre nós, assim nos diz João em seu evangelho (cp. 1:14). Moisés sabia que tabernáculo não foi planejado para a terra prometida. Então, enquanto o povo de Israel estava acampado na planície de Moabe, a leste do Jordão, ele lhes disse o seguinte: “Mas o lugar que o SENHOR vosso Deus escolher de todas as vossas tribos, para... ali vireis. E ali trareis os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios” (Deuteronômio 12:5-6). 1 A expressão grega traduzida por habitou em João 1:14 tem as seguintes definições no Dicionário Grego de Strong: 1) fixar o tabernáculo, ter o tabernáculo, permanecer (ou viver) num tabernáculo (ou tenda); 2) residir. A Compra da Área do Templo CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 24 Essas palavras anteciparam a adoração ao SENHOR na futura terra. Sem indicar sua localização, “o lugar” da escolha divina estaria numa das partes da terra dividida entre as tribos. Em Deuteronômio 12, Moisés falou pela primeira vez do “lugar que o SENHOR vosso Deus escolher”. Depois temos ainda outras vinte menções na sequência das instruções dadas ao povo, que indicavam a importância da frase referente à escolha do lugar. Durante as peregrinações dos israelitas pelo deserto, o tabernáculo foi levantado em muitos lugares. Mas agora, um novo conceito estava surgindo, pois uma vez que eles tomassem posse da terra não haveria muitos lugares, mas um único lugar como a localização permanente para o santuário. A escolha do lugar não seria feita pelo povo, ou pelo seu líder Moisés, o qual teve permissão apenas para ver a terra e não para entrar na mesma. Nem mesmo Josué, que os conduziu para entrarem na terra, faria tal escolha. A mesma seria feita pelo próprio Deus, como falou Moisés: “o lugar que o SENHOR vosso Deus escolher”. De modo semelhante, uma assembleia local do povo do Senhornão é o lugar para a prática de princípios democráticos, e sim onde o Senhor governa. Portanto, a mente do Senhor, e não o que pensam os membros, deve ser buscada quando for necessária a direção acerca de várias questões. Isso é feito por meio de uma volta para as Escrituras, as quais devem sempre ser o guia. O propósito desse lugar divinamente escolhido não era apenas para o povo trazer suas ofertas, mas para o SENHOR colocar seu nome ali, de tal modo que o mesmo seria identificado com o SENHOR, o Deus de Israel, e não com alguma divindade das nações pagãs ao redor. O lugar deveria ser “sua habitação”. Em seu livro intitulado: Estudos sobre o Livro de Deuteronômio, Vol. 2, C. H. Mackintosh, diz o seguinte: “Aqui é exposta uma grande verdade à congregação de Israel. Deviam ter um lugar de culto, um lugar designado por Deus e não pelo homem. A Sua habitação — o lugar da Sua presença — devia ser o grande centro de Israel; ali deviam vir com os seus sacrifícios e as suas ofertas, e ali deviam prestar o seu culto e encontrar a sua alegria comum”2. 2 Os Estudos sobre o Livro de Deuteronômio - Volumes 1 e 2 -, foi publicado pelo Depósito de Literatura Cristã. CAPÍTULO 2 - A Compra da Área do Templo 25 Esse “grande centro”, citado acima por Mackintosh, o qual deveria ser um santuário permanente onde o povo deveria adorar, estava sujeito a uma importante condição que deveria ser cumprida pelo próprio Deus. Moisés disse o seguinte a Israel: “E vos dará repouso de todos os vossos inimigos em redor, e morarei seguros. Então haverá um lugar que escolherá o SENHOR vosso Deus para ali fazer habitar o seu nome” (Deuteronômio 12:10-11). Em nenhum momento antes, mas apenas no tempo indicado por Deus — quando o SENHOR desse descanso ao povo de Israel e o mesmo estivesse seguro com relação às nações hostis ao redor — “então”, o SENHOR escolheria um lugar onde colocaria Seu nome. Quase quatrocentos turbulentos anos deveriam passar antes de Israel desfrutar do prometido descanso e segurança, de modo parcial nos dias de Davi, mas de modo pleno durante o reinado de Salomão (2 Samuel 7:1; 1 Reis 5:4). Para nós, como cristãos, o descanso para nossas almas e a segurança contra os dardos inflamados do diabo é a porção que nos foi dada por Deus, que tem nossos próprios corpos como Seu lugar de habitação. Mesmo que a escolha divina de um lugar para o templo estivesse na mente de Deus nos últimos dias da vida de Moisés e no encerramento das jornadas dos israelitas pelo deserto, muitos séculos deveriam passar antes que a próxima referência acerca desse projeto possa ser encontrada nas Escrituras, durante o reino de Davi. O TEMPLO NA MENTE DE DAVI O rei Davi estava com cerca de 43 anos de idade. Um dia estava sentado em seu palácio feito de madeira de cedro, que tinha sido construído no Monte Sião por Hirão, rei de Tiro (2 Samuel 5:11). A paz prevalecia na terra, “tendo o SENHOR lhe dado descanso de todos os seus inimigos em redor”. Enquanto estava sentado ali, a ideia de construir uma casa para o SENHOR lhe veio à mente. Davi chamou o profeta Natã e disse: “Eis que eu moro em casa de cedro, e a arca de Deus mora dentro de cortinas” (2 Samuel 7:1-2; 1 Crônicas 17:1-2), se referindo à tenda que ele tinha levantado em Sião para a arca, depois que a mesma foi recuperada das mãos dos filisteus (1 Samuel 5:7-8; 7:1-2). Enquanto ele pensava acerca de seu magnificente palácio de CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 26 madeira de cedro e o comparava com a humilde tenda da arca, um senso de vergonha se apossou dele por negligenciar a arca. Talvez Davi pensasse que suas prioridades estavam erradas, tendo construído sua própria casa antes da casa de Deus. Os exilados que voltaram da Babilônia séculos depois tornaram-se culpados de algo semelhante, pois viviam em casas luxuosas enquanto a casa do SENHOR permanecia em ruínas (Ageu 1:4); é muito fácil os crentes estabelecerem prioridades erradas, de tal modo que o Senhor Jesus não tenha preeminência em todas as esferas de suas vidas. Ao ouvir a proposta de Davi o profeta concordou, dizendo: “Vai, e faze tudo quanto está no teu coração; porque o SENHOR é contigo” (2 Samuel 7:3; 1 Crônicas 17:2). Durante a noite seguinte o SENHOR falou com Natã, o profeta, pois apesar de seu conselho parecer bom, o mesmo não se originara em Deus, mas no próprio Natã e, por isso, estava errado. Certamente, isso é uma advertência para os crentes não buscarem conselho com os homens, mas entenderem a mente de Deus por meio das Escrituras e da oração. Naquela noite, o SENHOR revelou Seu completo conselho a Natã. A essência da mensagem divina foi que a oferta de Davi de construir uma casa para o SENHOR foi recusada, mas tal recusa estava envolta em muitas promessas para a monarquia, a ponto do rei não demonstrar nenhum desapontamento, mas uma aceitação da vontade do SENHOR à medida que o profeta tornou conhecida a mente de Deus para Davi (2 Samuel 7:4-17; 1 Crônicas 17:3-15). Uma alegria avassaladora levantou-se dentro do rei enquanto ouvia o profeta, pois ele foi e sentou-se diante do SENHOR e disse: “Quem sou eu, SENHOR Deus...?”, em seguida Davi orou aceitando a vontade revelada de Deus (2 Samuel 7:18,27-29; 1 Crônicas 17:16,25-27). Voltando à Davi e sua nobre ideia de construir uma casa para Deus, o SENHOR lhe respondeu por meio de Natã, o profeta, com uma pergunta: “Edificar-me-ás tu uma casa para minha habitação?”. Em resposta à Sua própria pergunta, o SENHOR disse: “... farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência... este edificará uma casa ao meu nome” (2 Samuel 7:5,12-13; 1 Crônicas 17:4,11-12). Nessa ocasião, o SENHOR não deu nenhuma razão para impedir Davi de construir a casa do SENHOR, mas apenas revelou que o filho de Davi, ainda não nascido, construiria a casa do SENHOR após a morte do rei. Essa CAPÍTULO 2 - A Compra da Área do Templo 27 foi a primeira informação que Salomão, sem ser nominado, iria construir o templo. Mas antes, um primeiro passo precisava ser dado: o local da construção precisava ser comprado. A COMPRA DA ÁREA DO TEMPLO Do momento em que o SENHOR respondeu ao desejo de Davi de construir uma casa para Deus, 25 anos se passariam (durante os quais o filho prometido nasceria, 2 Samuel 12:24) antes que o próximo passo fosse dado. Isso quer dizer que Davi estava com 68 anos. Ele então decidiu realizar um censo de sua nação. Enquanto contava o povo, ele negligenciou a coleta de meio siclo referente ao dinheiro da expiação devido por cada indivíduo de acordo com Êxodo 30:12-16 (cf. Números 1:2; 26:2). Reconhecendo sua tolice ele confessou a Deus, dizendo: “gravemente pequei em fazer este negócio” (1 Crônicas 21:8). Apesar de sua confissão, o julgamento de Deus caiu sobre a nação com uma peste varrendo toda a terra. O anjo que agora estendia sua mão sobre Jerusalém, para a destruir, estava próximo à eira de Ornã, o jebuseu (nome de um habitante original de uma cidade cananita chamada Jebus, a qual estava edificada sobre o Monte Sião). Davi fez então uma confissão semelhante para o anjo (2 Samuel 24:1-17; 1 Crônicas 21:1-17). A pedido do anjo, o profeta Gade dirigiu-se a Davi dizendo-lhe para edificar um altar na eira onde Ornã estava debulhando seu trigo. Ao ver o rei, Ornã curvou-se e perguntou qual era o propósito de sua visita. Em resposta, Davi disse: “Para comprar de ti esta eira a fim de edificar nela um altar ao SENHOR” (2 Samuel 24:21). Ornã, também chamado de Araúna, aparentemente, tinha adotado a religião de Israel e ofereceu sua eira a Davi como um presente junto com bois para uma oferta queimada e os instrumentos de debulhar como lenha para o fogo; mas o rei insistiu em comprar tudo pelo preço justo, porque de acordo com a lei das ofertas, ele não poderia oferecer para Deus algo que não lhe tivesse custado nada. “Assim Davi comprou a eira e os bois por cinquenta siclos de prata” de Araúna (2 Samuel 24:24). Então Davi construiu um altar e ofereceu ofertas queimadas e pacíficas ao SENHOR. Nos tempos bíblicos, e mesmo em nossos dias, em regiões rurais pouco desenvolvidas,uma eira era um pequeno espaço onde um poste era colocado, mais ou menos, no centro do CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 28 mesmo. Feixes de trigo ou outros cereais eram colocados no chão ao redor do poste, em círculos cada vez maiores, com as espigas voltadas para o centro. Uma corda, com cerca de 12 metros de comprimento, era amarrada ao meio no poste, ficando 6 metros de cada lado. Em seguida, cinco ou seis bois eram alinhados em uma metade da corda, e um número igual na outra metade. Esses bois não deviam ter suas bocas amarradas e eram conduzidos ao redor da área debulhando as espigas com suas patas (Deuteronômio 25:4). O instrumento debulhador, um tipo de rolo, também era passado sobre os grãos. O processo de debulha terminava antes do pôr do sol, e o vento carregava a palha, deixando o grão. Foi uma eira como essa que Davi comprou de Araúna. Na narrativa registrada em Crônicas, que trata dessa transação, algumas diferenças importantes nos mostram que a compra ocorreu em dois estágios. Naquela ocasião Davi disse para Araúna: “Dá-me este lugar da eira, para edificar nele um altar ao SENHOR; dá-mo pelo seu valor” (1 Crônicas 21:22). Novamente Ornã demonstrou generosidade, ao oferecer com a eira os bois para a oferta queimada e os instrumentos de debulhar como lenha. Ele também ofereceu o trigo que havia acabado de ser debulhado como uma oferta de manjares. Mas Davi recusou a oferta e disse que compraria tudo pelo preço justo, dando a mesma razão de antes. “E Davi deu a Ornã, por aquele lugar, o peso de seiscentos siclos de ouro” (1 Crônicas 21:25). Com a compra finalizada, Davi então construiu um altar e ofereceu ofertas queimadas e pacíficas, as quais o SENHOR respondeu enviando fogo do céu (v. 26), indicando com isso a aprovação divina. Essa manifestação fenomenal de fogo não ocorreu antes quando ele apresentou ofertas semelhantes depois de ter comprado a eira, porque, possivelmente, a compra de toda a área ainda não havia sido completada. De acordo com a narrativa no livro de Samuel, Davi comprou “a eira”, que era comparativamente, um pequeno pedaço de terra. Mas em Crônicas, o narrador diz que Davi comprou “aquele lugar”, indicando a terra ao redor da eira. Desse modo, a eira com o terreno adjacente formava uma área maior, a qual, de acordo com um autor, os arqueólogos afirmam que cobria um espaço estimado de 3,24 hectares. Isso pode parecer uma área grande, mas como diz C. F. Keil (citando Josephus, Guerras CAPÍTULO 2 - A Compra da Área do Templo 29 dos Judeus Vol. VI, 6.2, numa nota de rodapé): “que o templo ocupava a totalidade do Monte Moriá ao oeste e se estendia até o vale de Tiropeon3”. A razão porque Davi comprou aquela área é apresentada em 1 Crônicas 22:1, o qual deveria, na verdade, ser o último versículo do capítulo 21. Esse versículo diz: “E disse Davi: esta será a casa do SENHOR Deus, e este será o altar do holocausto para Israel”. Nessa afirmação Davi usa o pronome esta/este duas vezes. Davi diz que “ali”, referindo-se ao espaço maior de terra ao redor da eira, seria estabelecida “a casa do SENHOR”. Então, ele diz novamente que “ali”, referindo-se à porção menor representada pela eira, como sendo o lugar do “altar do holocausto”. Obedecendo as palavras de Davi, seu pai, Salomão construiu o templo e o altar nessas respectivas posições, alguns anos depois. O preço pago por Davi pela eira foi “cinquenta siclos de prata”, e para a terra ao redor foi “seiscentos siclos de ouro”, que foram “pesados”, conforme diz o cronista, de acordo com o costume local daquele tempo. Nessas duas transações Davi evitou fazer os dois pagamentos em prata, mas usou prata para o primeiro e ouro para o segundo, algo que não deixa de ter, aparentemente, um significado sagrado simbólico. Quando esses e outros símbolos são interpretados, alguns dos quais são mais fáceis de explicar do que outros, é bom não usar de muita imaginação e ideias não bíblicas fazendo com que o assunto caia em descrédito. É bom ser lógico e bíblico, usando as Escrituras para interpretar as Escrituras, algo que irá promover a edificação espiritual. Ao comprar a área para o templo, é importante notar que a prata, que simbolicamente representa “os sofrimentos de Cristo”, foi usada primeiro e depois o ouro, que pode significar “a glória que deveria seguir-se” (cf. 1 Pedro 1:11). Seus sofrimentos e Sua glória, especialmente essa última, são elementos fundamentais ensinados pelo templo. A morte sacrificial de Cristo é simbolizada pelo altar do templo sobre o qual as ofertas foram sacrificadas, o qual estava localizado na área comprada com a prata. Sua ressurreição gloriosa está prefigurada pelo templo, onde nada, a não ser o ouro, era visível, o qual foi construído no terreno comprado com o ouro. 3 N. do T. O vale do Tiropeon designa o pequeno espaço que existe entre os montes Sião e Moriá. CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 30 A PREPARAÇÃO DOS MATERIAIS PARA A CONSTRUÇÃO Com o terreno adquirido, Davi não demorou em preparar os materiais para o templo que seria construído por seu filho. Ele ordenou o ajuntamento dos “estrangeiros” (provavelmente descendentes dos cananeus que não foram destruídos pelos israelitas quando se apossaram da terra), os quais Davi colocou como cortadores e preparadores das pedras para a casa de Deus. Davi também preparou uma grande quantidade de ferro para os pregos necessários para a fabricação das portas das entradas, além de ajuntar uma vasta quantidade de cobre. Os sidônios e os tírios trouxeram um suprimento abundante de madeira de cedro (1 Crônicas 22:2-4). Ao justificar a preparação de todos esses materiais de construção, Davi disse que Salomão, seu filho, era ainda jovem (provavelmente tinha cerca de 20 anos) e inexperiente, e a casa que deveria ser construída para o SENHOR deveria ser “magnífica em excelência”. O ideal de Davi deve ser nosso ideal na obra do Senhor, pois Deus é digno de receber apenas o melhor. A magnificência do templo deveria ser “para nome e glória em todas as terras”, disse Davi. Ele desejava que outras nações viessem a conhecer esse majestoso templo. Assim também, nós devemos tornar conhecidas as glórias de Cristo. Nos dias da graça temos a magnificência da “casa espiritual”, que o Senhor está edificando agora com “pedras vivas” (1 Pedro 2:5). Essa edificação ultrapassa o templo que Davi tinha em mente. Sua magnificência não está em nós mesmos, mas em Cristo que é a encarnação da glória divina a qual é irradiada através de nós. Tomado pela ideia da construção “magnífica em excelência”, Davi afirmou resolutamente: “Eu, pois, agora lhe prepararei materiais”. Então o escritor sagrado acrescenta: “Assim preparou Davi materiais em abundância, antes da sua morte” (1 Crônicas 22:5). Com uma determinação semelhante, nós, os cristãos, devemos servir ao Senhor antes de nossa morte — ou antes que o Senhor retorne. Davi fez os preparativos para a casa de Deus “antes de sua morte”. Em contraste, Cristo fez preparativos para a casa espiritual não “antes”, mas por Sua morte, que foi o meio pelo qual Ele preparou o fundamento para CAPÍTULO 2 - A Compra da Área do Templo 31 a casa espiritual dos dias de hoje. A cruz foi onde, pela graça de Deus, Ele experimentou a morte por todos os homens, trazendo muitos filhos à glória (Hebreus 2:9-10). O COMISSIONAMENTO DE SALOMÃO Pouco antes de sua morte, Davi chamou seu filho Salomão e ordenou-lhe que construísse o templo (1 Crônicas 22:6-16). Referindo-se aos anos anteriores ao nascimento de Salomão, Davi disse: “Tive em meu coração o propósito de edificar uma casa ao nome do SENHOR meu Deus” (v. 7; cf. 2 Samuel 7:2). Mas, quanto à Igreja, não se trata de algo planejado por Deus há séculos, mas sim desde a eternidade (Efésios 1:4). A edificação da Igreja é um projeto mais elevado. Quanto à nobre intenção de Davi, o SENHOR lhe disse que, porque ele tinha sido um homem de guerra, não lhe seria permitido construir o templo (v. 8). Mas essa tarefa estava reservada, pelo conselho divino, para o seu “filho... [o qual] será homem de repouso”. Emseguida, o SENHOR disse: “repouso lhe ei de dar de todos os seus inimigos ao redor”. Essa foi a condição dada, séculos antes, por Moisés aos israelitas, quando disse que o SENHOR iria escolher o lugar na terra onde Ele iria habitar (Deuteronômio 12:9-10). De modo apropriado, o filho foi chamado “Salomão”, cujo significado é ‘pacífico’, a quem o SENHOR prometeu dar “paz e descanso” durante o seu reino, quando então, “ele edificará uma casa ao meu nome” (vv. 9-10). Davi aqui estava se referindo à profecia que veio por meio de Natã o profeta, cerca de 25 anos antes (2 Samuel 7:13). Tendo relatado a Salomão essa mensagem profética relativa à sua pessoa e à construção do templo como apresentada por Natã, o profeta, antes mesmo que Salomão tivesse nascido, Davi disse a seu filho, concluindo, como ele já tinha acumulado os materiais para a construção do templo. “Eis que na minha aflição”, disse Davi, “preparei para a casa do SENHOR”, o seguinte: cem mil talentos de ouro e um milhão de talentos de prata (veja anexo), e também uma quantidade abundante de cobre e ferro que não foram pesados, além de madeira e pedras. Ao final, Davi disse: “e tu suprirás o que faltar” (v. 14). Apesar de Davi ter sido proibido de construir o templo, ele recebeu permissão para fazer preparativos para o mesmo. Enormes quantidades foram CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 32 ajuntadas por ele: “na minha aflição” ou “por meio de meu serviço sacrificial” (Keil), disse Davi. Por meio de seu serviço sacrificial Davi adquiriu ouro e prata de inestimável valor, o que pode ser entendido como um prenúncio do sofrimento de Jesus Cristo, que experimentou “as dores da morte” (Atos 2:24) para nos abençoar com incomparáveis “bênçãos espirituais” (Efésios 1:3). Em seguida Davi menciona os muitos trabalhadores especializados que ele havia separado (vv. 15-16; cf. v. 2). Voltando-se para o seu filho, Davi disse: “Levanta-te, pois, e faze a obra, e o SENHOR seja contigo” (v. 16). Tendo preparado vastas quantidades de material de construção e organizado um grupo de artesãos, Davi disse a seu filho para não demorar em iniciar a obra de construção do templo. A demora em realizar nossas tarefas acaba prejudicando nosso testemunho como cristãos sinceros; e ao demorar para realizar a obra da Igreja estamos roubando o Senhor, no que diz respeito a nosso tempo e esforço para Ele. Ser demorado não é uma característica de Deus, pois “o Senhor não retarda a sua promessa” (2 Pedro 3:9), e nós também não devemos nos demorar em fazer a obra do Senhor. O AUXÍLIO DOS PRÍNCIPES Para realizar a obra da construção do templo, não se esperava que Salomão estivesse sozinho, portanto, Davi ordenou que todos os príncipes de Israel o ajudassem (1 Crônicas 22:17-19). Do mesmo modo, na Igreja, nenhum de nós deve trabalhar de modo independente, porque “somos cooperadores” (1 Coríntios 3:9). Em sua exortação para esses líderes, Davi lembrou-lhes que Deus tinha favorecido a nação com “repouso ao redor”, e o pequeno número de cananeus que ainda habitava a terra estava dominado. Com a paz assegurada, que era o requerimento divino para esse projeto de construção, ele chamou os príncipes para buscarem o SENHOR com “vosso coração e a vossa alma”. “Levantai-vos”, disse Davi, “e edificai o santuário do SENHOR Deus, para que a arca da aliança do SENHOR, e os vasos sagrados de Deus se tragam a esta casa”. CAPÍTULO 3 O interesse de Davi não era apenas material, mas também espiritual. Apesar de pertencer à tribo real de Judá e não à tribo de Levi, ele estava preocupado com os levitas e suas responsabilidades no templo. A ORGANIZAÇÃO DOS LEVITAS Davi organizou os levitas e os sacerdotes deixando-os prontos para dirigirem os cultos no templo, como está registrado nos capítulos 23 a 26 do primeiro livro de Crônicas, e em nenhum outro lugar. Nos últimos anos de seu reino, e depois de ter realizado o censo, Davi fez esses amplos arranjos. Os levitas foram divididos em grupos e receberam diversos deveres (cp. 23). Os sacerdotes foram classificados em vinte e quatro divisões ou grupos (cp. 24). Músicos foram selecionados entre os levitas e classificados em vinte e quatro divisões (cp. 25). Porteiros e administradores do tesouro do santuário também foram indicados (cp. 26). Na proporção em que esses capítulos se relacionam com o templo, temos interesse por eles, uma vez que os mesmos lançam luz sobre as tarefas realizadas no templo, que durariam por séculos. Para os crentes, existem muitos elementos para meditação. Preparativos Sagrados CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 34 Os Deveres dos levitas Para a organização do culto no templo, Davi reuniu toda a liderança civil junto com os sacerdotes e os levitas, para que todos estivessem plenamente familiarizados com o mesmo. O número de levitas com idade igual ou superior a 30 anos era de 38.000, assim distribuídos: 24.000 promoviam a obra do templo; 6.000 eram oficiais e juízes; 4.000 porteiros; e 4.000 cantores para louvarem o SENHOR com instrumentos de corda (1 Crônicas 23:2- 5). De acordo com o parágrafo seguinte, versículos 6-26 do capítulo 23, Davi dividiu os levitas para realizarem suas tarefas no templo em três grupos, de acordo com os três filhos de Levi: Gérson, Coate e Merari. Davi estabeleceu primeiro os chefes das famílias dos gersonitas (vv. 7-11), em seguida dos coatitas (vv. 12-20) e, por fim, dos meraritas (vv. 21-23). O nome desses três cabeças das famílias tem os seguintes significados: Gérson significa “exílio”, “peregrino” ou “estrangeiro”, que sugere a separação dos crentes — do mundo e para o Senhor, o que é a base para uma vida de santidade. Coate significa “assembleia” ou “aquele que reúne”, que dirige nossos pensamentos para a assembleia local dos crentes, sobre a qual diferentes dons são derramados para que funcione de acordo com as Escrituras. Merari significa “amargura”, que nos lembra da amargura quando a comunhão dos santos é rompida e o prejuízo que isso traz para a obra do Senhor. No último parágrafo (vv. 24-32) do capítulo 23, a contagem dos levitas deveria incluir os homens com 20 ou mais anos, uma vez que a nação desfrutava de paz e não seria mais necessário transportar o tabernáculo. As funções dos levitas deveriam ser governadas pelos descendentes de Arão, os sacerdotes, nos pátios do templo e “para louvarem e celebrarem ao SENHOR” com cânticos (v. 30). O número total de cantores era de 4 mil (v. 5; cf. 25:3). Junto com os sacrifícios diários da manhã e da tarde, eles deveriam estar presentes nos sacrifícios semanais, mensais e anuais (v. 31) — como listados em Números 28 e 29. Os Sacerdotes foram Organizados em Divisões Até aqui, os arranjos de Davi diziam respeito aos levitas, cujas tarefas estavam confinadas aos pátios. Em 1 Crônicas 24:1-19, ele organizou o serviço sacerdotal em 24 CAPÍTULO 3 - Preparativos Sagrados 35 divisões. Os sacerdotes entravam no lugar Santo do templo para realizar suas tarefas — apenas o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, um único dia por ano. As famílias sacerdotais eram descendentes dos dois filhos mais novos de Arão (os dois filhos mais velhos de Arão perderam a vida num juízo divino, séculos antes; cf. Levítico 10). Davi organizou os filhos que descendiam de Eleazar, o filho mais velho de Arão, em 16 divisões, tendo Zadoque como o principal sacerdote. Em seguida, ele organizou os descendentes de Itamar, filho mais novo de Arão, em 8 divisões, com Aimeleque como principal sacerdote. Dessa forma foi organizado o serviço sacerdotal (v. 3). Dos descendentes de Eleazar, “16 chefes” foram indicados para comandarem as famílias. E dos descendentes de Itamar, 8 foram escolhidos (v. 4). Esse número, total de “24 chefes”, pode muito bem representar os precursores do número similar dos principais sacerdotes que existiam nos dias do nosso Senhor. Para essas funções, os sacerdotes foram repartidos por sortes (v. 5). A repartição por sortes era algo divinamente aprovado. Por exemplo, as sortes foram autorizadas pelo SENHOR como o método para escolher o bode emissário doDia da Expiação (Levítico 16:8) e mais tarde, para a distribuição da terra prometida entre as doze tribos de Israel (Números 26:55). Para os sacerdotes dos dias de Davi, “saiu a primeira sorte a Jeoiaribe, a segunda a Gedaías”, e assim por diante em sucessão. Cada indivíduo sorteado era nomeado cabeça da casa de seu pai. Dessa maneira, os sacerdotes foram separados em 24 divisões — 16 descendentes de Eleazar (vv. 7-14) e 8 de Itamar (vv. 15-18). O cronista em seguida nos diz: “o ofício destes no seu ministério era entrar na casa do SENHOR” (v. 19). Para entrarem na casa do SENHOR e realizar suas funções, cada divisão trabalhava por uma semana, de sábado a sábado (Josefo). Para ter uma melhor compreensão de como os sacerdotes trabalhavam, podemos observar a vida de Zacarias, o pai de João Batista, que pertencia à ordem de Abias (Lucas 1:5), que era a oitava divisão e eram descendentes de Eleazar (1 Crônicas 24:10). Quando essa divisão sacerdotal de Abias estava de serviço no templo por uma semana, sortes eram lançadas para determinar qual sacerdote deveria trabalhar durante os sacrifícios da manhã e da tarde de cada dia, quando o incenso era queimado no lugar Santo do templo. A sorte caiu em Zacarias para “entrar CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 36 no templo do Senhor para oferecer o incenso” sobre o altar de ouro diante do véu, enquanto “a multidão do povo”, do lado de fora no pátio, “estava orando”, durante o período conhecido como a “hora do incenso” (Lucas 1:8-10). O sistema de sacerdócio Aarônico do templo, que foi iniciado com o tabernáculo do Sinai (Êxodo 28:1), continuou até que Caifás, em grande ira, quebrou a lei, rasgando suas roupas durante o julgamento do Senhor Jesus (Levítico 21:10; Marcos 14:63), marcando com isso, o fim do propósito de Deus para a época da lei. Os crentes são um sacerdócio santo na época presente da graça, e desse modo, cada crente é capaz de oferecer sacrifícios espirituais que são aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo, seu Sumo Sacerdote, o qual também intercede por eles (1 Pedro 2:5; Romanos 8:34). Na época de justiça futura, Israel será um reino, que corresponde ao propósito que Deus tinha no Sinai, mas que foi obstruído pelo pecado. Mas no futuro, toda a nação agirá como sacerdotes a serviço das outras nações (Êxodo 19:6; Isaías 61:6), e Cristo será o Sacerdote-Rei de Israel, assentado sobre Seu trono no templo milenar (Zacarias 6:13). A Escolha dos Músicos e Cantores Ao contrário dos cultos no tabernáculo, no templo deveria existir um coral com acompanhamento musical. Esse coral deveria ser conduzido de forma apropriada em dias específicos (1 Crônicas 23:30), e envolvia 4.000 indivíduos (v. 5). O aspecto musical da adoração foi organizado por Davi com “os capitães do exército”. Essa última expressão se refere aos “capitães de Israel”, isso está registrado em 1 Crônicas 25. A música deveria ser feita por meio de harpas, címbalos e saltérios. Davi separou os filhos de Asafe, de Jedutum e de Hemã, os quais foram designados como os três principais líderes do louvor para a adoração no templo. Nos versículos 2 a 5 do capítulo 25, os filhos desses três líderes são enumerados. Asafe, um gersonita (1 Crônicas 6:39-43), “profetizava”, o que indica que ele era divinamente inspirado. Louvaram a Deus ao serem solicitados pelo rei para tocarem (v. 2). Jedutum (também conhecido como Etã), um merarita (1 Crônicas 6:44-47), “profetizava com a harpa, louvando e dando graças ao SENHOR” (v. 3), o que parece indicar que ele tocava a harpa de modo inspirado para o louvor do SENHOR. Também CAPÍTULO 3 - Preparativos Sagrados 37 encontramos os filhos de Hemã, um coatita (1 Crônicas 6:33-38), que era “vidente do rei”, assim chamado provavelmente no sentido de ser um profeta para o rei. Os seus filhos exaltavam “o poder de Deus” (v. 5). Pelas relações familiares, como indicadas acima, temos a impressão que Asafe, Jedutum e Hemã eram descendentes diretos dos três filhos de Levi: Gérson, Merari e Coate. Naqueles dias eles já eram conhecidos por Davi por causa de seus talentos musicais. Quando a arca foi trazida e colocada na tenda levantada por Davi em Sião, ele desejava que músicos acompanhassem o festejo. A seu pedido, o chefe dos levitas indicou Hemã, Asafe e Etã, para cantar com alegria, acompanhados por saltérios, harpas e címbalos naquele grande evento (1 Crônicas 15:16-17). Dessa maneira, tempos depois, eles foram escolhidos por Davi para administrarem a música e os cânticos no templo. Outros levitas, mencionados depois nesse mesmo capítulo (25:7-31), foram indicados para dirigirem os músicos. Assim, 288 líderes de cânticos, que eram “instruídos no canto ao SENHOR” (não no canto dos homens ou do mundo) foram designados (vv. 7-8). Por conveniência, o número deles de 288 foi dividido em 24 grupos, sendo 12 deles para cada turno com seu respectivo líder (vv. 9-31). Porteiros e as Entradas ou Portões dos Pátios Ao redor do templo havia três pátios, mas pouca informação nos é oferecida pelos escritores sacros acerca de seus portões. Para servirem às entradas dos pátios, 4.000 porteiros foram designados (cp. 23:5). Para organizar tal número de indivíduos, chefes foram escolhidos por meio do lançamento de sortes e os mesmos foram separados de três famílias de levitas apresentadas no capítulo 26. Sem entrarmos muito no detalhe dessas escolhas, os significados dos nomes dos cinco chefes são interessantes. O nome Levi, de quem eles eram descendentes, significa ‘unido’, o que sugere que, por meio da obra de regeneração do Espírito Santo, todos os cristãos estão ajuntados “com o Senhor” (1 Coríntios 6:17). Começando com o portão leste, uma vez que o templo estava voltado para o leste, os cinco chefes são nominados (vv. 14-16). Selemias (v. 14) ou Meselemias (v. 1) foi designado para o portão leste por meio do lançamento de sortes. Seu nome CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 38 significa “tratado como amigo pelo SENHOR” ou “o SENHOR retribui”. Isso implica que a amizade se origina não do homem, mas do Senhor, ao qual ele foi “unido” por meio de seu ancestral Levi. Entre os santos do Antigo Testamento, Abraão teve o privilégio de ser chamado “o amigo de Deus” (Tiago 2:23). Estando no cenáculo, depois que Judas Iscariotes saiu, o Senhor Jesus chamou os discípulos ali reunidos de “meus amigos” (João 15:14), indicando que eles eram amados por Ele. Depois da Sua ressurreição o Senhor se referiu aos discípulos como “meus irmãos” (João 20:17), que é algo maior que uma expressão de amor, pois se refere a uma identidade de natureza e vida. E isso tem origem no Senhor ressuscitado. Zacarias foi designado para o portão norte (v. 14) e o significado de seu nome é “o SENHOR se lembra” ou talvez “o SENHOR é lembrado”. Diante dos emblemas colocados na mesa no cenáculo, o Senhor Jesus disse: “fazei isto em memória de mim”. Nossa reunião para celebrarmos a ceia do Senhor, no primeiro dia da semana, é a ocasião para nos lembrarmos e refletirmos acerca de Sua maravilhosa Pessoa, “o Deus manifestado em carne”, e o valor de “Sua obra redentora e Sua morte”. Obede-Edom foi designado para o portão sul (v. 15), e o significado do seu nome é “servo de Edom”. Esse nome é um modo alternativo de se referir a Esaú, cujos descendentes, assim como seu progenitor, mantiveram uma atitude hostil contra Jacó e os israelitas, o povo de Deus. Como pré-figurado pelo significado do nome Obede-Edom, o crente carnal é governado por sua natureza não regenerada e é servo dela. Consequentemente, ele é mentalmente carnal e a “inclinação da carne é inimizade contra Deus” (Romanos 8:7). Supim e Hosa foram designados para o portão no oeste, junto à porta Salequete, perto do caminho da subida (v. 16). O caminho da subida, aparentemente, se refere à subida que ia do palácio real até o templo do SENHOR. Esse caminho era para uso exclusivo do rei, mas como ele não era de descendência sacerdotal, ele tinha permissão para entrar apenas nos pátios e não no templo. De modo diverso dos outros três portões, dois indivíduos foram designadospara esse portão. Supim significa “serpente”, o que nos sugere os ataques sutis de nosso arqui-inimigo, que é assim representado. Todavia, encontramos conforto no nome de Hosa, cujo significado é “refúgio”. Esse CAPÍTULO 3 - Preparativos Sagrados 39 nome nos faz lembrar da nossa segurança. A segurança do cristão não é temporal, mas eterna, e não é suprida pelo homem, mas por Deus. A segurança dos cristãos vem do próprio Senhor Jesus, que afirmou que ninguém é capaz de os arrebatar da mão do Pai (João 10:29). Tesoureiros Designados para Cuidar das Ofertas O versículo 20 deste parágrafo (cp. 26:20-28) introduz o assunto dos encarregados dos “tesouros da casa de Deus e dos tesouros das coisas sagradas”. Mais tarde, esses dois grupos de tesoureiros são mencionados separadamente (vv. 22,26), porque suas atividades se tornariam a responsabilidade de duas famílias de levitas. Os filhos de Ladã, um gersonita, deveriam supervisionar “os tesouros da casa do SENHOR” (vv. 21-22). Esses tesouros diziam respeito às ofertas voluntárias recebidas do povo (1 Crônicas 29:8). Outros levitas, descendentes de Moisés, tinham responsabilidade semelhante (vv. 23-26). Sebuel, que era descendente do filho mais velho de Moisés, Gérson, “era o chefe dos tesouros” (v. 24; cf. Exôdo 2:22), o que pode significar que ele era o chefe sobre todos ou apenas sobre alguns tesouros. Selomite e seus irmãos, descendentes de Eliézer, que era o filho mais novo de Moisés, tinham sob sua responsabilidade “os tesouros das coisas dedicadas” (vv. 25-26; cf. Êxodo 18:3-4). De todos esses tesouros, Davi e os chefes militares tinham contribuído dos espólios recolhidos nas batalhas. Esses despojos foram dedicados “para repararem a casa do SENHOR” e mantê-la em boas condições. Nesse parágrafo, o pensamento dominante é o tesouro, que pode ser entendido, a partir das Escrituras, de duas maneiras. O SENHOR escolheu a Israel como “seu próprio tesouro” (Êxodo 19:5; Salmo 135:4), o que, de acordo com um estudioso, pode ser traduzido como ‘o tesouro adquirido para ser possuído’, denotando que Israel estava reservado para o próprio Deus. Esse é um privilégio que foi dado por Deus para Israel, e que incluía uma posição única entre as nações; mas por causa dos caminhos pecaminosos do povo de Israel, nunca foi plenamente realizado, apesar de nunca ter sido revogado pelo SENHOR. Quando o milênio despontar, a verdade dessa designação divina de Israel será entendida em sua plenitude, durante o justo reinado do Messias. Os cristãos têm tesouros não CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 40 encontrados nesse mundo no qual peregrinam, mas em Cristo, “em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Colossenses 2:3). A sabedoria e o conhecimento de Cristo, o qual é Onisciente, são infinitas, imutáveis e eternas. Sua sabedoria e conhecimento são inesgotáveis e estão sempre disponíveis para o crente. Designações Administrativas Outras indicações e designações administrativas foram feitas por Davi. Todavia, como elas não estão relacionados com o templo nem ao culto, iremos analisá-las apenas brevemente. Dentre os levitas foram designados oficiais e juízes (1 Crônicas 26:29-32). Todos esses eram da cidade de Hebrom, dos quais 1.700 tinham a responsabilidade de supervisionar a parte de Israel localizada a oeste do Jordão (v. 30), e 2.700 tinham a responsabilidade de supervisionar as tribos a leste do Jordão (vv. 31- 32). O exército foi organizado em 12 divisões, cada uma com 24 mil homens, sobre os quais havia 12 oficiais comandantes; desse modo o exército era composto de 288 mil soldados. Eles trabalhavam em rodízio, em períodos mensais, ao longo do ano (1 Crônicas 27:1-15). Durante esse tempo, Davi era dono de grandes propriedades que exigiam gerenciamento. De acordo com o capítulo 27:25-31, ele organizou a administração dos celeiros e do trabalho no campo. Ele designou supervisores encarregados dos homens no campo, das vinhas, das adegas, das oliveiras e dos sicômoros e dos depósitos de azeite de oliva (vv. 26-28). Outros tinham a responsabilidade de supervisionar o gado, os camelos, os jumentos e as ovelhas (vv. 29-31). Como oficiais conselheiros para questões de Estado, Davi designou homens que são nominados em 1 Crônicas 27:32-34. Desses capítulos do livro de Crônicas, podemos perceber que a habilidade organizacional de Davi, tanto em questões religiosas quanto civis, que envolviam um grande número de homens, era absolutamente marcante. Ao contrário desse reino bem organizado, preparado por Davi para seu filho Salomão, a Igreja não é uma organização; a Igreja é um organismo vivo que, essencialmente, funciona como um corpo coordenado, formado por seus membros CAPÍTULO 3 - Preparativos Sagrados 41 interdependentes, que são vivificados pelo Espírito Santo e funcionam para a glória de Cristo. O trabalho na assembleia local não é distribuído pelo homem, mas pelo Santo Espírito, conforme Ele “mesmo quer” (1 Coríntios 12:11). Davi completou sua extensa organização religiosa, militar, civil e administrativa, de tal modo que pudesse entregar o reino em ordem para seu filho Salomão antes da sua morte. Isso garantiu a realização da grande obra, para a qual Salomão estava destinado durante seu reino — a construção do templo. CAPÍTULO 4 Com a idade avançada e a saúde debilitada, o rei Davi decidiu se dirigir a todos os líderes do povo de Israel explicando-lhes a razão para a construção do templo, e como ele tinha feito os preparativos para a mesma. As instruções finais de Davi acerca do templo e sua morte ocupam dois capítulos: 1 Crônicas 28 e 29. O PROPÓSITO DO TEMPLO Pela última vez, Davi reuniu todos os príncipes de Israel, os príncipes tribais, os capitães do exército e muitos outros oficiais em Jerusalém para falar-lhes (1 Crônicas 28:1-10). Em pé, diante daquele grande ajuntamento, Davi iniciou suas solenes palavras com o templo em mente, um tema que lhe era muito importante. Ele disse: “Em meu coração propus eu edificar uma casa de repouso para a arca da aliança do SENHOR e para o estrado dos pés do nosso Deus” (cp. 28:2). Aproximadamente 27 anos tinham se passado desde que desejou em seu coração construir o templo (1 Crônicas 17:1-2), o qual ele descreve aqui como uma “casa de repouso”, uma frase impressionante, mas que estava bem alinhada com as condições pacíficas experimentadas por Israel. O rei Salomão, que mais tarde construiu aquela casa, era “homem de repouso” (1 Crônicas 22:9), e durante seu reinado pacífico ele recebeu da parte de Deus “descanso de todos os lados” (1 Reis 5:4). “A Preparando a Construção CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 44 arca da aliança do SENHOR” deveria ser colocada no templo, o qual Davi chamou de “estrado dos pés do nosso Deus”. Essa designação da arca nos apresenta a chave para entendermos o significado da mesma para os santos daqueles dias. Se a arca era o estrado de Deus, como Davi afirmou, então, o propiciatório era Seu trono. Isso nos é apresentado no Salmo 99, onde o poeta diz: “O SENHOR reina... Ele está assentado entre os querubins” (v. 1), e um pouco mais adiante pede-se ao povo: “prostrai-vos diante do escabelo dos seus pés” (v. 5). O SENHOR é apresentado pelo salmista como o Soberano sentado entre os dois querubins localizados um de cada lado do propiciatório, que era Seu trono, e o povo é chamado para vir e adorar aos Seus pés, simbolizados pela arca (cf. Êxodo 25:10-11,17-18 e 21-22). Em seguida, Davi disse aos líderes reunidos que ele “tinha feito o preparo” dos materiais e do pessoal para a construção do templo, mas Deus o tinha impedido de levar seu plano adiante, porque ele tinha sido um “homem de guerra” (cp. 28:2-3). Davi demonstrou para sua audiência, a partir de sua própria vida, a soberania de Deus na eleição. Ele disse: “Deus... escolheu-me” para ser rei sobre a casa de Israel, do mesmo modo como também “a Judá escolheu” dentre as 12 tribos das quais deveria proceder o governante, sendo ele mesmo, Davi, membro daquela tribo. “De todos os meus filhos”, disse Davi, “o SENHORescolheu o meu filho Salomão” para herdar o trono e a ele confiou a construção do templo (cp. 28:4-6). O idoso rei voltou-se então para seu jovem filho Salomão, exortando-o a servir lealmente ao SENHOR, e, pessoalmente lhe disse: “O SENHOR te escolheu para edificares uma casa para o santuário; esforça-te, e faze a obra” (cp. 28:9-10). Quanto a nós cristãos, a força para fazermos a obra do Senhor encontra-se não em nós mesmos, mas em Deus. O apóstolo Paulo disse: “Fortalecei-vos no Senhor” (Efésios 6:10). Apesar do profundo desejo de Davi, por muitos anos, de construir o templo, ele não demonstrou qualquer ressentimento com o SENHOR por não lhe permitir construir o mesmo e por ter escolhido seu filho, Salomão, para essa tarefa. Ele reconheceu a soberana mão de Deus em ação. Ele aceitou a mão esquerda da restrição de Deus acerca de si mesmo e a mão direita da direção CAPÍTULO 4 - Preparando a Construção 45 de Deus estendida para seu filho Salomão. Nessa questão crucial e pessoal para Davi, sua atitude de submissão ao SENHOR foi exemplar e serve de modelo para os cristãos que andam no caminho da consagração seguindo ao Senhor Jesus. A CONTRIBUIÇÃO DE DAVI Depois de entregar a planta do templo para Salomão (1 Crônicas 28:11-21), algo que iremos considerar mais adiante, Davi voltou-se para os líderes reunidos (1 Crônicas 29:1-9). Tendo mencionado a escolha de Deus e também a juventude de Salomão, seu filho, para construir o templo, Davi então lhes disse: “Esta obra é grande; porque não é o palácio para homem, mas para o SENHOR Deus” (cp. 29:1). Na mente de Davi a obra era grande porque o templo deveria ser um “palácio” magnificente e deveria ser construído não para o homem, mas para Deus. O idoso rei apreciava a grandeza da obra a ser realizada, porque o SENHOR era digno de uma construção palacial para Sua habitação. Em nossos dias, nós precisamos entender que a obra é grande na Igreja, porque a mesma não é voltada para o homem, mas para a glória de Cristo. “Eu, pois, com todas as minhas forças já tenho preparado para a casa de meu Deus”, disse Davi, cujo incansável zelo deveria ser um exemplo para nos estimular na obra do Senhor. Ele preparou ouro, prata, cobre, ferro, madeira, pedras de ônix, pedras ornamentais, além de pedras de diversas cores e toda sorte de pedras preciosas e mármore em abundância (cp. 29:2). Tudo isso era necessário para edificar uma obra “magnífica em excelência“, como ele havia dito antes (1 Crônicas 22:5). Davi preparou “pedras de mármore em abundância” para a construção. “E ainda, porque tenho afeto à casa de meu Deus, o ouro e a prata particular que tenho eu dou para a casa de meu Deus, afora tudo quanto tenho preparado para a casa do santuário” (v. 3). Em seguida Davi menciona as quantidades: três mil talentos de ouro (veja anexo) de Ofir (uma região famosa por seu ouro desde os dias patriarcais; cf. Jó 22:24); e sete mil talentos de prata purificada, para cobrir as paredes das casas. Tendo apresentado sua afeição a respeito da construção do templo, Davi fala da doação de suas posses particulares, enumerando vastas quantidades de prata e ouro, de valor astronômico, as CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 46 quais eram, como ele disse, “em abundância” (cf. cp. 22:14). Tal oferta generosa motivada por sua afeição pela casa de Deus era um prenúncio de como um Filho maior de Davi, i.e., o próprio Cristo que “amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:25), faria uma oferta ainda mais generosa. Em Sua suprema afeição pela Igreja, Cristo não reteve nada, mas entregou tudo, inclusive “a si mesmo”, na cruz do Calvário. As “forças” com as quais Davi preparou os materiais, que iam do ouro ao ferro e da madeira ao mármore, e a “afeição” que ele demonstrou pelo templo são lições para nós em nossa obra para o Senhor. Os imensos preparativos de Davi foram uma “obra de fé”, porque ele nunca viu o templo construído, mas acreditava que o mesmo seria construído. Sua enorme doação de materiais foi uma “obra de amor”, pois colocou sua afeição na construção da casa de Deus. Isso tudo ilustra a forma como uma fé viva trabalha com toda sua força para o Senhor, e como o amor se manifesta na doação de tudo para Deus. A CONTRIBUIÇÃO DOS LÍDERES Voltando-se para os príncipes e outras autoridades na audiência, Davi disse: “E quem, pois, está disposto a oferecer ao SENHOR no dia de hoje?” (1 Crônicas 29:5, JND). Em resposta ao desafio e seguindo o exemplo do rei, eles “voluntariamente contribuíram”. Eles “deram para o serviço da casa de Deus cinco mil talentos de ouro, e dez mil dracmas, e dez mil talentos de prata”. Além dessa grande quantidade de ouro e prata de valor incalculável, eles ainda doaram “dezoito mil talentos de cobre, e cem mil talentos de ferro”. Outros líderes ofereceram pedras preciosas para o “tesouro da casa do SENHOR” (cp. 29:6-8). Vendo o exemplo dos líderes, “o povo se alegrou” e “voluntariamente deram ao SENHOR”. Diante de tanta generosidade o próprio “rei Davi se alegrou com grande alegria” (cp. 29:9). Como cristãos, a voluntariedade deve caracterizar todas as nossas ofertas. Nossa atitude ao contribuir não deve ser “com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria“ (2 Coríntios 9:7). Antes de deixarmos o assunto dos metais preciosos, devemos notar que, em valores de hoje, o total aproximado de ouro e prata que foram ajuntados e doados por Davi, CAPÍTULO 4 - Preparando a Construção 47 além daqueles doados pelos príncipes e outros líderes, é mesmo surpreendente — calculamos um valor aproximado de R$195 bilhões1. Para chegarmos ao grande total de todos os materiais, precisaríamos adicionar o valor do cobre e do ferro, além da madeira de cedro e cipreste, isso porque nem todo cobre e ferro foi quantificado. Indo mais além, ainda temos as pedras de mármore branco usadas na construção e as pedras preciosas usadas no embelezamento, das quais nenhuma quantidade é mencionada. O valor de todos esses materiais nos dias de hoje é enorme. Depois, teríamos que adicionar o valor da mão de obra usada na construção do templo. O valor total de cada um desses aspectos do projeto é inestimável. Se isso vai além da compreensão humana, o mesmo acontece com o custo da nossa redenção por meio do precioso sangue de Cristo. A PLANTA DO TEMPLO Bem no início de suas palavras, o idoso rei chamou a atenção de sua audiência, composta de líderes nacionais, para a proposta da construção do templo. Mas ele interrompeu a si mesmo para entregar a Salomão, seu filho, os desenhos e os planos do edifício sagrado, bem como de seus móveis. Tudo isso é descrito como “planta” e está registrada apenas pelo cronista, em 1 Crônicas 28:11-19. Esse breve parágrafo, que muitas vezes passa despercebido e nem sempre é entendido, é importante. O mesmo nos mostra que o plano e conteúdo do grande edifício não eram uma ideia de Davi ou Salomão, como alguns crentes imaginam. Foi Deus quem revelou os planos para Davi, que os comunicou para seu filho Salomão. Nada dos planos foi fruto da imaginação humana, mas tudo começou com a revelação divina. Cada detalhe do templo tem sua origem em Deus. Do mesmo modo como o tabernáculo foi revelado pelo SENHOR a Moisés, quando ele subiu pela quinta vez ao cume do Monte Sinai (Êxodo 24:9 a 32:15), assim também o templo foi revelado a Davi pelo próprio Deus. Harold F. G. Cole em seu livro intitulado “Acerca do Templo de Salomão”, pergunta: “Por que Deus não deixou o desenho do tabernáculo aos cuidados da habilidade e gosto de Moisés? Por que Deus não deixou o desenho do templo 1 Calculado conforme o valor equivalente da libra esterlina de R$ 3,82 em 02/03/2017 – nota do revisor baseado no livro original. Veja também o anexo. CRISTO E O TEMPLO DE SALOMÃO 48 aos cuidados da habilidade e gosto de Davi ou Salomão?”. Em resposta a essas perguntas ele diz: “Nós encontramos a razão no Novo Testamento, especialmente na Epístola aos Hebreus. Ali vemos que o tabernáculo e o templo eram tipos, sombras, modelos, e figuras de elementos celestiais. Eles