Buscar

mercado de trabalho para pessoa com deficiência

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 91 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 91 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 91 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ 
FACULDADE CEARENSE - FaC 
CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
 
DANIELLE CHRISTIAN SILVA MORAES 
 
 
 
 
 
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: UM 
ESTUDO DE CASO NO SENAC FORTALEZA 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA/CE 
2013 
 
 
 
 
DANIELLE CHRISTIAN SILVA MORAES 
 
 
 
 
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: UM ESTUDO DE 
CASO NO SENAC FORTALEZA 
 
 
 
Monografia submetida à aprovação 
Coordenação do Curso de Serviço Social do 
Centro de Ensino Superior do Ceará como 
requisito parcial para obtenção do grau de 
Graduação sob orientação Prof.ª Ms. Rúbia 
Cristina Martins Gonçalves. 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA/CE 
2013 
 
 
 
 
 
 
M828p Moraes, Danielle Christian Silva. 
 Pessoas com deficiência no mercado de trabalho: um estudo de 
caso no Senac Fortaleza / Danielle Christian Silva Moraes. – 2012. 
 89 f. 
 
 Orientador: Profª. Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves. 
 Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade 
Cearense, Curso de Serviço Social, 2012. 
 
 1. Trabalho. 2. Mercado de trabalho - pessoas deficientes. 3. 
Pessoas deficientes - inclusão. I. Gonçalves, Rúbia Cristina Martins. II. 
Título. 
 CDU 331.5-056.26 
 CDU 323.285-055.2 
 CDU 658.153.2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliotecária Maria Albaniza de Oliveira CRB-3/867 
 
 
 
 
DANIELLE CHRISTIAN SILVA MORAES 
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: UM ESTUDO DE 
CASO NO SENAC FORTALEZA 
 
Monografia como pré-requisito para 
obtenção do título de Bacharelado em 
Serviço Social, outorgado pela Faculdade 
Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela 
banca examinadora composta pelos 
professores. 
Data de aprovação: _____ / _____ / _____ 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Prof.ª Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves (Orientadora) 
Faculdade Cearense - FaC 
 
Prof.ª Dra. Cristiane Porfírio de Oliveira do Rio 
Faculdade Cearense - FaC 
 
Prof.ª Ms. Valney Rocha Maciel 
Faculdade Cearense - FaC 
 
 
FORTALEZA/CE 
2013 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a Deus, primeiramente, 
e a minha família. 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço a minha família, principalmente meu esposo e filho por suportarem minha 
ausência em períodos de lazer por razões de dedicação aos estudos. A minha irmã 
que nunca desistiu da minha carreira profissional. A minha orientadora, pelo 
momento de dedicação nas orientações. E agradeço a Deus, principalmente, porque 
sem Ele nada disso seria possível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Todos os dias quando acordo, 
Não tenho mais o tempo que passou 
Mas tenho muito tempo 
Temos todo o tempo do mundo. 
 (Legião Urbana) 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
O presente trabalho procura abordar de forma ampla as configurações do mercado 
de trabalho para as pessoas com deficiência e as políticas de qualificação para a 
inserção profissional diante dos antagonismos capitalistas e demandas do público 
em questão no competitivo mercado contemporâneo tendo como campo de 
investigação o SENAC. Faz mister, portanto para o enriquecimento do trabalho, 
analisarmos as contradições do processo capitalista e a luta de classes no contexto 
histórico visto aos olhos de autores marxistas que retratam minuciosamente as 
categorias trabalho, questão social e educação. A investigação empírica utilizou-se 
de metodologia qualitativa e pesquisa bibliográfica tendo como finalidade averiguar 
as pessoas com deficiência que trabalham no SENAC usando como instrumento 
necessário a análise da entrevista semi-estrurada. Os resultados confirmaram as 
contradições existentes no universo capitalista e no que cerne às políticas de 
inclusão e qualificação profissional para pessoas com deficiência através de 
entrevistas realizadas com seis pessoas que trabalham no SENAC Fortaleza na 
unidade Centro relatando as dificuldades para a inserção no mercado de trabalho, a 
adequação das condições e práticas de trabalho na organização, a igualdade em 
relação aos rendimentos salariais e postos de trabalho considerando o nível de 
escolaridade. 
 
PALAVRAS-CHAVES: pessoas com deficiência, trabalho, qualificação profissional e 
educação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
The present work seeks to address broadly the settings of the labor market for 
people with disabilities and the policies of qualification for the professional insertion 
before the capitalist antagonisms and demands of the public concerned in the 
competitive market as having contemporary research field SENAC. Makes mister, so 
to enrich the work, we analyze the contradictions of the capitalist and class struggle 
in historical context seen in the eyes of Marxist authors who meticulously depict the 
categories work, education and social issues. Empirical research we used qualitative 
methodology and literature and aims to ascertain people with disabilities who work in 
SENAC using as a necessary tool to analyze the semi-structured. The results 
confirmed the existing contradictions in the capitalist world and the heart that 
inclusion policies and professional training for people with disabilities through 
interviews with six people who work in the unit SENAC Fortaleza Center reporting 
difficulties in entering the labor market, the adequacy of conditions and work 
practices in the organization, equal wages for income and jobs considering the level 
of education. 
KEYWORDS: people with disabilities, employment, vocational training and education. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
BPC – BENEFICIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA 
CIPA – COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO CONTRA ACIDENTES 
CLT – CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO 
CONADE – CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM 
DEFICIÊNCIA 
CORDE – COORDENADORIA NACIONAL PARA A INTEGRAÇÃO DA PESSOA 
COM DEFICIÊNCIA 
DRT – DELEGACIA REGIONAL DO TRABALHO 
EPI – EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL 
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA 
INSS – INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO NACIONAL 
LOAS – LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 
MTE – MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO 
PRONATEC – PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO TÉCNICO E 
EMPREGO 
PSG – PROGRAMA SENAC GRATUIDADE 
SENAC – SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL 
SENAI – SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL 
SINE – SISTEMA NACIONAL DE EMPREGO 
SIPE – SISTEMA PÚBLICO DE EMPREGO 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
Tabela 1 – Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho.................................57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13 
I – DISCUTINDO AS CATEGORIAS DO OBJETO DE ESTUDO. ........................... 20 
1.1 O Trabalho e a Teleologia ...................................................................................20 
1.2 O Trabalho Como Protoforma da Práxis Social ................................................... 23 
1.3 Divisão do Trabalho e Sociedade ........................................................................ 27 
1.4 As Transformações no Mundo do Trabalho ........................................................ 31 
1.5 A Questão Social no Brasil: Uma Análise no Contexto Histórico do Capitalismo 34 
II – PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E O PROCESSO DE QUALIFICAÇÃO E 
INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO ........................................................... 43 
2.1. Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência ........................ 43 
2.2. Qualificação Profissional como Exigência do Capitalismo Contemporâneo. ...... 47 
2.3. Sobre a Educação Inclusiva ............................................................................... 50 
2.4. Direitos e Demandas na Sociedade Capitalista ................................................. 55 
III – TRABALHO COMO PERSPECTIVA DE INCLUSÃO? O PROCESSO 
CONTRADITÓRIO .................................................................................................... 60 
3.1. Uma Análise do Campo de Investigação. ........................................................... 60 
3.2. Definições e Características do Trabalho Social de Inclusão no SENAC-Ce ..... 64 
3.3. O Mercado de Trabalho para Pessoas com Deficiência.................................... 67 
3.4. O SENAC e as Oportunidades de Trabalho para Pessoas com Deficiência. ..... 70 
3.5. Percepção das Pessoas com Deficiência. .......................................................... 71 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 81 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 84 
APÊNDICE ................................................................................................................ 87 
13 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
O presente trabalho tem o objetivo de analisar o processo de inserção das 
pessoas com deficiência no mercado de trabalho e as necessidades de formação 
profissional frente às novas exigências impostas pelo capitalismo. 
O interesse pelo tema pesquisado surgiu a partir de uma experiência de 
estágio junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC no período 
de abril de 2010 a abril de 2012, através da qual houve a oportunidade de participar 
de um novo projeto, ainda em debate, direcionado para pessoas com deficiência e o 
seu processo de inclusão no mercado de trabalho. 
Diante da expectativa de se ver o projeto concluído e posto em prática, nos 
interessou, portanto, averiguar as condições dessas pessoas com deficiência, suas 
limitações no mercado de trabalho e todo o processo de inclusão e exclusão dentro 
da sociedade capitalista. Faz-se importante frisar que o acesso das pessoas com 
deficiência à formação e ao mercado de trabalho contribui para a redução da 
pobreza e a construção de uma sociedade livre de preconceitos e discriminações. 
Analisando as categorias referentes ao objeto de estudo, iremos trabalhar 
com pesquisas de autores que se fundamentam no processo histórico do trabalho e 
nas suas características que embasam a sua essência e a sua desfiguração tendo 
como consequência a alienação do homem como trabalhador. 
Autores como Karl Marx (1988; 1998), que construiu as bases para a 
formulação de conhecimentos que englobam o mundo do trabalho, e Gyorgy LuKács 
(1979) terão importante contribuição no caminho dessa pesquisa. Outros autores 
como Marilda Iamamoto (2008) e Ricardo Antunes (1999;2007), que partem de 
pressupostos dos estudos de Marx para conceituar as transformações sociais, 
contribuirão com suas concepções teóricas sobre o trabalho e a questão social para 
compreender as mutações ocorridas historicamente no universo do capitalismo. 
Demerval Saviani (2004; 2007), que aborda as relações do trabalho com a 
educação, possibilitará meios de compreender as configurações atuais do mercado 
14 
 
 
 
de trabalho e a exigência de trabalhadores qualificados para o desenvolvimento 
econômico. 
Marx (1998) idealiza pressupostos constitutivos importantes ao processo de 
trabalho o qual define como elementos que contribuem para o projeto final destinado 
pelo trabalhador que são o trabalho, puro e simples; a matéria; e os meios que serão 
utilizados no processo de produção, ou seja, os instrumentos realizados para 
transformar a matéria. 
O trabalho é fonte de realização do ser humano e segundo Marx (1998), o 
processo de trabalho é uma interação entre o homem e a natureza na qual é 
regulada por ações que direcionam um meio e um fim. Por meio do trabalho o 
homem condiciona ações inerentes ao corpo buscando modificar e transformar 
aquilo já tem em mente. 
Segundo Marx (1998), o homem utiliza tais elementos para construir o objeto 
especificado em sua mente e transforma a natureza a fim de priorizar suas 
necessidades, feito isso, o trabalho extingue-se e tem-se então o produto final. 
Através da produtividade do trabalho, a classe dominante opera a condição de mais-
valia e estabelece as regras para manter-se no poder. Com o alardeamento do 
acúmulo capitalista, as desigualdades sociais encontram-se imbricadas no processo 
de desenvolvimento do Brasil e caracteriza-se, segundo Marilda Iamamoto, peculiar 
na historicidade do país. 
Iamamoto (2008) prioriza o contexto histórico da sociedade brasileira e as 
formas de dominação do capitalismo vinculadas à contemporaneidade, pois de 
acordo com seu pensamento, as marcas históricas prevalecem até os dias atuais, 
surgem apenas modificações recriadas através da modernidade. A partir de novas 
intervenções históricas construídas dentro dos moldes capitalistas, a questão social 
surge reconfigurada e demandante de políticas sociais no cenário contemporâneo 
do Brasil. 
A crise do capitalismo a partir da década de 1970 produziu efeitos que 
dinamizaram o apoderamento da classe dominante através da exploração trabalhista 
15 
 
 
 
e elevação da taxa de juros a fim de obter lucratividade. Com efeito, a consequência 
da desregulamentação do capital é o aumento do desemprego e com isso o 
alargamento da competitividade, pois com a crise financeira, a redução de custos do 
capital atinge a figura do trabalhador, que torna-se polivalente para suprir as 
necessidades do empresariado. A intensificação do trabalho, a redução de postos de 
emprego e a precarização e/ou ausência de direitos trabalhistas agravam as redes 
de sociabilidade, causando o isolamento e a individualização. Em contrapartida, o 
Estado aliado e comprometido com a classe dominante, desvincula-se do papel de 
promover políticas sociais e subverte os direitos da população à crise financeira do 
capital, ou seja, “conclama-se a necessidade de reduzir a ação do Estado para o 
atendimento das necessidades das grandes maiorias mediante a restrição de gastos 
sociais (...)” (Iamamoto, 2008, p.144). 
Diante dessa conjuntura, Iamamoto (2008) deixa claro que a debilidade das 
formas de sociabilidade está cada vez mais evidente nos segmentos trabalhistas da 
modernidade na qual o cidadão é livre para fazer suas escolhas e assumir os riscos 
que a comprometem. Reluz-se então as transformações produzidas pelo advento do 
neoliberalismo e o surgimento da “velha questão social” metamorfoseada. 
As contradições inerentes aos meios de produção capitalista transcorre por 
meio de lutas sindicais com o propósito de garantia de direitos da classe 
trabalhadora e a redução da jornada de trabalho a fim de minimizar as 
desigualdades sociais. 
Nesse contexto, as lutas em favor dos menos favorecidos protagoniza a 
questão social e demandas por ações do Estado que visam ampliar políticas sociais 
bem como o aumento de postos de trabalho e a regulamentação de leis trabalhistas. 
Os sentidosdo trabalho são abordados por Ricardo Antunes (1999) de uma 
forma peculiar que menciona as ideologias, discursos, hegemonias e reprodução 
que envolve a classe-que-vive-do-trabalho e as relações de subordinação e 
estranhamento a partir da produção capitalista. 
16 
 
 
 
O autor profere sobre as mutações ocorridas no mundo do trabalho e a 
necessidade de ir além da aparência manifesta pelo capitalismo alertando sobre as 
mediações de segunda ordem do trabalho que introduz elementos fetichizadores e 
alienantes de controle social metabólico. 
É evidente então que com a modernização do capital, a educação e a 
qualificação profissional tornam-se imprescindíveis para o indivíduo se manter no 
mercado de trabalho e ter suporte suficiente para exercer as funções que o mercado 
competitivo exige. 
Demerval Saviani (2004) enfatiza bem essa problemática da educação frente 
às novas tendências do capitalismo. O autor vai dizer que a educação passa a ser 
entendida como algo decisivo para o desenvolvimento econômico e que a mesma 
potencializa o trabalho, isto é, a educação é de suma importância para a fase 
funcional do sistema capitalista e sobrepõe-se como fonte qualificadora da mão-de-
obra. 
O estímulo à educação faz parte da envergadura do capital de reproduzir-se 
e manter-se no poder e não o contrário, equivale assim incitar a formação 
intelectual na qual traduz-se em sinônimo de qualidade na produção capitalista, 
todavia o trabalhador continua alienado e subordinado à classe dominante. Nesse 
projeto surge o termo inclusão educacional que tem a finalidade de fortalecer ideias 
legais e político-filosóficas em benefício de pessoas com deficiência com 
atendimento educacional especializado, principalmente na rede pública de ensino, a 
criação de programas de prevenção com atendimento exclusivo e a qualificação 
profissional como forma de determinar o acesso ao mercado de trabalho. (Diretrizes 
nacionais para a educação especial na educação básica, 2001 p. 09 e 10). 
No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência teve início na época do 
Império, com a criação de duas instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, 
em 1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto dos Surdos Mudos, 
em 1857, hoje denominado Instituto Nacional da Educação dos Surdos – INES, 
ambos no Rio de Janeiro. Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com 
deficiência passa a ser fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e 
17 
 
 
 
Bases da Educação Nacional – LDBEN, Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos 
excepcionais à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. 
Nesse contexto, a educação inclusiva tem participação no projeto de educação 
básica no Brasil e organiza-se a partir de pressupostos da prática pedagógica 
social1. 
Analisa-se então uma progressão nos âmbitos educacionais em que 
“prevalecem as ideias de respeito às diferenças individuais e do direito à igualdade 
de oportunidades que todos devem ter , sem discriminação ou privilégios.” ( 
Tendências e desafios da educação especial, 1994, p.125). 
Quando se fala em pessoas com deficiência convém questionar seus 
conceitos, limites e diferenciações. O autor João Ribas (1998) em seu livro “O que 
são pessoas deficientes?” relata que as pessoas não são fisicamente iguais, ou seja, 
cada ser humano tem sua cor de pele, sua raça, altura e etc. Portanto, as pessoas 
com deficiência possuem diferenças das demais, pois possuem sinais ou sequelas 
mais notáveis, mas segundo o autor a realidade natural desses indivíduos não 
pode ser transpassada para a realidade social, ou seja, nós construímos a 
sociedade em que vivemos e “pensar numa sociedade melhor para as pessoas 
deficientes é necessariamente pensar numa sociedade melhor para todos”. (Ribas, 
1998, p. 13). 
Vários entraves se manifestam para a inclusão da pessoa com deficiência, 
mas desde abril de 2004 foi decretada uma lei que exige que as empresas com mais 
de cem empregados, utilizem a contratação de um deficiente (MTE, 2007, p. 03). 
As leis são promulgadas, porém, causa desânimo o fato da exigência por 
parte do patronato, de garantir o profissional adequado para compor seu quadro de 
funcionários com capacitação profissional que atenda suas expectativas. 
O Método Dialético, que permeia a exploração dessa pesquisa, propõe 
analisar as contradições do universo capitalista postulados em sua fase histórica 
 
1
 Disponível em: http://portal.mec.gov.br; Acesso em 21/11/212. 
http://portal.mec.gov.br/
18 
 
 
 
contracenando com as classes trabalhadoras, de modo a focalizar as pessoas com 
deficiência no mercado de trabalho e sua qualificação profissional. 
A pesquisa, de cunho qualitativo, permite uma interação entre o objeto e os 
sujeitos pesquisados dentro do campo empírico em que possibilitará uma análise 
investigativa que busca responder as indagações propostas no decorrer da 
pesquisa. 
Para o enriquecimento da pesquisa fez-se necessário um estudo 
bibliográfico voltado ontologicamente ao capitalismo e às classes trabalhadoras e 
seus antagonismos históricos ao longo dos séculos vistos aos olhos de autores que 
retalham minuciosamente a busca da classe subalterna pela imposição junto ao 
capital. Correlacionar-se-á então, as formas de sociabilidade das pessoas com 
deficiência no Brasil, buscando apontar de forma enumerada as fases de 
superações no decorrer das metamorfoses do capitalismo. 
Ressaltamos que além da pesquisa bibliográfica, realizamos a pesquisa de 
campo qualitativa. O tema a ser investigado é bastante amplo, no entanto não nos 
debruçamos muito na pesquisa por razões do curto período de tempo, mas nos 
propomos a nos aprofundar em estudos futuros. 
No que cerne ao campo de investigação, a pesquisa foi realizada na 
Instituição SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – na unidade do 
centro de Fortaleza, que lida com as concepções de inclusão social para pessoas 
com deficiência trabalhando de modo a integrar a qualificação profissional e inserção 
no mercado de trabalho para esse público em questão. 
Os instrumentos utilizados no decorrer da pesquisa para reunir informações 
sobre o tema estão relacionados ao aprofundamento bibliográfico sobre o projeto 
pedagógico do SENAC em relação às pessoas com deficiência e entrevistas aos 
seis profissionais (Cf Apêndice) inseridos no mercado de trabalho através da 
instituição. 
A entrevista, como técnica instrumental de pesquisa, tem a capacidade de 
coletar dados que enriquecem o trabalho do pesquisador e segundo Minayo (2007), 
19 
 
 
 
“A entrevista é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, 
realizada por iniciativa do entrevistador. Ela tem o objetivo de construir informações 
pertinentes para um objeto de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador de temas 
igualmente pertinentes com vistas a este objetivo” (Minayo, 2007, p.64). 
Em relação aos capítulos abordamos, logo no início, o trabalho como fonte 
de transformação da natureza humana tendo como referência as concepções 
marxianas. A categoria trabalho foi desenvolvida de forma peculiar, ou seja, desde à 
sua transposição teleológica para a alienação do trabalhador através da exploração 
capitalista dando concretude às lutas classistas e a amplitude da questão social. 
No segundo capítulo, fizemos uma análise das exigências de qualificação 
profissional para a inserção no mercado de trabalho, tendo como foco as pessoas 
com deficiência e a Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência. 
No terceiro capítulo analisamos o campo de investigação – SENAC – e os 
principais projetos de inclusão social desenvolvidos pela a empresa. Partimos da 
concepção do projeto de inserção das pessoas com deficiência nas ações 
educativas do SENAC e inserção no mercado de trabalho. Emseguida dialogamos 
as percepções das pessoas com deficiência que trabalham na instituição com 
referenciais teóricos que analisam a inserção profissional das pessoas com 
deficiência no mercado de trabalho. 
20 
 
 
 
I – DISCUTINDO AS CATEGORIAS DO OBJETO DE ESTUDO 
O trabalho constitui-se como protoforma da práxis social e como fonte de 
realização da vontade humana. Ao falarmos de trabalho ressaltamos a importância 
de discorrer em nossa pesquisa o pensamento de Marx (1998) e seus seguidores 
tornando como parte importante o movimento dialético. 
No princípio da pesquisa sobre as pessoas com deficiência no mercado de 
trabalho nos propomos investigar o trabalho como forma inerente à realização 
humana e as contradições impostas pelo capitalismo a partir da exploração dos 
trabalhadores tendo como consequência a divisão e luta das classes (burguesia e 
proletariado). 
O fenômeno da luta de classes perpassa a historicidade do capitalismo 
diante das suas artimanhas para se manter no poder. As classes subalternas, 
porém, exploradas e destituídas de direitos, lutam por melhores condições de vida, 
redução na jornada de trabalho e proteções trabalhistas. A questão social possui 
formas multifacetadas, o que requer o olhar inclinado do Estado na defesa de seus 
direitos e políticas que assegurem mudanças contestáveis por parte do 
empresariado. 
A questão social reflete no país acontecimentos recorrentes da época da 
colonização brasileira. Sobre o tema Marilda Iamamoto (2008) demonstra que a 
questão social no Brasil ressurge metamorfoseada apresentando “traços” novos de 
acordo com as inovações presentes na contemporaneidade. 
A importância de falarmos sobre o trabalho e suas configurações reflete no 
fato de que as pessoas com deficiência sempre estiveram à margem do capitalismo 
e que a luta por direitos e igualdade só tornou-se concreta no Brasil com a 
Constituição de 1988 e a Política Nacional de Inclusão da Pessoa com Deficiência 
no Mercado de Trabalho em 1991. 
1.1 O Trabalho e a Teleologia 
Ao iniciarmos o nosso ponto de reflexão sobre as categorias de análise do 
presente estudo, devemos focalizar, antes de tudo, o trabalho como processo 
21 
 
 
 
natural da força humana em que se determina através da natureza de acordo com o 
pensamento de Marx (1998) e a ontologia do ser social segundo Lukács (1979). 
O trabalho nada mais é que um processo de participação entre o homem e a 
natureza, transformando-a e articulando-a segundo suas intenções previstas no 
pensamento. 
O homem ao defrontar-se com a natureza como uma de suas forças, põe em 
movimento as forças naturais de seu corpo com a finalidade de construir o que antes 
foi-lhe determinado em pensamento e por conseguinte, utiliza-se dessa força para 
dar concretude ao seu pensamento. 
Segundo Marx (1998), o homem ao modificar a natureza, tem sua própria 
natureza modificada quando desenvolve as potencialidades nela adormecidas e 
submete ao seu domínio o jogo das forças naturais. É nesse contexto que Marx 
classifica o trabalho como uma forma exclusivamente humana quando o define: 
No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes 
idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o 
material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha 
conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo 
de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade (Marx, 1998, p.212). 
 
Marx (1998) vai além ao definir que o ato de trabalho, tendo como resultado 
o produto, produz uma configuração que articula meio e objeto de trabalho como 
núcleos fundantes do processo produtivo. É nesse patamar, então que o homem ao 
adaptar um objeto exterior às suas necessidades, cria um produto através de um 
trabalho produtivo unindo trabalho manual e trabalho intelectual (Marx, 1998). 
A partir desse ponto verifica-se a alteração do produto, que antes era 
individual, tornar-se então em produto social, produto que agora gera trabalho 
coletivo exigindo, para sua confecção, diferentes membros determinados em 
variadas operações. 
Para efetuar um trabalho produtivo não é necessário que se execute um 
trabalho manual, basta apenas ser um membro do trabalho coletivo ou 
desempenhar uma função qualquer dele. Porém, não é isso o que 
caracteriza de uma maneira especial o trabalho produtivo no sistema 
22 
 
 
 
capitalista. (Marx, 1998,p.152) 
Para Antunes (1999) o ser social cria e recria as próprias condições da sua 
reprodução e faz isso a partir de sua vida societal por meio do trabalho e luta por 
sua existência. Ou seja, o trabalho segundo o autor, é um saber teleológico que 
consiste em uma definição prévia idealizado a partir da consciência humana. 
Segundo o pensamento de Lukács (1979): 
 “(...) através do trabalho, uma posição teleológica é realizada no interior do 
ser material, como nascimento de uma nova objetividade. A primeira 
consequência disso é que o trabalho torna-se protoforma de toda a práxis 
social (...) sua forma originária desde que o ser social se constitui. O simples 
fato de que o trabalho é a realização de uma posição teleológica é para 
todos uma experiência elementar da vida cotidiana” (Lukács, 1979, p.99). 
 
 Para analisar mais a fundo a concepção de trabalho, Antunes se 
fundamenta através de posições de Luckács (1979) quando menciona as complexas 
relações entre a teleologia e a causalidade. 
Segundo o autor a “teleologia está presente na própria colocação de 
finalidades e a causalidade é dada pela materialidade fundante, pelo movimento que 
se desenvolve em suas próprias bases(...)” (Antunes, 1999, p.137). 
Aprofundando, o autor diz que há uma inteira relação de reciprocidade entre 
teleologia e causalidade, composta de uma essência dada pela realização material 
de uma idealidade posta, é portanto, um fim previamente idealizado em que 
transforma a realidade material introduzindo-lhe algo qualitativa e radicalmente novo 
em relação ao que era antes, ou seja, a natureza pura e simples. 
Ao comparar o trabalho com as formas precedentes do ser, 
orgânicas e inorgânicas, o autor exemplifica dizendo que o trabalho está na 
ontologia do ser social como uma categoria qualitativamente nova em que o ato 
teleológico é seu elemento constitutivo central e, por conseguinte, que funda a 
especificidade do ser social. 
É por meio do trabalho e através da realização de suas necessidades que o 
23 
 
 
 
homem se insere na vida em sociedade e deixa, portanto, de ser epifenômeno2 e de 
ter uma consciência meramente adaptável ao meio ambiente para tornar-se uma 
atividade autogovernada. De acordo com Antunes “o lado ativo e produtivo do ser 
social torna-se pela primeira vez ele mesmo visível através do pôr teleológico 
presente no processo de trabalho e da práxis social” (1999, p.138). 
O trabalho, segundo o autor, “não é um mero ato decisório, mas um 
processo, de uma contínua cadeia temporal que busca sempre novas alternativas” 
(Antunes, 1999, p.138). O desenvolvimento do trabalho está na busca de 
alternativas presentes na práxis humana, significa apoiar-se sobre decisões entre 
alternativas presentes, é 
“(...) ir além da animalidade por meio do salto humanizador conferido pelo 
trabalho, o ir além da consciência epifenômenica, determinada de modo 
meramente biológico, adquire então, com o desenvolvimento do trabalho, 
um momento de refortalecimento, uma tendência em direção à 
universalidade” (Antunes, 1999, p.138). 
 
Dentro da esfera da necessidade humana e da realização desta têm-se o 
trabalho como elemento mediador em que se dá uma vitória do comportamento 
consciente sobre a mera espontaneidade do instinto biológico. A intervenção do 
trabalho como mediador entre a necessidade e a satisfação imediata no processo de 
autorrealização humana, “(...) do avanço do ser conscienteem relação ao seu 
instintivo, bem como do seu avanço em relação à natureza, configura-se o trabalho 
como referencial ontológico fundante da práxis social” (Antunes, 1999, p.138). 
1.2 O Trabalho Como Protoforma da Práxis Social 
O sentido do trabalho segundo Antunes (1999) é entendido de forma 
 
2 Um "Epifenômeno" designa aquilo que é adicionado a um fenômeno sem exercer qualquer influência 
sobre ele. A palavra epifenômeno refere-se a condição ou a algo "sobre" ou "acima" do fenômeno, 
derivando de uma causa primária. É produto direto do termo fenômeno. Desta forma, a mente é 
produzida por algum fenômeno e nossa compreensão exclusivamente científica endereça os 
processos cerebrais como fenômeno da mente. Já para as correntes filosóficas dualistas, a "mente" é 
um fenômeno por si mesmo, independente do cérebro. Ela é a razão única, ou causa de si 
mesma.(Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Epifen%C3%B3meno ; Acesso em: 03/11/2012). 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Epifen%C3%B3meno
24 
 
 
 
genérica e abstrata com a relação metabólica entre o ser social e a natureza. Em 
seu sentido primitivo, o trabalho aparece como ato laborativo em que objetos 
naturais são transformados em coisas úteis. A seguir, tem-se sua forma 
desenvolvida, como práxis social e paralelamente a essa relação homem-natureza 
desenvolvem-se inter-relações com outros seres sociais com vistas à produção de 
valores-de-uso. A partir de então, surge a práxis social interativa com o objetivo de 
convencer outros seres sociais a realizar determinado ato teleológico. 
Ao analisarmos a temática trabalho, deparamo-nos com um paradoxo, uma 
contradição: ao mesmo tempo em que o trabalho constrói o homem, ele também o 
destrói. Dessa maneira, primeiramente iremos analisar de que modo o trabalho é um 
fator positivo para a estruturação dos homens e dos grupos sociais e de que modo o 
trabalho é um fator de negação da potencialidade humana. 
 Iniciemos então com a positividade do trabalho, que se encontra em seu 
sentido ontológico. O trabalho é a forma fundante do ser social, forma primeira ou 
protoforma da atividade humana, da práxis (Antunes, 1999). 
Nesse sentido, o trabalho se torna humano através da atividade de 
intercâmbio entre o homem e a natureza, no qual ele a transforma de acordo com as 
suas necessidades e simultaneamente ele também se transforma. 
O trabalho é também uma atividade essencialmente humano, pois ele é 
dotado de teleologia e configura-se como um projeto que é previamente planejado 
de modo intencional pela mente do homem, como ser da práxis, visando uma 
determinada finalidade. Esse é o fator que diferencia o trabalho humano do trabalho 
de todos os outros animais, ou seja, ele é intencional (Marx, 1998). 
A posição teleológica de esfera interativa visa atuar teleologicamente sobre 
outros seres sociais configurando-se como expressões mais desenvolvidas e 
crescentemente complexificadas da práxis social, guardando por isso maior 
distanciamento em relação ao trabalho, às posições teleológicas primárias. 
As ações interativas acabam assumindo uma supremacia frente aos níveis 
inferiores, mesmo se constituindo como base de sua existência, nesse sentido 
25 
 
 
 
Lukács (1979) as define como secundárias, “ em relação ao sentido originário do 
trabalho, das posições teleológicas primárias, que tem um estatuto ontológico 
fundante” (Lukács, 1979, p.24). 
Na análise de Antunes (1999), o trabalho é a forma fundamental, mais 
simples e elementar daqueles complexos cuja interação dinâmica constitui-se na 
especificidade do ser social. 
O trabalho realiza materialmente o relacionamento radicalmente novo do 
metabolismo com a natureza, enquanto as formas mais complexificadas da práxis 
social tem na reprodução humana em sociedade a sua inseparável pré-condição. 
É a partir de tal análise, portanto, que o autor vai dizer que as formas mais 
avançadas da práxis social encontram no ato laborativo sua base originária e que, 
por mais complexas, diferenciadas e distanciadas, elas se constituem em 
prolongamento e avanço e não em uma esfera inteiramente autônoma e 
desvinculada das posições teleológicas primárias. Segundo Lukács (1979): 
A auto elevação em relação às formas anteriores, o caráter autóctone que o 
ser social adquire, expressa-se precisamente pela supremacia dessas 
categorias onde o novo e o mais alto desenvolvimento desse tipo de ser 
ganha expressão em relação aos que lhe deram fundamento” (Lukács, 
1979, p.33). 
 
Verifica-se que nas posições teleológicas secundárias, a subjetividade 
adquire um sentido novo prosseguindo-se de sua real complexificação. No que se 
refere à objetividade, configura-se um autocontrole que emerge inicialmente a partir 
do trabalho, no domínio crescente sobre sua esfera biológica e espontânea. A partir 
desses dois fenômenos dá-se uma nova forma de inter-relação entre subjetividade e 
objetividade, entre teleologia e causalidade, no interior do modo humano e societal 
de preenchimento das necessidades. 
O processo de humanização do homem em seu sentido amplo constitui-se a 
partir da gênese do trabalho e de seu desenvolvimento. É nesse aspecto que o 
trabalho altera a natureza e autotransforma o próprio ser que trabalha. A natureza 
humana é também metamorfoseada a partir do processo laborativo, dada a 
26 
 
 
 
existência de uma posição teleológica e de uma realização prática. 
Nesse processo de transformação – entre natureza e homem ou vice-versa 
– Antunes (1999) compreende que surge então um novo ser social em que a 
consciência humana deixa de ser um epifenômeno biológico e se constitui num 
momento ativo e essencial da vida cotidiana. 
A consciência humana é, portanto, um fato ontológico objetivo e a busca de 
uma vida cheia de sentido, dotada de autenticidade, encontra no trabalho seu lócus 
primeiro de realização. A busca de uma vida cheia de sentido consiste, socialmente, 
na composição de seres sociais para sua auto-realização individual e coletivamente. 
Na palavras de Antunes: 
“Dizer que uma vida cheia de sentido encontra na esfera do trabalho seu 
primeiro momento de realização é totalmente diferente de dizer que uma 
vida cheia de sentido se resume exclusivamente ao trabalho, o que seria um 
completo absurdo. Na busca de uma vida cheia de sentido, a arte,a poesia, 
a pintura, a literatura, a música, o momento de criação, o tempo de 
liberdade, tem um significado muito especial. Se o trabalho se torna 
autodeterminado, autônomo e livre, e por isso dotado de sentido, será 
também (...) por meio da arte, da poesia, da pintura, da literatura, da 
música, do uso autônomo do tempo livre e da liberdade que o ser social 
poderá se humanizar e se emancipar em seu sentido mais profundo” 
(Antunes, 1999, p.143). 
 
Vale dizer que o sentido do trabalho, simples e abstrato, como criador de 
valores de uso, configura cada ato laborativo a partir de seu pôr teleológico que o 
desencadeia, ou seja, sem o ato teleológico, nenhum trabalho seria possível. Dessa 
forma o ato teleológico, expresso por meio da colocação de finalidades é, portanto, 
uma manifestação vinculada à liberdade dentro do processo de trabalho. É, pois, um 
momento efetivo de interação entre subjetividade e objetividade, causalidade e 
teleologia, necessidade e liberdade. 
Segundo as análises de Antunes (1999), o trabalho é portanto, protoforma 
da práxis social, constitui-se como momento fundante, categoria originária em que 
os nexos entre causalidade e teleologia se desenvolvem de modo substancialmente 
novo. O trabalho é categorizado como mediação, o qual permite um salto ontológico 
27 
 
 
 
entre os seres anteriores e o ser que se torna social, ou seja, ao mesmo tempo em 
que transforma a relação metabólica entre homem e natureza e num patamar 
superior, entre os próprios seres sociais, autotransforma o própriohomem e a sua 
natureza humana. 
 
1.3 Divisão do Trabalho e Sociedade 
De acordo com as reflexões sobre a categoria trabalho e a ontologia do ser 
social cabe-nos questionar sobre o trabalho em sociedade tendo como embate a 
divisão socioeconômica das classes. 
Nesse sentido, ao analisarmos a obra de Marx (1998) nos propugnamos a 
compreender a divisão social do trabalho e a correspondente limitação dos 
indivíduos nas esferas profissionais particulares. A divisão social do trabalho, 
segundo Marx, surge através da troca entre ramos de produção que são 
originalmente diversos e independentes entre si. Conforme Marx, 
(...) quando a divisão fisiológica do trabalho constitui o ponto de partida, os 
órgãos particulares de um todo unificado e compacto se desprendem uns 
dos outros, se dissociam, sob a influência da troca de mercadorias com 
outras comunidades, e tornam-se independentes até o ponto em que a 
conexão entre os diversos trabalhos se processa por intermédio dos 
produtos como mercadorias. No primeiro caso, o que era independente se 
torna dependente; no segundo, o que era dependente se torna 
independente (Marx, 1998, p.407). 
 
Marx (1998) afirma que o fundamento de toda divisão do trabalho 
desenvolvida e processada através da mercadoria é a separação entre a cidade e o 
campo e que de certa maneira essa divisão depende da magnitude e densidade da 
população, que correspondem à aglomeração dos operários numa oficina. 
Seguindo o pensamento Marxiano, sendo a produção e a circulação de 
mercadorias condições fundamentais do modo de produção capitalista, a divisão 
manufatureira do trabalho pressupõe que a divisão do trabalho na sociedade tenha 
atingido certo grau de desenvolvimento, nesse sentido há uma reciprocidade em tal 
pensamento quando afirma que “ a divisão manufatureira do trabalho, reagindo, 
28 
 
 
 
desenvolve e multiplica a divisão social do trabalho” (Marx, 1998, p. 408). Ocorre 
então que com a diferenciação das ferramentas Marx (1998) afirma que se 
diferenciam cada vez mais os ofícios que fazem tais ferramentas. 
Com a divisão territorial do trabalho ocorre o confinamento de ramos 
particulares de produção em áreas determinadas de um país, recebendo novo 
impulso com a atividade manufatureira que explora todas as peculiaridades. O 
processamento da divisão do trabalho na sociedade acontece através da compra e 
venda de produtos dos diferentes ramos de trabalho. Marx (1998) relata então sobre 
a conexão, dentro das manufaturas, dos trabalhos parciais que se realizam através 
da venda de diferentes forças de trabalho ao mesmo capitalista que as empregam 
como força de trabalho coletiva. 
A divisão do trabalho, de acordo com Marx (1998), pressupõe a 
concentração dos meios de produção nas mãos de um capitalista, ou seja, a divisão 
social do trabalho, dispersão dos meios de produção entre produtores de 
mercadorias, independentes entre si. 
De acordo com Marx (1998), a divisão do trabalho em uma determinada 
nação obriga, em primeiro lugar, à separação entre o trabalho industrial e comercial 
e o trabalho agrícola e, como consequência, tem-se a separação entre o campo a 
cidade e consequentemente à oposição dos seus interesses. Desse modo o 
desenvolvimento da cidade conduz à separação do trabalho comercial e do trabalho 
industrial. 
(...) devido à divisão de trabalho no interior dos diferentes ramos, assiste-se 
ao desenvolvimento de diversas subdivisões entre os indivíduos que 
cooperam em trabalhos determinados. A posição de quaisquer destas 
subdivisões particulares relativamente às outras é condicionada pelo modo 
de exploração do trabalho agrícola, industrial e comercial (patriarcado, 
escravatura, ordens e classes). O mesmo acontece quando o comércio se 
desenvolve entre as diversas nações (Marx, 1998, p. 12). 
 
A divisão manufatureira do trabalho distorce o sentido natural do trabalho 
como práxis humana ao pressupor que a autoridade incondicional do capitalista 
sobre os seres humanos os transforma em simples membros de um mecanismo que 
29 
 
 
 
a ele pertence. A divisão social do trabalho faz confrontarem-se produtores 
independentes de mercadorias e que, segundo Marx (1998), não reconhecem outra 
autoridade além da concorrência, da coação exercida sobre eles pela pressão que 
se propugna através de interesses de ambas as partes, ou seja 
“O mesmo espírito burguês que louva (...) a divisão manufatureira do 
trabalho, a condenação do trabalhador a executar perpetuamente uma 
operação parcial e sua subordinação completa ao capitalismo, com a 
mesma ênfase denuncia todo o controle e regulamentação sociais 
conscientes do processo de produção como um ataque aos invioláveis 
direitos de propriedade, de liberdade e de iniciativa do gênio capitalista” 
(Marx, 1998, p.411). 
 
Através do pensamento de Marx (1998), consentimos então ao afirmar que 
na sociedade em que rege o modo capitalista de produção, condicionam-se 
reciprocamente a anarquia da divisão social do trabalho e o despotismo da divisão 
manufatureira do trabalho. Mais além, Marx (1998) transcreve que enquanto a 
divisão social do trabalho, diante do processo de troca de mercadorias ou não, é 
inerente às mais diversas formações econômicas da sociedade, a divisão do 
trabalho na manufatura é uma criação específica do modo de produção capitalista. 
Dentro da produção manufatureira a força de trabalho constitui-se como 
ponto de partida para revolucioná-la, já na indústria moderna Marx vai dizer que a 
revolução está no instrumental do trabalho e que é mister, portanto, investigar como 
o instrumental de trabalho se transforma de ferramenta manual em máquina e, 
assim, fixar a diferença que existe entre a máquina e a ferramenta. 
A maquinaria, nas análises de Marx (1998), consiste em três partes distintas: 
o motor, a transmissão e a máquina-ferramenta. O motor traduz-se em força motriz 
de todo o mecanismo; a transmissão regula o movimento e transforma-o quando 
necessário; a máquina-ferramenta constitui-se num mecanismo que realiza com 
suas ferramentas as mesmas operações que antes eram realizadas pelo trabalhador 
com ferramentas semelhantes. 
Na concepção de Marx (1998), mesmo com a força motriz do homem ou de 
outra máquina, a coisa não muda em sua essência, ou seja, a ferramenta 
30 
 
 
 
propriamente dita se transfere do homem para um mecanismo, a máquina toma o 
lugar da simples ferramenta, mas o homem continua sendo o primeiro motor. O 
número de ferramentas com que o homem pode operar ao mesmo tempo é limitado 
pelo número de seus instrumentos naturais de produção que são seus órgãos 
físicos. 
Depois então que os instrumentos se transformam de ferramentas manuais 
para ferramentas incorporadas a um aparelho mecânico, Marx (1998) vai dizer que a 
máquina adquire uma forma independente e inteiramente livre dos limites da força 
humana. 
Nesse sentido, com o crescimento das invenções e a procura crescente de 
novas máquinas, cada vez mais se diferenciava em ramos autônomos a produção 
de máquinas e se desenvolvia a divisão do trabalho nas manufaturas que 
construíam máquinas. É nesse patamar, portanto, que a manufatura se constitui em 
base técnica imediata da indústria moderna. Melhor contextualizando, a manufatura 
produzia a maquinaria e por conseguinte a máquina eliminava o artesanato e a 
manufatura nos ramos de produção de que se apoderava. 
Com efeito, a revolução no modo de produção de um ramo industrial acaba 
se propagando a outros e não obstante, a indústria moderna teve então de 
apoderar-se de seu instrumento característico de produção, ou seja, a própria 
máquina, e de produzir máquinas com máquinas. Nas palavras de Marx: 
O instrumental de trabalho, ao converter-se em maquinaria, exige a 
substituição da força humana por forças naturais, e da rotina empírica, pela 
aplicação consciente da ciência. Na manufatura, a organização do processo 
de trabalhosocial é puramente subjetiva, uma combinação de trabalhadores 
parciais. No sistema de máquinas, tem a indústria moderna o organismo de 
produção inteiramente objetivo que o trabalhador encontra pronto e 
acabado como condição material da produção. Na cooperação simples e 
mesmo na cooperação fundada na divisão do trabalho, a supressão do 
trabalhador individualizado pelo trabalhador coletivizado parece ser algo 
mais ou menos contingente. A maquinaria, (…) só funciona por meio de 
trabalho diretamente coletivizado ou comum. O caráter cooperativo do 
processo de trabalho torna-se uma necessidade técnica imposta pela 
natureza do próprio instrumental de trabalho (Marx, 1998, p. 442). 
 
31 
 
 
 
É válido dizer então que, o capital faz o operário trabalhar não mais com 
uma ferramenta manual, mas com uma máquina que maneja os próprios 
instrumentos e que, nesse processo a indústria moderna aumenta 
extradiornariamente a produtividade do trabalho ao incorporar as gigantescas forças 
naturais e a ciência ao valioso processo de produção. 
Sob esse aspecto, Marx (1998) enfatiza afirmando que o ponto de partida da 
indústria moderna é pois, a revolução do instrumental de trabalho e esse 
instrumental assume uma forma mais desenvolvida no sistema orgânico de 
máquinas da fábrica, o que de fato, gera consequências imediatas da produção 
mecanizada sobre o trabalhador. Dentre as consequências tem-se a apropriação 
pelo capital das forças de trabalho suplementares, o trabalho de mulheres e 
crianças, o prolongamento da jornada de trabalho bem como a intensificação deste. 
Nisso, podemos compreender que a tendência do capital é alardear os 
rumos de conflitudes entre as classes subalternas ao mesmo tempo em que procura 
compensar-se por meio desta com a elevação sistemática do grau de intensidade do 
trabalho como base de ampliação da mais-valia. 
1.4 As Transformações no Mundo do Trabalho 
Com as crescentes mudanças ocorridas no mundo do trabalho, verifica-se 
constantemente a desproletarização do trabalho industrial fabril nos países de 
primeiro mundo com afetação mínima na industrialização nos chamados países 
emergentes. Concomitantemente, tem-se notado a ampliação do trabalho 
assalariado e sua heterogeneização com acentuada inserção feminina dentro da 
classe operária. Paralelo a essas circunstâncias, presencia-se no universo 
trabalhista as formas de precarização dos meios de subsistência da vida humana em 
que Ricardo Antunes a define como subproletarização que marca um duplo sentido 
no capitalismo avançado. 
Como resultado dessas transformações, surge o aumento do desemprego 
estrutural atingindo dramaticamente toda a esfera global gerando o que podemos 
chamar de uma via de mão dupla dentro dos anseios do capital moderno, ou seja, se 
32 
 
 
 
de um lado tem-se a redução do operário industrial; de outro vê-se o aumento do 
subproletariado, o trabalho precário, a terceirização de mão-de-obra, trabalho 
parcial, temporário e a informalidade. 
Os trabalhadores, dentro dessa esfera de transformação do capital, têm 
entre si algo em comum: a precariedade do emprego e da remuneração bem como o 
vinculo ao trabalho protegido, que consiste em lhes garantir direitos trabalhistas de 
acordo com a lei vigente, no entanto o capitalismo burla esse direito de modo a 
precarizar as proteções trabalhistas. 
Segundo Harvey (1992) “ a atual tendência dos mercados de trabalho é 
reduzir o número de trabalhadores centrais e empregar cada vez mais uma força de 
trabalho que entra facilmente e é demitida sem custos...”(1992, p.144). 
De acordo com Antunes (2007), a classe-que-vive-do-trabalho está cada vez 
mais complexa, pois nela estão inseridos homens e mulheres formando uma grande 
massa heterogênea que comporta indivíduos particulares com identidades e 
subjetividades singulares e que no decorrer do processo produtivo e/ou vida social 
cada um irá expor essa individualidade. 
Outro agravante se configura nesse universo controverso do capitalismo, ou 
seja, verifica-se o aumento gradativo do assalariamento dos setores médios por 
conta da expansão do setor de serviços. Isso significa dizer que segundo pesquisas 
sobre o desenvolvimento das sociedades industrializadas, verifica-se um grau de 
elevação que se imbrica no setor de serviços abrangendo gradativamente esse 
segmento comercial. Antunes relata que 
“ deve-se afirmar, entretanto, que a constatação do crescimento desse setor 
não nos deve levar à aceitação da tese das sociedades pós-industriais, pós-
capitalistas (...) da maioria dos serviços. Pois não se trata de setores com 
acumulação de capital autônomo; ao contrário, o setor de serviços 
permanece dependente da acumulação industrial propriamente dita e (...) da 
capacidade das indústrias correspondentes de realizar mais-valia nos 
mercados mundiais” (2007,p. 55). 
As inquietações referentes ao trabalho e ao capitalismo produz 
consequências que refletem a uma dupla direção na classe trabalhadora: a redução 
do trabalhador operário ao mesmo tempo em que necessita de qualificação 
33 
 
 
 
profissional do trabalhador e paralelo a isso, desqualifica significativamente outra 
massa de empregados. Ricardo Antunes (2007) relata que essas mudanças do 
trabalho vivo pelo trabalho morto, ou seja, essa troca de valores, oferece ao 
trabalhador a chance de regular o processo de produção, porém, essa lógica tem 
elucidações abstratas que envolve novas formas de capturar e alienar o trabalhador 
dentro do processo produtivo do capital. Segundo Marx (1998): 
O capital mesmo é a contradição em processo, (pelo fato de) que tende a 
reduzir a um mínimo de tempo de trabalho, enquanto que, por outro lado, 
converte o tempo de trabalho na forma de tempo de trabalho necessário, 
para aumentá-lo na forma de trabalho excedente. (...) Por um lado desperta 
para a vida todos os poderes da ciência e da natureza, assim como da 
cooperação e do intercâmbio social, para fazer com que a criação da 
riqueza seja (relativamente) independente do tempo de trabalho 
empregado por ela (1998, p. 257). 
A outra consequência que atua paralelamente dentro da classe trabalhadora 
é a desqualificação do operariado industrial, concentrando dois paradigmas 
contemporâneos, isto é, ocorre uma desespecialização3 do trabalho operário 
advento do fordismo e concentra uma grande massa de trabalhadores à deriva e 
oscilantes entre a terceirização, subcontratos, informalidade e etc. 
A introdução dos trabalhadores flexíveis decorrentes do toyotismo dentro 
das grandes indústrias, possibilitou a desespecialização do trabalho dos operários 
com o intuito do capitalismo adquirir vantagens no processo de produção ao mesmo 
tempo em que aumentava a intensidade do trabalho. 
Ricardo Antunes (2007) divide a “periferia da força de trabalho” em dois 
subgrupos: o primeiro ele classifica como trabalhadores em tempo integral e que 
estão incluídos secretárias, trabalho rotineiro, setor financeiro e etc. O segundo está 
situado na periferia e com maior flexibilidade nas rotinas trabalhistas; nesse grupo 
 
3
 O mundo do trabalho no capitalismo contemporâneo contém múltiplas processualidades, ou seja, 
verifica-se a desproletarização do trabalho industrial e fabril nos países de capitalismo avançado com 
maior ou menor repercussão em áreas industrializadas do Terceiro Mundo. Em outras palavras, 
houve uma diminuição da classe operária industrial tradicional, mas, paralelamente, efetivou-se uma 
expressiva expansão do trabalho assalariado, a partir da enorme ampliação do assalariamento no 
setor de serviços.(Disponível em: http://www.estudosdotrabalho.org/5RicardoAntunes.pdf; Acesso 
em: 03/11/2012)). 
 
http://www.estudosdotrabalho.org/5RicardoAntunes.pdf
34 
 
 
 
estão incluídos os trabalhadores subcontratados, os temporários, e em tempo 
parcial; verifica – se portanto a expansãosignificativa desse grupo nas últimas 
décadas. 
As configurações apontadas por Ricardo Antunes (2007) no mundo do 
trabalho, evidenciam o contraste provocado pelo capitalismo dentro da classe 
trabalhadora em que ao mesmo tempo este exige a qualificação profissional também 
provoca a desqualificação em diversos ramos do processo produtivo gerando enfim, 
uma contradição em âmbito trabalhistas. 
 
1.5 A Questão Social no Brasil: Uma Análise no Contexto Histórico do 
Capitalismo 
As desigualdades sociais atingem o processo de desenvolvimento do Brasil 
construindo sob a égide do capital os paradoxos que configuram os reflexos da 
questão social no país. A hegemonia do capitalismo e os distúrbios lançados por ele 
na sociedade não são recentes, as marcas históricas persistem na 
contemporaneidade, diferencia-se somente o modo de agir de acordo com a 
modernidade em que ele está inserido e infiltra-se de forma mascarada com a 
mesma essência precedente ao longo da história. Iamamoto nos diz que “ o novo 
surge pela mediação do passado, transformado e recriado em novas formas nos 
processos sociais do presente” (Iamamoto, 2008, p.128). 
No atual mercado mundial, o Brasil consegue controlar sua economia e se 
destaca no comércio exterior, ou seja, aparece no cenário como um país de 
economia emergente e direciona uma forma particular no trato com a organização 
da produção, com as relações entre o Estado e a sociedade. Diante dessa atuação, 
a formação do universo político-cultural das classes, grupos e indivíduos sociais 
encontra-se comprometida com a lógica capitalista e subverte seus direitos para o 
crescimento e autonomia da economia do país no grande cenário do comércio 
internacional. 
Dentro desse cenário, Celso Furtado (2003) destaca as tendências da 
35 
 
 
 
economia internacional contemporânea. Para o autor, três ordens de fatores iriam 
contribuir para que um novo tipo de sistema internacional se estruturasse, 
proporcionando-lhe coerência e estabilidade. Dentre eles estavam os fatores de 
ordem política, fatores ligados à posição da economia americana no mundo e os 
fatores decorrentes do sistema monetário internacional que se apoiava nas 
instituições de Bretton Woodes4. 
Nesse sentido, diferentemente da antiga economia mundial que se baseava 
em um mercado internacional de produtos, a nova começou a definir-se em um 
sistema multinacional em que, um dos traços mais significativos diante dessa 
mudança estava no papel estratégico do Estado, o qual assumia-se como sujeito 
estabilizador das economias nacionais. 
O uso de políticas monetária e fiscal para proporcionar estabilidade aos 
sistemas econômicos nacionais (...) abriu nova fase evolutiva ao 
capitalismo, cujo alcance ainda não pôde ser percebido em toda sua 
complexidade (Furtado, 2003, p. 57). 
É, portanto, nesse capitalismo pós-cíclico5 que as funções econômicas do 
Estado encontram-se atreladas às funções de natureza da empresa, tornando-as 
como centro de decisões no processo do poder econômico. Nisso, o autor nos diz 
que a estabilidade dos sistemas econômicos favoreceu a tendência já manifesta 
anteriormente de abandono dos preços flexíveis para então serem administrados, o 
que de certa forma, beneficiaria as empresas que estavam em condições de planejar 
a longo prazo (maior poder financeiro). 
 
4 As Conferências de Bretton Woods, definindo o Sistema Bretton Woods de gerenciamento 
econômico internacional, estabeleceram em julho de 1944 as regras para as relações comerciais e 
financeiras entre os países mais industrializados do mundo. O sistema Bretton Woods foi o primeiro 
exemplo, na história mundial, de uma ordem monetária totalmente negociada, tendo como objetivo 
governar as relações monetárias entre Nações-Estado independentes (Disponível em: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordos_de_Bretton_Woods; Acesso em 20/11/2012). 
5
 Desde 1825, um fenômeno econômico mundial se repete de forma periódica. Clement Juglar 
registrou a repetição, a partir de 1862. Segundo ele, as crises econômicas se repetem num período 
que varia entre 7 e 11 anos. Embora estudos comprovem a sua existência, no pós-segunda guerra 
mundial, os economistas acabaram com o problema chamando o capitalismo de “pós-cíclico”. As 
flutuações econômicas, termo que passou a designar as crises, eram então acidentes do capitalismo 
que facilmente poderiam ser resolvidos (Disponível em: www.blogpost.com.br; Acesso em: 
01/01/2012). 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/1944
http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordos_de_Bretton_Woods
http://www.blogpost.com.br/
36 
 
 
 
As mutações ocorridas na esfera econômica traduzem-se na possibilidade, 
quase ilimitada, do capital diversificar-se funcional e geograficamente sugerindo-se 
que a eficácia econômica é a grande razão de ser da empresa-gigante. Nesse 
sentido, quanto mais diversificada a experiência da empresa em setores funcionais e 
áreas geográficas, mais amplos são os horizontes que se abrem. 
A curto prazo, a grande empresa pode intensificar os investimentos nas 
economias que apresentam possibilidades imediatas, mediante a 
mobilização de recursos financeiros retirados de outras áreas. A longo 
prazo mais longo ela se beneficia do fato de que planeja num horizonte 
temporal mais amplo e dispõe de grande poder financeiro (Furtado, 2003, 
p.60). 
É mister saber que, o processo de exploração de novos produtos torna-se 
uma das principais vantagens de concentração de renda para o empresariado e, 
paralelo a isso está a ampliação industrial e comercial. A concentração significa a via 
de acesso ao poder financeiro e permite a maximização de vantagens das ações 
diversificadas e do planejamento a mais longo prazo. 
Voltando ao papel do Estado, José Paulo Neto (1992) avalia que este 
sempre interveio no processo econômico a partir dos interesses dos donos do poder 
e que 
(...) na certeira caracterização marxiana, o representante do capitalista 
coletivo, atuara como o cioso guardião das condições externas da produção 
capitalista. Ultrapassava a fronteira de garantidor da propriedade privada 
dos meios de produção burgueses somente em situações precisas – donde 
um intervencionismo emergencial, episódico, pontual. Na idade do 
monopólio, ademais da preservação das condições externas da produção 
capitalista, a intervenção estatal incide na organização e na dinâmica 
econômicas desde dentro, e de forma contínua e sistemática. Mais 
exatamente, no capitalismo monopolista, as funções políticas do Estado 
imbricam-se organicamente com as suas funções econômicas (Netto, 1992, 
p. 21). 
No contexto da reflexão de Netto (1992), podemos concluir a nítida inflexão 
do Estado em favor do capitalismo monopolista, o que caracteriza-se como uma 
imbricação orgânica entre os aparatos privados dos monopólios e as instituições 
estatais, ou seja, entre o público e o privado. 
Nesse âmbito de refuncionalização do Estado para atender aos interesses 
do capital, as necessidades e demandas da classe trabalhadora tornam-se latentes 
37 
 
 
 
e paralelamente a isso tem-se um aumento significativo da questão social no país. 
Com tal reorganização, o Estado passa a incumbir-se da preservação e do 
controle da força de trabalho ocupada e excedente, combinando repressão policial 
com outras formas de ação que garantem o consenso. Segundo Netto (1992), essa 
função do Estado surge para favorecer o grande capital, ou seja, para que o mesmo 
possa valorizar-se e reproduzir-se. 
 
Não se trata aqui, simplesmente da “socialização dos custos” (...) 
obviamente que este é o fenômeno geral, através do qual o Estado 
transfere recursos sociais e públicos aos monopólios. O processo é mais 
abrangente e preciso: quer pelas contradições de fundo do ordenamento 
capitalista da economia, quer pelas contradições intermonopolistas e entre 
os monopólios e o conjunto da sociedade – o Estado– como instância da 
política econômica do monopólio – é obrigado não só a assegurar 
continuamente a reprodução e manutenção da força de trabalho, ocupada e 
excedente, mas é compelido (...) a regular a sua pertinência a níveis 
determinados de consumo e a sua disponibilidade para ocupação sazonal, 
bem como a instrumentalizar mecanismos gerais que garantam a sua 
mobilização e alocação em função das necessidades e projetos do 
monopólio (Netto,1992, p.23). 
 
Ao relatar fatos da sociedade capitalista podemos observar que o modo de 
produzir, distribuir e acumular bens materiais e riqueza é um produto histórico, ou 
seja, é o resultado da ação de homens e mulheres que , diante de suas 
necessidades, reproduzem as relações sociais (Mota, 2010). 
Tais condições e relações, segundo Mota (2010), continuam a revelar a 
coexistência planetária de uma polaridade: riqueza e pauperismo. Cabe então 
pensar em tais temas no âmbito do desenvolvimento histórico do capitalismo, pois 
de acordo com a autora 
O modo de produção capitalista, ao mesmo tempo em que institui o 
trabalhador assalariado e o patronato, também produz o fenômeno do 
pauperismo, responsável pelo surgimento da pobreza como questão social 
(Mota, 2010, p.25). 
 
Em meados do século XIX até o início do século XXI, o modo de produção 
capitalista, na concreção das formações econômico-sociais que o corporificam 
38 
 
 
 
planetariamente, transformou-se notavelmente. Segundo a autora (Mota, 2010), na 
contemporaneidade há uma diferença central em relação ao passado, ou seja, há 
uma diminuição e restrição no horizonte economicamente expansivo do capitalismo, 
no quadro da crise geral do assalariamento, dos mecanismos públicos de proteção 
aos riscos sociais do trabalho e da organização política dos trabalhadores e na 
expansão e hipertrofia do capital financeiro, do desemprego constante e da nítida 
diminuição do dever e responsabilidades sociais do Estado. 
 Com o crescimento das desigualdades sociais, torna-se evidente o 
processo de mudanças entre o novo e o velho em que alteram-se em direções 
contrapostas, ou seja, “a modernidade das forças produtivas do trabalho social 
convive com padrões retrógrados nas relações no trabalho, radicalizando a questão 
social” (Iamamoto, 2008, p.139). 
Segundo Iamamoto (2008), o desenvolvimento desigual é causado por 
contraposições de interesses no qual a hegemonia de uma categoria condiciona o 
enfraquecimento de outra: a desigualdade entre o desenvolvimento econômico e o 
desenvolvimento social, entre a expansão das forças produtivas e as relações 
sociais na formação capitalista. 
É nesse terreno que o capitalismo mascara a essência da realidade e atribui 
fetichismos e mistificações que obscurecem os efeitos de sua produção e 
acumulação e operacionaliza o atraso da sociedade brasileira que está no centro do 
capitalismo (Martins Apud Iamamoto, 1994). 
 Iamamoto (2008) relata o progresso da sociedade brasileira no contexto 
histórico no qual Martins considera como “sociologia da história lenta”, ou seja, o 
país ainda convive com padrões retrógrados articulados pelo capitalismo, o qual 
alude-se de novas roupagens para transpor de forma lenta as transformações 
sociais. O desafio, portanto, segundo o referido autor é compreender as articulações 
do capitalismo empreendidas em seu tempo e as diferentes relações reproduzidas 
em sua lógica (Martins Apud Iamamoto, 1994). 
Nesse patamar podemos considerar que a burguesia produz a desigualdade 
39 
 
 
 
ao longo da história através de movimentos antidemocráticos, ou seja, as decisões 
políticas eram comandadas de cima para baixo e excluía-se as classes subalternas, 
confirmando a destituição do direito à cidadania através da participação na política. 
Na década de 1950 do século XX, a burguesia constrói novos meios de 
sobrepor seus interesses acima das classes subalternas para consolidar o 
crescimento da economia e, enfim, relaciona-se com a expansão monopolista e 
incorpora-se à esse crescimento. 
A transição da burguesia para o crescimento monopolista transcreve uma 
falsa democracia, ou seja, restrita à classe dominante que tinha o objetivo de 
desenvolver um capital interno autônomo. 
O país então descaracteriza-se da democracia dos oligarcas para tematizar 
em seu perfil a democracia do capital estreitando os laços de dependência com o 
exterior sem deixar a herança colonial, permanecendo então as formas de 
subordinação da produção agrícola para a exportação. 
Para se consolidar no poder, as classes dominantes ignoram qualquer ideia 
de romper com o passado e percorre o caminho para a modernidade implantando 
novas formas de conter as pressões populares realizando mudanças para preservar 
a ordem. 
Com a exportação do mercado brasileiro, o capital estrangeiro se insere no 
país e o converte à modernização, porém aumentam as taxas de urbanização e 
transforma a estrutura social em condições complexas. Conforme Caio Prado Jr.: 
A situação de dependência e subordinação orgânica e funcional da 
economia brasileira com relação ao conjunto internacional de que participa, 
é um fato que se prende às raízes da formação do país, (...) Será 
essencialmente uma economia colonial, no sentido mais preciso, em 
oposição ao que denominaríamos de economia "nacional", que seria a 
organização da produção em função das necessidades próprias da 
população que dela participa. Esta é a circunstância principal que tornará o 
Brasil tão vulnerável à penetração do capital financeiro internacional quando 
o capitalismo chega a esta fase do seu desenvolvimento. O país far-se-á 
imediata e como que automaticamente, sem resistência alguma, em fácil 
campo para suas operações. (Prado, 2006, p.206). 
 
Nesse sentido o imperialismo das classes dominantes atua como um 
40 
 
 
 
poderoso fator de exploração da riqueza nacional, em outras palavras, a exploração 
não se faz em benefício de uma classe brasileira - haja vista a grupos 
insignificantes ligados diretamente ao capital financeiro e tão internacionais quanto 
ele - mas de classes e interesses completamente estranhos ao país. Isto significa 
dizer que neste processo não é apenas a classe trabalhadora que se desfalca, mas 
o “país em conjunto que vê escoar-se para fora de suas fronteiras a melhor parcela 
de suas riquezas e recursos” (Prado, 2006, p.214). 
Caio Prado Jr. (2006) faz uma alusão à economia brasileira ao afirmar que a 
intervenção do imperialismo desvirtua seu funcionamento, subordinando-a a fatores 
estranhos e impedindo sua estruturação normal na base das verdadeiras e 
profundas necessidades da população do país. 
É nisso, portanto, que o pensamento do autor iguala-se ao de Iamamoto 
(2008) quando exemplifica dizendo que o imperialismo representa o sentido de 
manter a economia brasileira na função primária, que vem do seu passado colonial, 
de fornecedora de gêneros tropicais ao comércio internacional. 
Não obstante, todos os fatores que hoje se mostram favoráveis a uma 
ruptura definitiva com este passado opõe-se nitidamente a ação do imperialismo e o 
estímulo para libertar o país de suas contingências coloniais ficam então em 
segundo plano. 
De acordo com Iamamoto (2008) a transmutação do capital se deu graças a 
acordos entre as frações de classes economicamente dominantes, à exclusão 
forçada das forças populares e à sua repressão permanente bem como a 
intervenção econômica do Estado. 
Nesse sentido, todas as opções concretas enfrentadas pelo Brasil, direta ou 
indiretamente ligadas à transição e evolução do capitalismo se deram de forma 
elitista e antipopular. 
As pressões populares – em meados do século XX - frente às classes 
dominantes iniciaram-se unitariamente, ou seja, sem grandes repercussões, mas 
desperta na democracia uma prática restauradora de adicionar mudanças nas 
41 
 
 
 
relações de poder, pois mesmo que timidamente, as reivindicaçõesdas classes 
subalternas ameaçavam uma transformação de “baixo para cima”( Iamamoto, 2008). 
O Estado e a burguesia mantêm laços constantes na história do Brasil e é 
através dessa aliança e da subalternidade da sociedade civil que se expõe uma 
democracia enfraquecida: mencionando o que já fora dito antes, o processo histórico 
das relações do Estado, da burguesia e das classes subalternas atravessam as 
fronteiras do tempo articulando-se às novas dimensões da modernidade. 
A burguesia brasileira está ligada ao poder oligárquico e compartilham 
interesses para renovar a expansão comercial, financeira e industrial. O fim da 
oligarquia não acontece, pelo contrário, “a velha oligarquia agrária recompõe-se, 
moderniza-se economicamente, refaz alianças para se manter no poder, 
influenciando decisivamente as bases conservadoras da dominação burguesa no 
Brasil” (Iamamoto, 2008, p.135). 
Com a República, os direitos dos cidadãos referente ao alcance político são 
colocados em tese para possíveis concretizações. Medidas como a abolição da 
escravatura, a generalização do trabalho livre e a instauração da propriedade de 
terra sanearam a organização capitalista da produção e do mercado de trabalho. 
A livre-concorrência é fator dominante na burguesia brasileira, porém 
prevalecem as ações de mandonismo, inerentes à tradição histórica do capital, para 
preservar a base de sua estrutura econômica e o seu status de valor no que se 
refere às formas de dominação e poder. 
Iamamoto (2008) atribui à questão agrária como forma de compreender o 
Estado historicamente no que diz respeito à sua atuação no espaço social brasileiro 
e no que tange à política de poder e as transformações ocorridas no território 
nacional. 
É nesse contexto que se fundem os interesses do capital e da renda da 
terra, o que causará um dúbio apontamento entre o proprietário de terras e o 
capitalista. O favorecimento desse bloco de poder revelou o aumento da população 
sobrante, o que consequentemente causou a diminuição dos salários dos 
42 
 
 
 
trabalhadores sem afetar os interesse desse bloco dominante e a modernização 
capitalista, porém, ao mesmo tempo, arcaica. 
A questão democrática mais uma vez é atingida pelos anseios da classe 
dominante e permanece debilitada em decorrência do conservadorismo político e do 
ideário liberal. O liberalismo transcreve sua trajetória no Brasil através do 
envolvimento das elites dominantes com o mercado agroexportador e mesclam-se 
com as ideologias do liberalismo que contracena com a lógica do lucro, da liberdade 
e igualdade. 
A partir de concepções europeias, a burguesia demonstra o desacordo 
contra o arbítrio e a escravidão, no entanto, na prática traduz a sua essência e 
revela-se o favor e o clientelismo como traços constantes dentro de instituições à 
qual pregava de forma ilusória o direito e a igualdade. 
 
Aqui os princípios liberais não se forjaram na luta da burguesia contra a 
aristocracia e a realeza e não evoluíram em função da revolução industrial. 
A industrialização no Brasil só se consolida tardiamente no século XX. (...) 
Os limites do liberalismo no Brasil, nas suas origens, foram definidos pela 
escravidão, pela sobrevivência das estruturas arcaicas de produção e pela 
dependência colonial nos quadros do sistema capitalista internacional. 
Trata-se de um liberalismo que nasceu tendo como base social as classes 
de extração rural e sua clientela (Iamamoto, 2008, p.138). 
 
É nesse patamar, portanto, que a burguesia insere a economia brasileira na 
condição monopolista e produz o agravamento da questão social e a “permanente 
exclusão dos trabalhadores urbanos e rurais das decisões do Estado e ao arbítrio do 
poder privado dos chefes políticos locais e regionais” (Iamamoto, 2008, p.139). 
Diante do exposto, podemos verificar que, sobre a lógica do capital em seu 
percurso histórico na sociedade brasileira, percebe-se o aprofundamento das 
desigualdades sociais e do desemprego e a vitória do neo-liberalismo no presente, 
no qual os indivíduos estão absorvidos por essa lógica e amparados pela sua 
própria sorte, ou seja, a única opção é de se virarem no mercado de trabalho atual 
que configura-se como competitivo e excluísta, ou seja, produz na sua essência o 
ato de favorecer apenas aos seus interesses. 
43 
 
 
 
II – PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E O PROCESSO DE QUALIFICAÇÃO E 
INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO 
Falar sobre pessoas com deficiência é muito mais complexo do que 
poderíamos pensar. O problema reside no fato de que qualquer definição ou 
conceito sobre o tema sugere em uma imagem que nós fazemos de tais pessoas. 
Quando nos perguntamos o que são pessoas deficientes, nos colocamos a 
imaginar que são pessoas que “despossuem” alguma parte física ou laboral, ou seja, 
“(...) a pessoa que você imaginou tem as características de um cego, de um 
demente, ou de um paralítico com todas as possíveis ideias que se podem fazer a 
respeito dessas palavras?” (Ribas, 1998, p.08). 
De acordo com Ribas (1998), o termo “pessoas deficientes” refere-se a 
qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as 
necessidades de uma vida individual ou social normal, sendo essa deficiência em 
decorrência de ser congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais. 
Nesse contexto, podemos avaliar que a deficiência está ligada a possíveis 
sequelas que restringiram a execução de uma atividade. Nesse ponto Ribas vai 
dizer que “a incapacidade diz respeito aos obstáculos encontrados pelos deficientes 
em sua interação com a sociedade, levando-se em conta a idade, sexo, fatores 
sociais e culturais” (1998, p. 10). 
 
2.1. Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência 
Dentro do universo de contradições do processo de produção e reprodução 
da mais-valia em favor da riqueza do empresariado, encontram-se as pessoas com 
deficiência, que estão à margem das mistificações idealistas de cunho capitalista. O 
processo de exclusão, historicamente imposto às pessoas com deficiência, deve ser 
superado por intermédio da implementação de inclusão e pela conscientização 
acerca das potencialidades desses indivíduos. Esse tipo de idealização messiânica 
deve ser retirado e substituído pela analise das correlações de força que pressionam 
e gradativamente tem buscado alterar esse quadro. 
44 
 
 
 
Ao realizarmos uma análise sobre o longo caminho ,percorrido em busca de 
direitos e igualdades das pessoas com deficiência, percebemos que as lutas e 
conquistas se propagam desde a Revolução Francesa de 1789 em que a concepção 
de cidadania consolidou-se como declaração de liberdade. 
Já no século XIX, a busca por direitos sociais com ações estatais que 
compensassem as desigualdades, garantiu aos desvalidos direitos implantados e 
construídos de forma coletiva, em prol da saúde, da educação, da moradia, do 
trabalho e da cultura para todos. 
Mas, foi apenas após a Segunda Guerra Mundial que houve a afirmação da 
cidadania completa, ou seja, percebeu-se a necessidade de valorizar a vontade da 
maioria e o respeito às minorias com suas necessidades e peculiaridades. Nesse 
contexto, tem-se aí o fundamento das políticas em favor de quaisquer minorias no 
qual se enquadram também as pessoas com deficiência, os quais passarão a ser 
sujeitos de seu próprio destino. 
O Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE) relacionado ao censo de 2010 e publicado em 2011, tem hoje cerca de 45 
milhões de pessoas com deficiência, ou seja, um total de 23,9% dentro de uma 
população brasileira de quase 191 milhões de habitantes (IBGE, 2010). 
No Estado do Ceará os dados do IBGE indicam que este possui 27,7% do 
total dessa população, que é equivalente a 2,3 milhões de habitantes. Do total de 
pessoas que possuem alguma deficiência no Brasil, a grande maioria vive em 
condições de extrema pobreza, sem acesso à escola,

Continue navegando