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tema 2 socio interacionismo

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1 
INTRODUÇÃO 
Um dos aspectos mais estudados e debatidos da atividade humana é a linguagem. 
É compreensível, uma vez que a linguagem está presente em nossa vida desde o 
nascimento e permeia todos os aspectos da vida humana, entre eles, a construção 
do conhecimento. 
Ao fazer uso de uma língua, uma série de fenômenos ocorrem simultaneamente o 
que torna o estudo da linguagem algo complexo e multifacetado. 
O simples ato de ler um texto exige não somente decodificar os signos utilizados 
culturalmente, como também uma capacidade de visão, raciocínio, concentração, 
articulação etc. Sendo assim é possível dizer que inúmeros são os fatores e 
elementos a serem estudados e considerados quando falamos em linguagem, todavia 
para nosso estudo iremos tomar como conceito central de linguagem: 
[...] considera-se que a linguagem envolve aspectos formais (fonologia, sintaxe, 
semântica), pragmáticos (articulação de níveis linguísticos, manipulação de critérios 
de textualidade, de regras convencionais e discursivas), interativos (quadro de 
imagens dos falantes, memória discursiva), contextuais (entornos verbais, 
situacionais, contextuais), discursivos (dialogismos, interdiscurso, memória 
discursiva, pré construídos), psíquicos (atos falhos, lapsos, afetivos) e 
históricoculturais (presença da relação língua/sociedade) (SANTANA, 2007, p.225). 
 
A língua de sinais, tem sido compreendida como uma língua natural equivalente a 
qualquer outra língua no mundo, seja ela uma língua oral como o Português ou o 
Inglês, entre outras línguas. Essa mudança de paradigma com respeito às línguas de 
sinais ocorreu devido a uma série de estudos, que comprovaram, entre muitos 
 
 
2 
aspectos, que a sinalização obedece a princípios linguísticos comuns a todas as 
línguas humanas, bem como apresenta aspectos inovadores propiciados pela 
modalidade diferenciada das línguas de sinais. 
Para compreendermos como foi possível fazer essa mudança de status linguístico é 
necessário compreender a perspectiva sócio-interacionista da língua. 
Compõe ainda objeto de nossa reflexão o processo de aquisição da língua de sinais 
pela criança surda e as implicações do atraso no processo de aquisição desta língua. 
Por fim, voltaremos nosso olhar para a estrutura básica da língua de sinais brasileira 
sob uma perspectiva linguística, ou seja, que elementos sustentam o status linguístico 
da língua brasileira de sinais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
Socio-interacionismo: uma 
ferramenta de análise para 
compreender o processo de 
comunicação na surdez 
 
A surdez é o objeto de estudo de muitos pesquisadores. As dificuldades oriundas 
desta limitação têm despertado o interesse de várias linhas de pesquisa. 
Para a grande maioria dos pesquisadores desta área o problema mais significativo, 
para a pessoa surda, está na aquisição da linguagem. Pelo fato de, em geral, ela se 
dar de forma tardia, acarreta problemas psicológicos, sociais e cognitivos: o que 
significa dizer que a linguagem então possui uma função muito mais abrangente do 
que simplesmente a de comunicar. 
Vygotsky e Bakhtin fazem um estudo da linguagem a partir da ótica social e sobre a 
influência do meio social no desenvolvimento cognitivo do indivíduo, que é a chamada 
psicologia sociointeracionista. 
 
 
4 
 
Fonte: Pixabay. 
Consciência e ideologia: uma 
questão de linguagem? 
Contrariando o subjetivismo idealista, que parte do ato da fala como criação individual, 
e o objetivismo-abstrato, que parte das regras gramaticais determinadas pela 
sociedade e não pelo indivíduo, portanto este não pode modificá-la apenas utilizá-la. 
Bakhtin objeta seus estudos sobre aquisição da linguagem, nas relações 
interpessoais e no meio social no qual a pessoa participa. 
https://pixabay.com/pt/photos/pessoas-amigos-grupo-m%C3%A3os-sinais-2608145/
 
 
5 
 
“A consciência humana não só nada pode explicar, mas, ao contrário, deve 
ela própria ser explicada a partir do meio ideológico e social” (BAKHTIN 
apud GOLDFELD,1990 p. 46). 
 
Para Bakhtin, há uma relação inseparável entre o psiquismo (individual) e ideologia 
(social). A ideologia é responsável pela construção da consciência individual. O 
indivíduo ao atuar na sociedade o faz com suas marcas individuais que por sua vez 
se originaram no meio social. Estas relações sociais constituem o indivíduo que se 
utiliza da linguagem, dos signos para comunicar-se tanto no diálogo exterior, quanto 
no interior (pensamento). Neste sentido o meio social passa existir a partir da 
consciência individual que por sua vez existe a partir do social. 
Sendo assim, a língua não só é determinada pelo meio social e pelo momento 
histórico, como reflete as características sócio-históricas da comunidade que a utiliza. 
Ou seja, a maneira de falar, o valor atribuído às palavras e toda a subjetividade é 
determinado pelo momento sócio-histórico em que o indivíduo se desenvolve. 
Os signos são os mediadores da internalização da relação ideológica-psíquica, uma 
vez que o homem internaliza o símbolo, o semiótico, a linguagem. 
 
Os signos só emergem decididamente, do processo de interação entre 
uma consciência individual e outra. E a própria consciência individual está 
repleta de signos. A consciência só se torna consciência quando se 
impregna de conteúdo ideológico (semiótico) e, consequentemente, 
somente no processo de interação verbal. (BAKHTIN apud GOLDFELD, 
1990, p.49). 
 
 
 
6 
Então, como ocorre o desenvolvimento da consciência nos surdos que não têm 
acesso a língua de sua comunidade? Para Bakhtin os signos não se restringem única 
e exclusivamente a fala oral. Todo e qualquer meio pode servir como meio de 
utilização dos signos. O problema então, não está no indivíduo que não ouve ou em 
seus ouvidos que não captam o som. O problema está no meio social em que o 
indivíduo está inserido. 
Num passado não muito distante, o surdo foi proibido de utilizar sua língua natural e, 
consequentemente, de viver sua própria cultura. Hoje, os surdos não são proibidos 
legalmente de se comunicar através de sinais, mas muitos surdos não têm acesso a 
um grupo social que utilize essa língua, permanecendo à margem da sociedade. 
O processo de aquisição da língua portuguesa, para um surdo, é muito lento e não se 
dá de forma natural, enquanto a LIBRAS é adquirida de forma natural e espontânea 
e com ela todas as características culturais de sua comunidade. 
 
 
7 
Pensamento e linguagem: bases para a 
comunicação 
 
Fonte: Pixabay. 
Vygotsky desenvolveu suas pesquisas entre os anos de 1926 a 1936. Parte dos 
estudos sobre a relação entre pensamento e linguagem existentes em sua época, que 
ou consideravam pensamento e linguagem uma mesma função, ou o seu extremo, 
totalmente independentes. 
Propõe que o estudo da relação entre estas funções seja feito a partir de sua unidade 
comum, pois assim há a conservação de todas as propriedades do todo, não havendo 
https://pixabay.com/pt/photos/michelangelo-abstract-menino-71282/
 
 
8 
o risco de dividir sua estrutura a ponto de perder a noção do seu real funcionamento, 
evitando que se tenha uma visão reducionista dessas funções e suas relações. 
A unidade pertencente ao pensamento e a linguagem, segundo Vygotsky, está no 
significado da palavra. É nele que o pensamento e a linguagem se unem dando 
origem ao pensamento linguístico. Neste sentido, a linguagem não tem apenas a 
função de comunicar, mas também de constituir o pensamento. Com isso pode-se 
concluir que o processo de aquisição da linguagem para Vygotsky é o mesmo de 
Bakhtin, do meio social para o indivíduo. 
Segundo Vygotsky, “[...]o pensamento não é simplesmente expresso em palavras, é 
por meio delas que ele passa a existir.” (VYGOTSKY apud GOLDFELD, 1990, p. 53) 
isto significa dizer que o meio social em que o indivíduo está inserido, desempenha 
um papel importante e é neste meio que se deve focarnossa análise nos casos em 
que há atrasos de linguagem. 
A criança surda que apresenta problemas de comunicação e cognição deve ser 
analisada pelo meio social que está inserida, pois é ele que não está lhe oferecendo 
condições de adquirir uma língua natural. 
 
“A natureza do próprio desenvolvimento se transforma do biológico para o 
sóciohistórico. O pensamento verbal não é uma forma de comportamento 
natural e inato e tem propriedades e leis específicas”. (VYGOTSKY apud 
GOLDFELD, 1990, p. 54). 
 
Para Vygotsky, existem duas linhas de constituição do pensamento, a primeira é 
natural, biológica; e a segunda é sócio-histórica, mas é a segunda, a sócio-histórica, 
que exerce maior influência no desenvolvimento do pensamento. Em outras palavras, 
a linguagem utilizada no meio social modela a maior parte do pensamento, o que 
explica por que os surdos que não tiveram acesso a uma língua natural desenvolvem 
 
 
9 
um tipo de pensamento mais concreto e possuem dificuldade em internalizar 
conceitos mais abstratos: um quadro difícil de ser revertido quando já se está na 
adolescência ou na fase adulta. Daí a necessidade de introduzir, o mais cedo 
possível, um ambiente que se utilize LIBRAS, assim, o surdo não estará apenas 
aprendendo a nomear objetos, mas estará fazendo o mais importante, constituindo 
seu pensamento ideológico, compreendendo desde os conceitos concretos, como 
mesa, casa, livro, até conceitos puramente abstratos, como: eu, ética, metafísica. 
Aquisição da linguagem e desenvolvimento cognitivo 
 
Fonte: Pixabay. 
O pensamento e a linguagem, no início da vida de um bebê, segundo Vygotsky, estão 
dissociados, por isso classifica essas funções como linguagem não intelectual e 
pensamento não verbal. 
https://pixabay.com/pt/photos/menina-meninos-crian%C3%A7as-516341/
 
 
10 
O recém-nascido, inicialmente, possui apenas reações instintivas (choro, balbucio...), 
que vão adquirindo significado a medida em que a mãe interage com ele. Ao 
amamentar o bebê após o choro, por exemplo, a mãe está fazendo com que ele 
adquira o significado de fome, assim, toda vez que sentir necessidade fisiológica de 
alimento, o bebê se utilizará do choro para dizer a mãe que está com fome, atribuindo 
ao choro uma função comunicativa com a mãe. O mesmo acontece com as tentativas 
de apanhar objetos distantes que, por não estarem ao seu alcance, a criança os 
aponta, comunicando ao adulto que os quer. Ações um tanto quanto simples, mas 
fundamentais, pois são o início de um processo mais complexo, que apenas o ser 
humano domina e que lhe possibilita formas de raciocínio extremamente 
desenvolvidos: o da linguagem. 
A criança desenvolve sua fala a partir da fala da comunidade a qual pertence. Os 
adultos não só estimulam a comunicação da criança, mas também o seu 
desenvolvimento intelectual, ao ajudar na realização de tarefas que elas ainda não 
fazem sozinhas. A relação entre o psiquismo do adulto e o da criança dá origem ao 
desenvolvimento cognitivo que para Vygotsky é inter-psíquico. 
Em torno dos dois anos de idade, a criança passa a utilizar a fala social com a função 
de comunicação. Que se desenvolve em dois sentidos: o primeiro se refere ao 
aumento da complexidade das estruturas linguísticas utilizadas na comunicação; e o 
segundo se refere a internalização, que é a substituição da fala do adulto pela sua 
própria fala na realização de tarefas. 
Dos dois anos aos seis anos de idade é comum as crianças falarem sozinhas 
enquanto brincam. Esse ato denominado por Vygotsky como fala egocêntrica, marca 
o início da função cognitiva da linguagem de forma intrapsíquica. Pensamento e 
linguagem passam a ser interdependentes. A linguagem passa a organizar e orientar 
o pensamento da criança. 
A estrutura da fala egocêntrica, no início, é muito semelhante à da fala social, mas à 
medida que a criança se desenvolve, esta semelhança vai diminuindo, pois a 
 
 
11 
estrutura gramatical aos poucos vai sendo abreviada, e a criança se dá conta que o 
interlocutor da fala é ela mesma, por isso a fala egocêntrica é predicativa já que a 
criança sabe de quem ou a que está se referindo não há necessidade de mencionar 
o sujeito. 
Inicialmente, a fala egocêntrica é utilizada no fim da atividade. Isso ocorre em tono 
dos três anos de idade. A fala aqui se refere ao que já foi feito. Com o passar do 
tempo e o desenvolvimento da criança, sua fala passa a ser utilizada durante a 
atividade até que finalmente chega a antecedê-la, ou seja, neste estágio a criança já 
é capaz de planejar, de maneira consciente, através de sua fala, suas ações futuras. 
Com o desenvolvimento da criança, sua fala egocêntrica vai sendo interiorizada, 
passando assim a utilizar a fala interior. Neste estágio a verbalização não se faz 
necessária, e a criança já consegue organizar suas atividades, fazendo uso apenas 
do pensamento verbal. 
A fala interior difere da fala social uma vez que é composta por significados e 
generalizações, não se concentrando na expressão fonética. 
Como já mencionado anteriormente, a aquisição de linguagem é um processo que 
acontece do exterior para o interior. Tem seu princípio na fala social, passa para a 
fala egocêntrica até chegar à fala interior, que é a principal forma de pensar, e que 
também é conhecida como pensamento linguístico. 
Ao afirmar que a linguagem além da função comunicativa também tem a função de 
organizadora e planejadora, está se afirmando também que as crianças surdas que 
sofrem atraso de linguagem estão em desvantagem em relação às crianças que 
adquirem linguagem de forma natural. A aquisição de linguagem é a principal 
responsável pelo desenvolvimento cognitivo da criança e toda a cognição é 
determinada pela linguagem que, por sua vez, é influenciada e determinada por 
questões culturais e sócio-econômicas. 
 
 
12 
De fato, a necessidade de comunicação do ser humano é tamanha que, ainda que 
uma criança surda desconheça a língua de sinais e a língua oral, seu convívio social 
permite que ela simbolize e conceitue, e de alguma forma, se comunique. Mas sua 
comunicação será muito limitada, pois não possui acesso a todas as informações e 
assuntos que os ouvintes têm. Sua compreensão se restringirá ao presente, sendo-
lhe quase que impossível compreender o passado, o futuro e os assuntos abstratos. 
Ao permanecer vinculada ao concreto, suas funções organizadora e planejadora da 
linguagem não se desenvolvem de forma plena e satisfatória. 
Formação de conceitos 
O conceito está ligado à capacidade de generalização, de categorização das 
palavras. O significado é mutável e se modifica à medida que o indivíduo se 
desenvolve, mas não significa dizer que a generalização e a abstração se modificam. 
A palavra pode nomear diversos objetos para uma criança e por isso se utiliza, 
normalmente, do auxílio de gestos para que o interlocutor a compreenda. Ao falar 
água, por exemplo, a criança pode estar se referindo a água que está vendo em um 
aquário ou piscina, ou ainda pode estar afirmando que está com sede. Para que o 
adulto a compreenda, ela certamente apontará para um copo e falará água, o que 
significa estar com sede. 
Pode-se concluir que o pensamento conceitual não é algo inato, pelo contrário, para 
chegar até ele a criança precisa passar por um processo que dependerá muito da 
participação do adulto, uma vez que a criança sozinha não é capaz de inventar 
conceitos: o que significa dizer que suas relações sociais serão muito importantes 
neste processo, pois é através dos conceitos de sua família e de sua comunidade que 
a criança passa a formar a sua maneira de pensar. 
O início do processo de categorização é marcado pela percepção das semelhanças, 
algo não tão simples, pois envolve um certo grau de abstração, em que a criança 
 
 
13 
precisa separar as características dos objetos, compará-las e ser capaz de 
reconhecer as semelhanças. 
Ao longodo seu desenvolvimento, a criança categoriza os objetos de diversas formas. 
Vygotsky salienta três etapas deste processo: 
Na primeira, a criança não procura semelhanças, mas simplesmente agrupa objetos 
de forma aleatória. 
Na segunda etapa, a criança já utiliza alguns critérios para o agrupamento, porém 
esses critérios ainda não são subjetivos ou lógicos, mas apenas concretos e fatuais. 
Vygotsky, denomina essa fase como pensamentos complexos, onde as palavras 
possuem um significado muito amplo, como no exemplo da água, citado 
anteriormente. 
No final do estágio de pensamento por complexos a criança já possui fala semelhante 
a do adulto, porém os significados das palavras ainda deferem bastante, pois ela 
ainda não é capaz de perceber as relações lógicas entre os conceitos. 
Nessa etapa a criança inicia seu processo de abstração quando consegue agrupar 
objetos com maior semelhança. Esse estágio precede os conceitos verdadeiros, onde 
a criança só chega após ser capaz de abstrair, de se desvincular do concreto, de 
sintetizar, de analisar. 
 
“Um conceito só aparece quando os traços abstraídos são sintetizados 
novamente, e a síntese abstrata daí resultante torna-se o principal 
instrumento do pensamento” (VYGOTSKY apud GOLDFELD, 1997 p. 66). 
 
Cada conceito é uma generalização que, relacionados entre si, formam uma relação 
de generalizações, que por sua vez não são percebidas pela criança na fase dos 
 
 
14 
complexos. Pois ainda não são capazes de perceber a hierarquia existente entre os 
conceitos de flor e rosa. 
O sistema conceitual do indivíduo é formado quando ele é capaz de perceber as 
relações de generalidade entre os conceitos, sendo capaz de elaborar novos 
conceitos sem necessariamente estar ligado a uma situação concreta. Seus conceitos 
surgem de outros já conhecidos. 
Conceitos generalizados como roupa, moradia, mobília, marcam um avanço muito 
grande no desenvolvimento da criança e demonstram que ela já está estabelecendo 
relação entre eles. Mais do isso, já está sendo capaz de libertar-se do concreto, 
podendo falar de tempo e espaço não alcançados por ela. 
Daí a dificuldade em conversar com crianças surdas, em português, sobre assuntos 
que não estejam relacionados ao ambiente em que ela e o interlocutor estejam. Em 
geral o adulto, diante dessa dificuldade, evita falar sobre assuntos abstratos com a 
criança surda, impossibilitando que ela venha a desenvolver o domínio desses 
conceitos. Por isso a criança surda, muitas vezes, fica restrita a níveis de 
generalizações concretas, apresentando grande dificuldade em perceber a relação 
existente entre palavras hierarquicamente relacionadas como: ser vivo – vegetal – flor 
– margarida. Muitas vezes considera-os como equivalentes, não sendo capaz de 
utilizar generalizações do tipo seres vivos e vegetais. 
Para Vygotsky, adquire-se os conceitos de duas formas: do dia-a-dia, da experiência 
concreta, que são os conceitos espontâneos, e não na escola, que é responsável por 
boa parte dos conceitos aprendidos de maneira formal. Esses são chamados de 
conceitos científicos, e são aprendidos através da explicação e de outros conceitos 
que a criança já domina. Os dois tipos de conceitos fazem parte de um sistema onde 
um impulsiona o desenvolvimento do outro. 
 
 
15 
 Libras: o estudo da sua estrutura linguística 
 
Fonte: Flickr. 
 Para entender o status linguístico da Libras, precisamos refletir primeiramente sobre 
o que significa estudar uma língua. Podemos estudar uma língua por meio do 
conhecimento de sua estrutura. Dessa maneira, busca-se encontrar padrões de 
organização dentro da língua, bem como similaridades entre os padrões encontrados 
dentro de uma língua com outras línguas. As línguas de sinais nos oferecem, nesse 
sentido, uma particularidade interessante. Diferentemente das línguas orais, ela se 
faz presente na modalidade visoespacial. Isso significa que sua articulação acontece 
de forma visual e que os interlocutores usam o espaço ao seu redor como processo 
natural de comunicação. O estudo linguístico, quando pelo viés da forma, ocupa-se 
normalmente das seguintes categorias: fonologia, morfologia, semântica e 
pragmática. As línguas de sinais, incluindo a Libras, são analisadas de acordo com 
essas categorias de análise. A seguir, serão descritos alguns dos resultados 
principais desses estudos, juntamente com algumas reflexões sobre como esse 
conhecimento pode ajudar no respeito à e no aprendizado da Libras. 
https://www.flickr.com/photos/mairasoares/3093281805/in/photolist-5HkSUV-AFXqh5-BDuhZ8-B5YiLK-BDu8zg-AFXKCu-BcmdRf-Bwc5GK-BBbcQj-BBb3as-AG4xvF-DNCaRD-21Pxh1k-XkmY32-XkmY3n-XkmY2F-xwg3RJ-5YEorG-rsANsz-rJWC9W-qN43ts-rstdcJ-rsukuE-rK3UqV-rJXRkH-2hNngFs-YMaTVy-ryNoJ3-XLJzTN-FekqMm-NV8xSF-G1BEV7-Fek9KG-23zuKGA-NndUQU-G3W3ax-QVrSEr-QSM8tL-NpMUWB-NndUAA-NndTcJ-N69xGo-NV8Nba-NV8AYk-NndkMu-NpMTdB-N69z2Y-NpMSMr-NpMR8p-NpMSfp/
 
 
16 
 Fonologia 
Embora possa parecer estranho encontrar a fonologia dentro dos estudos de uma 
língua sinalizada, as pesquisas encontraram paralelos interessantes que nos 
mostram como línguas como a Libras possuem uma arquitetura e organização 
semelhante, mesmo no nível fonológico. 
A fonologia é originalmente considerada como o estudo da relação entre os sons de 
uma língua com a distinção de sentido. Esse conceito foi estendido também para as 
línguas de sinais. Mais especificamente, o aspecto que permite pensarmos em uma 
fonologia da Libras, por exemplo, diz respeito ao estudo dos pares mínimos de uma 
língua. Esses são os fonemas, ou sons que individualmente não são provocam 
diferença de sentidos, mas que quando comparados com os de outras palavras, 
ocasionam a mudança de sentidos entre elas. Podemos tomar como exemplo os 
fonemas das palavras pala e mala. A diferença está no primeiro fonema, portanto, ele 
é contrastivo. 
A Libras também produz sinais a partir do mesmo princípio fonológico. Para entender 
como isso se dá, precisamos primeiramente entender como se dá a construção de 
um sinal. O princípio básico está no seguinte padrão de organização: 
● О Configuração de mão: a forma como a mão está articulada; 
● О Locação: o local onde a configuração de mão é colocada para a articulação 
do sinal; 
● О Movimento: o movimento do sinal ou movimento interno do mesmo. 
Ainda existem alguns aspectos importantes na formação do sinal chamados de 
expressões não manuais, que podem incluir a expressão facial, a direção do olhar, 
entre outros. É importante que se lembre desses parâmetros básicos para a formação 
do sinal, visto ser comum os estudantes de Libras cometerem erros na sua articulação 
por falta de consciência de sua organização. 
 
 
17 
Portanto, os três primeiros parâmetros mencionados, configuração de mão, locação 
e movimento, são responsáveis pela articulação do sinal. Assim como em línguas 
orais como o Português, a troca de um parâmetro da articulação acarreta na mudança 
do seu sentido. Isso é observado em pares de sinais realizados de forma quase 
idêntica, a não ser por um parâmetro. Por exemplo, podemos notar a diferença entre 
os sinais DESCULPA e VERDE. Os dois sinais podem ser realizados no mesmo local 
e com o mesmo movimento, porém com a configuração de mão diferente. 
A partir dos estudos com línguas de sinais, o conceito de fonologia então passa a ser 
compreendido como o estudo das unidades mínimas sem sentido em uma língua e 
como a sua mudança pode causar a mudança de sentido de uma palavra. Na prática, 
esse conhecimento é importante para que se aprenda a diferenciar os sinais, tanto no 
momento em que se percebe a sua formação como no momento em que se precisa 
produzi-lo. A mudança de um dos seus parâmetros pode mu- dar o sentido ou fazer 
com que o sinal fique completamente incompreensível. O sinal em Libras também 
pode ser compreendido pela sua morfologia. A seguir, serão dados alguns exemplos 
de organização morfológicada Libras. 
● Morfologia 
A Libras também se organiza de acordo com padrões estudados da morfologia. Esta 
área do estudo linguístico se ocupa das unidades mínimas responsáveis por sentidos 
específicos, e são assim importantes para a produção do léxico, ou seja, o seu 
conjunto de sinais. Por meio dos estudos morfológicos, podemos entender quando 
uma palavra designa o feminino, como em menina; o masculino, como em menino; o 
singular ou o plural, pela presença ou ausência de s. Além desses casos, também há 
estudos sobre quando esse mesmo padrão não é obtido dentro do léxico de uma 
língua. A seguir, você poderá compreender como alguns desses aspectos são 
marcados em Libras. 
 
 
18 
● Gênero em Libras 
A Libras também tem uma forma para marcar o gênero masculino e feminino quando 
necessário. O sinal MULHER e HOMEM normalmente é utilizado para os casos onde 
o sinal anterior não marcar gênero. Um bom exemplo é o sinal PRO- FESSOR, que 
em si não marca gênero, e isso pode ser sucedido pelo sinal HOMEM ou MULHER. 
● Número em Libras 
 A organização das informações por número indica se o referente de um enunciado é 
singular ou plural. A Libras possui alguns mecanismos para a disposição de 
informações nesse sentido. A repetição do sinal no espaço em frente ao sinalizador é 
um exemplo desse mecanismo. Quando se busca o que em português seria o plural 
da palavra Casa, um sinalizador faria a repetição desse sinal no espaço. 
 
● A sintaxe da Libras 
A sintaxe é a área de estudos linguísticos que analisa como as frases são 
organizadas. A diferença mais significativa na forma como a Libras organiza as suas 
frases está no uso da modalidade visoespacial. Enquanto as línguas orais auditivas 
usam o aparelho fonador como articulador principal, as mãos são o principal meio de 
línguas como a Libras. Assim, elas podem articular o seu discurso no espaço a sua 
frente, fazendo relação aos referentes. A isso se chama campo anafórico. 
A consciência da forma como a Libras organiza a suas frases é importante para quem 
vai começar a aprender a se comunicar com surdos. É comum esperar que eles façam 
as suas frases na mesma estrutura do Português. Isso não corresponde à realidade 
das línguas, visto haver diferentes formas de organização sintática. O aprendiz deve 
conhecer mais sobre como as frases são feitas para poder melhorar a sua 
 
 
19 
comunicação. Uma dica interessante é prestar atenção no tipo de verbo utilizado. Um 
exemplo são os verbos direcionais. Esse tipo de verbo utiliza o espaço à frente do 
sinalizador e faz com que a configuração de mão percorra uma trajetória. Assim para 
dizer “Eu avisei a você”, é necessário usar o sinal AVISAR e direcioná-lo ao 
interlocutor a frente e, para dizer o contrário, – “Você me avisou”–, você deverá fazer 
o caminho inverso, trocando não somente a direção do sinal, mas a orientação da 
mão, invertendo-a. 
● Semântica e pragmática 
 Assim como nas línguas orais, as línguas de sinais também possuem padrões de 
organização semântica e pragmática. Quando se estuda a semântica de um sinal ou 
de uma palavra, o objetivo maior é compreender que sentidos podem haver dentro de 
uma frase. Por outro lado, quando associamos a nossa busca ao contexto onde ela é 
dita, estamos colocando a pragmática. Um exemplo clássico acontece quando 
alguém, em uma sala, pede para outra pessoa fechar a janela devido ao frio. Isso 
pode ser dito diretamente como em: “por favor fecha a janela”. Ou então pode ser dito 
por meio do contexto pragmático, olhando para a janela e dizendo: “Está frio hoje, 
não”. A outra pessoa pode entender que deve fechar a janela, mesmo que dentro do 
enunciado não haja a palavra frio ou fechar. Esse sistema de organização também é 
visto em línguas sinalizadas como a Libras, o que implica na necessidade de buscar 
o sentido dentro do contexto e não apenas por meio da localização e uso de sinais 
individualmente. 
Outra questão semântico-pragmática que é importante lembrar ao se conhecer a 
Libras diz respeito à existência de sinais idênticos para sentidos diferentes. Esse é 
normalmente o caso do sinal LARANJA e SÁBADO. Os dois sinais são feitos com a 
mesma configuração de mão, locação e movimento. O sentido pode normalmente ser 
visto no contexto da interlocução. Isso nos remete para importantes questões 
frequentemente levantadas por alunos que estão começando a aprender a língua de 
 
 
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sinais. Muitos argumentam que o sentido poderia ser único para evitar confusões e 
ser mais fácil o aprendizado. No entanto, é importante lembrar que a Libras se trata 
de uma língua natural e que, assim, ela passa por fenômenos semelhantes a elas, 
sejam da modalidade oral como o Português ou outra língua na modalidade 
sinalizada. 
● O léxico da Libras 
Quando falamos do léxico da Libras neste capítulo, estamos tratando do conjunto do 
vocabulário que essa língua usa para propiciar a comunicação. Esse pode ser 
composto por sinais já estáveis na língua, isto é, sinais já presentes e conhecidos 
entre os seus usuários. Por outro lado, também há a possibilidade de produção de 
novo vocábulo, como já mencionado. É comum alunos questionarem se esse 
processo deveria ser acelerado ou, então, controlado para fins de universalização. É 
importante lembrar novamente que isso não pode e não deve ser contido, visto a 
Libras não ser uma língua artificial. Por outro lado, a criação de novos sinais depende 
do conhecimento que os indivíduos possuem das regras de formação de sinais, bem 
como da sua experiência linguística, educacional e de trabalho, entre outras. 
O léxico da Libras também pode fazer uso de elementos do Português, como o 
alfabeto manual. A isso chamamos empréstimo linguístico. O alfabeto manual, 
também chamado de datilológico, corresponde às letras do alfabeto. É comum pensar 
que esse alfabeto corresponde a todos os sinais utilizados pelos surdos, ou que para 
se comunicar com os surdos basta simplesmente usá-lo soletrando cada letra do 
alfabeto manual. Isso pode ser complicado para a sua comunicação. Os surdos que 
usam a Libras possuem um vocabulário próprio dentro da sua língua de sinais. As 
palavras do Português correspondem ao vocabulário de outra língua, e os surdos 
podem não ter tido acesso a esse vocabulário. O fato de os surdos compartilharem a 
identidade de brasileiros e conviverem entre textos escritos em Português não 
significa automaticamente que eles tenham conhecimento pleno do vocabulário dessa 
 
 
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língua. Para que a comunicação aconteça com qualidade, é importante respeitar o 
vocabulário do léxico da Libras, aprendendo os seus sinais e utilizar o alfabeto manual 
para momentos onde não houver um sinal comum, respeitando o fato de a palavra 
não ser do léxico da língua de sinais. 
● Variação linguística da Libras 
A variação linguística é o processo pelo qual as línguas mudam ao longo do tempo 
ou de uma determinada região em comparação com outra região. Na Libras, também 
é possível encontrar o fenômeno da variação linguística. Por exemplo, o sinal 
PESSOA utilizado no estado do Rio Grande do Sul não é o mesmo encontrado em 
outras regiões do Brasil. Enquanto esse sinal é articulado no tórax do sinalizador, em 
outras partes do Brasil esse conceito é sinalizado na região superior da cabeça. 
Para que se conheça a língua, é importante aprender a respeitar a sua variação 
sociolinguística. Isso não significa que se deva aprender todas as formas de um sinal 
já de início. Um lugar interessante para se conhecer a variação linguística da Libras 
é a internet. O site Youtube contém vídeos de diversas partes do Brasil. Em se 
tratando de línguas de sinais de outros lugares do mundo, o site também é um ótimo 
lugar para a busca. No entanto, é importante usar de critérios para a busca e o 
conhecimento de línguas de sinais na internet, visto que o aluno pode estar 
aprendendo uma variação que não pertence a suaregião. A orientação de um 
profissional do ensino da Libras é importante para que se possa aproveitar da melhor 
maneira o conhecimento disponibilizado em vídeos na internet. 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
LADD, P. Deaf Culture In search of Deafhood. London: Multilingual Matters, 2003. 
LANE, H. A Máscara da Benevolência: A comunidade Surda Amordaçada. Lisboa: 
Instituto Piaget, 1992. 
QUADROS, R; KARNOPP, L. Língua de Sinais Brasileira: Estudos Lingüísticos. 
Editora Artmed: Porto Alegre, 2004. 
BOTELHO, Paula. Segredos e silêncios na educação de surdos. Belo Horizonte: 
Autêntica, 1998. 
FERNANDES, Eulália. Linguagem e surdez. Porto Alegre: Artmed, 2003. 
GOLDFELD, Márcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva 
sóciointeracionista. São Paulo, SP: Plexus, 1997. 
 LABORIT, Emmanuelle. O vôo da gaivota. São Paulo: Best Seller, 1994.

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