Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
VII COLÓQUIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO Eixo 1 – Formação e trabalho docente 183 FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE EM CIÊNCIAS NATURAIS E MATEMÁTICA NO ESTADO DE SANTA CATARINA HACK, Gizela Vanessa Instituto Federal Catarinense (IFC) giselavanessahack@gmail.com AULER, Nysa Kathleen Instituto Federal Catarinense (IFC) nysakatheen@gmail.com EVANGELISTA, Fábio Lombardo Instituto Federal Catarinense (IFC) fabio.evangelista@ifc.edu.br A educação atualmente se encontra em tempos difíceis tanto economicamente, quanto socialmente. A qualidade não é das melhores, já que, em 2015, uma pesquisa realizada pelo Instituto Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional, diz que 71% das escolas dos anos iniciais do ensino fundamental avaliadas ainda não chegaram ao patamar mínimo de qualidade, o IDEB, exigido pelo Ministério da Educação (MEC). É algo preocupante, já que o Brasil não consegue ser um país desenvolvido nem mesmo em âmbito educacional. Isso nos remete em como é o processo de ensino-aprendizagem dentro das salas de aula e se o professor realmente é capacitado e habilitado para tal função, assim, chegamos à conclusão que é necessário pesquisar sobre sua formação/profissionalização acadêmica. O trabalho tem como objetivo abordar a formação inicial e continuada, bem como o processo de profissionalização de professores nas áreas de Ciências Naturais (Biologia, Física, Química) e Matemática nas Escolas Estaduais de Santa Catarina. A escolha das áreas deu-se, pois segundo Lorenzoni, Alfaiate, Vieira e Moulim (2012, p. 3): É fácil observar na comunidade escolar que a relação entre aluno e a Física não é das mais amistosas, os alunos declaram que não gostam das aulas, pois são muito chatas, que não entendem nada do que o professor fala, dentre outras queixas. Este fato pode ser observado desde os primeiros anos de escolarização até os cursos superiores. Na formação superior não é diferente, já que os cursos com maior índice de evasão estão concentrados nas áreas de Ciências Exatas (CRUZ, 2019). Em vista disso, pretende-se pesquisar sobre esse fator, quais são os desafios encontrados na formação e profissionalização docente, se os professores são habilitados para dar aula e quais são as principais dificuldades encontradas já na sala de aula. VII COLÓQUIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO Eixo 1 – Formação e trabalho docente 184 O estudo abordado foi de caráter qualitativo que, segundo Flick (2009, p. 23), caracteriza-se da seguinte forma: As ideias principais que orientam este tipo de pesquisa difere-se daquele da pesquisa quantitativa. Os aspectos essenciais da pesquisa qualitativa consistem na escolha adequada dos métodos e teorias convenientes; no reconhecimento e análise de diferentes perspectivas; nas reflexões dos pesquisadores a respeito de suas pesquisas como parte do processo de produção do conhecimento; e na variedade de abordagens e métodos. Sendo assim, esta pesquisa caracteriza-se como descritiva, tendo como objetivo inicial descrever características de uma determinada população ou fenômeno, realizando o registro e a interpretação dos fatos sem a interferência do pesquisador. Pode ser entendida como um estudo de caso onde, após a coleta de dados, é realizada uma análise das relações entre as variáveis (PEROVANO, 2014). A pesquisa bibliográfica constituiu-se a partir de materiais já elaborados, tais como livros e artigos científicos, reunindo estas fontes para confirmar ou refutar os levantamentos iniciais. Já a pesquisa de levantamento é caracterizada pela interrogação direta dos sujeitos cujo desempenho se deseja conhecer. O procedimento se baseia na solicitação de informações de determinado grupo pesquisado, neste caso, os professores que lecionam nas áreas de Ciências Naturais e Exatas, sendo os mesmos o objeto de investigação. Os dados obtidos são de duas escolas estaduais de Santa Catarina, onde foram escolhidos quatro profissionais de cada escola, um para cada área do conhecimento abordado: Biologia, Física, Química e Matemática, cujos objetivos estavam voltados para a formação/profissionalização docente; dificuldades na formação das áreas exatas; métodos que podem ser desfrutados para a aprendizagem do discente e motivos que dificultam a formação de um profissional em Ciências Naturais e Exatas. Para a coleta de dados utilizou-se de um questionário com perguntas abertas e fechadas no qual os sujeitos investigados constataram suas respostas pessoais. Foram analisadas as respostas dos oito (08) docentes entrevistados em Biologia, Física, Química e Matemática do Ensino Médio. A partir da análise dos dados selecionados, observou-se que os sujeitos investigados apresentam respostas semelhantes em todos os aspectos das perguntas fechadas, com exceção de seus dados pessoais, como idade, sexo, cidade onde reside, área de atuação e escola onde leciona, na parte da trajetória escolar, foi questionado a escola onde estudou e seu nível mais elevado de educação formal concluído, além do ano de conclusão e seu respectivo curso, assim como a instituição. À primeira pergunta abordava o tempo de atuação como docente, 50% dos pesquisados atuam a mais de 10 anos no processo de ensino-aprendizagem dos discentes, conforme sua respectiva área de atuação. Outro aspecto apontado é os desafios enfrentados durante a formação docente, e como esses obstáculos foram tratados pelos mesmos. Segundo o Professor A, “a dificuldade financeira por estudar em universidade privada. Falta de tempo para se trabalhar o dia todo e estudar à noite. VII COLÓQUIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO Eixo 1 – Formação e trabalho docente 185 Acredito que esses desafios dificultaram minha profissionalização pois poderia ter aproveitado mais se não trabalhasse.” Observamos que além de outros fatores intelectuais e econômicos, esse pode ser um dos maiores motivos que ocasionam a grande evasão nos cursos de licenciatura, pois dificultam tanto o processo de aprendizagem e tornam o curso ainda mais difícil. Pela maioria dos cursos de licenciaturas ser no período noturno, a maioria dos alunos optam por trabalhar durante o dia, o que atrapalha o andamento do mesmo, por esse motivo muitos acadêmicos desistem ou trancam a faculdade, e por nossa região ter a característica de valorizar mais o trabalho do que o estudo, optam por continuar no emprego. Conforme Lückmann e Marmentini (2015, p. 01) “a profissão docente há tempos deixou de ser atrativa. Número cada vez menor de jovens a procuram enquanto opção profissional.” Observamos assim, a grande escassez de profissionais habilitados nas áreas de Ciências Naturais (Biologia, Física, Química) e Matemática. Seguindo a problemática percebemos que a Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina apresenta uma escassez nas propostas de formação continuada, para os professores aprimorarem seus conhecimentos e saberes, ocorrendo somente no início do ano letivo e nas férias de julho, segundo o Professor A “o Estado deixa a desejar na formação continuada pois, é pouco tempo utilizado para isso, precisaríamos de muito mais tempo para atender nossas necessidades.”, sendo assim, a mesma nem sempre corresponde com os anseios dos professores. É importante ressaltar a carência de profissionais habilitados nessas áreas de atuação e o que leva os mesmos a não ingressarem nesta carreira, conforme o Professor B, “por considerarem uma disciplina difícil, poucos se sujeitam a encarar, baixos salários pagos dos professores, principalmente em início de carreira.” Segundo uma reportagem publicada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE, 2018) apenas 2,4% dos jovens de 15 anos querem seguir a carreira docente, esse percentual a 10 anos atrás era 7,5%. Os dados da reportagem mostram também que, grande parte desses jovens que pretendem ser professores, são de família humilde sem histórico acadêmico ou até mesmo com o ensino fundamental incompleto.Essa queda pode ser associada ao baixo salário oferecido para os docentes. Conforme uma notícia publicada pela BBC News Brasil (2015) a remuneração do professor público no Brasil está na 28 posição em um ranking com os 30 países mais desenvolvidos do mundo. Em uma entrevista realizada com à secretária geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Marta Vanelli, “para melhorar a educação são necessários três elementos: bom salário, boa carreira e boas condições de trabalho, que envolvem não só a hora- atividade, mas escolas bem equipadas e democracia na escola. Não adianta ter um só, tem que ter os três elementos.” (BRASIL, 2016a). Também questionamos sobre os motivos que causam o desinteresse dos discentes pelas matérias, e o Professor F apontou a sua respectiva área conceituada em conteúdos muito abstratos e metódicos, sem nenhuma relação com o dia-a-dia do aluno. Segundo o professor F “a falta VII COLÓQUIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO Eixo 1 – Formação e trabalho docente 186 de interesse pode ter motivos diversos, entre eles eu posso apontar como relevante a utilização demasiada da matemática e a não conexão dos conteúdos com o cotidiano.” À pergunta seguinte, traz sobre as dificuldades dos alunos nessas respectivas matérias, e o Professor C comentou que “eles já vêm das séries iniciais com pouco aprendizado, muitas vezes pegam professores que pela forma de explicar acabam aplicando um certo modo aos alunos. E também professores que não inovam, na mesma aula á anos.” Essa falta de relação, faz com que o aluno não se interesse tanto pela matéria, que são vistas como vilãs pelos estudantes do Ensino Médio. Um levantamento feito pelo App Prova, que analisou o desenvolvimento dos alunos no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, entre os anos de 2009 e 2014, apontou que as matérias com o menor índice de acertos são Física, Matemática e Química. Já a Biologia, ficou entre as mais acertadas (BRASIL, 2016b). A última questão fechada, aborda os métodos de ensino. Nossa curiosidade era saber de quais formas os professores avaliavam os alunos. Podemos observar algo clássico nas respostas dos docentes: a avaliação. Um método didático tradicional, mas também muito eficaz. Outros sujeitos responderam que utilizam seminários e avaliações práticas, tornando assim as aulas mais atrativas. Porém, nem todas as escolas podem oferecer um laboratório prático e com bons equipamentos, já que a estrutura das escolas estaduais é bem precária (BRASIL, 2016c). Deste modo, a pesquisa propôs ressaltar a importância da formação inicial e continuada, bem como o processo de profissionalização de professores nas áreas de Ciências Naturais (Biologia, Física, Química) e Matemática nas Escolas Estaduais de Santa Catarina, observamos claramente cada uma das problemáticas propostas a partir dos questionários respondidos pelos docentes das áreas citadas. Verificou-se que existe um grande descaso com os professores, além de vários fatores como, os baixos salários, as estruturas precárias das escolas públicas, a precarização do trabalho docente, o prestígio social pela carreira não ser mais o mesmo de antigamente e também a falta de apoio do governo e a ausência de políticas de atratividade mais efetivas para a docência, contribuíram assim, para a ampla falta de profissionais capacitados e habilitados para trabalharem nessas áreas, principalmente na rede pública e estadual de educação. Conclui-se então que o processo de formação inicial e continuada é de suma importância para a carreira profissional, porém, as dificuldades e problemas não se encontram somente na formação, mas também nas suas atividades corriqueiras. O desgaste tanto profissional, quanto físico do docente não se dá apenas pela sua trajetória acadêmica, mas também pelos desafios encontrados tanto na sala de aula quanto em sua remuneração. Podemos apontar o Estado como grande vilão contra o educador, já que ele não valoriza o mesmo, nem mesmo suas escolas. Palavras-chave: Docentes. Processo ensino aprendizagem. Desvalorização profissional. VII COLÓQUIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO Eixo 1 – Formação e trabalho docente 187 REFERÊNCIAS BBC, News Brasil. Professores no Brasil estão entre mais mal pagos em ranking internacional. 2015. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/ 04/150430_educacao_eficien- cia_pu. Acesso em: 05 nov. 2020. BRASIL. Apenas 4,5% das escolas têm infraestrutura completa prevista em lei, diz estudo. 2016c. Disponível em:https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-06/apenas-45-das-esco- las-tem-infraestrutura-completa-prevista-em-lei-diz. Acesso em: 21 jul. 2021. BRASIL. Candidatos erram mais nas provas de matemática, física e química do Enem. 2016b. Dis- ponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-10/candidatos-erram-mais- -nas-provas-de-matematica-fisica-e-quimica-do-enem. Acesso em: 30 out 2020. BRASIL. Agência. Professores no Brasil ganham menos que outros profissionais com a mesma for- mação. 2016a. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-06/profes- sores-no-brasil-ganham-menos-que-outros-profissionais-com-mesma. Acesso em: 30 out. 2020. CRUZ, Uendel Anunciação. Evasão de Discentes: Um estudo na Universidade Federal da Bahia. 2019. 106 p. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) - Escola de Administração, Uni- versidade Federal da Bahia, Salvador, 2019. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO. CNTE. Apenas 2,4% dos jovens brasileiros querem ser professor. 2018. Disponível em: https://cnte.org.br/index.php/menu/ comunicacao/posts/educacao-na-midia/66038-apenas-2-4-dos-jovens-brasileiros-querem-ser-pro- fessor. Acesso em: 13 jul. 2021. FLICK, Uwe. Introdução a pesquisa qualitativa. Tradução: Joice Elias Costa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. LORENZONI, Luciana de Souza. ALFAIATE, Marcelo Brite. VIEIRA, Bárbara de Cássia Ribeiro. MOULIM, Monique. Disciplinas que despertam mais e menos interesse nos alunos do Ensino Médio da E.E.E. F.M. “PROFESSORA CÉLIA TEIXEIRA DO CARMO”. In: XVI ENCONTRO LATINO AMERICANO DE INICIA- ÇÃO CIENTÍFICA. XII ENCONTRO LATINO AMERICANO DE PÓS-GRADUAÇÃO, Universidade do Vale do Paraíba, 2012. Anais [...]. São Paulo: Universidade do Vale do Paraíba, 2012. Disponível em: http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2012/anais/arquivos/0971_0768_01.pdf. Acesso em: 13 jul. 2021. LÜCKMANN, Luiz Carlos. MARMENTINI, Raquel. Políticas de atratividade da profissão docente: quem ainda quer ser professor? In: EDUCARE – XII CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), 2015. Anais [...] Paraná, 2015. Disponível em: http://edu- cere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/18899_8158.pdf. Acesso em: 29 nov. 2020. PEROVANO, Dalton Gean. Manual de Metodologia Científica para a Segurança Pública e Defesa Social. Curitiba. Editora: Juruá. 2014.
Compartilhar