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cap 11 O que é personalidade

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INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA
DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS
I61 Introdução à psicologia das diferenças individuais [recurso
eletrônico] / Carmen Flores-Mendoza ... [et al.]. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.
Editado também como livro impresso em 2006.
ISBN 978-85-363-1418-1
1. Psicologia da personalidade – Individualidade. 2.
Personalidade – Diferenças individuais. I. Flores-Mendoza,
Carmen.
CDU 159.923
Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto CRB10/1023
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA
DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS
2008
Carmen Flores-Mendoza
Roberto Colom e colaboradores
Versão impressa
desta obra: 2006
11
O QUE É PERSONALIDADE?
Robert R. McCrae
comportamento em experimentos de labora-
tório. Os psicólogos passaram a acreditar que
nossos comportamentos eram totalmente con-
trolados pelo que aprendêramos em experiên-
cias passadas e por quaisquer situações em que
estivéssemos inseridos no momento. A idéia
de que por trás de nossas formas de agir esta-
va uma natureza interna permanente era cha-
mada de erro de atribuição fundamental (Ross,
1977).
O efeito dessas críticas sobre o pequeno
grupo de pesquisadores que permanecia com-
prometido com a psicologia da personalidade
tradicional foi o de forçar um olhar muito rígi-
do sobre a base empírica e conceitual dos tra-
ços. Como se pode saber se Villa-Lobos era real-
mente aventureiro? Se os traços levavam a um
comportamento constante, como ele poderia
ser charmoso e brigão a um só tempo? Seu
comportamento como um pequeno chorão lem-
brava o do compositor e maestro mundialmen-
te famoso?
Da perspectiva da psicologia da persona-
lidade contemporânea, podemos fazer inferên-
cias informadas sobre as respostas a essas per-
guntas. Como muitos observadores indepen-
dentes convergiram no julgamento de que ele
era aventureiro, é provável que ele o fosse, uma
atribuição que é validada de forma consensual
(McCrae, 1982). Como as pessoas se caracte-
rizam por muitos traços, que vêm à tona em
diferentes situações, ele pode ter sido charmoso
e brigão ao mesmo tempo. E como os estudos
INTRODUÇÃO
Na linguagem informal norte-americana,
dizemos, às vezes, que um indivíduo com ca-
racterísticas surpreendentes e incomuns é “uma
personalidade”. O violoncelista, compositor e
educador Heitor Villa-Lobos certamente se en-
quadraria nessa descrição (Tarasti, 1995). O
violonista Julian Bream disse que ele era “maior
do que a vida, bastante extraordinário. Ele não
parecia ser compositor. Usava camisas xadrez
em cores gritantes, fumava charuto e deixava
sempre o rádio ligado, ouvindo notícias, músi-
ca leve ou qualquer outra coisa. Villa-Lobos não
era refinado intelectualmente, mas tinha um
grande coração” (ver http://www.rdpl.red-
deer. ab.ca/villa/biog.html#Note4). Em outros
sites na internet ele é caracterizado como al-
guém de coração aberto, charmoso, brigão,
apaixonado, extrovertido, aventureiro e dado
ao exagero. Sua obra mostra claramente que
ele era criativo e enérgico, e a força de sua
personalidade ainda se faz sentir no Brasil.
Diante desse exemplo tão contundente,
fica difícil crer que, na década de 1970, a maio-
ria dos psicólogos acreditava que os traços de
personalidade eram ficções – ilusões que tínha-
mos acerca de nós mesmos e de outros à nossa
volta. Uma crítica influente por parte de Walter
Mischel (1968) havia apontado o fato de que
as pessoas não agem de forma constante em
todas as situações, e que os testes de persona-
lidade não eram fortes fatores preditivos de
204 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTO COLOM & COLS.
longitudinais demonstraram que as diferenças
individuais em termos de traços de personali-
dade são muito estáveis (McCrae e Costa,
2003), é provável que o jovem Villa-Lobos se
assemelhasse ao velho Villa-Lobos.
Tendo estabelecido a realidade e a impor-
tância dos traços de personalidade, os pesqui-
sadores contemporâneos começaram a tratar
de questões muito mais fundamentais: qual é
a origem dos traços? A criação de Villa-Lobos
como filho de um intelectual e escritor gerou
seu amor pelas artes, ou ele já nasceu assim?
Quais as conseqüências dos traços? A música
de Villa-Lobos, sua inclinação por viajar e sua
dedicação ao Brasil refletem mesmo sua per-
sonalidade? Qual a relação entre os traços e a
cultura? O idioma musical de Villa-Lobos foi
inegavelmente moldado pelos sons do Brasil,
mas sua música teria sido tão “viril, audaciosa
e impetuosa” (M. de Andrade, citado em
Tarasti, 1995, p. 53) se ele tivesse crescido na
China ou no Marrocos?
Estudos de caso nos quais as vidas de in-
divíduos – reais ou fictícios – são estudadas
em profundidade formam uma pequena parte
da atual pesquisa em pers1onalidade e são mui-
to desacreditados perante algumas pessoas
(Goldberg, 1990), mas são úteis para ilustrar
os princípios gerais derivados dos estudos de
grupos. A maioria dos artigos de publicações
científicas relata pesquisas sobre as respostas
de amostras autônomas, reduzidas a séries de
números que são submetidas a análise
estatística. Análise fatorial, modelo da curva
de crescimento e análise pela teoria de res-
posta ao item são ferramentas estatísticas so-
fisticadas que nos ajudam a inferir princípios
gerais, mas nunca se deve perder de vista que
o objetivo último da psicologia da personali-
dade é a aplicação desses princípios para en-
tender vidas humanas.
PSICOLOGIAS DA PERSONALIDADE
Este volume se dedica às diferenças indi-
viduais e trata a psicologia da personalidade
como uma das maiores aplicações dessa abor-
dagem. Os manuais dedicados exclusivamen-
te à personalidade – pelo menos nos Estados
Unidos – geralmente tratam as diferenças in-
dividuais nos traços como apenas uma entre
diversas abordagens teóricas sobre personali-
dade. Teorias psicodinâmicas, da aprendizagem
e humanistas costumam receber mais atenção
do que as teorias dos traços. Um levantamen-
to de oito livros desse tipo (Mayer e Carlsmith,
1997) concluiu que Freud era citado em 856
páginas, o humanista Carl Rogers era o segun-
do (311 citações) e o teórico da aprendizagem
social Albert Bandura vinha em terceiro (277).
Apenas três psicólogos dos traços – Allpot,
Eysenck e Catell – estavam entre os 20 princi-
pais teóricos.
Diferentemente das teorias, a pesquisa so-
bre personalidade é dominada pela psicologia
dos traços. Por exemplo, o Volume 84 do
Journal of Personality and Social Psychology (ja-
neiro a junho de 2003), tinha 36 artigos na
parte dedicada a processos da personalidade e
diferenças individuais, dos quais 29 incluíam
medidas dos traços. Em parte, isso reflete o
fato de que os métodos associados à psicolo-
gia dos traços – escalas de auto-relato e de ava-
liação por observadores – demonstraram ter
uma base científica muito mais sólida do que
os métodos projetivos privilegiados pelos teó-
ricos da psicodinâmica. Porém, em muitos as-
pectos, a psicologia dos traços não é apenas
uma alternativa, mas pode ser também um
componente de outras abordagens teóricas. A
teoria do vínculo está baseada em noções psica-
nalíticas, mas o vínculo adulto é avaliado como
um traço. A abertura à experiência é um cons-
tructo central à abordagem humanista de
Rogers, mas também é uma das dimensões bá-
sicas dos traços.
Maddi (1980) afirma que as teorias da
personalidade têm dois componentes: um cen-
tral, que explica como a personalidade funcio-
na no indivíduo, e um periférico, que especifi-
ca como as variações no núcleo são expressas
em diferenças individuais. Por exemplo, segun-
do a psicanálise, todos têm um id e um ego, os
quais estão inevitavelmente em conflito – isso
é o núcleo da personalidade. Entretanto, em
função de constituição, de experiências infantis
ou de tratamento psicanalítico, algumas pessoas
têm egos mais bem preparados para lidar com
o id, havendo, assim, diferenças em termos de
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 205
força do ego. Mais uma vez, os psicólogoshuma-
nistas podem afirmar que todas as pessoas lu-
tam para se realizar, mas algumas são mais bem
sucedidas do que outras. A motivação de auto-
realização é o núcleo da personalidade, ao pas-
so que as diferenças individuais em termos de
criatividade são periféricas.
Quase todos os modelos acerca das pes-
soas permitem variações no estilo de sucesso
ou de funcionamento. Horney considerava que
todos temos de lidar com conflitos internos,
mas se podem adotar rotas alternativas para
resolvê-los, aproximando-nos, indo contra, ou
nos afastando de outros (Horney, 1945). Os
teóricos da aprendizagem social acreditam que
nós funcionamos com base nas expectativas, a
partir de nossos sucessos ou fracassos passados,
e, dessa forma, diferimos em termos de nosso
lócus de controle. Ao longo de décadas, os psi-
cólogos da personalidade propuseram centenas,
talvez milhares, de variáveis de diferenças indi-
viduais que expressam diferenças no desenvol-
vimento ou na operação de processos de perso-
nalidade. Muitas vezes, desenvolveram-se es-
calas para medir esses traços, que assim pude-
ram ser usados para avaliar a teoria.
A vantagem dessa abordagem é a de que
os traços são entendidos em termos de meca-
nismos psicológicos, os quais, em princípio, po-
deriam levar a intervenções. Por exemplo, se
quisermos estimular um lócus interno de con-
trole, a teoria sugere que deveríamos propor-
cionar experiências nas quais os esforços pes-
soais do indivíduo repetidamente levam ao
sucesso. Se quisermos melhorar a força do ego,
devemos trazer à tona conflitos inconscientes.
Os traços derivados das teorias dinâmicas da
personalidade têm base teórica e um caminho
possível para a mudança.
No entanto, essa abordagem também tem
problemas. Para começar, várias teorias dife-
rentes podem apresentar explicações confli-
tantes para a mesma variável de diferença in-
dividual. Quase todas as teorias da personali-
dade tentam explicar por que algumas pessoas
são cronicamente ansiosas e outras não, e ge-
ralmente não fica claro qual explicação teóri-
ca está correta (se é que alguma o está). Em
segundo lugar, essa abordagem não apresenta
maneiras de garantir que todas as diferenças
individuais importantes sejam levadas em con-
sideração. Pelo menos na maneira operacio-
nalizada pelo Myers-Briggs Type Indicator
(MBTI; Myers e McCaulley, 1985), a teoria de
Jung acerca dos tipos psicológicos não avalia a
ansiedade, uma variável de grande importân-
cia para a maioria dos teóricos. Em terceiro
lugar, a variedade de teorias conflitantes faz
com que não haja forma de estudar os traços
sistematicamente. Diferentes sistemas poderão
ter conjuntos de traços semelhantes ou distin-
tos, ou poderão chamar os mesmos traços por
nomes diferenciados, ou traços distintos pelos
mesmos nomes. Em lugar de uma psicologia
da personalidade, temos dúzias de psicologias
da personalidade impossíveis de se comparar.
A ABORDAGEM EMPÍRICA DOS TRAÇOS
Em lugar de começar com uma teoria do
núcleo da personalidade e inferir variáveis da
diferença individual que devem surgir se a teo-
ria estiver correta, é possível começar simples-
mente avaliando traços de personalidade. Se
fizermos um esforço sistemático para catalo-
gar todos os traços de personalidade, podemos
criar uma taxonomia capaz de sistematizar a
pesquisa. Por definição, uma taxonomia dos
traços abrangente teria de incluir todas as va-
riáveis preditas pelas teorias – se as teorias es-
tivessem corretas. Sendo assim, teríamos uma
base para agregar resultados de pesquisa que
se originaram em diferentes contextos teóricos.
As generalizações resultantes poderão, portan-
to, ser usadas como base para que se faça a sele-
ção entre as teorias ou para que se criem novas.
O problema reside em se encontrar uma
forma de localizar “todos os traços de persona-
lidade” e em ter certeza de que nenhum traço
importante tenha sido omitido. Pesquisadores
que utilizam o método psicoléxico, entre eles
Allport e Odbert (1936) e Cattel (1946), afir-
maram que qualquer traço realmente signifi-
cativo teria sido notado e codificado na lingua-
gem natural. Basta extrair termos relativos aos
traços de um dicionário para que se tenha uma
longa lista. Ao combinar sinônimos e observar
as correlações entre agrupamentos traço-ter-
mo, os pesquisadores acabaram por concluir
206 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTO COLOM & COLS.
que existem cinco fatores ou dimensões am-
plos nos termos sobre traços na linguagem
natural (Tupes e Christal, 1961/1992). Estu-
dos posteriores confirmaram tal avaliação
(Goldberg, 1990) para a língua inglesa, embo-
ra não esteja claro se é sempre esse o caso quan-
do se trata de outras línguas (Saucier, Hampson
e Goldberg, 2000). Esses fatores léxicos têm
sido chamados de os “Cinco Grandes” e costu-
mam ser rotulados de neuroticismo (N), ex-
troversão (E), abertura (A), cordialidade (C) e
responsabilidade (R).*
Durante anos, os psicólogos prestaram re-
lativamente pouca atenção aos cinco grandes
fatores léxicos, preferindo permanecer com um
dos sistemas concorrentes de Guilford, Eysenck
e Cattell, ou utilizando variáveis que utilizam
um traço único como lócus de controle (Rotter,
1966) ou automonitoração (Snyder, 1974).
Contudo, na década de 1980, alguns pesqui-
sadores já haviam voltado ao problema de se
construir uma taxonomia adequada dos traços,
e uma série de estudos demonstrou que quase
todos os traços propostos por diferentes teo-
rias da personalidade estavam relacionados a
um ou mais dos cinco grandes fatores léxicos
(McCrae, 1989). Por exemplo, a teoria dos tipos
psicológicos de Jung (1923/1971) levou ao de-
senvolvimento do MBTI, que avalia introversão/
extroversão, sensação/intuição, pensamento/
sentimento e julgamento/percepção. Estudos
empíricos demonstraram que estes correspon-
dem a quatro dos cinco fatores: E, C, A e R,
respectivamente (McCrae e Costa, 1989).
A convergência das abordagens teórica e
léxica levou ao surgimento do modelo dos cin-
co fatores (FFM) da personalidade (Digman,
1990), um modelo voltado a incluir traços de
ambas. O FFM proporcionou uma taxonomia
na qual praticamente todos os traços reconhe-
cidos pelas pessoas leigas ou por psicólogos po-
dem ser classificados e levou ao desenvolvi-
mento de novas medidas projetadas especifi-
camente para avaliar os fatores (De Raad e
Perugini, 2002), das quais a mais utilizada é o
Inventário de Personalidade NEO Revisado
(NEO-PI-R; Costa e McCrae, 1992). Com base
em uma revisão bibliográfica, Costa e McCrae
selecionaram seis traços (ou facetas) para re-
presentar cada um dos cinco fatores e redigi-
ram seis itens para avaliar cada faceta. O NEO-
PI-R foi usado em mais de 1.500 estudos e tra-
duzido para mais de 40 idiomas, proporcio-
nando uma riqueza de informações sobre as
origens, o desenvolvimento e o funcionamen-
to dos traços de personalidade.
DOMÍNIOS E FACETAS
O FFM é um modelo hierárquico de per-
sonalidade, geralmente medido em dois níveis.
No nível inferior, estão traços muito estreitos e
bastante específicos; no nível superior, os cin-
co fatores amplos. Quando se discutem os
constructos da psicologia dos traços, é útil co-
meçar pelo nível superior, para se ter uma vi-
são geral do tópico. Da mesma forma, quando
se avalia um indivíduo, a primeira informação
que se quer é a posição em relação aos cinco
fatores.
O neuroticismo se refere a um grupo de
traços relacionados a emoções negativas e a
suas conseqüências. Os indivíduos de N alto
são dados a experimentar preocupação, irrita-
ção, melancolia e vergonha. Têm crenças irra-
cionais, tais como a noção perfeccionista de
que devem fazer tudo corretamente. Também
têm baixo controle de seus impulsos, pois a
frustração de seus desejos os perturba muito.
Indivíduos de N baixo se caracterizam por uma
ausência dessas características, tendem a ser
calmos, racionais e autocontrolados. Enfren-
tam de forma eficazo estresse. O termo “neuro-
ticismo” foi cunhado para refletir o fato de que
indivíduos diagnosticados com transtornos
neuróticos geralmente têm escore alto nessa
dimensão (Eysenck, 1947), mas muitos indiví-
* N. de R.T. No Brasil, dois dos Cinco Grandes Fato-
res receberam diferentes traduções. São eles: “Agrea-
bleness” e “Conscientiouness”. Enquanto Hutz,
Nunes, Silveira e colaboradores (1998) traduziram
respectivamente como “Socialização” e “ Escrupulo-
sidade”, na obra de Pervin e John (2004) traduziu-
se como “Amabilidade” e “Consciência”. Na presenta
obra, escolheu-se os termos “Cordialidade” e “Res-
ponsabilidade” tornando, portanto, o acrônimo
NACER. Uma estratégia espanhola que serve tam-
bém para o idioma português e que não altera o
significado original dos constructos.
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 207
duos sem qualquer transtorno psiquiátrico tam-
bém o têm. Alguns pesquisadores preferem
chamar esse fator de “instabilidade emocional”.
A “extroversão” é um termo científico que
entrou na linguagem popular, utilizado como
sinônimo de “sociabilidade”. Os psicólogos há
muito debatem a definição adequada do ter-
mo (Guilford, 1977), mas os contemporâneos
o utilizam para se referir a um constructo am-
plo que inclui sociabilidade, domínio social e
qualidades de temperamento como alto nível
de energia. Os extrovertidos buscam agitação
e têm características alegres. Os introvertidos,
por sua vez, são sérios e inibidos e demons-
tram uma necessidade de solidão. Não são ne-
cessariamente tímidos, podendo até ter boas
habilidades sociais e ser livres de ansiedade
social. Simplesmente preferem evitar a com-
panhia de outras pessoas.
A abertura à experiência talvez seja o me-
nos compreendido dos cinco fatores. Por vezes,
é chamada de intelecto, imaginação ou cultura,
mas se caracteriza por um interesse intrínseco
na experiência em uma ampla variedade de
áreas. A curiosidade intelectual e o interesse es-
tético são elementos centrais, mas pessoas aber-
tas também são sensíveis aos sentimentos, dis-
postas a experimentar novas atividades e libe-
rais em termos de valores políticos e sociais. O
fator A tem uma leve associação com medidas
de inteligência, mas é um constructo muito dife-
rente. Indivíduos fechados preferem o conheci-
do e a rotina e prezam os valores tradicionais.
A cordialidade se refere a traços que le-
vam a atitudes e a comportamentos pró-sociais.
Indivíduos com alta C são corteses, crédulos e
simpáticos. Pessoas de C baixa – ou antagôni-
cas – estão preocupadas com seus próprios in-
teresses e desconfiadas em relação a outras.
Pessoas cordiais são agradáveis, mas também
há um lugar na sociedade para pessoas práti-
cas e competitivas. Na verdade, já se observou
que muitos psicólogos da personalidade famo-
sos são baixos em C, com seu ceticismo inato
tornando-os excelentes pensadores críticos
(Costa e McCrae, 1995b).
Por fim, a responsabilidade se caracteri-
za por contenção e sentido prático. Indivíduos
de alta R são zelosos e disciplinados, os de R
baixa são relaxados e sem ambição. Níveis al-
tos demais de R podem transformar as pessoas
em “viciadas em trabalho” e interferem nos re-
lacionamentos sociais. Os indivíduos de alta R
também têm mais probabilidades de ser ob-
sessivamente asseados. Porém, na maioria dos
aspectos, o alto R confere vantagens sociais e
está relacionado a um desempenho profissio-
nal superior em quase todas as ocupações
(Barrick e Mount, 1991).
É fácil encontrar exemplos desses traços
entre as figuras históricas, e há evidências de
que a classificação dessas figuras pode ser
confiável e válida quando feita por classifica-
dores qualificados (Rubenzer, Faschingbauer e
Ones, 2000). Leonardo da Vinci tinha A alta;
George Washington, a R. Richard Nixon é um
exemplo de até onde pode chegar uma pessoa
profundamente descortês (McCrae et al.,
2001). Jean-Jacques Rousseau, que detalhou
suas indisposições, ansiedades e suspeições em
sua obra Confissões (Rousseau, 1953), certa-
mente tinha neuroticismo alto (McCrae, 1996).
Seria difícil imaginar um exemplo melhor
de extroversão do que Heitor Villa-Lobos. Mui-
tas descrições relatam que ele tinha um gran-
de charme e acolhimento interpessoal, e não
restam dúvidas de que era muito gregário: “Ele
adorava ter gente ao seu redor – muita gente,
a qualquer hora” (E. Helm, citado em Tarasti,
1995, p. 57). Era um líder natural, assumindo
a responsabilidade pela educação musical do
Brasil como um todo. Sua grande energia apa-
recia não apenas em sua produção musical
prodigiosa, mas também no estilo de sua fala;
como lembrou certa vez o pianista Arthur
Rubinstein (citado em Tarasti, 1995, p. 45):
cada vez mais animado, ele começava a me
contar histórias de sua juventude, que soavam
mais como Julio Verne do que qualquer coisa
em que se pudesse acreditar... tudo isso, ele
mencionava com absoluta convicção, em uma
voz aguda, em seu mau francês, ajudado por
uma vívida gesticulação
Sua grande necessidade de estímulo é vis-
ta nos charutos, no café e no rádio com que ele
se cercava durante o trabalho. E seu humor e
sua alegria de viver podem ser vistas tanto em
sua música quanto em sua vida. Essas caracte-
rísticas não se deviam à sorte nas circunstân-
208 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTO COLOM & COLS.
cias de sua vida ou à impetuosidade da juven-
tude, mas refletiam suas disposições dura-
douras: “até o dia de sua morte, ele foi um
filho da natureza, completamente livre de ini-
bições, possuído por uma vitalidade enorme,
quase raivosa” (E. Helm, citado em Tarasti,
1995, p. 57).
Como ilustrado por esse retrato, a extro-
versão inclui um conjunto de traços, ou facetas,
mais específico. O NEO-PI-R mede seis dessas
facetas: acolhimento, gregarismo, assertividade,
atividade, busca de sensações e emoções positi-
vas. As facetas são distinguíveis: algumas pes-
soas são acolhedoras sem ser gregárias, algu-
mas são ativas, mas não alegres. Contudo, em
geral, as que têm elevado qualquer desses tra-
ços tendem a ser elevadas em todos os outros;
como resultado, eles co-variam em uma popu-
lação para definir um único fator, a extroversão.
A Tabela 11.1 lista as 30 facetas das 5
escalas medidas pelo NEO-PI-R, agrupadas pelo
fator que definem. Os rótulos para as facetas
dão uma idéia clara de cada fator. Por exem-
plo, as pessoas com alto N são caracterizadas
por ansiedade crônica, raiva/hostilidade, de-
pressão, constrangimento, impulsividade e vul-
nerabilidade ao estresse. No caso da A, os ró-
tulos da faceta referem-se ao aspecto da expe-
riência ao qual um indivíduo está aberto ou
fechado, e geralmente são lidas como “abertu-
ra à fantasia”, “abertura à estética” e assim por
diante. Essas 30 facetas não representam uma
listagem exaustiva de traços específicos no
FFM, e sim uma seleção de traços que cumpri-
ram um papel importante na literatura de psi-
cologia e que representam o melhor possível a
amplitude e o alcance de cada fator (Costa e
McCrae, 1995a).
Observamos que os traços que formam E
co-variam, e o mesmo se aplica a traços que
definem os outros fatores. Pessoas ansiosas ten-
dem a ser hostis; pessoas abertas à fantasia ten-
dem a ser abertas à estética. Por outro lado,
facetas de diferentes fatores geralmente são in-
dependentes: saber que alguém é altamente
ansioso não diz coisa alguma sobre quão ex-
trovertida a pessoa é. Pessoas fechadas à fan-
tasia têm tantas probabilidades de serem cor-
teses quanto de serem desagradáveis. Por essa
razão, a estrutura de personalidade é mais bem
representada pelos cinco fatores ou dimensões
independentes. Da mesma forma como se pode
localizar qualquer lugar na Terra especificando
latitude, longitude e elevação, pode-se descre-
ver qualquer pessoa especificando a pontuação
em cada um dos cinco fatores. Villa-Lobos tal-
vez possa ser descrito como médio em N, mui-
to alto em E e A, médio em C e alto em R.As evidências do FFM vêm de estudos nos
quais uma série de traços é medida e intercorre-
lacionada. A seguir, as correlações são fatora-
das usando uma técnica estatística que identi-
fica clusters de variáveis que co-variam. A Ta-
bela 11.1 mostra um exemplo. No caso, 219
estudantes universitários de Minas Gerais rea-
lizaram o NEO-PI-R, descrevendo alguém a
quem conheciam bem (comunicação pessoal,
C. E. Flores-Mendoza, 29 de agosto de 2003).
Metade descreveu um indivíduo em idade uni-
versitária, metade, um adulto, e tanto homens
quanto mulheres foram classificados. Cinco
fatores foram revezados para lembrar ao má-
ximo a estrutura normativa norte-americana
(McCrae et al., 1996). Os números na tabela
são cargas fatoriais, que podem ser interpreta-
das como correlações entre a escala de facetas
e o fator subjacente. N1: ansiedade, por exem-
plo, está correlacionada em 0,83 com N, mas
apenas em –0,02 com E.
As cargas maiores estão impressas em
negrito e demonstram que, em quase todos os
casos, a maior está no fator pretendido (as ex-
ceções, N5, impulsividade e E3, assertividade,
geralmente dividem suas cargas em vários fa-
tores, assim como o fazem aqui.). Os coefi-
cientes de congruência são medidas de seme-
lhança entre as cargas fatoriais de duas amos-
tras diferentes. Nesse caso, os dados brasilei-
ros são comparados aos norte-americanos da
amostra normativa de mil adultos (Costa e
McCrae, 1992). A variável coeficiente de con-
gruência (VCCs), apresentada na última colu-
na da tabela, compara as cargas fatoriais para
cada faceta em todas as cinco escalas. Por exem-
plo, a impulsividade tem cargas de 0,39, 0,47,
0,12, –0,40 e –0,32 para N, E, A, C e R, respec-
tivamente, na primeira escala; nos dados nor-
te-americanos, as cargas correspondentes são
0,49, 0,35, 0,02, –0,21 e –0,32. Como esses
padrões são semelhantes, a VVC é de 0, 94, o
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 209
que é uma concordância muito maior do que
se esperaria ao acaso. De fato, todas as VCCs
superaram os níveis de incerteza.
A última linha da tabela apresenta a con-
gruência para os cinco fatores e, no canto infe-
rior direito, para a matriz como um todo. Todos
esses valores são muito altos, sugerindo que a
estrutura de fatores na Tabela 11.1 é quase idên-
tica à estrutura da amostra norte-americana.
A replicabilidade do fator é notável em
vários aspectos. Os dados norte-americanos
eram de auto-relatos feitos por adultos. Os da-
dos brasileiros são classificações de observa-
dor (de estudantes e de adultos) feitos por uni-
versitários quase 15 anos mais tarde. Os nor-
te-americanos responderam a um questioná-
rio em inglês; os brasileiros, a uma tradução
para o português do Brasil. Nem a fonte dos
TABELA 11.1 Cargas fatoriais para as classificações de estudantes brasileiros acerca
de estudantes e adultos
NEO-PI-R Fator
Faceta N E A C R VCCa
N1: Ansiedade 0,83 –0,02 –0,09 0,01 0,22 0,92*
N2: Raiva/Hostilidade 0,59 –0,10 –0,17 –0,57 0,02 0,96**
N3: Depressão 0,79 –0,22 –0,08 0,15 –0,27 0,96**
N4: Constrangimento 0,74 –0,33 –0,13 0,13 –0,03 0,97**
N5: Impulsividade 0,39 0,47 0,12 –0,40 –0,32 0,94**
N6: Vulnerabilidade 0,77 –0,05 –0,04 –0,04 –0,42 0,99**
E1: Acolhimento –0,17 0,72 0,18 0,46 0,06 0,99**
E2: Gregarismo –0,06 0,77 0,05 –0,00 –0,30 0,93*
E3: Assertividade –0,30 0,36 0,01 –0,42 0,51 0,92*
E4: Atividade 0,05 0,63 0,13 –0,41 0,24 0,95**
E5: Busca de sensações 0,07 0,62 0,29 –0,23 –0,34 0,89*
E6: Emoções Positivas –0,07 0,73 0,40 0,01 0,04 0,96**
A1: Fantasia 0,13 0,36 0,65 –0,04 –0,26 0,96**
A2: Estética 0,17 0,12 0,81 0,21 0,02 0,98**
A3: Sentimentos 0,20 0,52 0,62 0,08 0,07 0,95**
A4: Ações –0,23 0,41 0,52 –0,12 –0,29 0,89*
A5: Idéias –0,03 –0,16 0,77 0,12 0,26 0,93*
A6: Valores –0,27 0,20 0,64 0,21 –0,13 0,90*
C1: Confiança –0,19 0,40 0,12 0,64 –0,01 0,95**
C2: Retidão –0,13 –0,16 –0,10 0,70 0,23 0,99**
C3: Altruísmo –0,05 0,28 0,05 0,77 0,25 0,92*
C4: Complacência –0,23 –0,12 –0,01 0,81 0,13 0,99**
C5: Modéstia 0,06 –0,05 –0,11 0,76 0,04 0,95*
C6: Sensibilidade 0,04 0,20 0,32 0,67 0,04 0,96**
R1: Competência –0,30 –0,06 0,15 0,20 0,76 0,93*
R2: Ordem 0,08 –0,06 –0,18 –0,00 0,71 0,97**
R3: Cumprimento do dever –0,08 –0,03 –0,11 0,35 0,80 0,98**
R4: Esforço por realizações –0,08 0,25 –0,03 –0,25 0,78 0,97**
R5: Autodisciplina –0,27 0,00 –0,04 0,05 0,84 0,97**
R6: Deliberação –0,26 –0,33 –0,03 0,41 0,56 0,97**
Congruênciab 0,97** 0,95** 0,95** 0,95** 0,94** 0,95**
Nota. N = 219. Esses são componentes principais rotados para normas americanas (Costa e McCrae, 1992). Cargas maiores do que 0,50 em magnitude absoluta são apresentadas
em negrito. aVariável coeficiente de congruência bCoeficiente de congruência fator/total com a matriz-alvo.
*Congruência superior a 95% de rotações de dados aleatórios. **Congruência superior a 99% de rotações de dados aleatórios.
210 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTO COLOM & COLS.
dados, nem a idade do alvo, tampouco a épo-
ca, ou a língua e a cultura, parecem importar.
O FFM é uma descrição extremamente consis-
tente da personalidade humana.
A PESQUISA EMPÍRICA SOBRE
OS TRAÇOS DO FFM
Depois de décadas nas quais uma estru-
tura passível de ser replicada parecia confun-
dir os psicólogos dos traços (Howarth, 1976),
o robusto FFM revigorou o campo e levou a
muitas descobertas novas nas pesquisas. Sabe-
se agora muito mais acerca dos traços do que
há 20 anos, e novas linhas de pesquisa come-
çam a se abrir. Um resumo dessas descobertas
oferece o melhor quadro, até agora, de como é
a personalidade humana.
A origem dos traços
Uma das questões mais antigas na psico-
logia diz respeito à origem das diferenças indi-
viduais: por que algumas pessoas são ansiosas
sem qualquer razão que o justifique, ao passo
que outras não demonstram medo diante do
perigo? A psicanálise identifica a origem da
maioria dessas diferenças nas primeiras expe-
riências de vida, especialmente a relação da
criança com seus pais. Os teóricos da aprendi-
zagem social apontam as gratificações e as
punições que os indivíduos recebem (tanto di-
reta quanto indiretamente) como as forças que
definem o caráter. Os teóricos do temperamen-
to (como Buss e Plomin, 1975) consideram os
fatores de constituição como os mais impor-
tantes, pelo menos para o subconjunto de tra-
ços de temperamento, como nível de ativida-
de e medo.
Apesar da ampla suposição de que o am-
biente inicial é fundamental para a personali-
dade e a psicopatologia, há muito pouca pes-
quisa que tenha realmente medido a experiên-
cia infantil e posteriormente avaliado a perso-
nalidade no adulto maduro (Kagan e Moss,
1962). Estudos retrospectivos (McCrae e Cos-
ta, 1988) encontraram algumas associações pe-
quenas – por exemplo, adultos com alta cordia-
lidade informam que seus pais eram amorosos
e não os rejeitavam, o que parece sugerir que
o amor parental contribui para uma orienta-
ção pró-social nos filhos. Todavia, a interpre-
tação desses resultados é ambígua. Talvez os
adultos corteses sejam simplesmente mais ge-
nerosos na avaliação que fazem de seus pais,
lembrando-se deles e os descrevendo como
sendo mais amorosos do que eles realmente
eram. Talvez seus pais fossem mais amorosos
por ser mais fácil de amar seus filhos corteses.
Talvez os mesmos genes que tornaram seus pais
amorosos lhes tenham dado uma alta C.
Essa última possibilidade se torna mais
provável em função dos resultados de muitos
estudos genético-comportamentais. Pesquisa-
dores do mundo todo têm tentado estimar a
herdabilidade dos traços – até que ponto eles
são definidos pelos genes – usando os méto-
dos da genética comportamental. Esses méto-
dos são baseados no fato de que gêmeos
monozigóticos (MZ) ou idênticos comparti-
lham todos os genes, enquanto os gêmeos
dizigóticos (DZ) ou fraternos compartilham,
em média, apenas metade, e as crianças ado-
tadas não têm qualquer gene em comum com
seus irmãos adotivos. Considerando-seque os
genes são importantes na determinação dos tra-
ços de personalidade, os gêmeos MZ deveriam
assemelhar-se mais uns aos outros do que os
DZ, os quais, por sua vez, deveriam ser mais
semelhantes entre si do que os irmãos adoti-
vos. E é exatamente isso que se encontra. Quan-
do se juntam auto-relatos dos cinco fatores
sobre amostras de gêmeos (por exemplo, Ono
et al., 2000), os resultados sugerem que cerca
de metade da variância é atribuída a genes, e
quase nada ao ambiente (os efeitos de se cres-
cer na mesma casa, com os mesmos pais, esco-
la, religião, etc.). A outra metade da variância
ainda é um mistério, mas grande parte dela
parece ser erro de medição. Quando se acres-
centam aos auto-relatos classificações de ob-
servadores para proporcionar avaliações de
personalidade mais precisas, chega-se a esti-
mativas de herdabilidade muito mais elevadas
(Riemann, Angleitner e Strelau, 1997).
Estudos de genética comportamental for-
necem indicadores poderosos, mas indiretos,
dos efeitos dos genes sobre os traços. Atual-
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 211
mente há muito interesse na genética molecular
da personalidade, com estudos publicados so-
bre vários genes candidatos a causadores desses
efeitos, e planos para uma varredura completa
no genoma em populações selecionadas, como
as da Islândia e da Sardenha. Infelizmente, os
resultados até agora têm sido difíceis de repli-
car (Ball et al., 1997), e parece provável que
os avanços sejam lentos nessa área. Cada tra-
ço provavelmente será influenciado por mui-
tos genes, de modo que o efeito de qualquer
um deles individualmente será sutil e difícil de
detectar.
Desenvolvimento dos traços
de personalidade
Existem dois métodos comuns usados
para acompanhar o desenvolvimento dos tra-
ços durante a vida: os delineamentos transver-
sais e os longitudinais. Nos estudos transver-
sais, pessoas de diferentes idades são compa-
radas ao mesmo tempo; nos longitudinais, os
mesmos indivíduos são avaliados em momen-
tos diferentes. Cada método tem determina-
das limitações. Diferenças etárias transversais,
por exemplo, podem acontecer em função de
diferenças nos coortes de nascimento, e não
em mudanças na personalidade desde a infân-
cia. As mudanças longitudinais parecem avaliar
a transformação de forma direta, mas as mu-
danças podem ser devidas a alterações nas for-
mas de responder a questionários, e não em
um verdadeiro desenvolvimento de traços. Em
função desse tipo de limitação, nenhum estu-
do é desprovido de ambigüidade, mas já fo-
ram feitos muitos trabalhos com diferentes
pontos fortes e fracos, obtendo-se um quadro
relativamente claro (McCrae e Costa, 2003).
Entre os 12 e os 18 anos, os indivíduos
muitas vezes apresentam mudanças marcadas,
com alguns adolescentes apresentando cresci-
mento de alguns fatores, e outros, diminuição.
Entretanto, os níveis médios dos traços perma-
necem, em muito, inalterados, com exceção de
pequenos acréscimos em A (McCrae et al,
2002). Dos 18 aos 30 anos, há menos mudan-
ças individuais, mas existem tendências previ-
síveis no processo de amadurecimento: N, E e
A decrescem, enquanto C e R aumentam. Sen-
do assim, os adultos são menos voláteis e mais
disciplinados do que os adolescentes. Após os
30 anos, as diferenças individuais são muitos
estáveis e os níveis médios mudam muito len-
tamente. Como conseqüência, os traços que ca-
racterizam alguém com essa idade têm muitas
probabilidades de ainda caracterizar alguém
de 70 anos. Isso é verdade, apesar de todas as
mudanças em saúde, papéis sociais e circuns-
tâncias de vida que provavelmente aconteçam
durante a idade adulta.
Os estudos longitudinais que avaliam a
estabilidade das diferenças individuais têm sido
conduzidos principalmente nos Estados Uni-
dos, mas estudos transversais têm sido desen-
volvidos em muitos países do mundo, do
Zimbábue à Croácia e à República Popular da
China, verificando-se padrões extraordinaria-
mente semelhantes (McCrae e Costa, no pre-
lo). As diferenças de cultura ou de história re-
cente não parecem ter importância.
Correlatos e conseqüências
Como afirmou Mischel (1968), é verda-
de que os traços predizem relativamente pou-
co os comportamentos específicos em situações
de laboratório, mas Epstein (1979) demons-
trou que o poder das predições aumenta à
medida que os comportamentos são agrega-
dos, e os dados sobre a estabilidade das dife-
renças individuais mostram que os traços po-
dem exercer sua influência durante décadas,
de modo que o efeito cumulativo é enorme.
Muitos estudos demonstraram os efeitos
poderosos que os traços têm nas vidas das pes-
soas. Para apontar apenas alguns de seus corre-
latos, N é um fator de risco para uma ampla
variedade de transtornos psiquiátricos (Costa
e Widiger, 2002; Trull e Sher, 1994). O fator E
está relacionado a interesses profissionais, a
procura eficaz de empregos e a ganhos duran-
te a vida (McCrae e Costa, 2003). O fator A
afeta tudo, de preferências musicais (Rentfrow
e Gosling, 2003) à escolha de um cônjuge
(McCrae, 1996). Baixos escores em C predis-
põem a pessoa a desenvolver doenças coro-
narianas (Costa, McCrae e Dembroski, 1989).
212 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTO COLOM & COLS.
A responsabilidade está ligada a realizações aca-
dêmicas (Paunonen e Ashton, 2001) e a desem-
penho profissional (Barrick e Mount, 1991). Os
traços não são apenas disposições duradouras,
eles permeiam quase que todos os aspectos da
vida. O FFM se mostrou útil no estudo da reli-
gião (McCrae, 1999), da sexualidade (Costa,
Fagan, Piedmont, Ponticas e Wise, 1992), de
estresses e enfrentamento (Kallasmaa e Pulver,
2000), de economia (Austin, Deary e Willock,
2001) e opiniões políticas (Riemann et al., 1993).
Os traços de personalidade têm influên-
cias importantes em nossas vidas e experiên-
cias, mas são igualmente importantes como
determinantes do comportamento de outras
pessoas. Nossos cônjuges, vizinhos, chefes e
filhos têm seus próprios traços, aos quais po-
demos aprender a nos adaptar, mas que rara-
mente mudam. Pode-se até mesmo argumen-
tar que os traços de personalidade definem a
história: foi a alta R de George Washington que
lhe permitiu perseverar durante as dificulda-
des da Guerra Revolucionária nos Estados Uni-
dos (Rubenzer et al., 2000) e a elevada A de
Jean-Jacques Rousseau que inspirou a Revolu-
ção Francesa (McCrae, 1996).
Pesquisa intercultural
Ao redor de 1990, pesquisadores no mun-
do todo começaram a traduzir o NEO-PI-R e a
avaliá-lo como medida de personalidade em
diferentes culturas. A primeira questão de in-
teresse era saber se havia generalidade na es-
trutura de fatores em relação a outras cultu-
ras. Alguns autores eram céticos sobre a possi-
bilidade de um modelo de personalidade de-
senvolvido com base nos termos da língua in-
glesa para os traços, e estudado predominan-
temente em amostras de norte-americanos de
classe média, ser relevante em outros idiomas
e culturas (Juni, 1996). A Tabela 11.1 mos-
trou claramente que a estrutura é generalizável
a classificações de brasileiros, mas o português
é, afinal, uma língua indo-européia, relativa-
mente próxima ao inglês, e o Brasil, assim como
os Estados Unidos, foi povoado predominan-
temente por imigrantes da Europa e descen-
dentes dos escravos trazidos da África. Seria
possível encontrar a mesma estrutura no Leste
da Ásia ou na África subsaariana, ou no subcon-
tinente indiano?
Resumindo, sim. A estrutura de fatores
já foi examinada em países que vão desde a
Turquia até a Islândia, e em todos os casos os
cinco fatores foram resgatados. O instrumento
tende a funcionar um pouco melhor nas cultu-
ras ocidentais, mas mesmo nas mais remotas,
tais como Burkina Faso, os cinco fatores são
inconfundíveis (Rossier, Dahourou e McCrae,
2003).
Como os cinco fatores são encontrados
em toda a parte, é possível comparar os mes-
mos constructosem diferentes culturas. Como
observado antes, estudos de diferenças etárias
apresentaram efeitos muitos constantes em cul-
turas amplamente diferentes (McCrae e Cos-
ta, no prelo). Pode-se dizer mais ou menos a
mesma coisa em termos de diferenças de gê-
nero. Costa, Terracciano e McCrae (2001) exa-
minaram amostras de universitários e adultos
de 26 culturas. As mulheres tinham N e C cons-
tantemente mais elevados do que os homens.
Em alguns casos, diferentes facetas do mesmo
fator tiveram padrões opostos de efeitos em
termos de gênero. Por exemplo, as mulheres
tinham abertura à estética mais elevada, en-
quanto os homens eram mais abertos a idéias.
Os mesmos tipos de efeitos foram encontrados
em sociedades com papéis sexuais muito tra-
dicionais, como a Coréia do Sul e a África do
Sul negra, e em países progressistas, como a
Noruega e a Holanda. Surpreendentemente, a
magnitude dos efeitos foi maior em países pro-
gressistas. Um dos passos mais importantes na
reabilitação dos traços após a crítica de Mischel
foi a demonstração de que há um acordo subs-
tancial entre os observadores com relação à
avaliação desses traços (Funder, 1980). Dife-
rentes observadores têm acesso a informações
diferenciadas e as processam de forma um pou-
co distinta, de modo que não há razão para se
esperar uma concordância perfeita, mas mui-
tos estudos já demonstraram que as correla-
ções entre classificadores únicos, ou entre auto-
relatos e um único observador, ficam geralmen-
te entre 0,4 e 0,5; correlações mais altas são
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 213
obtidas se for feita a média de diversos classi-
ficadores.
Entretanto, a maioria dos estudos com
vários observadores foi desenvolvida nos Esta-
dos Unidos ou na Europa Ocidental, e psicólo-
gos culturais já sugeriram que os traços podem
ter relevância semelhante em países coletivis-
tas, onde as relações interpessoais são mais im-
portantes na orientação do comportamento
(ver Church, 2000). Também se pode esperar
que os traços sejam individualmente menos im-
portantes em culturas que até pouco tempo
atrás estavam sob controle soviético, onde o
indivíduo estava oficialmente subjugado às
necessidades coletivas. Se os traços não forem
importantes, ou se sua influência sobre o com-
portamento for limitada, podemos esperar des-
cobrir que as pessoas não percebam precisa-
mente seus próprios traços ou os de pessoas
ao seu redor, e, conseqüentemente, deveria
haver muito menos concordância. Contudo, um
estudo recente fez uma revisão dos dados dis-
poníveis sobre concordância entre observado-
res e encontrou níveis igualmente elevados em
países coletivistas e individualistas. Os dados
também demonstraram que a concordância na
Rússia e na República Tcheca era comparável
à dos Estados Unidos (McCrae et al., 2004).
Todos os estudos mencionados até aqui
dizem respeito a semelhanças entre culturas nas
propriedades dos traços dentro da cultura – por
exemplo, a correlação de R com a idade é se-
melhante em Portugal e na Estônia. O que di-
zer das comparações entre culturas? Podemos
garantir que os noruegueses sejam extroverti-
dos, enquanto chineses de Hong Kong são
introvertidos? Embora haja centenas de estu-
dos que tentam realizar esse tipo de compara-
ção, os metodólogos interculturais apontaram
uma série de razões para sermos bastante céti-
cos (van de Vijver e Leung, 1997). Resultados
mais altos em uma cultura podem ser conse-
qüência de mudanças na formulação de ques-
tões introduzidas no processo de tradução, ou
de diferenças no estilo de resposta ou estraté-
gia de auto-apresentação nos dois países, ou
de diferenças de amostragem.
Contudo, McCrae (2002) reuniu evidên-
cias em favor da comparabilidade geral dos da-
dos de 36 culturas e relatou resultados signifi-
cativos. A média em nível de país para N e E
apresentou-se significativamente correlacio-
nada à média em nível de país relatada ante-
riormente para diferentes medidas de N e E
(Lynn e Martin, 1997). Os resultados por país
tiveram correlação, de maneiras significativas,
com as dimensões da cultura de Hofstede
(Hofstede e McCrae, 2004) – por exemplo, R e
baixo E estavam relacionadas com o distan-
ciamento do poder, que diz respeito à tendên-
cia a aceitar diferenças de status de forma dó-
cil. Mais além, os países formaram clusters geo-
gráficos: os perfis de personalidade entre as
30 facetas do NEO-PI-R foram muito semelhan-
tes na Espanha e em Portugal, no Canadá e
nos Estados Unidos, e no Zimbábue e na Áfri-
ca do Sul negra (Allik e McCrae, 2004).
Todavia, em alguns aspectos, os resulta-
dos ficaram longe de ser claros. Particularmen-
te, as comparações dos níveis médios não es-
tão adequadas aos estereótipos. Os países do
Leste da Ásia, por exemplo, tenderam a resul-
tados mais baixos do que os países ocidentais
em R, embora os habitantes daquela região
tenham uma reputação de ser diligentes. Uma
descrição antropológica (Margolis, Bezerra e
Fox, 2001, p. 286) sugere que o Brasil é sim-
bolizado pela “exuberante folia da celebração
pré-quaresmal do carnaval e pelo futebol... ex-
tremamente popular”, e isso sugere que, como
Villa-Lobos, o brasileiro típico é extrovertido.
Ainda não há dados do NEO-PI-R disponíveis
para testar a hipótese, mas logo haverá.*
Um estudo multinacional de grande es-
cala está atualmente em andamento, avalian-
do a personalidade por meio de classificações
de observadores e também as percepções do
caráter nacional. Com seu método alternativo
de medição e sua lista ampliada de culturas,
esse estudo deve dar contribuições substanciais
a nossa compreensão da personalidade em di-
ferentes culturas.
*N. de R.T. Encontra-se em andamento o projeto de
adaptação do NEO-PI-R para o Brasil, coordenado
pela Profa Carmen E. Flores-Mendoza, em parceria
com pesquisadores brasileiros de diferentes Estados.
214 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTO COLOM & COLS.
UM MODELO DINÂMICO DO
SISTEMA DA PERSONALIDADE
Freud e a maioria dos teóricos clássicos
da personalidade basearam suas teorias em ob-
servações de pacientes que eles trataram, ten-
tando construir um modelo de personalidade
aplicável a todas as pessoas. Avançaram de um
caso individual para um modelo geral. Os psicó-
logos que estudam os traços podem assumir uma
abordagem diferente. Eles começam com ob-
servações sobre pessoas em geral e tentam criar
um modelo que se possa aplicar a indivíduos.
McCrae e Costa (1999) ofereceram uma
versão dessa abordagem. Eles começaram com
as conclusões associadas ao FFM e tentaram
construir um modelo de como o sistema da per-
sonalidade deve operar para proporcionar es-
ses resultados. O problema fundamental que
deve ser resolvido por uma teoria da persona-
lidade, segundo a teoria dos cinco fatores
(FFT), é como conciliar a variação dramática
nas circunstâncias de vida e nas adaptações
com a relativa constância dos fatos. Como é
possível que as pessoas vivam 40 anos, fazendo
novos amigos, aprendendo idéias novas, supor-
tando crises pessoais e compartilhando os des-
tinos de seu país e de sua época, sem mudar em
suas disposições básicas? Como é possível que
diferenças profundas na linguagem, nos costu-
mes sociais, na religião, na cultura popular e
nos sistemas econômicos não tenham qualquer
efeito sobre a estrutura de traços ou seu desen-
volvimento com o passar do tempo?
A FFT resolve esse problema propondo
que os traços de personalidade são estrutural-
mente isolados das influências do ambiente. A
maioria das teorias da personalidade (Freud,
1933; Rotter, 1966) considera os traços como
o resultado das experiências de vida; a FFT
reverte essa rota causal e postula que os traços
afetam as experiências de vida sem que eles
próprios sejam afetados. É por isso que eles
não são definidos pelas práticas dos pais em
relação à educação dos filhos, nem alterados
pelo casamento, pelas mudanças profissionais
ou pela aposentadoria.Essencialmente, são
imunes a essas influências.
Se os traços não são definidos pela expe-
riência, de onde eles vêm? A alternativa óbvia
ao adquirido é o inato (McCrae et al., 2000).
Segundo a FFT, os traços são tendências psico-
lógicas básicas que têm fundamento biológi-
co. Esse postulado é coerente com a ampla li-
teratura sobre genética comportamental que
demonstra um componente genético importan-
te nos traços de personalidade, mas é mais
amplo do que isso. As doenças neurológicas,
como o mal de Alzheimer, têm efeitos profun-
dos sobre a personalidade (Siegler et al., 1991)
e as drogas, as lesões cerebrais traumáticas, o
ambiente intra-uterino e mesmo a alimenta-
ção podem afetar os traços. A FFT diz apenas
que devemos buscar as causas dos traços na
biologia, e não no ambiente.
Essa é uma posição radical e provavel-
mente se acabará provando que está errada.
Por exemplo, a experiência de perda pode le-
var à depressão clínica, que altera o funciona-
mento do cérebro e os traços de personalidade
(Costa, Bagby, Herbst, Ryder e McCrae, 2003).
Da mesma forma, uma bala na cabeça é uma
experiência de vida que provavelmente afeta-
rá a personalidade. Contudo, apesar dessas ex-
ceções, a idéia de que os traços são indepen-
dentes do ambiente é um guia poderoso para
a interpretação das conclusões das pesquisas.
Por exemplo, pode explicar muito das pesqui-
sas interculturais. Por haver apenas uma espé-
cie humana, as características biológicas são
universais, apenas com variações menores.
Todos os seres humanos têm dois olhos, em-
bora algumas vezes eles sejam azuis e outras,
castanhos. De modo semelhante, todos os se-
res humanos têm disposições a ser extroverti-
dos ou responsáveis, que diferem apenas em
grau. O olho sempre tem uma córnea, uma len-
te e uma retina; a extroversão sempre inclui
acolhimento, atividade e emoções positivas. A
visão declina com a idade no Zimbábue, no
Japão e na Estônia, e o mesmo acontece com a
abertura à experiência.
Esses aspectos universais só foram des-
cobertos recentemente por meio da pesquisa
intercultural, mas tem sido óbvio para todos,
durante séculos, que existem diferenças na for-
ma como as pessoas de culturas distintas pen-
sam, sentem e agem. As culturas diferem no
idioma, no vestuário, nos sistemas de paren-
tesco, na alimentação, nas crenças religiosas e
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 215
assim por diante, e também esse fato deve ser
reconhecido pela FFT. E o é. Além das “ten-
dências básicas” (incluindo os traços), a FFT
reconhece uma categoria de adaptações psico-
lógicas que são aprendidas a partir da experiên-
cia, incluindo hábitos, atitudes, habilidades e
os aspectos internalizados dos papéis e das re-
lações. Todos esses são categorizados como
“adaptações características”. Elas são adapta-
ções porque são adquiridas em resposta a pres-
sões e a oportunidades no ambiente, mas tam-
bém são características porque refletem a na-
tureza da pessoa. Todos os estudantes de uma
turma podem assistir à mesma exposição, mas
o que aprendem dela dependerá, em parte, de
sua própria aptidão, de seus interesses e de sua
dedicação. Os traços de personalidade ajudam
a definir a forma como interpretamos nosso
ambiente e respondemos a ele. É por isso que
as pessoas que compartilham a cultura tam-
bém diferem em pensamentos, em sentimen-
tos e em comportamentos.
A essa altura, seria útil resumir a FFT em
um modelo. A Figura 11.1 apresenta uma ver-
são simplificada do modelo-padrão. A versão
integral (McCrae e Costa, 1999) inclui o
autoconceito como subcomponente de adap-
tações características e algumas outras setas
de menor importância. Especifica, também, que
cada uma das setas representa um conjunto
de processos dinâmicos, como aprendizagem,
enfrentamento e planejamento. A FFT também
inclui um conjunto de postulados. Por exem-
plo, o postulado do desenvolvimento diz que
“os traços se desenvolvem durante a infância e
atingem a forma madura na idade adulta; de-
pois disso, ficam estáveis em indivíduos
cognitivamente intactos”, ao passo que o pos-
tulado da plasticidade enuncia que “as adap-
tações características mudam com o passar do
tempo em resposta à maturação biológica, às
mudanças no ambiente ou à intervenção deli-
berada”. Esses postulados são princípios mui-
to amplos que descrevem como a personalida-
de funciona. Como demonstrado na Figura
11.1, a FFT sustenta que traços com base bio-
lógica interagem com o ambiente social para
orientar nosso comportamento a cada instante.
O QUE É PERSONALIDADE?
Este capítulo foi encarregado de apresen-
tar o tópico da personalidade, que será explo-
rado mais detalhadamente em outros. Passou-
se por uma introdução aos traços e por um re-
sumo das conclusões de pesquisa acerca do
tema, chegando a uma teoria que pretende
explicar como funciona a personalidade. Da
perspectiva da FFT, a questão colocada por este
capítulo pode ser assim respondida: persona-
lidade é o sistema no qual as tendências inatas
da pessoa interagem com o ambiente social
para produzir as ações e as experiências de uma
vida individual.
A maioria dos teóricos da personalidade
pode concordar com essa declaração muito
ampla e geral (Mischel e Shoda, 1995), mas o
leitor não deve perder de vista que diferentes
teóricos ainda poderão divergir profundamente
acerca dos detalhes. Alguns pesquisadores afir-
mam que há seis fatores em vez de cinco
(Ashton et al., 2004). Alguns preferem con-
centrar-se no self, em lugar dos traços. Uns acre-
ditam que a teoria da personalidade deve apro-
fundar-se nos processos dinâmicos apenas
pincelados na FFT. Em contraste com esta, a
maioria dos psicólogos pensa que o ambiente
tem influências importantes sobre o desenvol-
vimento dos traços (Roberts, Caspi e Moffitt,
FIGURA 11.1 Modelo simplificado de sistema de personalidade (adaptado de McCrae, no prelo).
216 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTO COLOM & COLS.
2003). Fizemos grandes progressos nos últi-
mos 25 anos em medir os traços e em com-
preender seu funcionamento, mas ainda há
muito a fazer para compreender como eles se
encaixam no sistema mais amplo da persona-
lidade. Serão necessários novos dados e novas
conceituações para aprofundar nosso entendi-
mento da personalidade.
É de certa forma interessante considerar
por que a psicologia dos traços floresceu nos
últimos anos, após décadas nas quais poucos
avanços foram possíveis. Uma razão é a dispo-
nibilidade de computadores, que possibilitaram
desenvolver, em segundos, análises que teriam
ocupado meses nas pesquisas de Cattel (1946)
ou Fiske (1949). Além disso, igualmente impor-
tante é a participação de psicólogos de todo o
mundo (facilitada, ela própria, pelo correio ele-
trônico). Dados coletados em diferentes cultu-
ras podem proporcionar informações valiosas
sobre os determinantes e o desenvolvimento
de diferenças individuais na personalidade,
porque as diferenças culturais constituem “ex-
perimentos naturais” sobre como o ambiente
afeta a personalidade. A longo prazo, contu-
do, é provável que a mais importante contri-
buição de uma psicologia da personalidade ver-
dadeiramente internacional venha a ser os pró-
prios psicólogos. Profissionais de diferentes
formações culturais têm probabilidades de tra-
zer perspectivas novas à interpretação de dados
sobre a personalidade e de formular novas in-
terrogações que possam levar o campo a avan-
çar em direções completamente diferentes.
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	Parte III - Personalidade
	11. O QUE É PERSONALIDADE?

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