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Principais funções da moeda. Política Monetária APRESENTAÇÃO A moeda exerce papel importante na vida em sociedade, pois permite que os diferentes agentes i ntermedeiem, entre si, bens e serviços. Todavia, o volume de moeda em circulação deve ser aco mpanhado pelo Banco Central, autoridade executiva da política monetária do governo, visto que o descontrole monetário provoca inflação, e a escassez da moeda na economia pode impactar ne gativamente no crescimento econômico. Nesta Unidade de Aprendizagem, veremos as funções da moeda em uma economia e os instrum entos de política monetária do governo. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as funções da moeda em uma economia.• Identificar os instrumentos de política monetária do governo.• Diferenciar o processo de criação e de impressão de moeda na economia.• DESAFIO Reza a lenda que um caubói, cuja atividade principal era minerar pedras preciosas, viajou para a Califórnia no ano de 1850. Ele havia escutado um boato de que havia possibilidade de extração de ouro em algumas fazendas daquele estado. As suas especulações se realizaram ao encontrar u ma grande quantidade do metal, tão logo iniciado seu trabalho. Com receio de roubo de seu ouro, resolveu deixá-lo com um fazendeiro amigo, passando este a s er seu fiel depositário. Alguns outros mineiros consortes também resolveram fazer o mesmo, e escolheram o mesmo fa zendeiro para o trabalho de depositário. Para não correr risco de se confundir, o fazendeiro passo u a emitir em papel um certificado de propriedade. No certificado, havia o nome do depositário e a quantidade depositada. Algum tempo depois, seu papel passou a ser aceito para operações de compra e venda de produt os, não necessitando do ouro físico no momento da transação. Ou seja, as pessoas passaram a tra nsacionar o direito ao saque de ouro. O exemplo ilustra bem o sistema monetário, em que a legitimação social é o que garante a circul ação e a aceitação da moeda. Assim, vamos ao desafio: a) Imagine que o fazendeiro depositário do Estado da Califórnia decidisse fabricar os certificado s de propriedade de ouro, sem, contudo, existirem as suas quantidades correspondentes. Como is so afetaria a utilidade da economia local? Explique. b) Classifique o risco financeiro induzido pela atitude do fazendeiro. Elabore um pequeno texto para responder às questões. INFOGRÁFICO A figura a seguir descreve, segundo os professores Paul Samuelson e William Nordhaus, como o fluxo de fundos segue o fluxo financeiro na economia. No modelo, os poupadores e os investi dores transferem fundos no tempo, no espaço e entre setores, por meio de mercados e intermediá rios financeiros. Alguns fluxos (como a compra de 100 ações da XYZ) ocorrem diretamente por meio dos mercados financeiros, enquanto outros (como a compra de ações de fundos mútuos ou o depósito à vista) ocorrem por intermediários financeiros. Maycon Carbone Caixa de texto Para entender o impacto econômico do volume de moeda em circulação, é necessário compreender que a moeda é o ativo de maior liquidez na sociedade, em outras palavras, é o ativo mais desejado. Isso porque é capaz de se converter rapidamente em outros bens e serviços. Por isso dizemos que a moeda, no caso brasileiro, o Real, é uma instituição. A moeda é uma instituição, pois é legitimada e creditada pela sociedade. Apesar da moeda ser de curso-forçado (ou seja, circula em função de uma lei obrigatória), se a sociedade não lhe der o crédito devido, o sistema monetário não se sustentará. A base de fundo para a circulação é a crença, por parte das pessoas, de que existe sempre o volume correspondente em seu banco, quando na verdade isso ocorre pela crença e não pela certeza que seu banco dispõe dos recursos para transações ou mesmo para saque. Dessa forma, se o fazendeiro imprimisse novos certificados, ainda que não existisse o correspondente em ouro (dizemos lastro), o volume de liquidez na economia iria subir sensivelmente, assim como o risco financeiro. O volume aumentaria, tendo em vista que o número de certificados emitidos pelo fazendeiro aumentaria, o que induziria poder aquisitivo para quem detivesse esses certificados. Como o poder aquisitivo iria aumentar, o volume de transações também aumentaria, pressionando os preços dos produtos para cima. E isso induz à inflação. Outro detalhe que merece ser mencionado é o risco financeiro induzido. Imagine simplesmente que todos os proprietários de certificados decidam trocar seus certificados por ouro. Não haverá lastro suficiente em depósito. Desse modo, o sistema monetário estará fortemente comprometido. CONTEÚDO DO LIVRO Desafio de uma armadilha de liquidez Um dos maiores desafios para um banco central surge quando as taxas de juros nominais se apro ximam de zero. Isso é referido como a armadilha de liquidez. Tal situação ocorreu na Grande De pressão dos anos 1930, e novamente em 2008/2009 nos Estados Unidos. Quando as taxas de juros de curto prazo seguras são zero, os títulos de curto prazo seguros são e quivalentes em dinheiro. A demanda de moeda torna-se infinitamente elástica em relação à taxa de juros. Nessa situação, os bancos não têm razão para economizar as suas reservas, eles têm ess encialmente as mesmas taxas de juros sobre as reservas e em investimentos de curto prazo sem r isco. Por exemplo, no início de 2009, os bancos poderiam ganhar 0,10%, ao ano, sobre as reserv as, e 0,12% em títulos do Tesouro. As operações de mercado abertas do Banco Central, portanto, têm pouco ou nenhum impacto so bre as taxas de juros e os mercados financeiros. Em vez disso, quando o Fed (Federal Reserve D epartment) compra títulos, os bancos apenas aumentam as suas reservas em excesso. Essa síndro me apareceu em 2008/2009, quando o excesso de reservas subiu de um nível normal de US$ 1 b ilhão para mais de US$ 900 bilhões. Em essência, os bancos estavam usando o Fed como um co fre seguro para os seus fundos. (Certifique-se de que entende a razão pela qual as operações de mercado aberto são ineficazes em uma armadilha de liquidez). Como não pode baixar as taxas de juros de curto prazo, o Fed é incapaz de usar o mecanismo de transmissão monetária normal para estimular a economia em uma armadilha de liquidez. Se o Banco Central não pôde baixar as taxas de juros de curto prazo abaixo de zero, que outras medidas pode tomar para estimular uma economia deprimida? Esse foi o dilema que o Fed enfre ntou no início de 2009. Uma medida seria a tentativa de baixar as taxas de juros de longo prazo. Isso exigiria que o Banco comprasse títulos de "longo prazo" ao invés de se focar em títulos de " curto prazo", que é a prática habitual. Uma segunda medida seria reduzir o prêmio de risco sobre os títulos de risco. Agindo com o Tesouro dos Estados Unidos, o Fed tem forçadamente tomado medidas, nesse sentido, desde os primeiros estágios da crise de crédito em 2007/2009. As medid as incluem a compra de ativos problemáticos, a abertura da janela de redesconto a instituições fi nanceiras não bancárias, a compra de papel comercial e o empréstimo com garantia de uma amp la gama de ativos financeiros privados. O objetivo dessas medidas foi melhorar a liquidez e aum entar a disponibilidade de crédito nos mercados financeiros. Essa passagem exemplifica a difícil tarefa de conduzir a política monetária em determinado paí s. Leia o capítulo Principais Funções da Moeda: Política Monetária da obra Fundamentos de eco nomia que compõe a base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. FUNDAMENTOS DE ECONOMIA Rosangela Aparecida da Silva Principais funções da moeda: política monetária Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as funções da moeda em uma economia. Identificar os instrumentos de política monetária do governo. Diferenciar o processo de criação e deimpressão de moeda na economia. Introdução Neste capítulo, você vai entender como a moeda foi criada e qual é seu papel na economia. Você vai verificar que o governo utiliza instrumentos de política monetária para mexer na quantidade de moeda em circulação e faz isso, teoricamente, para estabilizar os preços da economia. Por fim, você vai ver que, além da emissão de moeda feita pelo Banco Central do Brasil, os bancos também criam moedas por meio do efeito multiplicador de suas atividades como intermediários financeiros. A moeda como meio de troca A moeda de uma economia em que existem diversos tipos de bens e serviços tem crucial importância para o crescimento dessa economia, a sua estabilidade fi nanceira e a existência de comércio exterior. Logo, a moeda é vista como o ativo com maior liquidez; ou seja, com dinheiro você pode imediatamente adquirir bens e serviços. Mas será que foi sempre assim? A resposta é não. Até o surgimento da moeda como ela se configura hoje, tivemos diversas etapas: desde moeda mercadoria, até moeda feita de metais preciosos. Inicialmente, em comunidades pequenas, onde existiam poucos bens e serviços, eram feitos escambos, isto é, trocas de bens por outros bens, ou trocas diretas do excesso produzido por cada pessoa, como colocam Samuelson e Nordhaus, (2012). Logo, o quanto você podia obter de bens e serviços com suas próprias mercadorias dependia da necessidade de ambas as partes e da sua capacidade de negociação. Na atualidade, a existência de escambo é restrita a comunidades remotas ou mesmo comunidades de amigos criadas em redes sociais, com a proliferação das Tecnologias da Informação. Com o crescimento das sociedades e da variedade de bens e serviços, decorrentes do aperfeiçoamento de técnicas e do maior acesso a outras regiões — devido a invenções como os barcos a vela, que desbravavam e colonizavam novos continentes —, viu-se a necessidade de haver um meio de troca mais plausível à nova realidade. Afinal, como processar a contabilidade com tantos bens em jogo? Daí surgem as moedas mercadorias. De acordo com o Banco Central ([2018c]), a moeda mercadoria veio como uma forma de preencher a lacuna da comercialização de bens e serviços entre sociedades crescentes e distantes. Para ser moeda mercadoria, o artigo precisava ter bastante utilidade para a população que o adotou como moeda para ser bem aceito. O sal, por exemplo, foi por muito tempo moeda mercadoria, porque, teoricamente, era escasso e servia como conservante para os alimentos, na falta de sistemas de refrigera- ção. Depois, descobriu-se que o sal existia em grandes quantidades em outras regiões, e essa moeda mercadoria foi abandonada. Outras moedas mercadorias que foram empregadas ao longo da história, conforme Bacen ([2018c]), Samuelson e Nordhaus (2012) e Mankiw (2015), são listadas abaixo: O gado bovino foi amplamente utilizado por sua possibilidade de loco- moção, reprodução e como prestador de serviços. Por outro lado, tinha a desvantagem de não ser divisível e, portanto, só podia ser trocado por outras coisas com alto valor de uso; além disso, havia o risco de ocor- rência de pragas no rebanho. Muitas conotações do mercado financeiro vêm do gado: os termos pecúnia (dinheiro) e capital (patrimômio) vêm das palavras em latim pecus (gado) e capita (cabeça), respectivamente. Em solo brasileiro, o pau brasil, o açúcar e o cacau, entre outras mer- cadorias, foram usados como moedas mercadorias. Na Segunda Guerra Mundial, os prisioneiros de guerra utilizavam o cigarro como moeda de troca por bens e serviços, pois tinha aceitação geral. Descobrimos, então, duas características necessárias para que a moeda mercadoria fosse utilizada como tal: a escassez e a aceitação geral. De acordo Principais funções da moeda: política monetária2 com Samuelson e Nordhaus (2012), no final do século XIX, as moedas mer- cadorias já estavam confinadas a metais preciosos como ouro, prata e bronze. Assim, teve origem a moeda metálica, cunhada em metais preciosos. O pro- blema dessas moedas é que, como eram raras, limitavam a comercialização de bens e serviços a países que tivessem esses metais em grande quantidade na economia, dificultando o comércio para países que produziam, mas não tinham dinheiro para comercializar. Assim, surgiu o papel moeda, que inicialmente tinha lastro, isto é, garantia, em metais preciosos (principalmente o ouro) e, depois, tornou-se moeda fidu- ciária (de fidúcia, confiança). O papel moeda facilitou muito as transações ao permitir que a quantidade de moeda se adequasse ao crescimento da produção de bens e serviços. As nações que controlam sua política monetária têm noção de que um aumento substancial da impressão de moeda, acima do crescimento da produ- ção do país, poderá gerar a temida inflação, ou seja, o aumento no nível geral de preços e a desvalorização da moeda nacional frente à moeda estrangeira (câmbio alto). As principais funções da moeda, segundo Vasconcellos e Garcia (2014, p. 85), são: Instrumento ou meio de troca — significa que a moeda pode ser trocada por qualquer bem ou serviço, por ter aceitação geral. Denominador comum monetário ou unidade de valor — essa função mostra que todos os bens podem ser convertidos em unidades monetá- rias, como o real, no Brasil, o que facilita a contabilidade dos valores monetários. A moeda se torna um padrão de medida. Reserva de valor — essa função tem a ver com o fato de que, se uma pessoa tiver dinheiro guardado, terá como adquirir bens e serviços no futuro. No que se refere a essa função, especificamente, ela só tem validade em uma economia estabilizada, sem inflação, pois senão a moeda pode perder seu poder de compra. Demanda e oferta de moeda Como vimos, a demanda e a oferta de moeda podem determinar a taxa de juros e a infl ação em uma economia capitalista. De acordo com Samuelson e Nordhaus (2012) e Vasconcellos e Garcia (2014), a demanda por moeda pode ter três fontes: 3Principais funções da moeda: política monetária Demanda de moeda para transações — as famílias e instituições pre- cisam ter dinheiro para a compra de bens e serviços, e, por isso, elas mantêm valores mensais para fazer essas transações. Segundo o autor, isso nos leva a entender como as mudanças econômicas afetam essas transações. Se, por exemplo, a taxa de juros sobe, há uma tendência de as pessoas reterem mais moeda em poupanças, em vez de consumirem tudo no mesmo momento. Esse movimento, dependendo de outros fatores, pode levar à queda no consumo de curto prazo. Demanda de moeda por precaução — é quando o público e as empresas mantêm certa reserva de dinheiro para prevenir imprevistos e/ou falta de receita para efetuar pagamentos futuros. As empresas, por exemplo, devem manter uma certa quantidade monetária por precaução para que, se ocorrer um furo de caixa, isto é, se os recebimentos não saírem nas datas esperadas ou como era esperado, elas tenham como cumprir seus compromissos. Demanda de moeda por especulação — quantidade de dinheiro que os agentes econômicos retêm para alguma oportunidade financeira de mercado. Podemos utilizar como exemplo o caso da aplicação financeira em títulos públicos: se suas taxas de juros sobem, as pessoas tendem a demandar mais moeda para aplicar nesses títulos. Logo, podemos perceber a influência da taxa de juros, principalmente no que se refere à demanda por moeda para especulação. Quanto aos dois primeiros tipos de demanda por moeda, embora também possam ser influenciados pela taxa de juros, estão mais associados à renda da população em geral. Principais funções da moeda: política monetária4 Moeda e taxas de juros Vimos que a moeda tem uma estreita ligação com as taxas de juros de uma eco- nomia — o economista John M. Keynes até dizia que o preço da moeda é a taxa de juros. Mas o que é taxa de juros? Samuelson e Nordhaus (2012, p. 576) colocam que a taxa de juros é “o preço pago pelo dinheirorecebido de empréstimo durante determinado período, habitualmente indicado como uma percentagem do capital por ano”. Sendo um percentual que se ganha por aplicar o dinheiro por determinado período, ela pode ser de dois tipos: Taxa de juros real — é a taxa percentual obtida com uma aplicação financeira, excluindo-se a taxa de inflação. Taxa de juros nominal — é a taxa percentual obtida com uma aplicação financeira, sem excluir a taxa de inflação. Perceba que a taxa de juros real é que vai mostrar qual foi o seu poder de ganho ao fazer uma aplicação financeira: se sua taxa real for positiva, significa que valeu à pena a aplicação, pois seu dinheiro rendeu mais do que a inflação do período em que foi aplicado (não se considerando aqui as taxas administrativas e os impostos). A oferta de moeda se dá principalmente por meio do Banco Central do Brasil (Bacen), que é a instituição responsável pela emissão da moeda no país, e seu controle sobre o mercado financeiro é grande. Embora quem tome as decisões de política monetária seja o Conselho Monetário Nacional (CMN), que, segundo Governo do Brasil (2017), é composto pelos ministros da Fazenda, do Planejamento, do Desenvolvimento e Gestão e pelo presidente do Bacen, quem executa essas políticas é o próprio Bacen. O Bacen é uma entidade supervisora do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e, de acordo com Lagioia (2011), é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Fazenda, que exerce principalmente as seguintes atribuições: Banco dos bancos, por garantir a solvência do SFN por meio de seus instrumentos de políticas monetárias. “Gestor do sistema financeiro nacional: expede normas, autorizações, fiscaliza e intervém”, conforme leciona Lagioia (2011, p. 47). Banco de emissão, pois emite moeda e controla sua liquidez. Banco do governo, pois é depositário e administrador das reservas internacionais do Brasil, financia o Tesouro Nacional e administra a dívida pública. 5Principais funções da moeda: política monetária Garante a estabilidade monetária por meio do controle de políticas monetárias. Resumindo, de acordo com Febraban (2005), o Bacen é o agente fiscali- zador e disciplinador do mercado financeiro e, também, o agente executor das políticas monetária e de câmbio. Qualquer operação que você faça pelo mercado financeiro do país, seja com moeda nacional ou moeda internacional, passa pelo Bacen. Veremos mais sobre a oferta de moeda e seu processo de impressão e criação no final deste capítulo. Política monetária e seus instrumentos Vimos que quem faz política monetária no Brasil é o Bacen. Mas, afi nal, o que é política monetária? Quais são seus objetivos e quais instrumentos são utilizados para aplicá-la? A política monetária de um país está dentro do que chamamos de mercado monetário. Conforme o Bacen ([2018b], documento on-line), “o mercado monetário envolve as operações de curto e curtíssimo prazo, proporcionando um controle ágil e rápido da liquidez da economia e das taxas de juros pre- tendidas pela política econômica das autoridades monetárias”. Percebe-se, então, que as políticas monetárias visam, sobretudo, a controlar a quantidade de moeda na economia, a fim de manter a estabilidade da mesma por meio de seus instrumentos. A política monetária tem como vantagem poder ser aplicada imediatamente, sem as dificuldades criadas pelas políticas fiscais, por exemplo, que precisam de aprovação do Congresso para serem executadas. A partir das decisões do CMN e de suas comissões, as políticas monetárias já podem ser executadas e fiscalizadas pelo Bacen. Os principais objetivos das políticas econômicas, sejam monetárias, fiscais, comerciais ou cambiais, de acordo com Vasconcellos (2002), são: Crescimento da produção nacional — esse objetivo quase todos os países têm, principalmente quando há desemprego e/ou a mão de obra é subutilizada. Além disso, o crescimento da produção nacional faz com que cresça a renda do país, estimulando mais ainda os investimentos em recursos e melhorias produtivas (como novas tecnologias e treinamento de mão de obra). Principais funções da moeda: política monetária6 Estabilidade de preços — manter o nível de preços estabilizados ajuda a estimular os investimentos no país e também o consumo da população, que não precisa ter medo de mudanças bruscas de preços no curto prazo. Distribuição de renda socialmente justa — objetiva diminuir a desigual- dade de renda entre as classes sociais do país. Dificilmente é obtida no curto prazo, pois requer melhorias em fatores como educação, saúde e outros. A fim de facilitar o entendimento sobre políticas monetárias, vamos nos concentrar nos dois primeiros objetivos, crescimento econômico e estabili- dade de preços, que são de curto prazo e são mais passíveis de efetivação da política monetária. Diferenças entre medidas conjunturais e estruturais As medidas conjunturais se referem à administração de questões de curto prazo, como uma crise econômica e o combate à inflação e à escassez de produtos, conforme leciona Lagioia (2011). Já as medidas estruturais, de acordo com a mesma autora, estão ligadas ao desenvolvimento econômico e visam a alterar a estrutura econômica do país e a distribuição de renda. Trata-se de medidas de longo prazo, como as reformas educacional, da previdência, da infraestrutura, entre outras. Instrumentos de política monetária Os instrumentos de política monetária visam a alcançar os objetivos citados anteriormente. De acordo com Vasconcellos e Garcia (2014) e Samuelson e Nordhaus (2012), são eles: Taxa de juros Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) — a fixação da taxa meta da taxa de juros Selic constitui um dos termô- metros do mercado pois, quanto maior a meta, menores tendem a ser os investimentos no mercado produtivo e maiores serão as aplicações financeiras. Logo, se o governo pretende reduzir a inflação em curto prazo, por exemplo, o Copom (Comitê de Política Monetária, que faz parte do Bacen) pode aumentar a meta de taxa; assim, o mercado fi- 7Principais funções da moeda: política monetária nanceiro também aumenta suas taxas, reduzindo o consumo de bens e serviços (pois as pessoas tendem a investir mais no mercado financeiro), o que tende a reduzir o nível geral de preços. Do contrário, se o objetivo for o crescimento da produção nacional em curto prazo, o Copom pode diminuir a meta da taxa de juros Selic e, assim, conduzir as pessoas a consumirem mais, tendendo ao aumento da produção nacional. Operações no mercado aberto (open market) — são as compras e vendas de títulos públicos federais (certificados da dívida pública) que são remunerados pela taxa Selic. Logo, se o governo colocar mais títulos à venda, significa que está querendo reduzir a quantidade de moeda em circulação — para isso, aumentou a taxa Selic — e diminuir o nível geral de preços (inflação). Do contrário, se resgatou os títulos no mercado, além de reduzir sua dívida pública, o governo tem como intuito aumentar a quantidade de moeda em circulação e intensificar o crescimento da produção nacional em curto prazo. Para que isso ocorra, o governo deve baixar a meta da taxa Selic. Redesconto — refere-se a uma taxa de juros que o Bacen cobra para emprestar dinheiro aos bancos comerciais (bancos que têm conta cor- rente). Conforme Lagioia (2011, p. 7), “é um socorro que o Banco Central fornece aos Bancos para atender às suas necessidades momentâneas de caixa de curtíssimo prazo”. Por isso, o Banco Central é chamado de banco dos bancos. O Bacen dificilmente utiliza a taxa de redesconto para mexer na quantidade de moeda da economia deliberadamente. Mas, se o fizer, quando baixa essa taxa, a intenção do Bacen é que os bancos tomem mais dinheiro emprestado dele para terem mais liquidez e emprestarem maiores valores monetários ao público, gerando, assim, o aumento do consumo, se o objetivo é crescimento econômico em curto prazo. Já se o objetivofor diminuir a inflação, o Bacen tende a aumentar a taxa de redesconto e reduzir a quantidade de moeda em circulação. Regulamentação sobre crédito e taxas de juros — o Bacen regulamenta todo o sistema bancário; então, quando quer intensificar um setor, por exemplo, ele tende a ter normas para a facilitação de créditos para esse setor. Um caso clássico é a taxa de juros especial oferecida para o financiamento do crédito agrícola juntamente ao Bacen. Reservas compulsórias — as reservas compulsórias são valores mone- tários que são recolhidos pelo Bacen compulsoriamente assim que uma pessoa, por exemplo, faz um depósito à vista. Se essa alíquota de reserva compulsória for alta, a tendência é que o banco (que é um intermediário financeiro, pois pega dinheiro de uns para emprestar para outros) tenha Principais funções da moeda: política monetária8 menos dinheiro para emprestar para as pessoas, aumentando as taxas de juros bancárias e tendendo a reduzir a quantidade de moeda em circulação na economia. Pode acontecer também de o Bacen reduzir a alíquota do compulsório para, assim, os bancos poderem ter mais dinheiro para emprestar ao público, tendendo a aumentar a quantidade de moeda em circulação. Como podemos perceber, o Bacen tem vários instrumentos para fazer polí- ticas monetárias e regular a quantidade de moeda em circulação na economia. Bancos comerciais e spread bancário Os bancos comerciais são bancos que oferecem conta corrente e depósitos à vista e são intermediários financeiros. Isso significa que eles suprem com recursos financeiros os mais diferentes setores, cobrando uma taxa de juros, de acordo com o Bacen ([2018a]). Nessa função de intermediário financeiro, quando alguém deposita em poupança seu dinheiro em um banco, este vai emprestar esse mesmo dinheiro a outra pessoa (excluindo-se a taxa que fica retida no Bacen), e a diferença entre a taxa que esse banco paga para a pessoa que depositou e a taxa que ele cobra de quem emprestou é o famoso spread bancário, conforme definem Samuelson e Nordhaus (2012). Por exemplo: suponha que Maria coloque R$ 1.000,00 em uma poupança do Banco X, que paga a ela 1% ao mês de taxa de juros. O banco empresta esse dinheiro a João, cobrando dele 4% sobre o valor. Logo, esse banco teve um spread bancário de 3% ao mês, que é seu ganho pela intermediação financeira. Impressão e criação de moeda na economia Quem detém o monopólio da emissão de moeda no Brasil, como vimos, é o Bacen, mas a oferta de moeda se dá por meio deste e dos bancos comerciais que fazem a multiplicação monetária. Ao fazer a intermediação fi nanceira, emprestando para outras pessoas o dinheiro que foi depositado nele, o banco está criando moeda bancária ou escritural, pois esse dinheiro será multiplicado no mercado. O Bacen tem controle sobre isso, por meio, principalmente, do mecanismo de aumentos ou diminuições de reservas compulsórias, podendo, assim, respectivamente diminuir ou aumentar a quantidade de moeda em circulação na economia, conforme lecionam Samuelson e Nordhaus (2012). 9Principais funções da moeda: política monetária Exemplo da multiplicação monetária feita pelos bancos comerciais Suponha que o Banco Y receba o depósito de R$ 100,00 de Marina. Desse depósito, 10% (R$ 10,00) ficam depositados junto ao Bacen como reserva compulsória; em seguida, ele empresta R$ 90,00 para Guilherme, que compra um livro de Giseli, que deposita esse dinheiro no Banco Z. Esse último banco fará o mesmo processo do primeiro, e, assim, sucessivamente. No final, sobre os R$ 100,00 depositados inicialmente, foram criados mais R$ 900,00 de moedas bancárias, conforme mostra o quadro abaixo. Efeito multiplicador Novo depósito Compulsório Novo empréstimo Depósito 1 100 10 90 Depósito 2 90 9 81 Depósito 3 81 8,1 72,9 ... ... ... ... Efeito total 1.000 100 900 Fonte: Adaptado de Lagioia (2011, p. 5). É importante salientar que, de acordo com Lagioia (2011, p. 2), a base monetária da economia “é obtida pelo somatório de papel moeda em poder do público, inclusive o depósito à vista, considerando os encaixes mantidos pelos bancos comerciais e reservas bancárias compulsórias recolhidas pelo Banco Central”. Principais funções da moeda: política monetária10 Moeda e inflação no Brasil Sabemos que o aumento da quantidade de moeda em circulação pode causar aumento no nível geral de preços, ou seja, inflação. Uma das principais causas da inflação é o aumento da demanda, devido à maior quantidade de moeda em circulação, e, por isso, esta deve ser controlada pelo Bacen. A título de conhecimento, os principais índices de preços ao consumidor, no Brasil, divulgados pelo IBGE, são, conforme o Bacen (2016): IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) — avalia a variação de preços de bens e serviços consumidos por famílias que possuem renda de 1 a 40 salários mínimos. É amplamente utilizado pelo governo por ser abrangente, e seu valor é tido como referência para a fixação de metas de inflação. INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) — aqui entra a variação de preços de bens e serviços consumidos por famílias que possuem renda de 1 a 5 salários mínimos. É muito utilizado em dissídios salariais, por abranger classes com maior número de trabalhadores assalariados com renda menor. 11Principais funções da moeda: política monetária BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Bancos comerciais. [2018a]. Disponível em: <https:// www.bcb.gov.br/pre/composicao/bc.asp>. Acesso em: 8 out. 2018. BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Índices de preços no Brasil. 2016. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/conteudo/home-ptbr/FAQs/FAQ%2002-%C3%8Dndices%20 de%20Pre%C3%A7os%20no%20Brasil.pdf>. Acesso em: 8 out. 2018. BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Mercado aberto. [2018b]. Disponível em: <https:// www.bcb.gov.br/Pre/bcUniversidade/Palestras/BC%20e%20Universidade%2011-11- 2005.pdf>. Acesso em: 8 out. 2018. BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Museu de valores do Banco Central: origem e evolução do dinheiro. [2018c]. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/htms/origevol. asp>. Acesso em: 8 out. 2018. FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS (FEBRABAN). Sistema financeiro nacional. São Paulo: Fator Humano, 2005. GOVERNO DO BRASIL. Meta de inflação e Conselho Monetário Nacional: entenda a função de cada um. 2017. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e- -emprego/2017/06/meta-de-inflacao-e-conselho-monetario-nacional-entenda-a- -funcao-de-cada-um>. Acesso em: 8 out. 2018. LAGIOIA, U. C. T. Fundamentos do mercado de capitais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. MANKIW, N. G. Macroeconomia. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. SAMUELSON, P. A.; NORDHAUS, W. D. Economia. 19. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. São Paulo: Atlas, 2002. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. Fundamentos de economia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. Leitura recomendada DORNBUSCH, R.; FISCHER, S. Macroeconomia 10. ed.. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. Principais funções da moeda: política monetária12 Conteúdo: DICA DO PROFESSOR O vídeo a seguir apresenta a definição e as funções da moeda, os meios de pagamento, os objeti vos e os instrumentos da política monetária. Confira: Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. EXERCÍCIOS 1) A Ciência Econômica fundamenta-se a partir da divisão de seu estudo. A Macroecon omia representa uma das suas divisões. Dentre elas, é possível destacar: A) O mercado de divisas cambiais, que está relacionado à venda e à compra de produtos inter nacionais. B) O mercado de títulos, que está associado à demanda de trabalhadores e à oferta de empreg os no mercado formal da economia. C) O mercado monetário, que está associado à demanda da moeda e à oferta dela no mercado de bens e serviços. D) O mercado monetário, que está associado à demanda e à oferta de divisas pelo Banco Cent ral. E) O mercado de bens e serviços, que está associadoà renda adquirida por meio das exportaç ões e das importações de mercadorias. Sabe-se que os meios de pagamentos correspondem ao volume de moeda em circulaçã o na economia. Todavia, esse volume pode sofrer influência de diferentes fatores da Macroeconomia. Por isso, a autoridade monetária deve regular sempre o papel-moed 2) https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/f1e1d80f9440310785606c1e7ec15e64 Maycon Carbone Realce a em poder do público, assim como o volume do depósito à vista nos bancos comerciai s. Desse modo, indique o fator econômico que corresponde ao processo de criação de moeda no sistema econômico: A) A oferta de divisas no mercado financeiro, para favorecer os importadores de mercadoria. B) O resgate de um empréstimo bancário, que aumenta o volume de moeda em circulação. C) O saque por meio de cheque, que aumenta sensivelmente a circulação de moeda. D) A oferta de divisas no mercado financeiro, para favorecer os exportadores de mercadoria. E) O Banco Central, que imprime moeda para pagamento das despesas governamentais. 3) De acordo com a Lei n.o 4.595, de 31 de dezembro de 1964, o Banco Central é o princi pal executor das orientações do Conselho Monetário Nacional e responsável por gara ntir o poder de compra da moeda nacional. Assim, é possível indicar como competênc ia exclusiva do Banco Central do Brasil(BACEN): A) Garantir a existência dos depósitos compulsórios exclusivos da caderneta de poupança. B) Fazer a interlocução normativa do sistema financeiro nacional, não estando este subordina do a qualquer outro órgão. C) Garantir a aplicação da política monetária e os seus instrumentos. D) Fixar o fluxo de divisas, além da sua oferta e demanda no mercado financeiro, garantindo o funcionamento do mercado de divisas. E) Vender os títulos federais, garantindo o funcionamento da política fiscal do país. 4) Ao Conselho Monetário Nacional compete estabelecer as diretrizes gerais das política s monetária, cambial e creditícia, além de disciplinar os instrumentos de política mon etária, visto que ele busca adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessid ades da economia nacional e ao seu processo de desenvolvimento. Em relação aos mei os de pagamento, é CORRETO afirmar: A) A aquisição de títulos de capitalização eleva os meios de pagamentos. Maycon Carbone Realce Maycon Carbone Realce B) Os meios de pagamento representam o somatório do volume de papel-moeda, moedas met álicas e depósito em conta corrente. C) Os meios de pagamento são somados pelo papel-moeda, impresso pelo Banco Central, e os depósitos em conta corrente. D) Os meios de pagamento representam o total de recursos em poder do público mais os depó sitos em caderneta de poupança nos bancos comerciais. E) Os meios de pagamentos representam o somatório dos depósitos a prazo e o volume de em préstimos concedidos pelos bancos comerciais. 5) Sabe-se que a política monetária constitui a política econômica do governo, em um da do momento. O objetivo de curto prazo da política monetária pode focar no combate à inflação ou mesmo promover crescimentos econômicos, sendo esses objetivos conco rrentes entre si. Portanto, considerando o objetivo do Banco Central de reduzir a cap acidade de empréstimo, por parte dos bancos comerciais, assinale a alternativa mais adequada: A) Uma redução no percentual dos depósitos, a serem transferidos ao Banco Central, pelos ba ncos comerciais. B) Uma redução na taxa básica de juros - SELIC no mercado financeiro. C) Um aumento na taxa básica de juros - SELIC no mercado financeiro. D) Uma elevação dos percentuais dos depósitos, a serem transferidos ao Banco Central, pelos bancos comerciais. E) Uma elevação do papel-moeda (dinheiro) em poder do público na composição dos meios d e pagamentos. NA PRÁTICA Você sabe para que serve a taxa básica de juros, a chamada SELIC? Veja: Maycon Carbone Realce Maycon Carbone Realce SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professo r: Moeda, Bancos e o Federal Reserve System No capítulo 25 de “Introdução à Economia”, de Hubbard e O’Brien, você irá aprender a definir moeda e discutir suas funções, explicar como os bancos criam moeda e explicar a teoria quantita tiva da moeda. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Funções do dinheiro Assista a este vídeo produzido pela Khan Academy Brasil para saber mais sobre as funções do d inheiro. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/pPq_e1LejU4 M0, M1 e M2 Este vídeo produzido pela Khan Academy Brasil ensina as diferentes formas de medir a oferta monetária. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Se falta dinheiro, por que o governo não imprime mais? Assista ao vídeo produzido pelo canal “Por quê? Economês em bom português” para saber a res posta desta pergunta. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/82n1aHt2Uv4 https://www.youtube.com/embed/MHfxQyACRzo
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