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CAP 1
Introdução
A economia mundial nunca apresentou um estágio tão significativo de integração comercial como nos dias atuais, em magnitude e volume de negócios. Redes comerciais estabelecidas pelas mais diferentes vias de transporte – marítimo, ferroviário, aéreo, fluvial, rodoviário – transportam mercadorias pelos “quatro cantos” do globo.
Esse cenário nos permite refletir sobre alguns aspectos: qual a relação existente entre as relações comerciais e a vida econômica de um país? Quais são os elementos que determinam essas relações comerciais de forma mais ou menos ativa? O comércio é dependente apenas de uma relação entre preços, ou haveria outras variáveis implícitas na realidade das trocas entre pessoas, agentes financeiros e nações?
A Economia Internacional envolve outras relações, como a realidade do padrão produtivo de um país; a sua política econômica e seus impactos sobre a realidade comercial – e as consequências dessas políticas sobre a reação dos países com o exterior; as relações históricas e políticas entre nações, em uma dinâmica social; os efeitos das políticas de atração de mão-de-obra e circulação de mercadorias, com efeitos sobre a produção e o consumo. Sem deixar de mencionar, ainda, as formas pelas quais o ser humano se organizou para estabelecer relações de troca entre mercadorias indispensáveis à sua existência e sobrevivência.
Vamos entender tudo isso a partir de agora. Acompanhe com atenção!
1.1 Economia Internacional
Pensar as relações que se conjugam sob o título de Economia Internacional, no período atual, envolve refletir sobre diferentes situações, abordadas pelos noticiários econômicos, a respeito de mudanças importantes nas relações comerciais e financeiras entre países. A realidade do comércio internacional, portanto, transcende a esfera econômica e apresenta características de natureza política e social, que não podem de forma alguma ser desprezadas. Vamos, portanto, entender alguns fragmentos importantes da realidade econômica internacional no ano de 2018, bem como seus elementos condicionantes, estendendo, ainda, esta análise para o caso brasileiro, no tocante às suas relações internacionais.
1.1.1. Panorama econômico internacional contemporâneo
Com a decisão dos Estados Unidos de elevar as alíquotas de importação sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses, cerca de metade do montante de importações, o noticiário econômico tem repercutido de forma intensa os efeitos da disputa comercial entre Estados Unidos (EUA) e China, desencadeada pela tarifação das importações chinesas que chegam ao território norte-americano (SCHREIBER, 2018). Um efeito associado a essa política é a desaceleração do crescimento das exportações chinesas, o que indicaria uma perspectiva de perda de força da economia chinesa na disputa com os EUA.
No próximo tópico, abordaremos o comércio internacional contemporâneo. Acompanhe!
1.2. Introdução ao comércio internacional contemporâneo
Para entendermos as estruturas de comércio e transação de bens e serviços entre as nações, precisamos entender como essas estruturas se consolidaram nas últimas décadas. As mudanças nos padrões de produção e circulação de mercadorias redefiniram os circuitos de acumulação de capital e deslocaram o eixo de desenvolvimento da economia mundial, inicialmente, da Europa para as Américas (especialmente os EUA) e, depois, para a Ásia. Neste contexto, economias como a China, em especial, caracterizam-se como superpotências econômicas em franca ascensão, ameaçando a posição hegemônica dos Estados Unidos, consolidada após a Segunda Guerra Mundial (entre 1939 e 1945).
Podemos observar, a partir deste contexto, que o perfil do comércio internacional deslocou-se no eixo geopolítico.
1.2.1. Características do comércio internacional
Há alguns fatores importantes que podemos mencionar, para entender as características atuais do comércio internacional.
O primeiro deles é a mudança no perfil dos setores mais privilegiados nos fluxos comerciais, havendo um deslocamento progressivo da preferência na exportação de gêneros primários (gerados pelo agronegócio) e recursos naturais explorados por atividade extrativista, para o comércio de exportação de bens com alto valor agregado, mediante incrementos progressivos em tecnologia embarcada, como resultado dos investimentos crescentes, nas empresas, em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) (COSTA, 2013).
O segundo fator é a relevância dos mercados emergentes no comércio entre países: as nações tradicionalmente não-alinhadas aos blocos das nações mais desenvolvidas (como o Grupo dos 7, ou G7, formado por EUA, Canadá, Alemanha, Japão, França, Reino Unido e Itália), têm progressivamente assumido liderança no comércio mundial – a participação das relações comerciais entre economias desenvolvidas tem, progressivamente, se reduzido, em detrimento de relações entre economias em vias de desenvolvimento (como o grupo dos BRICS, mencionado anteriormente), e entre estas e os países desenvolvidos (MOREIRA, 2012).
Podemos elencar ainda um terceiro fator, a formação de blocos comerciais regionalizados, nos quais o regime de redução de tarifas alfandegárias, dentre outras medidas de eliminação de barreiras protecionistas, permite a circulação desembaraçada de mercadorias, promovendo competitividade. Como exemplos destas parcerias internacionais, podem ser citados o Mercosul, a União Europeia e a cooperação econômica Ásia-Pacífico (APEC), que está dividida após o início da guerra comercial entre China e Estados Unidos.
Nesta questão está incluída, ainda, a competição entre chineses e norte-americanos pela liderança comercial na região do Oceano Pacífico.
1.2.2. Transformações na economia internacional
As transformações internacionais ocorreram no âmbito de um movimento de liberalização das economias ao redor do mundo, conhecido como Consenso de Washington. Esta expressão resume uma série de medidas que foram progressivamente adotadas por diferentes países. Dentre essas medidas, destacam-se a abertura comercial, o fim da política de fixação da taxa de câmbio, a redução dos gastos públicos, em conjunto com reformas tributárias, e a eliminação das restrições ao investimento direto estrangeiro (IED), favorecendo os movimentos de capital no contexto da internacionalização financeira (MELLO; SPOLADOR, 2007).
Um fator-síntese para o entendimento destas transformações é a internacionalização financeira e produtiva. As relações comerciais vêm se difundindo de modo a transpor fronteiras de Estados e nações: as empresas passaram a estabelecer núcleos e filiais em diferentes regiões do globo, não apenas para reduzir custos de produção, mas também para explorar as vantagens competitivas que podem ser geradas, por exemplo, por reduções de impostos e legislações trabalhistas mais favoráveis às empresas.
A partir da década de 1990, ficaram famosas as chamadas empresas maquiladoras: tratam-se de empresas que, instaladas em um dado país, não comercializam seus produtos visando este mercado interno, mas apenas a exportação, pois importam produtos sem o pagamento de taxas de importação e o revendem, com muito pouco (ou nenhum) beneficiamento local, para outros países – como ocorre, por exemplo, com o comércio de produtos eletrônicos no Paraguai.
Observamos, ainda, que há alguns temas recorrentes na análise das questões de Economia Internacional. O primeiro deles é o argumento da proteção do mercado interno, conhecida como protecionismo, que leva países a aplicarem tarifas de importação de produtos no intuito de favorecer o comércio interno ou a prática de outras barreiras ao comércio, tais como aplicação de cotas à importação (COSTA, 2013).
Esse processo tem uma faceta política muito importante, uma vez que a proteção dos mercados teria o efeito de salvaguardar os empregos do país que aplica estas barreiras, aumentando a competitividade dos produtos nacionais no mercado interno. A bandeira de proteção aos empregos é sempre muito utilizada pelos formuladores políticos das medidas econômicas.
Os efeitos dacompetição entre países por meio de tarifas e barreiras comerciais são discutidos no artigo de João Pereima e Marcelo Curado (2012) denominado “Sistema Monetário Internacional, Cooperação e Competição: um ensaio sobre Guerra Cambial” Acesse: <https://www.researchgate.net/publication/267859631_Sistema_Monetario_Internacional_Cooperacao_e_Competicao_Um_Ensaio_sobre_Guerra_Cambial>.
No entanto, os países afetados pelas barreiras protecionistas, fatalmente adotarão posturas de retaliação, tarifando, por exemplo, produtos importados, vindos do país que primeiro aplicou a barreira (como tem ocorrido com a China, aplicando impostos sobre as exportações dos EUA para aquele país), o que afeta diretamente o comércio entre os países e acaba por gerar queda na produção e no nível de emprego de ambos.
Figura 1 - Efeitos a longo prazo de tarifas de proteção ao mercado.Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Um segundo ponto é o questionamento progressivo à manutenção de blocos comuns de comércio, sob o mesmo argumento de proteção à indústria e à economia nacional. Blocos econômicos como a União Europeia e o Mercosul vêm sendo questionados (e minados) por governos de natureza política conservadora, que defendem o isolamento ou revisão das cláusulas de livre comércio entre países (COSTA, 2013).
1.3. Perspectiva histórica da Economia Internacional
Pensar a dinâmica histórica da Economia Internacional envolve entender como se configuraram os diferentes sistemas econômicos, desde a era antiga. No despontar das civilizações, as trocas comerciais se estabeleceram sem a existência de um equivalente universal, um recurso que fosse utilizado como referência para diferentes povos e grupos sociais.
Como você pode perceber, uma discussão sobre a Economia Internacional, que seja razoavelmente abrangente, pode partir do despertar da civilização, passando por relações comerciais entre reinos, como as transações do trigo egípcio nos tempos de Cleópatra VII, com a República romana, bem como pelo Feudalismo, Mercantilismo, até a sua transição ao capitalismo na atualidade.
Vamos, nesta seção, discutir alguns conceitos gerais em uma perspectiva histórica.
1.3.1. Panorama histórico da Economia Internacional
Vários bens cumpriam, ao longo da história, uma função monetária, como o sal (vindo daí a expressão salário), conchas ou cabeças de gado (pecus, nascendo daí a expressão pecuniário), e, também, metais preciosos. Estes bens eram conhecidos como mercadorias-moeda, no entanto, eram de uso complexo em caravanas comerciais e rotas de longo curso.
Os lídios, um povo da Ásia Menor, começaram a produzir (cunhar) as primeiras moedas, viabilizando as trocas comerciais entre povos vizinhos. A partir deles, o uso de moedas foi espalhando-se por todo o mundo mediterrâneo (VERSIGNASSI, 2011).
A queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C. gerou, na Idade Média, um processo de organização econômica embasado em pequenas sociedades autossuficientes, os feudos.
O desenvolvimento do comércio entre nações, por sua vez, seria retomado a partir dos séculos XIII-XVI d.C., com a consolidação das monarquias europeias, especialmente Espanha e Portugal, após séculos de guerras com os mouros. Estas guerras levaram à conquista de novos territórios, na expansão destes reinos em direção à África e à Ásia, estabelecendo núcleos comerciais (feitorias) em diferentes locais (ARRUDA, 2003).
Alguns antigos núcleos comerciais pertencentes a Portugal no continente asiático guardam, até hoje, algumas características dos seus antigos colonizadores, como na região de Goa (Índia) e Macau (China), onde ainda se fala o português como idioma corrente.
Este período corresponderia ao apogeu do sistema mercantilista, que marca um período conhecido na literatura econômica como transição feudo-capitalista. O mercantilismo estava lastreado sobre a existência de relações comerciais entre países e suas colônias e possessões de além-mar (ou ultramarinas) de acordo com um critério de proteção a estes mercados, conhecido como exclusivo metropolitano, ou seja, apenas a Metrópole tinha direito de realizar comércio com os territórios colonizados, e vice-versa (FIGUEIREDO, 2010).
O filme 1492 - A conquista do paraíso (BOSCH, 1992) ressalta o cenário político, econômico e social que precedeu o início das grandes navegações, com a chegada de Cristóvão Colombo à América e o início do processo de colonização do continente mesoamericano.
O exclusivo metropolitano fazia parte do chamado pacto colonial, ou seja, era o formato das relações econômicas assimétricas de comércio e controle político que caracterizavam a relação entre colônia e Metrópole. Elas eram embasadas, especificamente no caso brasileiro, na produção agrário-exportadora e no extrativismo de recursos vegetais e minerais, no trabalho escravo e na balança comercial favorável para a Metrópole, na relação comercial com a colônia (ARRUDA, 2003).
O livro de Eduardo Bueno (2010) “Brasil: uma História” detalha, nos capítulos sete (O Brasil francês), oito (O Brasil espanhol) e nove (O Brasil holandês) o contexto de relações comerciais, diplomáticas e militares que fragmentou a unidade do território brasileiro durante a etapa colonial, entre os séculos XVI e XVIII.
A Inglaterra, em especial, passou por um processo de arranque no desenvolvimento de suas relações econômicas a partir dos séculos XVI-XVII. Sua indústria foi o motor da primeira Revolução Industrial, liderada pela Inglaterra, que passou a deter o domínio das relações comerciais e do tráfego interoceânico com o declínio progressivo das monarquias ibéricas. A liderança industrial e militar inglesa consolidaria um período conhecido como a Pax Brittanica (BELLUZZO, 2009).
Como o ouro ainda tinha circulação restrita, por ser um metal bastante raro, o mesmo era tipificado como mercadoria. A partir do século XIX, a descoberta e exploração de novas jazidas de ouro na Califórnia (EUA) e Austrália acaba por inundar o mercado mundial com este metal.
Assim, este metal se torna um equivalente geral, uma referência para o valor de todas as moedas nacionais, como o mil-réis brasileiro, o dólar estadunidense, os francos suíços e a libra inglesa. Este regime monetário, de fundamental importância para o entendimento do comércio internacional, ficaria conhecido como Padrão-Ouro (ALMEIDA, 2013)
O ouro possui uma série de características especiais que o tornam muito demandado: trata-se de um metal relativamente raro (há cerca de quatro gramas de ouro para cada mil toneladas de terra), de fácil manipulação (ductibilidade) – um grama de ouro pode ser esticada em um fio de três quilômetros de comprimento, e de fácil identificação como item precioso e reserva de valor (JUNQUEIRA; SILVA; GUERRA, 2012).
O regime de comércio internacional embasado no Padrão-Ouro funcionou, com alguns períodos de instabilidade, mais ou menos críticos (especialmente em períodos de guerra, com o fechamento de mercados e a drenagem do mercado de ouro), até o início do século XX, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918.
A devastação da Europa com a Primeira Guerra contribuiu para a ascensão de uma nova liderança, a dos Estados Unidos, nas transações comerciais, gerando, nos EUA, um crescimento econômico acelerado e aumento do consumo interno de bens e serviços, bem como um grande impulso à atividade especulativa em Bolsa de Valores.
A reversão das expectativas sobre a manutenção deste crescimento acelerado precipitou uma crise de confiança nos investidores que levou à famosa Quinta-feira Negra, em 24 de Outubro de 1929, quando os preços das ações cotadas na Bolsa de Nova York entraram em colapso, o que deu início à Grande Depressão (EICHENGREEN, 2000).
O filme Inimigos Públicos (MANN; BENNETT; BIDERMAN, 2009) retrata episódios da vida de John Dillinger, um assaltante de bancos do período da Grande Depressão, que se tornou um dos homens mais procurados dos Estados Unidos, em seu tempo. Dillinger era famoso por sua postura de Robin Hood moderno, pois afirmava que os assaltos eram apenasapropriações da riqueza popular que haviam sido tomadas pelos bancos.
Esta etapa crítica do desenvolvimento econômico internacional foi respondida pelos países sob diferentes formas, de modo a recuperar suas economias para gerar empregos e renda suficientes para o funcionamento da sociedade. Em 1939, porém, a Segunda Guerra Mundial redefiniu novamente as relações econômicas, por conta da destruição ocorrida na Europa Ocidental. Veja na interação a seguir os principais acontecimentos deste período.
 
Neste período, surgem os primeiros contornos e projetos relativos às instituições regulatórias do sistema monetário internacional que observamos hoje. A reorganização da economia mundial em uma perspectiva multilateral (caracterizada pela fundação da Organização das Nações Unidas, a ONU), viabilizou também a criação de instituições de crédito e financiamento, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
O chamado Regime de Bretton-Woods (devido ao local onde os acordos foram assinados) previa a eliminação progressiva de barreiras ao comércio, e maiores incentivos à coordenação da atividade econômica (EICHENGREEN, 2000).
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A partir da década de 1970, eclode outro problema na política internacional, a primeira crise do petróleo, no Oriente Médio, decorrente do aumento dos preços deste produto por parte dos países produtores, reunidos na OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Neste período, o processo de coordenação das atividades econômicas e comerciais em âmbito internacional, delineado pelo regime de Bretton-Woods, começa a entrar em decadência, diante de uma perspectiva de retomada do pensamento liberal e descoordenação do sistema econômico.
Neste período, a expansão das operações financeiras inviabilizava a manutenção da paridade cambial (a fixação do preço do dólar em função de um ativo físico como o ouro), de modo que o regime de câmbio fixo foi abandonado pelas economias em prol de um sistema de câmbio flutuante. Até o momento, portanto, não se definiu um novo modelo de coordenação, de criação de um sistema monetário internacional, tal como existia durante o regime do Padrão-Ouro e, após, durante o regime de Bretton-Woods.
A contínua desregulamentação do mercado deu margem a novos movimentos de consumo e especulação financeira crescente, sobretudo em empresas de tecnologia e internet (na década de 1990), e mediante financiamento e endividamento progressivo dos agentes financeiros, que culminaram em crises importantes a partir de 2008 (SOARES, 2009).
1.4. O modelo ricardiano: as vantagens comparativas
Agora que conhecemos alguns elementos concernentes à realidade e à história do comércio entre as nações, vamos dar início a uma discussão sobre os referenciais teóricos relacionados ao comércio e à Economia Internacional, ou seja, sobre as teorias que determinaram, ao longo da história e da evolução do pensamento econômico, relações comerciais entre países, e destes para suas áreas coloniais, de comércio exclusivo.
O primeiro modelo a ser estudado é o modelo ricardiano, relativo a seu formulador, David Ricardo, também conhecido como Teoria das Vantagens Comparativas (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015). Este modelo é uma derivação teórica de uma proposta sobre o comércio internacional de um pensador antecessor, Adam Smith, que lançou, primeiro, a Teoria das Vantagens Absolutas, que também será discutida.
1.4.1. Preço Relativo
Para entendermos estas teorias de Vantagens Absolutas e Comparativas, precisamos adotar alguns pressupostos e hipóteses. Clique nos botões abaixo para visualizá-los. 
O conceito de pleno emprego, no mercado de trabalho, evoca uma condição econômica na qual todos os indivíduos que aceitem trabalhar pelo salário vigente encontrarão trabalho – excluem-se desta regra apenas os desempregados friccionais (que estão sem emprego temporariamente, pois se encontram em período de mudança de emprego) e os desempregados voluntários (aqueles que estão desempregados por vontade própria, pois não aceitam os salários vigentes ou simplesmente recusam-se a trabalhar, permanecendo no ócio incorrigível).
Agora, vamos estabelecer as variáveis que farão parte do modelo, ou seja, os bens que serão transacionados. Suponhamos que Portugal (P) produza vinhos (V) e a Inglaterra produza tecidos (T).
Adam Smith (1723-1790) é considerado o fundador da ciência econômica moderna. Smith foi um dos primeiros pensadores a propor a importância da divisão do trabalho como fator de promoção da produtividade na economia, favorecendo o comércio e a geração de riqueza.
Como estes bens são produzidos mediante a aplicação de unidades de trabalho L, temos que cada unidade produzida de um bem representa a aplicação de um certo montante de horas de trabalho. Acompanhe este raciocínio na interação a seguir.
 
Esta é uma relação de produtividade, pois mede a quantidade de fator de produção trabalho (L) aplicada em cada unidade do produto final (no caso, o vinho). Ela também pode ser aplicada aos tecidos:
Pelo modelo das Vantagens Absolutas, cada país deverá exportar o bem no qual ele tem maior eficiência, ou produtividade, ao ser fabricado (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015). Vamos supor que a Inglaterra tenha melhor relação de produtividade que Portugal na produção de vinhos, e Portugal tenha esta vantagem para a produção de tecidos.
Essa situação poderia ser representada da seguinte forma:
 e .
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Nesta situação, a Inglaterra apresenta vantagem absoluta na produção de vinhos, devendo, portanto, especializar-se na produção e exportação de vinhos, e Portugal deveria produzir e exportar tecidos. Vamos ilustrar na figura a seguir.
Figura 2 - Efeitos do modelo de Vantagens Absolutas, relativos a ganhos de produtividade.Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Se, por outro lado, a Inglaterra possuir uma pior relação de produtividade que Portugal na produção de vinhos e, por sua vez, Portugal possuir desvantagem na produção de tecidos, isso poderia ser representado da seguinte forma:
 e .
Neste caso, Portugal se especializaria na produção e exportação de tecidos, e a Inglaterra se especializaria na produção e exportação de vinhos. Veja a ilustração a seguir.
Figura 3 - Efeitos do modelo de Vantagens Absolutas relativos a ganhos de produtividade (segundo exemplo).Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Agora, imagine que os ingleses apresentam, em sua indústria, produtividade igual a cinquenta horas por unidade de tecido, ao passo que produzem uma unidade de vinho a cada cem horas de trabalho.
Os portugueses, por sua vez, apresentam produtividade igual a setenta e cinco horas de trabalho para cada unidade produzida em sua indústria de tecidos e vinhos.
Ambos os países apresentam a mesma quantidade de trabalho disponível, que corresponde a três mil horas de trabalho, e há pleno emprego, ou seja, esta quantidade será sempre utilizada.
Tabela 1 - Quantidade de horas para produção de tecido ou vinho em Portugal e Inglaterra.Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Qual o efeito de uma abertura comercial nestes países, passando a realizarem transações entre si?
Para entendermos o processo, primeiro precisaremos verificar qual o limite de unidades de bens que cada nação poderá produzir com a quantidade de trabalho L que dispõe.
Os portugueses, por exemplo, podem produzir uma certa quantidade de vinhos (portugueses, obviamente) que é descrita pela variável . Neste caso, a produtividade de sua indústria de vinhos é dada por .
O mesmo ocorre com a quantidade de tecidos portugueses , que é determinada pela produtividade .
Sabendo que a indústria portuguesa possui um estoque de trabalho potencial , deduzimos que a indústria desta nação poderá produzir, no máximo, quarenta unidades de vinho (e nenhuma unidade de tecido), ou quarenta unidades de tecido (e nenhuma unidade de vinho), ou quantidades intermediárias entre estes limites (como vinte unidades de cada produto, por exemplo).
Tabela 2 - Quantidade máxima produzida dada o fator de produção disponível(L) e a produtividade.Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Da mesma forma, a figura a seguir ilustra graficamente estas possibilidades.
Figura 4 - Limites à produtividade e consumo de um país mediante disponibilidade de seu fator de produção.Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Ambos os gráficos representam o que chamamos de Fronteira de Possibilidade de Produção (FPP). Para entender melhor o que seria isso e como tais gráficos foram construídos, vamos retomar a equação de produtividade dos vinhos na interação a seguir.
 
Por álgebra, deduz-se que,
Ou seja, a quantidade de trabalho disponível em Portugal define a quantidade de bens (vinhos portugueses), que podem ser produzidos, mediante a produtividade que esta indústria apresenta.
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A quantidade de trabalho disponível em Portugal é sempre a mesma, de modo que este país pode se especializar em produzir um único bem, ou pode produzir quantidades variáveis de tecidos e vinhos, desde que se respeite o limite de trabalho disponível (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Podemos, então, definir uma equação para qualificar os limites à produção de bens portugueses. Esta equação é denominada Fronteira de Possibilidades de Produção, e para Portugal, é descrita por
Sabendo-se que em Portugal há três mil horas de trabalho disponível, e que cada bem (vinho ou tecido) exige setenta e cinco horas de trabalho por unidade produzida, temos que a Fronteira de Possibilidades de Produção para este país é dada por:
Aplicando o mesmo raciocínio para os tecidos e vinhos produzidos na Inglaterra, temos
A simples observação permite perceber que Portugal tem melhor relação de produtividade para vinhos, e a Inglaterra apresenta melhor produtividade para tecidos. Com base no exemplo, percebe-se que Portugal tem vantagem absoluta na produção de vinho (precisa de 75 horas para produzir uma unidade de vinho) em relação à Inglaterra (que demanda cem horas para produzir uma unidade deste produto).
Da mesma forma, a Inglaterra apresenta vantagem absoluta na produção de tecidos (produz com menor custo, sendo este de 50 horas de trabalho por unidade de tecido) em relação a Portugal, que precisa de 75 horas de trabalho para produzir uma unidade deste bem.
A escolha destas variáveis e países, para este exemplo de discussão sobre Vantagens Comparativas, não ocorreu por acaso. Portugal e Inglaterra assinaram, em 1703, um acordo comercial e diplomático conhecido por Tratado de Methuen, ou Tratado dos Panos e Vinhos, no qual os portugueses comprometiam-se a adquirir com exclusividade os tecidos ingleses, obtendo exclusividade, por sua vez, no fornecimento de vinho para a Inglaterra (ARRUDA, 2003).
No entanto, há um ponto que esta teoria não abrange: considerando as mesmas variáveis e países, o que ocorre se um país é mais produtivo que o outro em ambas as indústrias? Ou seja, quando E , ou quando E ?
Neste caso, a teoria do comércio internacional foi refinada por David Ricardo, introduzindo o conceito de Vantagem Comparativa.
David Ricardo (1772-1823) é um dos fundadores da ciência econômica moderna. Seus estudos sobre o crescimento econômico e a distribuição da riqueza entre os cidadãos influenciaram a construção do pensamento econômico especialmente nos séculos XIX e XX, em diferenças áreas, como as finanças públicas e a determinação da produção dos bens na economia.
Para compreendermos esta teoria, vamos exemplificar. Se na Inglaterra os trabalhadores levam uma hora para produzir uma unidade de tecido, e duas horas para produzir uma unidade de vinho, e o tecido é vendido por quatro libras a unidade, e o vinho é vendido por sete libras a unidade, um trabalhador irá optar por produzir tecidos, uma vez que a relação entre preço e produtividade é maior para os tecidos (ele poderá ganhar £4 produzindo tecidos, e £3,50 produzindo vinho, a cada hora).
Se houver uma superprodução na plantação de algodão, ou na criação de ovelhas, e o preço do tecido despencar para £1, este trabalhador vai se especializar na produção de vinho (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Ou seja, estando ausente o comércio internacional, os preços relativos das mercadorias igualam-se à relação de trabalho entre estes bens na condição de equilíbrio. O preço do vinho seria dado por , e o preço do tecido, por . Ou seja, os preços relativos nos indicam a quantidade de um produto que pode ser trocada por outro. No exemplo, o preço relativo do vinho em relação ao tecido indica que duas unidades de tecido custam uma unidade de vinho, ou meia unidade de vinho custa uma unidade de tecido.
Você pode visualizar estas relações na tabela que se segue.
Tabela 3 - Produção da Inglaterra sem comércio internacional.Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Se, por outro lado, uma mudança nas condições do mercado interno fizer com que a relação entre preços e produtividade se altere, haverá um deslocamento da preferência de produção neste país. Ou seja, quando , ou , esta economia produzirá apenas vinhos; e quando , ou , esta economia produzirá apenas tecidos.
Agora, vamos aprofundar este raciocínio e introduzir a possibilidade de comércio entre nações. Vamos utilizar os mesmos dados que usamos na teoria das Vantagens Absolutas.
Suponhamos que a produtividade inglesa é maior que a portuguesa para ambos os produtos aqui discutidos (tecidos e vinhos). Ou seja,
 e .
Neste caso, se colocarmos estes índices de produtividade em uma razão entre si, por país, esta relação é vantajosa para a Inglaterra. Supomos então o seguinte (Equação A):
Nesta equação, a produtividade está medida em termos dos produtos de cada país, e sabemos que a produtividade inglesa é maior em ambos os produtos. Podemos, então, transformar a mesma em uma relação apenas entre produtos. Veremos, portanto, que a Inglaterra continua em condição vantajosa:
Ou seja, a relação entre produtividades mostra que a relação entre a quantidade de trabalho necessário para a produção de uma unidade de tecido, e a relação entre a quantidade de trabalho para a produção de uma unidade de vinho, é menor na Inglaterra do que em Portugal.
Assim, dizemos que a produtividade relativa da Inglaterra em tecidos é maior do que a de vinho. Esta produtividade leva a definir que Portugal teria uma vantagem comparativa em vinho, e a Inglaterra, em tecido (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Vimos que, quando não há comércio, os preços relativos dos produtos, em cada país, dependem das relações entre preço e produtividade. Vamos, então, abrir os ‘jogos das trocas’ e introduzir a possibilidade de comércio internacional neste modelo.
Em primeiro lugar, recuperando os pressupostos do modelo de vantagens comparativas, não haveria nenhuma produção de tecido, nos dois países, se o preço do tecido despencar para um valor abaixo da produtividade relativa, ou seja, se , ou . E neste caso, os dois países registrariam uma produção potencialmente infinita de vinho: ora, a Inglaterra vai se especializar na produção de vinho se ; e Portugal também vai produzir apenas vinhos, quando .
Neste ponto, vamos recuperar a Equação A, que é a nossa suposição a respeito da produtividade relativa, favorável à Inglaterra:
 .
Portanto, se o preço relativo do tecido cair abaixo de , acabaria totalmente a produção de tecido nos dois países.
Se o preço relativo dos tecidos for exatamente igual, em Portugal, a , ou seja, se , tem-se que os trabalhadores portugueses irão receber a mesma remuneração ao produzir tecidos ou vinhos. Neste caso específico, a economia portuguesa estaria apta a fornecer quaisquer quantidades relativas destas duas mercadorias.
Caso a relação de preço relativo torne-se , então Portugal irá produzir apenas tecidos, como sabemos – e a produção portuguesa de tecidos será igual a .
Porém, se esta relação estiver desfavorável para a Inglaterra, ou seja, quando , então os ingleses continuarão a produzir vinho, produzindo unidades de vinho.
Há, portanto, um intervalo, onde coexistem diferentes preços relativos para tecido entre e , onde aoferta relativa de tecido Qv/Qt é igual à relação entre a quantidade de tecido produzida em Portugal e de vinho produzido na Inglaterra:
Vamos ilustrar este exemplo:
Figura 5 - Efeitos do comércio internacional sobre estrutura de preços relativos e Vantagens Comparativas.Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
A Curva RS corresponde à curva de oferta internacional; a curva de demanda inicial é dada por RD; e a curva de demanda final, por RD’.
O gráfico nos mostra a variável dependente , que é o preço relativo dos tecidos, que é função da quantidade relativa de tecido produzida nos dois países. A curva de demanda segue a realidade econômica básica, ampliando as quantidades consumidas mediante a queda nos preços relativos.
O traçado da Curva RS em ‘degrau’ mostra que a produção de tecido será nula nos dois países (e a produção de vinho tenderá ao infinito) caso o preço relativo do tecido desça para menos que . E será infinita nos dois países se o preço superar (não esqueça que de acordo com a Equação A), com consequente anulação da produção de vinhos.
No entanto, no intervalo de preços relativos compreendido entre e , haverá comércio dos dois produtos, e especialização produtiva mediante a produtividade relativa de cada produto e país (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Vamos efetuar uma demonstração numérica deste processo algébrico.
Vamos considerar que a Inglaterra (I) produz uma unidade de tecido em uma hora, e uma unidade de vinho em duas horas. Por sua vez, Portugal leva seis horas para produzir uma unidade de tecido, e três horas para produzir uma unidade de vinho.
A relação entre a produtividade do tecido inglês e o vinho inglês é igual a 0,5; haja visto que uma unidade de tecido é produzida no mesmo tempo em que seria produzida apenas meia unidade de vinho.
Por outro lado, a mesma relação em Portugal é igual a 2, uma vez que no mesmo intervalo de trabalho para produzir uma unidade de tecido, seriam produzidas duas unidades de vinho.
Quando o preço do tecido, portanto, cai a um valor menor que 0,5, cada país produzirá apenas vinho; e se o preço subir para um valor superior a 2, até mesmo Portugal, que é pouco eficiente na produção de tecido, passará a produzi-lo, conforme demonstra a tabela:
Tabela 4 - Vantagens comparativas e comércio internacional.Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Portanto, com base nos dados apresentados, conclui-se que cada país irá especializar-se na produção do bem para o qual possui vantagem comparativa. Neste exemplo, a Inglaterra irá especializar-se na produção de tecidos, e Portugal, na produção de vinhos.
A condição de equilíbrio para o comércio de tecidos (mencionando as quantidades relativas de tecido no eixo horizontal, e seus preços relativos no eixo vertical) seria dado de acordo com o gráfico:
Figura 6 - Efeitos do comércio internacional sobre estrutura de preços relativos e Vantagens Comparativas – um exemplo.Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
Dentro de uma fronteira de possibilidades de produção onde os preços relativos do tecido estejam entre 0,5 e 2, na interseção entre a oferta e a demanda, há comércio internacional, e cada país irá especializar-se na produção do bem em que apresentasse alguma vantagem comparativa: tecidos ingleses e vinhos portugueses.
1.4.2. Ganhos do comércio
A primeira perspectiva está na possibilidade de ganhos alternativos/indiretos, nos dois países, com a atividade comercial. Se a Inglaterra tem vantagem competitiva em tecidos, até seria possível que este país produzisse vinho; mas é melhor que ela produza tecidos em vez de vinho, e comercialize os tecidos para obter vinho.
Considere, por exemplo, que o preço do tecido inglês é igual a £1, mas ele é de fato produzido a £0,5. Se ingleses precisam de duas horas para produzir uma unidade de vinho, e uma hora para produzir a mesma quantidade em tecidos, logo, os ingleses podem usar esta quantia de trabalho para produzir duas unidades de tecido, e transacioná-las por vinhos portugueses.
Vamos explicitar esta relação na forma algébrica na interação a seguir.
 
Desta forma, uma hora de trabalho, na Inglaterra, pode ser medida em termos dos vinhos portugueses, rendendo, em unidades de vinho, o equivalente a
Quando esta relação da hora de trabalho for maior do que a quantidade de vinhos ingleses produzida no mesmo intervalo de tempo, ou seja, quando
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A segunda dimensão relacionada aos ganhos com o comércio reside na questão do consumo. No caso de uma economia fechada, que não realiza trocas comerciais com outras nações, as suas possibilidades de consumo estão definidas pela equação de possibilidades de produção, que discutimos anteriormente, sem que haja possibilidade de expansão destas quantidades produzidas mediante a mesma aplicação de trabalho.
Porém, com a introdução do comércio, as nações podem consumir, mediante transações de importação e exportação, quantidades diferentes de bens que estas nações apresentam vantagens competitivas em produzir; este mix de produtos faz com que o comércio amplie as possibilidades de consumo, de modo que os habitantes de cada país podem consumir quantidades de bens que se encontram além das fronteiras iniciais de possibilidades de produção de cada nação (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Figura 7 - Efeitos do comércio internacional sobre estrutura de consumo a partir do modelo ricardiano.Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.
A Inglaterra, por exemplo, poderia sem comércio consumir apenas a combinação de produtos descrita pela Curva FP no primeiro gráfico da figura acima; e o consumo de tecidos e vinhos em Portugal estaria descrito pela Curva F’P’.
Com o comércio, e a especialização de cada país produtor mediante a vantagem comparativa deles, o consumo dos ingleses pode elevar-se até os pontos definidos pela Curva FT; os lusitanos, por sua vez, consumirão até a Curva F’T’, demonstrando o ganho do comércio (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Síntese
Chegamos ao final do capítulo. Estudamos como o desenvolvimento do comércio internacional está embasado, especialmente, sobre três dinâmicas: histórica, política e econômica. As relações comerciais determinaram os movimentos de capital, criação e distribuição de riquezas e bens, em uma perspectiva histórica de formação de grupos de interesse e blocos comerciais. No século XXI, observamos claramente a importância e a força da globalização, nos seus aspectos produtivos e financeiros.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
entender a dinâmica do comércio internacional, a partir da formação de blocos comerciais;
discutir a inserção política e econômica da economia brasileira nos circuitos mundiais de capital;
analisar as mudanças e transformações recentes (2018) na realidade do comércio internacional;
discutir a importância da dimensão histórica para o comércio e os fluxos de capital;
operar o modelo teórico de Vantagens Comparativas, para entender relações de produtividade e eficiência em economias abertas.
CAP 2
Introdução
Basta olhar ao redor, para percebermos como a sociedade atual tem características que a tornam interligada e interdependente e, basicamente, sem fronteiras. Vamos pensar: seu celular é nacional? Seu computador, seus óculos, relógio, carro ou perfume são fabricados onde? Esses produtos podem até ser fabricados no Brasil, mas é bem provável que a maior parte das marcas disponíveis no mercado não o sejam.
Isto é possível devido a um processo chamado globalização. Intensificada em meados dos anos 1990, a globalização surge como um processo que visa conduzir a economia mundial, por meio das forças de mercado, ao sucesso econômico e à ampliação da qualidade de vida das pessoas. Isso, é claro, seguindo a lógica do consumo, que guia os mercados.
Mas, para que os produtos de outros lugares cheguem até nós, se faz necessário o comércio internacional. Quando falamos de Economia Internacional e consideramos, por exemplo, as negociações que podem ocorrer entre países, devemos considerar duas relevantes teorias sobre o tema.
A primeira é aTeoria de Heckscher-Ohlin, desenvolvida por dois suecos, Eli Heckscher e Bertil Ohlin, em 1970, e a segunda, a Teoria das Vantagens Comparativas, criada por David Ricardo, em 1817. Esta última é considerada uma das bases para os estudos sobre comércio internacional, a partir dos impactos das relações comerciais entre países para a economia mundial.
Acompanhe com atenção e bons estudos! 
2.1 Blocos econômicos e união monetária
Atualmente, globalização e internacionalização econômica apresentam conotações diferentes. Para Souza (2009, p. 170) “a globalização é definida como a livre movimentação, em nível internacional, de mercadorias, capitais, força de trabalho e conhecimento”. Já a internacionalização econômica tem relação com um processo de regionalização da economia mundial.
Em outras palavras, a formação de grupos de países caracteriza o que chamamos de integração econômica regional, que permitiu a formação de blocos econômicos. Esse tema será alvo de nossos estudos.
Mas o que são blocos econômicos? Todos eles são iguais? Quais as vantagens e desvantagens de se fazer parte de um bloco? A seguir, vamos buscar responder a estes e outros questionamentos igualmente importantes.
2.1.1 Os blocos econômicos
Quando pensamos em blocos econômicos, é preciso ter clareza do que isto significa. Podemos pensar em conglomerados de países, o que não está completamente incorreto. De acordo com Mariano e Carmo (2016), para que consigamos compreender o conceito, devemos, inicialmente, entender que integração econômica é um processo que agrega diferentes economias. Clique na interação a seguir para continuar lendo.
 
Esta integração pode ser obtida por meio da redução ou eliminação de barreiras, sejam elas relacionadas ao comércio ou à circulação de fatores de produção. Integração também se refere ao alinhamento de políticas econômicas, buscando implementar um mercado coeso. Os autores afirmam que é comum alguma divergência quando se trata da definição conceitual do termo.
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A seguir, falaremos sobre os estágios de integração. Acompanhe!
Estágios de integração
Como já vimos, há diversos estágios pelos quais o processo de integração pode passar. Estes, variam de acordo com a abrangência e dimensão dos compromissos assumidos. Mariano e Carmo (2016) apontam seis estágios de integração: acordo comercial preferencial, área ou zona de livre comércio, união aduaneira, mercado comum, união econômica e união econômica total.
Já Appleyard e seus colaboradores (2010) indicam quatro tipos mais comuns de estágios: área de livre comércio; união aduaneira, mercado comum e união econômica.
Usaremos, aqui, a divisão elaborada por Mariano e Carmo (2016), que trazem mais detalhes sobre as etapas e estágios. 
Figura 1 - A integração econômica ocorre por meio de dois ou mais países que se relacionam por meio de acordos ou tratados de contribuição mútua.Fonte: Leifstiller, Shutterstock, 2018.
Antes de prosseguirmos, é importante ressaltar que não há necessidade de os países passarem por os estágios. Cabe aos países envolvidos escolherem qual será o objetivo e as características de sua integração.
Na primeira fase apontada pelos autores, acordo comercial preferencial, os países envolvidos estabelecem barreiras comerciais menores que as aplicadas com os demais. Em um caso, por exemplo, onde os países A e B celebram este acordo, isto implica que entre eles, as barreiras e taxas comerciais serão menores que as praticadas com o país C, por exemplo. Isto implica em uma melhor condição comercial para os envolvidos e, consequentemente, para a população destes, pois passará a ter acesso a produtos que anteriormente não tinham, ou tinham a preços mais elevados.
Quando falamos da área ou zona de livre comércio, estamos falando da eliminação de barreiras comerciais, quer sejam elas tarifárias ou não tarifárias, entre os países envolvidos. Vale lembrar, ainda, que cada membro adota, individualmente, a política comercial em relação a terceiros da forma que lhe for conveniente.
Alguns autores apontam esta classificação como sendo uma FTA – Free Trade Area, o que nada mais é que zona de livre comércio, porém em inglês. É válido ressaltarmos que esta eliminação de barreiras, muitas vezes, não diz respeito à totalidade de produtos comercializados entre os países, mas sim a uma boa parte deles. Para os demais, há um tratamento especial.
No nosso exemplo anterior, entre os países A e B, são eliminadas as barreiras tarifárias e não-tarifárias em relação a uma pauta de produtos, ou elas têm uma condição especial. Porém, quando um deles negocia com um terceiro, o país C, não membro da área de livre comércio, estas taxas não são as mesmas vigentes do acordo entre os países A e B, mas sim, são as taxas aplicadas usualmente quando do comércio internacional para com os demais países não pertencentes ao acordo.
Por isso, diz-se que a política comercial adotada pelas nações não pertencentes ao acordo, são determinadas pelos países individualmente, e da forma que for mais apropriada.
É muito comum a confusão entre barreiras tarifárias e barreiras não tarifárias. Por isso, é importante saber a diferenciação. Quando falamos em barreiras tarifárias estamos pensando em medidas impostas por governos, por exemplo a fixação de tarifas aduaneiras. Já as barreiras não tarifárias são mecanismos subjetivos para controlar, composição, volume e características dos produtos, também governamentais. Como exemplo podemos citar cotas de importação, características de embalagens e licenças prévias (VAZQUEZ, 2008).
Um clássico exemplo de Área de Livre Comércio é o NAFTA (North American Free Trade Agreement) ou Tratado Norte-Americano de Livre Comércio. Formado em 1994 pelos países Canadá, México e Estados Unidos, tinha como intuito reduzir e eliminar as barreiras entre estes países. Este tratado foi integralmente substituído em outubro de 2018, pelo Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês), sendo esta uma tentativa de renovar e resgatar esta zona de livre comércio, sobretudo após a imposição de tarifas, pelos Estados Unidos, à importação de aço e alumínio do Canadá, na esteira de um processo de proteção do mercado estadunidense que tem sua face mais clara nas relações de comércio com a China.
A união aduaneira considera as etapas anteriores, ou seja, a eliminação das barreiras conforme a área de livre comércio, porém é acrescida de uma nova característica, a TEC (Tarifa Externa Comum), ou seja, entre eles, os países não possuem barreiras e quando negociam com os demais, adotam a mesma política comercial. Perceba que aqui, diferentemente do que ocorre na zona de livre comércio, as barreiras aplicadas aos não-membros precisam ser as mesmas, e não diferentes, o que já elimina a situação variável que acontecia na Área de Livre Comércio. 
Figura 2 - A liberdade comercial incentiva as transações internacionais.Fonte: peresanz, Shutterstock, 2018.
Quando falamos em TEC, estamos nos referindo a uma política comercial externa comum, pois estes países abrem mão da liberdade de negociar com as demais nações, para manterem as mesmas características. No nosso exemplo, pense agora que os países A e B não possuem barreiras entre si e que, ao transacionarem com C, ambos praticam as mesmas tarifas.
Sabemos que em todos os processos há prós e contras, vantagens e desvantagens. Perceba que, para países com melhores estruturas e condições, esta redução pode ser benéfica, porém em casos de países nem tão competitivos, estes podem acabar por não conseguir competir com os demais.
Mariano e Carmo (2016) apontam o Mercosul (Mercado Comum do Sul) como um exemplo de União Aduaneira, no qual os países membros (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) desfrutariam destes incentivos. O Mercosul foi estabelecido pelo Tratado de Assunção em 1991, como uma tentativa de reaproximação entre Brasil e Argentina. A ideia original era que sua evolução atingisse as características de um mercado comum. No entanto, o Mercosul vem passando por dificuldades em se estabelecercomo uma simples união aduaneira.
O mercado comum prevê, além das integrações já citadas, a livre-circulação dos fatores de produção (capital, mão de obra e tecnologia) entre os membros. Em outras palavras, dinheiro e pessoas podem circular de maneira livre entre os países que fazem parte deste tipo de mercado. Para que isso seja possível, torna-se necessário, além do estabelecimento de uma política comercial externa comum, a unificação de algumas políticas internas, como a que diz respeito ao mercado de trabalho (políticas trabalhistas), viabilizando a livre-circulação da força de trabalho (fator de produção representado aqui pela mão de obra).
Neste estágio, os países alcançaram um nível mais elevado de integração econômica, porém, tem reduzida sua liberdade, enquanto nações isoladas (APPLEYARD et al., 2010). Além disso, “os Tratados de Roma de 1957 estabeleceram um mercado comum dentro da Comunidade Europeia (CE), que oficialmente começou em 1º de janeiro de 1958, e que se tornou a União Europeia (UE) em 1º de novembro de 1993”, esta última, na época, no formato de mercado comum (APPLEYARD et al., 2010, p. 417).
Retomando o nosso exemplo, dizer que há um mercado comum entre os países A e B implica dizer que as pessoas de A podem transitar livremente e trabalhar em B (e vice-versa), os fluxos de capitais também são livres, proporcionando uma integração muito maior entre A e B.
Devido a sua importância e complexidade, os próximos dois estágios de integração, união econômica e união econômica total serão trabalhados do próximo item.
2.1.2 União monetária
Quando falamos em união monetária o que vem a sua mente? Muito provavelmente união da moeda, não é? E esta lógica está parcialmente correta, vamos entender a seguir. Clique na interação.
Já quando nos referimos a políticas fiscais, são políticas relacionadas ao fisco, ou seja, impostos. Trata-se de tudo o que está relacionado com arrecadação tributária, controle de despesas públicas, determinação de alíquotas, dentre outros.
Muito provavelmente você já ouvir falar sobre o Brexit, movimento de saída do Reino Unido da União Europeia. Mas o que isto significa na prática? Assista ao vídeo (GILES, 2018) disponível no link para entender melhor:
<https://www.youtube.com/watch?v=csva3sa7jeM>.
Esta fase é o último estágio e o mais completo deles, pois contempla todas as características de mercado comum, a unificação das instituições e das políticas econômicas em todos os países membros (APPLEYARD et al., 2010). Apesar de ainda existirem organismos políticos diferenciados, há uma união estabelecida por instituições supranacionais cujas medidas impactam e relacionam todos os países membros.
Diferentemente de Mariano e Carmo (2016), Appleyard e colaboradores (et al., 2010) admitem ainda que, quando há uma moeda única, este bloco se tornará uma União Monetária. É válido, contudo ressaltarmos que nem todo bloco econômico aspira chegar a este estágio, porém, quando chegam, temos um dos níveis mais complexos e difíceis na prática. Aqui, os países membros veem sua soberania nacional ser extremamente reduzida, e também sua independência no que diz respeito às políticas econômicas. Por isso, é difícil todos os países membros aceitarem as condições impostas pelo todo. Atualmente, a União Europeia se encontra neste estágio.
Figura 3 - Bandeira da União Europeia: doze estrelas douradas sobre um fundo azul, demonstrando unidade, harmonia e solidariedade entre os povos membros do bloco.Fonte: symbiot, Shutterstock, 2018.
Conforme vimos, ainda há outro estágio, união econômica total, aqui o pressuposto diz respeito à união de todas as políticas econômicas – monetária, fiscal, de renda, comercial e cambial. Para que esta funcione, deve haver claramente a presença de entidades supranacionais que regulem todos os aspectos da política econômica. Ainda não há bloco de integração neste nível; por fim, a União Política prefiguraria a fusão absoluta entre duas ou mais nações (BAUMANN; CANUTO; GONÇALVES, 2004)
2.2 Modelo H-O
Neste tópico vamos entender um pouco sobre o Modelo H-O, também chamado de modelo Heckscher-Ohlin. Por meio dele, perceberemos que cada país busca especializar-se em determinado produto ou segmento que vai ao encontro da realidade dos recursos que este já possui, sendo estes representados não apenas pelo fator de produção trabalho, como visto na Teoria das Vantagens Comparativas, mas também pela disponibilidade de outros fatores de produção, tais como terra, capital e recursos minerais.
A ideia do modelo de maneira sucinta é que cada país deve se especializar em produzir aquilo que possui em maior abundância, ou seja, o país deve focar no elemento que possui em maior quantidade na sua economia. Nos itens a seguir, detalharemos melhor esta ideia. 
2.2.1 Preços e fatores de produção
Neste momento, você pode estar se perguntando, o que significa o Modelo H-O? Como já mencionamos, o modelo Heckscher-Ohlin, ou modelo H-O, nada mais é do que um Modelo desenvolvido por dois economistas suecos no início do século XX, são eles: Eli Heckscher (em 1919) e Bertil Ohlin (em 1933). Este modelo também é conhecido como Teoria das Proporções dos Fatores.
Bertil Ohlin (1899-1979), fundador da moderna teoria do comércio internacional, professor visitante em Cambridge e Harvard, durante muito tempo dedicou-se aos estudos da teoria monetária e do desemprego. Foi ganhador do Prêmio Nobel de Economia no ano de 1977. O prêmio foi motivado pela sua contribuição à teoria do comércio internacional e movimentos internacionais de capital (THE NOBEL PRIZE, 2018).
O modelo afirma que um país deve focar sua produção em itens derivados de recursos que possui em abundância. Esta afirmação parte de algumas suposições simplificadoras realizadas por Heckscher e Ohlin. Appleyard e colaboradores (2010, p. 127-128) apontam nove, que listamos a seguir. Clique para ver.
Os dois países analisados possuem dois bens sem diferenciação, dois fatores produtivos sem diferenciação, cujo preço inicial é fixo, porém diferente para cada um deles.
A tecnologia é a mesma nos dois países, ou seja, as funções de produção são as mesmas para os dois países.
Os retornos de escalas são constantes para as duas mercadorias nos dois países.
As duas mercadorias possuem diferentes intensidades relativas de fatores, e as respectivas intensidades de fator de mercadoria são as mesmas para todas as razões de preços de fatores.
Preferências e gostos são homotéticos, ou seja, são os mesmos nos dois países e para qualquer conjunto de preços, os bens são consumidos nas mesmas quantidades relativas para todos os níveis de renda.
A concorrência entre os países é perfeita.
Há mobilidade dos fatores dentro dos países, mas não entre os países.
Não há custos de transporte.
Não há restrição ao movimento de bens entre os países ou interferência na precificação ou na produção pelo mercado.
Duas características são essenciais para que o modelo H-O seja aceito: as dotações de fatores, ou seja, a verba destinada ao fator, são diferentes em cada país; e as mercadorias são sempre intensivas em um dado fator, ou seja, há predominância em um ou outro fator, independentemente, dos preços relativos dos fatores (APPLEYARD et al., 2010).
Quando refletimos sobre a economia internacional, percebemos que o modelo H-O apresenta as bases para o comércio. Para entender isso melhor, leia o capítulo oito do livro “Economia Internacional” (APPLEYARD et al., 2010), disponível na biblioteca virtual:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788563308641>.
No livro, você pode encontrar um detalhamento profundo das aplicações e implicações da utilização deste modelo.
Quando pensamos em abundância de um ou outro fator, devemos pensar que esta definição de abundância pode ser explicitada quanto à abundância relativa de duas formas: na definição física (quantidade dos fatores) e na definição do preço (preço relativo dos fatores). Clique na interação a seguir para continuar o seu estudo.
 
Vamos considerar queexistam dois fatores de produção, capital (K) e trabalho (L). O país A possui capital em abundância, já o país B é mais dotado no fator trabalho. Sendo assim, pode-se dizer que a razão entre capital e trabalho (K/L)A do país A é maior que a razão (K/L)B no País B.
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Em um primeiro momento, esta relação não aparenta ter problema, porém existem países muito populosos, com um baixo preço relativo de trabalho (China e Índia são um exemplo) e, em contrapartida, há países, como Estados Unidos e Alemanha, onde o cenário é o contrário.
Você pode estar se perguntando, nestes casos o modelo H-O não deve ser utilizado? Nada disso! O modelo pressupõe, como vimos no começo deste tópico, tecnologia, gostos e preferências homogêneas, ou seja, iguais, para os países analisados. Isto faz com que continue válido.
Do ponto de vista prático, isso é possível, pois nos casos supracitados temos que levar em conta o preço do fator que não reflete apenas a oferta dos itens, mas também a demanda. E países mais estruturados tendem a ter uma demanda fortalecida, estruturada, o que impacta em um aumento do consumo final, em outras palavras, sua satisfação.
Perceba que, a partir do conjunto de suposições realizadas e das razões analisadas, podemos concluir que a fronteira de possibilidades produtivas é diferente de país para país, unicamente em consequência da diferença da dotação dos fatores. 
A Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP), também conhecida como Curva de Possibilidades de Produção (CPP), é uma representação gráfica que mostra a quantidade máxima de um bem, que pode ser produzida, dada a quantidade produzida de outro bem. Considerando que os fatores de produção são limitados e utilizados de forma eficiente (pleno emprego dos recursos), para aumentar a produção de um bem é necessária a redução da produção de outro, de forma a liberar recursos.
Costa e Santos (2012) afirmam que o ponto central do modelo é a tendência de direcionamento dos países analisados em aplicar seus esforços para os fatores que possuem em abundância.
Suponha a existência de dois países, e vamos chamá-los de país I e país II. Ambos produzem tecidos e alimentos. Quanto aos fatores utilizados, vamos considerar apenas trabalho e terra. Cada um deles pode optar pela proporção que utilizará de cada fator de produção, assim, haverá uma curva de possibilidades de produção.
O gráfico a seguir demonstra esta curva.
Figura 4 - A Curva de possibilidade de produção indica a combinação entre produção de alimentos e produção de tecidos em um dado caso, aqui hipotético, dada a quantidade de recursos – trabalho e terra – disponíveis na economia.Fonte: COSTA; SANTOS, 2012, p. 23.
Perceba no gráfico acima que quando Qt (quantidade de tecidos) for ampliada, Qa deverá obrigatoriamente ser reduzida, isto se deve à própria limitação dos recursos da economia em questão. O inverso também é verdade, se ampliar Qa, deveremos reduzir Qt.
Para tomar a decisão do quanto produzir, tanto o país I, quanto o II, devem levar em conta a reta que tangencia a Fronteira de Possibilidade de Produção e indica a relação entre os preços do tecido e do alimento, ou seja, o preço relativo (Pt/Pa). Assim, quando a curva de possibilidade de produção (CPP) possuir a mesma inclinação da reta que se relaciona ao preço relativo, o mercado estará em equilíbrio, atingindo eficiência na alocação dos recursos. Ou seja, nessa situação, haveria o pleno emprego dos recursos: trabalho e terra.
É válido relembrar que como lei base da economia a definição do preço dar-se-á pela oferta e demanda. Logo, se temos abundância em um fator (muita oferta), o preço relativo deste cairá. No modelo H-O esta relação implica em um menor custo de produção, ligado ao fator.
No nosso exemplo, quem produzirá o que dependerá do recurso que há em abundância no país, pois isto será determinante para o custo deste fator. Se, por exemplo, o país I possui mais terras, ele produzirá alimentos (produto terra-intensivo), pois seu custo de produção será menor. Já se o país II possui em abundância o fator trabalho, este país irá se direcionar mais a produção de tecidos (produto trabalho-intensivo).
Costa e Santos (2012) são enfáticos ao afirmarem que os países não deixam de produzir completamente o bem cujo fator não possuam em abundância, mas sim, que estes farão uso do comércio internacional, buscando suprir suas carências e dificuldades produtivas e ampliando a eficiência da econômica mundial.
2.2.2 Padrões de exportação
Quando pensamos em padrão de exportação, devemos, primeiro, verificar o que significa um padrão. Um padrão tem relação com o formato costumeiro de execução, ou seja, a tendência ou característica principal de algo. No caso específico das exportações, vamos refletir um pouco sobre os padrões de exportações de países desenvolvidos e países em desenvolvimento.
Refletindo do ponto de visto histórico, países que se encontram em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, no geral, passaram por um processo mais profundo de exploração e tem problemas econômicos e sociais profundos se comparados aos países desenvolvidos. Isto tende a impactar na realidade da produção também.
Assim, podemos dizer que, no geral, países desenvolvidos exportam produtos ricos em tecnologia (tecnologia-intensivos) e com valor agregado mais alto, pois estes possuem um elevado investimento em educação, pesquisa e desenvolvimento, e vários outros aspectos que contribuem para a solidez das suas economias, bem como de suas indústrias. Os países que se destacam como exemplo neste aspecto são os Estados Unidos e a Alemanha.
Figura 5 - Desenvolvimento de produto rico em tecnologia e com alto valor agregado, no geral, produzido e exportado por países desenvolvidos com destaque em pesquisa e desenvolvimento.Fonte: dboystudio, Shutterstock, 2018.
Por outro lado, países em desenvolvimento possuem carências educacionais, sociais, tecnológicas, dentre várias outras. Por esse motivo, possuem destaque, no geral, por duas frentes: mão de obra barata e/ou produtos agrícolas in natura, com baixo valor agregado.
Quando falamos em mão de obra barata, estamos nos referindo a baixos salários e condições de trabalho ruins. Como destaque, podemos apontar a China e a Índia. O primeiro é mundialmente conhecido por exportar uma infinidade de produtos com baixo valor agregado. Com as exportações por ele realizadas, diversos segmentos vêm sendo abalados, um exemplo o setor da moda e têxtil, no qual diversas empresas renomadas e conhecidas já quebraram pelo fato de não conseguirem competir com os baixos custos envolvidos na produção nestes países. 
Figura 6 - O excesso de contingente populacional contribui para a redução do preço da mão de obra e, dessa forma, o mercado de trabalho tem sua precificação afetada.Fonte: BartlomiejMagierowski, Shutterstock, 2018.
Outro aspecto que é válido ser mencionado diz respeito a instalação de empresas nestes países cujos salários são baixos. Em busca de redução de custos, muitas empresas instalam suas fábricas nestas localidades.
Analisando agora os países que exportam muitos produtos agrícolas, vamos entender o Brasil, de maneira mais detalhada. Sabemos que o Brasil se destaca na exportação da soja. Mas, você já se perguntou por que este movimento ocorre?
Segundo o modelo H-O, muitos dos esforços brasileiros são destinados a este fim, e a qualidade do solo também contribui para a qualidade das safras. Apesar de ser algo bom exportar em grande escala, no que diz respeito ao valor agregado, produtos agrícolas proporcionam pouco retorno, se pensarmos na escala. 
Uma commodity corresponde a um produto cujo padrão de qualidade e características gerais são uniformes, e destinadas especificamente ao comércio de exportação, e que não se diferencia, de forma significativa, de acordo com a sua origem. Por exemplo, a soja brasileira e a soja americana são, essencialmente, iguais em suas características. Estes produtos têm seus preços regulados no âmbito do mercado internacional.
É válido ressaltar que, emse tratando do Brasil especificamente, houve um forte movimento, entre 1930 e 1960, chamado Programa de Substituição de Exportações, no qual buscou-se incentivar a indústria nacional. Apesar do avanço alcançado neste período, atualmente, o Brasil ainda importa diversos produtos industrializados e exporta commodities.
2.3 Modelo Padrão de Comércio
Vimos até aqui o quanto uma economia pode depender da oferta de um fator de produção, para que seja bem-sucedida, e quantos são os pressupostos para que a teoria seja aplicável e aceita. Mas, pelo que você compreendeu, será que, no mundo real, isso ocorreria?
Neste tópico, vamos estudar um pouco um modelo-padrão de uma economia mundial com comércio desenvolvido por Krugman, Obstfeld e Melitz (2015). Este modelo se apropria de alguns referenciais teóricos importantes na área da Microeconomia, como o conceito de Curvas de Indiferença, que diz respeito às preferências dos consumidores em relação à aquisição dos bens indispensáveis à sua reprodução material. Você analisará neste tópico, ainda, os efeitos da aplicação de tarifas e subsídios sobre o comércio exterior.
2.3.1 Fronteiras de possibilidade de produção, isovalor, curvas indiferença, tarifas e subsídios
Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 68) afirmam que o modelo padrão de comércio possui quatro fundamentos. Clique nos itens a seguir para conhecê-los. 
A relação entre a fronteira de possibilidades de produção e a curva de oferta relativa.
A relação entre preços relativos e a demanda relativa.
A determinação do equilíbrio mundial pela oferta relativa mundial e pela demanda relativa mundial.
O efeito dos termos de troca (preço de exportação dividido pelo preço das importações) sobre o bem-estar da nação.
Iniciando nossa análise pelas possibilidades de produção e oferta relativa, vamos supor que estejamos analisando dois países, I e II, e cada país produza apenas dois bens, alimentos (A) e tecidos (T).
Observe no gráfico a seguir, as produções e a curva de possibilidades de produção (PP).
Figura 7 - Economia cuja fronteira de possibilidades de produção é representada por PP e Q será a quantidade produzida de ambos os bens dada a isovalor mais alta possível.Fonte: KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 69.
É importante termos clareza que o ponto onde há, efetivamente, produção sobre a fronteira de possibilidades depende da relação de preço entre os fatores, ou seja, entre tecidos e alimentos, dado por PT /PA. Podemos ver também no gráfico acima, as várias linhas de isovalor, isto é, linhas que não apresentam oscilação na produção, ou seja, esta é constante.
Cada uma das linhas é definida pela equação QA = V/PA – (PT /PA.)/QT sendo que V representa o valor do produto. Dessa forma, quanto maior for o V, mais deslocada acima e à direita estará a linha do isovalor, assim demonstrando valores mais altos da produção. Observando a equação, suponhamos que o preço relativo dos tecidos aumente, isso indica que a oferta relativa de tecidos também aumentará. Você pode, portanto, perceber que as linhas de isovalor dizem respeito à oferta de bens na economia, e sua disponibilização para transações internacionais.
O modelo padrão de comércio é uma das maneiras que podemos analisar os movimentos comerciais internacionais. Para ampliar sua compreensão, leia o capítulo cinco do livro “Economia Internacional” de Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), disponível na biblioteca virtual.
Ao considerar esses fatores, segundo o gosto dos consumidores, a economia escolherá um ponto específico sobre a linha de isovalor. No intuito de simplificar o modelo, entendemos que “as decisões de consumo da economia estejam baseadas nas preferencias de um único indivíduo representativo” (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 89). Isto se deve ao fato da modelagem buscar ser explicativa para o maior número de casos possíveis.
Observe o gráfico a seguir e perceba estas características de maneira mais prática.
Figura 8 - Como um aumento no preço relativo de tecidos impacta a oferta relativa.Fonte: KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 89.
Neste gráfico podemos perceber que as linhas de isovalor ficam mais inclinadas conforme o preço relativo para os tecidos aumenta, movimento este ilustrado de vv¹ para vv². Como resultado final, esta nossa economia sai de uma produção de Q¹ para Q², resultando assim numa produção demais tecidos e menos alimentos.
Outro ponto relevante diz respeito as curvas de indiferença. Você já ouviu falar delas? Na prática, estas curvas, mostram de maneira gráfica as preferências dos indivíduos. Ou seja, qual combinação de consumo entre tecidos (T) e alimentos (A) satisfazem o indivíduo, e determinam a demanda por produtos na economia.
Três características são básicas, quando falamos destas curvas, Clique e veja a seguir. 
Perceba no Gráfico a seguir, que a produção de bens na economia será realizada no ponto da linha de isovalor que maximiza o bem-estar do consumidor representativo. Este ponto está localizado onde a linha de isovalor tangencia a maior curva de indiferença. Neste ponto, há um excesso de demanda por alimentos, e um excesso de oferta de tecidos, que serão compensados pelo comércio de importação e exportação.
Figura 9 - Determinação do volume de consumo e demanda no modelo padrão de comércio.Fonte: KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 95.
Tarifas e Subsídios
Você sabe o que são tarifas e subsídios? No geral, podemos pensar nas tarifas como algo que aumenta o preço dos produtos importados, pois correspondem à cobrança de impostos, por parte do governo, sobre esses produtos. Já os subsídios podem ser compreendidos como auxílios que buscam incentivar determinados setores ou segmentos da economia.
Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) relacionam tarifas a importações e subsídios a exportações. Os subsídios podem ser exemplificados a partir de concessões fiscais (como redução de impostos), ou pagamentos diretos aos exportadores (para baixar os preços dos bens no mercado internacional), ou, ainda, mecanismos de financiamento a juros inferiores aos praticados no mercado, para desenvolver investimentos.
Vale, no entanto, enfatizar que, em alguns raros casos, observa-se a aplicação de tarifas também à atividade exportadora.
Determinado governo percebe que há um setor de sua economia cujo interesse em exportar vem crescendo, por exemplo, o setor calçadista. Porém, quando pensamos em exportação, devemos olhar também para a concorrência internacional. Ao fazer essa análise, os empresários percebem que não são tão competitivos quanto seus possíveis concorrentes no mercado internacional. O preço final por produto, com margens de lucros equivalentes, são de U$$ 10,00 no cenário internacional e U$$ 13,00 no mercado interno. Devemos, então, deixar de exportar?
A resposta é não.
Sabendo disto, o governo entra em cena, fornecendo subsídios à exportação. Estes subsídios podem vir em formato de pagamentos ou redução de alíquotas fiscais. Fazendo isto, o governo contribui para o aumento da competitividade internacional das empresas nacionais. Neste caso, o governo entra com o subsídio de três dólares, logo os interessados em exportar terão condições equivalentes de competição.
Partindo do nosso exemplo, percebe-se que o subsídio auxiliou a empresa nacional, porém se olharmos do ponto de vista dos termos de troca, fator relevante quando falamos em termos de modelo-padrão do comércio, perceberemos um impacto negativo. Lembre-se que os termos de troca expressam a relação entre os preços dos produtos exportados e dos produtos importados. No exemplo, o impacto pode ser negativo pelo fato de reduzir esses termos de troca, que se tornam desfavoráveis à economia nacional.
Assim, tanto subsídios, quanto as tarifas fazem com que exista uma diferença entre os preços praticados no mercado mundial e no mercado interno. No caso dos subsídios, torna-se mais interessante para os produtores exportarem, visto que há incentivos e fica mais lucrativo.
Um país não pode conceder subsídios ou impor tarifas de maneira indiscriminada.Caso algum outro país se sinta lesado, este pode acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) para que esta analise sua solicitação.
Já do ponto de vista das tarifas (aumento do preço dos produtos importados), os bens que são importados tornam-se mais caros dentro do país, se comparado aos valores de fora. Isto é geralmente utilizado como forma de proteção da indústria nacional (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
2.4 Economias externas de escala
Como sabemos, David Ricardo foi o fundador da teoria das vantagens comparativas. Um dos elementos fundamentais para a compreensão da teoria, parte da astuta observação de Ricardo quando da especialização na produção, por parte do país, nos itens para os quais ele tenha maior vantagem na produção. Você já percebeu que alguns países têm maior vocação para a produção de alguns itens em detrimento de outros? Observe seu dia a dia, de onde vêm alguns segmentos de produtos que você utiliza? Seu carro, aparelhos eletrônicos, dentre tantos outros bens de consumo, não vêm do mero acaso, é Economia Internacional. Vamos compreender neste tópico mais a respeito da vantagem comparativa e dos padrões do comércio internacional.
2.4.1 Vantagem comparativa e padrões do comércio internacional
Para dar início ao estudo deste tópico, apresentaremos os conceitos de vantagem absoluta e vantagem comparativa. Clique na interação a seguir.
 
O fator vantagem tem chamado a atenção de pensadores e pesquisadores econômicos desde 1776, quando Adam Smith, em sua obra “A riqueza das nações” (usamos para este conteúdo, uma edição de 2007) chama atenção para o fato que nações poderiam ter vantagens absolutas na produção de determinados elementos em comparação com seus vizinhos e, por consequência concorrente.
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Entretanto, quando considerado o comércio internacional, a situação se colocava de maneira diferente: embora para Smith fosse possível movimentar os fatores de produção dentro do país, para Ricardo analisá-los da mesma maneira se colocava como tarefa virtualmente impossível, pois a quantidade de tempo e mão de obra dedicada ao trabalho poderia ser determinante para a obtenção de menores custos de produção, assim levando ao país A, a possibilidade de conquistar uma vantagem comparativa em relação ao país B, quando levado em consideração, o fator de produção trabalho.
Quando falamos em teoria da vantagem comparativa, estamos nos baseando na hipótese de retornos constantes de escala. Ou seja, supomos que se dobrarmos os insumos, a produção também dobraria. Porém, há muitos setores que este retorno é ainda superior, neste caso temos a chamada economia de escala.
 
Economia de escala
Economias de escala também são chamadas de retornos crescentes de escala, e implica que um setor é mais eficiente quanto maior for a escala na qual ele ocorre. Assim, se dobrarmos os insumos, mais que dobraremos a produção.
Sandroni (1999) afirma que economia de escala diz respeito à produção de bens em escala ampla, larga, buscando redução de custos. Assim, se temos uma máquina que normalmente trabalha oito horas por dia, e optarmos por usar a máquina por 16 horas por dia (sem que ela quebre), alcançaremos economia na (ou de) escala, pois a máquina já está ali, tendo seu custo fixo computado.
É fato que os demais custos crescerão, porém, de maneira geral, a máquina tende a ser o principal.
Figura 10 - Relacionando custo e receita percebemos que quando reduzimos o primeiro, a tendência é o segundo aumentar. Uma das formas desta relação acontecer é por meio de economia de escala.Fonte: SceneNature, Shutterstock, 2018.
Esta economia pode ser chamada de economia interna de escala. Além da existência de economias internas, pode haver as economias externas de escala. De maneira simplificada, o termo interno x externo refere-se à relação com a empresa.
Ora, se a economia for interna, é inerente ao funcionamento da firma, na qual os custos dependem do tamanho da empresa e resultam em um rompimento da concorrência perfeita, tornando-se, assim, uma concorrência imperfeita. Não dependem do tamanho do setor de atividade.
Já em se tratando da economia externa de escala, está relacionada ao setor e não à empresa. Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 89) afirmam que “as economias de escala externas ocorrem quando o custo por unidade depende do tamanho do setor, mas não necessariamente do tamanho de uma empresa qualquer”. São casos de economias externas de escala, a existência de aglomeração de produtores ou especialização geográfica, que geram redução de custos para todas as empresas daquele setor de atividade.
Exemplificando, considere a seguinte situação: em uma economia, se a produção setorial fosse constante em 500 unidades e houvesse cinco empresas, cada uma delas produzindo 100 unidades, se, por ventura, houvesse um corte no número de empresas, passando de cinco para três empresas, mas a quantidade produzida se mantivesse em 500 unidades, a tendência é que teríamos um aumento de eficiência e uma redução de custos (na escala) sendo esta chamada de economia interna de escala. Neste caso, cada empresa (agora, apenas três) iria aumentar a sua quantidade produzida e se beneficiar da existência de economias de escalas, o custo médio de cada unidade produzida iria se reduzir.
Agora, se houvesse um aumento na quantidade de empresas, dobrando de cinco para dez empresas, e a produção passasse de 500 para 1.000 unidades, é possível que haja queda em certos custos devido ao aumento do setor, ou seja, economia externa de escala. Uma hipótese seria a melhora na capacidade de provisionar as vendas ou, ainda, nas necessidades de máquinas e equipamentos.
Podemos ver, desta forma, que as vantagens comparativas e as possibilidades de especialização do comércio, quer seja com a utilização da economia de escala interna ou externa, induzem a modificação dos padrões de comércio internacional, pois os países e as empresas observam atentamente aos cenários e reagem, modificando, assim, as formas e disposições do contexto e, consequentemente, do comércio internacional.
Síntese
Chegamos ao fim de mais um capítulo. Estudamos o que são e como funcionam os blocos econômicos e a união monetária. Entendemos a aplicação de alguns modelos de comércio internacional, Hecksher-Ohlin H-O e o padrão de comércio e vimos, a partir das teorias de Adam Smith e David Ricardo, como são as economias externas de escala, compreendendo as vantagens absolutas e comparativas. 
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
conceituar o que é um bloco econômico;
verificar as consequências positivas e negativas da formação e da participação dos países em blocos;
analisar as principais características do modelo Hecksher-Ohlin;
compreender os componentes do modelo padrão de comércio;
analisar as linhas de isovalor e as curvas de indiferença;
conceituar economias de escala, bem como sua importância para a compreensão do funcionamento da firma;
diferenciar economias de escala interna e externa;
compreender o impacto real da teoria das vantagens comparativas.
CAP 3 
Introdução
Para começar a falar sobre o balanço de pagamentos, vamos nos posicionar diante de notícias atuais. Os portais de notícias relataram, em 2018, os efeitos negativos da guerra comercial desencadeada entre Estados Unidos e China, por conta das tarifas aplicadas às importações chinesas, afetando o comércio em escala global.
Para refletir sobre isso, passamos por alguns questionamentos: qual a ligação entre o crescimento econômico de um país e as suas articulações no âmbito do comércio? A abertura de uma economia às relações comerciais com o resto do mundo apresenta somente efeitos positivos, ou também negativos?
Além disso, sempre precisamos trazer esse cenário macroeconômico para a nossa realidade. Quais as relações comerciais que o Brasil mantém com o resto do mundo?
A Economia Internacional, como se nota, é uma disciplina que apresenta sinergia com outros importantes referenciais teóricos das Ciências Econômicas, como a Macroeconomia. Ela opera com o conceito de

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