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A perícia contábil na nova Lei de Falência e Recuperação Judicial - apostila

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Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094
P441 Perícia contábil I / Aline Alves ... [et al.] ; [revisão técnica:
 Lilian Martins]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
 330 p. il. ; 22,5 cm.
 ISBN 978-85-9502-150-1
 1. Contabilidade - Perícia. I. Alves, Aline.
CDU 657
Revisão técnica:
Lilian Martins
Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário
Professora do Curso de Ciências Contábeis 
Coordenadora do Núcleo de Assessoramento Fiscal (NAF) 
das Faculdades São Judas Tadeu
A perícia contábil na 
nova lei da falência e 
recuperação judicial
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Elencar as diferenças entre concordata e recuperação judicial.
  Discutir as fases procedimentais da recuperação judicial.
  De� nir os órgãos legais para a recuperação judicial.
Introdução
A concordata, anteriormente existente no Brasil, era utilizada, geralmente, 
como auxílio ao cumprimento de prazos, pelo titular de uma dívida. Isso 
possibilitava a dilatação desses prazos para o pagamento. Com a mudança 
das questões legais, passa a vigorar, a partir de 2005, a recuperação judicial. 
Ela é diferente da concordata, respeitando a função legal da empresa. 
Nesse sentido, exige muito mais do perito e do juiz. Estes devem definir 
a capacidade da empresa de se recuperar judicialmente ou não.
Neste texto, você irá compreender os principais aspectos da recu-
peração judicial, suas fases e todos os órgãos envolvidos. Além disso, 
compreenderá a sua evolução histórica e como o papel do perito é 
decisivo nas questões que envolvem o patrimônio das entidades.
Concordata versus recuperação judicial
A concordata não existe mais em termos legais. Antes de ser extinta, ela au-
xiliava o titular de uma dívida no cumprimento da obrigação. Assim, reduzia 
os valores devidos ou aumentava os prazos para pagamento.
Desde 2005, passou a vigorar a recuperação judicial. Ela trabalha os pontos 
práticos de maneira diferente. Reconhece o papel social que uma empresa 
possui perante toda a sociedade e sempre visa a manter o devedor com pos-
sibilidades de reestruturação financeira e operacional.
A concordata preventiva possui previsão legal bem mais antiga, datada da 
década de 1940 (BRASIL, 1945). Já a recuperação judicial é relativamente 
recente. Ela é derivada de lei ordinária aprovada na metade da primeira década 
dos anos 2000 (BRASIL, 2005).
A nova legislação que criou a recuperação judicial trouxe consequências para o trabalho 
do perito. As análises realizadas e todo o arcabouço teórico utilizado passaram a ter 
um objetivo adicional. Esse objetivo consiste em manter a estrutura empresarial ou, 
no mínimo, buscar maneiras legais e menos prejudiciais de manter as atividades 
operacionais. Isso tanto para a empresa como para seus credores.
Agora considere os objetivos que cada artifício legal possui. A concordata 
auxilia o devedor a cumprir com o que foi contratado em termos de obriga-
ções. Tudo para evitar a falência da sociedade empresarial. Já a recuperação 
judicial busca manter a função social da sociedade empresarial que deve. Ela 
auxilia na recuperação frente a uma crise econômica ou financeira, também 
mantendo os recursos produtivos em plena operação.
Por um lado, a concordata tinha o poder de aumentar os prazos para pa-
gamento. Muitas vezes, até reduzia os valores totais de algumas dívidas que 
a sociedade empresarial possuía. Por outro, a recuperação judicial trabalha 
na elaboração de um plano de recuperação para ser mostrado aos credores. 
Assim, evidencia os prazos e as condições de forma clara. Tudo tendo como 
meta única o pagamento total das obrigações previamente adquiridas.
Para solicitar a concordata, o devedor tinha de apresentar, além das de-
monstrações financeiras do exercício social mais recente, a relação de cre-
dores existentes. Para que seja iniciada a recuperação judicial, o processo é 
um pouco diferente. As demonstrações financeiras necessárias são as dos 
últimos três anos. Também se exigem a relação dos credores ativos e o plano 
de recuperação judicial em si.
As demonstrações financeiras exigidas para a concordata eram o ba-
lanço patrimonial, a demonstração de lucros ou prejuízos acumulados e a 
demonstração do resultado. Essa mudança foi substancial para a recuperação 
185A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial
judicial. Esta, além do balanço patrimonial e da demonstração do resultado 
do exercício, exige a apresentação da demonstração de resultados acumu-
lados, do relatório dos fluxos de caixa e da projeção dele. Aqui, o papel do 
perito é fundamental. Ele terá a responsabilidade de atestar que os valores 
evidenciados em tais demonstrações representam a veracidade patrimonial 
dessas entidades.
Na concordata, apenas os credores quirografários eram evidenciados. Estes 
são aqueles sem uma garantia real de qualquer recebimento futuro. Além disso, 
o prazo máximo para pagamento era de dois anos. A recuperação judicial, por 
sua vez, tem a obrigação de apresentar a integralidade dos credores e não há 
um prazo para pagamento. Este é definido por meio de acordo com os credores 
e apresentado no plano de recuperação judicial.
A fiscalização da concordata era um encargo do comissário. O devedor 
deveria manter a gestão da empresa sob o processo de concordata sempre 
com esse comissário. Na recuperação judicial, a fiscalização é exercida pelo 
administrador judicial em conjunto com o comitê de credores. O devedor é 
o gestor da empresa devedora. Ele sempre é fiscalizado pelo administrador 
judicial e pelo comitê de credores.
O comitê de credores é algo novo. Ele não existia quando a concordata era o meio 
legal utilizado pelas empresas. Há a possibilidade de esse comitê realizar assembleias, 
por exemplo. No caso da recuperação judicial, tanto o comitê como a assembleia 
de credores possuem importância muito grande no processo. Isso ocorre pois eles 
atuam diretamente tanto na aprovação do plano de recuperação quanto no processo 
de fiscalização. Assim, validam as atitudes tomadas pelos gestores das empresas em 
recuperação.
E quanto à estrutura e ao tamanho das empresas que passam por esse 
processo? No caso da concordata, não havia qualquer diferenciação feita 
para as pequenas e microempresas quando ingressavam com o pedido. Para 
a recuperação judicial, há planos específicos para pequenas e microempresas. 
Esses planos abrangem apenas os credores quirografários. Aqui o papel do 
perito também é importante. Afinal, a definição do tamanho de uma empresa 
possui diversas variáveis a serem consideradas. Além disso, o perito pode 
indicar com precisão o tamanho de uma empresa após uma análise patrimonial 
A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial186
mais minuciosa, não se atendo apenas aos aspectos formais e constitutivos 
da entidade em questão.
Ambos os caminhos, a concordata e a recuperação judicial, são etapas 
prévias do processo que, de maneira limite, desembocaria na falência de 
uma entidade. Ocorrendo tal situação, na concordata o juiz era quem poderia 
decretar a falência a qualquer momento. Bastava que houvesse um pedido 
oriundo de um devedor ou que ficassem comprovados aspectos definidos na 
legislação anterior.
Atualmente, para que se parta da recuperação judicial para a falência, é 
necessário que o juiz a decrete em caso de deliberação por assembleia dos 
credores. A falência também pode ocorrer por descumprimento procedimental 
simples. Isso consiste na não apresentação do plano de recuperação judicial em 
tempo hábil. Além disso, pode ocorrer quando tal plano, após ser apresentado, 
for rejeitado. Posteriormente, caso o plano de recuperação seja aprovado e 
qualquer ponto dele seja descumprido pelos devedores, o juiz também poderá 
decretar a falência.
A legislação evoluiu em termos de oferta de garantia aos credores. Mas 
tudo ainda continua dependendo do desempenhoapós o início do processo de 
recuperação judicial. Este não apresenta nenhuma garantia real aos credores. 
A concordata não é considerada um artifício legal de preservação de uma 
entidade empresarial. Foi criada apenas para adiar o caminho natural que 
algumas entidades faziam até chegar à falência. A recuperação judicial, por 
sua vez, se apresenta como uma possibilidade real e factível de recuperação 
tanto judicial quanto extrajudicial (GARDINO, 2006).
Para isso, se demanda o trabalho do perito em todas as fases das avaliações 
patrimoniais de uma entidade que passa pelo processo de recuperação judicial. 
Ele atua seja na avaliação de débitos ou de créditos, seja na renegociação de 
dívidas e possibilidades de liquidação de ativos não produtivos para aceleração 
do processo de reestruturação.
A perícia funciona como ferramenta adicional no processo de recuperação judicial 
para as empresas. Nesse sentido, se destaca o papel do perito nas avaliações. Ele é 
quase tão importante quanto o papel do próprio gestor do processo de recuperação 
judicial em si.
187A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial
A legislação que versava sobre a concordata apenas começou a ser subs-
tituída em 1993. Nessa época, o primeiro projeto de lei foi apresentado. Tal 
projeto tramitou durante uma década, sendo apresentadas quase 500 emendas 
e 5 substitutivos. Ele foi aprovado definitivamente no fim do ano de 2003 
(FERNANDES, 2004). A versão inicial do projeto tratava da recuperação 
judicial para as empresas e também da liquidação judicial. Esta era a nova 
denominação que se pretendia dar à falência, termo utilizado até os dias de hoje.
Fases procedimentais da recuperação judicial
Formalmente, um processo de recuperação judicial possui três etapas. O 
capítulo III da Lei nº 11.101 (BRASIL, 2005) as evidencia. Essas fases são 
a fase postulatória, a fase deliberativa e a fase de execução. Entre a fase 
postulatória e a fase deliberativa ocorre o momento em que o juiz realiza o 
despacho, indeferindo a recuperação judicial. Por fi m, a aprovação do plano de 
recuperação ocorre entre as fases deliberativa e de execução. Nesse momento, 
já não há interferência direta de um juiz no processo.
Na fase postulatória, ainda não existe a recuperação judicial de direito, 
mas apenas os seus trâmites processuais. Ela começa quando a entidade 
devedora, sempre amparada pelas prerrogativas legais, entra com o pedido 
de recuperação judicial.
A legislação é bem clara com relação aos artigos que se devem utilizar 
para que todos os requisitos de um pedido de recuperação judicial sejam pre-
enchidos. É o caso das disposições específicas do plano e dos procedimentos 
práticos da recuperação.
Como você sabe, a recuperação judicial é um processo que evita a falência das entida-
des. Portanto, a legislação proíbe o seu uso para alguns tipos específicos de empresas. 
É o caso de empresários individuais ou outras sociedades empresariais não sujeitas 
à falência. Também proíbe o uso para as empresas que não estejam registradas na 
Junta Comercial, as instituições financeiras, as seguradoras e as operadoras de planos 
de saúde, desde que estes últimos sejam privados.
A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial188
A legislação ainda estabelece que a empresa devedora só poderá solicitar 
o pedido de recuperação judicial se exercer atividades operacionais há mais 
de dois anos. Além disso, há outras restrições com relação a falências ou 
recuperações judiciais anteriores existentes em seu histórico.
Uma perícia contábil é necessária nesse momento. Ela deve atestar que, 
de fato, a entidade que deseja entrar com o pedido de recuperação judicial 
pode fazer isso. Essa análise pericial considera não somente as demonstra-
ções financeiras, mas outros fatos históricos relacionados com a temática da 
recuperação judicial e da falência para a entidade devedora.
Um profissional contador também deverá auxiliar na confecção do pedido. 
Este deve ser elaborado com as razões que deixaram a empresa em crise e 
com o apenso dos três últimos anos de demonstrações contábeis exigido por 
lei. É necessário evidenciar a situação patrimonial atual, juntamente com as 
três últimas publicações dos seguintes documentos: balanço patrimonial, de-
monstração de resultados acumulados, demonstração do resultado do exercício 
e relatório de fluxo de caixa e de sua proteção.
O relatório que informa o conjunto patrimonial da entidade que pede a 
recuperação judicial, além da confecção das demonstrações contábeis, é um 
encargo exclusivo para o contador da entidade. Obviamente as demonstrações 
contábeis e a situação patrimonial podem ser elaboradas sem representar a 
fidedignidade da situação da entidade. Antes de apresentá-las para compor o 
processo, é aconselhável que passem pelo crivo de um perito-contador. Este 
tem a técnica contábil e, por não possuir qualquer vínculo com a empresa que 
pleiteia a recuperação judicial, fará um trabalho isento de desvios. Assim, 
buscará exclusivamente a evidenciação da realidade patrimonial da entidade.
Na sequência, o juiz delibera sobre as informações apresentadas. Depois, 
toma uma decisão mais técnica, apenas se baseando nos preceitos legais. Em 
um segundo momento, a viabilidade da recuperação da empresa devedora é 
analisada. Então, se ingressa na fase deliberativa.
Encerrado o período em que a empresa devedora solicita a recuperação 
judicial e chegado o momento em que esta é deferida pelo juiz, se inicia a 
fase deliberativa. Nesse momento, se pode dizer que a recuperação judicial, 
de fato, ocorrerá.
É nessa fase que a entidade devedora apresenta o plano de recuperação em 
um prazo de 60 dias. O prazo para a apresentação do plano de recuperação 
não pode ser prorrogado. Caso ele seja extrapolado, é decretada a falência 
da empresa. No plano de recuperação, devem constar informações como os 
meios que serão empregados e, em termos práticos, a viabilidade econômica 
da recuperação da empresa devedora (BARROS, 2009).
189A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial
Na fase deliberativa, adicionalmente, se deve apresentar em juízo um laudo que ateste 
a situação econômica e financeira e também o resultado da avaliação patrimonial da 
entidade devedora. Essa avaliação deve ser realizada por um perito contábil habilitado 
para tal (JULIANO, 2017).
A responsabilidade pela elaboração de todo o plano de recuperação é exclu-
sivamente da própria empresa que possui as dívidas. Assim, ela precisa de um 
contador e de um perito contábil para validar as demonstrações financeiras e 
os relatórios elaborados. A entidade também necessitará de um advogado. Ele 
definirá as orientações jurídicas que se devem seguir para garantir os direitos 
de todos durante todo o processo.
Logo que o pedido de recuperação for aceito em juízo, a entidade devedora 
deve utilizar os serviços desses profissionais para colocar o plano em prática 
integralmente. É necessário iniciar, por exemplo, a prestação de contas perió-
dica. Também se deve dar apoio à gestão e reunir as informações necessárias 
para a comprovação de que o plano de recuperação judicial está proporcionando 
os melhores resultados para todos os interessados.
O artigo 50 da Lei nº 11.101 (BRASIL, 2005) apresenta os diversos meios 
presentes em uma recuperação judicial. Entre eles está a concessão de prazos 
para as liquidações das obrigações vencidas e das que ainda vencerão, as 
alterações de controle societário, a troca de administradores ou qualquer 
modificação nos órgãos administrativos, os aumentos no capital social, as 
reduções salariais ou de jornada de trabalho realizadas por meio de conven-
ção coletiva de trabalho, a criação de sociedade de credores, a venda parcial 
dos bens da entidade, o compartilhamento da gestão, a emissão de títulos ou 
valores mobiliários e a constituição de sociedade de propósito específico, 
entre outras ações possíveis.
Essa fase, ainda de acordo com o dispositivolegal específico, se encerra 
com a apresentação do plano no prazo máximo de 60 dias. Estes são contados 
a partir da publicação do deferimento da recuperação pelo juiz. Sem qualquer 
alternativa, caso esse prazo seja desrespeitado, se decreta a falência da entidade 
devedora, situação esta sem retorno.
A última fase é a de execução, que se inicia com o fim da fase deliberativa. 
É neste momento que a entidade devedora tem a obrigação de cumprir o plano 
de recuperação judicial que foi apresentado e homologado pelo juiz responsável.
A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial190
A execução de tal plano, ou seja, a sua colocação em prática, se dá sob a 
forma da supervisão do administrador judicial. Ele atua juntamente ao comitê 
de credores. Esse administrador judicial possui a função específica de deixar o 
magistrado atualizado com relação ao andamento do processo como um todo. 
Assim, garante o cumprimento do plano de maneira integral.
Nesse período de tempo, a sociedade devedora é obrigada a acrescentar ao 
seu nome a expressão “em recuperação judicial”. Isso serve para aumentar a 
transparência das operações. Além disso, informa de maneira automática a 
qualquer ente externo que a entidade está passando por um período de dificul-
dades. Naturalmente, alguns negócios acabam por não serem concretizados 
por excesso de zelo das empresas externas. Mas os trabalhos profissionais 
específicos, como é o caso daquele feito pelo perito, têm consequências. 
Assim, embora a empresa apresente dificuldades, ela ainda tem condições de 
operar. Você deve perceber, portanto, que tanto os profissionais específicos 
como o juiz que deferiu o plano de recuperação judicial identificaram que há 
viabilidade no processo.
Se, por qualquer razão, a entidade devedora não utilizar a expressão “em recuperação 
judicial”, a responsabilidade civil direta passa a ser dos gestores e dos administradores. 
Dessa forma, eles devem responder por quaisquer prejuízos que eventualmente sejam 
gerados por aqueles que fizerem negócios com a entidade em recuperação judicial.
Órgãos legais para a recuperação judicial
A legislação prevê de maneira específi ca os órgãos que atuam durante o 
processo de recuperação judicial. Eles são constituídos pelo juiz, pelos repre-
sentantes do Ministério Público, pelo administrador judicial, pela assembleia 
geral de credores e pelo comitê de credores.
O juiz é o personagem responsável por homologar o plano de recuperação 
judicial em si. Ele também realiza o deferimento da recuperação judicial. Além 
disso, pode ser o responsável por decretar a falência da entidade devedora.
A legislação prévia, que tratava sobre o artifício legal da concordata, dava 
importância distinta à figura do magistrado. Atualmente, ele possui uma função 
mais administrativa, pois exerce um controle rigoroso de todo o processo. Em 
191A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial
termos práticos, ele acaba por ser algo como o gerente do processo. Afinal, 
todas as decisões tomadas no processo devem passar por aprovação dele. Desde 
o início até o fim do processo, passando até mesmo pela decisão de venda 
de ativos da entidade devedora, tudo deve possuir o consentimento do juiz.
Mesmo com o aumento de poderes da assembleia geral de credores, que pode 
aprovar ou não o plano de recuperação, o papel do juiz continua importante. Ele não 
é obrigado a decretar a falência em caso de rejeição do plano de recuperação judicial 
por parte dos credores. Nessa situação, pode verificar e conformar a viabilidade 
da entidade devedora, bem como solicitar um novo plano de recuperação. Depois 
de obter um novo plano de recuperação, caberá ao juiz submetê-lo aos credores.
No caso de se apresentar um novo plano, é comum ocorrer uma nova atuação do 
perito. O objetivo disso é garantir que todas as informações a serem apresentadas ao 
juiz sejam validadas externamente.
O Ministério Público é outro órgão atuante nos processos de recuperação 
judicial. Contudo, ele atua apenas nos procedimentos de falência e de recu-
peração judicial. Nos casos de recuperação extrajudicial, não há qualquer 
menção no texto legal.
Entenda melhor como funciona o Ministério Público 
(PARANÁ, 2009) acessando o link ou o código a seguir: 
https://goo.gl/r8OTaa
O texto legal ainda destaca a obrigação do juiz de informar ao Ministério 
Público acerca do deferimento ou não do pedido de recuperação judicial ou 
A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial192
https://goo.gl/r8OTaa
da decretação da falência, dependendo da situação apresentada. Nesse caso, 
o juiz solicita o parecer desse órgão oficial.
O Ministério Público, por sua vez, tem a atribuição de fiscalizar a execução 
integral da lei que versa sobre a recuperação judicial e o processo de falência. Ele 
atua como o verdadeiro defensor dos interesses públicos e da entidade devedora.
O administrador judicial surgiu apenas com a promulgação da lei de 2005, 
não existindo antes disso. Também deixaram de existir as figuras do comis-
sário e do síndico, um atuando nos casos de concordata e o outro nos casos 
de falência, respectivamente.
O administrador judicial atua como um superintendente, definido pelo juiz. 
Ele tem o encargo de realizar atividades de caráter burocrático no decorrer do 
processo, sendo gerente da massa falida depois de decretada a falência. Nos 
casos de recuperação judicial, ele realiza a análise da gestão exercida pelos 
administradores da entidade devedora, reportando as ações ao juiz sempre que 
necessário. Em todos os processos de recuperação judicial, ele é um auxiliar 
do juiz e atua sob supervisão direta dele. 
A legislação deixa clara qual é a formação desejada para o administrador judicial. Além 
de idôneo, ele deve preferencialmente ser advogado, economista, administrador de 
empresas ou contador. Há a última alternativa de o administrador judicial ser não uma 
pessoa física, mas uma pessoa jurídica. Nesse caso, deve apresentar a expertise e os 
recursos humanos necessários para a realização da tarefa.
O administrador judicial possui atribuições como a verificação de créditos, 
a análise de livros contábeis, documentos fiscais e comerciais, a notificação 
e a prestação de informações aos credores, a elaboração do quadro geral dos 
credores, a fiscalização da entidade devedora e a apresentação ao juiz do 
relatório mensal de atividades desempenhadas pela entidade devedora.
Você deve saber que não é função do administrador judicial administrar, 
de fato, a entidade devedora. Ele é responsável apenas pela fiscalização e pela 
supervisão das atividades. A única situação em que o administrador judicial 
tomará a frente da gestão de uma entidade devedora é no caso de afastamento 
do gestor principal, seja por má gestão ou por fraude. Contudo, isso ocorre 
apenas até que o juiz defina quem será o outro gestor judicial.
193A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial
As pessoas jurídicas com possível nomeação para a função de administra-
dor judicial são as entidades que prestam serviços de auditoria, consultoria 
econômica ou financeira e administração de patrimônio de terceiros. Essa 
empresa, após ser nomeada pelo juiz, deve indicar um responsável pelos 
trabalhos a serem realizados. A eventual substituição dele apenas ocorrerá 
após autorização expressa do juiz responsável pelo caso.
Os credores também tiveram sua importância aumentada depois de a 
legislação de 2005 entrar em vigor. Isso ocorreu pois foi criada uma assem-
bleia geral dos credores e do comitê de credores. Tal participação sempre 
busca a manutenção dos interesses dos credores em decorrência do processo 
de recuperação judicial. No entanto, de maneira geral, os credores ainda 
continuam apenas com um papel simples na redução das possibilidades de 
recuperação da entidade devedora. Isso ocorre justamente pela descrença no 
processo falimentar.
Essa assembleia atua deliberando sobre matérias relacionadasdireta ou 
indiretamente com os credores. Também atua na recuperação judicial e na 
falência. No caso da recuperação judicial, pode aprovar, reprovar ou rejeitar 
o plano de recuperação, entre outras atribuições menos importantes. Já na 
falência, constitui o comitê de credores, escolhe os membros e os substitutos, 
além de outras atribuições com menor importância.
Esse comitê de credores é opcional, de acordo com a lei. Ele atua na fiscali-
zação do trabalho do administrador judicial, examinando relatórios periódicos 
enviados anexados ao processo. No entanto, esse comitê deve apresentar o 
próprio relatório. Nele, precisa evidenciar a realidade encontrada durante os 
trabalhos de fiscalização efetuados.
O perito pode atuar diretamente em um comitê de credores como profis-
sional contratado para a validação dos valores apresentados. Nesse sentido, 
defende não somente os interesses dos credores, mas também de todo o pro-
cesso de recuperação judicial. Essa atuação pode ocorrer em conjunto com 
um contador, profissional que o mesmo comitê também pode contratar.
A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial194
1. Quanto aos aspectos relativos 
à nova lei da falência e aos 
conhecimentos que o perito precisa 
ter para lidar com tais situações, 
que novo elemento passou a 
vigorar a partir de 2005? 
a) Recuperação judicial
b) Concordata
c) Falência
d) Dissolução total
e) Dissolução parcial
2. A concordata, vigente juridicamente 
até 2005, foi substituída pela 
recuperação judicial. Ambos 
os instrumentos legais são 
bastante diferentes e com 
propósitos específicos. Como 
eles podem se diferenciar no 
ambiente legislativo? 
a) Na concordata, se exigia igual 
número de demonstrações de 
um período recente e a relação 
de credores existentes. Já na 
recuperação, o número é maior 
e o período exigido é de três 
anos, bem como é necessário um 
plano de recuperação judicial.
b) Na concordata, se exigiam 
menos demonstrações de um 
período passado e a relação 
de credores existentes. Já na 
recuperação, o número é maior 
e o período exigido é de três 
anos, bem como é necessário um 
plano de recuperação judicial.
c) Na concordata, se exigiam 
menos demonstrações de um 
período recente e a relação 
de credores existentes. Já na 
recuperação, o número é maior 
e o período exigido é de três 
anos, bem como é necessário um 
plano de recuperação judicial.
d) Na concordata, se exigiam 
menos demonstrações de um 
período recente e a relação 
de credores existentes. Já na 
recuperação, o número é maior 
e o período exigido é de seis 
anos, bem como é necessário um 
plano de recuperação judicial.
e) Na concordata, se exigiam menos 
demonstrações de um período 
recente e a relação de credores 
existentes. Já na recuperação, 
o número é maior e o período 
exigido é de três anos, bem 
como é necessário um plano 
de recuperação gerencial.
3. O processo de recuperação judicial 
possui, de maneira formal, três etapas 
distintas. Entre quais fases o juiz realiza 
o despacho deferindo ou indeferindo 
o pedido de recuperação judicial?
a) Entre a fase postulatória 
e a deliberativa.
b) Entre a fase inicial e 
a postulatória.
c) Entre a fase postulatória 
e a de execução.
d) Entre a fase deliberativa 
e a de execução.
e) Entre a fase de execução 
e a finalização.
4. Na fase final da recuperação judicial, 
ocorre a execução do plano de 
recuperação propriamente dito. 
Esse plano foi apresentado pela 
entidade requerente e homologado 
pelo juiz responsável. Para que tal 
plano seja colocado em prática, 
o que se deve observar?
195A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial
a) Supervisão de um administrador 
judicial que atua junto com 
o comitê de credores.
b) Supervisão de um 
perito somente.
c) Supervisão do juiz.
d) Supervisão do comitê de credores.
e) O administrador judicial somente.
5. Existem diversos órgãos que operam 
no processo de recuperação judicial. 
Assinale a alternativa que apresenta 
o(s) órgão(s) atuante(s) nos processos 
de recuperação, tanto na esfera 
judicial quanto na extrajudicial.
a) O Ministério Público, mas 
apenas para a recuperação 
judicial. Não há menção 
específica para os processos 
de recuperação 
extrajudicial.
b) A Receita Federal e o 
Ministério Público.
c) O Juizado Especial e o 
Ministério Público.
d) O Ministério Público em 
ambos os casos.
e) O Tribunal de Contas e 
o Ministério Público.
BARROS, F. A. M. Falência: recuperação judicial e extrajudicial. São Paulo: MB, 2009.
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A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial196
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http://roteirodepericias.com.br/2017/05/10/o-que-e-laudo-pericial-
http://www.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=44
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
 
Conteúdo:
	Perícia Contábil I_U3_C17

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