Prévia do material em texto
Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 P441 Perícia contábil I / Aline Alves ... [et al.] ; [revisão técnica: Lilian Martins]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 330 p. il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-150-1 1. Contabilidade - Perícia. I. Alves, Aline. CDU 657 Revisão técnica: Lilian Martins Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário Professora do Curso de Ciências Contábeis Coordenadora do Núcleo de Assessoramento Fiscal (NAF) das Faculdades São Judas Tadeu A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Elencar as diferenças entre concordata e recuperação judicial. Discutir as fases procedimentais da recuperação judicial. De� nir os órgãos legais para a recuperação judicial. Introdução A concordata, anteriormente existente no Brasil, era utilizada, geralmente, como auxílio ao cumprimento de prazos, pelo titular de uma dívida. Isso possibilitava a dilatação desses prazos para o pagamento. Com a mudança das questões legais, passa a vigorar, a partir de 2005, a recuperação judicial. Ela é diferente da concordata, respeitando a função legal da empresa. Nesse sentido, exige muito mais do perito e do juiz. Estes devem definir a capacidade da empresa de se recuperar judicialmente ou não. Neste texto, você irá compreender os principais aspectos da recu- peração judicial, suas fases e todos os órgãos envolvidos. Além disso, compreenderá a sua evolução histórica e como o papel do perito é decisivo nas questões que envolvem o patrimônio das entidades. Concordata versus recuperação judicial A concordata não existe mais em termos legais. Antes de ser extinta, ela au- xiliava o titular de uma dívida no cumprimento da obrigação. Assim, reduzia os valores devidos ou aumentava os prazos para pagamento. Desde 2005, passou a vigorar a recuperação judicial. Ela trabalha os pontos práticos de maneira diferente. Reconhece o papel social que uma empresa possui perante toda a sociedade e sempre visa a manter o devedor com pos- sibilidades de reestruturação financeira e operacional. A concordata preventiva possui previsão legal bem mais antiga, datada da década de 1940 (BRASIL, 1945). Já a recuperação judicial é relativamente recente. Ela é derivada de lei ordinária aprovada na metade da primeira década dos anos 2000 (BRASIL, 2005). A nova legislação que criou a recuperação judicial trouxe consequências para o trabalho do perito. As análises realizadas e todo o arcabouço teórico utilizado passaram a ter um objetivo adicional. Esse objetivo consiste em manter a estrutura empresarial ou, no mínimo, buscar maneiras legais e menos prejudiciais de manter as atividades operacionais. Isso tanto para a empresa como para seus credores. Agora considere os objetivos que cada artifício legal possui. A concordata auxilia o devedor a cumprir com o que foi contratado em termos de obriga- ções. Tudo para evitar a falência da sociedade empresarial. Já a recuperação judicial busca manter a função social da sociedade empresarial que deve. Ela auxilia na recuperação frente a uma crise econômica ou financeira, também mantendo os recursos produtivos em plena operação. Por um lado, a concordata tinha o poder de aumentar os prazos para pa- gamento. Muitas vezes, até reduzia os valores totais de algumas dívidas que a sociedade empresarial possuía. Por outro, a recuperação judicial trabalha na elaboração de um plano de recuperação para ser mostrado aos credores. Assim, evidencia os prazos e as condições de forma clara. Tudo tendo como meta única o pagamento total das obrigações previamente adquiridas. Para solicitar a concordata, o devedor tinha de apresentar, além das de- monstrações financeiras do exercício social mais recente, a relação de cre- dores existentes. Para que seja iniciada a recuperação judicial, o processo é um pouco diferente. As demonstrações financeiras necessárias são as dos últimos três anos. Também se exigem a relação dos credores ativos e o plano de recuperação judicial em si. As demonstrações financeiras exigidas para a concordata eram o ba- lanço patrimonial, a demonstração de lucros ou prejuízos acumulados e a demonstração do resultado. Essa mudança foi substancial para a recuperação 185A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial judicial. Esta, além do balanço patrimonial e da demonstração do resultado do exercício, exige a apresentação da demonstração de resultados acumu- lados, do relatório dos fluxos de caixa e da projeção dele. Aqui, o papel do perito é fundamental. Ele terá a responsabilidade de atestar que os valores evidenciados em tais demonstrações representam a veracidade patrimonial dessas entidades. Na concordata, apenas os credores quirografários eram evidenciados. Estes são aqueles sem uma garantia real de qualquer recebimento futuro. Além disso, o prazo máximo para pagamento era de dois anos. A recuperação judicial, por sua vez, tem a obrigação de apresentar a integralidade dos credores e não há um prazo para pagamento. Este é definido por meio de acordo com os credores e apresentado no plano de recuperação judicial. A fiscalização da concordata era um encargo do comissário. O devedor deveria manter a gestão da empresa sob o processo de concordata sempre com esse comissário. Na recuperação judicial, a fiscalização é exercida pelo administrador judicial em conjunto com o comitê de credores. O devedor é o gestor da empresa devedora. Ele sempre é fiscalizado pelo administrador judicial e pelo comitê de credores. O comitê de credores é algo novo. Ele não existia quando a concordata era o meio legal utilizado pelas empresas. Há a possibilidade de esse comitê realizar assembleias, por exemplo. No caso da recuperação judicial, tanto o comitê como a assembleia de credores possuem importância muito grande no processo. Isso ocorre pois eles atuam diretamente tanto na aprovação do plano de recuperação quanto no processo de fiscalização. Assim, validam as atitudes tomadas pelos gestores das empresas em recuperação. E quanto à estrutura e ao tamanho das empresas que passam por esse processo? No caso da concordata, não havia qualquer diferenciação feita para as pequenas e microempresas quando ingressavam com o pedido. Para a recuperação judicial, há planos específicos para pequenas e microempresas. Esses planos abrangem apenas os credores quirografários. Aqui o papel do perito também é importante. Afinal, a definição do tamanho de uma empresa possui diversas variáveis a serem consideradas. Além disso, o perito pode indicar com precisão o tamanho de uma empresa após uma análise patrimonial A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial186 mais minuciosa, não se atendo apenas aos aspectos formais e constitutivos da entidade em questão. Ambos os caminhos, a concordata e a recuperação judicial, são etapas prévias do processo que, de maneira limite, desembocaria na falência de uma entidade. Ocorrendo tal situação, na concordata o juiz era quem poderia decretar a falência a qualquer momento. Bastava que houvesse um pedido oriundo de um devedor ou que ficassem comprovados aspectos definidos na legislação anterior. Atualmente, para que se parta da recuperação judicial para a falência, é necessário que o juiz a decrete em caso de deliberação por assembleia dos credores. A falência também pode ocorrer por descumprimento procedimental simples. Isso consiste na não apresentação do plano de recuperação judicial em tempo hábil. Além disso, pode ocorrer quando tal plano, após ser apresentado, for rejeitado. Posteriormente, caso o plano de recuperação seja aprovado e qualquer ponto dele seja descumprido pelos devedores, o juiz também poderá decretar a falência. A legislação evoluiu em termos de oferta de garantia aos credores. Mas tudo ainda continua dependendo do desempenhoapós o início do processo de recuperação judicial. Este não apresenta nenhuma garantia real aos credores. A concordata não é considerada um artifício legal de preservação de uma entidade empresarial. Foi criada apenas para adiar o caminho natural que algumas entidades faziam até chegar à falência. A recuperação judicial, por sua vez, se apresenta como uma possibilidade real e factível de recuperação tanto judicial quanto extrajudicial (GARDINO, 2006). Para isso, se demanda o trabalho do perito em todas as fases das avaliações patrimoniais de uma entidade que passa pelo processo de recuperação judicial. Ele atua seja na avaliação de débitos ou de créditos, seja na renegociação de dívidas e possibilidades de liquidação de ativos não produtivos para aceleração do processo de reestruturação. A perícia funciona como ferramenta adicional no processo de recuperação judicial para as empresas. Nesse sentido, se destaca o papel do perito nas avaliações. Ele é quase tão importante quanto o papel do próprio gestor do processo de recuperação judicial em si. 187A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial A legislação que versava sobre a concordata apenas começou a ser subs- tituída em 1993. Nessa época, o primeiro projeto de lei foi apresentado. Tal projeto tramitou durante uma década, sendo apresentadas quase 500 emendas e 5 substitutivos. Ele foi aprovado definitivamente no fim do ano de 2003 (FERNANDES, 2004). A versão inicial do projeto tratava da recuperação judicial para as empresas e também da liquidação judicial. Esta era a nova denominação que se pretendia dar à falência, termo utilizado até os dias de hoje. Fases procedimentais da recuperação judicial Formalmente, um processo de recuperação judicial possui três etapas. O capítulo III da Lei nº 11.101 (BRASIL, 2005) as evidencia. Essas fases são a fase postulatória, a fase deliberativa e a fase de execução. Entre a fase postulatória e a fase deliberativa ocorre o momento em que o juiz realiza o despacho, indeferindo a recuperação judicial. Por fi m, a aprovação do plano de recuperação ocorre entre as fases deliberativa e de execução. Nesse momento, já não há interferência direta de um juiz no processo. Na fase postulatória, ainda não existe a recuperação judicial de direito, mas apenas os seus trâmites processuais. Ela começa quando a entidade devedora, sempre amparada pelas prerrogativas legais, entra com o pedido de recuperação judicial. A legislação é bem clara com relação aos artigos que se devem utilizar para que todos os requisitos de um pedido de recuperação judicial sejam pre- enchidos. É o caso das disposições específicas do plano e dos procedimentos práticos da recuperação. Como você sabe, a recuperação judicial é um processo que evita a falência das entida- des. Portanto, a legislação proíbe o seu uso para alguns tipos específicos de empresas. É o caso de empresários individuais ou outras sociedades empresariais não sujeitas à falência. Também proíbe o uso para as empresas que não estejam registradas na Junta Comercial, as instituições financeiras, as seguradoras e as operadoras de planos de saúde, desde que estes últimos sejam privados. A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial188 A legislação ainda estabelece que a empresa devedora só poderá solicitar o pedido de recuperação judicial se exercer atividades operacionais há mais de dois anos. Além disso, há outras restrições com relação a falências ou recuperações judiciais anteriores existentes em seu histórico. Uma perícia contábil é necessária nesse momento. Ela deve atestar que, de fato, a entidade que deseja entrar com o pedido de recuperação judicial pode fazer isso. Essa análise pericial considera não somente as demonstra- ções financeiras, mas outros fatos históricos relacionados com a temática da recuperação judicial e da falência para a entidade devedora. Um profissional contador também deverá auxiliar na confecção do pedido. Este deve ser elaborado com as razões que deixaram a empresa em crise e com o apenso dos três últimos anos de demonstrações contábeis exigido por lei. É necessário evidenciar a situação patrimonial atual, juntamente com as três últimas publicações dos seguintes documentos: balanço patrimonial, de- monstração de resultados acumulados, demonstração do resultado do exercício e relatório de fluxo de caixa e de sua proteção. O relatório que informa o conjunto patrimonial da entidade que pede a recuperação judicial, além da confecção das demonstrações contábeis, é um encargo exclusivo para o contador da entidade. Obviamente as demonstrações contábeis e a situação patrimonial podem ser elaboradas sem representar a fidedignidade da situação da entidade. Antes de apresentá-las para compor o processo, é aconselhável que passem pelo crivo de um perito-contador. Este tem a técnica contábil e, por não possuir qualquer vínculo com a empresa que pleiteia a recuperação judicial, fará um trabalho isento de desvios. Assim, buscará exclusivamente a evidenciação da realidade patrimonial da entidade. Na sequência, o juiz delibera sobre as informações apresentadas. Depois, toma uma decisão mais técnica, apenas se baseando nos preceitos legais. Em um segundo momento, a viabilidade da recuperação da empresa devedora é analisada. Então, se ingressa na fase deliberativa. Encerrado o período em que a empresa devedora solicita a recuperação judicial e chegado o momento em que esta é deferida pelo juiz, se inicia a fase deliberativa. Nesse momento, se pode dizer que a recuperação judicial, de fato, ocorrerá. É nessa fase que a entidade devedora apresenta o plano de recuperação em um prazo de 60 dias. O prazo para a apresentação do plano de recuperação não pode ser prorrogado. Caso ele seja extrapolado, é decretada a falência da empresa. No plano de recuperação, devem constar informações como os meios que serão empregados e, em termos práticos, a viabilidade econômica da recuperação da empresa devedora (BARROS, 2009). 189A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial Na fase deliberativa, adicionalmente, se deve apresentar em juízo um laudo que ateste a situação econômica e financeira e também o resultado da avaliação patrimonial da entidade devedora. Essa avaliação deve ser realizada por um perito contábil habilitado para tal (JULIANO, 2017). A responsabilidade pela elaboração de todo o plano de recuperação é exclu- sivamente da própria empresa que possui as dívidas. Assim, ela precisa de um contador e de um perito contábil para validar as demonstrações financeiras e os relatórios elaborados. A entidade também necessitará de um advogado. Ele definirá as orientações jurídicas que se devem seguir para garantir os direitos de todos durante todo o processo. Logo que o pedido de recuperação for aceito em juízo, a entidade devedora deve utilizar os serviços desses profissionais para colocar o plano em prática integralmente. É necessário iniciar, por exemplo, a prestação de contas perió- dica. Também se deve dar apoio à gestão e reunir as informações necessárias para a comprovação de que o plano de recuperação judicial está proporcionando os melhores resultados para todos os interessados. O artigo 50 da Lei nº 11.101 (BRASIL, 2005) apresenta os diversos meios presentes em uma recuperação judicial. Entre eles está a concessão de prazos para as liquidações das obrigações vencidas e das que ainda vencerão, as alterações de controle societário, a troca de administradores ou qualquer modificação nos órgãos administrativos, os aumentos no capital social, as reduções salariais ou de jornada de trabalho realizadas por meio de conven- ção coletiva de trabalho, a criação de sociedade de credores, a venda parcial dos bens da entidade, o compartilhamento da gestão, a emissão de títulos ou valores mobiliários e a constituição de sociedade de propósito específico, entre outras ações possíveis. Essa fase, ainda de acordo com o dispositivolegal específico, se encerra com a apresentação do plano no prazo máximo de 60 dias. Estes são contados a partir da publicação do deferimento da recuperação pelo juiz. Sem qualquer alternativa, caso esse prazo seja desrespeitado, se decreta a falência da entidade devedora, situação esta sem retorno. A última fase é a de execução, que se inicia com o fim da fase deliberativa. É neste momento que a entidade devedora tem a obrigação de cumprir o plano de recuperação judicial que foi apresentado e homologado pelo juiz responsável. A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial190 A execução de tal plano, ou seja, a sua colocação em prática, se dá sob a forma da supervisão do administrador judicial. Ele atua juntamente ao comitê de credores. Esse administrador judicial possui a função específica de deixar o magistrado atualizado com relação ao andamento do processo como um todo. Assim, garante o cumprimento do plano de maneira integral. Nesse período de tempo, a sociedade devedora é obrigada a acrescentar ao seu nome a expressão “em recuperação judicial”. Isso serve para aumentar a transparência das operações. Além disso, informa de maneira automática a qualquer ente externo que a entidade está passando por um período de dificul- dades. Naturalmente, alguns negócios acabam por não serem concretizados por excesso de zelo das empresas externas. Mas os trabalhos profissionais específicos, como é o caso daquele feito pelo perito, têm consequências. Assim, embora a empresa apresente dificuldades, ela ainda tem condições de operar. Você deve perceber, portanto, que tanto os profissionais específicos como o juiz que deferiu o plano de recuperação judicial identificaram que há viabilidade no processo. Se, por qualquer razão, a entidade devedora não utilizar a expressão “em recuperação judicial”, a responsabilidade civil direta passa a ser dos gestores e dos administradores. Dessa forma, eles devem responder por quaisquer prejuízos que eventualmente sejam gerados por aqueles que fizerem negócios com a entidade em recuperação judicial. Órgãos legais para a recuperação judicial A legislação prevê de maneira específi ca os órgãos que atuam durante o processo de recuperação judicial. Eles são constituídos pelo juiz, pelos repre- sentantes do Ministério Público, pelo administrador judicial, pela assembleia geral de credores e pelo comitê de credores. O juiz é o personagem responsável por homologar o plano de recuperação judicial em si. Ele também realiza o deferimento da recuperação judicial. Além disso, pode ser o responsável por decretar a falência da entidade devedora. A legislação prévia, que tratava sobre o artifício legal da concordata, dava importância distinta à figura do magistrado. Atualmente, ele possui uma função mais administrativa, pois exerce um controle rigoroso de todo o processo. Em 191A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial termos práticos, ele acaba por ser algo como o gerente do processo. Afinal, todas as decisões tomadas no processo devem passar por aprovação dele. Desde o início até o fim do processo, passando até mesmo pela decisão de venda de ativos da entidade devedora, tudo deve possuir o consentimento do juiz. Mesmo com o aumento de poderes da assembleia geral de credores, que pode aprovar ou não o plano de recuperação, o papel do juiz continua importante. Ele não é obrigado a decretar a falência em caso de rejeição do plano de recuperação judicial por parte dos credores. Nessa situação, pode verificar e conformar a viabilidade da entidade devedora, bem como solicitar um novo plano de recuperação. Depois de obter um novo plano de recuperação, caberá ao juiz submetê-lo aos credores. No caso de se apresentar um novo plano, é comum ocorrer uma nova atuação do perito. O objetivo disso é garantir que todas as informações a serem apresentadas ao juiz sejam validadas externamente. O Ministério Público é outro órgão atuante nos processos de recuperação judicial. Contudo, ele atua apenas nos procedimentos de falência e de recu- peração judicial. Nos casos de recuperação extrajudicial, não há qualquer menção no texto legal. Entenda melhor como funciona o Ministério Público (PARANÁ, 2009) acessando o link ou o código a seguir: https://goo.gl/r8OTaa O texto legal ainda destaca a obrigação do juiz de informar ao Ministério Público acerca do deferimento ou não do pedido de recuperação judicial ou A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial192 https://goo.gl/r8OTaa da decretação da falência, dependendo da situação apresentada. Nesse caso, o juiz solicita o parecer desse órgão oficial. O Ministério Público, por sua vez, tem a atribuição de fiscalizar a execução integral da lei que versa sobre a recuperação judicial e o processo de falência. Ele atua como o verdadeiro defensor dos interesses públicos e da entidade devedora. O administrador judicial surgiu apenas com a promulgação da lei de 2005, não existindo antes disso. Também deixaram de existir as figuras do comis- sário e do síndico, um atuando nos casos de concordata e o outro nos casos de falência, respectivamente. O administrador judicial atua como um superintendente, definido pelo juiz. Ele tem o encargo de realizar atividades de caráter burocrático no decorrer do processo, sendo gerente da massa falida depois de decretada a falência. Nos casos de recuperação judicial, ele realiza a análise da gestão exercida pelos administradores da entidade devedora, reportando as ações ao juiz sempre que necessário. Em todos os processos de recuperação judicial, ele é um auxiliar do juiz e atua sob supervisão direta dele. A legislação deixa clara qual é a formação desejada para o administrador judicial. Além de idôneo, ele deve preferencialmente ser advogado, economista, administrador de empresas ou contador. Há a última alternativa de o administrador judicial ser não uma pessoa física, mas uma pessoa jurídica. Nesse caso, deve apresentar a expertise e os recursos humanos necessários para a realização da tarefa. O administrador judicial possui atribuições como a verificação de créditos, a análise de livros contábeis, documentos fiscais e comerciais, a notificação e a prestação de informações aos credores, a elaboração do quadro geral dos credores, a fiscalização da entidade devedora e a apresentação ao juiz do relatório mensal de atividades desempenhadas pela entidade devedora. Você deve saber que não é função do administrador judicial administrar, de fato, a entidade devedora. Ele é responsável apenas pela fiscalização e pela supervisão das atividades. A única situação em que o administrador judicial tomará a frente da gestão de uma entidade devedora é no caso de afastamento do gestor principal, seja por má gestão ou por fraude. Contudo, isso ocorre apenas até que o juiz defina quem será o outro gestor judicial. 193A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial As pessoas jurídicas com possível nomeação para a função de administra- dor judicial são as entidades que prestam serviços de auditoria, consultoria econômica ou financeira e administração de patrimônio de terceiros. Essa empresa, após ser nomeada pelo juiz, deve indicar um responsável pelos trabalhos a serem realizados. A eventual substituição dele apenas ocorrerá após autorização expressa do juiz responsável pelo caso. Os credores também tiveram sua importância aumentada depois de a legislação de 2005 entrar em vigor. Isso ocorreu pois foi criada uma assem- bleia geral dos credores e do comitê de credores. Tal participação sempre busca a manutenção dos interesses dos credores em decorrência do processo de recuperação judicial. No entanto, de maneira geral, os credores ainda continuam apenas com um papel simples na redução das possibilidades de recuperação da entidade devedora. Isso ocorre justamente pela descrença no processo falimentar. Essa assembleia atua deliberando sobre matérias relacionadasdireta ou indiretamente com os credores. Também atua na recuperação judicial e na falência. No caso da recuperação judicial, pode aprovar, reprovar ou rejeitar o plano de recuperação, entre outras atribuições menos importantes. Já na falência, constitui o comitê de credores, escolhe os membros e os substitutos, além de outras atribuições com menor importância. Esse comitê de credores é opcional, de acordo com a lei. Ele atua na fiscali- zação do trabalho do administrador judicial, examinando relatórios periódicos enviados anexados ao processo. No entanto, esse comitê deve apresentar o próprio relatório. Nele, precisa evidenciar a realidade encontrada durante os trabalhos de fiscalização efetuados. O perito pode atuar diretamente em um comitê de credores como profis- sional contratado para a validação dos valores apresentados. Nesse sentido, defende não somente os interesses dos credores, mas também de todo o pro- cesso de recuperação judicial. Essa atuação pode ocorrer em conjunto com um contador, profissional que o mesmo comitê também pode contratar. A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial194 1. Quanto aos aspectos relativos à nova lei da falência e aos conhecimentos que o perito precisa ter para lidar com tais situações, que novo elemento passou a vigorar a partir de 2005? a) Recuperação judicial b) Concordata c) Falência d) Dissolução total e) Dissolução parcial 2. A concordata, vigente juridicamente até 2005, foi substituída pela recuperação judicial. Ambos os instrumentos legais são bastante diferentes e com propósitos específicos. Como eles podem se diferenciar no ambiente legislativo? a) Na concordata, se exigia igual número de demonstrações de um período recente e a relação de credores existentes. Já na recuperação, o número é maior e o período exigido é de três anos, bem como é necessário um plano de recuperação judicial. b) Na concordata, se exigiam menos demonstrações de um período passado e a relação de credores existentes. Já na recuperação, o número é maior e o período exigido é de três anos, bem como é necessário um plano de recuperação judicial. c) Na concordata, se exigiam menos demonstrações de um período recente e a relação de credores existentes. Já na recuperação, o número é maior e o período exigido é de três anos, bem como é necessário um plano de recuperação judicial. d) Na concordata, se exigiam menos demonstrações de um período recente e a relação de credores existentes. Já na recuperação, o número é maior e o período exigido é de seis anos, bem como é necessário um plano de recuperação judicial. e) Na concordata, se exigiam menos demonstrações de um período recente e a relação de credores existentes. Já na recuperação, o número é maior e o período exigido é de três anos, bem como é necessário um plano de recuperação gerencial. 3. O processo de recuperação judicial possui, de maneira formal, três etapas distintas. Entre quais fases o juiz realiza o despacho deferindo ou indeferindo o pedido de recuperação judicial? a) Entre a fase postulatória e a deliberativa. b) Entre a fase inicial e a postulatória. c) Entre a fase postulatória e a de execução. d) Entre a fase deliberativa e a de execução. e) Entre a fase de execução e a finalização. 4. Na fase final da recuperação judicial, ocorre a execução do plano de recuperação propriamente dito. Esse plano foi apresentado pela entidade requerente e homologado pelo juiz responsável. Para que tal plano seja colocado em prática, o que se deve observar? 195A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial a) Supervisão de um administrador judicial que atua junto com o comitê de credores. b) Supervisão de um perito somente. c) Supervisão do juiz. d) Supervisão do comitê de credores. e) O administrador judicial somente. 5. Existem diversos órgãos que operam no processo de recuperação judicial. Assinale a alternativa que apresenta o(s) órgão(s) atuante(s) nos processos de recuperação, tanto na esfera judicial quanto na extrajudicial. a) O Ministério Público, mas apenas para a recuperação judicial. Não há menção específica para os processos de recuperação extrajudicial. b) A Receita Federal e o Ministério Público. c) O Juizado Especial e o Ministério Público. d) O Ministério Público em ambos os casos. e) O Tribunal de Contas e o Ministério Público. BARROS, F. A. M. Falência: recuperação judicial e extrajudicial. São Paulo: MB, 2009. BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Brasília, DF, 1945. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del7661.htm>. Acesso em: 18 set. 2017. BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Brasília, DF, 2005. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 18 set. 2017. FERNANDES, W. A proposta da nova lei de falências e os efeitos na atividade pericial contábil. 2004. 142 f. Dissertação (Mestrado)–Faculdade Escola de Comércio Álvares Penteado, São Paulo, 2004. GARDINO, A. V. P. A evolução do tratamento jurídico da empresa em crise no direito brasileiro. 2006. 221 f. Dissertação (Mestrado)–Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. JULIANO, R. O que é laudo pericial, laudo do perito? Rio Grande: Roteiro de Perícias, 2017. Disponível em: <http://roteirodepericias.com.br/2017/05/10/o-que-e-laudo-pericial- -laudo-do-perito/>. Acesso em: 18 set. 2017. PARANÁ. Ministério Público. O ministério público. Curitiba, 2009. Disponível em: <http:// www.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=44>. Acesso em: 19 set. 2017. A perícia contábil na nova lei da falência e recuperação judicial196 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del7661.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://roteirodepericias.com.br/2017/05/10/o-que-e-laudo-pericial- http://www.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=44 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: Perícia Contábil I_U3_C17