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Arcadismo no Brasil

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ARCADISMO AULA 
Arcadismo no Brasil 
Contexto histórico 
• Ciclo do Ouro, Minas Gerais. 
• Inconfidência Mineira 
O Século das Luzes 
Quando se supera o momento da reação católica, com o reaparecimento Inquisição e da 
perseguição aos hereges, o fim do século XVII testemunha uma importante mudança de mentalidade. 
Com as descobertas do físico Isaac Newton (1643-1727) sobre a gravitação universal e o 
movimento dos corpos, a pesquisa científica propõe uma visão da natureza como se ela fosse uma 
máquina, um relógio. A natureza pode ser explicada e prevista. 
O ser humano recupera o desejo de encontrar explicações racionais para os fenômenos da 
natureza. O medo da condenação eterna enfraquece. Grandes filósofos franceses, como Descartes, 
Voltaire, Diderot, Rousseau, adotam a razão como medida para analisar as crenças tradicionais, 
a razão e a ciência seriam os “faróis” que guiariam o ser humano. Por esse motivo, metaforicamente 
razão representa nesse momento a “luz interior”. Essa postura, que valoriza o conhecimento científico 
e racional, foi definida como iluminista. 
Assim os artistas do século XVIII elegem a natureza como principal modelo a ser imitado, 
por isso o nome arcadismo, de arcádia, lugar da Grécia antiga, ou Neoclassicismo, volta aos valores 
clássicos. 
No século XVIII, o nome arcádia identificava academias poetas que se reuniam para resgatar 
o estilo dos poetas da Grécia antiga, com o propósito de combater o rebuscamento barroco. Daí a 
busca pela simplicidade. 
A busca de recriar o espaço bucólico da Arcádia grega. Campos verdes, árvores frondosas, 
ovelhas e gado pastando tranquilos, dias ensolarados, regatos de água cristalina, aves que cantam. 
Cenário ideal de encontros amorosos. 
Aquela foi época da Revolução francesa, 1789, um cenário acolhedor e natural foi a forma 
encontrada pelos autores do período para divulgar os ideais de uma sociedade mais igualitária e 
justa. Foi período histórico de abusos da nobreza e no Brasil da Inconfidência Mineira. 
 
Características 
BUCOLISMO 
Espaço acolhedor, primaveril, alegre. 
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SIMPLICIDADE 
RESGATE DOS TEMAS CLÁSSICOS 
• fugere urbem: “fuga da cidade, da urbanização”; 
• aurea mediocritas: literalmente, significa “mediocridade áurea (dourada)”; a 
valorização das coisas cotidianas, simples, focalizadas pela razão e pelo bom senso; 
• locus amoenus: caracterização de um “lugar ameno”, tranquilo, agradável, onde os 
amantes se encontram para desfrutar dos prazeres da natureza; 
• inutilia truncat: significa “cortar o inútil”; 
• carpe diem: “cantar o dia”; o mais conhecido dos temas desenvolvidos pelo poeta e filósofo 
italiano Horácio (65-8 a.C.) trata da passagem do tempo como algo que traz a velhice, a 
fragilidade e a morte, tornando imperativo aproveitar o momento presente de modo 
intenso. 
PASTORALISMO 
O Arcadismo brasileiro (1768-1808) 
A mineração em Minas Gerais deslocou para o Sudeste o desenvolvimento urbano 
brasileiro no século XVIII. A produção cultural, que no século anterior acontecia principalmente 
na Bahia e em Pernambuco, passa a se concentrar na cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto). 
Vila Rica tinha uma organização mais complexa do que os núcleos urbanos nordestinos 
criados em torno do cultivo da cana-de-açúcar. Nas cidades do Nordeste colonial, a sociedade 
era constituída essencialmente de senhores e escravos, porém nas de Minas Gerais eram 
habitadas por ourives, comerciantes, mercadores e artistas, atraídos pela extração do 
ouro. 
Entretanto a maior parte do ouro seguia para Portugal, o pouco que permanecia no Brasil, 
além de enriquecer os mineradores bem-sucedidos, favorecia o desenvolvimento cultural e 
artístico da região. Era comum, filhos desses burgueses mais ricos serem enviados à Europa 
para estudar. 
Nesse contexto surgia o desejo de independência. A independência norte-americana 
inspirou os jovens brasileiros que, na Europa, já tinham tomado contato com os textos dos 
filósofos iluministas. Brotam ideais revolucionários de conquistar independência política e 
cultural para a tão explorada colônia. 
Os inconfidentes queriam proclamar a República e tornar o Brasil independente de 
Portugal. Havia ainda a intenção de fundar uma universidade em Vila Rica e construir fábricas 
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nas regiões mais importantes do país. Mas os participantes do movimento foram delatados 
por Joaquim Silvério dos Reis, um dos financistas do grupo. 
Autores 
Cláudio Manuel da Costa Obras Poéticas, em 1768, adotou o pseudônimo árcade de 
Glauceste Satúrnio. Escreveu sonetos, um poema épico, “Vila Rica”, de valor mais histórico do 
que literário, pelas informações sobre a descoberta das minas, a função da cidade e as primeiras 
revoltas da região. Influência do Classicismo português, Luís Vaz de Camões. O soneto a 
seguir mostra o poeta refletindo sobre a natureza de sua pátria, numa tentativa de imortalizá-la. 
Morreu na prisão. 
 
Leia a posteridade, ó pátrio Rio, 
Em meus versos teu nome celebrado, 
Porque vejas uma hora despertado 
O sono vil do esquecimento frio: 
 
Não vês nas tuas margens o sombrio, 
Fresco assento de um álamo copado; 
Não vês Ninfa cantar, pastar o gado, 
Na tarde clara do calmoso estio. 
 
Turvo, banhando as pálidas areias, 
Nas porções do riquíssimo tesouro 
O vasto campo da ambição recreias. 
 
Que de seus raios o Planeta louro, 
Enriquecendo o influxo em tuas veias 
Quanto em chamas fecunda, brota em ouro. 
 
Tomás Antônio Gonzaga: 
Liras de Marília de Dirceu. Gonzaga nasceu no Porto (Portugal), em 1744, e veio com sua 
família para a Bahia ainda pequeno. Assim como Cláudio Manuel da Costa, formou-se em 
Coimbra e chegou a exercer, em Vila Rica, o cargo de ouvidor. Preso como inconfidente, foi 
deportado para Moçambique, onde reconstituiu a vida. Lá faleceu em 1810. 
 
As Liras de Marília de Dirceu constroem o ambiente de artificialidade singela que 
caracterizou o Neoclassicismo, na primeira parte. Nos versos do poema, vemos inúmeras 
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referências ao gado que pasta, aos pastores nos montes, às ovelhinhas que dão leite e lã, 
à vida tranquila e natural. Na segunda parte é pessimista e antevê o pré-romantismo, 
nostálgico. 
Lira V 
Acaso são estes 
Os sítios formosos 
Aonde passava 
Os anos gostosos? 
São estes os prados, 
Aonde brincava, 
Enquanto passava 
O gordo rebanho, 
Que Alceu me deixou? 
São estes os sítios? 
São estes; mas eu 
O mesmo não sou. 
Marília, tu chamas? 
Espera, que eu vou. 
A poesia satírica 
Em Cartas chilenas, os desmandos morais e administrativos do governador da 
Capitania de Minas, chamado de o “Fanfarrão Minésio”, são duramente criticados de forma 
satírica. Durante muito tempo, houve dúvidas sobre a autoria dessa obra. Matoso Câmara. 
POESIA ÉPICA 
O Uraguai 
Basílio da Gama (1741-1795). Poema escrito em decassílabos brancos, isto é, sem 
rimas e sem estrofação, mas a divisão segue a de um poema épico (proposição, invocação, 
dedicatória, narração e epílogo). Os Jesuítas aparecem como vilões. 
A narrativa conta a história da luta travada entre os índios que viviam nas missões 
dos Sete Povos (Uruguai) e um exército luso-espanhol. Para cumprir o acordo celebrado pelo 
Tratado de Madri, que delimitava os territórios da América do Sul. O trecho mais conhecido do 
poema é uma passagem lírica, do Canto IV, em que é narrada a morte da índia Lindoia. 
Este lugar delicioso e triste, 
Cansada de viver, tinha escolhido 
Para morrer a mísera Lindoia. 
Lá reclinada, como que dormia, 
Na branda relva e nas mimosasflores, 
Tinha a face na mão, e a mão no tronco 
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De um fúnebre cipreste, que espalhava 
Melancólica sombra. Mais de perto 
Descobrem que se enrola no seu corpo 
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge 
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio. 
 
Caramuru 
Frei José de Santa Rita Durão, foi o segundo dos árcades da escola mineira a dedicar-se 
à poesia épica. Estruturou seu poema Caramuru de acordo com o modelo camoniano: divisão 
em dez cantos, todos compostos em oitava rima. 
Caramuru conta a história do descobrimento e da conquista da Bahia por Diogo 
Álvares Correia, português que naufragou na região. Narra a morte de Moema e exalta a 
paisagem brasileira, os recursos naturais, as tradições e dos costumes dos índios, isso dá ao 
poema os traços nativistas que serão desenvolvidos pelos indianistas românticos. 
 
BIBLIOGRAFIA 
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira, São Paulo, Cultrix, 2002. 
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: Momentos decisivos. São Paulo. Rio de Janeiro: 
FAPESP; Ouro sobre Azul, 2009. 
______. Iniciação à literatura brasileira. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010. 
______. Literatura e cultura de 1900 a 1945. In: ______. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro 
sobre Azul, 2006. 
______. CASTELO, J. A. Presença da Literatura Brasileira. Difel, São Paulo, 1992. 
MOISÉS, Massaud. A Literatura Brasileira através dos Textos. São Paulo, Cultrix, 2004. 
 
 
 
 
 
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