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olítica de importação 1. Política comercial: intervenção do governo Os governos intervêm nos fluxos de comércio com diversas justificativas, tais como o equilíbrio na balança comercial, o estímulo à produção doméstica e o aumento da receita tributária. A título de ilustração mostramos na figura 1 um exemplo de intervenção governamental. No mundo de H-O, se o país A é relativamente abundante em trabalho exportará bens intensivo no uso deste fator e importará bens intensivos no fator capital. No entanto, o governo pode desejar mudar esta estrutura de comércio por meio da política de comércio exterior. Por exemplo, ao aplicar uma tarifa aduaneira sobre as importações de bens intensivos em capital poderá estimular a sua produção interna. Ao subsidiar as exportações destes produtos poderá gerar competitividade destes bens. No final, a estrutura de comércio será diferente. Figura 1 – Intervenção governamental no comércio tipo H-O : 2 2. Os instrumentos de política comercial 2.1 Política de importação Os principais instrumentos são: a) tarifa aduaneira: ad valorem, específica, variável e sazonal; b) barreiras não tarifárias: cota, cota-tarifária, medidas sanitárias e fitossanitárias, compras do governo, subsídio à produção doméstica, barreiras técnicas, licença prévia, etc. c) defesa comercial: direito antidumping e direito compensatório (antissubsídio); d) medida de salvaguarda; e) valoração aduaneira; e f) medidas contra crise no balanço de pagamentos. 2.2 Política de exportação (a ser analisada nota de aula 8) Os principais instrumentos são: a) subsídio à exportação e o viés antiexportação; e b) incentivo à exportação: isenção dos impostos indiretos, financiamento à exportação, regime de drawback, zona de exportação e entreposto aduaneiro. 3. Tarifa aduaneira A tarifa aduaneira é um imposto que incide exclusivamente sobre o produto importado. Por isso é também conhecido como imposto de importação. Na maioria dos países, a base de cálculo geralmente é o valor CIF (Cost, Insurance and Freight) do produto importado, ou seja, o custo do bem importado incluindo-se as despesas com seguro e frete e entregue a bordo do navio no porto do país importador. Alguns países aplicam outras bases de cálculo: Austrália e Nova Zelândia aplicam sobre o valor FOB (Free on the Board) – valor da mercadoria colocada no navio no porto do pais exportador. Os EUA aplicam sobre o valor efetivamente pago ao exportador. A figura 2 ilustra estas bases de cálculo da tarifa. Os temos CIF e FOB fazem parte do Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS) que ao constar nos contratos de exportação e de importação definem as responsabilidades do exportador e do : 3 importador sobre a mercadoria transacionada quando ocorrem eventos imprevistos. Por exemplo, se a importação é CIF, o exportador é o responsável pela mercadoria até a entrega ao exportador a bordo do navio no porto do pais importador. A partir de então, a responsabilidade passa a ser do importador. Se ao retirar a mercadoria do navio ocorrer um dano (o cabo do guindaste arrebenta e o contêiner cai no chão), a perda é do importador. Se a mercadoria for furtada no navio antes da entrega ao importador, a perda é do exportador. Figura 2 - Base de cálculo da tarifa Assim, os temos no Incotermns definem as responsabilidades do exportador e do importador evitando questionamentos legais. Além dos citados, há vários outros termos que definem o local da entrega da mercadoria. Por exemplo, o termo EXW (Ex-Works - ex-fábrica) significa a entrega da mercadoria na porta do estabelecimento do exportador, a partir daí tudo passa a ser da responsabilidade do importador. Evidentemente, o preço varia de acordo com a divisão das responsabilidades. 3.1 Funções da tarifa aduaneira Vamos ilustrar as funções da tarifa aduaneira por meio de um simples exemplo. Considere que o custo unitário de fabricação de um determinado produto no Brasil atinge R$ 620 e o preço FOB do produto importado, idêntico ao produzido no país, é de US$ 100 e o preço CIF de US$ 120. Supondo uma taxa de câmbio de R$ 5 por US$ 1, o preço do produto importado seria de R$ 600. Portanto, este seria o preço máximo que o produtor doméstico poderia cobrar pelo seu produto. Neste caso, como o custo de : 4 produção é maior que o preço máximo que poderia cobrar, a produção interna não seria económicamente viável (Tabela 1). Tabela 1 – Papel da tarifa aduaneira Descrição Preço do produto Importado Doméstico FOB (US$) 100 CIF (US$) 120 CIF (R$), taxa câmbio (R$ 5/US$ 1) 600 600 Tarifa (20%) 120 Final 720 720 Se o governo aplica uma tarifa de 20%, o imposto de importação seria de R$ 120 (0,2 vezes 600) e o custo total de importação passaria a ser de R$ 720. Agora, o preço máximo que o produtor doméstico pode cobrar seria maior do que o custo de produção viabilizando economicamente a sua produção. Então, a principal função da tarifa aduaneira é permitir a produção doméstica que não seria lucrativa sem o uso deste instrumento. Se com a tarifa, ainda ocorre importação devido, por exemplo, a insuficiência de produção doméstica, o governo gera arrecadação tributária. Esta seria a segunda função da tarifa, propiciar receita tributária. Como o preço do produto importado aumenta com a tarifa, se a demanda de importações é negativamente inclinada como é usual, a quantidade importada diminui e os gastos de divisas com esta importação caem. A terceira função da tarifa seria reduzir as importações ou poupar divisas. Note também que se o governo aumenta a tarifa para 30%, o preço máximo que o produtor pode cobrar se eleva para 780 reais. Ao contrario, se o governo reduz a tarifa para 15%, o preço máximo do produtor interno diminui para 690 reais. Isto significa que o governo pode determinar a tarifa para evitar que o produtor interno aumente o preço excesivamente. As importações ou a ameaça de importações funcionam como um controle do preço doméstico sem a necessidade de um órgão regulador. Esta é a quarta função. : 5 Por último, se o país é grande, ou seja, tem uma participação significativa nas importações mundiais deste produto, o governo pode cobrar uma tarifa para reduzir as importações de forma importante e, desta maneira, diminuir o preço em dólares do produto importado. Com isso pode obter ganhos nos termos de troca. Esta seria a quinta função. Em resumo, as funções da tarifa aduaneira são: • viabilizar a produção interna - proteger o produtor doméstico da concorrência externa - política industrial; • gerar receita tributária; • reduzir as importações; • controlar o preço doméstico via competição externa; • favorecer os termos de troca. Em países de renda baixa, a receita da tarifa aduaneira pode ter participação importante na arrecadação tributária total. O gráfico 1 mostra no eixo vertical a parcela da receita com impostos sobre comércio exterior, inclui tarifa aduaneira e imposto de exportação, na receita tributária e no eixo horizontal a renda per capita em 1.000 dólares. Nota-se que os países com renda per capita inferior a US$ 10 mil dólares chega a ter uma participação da receita de tributos no comércio exterior entre 25% a 35%. O gráfico 2 mostra que no Brasil a parcela da arrecadação da tarifa aduaneira sobre a receita tributária total atualmente é inferior a 3%, após variar entre 4% e 6% no período 1986-2000. No entanto, o gráfico 3 indica que esta participação foi superior a 50% no final do século XIX, com tendência decrescente devido ao processo de industrialização no século XX. Por que em país pobres ou agrícolas a receita do imposto sobre comércio exterior é importante? Qualquer governo precisa de receita tributária para cobrir suas despesas. Países pobres geralmente tem o setor agrícola com maior participação no PIB. No entanto, tributar a produção agrícola éadministrativamente difícil e custosa, pois suas propriedades estão espacialmente dispersas. Além disso, proprietários de terra dominam governos e evitam o pagamento de impostos. : 6 Gráfico 1 Gráfico 2 – Participação da receita da tarifa aduaneira na arrecadação total, Brasil, 1986-2018 : 7 Gráfico 3 Ao contrário, taxar o comércio, principalmente na importação, requer postos de fiscalização apenas nos portos e/ou nas fronteiras tornando a tarefa de arrecadação mais simples e mais fácil de implementar politicamente. Com a industrialização (renda per capita aumenta), a base de tributação se desloca para o setor urbano e a participação do imposto sobre o comércio exterior na receita tributária total diminui. 3.2 Tipos de tarifa Vamos analisar os diversos tipos de tarifa. Tarifa ad valorem: alíquota em percentagem sobre o valor importado: PM = P*TC(1 + t), onde PM representa o preço em reais, P* o preço em dólares, TC a taxa de câmbio e t alíquota ad valorem da tarifa aduaneira. Por exemplo, a importação de carne bovina fresca ou refrigerada no Brasil é tributada em 10%. Portanto, se o preço por tonelada for de US$ 1.000 deverá pagar o equivalente em reais (impostos são recolhidos em moeda nacional por imposição legal) de US$ 100. Se o preço for de US$ : 8 500, a tarifa será o equivalente em reais de US$ 50. Portanto, o valor da tarifa a ser paga depende do preço. A tabela 2 mostra a tarifa aplicada pelo Brasil nas importações de carne bovina. A primeira coluna mostra o código de classificação da carne bovina que segue o Sistema Harmonizado aplicado pelo Mercosul, denominado Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). A segunda coluna a descrição da mercadoria e a terceira coluna a alíquota da tarifa externa comum do Mercosul. Tabela 2 Tarifa específica: valor fixo em valor monetário por unidade do produto: PM = P*TC + T, onde T indica o valor em moeda nacional da tarifa aduaneira e os outros símbolos foram definidos anteriormente. A tabela 3 apresenta a tarifa aplicada pelos EUA na importação da carne bovina. Note que os seis primeiros dígitos do código do produto são equivalentes aos do Brasil (mais tarde será especificada a razão). A coluna “geral” indica a alíquota a ser paga usualmente de 4,4 centavos de dólar por quilo. A carne importada pelos EUA pagará US$ 44 por tonelada. Note que, neste caso, qualquer que seja o preço, a tarifa será sempre a mesma. Assim, a tarifa a ser paga não depende do preço do produto. A coluna “especial” refere-se a tarifa a ser cobrada de países que têm acordo comercial com os EUA. Neste caso, a tarifa é totalmente isenta nas importações, por exemplo, do México devido ao NAFTA, do Chile em decorrência do acordo de livre comércio Chile-Estados Unidos. A última coluna indica a tarifa a ser paga por países que não são membros da OMC como, por exemplo, Coreia do Norte. Como : 9 atualmente quase todos os atores no comércio mundial são associados à OMC, esta coluna não tem relevância econômica. Tabela 3 Algumas tarifas específicas são mais difíceis de calcular por dependerem do conteúdo do insumo utilizado no processo produzido. A tabela 4 apresenta a tarifa aduaneira aplicada pelos EUA nas importações de xarope de açúcar de cana ou de beterraba. A tarifa é de 3,6606 centavos de dólares por quilo de açúcar total contido no produto. É preciso demonstrar por teste de laboratório o conteúdo de açúcar por unidade do produto. Uma tarifa específica pode ser transformada em equivalente ad valorem dividindo-se o valor específico da tarifa pelo preço do produto importado, ambos medidos na mesma moeda: TE = Tarifa específica Preço importado onde TE indica a tarifa equivalente ad valorem do produto. O objetivo de encontrar a tarifa equivalente ad valorem de uma tarifa específica é permitir a comparação entre países. É útil também para o importador verificar o aumento percentual no preço do produto importado. Por exemplo, se o preço de importação de carne bovina for de US$ 5.000 por tonelada, a tarifa equivalente ad valorem seria: : 10 TE = US$ 44 US$ 5.000 = 0,0088 0,08% Assim, podemos ver que com preço importação de US$ 5.000 por tonelada nos EUA, a tarifa incidente na carne bovina neste país atinge 0,08%, sendo inferior a aplicada pelo Brasil de 10%. O equivalente ad valorem da tarifa específica para países com moeda nacional própria também depende da taxa de câmbio. Vamos ver o caso da Suíça com tarifa específica de 10 francos suíços, o preço do produto importado de US$ 100 e taxa de câmbio de 1,2 francos suíços por dólar: TE = Tarifa específica TC∗PUS$ = 10 1,2∗100 = 0,083 8,3% Se a moeda suíça se valoriza para 1,1 franco suíço por dólar, o equivalente ad valorem seria: TE = Tarifa específica TC∗PUS$ = 10 1,1∗100 = 0,091 9,1% Do ponto de vista do objetivo da tarifa de propiciar “proteção” contra as importações, a tarifa específica é útil. Se o preço em moeda nacional do produto importado cai, seja devido à queda no preço em dólares, seja motivada pela valorização da taxa de câmbio, a produção doméstica se torna menos competitiva e requer maior tarifa ad valorem. Isso vale para mudanças temporárias no preço e na taxa de câmbio. No caso de alterações permanentes não, pois estaria favorecendo a produção ineficiente. No caso de produtos cujos preços flutuam ciclicamente no mercado internacional, o equivalente ad valorem será menor quando o preço está elevado e maior quando o preço é baixo. O gráfico 4 ilustra este ponto. Com uma tarifa específica de 10, se o preço for 100, o equivalente ad valorem será de 10%, se o preço for 50, será de 20%. Por exemplo, o setor petroquímico brasileiro cujo preço internacional sofre oscilações argumenta que quando o preço no mercado internacional está elevado, a produção doméstica é competitiva não exigindo tarifas ad valorem elevadas. Ao contrário, quando o preço mundial está baixo, para combater as importações serão precisas tarifas altas. Por isso, este setor defende a aplicação de tarifas específicas contra as importações. Os importadores de vinho também defendem a tarifa especifica baseada em dois argumentos. Primeiro, como há vinhos de preços muitos variados, desde US$ 1 por garrafa até mais de US$ 10.000, firmas : 11 desonestas podem subfaturar o preço do vinho que está sendo importado e pagar menos imposto se a tarifa é ad valorem. A Receita Federal fiscaliza o preço do vinho importado, mas não é uma tarefa fácil. Estas firmas se tornariam mais competitivas no mercado do que empresas que pagam corretamente os impostos. Segundo, ao aplicar uma tarifa específica, o impacto sobre o preço é mais importante nos vinhos baratos do que nos vinhos caros de melhor qualidade. Com isso favorece a saúde do consumidor incentivando a compra de vinhos de melhor qualidade. Por exemplo, se a tarifa específica for de US$ 20 por garrafa, o vinho de US$ 5 aumentará para US$ 25, mas o vinho de US$ 50 se elevará apenas para US$ 55. Você concordaria com os importadores de bebidas? Gráfico 4 – Equivalente ad valorem da tarifa específica varia com o preço A vantagem da tarifa específica é facilitar o trabalho na aduana. O fiscal não precisa se preocupar se o preço declarado é correto ou não, mas apenas se a quantidade está certa. Como a nota fiscal da transportadora marítima deve ser apresentada na aduana e o preço do frete é fixado de acordo com a quantidade, peso e volume, a quantidade que consta no conhecimento de embarque (nota fiscal da transportadora) é controlada. A desvantagem da tarifa específica é a falta de transparência (é preciso calcular o equivalente ad valorem) e a falta de previsibilidade (alíquota ad valorem equivalente depende do preço e da taxa de câmbio como vimos anteriormente). : 12 A tarifa específica é aplicada em vários paísespara alguns produtos. A Suíça é o único país que aplica este instrumento para todos os bens. Alguns países cobram uma tarifa composta, parte ad valorem e parte específica. Este é o caso da União Europeia nas importações de carne bovina com uma tarifa ad valorem de 12,8% e também uma alíquota específica de 176,8 euros para cada 100 quilos (Tabela 5). Se o preço do produto importado for de 1.000 euros por tonelada, a tarifa total será de 128 euros, na parte ad valorem, mais 1.768 euros na parcela fixa. A tarifa total atingirá 1.896 euros. Assim, a tarifa a pagar depende parcialmente do preço. Tabela 5 – Tarifa da União Europeia na importação de carne bovina A tarifa pode ter valores máximos ou mínimos. A tabela 6 mostra a tarifa de 11,2% nas importações de fumo em folhas curado, mas o valor a ser recolhido pelo governo europeu deve estar no intervalo entre 22 euros e 56 euros por 100 quilos líquidos, ou seja, o valor da tarifa tem limites superior e inferior. Tabela 6 – Tarifa ad valorem com valor mínimo em unidades monetárias : 13 Tarifa variável: o valor da tarifa a ser cobrada é igual a diferença entre um preço doméstico previamente determinado pelo governo (preço alvo) e o preço do produto importado: T = PD - P*. Então, a tarifa a ser paga varia com o preço do produto importado. O objetivo da tarifa variável é sinalizar ao produtor interno que seu preço não será afetado pelas importações. Se PD < P*, o governo ao invés de cobrar tarifa deve conceder um subsídio à importação. Ao invés de um preço alvo, o governo pode fixar uma banda de preços com limite superior e inferior. Desta forma, a tarifa será cobrada pela diferença entre o preço inferior da faixa e o preço do produto importado. Se o preço do importado está acima do preço superior, usualmente a tarifa é nula (T = 0) para evitar o subsídio à importação, difícil de viabilizar politicamente, o que resulta em uma banda assimétrica de preços. O gráfico 5 ilustra este mecanismo. Gráfico 5 – Tarifa variável com banda de preços assimétrica Tarifa sazonal: cobrado com alíquotas mais elevadas sobre produtos agrícolas em determinados meses do ano, geralmente no período da safra quando há produção doméstica. O objetivo é evitar a importação neste período. Nos demais meses, na entressafra, o consumo interno precisa ser atendido pelas importações, então é aplicada a tarifa usual ou até nula. Por exemplo, na União Europeia a tarifa nas importações de maçãs é cobrada apenas entre 16 de setembro e 15 de dezembro com alíquota de 7,2% sendo que a tarifa mínima a ser paga atinge 0,36 euros por 100 quilos (Tabela 7). : 14 Tabela 7 – Tarifa sazonal na União Europeia 4. Efeito econômico da tarifa: caso de país pequeno 4.1 Análise de equilíbrio geral Inicialmente considere uma economia pequena no regime de livre comércio. No gráfico 6, dado o preço relativo do produto industrial no mercado internacional p* = ( PI ∗ PA ∗ ), a economia produzirá sobre a fronteira de possibilidade de produção (FPP) no ponto B com produção agrícola A1 e produto industrial I1. A renda nacional a este preço relativo (linha de cor vermelha) permitirá o consumo no ponto C, com CA1 de produto agrícola e CI1 de produto industrial. Dados os níveis de produto e consumo de cada setor, haverá um excesso de oferta do produto agrícola que será exportada e um excesso de demanda por produto industrial que será atendida pelas importações. A estrutura de produção será indicada pela quantidade relativa do produto agrícola A1 I1 , que pode ser observada pelo ângulo formado por uma linha que passa pela origem até o ponto de produção sobre a FPP e o eixo horizontal. A sociedade desfrutará de um nível de bem-estar U1. Gráfico 6 – Equilíbrio no regime de livre comércio: situação inicial antes da tarifa : 15 Esta economia no regime de livre comércio apresenta as seguintes características: a) exportador de produtos agrícolas; b) importador de produtos industrializados; e c) participação elevada da produção agrícola no PIB. Agora, suponha que o governo tem como objetivo aumentar o grau de industrialização do país. Para isso, aplica uma tarifa aduaneira sobre as importações de produtos industrializados, alterando o preço do produto industrializado no mercado doméstico (note que como o país é pequeno, o preço no mercado internacional não se altera): PI = PI*(1 + t) Portanto, o preço relativo do bem industrializado aumenta no mercado doméstico (mas não no mercado internacional que continua sendo dado): PI PA = PI ∗(1 + t) PA ∗ > PI ∗ PA ∗ p > p* No gráfico 7, a interferência do governo elevou o preço relativo do produto industrial no mercado interno (p > p*) e os produtores respondem deslocando-se ao longo da FPP do ponto B para o ponto E, aumentando a produção industrial de I1 para I2 e diminuindo o produto agrícola de A1 para A2. A nova renda nacional baseada preço relativo maior (p > p*) passará pelo ponto E e, inicialmente, o consumo poderia atingir o ponto G. Gráfico 7 – Equilíbrio inicial com tarifa sobre bem industrializado : 16 No entanto, este ponto de consumo G ainda não é o resultado final. Com a aplicação da tarifa, precisamos incluir na análise como o governo gasta a receita proveniente da arrecadação da tarifa, ou seja, teremos o consumo do governo além do consumo das famílias. Para observar o consumo do governo seria preciso incluir uma curva de indiferença do governo representando as suas preferências, mas tornaria o gráfico mais confuso. Para simplificar, assumimos que o governo ao invés de gastar a receita da tarifa, devolve toda a receita aos consumidores por meio de um subsídio de valor fixo por indivíduo (lump sum subsidy). Essa forma de devolução do imposto não provoca distorções na economia. No gráfico 8, este procedimento pode ser mostrado deslocando a linha da renda nacional que passa pelo ponto G para a direita. Gráfico 8 – Equilíbrio final com tarifa sobre bem industrializado Qual deve ser o deslocamento para representar esta devolução do imposto de importação? Note que a economia produz no ponto E, gerando A2 de produto agrícola e I2 de produto industrial, então podemos calcular o PIB (renda nacional) a preços internacionais. Lembre-se que qualquer que seja a política do governo, aplicando uma tarifa ou não, o país pode gastar somente a renda nacional, medida a preços internacionais. Para obter esta renda nacional, traçamos uma linha passando pelo : 17 ponto E com a mesma inclinação dado pelo preço relativo do produto agrícola no mercado internacional (p*). Esta linha corresponde a segunda linha de cor vermelha passando pelo ponto E. Logo, a renda nacional mensurada ao preço relativo distorcido pela tarifa mais a receita da tarifa deve ser igual a renda nacional medida ao preço relativo internacional. Isto significa que devemos deslocar a linha da renda nacional que passa pelo ponto G paralelamente para a direita até cruzar a linha de preço que passa pelo ponto E, o que ocorre no ponto D. Este é resultado final e onde passa uma curva de indiferença com nível U3. Vamos resumir os efeitos da aplicação da tarifa: a) maior grau de industrialização: I2 A2 > I1 A1 (objetivo do governo foi atingido!) b) perda na renda real: menor valor da produção medido a preços internacionais, tanto em termos de A (produto agrícola), como em termos de I (produto industrializado). Este é o custo de atingir a meta de maior industrialização da economia. Por que a renda cai? A intervenção do governo aumentou a participação do produto industrializado no PIB que é menos valorizado no mercado internacional. Com a tarifa sobre o produto industrializado, temos: PI PA > PI ∗ PA ∗ PA ∗ PI ∗ > PA PI Portanto, aos preços internacionais, o produto agrícola é mais valorizado. Logo, se o país aumenta a produção daindústria, a renda nacional a preços internacionais deve cair. Você pode observar isso, observando a renda nacional RN(p*) que passa pelo ponto E no gráfico 8. O ponto que esta linha cruza o eixo vertical mede a renda nacional em unidades do produto agrícola e quando cruza o eixo horizontal representa a renda nacional em unidades do produto industrial. Agora, compare com a linha que passa pelo ponto B que representa a renda nacional antes da aplicação da tarifa. Você verá que a renda nacional com tarifa está abaixo da renda nacional sem tarifa. c) redução do bem-estar (queda no nível de utilidade de U1 para U3); : 18 d) queda nas importações (efeito direto) de MI1 para MI2; e) diminuição das exportações (efeito indireto) de XA1 para XA2 – aumento da produção de industrializados requer maiores recursos que são retirados da agricultura que é exportadora); e f) efeitos sobre a distribuição de renda. Se o país é abundante em trabalho e KI LI > KA LA (setor industrial é relativamente mais intensivo no uso de capital) pelo Teorema de Stolper-Samuelson, ocorrerá um aumento na remuneração real dos proprietários de capital e uma redução do salário real (efeito negativo sobre os trabalhadores). 4.2 Análise de equilíbrio parcial Inicialmente, vamos entender como se determina o preço internacional de um produto. Considere dois países: doméstico e estrangeiro. Para um produto homogêneo, a demanda de importações no país doméstica é derivada das suas curvas de demanda e de oferta, a vários níveis de preço. No lado esquerdo do gráfico 9, se o preço for P3, as quantidades ofertadas e demandadas são iguais (Q3 = C3) e as importações serão nulas. Se for P2, a quantidade ofertada será Q2, a quantidade demandada será C2 e ocorrerá um excesso de demanda que será atendido pelas importações: M2 = C2 – Q2. Se for P1, a quantidade ofertada será Q1, a quantidade demandada será C1 e as importações serão ainda maiores: M1 = C1 – Q1. Gráfico 9 – Demanda de importações no país doméstico P P3 P2 P1 P3 P2 P1 Q1 C1 Q2 C2 Q3 = C3 M1 M2 0 M DD OD M Demanda de importações Mercado doméstico P : 19 No lado direito do gráfico 9, desenhamos a demanda de importações da seguinte forma. Para cada nível de preço, a importação corresponde ao excesso de demanda. Assim, ao preço P1, a quantidade demandada de importações será M1 = C1 – Q1. Ao preço P2, a importação será M2 = C2 – Q2. Ao preço P3, a importação será nula (C3 = Q3). Unindo estes pontos temos a curva de demanda de importação. No país estrangeiro, a oferta de exportações é derivada também das curvas de oferta e de demanda no mercado interno desse país. A diferença é que aos mesmos preços cruzam as curvas de oferta e de demanda acima do preço de equilíbrio, gerando um excesso de oferta (lado esquerdo do gráfico 10). Se o preço for P1, a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada (Q1 = C1) e a exportação nula. Ao preço P2, a quantidade ofertada Q2 é maior do que a quantidade demandada C2, gerando um excesso de oferta (Q2 – C2) e uma quantidade exportada X2. Ao preço P3, a quantidade ofertada Q3 será maior ainda do que a quantidade demandada C3 e as exportações atingirão X3. Gráfico 10 – Oferta de exportações no país estrangeiro O preço internacional P’ será determinado pela oferta de exportação e demanda de importação dos dois países (Gráfico 11). No mundo real, geralmente há vários países com excesso de oferta (exportadores) e vários países com excesso de demanda (importadores). Portanto, o preço internacional será determinado pelo cruzamento da oferta mundial de exportação (soma horizontal dos excessos de oferta de vários países) e da demanda mundial (soma horizontal do excesso de demanda vigente em vários países). P P3 P2 P1 P3 P2 P1 C3 Q3 C2 Q2 Q1 = C1 X3 X2 0 X DD OD X Oferta de exportações Mercado doméstico P : 20 Gráfico 11 – Preço de equilíbrio no mercado mundial Então, os preços de trigo, soja e outros bens agrícolas cotados na Bolsa de Mercadorias de Chicago correspondem a este preço internacional. Por exemplo, no caso do trigo, a curva de oferta corresponde aos excessos de oferta dos EUA, Rússia, Argentina e outros países e a curva de demanda aos excessos de demanda do Brasil, China, Japão e outros. Esta forma de determinação de preço internacional também é válida para bens que não têm cotação em bolsas de mercadorias, mas os preços são disponibilizados em revistas especializadas. Por exemplo, cobre, zinco, produtos petroquímicos, etc. Vale lembrar que os bens não são estritamente homogêneos mesmo que sejam produtos agrícolas e minerais. Por exemplo, há um preço cotado para soja em grão no mercado de Chicago que serve como referência. Cada país tem um prêmio ou desconto em relação a este preço de acordo com o grau de oleosidade da soja produzida. Assim, um país pequeno será exportador se o preço internacional for maior do que o preço de equilíbrio no mercado interno sem comércio (Gráfico 12). Um país pequeno será importador se o preço internacional for menor do que o preço de equilíbrio no mercado interno no regime de autarquia (Gráfico 13). Note que não estamos considerando o custo de transporte e as restrições às importações que tornam o preço no país importador mais elevado que o preço internacional. P P’ Q’ Q Oferta de exportação do país estrangeiro Demanda de importação do país doméstico : 21 Gráfico 12 – País pequeno exportador Gráfico 13 – País pequeno importador a) caso de país pequeno O modelo de equilíbrio parcial analisa um determinado mercado (setor), supondo que as mudanças nessa atividade não afetam os demais mercados (resto da economia, inclusive variáveis macroeconômicas) e não é influenciado pelo resto da economia. Para um bem homogêneo, dado o preço internacional (transformado em moeda doméstica – reais no nosso país – e acrescido do custo de transporte), como vimos anteriormente, a demanda de P P1 P1 P Q Q C1 Q1 O D D O Mercado mundial País exportador P P1 P1 P Q Q C1 Q1 O D D O Mercado mundial País importador X1 M1 : 22 importações é determinada pela diferença entre a demanda e a oferta doméstica, ou seja, é equivalente ao excesso de demanda. Assim, no lado esquerdo do gráfico 14, ao preço P0, a oferta doméstica é Q0 e a demanda interna C0. O excesso de demanda corresponde às importações M0. Ao preço P2, a oferta é igual à demanda no mercado interno, e as importações são nulas. Se o preço internacional é P0 e o governo fixa uma tarifa ad valorem t, o preço doméstico aumenta para P1 = P0(1 + t). Note que, dada a hipótese de país pequeno, o preço no mercado mundial continua P0. Ao preço P1, a oferta aumenta para Q1, o consumo diminui para C1 e as importações se reduzem para M1. Gráfico 14 - Análise da tarifa no modelo de equilíbrio parcial – pais pequeno A aplicação da tarifa provoca os seguintes resultados: a) efeito-produto: quantidade da oferta doméstica aumenta de Q0 para Q1; b) efeito-consumo: demanda doméstica diminui de C0 para C1; c) efeito-preço: preço interno aumenta de P0 para P1 pelo montante da tarifa; P P0 P1 = P0(1 + t) Q0 Q1 C1 C0 QD DM DD P QM M0 M1 a b c d e OD Produto doméstico Produto importado P2 0 M0 M1 P1 = P0(1 + t) P0 : 23 d) efeito receita tributária: governo arrecada (C1 – Q1)(P1 – P0) ou M1T (lado direto do gráfico 14), onde T = tP0; e e) efeito importação: importações caem de M0 para M1 (lado direto do gráfico 14). Olhando o lado esquerdo do gráfico 14, o efeito bem-estar é mostrado na tabela 8. Devido ao aumento no preço, os consumidores perdem (redução do excedente) as áreas “a”, “b”, “c” e “d’. Pelomesmo motivo, os produtores ganham a área “a”. O governo absorve a receita da tarifa corresponde a área “c”. Como as transferências de excedentes entre consumidores, produtores e governo se cancelam, restam apenas as áreas “b” e “d”, ou seja, estas são perdas de excedente que não apropriada por outros agentes econômicos. Portanto, a aplicação de uma tarifa nas importações de um produto provoca uma perda para a sociedade correspondente a estas áreas. Tabela 8 – Efeito bem-estar da tarifa em país pequeno Agente econômico Variação no bem-estar Consumidor – a – b – c – d Produtor a Governo c Total – b – d Os triângulos “b” e “e” são conhecidos por “triângulos de Harberger”, onde “b” corresponde a distorção na produção e “d” a distorção no consumo. Arnold Harberger, professor emérito da Universidade de Chicago foi pioneiro em medir estas perdas. O mesmo resultado é obtido observando o lado direito do gráfico 14 onde é ilustrada a demanda de importações que, como vimos, é desenhada considerando o excesso de demanda a vários níveis de preço. Se com a imposição da tarifa, o preço do produto importado aumenta de P0 para P1 = P0(1 + t), a quantidade importada cai de M0 para M1. A perda do excedente do consumidor é dada pela área “e”. Note que por construção, a área “e” é igual a área “b” mais “d”. : 24 Em resumo, para análise do bem-estar decorrente da aplicação da tarifa é indiferente analisar o lado esquerdo ou o lado direito do gráfico 14. Portanto, uma tarifa em país pequeno sempre reduz o bem- estar da sociedade. Por que na análise de bem-estar, uma tarifa provoca uma perda enquanto na percepção de um cidadão comum e, muitas vezes, da imprensa, uma tarifa seria boa para sociedade ao elevar a produção doméstica (Q0 para Q1) e gerar emprego (necessário para expandir a produção)? Quando substituímos a importação por produção doméstica, não estaríamos trocando emprego no exterior (importação) por emprego no país (produção interna) favorecendo o país? A diferença de interpretação ocorre por duas razões: primeiro, o cidadão comum não considera o custo social do emprego criado com o incremento da produção doméstico. Para ele, todo o aumento no valor da produção ou no emprego representa um ganho para a sociedade; segundo, não inclui o efeito negativo para os consumidores decorrente do aumento de preço. Vamos analisar estas duas questões detalhadamente. O gráfico 15 mostra o valor do aumento na produção devido a tarifa aduaneira (retângulo verde). A produção aumenta de Q1 para Q2, ou seja, o acréscimo no valor da produção corresponde a Q vezes P*. Para o cidadão comum este é o ganho. Gráfico 15 – Custo social da tarifa – valor da produção : 25 No entanto, este não pode ser ganho líquido por que esta produção adicional tem custo para a sociedade. Para aumentar a produção é preciso retirar recursos produtivos de outros setores. Por exemplo, para elevar a produção de carros são necessários trabalhadores, aço, plástico, borracha, etc. que deixam de ser utilizados na fabricação de outros produtos, ou seja, há custo de oportunidade ou custo social para produzir mais de algum produto. Vocês aprenderam este conceito como “não há almoço grátis”! Então, aplicando este conceito a nossa questão, qual é o custo social (de oportunidade) de aumentar a produção de Q1 para Q2? O custo social é medido pelo custo marginal de cada unidade adicional produzida a partir de Q1 até atingir Q2. O gráfico 16 mostra este custo social indicado pela área verde. Gráfico 16 – Custo social da tarifa do aumento na produção Comparando o valor da produção adicional com o custo social desta produção, o resultado é negativo. As áreas sinalizadas por cor verde nos gráficos 15 e 16 mostram que o custo social do aumento da produção é maior do que o valor do incremento na produção. Por isso que a teoria econômica aponta que a tarifa provoca uma perda correspondente a este resultado negativo (diferença entre o valor e o custo social da produção adicional) e denomina custo (líquido) da distorção na produção (aumento de Q1 para Q2 devido a tarifa) provocada pela tarifa. O custo social de aumentar a produção de Q1 para Q2 não poderia ser zero se os recursos produtivos estão ociosos, ou seja, não estão sendo utilizados? Por que não consideramos esta possibilidade? : 26 Se o custo é positivo não há desemprego de fatores. Não pode haver desemprego? A teoria econômica não considera esta possibilidade por que o desemprego de fatores de forma generalizada deve ser corrigido pela política macroeconômica (políticas fiscal e monetária). Assim, a tarifa não é o instrumento apropriado para resolver o problema do desemprego. Desta forma, a análise econômica da tarifa assume que há pleno emprego, logo o custo social é sempre positivo. Outra razão para a teoria econômica não considerar o problema do desemprego é que no longo prazo este problema é resolvido por meio de ajustamento no mercado do trabalho. Muitas vezes a avaliação do impacto de uma tarifa centra-se apenas no efeito sobre produtor. No entanto, uma análise completa requer também uma avaliação sobre o consumo. Afinal a sociedade é composta de produtores e consumidores. A tarifa aumenta o preço do produto para o consumidor e estes reagem reduzindo a quantidade demandada. Quanto perde o consumidor? O consumidor diminui a quantidade demandada de C1 para C2. Qual é o valor desta variação no consumo? O valor que os consumidores atribuem a cada unidade é medido pelo valor máximo que estão dispostos a pagar por esta unidade. No gráfico 17, para quantidade, o valor máximo pode ser visualizado pela distância vertical entre um ponto da curva de demanda e o eixo horizontal. Gráfico 18 – Custo social da tarifa - consumo : 27 Assim, o valor do que deixa de ser consumido é indicado no gráfico 18 pela área abaixo da curva de demanda correspondente a redução no consumo (área sinalizada com cor verde). No entanto, o valor que o consumidor atribui a quantidade que deixou de ser adquirida não representa a sua perda efetiva. Se ele deixou de comprar, o valor que seria gasto permanece em suas mãos! Se você sai de casa para comprar um produto com o objetivo de gastar no máximo R$ 20, mas como o preço encontrado é R$ 25, desiste e volta sem comprar. Você perdeu R$ 25? Não, por que os R$ 20 continuam nas usas mãos e pode ser utilizado para comprar outros bens. Você perdeu R$ 5 que corresponde ao excedente do consumidor. Quanto o consumidor estava gastando com a quantidade C que deixou de ser comprada? O valor corresponde a C vezes P*, sendo indicada no gráfico 18 pelo retângulo indicado (cor amarela). Este valor continua nas mãos do consumidor e poderá ser utilizado para adquirir outros bens. Logo, não representa perda. Gráfico 18 - Valor da quantidade que não foi adquirida pelo consumidor Então, a perda do consumidor corresponde ao valor da mercadoria que deixou de ser comprada menos o valor que permanece em suas mãos. Esta diferença corresponde ao excedente de consumir que deixou de usufruir indicado pelo triângulo (cor rosa escura) no gráfico 19. : 28 Gráfico 19 - Custo social do consumo devido a tarifa Portanto, sob enfoque econômico, o custo social da tarifa correspondente as distorções na produção e no consumo equivalente a soma das áreas dos dois triângulos, conforme ilustrado no gráfico 20. Gráfico 20 - Custo social da tarifa b) caso de país grande Em um país grande (participação elevada na demanda mundial), a fixação de uma tarifa reduz as importações e justamente por ser um grande comprador desloca a demanda mundial de DM1 para DM2. Assim, mantida a oferta mundial constante, o preço internacional cai de P1 para P0 (lado esquerdo do gráfico 21). : 29 Gráfico 21 – Tarifa em país grande No mercadodoméstico do pais importador, apesar da queda do preço internacional de P1 para P0, o preço interno aumenta de P0 (novo preço após a tarifa) para P2 = P0(1 + t), com a inclusão da tarifa. A produção doméstica aumenta de q1 para q2 e o consumo cai de c1 para c2. As importações se reduzem de M1 para M2 (lado direito do gráfico 21). A diferença fundamental entre a aplicação de uma tarifa em país pequeno e em país grande é que uma parcela tarifa é paga pelo exportador via redução no preço recebido (de P1 para P0), o que proporciona ao país importador um ganho nos termos de troca. Lembrar que os termos de troca são medidos dividindo-se o preço de exportação pelo preço de importação. A receita do governo é RT = M2(P2 - P0)t e corresponde no gráfico 21 as áreas “c” e “e”. Note que a área “e” representa a parte da receita da tarifa paga pelo exportador na forma de redução no preço recebido. A aplicação da tarifa em país grande provoca os seguintes resultados (lado direito do gráfico 21): a) efeito-produto: quantidade da oferta doméstica aumenta de q1 para q2; b) efeito-consumo: demanda doméstica diminui de c1 para c2; c) efeito-preço: preço interno aumenta de P1 para P2; d) efeito receita tributária: governo arrecada (c2 – q2)T, onde T = tP0; e e) efeito importação: importações caem de M1 para M2. Mercado mundial Mercado doméstico Q P P1 P0 P0 P1 P2 = P0(1 + t) OM DM1 DM2 D O q1 c1 q2 c2 q, c a b c d e M1 M2 Q1 Q0 : 30 O efeito bem-estar por agente econômico e total é apresentado na tabela 9. Tabela 9 – Efeito bem-estar da tarifa em país grande Agente econômico Variação no excedente Consumidor – a – b – c – d Produtor a Governo c + e Total – b – d + e Note na última linha da tabela 9 que em um país grande, a aplicação da tarifa pode gerar um ganho líquido positivo, desde que as áreas “b” e “d” sejam menores que a área “e”, isto é, o peso morto causado pela tarifa pode ser mais do que compensado pelo ganho nos termos de troca. 5. Critérios para a fixação de uma tarifa Se olharmos a estrutura tarifária de praticamente todos os países, notamos que a tarifa é diferenciada entre os produtos. Por exemplo, no Brasil, a tarifa de automóveis, produtos têxteis, vestuário e calçados é de 35%, a tarifa de computadores 16% (no mês de março de 2021, foi reduzida para 14,4%) e a tarifa de trigo é de 10%. Quais são os critérios para determinar o nível de uma tarifa? a) tarifa sob medida A tarifa é fixada para viabilizar a produção interna, mas sem gerar um lucro muito elevado. Portanto, a tarifa é fixada da seguinte forma: Tarifa = PD - PCIF = Cme + Lu - PCIF onde PD representa o preço doméstico a ser praticado pelo produtor, Cme representa o custo médio de produção e Lu o lucro unitário. Isso significa que a tarifa deve ser suficiente para viabilizar a produção no país considerando o custo de produção em um lucro razoável. Esse procedimento visa estimular a produção nacional sem considerar a competitividade internacional. : 31 A aplicação desse procedimento esbarra na falta de informações sobre o custo médio de produção, sendo geralmente conhecido apenas pela própria empresa interessada. Assim, há um incentivo para superestimar o custo nos pleitos de fixação da tarifa. Caso o governo sinalize que a tarifa será sempre ajustada para atender esse critério, haverá um incentivo à ineficiência, pois se as empresas reduzem os custos, o governo diminuirá a tarifa. O ganho da empresa com uma eventual inovação tecnológica será perdido pela redução correspondente da tarifa. Ademais, o governo fica sujeito às pressões políticas. Por exemplo, se este critério indicar uma tarifa de 10% para um produto a ser elaborado no país, mas o investidor pressiona para ter uma tarifa de 15% para obter um lucro mais elevado. Pressões políticas em favor deste investidor podem levar a tarifa de 15% em detrimento do critério técnico. Exemplos de países que adotaram esta medida: Brasil até 1990 e Austrália na década de 1960. b) tarifa uniforme A tarifa é igual para todos os produtos. Assim, uma vez escolhida o nível da tarifa, a aplicação é simples, facilitando a administração aduaneira e evitando as pressões políticas. Uma das dificuldades da aduana é verificar se um produto que está sendo importado corresponde a uma classificação de produtos com tarifa, por exemplo, 10% ou 20%. O importador defenderá a cobrança da tarifa de 10%. O governo exigirá uma tarifa de 20%. A divergência sobre qual deve ser a tarifa pode chegar aos tribunais. Uma tarifa única de 10% para todos os produtos evitaria esta disputa judicial. Um caso antigo ocorrido no século XIX nos EUA ilustra bem esta questão. As autoridades aduaneiras decidiram que tomate é vegetal e cobraram a correspondente tarifa de 10%. Um importador entrou com recurso argumentando que tomate é fruta. Frutas tinham tarifa de 0%. No julgamento, testemunhas leram dicionários e definições para "frutas" e "vegetais" no tribunal. Também foram apresentadas definições de "tomate", "ervilha", "berinjela", "pepino", "abóbora" e "pimenta". Na decisão da Suprema Corte (estadual), os juízes distinguiram entre a ciência e a vida cotidiana. Os juízes admitiram que, botanicamente falando, tomates eram tecnicamente frutas. Mas no dia-a-dia, eles decidiram, que os legumes eram coisas "geralmente servidas no jantar, com ou depois : 32 da sopa, peixe ou carnes... e não, como frutas em geral, como sobremesa. Então, de acordo com a lei aduaneira, o tribunal decidiu que tomates devem ser considerados como vegetais e o importador teve que continuar pagando a tarifa de 10%. Suponha que um empresário de um estado apresenta um projeto de investimento para produzir um bem internamente desde que a tarifa seja de 30%. Os políticos locais pressionarão o governo federal para aceitar ainda que o parecer técnico não recomende. Assim, pressões políticas muitas vezes predominam nas decisões sobre tarifas. Com tarifa uniforme, essas pressões não ocorreriam. Todos os produtos pagam a mesma tarifa e uma exceção seria inaceitável. Nenhum país adota rigorosamente uma tarifa uniforme. Chile se aproxima da tarifa uniforme com alíquota de 6%, à exceção de bens de capital e um grupo pequeno de produtos (carros de bombeiro, tanques e carros blindados, aeronaves, transatlânticos, cargueiros, navios de guerra, papel moeda e talões de cheques) com tarifa de 0% e de açúcar, óleo comestível e trigo com tarifas variáveis. Cingapura adota o regime de livre comércio, o que implica em tarifa uniforme de 0%, à exceção de cervejas de malte e bebidas alcoólicas específicas por razões socioculturais e Hong-Kong e Macau, ambas regiões administrativas da China aplicam tarifas nulas para todos os produtos importados. c) tarifa seletiva ou diferenciada O governo escolhe determinados setores e fixa tarifas mais elevadas. Para os demais, as tarifas são menores. Essa prática é também denominada política industrial por favorecer determinados setores em detrimento de outros. Quais critérios podem selecionar os setores com tarifas maiores? Setores nascentes – atividade que se inicia no país – que apresentam economias externas dinâmicas, ou seja, custos médios decrescentes. Nesse procedimento, a escolha dos setores não é fácil, pois devem ser indicados setores que no momento atual não são viáveis, mas que serão competitivos no futuro. Evidentemente, é sujeita às pressões políticas. Setores de tecnologia de ponta na hipótese que geram externalidades por meio de difusão de conhecimento técnico. Setores intensivos em trabalho se há desemprego elevado. : 33 A maioria dos países adota a tarifa seletiva. No entanto, com os programas de liberalizações das importações adotados por estes países, a diferença nas tarifas entre setores é muito pequena, à exceção de alguns setores específicos. 6. Conceitos adicionaisde tarifa Há outras definições de tarifas que é útil conhecer: a) tarifa nominal ou legal também conhecida como proteção nominal refere-se a alíquota do imposto de importação fixada na legislação; b) tarifa efetivamente paga corresponde ao imposto de importação efetivamente pago dividido pelo valor da importação CIF. Este é um conceito fiscal. Por que uma tarifa efetivamente paga seria diferente da tarifa legal? Isso ocorre devido a regimes especiais de tributação na importação. Por exemplo, as importações da Zona Franca de Manaus e dos países do Mercosul estão isentas de tarifas. Então, um mesmo produto paga tarifas diferentes segundo a localização do importador ou país de origem da mercadoria. c) tarifa preferencial refere-se a tarifa com redução ou isenção devido às margens de preferência concedidas em acordos comerciais. Por exemplo, nas importações de trigo provenientes da Argentina, devido ao Mercosul, a tarifa preferencial é de 0% por que a margem de preferência é de 100%, enquanto o originário dos EUA paga 10%; d) tarifa implícita medida pelo diferencial de preços interno e externo. Este é conceito mais relevante do ponto de vista econômica pois captura exatamente quanto o preço de um produto produzido no país é superior ao mesmo produto no exterior. No entanto, não é fácil calcular esta medida, pois na realidade, os produtos não são homogêneos, ou seja, não é simples encontrar dois produtos cujos preços sejam comparáveis. Além disso, mesmo que os produtos sejam estritamente idênticos, os preços para serem comparáveis devem ser nas mesmas condições de venda e tributação; e) tarifa proibitiva corresponde a tarifa suficientemente elevada que torna a importação nula (equivalente à economia fechada). No gráfico 22, a tarifa t que aumenta o preço doméstico de P1 para P2 é denominada tarifa proibitiva. O mesmo conceito é aplicado para qualquer tarifa maior do que t. : 34 Gráfico 22 – Tarifa proibitiva f) tarifa consolidada é equivalente a tarifa máxima acordada na OMC. No Brasil, para a maioria dos produtos industrializados a tarifa consolidada é de 35%. Para os produtos agrícolas varia entre 30% a 55%. Essas tarifas máximas entraram em vigor a partir de 2000 e decorre dos compromissos assumidos na Rodada Uruguai. Caso o país fixe uma tarifa superior a tarifa consolidada, deve negociar concessões equivalentes aos países exportadores que se sentirem prejudicados com a medida adotada. Caso essa negociação não produza um resultado aceitável para os países exportadores, poderão solicitar à OMC autorização para adotar represálias comerciais. Represália comercial neste caso é uma autorização da OMC em aplicar tarifas mais elevadas, inclusive acima do nível consolidado, pelos países exportadores prejudicados, sobre as importações do país que descumpriu o compromisso de tarifa máxima. O objetivo é penalizar o país descumpridor da regra. Concessão equivalente significa uma redução das tarifas de outros produtos para manter constante o volume de importação proveniente do país exportador. No gráfico 23, a fixação de uma tarifa t2 acima do nível consolidado t1 no bem 1, reduz as importações no valor de P1(Q11 – Q12). A concessão equivalente implica em uma redução da tarifa de t2 para t1 sobre o bem 2, de forma que as importações aumentem no valor de P1(Q22 – Q21) aproximadamente equivalente a P1(Q11 – Q12). P P2 P1 Q O D P, = P1 (1 + t) : 35 Gráfico 23 – Compensação equivalente pelo aumento da tarifa do bem 1 e redução da tarifa do bem 2 7. Classificação de produtos no comércio e mudança nas tarifas Os produtos de comércio exterior no Brasil são classificados segundo a Nomenclatura Comum do Mercosul - Sistema Harmonizado (NCM-SH) que tem 8 dígitos: os 2 primeiros dígitos são denominados capítulo ou posição, os 4 primeiros dígitos de subposição, os 6 primeiros dígitos de item e os 8 dígitos de subitem. Por exemplo: 73071910 73 – capítulo ou posição 7307 – subposição 730719 – item 73071910 - subitem Os 6 primeiros dígitos correspondem a classificação do Sistema Harmonizado e são idênticos para todos os países. O objetivo desta uniformidade é permitir a elaboração de estatísticas de comércio exterior que sejam comparáveis entre países. Por exemplo, se uma empresa planeja exportar um produto, tendo o código de 6 dígitos do produto na mão poderá facilmente determinar quais sãos os principais países importadores deste bem. : 36 Os dígitos adicionais além dos seis são de livre arbítrio de cada país, sendo determinado de acordo com o interesse de cada país. Por exemplo, para fins de acompanhamento interno das importações de um produto pode ser preciso maior discriminação do que a disponível com 6 dígitos. Por exemplo, os EUA e UE aplicam 8 dígitos para cobrança de tarifas e 10 dígitos para coleta de estatísticas de exportação e importação. Os países do Mercosul consideram que 8 dígitos é suficiente para atender estas duas finalidades. Para encontrar o código de um produto há um dicionário de classificação de mercadorias segundo o código NCM-SH. A correta classificação do produto a ser importado é importante para definir qual é a tarifa a ser paga. Caso a empresa tenha dificuldades para efetuar a classificação pode solicitar a Secretaria da Receita Federal do Ministério da Economia (SRF-ME) que faça a classificação antes do processo de importação. Assim, no momento do desembaraço da mercadoria na aduana não haverá dúvidas permitindo a firma saber antecipadamente qual é a tarifa a ser paga. Atualmente, uma mudança na tarifa requer a aprovação dos demais parceiros do Mercosul. O roteiro para essa alteração é mostrado na figura 3. A empresa faz o pedido de alteração na tarifa diretamente ou por meio de sua associação de classe a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia que analisa se atende o interesse nacional. Se aprovado é submetido à Comissão de Comércio no Mercosul composta por representantes dos 4 países. Se aprovado é levado a sanção no Grupo ou Conselho do Mercosul que é composto por ministros das Relações Exteriores e das áreas econômicas. Finalmente, se aprovado o governo brasileiro publica uma resolução da Câmara de Comércio Exterior que torna legal a vigência da nova tarifa. Figura 3 - Roteiro para alteração da tarifa aduaneira no Mercosul : 37 8. “Ex-tarifários” Os “ex-tarifários” são utilizados para alterar a tarifa de um produto muito específico sem alterar a de todos os produtos classificados em um determinado item (8 dígitos NCM/SH). O uso intensivo deste instrumento teve início em 1990. Como naquele momento, o governo não podia zerar a tarifa de bens de capital devido a ameaça à produção interna destes bens, resolveu usar o mecanismo de ex-tarifários aplicando tarifa zero quando não havia produção nacional daquele bem. No entanto, a definição do que é produzido no país e como o bem importado poderia substituir a produção nacional tornou a análise dos pedidos de criação de ex-tarifários uma tarefa extremamente difícil. Por exemplo, uma máquina empacotadora de fraldas de 10 pacotes por minuto é disponível no mercado internacional, mas a indústria brasileira consegue produzir uma que empacota 5 fraldas por minuto. Nesse caso tem produção nacional? Se for criado um ex-tarifário para o produto importado quem comprará a máquina nacional? Se não criar, estará tornando o acesso a máquinas mais modernas mais custoso e afeta a eficiência da firma. Como resolver? Mais ainda, se for concedida, na aduana, o fiscal terá que verificar se a máquina empacota 10 fraldas para não cobrar a tarifa. Esta análise não é fácil e precisará muitas vezes de laudos técnicos de engenharia elevando os custos de importação. Para a firma que consegue o “ex-tarifário”, uma máquina importada que custa, por exemplo, US$ 5 milhões deixaráde pagar, se a tarifa for de 10%, US$ 500 mil dólares. Logo, há incentivo para buscar uma máquina com especificações tais que não tenham produção nacional. Assim, há incentivos para solicitar “ex-tarifário” cuja quantidade chegou a atingir em torno de 4.000 itens quando a NCM-SH apresenta 8.200 produtos. Em outubro de 1997, o governo decretou o fim do “ex-tarifário”, exceto para o setor de telecomunicação que estava em processo de privatização e a modernização do sistema de telefonia iria requer importações. No entanto, em 1998, diante de fortes pressões políticas, o governo retornou o uso de “ex-tarifários” que perdura até hoje. : 38 A tabela 10 apresenta um exemplo de “ex-tarifário”. A tarifa de motores de pistão, de ignição por compressão é de 14%. No entanto, se o motor tiver as características descritas no “ex-tarifário” pagará apenas 2%. Tabela 10 9. Conceito de proteção ou tarifa efetiva Inicialmente não confundir tarifa efetiva com tarifa paga. Tarifa paga é um conceito fiscal medida pelo quociente entre a tarifa arrecadada efetivamente na importação do produto e o seu valor CIF. Tarifa efetiva é um conceito econômico. Vamos entender a ideia de tarifa efetiva. Uma tarifa sobre o bem produzido no país é favorável ao produtor interno, pois permite elevar o seu preço já que o preço do produto importado, que compete com o seu produto, aumenta com a tarifa. No entanto, uma tarifa que incide sobre os insumos que a firma utiliza no seu processo produtivo é prejudicial, pois eleva os custos de produção. Os produtores de insumos internos poderão também elevar seus preços pois a opção de importar ficou mais cara. O gráfico 24 ilustra esta questão. Um produtor utiliza um insumo e paga PI e vende o produto final por P. A diferença é o seu lucro na ausência de tarifa. Se o governo aplica uma tarifa t sobre o bem final, ele poderá vender ao preço P(1 + t), aumentando o seu lucro. No entanto, se o governo também cobra : 39 uma tarifa ti sobre o insumo, o preço deste insumo aumentará para PI(1 + ti), reduzindo o seu lucro. Portanto, uma tarifa sobre o bem final favorece o produtor, mas uma tarifa sobre os insumos que são utilizados no processo produtivo prejudica o produtor. Assim, uma estrutura com tarifas para todos os bens tem efeitos positivos e negativos sobre o produtor doméstico. Gráfico 24 – Tarifas sobre o bem final e insumos Se há tarifa sobre o produto e também tarifas sobre os insumos, qual é o resultado líquido para o produtor interno? O conceito de tarifa ou proteção efetiva é uma medida que incorpora a tarifa sobre o produto e a tarifa incidente sobre os insumos, ou seja, indica uma tarifa líquida. A proteção efetiva é definida como o aumento percentual no valor adicionado doméstico proporcionado pela estrutura de proteção tarifária relativamente ao valor adicionado obtido em situação de livre comércio (ausência total de tarifas). A expressão algébrica é dada por: gj = VAD − VALC VALC onde gj = proteção efetiva à atividade j; VAD = valor adicionado distorcido pelas tarifas ou a preços domésticos na atividade j; P P( 1 + t) PI PI( 1 + ti) Lucro sem tarifa Lucro aumenta Lucro cai P Q : 40 VALC = valor adicionado de livre comércio (sem tarifas) ou a preços internacionais na atividade j. A fórmula geralmente utilizada para o cálculo da proteção efetiva é desenvolvida da seguinte forma. No regime sem tarifas, o valor adicionado de livre comércio é definido de forma usual: VALC = Pj - aijPi onde Pj = preço internacional do produto j; Pi = preço internacional do insumo i (peça, componente, matéria-prima); aij = coeficiente técnico físico de produção que corresponde a quantidade do insumo i necessária para produzir uma unidade do produto j. Na presença de tarifas, o valor adicionado distorcido pelas tarifas é dado como: VAD = Pj (1 + tj) - aijPi(1 + ti) Calculando a diferença entre os dois valores adicionados, temos: VAD - VALC = Pj (1 + tj) - aijPi(1 + ti) - Pj - aijPi VAD - VALC = Pj + Pj tj - aijPi + aijPi ti - Pj - aijPi Simplificando, temos: VAD - VALC = Pj tj - aijPi ti Dividindo por VALC = = Pj - aijPi, temos: VAD − VALC VALC = PJtj − ∑ aijPiti Pj − ∑ aijPi Dividindo o numerador e o denominador do lado direito por Pj, temos: VAD − VALC VALC = = PJtJ PJ – ∑ aIJPiti PJ PJ PJ – ∑ aIJPi PJ : 41 Definindo aij* = aijPi Pj , como a parcela do custo do insumo i no preço do bem j, ambos medidos a preços internacionais, isto é, sem tarifa, e simplificando, temos: gj = VAD − VALC VALC = tj − ∑ aijti 1 − ∑ aij A título de ilustração segue o seguinte exemplo de cálculo da tarifa efetiva na tabela 11. Tabela 11 – Exemplo de cálculo de proteção efetiva Variáveis Sem tarifa Com tarifa Componente 50 50 + 5 = 55 Salário 30 30 Lucro 20 35 Preço 100 100 + 20 = 120 Valor adicionado 50 65 Tarifa efetiva 65−50 50 = 0,3 ou 30% A empresa produz um bem utilizando um componente e trabalhadores. Sem tarifa, o componente custa 50 e paga salário por unidade produto de 30. Ela vende ao preço internacional de 100 e lucra 20. O valor adicionado (lucro mais salário) desta atividade é 50. Se o governo aplica uma tarifa de 10% na importação do componente e de 20% na importação do bem final, o custo do componente passa a ser 55 e a empresa conseguirá vender o produto por 120. Mantendo o salário constante, o lucro aumenta para 35. O valor adicionado se eleva para 65. A taxa de proteção efetiva desta atividade é dada por: Tarifa efetiva = VAD − VALC VALC = 65 − 50 50 = 0,3 30% : 42 A importância do conceito de tarifa ou proteção efetiva pode ser observada quando surgem notícias na imprensa, por exemplo, que o setor de automóveis pressiona o governo para reduzir as tarifas nas importações de aço. O que as montadoras de automóveis têm a ver com a tarifa da siderurgia? Aço é utilizado para fabricação de carros. Então, uma redução da tarifa de aço diminuirá o preço deste insumo no mercado interno. Note que não importa se o aço é produzido no Brasil ou se é importado. O preço do aço importado a ser disponibilizado no país, que inclui a tarifa, regula o preço do aço produzido internamente. Logo, uma queda na tarifa de aço, reduz o preço do aço e eleva o valor adicionado da indústria automotiva e, por conseguinte, a sua proteção efetiva. Portanto, tendo em mente o conceito de proteção efetiva, o setor automotivo pressionará sempre para ter tarifa reduzida de aço e, se possível, de outros insumos que utiliza no processo produtivo. O gráfico 25 apresenta a tarifa nominal e a tarifa efetiva de setores escolhidos. Note que os setores automóveis, caminhões e vestuário apresentam as maiores tarifas efetivas. Gráfico 25 – Tarifas nominal e efetiva, setores escolhidos 0 20 40 60 80 100 120 Tarifa nominal Tarifa efetiva : 43 10. Barreiras não tarifárias 10.1 Conceito A definição de barreira não-tarifária (BNT) é imprecisa. Pode ser definida como qualquer medida governamental que afeta as importações, exclusive a tarifa. A BNT geralmente reduz as importações. No entanto, algumas medidas podem estimular as importações. Por exemplo, exigências de qualidade mínima do produto importado ainda que aumente o preço, pode gerar maior confiança aos consumidores e elevar a demanda de modo que as importações aumentam. Ainda que, na maioria dos casos, o efeito seja negativo sobre as importações, a literatura atualmente tem substituído BNTs por restrições não tarifárias (RNTs). A redução das tarifas aplicadas promovidas pelos programas de liberalização das importações em quase todos os países, junto com a diminuição das tarifas consolidadas (tarifas máximas) devido às negociações multilaterais no âmbito da OMC, reduziram a importância deste instrumentocomo medida de proteção à indústria doméstica. Para atender pressões internas de proteção, os países têm recorrido mais intensamente as RNTs. Portanto, conhecer o funcionamento deste instrumento passou a ser importante nos dias de hoje. Em seguida, vamos analisar os diversos tipos de RNTs mais aplicados no mundo. 10.2 Cota de importação Cota é uma limitação quantitativa imposta sobre as importações. Pode ser em volume ou em valor. Por exemplo, a importação de carros pode ser limitada em 10 mil unidades por ano ou em US$ 200 milhões por ano. Evidentemente se o objetivo do governo é diminuir a importação, a cota deve ser menor do que a importação vigente. O gráfico 26 apresenta este caso. Por exemplo, o governo considera que importação M1 é excessiva e fixa uma cota de importação. Evidentemente, a cota permitida de importação deve ser inferior a importação vigente. A fixação de uma cota pode ser analisada de duas formas: na primeira, deslocamos horizontalmente a curva de oferta doméstica para a direita pela quantidade da cota (a oferta total será a oferta interna mais a cota de importação), mostrada no gráfico 27; na segunda, deduzimos da demanda doméstica a quantidade da cota, ou seja, deslocamos a curva de demanda para a esquerda pela quantidade da cota. Neste caso, supomos que uma parte da demanda doméstica será atendida pela cota (gráfico 28). : 44 Gráfico 26 - Cota de importação Gráfico 27 - Cota – deslocamento da curva de oferta interna Gráfico 28 - Cota – deslocamento da curva de demanda doméstica : 45 Nos dois casos, a cota aumenta o preço de P* para PD, a quantidade produzida no país se eleva de Q1 para Q2 e o consumo cai de C1 para C2. Portanto, para analisar o impacto da cota não faz diferença se deslocamos a curva de oferta ou a curva de demanda. Devemos escolher apenas uma delas. 10.2.1 Equivalência entre tarifa e cota em concorrência perfeita Vamos optar em analisar a cota com deslocamento da demanda. Assim, no gráfico 29, a cota (menor do que a importação vigente) desloca a curva de demanda doméstica de DD1 para DD2. A nova curva de demanda (DD2) cruza a curva de oferta OD e estabelece o novo preço equilíbrio PD que será maior do que o preço inicial P*. Diante do aumento do preço, a produção interna aumenta de Q1 para Q2 e o consumo cai de C1 para C2. A quantidade importada M2 será, por definição, igual a conta estabelecida. Gráfico 29 – Cota em concorrência perfeita Note que, em concorrência perfeita, o resultado é exatamente igual à fixação da tarifa que aumenta o preço de P* para PD = P*(1 + t). A cota e tarifa para serem comparáveis requer que ambos permitam o mesmo volume de importação. A única diferença é que na tarifa, temos receita do governo, enquanto, com a cota, temos renda da cota. Esse é um ganho extraordinário daqueles que detém a cota (recebem o direito de importar até o limite da cota), pois pagam o preço internacional P*, mas o preço no mercado interno é PD. O diferencial de preço multiplicado pelo volume de importação fornece a renda da cota total. O custo social da cota é idêntico ao da tarifa para um mesmo volume de importação. : 46 No entanto, se a demanda aumenta o resultado não permanece igual. Quando se aplica a tarifa, o aumento da demanda provoca incremento nas importações, mantendo-se o preço, inclusive a tarifa, constante (ver o lado esquerdo do gráfico 30). No caso de cota, como as importações são constantes, o aumento da demanda leva ao aumento no preço doméstico (ver no lado direito do gráfico 30). Gráfico 30 – Se a demanda aumenta, tarifa e cota têm impactos diferentes em concorrência perfeita 10.2.2 Critérios para distribuição da cota e apropriação da renda da cota Como é distribuída a cota, isto é, para quem é dado o privilégio de importar? Os critérios para a distribuição da cota podem ser: i) de acordo com a participação nas importações em um determinado período-base. Logo, os ganhos extraordinários são obtidos pelas empresas que já importavam no período-base anterior à fixação da cota; ii) leilões: o governo dá o direito de importar para aqueles que estão dispostos a pagar o maior ágio que é o preço da licença. Se o leilão é competitivo, o ágio deve ser igual ao diferencial de preço externo e interno, de modo que o governo recupera a receita tributária perdida. Se há muitos produtos com cotas, o sistema de leilões torna-se inviável devido ao custo de administrar este mecanismo. O governo argentino no Plano de Conversibilidade (1991-1994) fez leilões periódicos para importações de carros. O governo anunciava nos principais jornais a data de leilão e a quantidade de licenças de importação : 47 de automóveis. Poderiam participar pessoas físicas e jurídicas interessadas em importar automóveis. Em 1985, o governo australiano leiloou licenças de importação de automóveis que pagavam a tarifa de 37,5%. O equivalente tarifário da cota, incluindo a tarifa, atingiu 81,5%. Por exemplo, um carro cujo preço de importação era de US$ 10 mil dólares, o importador pagava US$ 3.750 de imposto de importação e US$ 4.400 como ágio no leilão para obter a licença de importação. iii) liberação de licenças para importação por ordem do pedido (‘first-come-first-served’) até o preenchimento da cota. Por exemplo, se há um limite de importação (cota) de 100 toneladas de arroz, as autorizações para importar são concedidas até atingir este volume. Alcançada esta meta, a importação passa a ser proibida; e iv) licença de importação administrada pelo país exportador: nesse caso, os exportadores que conseguem a cota absorvem os ganhos extraordinários. Este mecanismo é conhecido como “restrição voluntária às exportações” e foi aplicado pelos EUA e União Europeia na década de 1970 nas importações de carros japoneses. Apesar de chamar “voluntária”, o Japão aceitou limitar as exportações de carros para estes países sob ameaça de medidas mais rígidas nas importações de carros nos EUA e na União Europeia. 10.2.3 Cota em monopólio Se o produtor é monopolista, ele considerará a quantidade da cota como uma demanda perdida. Portanto, ele deduzirá horizontalmente da demanda total a quantidade da cota, obtendo a demanda residual e, por conseguinte, a receita marginal residual. Sobre essa demanda residual, o monopolista escolherá a quantidade que maximiza o lucro, isto é, a quantidade em que a receita marginal residual é igual ao custo marginal. Para essa quantidade, os consumidores estarão dispostos a pagar PQ (Gráfico 31). A demanda residual é composta de consumidores que não tiveram acesso à importação. Portanto, eles não têm opção a não ser comprar do monopolista. Sobre esses consumidores, o monopolista aplica seu poder de mercado. 10.2.4 Comparação entre tarifa e cota no monopólio Conforme vimos, a tarifa e a cota têm o mesmo efeito em concorrência perfeita, exceto que com a cota o governo perde a receita da tarifa que é apropriada pelos importadores ou exportadores que : 48 conseguem o privilégio de exportar quando o controle quantitativo é feito pelo país exportador (restrição voluntária às exportações). Gráfico 31 – Cota em monopólio No caso do monopólio, a cota proporciona uma demanda residual sobre a qual a firma aplica o seu poder de mercado. Com a tarifa, o monopolista é obrigado a atuar como uma firma em concorrência perfeita, pois não pode cobrar um preço acima do preço internacional mais a tarifa. Portanto, para uma firma monopolista, a cota é sempre mais preferível que a tarifa. Para uma firma em concorrência perfeita, a cota e a tarifa são indiferentes. O gráfico 32 mostra que, para o mesmo volume de importação, com a conta o monopolista consegue cobrar o preço PQ e com a tarifa um preço menor PT. Esta comparação entre cota e tarifa em concorrência perfeita e monopólio não é apenas uma curiosidade teórica, ainda quesua aplicação direta no mundo real aparentemente seja difícil, pois estas estruturas de mercado servem apenas com referência e não são encontradas no mundo real. No entanto, com as devidas aproximações pode ser aplicada. Por exemplo, no início de 1995, com a implementação do Plano Real as importações de carros e de outros bens de consumo aumentaram significativamente. O déficit projetado para aquele ano não era financiável no mercado financeiro internacional devido à crise da dívida externa mexicana no final de 1994. Como uma desvalorização acentuada da taxa de câmbio poderia afetar diretamente a taxa de inflação, era necessário reduzir as : 49 importações de outra forma. Para conter as importações de carros, o governo poderia aumentar a tarifa. No entanto, sob pressão da indústria automotiva optou em fixar cotas nas importações deste bem. Gráfico 32 – Comparação entre cota e tarifa em monopólio O setor automotivo não é um monopólio, mas um oligopólio. Mesmo assim, a cota era preferível do que o aumento da tarifa. Desta forma, o controle foi feito via cota. Os países exportadores reclamaram na OMC por que cota não poderia aplicada conforme acordado na Rodada Uruguai e o Brasil teve que substituir a cota por tarifa no final de 1995. 10.3 Cota tarifária Esse instrumento de controle das importações é utilizado principalmente pelos países desenvolvidos para protegerem o setor agrícola. A cota tarifária foi implementada a partir de 1995 em substituição à cota cuja utilização foi proibida na Rodada Uruguai. A cota tarifária é baseada em três medidas: a) cota; b) tarifa intracota, geralmente reduzida, incidente nas importações até a quantidade fixada pela cota; e c) tarifa extracota, usualmente elevada, incidente nas importações acima da quantidade fixada pela cota. : 50 A princípio, a cota tarifária deveria ser um instrumento menos restritivo que a cota. A cota não permite importação acima da quantidade fixada. A cota tarifária permite desde que a tarifa extra cota seja paga. No entanto, como a tarifa extra cota foi fixada em nível muito alto, a importação acima da cota tornou- se praticamente proibitiva. No gráfico 33, considere um país exportador com custo marginal constante (oferta perfeitamente elástica) que enfrenta uma cota tarifária com uma cota de quantidade QT, tarifa intracota (tIntra) e tarifa extracota (textra). A quantidade ofertada será nula o preço for menor do que o custo marginal (Cma), Se o preço for igual ou maior do que Cma, o exportador estará disposto a oferecer qualquer quantidade que seu parceiro comercial esteja disposto a adquirir. Qualquer quantidade exportada (importada pelo seu parceiro comercial) pagará uma tarifa intracota até a quantidade QT e o preço será P(1 + tintra). Qualquer quantidade acima de QT pagará a tarifa extracota e o preço será P(1 + textra). A curva de oferta de exportação de um país pequeno é ilustrada com cor verde.. Gráfico 33 – Curva de oferta de país pequeno com cota tarifária Como há três instrumentos, qual deles efetivamente controla as importações? Essa é uma questão importante, por exemplo, nas negociações comerciais. Devemos pedir uma redução da tarifa intracota? Um aumento da cota? Uma redução da tarifa extracota? Lembre-se que as negociações comerciais é um mecanismo de trocas. Logo, tudo que se pede tem como contrapartida uma concessão ao seu : 51 parceiro comercial. Portanto, deve-se solicitar apenas pleitos que têm impacto efetivo sobre as nossas exportações para não ter que oferecer mais concessões. No gráfico 34, se a demanda no país importador for D0, o preço será P(1 + tintra) e quantidade exportada Q0. A receita tarifária do país importador será Q0[P(1 + tintra) – P]. A restrição às importações é dada pela tarifa intracota. Se o país importador reduzir a tarifa intracota ocorrerá um deslocamento para a direita ao longo da curva de demanda D0 e as importações aumentarão. Neste caso, a cota e a tarifa extra cota são irrelevantes. Gráfico 34 – Quantidade de importações determinada pela tarifa intracota No gráfico 35, se a demanda for D1, o preço máximo que o consumidor no país importador estará disposto a pagar é P(1 + tintra) mais a renda da cota por unidade de produto (R) e as importações serão idênticas a cota Q1. Note que o importador que receber a cota pagará ao exportador o preço P e recolherá o imposto [P(1 + tintra) – P} por unidade de produto, mas venderá ao consumidor ao preço [P(1 + tintra) + R]. A renda da conta para a quantidade Q1 é dada pelo retângulo formado por R*Q1. Neste caso, a redução da tarifa intracota não terá impacto sobre as importações. Quanto a tarifa extracota sua diminuição será efetiva somente se tornar o preço P(1 + textra) menor do que [P(1 + tintra) + R]. Portanto, o que restringe as exportações é o volume da cota. : 52 Gráfico 35 – Quantidade de importações determinada pela cota No gráfico 36, se a demanda for D2, o preço será P(1 + textra) e as importações serão Q2, uma quantidade superior a cota QT. As importações até o volume da cota QT pagarão a tarifa intracota gerando uma receita para o governo do país importador de QT[P(1 + tintra) – P]. A quantidade acima da cota (Q2 - QT) sofrerá a incidência da tarifa extracota e proporcionará uma receita de (Q2 - QT)[P(1 + textra) – P]. As importações até QT gerarão uma renda da cota de QT[P(1 + textra) – P(1 + tintra)]. Neste caso, se tarifa extracota for reduzida, as importações aumentarão. No entanto, redução da tarifa intracota ou um aumento da cota até Q2 não terão nenhum efeito (Gráfico 36). Gráfico 36 – Quantidade importações determinada pela tarifa extracota : 53 Em resumo, é importante conhecer onde se localiza a demanda para verificar qual instrumento está de fato restringindo as importações. Em 2004, nas negociações para a formação da área de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, os europeus ofereciam um aumento na cota para os principais produtos agrícolas de interesse do Brasil que estavam sujeitos à cota tarifária. Essa ampliação da cota geraria um aumento efetivo nas exportações brasileiras? Como vimos, a resposta depende da demanda europeia por cada produto. A partir desta informação seria possível avaliar se a oferta europeia era valiosa. Outro exemplo destaca a importância de conhecer a demanda para determinar qual é a restrição que efetivamente restringe as importações. Na década de 1990, era usual a Embaixada do Brasil nos EUA listar as principais barreiras que os produtos brasileiros sofrem no mercado norte-americano. Nesta lista, constava que a tarifa sobre as exportações de fumo pelo Brasil naquele mercado atingia 350%. No entanto, as importações de fumo nos EUA eram controladas por cota tarifária e a alíquota de 350% referia-se a tarifa extracota. Naquele período, as exportações brasileiras para o mercado norte- americano eram inferiores a cota. Logo, o que restringia as nossas exportações era a tarifa intracota e não a tarifa extracota. Com cota tarifária, quem ganhará a renda da cota: o importador ou o exportador? A apropriação da renda da cota é determinada por quem (país) administra a distribuição da cota. Assim, se a concessão da cota é feita pelo país importador, alguns importadores escolhidos serão beneficiados pela renda da cota. Eles importarão ao preço P e venderão ao preço vigente no mercado interno. Se a administração da cota é feita pelo país exportador, as firmas exportadoras observarão quanto os consumidores do país importador estarão dispostos a pagar e venderão a este preço capturando a renda da cota. Se há importação acima da cota e a tarifa extra cota for muito elevada, a renda cota pode ser maior do que o valor da importação da mercadoria. Esta situação pode ser visualizada no gráfico 36. Note que o retângulo que corresponde a renda da cota é maior do
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