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Política de importaçao

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olítica de importação 
 
1. Política comercial: intervenção do governo
Os governos intervêm nos fluxos de comércio com diversas justificativas, tais como o equilíbrio na 
balança comercial, o estímulo à produção doméstica e o aumento da receita tributária. 
A título de ilustração mostramos na figura 1 um exemplo de intervenção governamental. No mundo de 
H-O, se o país A é relativamente abundante em trabalho exportará bens intensivo no uso deste fator e
importará bens intensivos no fator capital. No entanto, o governo pode desejar mudar esta estrutura de 
comércio por meio da política de comércio exterior. Por exemplo, ao aplicar uma tarifa aduaneira sobre 
as importações de bens intensivos em capital poderá estimular a sua produção interna. Ao subsidiar as 
exportações destes produtos poderá gerar competitividade destes bens. No final, a estrutura de 
comércio será diferente. 
Figura 1 – Intervenção governamental no comércio tipo H-O 
: 
 
2 
2. Os instrumentos de política comercial 
2.1 Política de importação 
Os principais instrumentos são: 
a) tarifa aduaneira: ad valorem, específica, variável e sazonal; 
b) barreiras não tarifárias: cota, cota-tarifária, medidas sanitárias e fitossanitárias, compras do governo, 
subsídio à produção doméstica, barreiras técnicas, licença prévia, etc. 
c) defesa comercial: direito antidumping e direito compensatório (antissubsídio); 
d) medida de salvaguarda; 
e) valoração aduaneira; e 
f) medidas contra crise no balanço de pagamentos. 
2.2 Política de exportação (a ser analisada nota de aula 8) 
Os principais instrumentos são: 
a) subsídio à exportação e o viés antiexportação; e 
b) incentivo à exportação: isenção dos impostos indiretos, financiamento à exportação, regime de 
drawback, zona de exportação e entreposto aduaneiro. 
3. Tarifa aduaneira 
A tarifa aduaneira é um imposto que incide exclusivamente sobre o produto importado. Por isso é 
também conhecido como imposto de importação. 
Na maioria dos países, a base de cálculo geralmente é o valor CIF (Cost, Insurance and Freight) do 
produto importado, ou seja, o custo do bem importado incluindo-se as despesas com seguro e frete e 
entregue a bordo do navio no porto do país importador. Alguns países aplicam outras bases de cálculo: 
Austrália e Nova Zelândia aplicam sobre o valor FOB (Free on the Board) – valor da mercadoria 
colocada no navio no porto do pais exportador. Os EUA aplicam sobre o valor efetivamente pago ao 
exportador. A figura 2 ilustra estas bases de cálculo da tarifa. 
Os temos CIF e FOB fazem parte do Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS) que ao constar 
nos contratos de exportação e de importação definem as responsabilidades do exportador e do 
: 
 
3 
importador sobre a mercadoria transacionada quando ocorrem eventos imprevistos. Por exemplo, se a 
importação é CIF, o exportador é o responsável pela mercadoria até a entrega ao exportador a bordo 
do navio no porto do pais importador. A partir de então, a responsabilidade passa a ser do importador. 
Se ao retirar a mercadoria do navio ocorrer um dano (o cabo do guindaste arrebenta e o contêiner cai 
no chão), a perda é do importador. Se a mercadoria for furtada no navio antes da entrega ao importador, 
a perda é do exportador. 
 
Figura 2 - Base de cálculo da tarifa 
 
 
Assim, os temos no Incotermns definem as responsabilidades do exportador e do importador evitando 
questionamentos legais. Além dos citados, há vários outros termos que definem o local da entrega da 
mercadoria. Por exemplo, o termo EXW (Ex-Works - ex-fábrica) significa a entrega da mercadoria na 
porta do estabelecimento do exportador, a partir daí tudo passa a ser da responsabilidade do 
importador. Evidentemente, o preço varia de acordo com a divisão das responsabilidades. 
3.1 Funções da tarifa aduaneira 
Vamos ilustrar as funções da tarifa aduaneira por meio de um simples exemplo. Considere que o custo 
unitário de fabricação de um determinado produto no Brasil atinge R$ 620 e o preço FOB do produto 
importado, idêntico ao produzido no país, é de US$ 100 e o preço CIF de US$ 120. Supondo uma taxa 
de câmbio de R$ 5 por US$ 1, o preço do produto importado seria de R$ 600. Portanto, este seria o 
preço máximo que o produtor doméstico poderia cobrar pelo seu produto. Neste caso, como o custo de 
: 
 
4 
produção é maior que o preço máximo que poderia cobrar, a produção interna não seria 
económicamente viável (Tabela 1). 
 
Tabela 1 – Papel da tarifa aduaneira 
Descrição 
Preço do produto 
Importado Doméstico 
FOB (US$) 100 
CIF (US$) 120 
CIF (R$), taxa câmbio (R$ 5/US$ 1) 600 600 
Tarifa (20%) 120 
Final 720 720 
 
Se o governo aplica uma tarifa de 20%, o imposto de importação seria de R$ 120 (0,2 vezes 600) e o 
custo total de importação passaria a ser de R$ 720. Agora, o preço máximo que o produtor doméstico 
pode cobrar seria maior do que o custo de produção viabilizando economicamente a sua produção. 
Então, a principal função da tarifa aduaneira é permitir a produção doméstica que não seria lucrativa 
sem o uso deste instrumento. 
Se com a tarifa, ainda ocorre importação devido, por exemplo, a insuficiência de produção doméstica, 
o governo gera arrecadação tributária. Esta seria a segunda função da tarifa, propiciar receita tributária. 
Como o preço do produto importado aumenta com a tarifa, se a demanda de importações é 
negativamente inclinada como é usual, a quantidade importada diminui e os gastos de divisas com esta 
importação caem. A terceira função da tarifa seria reduzir as importações ou poupar divisas. 
Note também que se o governo aumenta a tarifa para 30%, o preço máximo que o produtor pode cobrar 
se eleva para 780 reais. Ao contrario, se o governo reduz a tarifa para 15%, o preço máximo do produtor 
interno diminui para 690 reais. Isto significa que o governo pode determinar a tarifa para evitar que o 
produtor interno aumente o preço excesivamente. As importações ou a ameaça de importações 
funcionam como um controle do preço doméstico sem a necessidade de um órgão regulador. Esta é a 
quarta função. 
: 
 
5 
Por último, se o país é grande, ou seja, tem uma participação significativa nas importações mundiais 
deste produto, o governo pode cobrar uma tarifa para reduzir as importações de forma importante e, 
desta maneira, diminuir o preço em dólares do produto importado. Com isso pode obter ganhos nos 
termos de troca. Esta seria a quinta função. 
Em resumo, as funções da tarifa aduaneira são: 
• viabilizar a produção interna - proteger o produtor doméstico da concorrência externa - política 
industrial; 
• gerar receita tributária; 
• reduzir as importações; 
• controlar o preço doméstico via competição externa; 
• favorecer os termos de troca. 
Em países de renda baixa, a receita da tarifa aduaneira pode ter participação importante na 
arrecadação tributária total. O gráfico 1 mostra no eixo vertical a parcela da receita com impostos sobre 
comércio exterior, inclui tarifa aduaneira e imposto de exportação, na receita tributária e no eixo 
horizontal a renda per capita em 1.000 dólares. Nota-se que os países com renda per capita inferior a 
US$ 10 mil dólares chega a ter uma participação da receita de tributos no comércio exterior entre 25% 
a 35%. 
O gráfico 2 mostra que no Brasil a parcela da arrecadação da tarifa aduaneira sobre a receita tributária 
total atualmente é inferior a 3%, após variar entre 4% e 6% no período 1986-2000. 
No entanto, o gráfico 3 indica que esta participação foi superior a 50% no final do século XIX, com 
tendência decrescente devido ao processo de industrialização no século XX. 
Por que em país pobres ou agrícolas a receita do imposto sobre comércio exterior é importante? 
Qualquer governo precisa de receita tributária para cobrir suas despesas. Países pobres geralmente 
tem o setor agrícola com maior participação no PIB. No entanto, tributar a produção agrícola éadministrativamente difícil e custosa, pois suas propriedades estão espacialmente dispersas. Além 
disso, proprietários de terra dominam governos e evitam o pagamento de impostos. 
 
 
: 
 
6 
Gráfico 1 
 
Gráfico 2 – Participação da receita da tarifa aduaneira na arrecadação total, Brasil, 1986-2018 
 
 
 
 
: 
 
7 
Gráfico 3 
 
Ao contrário, taxar o comércio, principalmente na importação, requer postos de fiscalização apenas nos 
portos e/ou nas fronteiras tornando a tarefa de arrecadação mais simples e mais fácil de implementar 
politicamente. 
Com a industrialização (renda per capita aumenta), a base de tributação se desloca para o setor urbano 
e a participação do imposto sobre o comércio exterior na receita tributária total diminui. 
3.2 Tipos de tarifa 
Vamos analisar os diversos tipos de tarifa. 
Tarifa ad valorem: alíquota em percentagem sobre o valor importado: PM = P*TC(1 + t), onde PM 
representa o preço em reais, P* o preço em dólares, TC a taxa de câmbio e t alíquota ad valorem da 
tarifa aduaneira. Por exemplo, a importação de carne bovina fresca ou refrigerada no Brasil é tributada 
em 10%. Portanto, se o preço por tonelada for de US$ 1.000 deverá pagar o equivalente em reais 
(impostos são recolhidos em moeda nacional por imposição legal) de US$ 100. Se o preço for de US$ 
: 
 
8 
500, a tarifa será o equivalente em reais de US$ 50. Portanto, o valor da tarifa a ser paga depende do 
preço. 
A tabela 2 mostra a tarifa aplicada pelo Brasil nas importações de carne bovina. A primeira coluna 
mostra o código de classificação da carne bovina que segue o Sistema Harmonizado aplicado pelo 
Mercosul, denominado Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). A segunda coluna a descrição da 
mercadoria e a terceira coluna a alíquota da tarifa externa comum do Mercosul. 
 
Tabela 2 
 
 
Tarifa específica: valor fixo em valor monetário por unidade do produto: PM = P*TC + T, onde T indica 
o valor em moeda nacional da tarifa aduaneira e os outros símbolos foram definidos anteriormente. A 
tabela 3 apresenta a tarifa aplicada pelos EUA na importação da carne bovina. Note que os seis 
primeiros dígitos do código do produto são equivalentes aos do Brasil (mais tarde será especificada a 
razão). A coluna “geral” indica a alíquota a ser paga usualmente de 4,4 centavos de dólar por quilo. A 
carne importada pelos EUA pagará US$ 44 por tonelada. Note que, neste caso, qualquer que seja o 
preço, a tarifa será sempre a mesma. Assim, a tarifa a ser paga não depende do preço do produto. 
A coluna “especial” refere-se a tarifa a ser cobrada de países que têm acordo comercial com os EUA. 
Neste caso, a tarifa é totalmente isenta nas importações, por exemplo, do México devido ao NAFTA, 
do Chile em decorrência do acordo de livre comércio Chile-Estados Unidos. A última coluna indica a 
tarifa a ser paga por países que não são membros da OMC como, por exemplo, Coreia do Norte. Como 
: 
 
9 
atualmente quase todos os atores no comércio mundial são associados à OMC, esta coluna não tem 
relevância econômica. 
Tabela 3 
 
 
Algumas tarifas específicas são mais difíceis de calcular por dependerem do conteúdo do insumo 
utilizado no processo produzido. A tabela 4 apresenta a tarifa aduaneira aplicada pelos EUA nas 
importações de xarope de açúcar de cana ou de beterraba. A tarifa é de 3,6606 centavos de dólares 
por quilo de açúcar total contido no produto. É preciso demonstrar por teste de laboratório o conteúdo 
de açúcar por unidade do produto. 
Uma tarifa específica pode ser transformada em equivalente ad valorem dividindo-se o valor específico 
da tarifa pelo preço do produto importado, ambos medidos na mesma moeda: 
TE = 
Tarifa específica
Preço importado
 
onde TE indica a tarifa equivalente ad valorem do produto. 
O objetivo de encontrar a tarifa equivalente ad valorem de uma tarifa específica é permitir a comparação 
entre países. É útil também para o importador verificar o aumento percentual no preço do produto 
importado. Por exemplo, se o preço de importação de carne bovina for de US$ 5.000 por tonelada, a 
tarifa equivalente ad valorem seria: 
: 
 
10 
TE = 
US$ 44
US$ 5.000
 = 0,0088  0,08% 
Assim, podemos ver que com preço importação de US$ 5.000 por tonelada nos EUA, a tarifa incidente 
na carne bovina neste país atinge 0,08%, sendo inferior a aplicada pelo Brasil de 10%. 
O equivalente ad valorem da tarifa específica para países com moeda nacional própria também 
depende da taxa de câmbio. Vamos ver o caso da Suíça com tarifa específica de 10 francos suíços, o 
preço do produto importado de US$ 100 e taxa de câmbio de 1,2 francos suíços por dólar: 
TE = 
Tarifa específica
TC∗PUS$
 = 
10
1,2∗100
 = 0,083  8,3% 
Se a moeda suíça se valoriza para 1,1 franco suíço por dólar, o equivalente ad valorem seria: 
TE = 
Tarifa específica
TC∗PUS$
 = 
10
1,1∗100
 = 0,091  9,1% 
Do ponto de vista do objetivo da tarifa de propiciar “proteção” contra as importações, a tarifa específica 
é útil. Se o preço em moeda nacional do produto importado cai, seja devido à queda no preço em 
dólares, seja motivada pela valorização da taxa de câmbio, a produção doméstica se torna menos 
competitiva e requer maior tarifa ad valorem. Isso vale para mudanças temporárias no preço e na taxa 
de câmbio. No caso de alterações permanentes não, pois estaria favorecendo a produção ineficiente. 
No caso de produtos cujos preços flutuam ciclicamente no mercado internacional, o equivalente ad 
valorem será menor quando o preço está elevado e maior quando o preço é baixo. O gráfico 4 ilustra 
este ponto. Com uma tarifa específica de 10, se o preço for 100, o equivalente ad valorem será de 10%, 
se o preço for 50, será de 20%. 
Por exemplo, o setor petroquímico brasileiro cujo preço internacional sofre oscilações argumenta que 
quando o preço no mercado internacional está elevado, a produção doméstica é competitiva não 
exigindo tarifas ad valorem elevadas. Ao contrário, quando o preço mundial está baixo, para combater 
as importações serão precisas tarifas altas. Por isso, este setor defende a aplicação de tarifas 
específicas contra as importações. 
Os importadores de vinho também defendem a tarifa especifica baseada em dois argumentos. Primeiro, 
como há vinhos de preços muitos variados, desde US$ 1 por garrafa até mais de US$ 10.000, firmas 
: 
 
11 
desonestas podem subfaturar o preço do vinho que está sendo importado e pagar menos imposto se a 
tarifa é ad valorem. A Receita Federal fiscaliza o preço do vinho importado, mas não é uma tarefa fácil. 
Estas firmas se tornariam mais competitivas no mercado do que empresas que pagam corretamente 
os impostos. Segundo, ao aplicar uma tarifa específica, o impacto sobre o preço é mais importante nos 
vinhos baratos do que nos vinhos caros de melhor qualidade. Com isso favorece a saúde do 
consumidor incentivando a compra de vinhos de melhor qualidade. Por exemplo, se a tarifa específica 
for de US$ 20 por garrafa, o vinho de US$ 5 aumentará para US$ 25, mas o vinho de US$ 50 se elevará 
apenas para US$ 55. 
Você concordaria com os importadores de bebidas? 
 
Gráfico 4 – Equivalente ad valorem da tarifa específica varia com o preço 
 
 
A vantagem da tarifa específica é facilitar o trabalho na aduana. O fiscal não precisa se preocupar se o 
preço declarado é correto ou não, mas apenas se a quantidade está certa. Como a nota fiscal da 
transportadora marítima deve ser apresentada na aduana e o preço do frete é fixado de acordo com a 
quantidade, peso e volume, a quantidade que consta no conhecimento de embarque (nota fiscal da 
transportadora) é controlada. 
A desvantagem da tarifa específica é a falta de transparência (é preciso calcular o equivalente ad 
valorem) e a falta de previsibilidade (alíquota ad valorem equivalente depende do preço e da taxa de 
câmbio como vimos anteriormente). 
: 
 
12 
A tarifa específica é aplicada em vários paísespara alguns produtos. A Suíça é o único país que aplica 
este instrumento para todos os bens. 
Alguns países cobram uma tarifa composta, parte ad valorem e parte específica. Este é o caso da União 
Europeia nas importações de carne bovina com uma tarifa ad valorem de 12,8% e também uma alíquota 
específica de 176,8 euros para cada 100 quilos (Tabela 5). Se o preço do produto importado for de 
1.000 euros por tonelada, a tarifa total será de 128 euros, na parte ad valorem, mais 1.768 euros na 
parcela fixa. A tarifa total atingirá 1.896 euros. Assim, a tarifa a pagar depende parcialmente do preço. 
 
Tabela 5 – Tarifa da União Europeia na importação de carne bovina 
 
A tarifa pode ter valores máximos ou mínimos. A tabela 6 mostra a tarifa de 11,2% nas importações de 
fumo em folhas curado, mas o valor a ser recolhido pelo governo europeu deve estar no intervalo entre 
22 euros e 56 euros por 100 quilos líquidos, ou seja, o valor da tarifa tem limites superior e inferior. 
 
Tabela 6 – Tarifa ad valorem com valor mínimo em unidades monetárias 
 
: 
 
13 
Tarifa variável: o valor da tarifa a ser cobrada é igual a diferença entre um preço doméstico 
previamente determinado pelo governo (preço alvo) e o preço do produto importado: T = PD - P*. Então, 
a tarifa a ser paga varia com o preço do produto importado. O objetivo da tarifa variável é sinalizar ao 
produtor interno que seu preço não será afetado pelas importações. Se PD < P*, o governo ao invés de 
cobrar tarifa deve conceder um subsídio à importação. Ao invés de um preço alvo, o governo pode fixar 
uma banda de preços com limite superior e inferior. Desta forma, a tarifa será cobrada pela diferença 
entre o preço inferior da faixa e o preço do produto importado. Se o preço do importado está acima do 
preço superior, usualmente a tarifa é nula (T = 0) para evitar o subsídio à importação, difícil de viabilizar 
politicamente, o que resulta em uma banda assimétrica de preços. O gráfico 5 ilustra este mecanismo. 
 
Gráfico 5 – Tarifa variável com banda de preços assimétrica 
 
Tarifa sazonal: cobrado com alíquotas mais elevadas sobre produtos agrícolas em determinados 
meses do ano, geralmente no período da safra quando há produção doméstica. O objetivo é evitar a 
importação neste período. Nos demais meses, na entressafra, o consumo interno precisa ser atendido 
pelas importações, então é aplicada a tarifa usual ou até nula. Por exemplo, na União Europeia a tarifa 
nas importações de maçãs é cobrada apenas entre 16 de setembro e 15 de dezembro com alíquota de 
7,2% sendo que a tarifa mínima a ser paga atinge 0,36 euros por 100 quilos (Tabela 7). 
: 
 
14 
Tabela 7 – Tarifa sazonal na União Europeia 
 
4. Efeito econômico da tarifa: caso de país pequeno 
4.1 Análise de equilíbrio geral 
Inicialmente considere uma economia pequena no regime de livre comércio. No gráfico 6, dado o preço 
relativo do produto industrial no mercado internacional p* = (
PI
∗
PA
∗ ), a economia produzirá sobre a 
fronteira de possibilidade de produção (FPP) no ponto B com produção agrícola A1 e produto industrial 
I1. A renda nacional a este preço relativo (linha de cor vermelha) permitirá o consumo no ponto C, com 
CA1 de produto agrícola e CI1 de produto industrial. Dados os níveis de produto e consumo de cada 
setor, haverá um excesso de oferta do produto agrícola que será exportada e um excesso de demanda 
por produto industrial que será atendida pelas importações. A estrutura de produção será indicada pela 
quantidade relativa do produto agrícola 
A1
I1
, que pode ser observada pelo ângulo formado por uma linha 
que passa pela origem até o ponto de produção sobre a FPP e o eixo horizontal. A sociedade desfrutará 
de um nível de bem-estar U1. 
Gráfico 6 – Equilíbrio no regime de livre comércio: situação inicial antes da tarifa 
 
: 
 
15 
Esta economia no regime de livre comércio apresenta as seguintes características: 
a) exportador de produtos agrícolas; 
b) importador de produtos industrializados; e 
c) participação elevada da produção agrícola no PIB. 
Agora, suponha que o governo tem como objetivo aumentar o grau de industrialização do país. Para 
isso, aplica uma tarifa aduaneira sobre as importações de produtos industrializados, alterando o preço 
do produto industrializado no mercado doméstico (note que como o país é pequeno, o preço no 
mercado internacional não se altera): 
PI = PI*(1 + t) 
Portanto, o preço relativo do bem industrializado aumenta no mercado doméstico (mas não no mercado 
internacional que continua sendo dado): 
PI
PA
 = 
PI
∗(1 + t)
PA
∗ > 
PI
∗
PA
∗  p > p* 
No gráfico 7, a interferência do governo elevou o preço relativo do produto industrial no mercado interno 
(p > p*) e os produtores respondem deslocando-se ao longo da FPP do ponto B para o ponto E, 
aumentando a produção industrial de I1 para I2 e diminuindo o produto agrícola de A1 para A2. A nova 
renda nacional baseada preço relativo maior (p > p*) passará pelo ponto E e, inicialmente, o consumo 
poderia atingir o ponto G. 
Gráfico 7 – Equilíbrio inicial com tarifa sobre bem industrializado 
 
: 
 
16 
No entanto, este ponto de consumo G ainda não é o resultado final. Com a aplicação da tarifa, 
precisamos incluir na análise como o governo gasta a receita proveniente da arrecadação da tarifa, ou 
seja, teremos o consumo do governo além do consumo das famílias. Para observar o consumo do 
governo seria preciso incluir uma curva de indiferença do governo representando as suas preferências, 
mas tornaria o gráfico mais confuso. Para simplificar, assumimos que o governo ao invés de gastar a 
receita da tarifa, devolve toda a receita aos consumidores por meio de um subsídio de valor fixo por 
indivíduo (lump sum subsidy). Essa forma de devolução do imposto não provoca distorções na 
economia. No gráfico 8, este procedimento pode ser mostrado deslocando a linha da renda nacional 
que passa pelo ponto G para a direita. 
 
Gráfico 8 – Equilíbrio final com tarifa sobre bem industrializado 
 
 
Qual deve ser o deslocamento para representar esta devolução do imposto de importação? 
Note que a economia produz no ponto E, gerando A2 de produto agrícola e I2 de produto industrial, 
então podemos calcular o PIB (renda nacional) a preços internacionais. Lembre-se que qualquer que 
seja a política do governo, aplicando uma tarifa ou não, o país pode gastar somente a renda nacional, 
medida a preços internacionais. Para obter esta renda nacional, traçamos uma linha passando pelo 
: 
 
17 
ponto E com a mesma inclinação dado pelo preço relativo do produto agrícola no mercado internacional 
(p*). Esta linha corresponde a segunda linha de cor vermelha passando pelo ponto E. Logo, a renda 
nacional mensurada ao preço relativo distorcido pela tarifa mais a receita da tarifa deve ser igual a 
renda nacional medida ao preço relativo internacional. Isto significa que devemos deslocar a linha da 
renda nacional que passa pelo ponto G paralelamente para a direita até cruzar a linha de preço que 
passa pelo ponto E, o que ocorre no ponto D. Este é resultado final e onde passa uma curva de 
indiferença com nível U3. 
Vamos resumir os efeitos da aplicação da tarifa: 
a) maior grau de industrialização: 
I2
A2
 > 
I1
A1
 (objetivo do governo foi atingido!) 
b) perda na renda real: menor valor da produção medido a preços internacionais, tanto em termos de 
A (produto agrícola), como em termos de I (produto industrializado). Este é o custo de atingir a meta de 
maior industrialização da economia. 
Por que a renda cai? 
A intervenção do governo aumentou a participação do produto industrializado no PIB que é menos 
valorizado no mercado internacional. 
Com a tarifa sobre o produto industrializado, temos: 
PI
PA
 > 
PI
∗
PA
∗  
PA
∗
PI
∗ > 
PA
PI
 
Portanto, aos preços internacionais, o produto agrícola é mais valorizado. 
Logo, se o país aumenta a produção daindústria, a renda nacional a preços internacionais deve cair. 
Você pode observar isso, observando a renda nacional RN(p*) que passa pelo ponto E no gráfico 8. O 
ponto que esta linha cruza o eixo vertical mede a renda nacional em unidades do produto agrícola e 
quando cruza o eixo horizontal representa a renda nacional em unidades do produto industrial. Agora, 
compare com a linha que passa pelo ponto B que representa a renda nacional antes da aplicação da 
tarifa. Você verá que a renda nacional com tarifa está abaixo da renda nacional sem tarifa. 
c) redução do bem-estar (queda no nível de utilidade de U1 para U3); 
: 
 
18 
d) queda nas importações (efeito direto) de MI1 para MI2; 
e) diminuição das exportações (efeito indireto) de XA1 para XA2 – aumento da produção de 
industrializados requer maiores recursos que são retirados da agricultura que é exportadora); e 
f) efeitos sobre a distribuição de renda. 
Se o país é abundante em trabalho e 
KI
LI
 > 
KA
LA
 (setor industrial é relativamente mais intensivo no uso de 
capital) pelo Teorema de Stolper-Samuelson, ocorrerá um aumento na remuneração real dos 
proprietários de capital e uma redução do salário real (efeito negativo sobre os trabalhadores). 
4.2 Análise de equilíbrio parcial 
Inicialmente, vamos entender como se determina o preço internacional de um produto. 
Considere dois países: doméstico e estrangeiro. 
Para um produto homogêneo, a demanda de importações no país doméstica é derivada das suas 
curvas de demanda e de oferta, a vários níveis de preço. No lado esquerdo do gráfico 9, se o preço for 
P3, as quantidades ofertadas e demandadas são iguais (Q3 = C3) e as importações serão nulas. Se for 
P2, a quantidade ofertada será Q2, a quantidade demandada será C2 e ocorrerá um excesso de 
demanda que será atendido pelas importações: M2 = C2 – Q2. Se for P1, a quantidade ofertada será Q1, 
a quantidade demandada será C1 e as importações serão ainda maiores: M1 = C1 – Q1. 
 
Gráfico 9 – Demanda de importações no país doméstico 
 
 
 
 
 
 
 
P 
P3 
P2 
P1 
P3 
P2 
P1 
Q1 C1 Q2 C2 Q3 = C3 M1 M2 0 M 
DD OD 
M 
Demanda de importações 
Mercado doméstico 
P 
: 
 
19 
No lado direito do gráfico 9, desenhamos a demanda de importações da seguinte forma. Para cada 
nível de preço, a importação corresponde ao excesso de demanda. Assim, ao preço P1, a quantidade 
demandada de importações será M1 = C1 – Q1. Ao preço P2, a importação será M2 = C2 – Q2. Ao preço 
P3, a importação será nula (C3 = Q3). Unindo estes pontos temos a curva de demanda de importação. 
No país estrangeiro, a oferta de exportações é derivada também das curvas de oferta e de demanda 
no mercado interno desse país. A diferença é que aos mesmos preços cruzam as curvas de oferta e 
de demanda acima do preço de equilíbrio, gerando um excesso de oferta (lado esquerdo do gráfico 
10). Se o preço for P1, a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada (Q1 = C1) e a exportação 
nula. Ao preço P2, a quantidade ofertada Q2 é maior do que a quantidade demandada C2, gerando um 
excesso de oferta (Q2 – C2) e uma quantidade exportada X2. Ao preço P3, a quantidade ofertada Q3 
será maior ainda do que a quantidade demandada C3 e as exportações atingirão X3. 
 
Gráfico 10 – Oferta de exportações no país estrangeiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
O preço internacional P’ será determinado pela oferta de exportação e demanda de importação dos 
dois países (Gráfico 11). 
No mundo real, geralmente há vários países com excesso de oferta (exportadores) e vários países com 
excesso de demanda (importadores). Portanto, o preço internacional será determinado pelo 
cruzamento da oferta mundial de exportação (soma horizontal dos excessos de oferta de vários países) 
e da demanda mundial (soma horizontal do excesso de demanda vigente em vários países). 
P 
P3 
P2 
P1 
P3 
P2 
P1 
C3 Q3 C2 Q2 Q1 = C1 X3 X2 0 X 
DD 
OD 
X 
Oferta de exportações Mercado doméstico P 
: 
 
20 
Gráfico 11 – Preço de equilíbrio no mercado mundial 
 
 
 
 
 
 
 
Então, os preços de trigo, soja e outros bens agrícolas cotados na Bolsa de Mercadorias de Chicago 
correspondem a este preço internacional. Por exemplo, no caso do trigo, a curva de oferta corresponde 
aos excessos de oferta dos EUA, Rússia, Argentina e outros países e a curva de demanda aos 
excessos de demanda do Brasil, China, Japão e outros. 
Esta forma de determinação de preço internacional também é válida para bens que não têm cotação 
em bolsas de mercadorias, mas os preços são disponibilizados em revistas especializadas. Por 
exemplo, cobre, zinco, produtos petroquímicos, etc. 
Vale lembrar que os bens não são estritamente homogêneos mesmo que sejam produtos agrícolas e 
minerais. Por exemplo, há um preço cotado para soja em grão no mercado de Chicago que serve como 
referência. Cada país tem um prêmio ou desconto em relação a este preço de acordo com o grau de 
oleosidade da soja produzida. 
Assim, um país pequeno será exportador se o preço internacional for maior do que o preço de equilíbrio 
no mercado interno sem comércio (Gráfico 12). 
Um país pequeno será importador se o preço internacional for menor do que o preço de equilíbrio no 
mercado interno no regime de autarquia (Gráfico 13). Note que não estamos considerando o custo de 
transporte e as restrições às importações que tornam o preço no país importador mais elevado que o 
preço internacional. 
 
 
P 
P’ 
Q’ Q 
Oferta de exportação do 
país estrangeiro 
Demanda de importação 
do país doméstico 
: 
 
21 
Gráfico 12 – País pequeno exportador 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico 13 – País pequeno importador 
 
 
 
 
 
 
 
 
a) caso de país pequeno 
O modelo de equilíbrio parcial analisa um determinado mercado (setor), supondo que as mudanças 
nessa atividade não afetam os demais mercados (resto da economia, inclusive variáveis 
macroeconômicas) e não é influenciado pelo resto da economia. 
Para um bem homogêneo, dado o preço internacional (transformado em moeda doméstica – reais no 
nosso país – e acrescido do custo de transporte), como vimos anteriormente, a demanda de 
P 
P1 
P1 
P 
Q Q C1 Q1 
O 
D D O 
Mercado mundial País exportador 
P 
P1 
P1 
P 
Q Q C1 Q1 
O D D O 
Mercado mundial País importador 
X1 
M1 
: 
 
22 
importações é determinada pela diferença entre a demanda e a oferta doméstica, ou seja, é equivalente 
ao excesso de demanda. 
Assim, no lado esquerdo do gráfico 14, ao preço P0, a oferta doméstica é Q0 e a demanda interna C0. 
O excesso de demanda corresponde às importações M0. Ao preço P2, a oferta é igual à demanda no 
mercado interno, e as importações são nulas. 
Se o preço internacional é P0 e o governo fixa uma tarifa ad valorem t, o preço doméstico aumenta para 
P1 = P0(1 + t). Note que, dada a hipótese de país pequeno, o preço no mercado mundial continua P0. 
Ao preço P1, a oferta aumenta para Q1, o consumo diminui para C1 e as importações se reduzem para 
M1. 
 
Gráfico 14 - Análise da tarifa no modelo de equilíbrio parcial – pais pequeno 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A aplicação da tarifa provoca os seguintes resultados: 
a) efeito-produto: quantidade da oferta doméstica aumenta de Q0 para Q1; 
b) efeito-consumo: demanda doméstica diminui de C0 para C1; 
c) efeito-preço: preço interno aumenta de P0 para P1 pelo montante da tarifa; 
P 
P0 
P1 = P0(1 + t) 
Q0 Q1 C1 C0 QD 
DM 
DD 
P 
QM M0 M1 
a b c d e 
OD 
Produto doméstico Produto importado 
P2 
0 
M0 
M1 
P1 = P0(1 + t) 
P0 
: 
 
23 
d) efeito receita tributária: governo arrecada (C1 – Q1)(P1 – P0) ou M1T (lado direto do gráfico 14), onde 
T = tP0; e 
e) efeito importação: importações caem de M0 para M1 (lado direto do gráfico 14). 
Olhando o lado esquerdo do gráfico 14, o efeito bem-estar é mostrado na tabela 8. Devido ao aumento 
no preço, os consumidores perdem (redução do excedente) as áreas “a”, “b”, “c” e “d’. Pelomesmo 
motivo, os produtores ganham a área “a”. O governo absorve a receita da tarifa corresponde a área “c”. 
Como as transferências de excedentes entre consumidores, produtores e governo se cancelam, restam 
apenas as áreas “b” e “d”, ou seja, estas são perdas de excedente que não apropriada por outros 
agentes econômicos. Portanto, a aplicação de uma tarifa nas importações de um produto provoca uma 
perda para a sociedade correspondente a estas áreas. 
 
Tabela 8 – Efeito bem-estar da tarifa em país pequeno 
Agente econômico Variação no bem-estar 
Consumidor – a – b – c – d 
Produtor a 
Governo c 
Total – b – d 
 
Os triângulos “b” e “e” são conhecidos por “triângulos de Harberger”, onde “b” corresponde a distorção 
na produção e “d” a distorção no consumo. Arnold Harberger, professor emérito da Universidade de 
Chicago foi pioneiro em medir estas perdas. 
O mesmo resultado é obtido observando o lado direito do gráfico 14 onde é ilustrada a demanda de 
importações que, como vimos, é desenhada considerando o excesso de demanda a vários níveis de 
preço. Se com a imposição da tarifa, o preço do produto importado aumenta de P0 para P1 = P0(1 + t), 
a quantidade importada cai de M0 para M1. A perda do excedente do consumidor é dada pela área “e”. 
Note que por construção, a área “e” é igual a área “b” mais “d”. 
: 
 
24 
Em resumo, para análise do bem-estar decorrente da aplicação da tarifa é indiferente analisar o lado 
esquerdo ou o lado direito do gráfico 14. Portanto, uma tarifa em país pequeno sempre reduz o bem-
estar da sociedade. 
Por que na análise de bem-estar, uma tarifa provoca uma perda enquanto na percepção de um cidadão 
comum e, muitas vezes, da imprensa, uma tarifa seria boa para sociedade ao elevar a produção 
doméstica (Q0 para Q1) e gerar emprego (necessário para expandir a produção)? 
Quando substituímos a importação por produção doméstica, não estaríamos trocando emprego no 
exterior (importação) por emprego no país (produção interna) favorecendo o país? 
A diferença de interpretação ocorre por duas razões: primeiro, o cidadão comum não considera o custo 
social do emprego criado com o incremento da produção doméstico. Para ele, todo o aumento no valor 
da produção ou no emprego representa um ganho para a sociedade; segundo, não inclui o efeito 
negativo para os consumidores decorrente do aumento de preço. 
Vamos analisar estas duas questões detalhadamente. 
O gráfico 15 mostra o valor do aumento na produção devido a tarifa aduaneira (retângulo verde). A 
produção aumenta de Q1 para Q2, ou seja, o acréscimo no valor da produção corresponde a Q vezes 
P*. Para o cidadão comum este é o ganho. 
 
Gráfico 15 – Custo social da tarifa – valor da produção 
 
: 
 
25 
No entanto, este não pode ser ganho líquido por que esta produção adicional tem custo para a 
sociedade. Para aumentar a produção é preciso retirar recursos produtivos de outros setores. Por 
exemplo, para elevar a produção de carros são necessários trabalhadores, aço, plástico, borracha, etc. 
que deixam de ser utilizados na fabricação de outros produtos, ou seja, há custo de oportunidade ou 
custo social para produzir mais de algum produto. Vocês aprenderam este conceito como “não há 
almoço grátis”! 
Então, aplicando este conceito a nossa questão, qual é o custo social (de oportunidade) de aumentar 
a produção de Q1 para Q2? O custo social é medido pelo custo marginal de cada unidade adicional 
produzida a partir de Q1 até atingir Q2. O gráfico 16 mostra este custo social indicado pela área verde. 
 
Gráfico 16 – Custo social da tarifa do aumento na produção 
 
 
Comparando o valor da produção adicional com o custo social desta produção, o resultado é negativo. 
As áreas sinalizadas por cor verde nos gráficos 15 e 16 mostram que o custo social do aumento da 
produção é maior do que o valor do incremento na produção. Por isso que a teoria econômica aponta 
que a tarifa provoca uma perda correspondente a este resultado negativo (diferença entre o valor e o 
custo social da produção adicional) e denomina custo (líquido) da distorção na produção (aumento de 
Q1 para Q2 devido a tarifa) provocada pela tarifa. 
O custo social de aumentar a produção de Q1 para Q2 não poderia ser zero se os recursos produtivos 
estão ociosos, ou seja, não estão sendo utilizados? Por que não consideramos esta possibilidade? 
: 
 
26 
Se o custo é positivo não há desemprego de fatores. Não pode haver desemprego? 
A teoria econômica não considera esta possibilidade por que o desemprego de fatores de forma 
generalizada deve ser corrigido pela política macroeconômica (políticas fiscal e monetária). Assim, a 
tarifa não é o instrumento apropriado para resolver o problema do desemprego. Desta forma, a análise 
econômica da tarifa assume que há pleno emprego, logo o custo social é sempre positivo. 
Outra razão para a teoria econômica não considerar o problema do desemprego é que no longo prazo 
este problema é resolvido por meio de ajustamento no mercado do trabalho. 
Muitas vezes a avaliação do impacto de uma tarifa centra-se apenas no efeito sobre produtor. No 
entanto, uma análise completa requer também uma avaliação sobre o consumo. Afinal a sociedade é 
composta de produtores e consumidores. 
A tarifa aumenta o preço do produto para o consumidor e estes reagem reduzindo a quantidade 
demandada. Quanto perde o consumidor? 
O consumidor diminui a quantidade demandada de C1 para C2. Qual é o valor desta variação no 
consumo? O valor que os consumidores atribuem a cada unidade é medido pelo valor máximo que 
estão dispostos a pagar por esta unidade. No gráfico 17, para quantidade, o valor máximo pode ser 
visualizado pela distância vertical entre um ponto da curva de demanda e o eixo horizontal. 
 
Gráfico 18 – Custo social da tarifa - consumo 
 
: 
 
27 
Assim, o valor do que deixa de ser consumido é indicado no gráfico 18 pela área abaixo da curva de 
demanda correspondente a redução no consumo (área sinalizada com cor verde). No entanto, o valor 
que o consumidor atribui a quantidade que deixou de ser adquirida não representa a sua perda efetiva. 
Se ele deixou de comprar, o valor que seria gasto permanece em suas mãos! Se você sai de casa para 
comprar um produto com o objetivo de gastar no máximo R$ 20, mas como o preço encontrado é R$ 
25, desiste e volta sem comprar. Você perdeu R$ 25? Não, por que os R$ 20 continuam nas usas mãos 
e pode ser utilizado para comprar outros bens. Você perdeu R$ 5 que corresponde ao excedente do 
consumidor. 
Quanto o consumidor estava gastando com a quantidade C que deixou de ser comprada? O valor 
corresponde a C vezes P*, sendo indicada no gráfico 18 pelo retângulo indicado (cor amarela). Este 
valor continua nas mãos do consumidor e poderá ser utilizado para adquirir outros bens. Logo, não 
representa perda. 
 
Gráfico 18 - Valor da quantidade que não foi adquirida pelo consumidor 
 
 
Então, a perda do consumidor corresponde ao valor da mercadoria que deixou de ser comprada menos 
o valor que permanece em suas mãos. Esta diferença corresponde ao excedente de consumir que 
deixou de usufruir indicado pelo triângulo (cor rosa escura) no gráfico 19. 
 
: 
 
28 
Gráfico 19 - Custo social do consumo devido a tarifa 
 
Portanto, sob enfoque econômico, o custo social da tarifa correspondente as distorções na produção e 
no consumo equivalente a soma das áreas dos dois triângulos, conforme ilustrado no gráfico 20. 
 
Gráfico 20 - Custo social da tarifa 
 
 
b) caso de país grande 
Em um país grande (participação elevada na demanda mundial), a fixação de uma tarifa reduz as 
importações e justamente por ser um grande comprador desloca a demanda mundial de DM1 para DM2. 
Assim, mantida a oferta mundial constante, o preço internacional cai de P1 para P0 (lado esquerdo do 
gráfico 21). 
: 
 
29 
Gráfico 21 – Tarifa em país grande 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No mercadodoméstico do pais importador, apesar da queda do preço internacional de P1 para P0, o 
preço interno aumenta de P0 (novo preço após a tarifa) para P2 = P0(1 + t), com a inclusão da tarifa. A 
produção doméstica aumenta de q1 para q2 e o consumo cai de c1 para c2. As importações se reduzem 
de M1 para M2 (lado direito do gráfico 21). 
A diferença fundamental entre a aplicação de uma tarifa em país pequeno e em país grande é que uma 
parcela tarifa é paga pelo exportador via redução no preço recebido (de P1 para P0), o que proporciona 
ao país importador um ganho nos termos de troca. Lembrar que os termos de troca são medidos 
dividindo-se o preço de exportação pelo preço de importação. A receita do governo é RT = M2(P2 - P0)t 
e corresponde no gráfico 21 as áreas “c” e “e”. Note que a área “e” representa a parte da receita da 
tarifa paga pelo exportador na forma de redução no preço recebido. 
A aplicação da tarifa em país grande provoca os seguintes resultados (lado direito do gráfico 21): 
a) efeito-produto: quantidade da oferta doméstica aumenta de q1 para q2; 
b) efeito-consumo: demanda doméstica diminui de c1 para c2; 
c) efeito-preço: preço interno aumenta de P1 para P2; 
d) efeito receita tributária: governo arrecada (c2 – q2)T, onde T = tP0; e 
e) efeito importação: importações caem de M1 para M2. 
Mercado mundial Mercado doméstico 
Q 
P 
P1 
P0 P0 
P1 
P2 = P0(1 + t) 
OM DM1 
DM2 
D O 
q1 c1 q2 c2 q, c 
a b c d 
e 
M1 
M2 
Q1 Q0 
: 
 
30 
O efeito bem-estar por agente econômico e total é apresentado na tabela 9. 
 
Tabela 9 – Efeito bem-estar da tarifa em país grande 
Agente econômico Variação no excedente 
Consumidor – a – b – c – d 
Produtor a 
Governo c + e 
Total – b – d + e 
 
Note na última linha da tabela 9 que em um país grande, a aplicação da tarifa pode gerar um ganho 
líquido positivo, desde que as áreas “b” e “d” sejam menores que a área “e”, isto é, o peso morto 
causado pela tarifa pode ser mais do que compensado pelo ganho nos termos de troca. 
5. Critérios para a fixação de uma tarifa 
Se olharmos a estrutura tarifária de praticamente todos os países, notamos que a tarifa é diferenciada 
entre os produtos. Por exemplo, no Brasil, a tarifa de automóveis, produtos têxteis, vestuário e calçados 
é de 35%, a tarifa de computadores 16% (no mês de março de 2021, foi reduzida para 14,4%) e a tarifa 
de trigo é de 10%. 
Quais são os critérios para determinar o nível de uma tarifa? 
a) tarifa sob medida 
A tarifa é fixada para viabilizar a produção interna, mas sem gerar um lucro muito elevado. Portanto, a 
tarifa é fixada da seguinte forma: 
Tarifa = PD - PCIF = Cme + Lu - PCIF 
onde PD representa o preço doméstico a ser praticado pelo produtor, Cme representa o custo médio de 
produção e Lu o lucro unitário. 
Isso significa que a tarifa deve ser suficiente para viabilizar a produção no país considerando o custo 
de produção em um lucro razoável. 
Esse procedimento visa estimular a produção nacional sem considerar a competitividade internacional. 
: 
 
31 
A aplicação desse procedimento esbarra na falta de informações sobre o custo médio de produção, 
sendo geralmente conhecido apenas pela própria empresa interessada. Assim, há um incentivo para 
superestimar o custo nos pleitos de fixação da tarifa. 
Caso o governo sinalize que a tarifa será sempre ajustada para atender esse critério, haverá um 
incentivo à ineficiência, pois se as empresas reduzem os custos, o governo diminuirá a tarifa. O ganho 
da empresa com uma eventual inovação tecnológica será perdido pela redução correspondente da 
tarifa. 
Ademais, o governo fica sujeito às pressões políticas. Por exemplo, se este critério indicar uma tarifa 
de 10% para um produto a ser elaborado no país, mas o investidor pressiona para ter uma tarifa de 
15% para obter um lucro mais elevado. Pressões políticas em favor deste investidor podem levar a 
tarifa de 15% em detrimento do critério técnico. 
Exemplos de países que adotaram esta medida: Brasil até 1990 e Austrália na década de 1960. 
b) tarifa uniforme 
A tarifa é igual para todos os produtos. Assim, uma vez escolhida o nível da tarifa, a aplicação é simples, 
facilitando a administração aduaneira e evitando as pressões políticas. 
Uma das dificuldades da aduana é verificar se um produto que está sendo importado corresponde a 
uma classificação de produtos com tarifa, por exemplo, 10% ou 20%. O importador defenderá a 
cobrança da tarifa de 10%. O governo exigirá uma tarifa de 20%. A divergência sobre qual deve ser a 
tarifa pode chegar aos tribunais. Uma tarifa única de 10% para todos os produtos evitaria esta disputa 
judicial. 
Um caso antigo ocorrido no século XIX nos EUA ilustra bem esta questão. As autoridades aduaneiras 
decidiram que tomate é vegetal e cobraram a correspondente tarifa de 10%. Um importador entrou com 
recurso argumentando que tomate é fruta. Frutas tinham tarifa de 0%. 
No julgamento, testemunhas leram dicionários e definições para "frutas" e "vegetais" no tribunal. 
Também foram apresentadas definições de "tomate", "ervilha", "berinjela", "pepino", "abóbora" e 
"pimenta". Na decisão da Suprema Corte (estadual), os juízes distinguiram entre a ciência e a vida 
cotidiana. Os juízes admitiram que, botanicamente falando, tomates eram tecnicamente frutas. Mas no 
dia-a-dia, eles decidiram, que os legumes eram coisas "geralmente servidas no jantar, com ou depois 
: 
 
32 
da sopa, peixe ou carnes... e não, como frutas em geral, como sobremesa. Então, de acordo com a lei 
aduaneira, o tribunal decidiu que tomates devem ser considerados como vegetais e o importador teve 
que continuar pagando a tarifa de 10%. 
Suponha que um empresário de um estado apresenta um projeto de investimento para produzir um 
bem internamente desde que a tarifa seja de 30%. Os políticos locais pressionarão o governo federal 
para aceitar ainda que o parecer técnico não recomende. Assim, pressões políticas muitas vezes 
predominam nas decisões sobre tarifas. Com tarifa uniforme, essas pressões não ocorreriam. Todos 
os produtos pagam a mesma tarifa e uma exceção seria inaceitável. 
Nenhum país adota rigorosamente uma tarifa uniforme. Chile se aproxima da tarifa uniforme com 
alíquota de 6%, à exceção de bens de capital e um grupo pequeno de produtos (carros de bombeiro, 
tanques e carros blindados, aeronaves, transatlânticos, cargueiros, navios de guerra, papel moeda e 
talões de cheques) com tarifa de 0% e de açúcar, óleo comestível e trigo com tarifas variáveis. 
Cingapura adota o regime de livre comércio, o que implica em tarifa uniforme de 0%, à exceção de 
cervejas de malte e bebidas alcoólicas específicas por razões socioculturais e Hong-Kong e Macau, 
ambas regiões administrativas da China aplicam tarifas nulas para todos os produtos importados. 
c) tarifa seletiva ou diferenciada 
O governo escolhe determinados setores e fixa tarifas mais elevadas. Para os demais, as tarifas são 
menores. Essa prática é também denominada política industrial por favorecer determinados setores em 
detrimento de outros. 
Quais critérios podem selecionar os setores com tarifas maiores? 
Setores nascentes – atividade que se inicia no país – que apresentam economias externas dinâmicas, 
ou seja, custos médios decrescentes. Nesse procedimento, a escolha dos setores não é fácil, pois 
devem ser indicados setores que no momento atual não são viáveis, mas que serão competitivos no 
futuro. Evidentemente, é sujeita às pressões políticas. 
Setores de tecnologia de ponta na hipótese que geram externalidades por meio de difusão de 
conhecimento técnico. 
Setores intensivos em trabalho se há desemprego elevado. 
: 
 
33 
A maioria dos países adota a tarifa seletiva. No entanto, com os programas de liberalizações das 
importações adotados por estes países, a diferença nas tarifas entre setores é muito pequena, à 
exceção de alguns setores específicos. 
6. Conceitos adicionaisde tarifa 
Há outras definições de tarifas que é útil conhecer: 
a) tarifa nominal ou legal também conhecida como proteção nominal refere-se a alíquota do imposto 
de importação fixada na legislação; 
b) tarifa efetivamente paga corresponde ao imposto de importação efetivamente pago dividido pelo 
valor da importação CIF. Este é um conceito fiscal. 
Por que uma tarifa efetivamente paga seria diferente da tarifa legal? 
Isso ocorre devido a regimes especiais de tributação na importação. Por exemplo, as importações da 
Zona Franca de Manaus e dos países do Mercosul estão isentas de tarifas. Então, um mesmo produto 
paga tarifas diferentes segundo a localização do importador ou país de origem da mercadoria. 
c) tarifa preferencial refere-se a tarifa com redução ou isenção devido às margens de preferência 
concedidas em acordos comerciais. Por exemplo, nas importações de trigo provenientes da Argentina, 
devido ao Mercosul, a tarifa preferencial é de 0% por que a margem de preferência é de 100%, 
enquanto o originário dos EUA paga 10%; 
d) tarifa implícita medida pelo diferencial de preços interno e externo. Este é conceito mais relevante 
do ponto de vista econômica pois captura exatamente quanto o preço de um produto produzido no país 
é superior ao mesmo produto no exterior. No entanto, não é fácil calcular esta medida, pois na realidade, 
os produtos não são homogêneos, ou seja, não é simples encontrar dois produtos cujos preços sejam 
comparáveis. Além disso, mesmo que os produtos sejam estritamente idênticos, os preços para serem 
comparáveis devem ser nas mesmas condições de venda e tributação; 
e) tarifa proibitiva corresponde a tarifa suficientemente elevada que torna a importação nula 
(equivalente à economia fechada). No gráfico 22, a tarifa t que aumenta o preço doméstico de P1 para 
P2 é denominada tarifa proibitiva. O mesmo conceito é aplicado para qualquer tarifa maior do que t. 
 
 
: 
 
34 
Gráfico 22 – Tarifa proibitiva 
 
 
 
 
 
 
f) tarifa consolidada é equivalente a tarifa máxima acordada na OMC. No Brasil, para a maioria dos 
produtos industrializados a tarifa consolidada é de 35%. Para os produtos agrícolas varia entre 30% a 
55%. Essas tarifas máximas entraram em vigor a partir de 2000 e decorre dos compromissos 
assumidos na Rodada Uruguai. 
Caso o país fixe uma tarifa superior a tarifa consolidada, deve negociar concessões equivalentes aos 
países exportadores que se sentirem prejudicados com a medida adotada. Caso essa negociação não 
produza um resultado aceitável para os países exportadores, poderão solicitar à OMC autorização para 
adotar represálias comerciais. 
Represália comercial neste caso é uma autorização da OMC em aplicar tarifas mais elevadas, inclusive 
acima do nível consolidado, pelos países exportadores prejudicados, sobre as importações do país que 
descumpriu o compromisso de tarifa máxima. O objetivo é penalizar o país descumpridor da regra. 
Concessão equivalente significa uma redução das tarifas de outros produtos para manter constante o 
volume de importação proveniente do país exportador. 
No gráfico 23, a fixação de uma tarifa t2 acima do nível consolidado t1 no bem 1, reduz as importações 
no valor de P1(Q11 – Q12). A concessão equivalente implica em uma redução da tarifa de t2 para t1 sobre 
o bem 2, de forma que as importações aumentem no valor de P1(Q22 – Q21) aproximadamente 
equivalente a P1(Q11 – Q12). 
 
 
 
 
P 
P2 
P1 
Q 
O D 
P, = P1 (1 + t) 
: 
 
35 
Gráfico 23 – Compensação equivalente pelo aumento da tarifa do bem 1 e redução da tarifa do bem 2 
 
 
7. Classificação de produtos no comércio e mudança nas tarifas 
Os produtos de comércio exterior no Brasil são classificados segundo a Nomenclatura Comum do 
Mercosul - Sistema Harmonizado (NCM-SH) que tem 8 dígitos: os 2 primeiros dígitos são denominados 
capítulo ou posição, os 4 primeiros dígitos de subposição, os 6 primeiros dígitos de item e os 8 dígitos 
de subitem. 
Por exemplo: 73071910 
73 – capítulo ou posição 
7307 – subposição 
730719 – item 
73071910 - subitem 
Os 6 primeiros dígitos correspondem a classificação do Sistema Harmonizado e são idênticos para 
todos os países. O objetivo desta uniformidade é permitir a elaboração de estatísticas de comércio 
exterior que sejam comparáveis entre países. Por exemplo, se uma empresa planeja exportar um 
produto, tendo o código de 6 dígitos do produto na mão poderá facilmente determinar quais sãos os 
principais países importadores deste bem. 
: 
 
36 
Os dígitos adicionais além dos seis são de livre arbítrio de cada país, sendo determinado de acordo 
com o interesse de cada país. Por exemplo, para fins de acompanhamento interno das importações de 
um produto pode ser preciso maior discriminação do que a disponível com 6 dígitos. 
Por exemplo, os EUA e UE aplicam 8 dígitos para cobrança de tarifas e 10 dígitos para coleta de 
estatísticas de exportação e importação. 
Os países do Mercosul consideram que 8 dígitos é suficiente para atender estas duas finalidades. 
Para encontrar o código de um produto há um dicionário de classificação de mercadorias segundo o 
código NCM-SH. 
A correta classificação do produto a ser importado é importante para definir qual é a tarifa a ser paga. 
Caso a empresa tenha dificuldades para efetuar a classificação pode solicitar a Secretaria da Receita 
Federal do Ministério da Economia (SRF-ME) que faça a classificação antes do processo de 
importação. Assim, no momento do desembaraço da mercadoria na aduana não haverá dúvidas 
permitindo a firma saber antecipadamente qual é a tarifa a ser paga. 
Atualmente, uma mudança na tarifa requer a aprovação dos demais parceiros do Mercosul. O roteiro 
para essa alteração é mostrado na figura 3. A empresa faz o pedido de alteração na tarifa diretamente 
ou por meio de sua associação de classe a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia 
que analisa se atende o interesse nacional. Se aprovado é submetido à Comissão de Comércio no 
Mercosul composta por representantes dos 4 países. Se aprovado é levado a sanção no Grupo ou 
Conselho do Mercosul que é composto por ministros das Relações Exteriores e das áreas econômicas. 
Finalmente, se aprovado o governo brasileiro publica uma resolução da Câmara de Comércio Exterior 
que torna legal a vigência da nova tarifa. 
Figura 3 - Roteiro para alteração da tarifa aduaneira no Mercosul 
 
: 
 
37 
8. “Ex-tarifários” 
Os “ex-tarifários” são utilizados para alterar a tarifa de um produto muito específico sem alterar a de 
todos os produtos classificados em um determinado item (8 dígitos NCM/SH). 
O uso intensivo deste instrumento teve início em 1990. Como naquele momento, o governo não podia 
zerar a tarifa de bens de capital devido a ameaça à produção interna destes bens, resolveu usar o 
mecanismo de ex-tarifários aplicando tarifa zero quando não havia produção nacional daquele bem. 
No entanto, a definição do que é produzido no país e como o bem importado poderia substituir a 
produção nacional tornou a análise dos pedidos de criação de ex-tarifários uma tarefa extremamente 
difícil. Por exemplo, uma máquina empacotadora de fraldas de 10 pacotes por minuto é disponível no 
mercado internacional, mas a indústria brasileira consegue produzir uma que empacota 5 fraldas por 
minuto. Nesse caso tem produção nacional? Se for criado um ex-tarifário para o produto importado 
quem comprará a máquina nacional? Se não criar, estará tornando o acesso a máquinas mais 
modernas mais custoso e afeta a eficiência da firma. Como resolver? Mais ainda, se for concedida, na 
aduana, o fiscal terá que verificar se a máquina empacota 10 fraldas para não cobrar a tarifa. Esta 
análise não é fácil e precisará muitas vezes de laudos técnicos de engenharia elevando os custos de 
importação. 
Para a firma que consegue o “ex-tarifário”, uma máquina importada que custa, por exemplo, US$ 5 
milhões deixaráde pagar, se a tarifa for de 10%, US$ 500 mil dólares. Logo, há incentivo para buscar 
uma máquina com especificações tais que não tenham produção nacional. 
Assim, há incentivos para solicitar “ex-tarifário” cuja quantidade chegou a atingir em torno de 4.000 
itens quando a NCM-SH apresenta 8.200 produtos. 
Em outubro de 1997, o governo decretou o fim do “ex-tarifário”, exceto para o setor de telecomunicação 
que estava em processo de privatização e a modernização do sistema de telefonia iria requer 
importações. 
No entanto, em 1998, diante de fortes pressões políticas, o governo retornou o uso de “ex-tarifários” 
que perdura até hoje. 
: 
 
38 
A tabela 10 apresenta um exemplo de “ex-tarifário”. A tarifa de motores de pistão, de ignição por 
compressão é de 14%. No entanto, se o motor tiver as características descritas no “ex-tarifário” pagará 
apenas 2%. 
 
Tabela 10 
 
9. Conceito de proteção ou tarifa efetiva 
Inicialmente não confundir tarifa efetiva com tarifa paga. Tarifa paga é um conceito fiscal medida pelo 
quociente entre a tarifa arrecadada efetivamente na importação do produto e o seu valor CIF. Tarifa 
efetiva é um conceito econômico. 
Vamos entender a ideia de tarifa efetiva. 
Uma tarifa sobre o bem produzido no país é favorável ao produtor interno, pois permite elevar o seu 
preço já que o preço do produto importado, que compete com o seu produto, aumenta com a tarifa. No 
entanto, uma tarifa que incide sobre os insumos que a firma utiliza no seu processo produtivo é 
prejudicial, pois eleva os custos de produção. Os produtores de insumos internos poderão também 
elevar seus preços pois a opção de importar ficou mais cara. 
O gráfico 24 ilustra esta questão. Um produtor utiliza um insumo e paga PI e vende o produto final por 
P. A diferença é o seu lucro na ausência de tarifa. Se o governo aplica uma tarifa t sobre o bem final, 
ele poderá vender ao preço P(1 + t), aumentando o seu lucro. No entanto, se o governo também cobra 
: 
 
39 
uma tarifa ti sobre o insumo, o preço deste insumo aumentará para PI(1 + ti), reduzindo o seu lucro. 
Portanto, uma tarifa sobre o bem final favorece o produtor, mas uma tarifa sobre os insumos que são 
utilizados no processo produtivo prejudica o produtor. Assim, uma estrutura com tarifas para todos os 
bens tem efeitos positivos e negativos sobre o produtor doméstico. 
 
Gráfico 24 – Tarifas sobre o bem final e insumos 
 
 
 
 
 
 
 
 
Se há tarifa sobre o produto e também tarifas sobre os insumos, qual é o resultado líquido para o 
produtor interno? 
O conceito de tarifa ou proteção efetiva é uma medida que incorpora a tarifa sobre o produto e a tarifa 
incidente sobre os insumos, ou seja, indica uma tarifa líquida. 
A proteção efetiva é definida como o aumento percentual no valor adicionado doméstico proporcionado 
pela estrutura de proteção tarifária relativamente ao valor adicionado obtido em situação de livre 
comércio (ausência total de tarifas). A expressão algébrica é dada por: 
gj = 
VAD − VALC
VALC
 
onde 
gj = proteção efetiva à atividade j; 
VAD = valor adicionado distorcido pelas tarifas ou a preços domésticos na atividade j; 
P 
P( 1 + t) 
PI 
PI( 1 + ti) 
Lucro sem 
tarifa 
 
Lucro 
aumenta 
Lucro cai 
P 
Q 
: 
 
40 
VALC = valor adicionado de livre comércio (sem tarifas) ou a preços internacionais na atividade j. 
A fórmula geralmente utilizada para o cálculo da proteção efetiva é desenvolvida da seguinte forma. 
No regime sem tarifas, o valor adicionado de livre comércio é definido de forma usual: 
VALC = Pj - aijPi 
onde 
Pj = preço internacional do produto j; 
Pi = preço internacional do insumo i (peça, componente, matéria-prima); 
aij = coeficiente técnico físico de produção que corresponde a quantidade do insumo i necessária para 
produzir uma unidade do produto j. 
Na presença de tarifas, o valor adicionado distorcido pelas tarifas é dado como: 
VAD = Pj (1 + tj) - aijPi(1 + ti) 
Calculando a diferença entre os dois valores adicionados, temos: 
VAD - VALC = Pj (1 + tj) - aijPi(1 + ti) - Pj - aijPi 
VAD - VALC = Pj + Pj tj - aijPi + aijPi ti - Pj - aijPi 
Simplificando, temos: 
VAD - VALC = Pj tj - aijPi ti 
Dividindo por VALC = = Pj - aijPi, temos: 
VAD − VALC
VALC
 = 
PJtj − ∑ aijPiti
Pj − ∑ aijPi
 
Dividindo o numerador e o denominador do lado direito por Pj, temos: 
VAD − VALC
VALC
 = = 
PJtJ
PJ
 – 
∑ aIJPiti
PJ
 
PJ
PJ
 – 
∑ aIJPi
PJ
 
: 
 
41 
Definindo aij* = 
aijPi
Pj
, como a parcela do custo do insumo i no preço do bem j, ambos medidos a preços 
internacionais, isto é, sem tarifa, e simplificando, temos: 
gj = 
VAD − VALC
VALC
 = 
tj − ∑ aijti
1 − ∑ aij
 
A título de ilustração segue o seguinte exemplo de cálculo da tarifa efetiva na tabela 11. 
 
Tabela 11 – Exemplo de cálculo de proteção efetiva 
Variáveis Sem tarifa Com tarifa 
Componente 50 50 + 5 = 55 
Salário 30 30 
Lucro 20 35 
Preço 100 100 + 20 = 120 
Valor adicionado 50 65 
Tarifa efetiva 65−50
50
 = 0,3 ou 30% 
 
A empresa produz um bem utilizando um componente e trabalhadores. Sem tarifa, o componente custa 
50 e paga salário por unidade produto de 30. Ela vende ao preço internacional de 100 e lucra 20. O 
valor adicionado (lucro mais salário) desta atividade é 50. 
Se o governo aplica uma tarifa de 10% na importação do componente e de 20% na importação do bem 
final, o custo do componente passa a ser 55 e a empresa conseguirá vender o produto por 120. 
Mantendo o salário constante, o lucro aumenta para 35. O valor adicionado se eleva para 65. 
A taxa de proteção efetiva desta atividade é dada por: 
Tarifa efetiva = 
VAD − VALC
VALC
 = 
65 − 50
50
 = 0,3  30% 
: 
 
42 
A importância do conceito de tarifa ou proteção efetiva pode ser observada quando surgem notícias na 
imprensa, por exemplo, que o setor de automóveis pressiona o governo para reduzir as tarifas nas 
importações de aço. 
O que as montadoras de automóveis têm a ver com a tarifa da siderurgia? 
Aço é utilizado para fabricação de carros. Então, uma redução da tarifa de aço diminuirá o preço deste 
insumo no mercado interno. Note que não importa se o aço é produzido no Brasil ou se é importado. O 
preço do aço importado a ser disponibilizado no país, que inclui a tarifa, regula o preço do aço produzido 
internamente. Logo, uma queda na tarifa de aço, reduz o preço do aço e eleva o valor adicionado da 
indústria automotiva e, por conseguinte, a sua proteção efetiva. Portanto, tendo em mente o conceito 
de proteção efetiva, o setor automotivo pressionará sempre para ter tarifa reduzida de aço e, se 
possível, de outros insumos que utiliza no processo produtivo. 
O gráfico 25 apresenta a tarifa nominal e a tarifa efetiva de setores escolhidos. Note que os setores 
automóveis, caminhões e vestuário apresentam as maiores tarifas efetivas. 
 
Gráfico 25 – Tarifas nominal e efetiva, setores escolhidos 
 
 
0
20
40
60
80
100
120
Tarifa nominal Tarifa efetiva
: 
 
43 
10. Barreiras não tarifárias 
10.1 Conceito 
A definição de barreira não-tarifária (BNT) é imprecisa. Pode ser definida como qualquer medida 
governamental que afeta as importações, exclusive a tarifa. 
A BNT geralmente reduz as importações. No entanto, algumas medidas podem estimular as 
importações. Por exemplo, exigências de qualidade mínima do produto importado ainda que aumente 
o preço, pode gerar maior confiança aos consumidores e elevar a demanda de modo que as 
importações aumentam. Ainda que, na maioria dos casos, o efeito seja negativo sobre as importações, 
a literatura atualmente tem substituído BNTs por restrições não tarifárias (RNTs). 
A redução das tarifas aplicadas promovidas pelos programas de liberalização das importações em 
quase todos os países, junto com a diminuição das tarifas consolidadas (tarifas máximas) devido às 
negociações multilaterais no âmbito da OMC, reduziram a importância deste instrumentocomo medida 
de proteção à indústria doméstica. 
Para atender pressões internas de proteção, os países têm recorrido mais intensamente as RNTs. 
Portanto, conhecer o funcionamento deste instrumento passou a ser importante nos dias de hoje. 
Em seguida, vamos analisar os diversos tipos de RNTs mais aplicados no mundo. 
10.2 Cota de importação 
Cota é uma limitação quantitativa imposta sobre as importações. Pode ser em volume ou em valor. Por 
exemplo, a importação de carros pode ser limitada em 10 mil unidades por ano ou em US$ 200 milhões 
por ano. Evidentemente se o objetivo do governo é diminuir a importação, a cota deve ser menor do 
que a importação vigente. O gráfico 26 apresenta este caso. Por exemplo, o governo considera que 
importação M1 é excessiva e fixa uma cota de importação. Evidentemente, a cota permitida de 
importação deve ser inferior a importação vigente. 
A fixação de uma cota pode ser analisada de duas formas: na primeira, deslocamos horizontalmente a 
curva de oferta doméstica para a direita pela quantidade da cota (a oferta total será a oferta interna 
mais a cota de importação), mostrada no gráfico 27; na segunda, deduzimos da demanda doméstica a 
quantidade da cota, ou seja, deslocamos a curva de demanda para a esquerda pela quantidade da 
cota. Neste caso, supomos que uma parte da demanda doméstica será atendida pela cota (gráfico 28). 
: 
 
44 
Gráfico 26 - Cota de importação 
 
Gráfico 27 - Cota – deslocamento da curva de oferta interna 
 
Gráfico 28 - Cota – deslocamento da curva de demanda doméstica 
 
: 
 
45 
Nos dois casos, a cota aumenta o preço de P* para PD, a quantidade produzida no país se eleva de Q1 
para Q2 e o consumo cai de C1 para C2. Portanto, para analisar o impacto da cota não faz diferença se 
deslocamos a curva de oferta ou a curva de demanda. Devemos escolher apenas uma delas. 
10.2.1 Equivalência entre tarifa e cota em concorrência perfeita 
Vamos optar em analisar a cota com deslocamento da demanda. Assim, no gráfico 29, a cota (menor 
do que a importação vigente) desloca a curva de demanda doméstica de DD1 para DD2. A nova curva 
de demanda (DD2) cruza a curva de oferta OD e estabelece o novo preço equilíbrio PD que será maior 
do que o preço inicial P*. Diante do aumento do preço, a produção interna aumenta de Q1 para Q2 e o 
consumo cai de C1 para C2. A quantidade importada M2 será, por definição, igual a conta estabelecida. 
 
 
Gráfico 29 – Cota em concorrência perfeita 
 
 
Note que, em concorrência perfeita, o resultado é exatamente igual à fixação da tarifa que aumenta o 
preço de P* para PD = P*(1 + t). A cota e tarifa para serem comparáveis requer que ambos permitam o 
mesmo volume de importação. A única diferença é que na tarifa, temos receita do governo, enquanto, 
com a cota, temos renda da cota. Esse é um ganho extraordinário daqueles que detém a cota (recebem 
o direito de importar até o limite da cota), pois pagam o preço internacional P*, mas o preço no mercado 
interno é PD. O diferencial de preço multiplicado pelo volume de importação fornece a renda da cota 
total. O custo social da cota é idêntico ao da tarifa para um mesmo volume de importação. 
: 
 
46 
No entanto, se a demanda aumenta o resultado não permanece igual. Quando se aplica a tarifa, o 
aumento da demanda provoca incremento nas importações, mantendo-se o preço, inclusive a tarifa, 
constante (ver o lado esquerdo do gráfico 30). No caso de cota, como as importações são constantes, 
o aumento da demanda leva ao aumento no preço doméstico (ver no lado direito do gráfico 30). 
 
Gráfico 30 – Se a demanda aumenta, tarifa e cota têm impactos diferentes em concorrência perfeita 
 
 
10.2.2 Critérios para distribuição da cota e apropriação da renda da cota 
Como é distribuída a cota, isto é, para quem é dado o privilégio de importar? 
Os critérios para a distribuição da cota podem ser: 
i) de acordo com a participação nas importações em um determinado período-base. Logo, os ganhos 
extraordinários são obtidos pelas empresas que já importavam no período-base anterior à fixação da 
cota; 
ii) leilões: o governo dá o direito de importar para aqueles que estão dispostos a pagar o maior ágio 
que é o preço da licença. Se o leilão é competitivo, o ágio deve ser igual ao diferencial de preço externo 
e interno, de modo que o governo recupera a receita tributária perdida. Se há muitos produtos com 
cotas, o sistema de leilões torna-se inviável devido ao custo de administrar este mecanismo. O governo 
argentino no Plano de Conversibilidade (1991-1994) fez leilões periódicos para importações de carros. 
O governo anunciava nos principais jornais a data de leilão e a quantidade de licenças de importação 
: 
 
47 
de automóveis. Poderiam participar pessoas físicas e jurídicas interessadas em importar automóveis. 
Em 1985, o governo australiano leiloou licenças de importação de automóveis que pagavam a tarifa de 
37,5%. O equivalente tarifário da cota, incluindo a tarifa, atingiu 81,5%. Por exemplo, um carro cujo 
preço de importação era de US$ 10 mil dólares, o importador pagava US$ 3.750 de imposto de 
importação e US$ 4.400 como ágio no leilão para obter a licença de importação. 
iii) liberação de licenças para importação por ordem do pedido (‘first-come-first-served’) até o 
preenchimento da cota. Por exemplo, se há um limite de importação (cota) de 100 toneladas de arroz, 
as autorizações para importar são concedidas até atingir este volume. Alcançada esta meta, a 
importação passa a ser proibida; e 
iv) licença de importação administrada pelo país exportador: nesse caso, os exportadores que 
conseguem a cota absorvem os ganhos extraordinários. Este mecanismo é conhecido como “restrição 
voluntária às exportações” e foi aplicado pelos EUA e União Europeia na década de 1970 nas 
importações de carros japoneses. Apesar de chamar “voluntária”, o Japão aceitou limitar as 
exportações de carros para estes países sob ameaça de medidas mais rígidas nas importações de 
carros nos EUA e na União Europeia. 
10.2.3 Cota em monopólio 
Se o produtor é monopolista, ele considerará a quantidade da cota como uma demanda perdida. 
Portanto, ele deduzirá horizontalmente da demanda total a quantidade da cota, obtendo a demanda 
residual e, por conseguinte, a receita marginal residual. Sobre essa demanda residual, o monopolista 
escolherá a quantidade que maximiza o lucro, isto é, a quantidade em que a receita marginal residual 
é igual ao custo marginal. Para essa quantidade, os consumidores estarão dispostos a pagar PQ 
(Gráfico 31). 
A demanda residual é composta de consumidores que não tiveram acesso à importação. Portanto, eles 
não têm opção a não ser comprar do monopolista. Sobre esses consumidores, o monopolista aplica 
seu poder de mercado. 
10.2.4 Comparação entre tarifa e cota no monopólio 
Conforme vimos, a tarifa e a cota têm o mesmo efeito em concorrência perfeita, exceto que com a cota 
o governo perde a receita da tarifa que é apropriada pelos importadores ou exportadores que 
: 
 
48 
conseguem o privilégio de exportar quando o controle quantitativo é feito pelo país exportador (restrição 
voluntária às exportações). 
Gráfico 31 – Cota em monopólio 
 
 
No caso do monopólio, a cota proporciona uma demanda residual sobre a qual a firma aplica o seu 
poder de mercado. Com a tarifa, o monopolista é obrigado a atuar como uma firma em concorrência 
perfeita, pois não pode cobrar um preço acima do preço internacional mais a tarifa. 
Portanto, para uma firma monopolista, a cota é sempre mais preferível que a tarifa. Para uma firma em 
concorrência perfeita, a cota e a tarifa são indiferentes. 
O gráfico 32 mostra que, para o mesmo volume de importação, com a conta o monopolista consegue 
cobrar o preço PQ e com a tarifa um preço menor PT. 
Esta comparação entre cota e tarifa em concorrência perfeita e monopólio não é apenas uma 
curiosidade teórica, ainda quesua aplicação direta no mundo real aparentemente seja difícil, pois estas 
estruturas de mercado servem apenas com referência e não são encontradas no mundo real. 
No entanto, com as devidas aproximações pode ser aplicada. Por exemplo, no início de 1995, com a 
implementação do Plano Real as importações de carros e de outros bens de consumo aumentaram 
significativamente. O déficit projetado para aquele ano não era financiável no mercado financeiro 
internacional devido à crise da dívida externa mexicana no final de 1994. Como uma desvalorização 
acentuada da taxa de câmbio poderia afetar diretamente a taxa de inflação, era necessário reduzir as 
: 
 
49 
importações de outra forma. Para conter as importações de carros, o governo poderia aumentar a tarifa. 
No entanto, sob pressão da indústria automotiva optou em fixar cotas nas importações deste bem. 
 
Gráfico 32 – Comparação entre cota e tarifa em monopólio 
 
 
O setor automotivo não é um monopólio, mas um oligopólio. Mesmo assim, a cota era preferível do que 
o aumento da tarifa. Desta forma, o controle foi feito via cota. 
Os países exportadores reclamaram na OMC por que cota não poderia aplicada conforme acordado 
na Rodada Uruguai e o Brasil teve que substituir a cota por tarifa no final de 1995. 
10.3 Cota tarifária 
Esse instrumento de controle das importações é utilizado principalmente pelos países desenvolvidos 
para protegerem o setor agrícola. A cota tarifária foi implementada a partir de 1995 em substituição à 
cota cuja utilização foi proibida na Rodada Uruguai. 
A cota tarifária é baseada em três medidas: 
a) cota; 
b) tarifa intracota, geralmente reduzida, incidente nas importações até a quantidade fixada pela cota; e 
c) tarifa extracota, usualmente elevada, incidente nas importações acima da quantidade fixada pela 
cota. 
: 
 
50 
A princípio, a cota tarifária deveria ser um instrumento menos restritivo que a cota. A cota não permite 
importação acima da quantidade fixada. A cota tarifária permite desde que a tarifa extra cota seja paga. 
No entanto, como a tarifa extra cota foi fixada em nível muito alto, a importação acima da cota tornou-
se praticamente proibitiva. 
No gráfico 33, considere um país exportador com custo marginal constante (oferta perfeitamente 
elástica) que enfrenta uma cota tarifária com uma cota de quantidade QT, tarifa intracota (tIntra) e tarifa 
extracota (textra). A quantidade ofertada será nula o preço for menor do que o custo marginal (Cma), Se 
o preço for igual ou maior do que Cma, o exportador estará disposto a oferecer qualquer quantidade 
que seu parceiro comercial esteja disposto a adquirir. Qualquer quantidade exportada (importada pelo 
seu parceiro comercial) pagará uma tarifa intracota até a quantidade QT e o preço será P(1 + tintra). 
Qualquer quantidade acima de QT pagará a tarifa extracota e o preço será P(1 + textra). A curva de 
oferta de exportação de um país pequeno é ilustrada com cor verde.. 
 
Gráfico 33 – Curva de oferta de país pequeno com cota tarifária 
 
Como há três instrumentos, qual deles efetivamente controla as importações? Essa é uma questão 
importante, por exemplo, nas negociações comerciais. Devemos pedir uma redução da tarifa intracota? 
Um aumento da cota? Uma redução da tarifa extracota? Lembre-se que as negociações comerciais é 
um mecanismo de trocas. Logo, tudo que se pede tem como contrapartida uma concessão ao seu 
: 
 
51 
parceiro comercial. Portanto, deve-se solicitar apenas pleitos que têm impacto efetivo sobre as nossas 
exportações para não ter que oferecer mais concessões. 
No gráfico 34, se a demanda no país importador for D0, o preço será P(1 + tintra) e quantidade exportada 
Q0. A receita tarifária do país importador será Q0[P(1 + tintra) – P]. A restrição às importações é dada 
pela tarifa intracota. Se o país importador reduzir a tarifa intracota ocorrerá um deslocamento para a 
direita ao longo da curva de demanda D0 e as importações aumentarão. Neste caso, a cota e a tarifa 
extra cota são irrelevantes. 
 
Gráfico 34 – Quantidade de importações determinada pela tarifa intracota 
 
 
No gráfico 35, se a demanda for D1, o preço máximo que o consumidor no país importador estará 
disposto a pagar é P(1 + tintra) mais a renda da cota por unidade de produto (R) e as importações serão 
idênticas a cota Q1. Note que o importador que receber a cota pagará ao exportador o preço P e 
recolherá o imposto [P(1 + tintra) – P} por unidade de produto, mas venderá ao consumidor ao preço 
[P(1 + tintra) + R]. A renda da conta para a quantidade Q1 é dada pelo retângulo formado por R*Q1. Neste 
caso, a redução da tarifa intracota não terá impacto sobre as importações. Quanto a tarifa extracota 
sua diminuição será efetiva somente se tornar o preço P(1 + textra) menor do que [P(1 + tintra) + R]. 
Portanto, o que restringe as exportações é o volume da cota. 
: 
 
52 
Gráfico 35 – Quantidade de importações determinada pela cota 
 
No gráfico 36, se a demanda for D2, o preço será P(1 + textra) e as importações serão Q2, uma quantidade 
superior a cota QT. As importações até o volume da cota QT pagarão a tarifa intracota gerando uma 
receita para o governo do país importador de QT[P(1 + tintra) – P]. A quantidade acima da cota (Q2 - QT) 
sofrerá a incidência da tarifa extracota e proporcionará uma receita de (Q2 - QT)[P(1 + textra) – P]. As 
importações até QT gerarão uma renda da cota de QT[P(1 + textra) – P(1 + tintra)]. Neste caso, se tarifa 
extracota for reduzida, as importações aumentarão. No entanto, redução da tarifa intracota ou um 
aumento da cota até Q2 não terão nenhum efeito (Gráfico 36). 
 
Gráfico 36 – Quantidade importações determinada pela tarifa extracota 
 
: 
 
53 
Em resumo, é importante conhecer onde se localiza a demanda para verificar qual instrumento está de 
fato restringindo as importações. 
Em 2004, nas negociações para a formação da área de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, 
os europeus ofereciam um aumento na cota para os principais produtos agrícolas de interesse do Brasil 
que estavam sujeitos à cota tarifária. Essa ampliação da cota geraria um aumento efetivo nas 
exportações brasileiras? 
Como vimos, a resposta depende da demanda europeia por cada produto. A partir desta informação 
seria possível avaliar se a oferta europeia era valiosa. 
Outro exemplo destaca a importância de conhecer a demanda para determinar qual é a restrição que 
efetivamente restringe as importações. 
Na década de 1990, era usual a Embaixada do Brasil nos EUA listar as principais barreiras que os 
produtos brasileiros sofrem no mercado norte-americano. Nesta lista, constava que a tarifa sobre as 
exportações de fumo pelo Brasil naquele mercado atingia 350%. 
No entanto, as importações de fumo nos EUA eram controladas por cota tarifária e a alíquota de 350% 
referia-se a tarifa extracota. Naquele período, as exportações brasileiras para o mercado norte-
americano eram inferiores a cota. Logo, o que restringia as nossas exportações era a tarifa intracota e 
não a tarifa extracota. 
Com cota tarifária, quem ganhará a renda da cota: o importador ou o exportador? 
A apropriação da renda da cota é determinada por quem (país) administra a distribuição da cota. Assim, 
se a concessão da cota é feita pelo país importador, alguns importadores escolhidos serão beneficiados 
pela renda da cota. Eles importarão ao preço P e venderão ao preço vigente no mercado interno. Se a 
administração da cota é feita pelo país exportador, as firmas exportadoras observarão quanto os 
consumidores do país importador estarão dispostos a pagar e venderão a este preço capturando a 
renda da cota. 
Se há importação acima da cota e a tarifa extra cota for muito elevada, a renda cota pode ser maior do 
que o valor da importação da mercadoria. Esta situação pode ser visualizada no gráfico 36. Note que 
o retângulo que corresponde a renda da cota é maior do

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