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Prévia do material em texto

2019
1a Edição
Teoria Sociológica i
Prof.ª Franciele Otto Duque
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.ª Franciele Otto Duque
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
 D946t
 Duque, Franciele Otto
 Teoria sociológica I. / Franciele Otto Duque. – Indaial: 
 UNIASSELVI, 2019.
 206 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0285-3
 1. Sociologia - Teorias. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
 Da Vinci.
CDD 301.01
III
apreSenTação
Caro acadêmico!
Este é seu Livro de Estudos de Teoria Sociológica I. Com ele você 
iniciará seus estudos de teoria sociológica, já que esta primeira parte trata 
da chamada Sociologia Clássica. Diferentes autores contribuíram para 
a consolidação da Sociologia, inclusive os autores clássicos que aqui você 
estudará: Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Os três legaram grandes 
contribuições teóricas e metodológicas para as ciências sociais, e certamente 
você já ouviu estes nomes — pois podemos dizer que são famosos em se 
tratando da área de sociologia.
Sendo o primeiro passo de seus estudos em Teoria Sociológica (que 
prosseguirão com os componentes curriculares: Teoria Sociológica II e Teoria 
Sociológica III), cabe reforçar a importância dos clássicos. Autores clássicos 
são sempre atuais, ou seja, eles adquirem o estatuto de clássicos justamente 
porque são revisitados com frequência, e seu arcabouço intelectual 
reinterpretado em diversos momentos. Em se tratando de Durkheim, Marx 
e Weber, muitas produções contemporâneas ainda são embasadas nas obras 
destes autores.
A divisão deste livro está baseada em três unidades, uma sobre cada 
autor. As unidades dividem-se em tópicos que seguem uma lógica similar: o 
primeiro apresenta as bases teórico- metodológicas da teoria sociológica de 
cada autor; o segundo apresenta os principais conceitos desenvolvidos por 
cada um; e o terceiro traz os desdobramentos de sua teoria sociológica — 
com os principais temas de estudo e como foram abordados pelo autor.
A primeira unidade trata da obra de Émile Durkheim e de sua teoria 
da integração. Inicialmente você conhecerá as influências do positivismo em 
seu pensamento, o uso da noção de fato social, e o método funcionalista em 
ação a partir deste conceito. Ou seja, são as bases do pensamento teórico e 
das aplicações metodológicas que o autor produziu ao longo de sua carreira. 
Em seguida, terá acesso ao estudo aprofundado dos conceitos relativos à 
teoria da integração, baseada na divisão do trabalho social: solidariedade 
mecânica, consciência coletiva, solidariedade orgânica e anomia. Para fechar, 
alguns desdobramentos da aplicação de sua teoria sociológica: o estudo 
sobre o suicídio, a moral, a religião e a educação.
IV
A segunda unidade está direcionada para a obra de Karl Marx e a 
teoria do materialismo histórico-dialético. Partindo das influências recebidas 
dos autores Hegel e Feuerbach para o desenvolvimento do materialismo 
dialético, segue-se pelo materialismo histórico e pela importância da análise 
do modo de produção indicada pelo autor. Após, o aprofundamento será 
nos conceitos de: infraestrutura e superestrutura, mercadoria e dinheiro, 
exploração e mais-valia, alienação. Os temas de seus estudos principais, que 
a parte final apresenta, são: classes sociais, a ideia de luta de classes, o papel 
das revoluções na história, e o projeto político de Marx — que perpassa o 
socialismo e o comunismo.
A terceira e última unidade é dedicada à obra de Max Weber e sua 
teoria sociológica compreensiva. Iniciaremos identificando as influências que 
o autor sofreu para desenvolver a proposta de individualismo metodológico, 
e para analisar a relação entre objetividade e conhecimento. Segue-se o estudo 
da noção de ação social, central na obra do autor. Após, seu estudo será sobre 
os conceitos de tipo ideal, relação social, poder, dominação e estratificação 
social (classes, estamentos e partidos). Para fechar o tópico sobre Weber, 
você conhecerá aspectos principais de sua sociologia da religião, o processo 
de racionalização social e seu favorecimento do capitalismo, a dominação 
carismática e o chamado desencantamento do mundo.
Por meio desta trajetória, objetiva-se que você finalize a disciplina 
identificando as características principais da teoria sociológica de cada 
autor, bem como seus conceitos e principais estudos. Ressalto a importância 
de seus estudos irem além deste livro, já que cada autor possui uma vasta 
obra e temas diversos de estudo, impossíveis de sistematização total. Veja o 
estudo desta disciplina como uma oportunidade de conhecer o básico sobre 
cada autor, e de selecionar materiais complementares para conhecê-los com 
mais afinco ao longo de toda a sua formação.
Desejo um ótimo processo formativo na teoria sociológica clássica!
Franciele Otto Duque
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
UNIDADE 1 – O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM .................................................... 1
TÓPICO 1 – A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO ........................ 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 VIDA E OBRA ....................................................................................................................................... 4
3 POSITIVISMO ...................................................................................................................................... 6
4 FATO SOCIAL ....................................................................................................................................... 12
5 FUNCIONALISMO .............................................................................................................................. 17
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................22
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 23
TÓPICO 2 – CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A 
 COMPREENSÃO DA SOCIEDADE ............................................................................. 25
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 25
2 DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL ............................................................................................... 25
2.1 SOLIDARIEDADE MECÂNICA ................................................................................................... 27
2.1.1 Consciência Coletiva .............................................................................................................. 28
2.2 SOLIDARIEDADE ORGÂNICA ................................................................................................... 34
3 ANOMIA ................................................................................................................................................ 42
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 48
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 49
TÓPICO 3 – OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM ............. 51
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51
2 O SUICÍDIO .......................................................................................................................................... 51
3 VIDA SOCIAL E MORALIDADE ..................................................................................................... 55
4 A RELIGIÃO .......................................................................................................................................... 59
5 A EDUCAÇÃO ...................................................................................................................................... 63
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 66
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 71
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 72
UNIDADE 2 – O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX .................. 73
TÓPICO 1 – A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO ..................................... 75
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 75
2 VIDA E OBRA ....................................................................................................................................... 75
3 MATERIALISMO DIALÉTICO ......................................................................................................... 78
4 MATERIALISMO HISTÓRICO ........................................................................................................ 86
5 ANÁLISE DO MODO DE PRODUÇÃO ......................................................................................... 90
5.1 MODO DE PRODUÇÃO PRIMITIVO .......................................................................................... 91
5.2 MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA ....................................................................................... 91
5.3 MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO ............................................................................................ 92
Sumário
VIII
5.4 MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL ............................................................................................... 92
5.5 MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA ..................................................................................... 93
5.6 MODO DE PRODUÇÃO COMUNISTA ...................................................................................... 93
5.7 MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA ..................................................................................... 94
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 98
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 99
TÓPICO 2 – CONTRIBUIÇÕES DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO PARA 
 A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101
2 INFRAESTRUTURA E SUPERESTRUTURA ...............................................................................101
3 MERCADORIA, VALOR E DINHEIRO .......................................................................................105
4 EXPLORAÇÃO, MAIS-VALIA E LUCRO ....................................................................................109
5 ALIENAÇÃO .......................................................................................................................................114
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................119
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................120
TÓPICO 3 – OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE KARL MARX .......................121
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................121
2 CLASSES SOCIAIS ............................................................................................................................121
3 PROJETO POLÍTICO: LUTA DE CLASSES ..................................................................................125
4 PAPEL REVOLUCIONÁRIO DA BURGUESIA ...........................................................................127
5 SOCIEDADE CAPITALISTA E COMUNISMO ...........................................................................130
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................133
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................138
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................139
UNIDADE 3 – A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER ......................................141
TÓPICO 1 – A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER: TEORIA E MÉTODO ...................................143
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143
2 VIDA E OBRA .....................................................................................................................................144
3 BASES DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA .............................................................................145
4 INDIVIDUALISMO METODOLÓGICO ......................................................................................150
5 OBJETIVIDADE E CONHECIMENTO ..........................................................................................152
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................159
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................160TÓPICO 2 – CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA AÇÃO SOCIAL PARA A 
 COMPREENSÃO DA SOCIEDADE ...........................................................................161
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................161
2 AÇÃO SOCIAL ...................................................................................................................................161
3 TIPO IDEAL .........................................................................................................................................166
4 RELAÇÃO SOCIAL ............................................................................................................................170
5 PODER E DOMINAÇÃO ..................................................................................................................174
6 ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL: CLASSES, ESTAMENTOS E PARTIDOS ...............................178
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................182
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................183
IX
TÓPICO 3 – OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE MAX WEBER .......................185
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................185
2 SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO ........................................................................................................186
3 CAPITALISMO E RACIONALIZAÇÃO SOCIAL .......................................................................189
4 CARISMA E DESENCANTAMENTO DO MUNDO ..................................................................194
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................198
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................203
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................204
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................205
X
1
UNIDADE 1
O FUNCIONALISMO DE ÉMILE 
DURKHEIM
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• situar as características e os principais aspectos das bases teóricas e 
metodológicas do pensamento sociológico de Émile Durkheim;
• examinar as principais contribuições da teoria da integração de 
Durkheim para a teoria sociológica clássica, a partir da sistematização 
de seus conceitos principais;
• analisar os desdobramentos da teoria sociológica de Durkheim para a 
sociologia, com base em temas cuja sua influência, nas formas de análise, 
persiste nas interpretações contemporâneas.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E 
MÉTODO
TÓPICO 2 – CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A 
COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
TÓPICO 3 – OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE ÉMILE 
DURKHEIM
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: 
TEORIA E MÉTODO
1 INTRODUÇÃO
Neste primeiro tópico você irá estudar alguns elementos sobre as principais 
teorias e aplicação do método sociológico de acordo com o autor clássico Émile 
Durkheim. Digo alguns elementos porque sua obra é bastante extensa e, mesmo 
sintetizada, nos ocuparia muito tempo de estudo. Conforme for se interessando 
pelas temáticas, procure encontrar as obras sugeridas para que possa prosseguir 
com os estudos sobre o autor.
Iniciaremos pela retomada de sua vida e obra, que você já estudou 
em História da Sociologia, seguindo pela explicação acerca das influências 
positivistas em seu pensamento (e suas teorias). Se você ainda não cursou esta 
disciplina, é essencial saber que a Sociologia surge baseada essencialmente em 
três movimentos: o Renascimento – como marco cultural baseado nos ideais 
iluministas que defendiam a racionalidade humana; a Revolução Francesa – 
enquanto marco político de tomada de poder por parte do povo, ou seja, mudança 
na ordem social; e a Revolução Industrial – que modifica a sociedade feudal 
para uma sociedade industrial. Todas estas mudanças provocaram inúmeros 
problemas sociais com os quais as pessoas não sabiam lidar, e por isso surge a 
necessidade de uma ciência para tentar explicá-los, a ciência sociológica. A partir 
disso surgem autores buscando explicações para a ordem social, e Durkheim é 
um deles.
Após iremos nos aprofundar no conceito de fato social, base para o 
desenvolvimento de seu pensamento sociológico. É a partir deste conceito que 
Durkheim se define com relação a um pensamento que posiciona a sociedade 
como prevalente em referência ao indivíduo. Para finalizar o tópico, veremos o 
método funcionalista em ação em seu pensamento teórico e na busca por uma 
metodologia para a ciência sociológica. 
Novamente reforçamos: estude este tópico pensando que ele é uma síntese 
dos principais pontos a serem estudados quando se fala em Émile Durkheim. 
Não pare por aqui, caminhe pelas obras e teorias deste autor consagrado na 
Sociologia. Para começar, vamos situá-lo no contexto de sua vida, para entender 
o local de onde ele fala. Boa leitura!
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
4
2 VIDA E OBRA
Para começar, vamos entender um pouco sobre a biografia de Émile 
Durkheim: 
Filho, neto e bisneto de rabinos, Émile Durkheim nasceu em 15 de abril 
de 1858. Com 21 anos, ingressou na Escola Normal Superior, principal 
centro de formação da elite intelectual francesa. Entre seus colegas 
mais próximos, destacaram-se Jean Jaurès e Henri Bergson.
Durkheim atingiu a maturidade logo após a derrota da França para a 
Alemanha, na guerra de 1870, e a sangrenta repressão aos trabalhadores 
rebelados na Comuna de Paris. Sob o impacto desses acontecimentos, 
grande parte de sua geração aderiu aos ideais republicanos, laicos 
e universalistas da III República, fornecendo-lhe alguns de seus 
principais quadros intelectuais e políticos.
Ao escolher como objeto de estudo as relações entre a personalidade 
individual e a solidariedade social, Durkheim afasta-se de sua área 
de formação, a filosofia, encaminhando-se para a sociologia. Esta, no 
entanto, ainda não era reconhecida como ciência ou mesmo como 
disciplina acadêmica. Ele se impõe a tarefa de dar forma científica 
(método e corpo) a esse saber, dissociando-o tanto da pregação 
doutrinária dos seguidores de Comte como do ensaísmo eclético de 
Renan e Taine.
Em 1885, como bolsista do governo francês, passa um semestre na 
Alemanha. Assiste aos cursos de Wundt e toma contato com as obras 
de Dilthey, Tönnies e Simmel. Os dois artigos que escreve sobre o 
estado das ciências sociais na Alemanha abrem caminho para que 
seja nomeado, em 1887, professor de pedagogia e ciência social na 
Universidade de Bordéus.
Durkheim permaneceu em Bordéus por 15 anos. Nesse período, 
escreveu e publicou seus principais livros e firmou sua reputação como 
sociólogo. Nas disciplinas de pedagogia, tratou dos temas clássicos da 
área, introduzindo paulatinamente o viés da sociologia da educação. 
Nos cursos de sociologia (os primeiros na universidade francesa e 
um sucesso de público), abordou temas que antecipam os principais 
tópicos de sua obra: a solidariedade social, a família e o parentesco, o 
suicídio, a religião, o socialismo, o direito e a política.
Publica seu primeiro livro, a tese doutoral Da divisão do trabalho 
social, em 1893. Apenas dois anos depois, surgem as regras do método 
sociológico, e, em 1897, O suicídio.
Em 1896, funda e dirigeuma revista que se tornou rapidamente 
modelo de pesquisa sociológica. Mais que um periódico, L’Année 
Sociologique estabelece um programa sistemático, por meio de uma 
divisão intelectual do trabalho que agrupa talentosos e destacados 
cientistas.
Seu esforço para transformar a sociologia em disciplina acadêmica 
é reconhecido em 1902, com sua nomeação para a Universidade de 
Sorbonne, em Paris: a primeira cátedra de sociologia na França.
O interesse cada vez maior de Émile Durkheim pela sociologia 
do conhecimento e da religião consolida uma inflexão em vida 
intelectual. Em 1912, publica As formas elementares da vida religiosa. 
Após sua morte, em 1917, foram editados novos livros, reunião de 
artigos, como Sociologia e filosofia, ou de suas anotações de cursos: 
Educação e sociologia, O socialismo, Pragmatismo e sociologia, Lições 
de sociologia (DURKHEIM; MUSSE, 2007, p. 76–77).
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO
5
FIGURA 1 – ÉMILE DURKHEIM
FONTE: <https://www.comunidadeculturaearte.com/wp-content/uploads/2017/08/emile-
durkheim-589909c93df78caebcf505a41.jpg>. Acesso em: 10 set. 2018.
DICAS
Uma excelente síntese sobre a vida de Durkheim e o 
contexto histórico no qual este autor esteve inserido 
é a introdução da obra Émile Durkheim: Sociologia. É 
uma coletânea de textos do autor organizada por José 
Albertino Rodrigues, publicada em várias edições pela 
Editora Ática. Além disso, este texto também apresenta 
diretrizes gerais da concepção sociológica e da posição 
metodológica do autor. Leitura altamente recomendada!
FONTE:<https://www.estantevirtual.com.br/livros/jose-
albertino-rodrigues/durkheim/683457527>. Acesso em: 
16 jan. 2019.
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
6
Para sua localização na obra do autor, segue adiante um mapa conceitual 
trazido nesta obra mencionada anteriormente, muito esclarecedor e que irá 
auxiliá-lo na organização de seus estudos ao longo de toda esta unidade.
FIGURA 2 – MAPA CONCEITUAL DO PENSAMENTO DE ÉMILE DURKHEIM
FONTE: Durkheim e Rodrigues (2006, p. 31)
De posse das informações sobre a vida e obra deste autor, bem como o 
mapa conceitual de suas principais análises, vamos iniciar nossa leitura, na seção 
seguinte, pelo Positivismo, corrente filosófica que influenciou toda a obra deste 
autor. Prossiga!
3 POSITIVISMO
Vamos iniciar nossos estudos aprofundados no autor Durkheim, 
conhecendo as formas de pensar as análises sociais, os métodos propostos para 
a Sociologia, e inevitavelmente para isso passaremos pelas suas obras com base 
positivista.
Durkheim pode ser classificado, especialmente em seus primeiros escritos, 
como um autor do Positivismo — já que pensa as análises sociais como ciência que 
necessitava, à sua época, delimitar seu objeto específico de análise e seu método. 
DIVISÃO
DO
TRABALHO SUICÍDIO
INDIVÍDUO
ORGÂNICA
GRUPOS E
INSTITUIÇÕES
MECÂNICA
REPRESENTAÇÕES
COLETIVAS
CONSCIÊNCIA
COLETIVA
FISIOLOGIA SOCIAL
MORAL RELIGIÃO
tipo
tipo
Direito
Repressivo
Direito
Restitutivo
A
N
O
M
IA
coerção
coerçãofunções
egoísta
altruísta
an
ôm
ic
o
co
erç
ão
SOCIEDADE
(complexo integrado 
de fatos sociais) 
SO
LI
D
A
RI
ED
A
D
E 
SO
C
IA
L
Sagrado
Profano
MORFOLOGIA SOCIAL
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO
7
DICAS
Você já estudou o Positivismo? Caso já tenha cursado 
a unidade curricular História da Sociologia, retome 
os textos desta unidade, pois lá essa temática está 
presente. Se ainda não cursou ou quer aprimorar seus 
conhecimentos sobre o tema, busque a obra O que 
é Positivismo?, de João Ribeiro Junior, publicada na 
coleção Primeiros Passos. Há várias edições e a editora 
é a Brasiliense.
FONTE:<https://www.skoob.com.br/o-que-e-
positivismo-8961ed10233.html>. Acesso em: 16 jan. 
2019.
Para definir de maneira bem simples, Durkheim entendia que a tarefa 
da Sociologia era estudar as instituições sociais, desde seu surgimento às suas 
leis de funcionamento. Ele entendia que eram as instituições que levavam 
ao compartilhamento de comportamentos por parte dos grupos. Todo 
comportamento coletivo, portanto, tinha origem em um sistema de crenças, de 
representações, de formas de pensar a ordem social e interpretar o mundo que 
tinham base nas instituições sociais.
Tente pensar em exemplos... Nos dias atuais, onde você consegue 
visualizar comportamentos coletivos que têm origem nas instituições sociais? 
Muitos rituais das igrejas que são coletivos possuem origem na instituição 
religião: casamentos, batismos, funerais, entre outros. Também conseguimos 
visualizar comportamentos baseados em outras instituições: educação, política, 
família... Pense um pouco sobre estes exemplos.
Você deve ter percebido que estes comportamentos compartilhados sempre 
são baseados em regras externas ao indivíduo, que são assimiladas por ele conforme 
avança sua vida social e sua socialização nos grupos. É isto que Durkheim entendia 
que deveria ser estudado: como esta externalidade das regras impacta a vida 
individual, buscando assim respostas para esta troca indivíduo X sociedade.
Para pensar nestas questões ele baseia-se na ideia de fundar uma ciência 
que estude esta externalidade, encontre as leis de funcionamento da sociedade 
e as descreva. Parte, portanto, da superioridade da ciência como forma de 
conhecimento de mundo, defendida por Comte e pelo Positivismo, e do poder da 
razão humana presente nas análises iluministas.
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
8
O Positivismo aparece nas teorias de Durkheim especialmente quando 
ele se defronta com as questões sobre o conhecimento, ou seja, quando ele busca 
entender o que é o objeto da Sociologia e seu método científico. 
IMPORTANT
E
Nas reflexões sobre epistemologia (estudos sobre a teoria do conhecimento), 
portanto, é que você conseguirá buscar elementos para conhecer melhor as influências 
positivistas quando Durkheim lança luz às características científicas da ciência sociológica.
Sell (2002) destaca duas questões que o autor analisa em que se percebe a 
veia positivista atuando. Um primeiro item com qual Durkheim se preocupa é a 
superioridade da sociedade com relação ao indivíduo. 
Para o Positivismo, o objeto condiciona a explicação da realidade, 
portanto, a conclusão do autor é a mesma sobre este tema: a determinação da 
sociedade em relação ao indivíduo, ou, a objetividade predominando com relação 
à subjetividade.
É por isso que ao estudar Durkheim você irá ouvir muito que as explicações 
sociais, para ele, têm fundamento na vida social, ou seja, na sociedade, e não no 
indivíduo. Em termos de representação imagética, temos:
FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO DA RELAÇÃO INDIVÍDUO X SOCIEDADE PARA DURKHEIM
SOCIEDADE
INDIVÍDUO
FONTE: A autora (2018)
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO
9
Durkheim reconhecia que a sociedade não existia sem os indivíduos, mas 
“o que ele desejava ressaltar é que uma vez criadas pelo homem, as estruturas 
sociais passam a funcionar de modo independente dos indivíduos, condicionando 
suas ações” (SELL, 2002, p. 64).
Este funcionamento independente é o que ele visualiza como sendo as 
instituições sociais, como estrutura externa de condicionamento dos indivíduos, 
que possuem regras próprias, dinâmicas próprias, existindo independentes 
daqueles que fazem parte delas. As instituições permanecem mesmo com a 
passagem dos indivíduos por elas. 
Novamente vamos parar para refletir: existem regras e funcionamentos 
próprios da educação que estão aí, desde antes de nascermos, e seguem depois 
de falecermos. Na religião funciona da mesma forma, há regras que sequer 
conseguimos estabelecer quando surgiram na história, de tão antigas que são. 
É esta independência do indivíduo que Durkheim busca destacar, combinados 
regras, diretrizes, funcionamentos que existem antes do indivíduo, durante sua 
vida e sua participação nas instituições, e seguirão depois dele.
Diante da identificação das instituições sociais (atualmentena Sociologia 
se reconhece principalmente os exemplos: Religião, Família e Educação), o autor 
persegue a ideia de que a tarefa da Sociologia é descrever como o todo condiciona 
as partes, ou como a sociedade condiciona os indivíduos. Parte-se, portanto, do 
estudo do objeto, e não do sujeito.
Em todas as obras de Durkheim vamos perceber que este pressuposto 
está presente. Tanto em suas explicações sobre a origem da religião, 
sobre o conhecimento, sobre o comportamento suicida e mesmo sobre 
a divisão social do trabalho; é a sociedade que age sobre o indivíduo, 
modelando suas formas de agir, influenciando suas concepções e 
modos de ver, condicionando e padronizando o seu comportamento. 
Ninguém mais do que Durkheim vai colocar tanta ênfase na força do 
social sobre nossas vidas, procurando sempre ressaltar que, em última 
instância, até mesmo a noção de que nós somos pessoas ou sujeitos 
individuais não passa de uma construção social (SELL, 2002, p. 64).
ESTUDOS FU
TUROS
Para estudar o condicionamento do objeto diante do indivíduo, Durkheim 
apresentou o conceito de Fato Social, central para o entendimento de sua teoria sociológica. 
Teremos uma seção específica para tratar deste conceito, dada sua importância.
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
10
Seguimos agora com o segundo item onde a influência positivista se 
manifesta nas obras durkheimianas, trata-se de um método científico desenvolvido 
para as ciências sociais ou, mais especialmente, para a Sociologia. Se o objeto de 
estudos é a sociedade, a partir da objetividade, então era preciso também definir 
um método para esta ciência. Para tal, seguiremos com a interpretação do autor 
Sell (2002).
Uma das principais intenções de Durkheim, elencada, inclusive, como 
uma das principais contribuições deste teórico para a Sociologia — e que 
contribuiu para que este fosse considerado um autor clássico —, foi o seu esforço 
em consolidar o espaço científico da ciência sociológica.
E foi para fixar esta ciência que ele se concentrou tanto no método. Resgate 
em sua mente, qual o modelo ideal de método científico para o Positivismo? 
Lembrou? O método das ciências naturais. Em função disso, Durkheim se 
concentrou em verificar como o método das ciências naturais poderia ser uma 
referência para as ciências sociais.
Para isso, o primeiro item que ele identifica ser fundamental é o 
distanciamento do pesquisador com relação ao seu objeto de análise, ou seja, 
os fenômenos sociais deveriam ser considerados como coisas. “Ao equiparar os 
fenômenos sociais a ‘coisas’, Durkheim partia do princípio de que a realidade 
social é idêntica à realidade da natureza e que, portanto, equipara-se também aos 
fenômenos por ela estudados” (SELL, 2002, p. 65).
Segundo seu raciocínio, se as coisas naturais podem ser estudadas 
independentes da ação humana, as coisas sociais também poderiam ser. O cientista 
teria a tarefa de buscar regularidades, distinções, semelhanças, princípios. Para 
isso, o primeiro passo seria que o cientista libertasse suas pré-noções, ou melhor, 
aquilo que já conhecia ou interpretava sobre o fenômeno, analisando-o de forma 
objetiva e baseado em suas características exteriores (objetivando o fenômeno).
Esta aproximação do objeto social com o objeto natural, entendendo 
ambos como coisas, permitiu que Durkheim defendesse que o método de estudo 
poderia ser o mesmo para ambas as tipologias científicas.
Ou seja, o papel da sociologia consiste em “registrar” da forma mais 
imparcial possível a realidade pesquisada (o objeto), tal como naquelas 
ciências. Cabe ao pesquisador apenas fazer um retrato da realidade 
pesquisada, pois ela é uma realidade objetiva, tão objetiva como 
qualquer “coisa” da natureza. Na percepção sociológica de Durkheim, 
portanto, a realidade (objeto) é que se impõe ao sujeito (observador), 
por isso, as ciências sociais deveriam adotar o mesmo método que as 
ciências da natureza (SELL, 2002, p. 65).
Toda esta dinâmica de análise foi sintetizada por Tura (2006), conforme 
segue:
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO
11
Enfim, na visão durkheimiana só se poderia pensar no estudo dos 
fenômenos sociais no campo da ciência se fosse possível concebê-los 
como algo de real e existente fora das consciências particulares, ou 
seja, como realidade coletiva, externa ao indivíduo, que o ultrapassa 
e se impõe sobre ele. Para Durkheim, as sociedades, assim como os 
fenômenos naturais, são ordenadas e reguladas por certas leis ou 
tendências gerais e necessárias e que, por isso, se deve proceder à análise 
das relações de causa e efeito entre os fenômenos sociais. É assim que se 
pode antever algumas tendências futuras.
Em seus diversos textos, Durkheim se mostrou preocupado em dar 
indicações minuciosas de seus procedimentos de análise e em apresentar 
os limites de seu trabalho, posto que, segundo ele, estava lidando com 
uma ciência jovem que tinha que se ater a um conjunto ainda precário de 
dados acumulados e a um desenvolvimento teórico ainda iniciante. Por 
isso, acreditava que seria mais viável naquele momento a investigação 
de normas cristalizadas, instituições consolidadas e sistemas de regras 
morais estabelecidas.
Os métodos de investigação das ciências naturais, já bastante 
desenvolvidos no século XIX, foram a base de onde partiu. Essa gênese 
marcou muito a linguagem de sua sociologia e do que se produziu 
posteriormente. Pode-se notá-la em termos recorrentes com: espécies de 
sociedade, sistemas, organismo social, funções e formas de regulação. 
Os métodos experimentais da psicologia, a que Durkheim teve bastante 
acesso participando de atividades de laboratório, também tiveram 
influência em seu pensamento. Contudo, este interessado em distinguir 
os métodos e as leis próprias da sociologia, sempre se referindo à 
natureza sui generis da sociedade e, portanto, a impossibilidade de 
redução dos fatos sociais aos fatos psicológicos e afirmando que os fatos 
sociais só podem ser explicados por outros fatos sociais.
A sociologia é para Durkheim a ciência das instituições sociais, de sua 
gênese e seu funcionamento. Instituições, no caso, entendidas em seu 
sentido largo que abrange também as crenças, valores e comportamentos 
instituídos. Por isso, ele pensou que a sociologia podia e devia auxiliar 
na compreensão das instituições pedagógicas e a “conjeturar o que 
devem ser elas, para o melhor resultado do próprio trabalho”. Esta 
compreensão deve conduzir o pesquisador à análise de práticas sociais. 
Pode-se verificar isto quando afirma que “os estudos devem recair sobre 
fatos que conheçamos, que se realizem e sejam passíveis de observação” 
(TURA, 2006, p. 33–35).
O método que estava no auge da discussão científica na época de Durkheim 
era o chamado método funcionalista, e foi nele que o autor encontrou material 
para solucionar seus anseios com relação aos objetos sociológicos, e com relação 
especialmente ao método de análise.
NOTA
Iremos estudar o Funcionalismo em uma seção específica mais adiante, por hora 
é importante que você saiba que é uma forma de explicação da ordem social que entendia 
o funcionamento e a dinâmica sociais análogas ao funcionamento do corpo humano. Cada 
grupo social, portanto, possuía uma função no organismo – que deveria ser cumprida para 
que o todo funcionasse harmonicamente.
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
12
Por isso, é possível classificar parte da obra de Durkheim como sendo 
fruto de um pensamento funcionalista, e é o que iremos estudar mais adiante. 
Enquanto prossegue com a leitura, tenha em mente sempre essa tentativa de 
aproximação do método com as ciências naturais e a importância da objetividade 
do pesquisador em suas análises sociais. Assim irá compreender o quanto este 
pensamento interfere na Sociologia até os dias contemporâneos. 
Antes de conhecer o detalhamento de seu pensamento funcionalista, 
vamos destrinchar o conceito de Fato Social, base para o entendimento deste 
método e da objetividadeprevista por Durkheim para o analista social. Mas 
antes, uma indicação de leitura!
DICAS
Para conhecer o pensamento durkheimiano sobre o 
método científico da Sociologia, nada melhor do que as 
palavras do próprio autor. Veja, portanto, a obra “As regras 
do método sociológico”, do próprio Émile Durkheim, 
traduzida e publicada por diferentes editoras no Brasil. 
Uma edição compacta e barata pode ser a da Coleção 
A Obra-Prima de Cada Autor, Editora Martin Claret, cuja 
imagem de capa está ao lado.
FONTE:<https://www.livrariacultura.com.br/p/livros/
ciencias-sociais/sociologia/as-regras-do-metodo-
sociologico-3055247>. Acesso em: 16 jan. 2019.
4 FATO SOCIAL
Em seus estudos básicos de Sociologia no Ensino Médio você já deve ter 
se aproximado do conceito de Fato Social. É uma das noções mais presentes na 
sociologia durkheimiana, e como explica boa parte de seu pensamento social, 
é utilizada com bastante frequência. Nesta seção iremos nos aprofundar no 
entendimento deste conceito, amparados pelas obras do autor e por sistematização 
de outros autores. 
Lembre-se, é essencial que você busque conhecer as próprias obras do 
autor, pois são clássicos, ou seja, um autor de base para quem estuda Sociologia. 
Nada melhor do que ter acesso às obras originais e interpretá-las a partir de sua 
vivência e seus estudos.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO
13
Diante disso, nosso primeiro pressuposto é de que os fatos sociais são o 
objeto de estudo dos sociólogos. São eles que o pesquisador deve buscar descrever 
e interpretar, pois a partir deles é possível entender a sociedade como coisa, como 
ente externo ao cientista, garantindo a tão importante neutralidade — conforme 
vimos na seção anterior.
IMPORTANT
E
O objeto formal da Sociologia, portanto, para Durkheim, são os fatos sociais!
Ele define fato social no livro que indicamos anteriormente, logo em seu 
início: 
É um fato social toda a maneira de agir, fixa ou não, capaz de exercer 
sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou ainda, que é geral no 
conjunto de uma dada sociedade, tendo, ao mesmo tempo, uma 
existência própria, independente das suas manifestações individuais 
(DURKHEIM, s.d. apud MUSSE, 2006, p. 93).
É no fato social que Durkheim materializa, portanto, a exterioridade da vida 
social no indivíduo, o condicionamento que este sofre em seus comportamentos, 
reconhecendo a coerção da sociedade para com as ações individuais.
A tirinha a seguir (Figura 4) explica uma situação como esta, veja:
FIGURA 4 – TIRINHA: EXTERIORIDADE DA VIDA SOCIAL
Mãe, quero
fazer uma
mecha verde
no cabelo.
Pra
quê?!
É para
expressar 
a minha
individualidade!
E tá todo
mundo
fazendo!
FONTE: <https://blogdoenem.com.br/pensadores-sociologia-emile-durkheim/>. Acesso em:
 20 set. 2018.
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
14
Reconhecendo estas características próprias nos fatos sociais, sua 
influência nas ações, pensamentos e sentimentos das pessoas, Durkheim defende a 
necessidade de uma ciência que compreenda a ordem social a partir de um método 
científico, que consiga chegar em suas leis específicas de funcionamento. Não 
poderia ser o mesmo método da Psicologia, por exemplo, já que o entendimento 
psicológico pode ser feito por meio da introspecção.
Da perspectiva do autor, a sociedade não é o resultado de um somatório 
dos indivíduos vivos que a compõem ou de uma mera justaposição 
de suas consciências. Ações e sentimentos particulares, ao serem 
associados, combinados e fundidos, fazem nascer algo novo e exterior 
àquelas consciências e às suas manifestações. E ainda que o todo só 
se forme pelo agrupamento das partes, a associação “dá origem ao 
nascimento de fenômenos que não provêm diretamente da natureza 
dos elementos associados” (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 
2002, p. 62). 
É em função desta definição que Durkheim distingue as consciências 
individuais da consciência coletiva. A sociedade não é apenas a soma dos 
indivíduos, mas sim uma síntese, um todo com forças que as particularidades não 
apresentam. As formas de agir coletivas são diferentes das quais os indivíduos 
utilizariam como referência se estivessem sozinhos.
Ainda para explicar com mais detalhes os fatos sociais:
Os fatos sociais podem ser menos consolidados, mais fluidos, são 
as maneiras de agir. É o caso das correntes sociais, dos movimentos 
coletivos, das correntes de opinião “que nos impelem com intensidade 
desigual, segundo as épocas e os países, ao casamento, por exemplo, 
ao suicídio, a uma natalidade mais ou menos forte etc.” Outros fatos 
têm uma forma já cristalizada na sociedade, constituem suas maneiras 
de ser: as regras jurídicas, morais, dogmas religiosos e sistemas 
financeiros, o sentido das vias de comunicação, a maneira como 
se constroem as casas, as vestimentas de um povo e suas inúmeras 
formas de expressão. Eles são, por exemplo, os modos de circulação de 
pessoas e de mercadorias, de comunicar-se, vestir-se, dançar, negociar, 
rir, cantar, conversar etc., que vão sendo estabelecidos pelas sucessivas 
gerações. Apesar de seu caráter ser mais ou menos cristalizado, tanto 
as maneiras de ser quanto de agir são igualmente imperativas, coagem 
os membros das sociedades a adotar determinadas condutas e formas 
de sentir. Por encontrar-se fora dos indivíduos e possuir ascendência 
sobre eles, consistem em uma realidade objetiva, são fatos sociais 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 63). 
Da definição de fato social, Durkheim destaca três características que 
nos auxiliam a compreender os mesmos: a exterioridade, a coercitividade e a 
objetividade. Vamos pontuar cada uma delas:
• Exterioridade: as formas de agir sempre são determinadas pela sociedade, e 
não pelo indivíduo, ou seja, são exteriores.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO
15
• Coercitividade: os fatos sociais exercem coerção sobre os indivíduos, ou seja, 
são impostos a eles pela sociedade.
• Objetividade: a existência de formas de agir coletivas se dá independente do 
indivíduo, ou seja, os fatos sociais existem, independentemente de quem forma 
o grupo naquele momento.
Deste modo, podemos compreender o quanto o indivíduo é produto da 
sociedade nas análises de Durkheim, sendo que esta deve ser a perspectiva de 
análise para o entendimento dos comportamentos compartilhados, a ideia da 
prevalência da sociedade com relação ao indivíduo.
Para explicar a exterioridade e objetividade dos fatos sociais, ele 
argumenta que a internalização das formas de agir coletivas só ocorre por meio 
de um processo educativo, ou seja, por meio de um processo de internalização. 
A este processo damos o nome de socialização, outro conceito da Sociologia que 
certamente permeará seus estudos futuros sobre Sociologia da Educação.
O processo educativo insere o indivíduo nas regras sociais, que ensinam 
ao novo ser os comportamentos aceitos ou rejeitados, que, aos poucos, fazem 
com que ele sinta, pense e interprete como seu grupo. “Com o tempo, as crianças 
vão adquirindo os hábitos que lhes são ensinados e deixando de sentir-lhes a 
coação, aprendem comportamentos e modos de sentir dos membros dos grupos 
dos quais participam” (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 63). 
Esta internalização ocorre por meio do processo educativo e conforma 
o indivíduo no pensamento do grupo, gerando representações coletivas e 
representações individuais. A associação de ideias, percepções, sentimentos, 
estados, como já dissemos, a “síntese”, faz com que existam representações que 
são compartilhadas sobre o próprio grupo, sobre o mundo. Elas são expressas 
em regras morais, padrões de beleza, lendas, mitos, religiões, entre outros. Estas 
representações coletivas, também chamadas de consciência coletiva, são exemplos 
de fatos sociais.
Eles são perceptíveis também no conjunto de valores dos grupos, pois 
“eles também possuem uma realidade objetiva, independente do sentimento ou 
da importância que alguém individualmente lhes dá;não necessitam expressar-
se por meio de uma pessoa em particular ou que esta esteja de acordo com eles” 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 64). 
A coercitividade é trazida por Durkheim quando explica como os 
fatos sociais exercem autoridade específica sobre os indivíduos, materializada 
em diferentes obstáculos, impostos a quem realizar ações que contrariam as 
convenções do grupo.
Como exemplo, podemos pensar em uma pessoa que tenta usar um 
idioma diferente do local, uma moeda diferente, viola uma regra ou resiste a uma 
lei. Ela sofre punições e/ou sanções, institucionalizadas no Estado, ou mesmo de 
pessoas do próprio grupo.
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
16
Ele tropeçará com os demais membros da sociedade que tentarão 
impedi-lo, convencê-lo ou restringir sua ação, usarão de punições, 
da censura, do riso, do opróbrio e de outras sanções, incluindo a 
violência, advertindo-o de que está diante de algo que não depende 
dele. Quando optamos pela não submissão, “as forças morais contra as 
quais nos insurgimos reagem contra nós e é difícil, em virtude de sua 
superioridade, que não sejamos vencidos. [...] estamos mergulhados 
numa atmosfera de ideias e sentimentos coletivos que não podemos 
modificar à vontade (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, 
p. 64). 
A dificuldade de modificação de regras, a existência de sanções e punições 
para quem avança de uma forma diferente do grupo, é o poder de coercitividade 
dos fatos sociais sendo exercido. Durkheim reconhece que é possível que 
haja modificações, mas para isso é necessário que os comportamentos sejam 
combinados, que as ações de mudanças sejam também coletivas. Assim os fatos 
sociais são reformados e podem sofrer modificações.
A ação transformadora é tanto mais difícil quanto maior o peso ou 
a centralidade que a regra, a crença ou a prática social que se quer 
modificar possuam para a coesão social. Enquanto nas sociedades 
modernas, até mesmo os valores relativos à vida - o aborto, a 
clonagem humana, a pena de morte ou a eutanásia - podem ser postos 
em questão, em sociedades tradicionais, os inovadores enfrentam 
maiores e às vezes insuperáveis resistências (BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002, p. 65). 
Os fatos sociais surgem a partir de causas externas, que vão se moldando 
na interação dos grupos e dos indivíduos que compõem os grupos, adicionando a 
esta interação as consciências individuais plurais, cuja síntese forma a consciência 
coletiva.
Tura (2006) apresenta uma dimensão importante, destacada por Durkheim 
acerca dos fatos sociais, os quais, muitas vezes, são ignorados por nossa própria 
consciência individual. Ela explica:
Os fatos sociais são também coisas ignoradas, posto que, apesar 
de estarmos convivendo com eles, os apreendemos a partir de 
formas não metódicas, de uma penetração acrítica, de impressões 
confusas. Para conhecê-los cientificamente é necessário que se utilize 
criteriosamente o método científico e se vão realizando procedimentos 
ligados à observação, à experimentação, à análise do tempo histórico 
e social de constituição dos fenômenos sociais. Dessa forma, se está 
intentando estudar como as coisas se dão no contexto de seu tempo 
e espaço, marcado pelas crenças e valores de uma organização social 
que determina formas de ver, sentir e pensar, que são forjadoras 
de símbolos que se imbricam na consciência coletiva e produzem 
representações coletivas (TURA, 2006, p. 37).
Antes de adentrarmos os métodos para estudo dos fatos sociais, vamos 
ao autor para conhecer como este define fato social e apresenta o conceito em sua 
obra, veja a leitura sugerida no Uni. 
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO
17
DICAS
A leitura complementar desta unidade apresenta o texto do próprio Durkheim, 
extraído da obra As Regras do Método Sociológico, intitulado O que é fato social? Sugiro que 
você faça esta leitura antes de prosseguir com os estudos deste tópico.
5 FUNCIONALISMO
Reconhecendo a superioridade da sociedade com relação ao indivíduo, 
e que as ciências sociais deveriam buscar desenvolver um método similar aos 
métodos das ciências da natureza, Durkheim se aproximou da biologia para 
pensar uma possibilidade de método para a Sociologia. Com isto ele se aproxima 
das ideias de Herbert Spencer, o qual afirmou que natureza e sociedade obedecem 
à mesma lei geral: a lei da evolução (SELL, 2002).
Toda a explicação funcionalista não é uma criação de Durkheim, mas sim 
fruto da influência que esta teoria possuía na biologia, reinterpretada por Spencer 
a partir das obras evolucionistas de Charles Darwin. A ciência daquela época 
estava influenciada pelas maneiras de pensar baseadas no Evolucionismo.
NOTA
O Evolucionismo é uma corrente de pensamento presente na Antropologia, que 
entende a existência de uma unidade psíquica nos seres humanos, pelo aspecto cultural, e 
que em função disso os grupos sociais possuiriam estágios de desenvolvimento socioculturais 
pelos quais deveriam passar.
Definido, portanto, o fato social como objeto formal dos estudos 
sociológicos, Durkheim debruçou-se sobre o método. Ele precisava definir como 
ocorreria o estudo dos fatos sociais, como garantir a neutralidade científica que 
almejava, e foi a partir destas reflexões que ele se aproximou de uma metodologia 
funcionalista.
No estudo da vida social, uma das preocupações de Durkheim 
era avaliar qual método permitiria fazê-lo de maneira científica, 
superando as deficiências do senso comum. Conclui que ele deveria 
assemelhar-se ao adotado pelas ciências naturais, mas nem por isso ser 
o seu decalque, porque os fatos que a Sociologia examina pertencem ao 
reino social e têm peculiaridades que os distinguem dos fenômenos da 
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
18
natureza. Tal método deveria ser estritamente sociológico. Com base 
nele, os cientistas sociais investigariam possíveis relações de causa 
e efeito e regularidades com vistas à descoberta de leis e mesmo de 
“regras de ação para o futuro”, observando fenômenos rigorosamente 
definidos (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 65). 
Segundo Durkheim, os fatos sociais não existem apenas sem razão de 
ser, mas cumprem uma função dentro do sistema social. É preciso, portanto, 
investigar não apenas as causas que os levam a serem produzidos, mas também 
a função que desempenham. Explicar os fatos sociais seria, então, demonstrar a 
função que estes exercem.
Para isso, seria preciso inicialmente pesquisar as causas que levaram 
o fato social a surgir, ou seja, não buscar no futuro, e sim no passado, quais 
motivos fizeram com que esta forma de agir coletiva existisse. As análises sobre 
o surgimento da prática social deveriam vir seguidas de investigação sobre a sua 
utilidade social. A função seria determinada pela análise da utilidade projetada 
no fato social, ou seja, para quê exatamente servia esta prática social.
Esta seria a dinâmica de pesquisa que deveria ser aplicada pela sociologia 
segundo Durkheim, e assim seria possível determinar a função exercida pelos 
fatos sociais no grupo ao qual estava vinculado. Desta maneira, pensando as 
funções, Durkheim compara a sociedade com um corpo, um organismo vivo. 
Lakatos e Marconi definem:
O método funcionalista considera, de um lado, a sociedade como 
uma estrutura complexa de grupos ou indivíduos, reunidos numa 
trama de ações e reações sociais; de outro, como um sistema de 
instituições correlacionadas entre si, agindo e reagindo umas em 
relação às outras. Qualquer que seja o enfoque, fica claro que o 
conceito de sociedade é visto como um todo em funcionamento, um 
sistema em operação. E o papel das partes nesse todo é compreendido 
como funções no complexo de estrutura e organização (LAKATOS; 
MARCONI, 1990, p. 35).
Nos corpos, cada órgão cumpre uma função. Assim também seria na 
sociedade, segundo ele, cada segmento cumprindo uma função. As partes 
existiriam para cumprir funções essenciais para a existência do todo, reforçandonovamente a percepção de um todo predominando sobre as partes (SELL, 2002).
Sell (2002, p. 69) propõe um exercício listando as instituições sociais, para 
você pensar quais são as funções sociais que cada uma exerce:
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO
19
QUADRO 1 - EXEMPLOS DE INSTITUIÇÕES SOCIAIS
FAMÍLIA RELIGIÃO EMPRESA ESCOLA
EXÉRCITO LEIS GOVERNO LAZER
FONTE: Sell (2002, p. 69)
Determinando a função de cada instituição é possível explicar sua existência 
e entender as formas de agir coletivas que cada uma determina, gerando fatos 
sociais e entendendo sua contribuição para o bom funcionamento da sociedade. 
A escola, por exemplo, cumpre a função de socialização dos indivíduos mais 
jovens nas diretrizes e comportamentos já estabelecidos pelos mais velhos, além 
de socializar o novo indivíduo com outros. 
É na determinação da função social que estas instituições cumprem 
que a metodologia funcionalista procura explicar sua existência, bem 
como das nossas formas de agir, ou, como queria Durkheim, dos fatos 
sociais. Esta é a essência da metodologia funcionalista, que apesar 
das inovações e aprofundamentos posteriores, constitui até hoje seu 
núcleo de ideias básicas (SELL, 2002, p. 69).
O método proposto por Durkheim para entender as funções das instituições 
era baseado na comparação, entendendo diferentes modos de organização social 
e tempos históricos diversos, e assim, buscando comparar suas diferenças e 
regularidades. As combinações de fatos e causalidades, portanto, poderiam 
auxiliar na determinação de causas e efeitos, traduzindo as funções.
Outro aspecto fundamental da teoria funcionalista durkheimiana era a 
ideia de pensar não apenas no conceito de sociedade, mas sim de sociedades, 
no plural. Isto porque a analogia feita era de que haveria diferentes formas de 
sociedades, passíveis de classificações em espécies, assim como os vegetais e 
animais podem ser classificados na biologia.
Seria possível, por meio do método comparativo, encontrar sociedades 
que se aproximam e estabelecer tipologias. Utilizando a observação criteriosa 
e a descrição minuciosa, poderiam ser observados tipos de família, tipos de 
religião, tipos de educação, atuando com similaridades, mas em “espécies” 
diferentes de sociedades. O foco, para tal, precisa ser direcionado à identificação 
de homogeneidades e regularidades.
Da mesma maneira, seria possível identificar quando alguma função social 
não está sendo cumprida corretamente pela instituição à qual está vinculada, e 
identificar as chamadas patologias sociais. Uma patologia ocorreria, portanto, na 
situação em que o órgão responsável estivesse com problemas para desempenhar 
seu papel, dificultando a manutenção da harmonia de todo o sistema. Vejamos:
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
20
Para explicar um fenômeno social, deve-se procurar a causa que o 
produz e a função que desempenha. Procura-se a causa nos fatos 
anteriores, sociais e não individuais; e a função, através da relação 
que o fato mantém com algum fim social. Durkheim, ao estabelecer 
as regras de distinção entre o normal e o patológico, propôs: um 
fato social é normal, para um tipo social determinado, quando 
considerado numa determinada fase de seu desenvolvimento, desde 
que se apresente na média das sociedades da mesma categoria, e na 
mesma fase de sua evolução. Esta regra estabelece uma norma de 
relatividade e de objetividade na observação dos fatos sociais, como 
foi ilustrado em sua obra sobre o suicídio. Demonstra, também, que 
certos fenômenos sociais, tidos como patológicos, só o são à medida 
que ultrapassam uma taxa dita "normal", em determinado momento, 
em sociedades de mesmo nível ou estágio de evolução (LAKATOS; 
MARCONI, 1990, p. 47).
As disfunções sociais são consideradas normais em todas as sociedades, 
no entanto, o patológico é definido como uma função doente, que pode colocar 
em risco a existência do grupo, a destruição. Seria necessário ao investigador 
verificar, em cada espécie de sociedade, o que é patológico em seu contexto. Como 
exemplo, é possível citar a criminalidade, sempre existente em grupos sociais, 
mas que dependendo do tipo e das taxas, passa a ser uma patologia.
A sociologia, neste caso, teria um papel fundamental na medida em que 
ela deveria identificar qual parte do corpo não está mais integrada ao todo em 
pleno funcionamento, para que a sociedade pudesse ajustar o que fosse necessário, 
restaurando seu equilíbrio.
Estas ideias, infelizmente, levaram a sociologia de Durkheim a uma 
visão política profundamente conservadora. Como a sociedade era 
comparada com um corpo, não fazia sentido transformá-la. Para a 
sociologia, a única solução possível para os problemas era “preservar” 
(conservar) a sociedade, assim como o médico deve preservar o corpo 
dos pacientes. Se existe algum problema, não há como mudar todo 
o conjunto da sociedade: a única solução possível seria restaurar o 
funcionamento das partes ou mesmo eliminar o problema. A tradição 
funcionalista, portanto, coloca toda ênfase no equilíbrio e na integração 
social, e todas as formas de conflito ou de contestação são vistas como 
desvios e anomalias que precisam ser eliminadas. Desta forma, os 
movimentos que contestam a ordem vigente e buscam a mudança 
não encontram respaldo nesta teoria, pois ela está comprometida com 
a ordem vigente e com sua preservação. Trata-se, portanto, de um 
projeto político conservador (SELL, 2002, p. 85).
Diante destas analogias com o método biológico, é possível identificar 
o viés de pensamento estabelecido por Durkheim ao ser influenciado pelo 
Funcionalismo. Mais adiante, sua forma de pensar passa a ser chamada de 
Estrutural-funcionalismo, em distinção a outras correntes sociológicas que 
utilizam a metodologia funcionalista para interpretação da ordem social.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO
21
Até aqui você viu os principais aspectos teóricos e metodológicos do 
pensamento durkheimiano. Para fechar, sugiro um vídeo indicado no UNI 
a seguir, e no próximo tópico você irá se aprofundar no estudo da Teoria da 
Integração deste autor.
DICAS
Para finalizar este tópico, veja o vídeo Clássicos da Sociologia: Émile Durkheim, 
disponível na plataforma Youtube, uma aula produzida pela Universidade Virtual do Estado de 
São Paulo – UNIVESP, sobre Durkheim. 
Você poderá acessá-lo em: <https://www.youtube.com/watch?v=SMaxxNEqk7U>.
22
Neste tópico, você aprendeu que: 
• A teoria sociológica de Durkheim e seu método foram desenvolvidos a partir 
de influências positivistas.
• Ele buscou interpretar como a externalidade das regras impacta a vida 
individual, buscando assim respostas para esta troca indivíduo X sociedade.
• É no conceito de fato social que Durkheim materializa a exterioridade da vida 
social no indivíduo, reconhecendo a coerção da sociedade para com as ações 
individuais.
• Os fatos sociais possuem como características: exterioridade, coercitividade e 
objetividade.
• Reconhecendo que as ciências sociais deveriam buscar desenvolver um método 
similar aos métodos das ciências da natureza, Durkheim se aproximou da 
biologia para pensar uma possibilidade de método para a Sociologia.
• Os fatos sociais cumprem uma função dentro do sistema social. É preciso 
investigar não apenas as causas que os levam a serem produzidos, mas também 
a função que desempenham no sistema social.
RESUMO DO TÓPICO 1
23
1 A teoria sociológica de Durkheim é marcada pela observação das relações 
entre indivíduo e sociedade, enfatizando a prevalência da sociedade diante 
do indivíduo, manifesta em diferentes fatos sociais. Sobre as principais 
influências sofridas por Durkheim para o desenvolvimento de seu 
pensamento sociológico, analise as seguintes sentenças:
I- O Positivismo influenciou o pensamento de Durkheim quando este buscou 
um método adequado para a análise social, a fim de torná-la científica.
II- A objetividade defendida pelo Positivismo aparece nasobras de Durkheim 
quando ele afirma a determinação da sociedade no comportamento do 
indivíduo.
III- A neutralidade científica defendida pelo Positivismo não seria possível nas 
análises sociais, já que o pesquisador é também parte de seu objeto de estudos.
IV- O método adequado para a sociologia deveria ser buscado com base nos 
métodos das ciências naturais, mais precisamente a química.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a afirmativa IV está correta.
b) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
2 É no desenvolvimento da noção de fato social que Durkheim materializa a 
exterioridade da vida social no indivíduo, o condicionamento que este sofre 
em seus comportamentos, reconhecendo a coerção da sociedade para com 
as ações individuais. Sobre as características do fato social, associe os itens, 
utilizando o código a seguir:
I- Exterioridade.
II- Coercitividade.
III- Objetividade.
( ) Os fatos sociais são impostos a ele pela sociedade.
( ) As formas de agir são determinadas pela sociedade e não pelos indivíduos.
( ) As formas de agir coletivas existem independentes do indivíduo.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) I - III - II.
b) ( ) II - I - III.
c) ( ) I - II - III.
d) ( ) III - I - II.
AUTOATIVIDADE
24
25
TÓPICO 2
CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA 
INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO 
DA SOCIEDADE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Agora que você já compreendeu como funciona a lógica do pensamento 
durkheimiano, entendendo as influências positivistas e o funcionamento do 
método funcionalista, além da centralidade do conceito de fato social em suas 
análises sociais, é hora de nos debruçarmos sobre o estudo de algumas noções de 
base de seu arcabouço conceitual.
Durkheim desenvolveu importantes conceitos a partir da busca de uma 
explicação funcionalista para as dinâmicas sociais. Boa parte deste material ainda 
é utilizado na Sociologia atualmente, muitas vezes reinterpretado por autores 
contemporâneos. 
Como já frisamos, sua obra é muito vasta, portanto, neste tópico você verá 
um recorte dos principais conceitos para entender a lógica da teoria da integração 
social a partir da visão de Durkheim. Para este autor, é determinante que o 
sociólogo interprete a forma pela qual o indivíduo se integra em seus grupos 
sociais para que se possa apreender o funcionamento da ordem social.
A teoria da integração passa pela divisão do trabalho social, uma parte, 
muito famosa, do pensamento durkheimiano. Acreditamos que você já tenha lido 
ou ouvido algo em seus estudos até aqui. Portanto, é hora de conhecer detalhes e 
se aprofundar neste conjunto teórico! Para este caminhar, passaremos pela divisão 
do trabalho social através dos conceitos de: solidariedade mecânica, consciência 
coletiva, solidariedade orgânica e anomia. Boa leitura!
2 DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL
Considerado uma das primeiras grandes obras de Durkheim, o livro A divisão 
social do trabalho, escrito em 1893, pode ser tido como uma análise sobre as relações 
dos seres humanos com o trabalho, e o impacto deste na vida social dos grupos. 
Para sermos mais específicos, ele busca compreender, dentro da lógica da sociedade 
moderna, a função que é exercida pela chamada divisão social do trabalho.
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
26
Ou seja, as ditas sociedades simples, primitivas, não possuíam a 
centralidade de suas atividades no trabalho, ou, ao menos, este não era 
determinante e relacionado diretamente com a forma de suas relações sociais. 
Mas no caso das sociedades complexas, modernas, o trabalho torna-se o centro 
gerador das demais relações, é sua forma que determina e influencia como os 
integrantes de um grupo se relacionam naquele momento. 
Por conta disso, para Durkheim, era essencial compreender a dinâmica 
de funcionamento e a divisão das funções que ocorriam no mundo do trabalho, 
pois estas se espalhavam para além deste espaço, inclusive gerando processos de 
diferenciação social entre os sujeitos.
NOTA
Uma pausa na teoria para um destaque: você consegue imaginar o quanto este 
raciocínio é importante para uma obra sociológica? Durkheim fez o movimento de relacionar 
formas de diferenciação no trabalho com formas de diferenciação social, ou seja, buscando 
compreender as trocas ocorridas no microcosmo (trabalho) que modificavam as formas de 
existência do macrocosmo (sociedade). Não é à toa que esta obra é estudada até hoje, e que 
auxilia a compreender as bases da teoria sociológica durkheimiana.
Voltando... Para entendermos como ele analisa a função desta divisão 
social do trabalho, vamos precisar de dois conceitos: solidariedade orgânica e 
solidariedade mecânica. Você já deve ter ouvido falar em ambos, digamos que 
são famosíssimos conceitos cunhados por Durkheim. Não temos como estudar 
seu pensamento e obras sem passar pela noção de solidariedade.
Antes de prosseguir, reflita sobre o significado de solidariedade. Um 
deles, se formos buscar no dicionário, é: “Sentimento de amor ou compaixão 
pelos necessitados ou injustiçados, que impele o indivíduo a prestar-lhes ajuda 
moral ou material” (MICHAELIS, 2018, s.p.). Este é o significado mais comum 
que utilizamos quando falamos de solidariedade. No entanto, na sociologia, não 
estamos nos referindo a um sentimento quando falamos nesta palavra, e sim 
uma situação social na qual existe compartilhamento de ações e pensamentos por 
grupos sociais. Então lembre-se, quando falarmos de solidariedade a seguir, não é 
sobre o sentimento com relação aos desfavorecidos, e sim sobre comportamentos 
coletivos de grupos sociais, certo?
Neste sentido, podemos buscar no dicionário mencionado uma definição 
sociológica: “Estado ou situação de um grupo que resulta do compartilhamento 
de atitudes e sentimentos, tornando o grupo uma unidade mais coesa e sólida, 
com a capacidade de resistir às pressões externas” (MICHAELIS, 2018, s.p.). 
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
27
Agora sim, temos uma definição relacionada com os estudos de Durkheim, que 
pensava a solidariedade como o laço de coesão entre os grupos.
A seguir, vamos estudar individualmente a solidariedade mecânica 
e a solidariedade orgânica, e voltaremos, depois, a analisar a divisão social 
do trabalho, pois, para entendê-la, você precisa consolidar primeiro estes dois 
conceitos. Prossigamos!
2.1 SOLIDARIEDADE MECÂNICA
Para Durkheim, uma forma de laço possível entre os indivíduos, e 
que determina o nível de evolução social de um grupo e/ou sociedade, é a 
solidariedade mecânica. Sempre que você pensar em solidariedade mecânica, 
lembre-se de que ela está associada a outro conceito importante na obra dele, o 
de consciência coletiva.
IMPORTANT
E
A existência da consciência coletiva no grupo permite o predomínio da 
solidariedade mecânica como base para as relações sociais, procure fixar esta relação 
conceitual em sua mente durante seus estudos. Um conceito é interdependente do outro 
na obra de Durkheim.
A consciência coletiva é definida como: “um conjunto de crenças e 
sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, que forma 
um sistema determinado que tem vida própria” (DURKHEIM, s.d. apud SELL, 
2002, p. 72). Veja que aqui aparece a externalidade do fenômeno, a determinação 
de comportamentos compartilhados a partir de estruturas externas, marca da 
teoria sociológica durkheimiana — como vimos no tópico anterior.
A vida em comum, cujo vínculo se dá a partir da solidariedade mecânica, 
é baseada nesta externalidade do grupo com relação ao indivíduo. Pouco aparece 
o individual nas relações, a dominação que gera a coesão social é de predomínio 
do grupo.
Segundo Sell (2002), a explicação para que os indivíduos vivam em 
sociedade é justamente o compartilhamento de uma cultura comum, carregada 
de itens que, de certa maneira, obrigam o indivíduo a participardo grupo e a 
partilhar a cultura, até mesmo por uma questão de sobrevivência. “Quando 
Durkheim fazia estas análises, estava pensando em sociedades do tipo simples, 
como são as sociedades indígenas, por exemplo, em que a inserção dos indivíduos 
no grupo é fundamental para sua cultura” (SELL, 2002, p. 72).
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
28
Vamos dar uma pausa na solidariedade mecânica para aprofundar o 
conceito de consciência coletiva e, depois deste estudo detalhado, continuaremos 
com o estudo da solidariedade. Respire e retome a concentração, para compreender 
um conceito precisamos de outro!
2.1.1 Consciência Coletiva
Para que você entenda com clareza o conceito de consciência coletiva, pode 
começar pensando no significado literal das palavras que compõem a expressão. 
A consciência é algo de que se está consciente, algo que ativamos racionalmente 
para responder com ações aos estímulos da nossa vida. E o coletivo é aquilo que é 
compartilhado, reconhecido pelo grupo como de propriedade de seus integrantes. 
Portanto, a consciência coletiva são respostas racionais do grupo aos estímulos, e 
respostas compartilhadas — repetidas e reforçadas por todo o grupo.
Segundo o autor, possuímos duas consciências: “Uma é comum com 
todo o nosso grupo e, por conseguinte, não representa a nós mesmos, 
mas a sociedade agindo e vivendo em nós. A outra, ao contrário, só 
nos representa no que temos de pessoal e distinto, nisso é que faz de 
nós um indivíduo.” Em outras palavras, existem em nós dois seres: 
um, individual, “constituído de todos os estados mentais que não 
se relacionam senão conosco mesmo e com os acontecimentos de 
nossa vida pessoal”, e outro que revela em nós a mais alta realidade, 
“um sistema de ideias, sentimentos e de hábitos que exprimem em 
nós [...] o grupo ou os grupos diferentes de que fazemos parte; tais 
são as crenças religiosas, as crenças e as práticas morais, as tradições 
nacionais ou profissionais, as opiniões coletivas de toda espécie 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 70).
Conforme o indivíduo se envolve com sua vida social, cada vez mais 
deixa sua individualidade ao largo para se comportar de acordo com os 
preceitos defendidos pelo grupo. A educação, neste contexto, possui obrigações 
de integração, moralizadoras, na medida em que irá instituir no indivíduo as 
diretrizes morais do grupo, e, por meio desta ação, desenvolver a consciência 
grupal no sujeito egoísta.
O conjunto de crenças e sentimentos compartilhados pelo grupo a 
partir da consciência coletiva produz ideias, imagens, representações, que são 
manifestadas de formas diferentes pelos sujeitos, mas cuja realidade própria 
sempre está presente. A dimensão que será ocupada na consciência total das 
pessoas é variada, de acordo com os dispositivos mobilizados pelo grupo para 
que esta consciência se manifeste.
A coesão entre o grupo é determinada pela extensão da consciência 
coletiva: quanto mais extensa a consciência, maior é a coesão. Vejamos:
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
29
A consciência comum recobre “áreas” de distintas dimensões na 
consciência total das pessoas, o que depende de que seja ou segmentar 
ou organizado o tipo de sociedade na qual aquelas se inserem. 
Quanto mais extensa é a consciência coletiva, mais a coesão entre os 
participantes da sociedade examinada refere-se a uma “conformidade 
de todas as consciências particulares a um tipo comum”, o que faz 
com que todas se assemelhem e, por isso, os membros do grupo 
sintam-se atraídos pelas similitudes uns com os outros, ao mesmo 
tempo que a sua individualidade é menor (BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002, p. 71).
Durkheim também reconhece que, mesmo com um elevado grau de coesão, 
e uma consciência coletiva consolidada, é possível que haja ações de rebelião por 
parte dos sujeitos. Nem todos possuem a moral do grupo tão inculcada pelo 
coletivo a ponto de sempre optarem pelas ações coletivas em detrimento das 
individuais.
Isto quer dizer, o teórico reconhece que uma uniformidade total não é 
possível, que existem as faltas morais ou mesmo os crimes — divergências entre 
o indivíduo e as estruturas determinadas pelo coletivo. Quando a originalidade 
individual se impõe com relação ao coletivo é como se esta pessoa estivesse 
realizando um delito, deixando de seguir a moral coletiva, sendo tomada como 
alguém que comete erros.
É aí que entra a ausência ou fraqueza da divisão do trabalho. Quando 
a consciência individual é tão reduzida e fraca (afinal, só conhecemos parte do 
todo, só compreendemos como funciona a nossa parte nesta divisão de trabalhos), 
facilmente, a consciência total domina as decisões racionais sobre a vida individual. 
Afinal, se não conhecemos o todo, é mais fácil nos guiarmos pelo comportamento 
que todos estão tendo, do que nos rebelarmos e tomarmos decisões diferentes — 
já que não temos referência do que pode ser um comportamento diferente.
Barbosa, Oliveira e Quintaneiro destacam um trecho da obra de Durkheim 
para ilustrar:
Quanto mais o meio social se amplia, menos o desenvolvimento 
das divergências privadas é contido. Mas, entre as divergências, 
existem aquelas que são específicas de cada indivíduo, de cada 
membro da família, elas mesmas tornam-se sempre mais numerosas 
e mais importantes à medida que o campo das relações sociais se 
torna mais vasto. Ali, então, onde elas encontram uma resistência 
débil, é inevitável que elas provenham de fora, se acentuem, se 
consolidem, e como elas são o âmago da personalidade individual, 
esta vai necessariamente se desenvolver. Cada qual, com o passar 
do tempo, assume mais sua fisionomia própria, sua maneira pessoal 
de sentir e pensar (DURKHEIM, 1921 apud BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002, p. 71). 
A individualidade gera uma interdependência entre os indivíduos, 
na medida em que para sobreviver no organismo o individual precisa existir, 
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
30
também precisa se moldar ao coletivo, gerando uma interdependência entre as 
partes. Isso fortalece ainda mais a coesão social.
No entanto, mesmo com esta interdependência, as sociedades, cujo laço 
social desenvolve-se com base na consciência coletiva do indivíduo, vão sendo 
gradativamente moldadas à imagem e semelhança do grupo. Exemplo:
São sociedades que podem ser chamadas de clãs, segmentos que 
executam funções semelhantes e processos similares na vida social, 
todos caçadores, ou todos agricultores, e papéis sociais são cumpridos 
de forma semelhante. O cimento que une esses organismos individuais 
a esse corpo coletivo, como as células em um tecido, é a solidariedade 
mecânica, por repetição (VERAS, 2014, p. 20).
A consciência coletiva gera um tipo psíquico nos indivíduos, eles passam, 
e ela permanece. As agressões, as rebeliões contra isso são consideradas crimes, já 
que ferem, de alguma maneira, aquilo que é coletivo e reconhecido como legítimo 
por todos.
Você percebeu como utilizamos, com certa frequência, a analogia do organismo 
quando estamos tratando das teorias e obras de Durkheim? Isto é fruto da forma como ele 
pensou a sociedade, baseada no organicismo, que vimos no tópico anterior. Se você ficou 
com dúvidas sobre este tema, releia o conteúdo sobre o organicismo em Durkheim, pois ele 
é essencial para que você compreenda a forma de pensar deste autor.
ATENCAO
Vamos conhecer um pouco mais sobre a consciência coletiva nas palavras 
do próprio autor, Durkheim:
O conjunto de crenças e de sentimentos comuns à média dos 
membros de uma mesma sociedade forma um sistema determinado 
que tem vida própria: pode-se chamá-lo de consciência coletiva ou 
comum. Sem dúvida, ela não tem por substrato um único órgão; 
ela é, por definição, difusa em toda a extensão da sociedade; mas 
possui caracteres específicos que a tornam uma realidade distinta. 
Com efeito, ela independe das condições particulares em que se 
encontram os indivíduos; estes passam e ela permanece.É a mesma 
no Norte e no Sul, nas grandes e nas pequenas cidades, nas mais 
diferentes profissões. Da mesma forma, não muda a cada geração, 
mas ao contrário, enlaça umas às outras as gerações sucessivas. 
Ela é, portanto, algo inteiramente diferente das consciências 
particulares, ainda que não se realize senão nos indivíduos. Ela forma 
o tipo psíquico da sociedade, tipo que tem suas propriedades, suas 
condições de existência, seu modo de desenvolvimento, tal como os 
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
31
tipos individuais, ainda que de uma outra maneira. Assim sendo, 
tem o direito de ser designada por um termo especial. Aquele que 
empregamos acima não está isento por certo de ambiguidades. Como 
os termos coletivo e social são muitas vezes confundidos um com o 
outro, é-se levado a crer que a consciência coletiva é toda a consciência 
social, ou seja, estende-se tanto quanto a vida psíquica da sociedade, 
enquanto, sobretudo nas sociedades superiores, só ocupa uma parte 
muito restrita. As funções judiciárias, governamentais, científicas, 
industriais, em uma palavra, todas as funções especiais são de ordem 
psíquica, posto que constituem sistemas de representação e de ações: 
entretanto estão evidentemente fora da consciência comum. Para 
evitar a confusão que se tem cometido, talvez fosse melhor criar 
uma expressão técnica que designasse especialmente o conjunto de 
similitudes sociais. Não obstante, como o emprego de um termo novo, 
quando não é absolutamente necessário, tem seus inconvenientes, 
reservamos a expressão mais usada de consciência coletiva ou comum, 
mas relembrando sempre o sentido restrito em que a empregamos.
Podemos, pois, resumindo a análise precedente, dizer que um ato é 
criminoso quando ofende as condições consolidadas e definidas da 
consciência coletiva.
[...]
Existem em nós duas consciências: uma contém os estados que são 
pessoais a cada um de nós e que nos caracterizam, enquanto os estados 
que abrangem a outra são comuns a toda a sociedade. A primeira só 
representa nossa personalidade individual e a constitui; a segunda 
representa o tipo coletivo e, por conseguinte, a sociedade sem a qual 
não existiria. Quando um dos elementos desta última é que determina 
nossa conduta, não é em vista do interesse pessoal que agimos, mas 
perseguimos fins coletivos. Ora, ainda que distintas, essas duas 
consciências são ligadas uma à outra, pois que, em suma, elas formam 
uma só, não havendo para ambas mais que um só e único substrato 
orgânico. (DURKHEIM, s.d. apud MUSSE, 2007, p. 66–69).
Após o estudo detalhado sobre a consciência coletiva, voltemos à 
solidariedade mecânica. Você já sabe que ela é produzida a partir da existência 
desta consciência de grupo, que se sobrepõe ao indivíduo em suas escolhas e ações.
A solidariedade é chamada mecânica quando “liga diretamente o 
indivíduo à sociedade, sem nenhum intermediário”, constituindo-se 
de “um conjunto mais ou menos organizado de crenças e sentimentos 
comuns a todos os membros do grupo: é o chamado tipo coletivo”. 
Isso significa que não encontramos ali aquelas características que 
diferenciam tão nitidamente uns dos outros os membros de uma 
sociedade, a ponto de podermos chamá-los de indivíduos (BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 72). 
Nos grupos em que a solidariedade mecânica predomina, os indivíduos são 
pouco desiguais entre si, o que dificulta a consolidação de uma individualidade. 
A solidariedade acontece, portanto, em função das similitudes compartilhadas, 
do coletivo que predomina a partir da identificação com os pares. Nestes grupos, 
mesmo a propriedade de bens muitas vezes não é individual, apenas coletiva, 
e não existem mestres ou dominadores que guiem o grupo — as decisões e 
orientações também são compartilhadas a partir do conjunto de ideias comum.
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
32
A parcela de responsabilidade que a solidariedade mecânica tem na 
integração social depende da extensão da vida social que ela abrange 
e que é regulamentada pela consciência comum. O estabelecimento de 
um poder absoluto - ou seja, a existência de um chefe situado “muito 
acima do resto dos homens”, que encarna a extraordinária autoridade 
emanada da consciência comum -, embora já seja uma primeira 
divisão do trabalho no seio das sociedades primitivas, não muda 
ainda a natureza de sua solidariedade, porque o chefe não faz mais do 
que unir os membros à imagem do grupo que ele próprio representa. 
Esse tipo de sociedade, na qual a coesão resulta “exclusivamente das 
semelhanças, compõe-se de uma massa absolutamente homogênea, 
cujas partes não se distinguiriam umas das outras”, é um agregado 
informe: a horda, um tipo de sociedade simples ou não organizada 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 73). 
As hordas, que as autoras mencionam na citação em conjunto, formam 
os clãs. São sociedades baseadas nos laços de solidariedade mecânica, onde os 
agregados homogêneos predominam. 
A dissolução das sociedades segmentares é concomitante à formação 
de sociedades parciais no seio da sociedade global. Nesse processo, 
dá-se uma aproximação entre os membros que a formam, “a vida 
social generaliza-se em lugar de concentrar-se numa quantidade 
de pequenos lares distintos e semelhantes”, reduzem-se os “vácuos 
morais” que separavam as pessoas e, com isso, as relações sociais 
tornam-se mais numerosas e se estendem. Esse é o resultado de um 
aumento da densidade moral e dinâmica. Com a intensificação das 
relações sociais, os participantes dessas sociedades passam a estar 
em contato suficiente entre si, e desse modo reagem aos demais 
desde o ponto de vista moral, e “não apenas trocam serviços ou 
fazem concorrência uns aos outros, mas vivem uma vida comum” 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 73). 
As sociedades segmentadas que Durkheim analisa são as tradicionais, 
formadas por segmentos homogêneos e similares, sem relações entre si. “Uma 
sociedade segmentada é aquela onde os grupos sociais (como aldeias, por 
exemplo) vivem isolados, com um sistema social que tem vida própria” (SELL, 
2002, p. 73).
Neste caso o crescimento do grupo não diferencia funções, apenas cria 
grupos com a mesma dinâmica anterior, um novo segmento, mas com as mesmas 
características. Os povos indígenas, quando avançam de território, por exemplo, 
formam novas aldeias, mas não complexificam seu sistema social. Para ilustrar, 
veja Figura 5:
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
33
FIGURA 5 – SOCIEDADE COM PREDOMÍNIO DA SOLIDARIEDADE MECÂNICA
FONTE: <http://www.eletronorte.gov.br/opencms/opencms/pilares/meioAmbiente/
programasIndigenas/waimiri/subprogramaApoioProducao.html>. Acesso em: 10 set. 2018.
Agora, conforme a densidade material e humana dos grupos cresce, 
havendo a multiplicação das relações sociais que cobrem os vazios sociais entre 
os segmentos do grupo e surgindo a necessidade da divisão social do trabalho, 
fomenta-se o surgimento de outro tipo de solidariedade, outra forma de laço 
social: a solidariedade orgânica. 
Mas antes de estudar o próximo conceito, queremos apresentar como 
Durkheim visualizou a solidariedade mecânica do ponto de vista da análise 
sociológica: analisando os aspectos jurídicos, ou seja, o direito.
Para ele, as normas jurídicas são um dos meios pelos quais a sociedade 
materializa suas convicções morais, um dos elementos da consciência coletiva 
(SELL, 2002). A organização das normas jurídicas materializa a forma de direito 
que existe na sociedade, predominando o direito repressivo, no caso da existência 
de solidariedade mecânica, e o direito restitutivo, no caso da solidariedade 
orgânica. O primeiro é baseado em punição, e o segundo, em restabelecer a 
ordem das coisas.
A partir disso, Durkheim analisa a existência e a pressão da consciência 
coletiva sobre as pessoas, já que no predomínio da solidariedade mecânica, os atos 
criminosos devem ser punidos, poisrepresentam um perigo para a coesão social 
(SELL, 2002). As transgressões não são permitidas e a punição existe para mostrar 
aos demais os custos do distanciamento da moral coletiva. Este direito repressivo, 
portanto, denota a existência da forte consciência coletiva na sociedade.
Agora sim, após esta visualização da análise sociológica da existência 
da consciência coletiva, pela forma do direito, presente no grupo, podemos 
prosseguir e estudar como se dá a evolução para uma nova forma de laço social: 
a solidariedade orgânica.
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
34
2.2 SOLIDARIEDADE ORGÂNICA
Como vimos há pouco, é com o crescimento quantitativo, material e 
moral que as sociedades iniciam um processo de especialização das funções, ou 
como chama Durkheim: divisão social do trabalho. Esta nova densidade gera a 
necessidade de novas formas de laço social, ou seja, uma integração social na 
qual os indivíduos passam a depender uns dos outros, já que suas funções são 
especializadas.
Esta dependência mútua é gerada porque a individualidade pressupõe 
especialização quando se fala de divisão social do trabalho, por exemplo, se um 
indivíduo é especialista apenas em uma dimensão, precisaria dos outros para a 
própria sobrevivência, já que cada um é especializado em dimensões diferentes. 
Para funcionarmos, precisamos de todos.
Ainda sobre esta dependência:
Onde existe uma divisão do trabalho desenvolvida, a sociedade não 
tem como regulamentar todas as funções que engendra e, portanto, 
deixa descoberta uma parcela da consciência individual: a esfera de 
ação própria de cada um dos membros. À medida que a comunidade 
ocupa um lugar menor, abre-se espaço para o desenvolvimento das 
dessemelhanças, da individualidade, da personalidade autônoma 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 71).
Podemos visualizar a solidariedade orgânica na sociedade moderna, 
na medida em que esta dependência fica evidente, afinal, cada indivíduo 
exerce funções vitais, bem específicas, para o funcionamento do organismo — 
dependendo umas das outras para que sejam executadas com sucesso.
Exemplo: um funcionário de uma fábrica de roupas só irá produzir 
se receber seus tecidos, que por sua vez precisam ser transformados por 
funcionários que os desenvolvem a partir do algodão, e que por sua vez precisa ser 
transportado até à fábrica. Este transporte também exige pessoas envolvidas, que 
receberão o algodão de produtores rurais, responsáveis pelo plantio e colheita. 
Todos interdependentes entre si, se uma função falha, o organismo todo sofrerá 
consequências.
Mas não é apenas ao setor econômico que Durkheim se refere quando 
fala de especialização das funções e de divisão social do trabalho. Ele visualiza 
este fenômeno em outras dimensões sociais, como na vida política, na cultura, 
educação, arte etc. Para além das funções econômicas, todas estas outras 
esferas vão se especializando cada vez mais e gerando uma dinâmica própria 
de funcionamento, se diferenciando a partir da diversidade de suas atividades 
(SELL, 2002).
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
35
IMPORTANT
E
Observe: não é porque a forma de laço social modifica-se a partir da especialização 
das funções que não existe mais solidariedade. Segundo as análises de Durkheim, ela apenas 
se modifica e gera uma nova forma de solidariedade, a orgânica. É diferente, mas segue 
sendo uma forma de integração social.
Esta nova forma de integração institui-se justamente porque, diferente da 
solidariedade mecânica em que a consciência coletiva predomina, a solidariedade 
orgânica é gerada a partir do espaço para as esferas próprias de ação. Com esta esfera 
específica, gera-se a interdependência mútua mencionada no início desta seção.
A originalidade da explicação durkheimiana está em demonstrar que, 
longe de ser um entrave, este processo representa um novo mecanismo 
de integração social. É a própria especialização das funções e das 
pessoas que gera a solidariedade social, já que os indivíduos passam a 
ser interdependentes das atividades desenvolvidas em outros setores 
da vida social (SELL, 2002, p. 75).
A divisão social do trabalho integra o grupo, organiza a sociedade, que 
necessita disso para sua coesão, em função do seu nível de complexidade. Quanto 
mais complexa, maior a divisão e especialização de tarefas para que esta coesão 
seja mantida, e a solidariedade gerada entre os membros.
E, novamente, vemos aqui a analogia de Durkheim com os órgãos, seu 
vínculo com as perspectivas organicistas, quando ele afirma que é nesta situação 
onde podemos visualizar que cada órgão tem um papel separado, especializado, 
uma função definida no organismo. A unidade do corpo social funciona a partir 
do desempenho de funções individuais.
As afinidades das pessoas, e de suas funções, as aproximam, e segundo 
ele, as sociedades evoluirão para um momento em que as organizações sociais e 
políticas terão como bases as diferenciações profissionais. Esta interdependência, 
portanto, geraria noções coletivas, comportamentos compartilhados. Em outras 
palavras:
Daí deriva a ideia de que a individuação é um processo intimamente 
ligado ao desenvolvimento da divisão do trabalho social e a uma 
classe de consciência que gradativamente ocupa o lugar da consciência 
comum e que só ocorre quando os membros das sociedades se 
diferenciam. E é esse mesmo processo que os torna interdependentes. 
Segundo Durkheim, somente existem indivíduos no sentido moderno 
da expressão quando se vive numa sociedade altamente diferenciada, 
ou seja, onde a divisão do trabalho está presente, e na qual a consciência 
coletiva ocupa um espaço já muito reduzido em face da consciência 
individual (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 74).
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
36
É importante que você observe, nas suas leituras de Durkheim, que a 
divisão social do trabalho não exerce apenas funções econômicas, mas antes de 
tudo, função moral. Se na solidariedade mecânica a consciência coletiva mantinha 
o conjunto moral a salvo de transgressões e impunha ao indivíduo este conjunto 
de princípios, na solidariedade orgânica esta consciência se enfraquece. 
Este enfraquecimento gera duas consequências (SELL, 2002):
• Uma maior autonomia dos indivíduos, pois não dependem somente da 
consciência coletiva, podem ter ideias diferenciadas ou agirem de formas 
diferentes, distinguindo-se do corpo social a partir do espaço ocupado por sua 
individualidade, buscando aumentar suas ações em relação ao mundo social.
• O enfraquecimento da consciência coletiva pode gerar um excesso de egoísmo, 
colocando os indivíduos em choque e comprometendo o bom funcionamento 
do organismo social. Neste caso teríamos a divisão anômica do trabalho, um 
problema da sociedade moderna, e que iremos estudar na próxima seção.
FIGURA 6 – SOCIEDADE COM PREDOMÍNIO DA SOLIDARIEDADE ORGÂNICA
FONTE: <https://sites.google.com/site/alltoclock/home/portugues/importancia-na-sociedade>. 
Acesso em: 10 set. 2018.
Para fechar, voltamos ao estudo das palavras do autor:
Inteiramente diferente é a estrutura das sociedades em que a 
solidariedade orgânica é preponderante.
Elas são constituídas não por uma repetição de segmentos similares e 
homogêneos, mas sim por um sistema de órgãos diferentes, cada um 
dos quais com um papel especial e formado de partes diferenciadas. 
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
37
Os elementos sociais não são da mesma natureza, ao mesmo tempo 
que não se acham dispostos da mesma maneira. Eles não se acham 
justapostos linearmente como os elos de uma cadeia, nem encaixados 
uns nos outros, mas sim coordenados e subordinados uns aos outros, 
em torno de um mesmo órgão central que exerce uma ação moderadora 
sobre o resto do organismo. Este órgão, por sua vez, não tem o mesmo 
caráter que no caso precedente; porque se os outros dependem dele, 
ele, por sua vez, depende dos outros.Há sem dúvida uma situação 
particular e, se quisermos, privilegiada, mas ela decorre da natureza 
do papel que desempenha e não de qualquer coisa estranha às suas 
funções e de qualquer força transmitida do exterior. Nada mais tem 
que não seja temporal e humano; entre ele e os outros órgãos só há 
diferença de grau. Assim é que, entre os animais, a preeminência do 
sistema nervoso sobre os outros sistemas se reduz ao direito, se é 
que se pode falar assim, de receber uma alimentação mais escolhida 
e pegar sua parte antes dos demais; mas ele precisa dos outros, da 
mesma forma que os outros precisam dele.
Esse tipo social se assenta em princípios tão diversos do precedente 
que só se pode desenvolver na medida em que este desapareça. Com 
efeito, os indivíduos estão agrupados não mais segundo suas relações 
de descendência, mas segundo a natureza particular da atividade 
social a que se consagram. O meio natural e necessário não é mais o 
meio natal, mas o meio profissional. Não é mais a consanguinidade, 
real ou fictícia, que marca o lugar de cada indivíduo, mas a função que 
ele desempenha. Sem dúvida, quando essa nova organização começa 
a aparecer, tenta utilizar e se assimilar à já existente. A maneira em que 
as funções se dividem, se modela, pois, tão fielmente quanto possível, 
sob o modo pelo qual a sociedade já está dividida. Os segmentos ou 
pelo menos os grupos de segmentos unidos por afinidades especiais 
tornam-se órgãos. Assim é que o clã, cujo conjunto forma a tribo dos 
levitas, se apropria, entre os hebreus, das funções sacerdotais. De 
maneira geral, as classes e as castas não têm provavelmente outra 
origem nem outra natureza: elas resultam da mistura da organização 
profissional nascente com a organização familiar preexistente. Mas 
este arranjo misto não pode durar muito tempo, pois entre os dois 
termos que ele pretende conciliar existe um antagonismo que acaba 
necessariamente por explodir. Não há qualquer divisão do trabalho, 
por mais rudimentar que seja, que se possa adaptar a esses moldes 
rígidos, definidos, e que não são feitos para ela. Ela só pode crescer ao 
se libertar desse quadro que a encerra. Desde que atinja um certo grau 
de desenvolvimento, desaparece a relação entre o número invariável 
de segmentos e aquelas crescentes funções que se especializam, bem 
como entre as propriedades hereditariamente fixadas dos primeiros e 
a novas aptidões que as segundas exigem. É preciso pois que a matéria 
social entre em combinações inteiramente novas para se organizar 
sobre outras bases. Ora, a antiga estrutura, enquanto persiste, opõe-se 
a isso; eis porque ela deve necessariamente desaparecer (DURKHEIM, 
s.p. apud MUSSE, 2007, p. 55–57).
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
38
DICAS
Para estudar os conceitos principais da obra de Durkheim, 
mais especificamente, fato social e divisão do trabalho, 
sugerimos o livro comentado pelo professor Ricardo 
Musse, vinculado ao Departamento de Sociologia da 
Universidade de São Paulo. A obra é: Émile Durkhein: 
Fato social e divisão do trabalho, comentado por 
Ricardo Musse. Publicado pela Editora Ática em 2007, na 
coleção Ensaios Comentados.
FONTE:<http://lelivros.love/book/baixar-livro-fato-
social-e-divisao-do-trabalho-emile-durkheim-em-pdf-
epub-mobi-ou-ler-online/>. Acesso em: 16 jan. 2019.
Voltando à Divisão do Trabalho Social...
Agora que você já conhece as definições de Durkheim para solidariedade 
mecânica e orgânica, pode perceber que ele observa um processo evolutivo 
que envolve ambas. A sociedade, portanto, evoluiria de relações pautadas na 
solidariedade mecânica, para relações pautadas na solidariedade orgânica. O 
estágio evolutivo final, portanto, estaria ocorrendo quando os laços sociais se 
pautassem na divisão social do trabalho.
O autor Sell apresenta um esquema para auxiliar na interpretação destes 
dois tipos de sociedade:
QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS TIPOS DE SOLIDARIEDADE
Solidariedade Mecânica Solidariedade Orgânica
Laço de solidariedade Consciência coletiva Divisão social do trabalho
Organização Social Sociedades segmentadas Sociedades diferenciadas
Tipo de direito Direito repressivo Direito restitutivo
Fonte: Sell (2002, p. 71)
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
39
Perceba que o desenvolvimento do tipo de solidariedade que irá 
predominar na evolução de um grupo social, para Durkheim, está relacionado 
com o laço de solidariedade, que pode ser entendido como o mecanismo que 
gera esta solidariedade: a consciência coletiva ou a divisão social do trabalho 
(SELL, 2002). Ambas são tão importantes porque são estratégias de integração 
dos indivíduos nos grupos sociais e nas instituições sociais.
Chegamos, portanto, ao título deste tópico: a Teoria da Integração. 
Explicar a integração social a partir da obra e raciocínio de Durkheim é utilizar 
como base a Divisão Social do Trabalho, e sua respectiva relação com as formas 
de solidariedade dos grupos.
O predomínio de formas de integração mecânicas ou orgânicas está 
diretamente relacionado à organização dos indivíduos nestes grupos, e ao 
posicionamento na evolução social identificado por Durkheim. Para ele, a 
modernidade é explicada a partir desta polarização, inclusive (SELL, 2002).
Agora, para consolidar a importância que a Divisão Social do Trabalho 
possui na obra de Durkheim, vamos conhecer um texto do próprio autor, para 
que além da interpretação realizada por outros autores, você possa refletir a 
partir de suas próprias palavras. O texto a seguir é a tradução de um trecho no 
qual Durkheim busca pensar acerca do papel da divisão do trabalho, a fim de 
compreender se a solidariedade social realmente deriva dela.
Não temos apenas que verificar se, em certos tipos de sociedade existe 
uma solidariedade social que decorra da divisão do trabalho. Esta é 
uma verdade evidente, visto que, se a divisão do trabalho é muito 
desenvolvida, ela produz a solidariedade. Mas é preciso sobretudo 
determinar em que medida a solidariedade por ela produzida 
contribuiu para a integração geral da sociedade: somente então 
saberemos até que ponto ela é necessária, se é um fator essencial da 
coesão social ou, ao contrário, se não passa de uma condição acessória 
e secundária. Para responder a essa questão é preciso, pois, comparar 
essa relação social com outras a fim de medir a parte que lhe cabe no 
cômputo total – e para isso é indispensável começar por classificar os 
diferentes tipos de solidariedade social.
Mas a solidariedade social é um fenômeno sobretudo moral que, 
por si mesmo, não se presta à observação exata e principalmente a 
uma medição. Para proceder tanto a essa classificação como a essa 
comparação, é preciso substituir ao fato interno que nos escapa, o fato 
exterior que o simboliza, e estudar o primeiro através do segundo.
Esse símbolo visível é o direito. Com efeito, onde existe solidariedade 
social, apesar do seu caráter imaterial, ela não permanece no seu 
estado puro, mas manifesta sua presença pelos seus efeitos sensíveis. 
Quando ela é forte, aproxima os homens uns dos outros, coloca-
os frequentemente em contato, multiplica as oportunidades de seu 
relacionamento. Para ser mais exato, no ponto a que chegamos, é 
errôneo dizer que ela é produto desses fenômenos, ou, ao contrário, 
que ela é forte, ou antes, se ela é forte porque eles estão próximos uns 
dos outros. Mas não é necessário no momento elucidar a questão. 
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
40
Basta constatar que essas duas ordens de fatos estão ligadas e variam 
ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Quanto mais solidários sejam 
os membros de uma sociedade, mais eles mantêm relações diversas, 
seja se os seus contatos fossem raros, eles não dependeriam uns dos 
outros, senão de maneira frágil e intermitente. Por outro lado, o 
número dessas relações é necessariamente proporcional àquele das 
regras jurídicas que o determina. Com efeito, a vida social, sempre 
que exista de maneiradurável, tende inevitavelmente a assumir uma 
forma definida e a se organizar. E o direito não é outra coisa senão 
essa própria organização, naquilo que ela tem de mais estável e mais 
preciso. A vida geral da sociedade não pode se desenvolver num certo 
ponto sem que a vida jurídica se desenvolva ao mesmo tempo e no 
mesmo sentido. Podemos, portanto, estar seguros de ver refletidas no 
direito todas as variedades essenciais da solidariedade social.
Poder-se-ia, é certo, objetar que as relações sociais podem se estabelecer 
sem assumir por isso uma forma jurídica. É que a regulamentação não 
atinge esse grau de consolidação e de precisão: elas não permanecer 
indeterminadas por esse motivo, mas, ao invés de serem reguladas 
pelo direito, o são pelos costumes. O direito só reflete uma parte 
da vida social e, consequentemente, não nos fornece senão dados 
incompletos para resolver o problema.
[...]
Será que poderíamos ir mais longe e sustentar que a solidariedade 
social não se encontra inteiramente nas suas manifestações sensíveis; 
que estas não a exprimem mesmo que parcial e imperfeitamente; 
que, por trás do direito e dos costumes existe um estado interno de 
onde ela se deriva e que, para conhecê-la verdadeiramente é preciso 
penetrá-la diretamente e sem intermediários? – Mas não podemos 
conhecer cientificamente as causas senão pelos efeitos que produzem 
e, para melhor determinar-lhe a natureza, a ciência nada mais faz que 
escolher entre esses resultados e aqueles que sejam os mais objetivos e 
que se prestam melhor para medi-la.
[...]
O estudo da solidariedade pertence pois à Sociologia. É um fato social 
que só se pode conhecer por meio de seus efeitos sociais. Se tantos 
moralistas e psicólogos puderam tratar a questão sem seguir esse 
método é porque eles contornaram a dificuldade. Eles eliminaram 
do fenômeno tudo que ele tem de mais especificamente social, para 
reter apenas o germe psicológico de que ele é o desenvolvimento. 
É certo, com efeito, que a solidariedade, sendo um fato social de 
primeira categoria, depende do nosso organismo individual. Para que 
ela possa existir, é preciso que a nossa constituição física e psíquica 
a comporte. Pode-se, pois, a rigor, contentar-se em estudá-la apenas 
sob este aspecto. Mas, nesse caso, só se vê a parte mais indistinta e 
menos especial; não é dela que se deve tratar, mas antes, do que a 
torna possível (DURKHEIM; MUSSE, 2007, p. 66–69).
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
41
DICAS
Em seus estudos sobre Teoria Sociológica, é essencial que você 
procure ler as obras originais dos autores em estudo, e não apenas 
interpretações realizadas por outros autores. Para os conceitos de 
divisão do trabalho, solidariedade, entre outros, procure a obra: 
Da Divisão do Trabalho Social, de Émile Durkheim, publicada pela 
Editora Martins Fontes, em diferentes edições/anos.
FONTE:<https://cienciassociais2016.wordpress.com/2016/09/22/
resenha-critica-divisao-social-do-trabalho-emile-durkheim-
conclusao/>. Acesso em: 16 jan. 2019.
Pelo texto é possível perceber a relação que Durkheim estabelece entre 
as formas de solidariedade e o direito vivenciado pelas organizações sociais, 
conforme indicado na tabela de Sell (2002), anteriormente apresentada (Quadro 
2). Sendo assim, evoluem juntos: tipo de solidariedade, organização social e 
forma de direito. 
O direito foi fundamental para as análises do autor, conforme explica 
Veras:
O exame partiu de dados que considerou observáveis, externos 
e passíveis de constatações e interpretações: o crime que cada 
sociedade considera, as penas aplicadas e, em última análise, o direito 
que ostenta. O direito foi tido como manifestação da consciência 
coletiva, o substrato comum, a alma difusa de cada sociedade. O fato 
jurídico e, pois, um fato social, é regra de conduta sancionada e é 
observável como exterior, sendo percebida como expressando todas 
as variedades da solidariedade social. Assim, poder-se-iam estudar 
as causas (solidariedade) pelos efeitos que provocam (direito) 
(VERAS, 2014, p. 15).
Esta evolução mencionada por Durkheim, caracterizada pelo avanço 
na diferenciação social, segue sempre no sentido da maior divisão do trabalho. 
Quanto maior essa diferenciação de funções, portanto, maior o crescimento da 
sociedade. A especialização no mundo do trabalho provoca o desenvolvimento 
da solidariedade orgânica como forma de integração entre os indivíduos.
Esta integração é essencial para compreender a relação do indivíduo com 
a sociedade em que vive, e a dinâmica social, pois ela promove um propósito de 
vida, um suporte social que o grupo garante ao sujeito. Em outras palavras, na 
interpretação de Ramos (2002, p. 158):
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
42
Os efeitos estruturais no bem-estar psicológico das pessoas estão 
implícitos na Teoria da Integração Social de Durkheim [1897] (1951). 
Estritamente falando, a integração social, para Durkheim, promove um 
sentido de significado e propósito para a vida. Isto é, de acordo com 
Thoits (1982), a integração social leva ao suporte social, protegendo 
a pessoa contra problemas que podem levar a comportamentos 
desviantes. Alguns autores (Su e Ferraro, 1997; House, Landis e 
Umberson, 1988) medem o conceito de integração social de Durkheim 
como a frequência e a intensidade dos contatos sociais. Neste sentido, 
a integração social acontece através de um comprometimento 
que as pessoas têm com a ordem social e exerce controle sobre o 
comportamento dos indivíduos. Esses contatos também reforçam 
um sentimento de pertencimento perante a sociedade, que afeta 
positivamente a saúde dos indivíduos. A integração social (frequência 
de contatos) pode ter efeitos negativos na saúde, mas isso tem de 
ser medido pela qualidade dos contatos. Em geral, a perspectiva da 
integração social assume que a frequência dos contatos promove bem-
estar (Durkheim, 1897).
O tipo de sociedade, portanto, é passível de análise a partir da integração 
existente entre os indivíduos, na medida em que é possível identificar esta pela 
divisão do trabalho social. Quanto maior esta divisão, mais especializada, é menor 
a coesão social. E esta aumenta quando a divisão social do trabalho é menor. A 
coesão social pode ser um indicativo para a compreensão de como os fatos sociais 
se impõem a um grupo, se menos ou mais coercitivos.
Para seguir com esta reflexão, vamos passar para o próximo conceito 
das teorias durkheimianas, diretamente relacionado com o que vimos até aqui: 
o conceito de anomia — ausência dos estados de solidariedade e integração, 
no grupo, provoca uma situação de redução de regras morais. Após esta breve 
definição de anomia. Prossiga!
3 ANOMIA
Um dos possíveis efeitos da complexificação social, e consequente divisão 
social do trabalho, é a passagem da integração realizada pela solidariedade 
mecânica para a solidariedade orgânica, certo? Isto você já deve ter fixado. Esta 
passagem pode gerar um problema, chamado por Durkheim de individualismo 
exacerbado, ou então, excesso de egoísmo.
Dado que a integração orgânica se dá pelos vínculos frágeis estabelecidos 
pela especialização das funções, e pela perda da noção do todo, a força da 
consciência coletiva é minimizada e o egoísmo de cada pessoa é ampliado. Esta 
seria uma das contradições do mundo moderno para Durkheim: “Se, de um 
lado, existe maior autonomia para o indivíduo, por outro, existe o risco de que o 
excesso de liberdade leve à desagregação social” (SELL, 2002, p. 86).
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
43
As acirradas lutas sociais, frequentes à época de Durkheim, eram vistas 
por ele como efeito deste excesso de egoísmo, especialmente as lutas de classes. 
Assim, ele também buscou analisar o socialismo, que para ele era um indicador de 
algo errado nas relações sociais, já que se contestava a raiz dos problemas sociais. 
Mas para ele a questão não era econômica, como destacavamos socialistas, e sim 
de ordem moral.
Ele apresenta, nas obras que tratam sobre a divisão social do trabalho, a 
existência da anomia, ou ausência de normas, que ocorria a partir do declínio da 
consciência coletiva. Se na integração via solidariedade mecânica a consciência 
coletiva fazia o papel de integradora, na integração pela solidariedade orgânica 
não havia quem fizesse este papel. Isto gerava a ausência de um conjunto de 
orientações morais que guiassem a conduta individual e mantivessem os 
indivíduos integrados na sociedade.
Enfim, sendo a divisão do trabalho um fato social, seu principal efeito 
não é aumentar o rendimento das funções divididas, mas produzir 
solidariedade. Se isto não acontece, é sinal de que os órgãos que 
compõem uma sociedade dividida em funções não se autorregulam, 
seja porque os intercâmbios ou contatos que realizam são insuficientes 
ou pouco prolongados. Com isso, não podem garantir o equilíbrio e a 
coesão social. Nesses casos, o estado de anomia é iminente (BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 85).
A liberdade e autonomia, que o mundo moderno permitia aos seres 
humanos, poderiam gerar este excesso de egoísmo, se os desejos humanos não 
fossem freados, se as ambições não encontrassem um limite (SELL, 2002). Era 
preciso haver um sentido para a vida, um sentido coletivo que viesse acompanhado 
da noção de dever e disciplina, um guia para sua conduta.
Esta função é exercida, em sociedades menos complexas, pelos códigos 
morais — materialização da consciência coletiva. Em sua ausência, os conflitos se 
ampliam e surge a anomia, o egoísmo exagerado em função da falta de orientação 
moral. Para Durkheim, era este movimento o causador de conflitos, e não a 
questão econômica.
Analisando sob o viés funcionalista, é possível afirmar que:
Vê-se, assim que, sob certas circunstâncias, a divisão do trabalho pode 
agir de maneira dissolvente, deixando de cumprir seu papel moral: o 
de tornar solidárias as funções divididas. A ausência de normas — que 
em situação normal se desprendem por si mesmas como prolongações 
da divisão do trabalho — impossibilita que a competição presente na 
vida social seja moderada e que se promova a harmonia das funções 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 85).
Um dos fatores identificados por Durkheim, que contribui para este 
estado de anomia, é o enfraquecimento da religião (SELL, 2002). Os valores 
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
44
e normas sociais sempre estiveram vinculados às religiões, e seus desejos e 
ambições regrados a partir destas normas. Mas na sociedade moderna o papel 
da religião vinha sendo reduzido, mais precisamente, sendo substituído pela 
razão humana. No entanto, até aquele ponto, a razão ainda não havia encontrado 
formas para realizar a integração social, ainda não havia desenvolvido novos 
valores para substituir os antigos — e que tivessem a mesma força sobre o grupo 
no quesito condutas.
Durkheim também compreendia que a sociologia, enquanto ciência, 
não tinha o papel de apontar novos valores e regras morais, e sim identificar 
os fenômenos e situações, permitindo à própria sociedade intervir de maneira a 
restaurar o equilíbrio social.
Ele entendia que os novos valores morais e diretrizes sociais deveriam ser 
desenvolvidos pela própria sociedade, restaurando assim a ordem social (SELL, 
2002). Para isto, ele destaca, na sociedade da época, dois elementos que poderiam 
auxiliar neste restauro, um de ordem moral e outro de ordem institucional.
Quanto ao elemento de ordem moral, Durkheim afirmava que o único 
valor que poderia reduzir o excesso de egoísmo seria o valor do indivíduo. 
Ele não vê problema no individualismo, e sim no excesso de egoísmo, que são 
coisas diferentes. “Quando os homens tomarem consciência do valor do ser 
humano, dizia ele, os laços de solidariedade, fraternidade e respeito poderiam 
ser retomados” (SELL, 2002, p. 88). O egoísmo e os conflitos sociais, provenientes 
dele, poderiam ser reduzidos quando fosse atribuído valor ao indivíduo e à sua 
liberdade individual.
Já no quesito ordem institucional, ele busca pensar quais instituições 
iriam substituir a religião na difusão desta nova moral, baseada na liberdade 
individual. Primeiro, pondera que seriam a família e o Estado, mas já naquela 
época, a família estava em um movimento de desprestígio, e o Estado era algo 
afastado do indivíduo. Ele identifica, portanto, as corporações como instituições 
para o restauro dos valores sociais.
Estas organizações profissionais teriam o poder de integrar os indivíduos 
e instituir estados de disciplina, se impondo a eles e reorganizando as funções. 
Detalhando:
Agindo diretamente no mundo do trabalho, as corporações 
difundiriam a nova moral do “culto do indivíduo” e eliminariam 
os conflitos de classe, sinais de que a sociedade estava anômica (ou 
carente de normas). Com isso, a divisão social do trabalho estaria 
consolidada e as disfunções e patologias da sociedade (as lutas de 
classe) dariam lugar a uma sociedade integrada e harmônica (SELL, 
2002, p. 89).
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
45
Este movimento seria necessário para reduzir o estado de anomia 
identificado por Durkheim nas sociedades modernas, e podemos perceber, 
claramente, o pano de fundo das metodologias funcionalistas funcionando nesta 
análise. Agora, vamos diretamente para a obra do autor para conhecer um pouco 
de sua interpretação sobre este conceito.
Visto que um corpo de regras é a forma definida que, com o tempo, 
assumem as relações que se estabelecem espontaneamente entre 
as funções sociais, pode-se dizer a priori que o estado de anomia é 
impossível sempre que os órgãos solidários estejam em contato 
bastante e suficientemente prolongado. Com efeito, sendo contíguos, 
eles são facilmente advertidos em qualquer circunstância da 
necessidade que têm uns dos outros e adquirem por consequência um 
sentimento vivo e contínuo de sua mútua dependência. Pela mesma 
razão, os intercâmbios entre eles se fazem facilmente; tornam-se 
frequentes por serem regulares; eles se regularizam por si próprios e o 
tempo termina pouco a pouco a obra de consolidação. Enfim, porque 
as menores reações podem ser mutuamente sentidas, as regras assim 
formadas trazem a sua marca, isto é, preveem e determinam até no 
detalhe as condições de equilíbrio; mas se, ao contrário, qualquer 
elemento opaco se interpõe, desaparecem as excitações de uma certa 
intensidade que possam se comunicar de um órgão para outro. As 
relações sendo raras não se repetem bastante para se definirem; a 
cada nova oportunidade correspondem novas tentativas. Os caminhos 
por onde passam as ondas de movimentos não podem se aprofundar 
porque essas ondas são muito intermitentes. Se pelo menos algumas 
regras conseguem, no entanto, se constituir, elas são gerais e vagas; 
porque, nessas condições, só os contornos mais gerais dos fenômenos 
é que se podem fixar. O mesmo ocorrerá se a contiguidade, ainda que 
suficiente, for muito recente ou durar muito pouco.
Essa condição se realiza geralmente pela força das coisas. Porque 
uma função não pode se distribuir em duas ou mais partes de um 
organismo, a não ser que estas sejam mais ou menos contíguas. Além 
do mais, uma vez que o trabalho esteja dividido e como elas necessitam 
umas das outras, tendem naturalmente a diminuir a distância que as 
separa. Por isso, na medida em que se eleva na escala animal, vê-se 
que os órgãos se aproximam e, como diz Spencer, introduzem-se 
nos interstícios uns dos outros. Mas um conjunto de circunstâncias 
excepcionais pode fazer que isto ocorra de outra forma.
É o que acontece nos casos de que nos ocupamos. Quanto mais 
acentuado for o tipo segmentar, os mercados econômicos serão mais 
ou menos correspondentes aos vários segmentos; consequentemente, 
cada um deles será muito limitado. Os produtores, estando muito 
próximos dos consumidores, podem colocar-se mais facilmente a 
par da extensãodas necessidades a serem satisfeitas. O equilíbrio 
se estabelece, portanto, sem dificuldade e a produção regula-se por 
si mesma. Ao contrário, na medida em que o tipo organizado se 
desenvolve, a fusão dos diversos segmentos conduz os mercados a 
serem um só, que abrange quase toda a sociedade. Ele se estende além 
destes e tende a se tornar universal; pois as fronteiras que separam 
os povos se reduzem, ao mesmo tempo que aquelas que separavam 
os segmentos uns dos outros. Resulta que cada indústria produz 
para consumidores que estão espalhados sobre toda a superfície do 
país ou mesmo do mundo inteiro. O contato não é mais suficiente. O 
produtor não pode mais abranger o mercado pelo olhar, nem mesmo 
pelo pensamento; ele não pode mais fazer representar seus limites, 
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
46
pois que o mercado é por assim dizer ilimitado. Em consequência, 
a produção não tem freio nem regra; ela só pode tatear ao acaso e, 
no curso desses tateamentos, é inevitável que as medidas sejam 
ultrapassadas, tanto num sentido como no outro. Daí essas crises que 
perturbam periodicamente as funções econômicas. O crescimento 
destas crises locais e restritas que são as falências é certamente um 
efeito dessa mesma causa.
Na medida em que o mercado se amplia, aparece a grande indústria. 
Ora, ela tem como efeito transformar as relações entre patrões e 
operários. Uma maior fadiga do sistema nervoso, juntamente com 
a influência contagiosa das grandes aglomerações, aumenta as 
necessidades destas últimas. O trabalho da máquina substitui o do 
homem; o trabalho da manufatura, o da pequena oficina. O operário é 
colocado sob regulamentos, afastado o dia inteiro de sua família; vive 
sempre separado daquele que o emprega etc. Essas novas condições 
da vida industrial exigem naturalmente uma nova organização; mas, 
como estas transformações se completaram com extrema rapidez, os 
interesses em conflito não tiveram tempo ainda para se equilibrarem.
Enfim, o que explica o fato de as ciências morais e sociais estarem 
no estado que nós indicamos é que elas foram as últimas a entrar no 
círculo das ciências positivas. Não é por menos, com efeito, que há um 
século este novo campo de fenômenos se abriu para a investigação 
científica. Os sábios se instalaram, uns aqui, outros ali, segundo suas 
inclinações naturais. Dispersos nessa vasta área, eles permaneceram 
até agora muito afastados uns dos outros para sentir todos os laços 
que os unem. Mas, só porque eles conduziram suas pesquisas cada vez 
mais longe do ponto inicial, acabarão necessariamente por alcançar 
e, em consequência, tomar consciência de sua própria solidariedade. 
A unidade da ciência se formará, portanto, por si mesma; não 
pela unidade abstrata de uma fórmula, aliás muito exígua para a 
multiplicidade de coisas que ela deveria envolver, mas pela unidade 
viva de um todo orgânico. Para que a ciência seja una, não é necessário 
que se apegue inteiramente ao campo de visão de uma só e mesma 
consciência – o que é, aliás, impossível –, mas basta que todos aqueles 
que a cultivam sintam que colaboram numa mesma obra.
Isto que precede tira todo fundamento das mais graves restrições 
feitas à divisão do trabalho.
Ela foi muitas vezes acusada de diminuir o indivíduo, reduzindo-o 
ao papel de máquina. E, com efeito, se ele não sabe para onde tendem 
essas operações que se lhe exigem, não as associa a qualquer fim e só 
pode se contentar com a rotina. Todos os dias ele repete os mesmos 
movimentos com uma regularidade monótona, mas sem se interessar 
nem compreendê-los. Não é mais a célula viva de um organismo vivo, 
que vibra incessantemente ao contato com as células vizinhas, que 
age sobre elas e responde por vezes à sua ação, estende-se, contrai-se, 
dobra-se e se transforma segundo as necessidades e as circunstâncias; 
não passa de uma engrenagem inerte que uma força externa põe em 
funcionamento e que se move sempre no mesmo sentido e do mesmo 
modo. Evidentemente, de qualquer maneira que se represente o ideal 
moral, não se pode ficar indiferente a um tal aviltamento da natureza 
humana. Porque se a moral tem como objetivo o aperfeiçoamento 
individual, não pode permitir que se arruíne a tal ponto o indivíduo, e 
se ela tem pôr fim a sociedade, não pode deixar que se esgote a própria 
fonte da vida social; porque o mal não ameaça apenas as funções 
econômicas, mas todas as funções sociais, por mais elevadas que sejam 
(DURKHEIM, s.d. apud MUSSE, 2007, p. 68–73).
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA INTEGRAÇÃO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
47
Também é a anomia um dos motivos atribuídos por Durkheim para 
a existência de suicídios. Ele estudou o fenômeno do suicídio e, a partir do 
material empírico obtido, desenvolveu diferentes análises sobre a teoria da 
integração na sociedade. Como este recorte já pode ser definido, não mais como 
conceito da Teoria da Integração, e sim como uma pesquisa em si realizada pelo 
autor, ele segue no próximo tópico, que tratará sobre os desdobramentos da 
sociologia de Durkheim.
48
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que: 
• Durkheim buscou compreender, dentro da lógica da sociedade moderna, a 
função que é exercida pela chamada divisão social do trabalho.
• A forma de laço entre os indivíduos, baseada na consciência coletiva, é a 
solidariedade mecânica.
• A consciência coletiva é definida como um conjunto de crenças e sentimentos 
comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, que forma um 
sistema determinado com vida própria.
• A forma de laço entre os indivíduos desenvolvida a partir da diferenciação 
entre as funções dos indivíduos, provocada pela divisão do trabalho social, é a 
solidariedade orgânica.
• O tipo de sociedade é passível de análise a partir da integração existente entre 
os indivíduos, na medida em que é possível identificar esta pela divisão social 
do trabalho. 
• A anomia é o egoísmo exagerado em função da falta de orientação moral.
49
1 Descreva os conceitos a seguir a partir das definições apresentadas por 
Émile Durkheim na teoria da integração:
a) Divisão Social do Trabalho 
b) Solidariedade Mecânica
c) Solidariedade Orgânica
d) Consciência Coletiva
e) Anomia 
AUTOATIVIDADE
50
51
TÓPICO 3
OS DESDOBRAMENTOS DA 
SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Chegamos ao último tópico de seus estudos sobre o autor Émile Durkheim. 
Ele trata sobre os desdobramentos de sua sociologia, ou seja, da aplicabilidade de 
suas teorias e conceitos vistos até aqui, em pesquisas empíricas e temas de análise 
que até hoje são referência para reinterpretações e para autores contemporâneos.
Estes desdobramentos iniciam quando Durkheim enfatiza a importância 
da busca por um método próprio da sociologia, conseguindo, assim, consolidar 
esta ciência, inclusive do ponto de vista acadêmico: ele é um dos principais 
responsáveis pela inserção da sociologia na universidade como disciplina 
acadêmica.
Ele também contribuiu significativamente para a epistemologia desta 
ciência em seus escritos sobre religião, quando desenvolve uma perspectiva de 
que o conhecimento é fruto da própria sociedade. Analisa, portanto, a ciência 
como fruto da ordem social, buscando explicar os limites e possibilidades de uma 
ciência sociológica.
Fato é que a teoria sociológica de Durkheim e o arcabouço conceitual por 
ele desenvolvido permitiram o estudo de alguns fenômenos sociais cujos dados 
e métodos persistem até hoje como referência para a Sociologia. É por isso que 
estudaremos neste tópico suas análises sobre o suicídio, a moral, a religião e a 
educação, todos como fenômenos sociais. São temas cujas análises durkheimianas 
são clássicas, em se tratando de Sociologia. Desejo um ótimo estudo!
2 O SUICÍDIO
Os estudos sobre o suicídio de Durkheim são bastante famosos na 
teoria sociológica clássica, pois é o momento no qual o autor aplica seu método 
sociológico em uma pesquisa com dados empíricos. Ele trata o suicídio como fatosocial, e não como caso individual, daí resulta a originalidade da proposta.
52
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
A definição inicial dada pelo autor é: “Chama-se suicídio todo caso de 
morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato positivo ou negativo, 
executado pela própria vítima e que ela sabia que deveria produzir esse resultado” 
(DURKHEIM, 1973, p. 11 apud VERAS, 2014, p. 25).
Sendo assim, ele explica que o interessante ao sociólogo é a morte 
voluntária, que não decorre de especificidades individuais, mas de causas sociais. 
Ele afirma que cada sociedade possui uma aptidão para o suicídio, e ela pode ser 
estabelecida pela relação entre o número total de mortes voluntárias e a população 
total. Ele chama de taxa de mortalidade-suicídio, e pode denotar tendências de 
variabilidade ou permanência (VERAS, 2014, p. 26).
Durkheim examinou estatísticas de diferentes países da Europa em 
períodos do século XIX, buscando esgotar possíveis causas para números 
elevados nas taxas, e após analisar exaustivamente estas causas, como: estados 
psicopatológicos, o que ele chamou de fatores cósmicos e imitação, desenvolveu 
todo um volume sobre as causas sociais do suicídio.
Estas causas estariam associadas ao grau de integração das sociedades, 
que ele analisa a partir de todo o arcabouço teórico estudado no tópico anterior. 
Falhas na integração social gerariam fissuras no tecido social, que levariam aos 
altos índices de suicídio.
O fenômeno suicídio está presente em todos os grupos, e, por isso, é 
possível definir que a causa está na mesma propriedade de todos, sendo ela um 
maior ou menor grau de integração social.
Analisando o suicídio, Durkheim o distingue em três tipos: suicídio 
egoísta, suicídio altruísta e suicídio anômico.
O suicídio egoísta é causado pela falta de integração do indivíduo aos 
grupos da sociedade. É fruto de uma forte individualização, e Durkheim nota 
que, conforme a integração em sociedades religiosas é maior, menores são as 
taxas de suicídio. Elas variam também conforme a religião, conforme as práticas 
que prendem o indivíduo à coletividade do grupo religioso. Quanto mais presos 
à coletividade, menos taxas de suicídio do tipo egoísta. Também na família há 
esta relação: casados com filhos tendem a se suicidar menos do que casados sem 
filhos, pois a integração é maior no primeiro caso. Quanto mais laços sociais, 
menos suicídios por solidão.
Quanto mais enfraquecidos estão os grupos aos quais o indivíduo 
pertence, menos ele dependerá deles, e estará mais vinculado a si, configurando o 
egoísmo. Existem disposições sociais, da vida coletiva, que levam a um menor ou 
maior vínculo com a vida em comunidade, impactando diretamente na influência 
que esta exerce sobre o indivíduo — mantendo ou não razões para viver.
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM
53
O suicídio altruísta é presente em sociedades menos complexas, mais 
simples, onde há menos egoísmo. Ele prevalece em idosos, docentes, viúvas, ou 
servidores que perdem seus chefes. É um tipo de suicídio com fins sociais, em 
que a pessoa se sente na obrigação de fazê-lo, para evitar castigos religiosos ou 
desonra (VERAS, 2014).
A integração do indivíduo ao grupo, nestes casos, é demasiada, por isso 
a perspectiva altruísta, há grande dependência entre indivíduo e grupo. Ele 
apresenta o exemplo de sociedades hindus, nas quais os suicidas buscam a honra, 
e de casos mais atuais, como soldados que se deixam matar em guerras por 
patriotismo, mártires religiosos, ou mesmo terroristas, que se suicidam em nome 
de deuses. Os militares possuem altos índices de suicídio altruísta, por exemplo, 
já que a formação militar é uma formação de disciplina para se abnegar os desejos 
individuais em função de outros.
O último é o suicídio anômico, provocado por crises que desencadeiam 
processos de renúncia à vida, em função da ausência de normas que guiam a 
vida individual. O ser humano necessita de freios aos seus desejos individuais, e 
quando estes não existem em função do grau de sua integração social, ele entra 
em crise. 
FIGURA 7 – SÁTIRA AO FENÔMENO SUICÍCIO, QUE DENOTA A INTEGRAÇÃO SOCIAL
Por que a
gente se
mata?
É mais
fácil do que
ter que
matar todo
mundo.
FONTE: <https://divagacoesligeiras.blogs.sapo.pt/280365.html>. Acesso em: 10 set. 2018.
A sociedade, esta força regularizadora, é benéfica ao indivíduo, e quando 
a sociedade está perturbada por crises ou profundas transformações, a regulação 
é reduzida e as paixões individuais sobressaem, assim, como medos e receios, 
aumentando as taxas de suicídio. O estado de anomia, portanto, amplia as 
situações favoráveis a isso (VERAS, 2014).
54
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
DICAS
O desenvolvimento desta teoria durkheimiana está na obra 
O Suicídio, publicada no Brasil pela Editora Martins Fontes. 
FONTE:<https://colunastortas.com.br/livro-da-semana-o-
suicidio-emile-durkheim/>. Acesso em: 16 jan. 2019.
Há uma relação entre o suicídio egoísta e o anômico, pois ambos 
revelam ausência de laços sociais, mas, no primeiro tipo, a sociedade 
está relativamente integrada, apenas os laços sociais se fragilizaram 
e determinaram uma excessiva individualização. No segundo tipo, 
o anômico, mais presente nas sociedades industriais e comerciais 
complexas, a falta de mecanismos de regulação e de freios aos impulsos 
do homem leva-o ao suicídio (VERAS, 2014, p. 27). 
Em cada um dos tipos de suicídio, é possível notar a relação entre 
indivíduo e sociedade, sendo causado ou pela falta da integração do indivíduo 
nos grupos, ou pelo excesso do peso da sociedade sobre ele. De qualquer forma, 
ele sempre identifica causas sociais, e considera o suicídio um fato social.
Ao contrário de fenômenos, como o crime, que Durkheim considerava 
como um fato social normal, o suicídio era para ele um fato social 
patológico, que evidenciava que havia profundas disfunções na 
sociedade moderna. A existência do suicídio anômico era um indício 
de que o excessivo enfraquecimento da consciência coletiva, a perda 
de uma moral orientadora e disciplinadora dos comportamentos, 
além do exacerbamento do individualismo, representavam um sério 
risco para a integração social e a preservação da sociedade (SELL, 
2002, p. 78).
De maneira muito sintetizada, estas são as principais bases da obra de 
Durkheim, quando ele aplica seu método sociológico de base funcionalista para 
entender um fenômeno social complexo como o suicídio. Esta análise, elaborada 
a partir de pressupostos científicos da Sociologia, teve grande impacto no 
desenvolvimento da ciência, já que é possível na obra observar não apenas os 
fundamentos teóricos, mas também a aplicação prática de uma teoria sociológica.
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM
55
3 VIDA SOCIAL E MORALIDADE
Partindo da Teoria da Integração, e conhecendo por ela as formas existentes 
de laços sociais, identificando que se pode observá-la a partir do direito aplicado 
por cada grupo, e obtendo dados empíricos sobre o suicídio, desenvolvendo, 
inclusive, tipologias para tal patologia social, Durkheim debruça-se nestes 
materiais para compreender como a vida moral dos indivíduos e dos coletivos 
está relacionada a isto.
Suas análises levam à conclusão da importância da moralidade como 
fator de integração social, de integração das pessoas em uma vida coletiva, já 
que o utilitarismo das funções exercidas na divisão social do trabalho leva ao 
desentendimento do todo e às relações anômicas. Este seria o grande problema, a 
grande patologia do mundo moderno. 
Esta seção sobre a moral e a vida social explica ambos, principalmente a 
partir de uma síntese da obra Um toque de Clássico, cuja referência completa você 
pode consultar ao final deste livro de estudos, uma obra de Tania Quintaneiro, 
Maria Ligia de Oliveira Barbosa e Márcia Gardênia de Oliveira, publicada pela 
Editora UFMG.
Durkheim olhou para a França de sua época, e identificou ali a ausênciade instituições protetoras, como eram as corporações de ofício no período feudal, 
e a queda na legitimidade dos conjuntos de valores. Tudo isso gerava conflitos 
e desordens, já que não havia limitadores de interesses e de formas de ação 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002).
A ação como consciência superior, que a moral exerce sobre os indivíduos, 
fica prejudicada quando existe uma crise, o que ameaça a coesão social, pois os 
indivíduos se tornam menos solidários. Quando a autoridade moral se ausenta, 
a lei do mais forte volta a prevalecer, o estado de natureza, e a hostilidade e a 
desconfiança, entre indivíduos do mesmo grupo, se fortalecem.
Vejamos a relação estabelecida entre a vida moral e a vida profissional:
O mundo moderno caracterizar-se-ia por uma redução na eficácia 
de determinadas instituições integradoras, como a religião e a 
família, já que as pessoas passam a agrupar-se segundo suas 
atividades profissionais. A família não possui mais a antiga unidade 
e indivisibilidade, tendo diminuído a sua influência sobre a vida 
privada, o Estado mantém-se distante dos indivíduos, tendo “com 
eles relações muito exteriores e muito intermitentes para que lhe 
seja possível penetrar profundamente nas consciências individuais e 
socializá-las interiormente”. Por outro lado, a diversidade de correntes 
de pensamento torna as religiões pouco eficazes nesses aspectos, 
na medida em que não mais subordinam completamente o fiel, 
subsumindo-o no sagrado. Com isso, a profissão assume importância 
cada vez maior na vida social, tornando-se herdeira da família, 
substituindo-a e excedendo-a. Mas ela própria somente é regulada no 
interior da esfera de suas próprias atividades (BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002, p. 82).
56
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
Diante disso, Durkheim procurou entender a solidariedade gerada na 
vida profissional como fator de integração social, como base para o resgate da 
moralidade, tão ausente nas sociedades industriais da época. A corporação ou 
o grupo profissional faria o papel de regulamentador que a moral coletiva não 
estava conseguindo cumprir, a lógica de pensamento era essa.
Além de substituir alguns estados anômicos presentes nesta situação, 
as diretrizes do mundo profissional freariam impulsos e dariam força ao papel 
profissional do indivíduo, vinculando-os ao dever profissional, como, até então, 
estavam vinculados ao dever doméstico.
Como o sociólogo francês o percebia, tal estado de anarquia não 
poderia ser atribuído somente a uma distribuição injusta da riqueza, 
mas, principalmente, à falta de regulamentação das atividades 
econômicas, cujo desenvolvimento havia sido tão extraordinário 
nos últimos dois séculos que elas acabaram por deixar de ocupar 
seu antigo lugar secundário. Ao mesmo tempo, o autor conferiu às 
anormalidades provocadas por uma divisão anômica do trabalho 
uma parte da responsabilidade nas desigualdades e nas insatisfações 
presentes nas sociedades modernas. Mesmo tendo absorvido uma 
“enorme quantidade de indivíduos cuja vida se passa quase que 
inteiramente no meio industrial”, tais atividades não exerciam a 
“coação, sem a qual não há moral”, isto é, não se lhes apresentavam 
como uma autoridade que lhes impusesse deveres, regras, limites 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 83).
E para Durkheim, o mundo profissional deveria exercer função 
moralizante, na medida em que o crescimento das corporações deveria fazer com 
que sua autonomia se ampliasse e, portanto, estabelecesse princípios para seu ramo 
industrial. Assim, um poder moral passaria a existir com a instituição, minimizando 
a lei do mais forte e desenvolvendo a solidariedade entre os integrantes daquele 
nicho — gerando a ideia de sacrifício em nome do interesse comum.
Com a mesma pretensão profissional, as pessoas iriam se aproximar, já 
que indivíduos com ideias e ocupações similares são atraídos uns aos outros, 
estabelecendo relações e desenvolvendo o sentimento de todo. Daí decorre a 
função da divisão social do trabalho, segundo Durkheim:
Enfim, sendo a divisão do trabalho um fato social, seu principal efeito 
não é aumentar o rendimento das funções divididas, mas produzir 
solidariedade. Se isto não acontece, é sinal de que os órgãos que 
compõem uma sociedade dividida em funções não se autorregulam, 
seja porque os intercâmbios ou contatos que realizam são insuficientes 
ou pouco prolongados. Com isso, não podem garantir o equilíbrio e a 
coesão social. Nesses casos, o estado de anomia é iminente (BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 85).
Esta obrigação com relação ao todo garante a manutenção do sistema 
moral, já que esta é compreendida como sistema de normas de conduta, as quais 
definem como o indivíduo deve se comportar em determinadas circunstâncias. 
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM
57
Estas formas diferem de outros conjuntos de regras “porque envolvem uma noção 
de dever, constituem uma obrigação, possuem um respeito especial, são sentidas 
como desejáveis e, para cumpri-las, os membros da sociedade são estimulados 
a superar sua natureza individual” (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 
2002, p. 87). 
 
Os deveres estabelecidos pela moral são praticados de forma livre, já que 
o indivíduo passa a entender que cumprir estas regras é fazer o bem, é estar 
contribuindo para seu grupo social. A moralidade é uma autoridade, com base 
nela os indivíduos e suas ações são julgados. A sociedade, portanto, indica a 
obrigatoriedade das regras morais, definindo comportamentos a partir de regras 
externas ao indivíduo.
De acordo com a concepção de sociedade de Durkheim, a moral é a síntese 
das consciências morais individuais, já que, também, a sociedade é a síntese dos 
indivíduos que a compõem. Não apenas a somatória, mas sim a síntese, que 
atua sobre todos. Assim é o movimento de gerar o interesse coletivo: a própria 
sociedade provoca a subordinação dos interesses individuais aos coletivos, com 
base no reconhecimento de fins mais elevados.
E é nesse ponto que aparece, novamente, a divisão social do trabalho, 
porque a diferenciação provocada por esta divisão pode chegar ao nível de 
manter em comum, apenas no grupo, sua noção de humanidade. O único ponto 
em comum sendo o fato de serem seres humanos.
Você deve estar pensando o que isso pode provocar, não? O individualismo 
exacerbado, a prevalência das consciências individuais, a ausência de ter algo 
maior para honrar e defender. Sobre isso, ele diz que: 
E como cada um de nós encarna algo da humanidade, cada consciência 
individual encerra algo de divino e fica, assim, marcada por um caráter 
inviolável para os outros. Esse é o único sistema de crenças que pode 
garantir a unidade moral da sociedade moderna: a moral individualista 
e a religião da humanidade, na qual o homem é, ao mesmo tempo, o 
fiel e o deus (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 88).
Neste ponto aparece a definição do papel do indivíduo na sociedade 
moderna, para Durkheim, que se relaciona com o Estado na defesa de seus 
direitos individuais, e para proteger seus interesses. 
Em sociedades cuja ordem social é mais simples, o Estado se confunde 
comumente com a religião, a moral relaciona-se aos deveres como cidadão, e o 
controle é mais próximo e direto. Nas mais complexas, “o Estado possui funções 
muito mais extensas, existe também um número cada vez mais significativo de 
grupos secundários que, além de expressar os distintos interesses organizados de 
seus membros, mantêm com estes um contato estreito” (BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002, p. 88). 
 
58
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
Este Estado individualista une-se à concepção de todos os direitos 
individuais, modificando o conjunto moral coletivo. A citação que segue detalha 
como se dá esta situação:
A glorificação do indivíduo move-se com base na simpatia por “tudo 
o que é do homem, uma maior piedade por todas as dores, por todas 
as misérias humanas, uma mais ardentenecessidade de os combater 
e atenuar, uma maior sede de justiça”. A vida, a honra e a liberdade 
do indivíduo são respeitadas e protegidas, e se “ele tem direito a esse 
respeito religioso é porque existe nele qualquer coisa da humanidade. 
É a humanidade que é respeitável e sagrada” e, quando o homem a 
cultua, ele tem que sair de si e estender-se aos outros. Essa moral não 
deve, então, ser confundida com a concepção vulgar, condenada por 
Durkheim, igualada ao egoísmo utilitário e ao utilitarismo estreito 
que fazem a “apoteose do bem-estar e do interesse individuais e desse 
culto egoísta do ego”. O homem livre é aquele que contém seu egoísmo 
natural, subordina-se a fins mais altos, submete os desejos ao império 
da vontade, conforma-os a justos limites. Por isso, um individualismo 
desregrado adviria da falta de disciplina e de autoridade moral da 
sociedade. A divinização do indivíduo é obra da própria sociedade, e 
a liberdade deste é utilizada para o benefício social. O culto de que ele 
é ao mesmo tempo objeto e agente dirige-se à pessoa, está acima das 
consciências individuais e pode servir-lhes de elo em direção a uma 
mesma fé. Ele representa a adesão unânime a um conjunto de crenças 
e práticas coletivas merecedoras de um respeito particular que lhes 
confere um caráter religioso (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 
2002, p. 88).
Segundo Durkheim, este é o processo de redução da autoridade moral 
da sociedade, e ele busca regatar esta análise para explicar o quanto o conjunto 
moral dos grupos é fundamental para a manutenção da coesão social, evitando o 
desenvolvimento de individualidades a partir da divisão social do trabalho, que 
podem gerar patologias presentes nas sociedades modernas.
É por isso que ele se preocupou em estudar as religiões, para analisar 
seus fundamentos e sua relação com os grupos sociais, e o quanto estas estavam 
relacionadas ao conjunto moral e à vida social dos indivíduos. Trataremos sobre 
isso na próxima seção.
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM
59
DICAS
A teoria moral de Durkheim é bastante complexa, e necessita de 
dedicação às leituras para que seja possível apreendê-la em sua 
totalidade. Para isso, temos traduzidas algumas obras: Filosofia 
Moral, Lições de sociologia, Ética e sociologia da moral, entre 
outras. Sugerimos de início o livro A Educação Moral, onde é 
possível estudar a concepção de moral durkheimiana e sua 
relação com a instituição educação. Publicado pela Editora 
Vozes, em diferentes edições.
FONTE:<https://www.amazon.com.br/Educa%C3%A7%C3%A3o
-moral-%C3%89mile-Durkheim/dp/8532636683>. Acesso em: 
16 jan. 2019.
4 A RELIGIÃO
Um dos grandes temas ao qual Durkheim dedicou sua obra é a questão 
da vida religiosa, buscando entender nela sua relação com o desenvolvimento da 
moralidade. A obra principal produzida acerca deste tema chama-se As formas 
elementares da vida religiosa. É um livro bastante famoso, não há como estudar as 
análises deste autor sobre a religião sem passar por sua leitura, anote aí!
O autor buscou entender os princípios das religiões primitivas, mais 
diretamente, a partir do totemismo encontrado em diferentes grupos australianos. 
Ele utilizou-se de relatos para entender a dinâmica deste tipo de religião e teorizar 
sobre suas influências na vida social e moral do grupo.
Estas religiões menos complexas seriam, para Durkheim, fonte de dados 
importantes sobre a origem de seus preceitos, já que as individualidades e 
diferenças ainda não tomaram conta do essencial — permitindo a visualização 
daquilo que é comum a elas.
Ao analisar as religiões, o autor notou que estas são compostas pela 
divisão da sociedade em duas esferas: o profano e o sagrado. O sagrado seria uma 
percepção da humanidade, da força social agindo sobre eles mesmos, novamente 
denotando a superioridade da sociedade com relação ao indivíduo — sendo a 
religião uma expressão desse fato. Desta forma, o autor explica o surgimento da 
religião em si, uma transfiguração da sociedade (SELL, 2002).
Vamos aprofundar esta distinção entre profano e sagrado, a partir da 
síntese de Sell (2002):
60
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
• Esfera Sagrada: composta por coisas, crenças e ritos baseados em certa unidade, 
chamada religião. Envolve o aspecto cultural (crenças) e o material (ritos). Com 
o compartilhamento de crenças pelo grupo, temos a igreja.
• Esfera Profana: conjunto da realidade que se opõe ao sagrado, esferas de 
atividades práticas e cotidianas da vida, como família, economia, entre outros.
A esfera sagrada é protegida e mantida em um estatuto especial nas 
religiões, acessível por meio de ritos. Em outras palavras:
A passagem do mundo profano para o sagrado implica uma 
metamorfose e envolve ritos de iniciação realizados por aquele que 
renuncia ou sai de um mundo para entrar em outro e que morre 
simbolicamente para renascer por meio de uma cerimônia. As 
coisas sagradas são protegidas, mantidas à distância e isoladas pelas 
interdições aplicadas às profanas. Elas podem ser palavras, objetos, 
animais, alimentos, lugares, pessoas etc. Entre essas coisas existem as 
que são proibidas de ser provadas, vistas, pronunciadas ou tocadas, 
por exemplo, por homens, mulheres, solteiros, membros de algum 
grupo, casta ou classe social, durante uma fase da vida ou em certos 
estados naturais como a gravidez ou a menstruação (BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 91).
As cerimônias religiosas, portanto, além de permitir o acesso do 
mundo profano ao mundo religioso, possuem uma função social: aproximam 
os indivíduos, lembram, a eles, que fazem parte de um grupo, multiplicam os 
contatos e consolidam a ideia de coletividade. Assim, as consciências individuais 
mudam, em favor de sentimentos sociais, fortalecidos nestas celebrações.
A sociedade envolve os indivíduos a partir do fenômeno religioso, 
tornando-se ainda mais atuante neles, renovando sua parcela de ser social. 
Além disso, ela atua também nas representações dos indivíduos, auxiliando na 
manutenção da ordem social.
Nas religiões australianas, Durkheim identificou o uso de símbolos para 
identificação do grupo, o totem. O totem era representado em diferentes objetos, 
que passavam a ser sagrados. Ele poderia ser a representação de um animal, uma 
árvore etc., e era diante destes objetos que os comportamentos religiosos deveriam 
ocorrer. Estas práticas religiosas, chamadas ritos, poderiam ser divididas em: 
ritos negativos (proibições), ritos positivos (deveres religiosos) e ritos de expiação 
(cerimônias de perdão por violações cometidas) (SELL, 2002).
É interessante notar que nestas tribos australianas, a divindade não 
é concebida como um ser pessoal, distinto dos homens. É por isso 
que Durkheim rejeita as teorias que explicam a origem da religião a 
partir deste pressuposto, como é o caso do animismo e do naturismo. 
Enquanto para o primeiro, a religião constitui a crença em um espírito, 
o naturismo postula que a divindade seria a transfiguração das forças 
naturais que o homem percebe agindo na natureza. No totemismo, 
a noção de divindade pessoal é concebida como uma força anônima 
e impessoal que encontramos em cada um dos seres, como animais, 
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM
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plantas ou outros objetos. É por isso que se trata da mais simples das 
religiões: o conjunto da realidade no qual esta força se encontra é que 
constitui a esfera sagrada. É por isso, enfim, que Durkheim afirma que 
a esfera sagrada, em oposição à esfera profana, constitui a essência de 
qualquer religião (SELL, 2002, p. 81).
Para ele, a origem das religiões está na necessidade que elas possuem 
de despertar o divino nos seres humanos, para que assim a sociedade possa se 
manifestar e conseguir obediência a ela, como ser superior. O comportamento 
dos indivíduos na religião também seria explicado pelo predomínio da sociedade 
com relação ao sujeito.
As religiões também são formas de cosmologia, ou sistemascoletivos 
de representação do mundo. Elas apresentam uma sociedade idealizada, e 
trazem categorias do entendimento humano, como tempo, causa, espaço etc. Em 
função disso, Durkheim buscou estudar estes itens na religião, já que nela estas 
relações são expressas por meio de símbolos e conceitos (BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002).
Durkheim questiona as duas teses que até então procuraram explicar 
a questão do conhecimento e de sua racionalidade - o empirismo 
e o apriorismo - e propõe que seja reconhecida a origem social das 
categorias, as quais traduziriam estados da coletividade, sendo, pois, 
produtos da cooperação. Enquanto os conhecimentos empíricos são 
suscitados pela ação do objeto sobre os espíritos dos indivíduos, as 
categorias seriam representações essencialmente coletivas, obras 
da sociedade expressas inicialmente por meio da religião, na qual 
foi engendrado tudo o que há de essencial na sociedade: o direito, a 
ciência, a moral, a arte e a recreação. Se isto se dá é porque “a ideia de 
sociedade é a alma da religião”, e nesta originaram-se quase todas as 
grandes instituições sociais. Ela é uma expressão resumida da vida 
coletiva (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 92).
O autor vai além da análise da religião em si, desenvolvendo uma teoria 
sobre conhecimento no estudo desta instituição. Segundo ele, a ciência e demais 
formas de pensamento moderno possuem origem na religião (pois são a primeira 
forma de representação do mundo), portanto, parte para o estudo de suas origens 
sociais.
Sell (2002) explica esta teoria do conhecimento durkheimiana:
A tese central de Durkheim é que classificamos os seres do universo 
(o mundo natural) porque temos o exemplo das sociedades humanas. 
Vejamos como isto se dá.
No totemismo todos os seres eram classificados ou na esfera sagrada 
ou na esfera profana. Os entes ou objetos que representassem o totem 
(objetos, plantas, animais, membros da tribo, partes do corpo, etc.) 
pertenciam ao mundo sagrado, enquanto o restante das coisas existentes 
pertencia ao mundo profano. Portanto, a religião forneceu ao homem 
um critério a partir do qual ele podia classificar e ordenar as coisas 
do mundo. As categorias de pensamento humano, como as noções 
de tempo, espaço, gênero, espécie, causa, substância e personalidade, 
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UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
têm sua origem na religião, ou, em outras palavras, na sociedade. Foi 
tomando a sociedade, suas relações hierárquicas (sociais) e suas crenças 
como modelos, que o homem foi construindo suas primeiras explicações 
do universo, aplicando as categorias do mundo religioso (ou social) ao 
mundo natural.
Com esta teoria, Durkheim julgava poder encontrar uma saída para 
o dualismo da teoria epistemológica, dividida entre a concepção que 
julgava que a origem do conhecimento provinha da experiência (teoria 
empirista) e a concepção que afirmava que a origem do saber está em 
ideias inatas no indivíduo (teoria racionalista). Para o pensador francês, 
se as experiências individuais fornecem ao indivíduo o conteúdo ou 
a matéria do conhecimento, é a sociedade que constrói no homem 
as categorias lógicas (como a noção de tempo, espaço, causalidade) 
pelas quais ele organiza os dados da experiência. A própria noção de 
causalidade (que é o princípio científico de que todo fenômeno tem 
sempre uma causa eficiente, que explica a origem do fenômeno) tem 
sua raiz na ideia do “mana”, ou seja, o ser divino que está materializado 
no totem e é responsável pela “força”, vida ou movimento das coisas. 
Mais uma vez, Durkheim volta ao pressuposto que guia todas as suas 
obras: a sociedade é o fundamento lógico que explica o comportamento 
humano. Assim, a sociedade também é responsável pela origem das 
formas de conhecimento humano ou das categorias mentais pelas 
quais o homem organiza os dados de sua experiência. E, ao mostrar 
esse fenômeno, a sociologia, finalmente, encontrava uma explicação 
que integrava e ao mesmo tempo superava a dicotomia presente nos 
estudos do conhecimento humano (SELL, 2002, p. 81–83).
Desta maneira, Durkheim buscou solucionar as questões epistemológicas 
que envolviam a Sociologia, contribuindo com mais um pilar para a consolidação 
desta como ciência. Explicando a partir de uma análise empírica da religião 
as representações específicas do totemismo, ele amplia esta análise para o 
entendimento das formas de conhecimento humanas. Destaca-se, novamente, 
a explicação da obtenção do conhecimento pela via social, a prevalência da 
sociedade com relação às representações individuais.
DICAS
O melhor material complementar que podemos indicar para o 
estudo aprofundado das questões da religião, em Durkheim, seria 
sua obra principal sobre o tema: As formas elementares da vida 
religiosa. Publicada pela Editora Martins Fontes, em diferentes 
edições. Vale a leitura para apropriação do impacto de suas 
análises sobre a religião, e sobre o desenvolvimento de sua teoria 
sociológica do conhecimento.
FONTE:<https://www.emart insfontes .com.br/ formas-
elementares-da-vida-religiosa-as-p18557/>. Acesso em: 16 jan. 
2019.
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM
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5 A EDUCAÇÃO
Durkheim é o único, dos autores clássicos, que se deteve mais diretamente 
ao estudo da instituição educação. Temos escritos dele analisando este fenômeno 
social, buscando compreender sua função social nos grupos, influenciando as 
análises do que viria a ser mais tarde o ramo da Sociologia da Educação.
Você irá estudar as teses de Durkheim sobre a educação, sempre que se 
direcionar para a Sociologia da Educação, no entanto, é importante compreender, 
em sua teoria sociológica, a relação estabelecida entre educação e moralidade. 
Para ele, as sociedades deveriam ter um projeto de educação moral, pois é a 
partir das socializações educativas que o sujeito é inserido no conjunto moral do 
grupo. E isso passa a ter uma função essencial quando pensamos nos laços sociais 
formados pelo indivíduo, seja a partir da solidariedade mecânica ou orgânica.
De início, é importante compreender que ele diferencia ciências da 
educação e pedagogia. A pedagogia seria responsável pela identificação de 
práticas, modelos, teorias sobre os sistemas educativos no sentido metodológico. 
Ela indica os procedimentos práticos que se deve tomar para que a educação 
cumpra sua função.
Já as ciências da educação, dentre elas a sociologia, deveriam ser o espaço 
de análise no qual se observa a educação como fenômeno coletivo, compartilhado 
entre diferentes grupos sociais: “a educação pode ser objeto de uma ciência 
positiva, baseada na realidade, na evidência dos fatos, e para tal se deve ter por 
fundamento a pesquisa e buscar, primeiramente, fatos exteriores ao indivíduo 
que sejam passíveis de observação” (TURA, 2006, p. 40). 
Alguns povos não tiveram pedagogia, mas possuem um processo 
educativo, que pode ser analisado como fenômeno social. A partir disso, podemos 
entender porque a educação pode ser objeto de análise sociológica, e como ela é 
compreendida como instituição social.
 
Sendo assim, aparece na obra de Durkheim, novamente, a prevalência 
da sociedade com relação ao indivíduo, quando ele reconhece a existência de 
dois seres que convivem nos seres humanos: o ser individual e o ser social. O ser 
individual é composto pelos estados mentais mais íntimos do sujeito, que possui 
natureza egoísta e antissocial — é o que temos de mais primitivo, instintivo. 
Já o ser social exprime em nós a natureza do grupo no qual estamos inseridos, 
os sistemas de ideias, sentimentos e hábitos coletivos dos quais fazemos parte 
(TURA, 2006).
O ser social não nasce conosco, ele precisa ser formatado, e é daí que 
decorre a concepção de Durkheim de que o ser humano ao nascer é uma tábula 
rasa, desprovido de percepções coletivas e sociais. A partir do nascimento, 
portanto, vamos recebendo estas informações:
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UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
É a vida em sociedade, a convivênciacom o seu grupo, as diferentes 
formas de comunicação social e associação que irão progressivamente 
fazer com que o indivíduo internalize um conjunto de maneiras 
de ser, pensar e agir que são próprias de seu meio e o indivíduo 
irá se conformar por elas pelo que trazem de vantagens e de valor 
na constituição da humanidade, pois que, sem o arcabouço social, o 
homem retornaria à condição de animal. Se faltar ao indivíduo todo 
o patrimônio de conhecimentos acumulados, da ciência produzida, 
dos sistemas de classificações, de ideias, de fórmulas, de valores, de 
técnicas e, especialmente, a linguagem própria do grupo, ele não 
poderá sobreviver como ser humano (TURA, 2006, p. 42).
O conjunto das ideias, valores, representações que possuem natureza 
própria nas instituições educacionais e independem dos indivíduos que as 
frequentam naquele momento, permitem observar a educação como fato social. 
Segundo Durkheim, seria papel da sociologia explicar o funcionamento e 
identificar formas de melhoria para que a educação pudesse alcançar melhores 
resultados – o que ele chama de fins sociais da educação.
Ele identifica, a partir da comparação de sistemas educativos de diferentes 
sociedades, que não há uma educação única e universal, e sim variantes, de acordo 
com o tempo e o meio nos quais estão localizadas. Por isso a educação deveria ser 
analisada em seu contexto, a partir das sociedades com as quais está vinculada, e 
não como ideal abstrato e único (TURA, 2006).
As práticas pedagógicas não são, pois, fruto de decisões arbitrárias 
oriundas da vontade de um educador, mas, ao contrário, estão 
fortemente determinadas por uma estrutura social e, por isso, seu 
movimento evolutivo se dá de forma coerente com a constituição e 
as necessidades do organismo social. Nesse sentido, todo e qualquer 
sistema educativo é um produto histórico e só através da análise 
histórica se pode entender e explicar porque, em cada momento, em 
cada sociedade há um tipo regulador de educação, que se expressa 
em tendências, fórmulas, padrões que se impõem sobre os indivíduos 
e que são solidários e coerentes com o conjunto de atividades e 
instituições da sociedade (TURA, 2006, p. 49).
Do ponto de vista conceitual, portanto, Durkheim define a educação como 
a ação das gerações adultas sobre as gerações que ainda não estão preparadas 
para a vida social, com o objetivo de desenvolver, nestas novas gerações, estados 
necessários para a vida em sociedade.
Esta educação estará vinculada ao conjunto moral do grupo, por exemplo, 
podendo variar de acordo com a função do grupo dentro do organismo social. 
Ainda assim, esta educação irá conformar o indivíduo neste conjunto moral, 
na intenção de haver uma base comum de ideias e sentimentos, que geram 
práticas relativamente homogêneas. Para Durkheim, a educação possui função 
homogeneizadora, por assim dizer.
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM
65
Neste ponto da análise, ele trata sobre os fins da educação, que podem 
variar de acordo com o que a coletividade deseja que seja desenvolvido nos novos 
integrantes sociais, mas que “exerce sobre os educadores uma pressão moral no 
sentido de desenvolver nos educandos as qualidades comuns do grupo social e 
seus ideais coletivos” (TURA, 2006, p. 51).
A busca por uma homogeneização a partir da educação se amplia quando 
se trata de sociedades modernas, dado que a heterogeneidade crescente em função 
da divisão social do trabalho particulariza cada vez mais as relações sociais. A 
diferenciação se amplia, e os fins da educação relativos à manutenção do que é 
comum à coletividade se distanciam.
 
Assim, o ser social precisa ser incutido nas crianças o quanto antes, para 
que se agregue à sua individualidade uma natureza moral e social. A este processo 
dá-se o nome de socialização, definido como “a interiorização do conjunto de 
maneiras de ser, sentir, pensar e agir próprios do meio social em que se vive, o 
que é essencial para a integração social do indivíduo” (TURA, 2006, p. 52).
Esta socialização se dá de forma metódica, porque possui objetivos 
institucionais claros e uma função social definida, a partir do grupo ao qual 
responde. A institucionalização desta educação moral é, para Durkheim, o 
caminho para o pensamento coletivo, para que os indivíduos gostem da vida 
em sociedade e pensem em ações coletivas e de comunidade, e não apenas ações 
individualizadas.
DICAS
Esta foi apenas uma pequena síntese do pensamento de 
Durkheim sobre a educação, e você pode acessar mais 
informações nas obras dele e nas interpretações. Muitos 
autores já se dedicaram a compreender as perspectivas 
dele sobre a educação, pesquise! Sugiro que você 
inicie pelo artigo que serviu como base para este texto, 
intitulado Durkheim e a Educação. A autora é Maria de 
Lourdes Rangel Tura, e está publicado no livro Sociologia 
para Educadores, da Editora Quartet.
Sobre as obras do autor, você poderá iniciar pela leitura 
de Educação e Sociologia e A Educação Moral, ambas 
obras de Durkheim e publicadas no Brasil pela Editora 
Vozes.
FONTE:<https://livralivro.com.br/books/show/352010?
recommender=I2>. Acesso em: 16 jan. 2019.
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UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
LEITURA COMPLEMENTAR
O QUE É FATO SOCIAL?
Émile Durkheim (trecho)
Antes de procurar qual método convém ao estudo dos fatos sociais, 
importa saber quais fatos são assim denominados.
A questão se faz ainda mais necessária porque esse qualificativo é utilizado 
sem muita precisão. É empregado correntemente para designar quase todos os 
fenômenos que ocorrem no interior da sociedade, por pouco que apresentem, 
com certa generalidade, algum interesse social. Mas desse modo não há, por assim 
dizer, acontecimentos humanos que não possam ser chamados de sociais. Cada 
indivíduo bebe, dorme, come, pensa, raciocina, e a sociedade tem todo o interesse 
em que essas funções sejam regularmente exercidas. Porém, se esses fatos fossem 
sociais, a sociologia não teria objeto próprio, e seu domínio se confundiria com o 
da biologia e o da psicologia.
Mas, na realidade, em toda sociedade há um grupo determinado de 
fenômenos que se distinguem por traços específicos dos que são estudados pelas 
outras ciências da natureza.
 
Quando exerço minhas tarefas de irmão, esposo ou cidadão, quando 
realizo compromissos que assumi, cumpro deveres que estão definidos fora de 
mim e de meus atos, no direito e nos costumes. Ainda que eles estejam de acordo 
com meus sentimentos e eu os sinta interiormente na realidade, esta não deixa de 
ser objetiva; pois não fui eu que os concebi, mas os recebi por meio da educação. 
Quantas vezes, aliás, chegamos mesmo a ignorar os detalhes das obrigações que 
nos incumbe, e, para conhecê-los, temos de consultar o Código e seus intérpretes 
autorizados! Da mesma forma, as crenças e as práticas da vida religiosa, os fiéis, 
ao nascer, as encontram prontas; se elas já existiam antes deles, isso significa 
que existem fora deles. O sistema de signos de que me sirvo para expressar meu 
pensamento, o sistema monetário que emprego para pagar minhas dívidas, os 
instrumentos de crédito que utilizo em minhas relações comerciais, as práticas 
adotadas em minha profissão etc. funcionam independentemente do uso que 
faço deles. Tomando, um após o outro, todos os membros que compõem uma 
sociedade, as conclusões anteriores poderão ser repetidas a propósito de cada 
um. Eis aí, portanto, maneiras de agir, pensar e sentir que apresentam essa notável 
propriedade de existir fora da consciência individual.
Esses tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exteriores 
ao indivíduo, mas também dotados de um poder imperativo e coercitivo em 
virtude do qual se impõem a ele, quer queira, quer não. Sem dúvida, quando me 
conformo a essa coerção voluntariamente, ela não se faz ou se faz pouco sentir, 
sendo inútil. Mas, ainda assim, ela não deixa de ser um traço intrínseco desses 
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO67
fatos, e a prova disso é que ela se afirma caso eu tente resistir. Se experimento 
violar as regras do direito, elas reagem contra mim para impedir o meu ato, se 
ainda houver tempo, ou para anulá-lo e restabelecê-lo à sua forma normal, se 
ele tiver sido realizado e for reparável, ou para me fazer expiá-lo, se não houver 
outro modo de repará-lo. E quanto às máximas puramente morais? A consciência 
pública reprime todo ato que as ofenda por meio da vigilância que exerce sobre 
a conduta dos cidadãos e através das penas especiais de que dispõe. Em outros 
casos, a coerção é menos violenta, mas não deixa de existir. Se não me submeto às 
convenções do mundo; se, ao me vestir, não levo em conta os costumes seguidos 
em meu país e em minha classe, o riso que provoco e o isolamento em que me 
vejo produzem, ainda que de modo atenuado, os mesmos efeitos que uma pena, 
propriamente dita. Aliás, a coerção, por ser apenas indireta, não é menos eficaz. 
Não sou obrigado a falar francês com meus compatriotas, nem a empregar 
moedas legais; mas me é impossível agir de outra maneira. Se procurasse escapar 
dessa necessidade, minha tentativa fracassaria miseravelmente. Industrial, nada 
me interdita trabalhar com procedimentos e métodos de outro século; mas, se o 
fizesse, certamente me arruinaria. Ainda que eu possa, de fato, libertar-me dessas 
regras e violá-las com sucesso, isso não ocorre jamais sem que eu seja obrigado 
a lutar contra elas. E, mesmo que elas sejam finalmente vencidas, fazem sentir 
suficientemente seu poder coercitivo pela resistência que opõem. Mesmo quando 
bem-sucedido, não há inovador cujos empreendimentos não se choquem com 
oposições desse gênero.
Eis, portanto, uma ordem de fatos que apresentam características muito 
especiais: consistem em maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, 
dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se lhe impõem. 
Em consequência, não poderiam ser confundidos com os fenômenos orgânicos, já 
que consistem em representações e ações; nem com os fenômenos psíquicos, que 
existem somente na consciência individual e por meio dela. Esses fatos constituem, 
portanto, uma espécie nova, e a eles deve ser dado e reservado o qualificativo de 
sociais. Esse qualificativo lhes convém, pois é claro que, não tendo o indivíduo 
por substrato, eles não podem ter outro que não a sociedade, seja a sociedade 
política como um todo, seja qualquer um dos grupos parciais que ela contém, 
sejam confissões religiosas, escolas políticas, literárias, corporações profissionais 
etc. Por outro lado, é unicamente a esses fatos que aquela expressão convém; 
pois a palavra social só tem sentido definido com a condição de designar apenas 
os fenômenos que não entram em nenhuma categoria de fatos já constituídos 
e denominados. Eles constituem, portanto, o domínio próprio da sociologia. É 
verdade que a palavra coerção, com a qual os definimos, corre o risco de enfurecer 
os zelosos partidários de um individualismo absoluto. Como eles professam 
que o indivíduo é perfeitamente autônomo, parece-lhes que este fica diminuído 
todas as vezes que se evidencia que não depende apenas de si mesmo. Porém, 
uma vez que hoje é incontestável que a maior parte de nossas ideias e tendências 
não é elaborada por nós, vindo-nos de fora, elas somente podem penetrar em 
nós impondo-se; isso é tudo o que nossa definição significa. Sabe-se, aliás, que a 
coerção social não exclui necessariamente a personalidade individual.
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UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
Entretanto, como os exemplos que acabamos de citar (regras jurídicas, 
morais, dogmas religiosos, sistemas financeiros etc.) consistem todos em 
crenças e práticas constituídas, poder-se-ia supor, de acordo com o que foi dito, 
que somente há fato social onde há organização definida. Mas há outros fatos 
que, sem apresentar essas formas cristalizadas, têm as mesmas objetividade e 
ascendência sobre o indivíduo. É o que se denomina de correntes sociais. Assim, 
em uma assembleia, os grandes movimentos de entusiasmo, de indignação 
e de compaixão que se produzem não têm origem em nenhuma consciência 
particular. Chegam a cada um de nós de fora, e são suscetíveis de nos mover 
apesar de nós. Sem dúvida, pode ocorrer que, me abandonando sem reserva, eu 
não sinta a pressão que exercem sobre mim. Mas esta se revela tão logo eu tente 
lutar contra ela. Quando um indivíduo tenta se opor a uma dessas manifestações 
coletivas, os sentimentos que nega retornam contra ele. Ora, se esse poder de 
coerção externo se afirma com tal nitidez nos casos de resistência, é porque 
existe também, ainda que inconscientemente, nos casos contrários. Somos então 
vítimas de uma ilusão que nos faz acreditar que nós mesmos elaboramos o que 
se nos impôs de fora. Mas, se a complacência com que nos deixamos levar por 
essa força mascara a pressão sofrida, ela não a suprime. Da mesma forma, o 
ar não deixa de ser pesado, ainda que não sintamos o seu peso. Mesmo que 
tenhamos, de nossa parte, colaborado espontaneamente para a emoção comum, 
a impressão que experimentamos é completamente diferente da que sentiríamos 
se estivéssemos sozinhos. Assim, quando a assembleia se dispersa, quando suas 
influências sociais deixam de agir sobre nós e encontramo-nos novamente a sós, 
os sentimentos que vivenciamos dão a impressão de algo estranho no qual não 
mais nos reconhecemos. Percebemos então que os sofremos muito mais do que 
os produzimos. Pode até mesmo acontecer de eles nos causarem horror, tão 
contrários eram à nossa natureza. É desse modo que indivíduos perfeitamente 
inofensivos na maior parte do tempo podem, reunidos na multidão, ser 
levados a cometer atos de atrocidade. Ora, o que dizemos sobre essas explosões 
passageiras aplica-se igualmente aos movimentos de opinião, mais duráveis, 
sobre assuntos religiosos, políticos, literários, artísticos etc., que se produzem 
incessantemente em torno de nós, seja em toda a extensão da sociedade, seja em 
círculos mais restritos.
Essa definição de fato social pode, aliás, ser confirmada por uma 
experiência característica. Basta observar o modo como as crianças são educadas. 
Quando se examinam os fatos tais como eles são e como sempre foram, salta aos 
olhos que toda educação consiste em um esforço contínuo para impor à criança 
maneiras de ver, sentir e agir às quais ela não chegaria espontaneamente. Desde 
os primeiros tempos de sua vida, coagimo-la a que coma, beba, durma em horas 
regulares; forçamo-la à limpeza, à calma e à obediência; mais tarde a obrigamos 
a aprender a considerar o outro, a respeitar os costumes, as conveniências; 
forçamo-la ao trabalho etc. Se essa coerção, com o tempo, deixa de ser sentida, é 
porque pouco a pouco deu origem a hábitos, a tendências internas que a tornam 
inútil, mas que só a substituem porque dela derivam. É certo que, de acordo com 
Spencer, uma educação racional deveria reprovar tais procedimentos e deixar 
a criança agir com toda a liberdade; mas como essa teoria pedagógica jamais 
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM: TEORIA E MÉTODO
69
foi posta em prática por nenhum povo conhecido, ela não constitui senão um 
desideratum pessoal, e não um fato que se possa opor aos precedentes. Ora, esses 
últimos tornam-se particularmente instrutivos quando se tem em mente que a 
educação tem justamente por objeto formar o ser social; pode-se, assim, perceber, 
resumidamente, de que maneira esse ser social constituiu-se na história. Essa 
pressão que a criança sofre a todo o momento é a própria pressão do meio social 
que tende a moldá-la à sua imagem, e do qual, pais e mestres são apenas os 
representantes e os intermediários.
Portanto, não é a sua generalidade que pode servir para caracterizar 
os fenômenos sociológicos. Um pensamento que se encontra em todas as 
consciências particulares, um movimento que todos os indivíduos repetem 
não são por isso fatos sociais. Quem se contentou com esse traço para defini-
los, confundiu-oserroneamente com o que se poderia chamar de encarnações 
individuais. O que os constitui são as crenças, as tendências, as práticas de 
um grupo tomadas coletivamente; quanto às formas de que se revestem os 
estados coletivos, refratados nos indivíduos, são coisas de outra espécie. O que 
demonstra categoricamente essa dualidade de natureza é que essas duas ordens 
de fatos apresentam-se frequentemente dissociadas. Com efeito, algumas 
dessas maneiras de agir ou de pensar adquirem, pela repetição, uma espécie 
de consistência que as precipita, por assim dizer, e as isola dos acontecimentos 
particulares que as refletem. Elas ganham, assim, um corpo, uma forma sensível 
que lhes é própria, constituindo uma realidade sui generis, muito distinta da 
dos fatos individuais que a manifestam. O hábito coletivo não existe apenas 
em estado de imanência nos atos sucessivos que ele determina, mas, por um 
privilégio que não encontra exemplo no reino biológico, exprime-se de uma vez 
por todas em uma fórmula que se repete de boca em boca, que se transmite pela 
educação, que se fixa até mesmo por escrito. Tais são a origem e a natureza das 
regras jurídicas, morais, dos aforismos e dos ditados populares, dos artigos de fé 
em que as seitas religiosas ou políticas condensam as suas crenças, dos códigos 
de gosto que as escolas literárias regulam etc. Nenhuma delas é inteiramente 
encontrada nas aplicações que os particulares fazem, pois podem até mesmo 
existir sem que sejam atualmente aplicadas.
Certamente essa dissociação não se apresenta sempre com a mesma 
nitidez. Mas basta que ela exista de maneira incontestável nos casos importantes 
e numerosos que acabamos de citar para provar que o fato social distingue-
se de suas repercussões individuais. Aliás, ainda quando essa dissociação não 
se dá imediatamente à observação, pode-se com frequência realizá-la com a 
ajuda de certos artifícios de método; é mesmo indispensável recorrer a essa 
operação, caso se queira isolar o fato social de toda contaminação para observá-
lo em estado puro. Assim, há certas correntes de opinião que nos impelem, com 
intensidade variável, segundo o tempo e conforme os países, uma ao casamento, 
por exemplo, outra ao suicídio ou a uma natalidade mais ou menos intensa 
etc. Trata-se evidentemente de fatos sociais. À primeira vista, eles parecem 
inseparáveis das formas que assumem nos casos particulares. Mas a estatística 
nos fornece o meio de isolá-los. São, com efeito, figurados, não desprovidos de 
70
UNIDADE 1 | O FUNCIONALISMO DE ÉMILE DURKHEIM
exatidão, pelas taxas de natalidade, de nupcialidade, de suicídios, quer dizer, 
por um número que se obtém dividindo a média total anual dos casamentos, 
dos nascimentos e das mortes voluntárias pelo número de homens em idade de 
se casar, procriar, de se suicidar. Como cada uma dessas cifras abrange todos os 
casos particulares indistintamente, as circunstâncias individuais que podem ter 
alguma participação na produção do fenômeno se neutralizam mutuamente e, 
em decorrência, não contribuem para determiná-lo. O que essa cifra exprime é 
certo estado de alma coletivo.
Esses são os fenômenos sociais, desembaraçados de todo elemento 
estranho. Quanto a suas manifestações privadas, têm realmente algo de social, já 
que reproduzem parcialmente um modelo coletivo; mas cada uma delas depende 
também, e em larga medida, da constituição orgânico-psíquica do indivíduo, das 
circunstâncias particulares em que ele se situa. Não são, portanto, fenômenos 
propriamente sociológicos. Pertencem, de maneira simultânea, a dois reinos; 
poderiam ser chamadas de sociopsíquicas. Elas interessam ao sociólogo sem 
que constituam a matéria imediata da sociologia. Analogamente, no interior do 
organismo encontram-se fenômenos de natureza mista que são estudados pelas 
ciências mistas, como a química biológica.
Mas, dir-se-á, um fenômeno somente pode ser coletivo se for comum 
a todos os membros da sociedade ou, ao menos, à maior parte deles; se for, 
portanto, geral. Sem dúvida. Mas se ele é geral é porque é coletivo (isto é, mais 
ou menos obrigatório), longe de ser coletivo por ser geral. Trata-se de um estado 
do grupo que se repete entre os indivíduos porque se impõe a eles. Ele está em 
cada parte porque está no todo, longe de estar no todo por estar nas partes. Isso 
fica, sobretudo, evidente nas crenças e nas práticas que nos são transmitidas 
completamente prontas pelas gerações anteriores; nós as recebemos e as adotamos 
porque, sendo simultaneamente uma obra coletiva e uma obra secular, estão 
investidas de uma autoridade particular que a educação nos ensina a reconhecer 
e a respeitar. Ora, é notável como a maioria dos fenômenos sociais nos chega 
por essa via. No entanto, ainda que o fato social seja em parte devido à nossa 
colaboração, a sua natureza não é outra. Um sentimento coletivo que irrompe 
numa assembleia não exprime simplesmente o que possuía de comum com todos 
os outros sentimentos individuais. Ele é algo totalmente distinto, como já vimos. 
Resulta da vida comum, produto das ações e reações que se estabelecem entre 
as consciências individuais; e, se esse sentimento ressoa em cada uma delas, é 
graças à energia especial que se deve precisamente à sua origem coletiva. Se todos 
os corações vibram em uníssono, não é em consequência de uma espontânea 
concordância preestabelecida; é que uma mesma força os move numa mesma 
direção. Cada um é levado por todos.
[...]
FONTE: MUSSE, R. Émile Durkheim: fato social e divisão do trabalho. São Paulo: Ática, 2007. 
p. 14–23.
71
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que: 
• Para analisar o suicídio, Durkheim o trata como fato social, aplicando seu 
método sociológico e uma pesquisa com dados empíricos.
• Ele classifica o suicídio em três tipos: suicídio egoísta, suicídio altruísta e 
suicídio anômico.
• Suas análises levam à conclusão da importância da moralidade como fator de 
integração social, já que o utilitarismo das funções exercidas na divisão social 
do trabalho leva ao desentendimento do todo e às relações anômicas.
• Na divisão do trabalho social, a corporação ou o grupo profissional faria o papel 
de regulamentador que a moral coletiva não estava conseguindo cumprir.
• O autor buscou entender os princípios das religiões primitivas, mais diretamente 
a partir do totemismo encontrado em diferentes grupos australianos.
• Ao analisar as religiões, este autor nota que estas são compostas pela divisão 
da sociedade em duas esferas: o profano e o sagrado.
• Segundo ele, a ciência e demais formas de pensamento moderno possuem 
origem na religião (pois são a primeira forma de representação do mundo), 
portanto, parte para o estudo de suas origens sociais.
• Ele reconhece a existência de dois seres que convivem nos seres humanos: o ser 
individual e o ser social.
• O conjunto das ideias, valores, representações que possuem natureza própria 
nas instituições educacionais e independem dos indivíduos que as frequentam 
naquele momento, permitem observar a educação como fato social.
72
1 É no estudo sobre o suicídio como fenômeno social que se pode observar 
a aplicação de um método sociológico durkheimiano. Sobre as três 
classificações apresentadas por Durkheim para o suicídio, associe os itens, 
utilizando o código a seguir:
I- Suicídio egoísta.
II- Suicídio altruísta.
III- Suicídio anômico.
( ) Ocorre em função da ausência de normas que guiem a vida individual.
( ) Ocorre por fins sociais, pela integração demasiada do indivíduo em seu 
grupo social.
( ) Ocorre pela falta de integração do indivíduo aos grupos da sociedade.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) I - II - III.
b) ( ) I - III - II.
c) ( ) III - II - I. 
d) ( ) II - I - III.
2 Duas instituições sociais, estudadas com aprofundamento por Durkheim, 
foram a educação e a religião. Sobre ambas, analise as seguintes sentenças:
I- A educação pode, para Durkheim, ser observada como fato social porque 
suaexistência independe dos indivíduos que a compõem em um determinado 
momento.
II- A educação e a moralidade possuem uma relação direta na obra de 
Durkheim, pois, para ele, a educação possui finalidades de educação moral.
III- As religiões são, para Durkheim, fruto de uma ordem social guiada pelo 
divino, que determina as influências do indivíduo na esfera social.
IV- As análises sobre a religião contribuíram para Durkheim pensar em uma 
teoria sociológica do conhecimento.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas.
d) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
AUTOATIVIDADE
73
UNIDADE 2
O MATERIALISMO HISTÓRICO-
DIALÉTICO DE KARL MARX
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• situar as características e os principais aspectos das bases teóricas e 
metodológicas do pensamento sociológico de Karl Marx;
• examinar as principais contribuições da teoria do materialismo-dialético 
de Marx para a teoria sociológica clássica;
• sistematizar os conceitos principais da teoria sociológica de Marx;
• analisar os desdobramentos da teoria sociológica de Marx para a sociologia 
com base em temas cuja sua influência nas formas de análise persiste nas 
interpretações contemporâneas.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 - A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
TÓPICO 2 - CONTRIBUIÇÕES DO MATERIALISMO HISTÓRICO-
 DIALÉTICO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
TÓPICO 3 - OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE KARL MARX
74
75
TÓPICO 1
A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA 
E MÉTODO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Este primeiro tópico irá apresentar as obras, teorias e métodos de análise 
desenvolvidos por Karl Marx, mais um dos autores clássicos da Sociologia. 
Assim como Durkheim, ele também possui uma vasta obra, que será iniciada 
neste livro didático, cujo aprofundamento irá depender de suas leituras e buscas 
complementares. Neste sentido, temos uma série de obras sugeridas para que 
você, acadêmico, conheça melhor os trabalhos do autor.
Para iniciar, conheceremos o contexto de vida do autor e as influências 
sofridas para o desenvolvimento do materialismo dialético e materialismo 
histórico — Hegel e Feuerbach. Entendidas as bases de suas teorias, seguiremos 
para o método de análise, buscando compreender como o olhar sobre o modo 
de produção dos grupos sociais é determinante para a sociologia desenvolvida 
a partir de Marx. Fechando o tópico, o foco será direcionado para o modelo 
capitalista, principal direcionamento de análise do autor.
Esta trajetória inicial servirá como base para o entendimento dos conceitos 
marcados na obra marxiana, que serão estudados no segundo tópico desta 
unidade. Portanto, concentre-se em compreender os principais elementos da 
teoria e do método de análise social estabelecidos a partir de Marx. Boa leitura!
2 VIDA E OBRA
Para iniciarmos nossos estudos sobre Marx, vamos contextualizar sua 
vida:
Karl Marx (1818–1883) foi um filósofo e revolucionário socialista 
alemão. Criou as bases da doutrina comunista, onde criticou o 
capitalismo. Sua filosofia exerceu influência em várias áreas do 
conhecimento, tais como Sociologia, Política, Direito e Economia.
Karl Heinrich Marx nasceu em Trier, Renânia, província ao sul da 
Prússia - um dos muitos reinos em que a Alemanha estava fragmentada, 
no dia 5 de maio de 1818. Filho de Herschel Marx, advogado e 
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
76
conselheiro da justiça, descendente de judeu, era perseguido pelo 
governo absolutista de Guilherme III. Em 1835, depois de concluir 
seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm, Karl ingressou no curso de 
Direito da Universidade de Bonn, onde participou das lutas políticas 
estudantis.
No final de 1836, Karl Marx se transferiu para a Universidade de 
Berlim para estudar Filosofia. Nessa época, se propagavam as ideias 
de Hegel, destacado filósofo e idealista alemão. Marx se alinha com os 
"hegelianos de esquerda", que procuram analisar as questões sociais 
fundamentados na necessidade de transformações na burguesia da 
Alemanha. Entre 1838 e 1840, Karl Marx se dedica a elaborar sua tese. 
Doutorou-se em Filosofia em 1841, na Universidade de Jena, com a 
tese A Diferença Entre a Filosofia da Natureza de Demócrito e a de Epicuro.
Por motivos políticos, Karl Marx não consegue a nomeação para 
lecionar na universidade, que não aceita mestres que seguem as ideias 
de Hegel. Com a recusa, Marx passa a escrever artigos para os Anais 
Alemães, de seu amigo Arnold Ruge, mas a censura impede sua 
publicação. Em outubro de 1842, muda-se para Colônia, e assume a 
direção do jornal Gazeta Renana, onde conhece Friedrich Engels, mas 
logo após a publicação do artigo sobre o absolutismo russo, o governo 
fecha o jornal.
Em julho de 1843, Marx casa-se com Jenny, irmã de seu amigo Edgard 
von Westphalen. O casal muda-se para Paris, onde Marx junto com 
Ruge funda a revista Anais Franco-Alemãs, e publica os artigos de 
Friedrich Engels. Publica também Introdução à Crítica da Filosofia do 
Direito de Hegel e Sobre a Questão Judaica. Nessa época, ingressa numa 
sociedade secreta.
Em fins de 1844, Marx começa a escrever para o Vornaerts, em Paris. 
As opiniões desagradam o governo de Frederico Guilherme V, 
imperador da Prússia, que pressiona o governo francês a expulsar os 
colaboradores da publicação, entre eles Marx e Engels. Em fevereiro 
de 1845, é obrigado a sair da França e segue para a Bélgica.
Karl Marx dedica-se a escrever teses sobre o socialismo e mantém 
contato com o movimento operário europeu. Funda a Sociedade dos 
Trabalhadores Alemães. Junto com Engels, adquirem um semanário e 
se integram à Liga dos Justos, entidade secreta de operários alemães, 
com filiais por toda a Europa.
No Segundo Congresso da Liga dos Justos, Marx e Engels são 
solicitados para redigir um manifesto. No dia 21 de fevereiro de 1848, 
com base no trabalho de Engels, Os Princípios do Comunismo, Marx 
escreve o Manifesto Comunista, onde esboça suas principais ideias 
com a luta de classes e o materialismo histórico. Critica o capitalismo, 
expõe a história do movimento operário, e termina com um apelo pela 
união dos operários no mundo todo. Pouco tempo depois, Karl e sua 
mulher são presos e expulsos da Bélgica e se instalam em Londres. 
Apesar da crise, em 1864, Marx funda a Associação Internacional dos 
Trabalhadores, que fica conhecida como “Primeira Internacional". 
Com a ajuda de Engels, publica em 1867 o primeiro volume de sua 
mais importante obra, O Capital, em que sintetiza suas críticas à 
economia capitalista.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
77
A principal obra de Karl Marx é O Capital, nele, Marx faz uma 
análise crítica ao capitalismo. Sintetiza o modo de funcionamento da 
economia capitalista, mostrando que ela está baseada na exploração 
do trabalhador assalariado, que produz um excedente que acaba 
ficando para o capitalista. Segundo as teorias desenvolvidas por Karl 
Marx, o excedente deveria voltar para o trabalhador, na forma de 
salário, numa porcentagem do valor equivalente ao que foi produzido, 
e a outra parte ficaria com o dono dos meios de produção. Essa seria 
então o que Marx chamou de “mais-valia”. Com a ajuda de Engels, o 
primeiro volume foi publicado em 1867.
Karl Marx faleceu em Londres, Inglaterra, no dia 14 de março de 1883 
(FRAZÃO, 2018, s.p.)
FIGURA 1 – KARL MARX
FONTE: <http://fpaladini.blogspot.com/2014/05/por-que-voce-deveria-respeitar-karl-marx.
html>. Acesso em: 1 dez. 2018.
DICAS
Uma excelente síntese sobre a vida de Marx e alguns 
textos fundamentais do autor estão em Marx: Sociologia. 
Organizada por Florestan Fernandes, publicada em várias 
ediçõespela Editora Ática. Além disso, este texto também 
apresenta diretrizes gerais da concepção sociológica e da 
posição metodológica do autor. 
FONTE:<https://http2.mlstatic.com/marx-sociologia-
florestan-fernandes-e-octavio-ianni-D_NQ_NP_796711-
MLB20609408951_022016-O.webp>. Acesso em: 14 fev. 2019.
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
78
Historicamente situados, vamos iniciar nossos estudos sobre as principais 
obras, teorias e conceitos de Karl Marx. Boa leitura!
3 MATERIALISMO DIALÉTICO
Antes de acessarmos a principal herança de Marx, e o que podemos 
chamar de seu método de explicação da sociedade, precisamos separar dois itens 
e compreendê-los individualmente: um é o materialismo dialético, entendido 
como sua teoria filosófica, e outro o materialismo histórico, entendido como um 
método de estudo para a vida social. Ambos influenciaram o desenvolvimento 
do materialismo histórico-dialético, que estudaremos no próximo tópico desta 
unidade. Por ora, vamos estudar estas duas partes separadamente, prossigamos!
Para entender o pensamento filosófico de Marx e o funcionamento 
da dialética em seu pensamento, iremos acompanhar principalmente o 
desenvolvimento lógico realizado por Sell (2002), em seus escritos sobre Marx 
no livro Sociologia Clássica. Ele explica o materialismo dialético a partir de três 
momentos: a influência dos autores Hegel e Feuerbach; a superação de Marx 
em relação à obra destes autores; e por último, a participação do materialismo 
dialético na reformulação epistemológica da sociologia.
Vamos iniciar pelo entendimento das influências de Hegel, cuja principal 
é o uso do método dialético. 
Marx explica que mantém uma atitude crítica com relação à dialética 
hegeliana, com sua famosa frase de que a dialética em Hegel está de “cabeça 
para baixo”. Desta maneira, ele afirma ser necessário manter a dialética como 
método, mas realizar modificações no que diz respeito ao conteúdo previsto por 
Hegel. Em termos descritivos, Hegel propõe um idealismo dialético, enquanto 
Marx propõe um materialismo dialético.
Para Hegel, a história deveria ser compreendida como movimento, 
diferenciando-se da metafísica, onde a realidade possui uma essência que a define. 
As modificações no mundo, nas coisas, ocorreriam — mas a essência de tudo 
seria e permaneceria a mesma — do ponto de vista da metafísica. Quando Hegel 
apresenta a dialética, ele defende que a realidade é composta por um constante 
movimento, e não por uma essência imutável.
Portanto, aí se dá a principal inovação do pensamento hegeliano, 
diferenciando-se do pensamento metafísico: se para o método metafísico a 
essência das coisas não se modifica, no método dialético entende-se a realidade 
como um movimento constante (SELL, 2002).
Sendo assim, cabe descobrir o que seria a razão ou causa deste movimento 
constante, desta constante transformação, que para Hegel é a contradição. Todo 
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
79
ser é contraditório, ou seja, já contém em si a sua negação. Este é o chamado 
princípio da contradição. “Para Hegel, o princípio de que todos os seres são 
contraditórios é uma lei que governa toda a realidade. É o fato de que todo ser 
é contraditório que explica a causa do movimento ou do devir contínuo” (SELL, 
2002, p. 153).
DICAS
Quer conhecer um pouco mais sobre Hegel e entender seu 
importante legado filosófico? Uma de suas obras mais famosas 
é A Fenomenologia do Espírito, publicada no Brasil pela Editora 
Vozes, em diferentes edições.
FONTE:<ht tps : / / resenhasdef i losof ia . f i les .wordpress .
com/2014/09/fenomenologiadoespirito.jpg>.Acesso em: 14 
fev. 2019.
Confuso? Para detalhar, e explicar melhor o exemplo do diálogo que 
Sell utiliza, pela sua aproximação com a o processo dialético. No diálogo o 
pensamento se forma pela troca de afirmações, a ação ou contradição da ideia 
afirmada anteriormente é que gera o movimento, ou pensamento. Assim ocorre 
um diálogo, ele necessita da contradição de ideias para existir. Vejamos como 
Sell explica:
O exemplo do diálogo nos ajuda a esclarecer duas coisas. Em primeiro 
lugar, ele nos mostra a ideia de movimento, de devir ou ainda de 
transformação. Ao trocarmos ideias com outras pessoas, nossos 
pensamentos vão se alterando e as ideias de nosso interlocutor 
também. De pensamento em pensamento, ou de ideia em ideia, o 
que temos no diálogo é movimento constante. Em segundo lugar, fica 
fácil perceber que este movimento de ideias é causado pela oposição 
ou contradição das ideias entre si. Se não houvesse um confronto 
de ideias, certamente não teríamos o movimento. A oposição ou 
contradição de ideias é que gera o movimento. São justamente estes 
dois aspectos que formam a essência da dialética em Hegel. Segundo 
o autor (i) a realidade é uma contínua transformação (II) cuja causa ou 
razão é o princípio da contradição, ou seja, o fato de que todos os seres 
são contraditórios (SELL, 2002, p. 154).
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
80
FIGURA 2 – EXEMPLO SATIRIZADO DE DIALÉTICA
FONTE: <http://karlmarxicf.blogspot.com/>. Acesso em: 5 nov. 2018.
É importante frisar que o princípio para Hegel é a contradição inerente a 
todos os seres, ou seja, a negação que cada um possui em si. No exemplo anterior, 
isso está explícito quando se nota que ao afirmar uma ideia o indivíduo está se 
opondo a outra, sempre. A negação está intrínseca, é nisso que você precisa se 
concentrar para entender as ideias de Hegel: a afirmação de uma ideia gera a 
negação de outra, ou seja, cada ser ou ideia existente possui em si a contradição 
a outra ou outras.
Chegamos então ao seguinte esquema, que os intérpretes de Hegel 
desenvolveram para esclarecer seu idealismo dialético (SELL, 2002, p. 155): 
Tese  Antítese  Síntese/Tese  Antítese  Síntese/Tese
Esta seria, portanto, a dinâmica fundamental dos seres: tese – afirmação; 
antítese – negação; síntese – negação da negação. A contradição precisa ser 
superada pela síntese, portanto, que pode ser chamada de unidade dos contrários. 
As sínteses serão novas teses e, assim, segue o movimento.
Desta maneira, a realidade seria marcada pelo movimento, a história 
seria sempre movimento, gerado pela contradição existente em si. O início da 
história seria a ideia, o elemento fundante. Confuso? Sell detalha bem esta parte 
do pensamento de Hegel, veja:
De acordo com Hegel, seguindo a lei da contradição, o pensamento 
aliena-se (sai de si mesmo) e torna-se o seu contrário: a matéria. Temos, 
assim, a segunda fase da história. Finalmente, no terceiro momento da 
história, a matéria supera a negação do espírito e torna-se “cultura”, 
que é justamente uma síntese, ou seja, a superação das contradições 
entre o pensamento e a matéria (SELL, 2002, p. 154). 
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
81
O que Marx entendia que precisava ser modificado no pensamento de 
Hegel era justamente a posição do pensamento nesta forma de pensar. Para ele, 
a causa, o fundamento de tudo é a matéria, o elemento material. É a matéria 
que provoca o movimento da história, e todo o processo de pensamento e de 
construção das ideias surge a partir disso.
IMPORTANT
E
Você percebeu que de certa maneira Marx inverte o idealismo de Hegel? Se para 
Hegel o movimento parte da ideia, do pensamento, para então desenvolver a matéria e gerar 
história, para Marx esta ordem é invertida. Parte-se do mundo material para o pensamento 
e a ideia, e é esse mundo material que faz movimentar a história. Você irá perceber que os 
autores que tratam sobre este tema, nas obras, se referem sempre desta maneira: à inversão 
que Marx faz do idealismo dialético e de Hegel. Agora você já sabe do que se trata!
Agora passemos ao segundo conjunto de ideias que influenciou o 
materialismo dialético de Marx, provenientes do autor Feuerbach. A influência 
de Feuerbach se dá especialmente na noção de alienação, conceito muito presente 
nas obras de Marx e que terá umaseção especial nesta unidade. Por hora, cabe 
entender a alienação na perspectiva de Feuerbach. 
Este autor fazia parte da chamada esquerda hegeliana, um conjunto de 
autores que estudava o pensamento de Hegel de uma forma crítica. Marx também 
fazia parte deste grupo. De toda a obra de Hegel, Feuerbach se debruçou mais 
sobre o estudo acerca da religião, que segundo ele seria uma forma de alienação 
dos seres humanos.
Feuerbach também coloca o materialismo como início das coisas, 
especialmente da religião. Para ele é o ser humano quem cria a ideia do divino, 
e o coloca como um ser criado à imagem e semelhança do homem. Ou seja, ele 
inverte a lógica religiosa, que indica o ser humano como imagem e semelhança 
de Deus, que criou a humanidade. A tirinha a seguir explica esta ideia (Figura 3).
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
82
FIGURA 3 – CHARGE SATIRIZANDO O PENSAMENTO DE FEUERBACH
FONTE: <http://old.operamundi.com.br/conteudo/samuel/39073/
galeria+de+imagens+as+charges+em+portugues+de+charb+editor+do+charlie+hebdo
morto+no+ataque+em+paris.shtml>. Acesso em: 5 nov. 2018.
Vejamos como chegamos a esta inversão sobre o fenômeno religioso na 
alienação:
De acordo com a explicação de Feuerbach, a religião é uma projeção 
dos desejos do homem. A ideia de que Deus é um ser perfeito e 
absoluto foi inventada pelo homem porque representa tudo aquilo que 
o homem gostaria de ser. Deus nada mais é do que o homem perfeito, 
um “super-homem”. Deus, portanto, é a própria essência humana. 
Mas, em vez de reconhecer que a essência está nele mesmo, o homem 
a coloca fora dele, em um ser espiritual que ele mesmo projetou. 
Alienação, portanto, é justamente quando o homem não perceber as 
coisas como elas são. O homem está alienado quando não percebe a 
si mesmo, não reconhece a sua própria essência (SELL, 2002, p. 157).
O ponto chave que você precisa registrar é o final desta citação. A alienação 
é o estado no qual o indivíduo não percebe as coisas como elas realmente são, 
quando ele se desconecta de sua essência e não percebe mais seu lugar no mundo, 
seu espaço na ordem social. 
Enquanto Feuerbach refletia sobre esta alienação no quesito religioso, 
desenvolvendo que o próprio ser humano projetava a religião como forma de se 
alienar do mundo acerca do qual ele mesmo era responsável, Marx modificava 
este pensamento. 
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
83
Para Marx a alienação existia, mas ela ocorria em função da alienação 
material, ocorrida pelo sistema capitalista. É a posição do ser humano neste 
modo de produção que o impede de ter noção da realidade e consciência de sua 
essência. Para Marx, o capitalismo aliena o ser humano de sua própria essência, 
que é o trabalho, na medida em que a propriedade privada, fundamento desta 
forma econômica, separa o homem da sua natureza. 
DICAS
Vamos aprofundar nossos estudos sobre a alienação em 
Marx ainda nesta unidade, mas se você quiser conhecer mais 
sobre suas reflexões acerca do pensamento de Feuerbach, a 
obra mais indicada é Teses sobre Feuerbach, possível de ser 
encontrada publicada pela Editora Jorge Zahar no Brasil. 
FONTE:<https://http2.mlstatic.com/S_970347-MLB275776179
45_062018-O.jpg>. Acesso em: 14 fev. 2019
Agora que você já conhece as influências principais para o desenvolvimento 
do materialismo dialético de Marx, podemos compreender como este autor supera 
as contribuições de Hegel e de Feuerbach. Ele entende que a esquerda hegeliana 
errou ao manter suas reflexões apenas no território das ideias, sem pensar as 
condições reais de vida (SELL, 2002). Para Marx, não é apenas o mundo de ideias 
que determina o pensamento humano, e sim as condições de produção material.
Para tanto, Marx elenca cinco pressupostos que, para ele, não podem ser 
deixados de lado quando se pretende interpretar a história, dado que determinam 
a humanidade do ponto de vista das condições cotidianas. A seguir segue a 
descrição destes pressupostos:
O primeiro pressuposto básico da história é que os homens devem 
estar em condições de viver para fazer história. A primeira realidade 
histórica é a produção da vida material. 
O segundo pressuposto é que tão logo a primeira necessidade é 
satisfeita, a ação de satisfazê-la e o instrumento já adquirido para 
essa satisfação criam novas necessidades. E essa produção de 
necessidades novas é o primeiro ato histórico.
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
84
O terceiro pressuposto existente desde o início da evolução histórica 
é a de que os homens, que renovam diariamente sua própria vida, 
se põem a criar outros, a se reproduzirem – é a relação entre homem 
e mulher, pais e filhos – é a família.
Segue-se um quarto pressuposto, de que um modo de produção ou 
um estágio industrial está sempre ligado a um modo de cooperação. 
A massa das forças produtivas determina o estado social.
Finalmente, somente depois de ter examinado os pontos anteriores, 
no quarto pressuposto é que se pode verificar, segundo Marx, “que 
o homem tem consciência”. Para Marx, a consciência nasce da 
necessidade, da existência de intercâmbio com outros homens. A 
consciência é, desde o seu início, um produto social (SELL, 2002, 
p. 161).
Desse modo, Marx defende a determinação da matéria sobre a consciência 
individual, fundando o materialismo dialético. A realidade existe a partir do 
mundo material, e não a partir do pensamento, pois este também é determinado 
pelas condições materiais.
Ao comparar o idealismo ao materialismo, temos:
FIGURA 4 – QUADRO COMPARATIVO
MATERIALISMO DIALÉTICO
TESE Matéria (Natureza)
ANTÍTESE Pensamento (Trabalho)
SÍNTESE Sociedade (História)
IDEALISMO DIALÉTICO
TESE Ideia em si A realidade é pensamento
ANTÍTESE Ideia fora de si A realidade torna-se matéria
SÍNTESE Ideia em si e para si A realidade é pensamento e matéria
FONTE: Sell (2002, p. 162) 
Esta forma de pensar a dialética é determinante para o entendimento de 
como as teorias de Marx influenciam a forma de pensar a ordem social. Para 
além da observação do meio material como determinante para a transformação 
da história, existem outros aspectos primordiais. Analisemos novamente a 
explicação de Sell (2002).
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
85
Agora que já compreendemos as diferenças entre o método dialético 
em Hegel e Marx, vamos refletir sobre a influência do método dialético 
na sociologia marxista. Quais as contribuições que a noção de dialética 
em Marx trouxe para a construção dos fundamentos filosóficos desta 
ciência? Em que medida o método dialético permitiu a Marx entender 
a sociedade? Destaquemos, pois, alguns elementos neste sentido.
Em primeiro lugar, para entender a importância do materialismo 
dialético na sociologia marxista, é importante destacarmos a posição 
central que a interação entre o homem e a natureza adquire nesta teoria. 
Para Marx, o elemento central para se entender o desenvolvimento da 
sociedade é o TRABALHO: a ação do homem sobre a matéria.
De acordo com o esquema dialético de Marx, é pelo trabalho que o 
homem supera sua condição de ser apenas natural e cria uma nova 
realidade: a sociedade. Assim, se a matéria (mundo natural) representa 
a tese, temos que o trabalho representa a antítese da matéria, que 
uma vez modificada pelo homem gera a sociedade, que é a síntese. A 
sociedade é justamente a síntese do eterno processo dialético pelo qual 
o homem atua sobre a natureza e a transforma:
O trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, 
processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, 
regula e controla seu intercâmbio material com a natureza [...]. 
Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo 
tempo modifica sua própria natureza.
A dialética do trabalho tem uma dupla importância para a sociologia. 
O trabalho não só é uma condição indispensável da vida social, mas 
também é o elemento determinante para a formação do ser humano, 
seja como indivíduo,seja como ser social. Sem o trabalho não haveria 
nem ser humano, nem relações sociais, nem sociedade e nem mesmo 
a história. Por tudo isso, pode-se dizer que a categoria trabalho é o 
conceito fundante e determinante de toda construção teórica marxista.
Um segundo aspecto importante do método dialético é que ele permitiu 
à teoria marxista repensar um dos principais dilemas enfrentados 
no campo da epistemologia sociológica: a relação entre indivíduo e 
sociedade. Na teoria marxista, a relação do homem com a sociedade 
não é reduzida a um ou outro dos polos, como faziam as teorias 
anteriores. Ou seja, o homem não é fruto exclusivo da sociedade, nem 
esta resulta apenas da ação humana. Na perspectiva dialética, existe 
uma eterna relação entre indivíduo e sociedade, que faz com que 
tanto a sociedade quanto o homem se modifiquem, desencadeando o 
processo histórico-social.
Marx, em frase que se tornou célebre, enunciou esta ideia de uma 
forma muito feliz, ao afirmar que “os homens fazem a história, mas 
não a fazem como querem. Eles a fazem sob condições herdadas do 
passado”. Nesta frase, Marx deixa muito claro o peso que as estruturas 
sociais exercem sobre os indivíduos, mas, dialeticamente, mostrou que 
os homens partem justamente destas mesmas estruturas para recriá-
las pela sua própria ação (SELL, 2002, p. 161).
Desta maneira, finalizamos o entendimento sobre a importância do modo 
de pensar dialético e materialista para a sociologia, o que reitera a participação 
de Marx no desenvolvimento do pensar sociológico — a tal ponto de tornar-se 
um clássico. Seguiremos agora pelo estudo do materialismo histórico, outra parte 
importante do pensamento deste autor, especialmente para a sociologia.
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
86
4 MATERIALISMO HISTÓRICO
Como vimos, para Marx a história é fruto do movimento gerado a partir do 
trabalho humano, e não do pensamento, das ideias, ou de algum espírito absoluto. 
A interação entre os seres humanos, buscando satisfazer suas necessidades, é 
que desencadearia o processo histórico. É nessa perspectiva que Marx observa e 
investiga a sociedade.
A análise da vida social deve, portanto, ser realizada através de uma 
perspectiva dialética que, além de procurar estabelecer as leis de 
mudança que regem os fenômenos, esteja fundada no estudo dos 
fatos concretos, a fim de expor o movimento do real em seu conjunto. 
Marx afirma que a compreensão positiva das coisas “inclui, ao mesmo 
tempo, o conhecimento de sua negação fatal, de sua destruição 
necessária, porque ao captar o próprio movimento, do qual todas as 
formas acabadas são apenas uma configuração transitória, nada pode 
detê-la, porque em essência é crítica e revolucionária” (BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 28).
Para Marx, a possibilidade de estudo da ordem social inicia quando se 
parte da consciência de que a vida social, política e intelectual é condicionada 
pela produção de vida material — tanto das condições preexistentes ao indivíduo, 
quanto das que ele mesmo criou. Para tanto, “as relações materiais que os homens 
estabelecem e o modo como produzem seus meios de vida formam a base de 
todas as suas relações” (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 28).
DICAS
A ruptura de Marx com a esquerda hegeliana, ou seja, 
suas ideias contrapondo o que este grupo defendia e 
apresentando sua perspectiva materialista, estão descritas 
na, escrita em parceria com Engels (Marx possui algumas 
obras em parceria com ele). No Brasil você pode procurar 
pela edição publicada pela Editora Martin Claret, na coleção 
A obra-prima de cada autor. 
FONTE:<https://d38h3sy5jr28pf.cloudfront.net/capas-
livros/9788572322898-karl-marx-a-ideologia-alema-
feuerbach-a-contraposicao-entre-as-cosmovisoes-
materialista-e-idealista-296407947.jpg>. Acesso em: 14 
fev. 2019.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
87
Os estudos sobre a ordem social, portanto, deveriam iniciar pela economia 
— que condiciona todo o desenvolvimento social. A vida material do homem, 
e a produção desta vida material, seriam o ponto de partida para as análises 
sociológicas. Marx não era sociólogo de formação, no entanto, estabelecendo este 
pressuposto ele desenvolve uma teoria sociológica que o coloca na posição de 
clássico nesta ciência — ao lado de Durkheim e Weber.
A historicidade das instituições, portanto, seria perceptível a partir do 
estudo do modo de produção de um grupo, já que são mutáveis e impactam 
nas relações entre as pessoas — iniciando pelas econômicas, e seguindo para as 
demais (sociais, culturais etc.). Dessa mesma maneira, as representações e ideários 
compartilhados sofrem esta influência, sendo localizados historicamente.
Para ele, tanto os processos ligados à produção são transitórios, como 
as ideias, concepções, gostos, crenças, categorias do conhecimento e 
ideologias, os quais, gerados socialmente, dependem do modo como 
os homens se organizam para produzir. Portanto, o pensamento e a 
consciência são, em última instância, decorrência da relação homem/
natureza, isto é, das relações materiais (BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002, p. 29).
A famosa frase relativa a isso é que os seres humanos precisam estar 
em condições de viver para poder fazer história. Para viver é preciso ter suas 
necessidades satisfeitas: bebida, alimento, abrigo, vestimenta etc. O primeiro fato 
histórico, portanto, a primeira causa, é justamente a produção destes meios — 
a vida material. É a partir deste argumento que ele desenvolve o materialismo 
histórico.
Na medida em que precisa satisfazer sua condição material, o ser humano 
modifica a natureza, criando objetos e artefatos — além do que, a própria forma 
de satisfazer as suas necessidades naturais também difere entre os grupos. A fome 
pode ser resolvida de diferentes formas, com diferentes refeições. A vestimenta 
também, modifica-se a cada grupo. O resultado das maneiras de satisfação 
é passado para as gerações seguintes, como cultura. Torna-se um processo de 
produção e reprodução da vida material. 
“O processo de produção e reprodução da vida através do trabalho é, 
para Marx, a atividade humana básica, a partir da qual se constitui a ‘história 
dos homens’, é para ele que se volta o materialismo histórico, método de 
análise da vida econômica, social, política, intelectual” (BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002, p. 29).
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
88
IMPORTANT
E
Vale ressaltar que não é sobre qualquer modo de produção que Marx fala, ou 
seja, pela produção em si. Ele destaca a produção dos indivíduos em sociedade, este é seu 
foco de análise. Para entender a realidade é preciso, segundo ele, observar a estrutura social 
— que dependerá do estágio de desenvolvimento de suas forças produtivas — e as relações 
sociais de produção correspondentes.
Notou que as forças produtivas aparecem com frequência no estudo 
sobre o materialismo histórico? Quando Marx fala de forças produtivas ele se 
refere às formas pelas quais os indivíduos obtiveram os meios para satisfazer 
suas necessidades, “em que grau desenvolveram sua tecnologia, processos e 
modos de cooperação, a divisão técnica do trabalho, habilidades e conhecimentos 
utilizados na produção, a qualidade dos instrumentos e as matérias-primas de 
que dispõem” (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 30). Trata-se do 
grau de domínio do grupo com relação à natureza.
Outro termo que aparece com frequência é o de relações sociais de 
produção, tratando das formas de distribuição dos meios de produção e do 
produto, e também do tipo de divisão social do trabalho de uma sociedade em 
um dado período histórico. 
Ele expressa o modo como os homens se organizam entre si para 
produzir; que formas existem naquela sociedade de apropriação de 
ferramentas, tecnologia, terra, fontes de matéria-prima e de energia, 
e eventualmente de trabalhadores; quem toma decisões que afetam 
a produção; como a massa do que é produzido é distribuída,qual a 
proporção que se destina a cada grupo, e as diversas maneiras pelas 
quais os membros da sociedade produzem e repartem o produto 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 30).
O modo de produção de uma sociedade está ligado à forma necessária 
de cooperação entre os indivíduos para que este funcione. A própria cooperação 
torna-se uma força produtiva, e ela mesma pode ser utilizada em função de 
interesses particulares. Sendo assim, a distribuição mencionada anteriormente 
pode referir-se ao grupo social, ao produto e aos meios para produzi-lo — 
distinguindo o acesso ao próprio processo produtivo.
Já a divisão social do trabalho aparece, na leitura de Marx, em separações 
como trabalho intelectual e manual, trabalho industrial de trabalho agrícola, 
subdivisão em grupos que dominam algumas tarefas, como controle financeiro, 
ocupações religiosas, políticas, entre outros. Portanto, há posições desiguais que 
contribuem para a divisão em classes da sociedade, desenhando a estrutura social.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
89
Assim sendo, as noções de forças produtivas e de relações sociais 
de produção mostram que tais relações se interligam de modo que 
as mudanças em uma provocam alterações na outra. Em resumo, o 
conceito de forças produtivas refere-se aos instrumentos e habilidades 
que possibilitam o controle das condições naturais para a produção, e 
seu desenvolvimento é em geral cumulativo. O conceito de relações 
sociais de produção trata das diferentes formas de organização da 
produção e distribuição, de posse e tipos de propriedade dos meios 
de produção, bem como e que se constituem no substrato para 
a estruturação das desigualdades expressas na forma de classes 
sociais. O primeiro trata das relações homem/natureza e o segundo 
das relações entre os homens no processo produtivo (BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 30).
Essa é a base, portanto, de análise social de Marx. A partir da 
necessidade de produzir sua própria existência, os seres humanos adentram 
relações independentes de sua vontade, mas necessárias para que possam 
participar do sistema produtivo — ou seja, desenvolvem relações de produção 
que correspondem a um grau de desenvolvimento de suas forças produtivas 
materiais. E é com base nestas relações que se desenvolve a estrutura econômica 
da sociedade, acima da qual ergue-se o que ele chama de superestrutura, que 
iremos estudar mais à frente na unidade, com detalhes.
DICAS
Um resumo das análises que vimos até aqui, e que discutem 
a chamada teoria sociológica de Marx, pode ser encontrado 
na obra Contribuição à Crítica da Economia Política, Editora 
Expressão Popular. Também há versões disponíveis em domínio 
público na internet.
FONTE:<https://www.expressaopopular.com.br/loja/wp-content/
uploads/2016/09/1475031411_.jpg>. Acesso em: 14 fev. 2019.
A dimensão econômica é, para Marx, a base da sociedade, que ele chama 
de infraestrutura. É sobre esta base que está construída a estrutura ideológica 
da sociedade, o que ele chama de superestrutura. A infraestrutura condiciona 
a superestrutura, e por isso é preciso partir da análise de sua base material 
para compreender como esta condiciona a via ideológica e política da sociedade 
(SELL, 2002).
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
90
Se formos traduzir em uma imagem o princípio de análise da teoria 
sociológica de Marx, vamos ver que ela é bem diferente do que vimos na 
unidade anterior com a imagem sobre a teoria sociológica de Durkheim, já que a 
análise determinante do sociólogo é no aspecto econômico, ou seja, o indivíduo 
é determinado pela classe na qual está posicionado na estrutura das forças de 
produção. Veja:
FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO DA RELAÇÃO INDIVÍDUO X SOCIEDADE PARA MARX
ECONOMIA
(MODO DE PRODUÇÃO)
SOCIEDADE
(CLASSES)
FONTE: A autora (2018)
Temos aí o domínio da dimensão econômica, da forma de produção 
desenvolvida pelo grupo social sobre as classes, das quais fazem parte os 
indivíduos. Portanto, temos uma relação de dominação entre o modo de produção 
e as interpretações individuais, e é sobre isso que versa a próxima seção. Vamos 
entender como se dá esta relação. Prossigamos!
5 ANÁLISE DO MODO DE PRODUÇÃO
Para explicar a dimensão econômica da sociedade, ou infraestrutura, 
como ele chama, Marx analisou as sociedades do ponto de vista da evolução. 
Para este autor, assim como vimos em Durkheim, também existe um percurso 
evolutivo a ser seguido pelos grupos sociais. 
Se em Durkheim as funções do organismo social evoluem para uma 
solidariedade orgânica, para Marx a observação do sociólogo deve ocorrer a partir 
da evolução do modo de produção. Para tanto, ele desenvolveu um esquema de 
evolução da sociedade ocidental, “mostrando como as modificações das forças 
produtivas alteravam as relações de produção (classes sociais) e também produzia 
novas classes dominantes e novas formas de enxergar a realidade (ideologias)” 
(SELL, 2002, p. 172).
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
91
Estas etapas seriam:
• Modo de produção primitivo.
• Modo de produção escravista.
• Modo de produção asiático.
• Modo de produção feudal.
• Modo de produção capitalista.
• Modo de produção comunista.
Sell (2002) apresenta os detalhes de cada uma destas etapas, e iremos nos 
basear em seus escritos para estudá-las.
5.1 MODO DE PRODUÇÃO PRIMITIVO
As sociedades primitivas não possuem Estado, e a chefia dos grupos é 
realizada pelos chefes de família, ou seja, a organização dos grupos é comunitária 
— a partir da distribuição do poder destes chefes. A consciência que prevalece 
é a religião, e os grupos unem-se para enfrentar os desafios da natureza. Neste 
sentido, o modo de produção é baseado na coletividade de posse dos meios de 
produção, já que as áreas de caça e os produtos são propriedades comuns. Como 
exemplo, temos as tribos indígenas existentes no início da colonização no Brasil. 
Segue quadro sistematizando este modo de produção (Figura 6):
FIGURA 6 – MODO DE PRODUÇÃO PRIMITIVO
1. Modo de produção primitivo
Ideologia Religião primitiva
Estado Organização comunitária
Relações de Produção Propriedade coletiva Não há classes sociais
Forças Produtivas Cultivo da terra/Caça/Colheita
Fonte: Sell (2002, p. 173) 
5.2 MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA
Superada a etapa de caça e coleta, instaurada a agricultura, a próxima 
etapa é baseada na produção agrícola, ou seja, possui excedentes econômicos e 
traz consigo o modo de produção escravista. Forma típica de grandes impérios 
como Grécia e Roma, basicamente os escravos são prisioneiros de guerra. A 
divisão da sociedade ocorre gerando duas classes: senhores e escravos; o poder 
político surge (Estados Imperiais), e a religião assume papel ideológico com a 
criação de deuses para que não se questione a ordem social baseada na dominação 
e exploração de classe.
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
92
FIGURA 7 – MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA
2. Modo de produção escravista
Ideologia Religião do Estado
Estado Impérios centralizados (Ex: Roma)
Relações de Produção Senhores x Escravos
Forças Produtivas Cultivo da terra com base na escravidão
3. Modo de produção asiático (Oriente)
Ideologia Religião do Estado
Estado Impérios centralizados (Ex: China)
Relações de Produção Estados x Escravos
Forças Produtivas Propriedade estatal e escravidão
Fonte: Sell (2002, p. 174)
5.3 MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO
O mundo oriental baseia-se, principalmente, neste modo de produção, no 
qual as terras são posse do Estado, e a divisão de classes se dá entre governantes e 
escravos. O Estado é fortemente centralizado e controla a ordem social, a exemplo 
dos grandes impérios como China, Egito e Babilônia. Os governantes possuem 
este poder porque são considerados seres divinos, e a religião é muito forte neste 
modo de produção.
FIGURA 8 – MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO
Fonte: Sell (2002, p. 174)
5.4 MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL
O modo de produção feudal éoriginário da Europa, até o século XV — 
em função da divisão em feudos do continente, gerada pela queda do Império 
Romano. Estas grandes extensões de terra, ou feudos, eram cultivadas pelos 
servos — que eram livres, mas passavam a vida trabalhando para os senhores 
feudais, mantendo seu sustento dessa forma. A administração política do feudo 
é de cada dono, o Estado está enfraquecido, e a unidade feudal é dada pelo 
catolicismo — que apresenta a ordem social como vontade divina: nobreza, clero 
e povo. Novamente, temos a legitimidade da dominação de classe justificada pela 
religião.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
93
FIGURA 9 – MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL
4. Modo de produção feudal
Ideologia Catolicismo
Estado Poder descentralizado (Feudos)
Relações de Produção Senhores x Servos
Forças Produtivas Cultivo da terra/ arrendamento
Fonte: Sell (2002, p. 174)
5.5 MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
A Revolução Industrial modifica as formas produtivas, fazendo surgir 
duas grandes classes: burguesia e proletariado. A burguesia — donos dos meios 
de produção - exerce o poder por meio do Estado Parlamentar e impõe sua visão 
de mundo por meio das artes, ciência, filosofia e religião.
FIGURA 10 – MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
5. Modo de produção capitalista
Ideologia Cultura burguesa (individualismo)
Estado Estado Parlamentar
Relações de Produção Burguesia x proletariado
Forças Produtivas Indústria
Fonte: Sell (2002, p. 175)
5.6 MODO DE PRODUÇÃO COMUNISTA
É neste modo de produção que reside boa parte do esforço de Marx em 
compreender a ordem social, já que para ele o capitalismo enfrentaria uma grande 
crise e seria substituído pelo modo de produção comunista (iremos estudar este 
processo mais adiante, em detalhes). Neste modo de produção não haveria classes 
nem Estado, e a exploração e propriedade privada seriam abolidos. Fechando este 
pensamento, Sell nos apresenta as etapas da vida social que podem ser extraídas 
de Marx:
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
94
FIGURA 11 – ETAPAS DA HISTÓRIA PARA MARX
TESE ANTÍTESE SÍNTESE
Sociedade sem classes Sociedades de classes Sociedade sem classes
- Modo de produção
 primitivo
- Modo de produção escravista
- Modo de produção asiático
- Modo de produção feudal
- Modo de produção capitalista
Comunismo
Fonte: Sell (2002, p. 176)
Esta seria a lógica de evolução identificada por Marx, embora ela não seja 
entendida por ele como um esquema rígido que precisa ser seguido por todas as 
sociedades. Esta análise foi realizada por ele muito mais na tentativa de entender 
o surgimento do capitalismo, pois foi sobre este modelo econômico que ele se 
debruçou em estudos.
Verificando os modos de produção desta perspectiva, conseguimos 
compreender as diferenças entre eles e como o modo capitalista está posicionado, 
sabendo quais são suas características próprias.
5.7 MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
Marx desenvolveu suas análises sobre o capitalismo em uma grande obra, 
um clássico das teorias econômicas: O Capital. São quatro volumes, os três últimos 
editados por Engels a partir dos manuscritos de Marx: 
• Livro I – O processo de produção do Capital (1867).
• Livro II – O processo de circulação do Capital (1885).
• Livro III – O processo global de produção capitalista (1894).
• Livro IV – Teorias da mais-valia (1905–1910).
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
95
DICAS
No Brasil há uma versão da obra O Capital publicada 
recentemente pela Editora Boitempo, o primeiro livro publicado 
em 2013 e os demais volumes em anos seguintes. 
FONTE:<https://www.boitempoeditorial.com.br/resizer/
view/900/900/true/false/119.jpg>. Acesso em: 14 fev. 2019.
A base de análise do sistema capitalista é a mercadoria, que pode ser 
definida tanto pelos produtos quanto pela própria força de trabalho — e possui 
valor de uso e valor de troca. Enquanto valor de uso, satisfaz as necessidades 
humanas, servindo como meio de subsistência ou solucionando as fantasias e 
desejos humanos. Esse valor de uso se efetiva no consumo. Enquanto valor de 
troca, há produtos que se destinam para uso próprio e não se tornam mercadorias 
porque não se destinam para trocas. Sobre o valor de troca, explicando:
Para calcular a valor de troca de uma mercadoria, mede-se a quantidade 
da “substância” que ela contém, o trabalho, embora para isso não se 
leve em conta as diferenças entre habilidades e capacidades de seus 
produtores individualmente e, sim, a força social média, o tempo 
de trabalho socialmente necessário, isto é, “todo trabalho executado 
com grau médio de habilidade e intensidade em condições normais 
relativas ao meio social dado”. Ou seja, o cálculo do valor de troca é 
feito segundo o tempo de trabalho gasto na sua produção, em uma 
sociedade e em um período dados. Distintas mercadorias podem ter 
valores diferentes e, para que seus possíveis consumidores realizem 
entre si os intercâmbios que pretendem, é preciso haver um meio 
de quantificar tais valores, que variam segundo o lugar e a época, a 
disponibilidade de materiais, as técnicas para obtê-las e transformá-
las etc. No momento da permuta, faz-se a abstração da forma concreta 
assumida pela mercadoria (um prato feito ou um ramo de flores) e 
do seu valor de uso, e então “só lhe resta uma qualidade: a de ser 
produto do trabalho [...] uma inversão de força humana de trabalho, 
sem referência à forma particular em que foi invertida” (BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 43).
Há que se considerar, também, que neste sistema ninguém produz tudo 
o que precisa, ou seja, a diversificação da produção gera divisão do trabalho. 
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
96
Os valores de uso são diferenciados, pois as mercadorias estão relacionadas ao 
investimento de trabalho realizado para sua produção. Estes valores podem ser 
materializados em forma de moeda, e são trocados e negociados no mercado.
Portanto, o capitalismo pressupõe a existência do mercado, para negociação 
do capital, no qual também é possível negociar a força de trabalho, que é livre e 
também pode ser negociada. Mas é claro que há regras para o estabelecimento de 
seu valor:
E como se determina o valor da força de trabalho no mercado? 
Através do “valor dos meios de subsistência requeridos para 
produzir, desenvolver, manter e perpetuar a força de trabalho”, ou 
seja, tudo o que é necessário para que o trabalhador se reproduza 
de acordo com suas habilidades, capacitação e nível de vida, o qual 
varia historicamente entre épocas, regiões e ocupações. Isso também 
significa que o produtor reproduz a si mesmo enquanto categoria 
“trabalhador” e à sua família para que, como diz Marx, “essa singular 
raça de possuidores dessa mercadoria se perpetue no mercado”. O 
capital - para quem ela é útil e que compra essa mercadoria - não é 
simplesmente uma soma de meios de produção. Esses, sim, é que 
foram transformados em capital ao serem apropriados pela burguesia. 
O capital, assim como o trabalho assalariado, é uma relação social de 
produção, é uma forma histórica de distribuição das condições de 
produção, resultante de um processo de expropriação e concentração 
da propriedade (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 44).
A ideologia que sustenta o sistema capitalista é a ideologia da igualdade, 
pela qual todos são iguais perante a lei, o mercado, o Estado, como se o salário 
recebido pela sua força de trabalho fosse equivalente — ou seja, uma troca justa. 
Na verdade, há produção de lucros excedentes que permitem aos detentores 
dos modos de produção um acúmulo de capital. Este excedente é a chamada 
mais-valia.
FIGURA 12 – CHARGE SATIRIZANDO A DESIGUALDADE ORIGINADA PELO CAPITALISMO
FONTE: <https://www.cebi.org.br/noticias/hora-de-aceitar-que-o-capitalismo-nao-deu-certo/>. 
Acesso em: 26 nov. 2018.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE KARL MARX: TEORIA E MÉTODO
97
Iremos estudar a mais-valia no próximo tópico, junto a outros conceitos 
fundamentais paraque você compreenda o pensamento de Marx. Eles são a base 
para o entendimento de suas reflexões sobre o sistema capitalista, e também para 
que possamos entender o materialismo histórico-dialético. 
Vamos encerrar com uma sugestão de vídeo e seguimos para o próximo 
tópico, onde estudaremos com mais afinco os conceitos de base das teorias 
marxistas.
DICAS
Para finalizar, veja o vídeo Clássicos da Sociologia: Karl Marx, disponível na 
plataforma Youtube — uma aula produzida pela Universidade Virtual do Estado de São 
Paulo — UNIVESP, sobre Marx. Você poderá acessá-lo em: https://www.youtube.com/
watch?v=2DmlHFtTplA.
98
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Marx desenvolveu o materialismo dialético, entendido como sua teoria 
filosófica, e o materialismo histórico, entendido como um método de estudo 
para a vida social. Ambos influenciaram o desenvolvimento do materialismo 
histórico-dialético.
• Marx é influenciado pelo idealismo dialético de Hegel, para quem a dinâmica 
principal dos seres é tese, antítese, síntese.
• Se para Hegel o movimento parte da ideia, do pensamento, para então 
desenvolver a matéria e gerar história, para Marx esta ordem é invertida. Parte-
se do mundo material para o pensamento e a ideia, e é esse mundo material 
que faz movimentar a história.
• Outra influência veio do pensamento de Feuerbach, que refletia sobre a 
alienação no quesito religioso, desenvolvendo que o próprio ser humano 
projetava a religião como forma de se alienar do mundo acerca do qual ele 
mesmo era responsável.
• Marx modificou este pensamento afirmando que a alienação existia, mas ela 
ocorria em função da alienação material, ocorrida pelo sistema capitalista e a 
partir do trabalho humano.
• Para Marx, a história é fruto do movimento gerado a partir do trabalho 
humano, e não do pensamento, das ideias, ou de algum espírito absoluto. A 
interação entre os seres humanos, buscando satisfazer suas necessidades, é que 
desencadearia o processo histórico.
• Quando Marx fala de forças produtivas, ele se refere às formas pelas quais os 
indivíduos obtiveram os meios para satisfazer suas necessidades.
• As relações sociais de produção tratam das formas de distribuição dos meios 
de produção e do produto, e também do tipo de divisão social do trabalho de 
uma sociedade em um dado período histórico.
• Se em Durkheim as funções do organismo social evoluem para uma 
solidariedade orgânica, para Marx a observação do sociólogo deve ocorrer a 
partir da evolução do modo de produção.
• A base de análise do sistema capitalista é a mercadoria, que pode ser definida 
tanto pelos produtos quanto pela própria força de trabalho — e possui valor de 
uso e valor de troca.
99
AUTOATIVIDADE
1 A teoria sociológica de Marx é marcada pela observação do modo de 
produção como determinante para a organização social. Sobre as principais 
influências sofridas por este autor para o desenvolvimento de seu 
pensamento sociológico, analise as seguintes sentenças:
I- Para Hegel, o movimento parte da ideia, do pensamento, para então 
desenvolver a matéria e gerar história, para Marx esta ordem é invertida. 
II- Para Feuerbach, a alienação do ser humano estava na religião, e para Marx 
estava na alienação material originada pelo sistema capitalista.
III- Marx desenvolve o materialismo dialético, onde a realidade existe a 
partir do mundo material, e não a partir do pensamento, pois este também é 
determinado pelas condições materiais.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
b) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
2 A história é fruto do movimento gerado a partir do trabalho humano, e 
não do pensamento, das ideias, ou de algum espírito absoluto. A interação 
entre os seres humanos, buscando satisfazer suas necessidades, é que 
desencadearia o processo histórico. Estamos falando da teoria sobre:
a) ( ) Materialismo Dialético.
b) ( ) Materialismo Histórico.
c) ( ) Sistema Capitalista.
d) ( ) Luta de Classes.
100
101
TÓPICO 2
CONTRIBUIÇÕES DO MATERIALISMO 
HISTÓRICO-DIALÉTICO PARA A 
COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Passamos no primeiro tópico pelas bases de construção do materialismo 
histórico-dialético, e o quanto ele é uma forma fundamental de compreensão dos 
sistemas econômicos, especialmente do sistema capitalista. 
Neste tópico, o direcionamento se dá para o estudo dos conceitos 
fundamentais da obra de Marx, neste contexto do materialismo histórico-
dialético. Ressalto a importância de que seus estudos sigam além do material do 
caderno, já que a obra de Marx é vasta e são muitos conceitos a serem apreendidos 
e aprofundados.
O recorte se dará nos conceitos de: infraestrutura e superestrutura, 
mercadoria e dinheiro, exploração e mais-valia e alienação. É fundamental 
compreender este conjunto teórico para utilizar da maneira correta os fundamentos 
do materialismo histórico-dialético como modo de compreensão da sociedade. 
Vamos começar? Boa leitura!
2 INFRAESTRUTURA E SUPERESTRUTURA
Sendo simplistas, mas de uma maneira muito didática para que você 
registre a diferença, é possível afirmar em síntese que a infraestrutura é a dimensão 
econômica, enquanto a superestrutura é composta pela vida política e cultural da 
sociedade, ou seja, corresponde à dimensão ideológica.
Para explicar a infraestrutura, vamos compreender a relação do ser 
humano com o trabalho. O trabalho é o elemento central da economia, já que para 
sobreviver os seres humanos produzem bens para satisfazer suas necessidades. 
Sendo assim, por este meio a natureza é transformada e a garantia da reprodução 
da existência humana se perpetua (SELL, 2002).
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
102
Neste processo de trabalho é possível identificar duas dimensões 
fundamentais: a relação do homem com a natureza, e a relação do homem com 
outras pessoas. 
A relação do ser humano com a natureza ocorre pela mediação de 
instrumentos de trabalho e matéria-prima, que são meios de apoio no processo 
de produção. Este conjunto é chamado de forças produtivas, como vimos no 
tópico anterior. São estas forças produtivas, compostas por tudo o que é usado no 
processo de produção, que determinam muitas escolhas do indivíduo — pois já 
estão postas na medida em que ele se insere na sociedade.
Para Marx, o trabalho e a produção não são fenômenos isolados, eles 
ocorrem a partir da relação entre os indivíduos, ou seja, é um fenômeno social. 
Desenvolvem-se, portanto, relações de produção — materializadas na divisão 
do trabalho. Estas relações ocorrem a partir das forças produtivas, já que estas 
irão determinar o posicionamento do indivíduo na classe e em seus grupos 
(SELL, 2002).
IMPORTANT
E
A infraestrutura, portanto, é composta pelas forças produtivas e pelas relações de 
produção — este conjunto é a base econômica de uma sociedade. E como toda sociedade 
organiza seu processo de trabalho, é possível observar estas dimensões nos diferentes grupos. 
Assim, o sociólogo pode compreender as relações entre os indivíduos a partir da análise das 
forças produtivas, pois elas irão determinar o tipo de relação existente entre as pessoas. As 
relações sociais são condicionadas pelas forças produtivas.
Essa base (forças produtivas + relações de produção) formada pela 
infraestrutura é o fundamento para o desenvolvimento das instituições políticas 
e sociais, na medida em que são produzidos também itens que não têm forma 
material: as ideologias políticas, as concepções religiosas, os códigos morais, as 
representações coletivas, e é este conjunto que compõe a superestrutura. 
São os homens que produzem as suas representações, as suas ideias 
etc., mas os homens reais, atuantes, e tais como foram condicionados 
por um determinado desenvolvimento das suas forças produtivas e do 
modo de relações que lhes corresponde, incluindoaté as formas mais 
amplas que estas possam tomar. A consciência nunca pode ser mais 
que o Ser consciente, e o Ser dos homens é o seu processo da vida real... 
Assim, a moral, a religião, a metafísica e qualquer outra ideologia, 
tal como as formas de consciência que lhes correspondem, perdem 
imediatamente toda aparência de autonomia. Não têm história, não 
têm desenvolvimento; serão, antes, os homens que, desenvolvendo 
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
103
a sua produção material e as suas relações materiais, transformam, 
com esta realidade que lhes é própria, o seu pensamento e os produtos 
deste pensamento. Não é a consciência que determina a vida, mas sim 
a vida que determina a consciência (MARX, ENGELS; 1845, s.p.).
A forma das instituições, os sistemas jurídicos, as escolhas políticas, são 
determinados pela organização do processo produtivo, para Marx. Todos fazem 
parte do conjunto da superestrutura, estes itens não materiais ou elementos 
abstratos, que compõem a sociedade.
As classes geradas a partir da posse dos meios de produção dividem 
a sociedade em grupos — frutos das relações estabelecidas a partir do modo 
de produção. A propriedade privada origina os donos, os proprietários, que 
necessitam consolidar seu domínio utilizando a força — gerando assim o Estado.
O Estado é, portanto, instrumento para garantia de dominação econômica 
de uma classe sobre as outras, para Marx. As leis e as determinações estatais seguem 
o interesse das classes dos proprietários (SELL, 2002). Quando estas leis falham, 
o Estado ainda possui a possibilidade do uso estatal da força, especialmente das 
forças armadas — o que garante a manutenção dos privilégios. Esta é a concepção 
de Estado estabelecida por Marx.
Além do Estado, na superestrutura também há a ideologia. Para Marx, 
as ideias disseminadas na sociedade são as ideias de uma classe dominante, ou 
seja, ao assumir o domínio, uma classe privilegiada impõe também sua visão 
de mundo e seus valores. As demais classes assumem esta visão como real e 
não percebem sua exploração, tornando-se alienadas. Definindo, para Marx, “a 
ideologia, portanto, é um conjunto de falsas representações da realidade, que 
servem para legitimar e consolidar o poder das classes dominantes” (SELL, 2002, 
p. 171).
IMPORTANT
E
A superestrutura é composta pelo Estado e pela Ideologia, instrumentos 
de dominação das classes privilegiadas. A superestrutura, portanto, é condicionada pela 
infraestrutura, já que é nesta segunda que se forma a classe que dominará os meios de 
produção e, por consequência, deterá o poder político e ideológico da sociedade.
Para fechar, cabe destacar que há contradições na interpretação destes 
dois conceitos segundo Marx, conforme apresenta a citação:
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
104
De toda maneira, a complexidade da relação estrutura e superestrutura 
continuou levando a interpretações contraditórias do marxismo. As 
chamadas leituras economicistas do pensamento de Marx enfatizam 
o determinismo da vida econômica sobre as formas superestruturais, 
excluindo qualquer possibilidade de que as ideologias, as ciências, a 
arte, as crenças religiosas, as formas de consciência coletiva, tanto de 
classes como de outros modos de associação, sistemas jurídicos ou de 
governo tenham exercido sobre a história de um povo um papel, se 
não determinante, pelo menos com peso semelhante ao da estrutura. 
Tais perspectivas foram com frequência utilizadas com a finalidade de 
impor concepções políticas autoritárias, mesmo que anticapitalistas, 
algumas das quais se propuseram a promover uma “revolução” no 
nível superestrutural de modo a adequá-lo às chamadas “necessidades 
da produção”. Com isso, tradições culturais, valores, crenças e 
costumes sofreram intervenções por parte de interesses políticos 
organizados. Em muitos casos, manifestações artísticas como a poesia, 
a escultura, a pintura e o teatro servem até hoje de testemunho das 
exigências que lhes foram colocadas por vanguardas partidárias 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 35).
Assim como no tópico anterior, ao finalizar o estudo de um conceito do 
autor clássico, vamos nos remeter ao seu próprio escrito. Lembre-se: é fundamental 
interpretar a teoria sociológica direto da fonte, ou seja, direto do próprio autor.
O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu de 
fio condutor aos meus estudos, pode resumir-se assim: na produção 
social da sua vida, os homens contraem determinadas relações 
necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção que 
correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas 
forças produtivas materiais.
O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica 
da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura 
jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de 
consciência social.
O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida 
social, política e espiritual em geral.
Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo 
contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência. Ao chegar 
a uma determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas 
materiais da sociedade se chocam com as relações de produção 
existentes, ou, o que não é senão a sua expressão jurídica, com as 
relações de propriedade dentro das quais se desenvolveram até ali.
De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações 
se convertem em obstáculos a elas. E se abre, assim, uma época de 
revolução social.
Ao mudar a base econômica, revoluciona-se, mais ou menos 
rapidamente, toda a imensa superestrutura erigida sobre ela.
Quando se estudam essas revoluções, é preciso distinguir sempre 
entre as mudanças materiais ocorridas nas condições econômicas de 
produção e que podem ser apreciadas com a exatidão própria das 
ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas 
ou filosóficas, numa palavra, as formas ideológicas em que os homens 
adquirem consciência desse conflito e lutam para resolvê-lo.
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
105
E do mesmo modo que não podemos julgar um indivíduo pelo que 
ele pensa de si mesmo, não podemos tampouco julgar estas épocas 
de revolução pela sua consciência, mas, pelo contrário, é necessário 
explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo 
conflito existente entre as forças produtivas sociais e as relações de 
produção.
Nenhuma formação social desaparece antes que se desenvolvam 
todas as forças produtivas que ela contém, e jamais aparecem relações 
de produção novas e mais altas antes de amadurecerem no seio da 
própria sociedade antiga as condições materiais para a sua existência.
Por isso, a humanidade se propõe sempre apenas os objetivos que pode 
alcançar, pois, bem vistas as coisas, vemos sempre que esses objetivos 
só brotam quando já existem ou, pelo menos, estão em gestação as 
condições materiais para a sua realização.
A grandes traços podemos designar como outras tantas épocas de 
progresso, na formação econômica da sociedade, o modo de produção 
asiático, o antigo, o feudal e o moderno burguês. As relações burguesas 
de produção são a última forma antagônica do processo social de 
produção, antagônica, não no sentido de um antagonismo individual, 
mas de um antagonismo que provém das condições sociais de vida 
dos indivíduos.
As forças produtivas, porém, que se desenvolvem no seio da sociedade 
burguesa criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para a 
solução desse antagonismo.
Com esta formação social se encerra, portanto, a pré-história da 
sociedade humana (MARX, 1859, p. 03).
Entendidos os conceitos de infraestrutura e superestrutura, bem como 
reforçados os conceitos de forças produtivas e relações sociais de produção, 
vamos seguir por duas noções não menos importantes na teoria e obra deMarx: 
Mercadoria e Dinheiro.
3 MERCADORIA, VALOR E DINHEIRO 
Dois conceitos essenciais para a interpretação do capitalismo por Marx foram 
os conceitos de mercadoria e de dinheiro. Este primeiro, para ele, é a base da economia 
capitalista, ou seja, o sistema só existe porque temos mercado, temos mercadoria.
A mercadoria é produzida no sistema capitalista e pode ser a base inicial 
para explicação deste modo de produção, já que suas características ajudam a 
compreender o sistema como um todo e seu funcionamento (SELL, 2002).
Para isso segue-se a lógica que vimos até aqui, do valor de uso e valor de 
troca, enquadradas nas teorias de fundo dialético de Marx sobre a tese, antítese e 
síntese. O valor de uso seria a tese, o valor de troca a antítese, e o valor de uso e o 
valor de troca juntos, a síntese.
Vamos simplificar a partir da explicação de Sell (2002): “O valor de uso de 
uma mercadoria é o seu aspecto material, ou seja, sua capacidade para satisfazer 
uma necessidade humana. O valor de uso, portanto, tem a ver com o ‘conteúdo’ 
da mercadoria” (p. 179).
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
106
Além do valor de uso, cada mercadoria possui seu valor de troca. “O valor 
de troca é a capacidade que cada mercadoria possui para ser trocada por outra 
mercadoria” (SELL, 2002, p. 179).
É nesta troca que começa a aparecer o problema: como é possível medir 
o valor de uma mercadoria, ou seja, como saberei quanto da mercadoria A é 
equivalente ao valor da mercadoria B? É neste ponto que entra na análise de 
Marx a categoria trabalho. Veja que ele é central em todas as análises conceituais 
do autor.
Para explicar esta relação de valores, Marx utiliza a teoria do valor-trabalho 
do autor David Ricardo — e afirma que a grandeza do valor é determinada pela 
quantidade de trabalho socialmente necessária para a produção do valor de uso. A 
quantidade de trabalho também pode ser compreendida pelo tempo de trabalho.
Com isto é possível inferir que o valor de uma mercadoria é definido a 
partir do trabalho que é investido nela, e explica: “Tempo de trabalho socialmente 
necessário é o tempo de trabalho requerido para produzir-se um valor de uso 
qualquer, nas condições de produção socialmente normais, existentes, e com 
o grau social médio de destreza e intensidade do trabalho” (MARX, 1994 apud 
SELL, 2002, p. 170).
Para que a troca de mercadorias seja realizada é necessário que exista 
uma outra mercadoria, que medeia esta situação: o dinheiro. E em sua obra O 
Capital, Marx se lança na busca de entender a origem do dinheiro, a gênese desta 
mediação que explica o sistema capitalista.
Segundo Marx, é possível apresentar a origem do valor de três formas, 
conforme explicação de Sell (2002, p. 180):
a) Forma simples: uma mercadoria (x) pode ser trocada por outra 
mercadoria (y).
b) Forma total: uma mercadoria (x) pode ser trocada por várias outras 
mercadorias (a, b, c, d, e, f etc.).
c) Forma dinheiro: todas as mercadorias (a, b, c, d, e, f etc.) podem ser 
trocadas por uma única mercadoria que serve de “equivalente geral” 
para todas as mercadorias. É neste momento que surge o dinheiro. 
A ação social de todas as outras mercadorias, elege, portanto, uma 
mercadoria determinada para nela representarem seus valores. O 
dinheiro, portanto, serve a dois propósitos: servir de meio de troca 
e de forma de valor (ou equivalente geral das mercadorias). 
A ênfase que Marx procura dar é sobre a relação entre dinheiro e trabalho. 
Ele demonstra que dinheiro é mercadoria, e mercadoria é trabalho. Quando o 
dinheiro perde sua relação direta com o trabalho, ocorre o que Marx chama de 
“fetichismo da mercadoria”: “O capital desvinculado do trabalho aliena o ser 
humano da produção de sua existência social” (SELL, 2002, p. 180).
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
107
IMPORTANT
E
Você certamente já ouviu falar nesta expressão de Marx, fetichismo da mercadoria. 
Ela aparece muito nos estudos atuais sobre consumo, sobre mercado. É importante lembrar 
que este processo aliena o ser humano: o torna objeto nas relações sociais, dependente das 
mercadorias, e a mercadoria se torna sujeito. Nesta situação, não é mais a produção que 
está a serviço do ser humano, e sim o ser humano encontra-se dominado pela produção — 
escravo da mercadoria. De modo geral, portanto, o ser humano aliena-se de sua relação ativa 
na transformação da natureza em mercadoria.
Nesta condição, as relações humanas não são mais observadas como tal, 
são apenas relações baseadas na economia. É como se o olhar das pessoas estivesse 
totalmente dominado pela produção econômica, pelas cifras mercadológicas.
FIGURA 13 – CHARGE SATIRIZANDO O FETICHISMO DA MERCADORIA
FONTE: <https://marxrevisitado.blogspot.com/2012/11/fetichismo-frases-imagem-e-som.html>. 
Acesso em: 26 nov. 2018.
Para finalizar, vamos a um texto esclarecedor sobre isto, que apresenta 
também o conceito de alienação, que estudaremos ainda neste tópico.
O conceito de “fetichismo da mercadoria” foi cunhado por Karl 
Marx (1818-1883) na obra-prima intitulada O Capital [1867], estando 
diretamente ligado a outro conceito, o de “alienação”.
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
108
Palavra alienação vem do Latim alienus, que significa “de fora”, 
“pertencente a outro”. Karl Max, em sua obra Manuscritos econômico-
filosóficos, de 1844, utilizou a palavra “alienação” para designar o 
estranhamento do trabalhador com o produto do seu trabalho, ou seja, 
o trabalhador não mais dominando todas as etapas de fabricação e não 
possuindo os meios de produção para tal, acaba não se reconhecendo 
no produto produzido, passando o produto a não ser visto como ligado 
ao seu trabalho. É como se o produto tivesse surgido independente do 
homem/produtor, como uma espécie de feitiço, daí o termo utilizado 
por Max: fetichismo da mercadoria.
Para Marx (1994, p. 81):
“A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características 
sociais do próprio trabalho dos homens, apresentando-as como 
características materiais e propriedades sociais inerentes aos produtos 
do trabalho; por ocultar, portanto, a relação social entre os trabalhos 
individuais dos produtores e o trabalho social total, ao refleti-la como 
relação social existente, à margem deles, entre os produtos do seu 
próprio trabalho”.
Nesse sentido, o produto perde a relação com o produtor e parece 
ganhar vida própria. Passa a ser compreendido como algo “de fora” 
do trabalhador, ficando esse “alienado” em relação ao produto. 
Assim, o “Fetichismo da Mercadoria” caracteriza-se pelo fato de as 
mercadorias, dentro do sistema capitalista, ocultarem as relações 
sociais de exploração do trabalho.
Segundo Marx (1994, p. 81):
“Uma relação social definida, estabelecida entre os homens, assume 
a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Para encontrar 
um símile, temos que recorrer à região nebulosa da crença. Aí, os 
produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, 
figuras autônomas que mantêm relações entre si e com os seres 
humanos. É o que ocorre com os produtos da mão humana, no mundo 
das mercadorias. Chamo isto de fetichismo […].”
O conceito de fetichismo influenciou diversos estudos posteriores, tais 
como o desenvolvimento da teoria da coisificação, de Georg Lukács 
(BODART, 2016, s.p.).
Para complementar seus conhecimentos sobre estes conceitos, vamos a 
uma dica de leitura e, posteriormente, seguimos para a próxima seção, onde o 
estudo estará concentrado nos conceitos de exploração e mais-valia.
DICAS
Para conhecer melhor o conceito de fetichismo da mercadoria, alienação, e a 
relação de ambos com o trabalho, procure realizar a leitura do artigo disponível no link: http://
www.scielo.br/pdf/rbcpol/n17/0103-3352-rbcpol-17-00007.pdf. A referência é: LIMA, Rômulo 
André. Trabalho, alienação e fetichismo. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n.17, 
p. 7-42, maio – ago. 2015.TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
109
4 EXPLORAÇÃO, MAIS-VALIA E LUCRO 
Conforme vimos, a base do sistema capitalista para Marx é formada 
por dois itens, a mercadoria e o dinheiro. Ambos passam por um processo de 
circulação, que ele alinha como sendo: a mercadoria é trocada por dinheiro, e o 
dinheiro é trocado por mercadoria. Este fluxo ele chama de processo de circulação 
simples.
Este processo de circulação tem início na tentativa de satisfação de uma 
necessidade, que parte de um valor de uso que é vendido. Com o dinheiro deste 
valor de uso adquire-se outro valor de uso, ou seja, satisfaz-se uma necessidade 
(SELL, 2002). O dinheiro, portanto, é um meio de troca neste contexto.
Esta é a lógica da circulação simples, diferente da circulação capitalista, 
que inicia no dinheiro, que é trocado por uma mercadoria, para que gere mais 
dinheiro. O objetivo da circulação capitalista, portanto, é o lucro.
Sell (2002) estabelece as seguintes fórmulas de comparação (M= 
mercadoria, D= dinheiro):
M -------------------- D --------------------- M  circulação simples
D -------------------- M --------------------- + D  circulação capitalista
A particularidade do capitalismo, portanto, é a acumulação e geração de 
lucro. O primeiro dinheiro, o capital, torna-se mais dinheiro — e o objetivo final 
não é mais a satisfação das necessidades, e sim o acúmulo. A mercadoria (valor 
de uso) entra neste ciclo apenas como uma mediação para a obtenção de lucro — 
para valorizar o capital inicial.
Mas então fica a pergunta: se este dinheiro entra e, no processo, torna-se 
mais capital — como isto acontece? De onde surge o lucro?
Sell (2002) nos explica, a partir da teoria de Marx, que o lucro se origina 
no processo de produção: “No primeiro ato da circulação, que é a compra de 
uma mercadoria (D – M), o capitalista interrompe a troca para transformar a 
mercadoria pelo trabalho. Como o trabalho cria valor, no segundo ato da troca 
(M – D), a mercadoria pode ser vendida por um valor maior” (SELL, 2002, p. 182).
Neste ponto da teoria chegamos ao tão polêmico, e conhecido, conceito 
da obra de Karl Marx, e tenho certeza de que você — com seu interesse pela 
sociologia — já ouviu falar sobre ele: a mais-valia.
Em resumo: “Pelo processo de transformação da mercadoria, o capitalista 
contrata um operário e lhe oferece um salário por uma determinada jornada de 
trabalho. De onde vem o lucro? Ora, vem do tempo de trabalho não pago ao 
trabalhador, que é chamado por Marx de mais-valia.” (SELL, 2002, p. 182).
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
110
IMPORTANT
E
A mais-valia é, nas teorias de Marx, o que origina o lucro — é o tempo de trabalho 
não pago ao trabalhador dentro de uma determinada jornada de trabalho.
Ainda nos apropriando de Sell (2002), vejamos seu exemplo para ilustrar 
a mais-valia:
FIGURA 14 – EXEMPLO DO PROCESSO DE OBTENÇÃO DA MAIS-VALIA
FONTE: Sell (2002, p. 183) 
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
111
A impressão inicial passada ao trabalhador é de que a troca da força de 
trabalho por um valor em salário é equivalente, no entanto, o valor produzido no 
tempo de trabalho é superior ao qual ele vende suas capacidades. 
Marx distingue o tempo de trabalho necessário, durante o qual se dá a 
reprodução do trabalhador e no qual gera o equivalente a seu salário, 
do tempo de trabalho excedente, período em que a atividade produtiva 
não cria valor para o trabalhador mas para o proprietário do capital. 
Em função das relações sociais de produção capitalistas, o valor que 
é produzido durante o tempo de trabalho excedente ou não pago é 
apropriado pela burguesia. Parte desse valor extraído gratuitamente 
durante o processo de produção passa a integrar o próprio capital, 
possibilitando a acumulação crescente. O valor que ultrapassa o dos 
fatores consumidos no processo produtivo (meios de produção e força 
de trabalho), e que se acrescenta ao capital empregado inicialmente 
na produção, é a mais-valia (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 
2002, p. 57).
Em suma, aparece aqui outro conceito para estudarmos nesta seção: a 
exploração. Afinal, é a partir da exploração do trabalhador, da extração da mais-
valia que o sistema capitalista se mantém nas suas relações de acumulação. Boa 
parte das polêmicas que envolvem a obra O Capital origina-se destas análises, nas 
quais ele explica e demonstra como a exploração do trabalhador contribui para o 
acúmulo de lucro dos donos dos meios de produção.
Marx ainda diferencia dois tipos de mais-valia (SELL, 2002):
• Mais-valia Absoluta: aumenta-se a jornada de trabalho e, por consequência, 
o tempo de extração da mais-valia. Por isso os capitalistas defendem maiores 
jornadas de trabalho.
• Mais-valia Relativa: aumenta-se a produtividade, o trabalho rendendo mais, o 
lucro originado é maior. Geralmente é obtido pelo aperfeiçoamento tecnológico.
Este processo de exploração, que Marx define como sendo uma das leis 
de funcionamento do sistema capitalista, funciona porque o trabalhador alienado 
não percebe sua condição. O conceito de alienação é o que iremos estudar na 
próxima seção, mas veja como ele se articula com a mais-valia:
Ela se transforma, assim, em uma riqueza que se opõe à classe dos 
trabalhadores. A taxa de mais-valia, a razão entre trabalho excedente e 
trabalho necessário, expressa o grau de exploração da força de trabalho 
pelo capital. O que impede o trabalhador de perceber como se dá 
efetivamente todo esse processo é sua situação alienada. Em síntese, o 
trabalho apropriado pelo capital “é trabalho forçado, ainda que possa 
parecer o resultado de uma convenção contratual livremente aceita” 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 57).
Segundo Marx, esta situação não se manteria por muito tempo, pois ele 
identificou que existe uma contradição nesta lógica, já que o lucro diminuiria na 
medida em que a classe trabalhadora não tivesse mais possibilidade de acessar os 
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
112
bens de consumo. Ele chama esta ideia de Teoria da Crise da Sociedade Capitalista, 
e a próxima unidade irá tratar sobre este tema, que tem relação com a forma como 
Marx propõe seu projeto político.
FIGURA 15 – REPRESENTAÇÃO DA MAIS-VALIA
FONTE: <http://calaabocajornalista.blogspot.com/2011/12/resumiu-teoria-marxista-em-uma-
tirinha.html>. Acesso em: 26 nov. 2018.
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
113
Para finalizar, vamos estudar um exemplo dele sobre a mais-valia:
Suponhamos agora que a quantidade média diária de artigos de 
primeira necessidade imprescindíveis à vida de um operário exija 
seis horas de trabalho médio para a sua produção. Suponhamos, 
além disso, que estas seis horas de trabalho médio se materializem 
numa quantidade de ouro equivalente a 3 xelins. Nestas condições, 
os 3 xelins seriam o preço ou a expressão em dinheiro do valor diário 
da força de trabalho desse homem se trabalhasse seis horas diárias, 
ele produziria diariamente um valor que bastaria para comprar a 
quantidade média de seus artigos diários de primeira necessidade ou 
para se manter como operário.
Mas o nosso homem é um obreiro assalariado. Portanto, precisa 
vender a sua força de trabalho a um capitalista. Se a vende por 3 xelins 
diários, ou por 18 semanais, vende-a pelo seu valor. Vamos supor que 
se trata de um fiandeiro. Trabalhando seis horas por dia, incorporará 
ao algodão, diariamente, um valor de 3 xelins. Este valor diariamente 
incorporado por ele representaria um equivalente exato do salário, ou 
preço de sua força de trabalho, que recebe cada dia. Mas neste caso não 
iria para o capitalista nenhuma mais-valia ou sobreproduto algum. É 
aqui, então, que tropeçamos com a verdadeira dificuldade.
Ao comprar a força de trabalho do operário e ao pagá-la pelo seu 
valor, o capitalista adquire,como qualquer outro comprador, o direito 
de consumir ou usar a mercadoria comprada. A força de trabalho de 
um homem é consumida, ou usada, fazendo-o trabalhar, assim como 
se consome ou se usa uma máquina fazendo-a funcionar. Portanto, 
o capitalista, ao comprar o valor diário, ou semanal, da força de 
trabalho do operário, adquire o direito de servir-se dela ou de fazê-la 
funcionar durante todo o dia ou toda a semana. A jornada de trabalho, 
ou a semana de trabalho, têm naturalmente certos limites, mas a isto 
volveremos, em detalhe, mais adiante.
No momento, quero chamar-vos a atenção para um ponto decisivo.
O valor da força de trabalho se determina pela quantidade de trabalho 
necessário para a sua conservação, ou reprodução, mas o uso desta 
força só é limitado pela energia vital e a força física do operário. O 
valor diário ou semanal da força de trabalho difere completamente do 
funcionamento diário ou semanal desta mesma força de trabalho, são 
duas coisas completamente distintas, como a ração consumida por um 
cavalo e o tempo em que este pode carregar o cavaleiro. A quantidade 
de trabalho que serve de limite ao valor da força de trabalho do operário 
não limita de modo algum a quantidade de trabalho que sua força 
de trabalho pode executar. Tomemos o exemplo do nosso fiandeiro. 
Vimos que, para recompor diariamente a sua força de trabalho, este 
fiandeiro precisava reproduzir um valor diário de 3 xelins, o que 
realizava com um trabalho diário de seis horas. Isto, porém, não lhe 
tira a capacidade de trabalhar 10 ou 12 horas e mais, diariamente. Mas 
o capitalista, ao pagar o valor diário ou semanal da força de trabalho 
do fiandeiro, adquire o direito de usá-la durante todo o dia ou toda a 
semana. Fá-lo-á trabalhar, portanto, digamos, 12 horas diárias, quer 
dizer, além das seis horas necessárias para recompor o seu salário, ou 
o valor de sua força de trabalho, terá de trabalhar outras seis horas, a 
que chamarei horas de sobretrabalho, e este sobretrabalho irá traduzir-
se em uma mais-valia e em um sobreproduto. Se, por exemplo, 
nosso fiandeiro, com o seu trabalho diário de seis horas, acrescenta 
ao algodão um valor de 3 xelins, valor que constitui um equivalente 
exato de seu salário, em 12 horas acrescentará ao algodão um valor 
de 6 xelins e produzirá a correspondente quantidade adicional de fio. 
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
114
E como vendeu sua força de trabalho ao capitalista, todo o valor ou 
todo o produto por ele criado pertence ao capitalista, que é dono de 
sua força de trabalho, por tempore. Por conseguinte, desembolsando 3 
xelins, o capitalista realizará o valor de 6, pois com o desembolso de um 
valor no qual se cristalizam seis horas de trabalho receberá em troca 
um valor no qual estão cristalizadas 12 horas. Se repete, diariamente, 
esta operação, o capitalista desembolsará 3 xelins por dia e embolsará 
6, cuja metade tornará a inverter no pagamento de novos salários, 
enquanto a outra metade formará a mais-valia, pela qual o capitalista 
não paga equivalente algum. Este tipo de intercâmbio entre o capital e 
o trabalho é o que serve de base à produção capitalista, ou ao sistema 
do salariado, e tem que conduzir, sem cessar, à constante reprodução 
do operário como operário e do capitalista como capitalista.
A taxa de mais-valia dependerá, se todas as outras circunstâncias 
permanecerem invariáveis, da proporção existente entre a parte da 
jornada que o operário tem que trabalhar para reproduzir o valor da 
força de trabalho e o sobretempo ou sobretrabalho realizado para o 
capitalista. Dependerá, por isso, da proporção em que a jornada de 
trabalho se prolongue além do tempo durante o qual o operário, com 
o seu trabalho, se limita a reproduzir o valor de sua força de trabalho 
ou a repor o seu salário (MARX, 1865, p. 19).
Para finalizar este tópico, iremos nos aprofundar no conceito de alienação, 
que sustenta todo este processo de exploração da mais-valia. Vamos à última 
seção do tópico? Boa leitura!
5 ALIENAÇÃO
A ideia de alienação surge, para Marx, como um conceito atrelado 
ao trabalho. A alienação de que trata este autor é a alienação sobre o processo 
completo de trabalho, o estranhamento do trabalhador com relação à sua 
produção. O trabalhador conhece suas atividades, suas tarefas, suas obrigações, 
mas não conhece o processo completo que envolve seu trabalho, portanto, é 
alienado com relação a muitos itens. Pense você: em seu trabalho, conhece tudo o 
que envolve a produção nas suas atividades?
Marx destaca três aspectos da alienação (de acordo com BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 50):
1) o trabalhador relaciona-se com o produto do seu trabalho como com 
algo alheio a ele, que o domina e lhe é adverso, e relaciona-se da mesma 
forma com os objetos naturais do mundo externo; o trabalhador é 
alienado em relação às coisas; 
2) a atividade do trabalhador tampouco está sob seu domínio, ele a 
percebe como estranha a si próprio, assim como sua vida pessoal e 
sua energia física e espiritual, sentidas como atividades que não lhe 
pertencem; o trabalhador é alienado em relação a si mesmo; 
3) a vida genérica ou produtiva do ser humano torna-se apenas meio 
de vida para o trabalhador, ou seja, seu trabalho - que é sua atividade 
vital consciente e que o distingue dos animais - deixa de ser livre e 
passa a ser unicamente meio para que sobreviva.
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
115
Ter um trabalho, ser produtivo, acaba se tornando uma obrigação, já que 
este proletário operário não possui meios de produção. A sua única possibilidade 
para adquirir o que é necessário à sobrevivência é vender sua capacidade de 
trabalho, tornar-se assalariado. Este processo reduz o ser humano a uma máquina 
e o mantém envolto em uma atividade abstrata, já que não participa e nem 
conhece todas as etapas. Ou seja, é alienado com relação ao próprio processo do 
qual é parte.
“O trabalhador e suas propriedades humanas só existem para o capital. 
Se ele não tem trabalho, não tem salário, não tem existência. Só existe quando 
se relaciona com o capital e, como este lhe é estranho, a vida do trabalhador é 
também estranha para ele próprio” (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 
2002, p. 50).
O salário é, portanto, o instrumento para que o trabalhador seja mantido 
como instrumento produtivo, já que muitas vezes o próprio trabalho torna-se 
um sacrifício — uma obrigação pela sobrevivência. Neste contexto, são criadas 
necessidades baseadas na posse de dinheiro, obrigando os seres humanos a maiores 
sacrifícios e dependência deste salário, desta condição financeira de assalariado.
Em suma, o operário não se reconhece no produto que criou, em 
condições que escapam a seu arbítrio e às vezes até à sua compreensão, 
nem vê no trabalho qualquer finalidade que não seja a de garantir 
sua sobrevivência. E a própria “força de produção multiplicada que 
nasce por obra da cooperação dos diferentes indivíduos sob a ação da 
divisão do trabalho” aparece aos produtores como um poder alheio, 
sobre o qual não têm controle, não sabem de onde procede e sentem 
como se estivesse situado à margem deles, independentemente de sua 
vontade e de seus atos e que “até mesmo dirige esta vontade e estes 
atos” (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 51).
O crescimento da riqueza gerado pelo trabalho, portanto, se contrapõe 
à humanização do indivíduo que ali está responsável por parte do processo 
produtivo, já que ele trabalha para obter meios de suprir as próprias necessidades 
criadas pelo capital. Além disso, a força de trabalho funciona como uma 
mercadoria no capitalismo: se a oferta é maior que a demanda, uma parte destas 
pessoas fica fora do mercado, e a força de trabalho é desvalorizada.
Do ponto de vista interno, não existe uma participação consciente no 
processo produtivo, o indivíduo apenas atende alienado ao que a organização 
social de seu trabalho exige. 
Todos os meiospara desenvolver a produção transformam-se em 
meios para dominar e explorar o produtor: fazem dele um homem 
truncado, fragmentário, ou o apêndice de uma máquina. Opõem-
se a ele, como outras tantas potências hostis, as forças científicas da 
produção. Substituem o trabalho atrativo por trabalho forçado. Fazem 
com que as condições em que se desenvolve o trabalho sejam cada vez 
mais anormais, e submetem o trabalhador, durante seu serviço, a um 
despotismo tão ilimitado como mesquinho. Convertem toda sua vida 
em tempo de trabalho... (MARX, 1973 apud BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002, p. 53).
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
116
Voltamos aí ao fetichismo da mercadoria, as relações sociais envoltas 
no processo de produção das mercadorias tornam-se ocultas no valor destas 
mercadorias. Os próprios produtores ficam alheios a toda a geração de valor 
ocorrida no processo de transformação dela pelo trabalho. A percepção da vida 
social por detrás deste objeto é nublada, e com isso todas as demais relações 
passam a ser objetificadas, ou seja, expressas em objetos. 
FIGURA 16 – CRÍTICA À ALIENAÇÃO DO TRABALHO
FONTE: <http://www.zonacurva.com.br/tag/alienacao-do-trabalho/>. Acesso em: 26 nov. 2018.
Sell (2002, p. 159) indica quatro formas que Marx apresenta de alienação 
humana, originadas pela existência da propriedade privada, que vão além das 
relações de trabalho, inclusive:
• Alienação do homem do produto do seu próprio trabalho: aquilo 
que o trabalhador produz no capitalismo não pertence a ele. 
Pertence ao proprietário capitalista, ao dono dos meios de produção. 
Portanto, o homem aliena-se, ou seja, perde o controle daquilo que 
ele mesmo produz, quer dizer, do objeto de trabalho.
• Alienação do homem no ato da produção: na economia capitalista, 
o trabalhador também não controla a atividade de produzir. Esta 
capacidade é vendida por ele ao capitalista. Portanto, no processo 
de produção, o trabalhador também aliena sua atividade. Ela não 
lhe pertence e é controlada por outra pessoa.
• Alienação do homem de sua própria espécie: Com isto, Marx estava 
querendo ressaltar que o homem também se achava separado de 
seus semelhantes.
• Alienação do homem de sua própria natureza humana: a principal 
consequência da propriedade privada e do capitalismo é que 
o homem está alienado de si mesmo, ou seja, daquilo que ele 
mesmo é. Isto acontece porque o trabalho – que é o elemento que 
o diferencia das outras espécies – não está mais a seu serviço. As 
coisas inverteram-se. Sob a forma capitalista, o homem tornou-se 
escravo do trabalho.
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
117
Vamos ao texto do próprio Marx:
Examinemos, agora, mais além, como esse conceito de trabalho 
alienado deve expressar-se e revelar-se na realidade. Se o produto 
do trabalho me é estranho e enfrenta-me como uma força estranha, a 
quem pertence ele? Se minha própria atividade não me pertence, mas 
é uma atividade alienada, forçada, a quem ela pertence? A um ser, 
outro que não eu. E que é esse ser? Os deuses? É evidente, nas mais 
primitivas etapas de produção adiantada, por exemplo, construção 
de templos, etc., no Egito, Índia, México, é nos serviços prestados aos 
deuses, que o produto pertencia a estes. Mas os deuses nunca eram por 
si sós os donos do trabalho humano; tampouco o era a natureza. Que 
contradição haveria se quanto mais o homem subjugasse a natureza 
com seu trabalho, e quanto mais as maravilhas dos deuses fossem 
tornadas supérfluas pelas da indústria, ele se abstivesse da sua alegria 
em produzir e de sua fruição dos produtos por amor a esses poderes!
O ser estranho a quem pertencem o trabalho e o produto deste, a 
quem o trabalho é devotado, e para cuja fruição se destina o produto 
do trabalho, só pode ser o próprio homem. Se o produto do trabalho 
não pertence ao trabalhador, mas o enfrenta como uma força estranha, 
isso só pode acontecer porque pertence a um outro homem que não 
o trabalhador. Se sua atividade é para ele um tormento, ela deve ser 
uma fonte de satisfação e prazer para outro. Não os deuses nem a 
natureza, mas só o próprio homem pode ser essa força estranha acima 
dos homens.
Considere-se a afirmação anterior segundo a qual a relação do homem 
consigo mesmo se concretiza e objetiva primariamente através de sua 
relação com outros homens. Se, portanto, ele está relacionado com 
o produto de seu trabalho, seu trabalho objetificado, como com um 
objeto estranho, hostil, poderoso e independente, ele está relacionado 
de tal maneira que um outro homem, estranho, hostil, poderoso e 
independente, é o dono de seu objeto. Se ele está relacionado com sua 
atividade como com uma atividade não livre, então está relacionado 
com ela como uma atividade a serviço e sob jugo, coerção e domínio 
de outro homem.
Toda autoalienação do homem, de si mesmo e da natureza, aparece na 
relação que ele postula entre os outros homens, ele próprio e a natureza. 
Assim a autoalienação religiosa é necessariamente exemplificada 
na relação entre leigos e sacerdotes, ou, já que aqui se trata de uma 
questão do mundo espiritual, entre leigos e um mediador. No mundo 
real da prática, essa autoalienação só pode ser expressa na relação real, 
prática, do homem com seus semelhantes.
O meio através do qual a alienação ocorre é, por si mesmo, um meio 
prático. Graças ao trabalho alienado, por conseguinte, o homem não 
só produz sua relação com o objeto e o processo da produção como 
com homens estranhos e hostis, mas também produz a relação de 
outros homens com a produção e o produto dele, e a relação entre ele 
próprio e os demais homens. Tal como ele cria sua própria produção 
como uma perversão, uma punição, e seu próprio produto como uma 
perda, como um produto que não lhe pertence, assim também cria a 
dominação do não produtor sobre a produção e os produtos desta. Ao 
alienar sua própria atividade, ele outorga ao estranho uma atividade 
que não é deste.
Apreciamos até aqui essa relação somente do lado do trabalhador, e 
posteriormente a apreciaremos também do lado do não trabalhador.
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
118
Assim, graças ao trabalho alienado, o trabalhador cria a relação de 
outro homem que não trabalha e está de fora do processo do trabalho, 
com o seu próprio trabalho. A relação do trabalhador com o trabalho 
também provoca a relação do capitalista (ou como quer que se 
denomine ao dono da mão de obra) com o trabalho. A propriedade 
privada é, portanto, o produto, o resultado inevitável, do trabalho 
alienado, da relação externa do trabalhador com a natureza e consigo 
mesmo.
A propriedade privada, pois, deriva-se da análise do conceito de 
trabalho alienado: isto é, homem alienado, trabalho alienado, vida 
alienada, e homem afastado (MARX, 1844, p. 110).
Finalizando, esta charge resume de maneira fantástica o que é a 
materialização da alienação do trabalho na vida do operário (Figura 17):
FIGURA 17 – CHARGE: ALIENAÇÃO DO TRABALHO
FONTE: <https://resistenciaantisocialismo.wordpress.com/2013/11/01/a-alienacao-do-
trabalho/>. Acesso em: 26 nov. 2018.
Para solucionar o problema de todas as formas de alienação, Marx 
propõe que a direção da produção seja assumida por homens conscientes de suas 
vontades e necessidade, permitindo o retorno de formas transparentes de relação 
entre as pessoas e com o próprio processo produtivo, ou seja, a humanização — e 
para isso propõe o comunismo. Iremos estudar os desdobramentos das teorias de 
Marx na próxima unidade, e esta proposta de humanização é uma delas.
119
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico apresentamos:
• A infraestrutura é a dimensão econômica, enquanto a superestrutura é 
composta pela vida política e cultural da sociedade.
• A infraestrutura, portanto, é composta pelas forças produtivas e pelas relações 
de produção — este conjunto é a base econômica de uma sociedade.
• A superestrutura é composta pelo Estado e pelaIdeologia, instrumentos de 
dominação das classes privilegiadas.
• A base do sistema capitalista para Marx é formada por dois itens, a mercadoria 
e o dinheiro. Ambos passam por um processo de circulação, que ele alinha 
como sendo: a mercadoria é trocada por dinheiro, e o dinheiro é trocado por 
mercadoria. Este fluxo ele chama de processo de circulação simples.
• A Mais-valia é, nas teorias de Marx, o que origina o lucro — é o tempo de 
trabalho não pago ao trabalhador dentro de uma determinada jornada de 
trabalho, e é classificada em mais-valia relativa e mais-valia absoluta.
• A alienação de que trata este autor pode ser classificada em: Alienação do 
homem do produto do seu próprio trabalho, Alienação do homem no ato da 
produção, Alienação do homem de sua própria espécie, Alienação do homem 
de sua própria natureza humana.
120
AUTOATIVIDADE
1 Descreva os conceitos a seguir a partir das definições apresentadas por Karl 
Marx na Teoria do Materialismo Dialético:
a) Infraestrutura: 
b) Superestrutura: 
c) Fetichismo da mercadoria: 
d) Mais-valia: 
e) Alienação: 
121
TÓPICO 3
OS DESDOBRAMENTOS DA 
SOCIOLOGIA DE KARL MARX
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Neste último tópico de seus estudos sobre Marx, iremos compreender 
alguns desdobramentos de suas teorias e do modo de pensar a sociedade — 
especialmente materializados em um projeto político famoso e polêmico, que 
culminaria no comunismo.
As obras de Marx continuam sendo revisitadas e reinterpretadas 
atualmente, o que o coloca na condição de clássico. Além disso, seu projeto 
político ainda segue vivo em alguns grupos, e influencia outros. Seus temas 
de análise seguem sendo referência para economistas, sociólogos, cientistas 
políticos, entre outros. 
Sua maneira de observar o modo de produção, como determinante para 
a configuração social, serve como base para autores contemporâneos. É uma 
nova perspectiva de entender a ordem social lançada à época em que viveu e que 
perdura até os dias atuais, por isso a importância de conhecer em detalhes a obra 
deste autor para as teorias sociológicas. Para além das polêmicas que envolvem 
a obra de Marx, cabe o olhar científico para as contribuições do autor através de 
suas análises sociais.
Neste sentido, o último tópico é voltado para entendermos as classes 
sociais, a ideia de luta de classes, o papel das revoluções na história, e o seu 
projeto político passando pelo socialismo e comunismo. São todos temas clássicos 
na obra de Marx e visitados com frequência pelos autores que o interpretam, e 
fecharemos assim esta unidade. Boa leitura!
2 CLASSES SOCIAIS
Um dos conceitos desenvolvidos por Marx mais presente na atualidade e 
nas reinterpretações de sua teoria é o de classes sociais. Ele serve como base para 
todo o desdobramento do seu pensamento, no entendimento do projeto político 
que propõe, nas análises sobre revolução, e sobre a superação do capitalismo pelo 
comunismo. Sendo assim, é essencial que iniciemos esta seção nos aprofundando 
no entendimento sobre a noção de classes sociais.
122
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
Marx não desenvolveu uma única obra acerca do conceito de classes, mas 
disseminou diferentes elementos ao longo de sua produção, que, sistematizados, 
nos mostram seu entendimento sobre esta classificação social.
Ele parte da ideia de que o trabalho é a atividade vital do indivíduo, por 
meio da qual ele se humaniza. Durante os processos produtivos são geradas as 
relações sociais e os indivíduos extraem da natureza o que necessitam, sendo que 
uma parte (mais-valia) se torna apropriação de não produtores, como Estado, 
pessoas ou empresas). Como vimos, assim ele trabalha o conceito de exploração, 
e, alinhado a ele, é que traz a ideia de classes sociais.
Enquanto a capacidade produtiva dos grupos sociais era limitada, a 
organização social era simples e baseada na luta pela extração da natureza daquilo 
que era essencial à sobrevivência. Esta condição não permitia uma exploração, 
um domínio — já que a apropriação do trabalho do outro não era necessária.
Ou seja, “numa época em que duas mãos não podem produzir mais 
do que o que uma boca consome, não existem bases econômicas” 
que possibilitem que uns vivam do trabalho de outros, seja na forma 
de trabalho escravo ou de qualquer outro modo de exploração. É o 
surgimento de um excedente da produção que permite a divisão social 
do trabalho, assim como a apropriação das condições de produção por 
parte de alguns membros da comunidade os quais passam, então, a 
estabelecer algum tipo de direito sobre o produto ou sobre os próprios 
trabalhadores. Vê-se, portanto, que a existência das classes sociais se 
vincula a circunstâncias históricas específicas, quais sejam, aquelas 
em que a criação de um excedente possibilita a apropriação privada 
das condições de produção (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 
2002, p. 38).
Sendo assim, o materialismo dialético de Marx rejeita a ideia de 
desigualdade natural, e também de que as classes se definiriam a partir da posse 
de uma determinada renda ou origem dela. "A renda não é um fator independente 
da produção: é, antes, uma expressão da parcela maior ou menor do produto a 
que um grupo de indivíduos pode ter direito em decorrência de sua posição na 
estrutura de classes” (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 39).
Basicamente, Marx desenvolve a ideia de uma sociedade estruturada 
com base em duas grandes classes: de um lado, os possuidores dos meios de 
produção (burguesia), e de outro lado, os que não os possuem (proletariado). 
Esta polaridade permeia toda a análise deste autor sobre as classes sociais, e toda 
sua obra quando explica a relação direta entre as desigualdades e o modo de 
produção dos grupos sociais.
Esta polaridade expressa-se em diferentes formatos de acordo com 
o período histórico, temos aí servos e senhores feudais, escravos e patrícios, 
aprendizes e mestres, e as mais diretamente analisadas por Marx: capitalistas 
e trabalhadores livres. A sociedade moderna seria, portanto, dividida em 
proletariado e burguesia.
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE KARL MARX
123
É importante destacar que este é um esquema teórico que não dá conta 
das variações e complexidades das sociedades na prática, mas que auxilia “na 
possibilidade de identificar a configuração básica das classes de cada modo 
de produção, aquelas que responderão pela dinâmica essencial de uma dada 
sociedade, definindo inclusive as relações com as demais classes” (BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 39).
FIGURA 18 – OPOSIÇÃO CLASSES SOCIAIS
FONTE: <https://enem.estuda.com/questoes/?id=141910>. Acesso em: 5 nov. 2018.
Reconhecendo estas complexidades e nuances nas classes sociais, Marx 
avalia que a tendência é de redução destas particularidades, e concentração cada 
vez maior do capital, polarizando ainda mais os grupos e reduzindo as classes 
intermediárias. No entanto, há críticas atualmente produzidas sobre isso, vejamos 
o panorama geral:
Mesmo assim, Marx acredita que a tendência do modo capitalista de 
produção é separar cada vez mais o trabalho e os meios de produção, 
concentrando e transformando estes últimos em capital e aquele 
em trabalho assalariado e, com isso, eliminar as demais divisões 
intermediárias das classes. Não obstante, as sociedades comportam 
também critérios e modos de apropriação e de estabelecimento 
de privilégios que geram ou mantêm outras divisões e classes 
além daquelas cujas relações são as que, em definitivo, modelam a 
produção e a formação socioeconômica. O estabelecimento de novas 
relações sociais de produção com a organização jurídica e política 
correspondente e, com elas, de novas classes, quase nunca representa 
uma completa extinção dos modos de produção anteriores, cujos 
traços às vezes só gradualmente vão desaparecendo. 
O desenvolvimento do modo de produção capitalista tomou rumos 
imprevisíveis para um analista situado, como Marx, em meados do 
século 19. A organizaçãoeconômica e política ancorou-se cada vez mais 
firmemente em níveis internacionais e, no interior de cada sociedade, 
esses processos adquiriram feições muito singulares, referidas à 
diversidade de elementos que conformaram suas experiências 
históricas. Tudo isso teve como resultado novas subdivisões no 
interior das classes sociais, como ocorre com o crescimento das 
chamadas “classes médias” e dos setores tecnoburocráticos. Em outros 
124
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
casos, consolidou a existência de antigas relações de produção, às 
vezes sob novas roupagens, tanto no campo como nas cidades. Em 
suma, formaram-se historicamente estruturas econômicas e sociais 
complexas, conjugando relações entre as novas classes e frações de 
classe típicas das sociedades capitalistas tradicionais.
A crítica feita pelo marxismo à propriedade privada dos meios 
de produção da vida humana dirige-se, antes de tudo, às suas 
consequências: a exploração da classe de produtores não possuidores 
por parte de uma classe de proprietários, a limitação à liberdade e às 
potencialidades dos primeiros e a desumanização de que ambos são 
vítimas. Mas o domínio dos possuidores dos meios de produção não se 
restringe à esfera produtiva: a classe que detém o poder material numa 
dada sociedade é também a potência política e espiritual dominante.
Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre 
outras coisas, uma consciência, e é em consequência disso que pensam; 
na medida em que dominam enquanto classe e determinam uma 
época histórica em toda sua extensão, é lógico que esses indivíduos 
dominem em todos os sentidos, que tenham, entre outras, uma 
posição dominante como seres pensantes, como produtores de ideias, 
que regulamentem a produção e a distribuição dos pensamentos de 
sua época; as suas ideias são, portanto, as ideias dominantes de sua 
época (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 40).
Esta polarização em duas grandes classes é o fundamento da análise de 
Marx no que diz respeito à estruturação de classes da sociedade capitalista. Veja 
a seguir uma sugestão de livro no qual você pode aprofundar seu estudo sobre 
este tema.
DICAS
Para avançar em seus estudos, tanto sobre o conceito de 
classes sociais em Marx, quanto sobre a noção de luta de 
classes (próximo tópico), você pode utilizar a obra de Nildo 
Viana, A teoria das classes sociais em Karl Marx, publicada 
pela Editora Chiado, em maio de 2018.
FONTE:<https://content.chiadobooks.com/img/290x386/
capa_a_teoria_das_classes_sociais_em_karl_marx_ebook.
jpg>.Acesso em: 14 fev. 2019.
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE KARL MARX
125
3 PROJETO POLÍTICO: LUTA DE CLASSES
As análises sobre a luta de classes fazem parte de uma dimensão mais 
política da obra de Marx, na qual ele sugere que por meio desta luta seria possível 
chegar a um modelo socialista, que seria implantado após a crise do capitalismo.
Para ele, a história de todas as sociedades perpassa pela história da luta de 
classes, e suas reflexões sobre este tema estão, principalmente, indicadas na obra 
Manifesto do Partido Comunista. Portanto, para além de estereótipos compartilhados 
sobre esta obra, para além de ser uma análise do modelo comunista, ela apresenta 
o pensamento de Marx sobre as facetas da luta de classes — essencial para o 
entendimento de sua teoria sociológica.
A história das sociedades cuja estrutura produtiva baseia-se na 
apropriação privada dos meios de produção pode ser descrita como 
a história das lutas de classes. Essa expressão, antes de significar 
uma situação de confronto explícito - que de fato pode ocorrer em 
certas circunstâncias históricas - expressa a existência de contradições 
numa estrutura classista, o antagonismo de interesses que caracteriza 
necessariamente uma relação entre classes, devido ao caráter 
dialético da realidade. Dado que as classes dominantes sustentam-se 
na exploração do trabalho daqueles que não são proprietários nem 
possuidores dos meios de produção — assim como em diversas 
formas de opressão social, política, intelectual, religiosa etc. —, a 
relação entre elas não pode ser outra senão conflitiva, ainda que apenas 
potencialmente (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 41).
Como vimos no tópico anterior, para Marx a existência das classes sempre 
ocorreu — mas ele visualizava que, na época em que vivia, esta divisão acentuava-
se, já que os antagonismos entre a burguesia e o proletariado se faziam cada vez 
mais presentes. Segundo ele, a burguesia inaugurou o capitalismo, na medida em 
que se voltou contra o regime feudalista e instaura esta nova ordem. E então, para 
superar o capitalismo seria preciso que os operários (o proletariado) fizessem o 
mesmo movimento derrubando o regime capitalista e instaurando o socialismo.
Para que se consiga operar a modificação do sistema econômico, Sell 
(2002, p. 188) destaca que Marx apresentou algumas fases:
• No início, combate às próprias máquinas.
• Depois, passa a defender seus direitos (sindicalismo).
• Posteriormente, se organiza enquanto classe social (partido político).
• Finalmente, desencadeia uma luta que termina com a revolução contra a 
burguesia.
Ele via esta vitória do proletariado como um processo de evolução 
do sistema, como inevitável. Para tal havia a necessidade do surgimento da 
consciência de classe, já que a divisão do trabalho provoca indivíduos alienados 
do processo e insere-os em relações sociais automatizadas e de base muito mais 
econômica do que humana.
126
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
Esta consciência seria formada, para Marx, por meio de um processo 
gradativo de organização política. As lutas coletivas fariam com que aos poucos 
o indivíduo notasse subjetivamente sua condição de classe, compreendendo a 
necessidade de se aliar ao seu grupo e assim defender os interesses de sua classe.
Do ponto de vista do materialismo histórico, a luta de classes impulsiona 
a mudança estrutural na sociedade, por isso é vista como o motor da história, ou 
seja, essencial à superação dialética das contradições existentes no capitalismo. A 
classe explorada seria o mais poderoso agente de mudança social, portanto.
Para fins analíticos, Marx distingue conceitualmente as classes em si, 
conjunto dos membros de uma sociedade que são identificados por 
compartilhar determinadas condições objetivas, ou a mesma situação 
no que se refere à propriedade dos meios de produção, das classes para 
si, classes que se organizam politicamente para a defesa consciente 
de seus interesses, cuja identidade é construída também do ponto de 
vista subjetivo (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 41).
Pode-se notar a característica de recorte que existe no conceito de 
classe social para Marx: um grupo existe pela identificação de suas condições 
objetivas, bem como da posse ou não dos meios de produção. Isto gera um 
processo identitário, em que o grupo passa a ser a referência do indivíduo, e 
seus interesses podem tornar-se coletivos, a depender do desenvolvimento da 
consciência de classe.
A consciência de classe materializa-se em associações políticas, como 
sindicatos e partidos, com duas finalidades principais: defender seus interesses 
e combater seus opressores. Elas possuem, portanto, um papel de extrema 
relevância, mantendo o grupo unido em prol de bandeiras coletivas e sendo força 
de resistência à dominação.
FIGURA 19 – SÁTIRA LUTA DE CLASSES
FONTE: <https://acasadevidro.com/2016/04/19/em-debate-a-luta-de-classes-morreu/>. Acesso 
em: 5 nov. 2018.
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE KARL MARX
127
Os intérpretes da obra de Marx buscam compreender o quanto a luta de 
classes ainda pode ser um conceito aplicável à realidade atual. Este é um dos 
conceitos mais revisitados do clássico.
Para fechar, cabe compreender que Marx apresenta a ideia de um Estado 
como instrumento de classe, conforme Sell nos explica em seu texto.
Na obra “A Ideologia Alemã”, Marxjá tinha apontado que o Estado 
surge na história como resultado da divisão da sociedade em classes 
sociais. Como vimos, esta tese já está presente em sua teoria do 
materialismo histórico.
No Manifesto do Partido Comunista, Marx volta a enfatizar esta ideia, 
quando afirma que o Estado “é o comitê executivo da burguesia”! 
Com isso, ele queria denunciar o fato de que a igualdade jurídica dos 
cidadãos escondia sua divisão em classes. Se a lei é a mesma para 
todos, isso não significa que todos são iguais. Essa ilusão faz do Estado 
um mecanismo de ocultamento das classes sociais.
Porém, mais do que um agente passivo de ocultação, Marx percebeu 
que o Estado só favorecia os interesses da burguesia. Assim, as leis 
tratavam de preservar e proteger a propriedade privada, enquanto 
os operários e seus movimentos eram perseguidos. Para eles, a única 
atenção do Estado era o uso da força (SELL, 2002, p. 190).
4 PAPEL REVOLUCIONÁRIO DA BURGUESIA
Para entender a força da sociedade de classes no período em que viveu, 
Marx se debruçou sobre o estudo do surgimento, evolução e superação do 
capitalismo a partir da destruição da sociedade feudal. Ele queria compreender 
como a burguesia conseguiu modificar a organização produtiva feudal para 
impor o modo de produção capitalista.
Conquanto a proteção das guildas e corporações da Idade Média 
tivesse possibilitado a acumulação do capital, o desenvolvimento 
do comércio marítimo e a fundação das colônias, a manutenção das 
velhas estruturas feudais constituir-se-iam num entrave à continuidade 
daquela expansão. Vimos, pois, que os meios de produção e de troca, 
sobre cuja base a burguesia se formou, foram criados na sociedade 
feudal. Ao alcançar um certo grau de desenvolvimento, esses meios de 
produção e de troca, as condições em que a sociedade feudal produzia e 
trocava, toda a organização feudal da agricultura e da indústria, em uma 
palavra, as relações feudais de propriedade, deixaram de corresponder 
às forças produtivas já desenvolvidas. Freavam a produção em lugar 
de impulsioná-la... Era preciso romper essas travas, e foram rompidas. 
Em seu lugar estabeleceu-se a livre concorrência, com uma constituição 
social e política adequada a ela e com a dominação econômica e política 
da classe burguesa (MARXS; ENGELS, 1975, p. 26 apud BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 46).
Havia regulamentos na época para que o excesso de acúmulo fosse evitado: 
o empregador possuía um número limitado de pessoas que poderia empregar, 
além de poder comprar qualquer mercadoria exceto a força de trabalho (a não ser 
que o trabalhador não tivesse nenhuma outra mercadoria para troca, ele precisava 
ser totalmente livre no mercado para poder vender sua força de trabalho).
128
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
Esta era uma organização que mantinha todas as outras instituições, desde 
a organização política do Estado até sistemas religiosos e culturais. E então, esta 
burguesia, limitada pelos regulamentos da época, operou verdadeira revolução 
— já que modificou totalmente as instituições a partir do novo sistema econômico.
Sua ação destruiu os modos de organização do trabalho, as formas 
da propriedade no campo e na cidade; debilitou as antigas classes 
dominantes como a aristocracia feudal e o clero, substituiu a legislação 
feudal, e eliminou os impostos e obrigações feudais, as corporações 
de ofício, o sistema de vassalagem que impedia que os servos se 
transformassem nos trabalhadores livres e mesmo o regime político 
monárquico nos casos em que sua existência representava um 
obstáculo ao pleno desenvolvimento das potencialidades da produção 
capitalista (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 47).
Então Marx, em parceria com Engels, desenvolve todo um raciocínio para 
compreender como, ao longo da história, houve outras ações revolucionárias 
da classe burguesa. Segundo eles, há muitos feitos históricos que precisam ser 
observados, como as pirâmides do Egito, aquedutos em Roma, Cruzadas, todos 
liderados pela burguesia. Assim, em um processo de racionalização, o capitalismo 
é implantado também a partir desta classe.
 
A disseminação deste modo de produção se dá pela “venda” da ideia de 
civilização, além da necessidade da classe de obter novos mercados, ter acesso 
a matérias-primas e gerar novas necessidades nas populações (BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002).
E esta revolução provocada pela burguesia gera, ainda mais, contradições 
sociais, polarizando as sociedades em dois grupos: burgueses e proletários. A 
luta de classes torna-se ainda mais evidente neste contexto.
E é neste ponto que quem assumiria o papel revolucionário seria a classe 
operária, e não mais a burguesia. Se, por necessidade, a burguesia operou uma 
revolução no modelo econômico em seu favor, ela também deu espaço — no 
modo de produção capitalista — para que os operários se tornassem uma massa 
que, ao ter consciência de sua situação, pudesse se reunir e evocar nova revolução. 
Quem efetivamente teria papel revolucionário neste novo contexto, portanto, 
seria o proletariado — não mais a burguesia.
Desta feita, caberia ao proletariado estabelecer a ideia de uma civilização 
alicerçada na coletividade e não na supervalorização do indivíduo, como no caso 
da burguesia.
Barbosa, Oliveira e Quintaneiro (2002, p. 49) explicam como seria este 
novo movimento revolucionário:
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE KARL MARX
129
Por meio de um processo revolucionário, as condições de apropriação e 
concentração dos meios de produção existentes em mãos de uma classe 
desaparecem e, a partir de então, inicia-se um processo de fundação da 
sociedade sobre novas bases. No caso de uma revolução proletária, na 
medida em que desaparecessem as garantias da propriedade privada 
dos meios de produção, o mesmo aconteceria com a burguesia como 
classe e com o modo capitalista de produção. Instalar-se-ia, então, uma 
nova forma de organização social que, numa fase transitória, seria uma 
ditadura do proletariado, mas, ao realizar todas as condições a que se 
propôs, tornar-se-ia uma sociedade comunista. A antiga sociedade civil 
será então substituída “por uma associação que exclua as classes e seu 
antagonismo; já não existirá um poder político propriamente dito, pois 
o poder político é precisamente a expressão oficial do antagonismo 
de classe dentro da sociedade civil”. Uma das premissas para a 
existência dessa sociedade seria o grande desenvolvimento das forças 
produtivas promovido pela produção capitalista “pois, sem ele, apenas 
se generalizará a penúria e, com a pobreza, começará paralelamente a 
luta pelo indispensável e cair-se-á fatalmente na imundície anterior...” 
Em outras palavras, “a libertação é um fato histórico e não um fato 
intelectual, e é provocado por condições históricas, pelo progresso da 
indústria, do comércio, da agricultura.
Ainda pensando sobre os movimentos revolucionários, a teoria marxiana 
procura entender o progresso das sociedades. Quando as forças produtivas 
começam a ter necessidade de expansão, as estruturas sociais, econômicas e 
políticas passam a se desintegrar para dar lugar às novas estruturas. Eclodem 
então os conflitos latentes e inicia-se a época revolucionária. O progresso é o 
resultado dialético desta situação.
No período medieval, as forças produtivas anunciadas pela burguesia 
nascente foram de encontro aos interesses representados nas 
corporações de ofícios e nas guildas. Por isso é que as revoluções 
burguesas vieram representar o processo de liberação daquelas 
forças, paralisadas por relações sociais ultrapassadas. Essa não 
correspondência entre relações sociais e forças produtivas cerceia o 
potencial de avanço da produção, fornece as condições materiais para 
que as classes atuem e exerçam seu papel revolucionário. O progresso 
das forças produtivas, os câmbios nas relações sociais de produção e, 
consequentemente, nas instituições políticas, jurídicas, religiosas etc. 
permitem compreendercomo se dá historicamente a passagem de 
uma organização social a outra mais avançada, ou a um novo modo 
de produção (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 47).
Quando uma classe consegue se impor diante de outra, ela substitui as 
formas econômicas, sociais, enfim, a superestrutura e a infraestrutura. Diante da 
ideia de progresso, a classe revolucionária seria a que faz evoluir um grupo social 
o mais rapidamente possível, já que “liberta” os elementos de progresso contidos 
nas contradições das estruturas antigas.
Para fechar seus estudos sobre Marx, vamos, a seguir, compreender 
como ele defendia que as contradições existentes no capitalismo levariam a um 
novo formato de vida, um novo modelo de produção, a partir da revolução do 
proletariado: o comunismo.
130
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
5 SOCIEDADE CAPITALISTA E COMUNISMO
Para Marx, a superação da sociedade capitalista era uma etapa essencial 
para o progresso da humanidade, e isso só seria possível a partir da força do 
operariado. Mas para que esta classe se tornasse revolucionária era preciso 
que fosse construída uma consciência de classe, por isso indicou algumas 
possibilidades objetivas em sua obra Manifesto do Partido Comunista.
DICAS
A coleção A Obra-Prima de Cada Autor, que já apresentamos para 
você neste livro didático, possui uma edição do Manifesto do 
Partido Comunista, obra de Marx e Engels. Editora Martin Claret.
FONTE:<https://images.livrariasaraiva.com.br/imagemnet/imagem.
aspx/?pro_id=451965&qld=90&l=430&a=-1>. Acesso em: 14 fev. 2019.
Este livro não é um manual de receitas, mas a indicação de linhas 
possíveis para a construção de uma nova sociedade. Também é nele que Marx 
aborda alguns itens essenciais do modelo comunista, tais como a abolição da 
propriedade burguesa (e não da propriedade privada em geral) e a importância 
da abolição das classes sociais neste modelo.
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE KARL MARX
131
FIGURA 20 – SÁTIRA LIBERDADE NO CAPITALISMO
FONTE: <http://omarxistaleninista.blogspot.com/2010/06/liberdade-no-capitalismo.html>. 
Acesso em: 05 nov. 2018.
Para tanto, seria preciso abolir também o instrumento de luta de classes 
Estado, necessário em um primeiro momento para que a burguesia fosse 
derrubada, mas que no comunismo não deveria existir (SELL, 2002).
Sendo assim, Marx reconhece uma fase intermediária, uma fase de 
transição, entre os modelos capitalista e comunista. Após seu falecimento são 
registrados dois grupos de socialistas: os socialistas revolucionários (achavam 
que o caminho seria a revolução armada) e os socialistas reformistas ou social-
democratas (defendiam um caminho por eleições e reformas graduais).
O desdobramento destes movimentos deu-se de duas maneiras diferentes:
132
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
• Os socialistas revolucionários foram responsáveis pela primeira revolução 
socialista no mundo: a revolução russa de 1917. Foi a primeira tentativa de 
implantação do socialismo, mas acabou se tornando uma ditadura com a 
economia estatizada e Stalin à frente de tudo. Assim foi até 1991, quando a 
URSS se dissolveu. Também é possível citar a revolução chinesa de 1949 e a 
revolução cubana de 1959 (SELL, 2002).
• Os socialistas social-democratas participaram de eleições e fortaleceram 
sindicatos. Ganharam o governo em alguns momentos na Europa, e seguiram 
com a bandeira de reformas graduais para atingir o socialismo. Não conseguiram 
introduzir o modelo, mas produziram reformas sociais e melhoraram a vida dos 
trabalhadores sobremaneira, especialmente nos chamados países de Estado de 
Bem-Estar Social (SELL, 2002).
Ainda na atualidade existem correntes socialistas que se fundamentam nas 
análises de Marx para defender este sistema como projeto político. Embora suas 
obras não sejam manuais, as ideias nelas apresentadas auxiliam no entendimento 
de uma proposta alternativa ao modelo capitalista.
Após o estágio intermediário socialista, portanto, teríamos a emancipação 
do comunismo. Neste modelo, as condições de existência seriam apropriadas 
socialmente, e não haveria distinção entre privado e coletivo. A divisão do 
trabalho favoreceria ao interesse de todos na sociedade.
Este sistema social seria regulado de acordo com as necessidades humanas, 
e não mais um sistema que gera necessidades para produzir mais mercadorias. 
Seria uma regulação baseada na consciência da humanidade acerca de seus rumos, 
e cujas decisões se dariam de maneira coletiva — objetivando o bem-estar de todos.
DICAS
Para finalizar, fica a dica de filme para conhecer visualmente 
a vida de Marx. Ele intitula-se O jovem Marx. Lançado em 
2017.
FONTE:<https://imagens.publicocdn.com/imagens.
aspx/588941?tp=KM&w=220>. Acesso em: 14 fev. 2019.
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE KARL MARX
133
LEITURA COMPLEMENTAR
BURGUESES E PROLETÁRIOS
Karl Marx (trecho)
A história de todas as sociedades até o presente é a história das lutas de 
classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, membro 
de corporação e oficial-artesão, em síntese, opressores e oprimidos estiveram em 
constante oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora dissimulada, 
ora aberta, que a cada vez terminava com uma reconfiguração revolucionária de 
toda a sociedade ou com a derrocada comum das classes em luta.
Nas épocas remotas da história, encontramos por quase toda a parte uma 
estruturação completa da sociedade em diferentes estamentos, uma gradação 
multifacetada das posições sociais. Na Roma antiga temos patrícios, cavaleiros, 
plebeus, escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, membros de 
corporação, oficiais-artesãos, servos, e ainda, em quase cada uma dessas classes, 
novas gradações particulares.
A moderna sociedade burguesa, emergente do naufrágio da sociedade 
feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Ela apenas colocou novas classes, 
novas condições de opressão, novas estruturas de luta no lugar das antigas.
A nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se, contudo, pelo fato 
de ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade toda cinde-se, mais 
e mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes diretamente 
confrontadas: burguesia e proletariado.
Dos servos da Idade Média advieram os burgueses extramuros das 
primeiras cidades; deste estamento medieval desenvolveram-se os primeiros 
elementos da burguesia.
A descoberta da América, a circum-navegação da África criaram um 
novo terreno para a burguesia ascendente. Os mercados das Índias Orientais 
e da China, a colonização da América, o intercâmbio com as colônias, a 
multiplicação dos meios de troca e das mercadorias em geral deram ao comércio, 
à navegação, à indústria um impulso jamais conhecido; e, com isso, imprimiram 
um rápido desenvolvimento ao elemento revolucionário na sociedade feudal em 
desagregação.
O funcionamento feudal ou corporativo da indústria, existente até então, 
já não bastava para as necessidades que cresciam com os novos mercados. A 
manufatura tomou o seu lugar. Os mestres de corporação foram sufocados pelo 
estrato médio industrial; a divisão do trabalho entre as diversas corporações 
desapareceu perante a divisão do trabalho no interior da própria oficina particular.
134
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
Mas os mercados continuavam a crescer, continuava a aumentar a 
necessidade de produtos. Também a manufatura já não bastava mais. Então o 
vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. A grande indústria 
moderna tomou o lugar da manufatura; o lugar do estrato médio industrial foi 
tomado pelos milionários industriais, os chefes de exércitos industriais inteiros, 
os burgueses modernos.
A grande indústria criou o mercado mundial, que a descoberta da América 
preparara. O mercado mundial deu ao comércio, à navegação, às comunicações 
por terra um desenvolvimento incalculável. Este, por sua vez,reagiu sobre 
a expansão da indústria, e na mesma medida em que indústria, comércio, 
navegação, estradas de ferro se expandiam, nessa mesma medida a burguesia 
desenvolvia-se, multiplicava seus capitais, empurrava a um segundo plano todas 
as classes provenientes da Idade Média.
Vemos, portanto, como a própria burguesia moderna é o produto de um 
longo processo de desenvolvimento, de uma série de revoluções (Umwälzungen) 
nos meios de produção e de transporte.
Cada uma dessas etapas de desenvolvimento da burguesia veio 
acompanhada de um progresso político correspondente. Estrato social oprimido 
sob o domínio dos senhores feudais, associação armada e com administração 
autônoma na comuna (3); aqui cidade-república independente, ali terceiro Estado 
tributário da monarquia; depois, na era da manufatura, contrapeso à nobreza na 
monarquia estamental ou absoluta; base principal das grandes monarquias de 
uma forma geral, a burguesia conquistou finalmente para si, desde a criação da 
grande indústria e do mercado mundial no moderno Estado representativo, o 
domínio político exclusivo. O poder estatal moderno é apenas uma comissão que 
administra os negócios comuns do conjunto da classe burguesa.
A burguesia desempenhou na história um papel extremamente 
revolucionário.
Onde quer a burguesia tenha chegado ao poder, ela destruiu todas as 
relações feudais, patriarcais, idílicas. Ela rompeu impiedosamente os variegados 
laços feudais que atavam o homem ao seu superior natural, não deixando nenhum 
outro laço entre os seres humanos senão o interesse nu e cru, senão o insensível 
"pagamento à vista". Ela afogou os arrepios sagrados do arroubo religioso, 
do entusiasmo cavalheiresco, da plangência do filisteísmo burguês, nas águas 
gélidas do cálculo egoísta. Ela dissolveu a dignidade pessoal em valor de troca, 
e no lugar das inúmeras liberdades atestadas em documento ou valorosamente 
conquistadas, colocou uma única inescrupulosa liberdade de comércio. A 
burguesia, em uma palavra, colocou no lugar da exploração ocultada por ilusões 
religiosas e políticas a exploração aberta, desavergonhada, direta, seca.
A burguesia despojou de sua auréola sagrada todas as atividades até 
então veneráveis, contempladas com piedoso recato. Ela transformou o médico, 
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE KARL MARX
135
o jurista, o clérigo, o poeta, o homem das ciências, em trabalhadores assalariados, 
pagos por ela.
A burguesia arrancou às relações familiares o seu comovente véu 
sentimental e as reduziu a pura relação monetária.
A burguesia revelou como o dispêndio brutal de forças, que a reação 
tanto admira na Idade Média, encontrava o seu complemento adequado na mais 
indolente ociosidade. Apenas ela deu provas daquilo que a atividade dos homens 
é capaz de levar a cabo. Ela realizou obras miraculosas inteiramente diferentes das 
pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos e das catedrais góticas, ela executou 
deslocamentos inteiramente diferentes das Migrações dos Povos e das Cruzadas.
A burguesia não pode existir sem revolucionar continuamente os 
instrumentos de produção, portanto as relações de produção e, assim, o conjunto 
das relações sociais. Conservação inalterada do velho modo de produção foi, 
ao contrário, a condição primeira de existência de todas as classes industriais 
anteriores. O revolucionamento contínuo da produção, o abalo ininterrupto de 
todas as situações sociais, a insegurança e a movimentação eternas distinguem 
a época burguesa de todas as outras. Todas as relações fixas e enferrujadas, com 
o seu séquito de veneráveis representações e concepções, são dissolvidas; todas 
as relações novas, posteriormente formadas, envelhecem antes que possam 
enrijecer-se. Tudo o que está estratificado e em vigor volatiliza-se, todo o sagrado 
é profanado, e os homens são finalmente obrigados a encarar a sua situação de 
vida, os seus relacionamentos mútuos com olhos sóbrios.
A necessidade de um mercado cada vez mais expansivo para seus 
produtos impele a burguesia por todo o globo terrestre. Ela tem de alojar-se por 
toda parte, estabelecer-se por toda parte, construir vínculos por toda parte.
Através da exploração do mercado mundial, a burguesia configurou 
de maneira cosmopolita a produção e o consumo de todos os países. Para 
grande pesar dos reacionários, ela subtraiu à indústria o solo nacional em que 
tinha os pés. As antiquíssimas indústrias nacionais foram aniquiladas e ainda 
continuam sendo aniquiladas diariamente. São sufocadas por novas indústrias, 
cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, por 
indústrias que não mais processam matérias-primas nativas, mas sim matérias-
primas próprias das zonas mais afastadas, e cujos produtos são consumidos não 
apenas no próprio país, mas simultaneamente em todas as partes do mundo. No 
lugar das velhas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, surgem novas 
necessidades, que requerem para a sua satisfação os produtos dos mais distantes 
países e climas. No lugar da velha autossuficiência e do velho isolamento locais 
e nacionais, surge um intercâmbio em todas as direções, uma interdependência 
múltipla das nações. E o que se dá com a produção material, dá-se também com 
a produção intelectual. Os produtos intelectuais das nações isoladas tornam-se 
patrimônio comum. A unilateralidade e estreiteza nacionais tornam-se cada vez 
mais impossíveis, e das muitas literaturas nacionais e locais vai se formando uma 
literatura universal.
136
UNIDADE 2 | O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO DE KARL MARX
Através do rápido aperfeiçoamento de todos os instrumentos de produção, 
através das comunicações infinitamente facilitadas, a burguesia arrasta todas as 
nações, mesmo as mais bárbaras, para dentro da civilização. Os módicos preços 
de suas mercadorias são a artilharia pesada com que ela põe abaixo todas as 
muralhas da China, com que ela constrange à capitulação mesmo a mais obstinada 
xenofobia dos bárbaros. Ela obriga todas as nações que não queiram desmoronar 
a apropriar-se do modo de produção da burguesia; ela as obriga a introduzir em 
seu próprio meio a assim chamada civilização, isto é, a tornarem-se burguesas. 
Em uma palavra, ela cria para si um mundo à sua própria imagem.
A burguesia submeteu o campo ao domínio da cidade. Ela criou cidades 
enormes, aumentou o número da população urbana, em face da rural, em alta 
escala e, assim, arrancou do idiotismo da vida rural uma parcela significativa 
da população. Da mesma forma como torna o campo dependente da cidade, ela 
torna os países bárbaros e semibárbaros dependentes dos civilizados, os povos 
agrários dependentes dos povos burgueses, o Oriente dependente do Ocidente.
A burguesia vem abolindo cada vez mais a fragmentação dos meios de 
produção, da posse e da população. Ela aglomerou a população, centralizou os 
meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos. Consequência 
necessária disso tudo foi a centralização política. Províncias independentes, quase 
que tão-somente aliadas, com interesses, leis, governos e sistemas aduaneiros 
diversificados, foram aglutinadas em uma nação, um governo, um interesse 
nacional de classe, uma fronteira aduaneira.
Em seu domínio de classe que mal chega a um século, a burguesia criou 
forças produtivas em massa, mais colossais do que todas as gerações passadas 
em conjunto. Subjugação das forças da natureza, maquinaria, aplicação da 
química na indústria e na agricultura, navegação a vapor, estradas de ferro, 
telégrafos elétricos, arroteamento de continentes inteiros, canalização dos rios 
para a navegação, populações inteiras como que brotando do chão — que século 
passado poderia supor que tamanhas forças produtivas estavam adormecidas no 
seio do trabalho social!
Nós vimos, portanto: os meios de produção e de circulação, sobre cujas 
bases a burguesia se formou, foram gerados na sociedade feudal. Em um certo 
estágio do desenvolvimento desses meios de produção e de circulação,as 
relações nas quais a sociedade feudal produzia e trocava, a organização feudal da 
agricultura e da manufatura, em uma palavra, as relações feudais de propriedade, 
não correspondiam mais às forças produtivas já desenvolvidas. Elas tolhiam 
a produção, em vez de fomentá-la. Transformavam-se assim em outros tantos 
grilhões. Precisavam ser explodidas, foram explodidas.
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE KARL MARX
137
Em seu lugar entrou a livre concorrência, com a constituição social e 
política que lhe era adequada, com o domínio econômico e político da classe 
burguesa.
Sob os nossos olhos processa-se um movimento semelhante. As relações 
burguesas de produção e de circulação, as relações burguesas de propriedade, a 
moderna sociedade burguesa, que fez aparecer meios de produção e de circulação 
tão poderosos, assemelha-se ao feiticeiro que já não consegue mais dominar 
os poderes subterrâneos que invocou. Há decênios a história da indústria e do 
comércio vem sendo apenas a história da revolta das modernas forças produtivas 
contra as modernas relações de produção, contra as relações de propriedade que 
constituem as condições vitais da burguesia e da sua dominação. Basta mencionar 
as crises comerciais que, em sua recorrência periódica, questionam de maneira 
cada vez mais ameaçadora a existência de toda a sociedade burguesa. Nas 
crises comerciais extermina-se regularmente não apenas uma grande parte dos 
produtos fabricados, mas também das forças produtivas já criadas. Deflagra-se 
nas crises uma epidemia social que a todas as épocas anteriores apareceria como 
contrassenso — a epidemia da superprodução. A sociedade encontra-se remetida 
subitamente a um estado de momentânea barbárie; uma epidemia de fome ou 
uma guerra geral de extermínio parecem ter-lhe cortado todo suprimento de 
alimentos; a indústria e o comércio parecem aniquilados — e por quê? Porque a 
sociedade possui demasiada civilização, demasiados suprimentos de alimentos, 
demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas que estão 
à sua disposição já não servem mais ao fomento das relações de propriedade 
burguesas; ao contrário, elas se tornaram por demais poderosas para essas 
relações, são tolhidas por elas; e tão logo superam esse obstáculo, levam toda a 
sociedade burguesa à desordem, põem em perigo a existência da propriedade 
burguesa. As relações burguesas tornaram-se demasiado estreitas para abarcar 
a riqueza gerada por elas. — Através de que meios a burguesia supera as crises? 
Por um lado, pelo extermínio forçado de grande parte das forças produtivas; por 
outro lado, pela conquista de novos mercados e da exploração mais metódica 
dos antigos mercados. Como isso acontece então? Pelo fato de que a burguesia 
prepara crises cada vez mais amplas e poderosas, e reduz os meios de preveni-las.
As armas com as quais a burguesia derruiu o feudalismo voltam-se agora 
contra a própria burguesia.
Mas a burguesia não forjou apenas as armas que lhe trazem a morte; ela 
produziu também os homens que portarão essas armas – os operários modernos, 
os proletários.
FONTE: MARX, K. ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Londres: [s.n.],1872, p. 1-5. Disponível 
em: <https://www.portalabel.org.br/images/pdfs/manifesto-comunista.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2018.
138
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você viu que:
• Marx desenvolve a ideia de uma sociedade estruturada com base em duas 
grandes classes: de um lado, os possuidores dos meios de produção (burguesia), 
e de outro lado, os que não os possuem (proletariado).
• As análises sobre a luta de classes fazem parte de uma dimensão mais política da 
obra de Marx, na qual ele sugere que, por meio desta luta seria possível chegar 
a um modelo socialista, que seria implantado após a crise do capitalismo.
• Do ponto de vista do materialismo histórico, a luta de classes impulsiona a 
mudança estrutural na sociedade, por isso é vista como o motor da história, ou 
seja, essencial à superação dialética das contradições existentes no capitalismo, 
e só pode ocorrer a partir do desenvolvimento da consciência de classe.
• Para entender a força da sociedade de classes no período em que viveu, Marx se 
debruçou sobre o estudo do surgimento, evolução e superação do capitalismo 
a partir da destruição da sociedade feudal. Ele queria compreender como a 
burguesia conseguiu modificar a organização produtiva feudal para impor o 
modo de produção capitalista.
• Marx reconhece uma fase intermediária, uma fase de transição, entre os 
modelos capitalista e comunista. Após seu falecimento são registrados dois 
grupos de socialistas: os socialistas revolucionários (achavam que o caminho 
seria a revolução armada) e os socialistas reformistas ou social-democratas 
(defendiam um caminho por eleições e reformas graduais).
139
1 Os conceitos de classes sociais e de luta de classes permeiam toda a obra de 
Karl Marx. Sobre ambos, analise as seguintes sentenças:
I– As classes sociais surgem com a sofisticação da organização social, pois 
enquanto esta era simples e dependia apenas da extração da natureza, não 
havia exploração do trabalho do outro.
II– A polaridade presente nas análises do autor define-se em duas grandes 
classes sociais: burguesia e classe média.
III– A única formação histórica que apresenta a divisão de classes sociais é o 
sistema capitalista, as outras não apresentavam divisões de classe.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
b) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) ( ) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
2 Marx reconhece uma fase intermediária, uma fase de transição, entre os 
modelos capitalista e comunista: o socialismo. Sobre os modelos socialista e 
comunista, associe os itens, utilizando o código a seguir:
I– Modelo Socialista Revolucionário.
II– Modelo Socialista Social-democrata.
III– Modelo Comunista.
( ) Neste modelo, as condições de existência seriam apropriadas socialmente, 
e não haveria distinção entre privado e coletivo.
( ) Este modelo defende um caminho de mudança por eleições e reformas 
graduais para implantação do socialismo.
( ) Este modelo defende a revolução armada como forma de implantação de 
um novo modelo econômico.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) I – II – III.
b) ( ) I – III – II.
c) ( ) III – II – I.
d) ( ) II – I – III.
AUTOATIVIDADE
140
141
UNIDADE 3
A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE 
MAX WEBER
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• situar as características e os principais aspectos das bases teóricas e 
metodológicas do pensamento sociológico de Max Weber;
• examinar as principais contribuições da teoria da ação social de Max 
Weber para a teoria sociológica clássica; 
• sistematizar os conceitos principais da obra de Max Weber;
• analisar os desdobramentos da teoria sociológica de Weber para a sociologia 
com base em temas cuja influência, nas formas de análise, persiste nas 
interpretações contemporâneas.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER: TEORIA E MÉTODO
TÓPICO 2 – CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA AÇÃO SOCIAL PARA A 
COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
TÓPICO 3 – OS DESDOBRAMENTOS DA SOCIOLOGIA DE MAX WEBER
142
143
TÓPICO 1
A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER: 
TEORIA E MÉTODO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Chegamos ao nosso último tópico de estudos da teoria sociológica 
clássica, no qual iremos tratar sobre as obras e teorias do autor Max Weber. Não 
diferente de Durkheim e Marx, Weber legou um grande arcabouço conceitual 
e metodológico para a área das Ciências Sociais — o que era inclusive uma 
preocupação dele. Segundo Weber, era muito importante definir as bases 
conceituais e metodológicas da sociologia para consolidá-lacomo ciência, e todo 
o material produzido por ele, neste sentido, é essencial até os dias atuais. Há 
muitos pesquisadores que reinterpretam e buscam em Weber o entendimento 
para aspectos da ordem social contemporânea.
Sua vasta obra será apresentada neste tópico e seu aprofundamento 
dependerá de você! Para tal — assim como nos tópicos anteriores — há obras do 
autor sugeridas, bem como artigos de interpretações que tratam sobre Weber. 
Aproveite este material complementar de acordo com seus interesses, e conheça 
ainda mais sobre a teoria sociológica weberiana.
De início, conheceremos o contexto de vida do autor para, então, 
nos aprofundarmos no estudo sobre sua teoria sociológica compreensiva. 
Você poderá identificar as influências que estimularam o pensamento de 
Weber, e o funcionamento das explicações sociológicas do autor a partir da 
ideia de compreensão. Em seguida, seu estudo será direcionado ao chamado 
individualismo metodológico — por meio do qual Weber define o método de 
análise da sociologia —, baseado nas ações sociais do indivíduo. Por último 
serão apresentadas as relações entre a objetividade e o desenvolvimento do 
conhecimento, e a postura necessária ao pesquisador para que a objetividade no 
estudo dos fenômenos sociais seja atingida — garantindo o rigor científico nas 
pesquisas sociais.
Este tópico inicial pretende apresentar as bases da teoria e metodologia 
propostas por Weber, para que no segundo tópico você adentre em seu 
mundo conceitual. Reforço a importância dos estudos complementares para o 
entendimento da teoria sociológica do autor que, não à toa, é considerado um 
clássico em nossa área de estudos. Desejo uma ótima leitura!
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
144
2 VIDA E OBRA
Para iniciarmos nossos estudos sobre Weber, vamos contextualizar sua 
vida:
O sociólogo alemão Max Weber nasceu em Erfurt, em 21 de abril de 1864. 
Filho de um advogado, Weber realizou seus estudos em Heidelberg, 
a partir do ano de 1882. Embora tivesse seguido a carreira jurídica, 
também estudava filosofia, teologia, história e economia. Em 1889, ele 
terminou seus estudos, tendo obtido o doutorado em Direito no ano de 
1891, quando defendeu sua tese.
Terminada a fase de estudos, Weber passa a se dedicar à docência 
universitária. Foi professor de Direito em Berlim (1891-1893), de 
economia política em Friburgo (1895) e, finalmente, também de 
economia política em Heidelberg (1896).
No ano de 1897, Weber foi acometido de uma crise nervosa, que durou 
até 1902. Somente neste ano ele vai retomando, aos poucos, seu trabalho. 
Em 1903, ajuda a fundar o “Arquivo para a ciência social e a ciência 
política”, que se tornou uma das principais revistas de ciências sociais. 
Em 1904, Weber fará uma viagem de estudos para os Estados Unidos, 
que vai influenciar diretamente sua reflexão sobre o capitalismo. É a 
partir deste período que Weber passa a se interessar mais diretamente 
pela sociologia.
Em 1907, o pensador alemão recebe uma herança que permite que ele 
se dedique apenas às suas atividades de pesquisa. Sua casa torna-se um 
centro frequentado por intelectuais de renome, como Georg Lukács, 
Georg Simmel e outros. Em 1908, Weber ajuda a fundar a associação 
alemã de sociologia. Durante a primeira guerra mundial (1914-1917), 
administra alguns hospitais da região de Heidelberg. Em 1918, aceita 
uma cátedra na Universidade de Munique. Weber ainda participa da 
redação da nova Constituição Germânica que funda a República da 
Alemanha (chama de Constituição de Weimar, cidade onde foi redigida). 
Seu falecimento ocorreu no ano de 1920, na cidade de Munique.
Entre os escritos de Max Weber, além de textos sociológicos, aparecem 
obras de epistemologia, história, direito e economia (SELL, 2002, p. 96).
FIGURA 1 – MAX WEBER
FONTE: <https://www.mundociencia.com.br/sociologia/max-weber/>. Acesso em: 7 jan. 2019.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER: TEORIA E MÉTODO
145
DICAS
Assim como já indicado nas unidades anteriores, acerca 
dos outros clássicos, temos uma excelente síntese sobre 
a vida de Weber e alguns textos fundamentais na obra 
Weber: Sociologia — da coleção Grandes Cientistas 
Sociais. Coordenada por Florestan Fernandes e organizada 
por Gabriel Cohn, foi publicada em várias edições pela 
Editora Ática.
FONTE: <ht tps : / /encrypted- tbn0.gstat ic .com/
images?q=tbn:ANd9GcTy-lpvFZbQRUItpSnlGioUgi7u3u
2zHJItGbWZlRg_S44SatajYQ>. Acesso em: 14 fev. 2019.
Agora que já conhecemos um pouco sobre a vida de Max Weber, vamos 
iniciar nossos estudos sobre sua tão vasta obra — extremamente importante para 
os estudos sociológicos. Bons estudos!
3 BASES DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA
Vamos começar contextualizando a produção da obra de Weber. A partir 
de sua biografia já é possível compreender que o período em que ele viveu esteve 
repleto de discussões filosóficas e intelectuais. Mas o que importa destacar é que 
o positivismo e seus críticos possuíam a maior parte dos holofotes nestes debates, 
na medida em que se buscava entender a especificidade das ciências da natureza 
e das chamadas ciências do espírito (humanas), especialmente quanto aos valores 
envolvidos, à possibilidade da identificação de leis, e aos métodos de ambas.
Weber inevitavelmente participa dos debates sobre o positivismo, e 
desenvolve boa parte de sua teoria sociológica neste contexto. Ela é chamada 
de Teoria Sociológica Compreensiva. Você já parou para pensar ou pesquisar o 
porquê deste nome? Veremos ao longo desta seção.
Sell (2002) destaca as correntes teóricas que influenciaram o pensamento 
de Weber:
•	 Filosofia	 clássica: Kant, pela afirmação de que o conhecimento não capta a 
essência da realidade, apenas os fenômenos que nos são transmitidos por meio 
dos sentidos; e Nietszche com sua visão pessimista da sociedade moderna.
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
146
• Filósofos neokantianos: Dilthey, Windelband e Rickert, pela insistência na 
necessidade da distinção entre as ciências da natureza e as características das 
ciências sociais.
• Pensamento social alemão: Tönnies, Simmel, Sombardt e Troeltsch, a partir da 
retomada de diferentes ideias, trazidas por este autor, denotando que Weber 
(embora seja o maior expoente alemão) não era um autor isolado.
Além destas influências, o contexto histórico é notável nas obras de Weber: 
um momento de expansão do capitalismo industrial; a unificação dos territórios 
germânicos realizada por Otto von Bismarck (1870); o governo centralizador e 
burocrata que foi implantado a partir de então; enfim, o papel do Estado como 
líder da industrialização econômica e o aumento da burocracia aparecem com 
frequência como tema de seus escritos — influenciando toda a sua obra.
Weber apresenta uma teoria sociológica diferenciada se comparada à 
perspectiva positivista de Comte e Durkheim, por exemplo, e mesmo à perspectiva 
do materialismo histórico-dialético de Marx. Ele apresenta o primado do sujeito, 
e não o primado do objeto. 
Se para Durkheim as explicações sociológicas deveriam orientar-se pela 
externalidade, pela objetividade, e para Marx deveriam orientar-se pelo modo de 
produção da sociedade, aspectos econômicos, em Weber a ênfase é no indivíduo 
como elemento fundante da realidade social. Para ilustrar, vejamos:
FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO DA RELAÇÃO INDIVÍDUO X SOCIEDADE PARA WEBER
SOCIEDADE
INDIVÍDUO
FONTE: A autora (2018)
Dada a força do pensamento positivista na época, a perspectiva trazida 
por Weber foi bastante inovadora para as ciências sociais. Trata-se de um novo 
caminho de interpretação, que modifica pilares da epistemologia e propõe novas 
formas metodológicas para a sociologia, mais diretamente.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER: TEORIA E MÉTODO
147
Uma primeira questão enfrentada por Weber, importante para a 
epistemologia das ciências sociais, partiu da discussão neokantiana sobre o uso 
dos mesmos métodos nas ciências da natureza e nas ciências sociais. O positivismo 
defendia o usodos mesmos métodos, e os neokantianos pensavam diferente. 
Weber também compartilhava desta última posição (SELL, 2002).
Weber não concordava com a busca por leis sociais defendida pelo 
positivismo, que era o que justificava a unicidade entre os métodos das ciências 
naturais e os métodos das ciências sociais. “Por isso, a preocupação básica dos 
críticos do positivismo era apontar quais eram os aspectos que diferenciavam as 
ciências sociais das ciências da natureza, ao mesmo tempo em que buscavam para 
elas um novo método” (SELL, 2002, p. 102).
Para entender os debates que rodearam o desenvolvimento da obra de 
Weber sobre as bases de sua teoria sociológica, vamos manter e apresentar a 
diferenciação desenvolvida por Sell (2002), com base na maneira pela qual os 
neokantianos influenciaram o pensamento weberiano: Dilthey, Windelband e 
Rickert.
Dilthey defendia que a diferença principal entre as ciências da natureza e 
as ciências sociais consistia no fato de que seus objetos de estudo são diferentes. 
Em função disso, a relação com o objeto é diferenciada: nas ciências da natureza 
temos um objeto exterior, enquanto nas ciências sociais a humanidade é objeto e 
sujeito ao mesmo tempo – já que faz parte do mundo da cultura. Em função disso, 
as ciências naturais partem do princípio da explicação, enquanto as ciências 
sociais partem do princípio da compreensão. “Enquanto a explicação consiste na 
busca de leis causais, a compreensão implica um mergulho empático no espírito 
dos agentes históricos em busca do sentido de sua ação” (SELL, 2002, p. 102). 
Vejamos a síntese do pensamento de Dilthey:
FIGURA 3 – SÍNTESE DO PENSAMENTO DE DILTHEY
FONTE: Sell (2002, p. 103)
Windelband apresentava a diferenciação pelo método, e não pelo objeto de 
estudos. Ele diferenciava as ciências que utilizam o método nomotético, e o método 
ideográfico. “Enquanto o método nomotético está orientado para a construção de 
leis gerais, o método ideográfico visa destacar a individualidade e a singularidade 
de um determinado fenômeno” (SELL, 2002, p. 103). Desta maneira, ele rejeitava a 
busca por leis gerais para as ciências sociais, e sim um estudo mais detido de um 
fenômeno em específico. Vejamos a síntese de seu pensamento:
DILTHEY OBJETO MÉTODO
Ciências da 
natureza Natureza Explicação
Ciências sociais Sociedade (homem)
Compreensão
(verstehen)
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
148
FIGURA 4 – SÍNTESE DO PENSAMENTO DE WINDELBAND
FONTE: Sell (2002, p. 103)
Por último temos Rickert, também diferenciando as ciências sociais e 
naturais a partir do método. Nas ciências sociais, segundo ele, existe uma relação 
intrínseca com os valores, coisa que as ciências naturais não apresentam. A seleção 
de objetos passa, necessariamente, pelos valores culturais e interesses pessoais 
do pesquisador (SELL, 2002). Esta ideia é retomada por Weber para tratar da 
subjetividade inerente aos processos de investigação social.
Em meio a estes debates, Weber critica o positivismo, mas também não 
defende uma separação total, já que entende a busca por leis como um instrumento 
para compreensão da realidade útil para que as ciências sociais não caiam no 
subjetivismo: “Para Weber, portanto, os dois procedimentos (explicação causal 
e compreensão) são complementares, devendo ser usados pelo pesquisador 
conforme as finalidades da pesquisa” (SELL, 2002, p. 104).
Weber apresenta esta proposta para as ciências sociais, do uso do método 
de acordo com as possibilidades de explicação dos fenômenos. Vejamos:
Para Weber, o sociólogo deve saber integrar estes dois métodos 
(individualizante e generalizante) nas suas pesquisas. Assim, pelo 
método individualizante, o cientista social seleciona os dados da 
realidade que deseja pesquisar, destacando a singularidade e os 
traços que definem seu objeto. Ao estudar o capitalismo, por exemplo, 
Weber procurou distinguir os elementos que definem este sistema e o 
diferenciam de outras formas de comportamento econômico. Trata-se 
do uso do método individualizante, que procura dirigir sua atenção 
para os caracteres qualitativos e singulares de qualquer fenômeno. 
Mas, ao pesquisar a origem do capitalismo, Weber vai utilizar do 
método generalizante o princípio da causalidade, que busca estabelecer 
relações entre os fenômenos. Nas pesquisas sobre o capitalismo, 
para voltar ao nosso exemplo, Weber se pergunta de que forma as 
ideias e o modo de vida dos protestantes (ética protestante) podem 
ser considerados como uma das causas fundamentais na origem do 
moderno sistema econômico capitalista (SELL, 2002, p. 104).
Sell (2002) destaca ainda que, para Weber, a finalidade das ciências sociais 
não deve ser de encontrar leis científicas, pois elas são apenas probabilidades 
de que determinadas situações ocorram de maneira esperada. O método 
WINDELBAND MÉTODO OBJETIVO
Ciências da 
natureza
Método 
nomotético Leis gerais
Ciências sociais Método ideográfico
Singularidade 
dos fenômenos
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER: TEORIA E MÉTODO
149
generalizante nas ciências sociais, portanto, não deve buscar um sistema de leis 
para identificar que fenômenos ocorram sempre da mesma forma, mas serve 
como método que propicie a objetividade científica — na medida em que auxilia 
no estabelecimento de relações entre os fenômenos.
Para finalizar, Sell (2002) apresenta uma síntese dos debates que 
influenciaram Weber na elaboração de sua teoria sociológica:
FIGURA 5 – SÍNTESE DEBATES CIÊNCIAS DA NATUREZA X CIÊNCIAS SOCIAIS
FONTE: Sell (2002, p. 106)
IMPORTANT
E
Você deve recordar que a essência da discussão epistemológica de Weber está 
direcionada para todo este debate apresentado, o qual envolve diferentes autores. O essencial 
é compreender que a discussão se dá para a delimitação das especificidades entre as ciências 
da natureza e as ciências sociais, seja com propostas que fazem pelo objeto de estudo ou 
com propostas que pensam o método como diferenciação. E, para Weber, a finalidade 
da pesquisa não é a elaboração de leis, e sim a utilização dos métodos individualizante e 
generalizante — de acordo com as características e necessidades da pesquisa.
POSITIVISTAS
As ciências da natureza e as ciências sociais possuem 
o mesmo método.
NEO-KANTIANOS
As ciências da natureza e as ciências sociais possuem 
métodos diferentes.
MAX WEBER
Crítica aos positivistas: a realidade é infinita. Logo, 
não pode ser explicada totalmente a partir de leis 
científicas.
Crítica aos neo-kantianos: a sociologia deverá fazer 
uso dos dois métodos, dependendo da finalidade da 
pesquisa.
Todavia, nas ciências sociais, as "leis" são apenas 
probabilidade de ação social. São um meio e não a 
finalidade da pesquisa.
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
150
4 INDIVIDUALISMO METODOLÓGICO
Weber, como vimos, apresenta uma visão diferenciada do positivismo 
quando pensa a relação entre as ciências sociais e as ciências naturais. 
Relembrando: não defende que seja preciso a obtenção de leis gerais nas análises 
sociais, conforme ditava o positivismo, mas sim o uso dos métodos generalizante 
e individualizante de acordo com as características do objeto em estudo.
Ele se diferencia também, do positivismo, no modo de pensar os 
fundamentos da relação entre indivíduo e sociedade, conforme antecipado na 
seção anterior. Inaugura o chamado primado do sujeito, sugerindo que este seja 
o elemento central das análises de sociólogos — e não apenas os fenômenos 
externos a ele (conforme autores positivistas).
A unidade básica da explicação sociológica é, para Weber, o indivíduo — 
que ele compara a um átomo na sociologia interpretativa. Para entender unidades 
maiores como o Estado, uma associação, o capitalismo etc., é preciso analisar 
as interações humanas ali existentes (relações sociais) e para isso a sociologia 
reduziria os conceitos à ação compreensível, que são os atos dos indivíduos 
participantes destas relações.
Se, para Durkheim, a sociedade é superior ao indivíduo,poderíamos 
dizer que para Weber, o indivíduo é o fundamento da sociedade. Esta 
afirmação vai muito além do fato de que uma sociedade não existe sem 
indivíduos. A existência da sociedade somente se realiza pela ação e 
interação recíprocas entre as pessoas (SELL, 2002, p. 107).
A partir das interações mencionadas existem as estruturas coletivas como 
família, grupo, Estado etc., e então, para a análise destas instituições, o ponto de 
partida seria a ação dos indivíduos (daí a importância do conceito de ação em sua 
obra) e, por isso, que ele é individualista quanto ao método.
A possibilidade do sociólogo de compreender as instituições sociais, 
portanto, passa pela análise do comportamento dos indivíduos. “Tudo o que 
existe na sociedade, seus grupos, instituições e comportamentos, são fruto da 
vontade e da atividade dos homens. Por isso, não faz sentido compreendê-los 
sem resgatar o sentido contido em cada elemento da sociedade” (SELL, 2002, 
p. 108). 
Para Weber, é essencial retornar à gênese de cada instituição para 
compreender qual foi a atividade que deu importância para sua existência, e as 
razões pelas quais continuaram a existir. Por isso a análise deve se deter nas ações 
individuais, que originaram as instituições e que as mantêm até o momento da 
investigação. 
Segue uma análise mais detida sobre as influências que geraram em Weber 
a proposta do individualismo metodológico e suas características:
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER: TEORIA E MÉTODO
151
Max Weber incorporou o problema da compreensão em sua abordagem 
sociológica que, como ressaltava, era um tipo de Sociologia, entre 
outros tipos possíveis. Portanto, chamou sua perspectiva de Sociologia 
“interpretativa” ou “compreensiva”. É característico de sua posição 
racional e positivista o fato de ter ele transformado o conceito de 
compreensão, que continuou sendo para Weber uma abordagem 
excepcional das Ciências Morais ou Culturais que tratam do homem, 
e não dos outros animais ou da natureza inanimada. O homem pode 
“compreender” ou procurar “compreender” suas próprias intenções 
pela introspecção, ou pode interpretar os motivos da conduta de 
outros homens em termos de suas intenções professadas ou atribuídas.
Weber distingue diferentes “tipos” de ações motivados. Considera, 
caracteristicamente, como do tipo mais “compreensivo” as ações que 
estão na natureza da adequação racional, e dos quais a conduta do 
“homem econômico” constitui exemplo destacado.
As ações menos racionais são exemplificadas por Weber em termos 
da busca de “fins absolutos”, fluindo de sentimentos afetivos ou dos 
elementos “tradicionais”. Como os fins absolutos devem ser tomados 
pelo sociólogo como elementos “dados”, uma ação pode ser racional 
em relação aos meios empregados, mas irracional em relação aos 
fins visados. A ação “afetiva”, que nasce puramente do sentimento, 
é um tipo de conduta menos racional. E finalmente, aproximando-
se do nível “instintivo”, há a conduta “tradicional”: irrefletido e 
habitual, esse tipo é sancionado porque “sempre foi feito assim”, 
sendo, portanto, considerado como a conduta adequada. Tais tipos de 
“ações” são construídos operacionalmente em termos de uma escala 
de racionalidade e irracionalidade. Um recurso tipológico, e não uma 
“psicologia” da motivação, é assim descrito. 
Essa abordagem nominalista, com sua ênfase sobre as relações 
racionais de fins e meios como a forma mais “compreensível” de 
conduta, distingue a obra de Weber do pensamento conservador e 
sua “compreensão” documental, assimilando a singularidade de 
um objeto a um todo espiritualizado. Não obstante, dando destaque 
à incompreensibilidade da conduta humana, em oposição à simples 
explicação causal dos “fatos sociais” como ocorre na Ciência Natural, 
Weber traça uma linha entre sua Sociologia interpretativa e a physique 
sociale na tradição de Condorcet, que Comte chamou de sociologia 
e Durkheim desenvolveu de modo tão destacado. Já se observou 
acertadamente que os tipos básicos de estrutura social usados por 
Weber — “sociedade”, “associação” e “comunidade” — correspondem 
intimamente aos seus “tipos de ação” — o “racionalmente adequado”, 
o “afetivo”, e o “tradicionalista”. 
Se aceitássemos as reflexões metodológicas que Weber faz sobre seu 
próprio trabalho pelo valor aparente que encerram, não encontraríamos 
nelas uma justificação sistemática de sua análise de fenômenos como 
a estratificação ou o capitalismo. Tomado literalmente, o “método 
de compreensão” dificilmente lhe permitiria o uso de explicações 
estruturais, pois elas tentam justificar a motivação dos sistemas de ação 
pelas suas funções como estruturas funcionais e não pelas intenções 
subjetivas dos indivíduos que as praticam.
Segundo o método de compreensão de Weber, devemos esperar que 
ele siga uma teoria subjetiva de estratificação, mas isso não ocorre. 
Da mesma forma, podemos assinalar a refutação, por Weber, de um 
lugar-comum alemão sobre os Estados Unidos como uma nação de 
“indivíduos atomizados” : “No passado e até o presente, foi uma 
característica precisamente da democracia especificamente americana 
o fato de não constituir ela um monte informe de indivíduos, mas um 
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
152
animado complexo de associações rigorosamente exclusivas, embora 
voluntárias”. Weber vê a tendência para a democracia ateniense 
como sendo determinada pela modificação na organização militar: a 
democracia surgiu quando o exército dos hoplitas, mais antigo, deu 
lugar ao navalismo. Explicações estruturais semelhantes são reveladas 
na forma pela qual ele liga a difusão das burocracias à tarefa de 
administrar grandes impérios interiores como Roma e China, Rússia e 
os Estados Unidos.
Ao usar o princípio de explicação estrutural, Weber aproxima-se 
do processo analítico do pensamento marxista, que, de uma forma 
“desespiritualizada”, utiliza o modo de pensar originalmente hegeliano 
e conservador. Na sua ênfase metodológica sobre a compreensão 
do indivíduo como a unidade final de explicação, Weber polemiza 
contra o pensamento organicista dos conservadores, e também com 
o uso marxista de significados objetivos de ação social, a despeito da 
consciência do agente (MILLS; GERTH, 1946, p. 73).
DICAS
Para avançar no entendimento do individualismo metodológico, acesse 
o artigo de Sell que trata especificamente sobre a discussão acerca desta temática. 
Está disponível no link: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/civitas/article/
view/22167. A referência completa é: SELL, C. E. Max Weber e o átomo da sociologia: um 
individualismo metodológico moderado? Civitas: Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, 
vol. 16, n. 2, p. 323-347, abr.– jun. 2016. 
5 OBJETIVIDADE E CONHECIMENTO
Já é possível perceber, a partir do estudo das bases que influenciaram o 
desenvolvimento da teoria sociológica compreensiva, que Weber se preocupou em 
entender como o sujeito pesquisador — que também é objeto na medida em que 
faz parte de grupos sociais — pode garantir que os resultados de suas pesquisas 
científicas não estejam “contaminados” com seus valores pessoais. Em sua obra, 
esta preocupação aparece sendo chamada de objetividade do conhecimento.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER: TEORIA E MÉTODO
153
DICAS
A coleção Ensaios Comentados da Editora Ática, que já apresentei 
a você na primeira unidade deste livro de estudos, publicou o 
texto A objetividade do conhecimento nas Ciências Sociais, em 
2006. O trecho anteriormente destacado é um excerto deste 
texto, portanto, recomendado para todo estudante da área de 
Ciências Sociais.
FONTE:<https://images.livrariasaraiva.com.br/imagemnet/imagem.
aspx/?pro_id=1642130&qld=90&l=430&a=-1>. Acesso em: 14 fev. 2019.
Outra obra que apresenta discussões sobre a objetividade 
necessária ao cientista social, e a distinção entre a ciência 
(objetiva) e a política (valores) do pesquisador é o livro Ciência e 
Política: duas vocações. Há várias edições no Brasil, publicadaspela Editora Cultrix. 
FONTE:<http://statics.livrariacultura.net.br/products/capas_
lg/347/60347.jpg>. Acesso em: 14 fev. 2019.
O cientista precisa, para Weber, estar capacitado para poder cumprir 
seu dever científico e ver a realidade dos fatos, diferenciando sua defesa pelos 
seus valores em seu aspecto mais político. “Enquanto a ciência é um produto da 
reflexão do cientista, a política o é do homem de vontade e de ação, ou do membro 
de uma classe que compartilha com outras ideologias e interesses” (BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 98).
É necessário que haja uma distinção clara entre os julgamentos de valor e o 
saber empírico levantado pelo cientista. Ele deve analisar os problemas e sugerir 
soluções, mas o significado que dá a isso diz respeito ao significado que dá a estes 
problemas e objetos, ou seja, seu julgamento valorativo.
Destaca-se também que Weber reconhece que as ciências humanas estão 
relacionadas a valores, já que os valores pessoais e a cultura do pesquisador 
são um quadro que move suas pesquisas de acordo com interesses pessoais. O 
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
154
interesse de um sociólogo brasileiro certamente será diferente do interesse de um 
sociólogo francês, por exemplo. No entanto, nem por isso a ciência sociológica cai 
no relativismo. 
Para que isto não aconteça, ele entende que a ciência deve distinguir juízos 
de fato e juízos de valor. “Isto implicava afirmar que, se o sociólogo era movido 
por seus valores na hora de definir seu objeto, na condução da pesquisa, todas as 
considerações pessoais do autor (seus juízos de valor ou axiológicos) deveriam 
ser colocadas de lado” (SELL, 2002, p. 132).
Na sua atuação em pesquisa, o sociólogo deveria apenas trabalhar com 
os juízos de fato. Independentemente do problema ético ou político, as ciências 
sociais deveriam ser neutras. Neste caso, portanto, Weber indica uma separação 
entre teoria e prática, quando as ciências deveriam indicar dados empíricos, 
apenas, e não definições práticas. 
Esta postura é indicada pela ideia de neutralidade axiológica, quando há 
separação entre os teóricos e os movimentos políticos.
Se, por um lado, esta postura permitiu aos sociólogos uma 
maior profissionalização de sua ciência (já que suas questões são 
essencialmente teóricas), ao isolar a ciência da política, Weber deixou 
as ciências humanas expostas ao perigo de tornarem-se ideologias 
de justificação da ordem estabelecida, na medida em que elas estão 
impedidas de fornecer ou apontar alguma solução prático-política 
para as questões sociais (SELL, 2002, p. 133).
A ciência deve ser altamente racional, e o saber empírico deve ser buscado 
por métodos e instrumentos adequados, e, ao propor soluções para um problema, 
o cientista deve indicar todas as possibilidades, não dizendo o que deve ser feito 
— mas o que é possível. Exemplo de Weber para tal situação:
Hoje falamos habitualmente da ciência como “livre de todas as 
pressuposições”. Haverá tal coisa? Depende do que entendemos por 
isso. Todo trabalho científico pressupõe que as regras da lógica do 
método são válidas; são as bases gerais de nossa orientação no mundo; 
e, pelo menos para nossa questão especial, essas pressuposições são o 
aspecto menos problemático da ciência. A ciência pressupõe, ainda, 
que o produto do trabalho científico é importante no sentido de que 
“vale a pena conhecê-lo”. Nisto estão encerrados todos os nossos 
problemas, evidentemente, pois esta pressuposição não pode ser 
provada por meios científicos - só pode ser interpretada com referência 
ao seu significado último, que devemos rejeitar ou aceitar, segundo a 
nossa posição última em relação à vida. [...] A “ressuposição” geral da 
Medicina é apresentada trivialmente na afirmação de que a Ciência 
Médica tem a tarefa de manter a vida como tal e diminuir o sofrimento 
na medida máxima de suas possibilidades. Se a vida vale a pena ser 
vivida e quando - esta questão não é indagada pela Medicina (WEBER, 
1979, p. 170-171 apud BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, 
p. 99).
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER: TEORIA E MÉTODO
155
Nesta discussão sobre ciência e valores, Weber indaga como é possível 
atingir a objetividade do conhecimento, se os valores estarão sempre presentes 
no cientista. Ele afirma que é possível atingir esta objetividade desde que 
exista consciência destes valores e que eles sejam controlados por meio dos 
procedimentos de análise, ou seja, que o rigor científico seja buscado a partir das 
metodologias científicas. 
Para isto Weber aplica sua ideia de tipo ideal, entendendo que é 
uma metodologia que pode auxiliar na manutenção do rigor metodológico. 
Vejamos como:
A ação do cientista é seletiva. Os valores são um guia para a escolha 
de um certo objeto pelo cientista. A partir daí ele definirá uma certa 
direção para a sua explicação e os limites da cadeia causal que ela é 
capaz de estabelecer, ambos orientados por valores. As relações de 
causalidade, por ele construídas na forma de hipóteses, constituirão 
um esquema lógico-explicativo cuja objetividade é garantida pelo 
rigor e obediência aos cânones do pensamento científico. O ponto 
essencial a ser salientado é que o próprio cientista é quem atribui aos 
aspectos do real e da história que examina uma ordem através da 
qual procura estabelecer uma relação causal entre certos fenômenos. 
Assim produz o que se chama tipo ideal (BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002, p. 99).
Há, portanto, uma questão ética, necessária ao cientista, pois precisa manter 
a verdade científica por meio da racionalidade com relação às suas finalidades — 
e manter-se racional com relação a valores, buscando evidências e não apenas 
reforçando algum posicionamento que já tenha a partir de seu conjunto moral.
Barbosa, Oliveira e Quintaneiro (2002, p. 110) apresentam a forma pela qual 
Weber entende que é possível manter esta racionalidade e, por consequência, esta 
objetividade com relação ao conhecimento tão necessária ao processo científico 
de análise:
Dada a sua complexidade, a discussão realizada por Weber sobre a 
objetividade das ciências sociais merece uma consideração cuidadosa. 
Segundo o autor, para chegar ao conhecimento que pretende, o 
cientista social efetua quatro operações: 1) estabelece leis e fatores 
hipotéticos que servirão como meios para seu estudo; 2) analisa e 
expõe ordenadamente “o agrupamento individual desses fatores 
historicamente dados e sua combinação concreta e significativa”, 
procurando tornar inteligível a causa e natureza dessa significação; 
3) remonta ao passado para observar como se desenvolveram as 
diferentes características individuais daqueles agrupamentos que 
possuem importância para o presente e procura fornecer uma 
explicação histórica a partir de tais constelações individuais anteriores, 
e 4) avalia as constelações possíveis no futuro.
Weber endossa o ponto de vista segundo o qual as ciências sociais 
visam a compreensão de eventos culturais enquanto singularidades. 
O alvo é, portanto, captar a especificidade dos fenômenos estudados 
e seus significados. Mas sendo a realidade cultural infinita, uma 
investigação exaustiva, que considerasse todas as circunstâncias ou 
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
156
variáveis envolvidas num determinado acontecimento, torna-se uma 
pretensão inatingível. Por isso, o cientista precisa isolar, da “imensidade 
absoluta, um fragmento ínfimo”: que considera relevante. O critério de 
seleção operante nesse processo está dado pelo significado que certos 
fenômenos possuem, tanto para ele como para a cultura e a época em 
que se inserem. É a partir da consideração de ambos os registros que 
será possível o ideal de objetividade e inteligibilidade nas ciências 
sociais. Pode-se dizer, então, que o particular ou específico não é 
aquilo que vem dado pela experiência, nem muito menos o ponto de 
partida do conhecimento, mas o resultado de um esforço cognitivo que 
discrimina, organiza e,enfim, abstrai certos aspectos da realidade na 
tentativa de explicar as causas associadas à produção de determinados 
fenômenos. Mas o método de estudo de que se utiliza baseia-se no 
estado de desenvolvimento dos conhecimentos, nas estruturas 
conceituais de que dispõe e nas normas de pensamento vigentes, o 
que lhe permite obter resultados válidos não apenas para si próprio. 
Existe uma grande diferença entre conferir significado à realidade 
histórica por meio de ideias de valor e conhecer suas leis e ordená-la 
de acordo com conceitos gerais e princípios lógicos, genéricos. Mas 
a explicação do fato significativo em sua especificidade nunca estará 
livre de pressupostos porque ele próprio foi escolhido em função de 
valores. Com isso, Weber rejeita a possibilidade de uma ciência social 
que reduza a realidade empírica a leis. Para explicar um acontecimento 
concreto, o cientista agrupa uma certa constelação de fatores que lhe 
permitam dar sentido a esta realidade particular.
Weber procura demonstrar que conceitos muito genéricos, extensos, 
abrangentes ou abstratos, são menos proveitosos para o cientista 
social por serem pobres em conteúdo, logo, afastados da riqueza da 
realidade histórica. Portanto, a tentativa de explicar tais fenômenos 
por meio de “leis” que expressem regularidades quantificáveis que 
se repetem não passa de um trabalho preliminar, possivelmente 
útil. Os fenômenos individuais são um conjunto infinito e caótico 
de elementos cuja ordenação é realizada a partir da significação que 
representam e por meio da imputação causal que lhe é feita. Logo, a) 
o conhecimento de leis sociais não é um conhecimento do socialmente 
real, mas unicamente um dos diversos meios auxiliares que o nosso 
pensamento utiliza para esse efeito e, b) porque nenhum conhecimento 
dos acontecimentos culturais poderá ser concebido senão com base na 
significação que a realidade da vida, sempre configurada de modo 
individual, possui para nós em determinadas relações singulares.
O princípio de seleção dos fenômenos culturais infinitamente diversos 
é subjetivo, já que apenas o ponto de vista humano é capaz de conferir-
lhes sentido, assim como de proceder à imputação de causas concretas 
e adequadas ou objetivamente possíveis, destacando algumas 
conexões, construindo relações, e elaborando ou fazendo uso de 
conceitos que pretendem ser fecundos para a investigação empírica, 
embora inicialmente imprecisos e intuídos. Isto vai permitir “tomar 
consciência não do que é genérico, mas, muito pelo contrário, do 
que é específico a fenômenos culturais”. A resposta para o problema 
da relação entre a objetividade do conceito puro e a compreensão 
histórica encontra-se na elaboração dos tipos ideais, através dos quais 
busca-se tornar compreensível a natureza particular das conexões que 
se estabelecem empiricamente.
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER: TEORIA E MÉTODO
157
É por meio do conceito de tipo ideal, portanto, que Weber propõe 
um instrumento que possa auxiliar o pesquisador a manter-se no campo da 
objetividade. Este conceito será estudado de maneira mais aprofundada no 
próximo tópico — que apresentará o arcabouço conceitual de Weber. Para 
encerrar este tema, nas palavras do próprio Weber, vamos conhecer suas ideias 
sobre estes princípios de seleção necessários ao pesquisador:
Disso resulta que todo o conhecimento da realidade cultural é sempre 
um conhecimento subordinado a pontos de vista especificamente 
particulares. Quando exigimos do historiador ou do sociólogo a 
premissa elementar de saber distinguir entre o essencial e o secundário, 
de possuir para esse fim os “pontos de vista” necessários, queremos 
unicamente dizer que ele deverá saber referir — consciente ou 
inconscientemente — os elementos da realidade a “valores culturais” 
universais e destacar aquelas conexões que para nós se revistam de 
significado. E se é frequente a opinião de que tais pontos de vista 
poderão ser “deduzidos da própria matéria”, isto apenas se deve à 
ingênua ilusão do especialista que não se dá conta de que — desde 
o início e em virtude das ideias de valor com que inconscientemente 
abordou o tema — destacou da imensidade absoluta um fragmento 
ínfimo, e particularmente aquele cujo exame lhe importa.
A propósito desta seleção de “aspectos” especiais e individuais 
do devir, que sempre e em todos os casos se realiza consciente 
ou inconscientemente, reina também essa concepção do trabalho 
científico-cultural que constitui a base da tão repetida afirmação de 
que o elemento “pessoal” é o que verdadeiramente confere valor a 
uma obra científica. Ou seja, de que qualquer obra deveria exprimir 
uma “personalidade” paralelamente a outras qualidades.
Por certo que sem as ideias de valor do investigador não existiria 
qualquer princípio de seleção nem conhecimento sensato do real 
singular e, assim como, sem a crença do pesquisador na significação de 
um conteúdo cultural qualquer resultaria completamente desprovido 
de sentido todo o estudo do conhecimento da realidade individual, 
também a orientação da sua convicção pessoal e a difração dos valores 
no espelho da sua alma conferem ao seu trabalho uma direção. E os 
valores a que o gênio científico refere os objetos da sua investigação 
poderão determinar a “concepção” que se fará de toda uma época. 
Isto é, não só poderão ser decisivos para aquilo que, nos fenômenos, se 
considera “valiosos”, mas ainda para o que passa por ser significativo 
ou insignificante, “importante” ou “secundário”.
O conhecimento científico-cultural tal como o entendemos encontra-se 
preso, portanto, a premissas “subjetivas” pelo fato de apenas se ocupar 
daqueles elementos da realidade que apresentem alguma relação, por 
muito indireta que seja, com os acontecimentos a que conferimos uma 
significação cultural. Apesar disso, continua naturalmente a ser um 
conhecimento puramente causal, exatamente como o conhecimento de 
eventos naturais individuais importantes, que têm caráter qualitativo 
(WEBER, 2003, p. 97).
Finalizando este tópico sobre a teoria sociológica de Weber, segue uma 
sugestão de vídeo, e seguimos para o próximo tópico, cujo foco de estudo está 
direcionado para os principais conceitos das obras weberianas.
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
158
DICAS
Para se aprofundar no último dos autores clássicos, segue o link do último 
vídeo produzido pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo – UNIVESP: Clássicos 
da Sociologia: Max Weber, disponível na plataforma Youtube. Você poderá acessá-lo em: 
https://www.youtube.com/watch?v=ea-sXQ5rwZ4.
159
 Neste tópico, você aprendeu que:
• Em Weber a ênfase é no indivíduo como elemento fundante da realidade social.
• Uma primeira questão enfrentada por Weber partiu da discussão neokantiana 
sobre o uso dos mesmos métodos nas ciências da natureza e nas ciências sociais. 
Weber não concordava com a busca por leis sociais defendida pelo positivismo, 
que era o que justificava a unicidade entre os métodos das ciências naturais e 
os métodos das ciências sociais.
• Para Weber, a finalidade de pesquisa não é a elaboração de leis, e sim a 
utilização dos métodos individualizante e generalizante — de acordo com as 
características e necessidades da pesquisa.
• A unidade básica da explicação sociológica é, para Weber, o indivíduo — que 
ele compara a um átomo na sociologia interpretativa.
• Para Weber é essencial retornar à gênese de cada instituição para compreender 
qual foi a atividade que deu importância para sua existência, e as razões 
pelas quais continuaram a existir. Por isso, a análise deve se deter nas ações 
individuais, que originaram as instituições e que as mantêm até o momento da 
investigação.
• Weber indaga como é possível atingir a objetividade do conhecimento, se 
os valores estarão sempre presentes no cientista. Ele afirma que é possível 
atingir esta objetividade, desde que exista consciência destes valores e que eles 
sejam controlados por meio dos procedimentos de análisee da neutralidade 
axiológica, ou seja, que o rigor científico seja buscado a partir das metodologias 
científicas. Para isto utiliza seu conceito de tipo ideal.
RESUMO DO TÓPICO 1
160
1 Weber recebeu diferentes influências na elaboração de seu pensamento 
sociológico, sobretudo dos pensadores neokantianos. Sobre as ideias 
desenvolvidas por Weber a partir das discussões teóricas e metodológicas 
destes autores, analise as seguintes sentenças:
I – Weber indica que nas ciências sociais as leis científicas são possibilidades de 
ações sociais, um meio e não a finalidade da pesquisa. 
II – Weber reafirmava a importância da busca por leis sociais para que as 
ciências sociais igualassem seus métodos com as ciências naturais.
III – Weber defendeu o uso de métodos individualizantes e generalizantes, a 
serem utilizados de acordo com o objeto de estudo em questão na pesquisa.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
b) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
2 O individualismo metodológico é a forma desenvolvida por Weber para 
a consolidação de uma metodologia das ciências sociais. Este método 
inaugura uma nova perspectiva para as análises que envolvem a sociedade. 
Isto posto, pode-se afirmar que para o individualismo metodológico a 
unidade básica da explicação sociológica é:
a) ( ) o Conhecimento Objetivo.
b) ( ) a Desigualdade Social.
c) ( ) a Estrutura Social.
d) ( ) o Indivíduo.
AUTOATIVIDADE
161
TÓPICO 2
CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA AÇÃO 
SOCIAL PARA A COMPREENSÃO DA 
SOCIEDADE
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, você conheceu as bases teóricas e metodológicas 
do pensamento de Max Weber, que definem a chamada teoria sociológica 
compreensiva. Estas bases são fundamentais para entender a lógica das análises 
do autor, e os conceitos que ele desenvolveu para amparar suas investigações 
— especialmente as relações entre o individualismo metodológico e a noção de 
ação social.
Prosseguindo seus estudos, este tópico lhe dará condições de aprofundar 
os conceitos fundamentais da obra weberiana, embora não estejam todos aqui 
presentes. Há materiais que direcionam o estudo para que você conheça mais 
conceitos. O direcionamento se dá pela via dos conceitos mais utilizados na teoria 
sociológica compreensiva.
Para tanto, iniciaremos com o mais básico e fundamental: a noção de 
ação social. Em seguida, conheceremos a ideia de tipo ideal, utilizada por Weber 
como instrumento metodológico. Logo após, estudaremos os conceitos de relação 
social; poder e dominação; e estratificação social (classes, estamentos e partidos).
Com estas bases conceituais será possível avançar ao próximo tópico para 
compreender os desdobramentos da sociologia de Weber, quando estes conceitos 
são aplicados nas análises de fenômenos sociais. Bons estudos!
2 AÇÃO SOCIAL
Como vimos no tópico anterior, Weber busca utilizar como método de 
análise social a compreensão e explicação do mundo, desenvolvendo a chamada 
teoria sociológica compreensiva. É por meio desta metodologia que ele defende 
a análise do objeto de estudo da sociologia, que para ele é a ação social. Este 
conceito permeia toda a sua obra, e segue sendo discutido e interpretado ainda 
nos dias atuais.
162
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
A sociologia, para ele, tem a tarefa de interpretar a ação social e seus 
efeitos, sempre a partir do indivíduo como fundamento da explicação sociológica, 
de acordo com o que vimos no item sobre o individualismo metodológico. Este 
autor inova, portanto, ao trazer o foco de estudos para o indivíduo como gerador 
das ações sociais, que seriam para ele o objeto formal da sociologia.
“A ação é definida por Weber como toda conduta humana (ato, omissão, 
permissão) dotada de um significado subjetivo dado por quem a executa e que 
orienta essa ação” (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 104). A 
ação, portanto, é um comportamento relacionado pelos indivíduos com um 
sentido subjetivo. 
IMPORTANT
E
Se a ação é um comportamento que o indivíduo relaciona a um sentido 
subjetivo, a ação social é um comportamento orientado em seu curso pelo comportamento 
de outros indivíduos (ou seja, social).
A partir da aplicabilidade do individualismo metodológico, portanto, é 
que a sociologia procura na ação dos indivíduos, orientada em relação a outros 
indivíduos, explicar os fenômenos sociais. Na prática se dá desta maneira:
A explicação sociológica busca compreender e interpretar o sentido, 
o desenvolvimento e os efeitos da conduta de um ou mais indivíduos 
referida a outro ou outros - ou seja, da ação social, não se propondo 
a julgar a validez de tais atos nem a compreender o agente enquanto 
pessoa. Compreender uma ação é captar e interpretar sua conexão de 
sentido, que será mais ou menos evidente para o sociólogo. Em suma: 
ação compreensível é ação com sentido. As condutas humanas são 
tanto mais racionalizadas quanto menor for a submissão do agente aos 
costumes e afetos e quanto mais ele se oriente por um planejamento 
adequado à situação. Pode-se dizer, portanto, que as ações serão 
tanto mais intelectualmente compreensíveis (ou sociologicamente 
explicáveis) quanto mais racionais, mas é possível a interpretação 
endopática e o cálculo exclusivamente intelectual dos meios, direção 
e efeitos da ação ainda quando existe uma grande distância entre os 
valores do agente e os do sociólogo. Interpretar uma ação devida a 
valores religiosos, a virtudes, ao fanatismo ou a afetos extremos que 
podem não fazer parte da experiência do sociólogo ou aos quais ele 
seja pouco suscetível pode, portanto, dar-se com um grau menor de 
evidência (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 104).
O sociólogo, portanto, precisa determinar o sentido ou significado da 
ação social, ou seja, o motivo pelo qual o agente fundamenta a sua ação social. 
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA AÇÃO SOCIAL PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
163
“Para a sociologia, importa recuperar a razão e a finalidade que os próprios 
indivíduos conferem às suas atividades — bem como às suas relações com os 
demais indivíduos e com a sociedade” (SELL, 2002, p. 110). Por isso a sociologia 
de Weber é chamada de compreensiva, pois busca compreender o sentido da 
ação social.
Para dar conta da quantidade de dimensões de uma ação social, Weber 
elabora os chamados tipos puros da ação social, que orientam a análise das ações 
sociais encontradas na sociedade. Eles são tipos ideais, conforme a definição que 
estudaremos na próxima seção, instrumentos metodológicos e conceituais.
Vamos nos apropriar da descrição de Sell (2002, p. 111) dos tipos puros da 
ação social:
• Ação social referente a fins: a ação é determinada por expectativas 
quanto ao comportamento de objetos do mundo exterior e de 
outras pessoas. Estas expectativas funcionam como “condições” 
ou “meios” para alcançar fins próprios, ponderados e perseguidos 
racionalmente como sucesso. Portanto, neste tipo de ação, o homem 
coloca determinados objetivos e busca os meios mais adequados 
para persegui-los. O importante é perceber que o motivo da ação é 
alcançar sempre um resultado eficiente.
• Ação social referente a valores: a ação é determinada pela crença 
consciente no valor — ético, estético, religioso ou qualquer que seja sua 
interpretação — absoluto e inerente a determinado comportamento 
como tal, independente do resultado. O motivo da ação, neste 
caso, não é um resultado, mas um valor, independentemente dos 
resultados positivos ou negativos que ela possa ter.
• Ação social afetiva: a ação é determinada de modo afetivo, 
especialmente emocional: por afetos ou estados emocionais atuais.
• Ação social tradicional: a ação é determinada pelo costume 
arraigado.
Weber reconhece que é possível que mais de um tipo de ação condicione 
o indivíduo em seus comportamentos, portanto, estes tipospuros orientam a 
análise, mas na prática podem aparecer mesclados em suas dimensões.
Podemos utilizar essas quatro categorias para analisar o sentido de um 
sem-número de condutas, tanto daquelas praticadas, como das que o 
agente se recusa a executar ou deixa de praticar: estudar, dar esmolas, 
comprar, casar, participar de uma associação, fumar, presentear, 
socorrer, castigar, comer certos alimentos, assistir à televisão, ir à 
missa, à guerra etc. O sociólogo procura compreender o sentido que um 
sujeito atribui à sua ação e seu significado. Há que se ter claro, porém, 
o alerta de Weber de que “muito raras vezes a ação, especialmente a 
social, está exclusivamente orientada por um ou outro destes tipos” 
que não passam de modelos conceituais puros, o que quer dizer 
que em geral as ações sofrem mais de um desses condicionamentos, 
embora possam ser classificadas com base naquele que, no caso, é o 
predominante (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 104).
164
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
Dito isto, Weber procura explicar como as interações entre os indivíduos 
formam os grupos sociais e, por consequência, as instituições sociais. O sentido 
da ação social, sendo compartilhado, forma uma relação social. Parte-se do 
pressuposto de que é provável que se aja de acordo com o sentido compartilhado, 
seja nas relações sociais de caráter pessoal ou impessoal.
As relações sociais podem ser legitimadas por uma ordem legítima, por 
meio da convenção ou do direito. Exemplos: agrupamentos (grupos coletivos 
possuem órgãos administrativos); empresas (grupos buscando determinado fim 
estabelecido racionalmente); associações (regulamentos aceitos voluntariamente); 
instituições (regulamentos impostos aos seus membros) (SELL, 2002).
A ação social, portanto, é o conceito fundamental na teoria sociológica 
compreensiva, e o caminho analítico se inicia nela, passando pela interação entre 
os indivíduos e chegando às instituições. O caminho contrário também é possível, 
partindo de uma instituição para compreender quais ações sociais são comuns 
aos sujeitos que a formam. Para reforçar o quanto o indivíduo é importante para 
a teoria sociológica de Weber, Sell (2002) apresenta um quadro como exemplo:
FIGURA 6 – EXEMPLO DE ESQUEMA TEÓRICO DE WEBER
FONTE: Sell (2002, p. 113)
Barbosa, Oliveira e Quintaneiro (2002) destacam ainda a importância do 
cuidado com a análise das ações sociais no seguinte aspecto:
É necessário distinguir uma ação propriamente social de dois 
modos de conduta simplesmente reativos, sem caráter social e 
cujo sentido não se conecta significativamente às ações do outro, a 
saber: a) a ação homogênea - aquela executada por muitas pessoas 
simultaneamente, como proteger-se contra uma calamidade natural, 
ou aquelas reações uniformes de massa criadas pela situação de classe 
quando, por exemplo, todos os empresários de um setor aumentam 
automaticamente seus preços a partir do anúncio pelo governo de 
que será criado um imposto específico; b) a ação proveniente de 
uma imitação ou praticada sob a influência da ou condicionada pela 
conduta de outros ou por uma massa (uma multidão, a imprensa e a 
opinião pública seriam massas dispersas). Na medida em que o sujeito 
não orientou causalmente sua conduta pelo comportamento de outros 
já que ele apenas imita, não se estabelece uma relação de sentido, o 
que coloca esse tipo de ação fora do campo de interesse da Sociologia 
compreensiva (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 108).
INDIVÍDUO GRUPO COLETIVIDADE
Ação Social Relações Sociais Ordem legítima
Dar aulas Professor x alunos Escola
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA AÇÃO SOCIAL PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
165
Para finalizar, vamos conhecer um pouco da análise do próprio autor 
sobre o conceito de ação social, a partir de sua obra:
O Conceito de Ação Social
1. A ação social (incluindo tanto a omissão como a aquiescência) 
pode ser orientada para as ações passadas, presentes ou futuras 
de outros. Assim, pode ser causada por sentimento de vingança 
de males do passado, defesa contra perigos do presente ou contra-
ataques futuros. Os “outros” podem ser indivíduos conhecidos ou 
desconhecidos, ou podem constituir uma quantidade indefinida. 
Por exemplo, “dinheiro” é um meio de troca que o indivíduo 
aceita em pagamento, porque sua ação se orienta na expectativa de 
que numerosos, mas desconhecidos e indeterminados “outros” o 
aceitarão por sua vez, em algum tempo no futuro, como um meio 
de troca.
2. Nem toda espécie de ação, nem mesmo a ação manifestadamente 
formal, é “social”, no sentido da presente discussão. A ação formal 
é não-social se orientada exclusivamente ao comportamento de 
objetos inanimados. Atitudes subjetivas devem ser consideradas 
ação social apenas se orientadas à ação de outros. A conduta 
religiosa não é social, se permanece simplesmente uma questão de 
contemplação, de oração solitária, etc. A atividade econômica de 
um indivíduo apenas é social se é até o ponto em que concerne 
também à atividade de terceiros. Falando de modo geral, em 
termos formais, torna-se social apenas até o ponto em que reflete 
a extensão em que os outros respeitam o controle real de uma 
pessoa sobre bens econômicos. Mais concretamente, é social se, por 
exemplo, em relação ao consumo de uma pessoa, as necessidades 
futuras de outros são levadas em conta e determinam, portanto, a 
“poupança” desta pessoa.
3. Nem todo tipo de contato entre seres humanos tem um caráter 
social, mas apenas quando a ação do indivíduo é significativamente 
orientada para a dos outros. Assim, a colisão entre dois ciclistas é 
apenas um evento isolado, comparável a uma catástrofe natural. 
Por outro lado, qualquer tentativa de um deles de evitar bater no 
outro, com os insultos subsequentes, uma briga, ou mesmo uma 
discussão pacífica, constituiriam uma forma de “ação social”.
4. A ação social também não é idêntica a: a) a ação uniforme de muitas 
pessoas; b) a ação influenciada por outras pessoas. Por exemplo, se 
no começo de uma chuva uma quantidade de pessoas na rua abrir 
seus guarda-chuvas ao mesmo tempo, tal conduta normalmente 
não se orienta para a dos outros, pois trata-se simplesmente de uma 
reação semelhante de todos de protegerem-se contra a chuva. Sabe-
se também que a conduta de um indivíduo pode ser fortemente 
influenciada pelo mero fato de que ele é um membro de uma 
multidão contida num espaço limitado. Este constitui o assunto das 
pesquisas sobre “psicologia de massas”, do tipo desenvolvido por 
Le Bom, sendo conhecido como ação “condicionada pelas massas”. 
Prosseguindo, é possível que um grande número de pessoas que se 
encontram bastante dispersas reaja simultânea ou sucessivamente a 
uma fonte de influência que atua de modo semelhante sobre todos 
os indivíduos, como faz, por exemplo, a imprensa: desta maneira 
a ação do indivíduo é influenciada por sua associação à multidão e 
por sua própria percepção deste aglomerado. De fato, certos tipos 
de reação são possíveis apenas pelo mero fato de que o indivíduo se 
porta como parte de uma multidão embora outros tipos se tornem 
mais difíceis sob as mesmas condições (WEBER, 2002, p. 37-38).
166
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
Além de seu conceito central, ação social, Weber também desenvolve 
a noção de tipo ideal — essencial para sua obra sociológica. A seguir nos 
aprofundaremos neste conceito.
3 TIPO IDEAL
O pensamento weberiano é bastante conhecido por desenvolver a ideia de 
tipo ideal, a fim de estabelecer como funcionam os conceitos sociológicos como 
instrumentos de interpretação na busca pela compreensão da realidade social. 
Ele busca, portanto, entender como os conceitos funcionam na ciência sociológica 
e sua relação com formas conceituais de outras ciências.
Para Weber, o erro do positivismo consistia em tratar os conceitos e teorias 
como uma reprodução real da realidade. O sociólogo não deveria lidar desta 
maneira com estes instrumentos, já que oconhecimento humano não seria uma 
reprodução da essência da realidade, ideia que ele extrai da filosofia kantiana 
(SELL, 2002).
O conhecimento humano apenas consegue captar as relações entre as 
coisas existentes, a partir da estrutura estabelecida pela mente humana. É o 
pressuposto da ideia famosa de Kant: O real é relacional. Assim também, para 
Weber, não seria possível que o conhecimento humano captasse toda a essência 
da realidade de maneira exata e exaustiva. “A explicação sociológica só pode 
captar determinados elementos da realidade, que são condicionados pela cultura 
na qual o sociólogo está inserido” (SELL, 2002, p. 114).
É possível notar, portanto, o quanto o sujeito tem um papel ativo na 
construção do conhecimento sociológico, já que é o próprio sociólogo quem 
determina as dimensões e traços que serão analisados na realidade. Em outras 
palavras, o recorte metodológico é estabelecido por uma pessoa, um profissional 
que irá delimitar os aspectos e a relação entre eles. 
Isto é necessário já que a sociedade é complexa e composta por diferentes 
dimensões, cuja diversidade de elementos é infinita. O trabalho do cientista social, 
neste caso, é muito distinto do cientista da natureza, já que o sociólogo procura 
conhecer os aspectos socioculturais desde a composição histórica daquele recorte, 
para compreender as relações atualizadas entre os elementos.
A generalização, portanto, é inevitável. Vejamos nas palavras de Barbosa, 
Oliveira e Quintaneiro (2002, p. 30):
Sendo uma ciência generalizadora, a Sociologia constrói conceitos - 
tipo, “vazios frente à realidade concreta do histórico” e distanciados 
desta, mas unívocos porque pretendem ser fórmulas interpretativas 
através das quais se apresenta uma explicação racional para a 
realidade empírica que organiza. Esta adequação entre o conceito e 
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA AÇÃO SOCIAL PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
167
a realidade é tanto mais completa quanto maior a racionalidade da 
conduta a ser interpretada, o que não impede a Sociologia de procurar 
explicar fenômenos irracionais (místicos, proféticos, espirituais, 
afetivos). O que dá valor a uma construção teórica é a concordância 
entre a adequação de sentido que propõe e a prova dos fatos, caso 
contrário, ela se torna inútil, seja do ponto de vista explicativo ou 
do conhecimento da ação real. Quando é impossível realizar a prova 
empírica, a evidência racional serve apenas como uma hipótese 
dotada de plausibilidade. Uma construção teórica que pretende ser 
uma explicação causal baseia-se em probabilidades de que um certo 
processo “A” se siga, na forma esperada, a um outro determinado 
processo “B”.
Sendo assim, interpretar exaustivamente, em todos os seus aspectos, 
uma realidade e as relações que estabelece com todos os demais elementos 
sociais não é possível, o que leva o cientista a trabalhar com os recortes já 
mencionados, certos aspectos relevantes que, segundo seu princípio de 
seleção, mereçam mais atenção. Este princípio de seleção apresenta, portanto, 
os valores individuais do cientista.
Embora este recorte seja determinado pelo investigador e por sua época, 
os conceitos e métodos somente são válidos sendo científicos. Daí a importância 
do rigor metodológico. Pensando assim, Weber indica a importância de um 
instrumento metodológico que oriente o cientista social na busca das relações 
causais de um elemento, ou seja, um modelo de investigação-interpretação que o 
guie nas suas análises sobre a realidade.
É neste ponto que ele apresenta como alternativa o conceito de tipos 
ideais. Vejamos a definição a partir do autor: 
Obtém-se um tipo ideal mediante a acentuação unilateral de um 
ou vários pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande 
quantidade de fenômenos isolados dados, difusos e discretos, que se 
podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por completo, 
e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente 
acentuados, a fim de se formar um quadro homogêneo de pensamento 
(WEBER, 2003, p. 106).
Segue um destaque importante:
IMPORTANT
E
Diferente de outros conceitos que refletem a sociedade, a ideia de tipo ideal 
não se acha de forma pura na realidade, pois é uma construção teórica elaborada a partir 
dos elementos enfatizados de um dado fenômeno — e a partir de um recorte realizado pelo 
próprio sociólogo.
168
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
Para explicar os limites e possibilidades desta construção teórica, Barbosa, 
Oliveira e Quintaneiro (2002, p. 103) indicam três características do tipo ideal:
• Unilateralidade - Ao elaborar o tipo ideal, parte-se da escolha, numa 
realidade infinita, de alguns elementos do objeto a ser interpretado 
que são considerados pelo investigador os mais relevantes para a 
explicação. Esse processo de seleção acentua - necessariamente – 
certos traços e deixa de lado outros, o que confere unilateralidade 
ao modelo puro. 
• Racionalidade - Os elementos causais são relacionados pelo cientista 
de modo racional, embora não haja dúvida sobre a influência, de 
fato, de incontáveis fatores irracionais no desenvolvimento do 
fenômeno real.
• Caráter utópico - No relativo à ênfase na racionalidade, o tipo ideal 
só existe como utopia e não é, nem pretende ser, um reflexo da 
realidade complexa, muito menos um modelo do que ela deveria 
ser. Um conceito típico-ideal é um modelo simplificado do real, 
elaborado com base em traços considerados essenciais para a 
determinação da causalidade, segundo os critérios de quem 
pretende explicar um fenômeno.
É possível construir tipos ideais de diversos exemplos, como interesses 
de classe, grupos religiosos, outros grupos, enfim, todos os fenômenos sociais 
são passíveis de serem analisados pela via da construção teórica dos tipos ideais. 
Assim, as concepções do cientista o levam a realizar uma seleção dos aspectos a 
serem analisados, comparando seu modelo à realidade em exame. Esta construção 
ideal será diferente para cada cientista ou observador.
As próprias formas de ação, que vimos na seção anterior neste mesmo 
tópico, são tipos ideais — não estão em sua forma pura na realidade. O sociólogo 
necessita acentuar alguma característica da ação para compreender em qual tipo 
ideal ela se encaixa.
Um exemplo da aplicação do tipo ideal encontra-se na obra A ética 
protestante e o espírito do capitalismo. Weber parte de uma descrição 
provisória que lhe serve como guia para a investigação empírica, 
“indispensável à clara compreensão do objeto de investigação”, do que 
entende inicialmente por “espírito do capitalismo”, e vai construindo 
gradualmente esse conceito ao longo de sua pesquisa, para chegar 
à sua forma definitiva apenas no final do trabalho. O tipo ideal é 
utilizado como instrumento para conduzir o autor numa realidade 
complexa. O autor reconhece que seu ponto de vista é um entre outros 
(BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 30).
Sell (2002) faz um alerta importante sobre a elaboração de tipos ideais, 
destacando que esta construção não pode ser arbitrária por parte do pesquisador 
e, portanto, o ato de análise torne-se subjetivista. Weber propõe este conceito 
como instrumento de pesquisa que permite uma aproximação mais objetiva da 
realidade — permitindo a organização de dados e auxiliando na compreensão 
das diferentes dimensões de um fenômeno social. Portanto, é essencial que os 
acontecimentos, a realidade, sejam a base para esta análise.
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA AÇÃO SOCIAL PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
169
“É justamente para isto que servem os tipos ideais: permitir ao pesquisador 
uma forma constante de comparar suas teorias com a realidade pesquisada, a 
partir de um aspecto da mesma” (SELL, 2002, p. 115).
Na obra de Weber, portanto, amplos conceitos são compreendidos como 
tipos ideais, como o capitalismo, o feudalismo, a burocracia, o Estado, entre 
outros. As elaborações de Marx sobre o capitalismo, por exemplo, para Weber, 
são entendidas comotipos ideais — construções teóricas que auxiliam a análise, 
mas não refletem a realidade total da aplicação deste modelo econômico.
DICAS
Para avançar nas leituras sobre o conceito e a aplicabilidade 
dos tipos ideais, veja a obra Sobre a Teoria das Ciências 
Sociais, com versão do ano de 2004 e publicada pela 
Editora Centauro. 
FONTE:<https://www.traca.com.br/capas/92/92672.jpg>. 
Acesso em: 14 fev. 2019.
Marconi e Lakatos (1990, p. 34) apresentam o uso do tipo ideal de Weber 
como um método das ciências sociais, chamado método tipológico. Vejamos o 
que elas afirmam sobre o uso deste método:
Habilmente aplicado por Max Weber. Apresenta certas semelhanças 
com o método comparativo. Ao comparar fenômenos sociais 
complexos, o pesquisador cria tipos ou modelos ideais, construídos a 
partir da análise de aspectos essenciais do fenômeno. A característica 
principal do tipo ideal é não existir na realidade, mas servir de 
modelo para a análise e compreensão de casos concretos, realmente 
existentes. Weber, através da classificação e comparação de diversos 
tipos de cidades, determinou as características essenciais da cidade; 
da mesma maneira, pesquisou as diferentes formas de capitalismo 
para estabelecer a caracterização ideal do capitalismo moderno; e, 
partindo do exame dos tipos de organização, apresentou o tipo ideal 
de organização burocrática.
Exemplo: estudo de todos os tipos de governo democrático, do 
presente e do passado, para estabelecer as características típicas ideais 
da democracia.
170
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
Para Weber, a vocação prioritária do cientista é separar os juízos 
de realidade - o que é - e os juízos de valor - o que deve ser – da 
análise científica, com a finalidade de perseguir o conhecimento 
pelo conhecimento. Assim, o tipo ideal não é uma hipótese, pois se 
configura como uma proposição que corresponde a uma realidade 
concreta; portanto, é abstrato; não é uma descrição da realidade, 
pois só retém, através de um processo de comparação e seleção de 
similitudes, certos aspectos dela; também não pode ser considerado 
como um "termo media", pois seu significado não emerge da noção 
quantitativa da realidade. O tipo ideal não expressa a totalidade da 
realidade, mas seus aspectos significativos, os caracteres mais gerais, 
os que se encontram regularmente no fenômeno estudado.
O tipo ideal, segundo Weber, diferencia-se do conceito, porque não se 
contenta com selecionar a realidade, mas também a enriquece. O papel 
do cientista consiste em ampliar certas qualidades e fazer ressaltar 
certos aspectos do fenômeno que se pretende analisar.
Entretanto, só podem ser objeto de estudo do método tipológico os 
fenômenos que se prestam a uma divisão, a uma dicotomia de "tipo" 
e "não-tipo". Os próprios estudos efetuados por Weber demonstram 
essa característica:
"cidade" - "outros tipos de povoamento";
"capitalismo" - "outros tipos de estrutura socioeconômica";
“organização burocrática” – “organização não-burocrática”.
É desta maneira que opera o uso desta construção teórica chamada, por 
Weber, de tipo ideal, que vem sendo interpretada e reaplicada desde então no 
campo das ciências sociais. Outro campo que muito se utiliza desta noção é a 
área de teoria organizacional, campo da administração. Se você se deparar com 
textos desta área que utilizam este conceito, certamente estão se remetendo à 
obra de Weber.
DICAS
Se você ficou curioso sobre a aplicabilidade dos conceitos de Weber nas teorias 
organizacionais, procure realizar a leitura do artigo disponível no link: http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-65552003000200004. A referência é: MORAES, L. F. 
R.; FILHO, A. D. M.; DIAS, D. V. O paradigma weberiano da ação social: um ensaio sobre a 
compreensão do sentido, a criação de tipos ideais e suas aplicações na teoria organizacional. 
Revista de Administração Contemporânea. Curitiba, v. 7, n. 2, p. 57-71, abr. – jun. 2003. 
4 RELAÇÃO SOCIAL
Weber, ao pensar o conceito de relação social, destaca que são 
comportamentos, condutas sociais que possuem seu sentido compartilhado. O 
significado dado pelas pessoas às ações é entendido por todos os envolvidos, 
constituindo a relação social. Como exemplos, temos as relações comerciais, 
afetivas, políticas, de hostilidade, de amizade, entre outras.
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA AÇÃO SOCIAL PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
171
“Podemos dizer que relação social é a probabilidade de que uma forma 
determinada de conduta social tenha, em algum momento, seu sentido partilhado 
pelos diversos agentes numa sociedade qualquer” (BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002, p. 108). 
Vejamos o exemplo indicado pelas autoras da citação anterior: você, como 
membro da sociedade moderna, é capaz de compreender o gesto de uma pessoa 
que pega seu cartão de crédito para pagar uma conta. No entanto, se um índio 
que não tivesse convivência com este tipo de situação visse o ocorrido, ele não 
compreenderia do que se trata. Ou seja, ele não partilharia do significado da ação 
social (comercial) que estaria acontecendo ali.
Quando, ao agir, cada um de dois ou mais indivíduos orienta sua 
conduta levando em conta a probabilidade de que o outro ou os outros 
agirão socialmente de um modo que corresponde às expectativas do 
primeiro agente, estamos diante de uma relação social. O gerente do 
supermercado solicita a um empacotador que atenda um cliente. Temos 
aqui três agentes cujas ações orientam-se por referências recíprocas, 
cada um dos quais contando com a probabilidade de que o outro terá 
uma conduta dotada de sentido e sobre a qual existem socialmente 
expectativas correntes (BARBOSA; OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, 
p. 109).
Indiferente do caráter e do conteúdo destas relações, sejam de poder, 
amor, conflito etc., uma característica importante para definir a relação social é 
a reciprocidade, “embora essa reciprocidade não se encontre necessariamente 
no conteúdo de sentido que cada agente lhe atribui, mas na capacidade de 
cada um compreender o sentido da ação dos outros” (BARBOSA; OLIVEIRA; 
QUINTANEIRO, 2002, p. 109). 
Um parceiro pode sentir paixão pelo outro e não ser correspondido, um 
prestador de serviço pode ser solidário ao cliente enquanto este é agressivo com 
ele, entre outros. Não necessariamente a atuação é recíproca por parte dos agentes 
envolvidos, mas todos compreendem e compartilham o significado das ações, 
sabem o que está acontecendo. Além disso, o conteúdo atribuído a uma relação 
não é permanente, pode variar.
Cada indivíduo, ao envolver-se nessas ou em quaisquer relações 
sociais, toma por referência certas expectativas que possui da ação do 
outro (ou outros) aos quais sua conduta se refere. O vendedor que 
aceita um cheque do comprador, o desportista que atua com lealdade 
com o adversário e o político que propõe a seus futuros eleitores 
a execução de certos atos estão se baseando em probabilidades 
esperadas da conduta daqueles que são o alvo de sua ação. Em suma: 
as relações sociais são os conteúdos significativos atribuídos por 
aqueles que agem tomando outro ou outros como referência - conflito, 
piedade, concorrência, fidelidade, desejo sexual etc., e as condutas 
de uns e de outros orientam-se por esse sentido, embora não tenham 
que ter reciprocidade no que diz respeito ao conteúdo (BARBOSA; 
OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2002, p. 110).
172
UNIDADE 3 | A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
Para que as relações sociais sejam identificadas como tais, é preciso que 
estejam reguladas por expectativas recíprocas quanto ao seu significado, havendo 
referências comuns ao significado das ações ali ocorridas. As relações também 
podem mudar, passando de efêmeras para duráveis, serem interrompidas, serem 
retomadas, mudarem de curso, entre outros.
As relações sociais são importantes na teoria weberiana, porque ele as 
defende como estruturas fundamentais da sociedade: para ele, as instituições 
existem apenas a partir da existência das relações.

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