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CONCEITOS DE TEORIA LITERÁRIA 1) Literatura como Arte 2) Texto literário e não literário 3) Linguagem denotativa e conotativa 4) Poesia e Prosa 5) Intertextualidade 6) Estilo de época e estilo do autor ♦ Características do texto literário → ficcionalidade, função estética, plurissignificação, subjetividade. ♦ Escolas literárias → visão apolínea e visão dionisíaca (Nietzsche) / movimento pendular (Antonio Candido). TEXTO 1: Pero Fernandes Sardinha Dom Pedro Fernandes Sardinha, ou Pero Sardinha, (Évora, 1496 – Brasil, 1556) foi o primeiro bispo do Brasil. (...) Tomou posse no dia 22 de junho de 1552. Renunciou à função no dia 2 de junho de 1556. No dia 16 de julho de 1556, morreu devorado pelos índios caetés, após naufragar no litoral de Alagoas. Na verdade não existe um relato preciso sobre seu martírio nas mãos dos caetés, havendo fontes que afirmam que três sobreviventes assim o teriam afirmado após conseguirem escapar das mãos dos selvagens. Atualmente alguns historiadores cogitam que, na verdade, não teriam sido os caetés os autores de tal fato, mas os tupinambás que viviam próximos à foz do Rio São Francisco, tendo os colonizadores se utilizado da falsa acusação da morte do bispo pelas mãos dos caetés para persegui-los até à extinção, a fim de tomar-lhes as terras. Fato é que a belicosidade dos caetés era notória desde sua expulsão de Olinad pelos portugueses que lá chegaram, sendo as colinas de tal cidade seu lugar preferido. (...) Assim, o episódio da antropofagia do bispo pelas mãos dos caetés é mais verossímil, não havendo porque ser seriamente contestada. (Wikipedia) TEXTO 2: “Manifesto Antropofágico”, de Oswald de Andrade (fragmentos) Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi or not tupi, that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. Em Piratininga Ano 372 da Deglutição do Bispo Sardinha. (Publicado na Revista de Antropofagia, em 1928.) TEXTO 3: “L'Affaire Sardinha”, de José Paulo Paes. O bispo ensinou ao bugre Que pão não é pão, mas Deus Presente na eucaristia. E como um dia faltasse Pão do bugre, ele comeu O bispo, eucaristicamente. (Retirado de Novas Cartas Chilenas, de 1954) “A história da literatura brasileira é em grande parte a história de uma imposição cultural que foi aos poucos gerando expressão literária diferente, embora em correlação estreita com os centros civilizadores da Europa. Esta imposição atuou também no sentido mais forte da palavra, isto é, como instrumento colonizador, destinado a impor e manter a ordem política e social estabelecida pela Metrópole, através inclusive das classes dominantes locais. Com efeito, além da sua função própria de criar formas expressivas, a literatura serviu para celebrar e inculcar os valores cristãos e a concepção metropolitana de vida social, consolidando não apenas a presença de Deus e do Rei, mas o monopólio da língua. Com isso, desqualificou e proscreveu possíveis fermentos locais de divergência, como os idiomas, crenças e costumes dos povos indígenas, e depois os dos escravos africanos.” ETAPAS DE FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA – ANTONIO CANDIDO (1) a era das manifestações literárias, que vai do século XVI ao meio do século XVIII (Barroco e Arcadismo); (2) a era de configuração do sistema literário, do meio do século XVIII à segunda metade do século XIX; (3) a era do sistema literário consolidado, da segunda metade do século XIX aos nossos dias. “Entendo aqui por sistema a articulação dos elementos que constituem a atividade literária regular: autores formando um conjunto virtual, e veículos que permitem o seu relacionamento, definindo uma “vida literária”; públicos, restritos ou amplos, capazes de ler ou ouvir as obras, permitindo com isso que elas circulem e atuem; tradição, que é o reconhecimento de obras e autores precedentes, funcionando como exemplo ou justificativa daquilo que se quer fazer, mesmo que seja para rejeitar. “Os homens que vieram para o Brasil de maneira regular e com mente fundadora, a partir de 1530, tiveram inicialmente necessidade de descrever e compreender a terra e os seus habitantes, com um intuito pragmático necessário para melhor dominar e tirar proveito. Ao mesmo tempo, precisaram criar os veículos de comunicação e impor o seu equipamento ideológico, tendo como base a religião católica. Tais homens eram administradores e magistrados, soldados e agricultores, mercadores e sacerdotes, aos quais devemos os primeiros escritos feitos aqui. (...) (...) Simão de Vasconcelos já o [o abacaxi] apresenta como fruta régia, armada de espinhos defensivos e encimado pela coroa. E n’As Frutas do Brasil (1702), do franciscano Frei Francisco do Rosário, a alegoria se eleva a um engenhoso simbolismo moral, pois, diz o autor, a sua polpa é doce e agradável às línguas sadias, mas mortifica as que estiverem machucadas, ou seja: ele é como a vontade divina, que é bálsamo para as almas arrependidas, mas caustica as rebeldes.” CARTA DE CAMINHA – O MITO DO PARAÍSO “E neste dia, às horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente dum grande monte mui alto e redondo e doutras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã, com grandes arvoredos, ao qual monte o capitão pôs nome — O Monte Pascoal — e à terra a Terra de Vera Cruz. (...) A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. (...) Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. (...) E uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima daquela tintura; e certo era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que as muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feições, fizera vergonha por não terem a sua como ela. Nenhum deles era fanado, mas todos assim como nós. E com isto nos tornamos e eles foram-se. Vista do mar, nos pareceu, pelo sertão, muito grande, porque a estender olhos não podíamos ver senão terra e arvoredos, que nos parecia mui longa terra. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma cousa de metal nem de ferro, nem lho vimos. Porém, a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo de agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas, infindas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-as aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em outra qualquer cousa que de vosso serviço for, Vossa Alteza há-de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da Ilha de São Tomé Osório, meu genro, o que d'Ela receberei em muita mercê.” HISTÓRIA DA PROVÍNCIA DE SANTA CRUZ A QUE VULGARMENTE CHAMAMOS BRASIL – 1576 – PERO GÂNDAVO “Estes Indios sam de cor baça, e cabello corredio; tem o rosto amassado, e algumas feições delle á maneira de Chins. Pela maior parte sam bem dispostos, rijos e de bôa estatura; gente mui esforçada, e que estima pouco morrer, temeraria na guerra, e de muito pouco consideraçam: sam desagradecidos em gran maneira, e mui deshumanos e crueis, inclinados a pelejar, e vingativos por extremo. Vivem todos mui descançados sem terem outros pensamentos senam de comer, beber, e matar gente, e por isso engordam muito, mas com qualquerdesgosto pelo conseguinte tornam a emmagrecer, e muitas vezes pode delles tanto a imaginaçam que se algum deseja a morte, ou alguem lhe mete em cabeça que ha de morrer tal dia ou tal noite nam passa daquelle termo que nam morra. (...) Sam mui deshonestos e dados á sensualidade, e assi se entregam aos vicios como se nelles nam houvera razão de homens: ainda que todavia em seu ajuntamento os machos e femeas têm o devido resguardo, e nisto mostram ter alguma vergonha. A lingoa de que usam, toda pela costa, he huma: ainda que em certos vocabulos differe n'algumas partes; mas nam de maneira que se deixem huns aos outros de entender: e isto até altura de vinte e sete gràos, que dahi por diante ha outra gentilidade, de que nós nam temos tanta noticia, que falam já outra lingoa differente. Esta de que trato, que he a geral pela costa, he mui branda, e a qualquer nação facil de tomar. Alguns vocabulos ha nella de que nam usam senam as femeas, e outros que nam servem senam pera os machos: carece de tres letras, convem a saber, nam se acha nella F, nem L, nem R, cousa digna despanto porque assi nam têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem desordenadamente sem terem alem disto conta, nem peso, nem medido. (...) Mas a vida que buscam e grangearia de que todos vivem, he á custa de pouco trabalho, e muito mais descançada que a nossa: porque nam possuem nenhuma fazenda, nem procuram adquiri-la como os outros homens, e assi vivem livres de toda a cobica e desejo desordenado de riquezas, de que as outras nações nam carecem; e tanto que ouro nem prata nem pedras preciosas têm entre elles nenhuma valia, nem pera seu uso têm necessidade de nenhuma cousa destas, nem doutras semelhantes.” Anchieta escreveu poesias e atos teatrais de cunho religioso, sempre com o intuito de tornar a fé católica acessível ao povo, em geral, e aos índios catequizados, em particular. Usar a língua espanhola era comum entre os escritores portugueses do tempo. Mas é singular a produção poética no idioma dos Tupi, grupo linguístico que ocupava quase todo o litoral brasileiro no século XVI. Os jesuítas submeteram esse idioma à disciplina gramatical e ele se tornou, com a designação expressiva de “língua geral”, o principal veículo de comunicação entre colonizadores e indígenas; depois, entre os descendentes dos colonizadores, muitos deles mestiços. A obra de Anchieta e a prática extensiva da língua geral indicam que poderia ter-se desenvolvido no Brasil uma cultura paralela e um bilinguismo equivalente ao que ainda existe no Paraguai (devido também à catequese jesuítica). Essa concorrência alarmou as autoridades metropolitanas, interessadas em usar o seu próprio idioma como instrumento de domínio e homogeneização cultural, a ponto de, no século XVIII, proibirem o uso da língua geral nas regiões onde ela predominava. AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO (fragmento) Oh que pão, oh que comida, Oh que divino manjar Se nos dá no santo altar Cada dia. Filho da Virgem Maria Que Deus Padre cá mandou E por nós na cruz passou Crua morte. E para que nos conforte Se deixou no Sacramento Para dar-nos com aumento Sua graça. Quem quiser haver vitória Do falso contentamento, Goste deste sacramento Divinal. Ele dá vida imortal, Este mata toda fome, Porque nele Deus é homem Se contêm. É fonte de todo bem Da qual quem bem se embebeda Não tenha medo de queda Do pecado.