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Profª. Cristiane Literatura Página 1 de 4 Aula – Quinhentismo no Brasil (1500 – 1601) Outra fruta há nesta terra (...) que se cria em huma planta humilde junto do chão: a qual planta tem umas pencas como de herva babosa. A esta fruta chamam Ananases, e nascem como alcachofras, os quais parecem naturalmente pinhas, e são do mesmo tamanho, e alguns maiores. Depois que são maduros, tem um cheiro mui suave e comem-se aparados feitos em talhadas. São tão saborosos, que a juízo de todos nam há fruta neste Reino que no gosto lhes faça vantagem (...) Pero de Magalhães Gandavo, Tratado da Terra do Brasil: História da Província de Santa Cruz. Belo Horizonte: Itatiaia; SP: Edusp, 1981, p. 98 Quando, pela primeira vez, nos deparamos com excertos da literatura produzida no século XVI no Brasil, é comum estranharmos. Estranhamos o modo como as descrições da terra (frutas, plantas, animais) e da gente (índios) são feitas – para alguns elas chegam a ser risíveis, por não corresponderem com a imagem que fazemos hoje desses elementos. O modo como Magalhães Gandavo descreve em 1570 o abacaxi, por exemplo, pode causar estranhamento para o leitor brasileiro da contemporaneidade: parece erva babosa? Alcachofra? Pinha? Reparem o quanto ele parte de comparações com elementos já conhecidos dos europeus para criar a imagem da fruta. Nós, brasileiros, conhecedores do abacaxi, poderíamos afirmar que essa não é uma boa descrição da fruta... Porém, será possível descrever o novo de maneira nova? Quando nos deparamos com aquilo que não conhecemos, partimos do nosso próprio parâmetro, daquilo que temos como referência de mundo para tentar conceituar e, a partir disso, entender o novo. O usual acaba sendo descrever o novo de maneira velha... A visão que se faz do outro é sempre baseada no eu, portanto a visão de mundo daqueles que descrevem elementos da terra recém-descoberta é etnocêntrica e, muitas vezes, preconceituosa. É claro que o olhar de quem conta a história interfere nela e, nesse sentido, os europeus colonizadores e aventureiros que aqui chegaram fizeram uma imagem da terra que correspondia à sua visão de mundo e não necessariamente à verdade. É uma das verdades, mas qual seria a visão do índio que se deparava com o europeu pela primeira vez? Pouco conhecemos dos índios brasileiros num período anterior da vinda dos portugueses para cá porque, dentre outros aspectos, eles não tinham escrita. Assim, construímos uma visão sobre esse povo que é completamente moldada pelos padrões europeus do colonizador do século XVI. Leia outros trechos da obra de Pero de Magalhães Gândavo: A língua deste gentio toda pela costa é uma. Carece de três letras, a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm nem Fé, nem Lei, nem Rei e, desta maneira, vivem sem justiça e desordenadamente. [...] Vivem todos em aldeias. Pode haver em cada uma sete ou oito casas, as quais são compridas, feitas à maneira de cordoarias e cada uma delas está cheia de gente duma parte e doutra e cada um por si tem sua estância e sua rede armada em que dorme e, assim, estão todos juntos uns dos outros por ordem e pelo meio da casa fica um caminho aberto para se servirem. Não há, como digo, entre eles, nenhum Rei nem Justiça, somente em cada aldeia têm um principal que é como capitão, ao qual obedecem por vontade e não por força. Morrendo este principal, fica seu filho no mesmo lugar. Não serve de outra coisa senão de ir com eles à guerra e aconselha-os como se hão de haver na peleja, mas não castiga seus erros nem manda sobre eles coisa alguma contra sua vontade. Este principal tem três, quatro mulheres. A primeira tem em mais conta e faz dela mais caso que das outras. (...) Não adoram coisa alguma nem têm para si que há na outra vida glória para os bons e pana para os maus. Todos cuidam que se acaba nesta (vida) e que as almas fenecem com os corpos e, assim, vivem bestialmente, sem ter conta, nem peso, nem medida. Pero de Magalhães Gândavo in Eduardo de Almeida Navarro, Método Moderno de Tupi Antigo – a língua do Brasil dos primeiros séculos. 2 ed, Petrópolis: Editora Vozes, 1999, p. 46 1 Utilizamos o termo aqui no sentido de um conjunto de obras escritas sobre um mesmo assunto, não como uma linguagem artística. Agora reflita: seria pertinente afirmar que o “gentio” (modo como os portugueses se referiam pejorativamente a todos aqueles que não eram cristãos) não tinham fé, lei e/ou rei porque não possuíam esses fonemas em sua língua? Viver em agrupamentos é realmente sinal de desordem? Não “castigar os erros” dos outros é sinal de que o “principal” não tem grandes serventias? Por não haver Estado ou monopólio da força poderíamos afirmar que não havia justiça? Seria verdade que os índios “não adoravam coisa alguma”, se sabemos que eles possuíam pensamento mítico, em que tudo era regido pelo sobrenatural? O que podemos deduzir, a partir disso, sobre a visão de justiça, sociedade e fé do cronista lusitano? Será possível medir a cultura alheia a partir da sua? É mais fácil, a partir da leitura desses relatos e da análise de seu discurso, termos uma visão do europeu do século XVI do que do índio desse mesmo período. O professor Alfredo Bosi, a respeito das origens da nossa literatura – e da nossa história, afirma: O problema das origens da nossa literatura não pode formular-se em termos de Europa, onde foi a maturação das grandes nações modernas que condicionou toda a história cultural, mas nos mesmo termos das outras literaturas americanas, isto é, a partir da afirmação de um complexo colonial de vida e de pensamento. A colônia é, de início, o objeto de uma cultura, o “outro” em relação à metrópole: em nosso caso, foi a terra a ser ocupada, o pau-brasil a ser explorado, a cana-de-açúcar a ser cultivada, o ouro a ser extraído; numa palavra, a matéria-prima a ser carreada para o mercado externo. A colônia só deixa de o ser quando passa a sujeito da sua história. Mas essa passagem fez-se no Brasil por um lento processo de aculturação do português e do negro à terra e às raças nativas; e fez-se com naturais crises e desequilíbrios. Acompanhar este processo na esfera da nossa consciência histórica é pontilhar o direito e o avesso do fenômeno nativista, complemento necessário de todo complexo colonial. Alfredo Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira. 3 ed, São Paulo: Cultrix, ?, p. 13 1. Literatura1 de informação O primeiro texto aqui redigido data de 1500, quando Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, chega à nova terra e documenta para el-rei D. Manuel as primeiras impressões da natureza e do aborígene. A partir dele, inúmeros outros relatos documentam a instauração do processo de que fala Alfredo Bosi; são informações que viajantes e missionários europeus, a partir da ótica da sua cultura, colheram sobre a natureza e o índio. Porque são crônicas históricas, não pertencem ao gênero literário, não põem ser consideradas, portanto, obras de arte; há críticos que chegam a afirmar que não têm valor estático. Ainda assim, é importante estudarmo-nas porque são elas a pré-história das nossas letras, as quais interessam “como reflexo da visão do mundo e da linguagem que nos legaram os primeiros observadores do país. É graças a essas tomadas diretas da paisagem, do índio e dos grupos sociais nascentes, que captamos as condições primitivas de uma cultura que só mais tarde poderia contar com o fenômeno da palavra-arte”2. Leia alguns excertos da Carta e pense: a visão que o europeu construiu sobre o índio pode ser considerado um retrato fiel da realidade? E dali houvemos vista d'homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegarem primeiro. Ali lançámos os batéis e esquifes fora e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do capitão-mor e alifalaram. E o capitão mandou no batel, em terra, Nicolau Coelho, para ver aquele rio. E, tanto que ele começou para lá d'ir, acudiram pela praia homens, quando dous, quando três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, eram ali 18 ou 20 homens, pardos, todos nus, sem nenhuma cousa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pusessem os arcos; e eles os puseram. 2 Alfredo Bosi, op. cit., p. 15 Profª. Cristiane Literatura Página 2 de 4 Ali não poude deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho, que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe deu um sombreiro de penas d'aves, compridas, com uma copazinha pequena de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer d'aljaveira, as quais peças creio que o capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder deles haver mais fala, por azo do mar. [...] O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, bem vestido, com um colar de ouro mui grande ao pescoço, e aos pés uma alçatifa por estrado. Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correa, e nós outros que aqui na nau com ele vamos, sentados no chão, pela alcatifa. Acenderam-se tochas. Entraram. Mas não fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs olho no colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela: não lhe queriam pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, farteis, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada daquilo; e se alguma coisa provavam, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada. Não beberam. Mal a tomaram na boca, que lavaram e logo a lançaram fora. [...] Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. [..] Chantada a Cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiramente lhe pregaram, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o Padre Frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco a ela obra de cinqüenta ou sessenta deles assentados todos de joelhos, assim como nós. E quando veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim, até ser acabado; e então tornaram-se a sentar como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim todos, como nós estávamos com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, que nos fez muita devoção. E, segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, senão entendermos porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer, como nós mesmo, por onde nos pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar, porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados, que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram ambos. Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas, e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muitos bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre-Doiro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. Águas são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. http://www.triplov.com/hist_fil_ciencia/pero_vaz_caminha/index.htm 3 Termo derivado Éden, segundo a Bíblia, jardim onde Deus colocou o primeiro homem e a primeira mulher; sinônimo de “paradisíaca”. A carta de Caminha, certidão de nascimento do nosso país, é um texto corrido, composto por começo, meio e fim, que se insere no gênero de literatura de viagens. A partir da ingênua observação que faz sobre a terra e o homem, Caminha deixa transparecer sua ideologia mercantilista, moldada a partir de uma cristandade ainda medieval. Sobre ela, Massaud Moisés comenta: [...] Percebe-se (...) que não se limitou a um reconto frio e impessoal; ao contrário, certa veemência percorre-lhe as palavras, como se o entusiasmo provocado pelas novidades contempladas lhe transformasse o estilo e, por isso mesmo, a maneira de ver o mundo. Dir-se-ia que o literato que nele existia, latente ou não, vem à tona, mercê do deslumbramento perante a visão edênica oferecida pela terra desconhecida. Daí a descrição, fluentemente literária, do gentio e uma narração de igual teor, centrada na entrevista que o aborígene concede aos navegantes. (...) Parece que o cronista não resiste à tentação de inocular no registro oficial sua agitação íntima em face do espetáculo insólito que presencia. (...) A vivacidade resultante, a indiscriminação dos pormenores a fixar (...), a “paixão” pelo indígena, que prenunciava, involuntariamente, o “bom selvagem” de Rosseau, o elogio da terra, que inaugurava o mito ufanista, ainda hoje vivo – constituem outros aspectos dignos de nota neste documento que fundava, extasiadamente, nossa literatura. Massaud Moisés, A Literatura Brasileira através dos Textos. 21 ed, São Paulo: Cultrix, 1998, p. 18-19 Podemos considerar, portanto, que o primeiro contato do colonizador com a nova terra traz sobre ela uma visão edênica3, repleta de deslumbramento, a qual não se manteve durante todo o século XVI. Num segundo momento, o lugar passou a ser visto como um antro de desordem repleto de seres imorais. Muitos cronistas enxergavam os índios como bichos, defendiam que eram animais e que, portanto, não tinham alma. Foram os jesuítas, no intuito de defender a ideia do índio como um ser humano, que se preocuparam com a catequização desse povo e, também, os responsáveis por iniciar um processo de aculturação do índio, tema este que discutiremos na ágora deste caderno. Autores modernos utilizaram-se da literatura de informação para (re)construir a nossa visão sobre a história do Brasil, de forma irônica ou crítica. Veja os poemas a seguir. Texto I As meninas da gare Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com os cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altase tão saradinhas Que de nós as muito olharmos Não tínhamos nenhuma vergonha. Oswald de Andrade Texto II Mostraram-lhes uma galinha Quase haviam medo dela E não queriam por a mão E depois a tomaram como espantados Oswald de Andrade Texto III Carta de Pero Vaz A Terra é mui graciosa, Tão fértil eu nunca vi. A gente vai passear, No chão espeta um caniço, No dia seguinte nasce Bengala de castão de oiro. Tem goiabas, melancias, Banana que nem chuchu. Quanto aos bichos, tem-nos muitos, De plumagens mui vistosas. Profª. Cristiane Literatura Página 3 de 4 Tem macaco até demais. Diamantes tem à vontade, Esmeralda é para os trouxas. Reforçai, Senhor, a arca, Cruzados não faltarão, Vossa perna encanareis, Salvo o devido respeito. Ficarei muito saudoso Se for embora daqui. Murilo Mendes 2. Literatura Jesuítica Os jesuítas chegaram no Brasil com a frota de Tomé de Sousa em 1549 e fundaram colégios No Rio de Janeiro, Bahia e Pará. Desenvolveram um ensino catequético de cunho medievalizante e propiciaram o surgimento de um clima cultural ente nós. A poesia e o teatro, de caráter catequético e pedagógico, são o que havia de mais estético em sua produção e mesclavam dogmas católicos a costumes indígenas, para que verdades cristãs fossem gradativamente sendo inseridas na cultura nativa. Os maiores nomes desse gênero são os padres Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e José de Anchieta, este último também responsável por escrever a primeira gramática do Tupi. Vejamos, no trecho a seguir, composto em redondilhas, o tratamento do desengano do mundo segundo uma visão alegre e esperançosa, cuja consolação única parece ser o amor divino. Do pé do sacro monte Meus olhos levantando Ao alto cume, Vi estar aberta a fonte Do verdadeiro lume, Que as trevas do meu peito Todas consume. Correm doces licores Das grandes aberturas Do penedo. Levantam-se os errores, Levanta-se o degredo E tira-se a amargura Do fruto azedo. Padre José de Anchieta in Alfredo Bosi, op. cit, p. 24 É interessante notarmos o quanto a literatura jesuítica e a literatura de informação se interpenetram de tal modo que acabam adquirindo características comuns: ambas orientam para o conhecimento da terra e do homem que aqui vivia e para a educação do “gentio” e do colono analfabeto. O intuito sempre fora o mesmo: servir aos fins da Companhia de Jesus. Assim, explica- se o motivo da arte desinteressada e doutrinária. ____________________________________________________ Exercícios 1. (F.M. Triângulo Mineiro-MG) “Esta Província de Santa Cruz, além de ser tão fértil como digo, e abastada de todos os mantimentos necessários para a vida do homem, é certo ser também muito rica, e haver nela muito ouro e pedraria, de que se tem grandes esperanças.” Como demonstra o texto esse excerto, de Pero de Magalhães Gândavo, a literatura dos que aqui estiveram nos séculos XVI e XVII: a) procura indicar, com a maior exatidão possível e com verdadeiro espírito científico, as potencialidades econômicas do novo território. b) Mostra a atitude de superioridade e menosprezo com que o europeu encarava a nova terra e a selvageria dos habitantes. c) Constitui a primeira manifestação de sentimento nacionalista, que iria crescendo à medida que se desenvolvia a literatura brasileira. d) Adquiriu – não sendo propriamente ficção – inestimável valor documental, por transmitir a primeira visão da terra virgem, encarada, por isso mesmo, como um lendário paraíso perdido. e) Contém mais ficção – como consequência do espanto do descobrir diante das novas terras – do que propriamente informação. 2. (UFSM) Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é correto afirmar que: a) É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos que visavam à catequese. b) Inicia com Prosopopeia, de Bento Teixeira. c) É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e pela literatura jesuítica. d) Os textos que a constituem apresentam evidente preocupação artística e pedagógica. e) Descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e o homem, ao relatar as condições encontradas no Novo Mundo. 3. (UFV) Leia a estrofe abaixo e faça o que se pede: Dos vícios já desligados nos pajés não crendo mais, nem suas danças rituais, nem seus mágicos cuidados. (ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço [trad. e adap. de Walmir Ayala] Rio de Janeiro: Ediouro[s.d.]p. 110) Assinale a afirmativa verdadeira, considerando a estrofe acima, pronunciada pelos meninos índios em procissão: a) Os meninos índios representam o processo de aculturação em sua concretude mais visível, como produto final de todo um empreendimento do qual participaram com igual empenho a Coroa Portuguesa e a Companhia de Jesus. b) A presença dos meninos índios representa uma síntese perfeita e acabada daquilo que se convencionou chamar de literatura informativa. c) Os meninos índios estão afirmando os valores de sua própria cultura, ao mencionar as danças rituais e as magias praticadas pelos pajés. d) Os meninos índios são figuras alegóricas cuja construção como personagens atende a todos os requintes da dramaturgia renascentista. e) Os meninos índios representam a revolta dos nativos contra a catequese trazida pelos jesuítas, de quem querem libertar-se tão logo seja possível. 4. (UFSM) O Quinhentismo, enquanto manifestação literária, pode ser definido como uma época em que: I – não se pode falar, ainda, na existência de uma literatura brasileira, pois a cultura portuguesa estabelecia as formas de pensamento e expressão para os escritores na colônia; II – se pode falar na existência de uma literatura brasileira porque, ao descreverem o Brasil, os textos mostram um forte instinto de nacionalidade, na medida em que todos os escritores eram nativos da terra; III – a produção escrita se prende à descrição da terra e do índio ou a textos escritos pelos jesuítas, ou seja, uma produção informativa e doutrinária. Está(ão) correta(s): a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) Apenas III. Profª. Cristiane Literatura Página 4 de 4 5. (Cefet/RJ) “A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estima nenhuma coisa cobrir nem mostrar suas vergonhas; e estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. (...) Porém a terra em si é de muito bons ares, (...). E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.” O texto acima apresenta fragmentos: a) do “Diálogo sobre a conversão dos gentios”, do Pe. Manuel da Nóbrega. b) das “Cartas” dos missionários jesuítas, escritas nos dois primeiros séculos. c) da “Carta” de Pero Vaz de Caminha a El-Rey D. Manuel, referindo-se ao descobrimento de uma nova terra e às primeiras impressões do aborígene. d) da “Narrativa Epistolar e os Tratados da Terra e da Gente do Brasil”, do jesuíta Fernão Cardim. e) do “Diário de Navegações”, de Pero Lopes de Souza, escrivão do primeiro colonizador, o de Martim Afonso de Souza. 6. (FUVEST) Entende-se por literatura informativa no Brasil: a) o conjunto de relatos de viajantes e missionários europeus, sobre a natureza e o homem brasileiros. b) a história dos jesuítas que aqui estiveram no século XVI. c) as obras escritas com a finalidade de catequese do indígena. d) os poemas do Padre José de Anchieta. e) os sonetos de Gregório de Matos 7. (UFPA) Quanto ao sentimento nativista das primeiras manifestações literárias feitas no Brasil: a) é um sentimento de apego aos valores culturais portugueses, conforme se vê nos poemas de Anchieta. b) consiste na propagação da mentalidade colonial portuguesa, sobre o que giram os poemas de Gregório de Matos. c) aobra dos cronistas viajantes representa o apogeu deste sentimento. d) é um sentimento tênue de apego à terra brasileira que, mais tarde, irá desaguar no nacionalismo do Romantismo. e) só se observa nos poetas árcades devido ao seu envolvimento na inconfidência Mineira. 8. (UFPE) “Se suas cartas não apresentam valor literário reconhecível, os demais aspectos da obra do missionário – um representado por criações literárias com objetivo pedagógico em relação à catequese, outro por criações desinteressadas – devem ser literariamente valorizados, sobretudo o teatro em verso”. O texto refere-se aos textos produzidos no século XVI por: a) José de Anchieta. b) Pero Vaz de Caminha. c) Antônio Vieira. d) Bento Teixeira. e) Manuel da Nóbrega. 9. (IFSP) Leia, abaixo, o fragmento da História da Província de Santa Cruz, de Pero de Magalhães Gândavo, para responder à questão. Finalmente que como Deus tenha de muito longe esta terra dedicada à cristandade, e o interesse seja o que mais leva os homens trás si que nenhuma outra coisa haja na vida, parece manifesto querer entretê-los na terra com esta riqueza do mar até chegarem a descobrir aquelas grandes minas que a mesma terra promete, para que assim desta maneira tragam ainda toda aquela bárbara gente que habita nestas partes ao lume e ao conhecimento da nossa santa fé católica, que será descobrir-lhe outras minas maiores no céu, o qual nosso Senhor permita que assim seja, para glória sua, e salvação de tantas almas. GÂNDAVO, Pero de Magalhães. História da Província de Santa Cruz. Org. Ricardo Martins Valle. Introd. e notas Ricardo Martins Valle e Clara Carolina Souza Santos. São Paulo: Hedra, 2008. p. 115. A leitura atenta do texto permite afirmar que a) nos textos de informação estavam consorciados o projeto de exploração das novas terras descobertas e o de difusão da fé cristã. b) o autor julga desinteressante a perspectiva de exploração mercantil do Brasil, preferindo a ela o projeto de difusão da fé cristã. c) o autor condena os homens ambiciosos e interesseiros, que preferem a exploração mercantil ao projeto abnegado de difusão da fé cristã. d) o autor condena a hipocrisia dos que afirmam empreender em nome da fé cristã, mas que apenas se interessam pelas “grandes minas” a descobrir. e) havia discrepância e dissenso entre o projeto de exploração das novas terras descobertas e o de difusão da fé cristã. 10. (UFSM) A Carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro relato sobre a terra que viria a ser chamada de Brasil. Ali, percebe-se não apenas a curiosidade do europeu pelo nativo, mas também seu pasmo diante da exuberância da natureza da nova terra, que, hoje em dia, já se encontra degradada em muitos dos locais avistados por Caminha. Tendo isso em vista, leia o fragmento a seguir. Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste ponto temos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra por cima é toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque a estender d’olhos não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem o vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre-Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. As águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que tem. CASTRO, Sílvio (org.). A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 115-6. Esse fragmento apresenta-se como um texto a) descritivo, uma vez que Caminha ocupa-se em dar um retrato objetivo da terra descoberta, abordando suas características físicas e potencialidades de exploração. b) narrativo, pois a “Carta” é, basicamente, uma narração da viagem de Pedro Álvares Cabral e sua frota até o Brasil, relatando, numa sucessão de eventos, tudo o que ocorreu desde a chegada dos portugueses até sua partida. c) argumentativo, pois Caminha está preocupado em apresentar elementos que justifiquem a exploração da terra descoberta, os quais se pautam pela confiabilidade e abrangência de suas observações. d) lírico, uma vez que a apresentação hiperbólica da terra por Caminha mostra a subjetividade de seu relato, carregado de emotividade, o que confere à “Carta” seu caráter especificamente literário. e) narrativo-argumentativo, pois a apresentação sequencial dos elementos físicos da terra descoberta serve para dar suporte à ideia defendida por Caminha de exploração do novo território. ____________________________________________________ Gabarito 1. d) 2. c) 3. a) 4. c) 5. c) 6. a) 7. d) 8. a) 9. a) 10. a)