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III - O aparelho psíquico |As teorias psicanalíticas|

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DESCRIÇÃO
O aparelho psíquico e a teoria freudiana acerca do funcionamento mental em seus diferentes
vieses e conformações.
PROPÓSITO
Compreender o aparelho psíquico e os fenômenos mentais a partir do olhar de Freud é
fundamental para o estudo da Psicanálise e para atuação profissional como psicólogo.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Analisar o aparelho psíquico a partir da primeira tópica freudiana e a relação entre
inconsciente, pré-consciente e consciente
MÓDULO 2
Definir o conceito de inconsciente, sua importância na teoria psicanalítica e seu modo de
funcionamento
MÓDULO 3
Descrever a segunda tópica freudiana e a relação entre id, ego e superego
MÓDULO 4
Reconhecer a contribuição do texto O mal-estar na civilização para a compreensão do
funcionamento psíquico
INTRODUÇÃO
Aparelho psíquico é o nome dado à organização proposta por Freud para compreender a
dinâmica mental. Descrever o aparelho psíquico foi uma forma de tornar compreensível o
funcionamento psíquico, dividindo-o e atribuindo uma função específica a cada parte
constitutiva.
A concepção do aparelho psíquico é uma construção teórica de Freud, que traduzia para a
teoria a sua vivência clínica. Essa prática teorizada da Psicanálise nos permite observar várias
alterações e/ou aprimoramentos dos conceitos freudianos ao longo do tempo. Freud foi
construindo sua trama conceitual à medida que caminhava em sua experiência clínica. Dessa
forma, temos duas propostas para compreender o aparelho psíquico:
PRIMEIRA TÓPICA
Dividida em inconsciente, consciente e pré-consciente
SEGUNDA TÓPICA
Consiste na tríade id, ego e superego
MÓDULO 1
 Analisar o aparelho psíquico a partir da primeira tópica freudiana e a relação entre
inconsciente, pré-consciente e consciente
A PRIMEIRA TÓPICA FREUDIANA:
INCONSCIENTE, PRÉ-CONSCIENTE E
CONSCIENTE
Teoria fundamental para realizar o ponto de partida de Freud na compreensão do psiquismo, a
primeira tópica de Freud designa a primeira concepção do aparelho psíquico e é composta por
três sistemas:
INCONSCIENTE (ICS)
PRÉ-CONSCIENTE (PCS)
CONSCIENTE (CS)
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javascript:void(0)
Trata-se de uma noção de aparelho psíquico como um conjunto articulado de
lugares (virtuais) , que são explicitados no capítulo sétimo de A interpretação dos sonhos,
intitulado “A Psicologia dos Processos Oníricos”. Freud relaciona a consciência à função de um
órgão sensorial capaz de distinguir qualidades psíquicas (prazer e desprazer, por exemplo). A
excitação chega à consciência de duas direções: do sistema perceptivo e do interior do próprio
aparelho, ou seja, os estímulos vêm de dentro ou de fora, na percepção do sujeito.
 
Foto: Bilal Kocabas/Shutterstock.com
Freud promove uma quebra de paradigma ao afirmar que a consciência é apenas “a
ponta do iceberg” quando se trata de conhecer as reais motivações e desejos de
alguém.
TODO O PENSAMENTO MODERNO, DE DESCARTES A
HEGEL, TEM NA CONSCIÊNCIA UMA REFERÊNCIA
CENTRAL. COM FREUD A CONS-CIÊNCIA PERDE
ESSE ESTATUTO. PASSA A REPRESENTAR UMA
PEQUENA PARTE DA TOTALIDADE PSÍQUICA, ALÉM
DE DEIXAR DE SER A SEDE DA VERDADE.
(GARCIA-ROZA, 1993, p. 219)
A verdade passa a ser relacionada ao desejo (logo, ao inconsciente) e a consciência passa a
ser o lugar da ilusão. A imagem a seguir mostra a relação entre esses três sistemas para
Freud:
 Representação dos sistemas de Freud pelo iceberg.
Podemos perceber que o funcionamento inconsciente é a principal fonte para a compreensão
dos fenômenos psíquicos. Entretanto, os dois outros sistemas são fundamentais para a
estrutura psíquica, proporcionando o desenvolvimento de um bebê até sua inserção no meio
social.
No consciente, estão as representações mentais das quais estamos plenamente conscientes
no momento, o que faz com que esse sistema psíquico esteja em permanente transformação,
pois há uma grande circulação de representações na consciência, de acordo com a vivência de
cada pessoa.
No pré-consciente, localizam-se aquelas representações que podem vir à tona na
consciência, mas que não estão disponíveis no momento. Sobre o pré-consciente, podemos
pensá-lo ainda como algo entre o inconsciente e o consciente, filtrando as informações que
passarão para o consciente. O sistema pré-consciente foi concebido como um sistema
articulado ao consciente (Pcs-Cs), funcionando, assim, como uma espécie de peneira. O pré-
consciente também funciona como um tipo de arquivo de registros e, embora as ideias pré-
conscientes possam estar fora do alcance da consciência, elas não são inconscientes, ou seja,
não foram recalcadas. Dessa forma, os pensamentos pré-conscientes podem ser recordados
sem a resistência da censura.
No inconsciente, estão as representações que já ocuparam o consciente e/ou o pré-
consciente, mas que foram expulsas porque causavam angústia. São representações que
sofreram recalque e, dessa forma, não podem mais se tornar conscientes sem que se aplique
um intenso trabalho.
O inconsciente merece destaque como conceito fundamental para a compreensão da
proposta psicanalítica, não somente como uma das instâncias psíquicas.
O INCONSCIENTE
A ideia de inconsciente surge associada ao conceito de recalque, ambos derivados do
tratamento da histeria. Freud começou a tratar as pacientes histéricas juntamente com Josef
Breuer, utilizando o método catártico, com o auxílio da hipnose.
O que nos interessa entender aqui, entretanto, não é o método e sim a operação
psíquica sobre a qual ele incidia.
Por meio da hipnose, a qual provocava um estado de rebaixamento da consciência, a paciente
lembrava do trauma que originou o sintoma. A partir dessa lembrança, a paciente podia reagir
da forma como não reagiu no momento exato do trauma. Freud e Breuer chamaram de ab-
reação essa emoção que funcionava como uma catarse; daí o nome de “método catártico”
conferido a essa prática.
 EXEMPLO
Para exemplificar brevemente o tratamento exposto, vamos abordar o caso de Anna O.,
paciente de Breuer, cuja história causou grande interesse em Freud e deu margem a vários
desdobramentos teóricos. Anna O. era uma mulher de 21 anos que adoeceu enquanto cuidava
de seu pai enfermo. Sua doença começou como uma tosse intensa, evoluindo para vários
outros sintomas.
Em determinado período de sua doença, durante algumas semanas, Anna O. recusava-se a
beber água e saciava sua sede apenas com frutas. Certa vez, durante um estado de hipnose,
ela descreveu uma cena em que ficara enojada ao ver um cachorro bebendo água de um copo.
Após lembrar e reagir ao episódio traumático, pôde beber água normalmente.
Esse é apenas um exemplo dentro de uma questão muito mais complexa, não só o caso
de Anna O., mas também essa relação entre trauma e sintoma.
Por que Anna O. não podia recordar essa cena sem o auxílio da hipnose? Por que todos
os relatos das primeiras pacientes histéricas seguem essa mesma lógica?
Lembrando que essa prática de Freud foi a base para seus primeiros conceitos, vamos
entender, a partir do exemplo, o que é o inconsciente.
As pacientes não tinham acesso às lembranças traumáticas, não se tratava de um
esquecimento. O esquecimento relaciona-se à seleção de representações que registramos ao
longo da vida. Muitas vezes, pode estar associado ao tempo decorrido entre o fato e a
lembrança deste ou à importância de tal fato. É possível, entretanto, que o contato com
determinados estímulos leve à lembrança do que foi esquecido.
 EXEMPLO
Você não lembra de uma colega de infância, mas, ao se deparar com o cheiro do perfume que
ela usava, pode vir a lembrar-se dessa amiga, sem muitas dificuldades.
No caso da histeria, não se tratava de um simples esquecimento, o que estava em questão ali
era o recalque, um mecanismo de defesa que impede a lembrança. Estamos diante da
distinção entre inconsciente e pré-consciente.
No pré-consciente, estão as representações que podem vir à consciência, mas não estão no
momento, como no exemplo da amiga de infância.

No inconsciente, estão representaçõesque foram expulsas do sistema pré-
consciente/consciente por causarem mal-estar, como o cachorro bebendo água no copo, no
caso de Anna O.
O recalque, dessa maneira, é uma forma de proteção diante da dor do trauma ou do mal-estar
causado em face das normas sociais vigentes. Assim, podemos compreender o inconsciente
como uma consequência do recalque. As lembranças traumáticas perdem o investimento
afetivo e se tornam inconscientes.
 ATENÇÃO
Não é possível lembrar da ideia que subjaz ao trauma, entretanto, o conteúdo recalcado
continua a exercer força por meio das formações do inconsciente. O sintoma do caso aqui
exemplificado ilustra o retorno do recalcado, uma formação patológica do inconsciente.
Nota-se que a primeira tópica teve como um dos seus eixos a natureza das representações
mentais que causavam angústia e sofriam recalque. Outra característica foi a abordagem do
ponto de vista econômico, que veremos a seguir.
PRINCÍPIO DO PRAZER E PRINCÍPIO DA
REALIDADE
Para abordar esses dois princípios, é necessário associá-los à oposição entre processo
primário e processo secundário. Eles correspondem às duas formas de circulação de energia
no psiquismo:
ENERGIA LIVRE (PROCESSO PRIMÁRIO)
No processo primário, a energia escoa livremente de uma representação para outra, como
nos processos de condensação e deslocamento dos sonhos, e tende a investir aquelas
representações associadas a experiências de satisfação.
ENERGIA LIGADA (PROCESSO SECUNDÁRIO)
No caso do processo secundário, a energia está “ligada” antes de escoar e a satisfação pode
ser adiada. O processo primário caracteriza o sistema inconsciente e o processo secundário
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diz respeito ao sistema pré-consciente/consciente.
O processo primário está relacionado à descarga de excitação imediata, sem barreiras,
enquanto o processo secundário se relaciona ao pensamento de vigília, ao juízo, à atenção. Os
processos psíquicos primários funcionam sob a égide do princípio do prazer:
PELO QUAL A REALIDADE EXTERNA CEDE LUGAR À
ECONOMIA PULSIONAL, OU SEJA, À REGULAÇÃO
PRAZER-DESPRAZER. E APARECEM SOB A FORMA
DE SONHO OU DO FENÔMENO NEURÓTICO, POIS
SÃO INCAPAZES DE CONDUZIR SUA EXISTÊNCIA.
(FREUD, 1989g, p. 192)
De fato, os bebês nascem imersos no princípio do prazer, sem dispositivos para lidar com as
exigências da realidade. O princípio da realidade começa a operar à medida que o
desenvolvimento permite.
Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), Freud observa que o bebê “alucina o
seio”, repetindo a experiência de satisfação advinda da amamentação. Mas é quando o bebê
chora, comunicando ao meio externo a sua demanda, que existe a possibilidade do encontro
com um objeto real, que vai satisfazê-lo naquele momento.
 
Foto: Shutterstock.com
Apesar de o bebê, nos primeiros meses, não distinguir o seio de si mesmo, ele está em contato
com uma via real de satisfação. Vemos aí a ação do processo psíquico secundário, que
envolve uma ligação — catexia — do ego com um objeto externo real.
 ATENÇÃO
O ego, nesse contexto, não é o ego da segunda tópica, que veremos mais adiante; aqui o ego
surge como um fator de ligação dos processos psíquicos, associado ao sistema pré-
consciente/consciente.
Freud assinala que a mais primitiva satisfação pulsional está relacionada à nutrição e “não é
sem boas razões que, para a criança, a amamentação no seio materno torna-se modelar para
todos os relacionamentos amorosos” (FREUD, 1989j, p. 209). A amamentação imprime uma
marca de prazer no bebê que vai além da necessidade biológica. Nesse sentido, Freud afirma
que a satisfação humana vai além das necessidades. Entretanto, é necessário que o bebê saia
do circuito da energia livre, no qual impera absoluto o princípio do prazer, para que a vida
aconteça. “Em última análise, é preciso amar para não adoecer” (FREUD, 1989i, p. 101).
 VOCÊ SABIA
Essa frase do texto Sobre o narcisismo: uma introdução, de 1914, é bastante difundida nas
redes sociais com uma conotação romântica. Mas, na verdade, é disto que Freud está falando:
é preciso fazer ligação com objetos reais, mesmo que revestidos de fantasia, para não adoecer
psiquicamente.
O desenvolvimento do princípio da realidade é o que permite a inserção no meio social. Por
exemplo: um bebê de três meses urina na fralda como descarga de tensão imediata. Seria
impossível esperar dele algo diferente, uma vez que não existe desenvolvimento cognitivo,
perceptivo ou psicomotor para outra ação. No entanto, de uma criança de 5 anos, pode-se
esperar que segure a descarga imediata de urina e aguarde sua vez para ir ao banheiro (dentro
de um limite aceitável, é claro), assim como compreenda que é necessário adquirir esse
comportamento.
Por vezes, entretanto, o princípio do prazer pode imperar também no funcionamento psíquico
de um adulto. É uma forma de explicar a drogadição, outras compulsões e até mesmo
determinadas formas de se relacionar.
O equilíbrio entre princípio do prazer e princípio da realidade, nesse sentido, está
associado à saúde psíquica e à vida em sociedade, na qual normas precisam ser
introjetadas e o prazer muitas vezes precisa ser adiado.
O DESENVOLVIMENTO DO PRINCÍPIO DA
REALIDADE
O prof. doutor Luciano de Souza Dias aborda o processo de saída do ego do circuito da
energia livre, no qual impera absoluto o princípio do prazer, para que a vida aconteça, além de
falar sobre o equilíbrio entre princípio do prazer e princípio da realidade, associado à saúde
psíquica.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. DURANTE A QUARENTENA PROVOCADA PELA PANDEMIA DA COVID-
19, MUITAS MUDANÇAS E ADAPTAÇÕES FORAM NECESSÁRIAS.
ALGUMAS FAMÍLIAS FICARAM EM CASA, COM OS PAIS TRABALHANDO
EM HOME OFFICE E AS CRIANÇAS ESTUDANDO ON-LINE. A
DIFICULDADE DE CONCENTRAÇÃO NAS TAREFAS ESCOLARES, O
CONFINAMENTO E A DISTÂNCIA DA ESCOLA, AMIGOS E FAMILIARES
FORAM MOTIVOS QUE DEIXARAM AS CRIANÇAS MAIS IRRITADAS E, EM
ALGUNS CASOS, AGRESSIVAS. DÉBORA É UMA MÃE QUE SE
ENCONTRA NESSA SITUAÇÃO. ESTÁ TRABALHANDO EM CASA E FICA
O DIA INTEIRO COM SUAS DUAS FILHAS, LAURA E NINA, SEM CONTAR
COM AJUDA O TEMPO TODO. LAURA TEM 7 ANOS E NINA É UM BEBÊ
DE 3 MESES. NA HORA DE AMAMENTAR NINA, LAURA PEDE A
ATENÇÃO DA MÃE EM UMA TAREFA ESCOLAR. QUANDO DÉBORA
RESPONDE QUE NÃO PODE AJUDÁ-LA NAQUELE MOMENTO, A MENINA
CHORA E DIZ QUE A MÃE NÃO GOSTA DELA. AO MESMO TEMPO, NINA
CHORA NO BERÇO. DÉBORA SEGURA NINA NO COLO PARA
AMAMENTÁ-LA E DIZ A LAURA QUE VAI CONVERSAR COM ELA MAIS
TARDE E AJUDAR EM TODA A TAREFA ESCOLAR. 
 
COMO PODEMOS JUSTIFICAR A DECISÃO DA MÃE EM RELAÇÃO ÀS
DUAS FILHAS QUE PEDIAM SUA ATENÇÃO AO MESMO TEMPO?
MARQUE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA A RESPOSTA CORRETA.
A) Laura pode prescindir da atenção da mãe, pois o desejo inconsciente já não se faz tão
presente na idade dela.
B) O processo primário é mais dominante no comportamento de Laura do que no
comportamento de Nina.
C) O princípio da realidade já se faz presente na vida de Laura, o que faz com que ela consiga
lidar com o adiamento do prazer.
D) No caso de Laura, o princípio do prazer não se faz mais presente.
E) O processo secundário é o funcionamento primordial na idade de Nina.
2. ENTRE AS PRIMEIRAS HISTÉRICAS TRATADAS POR FREUD, AINDA
COM O MÉTODO DA HIPNOSE, ENCONTRA-SE O CASO DE EMMY VON N.
A SEGUIR, TEMOS UM TRECHO DO TRATAMENTO DESCRITO POR
FREUD NOS ESTUDOS SOBRE A HISTERIA: 
 
“EM SEGUIDA, COLOQUEI-A EM HIPNOSE E PERGUNTEI MAIS UMA VEZ:
POR QUE A SENHORA NÃO CONSEGUE COMER MAIS? A RESPOSTA
VEIO PRONTAMENTE E CONSISTIU, MAIS UMA VEZ, NUMA SÉRIE DE
RAZÕES DISPOSTAS EM ORDEM CRONOLÓGICA A PARTIR DE SEU
ACERVO DE LEMBRANÇAS: ESTOU PENSANDO EM COMO, QUANDO EU
ERA CRIANÇA, MUITAS VEZES ACONTECIA QUE, POR MALCRIAÇÃO,
RECUSAVA-ME A COMER CARNE AO JANTAR. MINHA MÃE ERA MUITO
SEVERA A ESSE RESPEITO E, SOB A AMEAÇA DE UM CASTIGO
EXEMPLAR, EU ERA OBRIGADA, DUAS HORAS DEPOIS, A COMER A
CARNE, QUE ERA DEIXADA NO MESMO PRATO. A ESSA ALTURA A
CARNE JÁ ESTAVA MUITO FRIA E A GORDURA, MUITO DURA (ELADEMONSTROU SUA REPULSA) …. AINDA POSSO VER O GARFO NA
MINHA FRENTE… UM DE SEUS DENTES ERA MEIO TORTO. SEMPRE
QUE ME SENTO À MESA VEJO OS PRATOS DIANTE DE MIM, COM A
CARNE E A GORDURA FRIAS.” 
(FREUD, S. ESTUDOS SOBRE A HISTERIA (1893-1895). RIO DE JANEIRO:
IMAGO, 1989, P. 42). 
 
DENTRE AS OPÇÕES ABAIXO, ASSINALE AQUELA QUE EXPLICA
CORRETAMENTE ESSE FRAGMENTO CLÍNICO.
A) Emmy von N. tinha dificuldades alimentares que poderiam se transformar em um transtorno
alimentar, como a anorexia.
B) Freud tentava, por meio da hipnose, ter acesso ao pré-consciente de Emmy von N.
C) O recalque incide sobre o fato traumático, mas esse processo não tem relação com os
sintomas.
D) Emmy von N. relata sua lembrança mais facilmente por meio da hipnose, porque, estando
no inconsciente, a história não estava esquecida, mas sim recalcada.
E) Mediante o recalque se forma o pré-consciente, no qual estão representações que podem
ser acessíveis à consciência.
GABARITO
1. Durante a quarentena provocada pela pandemia da covid-19, muitas mudanças e
adaptações foram necessárias. Algumas famílias ficaram em casa, com os pais
trabalhando em home office e as crianças estudando on-line. A dificuldade de
concentração nas tarefas escolares, o confinamento e a distância da escola, amigos e
familiares foram motivos que deixaram as crianças mais irritadas e, em alguns casos,
agressivas. Débora é uma mãe que se encontra nessa situação. Está trabalhando em
casa e fica o dia inteiro com suas duas filhas, Laura e Nina, sem contar com ajuda o
tempo todo. Laura tem 7 anos e Nina é um bebê de 3 meses. Na hora de amamentar Nina,
Laura pede a atenção da mãe em uma tarefa escolar. Quando Débora responde que não
pode ajudá-la naquele momento, a menina chora e diz que a mãe não gosta dela. Ao
mesmo tempo, Nina chora no berço. Débora segura Nina no colo para amamentá-la e diz
a Laura que vai conversar com ela mais tarde e ajudar em toda a tarefa escolar. 
 
Como podemos justificar a decisão da mãe em relação às duas filhas que pediam sua
atenção ao mesmo tempo? Marque a alternativa que apresenta a resposta correta.
A alternativa "C " está correta.
 
O princípio da realidade se desenvolve com o processo de amadurecimento. Um bebê de 3
meses é regido pelo princípio do prazer, que não suporta o adiamento da satisfação. Assim, a
filha mais velha, mesmo experimentando certa frustração, é capaz de lidar com a espera pela
atenção da mãe.
2. Entre as primeiras histéricas tratadas por Freud, ainda com o método da hipnose,
encontra-se o caso de Emmy von N. A seguir, temos um trecho do tratamento descrito
por Freud nos Estudos sobre a histeria: 
 
“Em seguida, coloquei-a em hipnose e perguntei mais uma vez: Por que a senhora não
consegue comer mais? A resposta veio prontamente e consistiu, mais uma vez, numa
série de razões dispostas em ordem cronológica a partir de seu acervo de lembranças:
Estou pensando em como, quando eu era criança, muitas vezes acontecia que, por
malcriação, recusava-me a comer carne ao jantar. Minha mãe era muito severa a esse
respeito e, sob a ameaça de um castigo exemplar, eu era obrigada, duas horas depois, a
comer a carne, que era deixada no mesmo prato. A essa altura a carne já estava muito
fria e a gordura, muito dura (ela demonstrou sua repulsa) …. ainda posso ver o garfo na
minha frente… um de seus dentes era meio torto. Sempre que me sento à mesa vejo os
pratos diante de mim, com a carne e a gordura frias.” 
(FREUD, S. Estudos sobre a histeria (1893-1895). Rio de Janeiro: Imago, 1989, p. 42). 
 
Dentre as opções abaixo, assinale aquela que explica corretamente esse fragmento
clínico.
A alternativa "D " está correta.
 
O recalque, mecanismo na base do inconsciente, impede a lembrança de uma situação
traumática, a não ser pelo trabalho da análise. Não se trata do esquecimento de uma
representação que pode vir à consciência caso algum estímulo a essa lembrança aconteça.
Esse tipo de representação esquecida diz respeito ao pré-consciente, não ao inconsciente.
Ainda, nesse contexto, não se falava em transtorno alimentar.
MÓDULO 2
 Definir o conceito de inconsciente, sua importância na teoria psicanalítica e seu
modo de funcionamento
AS FORMAÇÕES DO INCONSCIENTE:
SONHOS, ATOS FALHOS E CHISTES
As formações do inconsciente são efeitos dos processos psíquicos inconscientes. Trata-se de
uma elaboração psíquica e simbólica que tem relação com o conteúdo recalcado.
OS SONHOS
Em sua obra A interpretação de sonhos, publicada em 1899, Freud (1989a, p. 99) escreveu
que “O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”. O trabalho com os sonhos o levou
a uma compreensão profunda do psiquismo, que foi fundamental para a criação da Psicanálise.
A essência do sonho é um desejo que fora recalcado durante a infância. Nesse sentido, o
sonho é sempre uma realização de desejo. Podemos entender os sonhos como processos
primários que produzem o modelo da experiência de satisfação do princípio do prazer
(GARCIA-ROZA, 1993).
Segundo Freud, sempre haverá dois conteúdos básicos intrínsecos na interpretação do sonho:
o conteúdo manifesto do sonho e os pensamentos oníricos latentes. O material do primeiro
corresponde ao sonho lembrado, que pode ser relatado pelo sonhador. Já o material do
segundo é o que há de oculto e inconsciente no sonho, o que se pretende atingir pela
interpretação. Afirmamos, então, que há uma distância entre o sonho sonhado (conteúdo
latente) e o relato do sonho (conteúdo manifesto).
Entre esses dois conteúdos, impera a censura, impedindo que o conteúdo latente seja
acessado pelo sujeito, exceto pelo trabalho de interpretação analítica.
Podemos explicar a censura como uma tendência que domina a consciência de uma pessoa,
com a finalidade de inibir outra tendência que lhe é oposta, mantendo, assim, o conteúdo
inconsciente fora do alcance da consciência. A censura atua, dessa forma, como uma força
que impede o acesso ao fato traumático.
Quando adormecemos, desligamo-nos dos estímulos externos, que permanecem parcialmente
afastados, ocorrendo um relaxamento da censura.

Ao acordarmos e lembrarmos do sonho, entretanto, a censura se faz presente entre o que foi
sonhado e o que pode ser lembrado.
Nisso consiste o trabalho do sonho ou elaboração onírica.
Ainda assim, apesar do trabalho da censura, Freud afirma que os sonhos são sempre
realização de desejo, especificamente de desejos que estão na contramão das imposições
sociais, como os costumes, a educação, a religião, os tabus e as normas. Aquilo que
lembramos do sonho passa pelo trabalho da censura, assim, essa realização de desejo pode
não ser percebida por aquele que sonha.
Quando falamos do pesadelo, essa relação entre o que pode ser percebido e o que se sonha
fica mais evidente. O que ocorre nos pesadelos é uma falha no processo de trabalho do sono.
Um conteúdo inconsciente não teria sido suficientemente deformado ao ponto de poder habitar
a consciência.
SENDO ASSIM, O PESADELO TOMARIA VANTAGEM
DA DIMINUIÇÃO DA CENSURA PARA FAZER EXISTIR
NA CONSCIÊNCIA UM CONTEÚDO RECALCADO, O
QUAL NO ESTADO DE VIGÍLIA NÃO ESTARIA
‘AUTORIZADO’ A ESTAR LÁ.
(ABSÁBER, 2005, p. 46)
Ou seja, a realização de desejo relacionada ao sonho não diz respeito a uma sensação
percebida pela consciência, mas ao próprio mecanismo do conflito psíquico, que se atualiza no
embate entre desejo e censura.
 ATENÇÃO
É importante ressaltar que, para Freud, esses desejos inconscientes se ligam a restos diurnos.
São fatos, afetos, acontecimentos experimentados durante o dia ou no dia anterior. O desejo
inconsciente atravessa a barreira da censura no momento do sonho e se articula a esses
elementos, que no sonho ganham um sentido diferente daquele vivenciado quando estamos
acordados. Por isso, muitas vezes, os sonhos são absurdos, não “fazem sentido” para nossa
consciência: diversos elementos se fundem e o sonho não obedece à lógica da consciência.
Para chegar à narrativa do sonho, faz-se necessário o trabalhoda elaboração onírica, por
intermédio dos quatro mecanismos fundamentais do trabalho do sonho: condensação,
deslocamento, figuração e elaboração secundária, sendo esta última um segundo momento
da elaboração onírica, na tentativa de conferir inteligibilidade ao sonho.
CONDENSAÇÃO
Os elementos que lembramos dos sonhos são resumidos se os compararmos aos elementos
oníricos dos quais eles se originaram. Vários elementos vivenciados se combinam em uma só
ideia. O conteúdo manifesto é menor do que o conteúdo latente; o contrário nunca acontece.
Assim, pode ocorrer o ocultamento de alguns acontecimentos do sonho latente, passando
apenas alguns fragmentos para o sonho manifesto. A combinação de vários elementos em um
só passa por uma espécie de filtro, sob o comando da censura.
Um exemplo de condensação é quando sonhamos com uma pessoa que conhecemos, mas no
sonho ela é outra pessoa, tem a imagem de outra pessoa, conhecida ou não. No sonho
sonhado, esses dois elementos estiveram presentes, mas, com o trabalho da condensação,
lembramos da fusão entre os dois, a princípio ininteligível.
DESLOCAMENTO
Consiste na inversão da intensidade psíquica de alguns elementos do sonho. O aspecto mais
significativo do sonho ganha menos importância, enquanto os elementos secundários podem
aparecer com riqueza de detalhes. A intensidade é deslocada para elementos que não
carregam significados mais profundos.
Ao narrar o sonho, muitas vezes, nos damos conta da presença de determinada pessoa, por
exemplo, que apareceu no sonho sem que tivesse muita importância, muitas vezes não vemos
nenhum sentido em sua presença. Podemos dizer que essa lembrança sem intensidade
carrega, no sonho, um significado importante no que diz respeito ao desejo inconsciente. Mais
uma vez, é compreensível a ação desse mecanismo quando lembramos do funcionamento da
censura sobre o sonho.
FIGURAÇÃO
Consiste na seleção e transformação dos pensamentos dos sonhos em imagens. A figuração,
por si só, é um mecanismo responsável pela distorção resultante da elaboração onírica.
ELABORAÇÃO SECUNDÁRIA
Ocorre a modificação do sonho, de forma que ele pareça uma história coerente e
compreensível. Esse mecanismo faz com que o sonho perca parte de sua aparência de
absurdidade. Acontece na narrativa do conteúdo manifesto.
CONTEÚDOS BÁSICOS INTRÍNSECOS NA
INTERPRETAÇÃO DO SONHO
O prof. doutor Luciano de Souza Dias esclarece, neste vídeo, que os sonhos são processos
primários que produzem o modelo da experiência de satisfação do princípio do prazer;
abordando o conteúdo latente e o conteúdo manifesto do sonho e o papel da censura.
O ATO FALHO
Quando Freud substitui a técnica da hipnose pela associação livre, a fala do paciente toma um
valor ainda mais imprescindível na clínica. A partir daí, Freud percebe que o inconsciente
insiste e surge também na fala, emergindo no consciente pelo equívoco.
A narrativa é importante do ponto de vista do que é contado, mas também nos
momentos em que falha.
Em suas Conferências introdutórias XXI (1916-1917), Freud aborda o ato falho. O lapso
verbal, em especial, será considerado por Freud como o mais apropriado para investigação,
pois:
[...] AO ENUNCIAR ALGO DISTINTO DO QUE
INTENCIONAVA, O QUE CADA SUJEITO ENCONTRA É
PERPLEXIDADE OU IRRITAÇÃO. POR VEZES, ESSE
FENÔMENO SEQUER É RECONHECIDO PELO
FALANTE, SENDO REVELADO PELA REAÇÃO DO
INTERLOCUTOR. A PERPLEXIDADE OU IRRITAÇÃO,
COMO BREVE RESPOSTA AFETIVA, LEVA O SUJEITO
A SE QUESTIONAR SOBRE O QUE ESSE FENÔMENO
ESPECÍFICO QUER DIZER.
(AYRES, 2017, p. 28)
Entende-se, portanto, que falar uma palavra no lugar daquela que seria intencional
conscientemente permite uma forma de acesso aos conteúdos que são repelidos pela
consciência. Para Freud, o ato falho evidencia que há mais de uma intenção em jogo. “A
interferência ou confronto de duas intenções diferentes permite que uma dada expressão ou
frase seja enunciada, a despeito da intenção consciente do falante” (AYRES, 2017, p. 28).
Em outras palavras, o confronto entre intenções evidencia a existência de dois sistemas
psíquicos (consciente e inconsciente) e o conflito entre eles, o que está na base de toda a
teoria freudiana.
 EXEMPLO
Podemos citar como exemplo de ato falho chamar uma pessoa pelo nome de outra ou trocar
palavras de sentidos diferentes: “hoje o dia está muito quente”, quando a intenção consciente
era dizer “hoje o dia está muito frio”. A palavra quente, que emerge na narrativa, abre sentido
para outro conteúdo, que seria inconsciente.
Dessa forma, Freud afirma esse fenômeno — do ato falho — como uma formação do
inconsciente. Tal como o sintoma, há no ato falho uma formação de compromisso entre a
intenção consciente da pessoa e o conteúdo recalcado.
 
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OS CHISTES
Em 1905, Freud escreve O chiste e a sua relação com o inconsciente. Nesse texto, Freud
analisa elementos, características e motivações por trás das piadas cotidianas das quais a
maioria de nós acha graça. Ele tenta compreender qual seria o real motivo delas serem
contadas.
As piadas, principalmente as tendenciosas, serviriam como uma forma de liberar
pensamentos inibidos.
O chiste também carrega o duplo sentido, ou seja, a graça está no que não é dito, mas é
compreendido. Não se explica uma piada, o riso é provocado pela compreensão do não dito. O
conteúdo é, muitas vezes, de cunho sexual, agressivo ou crítico. Nesse sentido, Freud
considera que conteúdos inconscientes, muitas vezes hostis e reprimidos socialmente, podem
ser externalizados pelo humor.
O chiste também é visto na Psicanálise como uma forma de laço social, é uma narrativa feita
ao outro. A piada provoca o riso do grupo para o qual é contada, gerando uma satisfação em
quem conta. Outro tipo comum de piada é aquele direcionado a uma figura de poder, um credo,
um povo etc.
 ATENÇÃO
Aquilo que não se pode falar abertamente devido às restrições da cultura, é revelado
pelo humor, configurando uma suspensão temporária da censura. Isto é, por meio do
chiste, do humor, também é possível observar a expressão do inconsciente, não de
forma explícita, já que o recalque incide sobre esse conteúdo, mas de forma simbólica.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. EM SUA OBRA A INTERPRETAÇÃO DE SONHOS, PUBLICADA EM 1899,
FREUD ESCREVEU QUE “O SONHO É A ESTRADA REAL QUE CONDUZ
AO INCONSCIENTE”. ESSA AFIRMATIVA CONTINUA ATUAL NA
PSICANÁLISE, SENDO O SONHO UMA FORMAÇÃO DO INCONSCIENTE
QUE DESPERTA O INTERESSE DO PSICANALISTA NO DECORRER DE
UMA ANÁLISE. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA O PORQUÊ
DE ISSO ACONTECER.
A) O sonho latente é mais extenso do que o conteúdo manifesto.
B) O sonho é sempre uma realização de desejo e, nesse sentido, uma via privilegiada para o
inconsciente.
C) O sonhador consegue contar na análise tudo o que sonhou durante a noite, revelando seus
desejos e medos.
D) O trabalho do analista consiste na interpretação dos sonhos.
E) A elaboração secundária permite total acesso ao sonho sonhado.
2. SONHOS, ATOS-FALHOS E CHISTES SÃO FORMAÇÕES DO
INCONSCIENTE. ISSO SIGNIFICA QUE, APESAR DA FORÇA DO
RECALQUE, O INCONSCIENTE CONSEGUE SE EXPRESSAR E PRODUZIR
EFEITO NA VIDA CONSCIENTE. ENTRETANTO, PARA CONSEGUIR SE
EXPRESSAR, É NECESSÁRIO QUE O CONTEÚDO PASSE POR
MECANISMOS QUE DRIBLEM A CENSURA. ENTRE ESSES TRÊS TIPOS
DE FORMAÇÃO DO INCONSCIENTE, OS SONHOS TÊM ATENÇÃO
PRIVILEGIADA COMO VIA PARA O INCONSCIENTE. SOBRE OS
MECANISMOS DO SONHO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
A) O recalque permite que o conteúdo oculto e inconsciente no sonho seja lembrado pelo
sonhador.
B) O sonho obedece ao tempo lógico, da consciência.
C) A elaboração secundária faz com que o sonho pareça mais coerente.
D) O conteúdo latente é o sonho relatado ou, podemos dizer, o sonho lembrado.
E) No sonho, muitas vezes, a imagem de uma só pessoa representa mais de uma pessoa. Isso
é possível por meio do processo de elaboração secundária.
GABARITO
1. Em sua obra A interpretação de sonhos, publicada em 1899, Freud escreveuque “O
sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”. Essa afirmativa continua atual na
Psicanálise, sendo o sonho uma formação do inconsciente que desperta o interesse do
psicanalista no decorrer de uma análise. Assinale a alternativa que apresenta o porquê
de isso acontecer.
A alternativa "B " está correta.
 
O sonho é sempre uma realização de desejo e, por essa razão, torna-se um acesso
privilegiado aos conteúdos recalcados. O desejo realizado não é acessível à consciência
devido à censura, mas o conteúdo manifesto do sonho se presta à interpretação do analista.
2. Sonhos, atos-falhos e chistes são formações do inconsciente. Isso significa que,
apesar da força do recalque, o inconsciente consegue se expressar e produzir efeito na
vida consciente. Entretanto, para conseguir se expressar, é necessário que o conteúdo
passe por mecanismos que driblem a censura. Entre esses três tipos de formação do
inconsciente, os sonhos têm atenção privilegiada como via para o inconsciente. Sobre
os mecanismos do sonho, assinale a alternativa correta.
A alternativa "C " está correta.
 
A elaboração secundária é o mecanismo que confere inteligibilidade ao sonho. O mecanismo
responsável pela fusão de vários elementos em um só é a condensação. Os outros
mecanismos mencionados nas demais alternativas não correspondem ao sonho.
MÓDULO 3
 Descrever a segunda tópica freudiana e a relação entre id, ego e superego
A SEGUNDA TÓPICA FREUDIANA: ID, EGO
E SUPEREGO
Em O ego e o id, texto de 1923, Freud apresenta sua segunda tópica, uma outra forma de
compreender o aparelho psíquico, considerada estrutural. A divisão do aparelho psíquico em
consciente, pré-consciente e inconsciente começou a se mostrar insuficiente à medida que
Freud foi avançando em suas observações e teorias.
O ego, até então, estava totalmente situado no consciente e no pré-consciente, enquanto no
inconsciente estariam as representações mentais que o ego teria recalcado. Freud considerava
que o conflito psíquico seria travado entre o ego e o inconsciente. Um ego consciente que
protegeria o sujeito de pensamentos e ideias inconciliáveis com o sistema de crenças e valores
versus um conjunto de representações recalcadas.
 Id, ego e superego.
A experiência clínica levou Freud a perceber, entretanto, que uma parte considerável do ego
também era inconsciente. Durante uma análise, a dificuldade de lembrar ou falar de um
assunto indica sua relação com representações recalcadas, que são inconscientes. Freud
observou que haveria uma resistência do ego impedindo o acesso às representações mentais
recalcadas. Mas essa resistência também seria inconsciente, o paciente não tinha consciência
de sua ação.
Ora, se a resistência era uma função do ego e também era inconsciente, o ego não
poderia ser totalmente consciente.
Essa mudança do olhar de Freud reorganiza a concepção de ego e a torna mais complexa,
englobando também uma parte inconsciente. O aparelho psíquico toma uma nova conformação
teórica e passa a ser dividido em novas três instâncias:
EGO
ID
SUPEREGO
O ID
O id é considerado o polo pulsional da personalidade, cujos conteúdos são inconscientes. Do
ponto de vista econômico, é o reservatório da libido (energia psíquica de ordem sexual) e, do
ponto de vista dinâmico, entra em conflito com o superego, que tem a função do juízo moral.
 ATENÇÃO
O id não é sinônimo de inconsciente — o inconsciente se torna mais amplo na segunda tópica
—, mas seu funcionamento e conteúdo são de ordem inconsciente.
Segundo Freud, o id seria nossa parte mais instintiva, que sustenta desejos, ímpetos e
vontades, sem conhecer freios morais. O id funciona de acordo com o princípio do prazer e faz
uma exigência constante de satisfação. O id é organizado segundo a lógica inconsciente, na
qual não existe tempo cronológico, noção de espaço ou de certo e errado.
Podemos dizer que o bebê, em seus primeiros momentos de vida, é puro id. À proporção que o
ego se desenvolve, permite que a satisfação seja alcançada com auxílio do princípio da
realidade, mediante investimentos em objetos reais. É na relação entre id e ego que o sujeito
consegue construir sua relação com o mundo, tornando-se um ser social.
O EGO
O ego da segunda tópica ganha uma versão ampliada, o que torna o conceito mais complexo.
PRIMEIRA TÓPICA
Nela, como já vimos, Freud sinaliza um laço muito estreito entre o ego e o consciente/pré-
consciente.
SEGUNDA TÓPICA
O ego continua sendo o polo da consciência em que podemos verificar a ação do princípio da
realidade, tendo uma função adaptativa.
O ego é uma parte diferenciada do id, a partir de seu contato com a realidade externa.
A construção da segunda tópica leva em conta uma relação entre as instâncias, e essa relação
vai caracterizar o funcionamento psíquico. O ego mantém uma relação com as reivindicações
do id, com os imperativos do superego e com as exigências da realidade, situando-se como um
mediador. Sua autonomia, entretanto, é relativa.
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DO PONTO DE VISTA DINÂMICO, O EGO REPRESENTA
EMINENTEMENTE, NO CONFLITO NEURÓTICO, O
POLO DEFENSIVO DA PERSONALIDADE; PÕE EM
JOGO UMA SÉRIE DE MECANISMOS DE DEFESA,
ESTES MOTIVADOS PELA PERCEPÇÃO DE UM AFETO
DESAGRADÁVEL — SINAL DE ANGÚSTIA.
(LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 124)
É importante ressaltar que o ego não tem função de bloquear o desejo. Em vez disso, o que
está em questão é garantir que as necessidades do id sejam satisfeitas, mas de formas que
sejam seguras, eficazes e adequadas. Do ponto de vista econômico, o ego impede
temporariamente a descarga de energia do id até a hora e lugar adequado. Esse embate entre
princípio do prazer e princípio da realidade é constante e importante para lidar com situações
da vida.
Vejamos um exemplo:
 
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Pedro e João são dois colegas adolescentes que descem para o pátio comum do condomínio
onde moram. Pedro está comendo um hamburguer, João pede um pedaço e Pedro diz não. A
ação do princípio da realidade fará com que João aguarde até poder comprar seu próprio
hamburguer para, então, saciar esse desejo. Esse comportamento, diferente de arrancar
sanduíche da mão do colega, propicia a vida em sociedade.
Freud compara o id e o ego com um cavalo e seu cavaleiro (FREUD, 1989e):
 
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O cavalo representa o id: governado pelo princípio do prazer, ele busca apenas satisfazer as
suas necessidades, mas também fornece a energia necessária para impulsionar os dois para a
frente.
 
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O cavaleiro representa o ego: guiado pelo princípio de realidade, ele aproveita a energia do id e
cria maneiras para guiá-lo na direção mais adequada.
Embora seja conciliador e se adapte à realidade, o ego também funciona, em parte, pela lógica
do inconsciente. Diante do fato traumático, o ego lança mão de mecanismos de defesa que são
disparados sem que a consciência tenha acesso a isso.
OS MECANISMOS DE DEFESA DO EGO
Os mecanismos de defesa visam proteger a pessoa de traumas ou situações desagradáveis
que causam dor. É um movimento automático, que, apesar de proteger, apresenta soluções
que também podem causar dor e desconhecimento sobre si mesmo. Vamos abordar os
principais mecanismos e suas funções.
RECALQUE
O recalque é um conceito fundamental na construção da Psicanálise, indissociável do conceito
de inconsciente. Consiste em tirar da consciência a representação dolorosa, desagradável ou
inconciliável com o sistema de crenças. O recalque “decide” que a pessoa “não quer saber”
sobre tal representação e a torna inconsciente. O material recalcado, que compõe o
inconsciente, retorna nos sintomas, o que demonstra que seu caráter de defesa não é
totalmente bem-sucedido.
PROJEÇÃO
A projeção é um tipo de defesa que atribui ao outro características, sentimentos e desejos que
o sujeito se recusa a reconhecer em si mesmo. É um movimento que lança para fora aquilo
que o sujeito não quer em si ou que causa incômodo.Verifica-se com certa frequência nas
relações interpessoais.
Por exemplo: uma mulher encontra-se insatisfeita no casamento e nutre desejos inconscientes
por outros homens, eventualmente. Ela passa a ser extremamente ciumenta e receosa de que
o marido a esteja traindo. Por não saber lidar com o próprio desejo, ela o lança para fora,
projetando em seu marido o interesse por outras mulheres.
Outro exemplo em que podemos observar a projeção é na aplicação de testes projetivos, muito
utilizados para psicodiagnóstico na Psicologia clínica. São testes que oferecem estímulos que
não trazem em si um conteúdo fechado. Essa atividade pressupõe que o sujeito vai projetar
conteúdos internos naqueles estímulos, frequentemente apresentados em pranchas. Um
exemplo é o teste de Rorschach, que se baseia, entre outros pressupostos, em concepções
psicanalíticas.
 Teste de Rorschach
FORMAÇÃO REATIVA
É um mecanismo caracterizado pela transformação de um pensamento ou sentimento no seu
oposto, em que o sujeito adere à ideia contrária àquela que foi recalcada, muitas vezes de
forma excessiva. As formações reativas costumam ser investidas com intensidade, mantendo
vivos os desejos originais no inconsciente.
Como exemplo, podemos citar alguém com desejos homossexuais que não consegue aceitá-
los. Essa pessoa pode desenvolver um comportamento homofóbico, intolerante a qualquer
menção feita à homossexualidade.
RACIONALIZAÇÃO
O mecanismo de racionalização indica a atribuição de motivações mais aceitáveis e
intelectuais do que as verdadeiras, das quais o ego se defende. O conteúdo desconfortável
para o ego é transformado em uma justificativa de ordem racional ou ideal, no campo do
pensamento. Trata-se de uma defesa que se apoia num raciocínio lógico, explicando
sentimentos e emoções e, assim, disfarçando os conflitos internos.
REGRESSÃO
É um mecanismo que induz o retorno a uma fase anterior do desenvolvimento, em que as
satisfações eram mais imediatas e o princípio do prazer tinha mais espaço.
Um menino tem 6 anos quando nasce a irmãzinha. Esse fato o faz retornar, por exemplo, à
fase oral. Ele passa a chupar dedo, pede mamadeira e chupeta. O que está em jogo nesse
exemplo? A criança experimenta uma sensação de insegurança que gera desprazer de forma
excessiva, além do que ela consegue elaborar. O ego se defende com a regressão a um
estado em que a própria criança era um bebê e tinha a atenção da mãe de forma mais intensa,
tal como hoje a irmã recebe.
Percebemos que, mesmo em sua parte inconsciente, o ego tem a função de preservar o “eu”,
afastando representações dolorosas. Defesa, adaptação e controle de impulsos são as
principais funções dessa instância. A capacidade de controlar impulsos e adiar a satisfação
são características de uma personalidade madura. Pelo processo de educação, as normas
culturais são introjetadas e as crianças vão aprendendo como controlar seus impulsos e se
comportar de formas que sejam socialmente adequadas.
OS MECANISMOS DE DEFESA DO EGO
O prof. doutor Luciano de Souza Dias aborda a importância dos mecanismos de defesa do ego.
Assista!
O SUPEREGO
O superego é um elemento estrutural do aparelho psíquico, responsável pela imposição de
normas, padrões e sanções. É uma instância que incorpora uma lei e proíbe sua transgressão,
tendo como função fazer juízo moral. O superego é a última das três instâncias a se
desenvolver e, de acordo com Freud, é o herdeiro do complexo de Édipo. Isso indica o papel
central da vivência edipiana na organização do psiquismo.
O COMPLEXO DE ÉDIPO
Freud atribui ao complexo de Édipo funções fundamentais na construção subjetiva. O
complexo de Édipo é apresentado sob a forma de uma história que consiste, de maneira
simplificada, no fato de a criança do sexo masculino experimentar, por ocasião da fase fálica,
desejos sexuais com relação à mãe, sendo o pai percebido como um rival. Isso transcorre até
que a criança seja obrigada a renunciar a suas expectativas amorosas, em decorrência do
medo da castração.
 
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Para compreender melhor, é importante ressaltar o que significa a castração nesse
cenário.
A experiência edipiana é transpassada pela descoberta da diferença anatômica entre os sexos
e suas consequências no psiquismo infantil. Em A organização genital infantil (1923), Freud
inclui a fase fálica entre as fases psicossexuais do desenvolvimento, descrevendo a fase em
que os órgãos genitais constituem a zona erógena para a criança.
Entretanto, quando as crianças se deparam com a diferença anatômica, o único genital que é
registrado psiquicamente é o masculino. Dentro da lógica infantil, não são os dois genitais, o do
menino e o da menina, que são levados em consideração, mas apenas o órgão masculino.
 ATENÇÃO
É fundamental observar que, nesse contexto, Freud se refere ao órgão genital masculino pelo
termo falo. Ao escolher um termo diferente de pênis, que seria a nomenclatura vigente, Freud
sublinha o caráter simbólico dessa operação. Não se trata exatamente do genital, mas do que
ele simboliza, seja em sua presença, seja em sua ausência.
As crianças percebem a diferença sexual como:
Ausência do falo (no caso da menina)

Presença do falo (no caso do menino)
Para a criança que se encontra na fase fálica, aquilo que é presente, maior e explícito
representa mais prazer. As crianças criam fantasias chamadas de “teorias sexuais infantis”
antes de aceitar, de fato, essa diferença. Por exemplo: o “falo” da menina é pequeno e ainda
pode crescer ou ela o perdeu por causa de alguma ação que resultou em punição.
 RESUMINDO
Sendo assim, o falo funciona como símbolo do narcisismo, e a fantasia de castração significa
uma ameaça à onipotência infantil. O falo, em sua presença, confere importância e valor e, em
sua ausência, leva ao sentimento de inferioridade. Inaugura-se a divisão entre fálico e
castrado, estando tal divisão definida em termos de ausência ou presença desse símbolo
valorizado que é o falo.
Tendo compreendido o significado da castração dentro do universo infantil, voltemos ao
complexo de Édipo:

O menino direciona, então, suas fantasias sexuais e amorosas para a mãe, enquanto o pai se
transforma num rival. Ao mesmo tempo, tem o órgão genital como zona erógena privilegiada
(fase fálica) e, naturalmente, explora essa área de prazer, tocando frequentemente em seu
genital.
Essa ação é alvo de recriminação e, segundo Freud, o menino associa as repreensões com a
imagem da castração feminina. Assim, podemos compreender o abandono da vivência
edipiana por medo da castração.


A mãe é abandonada como objeto de desejo e esse investimento amoroso dá lugar à
identificação com a figura paterna. O menino se identifica com os traços de masculinidade do
pai e fará, no futuro, uma escolha amorosa tal como o pai fez ao casar-se com a mãe.
Toda essa história tem um significado maior do que amor e identificação com as figuras
parentais. O que está em jogo na teoria do complexo de Édipo é a introjeção da lei que
organiza a cultura. Ao renunciar ao forte impulso edipiano, a criança aceita que não pode ter
tudo o que quer e nem ser tudo para alguém, nem mesmo para a mãe.
 
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No complexo de Édipo, o menino quer ser o objeto exclusivo do amor materno; ele deseja a
atenção, os cuidados e o reconhecimento da mãe só para ele. Ao aceitar que isso não é
possível, ele aceita que a mãe tem outros interesses além dele e renuncia a uma parcela de
seu narcisismo. O pai aqui funciona como um terceiro elemento fundamental para cortar a
relação dual entre mãe e filho. Nesse sentido, o menino não pode satisfazer esse desejo, mas
entra na ordem simbólica da cultura, em que poderá ter outros investimentos amorosos.
Trata-se, então, da introjeção da lei paterna, a lei que organiza a capacidade de renunciar
a outros desejos em nome da inserção na sociedade.
 SAIBA MAIS
É importante ressaltar que o complexo de Édipo é uma teoria muito mais extensado que aqui
apresentada. Os sentimentos infantis são ambivalentes, o menino tem o pai como rival, mas
também o ama. Destaca-se ainda que o desfecho do Édipo não acarretará, necessariamente,
uma orientação heterossexual e, além disso, essa experiência se dá de forma diferente para a
menina. Ela entra no Édipo ao se perceber castrada, ao contrário do menino que sai do Édipo
por medo da castração.
Como herdeiro do complexo de Édipo, o superego começa a se constituir a partir do momento
em que a criança renuncia ao pai/mãe como objeto de desejo. É a introjeção da lei, que forma
a instância responsável pelo julgamento a partir das normas sociais. A instância que carrega a
noção de certo e errado exerce autoridade moral sobre as ações e o pensamento, e de onde
surgem a vergonha, a repulsa e a moralidade. Na relação entre o ego e o superego, este
representa as exigências da cultura, enquanto o id faz pressão para a satisfação pulsional.
E assim funciona o aparelho psíquico na segunda tópica, como um esquema que busca
um constante equilíbrio, a fim de permitir a vida dentro das possibilidades consideradas
adequadas e adaptadas à realidade externa.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. NA SEGUNDA TÓPICA FREUDIANA, O SUPEREGO É RESPONSÁVEL
PELA CENSURA E PELO JUÍZO MORAL. ÚLTIMA INSTÂNCIA PSÍQUICA A
SE DESENVOLVER, FREUD AFIRMA QUE O SUPEREGO É O HERDEIRO
DO COMPLEXO DE ÉDIPO. ISSO IMPLICA COMPREENDER A
IMPORTÂNCIA DA VIVÊNCIA EDIPIANA COMO CONSTITUTIVA DO
PSIQUISMO, CORRELACIONANDO ESSA EXPERIÊNCIA COM A
FORMAÇÃO DO SUPEREGO. ASSINALE A AFIRMATIVA QUE EXPLICA
CORRETAMENTE A RELAÇÃO ENTRE COMPLEXO DE ÉDIPO E
SUPEREGO.
A) O complexo de Édipo está relacionado com a descoberta da diferença anatômica entre os
sexos e isso faz com que o superego seja rígido em coibir o desejo sexual.
B) O complexo de Édipo traduz um desejo de subverter a ordem, ocupando o lugar do pai junto
à mãe. Quando a criança renuncia a esse desejo, há a introjeção da lei paterna, que está
associada à capacidade de inserção na ordem social.
C) Na saída do complexo de Édipo, a criança tem o ego enfraquecido, o que permite a
formação do superego.
D) O superego é herdeiro do complexo de Édipo porque engloba um ideal de amor para o
futuro.
E) O superego é responsável por todo o sentimento de medo do ser humano e isso se dá por
causa do medo da castração, que faz o menino abandonar a mãe como objeto de amor.
2. NO TEXTO O EGO E O ID, FREUD UTILIZA A METÁFORA DO CAVALO E
DO CAVALEIRO PARA SE REFERIR À RELAÇÃO ENTRE O ID E O EGO:
“O CAVALO PROVÊ A ENERGIA DE LOCOMOÇÃO, ENQUANTO O
CAVALEIRO TEM O PRIVILÉGIO DE DECIDIR O OBJETIVO E GUIAR O
MOVIMENTO DO PODEROSO ANIMAL” (FREUD, S. O EGO E O ID (1923).
RIO DE JANEIRO: IMAGO, 1989, P. 121). 
 
MARQUE A ALTERNATIVA QUE TRADUZ ADEQUADAMENTE ESSA
METÁFORA.
A) A) O id tem a força do desejo inconsciente, com a qual o ego não consegue lidar. O
movimento psíquico é definido pelo id.
B) B) O aparelho psíquico indica a necessidade de adaptação à realidade, portanto, o ego
domina completamente o id.
C) C) Os mecanismos de defesa do ego são voltados para o id, com o objetivo de amansar a
sua força.
D) D) O ego e o id, na verdade, têm a mesma função, mas como o ego tem contato com a
realidade externa, Freud associa o ego ao cavaleiro.
E) E) O id é o reservatório da pulsão e exerce sobre o ego a exigência de satisfação, cabendo
ao ego garantir essa satisfação por meios aceitáveis e possíveis.
GABARITO
1. Na segunda tópica freudiana, o superego é responsável pela censura e pelo juízo
moral. Última instância psíquica a se desenvolver, Freud afirma que o superego é o
herdeiro do complexo de Édipo. Isso implica compreender a importância da vivência
edipiana como constitutiva do psiquismo, correlacionando essa experiência com a
formação do superego. Assinale a afirmativa que explica corretamente a relação entre
complexo de Édipo e superego.
A alternativa "B " está correta.
 
O superego é herdeiro do complexo de Édipo devido à interdição do desejo incestuoso, que
organiza o psiquismo para que o sujeito seja inserido na cultura. O superego é a instância
responsável pelo juízo moral advindo da experiência edipiana.
2. No texto O ego e o id, Freud utiliza a metáfora do cavalo e do cavaleiro para se referir
à relação entre o id e o ego: “O cavalo provê a energia de locomoção, enquanto o
cavaleiro tem o privilégio de decidir o objetivo e guiar o movimento do poderoso animal”
(FREUD, S. O ego e o id (1923). Rio de Janeiro: Imago, 1989, p. 121). 
 
Marque a alternativa que traduz adequadamente essa metáfora.
A alternativa "E " está correta.
 
A metáfora usada por Freud diz respeito à relação entre o id e o ego, em que o ego propicia a
satisfação exigida pelo id por meio do processo secundário e do princípio da realidade. O ego
não suprime os impulsos do id, mas os torna possíveis.
MÓDULO 4
 Reconhecer a contribuição do texto O mal-estar na civilização para a compreensão
do funcionamento psíquico
O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO
O texto O mal-estar na civilização foi publicado em 1930 e o seu conteúdo é considerado
bastante atual para refletir sobre a relação entre o homem e a sociedade.
Freud observa que a civilização é composta por um conjunto de regras e regulamentos que
exercem controle sobre a natureza e os relacionamentos humanos. Freud analisa as
consequências da inserção na sociedade, descrevendo uma divisão entre natureza e cultura;
tal inserção seria o que diferenciaria o homem de outros animais da natureza.
O mal-estar provém do embate entre as normas da civilização e as exigências do id, do
princípio do prazer. Nessa obra de Freud, podemos pensar o aparelho psíquico de forma
prática, a partir da condição do homem civilizado.
O SENTIMENTO OCEÂNICO
Freud inicia o texto comentando a troca de correspondência com um amigo, sobre religião. O
amigo em questão era Romain Rolland, professor de História da Arte. Rolland comenta o texto
de Freud O futuro de uma ilusão (1927), em que o autor trata a religião como ilusão. Rolland
discorda sobre a fonte propulsora da religião. Para ele, as igrejas e sistemas de religião se
apoderam de um sentimento que caracteriza a religiosidade: um sentimento de “eternidade”, de
algo ilimitado, sem barreiras, que denominou “oceânico”. Seria um fato puramente subjetivo,
não um artigo de fé e não traria qualquer garantia de sobrevida pessoal.
O sentimento oceânico seria a base da religiosidade.
Freud passa a refletir, então, sobre o que Rolland chamou de sentimento oceânico. Para Freud,
esse sentimento não indicaria a religiosidade, embora possa ter sido vinculado posteriormente
à religião. Se há um sentimento oceânico, ele estaria relacionado ao início da vida, antes da
indiferenciação entre o eu e o outro, quando havia o predomínio do princípio do prazer.
O BEBÊ LACTANTE AINDA NÃO SEPARA SEU EU DE
UM MUNDO EXTERIOR, COMO FONTE DAS
SENSAÇÕES QUE LHE SOBREVÊM. APRENDE A
FAZÊ-LO AOS POUCOS, EM RESPOSTA A ESTÍMULOS
DIVERSOS. DEVE IMPRESSIONÁ-LO MUITO QUE
VÁRIAS DAS FONTES DE EXCITAÇÃO, EM QUE
DEPOIS RECONHECERÁ ÓRGÃOS DE SEU CORPO,
POSSAM ENVIAR-LHE SENSAÇÕES A QUALQUER
MOMENTO, ENQUANTO OUTRAS — ENTRE ELAS A
MAIS DESEJADA, O PEITO MATERNO — FURTAM-SE
TEMPORARIAMENTE A ELE, E SÃO TRAZIDAS
APENAS POR UM GRITO REQUISITANDO AJUDA. É
ASSIM QUE AO EU SE CONTRAPÕE INICIALMENTE
UM “OBJETO”, COMO ALGO QUE SE ACHA “FORA” E
SOMENTE ATRAVÉS DE UMA AÇÃO PARTICULAR É
OBRIGADO A APARECER.
(FREUD, 1989h, p. 35)
No processo de diferenciação entre a criança e o mundo externo, surge a tendência de afastar
o eu de tudo o que pode se tornar fonte de desprazer, a jogar isso para fora, formando um
primitivo “Eu-de-prazer”. Essa ordenação de fronteiras, no entanto, pode escapar à experiência
da realidade. Esse momento, que pode ser considerado mítico, em que o bebê e o seio eram
um só e o princípio do prazer imperava, é uma marca indelével de satisfação. Essa unidade
narcísica não deixa de impulsionar o sujeito em sua direção comoum movimento desejante,
mesmo que seja inalcançável. É a partir desse movimento desejante nostálgico que Freud
poderia compreender a existência de um sentimento oceânico.
 RESUMINDO
Desse modo, o papel do sentimento oceânico indicaria o desejo de restabelecer o narcisismo
ilimitado, enquanto a religião remontaria mais ao desamparo infantil, que encontraria conforto
numa figura paterna protetora e divina. O mais importante nessa reflexão de Freud são os
questionamentos que daí se depreendem.
 
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Ao abordar a felicidade como finalidade humana, Freud vai discorrer sobre as fontes de
sofrimento e as estratégias utilizadas para combatê-las.
CIVILIZAÇÃO: RENÚNCIA E SOFRIMENTO
Vimos que, para Freud, a busca da felicidade é o que dá sentido à vida, entretanto, pela própria
condição humana na civilização, sabemos que a felicidade só pode ser experimentada de
forma descontínua e episódica. O sofrimento, por sua vez, é muito mais fácil de ser vivido e
advém de três fontes:
A fragilidade de nossos corpos
O meio externo
O relacionamento entre os homens
Nosso próprio corpo, observa Freud, é fadado ao declínio e à dissolução. O corpo humano
adoece, envelhece, sendo fonte de dor e medo até como sinais de advertência. O mundo
externo é aqui compreendido como a força superior da natureza, que pode se abater sobre nós
de forma inevitável e destruidora. Não temos controle sobre acidentes e catástrofes naturais. A
relação com outros seres humanos, para Freud, é a maior fonte dos nossos sofrimentos, de
forma mais dolorosa do que qualquer outra.
SOB A PRESSÃO DESTAS POSSIBILIDADES DE
SOFRIMENTO, OS INDIVÍDUOS COSTUMAM MODERAR
SUAS PRETENSÕES À FELICIDADE — ASSIM COMO
TAMBÉM O PRINCÍPIO DO PRAZER SE CONVERTEU
NO MAIS MODESTO PRINCÍPIO DA REALIDADE, SOB A
INFLUÊNCIA DO MUNDO EXTERNO —, SE ALGUÉM SE
DÁ POR FELIZ AO ESCAPAR À DESGRAÇA E
SOBREVIVER AO TORMENTO, SE EM GERAL A
TAREFA DE EVITAR O SOFRER IMPELE PARA
SEGUNDO PLANO A DE CONQUISTAR O PRAZER.
(FREUD, 1989h, p. 41)
A civilização é descrita por Freud como a soma das realizações e regulamentos que nos
distinguem de nossos antepassados animais e que servem a dois intuitos: “o de proteger os
homens contra a natureza e o de ajustar seus relacionamentos mútuos” (FREUD, 1989h, p.
42).
Essas funções são cumpridas, porém, de modo precário, já que a civilização não é capaz de
proteger o homem dos perigos e sofrimentos que a natureza e seu corpo lhe impingem; muito
menos é eficaz na tarefa de regular os relacionamentos para serem sempre fruto de satisfação.
No entanto, conforme Freud descreveu em Totem e tabu, não fosse essa tentativa, mesmo que
falha, de regulamentação, os relacionamentos ficariam a cargo da vontade arbitrária do
indivíduo, situação em que o homem fisicamente mais forte decidiria o destino dos demais, de
acordo com seus próprios impulsos pulsionais e interesses.
A civilização impede a satisfação irrestrita de todas as necessidades, mas permite um
quantum de satisfação para todos. Além disso, são inequívocos os ganhos e a
contribuição advindos da civilização.
 EXEMPLO
Freud cita as estradas de ferro, o telefone, a Ciência, certa proteção do homem diante das
forças da natureza como produtos da cultura que facilitam e prolongam a vida humana. Ainda
assim, no texto, Freud ressalta o mal-estar gerado pela civilização.
O princípio do prazer domina o desempenho do aparelho psíquico e é contornado justamente
pela inserção social. Sobre o princípio do prazer, Freud afirma: “seu programa está em
desacordo com o mundo inteiro, tanto o macrocosmo como o microcosmo. É absolutamente
inexequível, todo o arranjo do Universo o contraria” (FREUD, 1989h, p. 45). A necessidade de
adaptação custa ao ser humano uma boa parte de sua natureza. É necessário abdicar da
intensidade originária dos impulsos sexuais e agressivos.
O homem, apesar de seus ideais narcísicos, é constantemente obrigado a encarar sua
natureza incompleta: a incerteza dos relacionamentos e a finitude, por exemplo, são fatos que
se impõem à existência. Freud explica a neurose como fruto dessa relação do homem com
a civilização. O recalque é consequência de uma série de normas sociais que entram em
choque com o desejo.
PAPEL DA CIVILIZAÇÃO NO NOSSO
PSIQUISMO
O prof. doutor Luciano de Souza Dias fala sobre as três fontes de sofrimento e como o homem,
apesar de seus ideais narcísicos, é constantemente obrigado a encarar sua natureza
incompleta. Assista!
A BUSCA DA FELICIDADE
Segundo Freud, “a vida, tal como nos coube, é muito difícil para nós, traz demasiadas dores,
decepções, tarefas insolúveis. Para suportá-la, não podemos dispensar paliativos” (FREUD,
1989h, p. 37). Freud indica, então, uma série de técnicas que os homens utilizam para evitar o
sofrimento e obter prazer, isto é, ser feliz da forma que é possível.
 ATENÇÃO
É importante ressaltar que, nesse contexto, Freud usa o termo felicidade associado ao princípio
do prazer, que tem como objetivo evitar o desprazer e alcançar o prazer.
Uma das saídas seria se isolar voluntariamente, como o eremita, com o objetivo de evitar os
sofrimentos provenientes das relações humanas e evitar as adversidades do mundo externo.
Freud assinala que essa opção pode alcançar a felicidade pela via da quietude, mas, ao dar as
costas para o mundo externo, o indivíduo pode substitui-lo por um mundo criado conforme seus
próprios desejos e tal afastamento da realidade externa pode dar lugar à experiência da
loucura. Em geral, essa alternativa não é eficaz para encontrar a felicidade.
 
Foto: Shutterstock.com
 
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Outra forma que o homem usaria para lidar melhor com os infortúnios da realidade seria o uso
de substâncias que produzem sensações imediatas de prazer, como o álcool e as drogas.
A ingestão dessas substâncias muda as condições de nossa sensibilidade e torna difícil
absorvermos impulsos desprazerosos. Trata-se, entretanto, de sensações passageiras, que
dependem totalmente do acesso a entorpecentes.
A sublimação é outra técnica para evitar o desprazer, que ocorre quando se consegue desviar
a meta da pulsão. A satisfação por essa via não se dá no campo da sexualidade, do princípio
do prazer. A satisfação viria através da criação, da atividade intelectual, da arte.
 
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A SATISFAÇÃO DESSE GÊNERO, COMO A ALEGRIA
DO ARTISTA NO CRIAR, AO DAR CORPO A SUAS
FANTASIAS, A ALEGRIA DO PESQUISADOR NA
SOLUÇÃO DE PROBLEMAS E NA APREENSÃO DA
VERDADE, TEM UMA QUALIDADE ESPECIAL, QUE UM
DIA PODEREMOS CARACTERIZAR
METAPSICOLOGICAMENTE.
(FREUD, 1989h, p. 40)
Segundo Freud, a sublimação seria um meio “mais fino e elevado”, além de consistente e
eficaz. No entanto, este método não é acessível a todas as pessoas e, apesar de produtivo,
não proporciona uma proteção completa contra o sofrimento.
Entre todas as técnicas já citadas, Freud ressalta aquela que mais se aproxima da felicidade
completa: diz respeito à “orientação da vida que situa o amor no ponto central, que espera toda
a satisfação do fato de amar e de ser amado” (FREUD, 1989h, p. 43). Por certo, os
apaixonados experimentam um êxtase no enamoramento e têm a sensação de serem um só, o
que traz a ilusão de completude, de que nada falta.
 
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Essa demasiada felicidade, entretanto, pode dar lugar ao extremo sofrimento caso o objeto
amado nos abandone de alguma forma.
Freud termina essa parte do texto afirmando que em nenhum desses caminhos podemos
alcançar tudo o que desejamos e faz uma observação importante do ponto de vista econômico:
“Assim como o negociante cauteloso evita imobilizar todo o seu capital numa só coisa, também
a sabedoria aconselhará talvez a não esperar toda satisfação de uma única tendência”
(FREUD, 1989h, p. 47).
 DICA
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A ideia seria investir a libido de formas diversificadas para que, na ausência de um desses
objetos ou forma de satisfação, o sujeito não experimente um sofrimento desnecessário, poisainda haverá outros investimentos. O êxito jamais é certo e seguro, mas encontrar felicidade
dependeria da capacidade da constituição psíquica em adaptar sua função ao meio e
aproveitá-lo para conquistar prazer.
O SUPEREGO CULTURAL E O SENTIMENTO
DE CULPA
Na obra O mal-estar na civilização, Freud articula a sua teoria pulsional com a cultura. Ele
observa que o desenvolvimento do aparelho psíquico no sujeito tem grande semelhança com
instâncias sociais, mas seu interesse recai sobre o superego, que tem funções parecidas no
indivíduo e na cultura. Freud diz que a evolução cultural impõe barreiras à felicidade também
pelo sentimento de culpa que provoca.
Mesmo antes de o superego ter se desenvolvido no psiquismo, já havia a reação de medo da
criança perante as autoridades externas. A criança teme perder o amor dos pais caso contrarie
suas ordens e, caso o faça, se sente culpada.
QUANTO À CONSCIÊNCIA DE CULPA, É PRECISO
ADMITIR QUE SE APRESENTA ANTES DO SUPEREGO,
OU SEJA, TAMBÉM ANTES DA CONSCIÊNCIA MORAL.
É ENTÃO A EXPRESSÃO IMEDIATA DO MEDO À
AUTORIDADE EXTERNA, O RECONHECIMENTO DA
TENSÃO ENTRE O EU E ESTA ÚLTIMA, O DERIVADO
DIRETO DO CONFLITO ENTRE A NECESSIDADE DO
AMOR DELA E O ÍMPETO DE SATISFAÇÃO
INSTINTUAL, CUJA INIBIÇÃO GERA A TENDÊNCIA À
AGRESSÃO.
(FREUD, 1989h, p. 54)
Depois da formação do superego, o sujeito passa a lidar com duas camadas do sentimento de
culpa, uma de origem externa e outra interna, uma vez que, sendo o superego uma instância
interna, não é preciso cometer o ato transgressor para sentir culpa, basta desejar fazê-lo.
 ATENÇÃO
Freud ressalta que a pulsão não satisfeita gera agressividade, um impulso natural e constitutivo
do humano, que também precisa ser barrado pelas exigências sociais. Assim, o preço do
progresso cultural seria a perda da felicidade também pela supressão da agressividade e pelo
acréscimo do sentimento de culpa.
Acerca do superego cultural, Freud afirma que toma como base a personalidade que grandes
líderes deixaram para aquela cultura. Não podemos deixar de lembrar que Freud se baseia na
cultura ocidental moderna para sua análise, pois foi nela que viveu e construiu sua teoria.
Nesse contexto, ele cita Jesus Cristo como o mais impressionante exemplo. Para Freud, o
cristianismo “institui severas exigências ideais, cujo não cumprimento é punido mediante
‘angústia de consciência’” (FREUD, 1989h, p. 57).
O mandamento “Ama teu próximo como a ti mesmo” exigiria que a humanidade visasse à
satisfação altruísta acima de qualquer outra, o que seria impossível alcançar devido à força
pulsional do id e às dificuldades do ambiente real. Ainda que seja humanamente impossível
cumprir um ideal tão avesso à natureza humana, “a civilização negligencia tudo isso; recorda
apenas que quanto mais difícil o cumprimento do preceito, mais meritório vem a ser ele”
(FREUD, 1989h, p. 58).
 COMENTÁRIO
É importante ressaltar que a intenção de Freud não é propor o fim das normas culturais e
morais, ou simplesmente criticá-las. Freud considera o progresso da civilização como
necessário e precioso. A ideia é analisar as restrições impostas ao humano e suas
consequências.
Ao estudar as neuroses, Freud se deparou com o recalque tal como uma defesa do ego que
visa resguardar a pessoa do sofrimento e de ideias inconciliáveis com a moral civilizada. Logo,
o sintoma, para a Psicanálise, seria uma consequência da civilização ocidental. Nada mais
natural que o interesse de Freud no tema.
Nesse trabalho, Freud foca bastante a luta entre natureza e cultura, o embate entre id e
superego, no entanto, precisamos lembrar que o ego tem como uma de suas funções encontrar
satisfações substitutas, aceitas socialmente e a partir de objetos reais (não alucinados).
É também na civilização que encontramos satisfação, tornando suportável a frustração
da existência e permitindo a formação de laços sociais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. “O SOFRER NOS AMEAÇA A PARTIR DE TRÊS LADOS: DO PRÓPRIO
CORPO QUE, FADADO AO DECLÍNIO E A DISSOLUÇÃO, NÃO PODE
SEQUER DISPENSAR A DOR E O MEDO COMO SINAL DE ADVERTÊNCIA;
DO MUNDO EXTERNO, QUE PODE SE ABATER SOBRE NÓS COM
FORÇAS PODEROSÍSSIMAS, INEXORÁVEIS, DESTRUIDORAS; E, POR
FIM, DAS RELAÇÕES COM OS OUTROS SERES HUMANOS” (FREUD, S. O
MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO (1930). RIO DE JANEIRO: IMAGO, 1989H). 
 
ESSE É UM TRECHO DE O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO, PUBLICADO
EM 1930. FREUD DESCREVE AS FONTES DE SOFRIMENTO QUE
REVELAM A FRAGILIDADE HUMANA. A PERCEPÇÃO DESSE FATO,
ALIADA AO PRINCÍPIO DO PRAZER, FAZ COM QUE O HOMEM UTILIZE
ESTRATÉGIAS NA BUSCA DA FELICIDADE. 
 
ENTRE AS ALTERNATIVAS ABAIXO, ASSINALE AQUELA QUE
APRESENTA UMA ESTRATÉGIA DESCRITA POR FREUD.
A) As regras sociais, que permitem colocar ordem na sociedade.
B) A religião, que permite lidar com a nossa angústia existencial.
C) Os chistes, que permitem rir daquilo que ameaça a nossa felicidade.
D) A relação amorosa romântica, que traz a ilusão da completude.
E) Os sonhos, que nos permitem modificar a realidade.
2. EM O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO, FREUD ANALISA AS
CONSEQUÊNCIAS DA INSERÇÃO NA CULTURA. A VIDA EM SOCIEDADE
EXIGE RESTRIÇÃO DA SATISFAÇÃO PULSIONAL, O QUE TEM
CONSEQUÊNCIAS PARA A NATUREZA HUMANA. FREUD FALA SOBRE O
SUPEREGO CULTURAL, QUE SERIA CONSTRUÍDO DE FORMA
CORRELATA AO SUPEREGO INDIVIDUAL, TENDO COMO IDEAL O
MODELO QUE GRANDES LÍDERES DEIXARAM PARA A CULTURA. ESSE
EMBATE ENTRE OS IMPULSOS PRIMITIVOS HUMANOS E A CULTURA
PODE SER DESCRITO PELOS CONCEITOS RELACIONADOS AO
FUNCIONAMENTO DO APARELHO PSÍQUICO. 
 
ENTRE AS OPÇÕES ABAIXO, MARQUE A CORRETA.
A) O recalque representa a defesa do ego que visa resguardar a pessoa do sofrimento
experienciado diante da falta de normas e restrições sociais.
B) O id cumpre a função de mediador entre as exigências do ego e o imperativo do superego.
C) O processo primário passa a ser desnecessário em relação ao processo secundário para
que a ligação com objetos reais aconteça.
D) As exigências culturais demandam que o sujeito lide com dois tipos de sentimento de culpa,
um externo e outro interno.
E) O inconsciente consegue ser totalmente controlado a partir do recalque.
GABARITO
1. “O sofrer nos ameaça a partir de três lados: do próprio corpo que, fadado ao declínio
e a dissolução, não pode sequer dispensar a dor e o medo como sinal de advertência; do
mundo externo, que pode se abater sobre nós com forças poderosíssimas, inexoráveis,
destruidoras; e, por fim, das relações com os outros seres humanos” (FREUD, S. O mal-
estar na civilização (1930). Rio de Janeiro: Imago, 1989h). 
 
Esse é um trecho de O mal-estar na civilização, publicado em 1930. Freud descreve as
fontes de sofrimento que revelam a fragilidade humana. A percepção desse fato, aliada
ao princípio do prazer, faz com que o homem utilize estratégias na busca da felicidade. 
 
Entre as alternativas abaixo, assinale aquela que apresenta uma estratégia descrita por
Freud.
A alternativa "D " está correta.
 
Para Freud, a experiência que as pessoas apaixonadas experimentam é muito próxima à
satisfação plena, por proporcionar um êxtase altamente efetivo e prazeroso. As outras técnicas
mencionadas nas demais alternativas não correspondem ao objetivo mencionado no comando
da questão.
2. Em O mal-estar na civilização, Freud analisa as consequências da inserção na cultura.
A vida em sociedade exige restrição da satisfação pulsional, o que tem consequências
para a natureza humana. Freud fala sobre o superego cultural, que seria construído de
forma correlata ao superego individual, tendo como ideal o modelo que grandes líderes
deixaram para a cultura. Esse embate entre os impulsos primitivos humanos e a cultura
pode ser descrito pelos conceitos relacionados ao funcionamento do aparelho psíquico. 
 
Entre as opções abaixo, marque a correta.
A alternativa "D " está correta.
 
A vida civilizada só é possível a partir da renúncia de grande parte dos impulsos sexuais e
agressivos, o que Freud relaciona com o sofrimento. Dessa forma,a culpa é experimentada
tanto pela existência de impulsos internos inaceitáveis como pelo superego cultural.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, o aparelho psíquico é fruto de uma teoria que busca compreender o conflito
psíquico na base da neurose. Tanto a primeira tópica como a segunda tópica são teorias que
trazem uma ideia central na Psicanálise: o embate entre princípio do prazer e princípio da
realidade.
A Psicanálise traz a ideia de um sujeito dividido, que precisa renunciar à satisfação imperativa
do princípio do prazer, e com isso, torna-se faltoso e limitado, mas também desejante. É na
cultura que encontramos as possibilidades para nos inventarmos e reinventarmos, mas com
muitos desafios: nada cessará os conflitos entre os sujeitos, a fragilidade e a finitude do corpo
é uma realidade e a natureza sempre poderá mostrar a sua força de destruição.
Apesar das adversidades, caminhos podem ser construídos, não para a felicidade plena,
mas para uma vida com obtenção de prazer e saúde psíquica.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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Ed. 34, 2005.
AYRES, S. Atos falhos: interpretação e significação. Natureza humana, São Paulo, v. 19, n. 1,
p. 24-37, jul. 2017.
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sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Rio de Janeiro: Imago, 1989g. (Edição
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FREUD, S. O mal-estar na civilização (1930). In: ______. O futuro de uma ilusão, O mal-estar
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FREUD, S. Sobre o narcisismo: uma introdução (1914). In: ______. A história do movimento
psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Rio de Janeiro:
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histeria, Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Rio de
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7)
GARCIA-ROZA, L.A. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: J.Z.E., 1993.
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
EXPLORE+
Para aprofundar este estudo, recomendamos os seguintes textos de Freud:
A organização genital infantil (1923).
A dissolução do complexo de Édipo (1924).
Algumas consequências psíquicas da diferença anatômica entre os sexos (1925).
Sexualidade feminina (1931).
CONTEUDISTA
Maria Thereza Toledo.

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