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1- EXPLICAR A ADAPTAÇÃO DO SISTEMA GASTROINTESTINAL PÓS VIDA INTRAUTERINA EMBRIOLOGIA O sistema gastrointestinal (GI) no neonato e nos primeiros anos de vida caracteriza-se por peculiaridades anatômicas, fisiológicas e funcionais que o distinguem do sistema GI adulto. Na fase de gestação, o sistema GI está envolvido, principalmente, com a remoção do fluido amniótico, enquanto a parte digestiva e absortiva é realizada pela placenta. Com o nascimento, o trato digestivo da criança, ainda que imaturo, tem de assumir a responsabilidade de suprir suas necessidades hidroeletrolíticas e energéticas. O sistema GI desenvolve-se, anatomicamente, até o final da 20ª semana de gestação. No embrião, esse sistema é um dos primeiros a exibir polaridade, ou seja, o transporte de substâncias do feto ou para o feto ocorre de maneira a garantir se crescimento e desenvolvimento. O desenvolvimento funcional do sistema GI inicia-se durante a vida fetal, com o aparecimento de enzimas digestivas e hepáticas e com o desenvolvimento da superfície absortiva do intestino. O funcionamento adequado do trato GI do feto é importante para a homeostase do fluido amniótico, este, por sua vez, contém nutrientes, hormônios e fatores de crescimento, que estimulam a secreção de peptídeos regulatórios que controlam a maturação do TGI. A maior parte dos polipeptídeos – incluindo gastrina, motilina e somatostatina – está presente no final do 1º semestre de gestação; esses polipeptídeos agem como indutores do crescimento e desenvolvimento do TGI. O transporte intestinal de aminoácidos aparece ao redor da 14ª semana, o de glicose cerca da 18ª semana e o dos ácidos graxos próximo a 24ª semana. Os vilos intestinais começam a se desenvolver ao redor da 9ª semana, estão presentes no intestino delgado na 14ª semana e tem criptas e vilos bem desenvolvidos na 19ª semana. Ao nascimento, os vilos e microvilos aumentam a superfície absortiva intestinal em até 100.000 vezes em relação à exibida no 1º trimestre de gestação. O mecônio é encontrado ao redor da 11ª semana de gestação e se move para o cólon ao redor da 16ª semana. A circulação intestinal dos RN difere da dos adultos. No período imediatamente após o nascimento, a resistência vascular basal intestinal é baixa, possivelmente devido à produção de óxido nítrico. Esta queda da resistência pode proteger as alças intestinas em períodos de hipóxia ou hipotensão. Crianças nascidas pré-termo podem não exibir esta vasodilatação – a qual é a resposta necessária à hipoperfusão das alças intestinais – podendo apresentar, então, isquemia de alças intestinais até atingir necrose. CARACTERÍSTICAS GERAIS A mucosa intestinal permanece relativamente imatura nos primeiros 4 a 6 meses, e exibe aumento na permeabilidade a macromoléculas. Durante este período, antígenos e outras macromoléculas podem ser transportados pelo epitélio intestinal, deixando a criança vulnerável a processos alérgicos ou infecciosos. Com a maturação, o transporte de macromoléculas diminui Ao nascimento, o intestino é estéril, mas é rapidamente colonizado, e a colonização depende do tipo de alimentação, se por leite materno ou industrializados. A colonização ocorre em 2 estágios: • no primeiro estágio, do nascimento até o final da 1ª semana, a criança entra em contato com microrganismos durante e imediatamente após o parto • no segundo estágio, o tipo de dieta influencia na colonização A flora normal do TGI provê um importante mecanismo de proteção contra infecções intestinais, por ocupar possíveis locais de colonização indesejável. Os oligossacarídeos do leite humano se ligam a receptores na mucosa e, assim, impedem a colonização inadequada. Em geral o intestino delgado é estéril e pouco colonizado, possivelmente graças aos seguintes fatores: pH gástrico, propriedades bactericidas da bile, imunoglobulinas secretadas e sua própria motilidade. A colonização por coliformes desta região pode ocorrer em crianças prematuras ou com alimentação enteral ou transpilórica. Em crianças prematuras, a queda da motilidade intestinal pode ser um dos fatores que facilitam essa colonização. Após as primeiras 24h de vida extrauterina, é estabelecido o padrão de frequência se sucção e deglutição, que é mentido ao longo dos primeiros meses de vida. A maturação do TGI pode ser estudada tendo em vista 4 assuntos: o reflexo de sucção e deglutição, a motilidade do esôfago, o esvaziamento gástrico e a motilidade intestinal SUCÇÃO E DEGLUTIÇÃO Entre a 13ª e a 15ª semana, os fetos respondem à estimulação oral com movimentos da língua e reflexos de sucção. A deglutição inicia-se em torno da 12ª semana do feto, na 16ª semana é de 2 a 6 ml de líquido amniótico por dia e no feto a termo ela aumenta para 200 a 600ml/dia. Ao redor da 34ª semana, o reflexo e a frequência de deglutição estão perto do normal e próximo da 37ª semana, a sucção já está desenvolvida. Os dois reflexos devem estar coordenados com a respiração, e a partir da 38ª semana de gestação, as crianças conseguem coordenar facilmente esses processos. A posição da laringe no RN facilita o fechamento da epiglote e o acesso de fluidos para o esôfago, então, até os 3 meses de idade, os sólidos colocados na boca da criança serão forçados pela língua contra o palato e deglutidos ou colocados para fora da boca, e após essa idade, as crianças conseguem posicionar pequenas porções sólidas para a parte posterior da cavidade oral e assim acontece a deglutição normal. MOTILIDADE ESOFÁGICA, GÁSTRICA E INTESTINAL A motilidade gástrica e o tempo de esvaziamento gástrico estão diminuídos no RN, principalmente nas primeiras 72h. isso pode ser baseado em uma falha na resposta a hormônios e fatores locais. No RN, a gastrina elevada dificulta o esvaziamento gástrico, assim como outros fatores, como presença de muco, fluido amniótico, tônus do esfíncter pilórico e tipo de alimento; os carboidratos aceleram o esvaziamento, enquanto as gorduras atrasam. O leite humano é esvaziado 2x mais rápido do que as formulas lácteas, e a capacidade gástrica de uma criança é cerca de 6ml/quilo de peso corpóreo, por isso, em pré-termos, grandes volumes residuais podem causar distensão gástrica e interferência na capacidade de ingestão alimentar. Em adultos, a ingestão de leite desencadeia aumento da motilidade intestinal, só que em pré- termos, a ingestão de leite pode não ter qualquer efeito sobre ela, e a alteração da motilidade pode levar a diminuição da propulsão de alimento, maior tempo de esvaziamento gástrico e diminuição no trânsito intestinal, o que pode dificultar a capacidade de ingestão de alimento. DENTIÇÃO Fatores associados à cronologia de erupção de dentes decíduos: • Caninos: dentes com pontas agudas (cúspides) que rasgam os alimentos • Pré-molares: com duas pontas (cúspides) na superfície para esmagar e moer alimentos • Molares: para triturar os alimentos. Estes dentes possuem várias cúspides na superfície de mordida A erupção de todos os dentes decíduos ocorre até os 30 meses de vida da criança. Estudos têm demonstrado que a cronologia de erupção pode variar entre as populações devido, especialmente, a fatores relativos ao gênero, etnia, alterações sistêmicas, aspectos socioeconômicos, estado nutricional da criança e prematuridade. A amamentação no peito também é relacionada como um dos fatores que alteram o calendário de erupção dentária. Observaram que as crianças que nunca tinham sido amamentadas apresentaram atrasos no surgimento dos incisivos superiores e aparecimento acelerado dos segundos molares superiores. A partir do sexto mês de vida, as crianças devem experimentar uma alimentação que estimule o crescimento e desenvolvimento do sistema estomatognático (é constituído por tecidos e órgãos que compreendem estruturas ósseas, dentes músculos, articulações, glândulas e sistemas vasculares linfáticos e nervosos, todosassociados). O tipo de dieta é de fundamental importância para desencadear o processo de erupção da dentição decídua. Observou um relativo atraso no tempo de erupção dos dentes decíduos em crianças que foram amamentadas após os seis meses de idade. Dentes de leite (decíduos): por volta dos 6 meses de idade, inicia-se o nascimento dos dentes de leite. Com 3 anos, a criança tem, no total, 20 decíduos. E permanece assim até por volta de 6 anos, quando nasce o primeiro molar permanente. Por volta dos 5 ou 6 anos, inicia-se a troca dos dentes decíduos para os permanentes. Mamar no peito, desde o nascimento, faz o bebê crescer forte e saudável e favorece o desenvolvimento da musculatura e ossos da face, ajudando a evitar problemas no posicionamento dos dentes. Bebês que mamam no peito tem suas necessidades emocionais de sucção satisfeitas e não precisa de chupeta ou bico. Caso a criança faça uso de chupetas ou bicos, assim que os primeiros dentes surgirem, substitua-os pelos mordedores. O seu uso em excesso pode deixar os dentes “tortos” e prejudicar a mastigação, a deglutição, a fala, a respiração e o crescimento da face. MICROBIOTA A microbiota intestinal é considerada um “órgão adquirido após o nascimento” e sua composição inicial depende de fatores genéticos, tipo de parto, ambiente do nascimento e microbiota materna. Nos dois primeiros dias de vida predominam bactérias anaeróbias facultativas que são substituídas por anaeróbias exclusivas após o inicio da alimentação. O muco é um importante sítio para a aderência e nutrição da microbiota. Além disso, no muco existe grande quantidade de fatores de defesa como fatores antimicrobianos secretados pelas células imunes do hospedeiro e a IgA secretória. A relação da microbiota com o hospedeiro ocorre por comunicação intercelular e proporciona benefícios a ambos. As células epiteliais intestinais são dotadas de receptores capazes de reconhecer e mapear bactérias presentes na luz intestinal. Existem receptores específicos para bactérias diferentes, permitindo assim, uma resposta individualizada para os diversos espécimes da microbiota. Os sinais recebidos pelas células intestinais são transmitidos a outras estruturas do organismo, especialmente, as do sistema imunológico, além de outras mais distantes como a glândula pituitária (hipófise). 2- EXPLICAR AS NECESSIDADES NUTRICIONAIS DURANTE OS PRIMEIROS ANOS DE VIDA AS RESTRIÇÕES ALIMENTARES DA MÃE Alimentação da nutriz Após o parto, usualmente, há um aumento do apetite e da sede da nutriz, bem como algumas mudanças nas preferências alimentares. As seguintes recomendações quanto à alimentação da nutriz: ⦁ Evitar dietas e medicamentos que promovam rápida perda de peso (mais de 500 g/semana). ⦁ Consumir ampla variedade de pães e cereais, frutas, legumes, verduras, derivados do leite e carnes. ⦁ Consumir três ou mais porções de derivados do leite. ⦁ Certificar-se de que a sede está sendo saciada. ⦁ Esforçar-se para consumir frutas e vegetais ricos em vitamina A. ⦁ Consumir com moderação café e outros produtos cafeinizados. Como regra geral, as mulheres que amamentam não necessitam inicialmente evitar determinados alimentos. Entretanto, se as mães relacionarem algum efeito na criança a algum componente de sua dieta, elas podem fazer a prova terapêutica: retirar o alimento da dieta por algum tempo e reintroduzi-lo, observando atentamente os sintomas após a reintrodução do alimento. Caso os sintomas da criança melhorem substancialmente com a retirada do alimento e piorem com a reintrodução, ele deve ser evitado. NECESSIDADES NUTRICIONAIS Aportes nutricionais para lactentes, crianças e adolescentes devem proporcionar a manutenção do peso atual e auxiliar no crescimento e desenvolvimento normais. O período de crescimento do lactente é rápido, crucial para o desenvolvimento neurocognitivo e apresenta os maiores requerimentos de energia e nutrientes em relação ao tamanho corporal comparado com outros períodos de crescimento. Energia Energia inclui tanto ingestão como gasto. Os déficits e excessos da ingestão de energia produzem consequências indesejáveis para a saúde. A ingestão insuficiente de energia pode levar a deficiências de crescimento, catabolismo dos tecidos do corpo e incapacidade de fornecer substrato energético, enquanto a ingestão excessiva de energia pode aumentar o risco de obesidade. Consumo adicional de energia é necessário para garantir crescimento e desenvolvimento para crianças. O requerimento energético estimado (REE) para lactentes, em relação ao peso corporal, é aproximadamente o dobro daquele para adultos em razão de alta taxa metabólica e necessidades de manutenção do peso e desenvolvimento tecidual que afetam o crescimento. Os nutrientes que fornecem fonte energética na dieta da criança são as gorduras (∼ 9 kcal/g), carboidratos (∼ 4 kcal/g) e proteínas (∼ 4 kcal/g) – os macronutrientes. Gordura Gordura é o macronutriente mais caloricamente denso, que fornece cerca de 9 kcal/g. Para lactentes, leite humano ou fórmula para lactentes são sua principal fonte dietética de gordura, enquanto crianças mais velhas obtêm gordura de produtos de origem animal, óleos vegetais e margarina. Além de serem densas em energia, as gorduras fornecem ácidos graxos essenciais e desempenham papéis estruturais e funcionais; as porções de colesterol são precursoras para as membranas celulares, hormônios e ácidos biliares. A ingestão de gordura facilita a absorção de vitaminas lipossolúveis A, D, E e K. Ambas as funções são particularmente relevantes no contexto do desenvolvimento neurológico e ocular. Proteínas Proteínas e aminoácidos têm papéis estruturais e funcionais em cada célula do corpo. A ingestão de proteína na dieta é necessária para repor o turnover proteico e atender às necessidades de aminoácidos para o crescimento. A ingestão de proteína na dieta também fornece substrato energético quando em excesso ou durante períodos de catabolismo. A ingestão energética e/ou a ingestão proteica inadequadas aumentam o catabolismo dos reservatórios de proteína corporal (p. ex., massa corporal magra), de modo a proporcionar substrato para a energia e aminoácidos livres necessários para dar suporte à função fisiológica normal. As perdas de nitrogênio, derivadas de proteínas, ocorrem por meio da urina, das fezes e de outras excreções corporais. O teor de aminoácidos na proteína dietética também é importante. Determinados aminoácidos são indispensáveis, e os seres humanos dependem de fontes dietéticas para atender à adequação e evitar deficiências. Determinados aminoácidos são denominados condicionalmente essenciais/indispensáveis, o que significa que se tornam imprescindíveis para pacientes acometidos por algumas doenças ou durante determinada fase da vida, como ocorre com a cisteína, tirosina e arginina em recém-nascidos, por causa da imaturidade das enzimas. O leite humano contém ambos aminoácidos, indispensáveis e condicionalmente indispensáveis e, por conseguinte, atende às necessidades de proteína para lactentes. O leite materno é considerado a fonte ideal de proteínas para os lactentes e apresenta a composição de aminoácidos de referência para qual a qualidade biológica é determinada para lactentes. Carboidratos Carboidratos (glicose) servem como fonte essencial de energia para os eritrócitos e o sistema nervoso central e como importante fonte de energia para todas as células. A s necessidades de carboidratos baseiam-se na quantidade mínima média de glicose utilizada pelo cérebro. Ingestão crônica baixa de carboidratos resulta em cetose. A maioria dos carboidratos está presente nos alimentos sob a apresentação de amidos ou açúcares. Os açúcares simples (mono e dissacarídeos) são frequentemente adicionados a alimentos e bebidas durante a preparação, o processamento e o empacotamento dos alimentos para melhorara palatabilidade e como conservantes. A adição de açúcares aumenta o risco de obesidade, diabetes e cáries dentais. A ingestão excessiva de frutose, tal como por meio de sucos de fruta, está relacionada com diarreia, dor abdominal e falha no crescimento em crianças. Fibras Fibras consistem em carboidratos não digeríveis, principalmente derivados de fontes vegetais, como grãos integrais, frutas e vegetais, que escapam da digestão e chegam ao cólon quase 100% intactos. Esses compostos foram previamente classificados como hidrossolúveis versus insolúveis, o que pode ser uma distinção relativamente menos significativa, embora ainda comumente usada. Embora não contribua significativamente para a ingestão de energia, a ingestão de fibras realmente desempenha vários papéis importantes. O destino metabólico da fibra é influenciado principalmente pelas bactérias colônicas, que dependendo da estrutura da fibra, podem tornar-se suscetíveis à fermentação (p. ex., pectina e farelo de aveia). A fibra dietética resistente à degradação do cólon pode também desempenhar um papel na manutenção e promoção do bolo fecal e na regulação da pressão intraluminal e resistência da parede colônica, motilidade colônica desordenada, ou ambas. A ausência de fibra dietética está associada a constipação e diverticulose. Micronutrientes As vitaminas e os oligoelementos minerais ou micronutrientes desempenham um papel essencial no crescimento e desenvolvimento e contribuem para uma série de funções fisiológicas. O enriquecimento de alimentos é uma estratégia eficaz para evitar algumas deficiências de nutrientes e foi implementado com sucesso para evitar deficiência de iodo e ácido fólico. O leite materno fornece consumo ideal da maioria dos nutrientes, incluindo ferro e zinco. Embora estejam presentes em quantidades menores que em fórmulas para lactentes, estão mais biodisponíveis e suficientes para atender às necessidades infantis até aproximadamente 4 a 6 meses de idade. Após 4 a 6 meses de idade, ferro e zinco são requeridos da dieta complementar, como cereais e carnes processadas fortificados com ferro. O leite materno é uma fonte pobre de vitamina D. A insuficiência de vitamina D é mais comum que se pensava em lactentes e crianças. A vitamina D é essencial para o metabolismo ósseo e do cálcio, mas também é um determinante importante de vários desfechos de saúde não ósseos. A vitamina D é absorvida na pele por meio dos raios solares e também está presente naturalmente em alguns alimentos e é fortificada em todos os derivados do leite de vaca, independentemente do teor de gordura, leite de soja, leite de amêndoa e suco de laranja. Uma suplementação foi recomendada para todos os lactentes sob aleitamento materno para garantir ingestão suficiente. A adequação de cálcio é determinada, em parte, como função da saúde óssea com base em medidas do conteúdo e densidade mineral. Os principais órgãos de armazenamento de cálcio são os ossos e dentes. A vitamina K é um importante determinante da saúde óssea, mas também é um importante cofator para fatores da coagulação. Os recém-nascidos estão em risco para status de vitamina K abaixo do ideal, levando a um risco aumentado de doença hemorrágica do recém-nascido. A profilaxia com vitamina K ao nascimento é recomendada para todos os lactentes recém-nascidos. O potássio e o sódio são os principais cátions intra e extracelulares, respectivamente, e estão envolvidos no transporte de líquidos e nutrientes pela membrana celular. Água Os requerimentos e conteúdo de água como proporção do peso corporal são maiores em lactentes e se reduzem com a idade. O consumo de água é alcançado com ingestão de líquido e alimentos, e as perdas incluem a excreção na urina e fezes, bem como as perdas insensíveis e por evaporação por meio da pele e do trato respiratório. Embora a água não contenha calorias, a preocupação é que a ingestão de água possa na verdade reduzir a ingestão de leite materno e interferir na ingestão de nutrientes essenciais durante esta fase metabolicamente muito ativa da vida. A nutrição inicial exerce papel importante na origem das doenças do adulto, entre as quais o diabetes tipo 2, hipertensão, obesidade e síndrome metabólica. Por este motivo, práticas apropriadas de alimentação devem ser estabelecidas durante o período neonatal e mantidas ao longo de toda a infância e adolescência até a fase adulta. A alimentação saudável das crianças requer parcerias entre os familiares, o sistema de assistência médica, as escolas, a comunidade e o governo. 6- DESCREVER AS NECESSIDADES NUTRICIONAIS DA CRIANÇA NAS FASES PRÉ ESCOLAR, ESCOLAR E ADOLESCÊNCIA ALIMENTAÇÃO DE CRIANÇAS EM FASE DE ENGATINHAR E EM IDADE PRÉ-ESCOLAR Após o 1° ano de vida, o crescimento se torna mais lento, a atividade motora aumenta e o apetite diminui. O comportamento alimentar é errático e a criança parece se distrair ao explorar o ambiente. As crianças consomem uma variedade limitada de alimentos e muitas vezes “gostam” somente de um determinado alimento em particular por certo período de tempo, para então passarem a rejeitar o alimento preferido. A partir dos 6 meses, o leite materno não supre todas as necessidades nutricionais da criança, sendo necessária a introdução dos alimentos complementares. Os alimentos complementares podem ser especialmente preparados para a criança, denominados alimentos transicionais, ou podem ser os alimentos consumidos pela família, com adequação da consistência, para a idade da criança. Esse período é de elevado risco para a criança tanto pela oferta de alimentos desaconselháveis quanto pelo risco de contaminação em razão da manipulação e do preparo inadequado, favorecendo a ocorrência de doença diarreica e desnutrição ou obesidade. A ingestão de frutas pode ser iniciada aos 6 meses ou eventualmente um pouco antes, de acordo com o desenvolvimento neuropsicomotor da criança, sob a forma de papas, oferecidas em colher, inicialmente 1 vez ao dia, depois pela manhã e à tarde. Devem-se evitar alimentos industrializados pré-preparados, refrigerantes, café, chás e embutidos, entre outros. A oferta de água de coco (como substituta da água) também não é aconselhável por conter sódio e potássio e também pelo fato de conter algum valor calórico que pode interferir no apetite de uma refeição. Alimentação do Pré-escolar O período pré-escolar compreende a idade de 2 a 6 anos, sendo uma fase crítica na vida da criança, na qual se torna necessária e importante a sedimentação de hábitos alimentares. Na idade dos três anos, todos os dentes da primeira dentição, ou dentes de leite, já apareceram, e as crianças podem aprender a ingerir alimentos diversificados nas diferentes texturas, amadurecendo dessa forma seu TGI. Oferecer alimentos ricos em ferro, cálcio, vitaminas A e D e zinco, pois são essenciais nessa fase da vida. Aos 3 anos de idade, todos os dentes da primeira dentição já apareceram, e as crianças podem aprender a ingerir alimentos diversificados nas diferentes texturas, amadurecendo dessa forma várias funções. Para essa faixa etária, a pirâmide é mais larga. Isso acontece porque a infância é um período de crescimento e desenvolvimento, e a necessidade energética é maior. Todos os nutrientes são importantes, mas, nessa fase da vida, o ferro e as proteínas merecem atenção especial. Os alimentos energéticos, que são a base da pirâmide, previnem a desnutrição quando ingeridos de acordo com as quantidades recomendadas. Práticas de Alimentação O período iniciado após os 6 meses até 15 meses é caracterizado pela aquisição de habilidades de autoalimentação uma vez que o bebê já consegue agarrar os alimentos com os dedos das mãos, aprender a usar uma colher e comer alimentos moles. Por volta dos 12 meses de idade, a criança aprende a beber usando um copo e pode continuar sendo amamentada ou desejar se alimentarde fórmula usando a mamadeira. O desmame da mamadeira deve ser feito por volta dos 12-15 meses de idade, sendo necessário desestimular as mamadeiras da hora de dormir, por causa da associação com o desenvolvimento de cáries nos dentes. A autoalimentação permite que a criança limite a própria ingesta. A alimentação da criança é um processo interativo. As crianças recebem sugestões sobre comportamentos alimentares adequados dos pais. Os pais devem ignorar comportamentos alimentares negativos, a menos que o comportamento prejudique a saúde e a segurança da criança. Em adição, os pais devem comer com as crianças entre 1 e 3 anos, em vez de simplesmente alimentá-los, a fim de moldar comportamentos alimentares positivos. Alimentação do escolar A faixa etária escolar caracteriza-se como uma fase de transição entre infância e adolescência e compreende crianças entre 7 e 10 anos de idade. Nesse período, os hábitos alimentares da família continuam a exercer influência sobre as práticas alimentares. A substituição de refeições por lanches, o consumo de refrigerantes, sucos industrializados pode ser frequente. À deficiência da ingestão de cálcio, soma-se o consumo de alimentos ricos em gordura, sal e açúcares, como “salgadinhos”, bolachas, lanches, produtos panificados que contêm gorduras trans e saturada, que aumentam o risco de desenvolvimento de doença cardiovascular. Além da deficiência de cálcio, há também a deficiência de vitamina D, ocasionada pela falta de exposição solar e erro alimentar. O esquema alimentar deve ser composto por cinco refeições diárias, incluindo: café da manhã, almoço, lanche vespertino, jantar e lanche da noite. A seguir são apresentadas, resumidamente, as diretrizes gerais para a alimentação do escolar: • Ingestão de nutrientes para prover energia e nutrientes em quantidade e qualidade adequadas ao crescimento, ao desenvolvimento e à prática de atividades físicas. • Alimentação variada, que inclua todos os grupos alimentares, conforme preconizado na pirâmide de alimentos, evitando-se o consumo de refrigerantes, balas e outras guloseimas. • Priorizar o consumo de carboidratos complexos em detrimento dos simples. • Consumo diário e variado de frutas, verduras e legumes. • Consumo restrito de gorduras saturadas. • Estimular o consumo de peixes marinhos duas vezes por semana. • Controle da ingestão de sal (< 5 g/dia). • Consumo apropriado de cálcio. • Evitar a substituição de refeições por lanches. Alimentação do adolescente A adolescência, que vai dos 10 aos 19 anos de idade, é um período muito especial e de extrema importância pois muitos dos hábitos adquiridos nessa fase serão decisivos na idade adulta. As necessidades nutricionais na adolescência são influenciadas simultaneamente pelos eventos da puberdade e pelo estirão do crescimento. Entretanto, especialmente nessa fase de desenvolvimento, a escolha dos alimentos será potencialmente determinada por fatores psicológicos, socioeconômicos e culturais que irão interferir diretamente na formação dos hábitos alimentares. As vitaminas hidrossolúveis, como a tiamina, a niacina e a riboflavina, cumprem relevantes funções no metabolismo energético, sendo importante que as recomendações sobre sua ingestão tenham como base a ingestão energética. 3- EXPLICAR OS COMPONENTES BIOATIVOS DO LEITE MATERNO NO ATENDIMENTO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS DA CRIANÇA O principal carboidrato do leite materno é a lactose, e a principal proteína é a lactoalbumina. As gorduras são o componente mais variável do leite materno e são responsáveis por suprir até 50% das necessidades energéticas da criança pequena. Os ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa são essenciais no desenvolvimento cognitivo e visual, e na mielinização dos neurônios. A concentração de gordura no leite aumenta no decorrer de uma mamada. Assim, o leite do final da mamada (leite posterior) é mais rico em energia e sacia melhor a criança; daí a importância de a criança esvaziar bem a mama. Levando em consideração que o leite materno contém baixas concentrações de vitamina K, vitamina D e ferro, o Departamento de Nutrologia da SBP faz as seguintes recomendações de suplementação das crianças amamentadas: vitamina K ao nascimento, vitamina D diária até os 18 meses para as crianças sem exposição regular ao sol, e ferro até os 2 anos de idade a partir da introdução da alimentação complementar em crianças nascidas a termo, ou antes em lactentes pré-termo. COMPOSIÇÃO E ASPECTO DO LEITE MATERNO O leite maduro só é secretado por volta do 10o dia pós-parto. Nos primeiros dias, a secreção láctea é chamada de colostro, que contém mais proteínas e menos lipídios do que o leite maduro, e é rico em imunoglobulinas, em especial a IgA. O leite de mães de recém-nascidos pré-termo difere do de mães de bebês a termo. A água contribui com quase 90% da composição do leite materno, o que garante o suprimento das necessidades hídricas de uma criança. A cor e o aspecto do leite humano variam ao longo da mamada como decorrência das variações na sua composição e também de acordo com a dieta da mãe. O leite humano possui vários fatores imunológicos específicos e não específicos que conferem proteção ativa e passiva contra infecções nas crianças amamentadas. A IgA secretória é a principal imunoglobulina, que atua contra microrganismos que colonizam ou invadem superfícies mucosas. Outros fatores de proteção que se encontram no leite materno são: leucócitos, que matam microrganismos; lisozima e lactoferrina, que atuam sobre bactérias, vírus e fungos; oligossacarídios, que previnem ligação da bactéria na superfície mucosa e protegem contra enterotoxinas no intestino, ligando-se à bactéria; fator bífido, que favorece o crescimento do Lactobacilus bifidus na criança, uma bactéria saprófita que acidifica as fezes, dificultando a instalação de bactérias que causam diarreia, como Shigella, Salmonella e Es-cherichia coli. ALIMENTAÇÃO DO LACTENTE Aleitamento materno Amamentar é muito mais do que nutrir a criança. É um pro-cesso que envolve interação profunda entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança, em sua habilidade de se defender de infecções, em sua fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional, e em sua saúde no longo prazo, além de ter implicações na saúde física e psíquica da mãe. O leite humano, por sua complexidade biológica, é considerado um alimento vivo que desempenha, além da função nutritiva, papéis de proteção, imunomodulação e de prevenção de doenças degenerativas do adulto. A OMS, o MS e a SBP recomendam aleitamento materno por 2 anos ou mais, sendo exclusivo nos primeiros 6 meses. É muito importante conhecer e utilizar as definições de aleitamento materno adotadas pela OMS. Assim, o aleitamento materno pode ser classificado em: • aleitamento materno exclusivo: quando a criança recebe somente leite materno, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos; • aleitamento materno predominante: quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões) ou sucos de frutas; • aleitamento materno: quando a criança recebe leite materno (direto da mama ou ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos; • aleitamento materno complementado: quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo; • aleitamento materno misto ou parcial: quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite. 4- RELACIONAR AS NECESSIDADES NUTRICIONAIS DA CRIANÇA COM A INTRODUÇÃO DE ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR E DESMAME DESMAME Considerando o desmame uma fase do desenvolvimentoda criança, o ideal seria que ele ocorresse naturalmente (desmame natural), na medida em que a criança, sob a liderança da mãe, vai adquirindo competência para isso. Há vários indicativos de que a criança pode estar pronta para iniciar o desmame: idade maior que 1 ano, menos interesse nas mamadas, aceita bem outros alimentos, é segura na sua relação com a mãe, aceita outras formas de consolo, aceita não ser amamentada em certas ocasiões e locais, às vezes dorme sem mamar no peito, mostra pouca ansiedade quando encorajada a não mamar e, às vezes, prefere brincar ou fazer outra atividade com a mãe em vez de mamar. Cabe a cada dupla mãe-bebê e sua família a decisão de manter a amamentação até o desmame natural ou interrompê-la em um determinado momento. Muitos são os fatores envolvidos nessa decisão: circunstanciais, sociais, econômicos e culturais. Cabe ao pediatra ouvir os interessados e ajudá-los a tomarem uma decisão, pesando os prós e os contras. A decisão, principalmente da mãe, deve ser respeitada e apoiada. ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR A partir de 6 meses, recomenda-se a introdução de alimentos complementares, já que antes desse período o leite materno é capaz de suprir todas as necessidades nutricionais do lactente. Assim, a alimentação complementar deve prover suficientes quantidades de água, energia, macro e micronutrientes, por meio de alimentos seguros, culturalmente aceitos, economicamente acessíveis e que sejam agradáveis à criança. A papa principal (mistura múltipla) deve ser oferecida após a criança completar 6 meses de vida nos horários correspondentes ao almoço ou jantar. Essa refeição deve conter alimentos de todos os grupos: cereais ou tubérculos, leguminosas, carnes e hortaliças (verduras e legumes). Carnes (bovina, suína, frango ou peixe) e ovos cozidos devem fazer parte das refeições a partir do sexto mês de vida sem restrições. O óleo vegetal, de preferência de soja ou canola ou azeite de oliva, por conterem proporções adequadas de ômega 3 e ômega 6, deve ser usado em pequena quantidade e o sal não deve ser adicionado. A introdução oportuna de alimentos compensatórios (alimentos sólidos e líquidos, além de leite materno ou fórmula, também chamados alimentos de desmame ou beikost) durante a infância é necessária para possibilitar a transição da alimentação à base de leite para outros alimentos de mesa e é importante por motivos nutricionais e de desenvolvimento. A recomendação para escolha do momento da iniciação da alimentação complementar se baseia nos benefícios em termos de neurodesenvolvimento e prevenção de futuras comorbidades proporcionados pela amamentação exclusiva por 6 meses. Alguns alimentos complementares são mais nutricionalmente apropriados do que outros para complementar o leite materno ou a fórmula para bebês. Os alimentos complementares devem ser variados, para garantir a ingesta adequada de macro- e micronutrientes. Em adição aos alimentos complementares introduzidos aos 6 meses de idade, a continuação da amamentação ou o uso de fórmula para bebê ao longo do todo o 1° ano de vida deve ser incentivada. O consumo exagerado de alimentos complementares ricos em energia pode levar ao ganho excessivo de peso no início da infância, resultando em risco aumentado de obesidade na infância. O leite de vaca não é recomendado para crianças menores de 1 ano, tendo em vista que é nutricionalmente inadequado com elevada quantidade de proteínas, sódio, cloretos, cálcio, fósforo; ferro de baixa biosdisponibilidade; quantidades insatisfatórias de carboidratos, de ácidos 5- RELACIONAR O SISTEMA IMUNE E O ALEITAMENTO MATERNO O leite humano possui inúmeros fatores imunológicos específicos e não específicos que conferem proteção ativa e passiva para as crianças amamentadas. O leite materno protege a criança contra doenças infecciosas, além de diminuir a inflamação. A IgA secretória é a principal imunoglobulina, que atua contra microrganismos que colonizam ou invadem superfícies mucosas. A especificidade dos anticorpos IgA no leite humano é um reflexo dos antígenos entéricos e respiratórios da mãe, o que proporciona proteção à criança contra os agentes infecciosos prevalentes no meio em que ela convive. Os recém-nascidos e lactentes são parcialmente protegidos pela imunidade passiva materna, ou seja, pela transferência transplacentária de IgG materna durante a gestação. A transferência de IgG ocorre predominantemente no último trimestre da gestação e a concentração de IgG fetal após 34 semanas é igual ou superior à materna. O recém-nascido e o lactente apresentam várias deficiências imunológicas decorrentes da imaturidade fisiológica do sistema imune, destacando-se: deficiências do sistema do complemento, decréscimo da quimiotaxia de fagócitos, déficit da atividade das células NK, predominância de linfócitos T naive, decréscimo na produção de citocinas, deficiências de mecanismos de citotoxicidade celular, menor concentração sérica dos diferentes isotipos de imunoglobulinas e inabilidade para responder a antígenos polissacarídeos. Os diferentes componentes da resposta imune inata atingem a maturação completa até os 2 anos de idade, enquanto o desenvolvimento de resposta imune adaptativa similar à de adultos ocorrerá somente ao final da infância. O leite materno é um potente mediador imunológico no início da vida e, entre outras funções, é responsável por: induzir o amadurecimento do sistema imune ligado ao intestino (um dos mais importantes componentes imunológicos do ser humano); proteger o recém-nascido de infecções enquanto esse amadurecimento ainda não ocorreu; induzir a tolerância oral diminuindo a ocorrência de reações adversas a alimentos e promover a instalação de uma microbiota de boa qualidade que irá mediar a imunidade do indivíduo por toda a sua vida. O amadurecimento do sistema imunológico intestinal é intimamente dependente de fatores tróficos presentes no leite materno. Esses fatores são, em sua maioria, semelhantes aos do líquido amniótico e tem grande potencial de modulação imunológica e maturação de funções do sistema digestório. Além disso, o aleitamento materno induz à tolerância oral a novas proteínas, pelo fato de a apresentação de antígenos alimentares ingeridos pela mãe ocorrer na presença de fatores indutores de resposta imunológica presentes no leite materno ou de exercer efeito protetor quando a criança recebe a dieta complementar ainda em aleitamento materno. Em adição aos fatores nutricionais, o LM contém hormônios, peptídeos com ação natural antibiótica, fatores tróficos, citocinas, imunomoduladores, bactérias probióticas e IgA secretória. A IgA presente no LM é regulada pela interação do sistema imune com a microbiota da mãe. A presença de IgA, uma das mais abundantes no leite materno, compensa a deficiência na produção dessa imunoglobulina pelo RN. Além disso, a IgA secretada no LM tem importante função na indução da tolerância alimentar, ligando-se a novos antígenos alimentares e induzindo sua degradação pelas enzimas pancreáticas. Além disso, a apresentação dos complexos IgA-antígeno às placas de Peyer induz atividade regulatória às células T, que promove a homeostase do sistema imune ligado ao intestino. Os múltiplos fatores antimicrobianos carreados pelo LM proporcionam imunidade contra enteropatógenos na mucosa intestinal do recém-nascido, independentemente da maturação do próprio sistema imunológico. Dentre os mais conhecidos, estão a lactoferrina, lisozimas, defensinas, CD4 solúvel, lipídios e proteínas do complemento. A composição do leite materno induz o estabelecimento de uma microbiota intestinal diferenciada. Em RN alimentados ao seio, lactobacilos e bactérias bífidas rapidamente se tornam predominantes no intestino, ao contrário de recém-nascidos alimentados por fórmula, nos quais os bacteroides predominam, assim como outras bactérias potencialmente patogênicas.O predomínio de bactérias não patogênicas (lactobacilos e bactérias bífidas) no intestino induz defesa contra patógenos, modula o amadurecimento das junções intercelulares intestinais e sinaliza para as células dendríticas de apresentação o direcionamento da resposta imunológica para tolerância a agentes não patogênicos. MICROBIOTA E DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA IMUNOLÓGICO INTESTINAL O sistema imunológico intestinal (SII) é um dos maiores compartimentos do sistema imunológico no ser humano. Ele é composto de uma rede de estruturas interligadas que confere imunidade às mucosas do trato digestório e regula as atividades das demais funções gastrintestinais. As estruturas do SII estão completamente desenvolvidas no útero a partir da 28a semana de vida, porém só serão ativadas após o nascimento. A maturação do SII – mediada por exposição a antígenos alimentares, bactérias da microbiota e patógenos ocasionais – é mais acentuada no primeiro ano de vida. Nesse processo de amadurecimento, observa-se que o fator mais fortemente envolvido durante o período neonatal é o tipo de dieta oferecido, enquanto nos meses subsequentes, a colonização bacteriana intestinal é o principal determinante. Em relação ao número e às espécies de bactérias bífidas, a microbiota das crianças em aleitamento materno exclusivo é diferente daquelas que recebem fórmulas alimentares. Com a introdução da alimentação complementar e o posterior desmame, completa-se a instalação definitiva da microbiota. Esse processo ocorre por ondas sucessivas de colonização e a composição final da microbiota (com mais de 500 tipos de bactérias) depende de determinantes genéticos, é modulada pela dieta e por fatores externos, a exemplo do uso de antibióticos. Concluída a instalação definitiva, a microbiota sofrerá poucas variações ao longo da vida. IMUNOGLOBULINAS IgM A concentração de IgM aumenta rapidamente no 1o mês de vida e mais gradualmente ao longo da infância, provavelmente em decorrência da colonização intestinal e de outros estímulos antigênicos. Em torno de 1 ano de idade, a concentração de IgM corresponde a 60% daquela observada em adultos. IgG A IgG materna transferida passivamente ao feto é a fonte de todas as subclasses de IgG detectadas no recém-nascido. A quantidade de IgG sintetizada pela criança iguala-se à adquirida da mãe em torno dos 2 meses de vida. Como a meia-vida da IgG é de 21 dias, por volta dos 10 a 12 meses de vida praticamente toda a IgG derivada da mãe já foi catabolizada. As subclasses IgG1 e IgG3 atingem os valores de adultos aos 8 anos de vida, enquanto as subclasses IgG2 e IgG4, somente aos 10 a 12 anos. IgA A IgA está presente no soro e nas secreções e é o isótopo produzido em maior quantidade. Existem duas subclasses de IgA: IgA1 e IgA2, sendo que a IgA1 compreende 90% da IgA presente no soro e a IgA2 é a subclasse prevalente nas secreções. Ao nascimento, a proporção de linfócitos B carreando IgA1 e IgA2 é equivalente. Posteriormente, existe uma expansão preferencial da IgA1, possivelmente em resposta à exposição aos antígenos ambientais. CABIDE – COMPOSIÇÃO DO LEITE MATERNO QUANDO O BEBÊ NASCE PRÉ-TERMO O leite de mães de prematuros (LMPT), especialmente durante as duas primeiras semanas após o nascimento, contém concentrações maiores de calorias, gordura, proteínas, sódio e IgA, e menores concentrações de lactose, cálcio e fósforo do que o leite de mães de RN a termo. Quanto maior o grau de prematuridade maior é o teor protéico e de lipídeos. Com os avanços no conhecimento sobre a composição do LMPT e do balanço de nutrientes e crescimento do prematuro alimentado com leite humano, a oferta de leite da própria mãe para o pré- termo tem sido cada vez mais aceita na prática clínica diária, sendo quase um consenso mundial de que o melhor leite é o leite de peito ordenhado da própria mãe. Mesmo sendo questionado por alguns, o uso de leite materno (LM) para a alimentação do RNPT de muito baixo peso é recomendado. Alimentar o RNPT com leite da própria mãe proporciona efeitos benéficos que geralmente estão relacionados às melhorias da imunidade, digestão e absorção de nutrientes, função gastrointestinal, desenvolvimento neurológico e aspectos psicológicos da relação mãe - filho.
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