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Xaoz ​Academia 
Comentários sobre 
A Alma Imoral   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 XAOZ ACADEMIA; 2020. 
 Comentários sobre A Alma Imoral. Rio de Janeiro: Projeto Xaoz. 
 
 Bibliografia 
 
 1. Metafísica - Brasil. Comentários sobre A Alma Imoral. 
 
   
1 
Xaoz​ Academia 
 
A Xaoz Academia tem como objetivo reunir saberes e prover ao público                       
do Projeto Xaoz um ambiente para estudos e para compartilhamento de                     
informações sobre diversas vertentes e paradigmas mágicos, mitológicos,               
cosmológicos e psicológicos desenvolvidos pela humanidade e ainda em                 
desenvolvimento. 
O Clube do Livro da Xaoz Academia foi instituído visando a análise mais                         
detalhada de obras literárias relacionadas ao ocultismo, para que as                   
diversas leituras e opiniões sobre cada livro fossem compiladas em busca                     
de um entendimento mais profundo da obra, bem como sua aplicação                     
em diversos âmbitos dentro da magia. A aplicação dos conceitos em                     
práticas e rituais pode se mostrar como um exercício interessante de                     
expansão do pensamento, além de prover um paradigma coeso e                   
coerente, muitas vezes inédito, para a realização de ritos e cerimônias. 
Sendo assim, o terceiro livro escolhido foi A Alma Imoral, de Nilton                       
Bonder, um ensaio que trata de questões de moralidade e imoralidade,                     
corpo e alma, do que é divino e do que é profano. Obediência e                           
desobediência são analisadas em função de serem boas ou más                   
dependendo da situação, podendo inclusive haver uma inversão de                 
valores. 
Este livro consiste nos comentários de RoYaL sobre o livro, incluindo sua                       
aplicação prática e sua interpretação em relação ao saber metafísico e ao                       
cotidiano.   
2 
Sumário 
 
Introdução 4 
I. A Imoralidade da Alma 6 
II. Lógicas da Alma 11 
III. Traição Judaico-Cristã 19 
IV. O Futuro das Traições 22 
 
 
   
3 
Introdução 
Este é um comentário geral sobre o livro “A Alma Imoral”, do rabino                         
Nilton Bonder. Mas não será falado sobre ele apenas repetindo suas                     
palavras, e sim lançando reflexões que orbitam em torno de seu sentido                       
mais geral. Sobre as interpretações e os elementos históricos apresentados                   
no livro, ressalta-se que partem de um lugar de fala muito específico do                         
autor, recomendando-se uma checagem mais profunda dos fatos caso se                   
deseje exatidão histórica. 
É necessário ler as palavras que serão escritas aqui não de forma literal,                         
para não sermos Tolos, nem de forma totalmente desacreditada, para não                     
sermos Perversos, mas sim entendendo-as de forma simbólica e                 
encaixando-as nas mais diversas situações do cotidiano. 
“Aquele que vê pensa que tudo o que vê é tudo o que é. Porque quando                               
sabe que tudo o que vê não é tudo o que é, de alguma forma já está vendo                                   
o que não vê”. 
Após comer a maçã, o ser-humano descobre a nudez, e evitando a nudez                         
só chama mais atenção para ela. Qualquer outro animal não humano não                       
se percebe nu e, portanto, entende-se que sua nudez é aceitável, afinal o                         
próprio animal não tem vergonha disso. Assim, o ser-humano se fez o                       
mais vestido e o mais nu dos animais. A nudez dos deuses, por outro                           
lado, é aceita, pois não se trata da nudez de um homem, mas sim da nudez                               
de um deus. 
Em Gênesis 1:28, descobrimos que existia um único mandamento                 
positivo no Paraíso: “Crescei-vos e multiplicai-vos”. Assim, a reprodução                 
aparece como o principal mandamento a ser cumprido. Mas para que                     
este mandamento venha a ser cumprido em qualquer outro local que não                       
4 
o Éden, são necessárias outras regras que venham a prover as melhores                       
condições de convivência visando à proliferação. 
No Paraíso também havia outro mandamento, dessa vez negativo: “Não                   
comais da árvore do conhecimento”. Este mandamento negativo abre                 
uma oportunidade de co-criação do universo, pois desobedecendo um                 
comando positivo o homem se mantém na inércia, mas desobedecendo                   
um comando negativo o homem cria um universo alternativo onde                   
aquela lei não mais existe. 
A Cobra pode muito bem representar uma parte do próprio ser-humano,                     
aquela que trai, que rompe e revoluciona: a Alma Imoral. E o homem no                           
Éden assemelha-se a um Macaco, podendo representar outra parte,                 
aquela que obedece, mantém e cuida: o Corpo Moral. 
   
5 
I. A Imoralidade da Alma 
O Macaco somente obedece, mantém e cuida, trafegando pelo pilar da                     
Misericórdia. O Cavalo segue seu destino pré-traçado, trafegando pelo                 
meio da rua sem olhar para os lados. A Cobra somente trai, rompe e                           
revoluciona, trafegando pelo pilar da Severidade. 
O Humano, por outro lado, deve compreender que pode usar todas estas                       
dimensões. Deve usá-las na medida do necessário, mantendo tradições                 
quando o correto ainda for o bom, e traindo quando o correto não mais o                             
for. Quando o correto é mau, deve-se buscar um incorreto bom, em prol                         
da evolução de todos. 
Porém, um Macaco não se sabe Macaco. Um Cavalo não se sabe Cavalo.                         
uma Cobra não se sabe Cobra. Um humano, esse sim, se sabe humano.                         
Quando um humano não se sabe humano, aí sim este se torna um                         
Macaco, um Cavalo, uma Cobra. 
A Tradição 
“A Tradição é composta por três dimensões principais: 
1) A Família como estrutura artisticamente moldada para melhor atender                   
aos interesses reprodutivos em determinado contexto socioeconômico; 
2) Os contratos sociais fundamentais para a manutenção de uma                   
convivência que propicie as melhores condições de preservação da vida e                     
sua reprodução; e 
3) As crenças engendradas para oferecer respaldo teórico e ideológico à                     
preservação. 
O animal moral tem na tradição um instrumento fundamental para sua                     
preservação”. 
6 
É compreendido que as regras servem ao bom convívio, e que devem ser                         
reavaliadas constantemente para se adaptarem à nova realidade. As regras                   
quando são criadas estabelecem um espaço moral que é amplo para a                       
maioria. Ao longo do tempo, este espaço se torna estreito para as                       
minorias, e estas devem transcender, trair, lutar pelos seus ideais no local                       
agora estreito e torná-lo amplo novamente, ou sair em busca de um novo                         
amplo abandonando o local estreito. 
A Traição 
A traição, por outro lado, é importante para transcender, para fazer cada                       
vez melhor, para gerar uma sociedade diferente frente aos novos                   
condicionantes que se apresentem, para gerar indivíduos mutantes e não                   
arriscar o colapso de toda uma população idêntica caso haja uma doença.                       
O Espírito da Lei é a Alma Imoral, e por vezes é exatamente analisando-o                           
que se preza pela lei de forma melhor do queseguir a Letra da Lei, seu                               
Corpo Moral. Toda lei só tem legitimidade se seu objetivo último não for                         
se manter acima de tudo, mas sim promover o bem-estar inclusive pela                       
sua eventual desobediência. 
Nilton Bonder ressalta que o Talmude e o Tratado de Menachot contam                       
com o registro até mesmo das opiniões dissonantes, que não se tornaram                       
lei. Cita que o Talmude desqualifica julgamentos consensuais, e que esta                     
mesma lógica é abordada no Tratado de Sanhedrin, quando para decidir                     
sobre penas capitais eram necessários 23 juízes, e o acusado era liberado                       
caso houvesse unanimidade. Isto se coloca porque se um julgamento foi                     
capaz de gerar unanimidade, sem nenhuma opinião contrária, entende-se                 
que não foram ouvidos ou considerados extensivamente os argumentos                 
de todas as partes envolvidas. 
Locais Amplos e Estreitos 
7 
Segundo os ensinamentos Chassídicos o Egito era um lugar amplo, mas                     
em determinado momento se tornou estreito para os judeus - é associado                       
em hebraico à palavra mitsraim, “lugar estreito”. Então os judeus saem do                       
Egito e marcham, mas se deparam com o Mar Vermelho. Seguindo o                       
comando de Moisés, eles montam quatro acampamentos às margens do                   
mar, e aguardam. Porém, cada acampamento tem uma opinião sobre o                     
que devem fazer. 
O primeiro acampamento quer voltar. O segundo quer lutar. O terceiro                     
quer jogar-se ao mar, e o quarto se mobiliza em oração. Moisés se consulta                           
com Deus, e após receber uma resposta dirige-se aos quatro                   
acampamentos, dizendo: “Aos que querem voltar, que fiquem. Aos que                   
querem lutar, que não lutem. Aos que querem se jogar, não se joguem.                         
Aos que oram, que se calem. Deus me disse para que todos marchemos,                         
seguindo em frente”. 
Todos estes acampamentos representam hesitação e vacilação, ou uma                 
luta contra algo que não pode ser vencido. Representam quatro reações                     
típicas do corpo quando sua alma percebe-se em um lugar estreito, e em                         
nenhum deles reside a resposta. Neste caso, “marchar” e “seguir em                     
frente” é a única maneira. Apenas “fazendo” o futuro é que se “chega” até                           
ele. Nesta versão do mito, o mar só se abre quando os exércitos de Israel já                               
estão dentro do mar com água até o pescoço, seguindo em frente, com                         
confiança em seu líder. 
A Condição de Traído 
O ser-humano está em eterna tensão entre o corpo e a alma, a preservação                           
e a transgressão, a moralidade e a imoralidade. Sendo assim, deve escolher                       
o tempo todo entre o apego e a traição, já sabendo que o apego irá ferir a                                 
alma, enquanto a traição irá ferir o corpo. Da mesma forma, a traição ao                           
8 
outro pode ser causada pelo apego a si, e o apego ao outro muitas vezes é                               
uma traição a si. 
O luto é uma condição limítrofe por estar lidando com apego e traição o                           
tempo todo. Por um lado há um apego ainda latente por quem se foi, e                             
por outro um medo de trair quem se foi, ao seguir a vida. 
O traído, por outro lado, deve entender que esta condição só surge                       
porque o outro gerou uma quebra de expectativa em relação a algo ou                         
alguém pelo qual tinha apego. Já o apegado deve perceber se este apego                         
causa alguma traição a si, ao que realmente é bom para si próprio, mesmo                           
que não pareça correto para os outros. 
Em suma, manter esta tensão é extremamente importante. Prezar apenas                   
pelo bom sem se preocupar com o correto pode causar violência ou culpa.                         
Prezar apenas pelo correto sem se preocupar com o bom pode causar                       
apego e depressão. 
Modelos Tradicionais de Traição 
Segundo o rabino Nilton Bonder, e pela leitura Chassídica, no livro de                       
Gênesis encontramos três modelos tradicionais de traição: o rompimento                 
de naturezas de Adão, o rompimento social de Abraão e o rompimento                       
com a família de Jacó. 
Adão rompe a sua natureza adquirindo conhecimento. Neste momento,                 
ele trai ao seu “eu” do passado, e assim se torna um novo “eu”, um que se                                 
descobre nu. Quando se trai a própria natureza o ser-humano se                     
transforma, mas precisa então entender todo esse novo mundo, se                   
vestindo de camadas que lhe permitam viver nesse novo estado. Antes                     
Adão se sentia “vestido” mesmo nu, mas com conhecimento se torna                     
necessário um novo conjunto de vestimentas que se ainda não existem                     
devem ser inventadas pelo transgressor. 
9 
Abraão ouve uma voz que lhe diz “sai da casa de teus pais para a terra que                                 
lhe mostrarei”, e em outra ocasião desrespeita a tradição de sacrificar o                       
filho, ouvindo “não lhe faças mal”. Assim, ele rompe com o contrato                       
social ao não só deixar de seguir as regras observadas pelos pais (ao sair de                             
casa) e aquelas observadas pelo povo do local (ao não sacrificar o filho),                         
mas ao posteriormente fundar uma nova nação com novas regras. Aqui, o                       
contrato social é rompido porque não mais serve, e assim podem surgir                       
novos contratos sociais. 
Jacó rompe com o outro, que é representado pela sua família. Seu irmão                         
Esaú iria receber a bênção, e a herança, de seu pai cego, porém Jacó – com                               
ajuda da mãe – se passa pelo irmão e recebe-a, usurpando a                       
primogenitura. Ao final, apesar de transgressor, Jacó recebe o nome de                     
Israel e seus doze filhos dão origem às doze tribos que irão formar o povo                             
Hebreu; já o irmão usurpado dá origem aos Edomitas, que serão seus                       
eternos inimigos. Posteriormente seu filho José segue o mesmo modelo e                     
usurpa a primogenitura. 
   
10 
II. Lógicas da Alma 
Por meio da evolução, o corpo dos descendentes de um animal passa por                         
alterações sucessivas a cada cruzamento e a cada parto, até que o próximo                         
filhote não possa sequer ser chamado de uma mesma espécie em relação                       
ao primeiro animal. O lugar amplo aos poucos se torna estreito, e o corpo                           
se sente desconfortável. 
Nessas situações, ele deve ser abandonado como a casca de um crustáceo                       
em crescimento, para que a evolução prossiga. Deve ser entendido que o                       
corpo antigo evoluiu, e que isso ocorreu pelo abandono do mesmo e                       
criação de um novo. Algumas pessoas (indivíduos) podem ter morrido na                     
travessia do mar, mas ao mesmo tempo as pessoas (coletivo) sobreviveram                     
à travessia do mar. Elas sobreviveram na figura do grupo que chega à                         
outra margem e reestabelece o povo. 
Por isso, o profeta Isaías diz, no Talmude: “Paz aos que vêm de longe e                             
aos que vêm de perto”. Primeiro aos que vêm de longe porque tiveramuma trajetória mais árdua. É relativamente mais fácil se manter longe de                       
atitudes nocivas quando se teve esta instrução desde o início, e é                       
relativamente mais fácil obter benesses quando houve impulsionamento               
desde o berço. Mas aquele que revoluciona, que rompe, o mutante,                     
merece paz para que possa se reestabelecer, uma vez que abandonou seu                       
corpo e é quase puramente alma neste estágio. 
Longo Caminho Curto vs. Curto Caminho Longo 
O rabi Ioshua, filho do rabi Hanina, estava uma vez viajando e parou em                           
uma encruzilhada, onde encontrou uma criança. Perguntou a ela: “Qual                   
caminho devo seguir?”, e lhe foi apontado: “Este aqui é mais curto, se                         
chama caminho longo, e este outro é mais longo, se chama caminho                       
curto”. 
11 
Como não tinha entendido muito bem a (falta de) coerência nos nomes                       
dos caminhos, Ioshua decidiu ir pelo que era mais curto. Porém, mesmo                       
vendo o seu destino bem próximo à sua frente, também havia neste                       
caminho diversos obstáculos intransponíveis, de forma que Ioshua não                 
conseguia passar para o outro lado nem que quisesse. Tentou, tentou, e                       
não conseguiu, pensando que talvez teria sido melhor escolher o caminho                     
mais longo. 
O Corpo Moral tende a andar na direção mais curta, mais simples, sem                         
entender que não só este caminho não leva ao destino final, mas também                         
tem os maiores custos para todos os envolvidos. Já a Alma Imoral age de                           
forma gradual, rompendo pedaço por pedaço e parecendo que não está                     
gerando aprimoramento algum, até que uma grande revolução emerge                 
das pequenas peças ali reunidas, e se dá a evolução. 
Sacrificar para quê? 
A Bíblia apresenta o conceito de Baal como qualquer deus dos povos                       
inimigos, ou qualquer deus falso. Porém, para além da óbvia                   
interpretação como instrumento de dominação religiosa, um Baal seria                 
um “falso ídolo”, e Baal-Yal seria uma “coisa sem valor”, representando                     
aqueles ídolos ou líderes que recebem sacrifícios e não trazem nada em                       
troca, ou trazem um resultado ilusório. 
Quando Moisés desceu do Monte Sinai com as tábuas da lei, estava                       
pronto para passar conhecimentos espirituais extremamente evoluídos             
aos homens. Mas, ao chegar até seu povo, viu que estavam adorando a                         
uma estátua dourada de carneiro, um falso ídolo. Moisés então percebeu                     
que o povo ainda não estava pronto para aquelas tábuas, que formavam a                         
Torá Divina. Ele largou as tábuas no chão, e elas se quebraram. Então                         
subiu de volta ao Monte e obteve um outro conjunto de tábuas, com os                           
12 
10 mandamentos que conhecemos hoje. Esta Torá Mundana estaria mais                   
adequada ao nível de ensinamentos que era necessário para o povo. 
O “correto” deveria levar a um “bom”. Porém, a realidade mostrou que                       
aquele “correto” não levaria necessariamente ao “bom”, e um novo                   
“correto” foi necessário. Esta disposição de mudar as regras conforme a                     
realidade necessite, de estar disposto a ouvir uma segunda voz dizendo                     
para não sacrificar seu filho, é qualidade importante em um profeta. E                       
junto a isso devemos entender quais são os falsos ídolos, para que não                         
sacrifiquemos mais do que realmente necessário, fazendo oferendas ao                 
nada. 
Melhor a Traição do que a Fidelidade Mentirosa  
“Aquele que engana a si mesmo é mais perverso do que o que engana os                             
outros. Isto porque aquele que engana os outros está muito mais                     
próximo de cair em si do que aquele que engana a si mesmo. Há traições                             
pela fidelidade muito mais violentas do que as traições pela transgressão”. 
Segundo Bonder, o animal moral está sempre tentando mostrar para o                     
outro, e não necessariamente para si mesmo, que está em acordo com a                         
regras. A proposta bíblica também acaba tendo essa proposta: consolidar                   
o que deveria, na época, ser a postura moral de todos. Porém esta postura                           
também muda com o tempo, é testada e volta-se atrás, é desafiada e cede                           
em alguns pontos. 
Já a alma, imoral, e imoral de forma diferente para cada pessoa, acaba                         
sendo mascarada. Quando ela aparece, traindo a moral do outro, ocorre                     
um embate, que é muito bem-vindo desde que realizado da forma mais                       
sincera possível. Porém, quando o corpo moral é seguido à risca mesmo                       
traindo a alma imoral da própria pessoa, tem-se a hipocrisia. 
13 
É nessa tensão entre corpo e alma, entre moralidade e imoralidade, e no                         
exercício constante de interpretar a moral mantendo coerência com a                   
própria alma, que se atua de forma sincera, e não hipócrita. Não sendo                         
tolo por obedecer cegamente, nem perverso por trair               
indiscriminadamente. 
Transgressão e Crescimento 
O despertar geralmente passa por alguns estágios. 
Primeiramente, percebe-se com horror que o corpo físico, ou algumas das                     
regras impostas pelo entorno ou consideradas como verdadeiras pela                 
mente, não condizem com o que se sente profundamente na alma. 
Em seguida, surge uma sensação de horror, percebendo-se que aquele                   
lugar amplo na verdade era estreito, ou então se tornou estreito. Este                       
horror é característico da quebra de algumas certezas antes aceitas ou                     
dadas como absolutas. O rabi Nahum frisa esta questão do medo e da                         
inquietação, uma vez que um despertar “suave” poderia ser apenas uma                     
invenção da mente, ou uma pseudo-iluminação. Despertares suaves               
devem ser muito bem analisados, e despertares precedidos de inquietação                   
têm mais chance de serem reais. 
O terceiro estágio é a escolha do que fazer frente ao medo. Algumas                         
pessoas resolvem voltar e se conformar; outras, voltar e lutar; algumas                     
outras, se desesperam; e outras resolvem se imobilizar esperando salvação                   
externa. Porém, seguir em frente é o único caminho que leva ao futuro. 
O quarto estágio é a transgressão, o ato de seguir em frente, buscar um                           
novo correto guiado pelo que é entendido como bom. Este novo correto                       
pode ser encontrado em outro local ou então construído do zero.                     
Entende-se que o adepto que chega neste novo bom também já não é                         
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mais o mesmo corpo, mas sim a alma, criando um novo corpo que lhe                           
sirva melhor. 
Posteriormente, o transgressor pode encontrar outros que também               
acreditam em alguma parte dos aspectos considerados “bons”, e conviver                   
em paz com eles, ou então encontrar outros transgressores, não se                     
sentindo mais sozinho. 
Conterrâneos de Alma 
Segundo o Rabi Baruch, aquele que chega a uma terra alienígena não tem                         
quase nada em comum com as novas pessoas que conhece, mas tem algo                         
em comum com outros estrangeiros que chegam àquele lugar: o fato deser estrangeiro. Sendo assim, quem transgride as regras por considerar                   
que elas não mais se aplicam ao estágio atual, ou por considerar que o                           
espaço se tornou estreito, pode buscar alento junto a outras pessoas que                       
passam pelo mesmo processo. 
O próprio conceito de Deus acaba sendo estrangeiro em todos os lugares,                       
pois mesmo na Bíblia ordena mudanças de paradigma, aconselha                 
transgressões, fornece conselhos que fogem do óbvio e provê evolução                   
aos que se permitem ouvi-lo. Este “Deus” pode também ser                   
representativo da Alma Imoral de cada um, e sua voz nada mais é do que                             
uma mensagem do Eu Superior profetizando um novo Correto com base                     
no que parece Bom. 
O acomodado sempre terá o pânico da solidão, pois com o tempo verá                         
que todos andaram, evoluíram, mudaram, e ele permaneceu no mesmo                   
lugar. O transgressor também sempre terá o pânico da solidão, por                     
perceber que pensa de forma diferente dos demais. Porém, enquanto o                     
transgressor pode encontrar outros transgressores para compartilhar suas               
experiências, alcançando a paz, o acomodado não pode confiar                 
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plenamente em outros acomodados, uma vez que são transgressores em                   
potencial, e sempre ficará angustiado. 
Corpo Vestido, Alma Nua 
Era uma vez um homem muito distraído, que não conseguia nunca                     
encontrar todas as peças de roupa ao se vestir para ir trabalhar. Um dia,                           
ele teve uma ideia: antes de dormir, separou todas as roupas que iria usar                           
no dia seguinte e anotou em um papel onde estavam todas elas. 
Ao acordar, leu o papel e logo foi encontrando cada peça de roupa:                         
“Blusa... Sim! Ali está a blusa! Calças.... Certo! Elas estão ali! Chapéu....                       
Isso! Ali está o chapéu!”. 
Depois se olhou no espelho, todo vestido, e perguntou: “Mas e eu? Onde                         
estou eu?”. 
Ausência de Si 
O Rabino Súcia estava ficando idoso, e disse a um colega que tinha medo                           
de chegar aos céus e não ser considerado um merecedor de entrar no                         
paraíso. 
Seu colega lhe perguntou: “Mas por que? Por acaso tens medo de lhe                         
perguntarem por que você não foi como Abraão, que fundou um povo?                       
Ou por que não foi como Moisés, que guiou multidões?”. 
Ele então respondeu: “Nada disso... Não tenho medo que me perguntem                     
por que não fui como Abraão, porque não sou Abraão! Também não                       
tenho medo que me perguntem por que não fui como Moisés, porque                       
não sou Moisés! Tenho medo mesmo é que me perguntem: Súcia... Por                       
que não fostes Súcia?”. 
Satisfação e Honestidade 
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Quando não somos honestos, paramos de sentir satisfação. Isto porque a                     
satisfação verdadeira, aquela que não pode ser simulada, depende de                   
primeiramente sabermos o que nos deixa feliz, posteriormente sermos                 
honestos para admitir isso de forma consciente, e em seguida corrermos                     
atrás de obtê-lo. Este procedimento não dá margem a máscaras ou ao ego                         
se sobrepondo ao que se pensa e sente de verdade. 
Aqui, cabe uma comparação com o conceito de Verdadeira Vontade                   
conforme definido por Crowley e utilizado na Thelema. A Vontade                   
(com letra maiúscula) só é Verdadeira se está de acordo com a jornada de                           
transcendência individual conforme estabelecida pelo Eu Superior e               
recebida pela conversa com o Sagrado Anjo Guardião. Além disso, o                     
“Faça o que tu Queres” deve estar em linha com essa diretriz, e já deve                             
incluir a premissa de não entrar em colisão com a órbita de outrem, mas                           
sim interagir com o destino de outras pessoas apenas quando isso                     
também faz parte da jornada daquela pessoa. 
Sem dúvida, são conceitos difíceis de serem trazidos para a prática pois                       
dependem de extrema sinceridade e alto nível de autoconhecimento.                 
Porém, estas definições acabam resolvendo algumas questões do tipo “e                   
se a minha satisfação estiver em algo nocivo para outra pessoa?”. Se o                         
conceito de satisfação andar junto com a honestidade (a nível mental e                       
também espiritual), automaticamente não será nocivo para os outros. 
Necessidade de Transgredir 
A transgressão é uma necessidade da Alma, e sempre que ocorre o Corpo                         
se sente desorientado. Sendo assim, após a transgressão, é necessário um                     
tempo para se reorientar e se restabelecer. Caso alguém só transgrida, não                       
terá tempo para pensar em qual caminho deve seguir da próxima vez, e                         
não aproveitará os benefícios de sua transgressão. Caso alguém só                   
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mantenha, não conseguirá evoluir, e não conseguirá benefícios além dos                   
que já obteve na transgressão anterior. 
Se cada indivíduo não exerce seu potencial completo, toda a coletividade                     
resta prejudicada. Isto porque que a vida de todos poderia ser melhor, os                         
níveis de satisfação poderiam ser maiores, e a percepção de cada                     
transgressor sobre outro transgressor seria de que é um conterrâneo de                     
alma, e não um alienígena. 
O rabino perguntou a um homem rico: “O que você gosta de comer e                           
beber?”, e ele lhe respondeu, humildemente: “Eu tenho gostos simples,                   
eu gosto apenas de pão e água, nada demais”. Então o rabino lhe                         
repreendeu, dizendo “Que tolice! Você é rico, deveria beber vinho e se                       
banquetear com pratos saborosos!”. Alguém ouviu aquilo e lhe                 
perguntou o motivo daquela resposta. Ele esclareceu: “Se um rico comer                     
e beber bem, vai acreditar que um pobre se sente satisfeito com pão e                           
água. Mas enquanto um rico conseguir viver de pão e água, vai achar que                           
o pobre pode alimentar-se de pedras!”. 
 
   
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III. Traição Judaico-Cristã 
Diz-se que inicialmente os judeus eram sempre os filhos de pai judeu.                       
Porém, durante as batalhas que ocorriam no Oriente Médio, a prática da                       
dominação sexual das mulheres do povo vencido era amplamente                 
utilizada como estratégia de conquista. Além da relação de poder                   
existente neste ato de violência, o povo vencido ficaria incapacitado por                     
algum tempo de conceber seus próprios filhos, além de ter que criar os                         
filhos de seus opositores e para sempre se lembrar de ter sido                       
conquistado. 
Quando isto ocorreu com o povo judeu, algumas versões dizem que                     
houve um grande concílio para tratar a questão. Nesta ocasião, os anciãos                       
decidiram que, para salvar seu povo, teriam que mudar as leis. A partir                         
daí, filhos de mães judias é que seriam considerados judeus, assim os                       
filhos concebidos após a conquista seriam todos judeus e o povo estaria                       
salvo. 
Os filhos dos conquistadores, porém, não teriam pais. Para que não                     
ficassem numa condição de órfãos, foi definido que Deus seria seu pai.                       
Sendo assim,os filhos da guerra eram Filhos de Deus, e caberia a estes                           
bastardos, agora divinizados, levarem à frente o futuro de uma nação. 
Salvação pela Traição 
Em Genesis, acompanhamos a destruição de Sodoma e Gomorra. Lot                   
foge com suas duas filhas, após sua esposa ter se transformado em estátua                         
de sal porque olhou para trás na fuga da cidade. Os três conseguem                         
abrigo em uma caverna. 
Ao se verem sozinhos em meio ao nada, eles pensam que o mundo                         
acabou. As filhas de Lot, então, elaboram um plano: para poderem                     
repovoar o mundo, decidem dar vinho ao pai, que já estava ficando                       
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velho, e se deitar com ele. Os filhos que nascessem deste incesto poderiam                         
levar o legado da linhagem à frente, perpetuando a humanidade. Neste                     
momento nascem Moab, pai dos Moabitas, e Bem-Ammi, pai dos                   
Amonitas. O próprio texto bíblico não condena ou julga este ato, e é                         
exatamente por meio dele que tem origem uma das linhagens                   
genealógicas que precedem Davi. 
Neste caso vemos um aspecto importante: a traição é permitida e até                       
mesmo celebrada quando ela não se constitui em uma traição a si mesmo,                         
ou quando ela resguarda um bem maior aos olhos da própria pessoa, de                         
forma sincera, e não da sociedade ao redor, ou do restante do mundo.                         
Como o restante do mundo sabia que não havia risco de finalização da                         
linhagem, o incesto das filhas de Lot ainda pareceria errado aos olhos                       
deles. Mas na visão delas esta era a única forma de salvar a humanidade, e                             
portanto foram absolvidas do pecado. 
Produção da Alma - Um Mutante 
O salvador da linhagem não é o mais forte, tampouco o mais adequado à                           
sociedade vigente, pelo contrário, é o mutante, o diferente, o marginal,                     
aquele que tem coragem para levantar acampamento e marchar, e que                     
muitas vezes vem de fora, marchando a partir de um lugar estreito. Os                         
mais fortes e adequados tendem a fazer o caminho contrário,                   
encontrando maneiras de manter o lugar estreito e mascarando-as como                   
“ideologia”. 
Na Bíblia, é descrita uma passagem curiosa: a crucificação de Jesus e a                         
libertação de Barrabás. Bar-ha-aba, de origem aramaica, se traduz como                   
“o filho do pai”, provavelmente um indicativo de que se tratava de um                         
filho sem pai conhecido. Nesta cena, o povo decide absolver aquele que                       
fez algo mau porém não tentou alterar a ordem vigente do que era                         
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correto, condenando aquele que tentou alterar a ordem vigente do que                     
era correto, guiado pelo que seria bom. 
A Igreja entendeu, a partir daí, que a alma era imoral desde o nascimento,                           
e devotou sua instituição a tentar salvar esta alma, apagando qualquer                     
resquício de transgressão e absolvendo a todos de um suposto pecado                     
original. Curiosamente, o maior símbolo utilizado para representar esse                 
pecado foi o corpo, pois o corpo pode ser vestido, e o corpo pode sentir                             
dor, a ponto de até mesmo desistir de dar voz aos desejos da alma. 
Messias - Salvador ou Criminoso 
O Messias é sempre visto aos olhos do futuro como salvador, mas é                         
sempre visto aos olhos do passado como criminoso. A explicação é                     
simples: se uma ideia não é suficientemente inovadora, será aceita como                     
“inovação aceitável”, mas não levará a um futuro tão diferente. Já quando                       
uma ideia é inovadora a ponto de levar a um futuro diferente, não será                           
aceita, sendo combatida pelo status quo e pelas pessoas cooptadas por ele. 
O império romano crucificou o diferente e depois se apoderou dele como                       
símbolo de sua instituição, agora renomeada. Indiretamente, este símbolo                 
acaba lembrando a todos do que ocorre com novos transgressores, e não                       
faltam exemplos durante a história, como por exemplo no período da                     
inquisição. 
Uma das origens etimológicas apontadas para a palavra Israel é a de                       
“aquele que briga com Deus”, o que denota um paradoxo quando se                       
analisa a descrição de Israel como uma nação em eterna comunhão                     
divina. Simbolicamente, esta dualidade pode indicar a tensão sempre                 
presente entre Corpo e Alma, entre Obedecer e Desobedecer, necessária                   
para a evolução durante a jornada de transcendência.   
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IV. O Futuro das Traições 
Após transgredir e roubar a primogenitura do irmão, Jacó sonha com                     
anjos que sobem e descem uma escada. Esta imagem também pode ser                       
vista na própria estrela de Salomão, que contém um triângulo para cima e                         
um para baixo. O triângulo para cima pode representar simbolicamente a                     
desobediência, o rompimento, a alma, e o triângulo para baixo pode                     
representar simbolicamente a obediência, a manutenção, o corpo. 
A tensão entre estas duas pulsões deve ser mantida, para que os dois                         
vetores sejam equilibrados e mantidos sempre em diálogo, promovendo                 
não só a evolução mas também a sobrevivência e o aproveitamento dos                       
benefícios adquiridos. 
A Alma, Imoral, deve ser ouvida porém não seguida cegamente a ponto                       
de ter liberdade irrestrita. Já o Corpo, Moral, deve ser resguardado porém                       
não alçado a uma posição de comando a ponto de impedir qualquer                       
tentativa de mutação. E estes dois âmbitos devem ser enxergados no                     
outro, formando-se uma ponte com si próprio, onde também habitam. 
“A transgressão terá sido a trajetória humana rumo à transcendência na                     
história” – seu caminho curto, que é o mais longo. 
 
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