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JENNIFER KAWANE APARECIDA DE SOUZA RELATÓRIOS DE AULAS PRÁTICAS: PRÁTICAS EM CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS Relatórios de aulas práticas Botucatu – SP NOVEMBRO/2019 1. CAPITULO 1: CRIAÇÃO EM PEQUNA ESCALA DE Spodoptera frugiperda (LEPDOPTERA: NOCTUIDAE) E DO PARASITÓIDE DE OVOS Telenomus remus (HYMENOPTERA: PLATYGASTRIDAE) 1. INTRODUÇÃO Os insetos criados em meios artificiais facilitam o progresso das pesquisas ligadas à sua biologia, ecologia e genética e principalmente na criação de inimigos naturais (parasitóides e predadores) em laboratórios, voltados a programas de controle biológico de pragas, em que este último vem a ser o foco deste relatório. Para que uma criação de insetos possa alcançar grande escala, deve-se antes passar pela etapa da criação em pesquisa. Na fase de pesquisa é que se determina a metodologia de criação mais adequada a ser seguida, para que se obtenha número de insetos suficiente (DE BORTOLI, 2009). A estrutura em si precisa ter salas adequadas para criação desses insetos, com condições abióticas controladas e ideais para o desenvolvimento dos indivíduos. É necessário que se tenha várias salas para criação dos insetos, como por exemplo, uma sala para acondicionamento dos adultos e obtenção das posturas, outra para desenvolvimento de larvas ou ninfas, uma sala para preparo de dieta, uma sala para manutenção das criações e uma sala para limpeza e assepsia dos materiais. É claro que o número de salas depende da biologia das espécies a serem produzidas e do tamanho e fluxo da produção desses inimigos naturais (DE BORTOLI, 2009; GARCIA et al., 2009). 2. MATERIAIS E MÉTODOS No dia 25 de setembro do ano de 2019, os discentes da pós-graduação em agronomia, pelo programa proteção de plantas, realizaram visita ao laboratório AGRIMIP. Como parte das atividades práticas inclusas no cronograma da disciplina de Controle Biológico de Pragas. Após a socialização, deu-se início a aula em si. O objetivo desta aula foi demonstrar a metodologia de criação em pequena escala de S. frugiperda visando a sua utilização na produção do parasitoide de ovos T. remus. Inicialmente, os alunos se dirigiram a sala de preparo das dietas artificiais. Onde realizou o preparo da dieta indicada para a criação de S. frugiperda elaborada da seguinte forma: A solução vitamínica feita com 1g de niacinamida; 1g de pantotenoto de cálcio; 0,50g de riboflavina; 0,25g de tiamina; 0,25g de piridoxina; 0,10g de ácido fólico; 0,02 mg de biotina; 2,00 ml de vitamina B12 em 1 litro de água destilada. Foi mistura em liquidificador com os anticontaminantes ac. Ascórbico; ac. Sorbico; nipagin; tetraciclina e formaldeído 10%, e os componentes proteicos já triturados em 200 ml de água destilada pré-aquecida (feijão branco, levedura e germe de trigo) e caragenina. Até se obter uma mistura homogênea. Essa dieta ainda em estado líquido é posta em copos de plástico, e assim que esfriam é feito o repique das lagartas. Depois do preparo da dieta foi feito o repique com lagartas recém eclodidas de no máximo 24 horas de idade. Os copos com as lagartas e dieta são fechados e postos em bandejas para serem levados a sala de desenvolvimento larval até o momento de sua pupação. Depois disso, os alunos se encaminharam para a sala de desenvolvimento larval onde foi feita a retirada das pupas formadas em dietas feitas pela equipe do AGRIMIP anteriormente, em que é feito a retirada das pupas das dietas com o auxílio de pinças e transferidas para uma placa de petri. As pupas são então lavadas em água corrente para retirar o excesso de dieta e secagem em papel toalha. Depois de secas são postas nas gaiolas de reprodução feitas com PVC. A próxima sala visitada pelos alunos foi a sala dos adultos, onde são colocadas as gaiolas contendo pupas. Os adultos já emergidos (que já se encontravam no laboratório no momento da visita) foram colocados em gaiolas de ovoposição, para a obtenção de novas posturas. No interior da gaiola é colocado um chumaço de algodão com solução de mel a 10%. É importante lembrar que o mel para ser oferecido a criação deve ser puro, e as gaiolas devem ser postas em bandejas contendo água e detergente para evitar o ataque de formigas. As posturas são divididas entre a continuação da criação da mariposa e a criação do parasitoide de ovos. Estas posturas são recortadas com auxílio de tesoura, em seguida são tratadas com formaldeído 5% para evitar o desenvolvimento de contaminantes. A parte que dará continuação a criação é levada para a sala de desenvolvimento acondicionadas em copos plásticos mantidas a 25 °C e umidade relativa de 70% com fotofase de 12h, até o momento da eclosão. Já a parte que será ofertada ao parasitoide deve conter ovos com até 24 horas do desenvolvimento, sem nenhum tratamento, são recortadas com auxílio de tesoura e coladas em faixas de papel sulfite utilizando cola branca atóxica. Os ovos são ofertados as femeas do parasitoide por até 48 horas. Os parasitoides são alimentados com gotículas de mel puro. Depois do período de parasitismo as cartelas são retiradas e transferidas para outro pote mantido a 25°C e umidade relativa de 70% com fotofase de 12horas para desenvolvimento do parasitoide. Figura 1: Preparo das dietas artificiais (esquerda); pupas no processo de secagem (direita) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pode-se verificar os processos que ocorrem dentro da criação de inimigos naturais. Observou-se que estes processos demandam de energia gasta pelo responsável pela criação, o qual deve ter reponsabilidade e organização dentro do laboratório, pois o mínimo detalhe que for esquecido durante o processo pode acarretar no insucesso da criação. Um fator importante para a criação saudável destes insetos é a organização e divisão das salas de criação, em que se deve atentar para a ordem de entrada e saída, como por exemplo, a sala dos adultos deve ser a última a ser manipulada, evitando que as escamas que contem inúmeros contaminantes, caia sobre as dietas ou outros, podendo causar contaminação do lote. 4. CONCLUSÃO A criação de inimigos naturais mesmo que em pequena escala é trabalhosa e deve ser feita com o máximo de atenção possível, a fim de se estabelecer uma população saudável e de qualidade. A busca por métodos novos de criação de parasitoides, em que não sejam necessários a criação de seus hospedeiros deve ser incentivada, visando a melhoria e agilidade da criação. 5. REFERENCIAS DE BORTOLI, S.A. Criação de insetos: da base a biofabrica. Jaboticabal: edição própria, 223p. 2009. GARCIA, J.F.; BOTELHO, P.S.M.; MECEDO, L.P.M. Criação do parasitóide Cotesia flavipes em laboratório. In: BUENO, V.H.P. Controle biológico de pragas: produção massal e controle de qualidade. Lavras: editora UFLA, p.199-220. 2009. 2. CAPITULO 2: VISITA A EMPRESA DE CONTROLE BIOLÓGICO “CETMA” NO MUNICIPIO DE LENÇOIS PAULISTAS- SP 1. INTRODUÇÃO A Empresa CETMA - Comércio de Agentes para Controle Biológico Ltda - tem como principal atividade a produção e comercialização de Agentes para controle biológico da Broca da cana, a vespa Cotesia flavipes. A empresa CETMA também presta assessoria no treinamento de equipes de campo e laboratório, entre outras. A visita foi conduzida pelo proprietário do CETMA, o biólogo Antônio Marino Coneglian, que possui experiência de mais de 20 anos na área agrícola. A empresa foi criada com o objetivo de disponibilizar ao mercado agrícola canavieiro a possibilidade de utilização do programa do controle biológico de pragas. Na visita foram apresentadas as instalações e os processos envolvidos na produção de inimigos naturais para pragas da cana-de-açúcar. A C. flavipes se encontra dentro da ordem Hymenoptera e da família Braconidae, é uma vespa. Segundo Ricklefs (2003), são vespas parasitoidesque se desenvolvem dentro das larvas ou das pupas de outros insetos, a fêmea possui antenas menores que as do macho e são elas que irão ovipositar as brocas tendo o seu desenvolvimento no interior das mesmas. A sua capacidade de busca em campo, e o número de ovos que serão depositados se dão em função da disponibilidade dos hospedeiros e sua sobrevivência (PARRA et al. 2002). Com isso o estado fisiológico do inimigo natural tem relevantes implicações no sucesso reprodutivo (HOHM ANN e LUCK 2004). O controle da broca é feito principalmente através do parasitoide larval, C. flavipes. No período de 1974 a 1976 este parasitoide foi introduzido nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas (onde ocorreu a sua primeira liberação em julho de 1974, e foi observada a vantagem no controle da broca.), Bahia e Rio de Janeiro para o controle das D. saccharalis (BOTELHO e MACEDO, 2002). 2. MATERIAIS E METODOS No dia 09 de outubro de 2019, os alunos da disciplina de Controle Biologico de pragas do Programa Proteção de Plantas, visitaram a empresa CETMA, situada na cidade de Lençóis Paulista – SP, cidade a 52,4 km de Botucatu-SP. Ao chegar na empresa, os alunos foram recepcionados pelo proprietário da CETMA, que discorreu sobre o histórica da empresa, e os objetivos, que são a criação e comercialização do parasitóide de lagartas de Diatrea saccharalis (broca da cana), Cotesia flavipes. Depois desse momento, iniciou-se a visita, em que foram apresentadas as salas e os processos envoltos nas criações dos insetos. Sala das dietas: nesta sala acontece o preparo das dietas artificiais oferecidas as lagartas de D. saccharalis. A sala deve ser totalmente isenta de contaminantes para evitar a morte dos insetos a serem criadas nela. É uma dieta que contem muita proteção, são produzidas duas texturas diferentes da mesma dieta, uma em frasco e outra mais consistente (em tabletes). Sala de repouso das dietas: nela são colocadas as dietas para descansar. Os frascos são colocados em diagonal para aumentar a superfície. Figura 2: Dietas artificiais D. saccharalis Sala de reprodução: nesta sala é feita a retirada das pupas das dietas, limpeza das mesmas (visando a retirada de excesso da dieta), e após secas são postas em gaiolas de reprodução, onde assim que emergidas realizam a cópula. Neste processo é feito a separação cuidadosa visando a qualidade dos adultos, em que são retiradas todas as pupas consideradas imperfeitas. Após a cópula a femea deposita os ovos nas laterais da gaiola (forradas com papel) e estas são retiradas e recortadas (são recolhidas as posturas de 2 noites). Um dos piores contaminantes a ser observado nesta fase é o Nosema, um fungo microsporídio que infecta as mariposas pela boca do inseto adulto, e se aloja no intestino. Esse fungo então compromete todas as gerações a partir daquela fêmea infectada, pois no momento da ovoposição, ele é expelido junto aos ovos e se aloja nas lamelas do ovo. Essa lamela é consumida pelas larvas no momento da eclosão, gerando todo o ciclo de infecção do fungo. Esse fungo baixa a qualidade dos ovos, em que estes ovos podem não se desenvolver, e apresentar defeitos. Comprometendo o sistema fisiológico desta lagarta, podendo afetar no parasitismo do parasitoide. Figura 3: Gaiolas de reprodução Figura 4: Ovoposição de D. saccharalis Sala de criação: nesta sala são postos os frascos com as oviposições já limpas, para a eclosão e alimentação. Estes frascos se mantem nesta sala até o momento em que as lagartas virem pupas. A temperatura desta sala é controlada de acordo com a necessidade da produção, ou seja, quando é requerido um numero maior de lagartas a temperatura é em torno de 27°C, e quando não há demanda significativa, e para evitar perdas, a temperatura da sala é ajustada em menor grau. Figura 5: Frascos com lagartas de broca da cana a direita, ao meio prateleira para o armazenamento e a esquerda frasco com ovos da mariposa Sala de parasitismo: nesta sala é ofertado as femeas de C. flavipes, as lagartas produzidas. As brocas são colocadas próximas as femeas do parasitoides contidos dentro dos potes (produzidos pela empresa), para que se realize a postura. Esta inoculação é feita rapidamente. Depois que a femea deposita seus ovos, as lagartas são colocadas em potes plásticos com dieta artificial em tabletes, e levadas para sala de criação do parasitoide. Figura 6: Processo de inoculação do parasitoide Sala de preparo das caixas: nesta sala são preparados os potes com a dieta de textura mais solida, para serem ofertadas as lagartas já parasitadas pela C. flavipes. Figura 7: Preparo das caixas para as brocas parasitadas Sala de massas: Nesta sala as massas são separadas das lagartas e limpas, são selecionadas 30 massas por copo. Assim que preenchidas a tabela de 30 estas são colocadas em potes e levadas para armazenamento até o momento da venda, que deve acontecer antes dos primeiros adultos emergirem. Figura 8: Retirada e separação das massas de pupas de C. flavipes Sala de limpeza: como o nome já diz, nesta sala são realizados os processos de limpeza e esterilização de frascos, potes e demais utensílios utilizados no processo de produção, evitando contaminação e prezando a qualidade dos insetos. Figura 9: Sala de limpeza e esterilização 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Como descrito no momento da visita, o tipo de produção que ocorre para as Cotésias é por parasitismo individual e não massal. Esta espécie não pode ser produzida através do sistema massal devido a sua falta de percepção das lagartas que já foram parasitadas, acontecendo um acumulo grande de ovos no interior do inseto alvo, o qual poderá acarretar em uma competição pelos próprios parasitoides assim que eclodidos dentro da lagarta (superparasitismo). A criação de Cotesia flavipes tem baixo custo tecnológico, porem um alto custo com mão de obra. Sendo o principal desafio do proprietário deste tipo de biofabrica o salário e encargo dos funcionários, que gira em torno dos 40-50%. Outro desafio da produção deste parasitoide encontrado pelo proprietário, é a diminuição da procura por estes parasitoides e o aumento do uso de inseticidas e parasitoides como Trichogramma. 4. CONCLUSÃO A margem de lucros é muito pequena pelo número de falhas. Assim a eficiência mínima estabelecida é de 70%. Abaixo desse valor, tem-se prejuízos na produção e venda. Além da estabilidade que deve haver para aumento ou investimento. Dessa forma, o proprietário da biofabrica precisa buscar empresas e produtores rurais, oferecendo o serviço de entrega dos parasitoides diretamente, além de baixar os preços para que consiga permanecer com as portas abertas. A logística destes produtos é feita com transporte em caixas de papelão sem exposição ao sol, visando permitir que os adultos não eclosão antes de chegar em campo. A criação de Cotesia flavipes se encontra em um momento de crise. Deve-se desenvolver novas metodologias ou mecanismos que possam impulsionar a produção deste agente, bem como projetos de extensão realizados pelas instituições de pesquisa de modo a incentivar o uso deste parasitóide novamente em campo, visto que em seus tempos de ouro era muito utilizado, e devido a falta de inovações tecnológicas ocorreu o retrocesso do cenário. 5. REFERENCIAS BOTELHO, P. S. M.; MACEDO, N. Cotesia flavipes para o controle de Diatraea saccharalis In: PARRA, J. R. P.; BOTELHO, P. S. M.; CORREA-FERREIRA, B. S.; BENTO, J. M. S. (eds.). Controle biológico no Brasil. São Paulo: Manole, p. 409- 425, 2002. HOHMANN, C.L.; R. LUCK, 2004. Effect of host availability and egg load in Trichogramma platneri Nagarkatti (Hymenoptera: Trichogrammatidae) and its 17 consequences on progeny quality. Brazilian Archives of Biology and Technology, 4: 413- 422PARRA, J. R. P.; BOTELHO, P. S. M; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; BENTO, J. M. S, Controle biológico: terminologia, p. 1-16. In: PARRA, J. R. P.; BOTELHO, P. S. M; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; BENTO, J. M. S, (Eds.). Controle biológico no Brasil: parasitoides e predadores. São Paulo: Manole, 609p. 2002. RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 211-213, 305-306. 2003.
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