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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Caracterizar o câncer; 2- Discutir sobre a epidemiologia, etiologia e fatores de risco do câncer de pulmão; 3- Debater sobre a classificação, fisiopatologia e manifestações clínicas do câncer de pulmão; 4- Descrever como é realizado o diagnóstico do câncer de pulmão. Câncer ↠ O câncer é uma doença que resulta de alterações nos processos de diferenciação e crescimento celulares. O processo resultante é chamado de neoplasia, que significa crescimento novo (PORTH, 10ª ed.). ↠ Neoplasia significa “novo crescimento”, e um novo crescimento é denominado de neoplasma. O termo tumor foi originalmente aplicado ao edema causado pela inflamação, mas o uso não neoplásico de tumor praticamente desapareceu; portanto, o termo atualmente se iguala a neoplasia (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). Oncologia (do grego oncos = tumor) é o estudo dos tumores ou neoplasmas (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ Nos tempos modernos, uma neoplasia pode ser definida como um distúrbio do crescimento celular que é desencadeado por uma série de mutações adquiridas que afetam uma única célula e sua progênie clonal (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). OBS.: Ao contrário de alterações no crescimento do tecido ocorridas em processos como hipertrofia e hiperplasia, o crescimento de uma neoplasia tende a ser desorganizado e relativamente autônomo porque não há controle regulador normal do crescimento e da divisão celulares (PORTH, 10ª ed.). PROLIFERAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO CELULAR ↠ A renovação e o reparo do tecido normal envolvem dois componentes: proliferação e diferenciação celular (PORTH, 10ª ed.). ➢ Proliferação, ou processo de divisão celular, é um processo adaptativo para o crescimento de novas células que substituirão células envelhecidas ou quando é necessária a formação de células adicionais. ➢ Diferenciação descreve o mecanismo pelo qual as células se tornam cada vez mais especializadas a cada divisão mitótica. OBS.: A apoptose é uma forma de morte celular programada, que elimina células senescentes, células com DNA (ácido desoxirribonucleico) danificado ou células indesejadas (PORTH, 10ª ed.). CICLO CELULAR O ciclo celular é uma sequência ordenada de eventos que ocorrem à medida que uma célula duplica o seu conteúdo e se divide. Durante o ciclo celular a informação genética é duplicada, e os cromossomos duplicados são devidamente alinhados para distribuição entre duas células-filhas geneticamente idênticas (PORTH, 10ª ed.). O ciclo celular é dividido em quatro fases, conhecidas como G1, S, G2 e M (PORTH, 10ª ed.). ➢ A fase 1 (G1, de gap 1, em inglês) vem depois da fase pós- mitótica, quando a síntese de DNA é interrompida e se inicia a síntese de RNA (ácido ribonucleico) e proteínas, quando começa o crescimento celular. ➢ Durante a fase S (síntese), ocorre a síntese de DNA, quando se formam dois conjuntos separados de cromossomos, um para cada célula-filha. ➢ A fase 2 (G2) representa a fase pré-mitótica e é semelhante à G1, no sentido em que interrompe a síntese de DNA, porém mantém a síntese de RNA e de proteínas. As fases G1, S e G2 são chamadas de interfase. ➢ A fase M (mitose) é a fase de divisão nuclear, ou mitose, e divisão do citoplasma. APG 16 – “SOFRIMENTO” Ocorre também uma fase de inatividade (G0), durante a qual a célula pode deixar o ciclo celular (PORTH, 10ª ed.). 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck Dentro do ciclo celular, podem ser efetuadas pausas, se eventos específicos de cada fase do ciclo celular não tiverem sido completados. Estas são oportunidades para verificar a precisão do processo de replicação do DNA. Esses pontos de controle de danos ao DNA possibilitam a identificação de defeitos e os reparos, garantindo que cada célula-filha receba um conjunto completo de informação genética, idêntico ao da célula-mãe (PORTH, 10ª ed.). Tipos de crescimento celular ↠ A proliferação celular pode ser controlada ou não controlada (INCA, 2011). ↠ No crescimento controlado, tem-se um aumento localizado e autolimitado do número de células de tecidos normais que formam o organismo, causado por estímulos fisiológicos ou patológicos. Nele, as células são normais ou com pequenas alterações na sua forma e função, podendo ser iguais ou diferentes do tecido onde se instalam. O efeito é reversível após o término dos estímulos que o provocaram (INCA, 2011). OBS.: A hiperplasia, a metaplasia e a displasia são exemplos desse tipo de crescimento celular (INCA, 2011). ↠ No crescimento não controlado, tem-se uma massa anormal de tecido, cujo crescimento é quase autônomo, persistindo dessa maneira excessiva após o término dos estímulos que o provocaram. As neoplasias (câncer in situ e câncer invasivo) correspondem a essa forma não controlada de crescimento celular e, na prática, são denominadas tumores (INCA, 2011). Classificação das neoplasias Os órgãos do corpo são compostos por dois tipos de tecido: parênquima e estroma ou tecido de suporte (PORTH, 10ª ed.). As células do parênquima representam os componentes funcionais de um órgão. As células do parênquima de uma neoplasia determinam seu comportamento e são o componente para o qual a neoplasia é nomeada. O tecido de suporte inclui a matriz extracelular e o tecido conjuntivo que circunda as células do parênquima. Os vasos linfáticos e sanguíneos fornecem alimentação e suporte para as células do parênquima (PORTH, 10ª ed.). Todos os tumores apresentam dois componentes básicos: (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ➢ células neoplásicas clonais que constituem o parênquima tumoral; ➢ estroma reativo feito de tecido conjuntivo, vasos sanguíneos e números variáveis de células do sistema imune inato e adaptativo. A classificação dos tumores e seu comportamento biológico são baseados principalmente no componente parenquimatoso, mas seu crescimento e disseminação são criticamente dependentes do seu estroma (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ Neoplasias geralmente são classificadas como benignas ou malignas (PORTH, 10ª ed.). ↠ Neoplasias que contêm células bem diferenciadas agrupadas em conjunto em uma massa única são consideradas benignas. Essas neoplasias geralmente não causam a morte, a menos que sua localização ou seu tamanho interfira nas funções vitais (PORTH, 10ª ed.). ↠ Neoplasias malignas, ao contrário, são menos diferenciadas e têm a capacidade de se desprender, entrar no sistema circulatório ou linfático e formar neoplasias malignas secundárias em outros locais no organismo (PORTH, 10ª ed.). Os tumores malignos são referidos coletivamente como cânceres, um derivado da palavra latina caranguejo, pois costumam se aderir a qualquer região na qual estejam, de maneira obstinada (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). O termo carcinoma é empregado para designar uma neoplasia maligna com origem no tecido epitelial. Neoplasias malignas de origem mesenquimal são chamadas sarcomas (PORTH, 10ª ed.). Câncer in situ e câncer invasivo ↠ O câncer não invasivo ou carcinoma in situ é o primeiro estágio em que o câncer pode ser classificado (essa classificação não se aplica aos cânceres do sistema sanguíneo). Nesse estágio (in situ), as células cancerosas estão somente na camada de tecido na qual se 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck desenvolveram e ainda não se espalharam para outras camadas do órgão de origem. A maioria dos cânceres in situ é curável se for tratada antes de progredir para a fase de câncer invasivo (INCA, 2011). ↠ No câncer invasivo, as células cancerosas invadem outras camadas celulares do órgão, ganham a corrente sanguínea ou linfática e têm a capacidade de se disseminar para outras partes do corpo. Essa capacidade de invasão e disseminação que os tumores malignos apresentam de produzir outros tumores, em outras partes do corpo, a partir de um já existente,é a principal característica do câncer. Esses novos focos de doença são chamados de metástases (INCA, 2011). CARACTERÍSTICAS DAS CÉLULAS CANCEROSAS ↠ As células cancerosas têm duas características principais: proliferação rápida e anormal e perda de diferenciação. A perda da capacidade de diferenciação significa que não apresentam as características e propriedades normais de células diferenciadas e, por conseguinte, são mais semelhantes às células embrionárias (PORTH, 10ª ed.). ↠ O termo anaplasia descreve a perda da capacidade de diferenciação celular do tecido canceroso (PORTH, 10ª ed.). O termo anaplasia significa “formar-se para trás”, indicando uma reversão da diferenciação para um nível mais primitivo (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ Alguns tipos de câncer apresentam apenas ligeira anaplasia, enquanto outros exibem anaplasia marcante. A classificação citológica/histológica de neoplasias se baseia no grau de diferenciação e no número de células em proliferação e de grau IV, pouco diferenciadas, exibindo anaplasia marcante (PORTH, 10ª ed.). ↠ As características de proliferação e diferenciação alteradas estão associadas a uma série de outras alterações nas características e funções das células, que distinguem células cancerígenas de suas homólogas normalmente diferenciadas (PORTH, 10ª ed.). ➢ Instabilidade genética: As características da instabilidade genética incluem aneuploidia, em que o número de cromossomos aumenta ou diminui; instabilidade intracromossômica, que inclui inserções, exclusões e amplificações; instabilidade de microssatélites, que envolve pequenas sequências repetitivas de DNA; e mutações pontuais. ➢ Independência do fator de crescimento: capacidade de proliferação, mesmo na ausência de fatores de crescimento. Algumas células cancerosas podem produzir seus próprios fatores de crescimento e secretá-los para o meio de cultura, enquanto outras têm receptores ou proteínas de sinalização anormais que podem ativar inadequadamente as vias de sinalização de crescimento celular. ➢ Inibição celular dependente de densidade: é a interrupção do crescimento depois que as células alcançam uma densidade específica. Isso, às vezes, é chamado de inibição por contato porque frequentemente as células param de crescer quando entram em contato umas com as outras. Possíveis explicações para que células cancerosas percam a capacidade de inibição por contato dependente de densidade incluem a independência do fator de crescimento, mecanismos oxidativos e alterações nas interações entre as vias de sinalização para adesão celular e crescimento. ➢ Dependência de ancoragem: Células cancerosas, no entanto, frequentemente permanecem viáveis e se multiplicam sem as conexões normais com outras células ou com a matriz extracelular. ➢ Comunicação entre as células: Outra característica das células cancerosas é a comunicação defeituosa entre uma célula e outra, uma condição que por sua vez contribui para outras características dessas células. ➢ Tempo de vida: Células cancerosas diferem das células normais por serem imortais, com um tempo de vida útil ilimitado. A maioria das células cancerosas mantém altos níveis de telomerase, uma enzima que impede o encurtamento dos telômeros. ➢ Expressão do antígeno: Células cancerosas também expressam diversas moléculas de superfície celular ou antígenos, que são imunologicamente identificadas como estranhas. Oncogênese ou carcinogênese ↠ O processo de formação do câncer é chamado de carcinogênese ou oncogênese e, em geral, acontece lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa se prolifere e dê origem a um tumor visível (INCA, 2011). 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ A hipótese é de que o processo pelo qual agentes carcinogênicos (causadores de câncer) transformam células normais em células cancerosas seja um mecanismo de várias etapas, que pode ser dividido em três estágios: iniciação, promoção e progressão (PORTH, 10ª ed.). ➢ Iniciação é a primeira etapa e descreve a exposição das células a um agente carcinogênico, fazendo-as vulneráveis à transformação cancerígena. Os agentes carcinogênicos podem ser químicos, físicos e biológicos ou produzir alterações irreversíveis no genoma de uma célula, previamente normal. Como os efeitos dos agentes iniciadores são irreversíveis, várias doses divididas podem alcançar os mesmos efeitos de uma única exposição à mesma dose total ou a pequenas quantidades de substâncias altamente cancerígenas. As células mais sensíveis a alterações mutagênicas são aquelas que estão em síntese ativa de DNA. ➢ Promoção é a segunda etapa, que viabiliza o crescimento exponencial de células, desencadeado por vários fatores de crescimento e químicos. A promoção é reversível se a substância promotora for removida. Células que foram iniciadas de maneira irreversível podem ser promovidas, mesmo após longos períodos de latência. O período de latência varia com o tipo de agente, dose e características das células-alvo. Muitos carcinógenos químicos são chamados de carcinógenos completos, porque podem iniciar e promover a transformação neoplásica. ➢ Progressão é a última etapa do processo e se manifesta quando as células neoplásicas adquirem alterações fenotípicas malignas que promovem invasão, competência metastática, tendência de crescimento autônomo e maior instabilidade do cariótipo. BASES GENÉTICA E MOLECULAR DO CÂNCER Acredita-se que a patogênese molecular da maioria dos cânceres se origine a partir de um dano genético ou mutação, com as consequentes alterações na fisiologia celular que transformam uma célula com funcionamento normal em uma célula cancerosa. Fatores epigenéticos que envolvem o silenciamento de um gene ou mais genes também podem estar envolvidos na patogênese molecular do câncer (PORTH, 10ª ed.). GENES ASSOCIADOS AO CÂNCER A maioria dos genes associados ao câncer pode ser classificada em duas grandes categorias, com base no fato de uma hiperatividade ou hipoatividade de um gene aumentar o risco de câncer. A categoria associada à hiperatividade do gene envolve proto-oncogenes, que são genes normais que se tornam oncogenes causadores de câncer quando sofrem mutação. Os proto-oncogenes codificam proteínas celulares normais, como fatores de crescimento, receptores de fator de crescimento, moléculas de sinalização de fator de crescimento e fatores de transcrição que promovem o crescimento celular ou incrementam a sinalização dependente de fator de crescimento (PORTH, 10ª ed.). A categoria associada à hipoatividade do gene inclui os genes supressores de neoplasia, que, por serem menos ativos, criam um ambiente que promove o desenvolvimento do câncer. Genes supressores de neoplasia incluem o gene do retinoblastoma (RB), que normalmente impede a divisão celular, e o gene TP53, que normalmente se torna ativo em células com DNA danificado para iniciar apoptose (PORTH, 10ª ed.). A perda de atividade de RB pode acelerar o ciclo celular e conduzir a um aumento da proliferação celular, enquanto a inatividade de TP53 pode aumentar a sobrevivência de células com DNA danificado. O gene TP53 tornou-se um indicador confiável do prognóstico. Existem diversos eventos genéticos capazes de levar à formação de oncogene ou à perda de função do gene supressor de neoplasia (PORTH, 10ª ed.). MECANISMOS EPIGENÉTICOS Envolvem alterações nos padrões de expressão de genes, sem alteração no DNA. Os mecanismos epigenéticos podem “silenciar” certos genes, como genes supressores de neoplasia, de modo que, mesmo que o gene exista, ele não seja expresso, deixando de produzir uma proteína supressora de câncer. Um desses mecanismos de silenciamento epigenético é a metilação da região promotora do gene, que impede uma mudança de transcrição e provoca a inatividade do gene(PORTH, 10ª ed.). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck Vias molecular e celular Existem inúmeros mecanismos moleculares e celulares com uma infinidade de vias e genes associados conhecidos ou suspeitos por facilitar o desenvolvimento do câncer. Genes que aumentam a suscetibilidade ao câncer ou facilitam seu desenvolvimento incluem falhas nos mecanismos de reparo do DNA, nas vias de sinalização do fator de crescimento, evasão de apoptose, impedimento da senescência celular, desenvolvimento de angiogênese sustentada e metástase e invasão. Além disso, ocorre o envolvimento de mutações genéticas associadas, que viabilizam a invasão e sobrevivência em tecidos vizinhos, bem como a evasão da detecção e ataque imunológicos (PORTH, 10ª ed.). Câncer de pulmão Epidemiologia ↠ O câncer de pulmão é a doença maligna mais comum em todo o mundo; de todos os novos casos de câncer, 13% são de câncer de pulmão (ARAUJO et. al., 2018). ↠ O câncer de pulmão é a causa mais comum da principal incidência e mortalidade por câncer no mundo no homem, enquanto na mulher é a terceira causa mais comum de incidência de câncer e a segunda causa mais comum de mortalidade por câncer (BROADDUS, 2017). ↠ No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou em 596.000 o número de novos casos de câncer em 2016, 28.220 (4.7%) dos quais foram casos de neoplasia maligna primária de pulmão. O câncer de pulmão é o segundo tipo de câncer de maior incidência em homens e o quarto tipo de câncer de maior incidência em mulheres no país (ARAUJO et. al., 2018). ↠ Estudos revelam que a epidemiologia do câncer de pulmão sofreu mudanças significativas nos últimos anos, revelando o aumento na população feminina e declínio nos homens (MENDONÇA et. al., 2020). ↠ Em 90% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco (BREY et. al., 2020). Etiologia e Fatores de Risco ↠ O tabagismo causa mais de 80% dos casos de câncer do pulmão. O risco de desenvolvimento desse tipo de câncer em tabagistas aumenta com a duração do uso e o número de cigarros fumados por dia. Fumantes de qualquer idade podem ser beneficiados por parar de fumar (PORTH, 10ª ed.). Há uma correlação quase linear entre a frequência do câncer de pulmão e a quantidade de maços/ano consumida. O risco aumentado torna-se 60 vezes maior entre fumantes pesados habituais (dois maços ao dia, por 20 anos) comparado com o de não fumantes. Contudo, como o câncer de pulmão se desenvolve em apenas 11% dos fumantes pesados, há outros fatores que predispõem os indivíduos a essa doença mortal (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). Fumar passivamente (proximidade aos fumantes) aumenta o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão em aproximadamente duas vezes, quando comparado com não fumantes. Fumar cachimbo e charutos também aumenta o risco, mas de maneira mais modesta (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). CIGARRO CONVENCIONAL X CIGARRO ELETRÔNICO O uso do cigarro convencional decorre da queima do tabaco, que além da presença de nicotina, libera em sua fumaça uma mistura de gases, vapores, partículas líquidas e micropartículas. Esses subprodutos da combustão induzem respostas biológicas adversas que levam ao desenvolvimento de doenças crônicas, como câncer de pulmão, doenças cardíacas e doenças pulmonares obstrutivas crônicas, estando esses sintomas respiratórios presentes em indivíduos com graus variados de dependências. A partir desse entendimento, buscaram-se, nos últimos anos, alternativas que pudessem promover a interrupção do uso do cigarro convencional e a redução substancial dos riscos de comprometimento à saúde (ARAÚJO et. al., 2022). Diante de tal perspectiva e visando suprir tais objetivos, surge o cigarro eletrônico (e-cig). Sistema eletrônico de entrega de nicotina, cigarro eletrônico, vape ou e-cigarette foi desenvolvido com o intuito de ser 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck uma alternativa mais segura em comparação ao cigarro tradicional, sendo composto por três componentes: um elemento de aquecimento alimentado por bateria, um cartucho (substituível) ou tanque (recarregável) contendo uma solução feita de propilenoglicol, glicerina, nicotina, água e aromas, conhecida como e-líquido, e um atomizador que vaporiza a solução quando aquecida. Por ter um sistema baseado na vaporização do tabaco ao invés da queima e por controlar as quantidades de nicotina e outras substâncias, é visto como potencial minimizador de doenças e como um forte aliado no processo de desintoxicação. Entretanto, ainda são considerados novos e seus reais impactos para a saúde ainda não foram totalmente esclarecidos (ARAÚJO et. al., 2022). Os componentes mais observados no cigarro eletrônico são o propilenoglicol e o glicerol. O propilenoglicol é causador de irritação no sistema respiratório e tem alta afinidade pelo sistema nervoso e baço, resultando em significativas alterações quando utilizado em tempo prolongado. Já o glicerol possui alto potencial carcinogênico, além de também causar irritação nas vias aéreas. Outras substâncias consideradas extremamente tóxicas para os seres humanos encontradas nos DEF e relatadas por diversos autores foram propanol, formaldeído, acroleína, nitrosaminas e nicotina (SOUTO et. al., 2022). ↠ Riscos industriais também contribuem para a incidência do câncer de pulmão. Um risco reconhecido comumente é a exposição ao asbesto. O risco médio de desenvolver câncer de pulmão é expressivamente maior nos indivíduos que trabalham com asbestos, em comparação com a população geral (PORTH, 10ª ed.). OBS.: Não é certo se a poluição do ar, por si só, aumenta os riscos de câncer no pulmão, mas ela provavelmente aumenta o risco nos indivíduos que fumam ou estão expostos a fumaça de tabaco de terceiros. Isso se dá por diferentes mecanismos. A exposição crônica a partículas do ar poluído pode causar irritação dos pulmões, inflamação e reparo, e você se lembra que as inflamações e reparos crônicos aumentam os riscos de vários tipos de câncer. Uma forma específica de poluição do ar que contribui para o aumento do risco de câncer de pulmão é o gás radônio. O radônio é um gás abundante em radioatividade que foi associado epidemiologicamente ao aumento do câncer de pulmão em mineradores de urânio, particularmente nos fumantes (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ Além do tabagismo e dos riscos industriais, também há indícios sugestivos de uma predisposição familiar ao câncer de pulmão. Isso pode ser atribuído a uma predisposição genética, cujo traço é expresso apenas quando há algum outro fator predisponente importante – no caso, tabagismo (PORTH, 10ª ed.). ↠ A susceptibilidade genética e comorbidades também contribuem para o desenvolvimento da doença. Ademais, a carcinogênese é um processo complexo que envolve a participação de fatores de risco hereditários e ambientais, tais como a alimentação, o hábito de fumar, a ocupação e a exposição à radiação e a agentes químicos nos ambientes (BREY et. al., 2020). FATORES ALIMENTARES: As diferenças na dieta são consideradas como uma das razões que explicam a heterogeneidade na ocorrência de câncer de pulmão entre pessoas com fatores de risco semelhantes (ou seja, tabagismo e outras exposições) para essa doença. Os achados em estudos de coorte observacional que sugerem que dietas mais altas em frutas e vegetais diminuem o risco de câncer de pulmão não foram replicados em ensaios clínicos que examinam a suplementação (UPTODATE, 2021). Classificação ↠ O câncer de pulmão geralmente é subdividido em quatro grupos principais, com taxas de incidência próprias em cada grupo. Isso inclui carcinoma pulmonar espinocelular (25 a 40%), adenocarcinomas (20 a 40%), carcinoma de pequenas células (20 a 25%) e carcinoma de células grandes (10 a 15%) (PORTH, 10ª ed.). OBS.: Com as finalidades de estadiamentoe tratamento, os cânceres pulmonares geralmente foram subclassificados em cânceres pulmonares de pequenas células (CPPC) e cânceres pulmonares de células não pequenas (CPCNP). Na verdade, um sistema inteiramente novo de classificação dos cânceres de pulmão está em desenvolvimento, no qual o carcinoma de células não pequenas é cada vez menos usado, e o carcinoma de células grandes tem sido substituído pelos carcinomas neuroendócrinos de células grandes (PORTH, 10ª ed.). IMPORTANTE: O adenocarcinoma é, atualmente, a forma mais comum de câncer de pulmão em mulheres e, em muitos estudos, em homens também. A base para essa mudança não é clara. Um possível fator é o aumento do número de mulheres tabagistas, porém isso apenas destaca nossa falta de conhecimento sobre o motivo pelo qual as mulheres tendem a desenvolver mais adenocarcinomas. Uma possibilidade é que as alterações no tipo de cigarro (pontas dos filtros, baixo alcatrão e nicotina) levaram os fumantes a inalar mais profundamente e, consequentemente, a expor mais as vias aéreas periféricas e as células (com uma predileção pelo adenocarcinoma) a carcinógenos (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). CÂNCERES PULMONARES DE CÉLULAS NÃO PEQUENAS ↠ Os CPCNP incluem carcinomas espinocelulares, adenocarcinomas e carcinomas de células grandes. Como também ocorre com os CPPC, esses cânceres podem sintetizar produtos bioativos e causar síndromes paraneoplásicas (PORTH, 10ª ed.). ADENOCARCINOMA ↠ É um tumor epitelial maligno invasivo com diferenciação glandular ou produção de mucina pelas células tumorais (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ Os adenocarcinomas crescem em vários padrões, incluindo acinar, lepídico, papilar, micropapilar, e sólido com produção de mucina. Em comparação com os carcinomas de células escamosas, as lesões em geral 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck estão localizadas mais perifericamente e tendem a ser menores. Variam histologicamente de tumores bem diferenciados com elementos glandulares óbvios a lesões papilares que lembram outros carcinomas papilares e até massas sólidas com glândulas e células produtoras de mucina apenas ocasionais (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ O adenocarcinoma de pulmão é mais comum nas mulheres e em não fumantes. Os adenocarcinomas podem originar-se dos tecidos bronquiolares ou alveolares do pulmão. Em alguns casos, estão associados a áreas de retração fibrótica. Essas áreas podem ser ocasionadas por infartos antigos, corpos estranhos metálicos, feridas e infecções granulomatosas, inclusive tuberculose. Em geral, os adenocarcinomas têm prognóstico mais desfavorável que os carcinomas espinocelulares nos estágios correspondentes (PORTH, 10ª ed.). ↠ A maioria expressa o fator de transcrição da tireoide- 1, identificado primeiramente na tireoide, esse fator é necessário para o desenvolvimento normal do pulmão. Na periferia do tumor geralmente há um padrão lepídico de disseminação, em que as células do tumor “rastejam” pelos septos alveolares com aparência normal (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ Tumores (≤ 3 cm) com um componente invasivo pequeno (≤ 5 mm) associado com cicatrizes e padrões de crescimento lepídico periférico são chamados de adernocarcinomas microinvasivos. Eles apresentam prognósticos muito melhores do que carcinomas invasivos do mesmo tamanho (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ Adernocarcinomas mucinosos tendem a se espalhar pelos espaços aéreos, formando tumores satélites. Estes podem apresentar-se como nódulos solitários ou múltiplos, ou um lobo inteiro pode estar consolidado pelo tumor, lembrando uma pneumonia lobar, e, portanto, com menor probabilidade de cura por cirurgia (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). CARCINOMA ESPINOCELULAR OU CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS ↠ É diagnosticado mais comumente nos homens e está relacionado com a história de tabagismo. Esse tipo de carcinoma tende a originar-se dos brônquios centrais, como uma proliferação intraluminar e, por isso pode ser diagnosticado mais precocemente pelo exame citológico do escarro, em comparação aos outros tipos de câncer do pulmão (PORTH, 10ª ed.). ↠ As lesões precursoras que originam o carcinoma de células escamosas invasivo são bem caracterizadas. Os carcinomas de células escamosas frequentemente são precedidos por metaplasia escamosa ou displasia do epitélio brônquico, que então se transforma em um carcinoma in situ, uma fase que pode durar vários anos (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). Nesse momento, células atípicas podem ser identificadas em esfregaços citológicos do escarro, lavados broncoalveolares ou escovados brônquicos, embora a lesão seja assintomática e não detectável em radiografias (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ Finalmente, aparece um carcinoma de células escamosas invasivo. O tumor pode, então, seguir uma variedade de caminhos. Ele pode crescer de forma exofítica dentro da luz brônquica, produzindo uma massa intraluminal. Com o aumento subsequente, o brônquio fica obstruído, causando atelectasia distal e infecções. O tumor também pode penetrar nas paredes dos brônquios e Variantes histológicas do carcinoma pulmonar. A, Adenocarcinoma formando uma glândula; o detalhe mostra a expressão do fator de transcrição da tireoide-1 (TTF-1), conforme detectado pela imuno- histoquímica. B, Carcinoma de células escamosas bem-diferenciado, mostrando queratinização (setas). C, Carcinoma de pequenas células. Há ilhas de pequenas células fortemente basofílicas e áreas de necrose. D, Carcinoma de grandes células. As células cancerígenas são pleomórficas e não mostram evidências de diferenciação glandular ou escamosa. Lesões precursoras do carcinoma de células escamosas. Algumas das alterações mais precoces (“leves”) no epitélio respiratório danificado de tabagistas incluem hiperplasia das células calciformes (A), hiperplasia das células basais (ou células de reserva) (B) e metaplasia escamosa (C). Alterações mais graves incluem o aparecimento de displasia escamosa (D) caracterizada pela presença de epitélio escamoso desordenado, com perda de polaridade nuclear, hipercromasia nuclear, pleomorfismo e figuras mitóticas. A displasia escamosa pode progredir pelos estágios da displasia leve, moderada e severa. O carcinoma in situ (CIS) (E), estágio imediatamente precedente do carcinoma escamoso invasivo (F), por definição não ultrapassa a membrana basal e possui características citológicas similares às do carcinoma franco. 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck infiltrar o tecido peribrônquico, atingindo a carina ou o mediastino. Em outros casos, o tumor cresce ao longo de uma frente ampla para produzir massa intraparenquimatosa em forma de couve-flor, que empurra a substância pulmonar à sua frente (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ Como em quase todos os tipos de câncer de pulmão, o tecido neoplásico é branco-acinzentado e firme a endurecido. Especialmente quando os tumores são volumosos, as áreas focais de hemorragia ou necrose podem parecer produzir um pontilhado vermelho ou amarelo-esbranquiçado e ecimento. Algumas vezes, esses focos necróticos são cavitados (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ O carcinoma espinocelular busca disseminar-se centralmente aos brônquios primários e aos linfonodos hilares e, nos estágios mais avançados que com os outros cânceres broncogênicos, espalha-se para fora do tórax. O carcinoma espinocelular está associado às síndromes paraneoplásicas que causam hipercalcemia (PORTH, 10ª ed.). CARCINOMA DE GRANDES CÉLULAS ↠ É um tumor epitelial maligno indiferenciado sem as características citológicas ou outras formas de câncer de pulmão. As células tipicamente apresentam núcleos grandes, nucléolos proeminentes e quantidade moderada de citoplasma (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ Caracteriza-se por células poligonais volumosas. Esses tumores constituem um grupo de neoplasias altamenteanaplásicas e difíceis de classificar como carcinomas espinocelulares ou adenocarcinomas. Os carcinomas de células grandes tendem a ocorrer na periferia dos pulmões e invadir brônquios segmentares e vias respiratórias mais calibrosas (PORTH, 10ª ed.). ↠ O carcinoma de grandes células é um diagnóstico de exclusão, já que não expressa os marcadores associados com o adenocarcinoma (TTF-1, napsina A) e o carcinoma de células escamosas. Uma variante histológica é o carcinoma neuroendócrino de grandes células, que tem características moleculares similares àquelas que caracterizam o carcinoma de pequenas células, mas é composto por células tumorais de maior tamanho. ↠ Os tumores desse tipo têm prognóstico desfavorável, em razão de sua tendência a produzir focos metastásticos distantes em estágios iniciais de sua evolução (PORTH, 10ª ed.). CÂNCERES PULMONARES DE PEQUENAS CÉLULAS ↠ Esse tipo de célula está diretamente associado ao tabagismo e somente em casos raros é observado em indivíduos que nunca fumaram (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os CPPC são altamente malignos, tendem a causar infiltrados difusos, disseminam em estágios precoces de sua evolução e quase nunca são operáveis (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os CPPC caracterizam-se por um tipo celular distintivo, isto é, células redondas ou ovais pequenas com tamanho semelhante ao de um linfócito. As células proliferam em grupos que não demonstram organização glandular ou escamosa (PORTH, 10ª ed.). ↠ Exames de microscopia eletrônica revelam a existência de grânulos neurossecretórios em algumas células do tumor, que são semelhantes aos encontrados no epitélio brônquico do feto ou do recém-nascido. Esses grânulos sugerem a possibilidade de que alguns desses tumores secretem hormônios polipeptídicos. Marcadores neuroendócrinos, como enolase específica dos neurônios, peptídio semelhante ao paratormônio e outros produtos hormonais ativos, sugerem que esses tumores podem ter origem nas células neuroendócrinas do epitélio brônquico (PORTH, 10ª ed.). ↠ Metástases cerebrais são especialmente comuns e podem ser as primeiras manifestações do tumor. Esse tipo de câncer pulmonar está associado a várias síndromes paraneoplásicas, inclusive síndrome de secreção inadequada de hormônio antidiurético (SSIADH), síndrome de Cushing associada à secreção ectópica de hormônio adrenocorticotrófico e síndrome de Eaton- Lambert (um distúrbio neuromuscular) (PORTH, 10ª ed.). Qualquer tipo de carcinoma pulmonar pode se estender à superfície pleural e, então, para o interior da cavidade pleural ou pericárdio. As 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck metástases para os linfonodos traqueais, brônquicos e mediastinais podem ser encontradas na maioria dos casos. A frequência de envolvimento nodal varia discretamente com o padrão histológico, mas em média é maior do que 50% (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). A disseminação a distância do carcinoma pulmonar ocorre pelas vias linfáticas e hematogênica. Esses tumores muitas vezes se disseminam precocemente por todo o corpo, com exceção do carcinoma de células escamosas, que metastatiza para fora do tórax tardiamente. A metástase pode ser a primeira manifestação de uma lesão pulmonar oculta subjacente. Nenhum órgão ou tecido é poupado na disseminação dessas lesões, porém as adrenais, por motivos obscuros, estão envolvidas em mais da metade dos casos. O fígado (30% a 50%), o cérebro (20%) e os ossos (20%) são, adicionamente, locais preferenciais de metástases (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). Manifestações Clínicas ↠ As manifestações clínicas do câncer de pulmão são divididas em três grupos: (PORTH, 10ª ed.). ➢ Atribuídas ao envolvimento do pulmão e das estruturas adjacentes; ➢ Efeitos da disseminação local e das metástases; ➢ Manifestações paraneoplásicas não metastáticas envolvendo as funções endócrinas, neurológicas e dos tecidos conjuntivos. ↠ As principais queixas de apresentação são tosse (75%), perda de peso (40%), dor torácica (40%) e dispneia (20%) (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ Muitas manifestações clínicas dos cânceres de pulmão resultam da irritação local e da obstrução das vias respiratórias, assim como da invasão do mediastino e do espaço pleural (PORTH, 10ª ed.). ↠ As primeiras queixas são tosse crônica, dispneia e sibilos causados por irritação e obstrução das vias respiratórias (PORTH, 10ª ed.). ↠ Hemoptise (i. e., sangue no escarro) acontece quando a lesão provoca erosão dos vasos sanguíneos. Os receptores de dor do tórax estão limitados a pleura parietal, mediastino, grandes vasos sanguíneos e fibras vagais aferentes peribrônquicas. Dor retrosternal difusa, intermitente e mal localizada é comum com os tumores que invadem o mediastino. A dor torna-se persistente, localizada e mais grave quando a doença invade a pleura (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os tumores que invadem o mediastino podem causar rouquidão secundária ao envolvimento do nervo laríngeo recorrente e dificuldade de deglutir em consequência da compressão do esôfago (PORTH, 10ª ed.). ↠ Uma complicação rara conhecida como síndrome da veia cava superior ocorre em alguns pacientes com envolvimento mediastínico. A interrupção do fluxo sanguíneo desse vaso geralmente é causada pela compressão pelo tumor ou linfonodos afetados. A síndrome pode interferir na drenagem venosa da cabeça, do pescoço e da parede torácica. O prognóstico é determinado pela velocidade com que a síndrome desenvolve-se e pela adequação da circulação colateral (PORTH, 10ª ed.). ↠ Tumores adjacentes à pleura visceral geralmente causam derrames pleurais insidiosos. Esse derrame pode comprimir o pulmão e causar atelectasia e dispneia, mas tende menos a causar febre, atrito pleural ou dor, em comparação aos derrames pleurais resultantes de outras etiologias (PORTH, 10ª ed.). OBS.: Assim como outros tipos de câncer, o de pulmão causa sinais e sintomas inespecíficos como anorexia e emagrecimento. Uma vez que seus sintomas são parecidos com aqueles associados ao tabagismo e à bronquite crônica, tais queixas geralmente não são levadas em consideração. Muitos pacientes que se apresentam com indícios de um câncer de pulmão já têm metástases. Os sítios mais comuns dessas metástases são encéfalo, ossos e fígado (PORTH, 10ª ed.). Diagnóstico ↠ O diagnóstico do câncer de pulmão baseia-se na história e no exame físico detalhados, bem como em outros exames, incluindo radiografias do tórax, broncoscopia, exames citológicos do escarro ou lavados brônquicos, biopsia dos tecidos pulmonares por agulha percutânea e biopsia de linfonodo escalênico (PORTH, 10ª ed.). ↠ A análise do escarro é o método não invasivo, de menor custo e alto rendimento, porém tem sido cada vez menos utilizado. Para um bom resultado é necessária existência de expectoração, boa localização e tamanho do tumor e da experiência do citopatologista. Na citologia do escarro, para tumores proximais sua sensibilidade é 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck em cerca de 80% e para tumores periféricos e menores que 3 cm é menor que 20% (SILVA et. al., 2016). ↠ O raio-x feito rotineiramente não é um método eficaz para rastreamento da doença. Geralmente, os achados radiológicos em cada tipo de tumor são: nos adenocarcinomas encontramos nódulo solitário (72% dos casos), linfoadenomegalia mediastinal e massas hilares; em células escamosas pode se achar massas volumosas (cavitação em 22% dos casos); na neoplasia de pequenas células as massas hilares ou para hilares volumosas (78% dos casos), invasão mediastinal precoce com linfoadenomegalia mediastinal grosseira; e no de grandes células encontramos nódulo periférico (maioria dos casos), invasão mediastinal precoce com linfoadenomegalia mediastinal grosseira (SILVA et. al., 2016). ↠ A biopsia pulmonar é um método bastante eficaz para confirmação do câncer depulmão. Além disso, é importante na classificação do tipo de neoplasia que o paciente apresenta (SILVA et. al., 2016). ↠ TC, RM e ultrassonografia são usadas para localizar as lesões e avaliar a extensão da doença. A tomografia por emissão de pósitrons (PET) é uma alternativa não invasiva para detectar lesões metastáticas do mediastino ou de estruturas distantes. Os pacientes com CPPC também devem fazer TC ou RM do encéfalo para detectar metástases (PORTH, 10ª ed.). ESTADIAMENTO ↠ Quando ocorre o diagnóstico de neoplasia pulmonar, o profissional da saúde faz o estadiamento. O método baseia-se na avaliação do tamanho e do grau de invasão do tumor primário, bem como na identificação da possível presença de doença loco-regional ou metastática (SILVA et. al., 2016). ↠ Devido à alta incidência, o estadiamento do câncer de pulmão é crucial tanto como preditor da sobrevida quanto para as opções de tratamento. O sistema de estadiamento do tumor, linfonodo, metástase (TNM) admitido pela Associação Internacional para o Estudo do Câncer de Pulmão (IASLC) e pelo Comitê Conjunto Americano de Câncer (AJCC) é o método uniforme utilizado (SILVA et. al., 2021). ↠ A classificação T indica as características do tumor primário, considerando o tamanho, a extensão, o local e a presença de focos tumorais separados. A ausência ou presença de metástase em linfonodos regionais é avaliada pelo descritor N. Enquanto a classificação M informa sobre a ausência ou presença de metástase à distância (SILVA et. al., 2021). Referências KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul; ASTER, Jon. Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças, 9ª edição. Grupo GEN, 2016. NORRIS, Tommie L. Porth – Fisiopatologia, 10ª edição. Grupo GEN, 2021. BROADDUS, V. Courtney. Murray & Nadel Tratado de Medicina Respiratória, 6ª edição. Grupo GEN, 2017. ABC do câncer: abordagens básicas para o controle do câncer / Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: Inca, 2011. ARAUJO et. al. Câncer de pulmão no Brasil. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 44, n. 1, p. 55-64, 2018. BREY et. al. Câncer de pulmão relacionado à exposição ocupacional: revisão integrativa. Revista Gaúcha de Enfermagem, 2020. MENDONÇA et. al. Aumento da incidência de câncer de pulmão em mulheres. Revista Cadernos de Medicina, v. 2, n. 3, 2020. ARAÚJO et. al. Cigarros eletrônicos e suas consequências histopatológicas relacionadas à doenças pulmonares. Arquivos de Ciências de saúde da UNIPAR, 2022. SOUTO et. al. Lesão pulmonar associada a produto Vaping ou cigarro eletrônico (EVALI) no Brasil: fatores de risco associados e conhecimento da população do triângulo mineiro Brasilizian Journal of Health Review, 2022. MANNINO, D. M. Tabagismo e outros possíveis fatores de risco para câncer de pulmão. UPTODATE, 2021. SILVA et. al. Diagnóstico do câncer de pulmão: uma revisão bibliográfica. Faculdade Atenas, 2016. SILVA et. al. O novo 8º sistema TNM de câncer de pulmão: um panorama geral das mudanças. Journal UL Med., 2021.
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